AfroPoemas
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AfroPoemasconcurso solidário
II Sarau AfroBiblioBrasileironovembro 2011
- Biblioteca CEU 3 Pontes
- PIÁ
ARTE DE PIÁ
www.artedepia.blogspot.com(descarregue a publicação e outros itens
gratuitamente na página)
Biblioequipe CEU 3 Pontes:- Cássia- Claudia- Madeline - Marcos
Artistas educadores PIÁ CEU 3 Pontes:- Daniel (Artes Visuais)- Guilherme (Dança)- João (Teatro)- Rogerio (Música)
É crescente a necessidade de falar sobre temáticas sociais que ainda hoje
são nós pessoais e coletivos na constituição psicológica de nossa
nação. E se conseguimos fazê-lo por caminhos artísticos / poéticos,
acreditamos que tais debates e reflexões podem experimentar
processos e resultados impressionantes.
Essa foi justamente a proposta do concurso solidário AfroPoemas e agora apresentamos a publicação que nos dá
muito orgulho. E certamente vontade de fazer outras...
poetas participantes:
YasmimAna FláviaVanessa SoaresKeli AndradeJoão PedroMaria Caroline de SouzaManoel Amancio da SilvaStephanie GomesPedro Osmar Gomes CoutinhoEdy SouzaAmilcar FarinaGuilherme de AlmeidaVanessa BiffonIldo RogérioJoão JúniorJúlia SalgueiroOdé AmorimYure RomãoTayna da Silva Alves Severino
A Família Negra
A Família NegraComo uma peneira
Às vezes limpa às vezes sujaé como roupa suja na lavanderia
Negros
Uma negrinha conheciUm negro conheci e aprendi assimMinha vó é uma negrame conta estórias de negros e escravidõesE é assim que eu sou feliz
O Menino Negro
Quando passa pela ruatodo o preconceito aparece,
Quando passa pela casatudo reconhece
é assim que as pessoas negras conhecem eleum lado a outro
e de lá pra cá
Pássaros Negros
Um belo dia vi um pássaro negrooutro dia vi você negra vocêNegra é tão bonita negra
Minha linda vida negra
Ah como eu sou feliz coma minha vida negra
Sem ela eu não sou nadaComo eu sou feliz
e conto a todo o mundo escutar
Ana Flávia (São Paulo)
O medo já não existia mais,A boneca negra dos cabelosbrancos prateados hoje temum canto na minha vida.As lembranças, os pavores, os gritos e as lágrimas quandocriança, agora desejo, espelho,tato e lembrança...A boneca negra nua, naestante do quarto da primade frente a janela olhandopara a rua.E eu inquieto, brinco agora...Teimoso, fogo, penteio...Ariano, desdenho, converso e olhopara a boneca preta na estante dourada no canto do quartoVenci o medo, apropriei dodesejo, mudei os penteados, umbom rebolado, na estória vividana memória, na minha vida...
Negra Ela, medo dela, Bela...Guilherme de Almeida
(São Paulo)
Essa minha pele branca.Ah! Essa minha pele branca! Ela não fala por mim,Orgulho-me dos meus antepassadosque não eram assim.
Eram negros, mulatos e morenoscom muitas histórias contadas, em muitas gerações.Motivaram lágrimas, fortes emoções.
Contam crenças e costumesembarcações de bambu,histórias do líder guerreiro Chakado povo Zulu.
Minha avó conta históriasque não eram do tempo dela, hoje se emociona quando falade um tal Martin Luther King,e um outro, Nelson Mandela.
Lamento a sortede alguns países africanosque lutam contra a miséria,então... penso nos meus antepassadose me sinto um pouco Serra Leoaum pouco Nigéria.
AntepassadosManoel Amancio da Silva
(São Paulo)
Uma multidão avançano deserto das cidadesno deserto das pessoasuma multidão avançapelas cidadesem busca de algopara existir.
São negros, índios, ciganosnuma multidão históricaa vagar pelo deserto das cidadesna construção de melhorescondições de vida.
São os que não tem terraos que não tem pãoos que não tem nadade sua dignidade perdida.
Buscam o futuro.
Querem suas vidas em sementespara o plantio das coletividadesna terra que lhes foi negadaque lhes foi tomada por outros negros,índios, ciganos e brancosinteressados apenas em lucrar.
Essa multidão avançaentre um deserto e outroà procura de algo que a faça parar de caminhar a êsmocaminhar sem descansocaminhar sem sentido.
É o MST?É o povo negro, índio e cigano que apenas grita gol?São os palestinos traídos?São os africanos traídos?
É uma flor no pântanoque irá desabrochar.
Pedro Osmar Gomes Coutinho(João Pessoa, PB)
DiásporaAmilcar Farina
(São Paulo)
Como foi distanteolhar-te da outra margem do rio
por que somente um dia?Se todo dia é dia, e é noite também
Como é... Serásentir-se estrangeiro em sua própria pele?
Todo mundocriança, homem e mulher
carrega a história de um povoa memória de um lugar
Seis bilhões de históriasnão vejo cor, não vejo pátria, só o mar
Margear-mede outros sons, pisar no chão
se somos par
Cabelo bom, Cabelo ruimPixaim
Cabelo duro, Cabelo escuroPixaim
Puxa puxa puxaAlisa
PixaimCabelo coitado, Cabelo encerado
PixaimEsquenta a chapa
Esfrega e lavaPixaim
Cabelo enrolado, Cabelo mal-criadoPixaim
Cabelo de trança, Cabelo que transaPixaim
Raiz enroladanão cede a parada
PixaimCabelo resiste, Cabelo persiste
PixaimCabelo memória
não cede a HistóriaPixaim
Cabelo cipóque brinca a criança
PixaimCabelo sorriso
tocando cavacoPixaim
Cabelo RG, Cabelo vocêPixaim
Cabelo não esconde, Cabelo Além-marPixaim
Cabelo de Santo, Cabelo OssaimPixaim
Cabelo, simLembrando de mim
Pixaim
Cabelereiro, João Junior (São Paulo)
A diferença entre as pessoassoma, engrossa o caldo
o diferente acrescenta emriqueza e ao que somos
Agradeço:Ao tambor, ao axé, à cor negra,
ao canto, à Umbanda, à Capoeira, às cores pulsantes, às
estampas maravilhosas,ao ritmo, ao samba.
O laê laê la oleleolala ê lalala olalao lalaê lalaê lalaela
o lalaê lalalaê lalaela
Julia Salgueiro(São Paulo)
OraçãoVanessa Biffon(São Paulo)
Chão de terra pisadoA benção, Iansã!Faça eu voar em teus ventosFaça eu honrar este intentoFaça eu crescer em idade
Terra pisada de chãoA benção, meu pai, Oxalá!Risca meu corpo suadoGuia teu povo afastadoDeixa crescer a oração
Ildo Rogério(São Paulo)
Meu sonho passa por um lugarum lugar com minhas criançascrianças de todas as cores, piásbrancas, negras, amarelasconvivendo com igualdadeUm dia chegou um adultoque encrespou com uma criançaesse encrespar significar discriminardiscriminar significa segregare segregar dá raiva, revoltaAs crianças com essa revolta, raiva, todas, foram pra cima do adultoo adulto viu-se acuado pela ira das criançase saiu correndoEsse adulto é esse ser que está dentro de nósque de uma maneira discrimina, segrega...E nos dá raiva, revolta...Mas as crianças...
Nuvens Pretas, João Pedro(São Paulo)
Nuvens pretas parecem chocolates pretos no mundo
Maria Caroline da Silva(São Paulo)
Na África só tem preto que não dança direitovou ter que dançar no lado esquerdo
Eu não tou de brincadeirase não vai levar uma surraque vai parecer uma arara
eu sou negra mas não me importo dissomas pelo menos sou gostosa
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Eu sou negra mas não ligobom ser negrae é muito bom
Em nome dos negros
Os nomes dos negros parecem rabanetesdos rabanetes parecem negros
os negros conhecem as negras por aísão amigas rabanetes e legais
Árvores negras
Árvores negras possuem frutas estragadas que caem do pomardo pomar nascem outras árvores negras
Negros e negras
Um dia o negrinho conhecia negrasmuito negrita e foforita
um dia o negro conheceu a vóchamada escarregadas
a negra e a negra era muitasfogueiras saberam não poema
A Bruxaria dos negros
A Bruxaria dos negros parecem bolachas recheadasa Bruxaria dos negros são apenas maldades mesmo
e fale a penas
Bombos pretos
O bombo preto é a vingança do malque não traz paz pra nós
também são negrosnegros mesmo
que sabe que é do malporque é do mal
porque não traz nada paz pra nósE também são negros
muitos negros racistas
As ruas negras
As ruas negras são comoruas negras
e muitas aparecem só de noitea noite para caçar alimentos direto mesmo
O pássaro preto
O pássaro preto rabanetegostava de tudo quanto passa na ruaViu um outro pássaro preto rabanetede tudo veiocabelo pretoe rabanete grande
Yasmim(São Paulo)
Que embola...Odé Amorim(Santo André)
Cheiro de corpo, de povo, de genteÁfrica vive, presente, latentepé branco dançando barreirovoz pálida, seca de coreroritmo de pó de terreiroginga de moleque angoleirode preta mistura que assusta é preta a tradição, confusaabraço de ventre inteiroumbiga, requebra traseirose pausa, quem cai é o parceirobalança, soa candongueirotá dentro da alma a herançamacumba, axé de criançagalo que canta já é horaé hora de cabelo que embola
Afro-SarauStephanie Gomes
(São Paulo)
Salve negro! Salve negro!Salve mulata bonita!
Salve gente do nosso povo,Salve terra garrida
Sem racismosem solidãosem racismo
pelo nosso coração
Meu corpo nega outros amoresAlgo deve estar escrito nas leituras geradas espontaneamente
Meu corpo não nega outros amores
Tudo o que está oposto ele hipnotizaFilho de Xangô
Possui o metal degoladorNinguém escapa da mercê
Seu e de ninguém
Quer provar e povoar naçõesOs estratagemas são notórios:
Imprevisíveis vândalosAceitam a oferta; ela
O néctar dessas civilizações contempladasCom a invasão desse batalhão; meu corpo
Com a invasão desse clã
Conhecido como lendaAté aparecer justificando a majestade
Criadora deste meu corpo
É você que fez a história
É você o oráculo ditando máximas
Palatáveis e seminaisApenas,
Na aridez da sofrida reflexão
É você autora dissoIsso chamado nós dois um
É você que dá suprimento
A um mínimo incompreensível, mas, aceito!
Por isso, a invasão é aceitaComo dádiva inquestionávelSuperando qualquer perda.
INCUMBIDOEdy Souza (São Paulo)
Sou negra sim, tenho orgulho da minha cortenho uma mistura de cor bem singela,
sou filha de índio e negro,sou da cor da terra,
tenho em minha alma a força da naturezae a visão dos meus descendentes,
Sou negra de corpo e alma,sou criação de Deus
uma mistura que só ele me deu.Sou da cor marrom,
cor que combina com tudo,com o mar com o verde da natureza
e com o azul do céu...O chocolate é marrome tem o sabor especiale pertence à natureza,
então eu sou marrome também pertenço a esse planeta...
Sou negra sime sou muito feliz assim,
não sou diferentesou como toda gente,
Amo, sofroe sinto choroe fico triste,
mas tudo isso existe,sou ser humano
como outro qualquer,e acima de tudo
sou uma linda mulher,marrom da cor do pecado.
Minha cor marromKeli Andrade(São Paulo)
Vanessa Soares (São Paulo)
Ah, minha pelenegra sim
morena nãoAh, minha boca
carnuda, vermelha, linda simo orgulho está dentro de mim
Você não precisa me dizereu já seisou lindasou negra
sim
Minha cor negra é bela sim,sou negra de pele e de sanguesou a mistura do meu Brasil sou a cor da luta da justiça do amorsou a cor negra que luta por meus ideiaissou a cor da raça negra, sou a raiz da corSou negra sim e com muito amorsou a cor que às vezes fui discriminadae meus descendentes foram vendidos,trocados, usados e depois foram jogados ao vento para morrer, mas não desanimaram, não chorarão, não gritarãomas lutarão pela própria sobrevivência, lutarão por amor a seus filhos e por isso hoje eu estou aquirepresentando esse povo que tanto me orgulhacarrego na cor da minha pele lembranças dessa nação,que outras vezes foram vendidos,chicoteados e massacrados, Por ter essa cor tão lindanão precisamos tomar sol pois já temos o prazer de ter essa pele tão escura,o cabelo crespo ou enrolado mostra o charme que só ele tem,somos negro sim de corpo e de alma...
Sangue negroKeli Andrade(São Paulo)
Todos os dias a favela velaOs corpos na valaQue são de quem falaAquilo que se quer calar A vela acesaRevela uma vida apagadaUma vida levadaDe forma veladaCálice que não se cala No asfalto falta agirA girar, o mundo segueE a falta de açãoAsfalta nossas vidasSepulta nossos sonhosE o que era para se tornar concretoVirou cimento, debaixo do concretoSonho não concretizadoAsfalto frio e acinzentadoQue de tanto, apaga a velaNinguém se rebelaCinza: mistura de rubro e negroSangue de pretoQue escorre do alto A chama se vai E ficam as cinzasCinzas que asfaltam a vergonha cinza da cidade.
Corpos veladosYure Romão(São Paulo)
Nossa luta,para que lutamospara que viemos aqui?Viemos para amar-nos, apaixonar-nos, impore por que nos acham tão diferentes assim,só pelo tom de minha cor, somos todos iguais,somos todos filhos de Deus o único criador,somos uma mistura de cor onde cor negra prevaleceu.Agora com orgulho eu te digo quem sou eu?Sou a cor negra, sou a cor negrado lápis de cor sou o marromda terra sou o escuro da noitesou tudo isso e sou mais um pouco.Amo, me apaixono e sou famíliaamo a minha cor, amo a minha vida.
Keli Andrade
Tayna da Silva Alves Severino
Por que tem que ser assim negrostrabalham e os brancos eos ricos gozam de mim.
A escravidão é como a mortesofre, sofre, sofree nunca ganha nada.
Os negros mereciam sermais bem tratados alémde trabalhar ainda cantavam.
Rico se acha porquetem dinheiro, mas pobre temmais respeito e educação.
Nós negros não precisamos de empregados para sobrevivere os ricos só dependem deles.
Pobre tem mais dignidadepois rico só tem orgulho.
- Branco?- Amarelo?
- Pardo?- Moreno?
- Negro?- O que eu sou?
- Quem misturou?- Alguém errou?
- Sou vítima?- Ou sou algoz?
- Alguém ganhou?- Quem perdeu?
- Somos diferentes?- Quais são nossas funções?
- Servimos para que?- Servimos a quem?
- Amamos?- Nos apaixonamos?
- Ou temos interesses?- Somos todos iguais e não sabemos para que
viemos!Nascemos outra vez? Não sabemos!
Aproveite esta oportunidade!Viva em paz! Viva! Perdoe! Ame!