Agência Fiocruz de Notícias - Emergente e reemergentess

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13/2/2014 Agência Fiocruz de Notícias - Saúde e ciência para todos http://www.fiocruz.br/ccs/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1004&sid=12 1/2 Fale com a Fiocruz Busca no Port al na CCS ok Questões ambientais e sociais estão por trás das doenças emergentes e reemergentes Por: Fernanda Marques O aparecimento de doenças emergentes e reemergentes, em geral, está relacionado à ocupação desordenada do espaço e à pobreza. A velocidade com que ocorrem transformações em um mundo em globalização gera problemas de grandes dimensões ambientais e sociais. "Em termos globais, a degradação do meio ambiente facilita a adaptação de animais transmissores de doenças a novos nichos ecológicos, o que pode levar à emergência e à reemergência de doenças", diz o médico Luciano Medeiros de Toledo, diretor do Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane (CPqLMD), unidade da Fiocruz em Manaus. Jorge de Carvalho/Fiocruz A destruição da cobertura vegetal da Amazônia provoca desequilíbrios na fauna. Como conseqüência, pode ocorrer a multiplicação e disseminação de mosquitos e outros animais associados às matas capazes de transmitir para o homem microrganismos causadores de doenças. "A expansão humana para áreas de floresta, devido a atividades econômicas como o extrativismo, faz com que o ciclo de determinados parasitas, antes restrito a animais silvestres, passe a englobar o homem, criando-se um novo ciclo associado a doenças emergentes ou reemergentes", afirma o médico Eduardo Costa, assessor da Presidência da Fiocruz e ex- secretário estadual de Saúde. A falta de infraestrutura nas cidades - principalmente nas periferias das metrópoles, onde o saneamento básico é precário e há acúmulo de lixo - também é responsável pelo aumento das populações de mosquitos e outros animais adaptados ao meio urbano que funcionam como vetores de doenças. "A desigualdade social e a miséria potencializam a emergência e a reemergente de doenças", alerta Toledo. De acordo com Costa, as precárias condições de vida da população são especialmente preocupantes no caso de enfermidades cujo contágio se dá através do contato interpessoal, como ocorre em uma série de doenças respiratórias. "É claro que, se em uma família de seis pessoas, todas dormem num mesmo cômodo, elas ficam vulneráveis a essas moléstias", comenta o médico. Em março do ano passado, a gravidade de uma doença respiratória emergente ficou clara com a epidemia da síndrome respiratória aguda grave (SRAG). Por causa dessa síndrome, também chamada de pneumonia asiática, a vigilância sanitária nos portos e aeroportos teve que ser reforçada. Afinal, embora a doença tenha surgido na China, havia o risco de ela chegar a qualquer canto do mundo, bastando para isso que uma pessoa infectada embarcasse em um vôo internacional. "Os fluxos migratórios sempre favoreceram a disseminação de doenças, porque, junto com as pessoas que se deslocam, vão os microrganismos patogênicos. Estes podem chegar a populações vulneráveis - que nunca tiveram contato com esses microrganismos e, portanto, não apresentam defesas imunológicas contra eles. E é assim que ocorre a explosão de doenças emergentes e reemergentes", explica Toledo. Não se pode negar que o desenvolvimento de meios de transporte cada vez mais velozes tem permitido a intensificação dos fluxos migratórios. Hoje, é incrível a facilidade para viagens internacionais e, conseqüentemente, para que vírus e bactérias se espalhem pelo mundo.

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Questões ambientais e sociais estão por trás das doenças emergentes e reemergentes

Por: Fernanda Marques

O aparecimento de doenças emergentes e reemergentes, em geral, está relacionado à ocupação desordenada do espaço e àpobreza. A velocidade com que ocorrem transformações em um mundo em globalização gera problemas de grandes dimensões

ambientais e sociais. "Em termos globais, a degradação do meio ambiente facilita a adaptação de animais transmissores dedoenças a novos nichos ecológicos, o que pode levar à emergência e à reemergência de doenças", diz o médico Luciano Medeiros de

Toledo, diretor do Centro de Pesquisa Leônidas e Maria Deane (CPqLMD), unidade da Fiocruz em Manaus.

Jorge de Carvalho/Fiocruz

A destruição da cobertura vegetal da Amazônia provoca desequilíbrios na fauna. Como conseqüência, pode ocorrer a multiplicação e

disseminação de mosquitos e outros animais associados às matas capazes de transmitir para o homem microrganismos

causadores de doenças. "A expansão humana para áreas de floresta, devido a atividades econômicas como o extrativismo, faz comque o ciclo de determinados parasitas, antes restrito a animais silvestres, passe a englobar o homem, criando-se um novo ciclo

associado a doenças emergentes ou reemergentes", afirma o médico Eduardo Costa, assessor da Presidência da Fiocruz e ex-

secretário estadual de Saúde.

A falta de infraestrutura nas cidades - principalmente nas periferias das metrópoles, onde o saneamento básico é precário e há

acúmulo de lixo - também é responsável pelo aumento das populações de mosquitos e outros animais adaptados ao meio urbano

que funcionam como vetores de doenças. "A desigualdade social e a miséria potencializam a emergência e a reemergente dedoenças", alerta Toledo.

De acordo com Costa, as precárias condições de vida da população são especialmente preocupantes no caso de enfermidades cujo

contágio se dá através do contato interpessoal, como ocorre em uma série de doenças respiratórias. "É claro que, se em uma família

de seis pessoas, todas dormem num mesmo cômodo, elas ficam vulneráveis a essas moléstias", comenta o médico.

Em março do ano passado, a gravidade de uma doença respiratória emergente ficou clara com a epidemia da síndrome respiratória

aguda grave (SRAG). Por causa dessa síndrome, também chamada de pneumonia asiática, a vigilância sanitária nos portos e

aeroportos teve que ser reforçada. Afinal, embora a doença tenha surgido na China, havia o risco de ela chegar a qualquer canto do

mundo, bastando para isso que uma pessoa infectada embarcasse em um vôo internacional.

"Os fluxos migratórios sempre favoreceram a disseminação de doenças, porque, junto com as pessoas que se deslocam, vão osmicrorganismos patogênicos. Estes podem chegar a populações vulneráveis - que nunca tiveram contato com esses microrganismos

e, portanto, não apresentam defesas imunológicas contra eles. E é assim que ocorre a explosão de doenças emergentes e

reemergentes", explica Toledo. Não se pode negar que o desenvolvimento de meios de transporte cada vez mais velozes tem

permitido a intensificação dos fluxos migratórios. Hoje, é incrível a facilidade para viagens internacionais e, conseqüentemente, para

que vírus e bactérias se espalhem pelo mundo.

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No entanto, desde os tempos mais remotos ocorrem êxodos, principalmente associados a guerras. Costa lembra que a gripe

espanhola, em uma época em que não havia meios de transporte tão rápidos quanto atualmente, conseguiu, em cerca de três anos,afetar uma parcela significativa da população mundial. "Isso ocorreu porque, depois de uma guerra, os soldados voltavam para casa,

e essa movimentação ajudou a espalhar a gripe", explica.

Se, por um lado, os meios de transporte mais modernos facilitaram a disseminação de moléstias, por outro, os avanços tecnológicosna área da comunicação aceleraram - e muito - o intercâmbio de dados entre as mais diferentes regiões do planeta. "Assim, asinformações necessárias para o controle das doenças chegam a qualquer lugar em um curto intervalo de tempo. E a educação é uma

das melhores formas de combate às enfermidades emergentes e reemergentes", pondera Costa.

Extensão do problema

O número de pessoas atingidas quando uma doença emerge ou reemerge depende de uma série de fatores. "O sarampo, por

exemplo, foi endêmico no Brasil durante muitos anos, mas, hoje, está sob controle. Implementou-se no país um programa deeliminação da doença, através da vacinação", lembra Costa. Não se pode falar em erradicação, porque, eventualmente, alguém defora pode trazer a virose para o território nacional. Porém, o Brasil conta um regime eficiente de controle do sarampo, doença

transmitida de pessoa a pessoa e causada por um único tipo de vírus.

Já o dengue, doença contra a qual não existe vacina nem imunidade duradoura, é causada por quatro tipos diferentes de vírus etransmitida por um vetor - o mosquito Aedes aegypti. Eliminado do país por volta da década de 1950, o mosquito voltou a ser

encontrado em território nacional anos depois. Ocorreu, então, a reemergência do dengue, com uma grande epidemia na década de1980. Vira-e-mexe a doença explode novamente e, pelo menos por enquanto, não há perspectiva de se conseguir eliminar Ae. Aegyptinovamente.

Toledo lembra ainda que o mosquito transmissor do dengue se reproduz em água limpa e parada, que pode ser encontrada em

virtualmente qualquer lugar. "O Ae. aegypti tem uma ampla valência ecológica, isto é, tem a capacidade de ocupar diferentes nichosecológicos. No Rio de Janeiro, por exemplo, ele poderia ser encontrado de Ipanema à Baixada Fluminense", comenta Toledo. A febre

maculosa, por sua vez, é transmitida por insetos com uma valência ecológica menor - os carrapatos, encontrados, em geral, em áreascom criação de animais. "Retomando aquele exemplo do Rio de Janeiro, casos de febre maculosa tenderiam a ficar restritos aregiões como a zona rural de Campo Grande", completa Toledo.

Julho/2004

Seção: Especiais

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