AfroPoemas

22
A f r o P o e m a s concurso solidário II Sarau AfroBiblioBrasileiro novembro 2011 - Biblioteca CEU 3 Pontes - PIÁ

description

Coletânea de escritos poéticos selecionados através de um concurso solidário promovido pelo PIÁ (Programa de Iniciação Artística) e pela Biblioteca do CEU 3 Pontes, em novembro de 2011. O lançamento e a distribuição gratuita foram feitas no II Sarau AfroBiblioBrasileiro no mesmo período.

Transcript of AfroPoemas

Page 1: AfroPoemas

AfroPoemasconcurso solidário

II Sarau AfroBiblioBrasileironovembro 2011

- Biblioteca CEU 3 Pontes

- PIÁ

Page 2: AfroPoemas

ARTE DE PIÁ

[email protected]

www.artedepia.blogspot.com(descarregue a publicação e outros itens

gratuitamente na página)

Biblioequipe CEU 3 Pontes:- Cássia- Claudia- Madeline - Marcos

Artistas educadores PIÁ CEU 3 Pontes:- Daniel (Artes Visuais)- Guilherme (Dança)- João (Teatro)- Rogerio (Música)

É crescente a necessidade de falar sobre temáticas sociais que ainda hoje

são nós pessoais e coletivos na constituição psicológica de nossa

nação. E se conseguimos fazê-lo por caminhos artísticos / poéticos,

acreditamos que tais debates e reflexões podem experimentar

processos e resultados impressionantes.

Essa foi justamente a proposta do concurso solidário AfroPoemas e agora apresentamos a publicação que nos dá

muito orgulho. E certamente vontade de fazer outras...

Page 3: AfroPoemas

poetas participantes:

YasmimAna FláviaVanessa SoaresKeli AndradeJoão PedroMaria Caroline de SouzaManoel Amancio da SilvaStephanie GomesPedro Osmar Gomes CoutinhoEdy SouzaAmilcar FarinaGuilherme de AlmeidaVanessa BiffonIldo RogérioJoão JúniorJúlia SalgueiroOdé AmorimYure RomãoTayna da Silva Alves Severino

Page 4: AfroPoemas

A Família Negra

A Família NegraComo uma peneira

Às vezes limpa às vezes sujaé como roupa suja na lavanderia

Negros

Uma negrinha conheciUm negro conheci e aprendi assimMinha vó é uma negrame conta estórias de negros e escravidõesE é assim que eu sou feliz

O Menino Negro

Quando passa pela ruatodo o preconceito aparece,

Quando passa pela casatudo reconhece

é assim que as pessoas negras conhecem eleum lado a outro

e de lá pra cá

Pássaros Negros

Um belo dia vi um pássaro negrooutro dia vi você negra vocêNegra é tão bonita negra

Minha linda vida negra

Ah como eu sou feliz coma minha vida negra

Sem ela eu não sou nadaComo eu sou feliz

e conto a todo o mundo escutar

Ana Flávia (São Paulo)

Page 5: AfroPoemas

O medo já não existia mais,A boneca negra dos cabelosbrancos prateados hoje temum canto na minha vida.As lembranças, os pavores, os gritos e as lágrimas quandocriança, agora desejo, espelho,tato e lembrança...A boneca negra nua, naestante do quarto da primade frente a janela olhandopara a rua.E eu inquieto, brinco agora...Teimoso, fogo, penteio...Ariano, desdenho, converso e olhopara a boneca preta na estante dourada no canto do quartoVenci o medo, apropriei dodesejo, mudei os penteados, umbom rebolado, na estória vividana memória, na minha vida...

Negra Ela, medo dela, Bela...Guilherme de Almeida

(São Paulo)

Page 6: AfroPoemas

Essa minha pele branca.Ah! Essa minha pele branca! Ela não fala por mim,Orgulho-me dos meus antepassadosque não eram assim.

Eram negros, mulatos e morenoscom muitas histórias contadas, em muitas gerações.Motivaram lágrimas, fortes emoções.

Contam crenças e costumesembarcações de bambu,histórias do líder guerreiro Chakado povo Zulu.

Minha avó conta históriasque não eram do tempo dela, hoje se emociona quando falade um tal Martin Luther King,e um outro, Nelson Mandela.

Lamento a sortede alguns países africanosque lutam contra a miséria,então... penso nos meus antepassadose me sinto um pouco Serra Leoaum pouco Nigéria.

AntepassadosManoel Amancio da Silva

(São Paulo)

Page 7: AfroPoemas

Uma multidão avançano deserto das cidadesno deserto das pessoasuma multidão avançapelas cidadesem busca de algopara existir.

São negros, índios, ciganosnuma multidão históricaa vagar pelo deserto das cidadesna construção de melhorescondições de vida.

São os que não tem terraos que não tem pãoos que não tem nadade sua dignidade perdida.

Buscam o futuro.

Querem suas vidas em sementespara o plantio das coletividadesna terra que lhes foi negadaque lhes foi tomada por outros negros,índios, ciganos e brancosinteressados apenas em lucrar.

Essa multidão avançaentre um deserto e outroà procura de algo  que a faça parar de caminhar a êsmocaminhar sem descansocaminhar sem sentido.

É o MST?É o povo negro, índio e cigano que apenas grita gol?São os palestinos traídos?São os africanos traídos?

É uma flor no pântanoque irá desabrochar.

Pedro Osmar Gomes Coutinho(João Pessoa, PB)

Page 8: AfroPoemas

DiásporaAmilcar Farina

(São Paulo)

Como foi distanteolhar-te da outra margem do rio

por que somente um dia?Se todo dia é dia, e é noite também

Como é... Serásentir-se estrangeiro em sua própria pele?

Todo mundocriança, homem e mulher

carrega a história de um povoa memória de um lugar

Seis bilhões de históriasnão vejo cor, não vejo pátria, só o mar

Margear-mede outros sons, pisar no chão

se somos par

Page 9: AfroPoemas

Cabelo bom, Cabelo ruimPixaim

Cabelo duro, Cabelo escuroPixaim

Puxa puxa puxaAlisa

PixaimCabelo coitado, Cabelo encerado

PixaimEsquenta a chapa

Esfrega e lavaPixaim

Cabelo enrolado, Cabelo mal-criadoPixaim

Cabelo de trança, Cabelo que transaPixaim

Raiz enroladanão cede a parada

PixaimCabelo resiste, Cabelo persiste

PixaimCabelo memória

não cede a HistóriaPixaim

Cabelo cipóque brinca a criança

PixaimCabelo sorriso

tocando cavacoPixaim

Cabelo RG, Cabelo vocêPixaim

Cabelo não esconde, Cabelo Além-marPixaim

Cabelo de Santo, Cabelo OssaimPixaim

Cabelo, simLembrando de mim

Pixaim

Cabelereiro, João Junior (São Paulo)

Page 10: AfroPoemas

A diferença entre as pessoassoma, engrossa o caldo

o diferente acrescenta emriqueza e ao que somos

Agradeço:Ao tambor, ao axé, à cor negra,

ao canto, à Umbanda, à Capoeira, às cores pulsantes, às

estampas maravilhosas,ao ritmo, ao samba.

O laê laê la oleleolala ê lalala olalao lalaê lalaê lalaela

o lalaê lalalaê lalaela

Julia Salgueiro(São Paulo)

Page 11: AfroPoemas

OraçãoVanessa Biffon(São Paulo)

Chão de terra pisadoA benção, Iansã!Faça eu voar em teus ventosFaça eu honrar este intentoFaça eu crescer em idade

Terra pisada de chãoA benção, meu pai, Oxalá!Risca meu corpo suadoGuia teu povo afastadoDeixa crescer a oração

Page 12: AfroPoemas

Ildo Rogério(São Paulo)

Meu sonho passa por um lugarum lugar com minhas criançascrianças de todas as cores, piásbrancas, negras, amarelasconvivendo com igualdadeUm dia chegou um adultoque encrespou com uma criançaesse encrespar significar discriminardiscriminar significa segregare segregar dá raiva, revoltaAs crianças com essa revolta, raiva, todas, foram pra cima do adultoo adulto viu-se acuado pela ira das criançase saiu correndoEsse adulto é esse ser que está dentro de nósque de uma maneira discrimina, segrega...E nos dá raiva, revolta...Mas as crianças...

Page 13: AfroPoemas

Nuvens Pretas, João Pedro(São Paulo)

Nuvens pretas parecem chocolates pretos no mundo

Maria Caroline da Silva(São Paulo)

Na África só tem preto que não dança direitovou ter que dançar no lado esquerdo

Eu não tou de brincadeirase não vai levar uma surraque vai parecer uma arara

eu sou negra mas não me importo dissomas pelo menos sou gostosa

___________________________________________

Eu sou negra mas não ligobom ser negrae é muito bom

Em nome dos negros

Os nomes dos negros parecem rabanetesdos rabanetes parecem negros

os negros conhecem as negras por aísão amigas rabanetes e legais

Page 14: AfroPoemas

Árvores negras

Árvores negras possuem frutas estragadas que caem do pomardo pomar nascem outras árvores negras

Negros e negras

Um dia o negrinho conhecia negrasmuito negrita e foforita

um dia o negro conheceu a vóchamada escarregadas

a negra e a negra era muitasfogueiras saberam não poema

A Bruxaria dos negros

A Bruxaria dos negros parecem bolachas recheadasa Bruxaria dos negros são apenas maldades mesmo

e fale a penas

Bombos pretos

O bombo preto é a vingança do malque não traz paz pra nós

também são negrosnegros mesmo

que sabe que é do malporque é do mal

porque não traz nada paz pra nósE também são negros

muitos negros racistas

As ruas negras

As ruas negras são comoruas negras

e muitas aparecem só de noitea noite para caçar alimentos direto mesmo

O pássaro preto

O pássaro preto rabanetegostava de tudo quanto passa na ruaViu um outro pássaro preto rabanetede tudo veiocabelo pretoe rabanete grande

Yasmim(São Paulo)

Page 15: AfroPoemas

Que embola...Odé Amorim(Santo André)

Cheiro de corpo, de povo, de genteÁfrica vive, presente, latentepé branco dançando barreirovoz pálida, seca de coreroritmo de pó de terreiroginga de moleque angoleirode preta mistura que assusta é preta a tradição, confusaabraço de ventre inteiroumbiga, requebra traseirose pausa, quem cai é o parceirobalança, soa candongueirotá dentro da alma a herançamacumba, axé de criançagalo que canta já é horaé hora de cabelo que embola

Afro-SarauStephanie Gomes

(São Paulo)

Salve negro! Salve negro!Salve mulata bonita!

Salve gente do nosso povo,Salve terra garrida

Sem racismosem solidãosem racismo

pelo nosso coração

Page 16: AfroPoemas

Meu corpo nega outros amoresAlgo deve estar escrito nas leituras geradas espontaneamente

Meu corpo não nega outros amores 

Tudo o que está oposto ele hipnotizaFilho de Xangô

Possui o metal degoladorNinguém escapa da mercê

  Seu e de ninguém

Quer provar e povoar naçõesOs estratagemas são notórios:

Imprevisíveis vândalosAceitam a oferta; ela

  O néctar dessas civilizações contempladasCom a invasão desse batalhão; meu corpo

  Com a invasão desse clã

Conhecido como lendaAté aparecer justificando a majestade

  Criadora deste meu corpo

  É você que fez a história

É você o oráculo ditando máximas 

Palatáveis e seminaisApenas,

Na aridez da sofrida reflexão 

É você autora dissoIsso chamado nós dois um

  É você que dá suprimento

A um mínimo incompreensível, mas, aceito!

Por isso, a invasão é aceitaComo dádiva inquestionávelSuperando qualquer perda.

INCUMBIDOEdy Souza (São Paulo)

Page 17: AfroPoemas

Sou negra sim, tenho orgulho da minha cortenho uma mistura de cor bem singela,

sou filha de índio e negro,sou da cor da terra,

tenho em minha alma a força da naturezae a visão dos meus descendentes,

Sou negra de corpo e alma,sou criação de Deus

uma mistura que só ele me deu.Sou da cor marrom,

cor que combina com tudo,com o mar com o verde da natureza

e com o azul do céu...O chocolate é marrome tem o sabor especiale pertence à natureza,

então eu sou marrome também pertenço a esse planeta...

Sou negra sime sou muito feliz assim,

não sou diferentesou como toda gente,

Amo, sofroe sinto choroe fico triste,

mas tudo isso existe,sou ser humano

como outro qualquer,e acima de tudo

sou uma linda mulher,marrom da cor do pecado.

Minha cor marromKeli Andrade(São Paulo)

Page 18: AfroPoemas

Vanessa Soares (São Paulo)

Ah, minha pelenegra sim

morena nãoAh, minha boca

carnuda, vermelha, linda simo orgulho está dentro de mim

Você não precisa me dizereu já seisou lindasou negra

sim

Page 19: AfroPoemas

Minha cor negra é bela sim,sou negra de pele e de sanguesou a mistura do meu Brasil sou a cor da luta da justiça do amorsou a cor negra que luta por meus ideiaissou a cor da raça negra, sou a raiz da corSou negra sim e com muito amorsou a cor que às vezes fui discriminadae meus descendentes foram vendidos,trocados, usados e depois foram jogados ao vento para morrer, mas não desanimaram, não chorarão, não gritarãomas lutarão pela própria sobrevivência, lutarão por amor a seus filhos e por isso hoje eu estou aquirepresentando esse povo que tanto me orgulhacarrego na cor da minha pele lembranças dessa nação,que outras vezes foram vendidos,chicoteados e massacrados, Por ter essa cor tão lindanão precisamos tomar sol pois já temos o prazer de ter essa pele tão escura,o cabelo crespo ou enrolado mostra o charme que só ele tem,somos negro sim de corpo e de alma...

Sangue negroKeli Andrade(São Paulo)

Page 20: AfroPoemas

Todos os dias a favela velaOs corpos na valaQue são de quem falaAquilo que se quer calar  A vela acesaRevela uma vida apagadaUma vida levadaDe forma veladaCálice que não se cala  No asfalto falta agirA girar, o mundo segueE a falta de açãoAsfalta nossas vidasSepulta nossos sonhosE o que era para se tornar concretoVirou cimento, debaixo do concretoSonho não concretizadoAsfalto frio e acinzentadoQue de tanto, apaga a velaNinguém se rebelaCinza: mistura de rubro e negroSangue de pretoQue escorre do alto  A chama se vai E ficam as cinzasCinzas que asfaltam a vergonha cinza da cidade.

Corpos veladosYure Romão(São Paulo)

Page 21: AfroPoemas

Nossa luta,para que lutamospara que viemos aqui?Viemos para amar-nos, apaixonar-nos, impore por que nos acham tão diferentes assim,só pelo tom de minha cor, somos todos iguais,somos todos filhos de Deus o único criador,somos uma mistura de cor onde cor negra prevaleceu.Agora com orgulho eu te digo quem sou eu?Sou a cor negra, sou a cor negrado lápis de cor sou o marromda terra sou o escuro da noitesou tudo isso e sou mais um pouco.Amo, me apaixono e sou famíliaamo a minha cor, amo a minha vida.

Keli Andrade

Page 22: AfroPoemas

Tayna da Silva Alves Severino

Por que tem que ser assim negrostrabalham e os brancos eos ricos gozam de mim.

A escravidão é como a mortesofre, sofre, sofree nunca ganha nada.

Os negros mereciam sermais bem tratados alémde trabalhar ainda cantavam.

Rico se acha porquetem dinheiro, mas pobre temmais respeito e educação.

Nós negros não precisamos de empregados para sobrevivere os ricos só dependem deles.

Pobre tem mais dignidadepois rico só tem orgulho.

- Branco?- Amarelo?

- Pardo?- Moreno?

- Negro?- O que eu sou?

- Quem misturou?- Alguém errou?

- Sou vítima?- Ou sou algoz?

- Alguém ganhou?- Quem perdeu?

- Somos diferentes?- Quais são nossas funções?

- Servimos para que?- Servimos a quem?

- Amamos?- Nos apaixonamos?

- Ou temos interesses?- Somos todos iguais e não sabemos para que

viemos!Nascemos outra vez? Não sabemos!

Aproveite esta oportunidade!Viva em paz! Viva! Perdoe! Ame!