AFIRMAR O JORNALISMOpousar o livro de Augustina Bessa-Luís. E assim foi. Nasci em 1990, em Braga,...

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JJ é uma edição do Clube de Jornalistas >> [ número duplo ] n.º 63 Jul/Dez 2016 >> 2,50 Euros ANÁLISE 1 A FOTOGRAFIA NA IMPRENSA ANÁLISE 2 A CONSTRUÇÃO DA CULTURA PROFISSIONAL DOS JORNALISTAS ATRAVÉS DO CINEMA HISTÓRIAS DE JORNALISTAS MANUELA DE AZEVEDO HOMENAGEM PAQUETE DE OLIVEIRA AFIRMAR O JORNALISMO é o lema do 4.º Congresso Atribuídos os Prémios Gazeta

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JJ é uma edição do Clube de Jornalistas >> [ número duplo ] n.º 63 Jul/Dez 2016 >> 2,50 Euros

ANÁLISE 1 A FOTOGRAFIA NA IMPRENSAANÁLISE 2 A CONSTRUÇÃO DA CULTURAPROFISSIONAL DOS JORNALISTASATRAVÉS DO CINEMA HISTÓRIASDE JORNALISTAS MANUELA DE AZEVEDOHOMENAGEM PAQUETE DE OLIVEIRA

AFIRMAR O JORNALISMOé o lema do 4.º Congresso

Atribuídosos PrémiosGazeta

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Direcção Editorial

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Secretária de Redacção

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Tiragem deste número

Redacção,Distribuição,

Venda eAssinaturas

Mário Zambujal

Eugénio AlvesFernando Correia

Fernando CascaisFrancisco MangasJosé Carlos de VasconcelosManuel PintoMário Mesquita

José Souto

Palmira Oliveira

CLUBE DE JORNALISTASA produção desta revista sóse tornou possível devido aosseguintes apoios:l Caixa Geral de Depósitosl Casa da Imprensal Lisgráfical Fundação Inatell Vodafone

Impress - Impressral CenterUnipessoal, LdaCampo Raso, 2710-139 Sintra

Lisgráfica, Impressão e ArtesGráficas, SACasal Sta. Leopoldina,2745 QUELUZ DE BAIXO

Dep. Legal: 146320/00ISSN: 0874 7741Preço: 2,49 Euros

2.000 ex.

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N.º 63 JUNHO/DEZEMBRO 2016

SUMÁRIO

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS SÓCIOSDO CLUBE DE JORNALISTAS

E AOS ASSOCIADOS DA CASA DA IMPRENSAPERIODICIDADE TRIMESTRAL

Site do CJ www.clubedejornalistas.pt

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PRÉMIOS GAZETA 2015Reunido no Clube de Jornalista, o Júri dos PrémiosGazeta, os mais prestigiados galardões de jornalismoem Portugal, uma iniciativa anual promovida pelo CJ,com o patrocínio exclusivo da Caixa Geral deDepósitos, analisou e deliberou sobre os trabalhos con-correntes, relativos a 2015.

4.º CONGRESSOQuase duas décadas depois do último congresso, os jor-nalistas mobilizaram forças - e encontram vontades - paravoltarem a reunir-se. “Afirmar o Jornalismo” é o lema do4.º Congresso, que vai decorrer entre 12 e 15 de janeiro noCinema São Jorge, em Lisboa. Por Paulo Martins

ANÁLISEA FOTOGRAFIA NA IMPRENSAO olhar dos fotojornalistas portuguesesVivemos atualmente uma era em que fotografar setornou uma prática de rotina. Com as novas tecnolo-gias, a digitalização e a existência de dispositivos, comoo telemóvel, ao alcance de qualquer um, a fotografiacorre o risco de se banalizar. Por Carina Martinho Coelho

A construção da cultura profissionaldos jornalistas através do cinemaO objetivo deste artigo é o de tentar compreendercomo o cinema tem retratado, ao longo dos anos, a cul-tura profissional do jornalismo, ou seja, que imagemdo jornalista está a ser passada para o público atravésdo cinema Por Gaspar Garção

JORNAL[42] Livros Por Carla Baptista[44] Casa da Imprensa[46] Sites Por Mário Rui Cardoso

HISTÓRIAS DE JORNALISTAS“SOU CRIADA DE SUA MAJESTADE”Esta é a história da entrevista de Manuela de Azevedocom Humberto de Sabóia. Por Gonçalo Pereira Rosa

HOMENAGEMPAQUETE DE OLIVEIRANesta primeira edição da JJ publicada após o falecimentode Paquete de Oliveira, em Junho passado, nãopoderíamos deixar de aqui lembrar alguém que no nossopaís marcou as últimas três décadas de crescimento e con-solidação das ciências da comunicação, quer no plano dainvestigação quer no do ensino, em particular no que serefere ao jornalismo.

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Colaboram neste número Carina Martinho CoelhoCarla BaptistaGaspar GarçãoGonçalo Pereira RosaJosé FradeMário Rui CardosoPaulo Martins

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Assinatura anual > 4 números: > 10 Euros

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JJ – Jornalismo e JornalistasA única revista portuguesaeditada por jornalistasexclusivamente dedicada aojornalismo

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Ao longo de mais de quinze anos, a JJ tem-se afirmado, quernas salas de redacção quer nas universidades, como umaferramenta fundamental para todos os que pretendem estarinformados sobre a reflexão e o debate que, no país e noestrangeiro, se vão fazendo sobre o jornalismo e os jornalistas.

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A Lisgráfica imprime mais de 15 milhões de exemplares por semana de revistas, jornais,

listas telefónicas e boletins.A Lisgráfica é a maior indústria gráfica da Península Ibérica. Apenas na área de publicações, é responsável pela impressão de mais de 100 títulos diferentes. O que significa dizer que todos os dias a maioria dos portugueses tem contacto com os nossos produtos.

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Reunido no Clube de Jornalista, o Júridos Prémios Gazeta, os maisprestigiados galardões de jornalismoem Portugal, uma iniciativa anualpromovida pelo CJ, com o patrocínioexclusivo da Caixa Geral deDepósitos, analisou os trabalhosconcorrentes, relativos a 2015, com oseguinte resultado:

PRÉMIO GAZETA REVELAÇÃOatribuído a Sibila Lind, jornalista doPúblico, pelo seu trabalho "Anatomiade uma Ópera". Durante um mês, ajovem jornalista acompanhou edescreveu, de forma rigorosa eapelativa, os bastidores e ensaios deuma ópera ("The Rake´s Progress", deStravinsky, encenação de Rui Horta, edirecção musical de Joana Carneiro)que trata do amor, a perda e a loucura,"tão comuns - sublinha - na óperacomo na vida".

PRÉMIO GAZETA DE FOTOGRAFIAatribuído ao fotojornalista açoreanoPepe Brix pela reportagem "CódigoPostal: A2053N", um impressionanteretrato da vida dos pescadoresportugueses a bordo dosbacalhoeiros da frota portuguesa,que continuam a embarcar rumo àTerra Nova. O trabalho foi publicadona edição de Fevereio de 2015 daedição portuguesa da NationalGeographic e, posteriormente,

noutro formato, na DN Magazine.Rita Colaço, da Antena 1, foi avencedora do PRÉMIO GAZETA DERÁDIO, com a reportagem "Mar daPalha, Zona C", sobre o quotidiano de centenas de homens, mulheres e, porvezes crianças, em busca de ameijoano estuário do Tejo. Ganha-se e perde-se a vida - descreve a repórter - masdali saem toneladas de amêijoajaponesa, dando início a um circuitoilegal até Espanha. As que ficam emPortugal chegam à mesa dosconsumidores, muitas vezes,contaminadas porque se encontramem zona C - área que exige umadepuração especial, inexistente nonosso país.

PRÉMIO GAZETA MULTIMÉDIAatribuído a Catarina Santos pelareportagem "20 anos são dois dias",publicada no site da Rádio Renascença.Com recurso a texto, vídeo, fotografiae elementos gráficos, Catarina Santosrevisita a Bósnia e Herzegovina, 20anos depois do fim da guerra,procurando entender, e descrever, atéque ponto as feridas abertas peloconflito foram sarando, e se a miragemde uma possível integração na UniãoEuropeia contribui ou não para odesenvolvimento efectivo do país.

Ricardo J. Rodrigues foi o vencedordo PRÉMIO GAZETA DE IMPRENSA

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PrémiosGazeta 2015

Prémios Gazeta

Atribuídos osGazetas 2015

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com o trabalho "Um milagre naGuerra ou as muitas vidas de IsabelBatata Doce", publicado na NotíciasMagazine. Com sensibilidade e rigorjornalístico, conta-se a história deuma bebé de 2 anos, encontrada porsoldados portugueses no mato, emAngola, no tempo da guerra colonial.Acolhida no quartel e trazida depoispara Portugal, aqui cresceu com oapoio desses militares. No dia 29 deSetembro de 2015, cinquenta anosdepois, Isabel Jacinto procurou noarquivo do Diário de Notícias umexemplar da edição que meio séculoantes noticiara, na primeira página, obaptismo da menina, no Sameiro, emBraga. Isabel queria levar uma cópiado jornal ao almoço de convívio dosantigos militares e, também, fazerperguntas, tentar reconstruir amemória desse passado de que sabiatão pouco e "gostava tanto de sabermais."

O PRÉMIO GAZETA DE TELEVISÃOfoi atribuído pelo júri a Sofia Leite,da RTP, pela reportagem "Água Vai,Pedra Leva", sobre as levadas daMadeira, uma engenhosa formatradicional de irrigação dos terrenosdo sul por águas do lado norte e dointerior montanhoso, que remonta aopróprio povoamento da ilha e setornou património cultural. Estesautênticos aquedutos, talhados na

rocha desde o século XV, têm, hoje,mais de 1500 quilómetros deextensão. Nos anos 40 do séculopassado houve um grande impulsona construção de levadas. Ostrabalhadores eram suspensos do altoem cestos de vime, enquantoatacavam a pedra resistente compicaretas. Muitos perderam a vidapara levar água e eletricidade à ilha.A reportagem apresenta, pelaprimeira vez, imagens em movimentoda construção das levadas, e narra,através de testemunhos inéditos, essasecular epopeia madeirense. - A imagem de Paulo Alexandre,edição de imagem: Sérgio Alexandre esom de António Garcia.

Ao jornal Reconquista, semanário daBeira Baixa, com sede em CasteloBranco, foi atribuído o GAZETA DEIMPRENSA REGIONAL. Fundado emMaio de 1945, o jornal, dirigido porAgostinho Dias, assume-se, desdeentão como "semanário regional deinformação geral e de inspiraçãocristã". Graças à sua ampla ediversificada informação sobre arealidade regional, a par de uma bemsucedida interação com as escolas daregião, o Reconquista assume-se,igualmente, como líder de audiênciasna sua área de influência, comnúmero considerável de assinantes,uma tiragem semanal de 13 mil

exemplares e uma atractiva, epermanentemente actualizada ediçãoon-line.

O Troféu GAZETA DE MÉRITO foiatribuído a Vicente Jorge Silva.Natural da Madeira (1946). VJS iniciouuma longa e destacada carreira dejornalismo na direcção do Comércio doFunchal, um dos casos mais singularesna Imprensa portuguesa no tempo daditadura. Teve, depois do 25 de Abril,um papel determinante na criação edirecção da Revista do Expresso,publicação de referência na abordagemdos temas culturais e internacionais.Fundador e primeiro director do jornalPúblico, Vicente Jorge Silva é umindiscutível exemplo de profissionalinovador e pioneiro na Imprensanacional das últimas décadas do séculoXX.

O Júri dos Prémios Gazeta 2015 teve aseguinte constituição: Eugénio Alves(CJ), Cesário Borga (CJ), EvaHenningsen (Associação da ImprensaEstrangeira em Portugal), FernandaBizarro (Freelancer), Fernando Correia(jornalista e professor universitário),Fernando Cascais (docenteuniversitário e Cenjor), Jorge LeitãoRamos (crítico de cinema e televisão),José Rebelo (docente universitário) ePaulo Martins (docente universitário eComissão da Carteira Profissional). JJ

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GAZETA REVELAÇÃO

Sibila Lind"Sibila é o nome daprimeira que nascer",disse a minha mãe aopousar o livro deAugustina Bessa-Luís. Eassim foi. Nasci em1990, em Braga, mas

um ano depois já estava a viver na capital.O desenho foi a minha primeira paixãomas quando terminei a licenciatura emBelas Artes, acabei por me interessar maispela fotografia e pelo vídeo. Fiz parte doprojecto "A música portuguesa a gostardela própria" e mais tarde entrei naCâmara Municipal de Cascais, ondepassado um mês já tinha uma fotografiacomo capa do jornal. Foi aí que percebique adorava trabalhar com imagem, masespecialmente se lá estivesse uma coisa:uma história. No primeiro ano domestrado em Jornalismo, fui convidadapara fazer parte de uma cooperativa demedia digitais: os "Bagabaga Studios". Foio meu primeiro contacto com o mundodo jornalismo, que mais tarde se veioedificar com a entrada no jornalPÚBLICO, como jornalista multimédia. Na minha tese de mestrado, relacionei aarte com o jornalismo e explorei aimportância das "estórias" e da "voz" e"olhar" no contexto jornalístico, quedesaparecem quando optamos pelaimparcialidade e objectividade. Gosto detrabalhar com temas ligados aos direitoshumanos, igualdade de género e comhistórias de pessoas "cujas vidas privadastêm um grande significado". Comojornalista multimédia, procuro aproximaro storytelling ao mundo visual, sempre nafronteira entre arte e jornalismo que, como passar do tempo, acredito que se venhaa tornar cada vez mais imperceptível.

EXPERIÊNCIA PROFISSIONALFevereiro 2015 Jornalista multimédia nojornal PúblicoAbril 2014 Colaboradora nodepartamento de narrativa e produçãomultimédiaFevereiro 2013 - Janeiro 2014 Fotógrafa naCâmara Municipal de CascaisJaneiro - Abril 2013 Videógrafa no

Projecto "A Música Portuguesa a Gostardela Própria"

FORMAÇÃO2013/2015 Mestrado em Jornalismo(FCSH)2011 Erasmus, Arte Multimédia(Muthesius Kunsthochschule, Alemanha)2008/2011 Licenciatura em Artemultimédia (FBAUL) EXIBIÇÃO DE FILMES2016 "Como se não existisse nada" noDoclisboa2016. "Chá da meia-noite" nofestival internacional ChangingPerspectives Short Film Festival e naconferência Queering Partnering 20162015 "Chá da meia-noite" no festivalQueerLisboa19 e no festival XV Encontrosde cinema de Viana do Castelo. "Assim naterra como no céu" no festival XVEncontros de cinema de Viana do Casteloe Curtas à beira-mar. "Um dia normal" nasessão especial do jornal Público noDoclisboa2015

EXPOSIÇÕES23/31 Maio, 2014 "Aus!Ich bin Josefina" e"Wanderlust" no Palácio Quintela, Lisboa25 Novembro, 2011/14 Janeiro, 2012"Aus!Ich bin Josefina" na PlataformaRevólver, Lisboa

GAZETA DE FOTOGRAFIA

Pepe BrixPepe Brix nasceu em1984 na ilha de SantaMaria, no seio de umafamília de fotógrafos eartistas. Seu pai, MaxBrix Elisabeth e seu Avô

Pepe, ambos fotógrafos, foram certamentea sua inspiração! A criatividade e espíritode aventura, seguramente uma herançade sua avó Emma, trapezista no CircoCardinali.Pepe Brix é o nome artístico de Rui BarrosBrix Elisabeth, um jovem mariense, quetoda a gente conhece, de que toda a gentegosta! De quem toda a gente é amiga!Pepe Brix, com 12 anos de idade, começoua fotografar e dedicou-se também aosserviços de laboratório no estúdio do seu

pai. Após terminar os estudos em SantaMaria, realizou um curso profissional defotografia no Porto, no Instituto Portuguêsde fotografia. O seu espírito de aventureiro levou-o arealizar expedições a lugares longínquos,sempre com a ânsia de conhecer outrasculturas, outras personalidades, outrospovos, outros Mundos.Em 2009, Pepe aventurou-se numagrande expedição ao Peru, ondefotografou sítios como Mancora,Amazônia, Cusco, Lago Titicana eArequipa, da qual resultou a exposiçãofotográfica "Inti Raymi, na Rota do Sol".Em 2012, foi a vez de explorar a Índia e oNepal, durante 4 meses, e que teve comoresultado a exposição fotográfica "Ensaiosobre o comprimento do silêncio",estruturado em dois andamentos: "Índia,a horizontalidade do silêncio" e "Nepal, averticalidade do silêncio", resultando napublicação de um livro com o mesmonome em co-autoria com o escritor DanielGonçalves, que escolheu Santa Maria paraviver.Em 2015, integrou a expedição de motoLisboa-Pequim-Lisboa, em quedocumenta a viagem de 2 meses de 3portugueses pelo Mundo. Pepe foi, ainda,júri em várias edições do concurso"Labjovem - Jovens Criadores", e emconcursos de fotografia subaquática.

GAZETA DE RÁDIO

Rita ColaçoRita Colaço nasceu emMação em 1979.Julga que quase nasceurepórter, enfeitiçadapelo cheiro da cortiçade uma rádio piratanos arredores de

Abrantes. Porém, foi por entrecumulonimbus e nuvens dedesenvolvimento horizontal que seformou, condensados numa licenciaturaem geografia. Interessada emcompreender e contar fenómenoshumanos, mais do que os naturais,embora ambos indissociáveis,reencontrou-se com o som no CENJOR

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em 2001. Na Antena 1 desde 2003,esteve em países como Coreia do Norte,Coreia do Sul, Uganda, Líbano ouJordânia, mas vê Portugal como um paísde latitudes ainda por contar.Actualmente, é produtora e repórter noprograma semanal "Só Neste País".Temsido várias vezes premiada pelas suasreportagens e é a segunda vez querecebe o Prémio Gazeta de Rádio.

GAZETA MULTIMÉDIA

Catarina SantosCatarina Santos nasceuem 1982 em São Pedrode Avioso, Maia.Enquanto se distraíacom as novelas feitas depedaços de memória dosavós foi desenvolvendo

um especial interesse por ouvir e contarhistórias.No momento de escolher um curso, oJornalismo surgiu como promessa deum dia poder escrever todos os dias.Mas, sem aviso, a rádio tropeçou-lhe nocaminho e apaixonou-a. Ao mesmotempo, os primeiros contactos com ovídeo foram-lhe fermentando a vontadede explorar caminhos visuais paraconstruir narrativas jornalísticas. Foi,portanto, já a fazer algum malabarismoque completou, em 2004, a licenciaturaem Jornalismo e Ciências daComunicação na Universidade do Portoe estagiou na Rádio Renascença.Saltitou depois entre colaborações avulsasaqui e acolá, incluindo um jornal só paramédicos e um canal de televisão só paraestudantes, até aterrar de novo na RádioRenascença, em 2008, agora na equipamultimédia.Tem para si que não há meio que abramais espaço para a imaginação do que arádio; que há enquadramentos darealidade que não prescindem do poderda imagem; que a palavra escrita serásempre insuperável no que permite deprofundidade e precisão. Seja em temasde sociedade, na área do cinema ou nomeio de uma campanha eleitoral, vê napossibilidade de dispor de todas estas

ferramentas uma enorme mais-valia,colocando cada meio a prestar o serviçoque mais se adequa a cada reportagem.

GAZETA DE IMPRENSA

Ricardo J. RodriguesRicardo J. Rodriguesnasceu em 1976 e éjornalista desde1998. Escreve naNotícias Magazine eensina jornalismo naUniversidade

Lusófona, em Lisboa. Esteve naequipa fundadora da revista Focus ecolabora regularmente com o jornalbrasileiro Folha de São Paulo, a revistafrancesa Courrier International e oDiário de Notícias. Entrevistou oDalai Lama e o líder de um ganguede traficantes de armas, um cegoque voltou a ver e o coveiro de umcemitério no Iraque. Antes dereceber o prémio Gazeta de 2015,tinha sido reconhecido com doisprémios de Jornalismo Contra aDiscriminação, da ComissãoEuropeia, o prémio DireitosHumanos e Integração, o PrémioLiterário Orlando Gonçalves e duasmenções honrosas do Prémio AMI -Jornalismo Contra a Indiferença.Estudou no Committee ofConcerned Journalists, emWashington, e na UniversidadeNova de Lisboa. Escreveu três livrosde reportagem. O último chama-seMalditos, histórias de homens e delobos.

GAZETA DE TELEVISÃO

Sofia LeiteSofia Leite é licenciada em Jornalismo pelaE.S.J. Ecole Supérieure de Journalisme -Paris, França. DEUG- Diplôme de EtudesGénérales Universitaires- em CiênciasHumanas, Universidade Sorbonne-Nouvelle, Paris V -René Descartes.Jornalista na RTP, passou por várias

redações,nomeadamente EmReportagem, Bombordo,Planeta Azul e realizouvárias reportagens paraos programas City-Folk,Memorial Sites, People on

the Move - co-produções entre televisõeseuropeias no âmbito da EBU-EuropeanBroadcast Union. Escreveu para as revistasGrande Reportagem e Volta ao Mundo. Éautora de diversas reportagens edocumentários, dos quais se destacam: -"Slavonia, a Ultima Travessia" - premiadono Festival MATT, em 1998; "Imobiliário, aÚltima Praga do Sobreiro", premiado noFestival CineEco de Seia, em 2000; "ORegresso da Águia Pesqueira", premiadono Festival Ambiente do Norte Alentejano,em 2001; "A Lista de Chorin", em co-autoria com António Louçã, GrandePrémio Gazeta de 2007. Selecionado para oFestival Bakaforum de Basileia, em 2009;"Portugueses nas Trincheiras"- em co-autoria com António Louçã- 2008; "CesáriaÉvora- Nha Sentimento"- 2010; "Água vai,Pedra leva", 2015 ; "A Espera", 2016.

GAZETA IMPRENSA REGIONALA primeira edição do Reconquista épublicada a 13 de maio de 1945. O fim daSegunda Guerra Mundial e os últimospreparativos para a abertura do Hotel deTurismo de Castelo Branco foram algunsdos temas. O jornal teve quatro páginas euma segunda tiragem. O primeiro diretorfoi o padre A. Costa Pinto, tendo comoredator Duque Vieira e como editorFrancisco Vilela. A redação e administraçãoficavam na Papelaria Semedo, ondetambém era composto e impresso. A 24 dejunho, na edição número 7, é publicadapela primeira vez uma fotografia numaprimeira página, uma imagem de São JoãoBatista. A 11 de novembro a primeirapágina surge pela primeira vez a duascores: preto e vermelho A 4 de novembro épublicado o primeiro número de"Flâmula", o primeiro suplemento mensaldo Reconquista, que se apresentava como"a folha de novos para novos". Em 1956,José de Sena Esteves assume a direção,seguindo-se, em 1960, o Cónego Anacleto

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Martins e, em 1974, Joaquim Cabral. Em1978 é adquirido o primeiro equipamentopróprio de impressão. José Bernardino dosSantos assume a direção em 1985,seguindo-se, em 1986, Alfredo deMagalhães, o diretor que esteve maistempo no cargo: 19 anos. Em1989, éinaugurado um novo pavilhão na ZonaIndustrial de Castelo Branco e adquiridonovo equipamento gráfico. O espaçoseria ampliado anos mais tarde para aexpansão da gráfica. Em 1995, porocasião dos 50 anos da fundação, recebea Benção Apostólica do Papa João PauloII e a Medalha de Ouro da Cidade deCastelo Branco. Em 2000 é lançada aedição eletrónica www.reconquista.pt.Em 2003 é membro fundador da RedeExpresso, um projeto do semanário dogrupo Impresa com os principais títulos daimprensa regional. Em 2005, a Rotativa éampliada e é adquirido novo equipamentode pré-impressão. No período de 2001 a2005 são investidos mais de um milhão deeuros suportados por receitas próprias,para manutenção dos postos de trabalho.Alfredo de Magalhães morre no final doano e é substituído interinamente nadireção por José Júlio Cruz. Em 2007,Agostinho Dias assume a direção do jornale dá-se início ao projeto "Educação para os

Média na Região de Castelo Branco",financiado pelo Reconquista e pelaFundação para a Ciência e a Tecnologia edesenvolvido na região da Beira Baixaentre outubro de 2007 e março de 2011.Ainda em 2007 avança a produção deconteúdos multimédia, com a abertura deum canal no Sapo Vídeos. Em 2009 é aabertura de canal no Youtub e, em2010, oProjeto "Educação para os Média naRegião de Castelo Branco" alcança aMenção Honrosa do Prémio Mundial deJovens Leitores da Associação Mundial deJornais (2010 World Young Reader Prize-Special Mention), entregue em SãoFrancisco, nos Estados Unidos da América.Em 2011 recebe a Ordem de Mérito daPresidência da República, no âmbito dascomemorações do Dia de Portugal emCastelo Branco, e tem início a versãodigital, sistema que permite ler uma versãodo jornal em papel na internet, e aredação, paginação e publicidade deixam azona industrial e instalam-se na rua de S.Miguel, onde já funcionava aadministração e os serviçosadministrativos. Em 2016 é renovada aversão da internet, pela primeira vezadaptada a smartphones e tablets, e venceo Prémio Gazeta de Imprensa Regional2015, atribuído pelo Clube dos Jornalistas.

GAZETA DE MÉRITO

Vicente Jorge Silva

Natural da Madeira(Funchal, 1945), VicenteJorge Silva teve a suaprimeira e destacadaintervenção jornalísticana direção do semanário

Comércio do Funchal, imprimindo-lhe umcaracter dinâmico e progressista, com umaampla difusão nacional e reconhecidainfluência na renovação da imprensaregional portuguesa. Foi, a seguir ao 25 deAbril de 1974, chefe de redacção e director-adjunto do semanário Expresso, onde teveigualmente papel pioneiro e renovador natransformação da revista editada pelojornal. Co-fundador e primeiro director dojornal Público, teve, depois, uma curtaexperiência política como deputado peloPartido Socialista (PS) - eleito pelo círculoeleitoral de Lisboa -, seguindo-se acolaboração, sucessivamente, comocolunista do Diário Económico, Diário deNotícias, semanário Sol e, maisrecentemente, do jornal Público.O cinema foi, a par do jornalismo, outradas suas paixões. Como realizador, foiautor de O Limite e as Horas (1961), ODiscurso do Poder (1976), Vicente Fotógrafo(1978), Bicicleta - Ou o Tempo Que a TerraEsqueceu (1979), A Ilha de Colombo (1997).Porto Santo (1997), seu último filme, foiexibido no Festival Internacional deGenebra.

Prémios Gazeta 2015

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Quase duas décadas depois do último congresso, os jornalistasmobilizaram forças - e encontram vontades - para voltarem

a reunir-se. “Afirmar o Jornalismo” é o lema do 4.º Congresso, que vaidecorrer entre 12 e 15 de janeiro no Cinema São Jorge, em Lisboa.

CONGRESSO

é o lemado 4.º Congresso

Texto Paulo Martins

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Um olhar de relance pelos documen-tos em que assentou o debate trava-do em 1998 pode levar à conclusãode que no mundo do Jornalismo osproblemas persistem - ou, pior, deque não foram debelados por faltade concretização das decisões então

toma das. A perspectiva só em parte corresponde à reali-dade. Certos constrangimentos mantêm-se, mas insta-laram-se outros, por efeito das múltiplas crises que atingemos media. Por si só, merece reflexão o facto de as propostasaprovadas terem ficado no papel. Todavia, deve reco -nhecer-se que essa responsabilidade é de todos os jorna -listas, não apenas dos organismos que os representam.

O mundo mudou e o Jornalismo também. Velhosdesafios ganharam roupagens diferentes e todos os diassurgem novos. O contexto económico-financeiro agravoua precariedade laboral. Os organismos de regulação min-guam de eficácia. O impacto das tecnologias acentuou-se.A ética sofre tratos de polé. Nestas condições, é imperioso"afirmar o Jornalismo". Ou seja: reabilitar o papel social dojornalista, para que melhor sirva o público, satisfazendo odireito de todos nós à informação.

Não basta, portanto, o diagnóstico; é preciso avançarcom terapias. Um propósito, de complexa concretizaçãosem o envolvimento ativo dos profissionais, que animou oSindicato, a Casa da Imprensa e o Clube de Jornalistas.Pela primeira vez, um congresso é promovido conjunta-mente pelas três mais relevantes instituições da classe,que para o efeito convidaram Maria Flor Pedroso a pre-sidir à Comissão Organizadora. A expetativa de que pro-porcione um debate aberto, capaz de ultrapassar as fron-teiras de um muro de lamentações e apto a apresentarsoluções concretas, emergiu entre os jornalistas. Onúmero de inscrições - quase 500, cerca de uma centenadas quais de estudantes, só até ao final de outubro - provaque o congresso é percecionado como uma necessidade.

Desde junho passado, realizaram-se vários debates -em Coimbra, Beja, Leiria, Lisboa, Porto e Braga - destina-dos a identificar os principais temas a consagrar no pro-grama do congresso. Com base nessa auscultação alarga-da, foram distribuídos por sete sessões. A saber: 1. O esta-do do Jornalismo; 2. Ensino, acesso à profissão e formaçãoprofissional; 3. Regulação, ética e deontologia; 4.Condições de trabalho dos jornalistas; 5. A viabilidadeeconómica e os desafios do Jornalismo; 6. Jornalismo deproximidade e a profissão fora dos grandes centros; 7.Afirmar o Jornalismo: independência e credibilidade.

A estrutura das sessões privilegia, naturalmente, aapresentação de comunicações previamente selecionadas,sem prejuízo da posterior publicação integral. Trata-se deapresentações sucintas, de forma a libertar tempo paradar a palavra aos congressistas. Em cada sessão, tem aindalugar um painel de debate, para o qual foram convidados

jornalistas que produzem reflexão sobre o tema em causa.Em paralelo, realizam-se mesas redondas dedicadas aproblemas mais específicos.

Inovadora é a montagem de uma redação multi-plataforma, que envolverá 20 docentes universitários e 80estudantes. Oportunidade para futuros profissionaisporem a mão na massa, cobrindo os trabalhos através daimprensa, rádio, televisão e online. Dez instituições deensino superior cuja oferta formativa inclui cursos na áreado Jornalismo são parceiras na concretização do projeto.

Nos dias que precedem o congresso, um ciclo de cine-ma sobre jornalismo, que integra filmes como o consagra-do "Spotlight", serve de pretexto para debater com per-sonalidades externas à profissão a forma como a perce-cionam. Momentos concebidos para acolher a visão críticados destinatários da informação, o que promete torná-losparticularmente ricos.

O 4.º Congresso conta com o patrocínio do presidenteda República e um vasto conjunto de apoios de institui -ções e empresas. Todos tornados públicos, de forma trans-parente, no site do congresso - www.congressodosjornal-istas.com.

Não basta o diagnóstico, épreciso avançar comterapias. Um propósito, decomplexa concretizaçãosem o envolvimento ativodos profissionais, queanimou o Sindicato, a Casada Imprensa e o Clube deJornalistas

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A FOTOGRAFIANA IMPRENSAO olhar dos fotojornalistas portugueses

RICARDO GRAÇA

ANÁLISE

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PERCURSOS DO FOTOJORNALISMO EM PORTUGAL

Roland Barthes diz que, na sua aceçãomais básica e primordial, a fotografiatem qualquer coisa de tautológico:"nela, um cachimbo é sempre umcachimbo, infalivelmente" (1980:18).A inegável vertente de veracidade quea descoberta da fotografia trouxe foi

vista como um forte elemento para o jornalismo, já quetem um carácter de confirmação do real - a fotografiacomo uma prova do que aconteceu.

Ainda que muito pouco a pouco, foi no século XIX quea fotografia começou a marcar o seu lugar no mundo dojornalismo, o qual foi crescendo ao longo da história, emtodo o mundo; e é desta forma que surge o que hojedenominamos por fotojornalismo: fotografar para infor-mar. "As manifestações iniciais do fotojornalismo ocorremquando se aponta a câmara para um acontecimento, comintenção de testemunhá-lo e de fazê-lo chegar a um deter-minado público" (Barcelos, 2009:5).

A fotografia jornalística evoluiu tanto a nível estético,como técnico, considerando que o seu principal cresci-mento teve palco nas guerras (Sousa, 2004), como aGuerra da Crimeia e a Grande Guerra.

Concentrando-nos na realidade portuguesa, o marcohistórico 25 de abril de 1974 é considerado um ponto deviragem para Portugal também no jornalismo, provocan-do consequentes mudanças (Cardoso, 2014:275). Pouco apouco, a imprensa portuguesa foi dando mais importân-cia à qualidade da fotografia enquanto meio visual. São

alguns os exemplos de jornais que se tornaram memo-ráveis, por terem feito a diferença e, com isso, mudar ofotojornalismo português.

O semanário Tal & Qual é considerado o pontapé departida na afirmação da liberdade de expressão conquista-da e, entre outras publicações, o aparecimento do jornalPúblico revelou-se necessário, já que, com o término d' OSéculo, "o panorama jornalístico nacional ressentiu-se coma ausência de um jornal de referência com uma linha dis-tinta do conservador Diário de Notícias" (2014:305). OPúblico trouxe, ao jornalismo português, o respeito pelafotografia, recusando maus tratos à matéria informativa."Pela primeira vez, um jornal olhava para a peça jornalís-tica como um triângulo essencial que considerava afotografia tão importante como o texto e os elementos grá-ficos" (Cardoso, 2014:306). Foi o primeiro jornal diário acriar uma secção de edição de fotografia em Portugal(Silva, 2010). À parte das diferenças entre os anos de ourode jornalismo e atualmente, o Público é ainda hoje considera-do a referência do fotojornalismo português para a maio-ria dos fotojornalistas, já que defende a combinação dafotografia enquanto objeto estético e enquanto meio infor-mativo.

Com a aposta fotográfica do Público, e ainda que comperiodicidades diferentes, é nesta altura que a redação dosemanário Expresso se sente ameaçada, levando a que, nofinal da década de 80, início da de 90, o jornal assuma umponto de viragem, de melhorias técnicas e de maioratenção para com a fotografia: criou o próprio núcleo defotojornalistas, considerando-se o primeiro a assumir umaeditoria fotográfica em Portugal (Cardoso, 2014).

Vivemos atualmente uma era em que fotografar se tornou umaprática de rotina. Com as novas tecnologias, a digitalização e aexistência de dispositivos, como o telemóvel, ao alcance de

qualquer um, a fotografia corre o risco de se banalizar. Se isso acontece numcontexto amador, em ambiente profissional assistimos nos últimos anos aalgumas práticas que têm deixado os fotojornalistas preocupados emrelação ao seu futuro. No presente artigo, que resulta de uma tese demestrado sobre o fotojornalismo português, procuramos analisar o modocomo os fotojornalistas em Portugal encaram a sua profissão tendo emconta a emergência da Internet, o valor atribuído à fotografia nas publi-cações nacionais e os constrangimentos inerentes à prática jornalística.

Texto Carina Martinho Coelho

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A afirmação do fotojornalismo português - quecomeçou também por se fazer através da educação, tantonas escolas de jornalismo, como de fotografia - resultou,em grande parte, devido ao surgimento de jornais comoO Independente, Público e Expresso, que começaram porimplementar políticas de qualidade fotojornalística (Silva,2010). A constante concorrência entre as publicações, eapós um ano de queda abruta na venda de jornais, levoua que também o Diário de Notícias evoluísse fotografica-mente (Cardoso, 2014).

Para o progresso do fotojornalismo português tambémtêm sido importantes determinadas iniciativas nacionaisque potenciam a fotografia enquanto meio jornalístico,como o Prémio VISÃO Fotojornalismo, criado pela revistaVisão, e a formação Estação Imagem, que premeia apenasfoto-reportagens (Silva, 2010).

OS FOTOJORNALISTASNa seleção dos fotojornalistas para as entrevistas, o objeti-vo foi tentar garantir diversidade em relação à origemprofissional dos mesmos. Deste modo, optámos por entre-vistar profissionais com diferentes funções (tantorepórteres e editores empregados num órgão de comuni-cação social, bem como freelancers) de diferentes meios decomunicação social (jornais e revistas, em ambos os for-matos: papel e online), de agências de notícias e defotografias (Lusa e Global Imagens), de órgãos de comuni-cação nacional e local, e também de órgãos com diferenteperiodicidade (diária e semanal). Foram entrevistados dezprofissionais, servindo a tabela seguinte para apresentargenericamente cada um deles.

REDUÇÃO DE PROFISSIONAIS

Os desafios atuais do jornalismo pas-sam, num primeiro plano, pela crisede meios humanos. À luz da criseeconómica geral, transversal à maio-ria dos países europeus, é necessárioencurtar a lista de custos, porque ojornalismo é também um negócio

(Traquina, 2000).No primeiro relatório anual da World Press Photo sobre

a prática fotojornalística mundial, a fotografia na impren-sa, é referido que os fotojornalistas sentem os riscos doponto de vista financeiro e que isso tem consequência aonível da precaridade do trabalho e, consequentemente, degarantir uma retribuição financeira para os fotojornalistas(Campbell, Hadland & Lambert).

Na realidade portuguesa, várias foram as organizaçõesjornalísticas que viram o despedimento como umasolução para combater a crise financeira. Desde 2000 queo Sindicato dos Jornalistas tem tomado várias posiçõespúblicas contra os despedimentos nos média, nomeada-mente no seu site. Foi em junho de 2001 que o Sindicatose mostrou preocupado com a perspetiva de despedimen-tos na redação da SIC, e disposto a "intervir pelas formasque venham a ser consideradas convenientes." Depoisdisso, os artigos que anunciam despedimentos sãoinúmeros, referentes a diferentes órgãos de comunicaçãosocial.

Assistimos já a vários despedimentos coletivos, comoocorreu no Público, em 2012. Em 2014, foram despedidos 140

trabalhadores (64 jornalistas) doantigo grupo Controlinvesteque "terá alegado razões finan-ceiras para o despedimento, masos trabalhadores criticaram afalta de outras soluções.", con-forme noticiou o jornal Públicono dia 12 de junho de 2014.

Em fevereiro de 2015, e apóster assistido à primeira audiçãoparlamentar do novo Conselhode Administração da RTP, oSindicato dos Jornalistas con-siderou "lamentável que, aindaantes de 'tirar a fotografia' àempresa pública de rádio etelevisão, o novo Conselho deAdministração da RTP admita,desde já, uma nova redução depessoal em áreas designadas de'baixo valor acrescentado'", deacordo com a notícia publicado

no seu site, a 4 de fevereiro de 2015.Ana Jesus Ribeiro, atualmente formadora em fotojor-

ANÁLISE Fotojornalismo

Idade Atual local de trabalho Condição e cargo

Ana Ribeiro

Rui Pedrosa

João Santos

Miguel Madeira

Paulo Cunha

Ricardo Graça

Joaquim Dâmaso

Francisco Paraíso

Hugo Amaral

José Caria

44 anos

30 anos

40 anos

44 anos

49 anos

35 anos

41 anos

50 anos

34 anos

41 anos

CAPhoto Formação

Correio da Manhã e CMTV (Leiria)

Expresso, Diário Digital, CourrierInternacional e ExamePúblico, Fugas e Ípsilon

DN, JN, Record, Lusa através daempresa própria SlideshowJornal de Leiria, Global Imagens,Lusa, Público, Preguiça MagazineRegião de Leiria

Correio da Manhã, Record, CMTV,SábadoObservador

Visão e Expresso

Formadora

Fotojornalista erepórter de imagemEditor

Editor

FotojornalistafreelancerFotojornalistafreelancerFotojornalista e editorde fotografiaDiretor de imagem

Fotojornalista, repórterde imagem e jornalistaFotojornalista

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nalismo, é uma das vítimas dos frequentes e massivos des-pedimentos, quando nos conta que foi despedida "naprimeira dispensa coletiva da Controlinveste."

De acordo com a Comissão da Carteira Profissional deJornalista (CCPJ), atualmente "existem 194 jornalistas comcarteira profissional, desempenhando funções de fotojor-nalista. Destes, 111 estão em regime livre (ex: recibosverdes), trabalhando os restantes 83 por conta de outrem(contrato)".

No entanto, não podemos descurar que "os jornalistascom mais de 10 anos consecutivos de actividade (ou 15interpolados) não são obrigados a fazer prova do local oupara que órgãos trabalham, aplicando-se o mesmo para oregime de colaboração (conta de outrem ou freelancer).Desta forma, poderá ainda haver casos em que umrequerente pode assinalar, por exemplo, no formulário derevalidação de carteira, que é 'jornalista' ou 'redactor' mastambém pode acumular funções de fotojornalista, semque o refira."

Estes dados foram facultados via e-mail, pela CCPJ, a18 de maio de 2015.

Segundo o estudo da World Press Photo, "the majority ofphotographers (60%) who responded to the survey wereself-employed" (Campbell, Hadland & Lambert, 2015:6).

RÉPLICAS DO ONLINE

Além da redução de trabalhadores, aevolução tecnológica é também respon-sável pelas últimas grandes alteraçõesque se têm vindo a sentir no jornalismo.Com o surgimento da Internet tem-seassistido a rápidas transformações - tãorápidas, que os profissionais do jornalis-

mo ainda estão a adaptar-se a esta 'nova' realidade:Na sua investigação sobre o ciberjornalismo, Fernando

Zamith afirma que "o surgimento, expansão e popularizaçãoda Internet (...) provocou uma adesão quase instintiva porparte daqueles que daí em diante passaram a ser designados'meios tradicionais' de difusão de jornalismo" (2011:19).

Há uma crescente aposta no jornalismo on-line e, com isso,as redações dos jornais sofrem mudanças, já que o jornalismoem papel não é, nem pode ser, igual ao jornalismo online.

Esta transmutação para o online tem-se revelado umperíodo difícil para os jornalistas de imprensa, em grandeparte para os fotojornalistas, tendo em conta que aInternet promove, a grande escala, a imagem: o espaçopara as fotografias é ilimitado e a sua leitura rápida - faceao texto - leva a um aumento da frequência do seu uso.

Não foi só o número de trabalhadores que sofreu coma crise económica; os cortes são transversais a tudo,incluindo o número de jornais impressos e até a existênciade órgãos de comunicação social.

A Internet, pelas suas características, exige mais dos jor-nalistas: rapidez, velocidade. Se o fator tempo já era, atéentão, o calcanhar de Aquiles dos jornalistas, o ciberjorna -lismo veio sublinhá-lo a vermelho. "A capacidade de pu -blicar instantaneamente qualquer conteúdo jornalístico(...) é outra das pequenas revoluções causadas pelaInternet. Até à difusão pública deste novo meio, só os jor-nalistas e editores das agências noticiosas tinham o privilé-gio de poder difundir notícias a qualquer momento, 24horas por dia, sem limitações temporais" (Zamith, 2011:34).

Muito embora a produção aumente - porque o online,ao contrário do papel, não apresenta condicionantes rela-tivas ao espaço -, não significa que a qualidade do jorna -lismo se mantenha.

No caso concreto do fotojornalismo, e numa primeirafase, quando inserido no contexto online, sofre umprocesso de aceleração: "máquina ? Web. (...) Maior veloci-dade, maior número de imagens, menor custo e emmenor tempo" (Ferreira, 2003:7). A sociedade vive hoje,mais do que nunca, em função da fotografia, já que são deleitura mais rápida que o texto. Na Internet, o uso da

No final da década de 80, início da de 90,o Expresso assume um ponto de viragem,de melhorias técnicas e de maior atençãopara com a fotografia: criou o próprionúcleo de fotojornalistas, considerando-seo primeiro a assumir uma editoriafotográfica em Portugal

O Público é ainda hoje considerado areferência do fotojornalismo português paraa maioria dos fotojornalistas, já quedefende a combinação da fotografiaenquanto objeto estético e enquanto meioinformativo

De acordo com a Comissão da CarteiraProfissional de Jornalista (2015) "existem194 jornalistas com carteira profissional,desempenhando funções de fotojornalista.Destes, 111 estão em regime livre (ex:recibos verdes), trabalhando os restantes83 por conta de outrem (contrato)"

"A fotografia no online, ou é alguma coisaque te surpreenda, ou então é pura esimplesmente suporte. Só tem de haveruma marca, é quase um chamariz. Afotografia não é essencial, é acessório. Nopapel, muitas vezes, é o contrário."

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ANÁLISE Fotojornalismo

"Com a capacidade que se desenvolveudas máquinas fotográficas poderem filmar,já há colegas nossos que têm de fotografare filmar ao mesmo tempo e ter acapacidade de enviar os dois trabalhos.Isso prejudica muito."

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imagem é cada vez maior e isso põe em causa o papel dofotojornalismo, "mas também nos levam a pensar como ascaracterísticas (memória, interatividade, personalização...)da Internet vão, de forma marcante, afectar a produção deimagens" (Ferreira, 2003:8).

Como nos conta João Carlos Santos, editor defotografia do Expresso, "No Observador as fotografias sãouma tira. Tens uma quantidade de coisas que, no online,matam a imagem. Mesmo as fotogalerias, nada aindabatem o poder de ter as fotografias na página, apesar deas pessoas consumirem. A fotografia no online, ou é algu-ma coisa que te surpreenda, ou então é pura e simples-mente suporte. Só tem de haver uma marca, é quase umchamariz. A fotografia não é essencial, é acessório. Nopapel, muitas vezes, é o contrário."

Portanto, a migração do jornalismo para a Internet levaa inevitáveis repercussões no fotojornalismo português."Alegando redução de custos, as várias opções editoriaisadotadas têm relegado a fotografia para segundo planono dia-a-dia das redações e consequente lugar que ocupanos jornais. Após três décadas de profundas transfor-mações, os jornalistas-fotógrafos veem agora todas as con-quistas se esboroarem" (Cardoso, 2014:276).

IDENTIDADES PERDIDAS NA POLIVALÊNCIA?

Aredução de custos trouxe também umaoutra realidade: a polivalência.Embora na realidade de 2010 asopiniões dos fotojornalistas entrevista-dos variassem entre ser ou não sernecessária a existência de um jorna -lista multifacetado - o estudo de Luísa

Silva (2010), ao abordar a questão de que o ciberjornalismopode obrigar a que os jornalistas sejam multifacetados,denota que há jornalistas que assumem a polivalêncianum futuro próximo e outros que não -, é notável que essahipótese se tornou, para alguns, uma verdade. PauloCunha, fotojornalista freelancer, diz que "hoje há umarealidade que ainda é mais impressionante: com a capaci-dade que se desenvolveu das máquinas fotográficaspoderem filmar, já há colegas nossos que têm de fotografare filmar ao mesmo tempo e ter a capacidade de enviar osdois trabalhos. Isso prejudica muito. Uma das razõesporque eu não faço as duas coisas ao mesmo tempo éporque tenho a certeza de que as duas coisas não vão ficarbem. Podem não ficar mal, mas não vão ficar bem. É me -lhor teres a certeza que uma fica bem, ou seja, que afotografia fica bem." Exemplo desta polivalência é o fotojor-nalista do Correio da Manhã, Rui Miguel Pedrosa, que, alémde fotografar, trabalha também como repórter de câmarano canal de televisão CMTV. Geralmente, tem de realizar osdois trabalhos (fotografia e vídeo) em simultâneo. "São lin-guagens diferentes. Teve de haver uma grande adaptação.Eu gosto, agora... há trabalhos que é possível conciliar e

RICARDO GRAÇA

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outros que é impossível, mas a maioria dos trabalhos dãopara conciliar." Na mesma situação encontra-se NunoVeiga, fotojornalista da Lusa: "De há uns anos para cá eufaço Lusa TV, que é essencialmente para as televisões.Depois temos Lusa Vídeo (vídeos com menos qualidade queé para sites de Internet, etc.). Ainda hoje eu fui fotografar efilmar. E às vezes é complicado. Há situações impossíveis,mas há situações em que dá para fazer. É uma certa luta,porque às vezes acabas por te esquecer de alguma coisa.Mas há situações em que não dá: ou fotografo, ou filmo."

CONVERGÊNCIA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Arealidade do online trouxe novos con-ceitos para o jornalismo, assistindo-sea uma reformulação dos modelostradicionais, o que põe na mesa a pos-sibilidade da convergência dos média.A migração para o mundo digitallevou a que jornalismo online resulte

da "convergência entre texto, som e imagem em movi-mento, oferecendo um produto completamente novo: awebnotícia" (Canavilhas, 2001:1).

Esta realidade trouxe dois cenários diferentes: porum lado, levou à criação de agências de fotografias par-tilhadas (Silva, 2010); e, por outro, conduziu a que qual-quer meio de comunicação social tradicional - imprensa,rádio e televisão -, a partir do momento que se encontraem contexto online, utilize a fotografia. Ambas as situ-ações questionam os limites da qualidade de umafotografia e, de igual modo, questionam o papel do foto-jornalista.

No caso das agências de fotografia, a "coerência visual"(Silva, 2010) de um jornal corre o risco de deixar de existir,na medida em que a cobertura de um acontecimento, nolugar de um fotojornalista por jornal, passa a ser realizadapor um fotojornalista para todos os jornais pertencentes aesse grupo - como é o caso da agência Global Imagens, quepertence ao antigo grupo Controlinveste, agora GlobalMedia Group. Portanto, a abordagem fotográfica varia deórgão para órgão, como Ricardo Graça, fotojornalista free-lancer, colaborador da agência fotográfica Global Imagens,confirma: "varia, sim. Mas normalmente as coisas estãosubentendidas. (...) Depois isso vai muito de onde se tra-balha. Convém saber para quem se está a trabalhar e saberquais são os moldes como as coisas funcionam. As coisasestão mais ou menos subentendidas." Os fotojornalistassabem, à priori, dependendo do tipo de meio de comuni-cação social, o tipo de fotografia que têm de realizar.

Com a migração dos meios de comunicação para aInternet, a fotografia deixou de ser um exclusivo daimprensa passando a ser uma realidade, quer nos sites dastelevisões, quer nos da rádio. Se, no primeiro caso, afotografia pode facilmente ser substituída pelo vídeo

(dadas as características do meio televisivo), na rádio, a pre-sença da fotografia apresenta-se como uma novidade. Comefeito, as rádios começaram com relativa facilidade a intro-duzir, desde o início, a fotografia nos seus sites, assumindo-a como um dos principais elementos expressivos, a qualnão faz parte da rádio tradicional (Bonixe, 2012; Reis, 2009).

Com a introdução deste recurso, o fotojornalismo

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A "coerência visual" de um jornal corre orisco de deixar de existir, na medida emque a cobertura de um acontecimento, nolugar de um fotojornalista por jornal, passaa ser realizada por um fotojornalista paratodos os jornais pertencentes a esse grupo

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RUI MIGUEL PEDROSA

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ganha outra dimensão. As rádios e as televisões não pos-suem fotojornalistas na sua organização, levando a que,em muitos casos, as fotografias publicadas nos sites resul-tem do trabalho de jornalistas que, munidos de uma sim-ples câmara, retratam o momento dos acontecimentos.Essas fotografias têm um valor que consideramos mera-mente ilustrativo - representam a necessidade de ter umafoto no site. Noutras situações, as fotografias que acom-panham as notícias são retiradas diretamente de bancosde imagens online.

JORNALISMO DO CIDADÃO

Os termos para definir esta 'oportu-nidade' dada aos cidadãos variam -'jornalismo colaborativo', 'jornalismodo cidadão', 'jornalismo participati-vo', 'jornalismo open source' (Cana -vilhas & Rodrigues, 2012; Reges,2011) -, mas a lógica desta prática é

sempre a mesma: os cidadãos serem produtores de con-teúdos. "Comentar notícias, participar em fóruns, respon-der a inquéritos, atualizar blogues, contribuir para a rea -lização de entrevistas coletivas, partilhar conteúdos nasredes sociais, enviar fotos, vídeos e textos para publicaçãono próprio espaço do jornal" (Canavilhas & Rodrigues,2012:270) são algumas das formas de os leitores publi-carem e difundirem informação.

Mas é legítimo o cidadão realizar, supostamente, traba -lho jornalístico? Até que ponto é complacente com o tra-balho do jornalista? Especificamente no fotojornalismo,que estatuto ganha uma fotografia de um cidadão publi-cada no jornal, associada a uma notícia? Essa mesmafotografia, o que oferece aos leitores?

"Há séculos que o cidadão não gosta de ser relegadopara o papel de mero receptor. E com toda a razão. Nãoesqueçamos que a legislação reconhece aos cidadãos odireito a receber informação, mas também o direito adifundi-la (...) todas as iniciativas que se abram à partici-pação directa do cidadão são uma amostra palpável deuma mudança de tendência no mundo jornalístico e naestruturação da sociedade democrática" (Barber, 2014:91).

Mas até que ponto o cidadão consegue, eticamente,cumprir com o contexto e os objetivos de uma narrativajornalística?

"Um cidadão não tem limites. Mas as entidadespatronais gostam disso, porque é gratuito. A foto docidadão prejudica, porque pode estragar o trabalho dofotojornalista. (…) Ainda assim, um jornal prefere umafotografia de um fotojornalista porque está sempre mel-hor."

O fotojornalista Rui Miguel Pedrosa coloca a questãode o jornalismo de cidadão ser gratuito e, portanto, serevelar aliciante para os jornais - mão de obra gratuita ésempre bem-vinda, sobretudo tendo em conta a crise

económica que o jornalismo atravessa. Ainda assim, oentrevistado salienta também que, embora o 'trabalho' docidadão signifique custo zero, os órgãos de comunicaçãosocial dão primazia ao trabalho do repórter fotográfico,pela qualidade das suas fotografias.

Ao encontro deste pensamento, Ricardo Graça diz queo que o mais preocupa é o fotojornalismo do cidadão asso-

ANÁLISE Fotojornalismo

RUI MIGUEL PEDROSA

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A falta de meios financeiros e humanos, aliando-se ao fotojornalismo do cidadão, leva à frequentesituação de não ser importante ter uma 'boa'fotografia publicada: apenas é importante garantirque há uma fotografia para preencher o espaçoque está em branco no jornal.

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ciado à Internet. "[O cidadão] chega e manda, sem oscuidados deontológicos e aqueles critérios todos. Aindaontem a cena do avião, a foto que saiu no Diário [deLeiria] online foi de alguém que foi lá com o telemóvel.(...) Acho que se perde muita qualidade em termos deimagem, em termos de produto, mas ganha-se na rapidez:foi há um minuto e já está online."

Ainda que o cidadão faça realmente a primeira abor-dagem, dê a conhecer ao mundo, de imediato, que deter-minada situação ocorreu, é o fotojornalista que faz odepois. "Aquele turista que fez aquelas imagens que mar-cam, a seguir pegou nas suas coisas e põe no Facebook,põe no Instagram, mostra aos amigos, mas no conforto dacasa dele. Entretanto houve fotógrafos profissionais queforam para o meio daquela confusão mostrar o pós. Oturista já não está lá. Só o profissional é que tem o estô-mago e a capacidade de levar aquilo até ao fim", defendeJoão Carlos Santos.

Nesta visão, ainda que o fotojornalismo cidadão sejavisto, por muitos profissionais, como uma ameaça,assumem-se diferenças notáveis entre o trabalho docidadão e o trabalho do fotojornalista. "(...) a fotografiatende a ser cada vez mais desvalorizada a vários níveis,quer nas redações como na perceção do espectador/obser-vador. No entanto, entre ser a câmara a conceber afotografia em automático ou ser o fotógrafo a escolhertodos os detalhes da imagem vai uma longa distância"(Cardoso, 2014:329-330).

Ao contrário, Joaquim Dâmaso defende que o fotojor-nalismo cidadão é benéfico, tendo em conta que o fotojor-nalista não consegue estar em todo o lado. Assume que asfotografias do cidadão, esteticamente não são excelentes,mas se tiverem lá a informação, estas fotografias "são cadavez mais uma ajuda."

As opiniões em relação ao cidadão como produtor desupostos conteúdos jornalísticos vão variando numalinha ténue entre o positivo e o negativo. O editor defotografia do Público, Miguel Madeira, considera que"aquilo é mau. Eu não sei de cozinha, não sei arranjar car-ros, não sei pintar. E estarem a querer que agora todas aspessoas escrevam bem, fotografem bem, filmem bem, ...Ou então baixamos os níveis a esse ponto: qualquer coisaserve; porque pomos tudo o que as pessoas mandam. (...)O número de contributos com qualidade para publicarsão reduzidíssimos. Há um mínimo de qualidade e, senãochega a esse mínimo, dói-nos bastante publicar isso."

Barber defende que são necessários "cuidado e esmeronos procedimentos discursivos que decorrem da obtençãodos materiais, da selecção de imagens e textos (...), porcontraste com as derivas para o reprovável sensacionalis-mo ou para o deplorável infoespectáculo (infotainment)informativo" (2014:92). Ainda assim, nada chega ao profis-sionalismo dos jornalistas, porque o que o difere de umcidadão são os critérios do seu trabalho, que um cidadão,à partida, não tem: "a conclusão é elementar: salvo raríssi-

mas exceções, apenas profissionais estarão qualificadospara atender a esse 'critério mais exigente'" (Moretzsohn,2006:70).

Independentemente do uso ou não das fotografias, hájá casos que marcam o percurso do (foto)jornalismo,pelos piores motivos. A exemplo disso, o Correio da Manhãpublicou (no dia 8 de junho de 2015) na primeira páginado jornal impresso, uma aparente 'notícia' intitulada"Tornado assusta Margem Sul do Tejo", acompanhada defotografia (Imagem 1). No entanto, nem a notícia, nem aimagem (que deu origem à notícia) tinham algum fundode verdade. Não tardou muito para a verdade vir ao decima. A origem da fotografia, um cidadão comum, esclare-ceu o sucedido, no seu perfil de Facebook. Pode-se ler:"Nunca pensei que a montagem ficasse tão bem feita... queaté foi parar ao Correio da Manhã, Diário da regiãoetc...Ahahahahaa... Tudo isto porque o meu filho disse quenunca tinha visto um tornado, e eu fiz-lhe a vontade!!!Moral da História: Não interessa se é verdade, o que inter-essa é vender jornais!!!"

Barber, ao falar da dificuldade dos jornalistas em con-firmar a origem da informação dos cidadãos, diz que "osrumores e boatos que circulam diariamente pela rede sãopor vezes replicados nos media" (2014:92). Eis um bomexemplo disso.

Além disso, o caso agrava-se quando o Correio da Manhã

não admite os seus erros (Imagem 2). Pelo contrário, lançaa culpa para o outro lado. No dia seguinte, 9 de junho de2015, a capa do jornal impresso apresentava-se com aseguinte informação: "Rectificação: Redes sociais inven-tam tornado."

Toda esta situação contrasta, por completo, com os val-

ANÁLISE Fotojornalismo

Publicação no

Facebook sobre

notícia do Correio

da Manhã

Notícia da

primeira página

do Correio da

Manhã, a 9 de

junho de 2015

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ores defendidos pelo jornalismo; "a principal missão dojornalista consiste em deslocar-se até ao local dos acontec-imentos, observar calmamente o que sucedeu, recolher omáximo possível de informação, (...) e fazer, com honesti-dade, o relato para os seus concidadãos" (Barber, 2014:83).

Deixa-se de assistir a um jornalismo de seriedade,pondo em causa todo o tipo de valores, não só jornalísti-cos, mas sobretudo éticos e morais, e pondo também emcausa a veracidade que a história do jornalismo traz, deoutrora - a verificação de factos é posta de lado, assistin-do-se a casos como este, de um '(foto)jornalismo desecretária'.

NOTAS FINAIS

Os profissionais entrevistados consi -d e ram que a fotografia continua anão ser reconhecida o suficienteenquanto produto jornalístico, eque, apesar de ao longo da suahistória já ter subido algunsdegraus de reconhecimento, con-

tinua a não lhe ser conferido o devido estatuto. As suasconvicções baseiam-se sobretudo na análise às conse-quências das mudanças recentes no fotojornalismo por-tuguês: a falta de meios financeiros e humanos, aliando-se ao fotojornalismo do cidadão, leva à frequente situ-ação de não ser importante ter uma 'boa' fotografia pub-licada: apenas é importante garantir que há umafotografia para preencher o espaço que está em brancono jornal. Assiste-se a uma troca de prioridades: sub-vertem-se os valores associados à prática jornalística,dando lugar a uma visão demasiado centrada nos recur-sos económicos.

Os fotojornalistas assumem com certeza que o futurodo fotojornalismo passa pelo mundo online. No entanto,as consequências deste novo meio dividem as opiniõesdestes profissionais. Uns defendem que a Internet não éuma influência positiva, já que tende a acelerar os tim-ings. As rotinas dos fotojornalistas estão cada vez maisrápidas: os profissionais assumem que há mais trabalho emenos tempo para analisar cada cobertura realizada.Produz-se mais, mas nem sempre se garante a qualidade.Além disso, a questão do fotojornalismo do cidadão éuma situação muito presente e nem sempre possível decontornar.

Por outro lado, alguns dos fotojornalistas creem numfuturo melhor: veem o boom de imagens, que representaa sociedade dos dias de hoje, como uma segurança deque, pelo menos, a fotografia não vai morrer; pelo con-trário, está a assumir uma posição cada vez mais impor-tante, tendo em conta que é uma constante no quotidianode grande parte dos cidadãos. A partir daí, sabendo daruso às potencialidades da Internet, consideram que ofotojornalismo pode vingar.

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Prémios de jornalismo 2016

Candidaturas até 31 de janeiro de 2017

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Lisboa Rua da Horta Seca, 20 1200-221 Lisboa Telef.: 21342 02 77 Fax: 21 346 79 45 E-mail: [email protected] Horário de atendimento: dias úteis, 09:30/20:00

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ANÁLISE

A construçãoda culturaprofissionaldos jornalistasatravés do cinemaO objetivo deste artigo é o de tentar compreender como o cinematem retratado, ao longo dos anos, a cultura profissional do jornalismo,ou seja, que imagem do jornalista está a ser passada para o públicoatravés do cinema. Olhamos em particular para a representaçãocinematográfica das rotinas de produção jornalística, da relação comos poderes e do valor atribuído à notícia enquanto principal matériaprima do trabalho jornalístico. Procuramos uma visão diacrónicadesde os anos 40 até à atualidade.

Texto Gaspar Garção

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As obras abordadas no presente arti-go são as seguintes: His GirlFriday/O Grande Escândalo, de 1940,realizado por Howard Hawks,Citizen Kane – O Mundo a Seus Pés,de 1941, realizado por OrsonWelles, Ace in the Hole/O Grande

Carnaval, de 1951, realizado por Billy Wilder, All thePresident’s Men/Os Homens do Presidente, de 1976, realizadopor Alan J. Pakula e State of Play/Ligações Perigosas, de 2009,realizado por Kevin McDonald.

RETRATO DO JORNALISTA ENQUANTO MITOFernando Correia considera que a imagem “mitificada,assente na literatura, no cinema e nas séries de televisão(…), do repórter misto de aventureiro e detective”(Correia, 1997:13), que compara às personagens literáriasde D.Quixote e Robin dos Bosques, está tão longe da rea-lidade como a da generalizada “promiscuidade entre ojornalismo e os poderes político, económico e desporti-vo.” (idem, 14)

Correia conclui, referindo que na ânsia de se mostrar aimagem do jornalista ora como um ideal, ora comocorrupto, se está a esquecer do jornalista enquanto profis-sional, “na realidade concreta do seu labor quotidiano,enquadrado nos condicionalismos, pequenos ou grandes,directos ou indirectos, em que os seu trabalho se desenro-la.” (ibidem, 15)

Lauro António, a propósito desta temática, refere que“de um modo geral, os assuntos tratados fazem do jorna-lista, ou do repórter, uma espécie de detective privadoque, muitas vezes por sua conta e risco, algumas delascontra o poder instituído e os interesses criados, mesmocontra as ambições dos seus próprios directores, investigaaspectos obscuros da realidade social e os procura denun-ciar.” (António, 1990:5)

O que nos leva ao arquétipo/estereótipo dorepórter/editor no cinema (especificamente nos anos 30 e40): a criação em Hollywood da imagem do ‘jornalista-herói que é um newshound (o ‘cão farejador de notícias’,expressão que se refere ao facto de os jornalistas conside-rarem ter ‘faro para a notícia’), exemplificada nos filmes ItHappened One Night/Aconteceu uma Noite, realizado em1934 e O Grande Escândalo, de 1940, e a sua pouca corres-pondência com o que é comummente considerada a rea-lidade: o jornalista como um profissional, com o dever deinformar, mas também sujeito aos ciclos informativos, e aofator tempo; e no caso das chefias, ao fator económico.

Atualmente deu-se uma mudança de paradigma emtermos das personagens de jornalistas representados noecrã, passando-se do ‘jornalista-herói’ para um jornalistacom características dos ‘anti-heróis’ (em termos de lingua-gem cinematográfica, uma personagem não convencionale pouco ‘heroica’), que não se coaduna com muitas dascaraterísticas apontadas acima, mas que também é igual-

ANÁLISE cultura prof issional e c inema

Atualmente deu-se umamudança de paradigma emtermos das personagens dejornalistas representados noecrã, passando-se do‘jornalista-herói’ para umjornalista com característicasdos ‘anti-heróis’.

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mente idóneo e incansável na busca da verdade (como nocaso das personagens interpretadas por Clint Eastwood,Russell Crowe e Daniel Craig respetivamente nos filmesTrue Crime/Um Crime Verdadeiro, de 1999, Ligações Perigosas,de 2009 e The Girl With the Dragon Tatoo/Millennium: osHomens que Odeiam as Mulheres, de 2011).

A forma como a imagem e os métodos dos jornalistasse têm alterado/evoluído ao longo dos anos no cinema,está também intimamente ligada à ascensão da televisãonos anos 50 e 60, mostrada em filmes tão importantes(nomeados para o Óscar de Melhor Filme), como GoodNight and Good Luck/Boa Noite e Boa Sorte (sobre os anos 50),Network/Escândalo na TV, de 1976 e Frost/Nixon, de 2008(ambos sobre os anos 70).

Uma das imagens icónicas na 7ª Arte, em termos daperceção que o grande público tem da profissão, é a dofotojornalista, que pode também ser considerado comoum dos ‘culpados’ da visão que as massas têm dos jorna-listas como heróis (nos palcos de guerra, na denúncia dapobreza, da injustiça, na cobertura de tragédias).

A imagem que passa do fotojornalista em alguns fil-mes, é a de uma figura corajosa, romântica, mas aomesmo tempo um pouco imprudente e até mesmo suici-da (exemplificada em filmes como The Year of LivingDangerously/O Ano de Todos os Perigos, de 1982, The KillingFields/Terra Sangrenta, de 1984, Salvador, de 1986 eHarrison’s Flowers/As Flores de Harrison, de 2000, atravésdas personagens interpretadas por Mel Gibson, Haing S.Ngor, James Woods e David Strathairn, respetivamente).

Mas também ocorre o oposto, em termos da perceçãodo público do que é um fotojornalista, através de fotógra-fos que tudo fazem para obter o exclusivo e não se envol-vem nos acontecimentos que estão a documentar, em fil-mes como La Dolce Vita/A Doce Vida, de 1960, ApocalipseNow, de 1979 e The Public Eye/Repórter Indiscreto, de 1992,por exemplo.

A realidade, como é habitual, existe num meio-termoentre estes dois casos, mas o cinema, como é tambémhabitual, não encontra nas histórias desses fotojornalistasmais profissionais e ‘aborrecidos’, um tema propício paraser retratado com mais frequência no grande ecrã.

DAS ROTINAS AO PRIMADO DA VERDADEEm todos os filmes analisados neste artigo uma constanteé a ocorrência de vários aspetos relevantes da cultura jor-nalística: a vida nas redações, a relação entre colegas, aluta pelos prazos, a concorrência, a rotina jornalística e aética da profissão, entre outros.

Nos cinco filmes abordados, estes fatores variam, con-forme o tamanho e a importância dos jornais, assim comoem função da personalidade e profissionalismo dos jorna-listas protagonistas.

O GRANDE ESCÂNDALO – ser jornalista a todo o custoA legenda inicial do filme é irónica, mas também crítica

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em relação ao estado do jornalismo nos anos 20 e 30:“Tudo aconteceu na «Era das Trevas» do jornalismo, quando

para um repórter “conseguir aquela história” justificava qual-quer coisa, excepto assassínio.

Curiosamente, não verão neste filme qualquer semelhançacom os homens e as mulheres do jornalismo actual.”

Durante o decorrer d’ O Grande Escândalo, percebe-seque os protagonistas, Walter Burns (o editor) e HildyJohnson (sua ex-mulher e também sua ex-jornalista),põem sempre a sua profissão em primeiro lugar, com aambição e a vontade de conseguirem um ‘furo’ a todo ocusto (mais do que o dinheiro), a serem postas à frente dassuas relações pessoais.

Nelson Traquina chama a atenção para esta caracterís-tica profissional de Hildy (e por extensão, de muitos jor-nalistas): “na cultura profissional [de Hildy], há um com-promisso total com a profissão, mesmo correndo perigode vida. As notícias são um valor absoluto onde por vezesmeros ilícitos podem ser necessários. Mas, para além dadedicação. Verdade exultada na sua ideologia profissio-nal, a dinâmica da concorrência leva ao encanto de outrosmitos que circulam na sua cultura profissional, como omito do scoop (a «cacha») e o mito da «grande história»).”(Traquina, 2004:90)

Numa cena sintomática da pouca respeitabilidade quea profissão de jornalista tinha, na época, Walter tenta con-vencer Hildy a não se casar, dizendo-lhe:

Walter: És uma jornalista!Hildy: Uma jornalista! O que é que isso significa?Espreitar pelas fechaduras, correr atrás de carros de bombei-

ros, acordar pessoas a meio da noite (…), roubar fotografias avelhotas?

Sei tudo acerca de repórteres, zé-ninguéns a correr por todo olado, sem um tostão, e para quê?

Para que um milhão de pessoas saiba o que está a acontecer?Do que é que isso serve?Tu nunca perceberias o que é querer ser respeitável e levar

uma vida normal, na medida do possível.Este diálogo demonstra o outro lado da profissão, o da

rotina, menos fascinante, mas igualmente necessário,estando sempre o fator tempo em destaque, o ‘correr portodo o lado’ para se obterem resultados, para se ser o pri-meiro a chegar ao exclusivo, já que esse é um dos princi-pais mandamentos do jornalista, e a necessidade de geriro tempo e de o controlar, um dos seus grandes constran-gimentos.

Se a profissão jornalística tem como principal ‘missãosagrada’ o informar o público, e se depois de cumprir essemandato, tudo o que vier por acrescento será bem-vindo,tal como o aumento do número de exemplares vendidospelo jornal, o reconhecimento dos colegas jornalistas, osprémios de carreira e o sucesso financeiro e pessoal, tam-bém é verdade que esse sucesso não poderá ser feito àscustas da perda de integridade, da utilização de estratage-mas pouco honestos, da manipulação da verdade, da falta

ANÁLISE cultura prof issional e c inema

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de ética deontológica e de decência humana, tal comoacontece n’ O Grande Escândalo.

CITIZEN KANE – O MUNDO A SEUS PÉS – do impe-rativo ético ao imperativo económico

No início do filme, o objetivo da personagem principal,Charles Foster Kane, como responsável do jornal que aca-bou de adquirir, o Inquirer, é claro: Kane considera ser seudever defender os mais fracos, expressando a sua opiniãonum diálogo com o seu antigo mentor, Thatcher:

Kane: É o meu dever fazer com que as pessoas decentes e tra-balhadoras desta comunidade não sejam roubadas por umamatilha de piratas sedentos de dinheiro, apenas porque não têmninguém para defender os seus interesses.

Este idealismo inicial de Kane que, graças à sua fortu-na, pode-se permitir perder um milhão de dólares porano no jornal, para defender os seus ideais, contrastarácom as suas atitudes e a sua ética jornalística no futuro.

Em todos os filmesanalisados neste artigo umaconstante é a ocorrência devários aspetos relevantes dacultura jornalística: a vida nasredações, a relação entrecolegas, a luta pelos prazos,a concorrência, a rotinajornalística e a ética daprofissão, entre outros.

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Nos primeiros dias no Inquirer, Kane publica em edito-rial a sua ‘Declaração de Princípios’, que estipula o seguin-te:

“Providenciarei aos habitantes desta cidade um jornal diárioque dará as notícias honestamente.

Também lhes providenciarei um campeão, um lutador incan-sável dos seus direitos, como cidadãos e como seres humanos”.

Esta admirável ‘declaração de princípios’, que contras-ta de forma tão gritante com as atitudes que depois Kaneterá, no decorrer do filme, é uma forma de Orson Wellesmostrar que, por inerência, os seres humanos, e neste casoos jornalistas, começam sempre a desempenhar uma pro-fissão com vários ideais nobres, tais como o respeito pelaverdade, pelos desfavorecidos e pela justiça, ideais essesque durante a sua carreira poderão perder, até se chegar,em casos extremos, aos jornalistas cínicos, oportunistas edesencantados que encontramos em muitos dos filmesanalisados neste artigo, personificados nas personagensde Walter Burns (O Grande Escândalo), Chuck Tatum (OGrande Carnaval) e Cal McAffrey (Ligações Perigosas).

Depois do seu primeiro casamento, a obsessão de Kanepelo jornal, pela profissão e pelos seus horários e prazos,é exemplificada numa conversa com a sua mulher, que lhepergunta por que razão Kane tem de ir todos os dias acorrer para o Inquirer, e este responde-lhe:

Kane: Nunca te devias ter casado com um jornalista. Sãopiores que marinheiros.

Este diálogo, que de certaforma simboliza o que a pro-fissão de jornalista represen-ta, já deverá ter sido ditoinúmeras vezes, em épocasdiferentes e em locais dife-rentes, porque ser jornalista éser ambicioso, é estar semprede ‘atalaia’, constantementepreocupado com a concor -rência e com o fecho de edi-ção, mas é também deixarpara segundo plano as rela-ções pessoais, que sofrem com o facto de que um jornalis-ta o é 24 horas por dia, e é alguém que tem de estar sem-pre em movimento, ou a caminho da redação, ou a sair daredação para ir à procura de fontes e de informações.

Ignacio Ramonet considera que Citizen Kane é um dosprimeiros exemplos no cinema de como se efetua a mani-pulação de massas da opinião pública, e do poder que osconglomerados dos média têm de influenciar o poderpolítico, mas acha também que “by today’s standardseven Kane’s power was relatively limited. As the owner ofa limited number of papers in a single country he wouldhave been small fry in comparison to the mega-power oftoday’s corporate media giants, although this is not todeny that he could have made his mark both at nationaland local level.” (in Le Monde Diplomatique, 2003)

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O tema da reputação dojornalismo online vs. jornalismotradicional, impresso, é muitoatual e só agora começa a serexplorado em filmes sobrejornalismo, mas será inevitávelque no futuro este ‘choque degerações’ tenha um grandedestaque.

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Kane pensa que pode influenciar e manipular os seusleitores, de acordo com as suas próprias regras e opiniões,mas o público também pensa (ou deveria pensar) pela suaprópria cabeça, e terá sempre uma opinião sobre determi-nados assuntos, que poderá não ser controlável.

Como refere Mesquita, Citizen Kane contém, no seumicrocosmos cinematográfico, a luta no mundo do jorna-lismo, entre a sua influência como 4ª Poder e as suas limi-tações: “o poder dos media, o fascínio dos media, a depen-dência dos jornalistas perante os patrões dos jornais, oslimites aos poderes dos media – todas estas dimensões,entre si contraditórias, do universo da comunicação jorna-lística, estão presentes em Citizen Kane.” (Mesquita,2000:383)

O GRANDE CARNAVAL – a corrupção do 4º PoderNo início do filme, na cena da chegada da personagemprincipal, o jornalista Chuck Tatum, ao Albuquerque Sun-Bulletin, é-nos mostrada a redação e à entrada do escritó-rio do editor, Mr. Boot, está um lema escrito, “Tell the Truth[Dizer a Verdade]”, uma das missões mais importantes daprofissão jornalística, o que é propositado e irónico, já quedurante todo o filme será precisamente o contrário queTatum fará. De seguida, quando Tatum está a explicar oseu particular estilo de jornalismo a Herbie, um jovemcolega, pergunta-lhe quantos anos este andou na escolade jornalismo, e depois de Herbie lhe responder queforam três, Tatum diz-lhe, cinicamente:

Tatum: Foram três anos pelo cano abaixo. Eu não andei emnenhuma universidade, mas sei o que faz uma boa história, por-que antes de as escrever, vendi-as numa esquina. E sabes o querapidamente descobri?

As más notícias são as que vendem melhor. Porque as boasnotícias equivalem a «nenhuma notícia».

A meio do filme, quando Tatum e Herbie entram pelaprimeira vez na gruta onde um pesquisador de antiguida-des, Leo Minosa, ficou soterrado, Herbie menciona que opai de Leo estava muito preocupado, como se estivessem84 homens presos na gruta, e Tatum responde-lhe, men-cionando dois Valores-Notícia referidos por Traquina, aProximidade (que é sempre mais importante que aAmplitude), e a Personalização:

Tatum: Um homem é melhor que 84, não te ensinaram isso?Herbie: Ensinaram o quê?Tatum: O ângulo humano. Abres um jornal e lês sobre 84

pessoas, ou 284, ou um milhão de pessoas, como numa grandeFome na China. Um homem apenas, isso é algo diferente. Queressaber tudo sobre ele. E isso é interesse humano.

Quando Tatum sai da gruta, depois de ter a primeiraconversa com Leo, confidencia a Herbie que lhe bastariaapenas uma semana deste tipo de notícias para voltar àribalta, e Herbie escandalizado, responde-lhe:

Herbie: Estás a brincar! Não podes desejar uma coisa des-sas.

Tatum: Eu não desejo nada. >>Continua na página 36

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À DESCOBERTA DE PORTUGALEM ALOJAMENTOS DE QUALIDADE

AOSMELHORESPREÇOSPREÇOS

MELHORESAOS

PREÇOSMELHORES

AOS

PREÇOSPREÇOS

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Não faço as coisas acontecer, tudo o que faço é escrever sobre elas.Mas a ironia (cáustica) do filme, é que isso é precisa-

mente o que Tatum irá fazer, condicionando a históriacom as suas ações, manipulando-a e distorcendo os fac-tos, mostrando que um dos pontos cardinais do jornalis-mo, a neutralidade, é muitas das vezes apenas um con-ceito utópico, porque o jornalista é um ser humano, quevive no mesmo mundo em que a sua história existe, quepor vezes até conhece as pessoas retratadas, que sabeque a forma como escrever a história poderá ser decisivapara o desenlace de um determinado evento, para a per-ceção que o público terá desse acontecimento e dessesfactos.

OS HOMENS DO PRESIDENTE - os ‘repórteres deinvestigação-heróis’Lançado apenas dois anos depois do desenlace do casoWatergate e do livro em que o filme se baseou, a contem-poraneidade d’ Os Homens do Presidente foi determinantepara uma mudança de paradigma, em termos da imagemdo jornalista na 7ª arte, influenciando nos anos seguinteso apetite por filmes sobre jornalismo de investigação,‘repórteres-heróis’ e whistleblowers (denunciantes de injus-tiças, geralmente em grandes corporações ou no gover-no), que lutam contra o poder político e económico, decariz criminoso.

Embora a história do cinema já contasse com muitosfilmes de qualidade no género do cinema de conspiração,é a seguir a Os Homens do Presidente que os conspiracy thri-llers se vão impor junto do grande público: exemplos dosmelhores filmes do género pós-Watergate são WinterKills/Pela Mira da Espingarda e The China Syndrome/OSíndroma da China, ambos de 1979, Blow-Out/Explosão, de1981, Wrong is Right/O Homem das Lentes Mortais e Missing- Desparecido, ambos de 1982, Silkwood/Reacção em Cadeia,de 1983 e Defense of the Realm/Em Defesa da Nação, de 1985,entre outros.

Mais recentemente, como reflexo também da crise eco-nómica e da crescente desconfiança do público em relaçãoaos políticos e às corporações económicas, surgiu umanova vaga de filmes sobre conspirações e whistleblowers:The Informer/O Informador, de 1999, Silver City/EmCampanha, de 2004, Syriana e The Constant Gardener/O FielJardineiro, ambos de 2005, Michael Clayton, de 2007, TheGhost Writer/O Escritor Fantasma e Edge of Darkness/Fora deControlo, ambos de 2010 e o recém-oscarizado Spotlight/OCaso Spotlight, de 2015.

O método jornalístico e os passos da investigação deum caso são sempre mostrados ao pormenor no filme, deforma coerente e cronológica: Bob Woodward, um dosprotagonistas (o outro é Carl Bernstein), é visto váriasvezes à sua secretária na redação a ligar para a CasaBranca, posteriormente a falar com os seus colegas sobreo caso e o que descobriu, a fazer pesquisa em arquivos, aligar depois para dezenas de locais à procura de fontes e

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N’ Os Homens do Presidente,que ainda hoje, ao fim de 40anos, se pode considerar ofilme que mostrou de formamais verídica a imagem de umjornalista, vê-se toda a rotinajornalística ao pormenor,observando-se também, emtermos éticos, os jornalistas nogeral a cumprir as regras daprofissão.

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informação, de forma a avançar com o caso, o que nemsempre consegue.

É um trabalho monótono e repetitivo, como já foi refe-rido, mas que tem de ser feito, para cobrir todos os ângu-los possíveis do caso. Ao verdadeiro jornalismo de inves-tigação, exige-se ser o mais completo possível na análisede um caso, investigá-lo através de todas as perspetivaspossíveis, porque nada cai por sorte no ‘colo’ dos jornalis-tas, nem mesmo nos filmes.

Essa procura incessante pela grande notícia, pelos fac-tos que mais ninguém tem, ou que mais ninguém conse-guiu relacionar, assim como a concorrência, saudável epor vezes impiedosa entre pares, são facetas que fazemparte de muitos filmes sobre jornalismo, dos quais sepoderão destacar, além d’ Os Homens do Presidente, Whilethe City Sleeps/Cidade nas Trevas, de 1956, Capote, de 2005 eZodiac, de 2007, entre outros.

O caso Watergate e as suas repercussões, tanto nasociedade americana e no seu sistema político, como no

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mundo do jornalismo, nos Estados Unidos da América eno resto do mundo, devem-se em grande parte a essafigura da cultura profissional jornalística que, se hoje emdia é perfeitamente legítima e conhecida do público,antes dos eventos retratados n’ Os Homens do Presidente,raramente era usada: a fonte anónima, que desde 1974 setem tornado um dos fatores mais presentes e úteis paraos jornalistas de investigação, que em inúmeros casoschegaram a ser presos para proteger as suas fontes anó-nimas.

Os Homens do Presidente mostra como, do ponto devista da cultura profissional, o possuir boas fontes e,sobretudo, fontes que mais ninguém tem, atribui estatu-to a esses jornalistas. Os profissionais que conseguemobter essas fontes de qualidade e exclusivas, são vistospela comunidade jornalística como modelos a seguir,como referências.

Se as fontes anónimas forem usadas de acordo com aética e a deontologia da profissão, são uma arma podero-sa para poder conseguir informar o público de uma formamais completa, mas também podem ser utilizadas paramanipular o jornalista e a opinião pública.

As armas que o 4º Poder pode utilizar contra o abusodos políticos são a perseverança, a inteligência, o méto-do jornalístico e a coragem de enfrentar os poderes esta-belecidos. Uma das consequências do caso Watergate foitambém o facto de muitos membros da profissão pensa-rem que tinham mais poder do que aquele que possuí-am na realidade, a chamada hubris (que significa ter con-fiança excessiva, orgulho exagerado): “[em 1974] aColumbia Journalism Review advertiu que a mesmaimprensa iria longe demais «no orgulho, ou mesmo naarrogância, de que pode vir com o poder. No discursoauto-elogioso sobre Watergate é possível que tenhahavido demasiado autoconvencimento de que apenasos jornalistas sabem o que é adequado para os jornalis-tas».” (Zelizer, 2000:47)

As mudanças para a profissão jornalística foraminúmeras, embora não tantas como se pensou na altura:“no final dos anos 80, o próprio Bernstein admitiu que ocaso Watergate não tinha tido o efeito esperado sobre ojornalismo.” (idem)

Ainda assim, Watergate mudou o jornalismo por den-tro, e forçou também a mudança de relações entre o siste-ma judicial e político americano, tal como referem Kovache Rosenstiel: “a reportagem sobre investigações proliferoua partir da década de 70 do séc. XX, por um lado, devidoao crescente número de investigações realizadas e, poroutro, devido às medidas tomadas pelos governos federale estaduais depois do caso Watergate, no âmbito das quaisforam aprovadas novas leis de ética e criados gabinetesespeciais para controlar a atuação do governo. Alémdisso, ao longo destes tempos, os jornalistas passaram adepender mais de fontes anónimas, ao ponto de esta prá-tica se ter tornado uma preocupação tanto para jornalistas

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Há aspetos únicos da profissãojornalística que são retratadosde forma semelhante em todosos filmes, tais como o ‘jornalês’,o pensamento de alcateia [packjournalism], o interesse peloscritérios de noticiabilidade, aobsessão pelo ‘furo’, pelosprazos e pelo fator tempo.

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como para um público cada vez mais desconfiado.”(Kovach & Rosenstiel, 2004:122)

LIGAÇÕES PERIGOSAS – a imprensa e o online juntoscontra o poder políticoO ator principal do filme, Russell Crowe, referiu numaentrevista que se sentiu atraído para a personagem de CalMcAffrey porque, segundo ele, “quis explorar a ambigui-dade do jornalismo… É um conceito assumido que os jor-nalistas se mantêm objectivos (…). Mas eles também sãohumanos, também são afectados emocionalmente (…).Por isso, penso que examinar esse conceito e examinar opapel que a experiência humana tem no jornalismo quelemos, seria muito interessante.”1

Ligações Perigosas, que é um filme que deve muito a OsHomens do Presidente, não só em termos de ideologia jorna-lística, como também em termos estéticos, tem na perso-nagem de Cal um repórter ‘à moda antiga’, que é mostra-do a fazer o seu trabalho de investigação nos locais, juntode testemunhas, contactando com as autoridades (comquem tem uma relação de cumplicidade, vendo-se nessascenas a cultura jornalística das relações com as fontes).

A idoneidade jornalística de Cal em algumas circuns-tâncias do filme é posta em causa (por causa das suasações), mas o jornalista a certa altura no filme usa com acolega Della Frye a expressão “factos em vez de rumores”,mostrando assim que não gosta de especular, e refere-sede seguida aos attack dogs [‘cães de ataque’] para descreveralguns membros da sua profissão que não têm escrúpulosnem ética jornalística. Por vezes, Cal usa a persuasão emétodos dúbios para obter resultados (chantageia, mente,manipula, obtém declarações gravadas sem o conheci-mento das fontes, retém provas importantes para o caso,que não divulga à polícia, por exemplo).

No entanto, Cal mantém uma relação de respeito coma sua colega novata e inexperiente (ainda que ambiciosa)da secção online, a quem trata com respeito, dando-lhevários conselhos profissionais ao longo do filme, e igualprotagonismo em termos da investigação da história.

Tal como n’ Os Homens do Presidente, é de novo mostra-do o desejo de afirmação de quem acabou de chegar àredação, do jornalista ‘novato’. Esse desejo de reconheci-mento é expresso através dos métodos utilizados, mas temem comum a ideia de que descobrindo factos, investigan-do dados e tendo fontes fidedignas, esse reconhecimentoprofissional por parte dos membros da comunidade che-gará mais rapidamente.

No início do filme, antes de Cal e Della se tornarem par-ceiros de investigação, Della é mostrada na secção online, eembora esta vertente do jornalismo não seja mostradadepreciativamente, e até exija à mesma trabalho de inves-tigação e profissionalismo, não é considerada por Calcomo jornalismo de qualidade, o que leva Cal a dizer aDella que “a inexperiência não é fatal, mas a incompetência é”.

Este tema, o da reputação do jornalismo online vs. o jor-

nalismo tradicional, impresso, é muito atual e só agoracomeça a ser explorado em filmes sobre jornalismo, masserá inevitável que no futuro este ‘choque de gerações’tenha um grande destaque, acompanhando, como os fil-mes sobre jornalismo sempre o fazem, as novas descober-tas tecnológicas e as consequências que daí advirão para aprofissão de jornalista.

Se hoje em dia o veredito é o de que o jornalismoimpresso ainda será a forma mais fidedigna e factual defazer jornalismo, e de que o online é um jornalismo feitode pressa, de inexatidões, do apelo ao sensacionalismo eao imediato, essa opinião poderá mudar no futuro, atéporque se o jornalismo online está a mudar o panoramadas redações e das tiragens dos jornais tradicionais, éinevitável também que os jornalistas do impresso, talcomo Cal, tenham de mudar os seus métodos e a suaforma de investigar as notícias.

NOTAS FINAISEm ternos da especificidade da cultura e da rotina profis-sional dos jornalistas, há uma clara divisão entre os filmesdos anos 40 e 50 e os dois filmes mais recentes. Assim, con-ceitos fundamentais à profissão, como a neutralidade, aobjetividade, a independência e o ‘dizer a verdade’, porexemplo, são pouco respeitados pelas personagens princi-pais d’ O Grande Escândalo, Citizen Kane e O GrandeCarnaval.

Raramente se vê Hildy, Walter, Kane e Tatum a preocu-parem-se com estes preceitos, sendo pelo contrárioinúmeras vezes ignorados por todos eles, os ‘cavalheirosda imprensa’, que como refere uma personagem n’ OGrande Escândalo, ‘só têm dito e escrito mentiras’, procedi-mentos muito diferentes do autoproclamado ‘lutadorincansável dos direitos do público’, representado porCharles Foster Kane, no início de Citizen Kane.

N’ Os Homens do Presidente, que ainda hoje, ao fim de 40anos, se pode considerar o filme que mostrou de formamais verídica a imagem de um jornalista, vê-se toda a roti-na jornalística ao pormenor, observando-se também, emtermos éticos, os jornalistas no geral a cumprir as regrasda profissão.

Os ‘jornalistas-tarefeiros’ e meticulosos, representadospor Woodward e Bernstein, transformaram-se, devido aoresultado das suas ações, em ‘jornalistas-heróis’, influencian-do dessa forma incontáveis espetadores ao longo dos anos, ede certeza futuros profissionais do jornalismo. Embora,como foi referido, o efeito e as consequências do casoWatergate para a profissão se tenham desvanecido logo nosanos 80, continuam a ser um exemplo de jornalistas íntegros,a imagem perfeita do jornalista enquanto profissional e,devido a isso, verdadeiros ‘heróis’ para os seus pares.

Ligações Perigosas, embora seja um herdeiro dos valoresd’ Os Homens do Presidente, é também um filme que decor -re mais de 30 anos depois, e por isso reflete também asmudanças e a evolução no mundo do jornalismo.

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Se, nos três filmes iniciais, também existia uma dicoto-mia e uma luta entre o ‘velho’ e o ‘novo’ jornalismo, o jor-nalismo à moda antiga vs. o jornalismo in the gut de ChuckTatum, que privilegia o interesse humano, em LigaçõesPerigosas a luta já é entre o jornalismo tradicional impres-so vs. o jornalismo online, o ‘futuro’.

Em relação aos pontos em que os cinco filmes se asse-melham, há aspetos únicos da profissão jornalística quesão retratados de forma semelhante em todos os filmes,tais como os anteriormente mencionados ‘jornalês’, o pen-samento de alcateia [pack journalism], o interesse pelos cri-térios de noticiabilidade, a obsessão pelo ‘furo’, pelos pra-zos e pelo fator tempo, entre outros, que podemos dizersão as ‘regras não escritas’ da profissão.

Mesmo com todas as diferenças já anteriormente apon-tadas, aspetos como a obsessão com o seu trabalho, quefaz um jornalista sê-lo 24 sobre 24 horas, a sua ambição ea vontade de sucesso, a importância da experiência noterreno, a atenção dada à concorrência, que está semprepresente na mente das personagens, o desejo de aumen-tar as tiragens, por exemplo, tornam os jornalistas dosanos 40 e 50 muito semelhantes aos jornalistas d’ OsHomens do Presidente e Ligações Perigosas, já que todos sãoparte de uma cultura partilhada, que os argumentistassabem existir há séculos, e que terá de ser transmitidainevitavelmente no grande ecrã, de maneira a tornar essesjornalistas credíveis; há certos mandamentos e certascaracterísticas que terão de ser espelhadas num filme,para que o público acredite estar a ver um jornalista, inde-pendentemente de este ser um ‘herói’ ou um ‘vilão’.

Em suma, o ‘jornalista-tipo’ retratado nos cinco filmesé ao longo das décadas um repórter que se preocupaessencialmente com o ‘furo’, com a notícia que mais ne -nhum colega ou jornal concorrente tem, e que lhe poderávaler uma carreira.

No geral, utiliza todas as ‘armas’ que tem ao seu alcan-ce, em termos de rotina jornalística, não se preocupandomuito com as hierarquias dentro do jornal, e tem poucorespeito pelas forças da ordem, chocando constantementecom o poder político e económico, sem receio das conse-quências. Ainda, se for necessário, recorre a métodosmenos éticos para apurar toda a verdade dos factos.

Embora este ‘jornalista-tipo’ seja um profissional comalgumas fraquezas, tem também um fator fundamentalque o caracteriza: está dos lados dos desprivilegiados edos injustiçados, e tentará sempre descobrir e relatar todaa verdade sobre os abusos de poder dos ricos e poderosos.

Podemos concluir que se o jornalista nos filmes atuaiscontinua a ser ‘herói’, porque a sua luta é contra a injusti-ça e os seus ideais são nobres, combate nos dias de hojecom menos ingenuidade e, em certo sentido, já é mais um‘jornalista anti-herói’, porque essas armas com que com-bate os abusos de poder são as mesmas utilizadas peloscriminosos que persegue e investiga: a manipulação, amentira, a dissimulação e a inflexibilidade.

BIBLIOGRAFIA

António, L., (1990). Cinema e Comunicação Social, Portalegre: Câmara

Municipal – Festival Internacional de Cinema.

Correia, F., (1997). Os Jornalistas e as Notícias, Lisboa: Caminho.

Kovach, B. & Rosenstiel, T., (2004). Os Elementos do Jornalismo, Porto:

Porto Editora.

Ramonet, I., (2003). Set the media free, in Le Monde Diplomatique

[English Edition], Octobre 2003, disponível em

https://mondediplo.com/2003/10/01media

Traquina, N., (2004). A tribo jornalística, Lisboa: Notícias Editora.

Zelizer, B., (2000). Os jornalistas enquanto comunidade interpretativa,

in Revista de Comunicação e Linguagens, Lisboa: Relógio d’Água, pp.

33-61.

1) Russell Crowe, no jornal universitário Silver Chips, in http://sil-verchips.mbhs.edu/story/8246

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Joaquim LetriaSem Papas na Língua DORA SANTOS ROSAÂncora Editora, Lisboa, 2014

Texto Carla Baptista

Será possível dizer que umhomem guarda a históriadentro do coração? Pela mão

de Joaquim Letria, o entrevistadodeste livro, da autoria de DoraSantos Rosa, atravessamos osúltimos 60 anos da vida do país,ainda antes dos tempos do"vendaval crísico" que representouo PREC (a expressão é do generalEanes, que assina o prefácio) até aodesencanto com o presente. Não éum livro de memórias, antes umaconversa alargada que percorre acarreira do jornalista"cosmopolitamente informado", e asintervenções na área política,nomeadamente enquanto porta-vozdo general Eanes durante osegundo mandato presidencial,constituindo um belo contributopara a memória da profissão e paraa arqueologia das relações entre osmedia e o poder.

O percurso de Joaquim Letriapartilha afinidades com outros dasua geração: a entrada precoce naprofissão (aos 19 anos, para o Diáriode Lisboa), levado pela motivaçãoliterária e pelo desejo de participaçãocívica, a politização à esquerda e umaacumulação desumana de empregos(chegou a conciliar Diário de Lisboacom a Associated Press e o RádioClube Português, para além deescrever "uma reportagem ou umaentrevista para a Flama nos temposlivres"). No caso de Joaquim Letria,as coisas aconteceram sempre maisdepressa e melhor. Como ele próprioconfessa: "gozei muito". Enquantotrabalhava na BBC, entre 1970 e 1974(em Londres foi, em simultâneo,correspondente do Diário de Lisboae do Expresso), recebeu um convitedo banqueiro Jorge de Brito (BancoIntercontinental Português), recemcomprador do império de O Século à

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toda a gente podia participar. Numdeles, chamado "Teledomingo", "tivea felicidade de mandar calar o nossoquerido ex-primeiro ministro DurãoBarroso". Motivo: este queria ler umdocumento de 17 páginas aprovadonuma reunião geral de alunos deDireito. Um gesto destes garantiauma manifestação de protesto àporta da RTP e muitas acusações de"social-fascista". Recorda que toda agente se apresentava da mesmamaneira: "vou dizer uma coisa muitoimportante, pá!"

A saída da RTP coincide com a deRamalho Eanes, acusado decumplicidade com "os conspiradoresdo 11 de Março" (a suspeita residiano inexplicável silêncio da televisãoface ao que se estava a passar nopaís, que apenas se pode

compreender recuando a umcontexto de instrumentalização pelosvários poderes - gabinete doprimeiro-ministro, secretariado deinformação, COPCON).

A vida de Joaquim Letria estácheia de cruzamentos com a história,alguns risíveis: o 25 de novembroapanha-o no castelo de Leiria, afilmar uma longa metragem de ArturSemedo, fazendo de repórter queentrevistava o "rei das Berlengas".No elenco havia um sósia deSpínola, originando o rumor de queo general tinha voltado de Espanhae estava no castelo com um grupoarmado para liderar o contra-golpe...

Depois da RTP, veio a direcção dosemanário O Jornal, que abandonouintempestivamente devido adesentendimentos pessoais. Saiumuitas vezes em conflito dos lugaresque ocupou mas nunca ficou mais de

uma semana no desemprego.Quando saiu de O Jornal, atravessoua avenida da Liberdade para"desanuviar" e foi beber um copo aoPabe, o restaurante que acolhia aequipa do Expresso. Encontrou láEduardo Corregedor da Fonseca,antigo redactor do Diário de Lisboa ena altura administrador da agêncianoticiosa ANOP. Beberam o copo àmédia luz do bar. À saída, Letria játinha um lugar de repórter à espera.

Acabou por inaugurar na ANOP ogabinete de grande reportagem, comAntónio Mega Ferreira, Helena Vazda Silva e Maria Antónia Palla. Foimais um período de viagens intensase reportagens históricas, muitasdelas em África. Se a época da BBCcorrespondeu ao período em queconheceu os líderes dos movimentosde libertação (Amílcar Cabral,Eduardo Mondlane, Samora Machel,Agostinho Neto, Joaquim Chissano),o tempo da ANOP coincidiu comuma explosão de novos conflitos,muitos deles cobertos por JoaquimLetria: Sudão, Namíbia, Rodésia,Angola, África do Sul...

Seguiu-se o regresso à RTP, parafazer, entre outras coisas, o programa"Tal & Qual", que acabou sendoproibido em 1979. Depois de uma"reunião lixada", foi comer sardinhasem Alfama com um amigo que eracorrespondente da televisãoespanhola em Portugal e que, a meiodo jantar, lhe deu a ideia: "Hombre,eu agora no teu lugar fazia um jornale dava-lhe o mesmo nome". Umasemana depois, exactamente no diaem que o programa iria para o ar,havia um novo jornal nas bancas.

São apenas exemplos das muitashistórias de vida e obra que povoameste livro, produto de uma visãopessoalíssima, mas tão estimulantepara quem se interessa pela históriado jornalismo. Joaquim Letria écertamente um dos protagonistasprincipais dessa história, e tem avantagem de saber contá-la com odetalhe, o humor, a independência ea capacidade de síntese quecaracterizam os grandes jornalistas.

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família Pereira da Rosa, para ser"correspondente europeu" do jornal.Um cargo de sonho, muito bempago, que lhe permitiria viajar pelocontinente europeu. Ainda estava apensar se aceitava quando aconteceua revolução de Abril e Jorge de Britoé preso. Uma prisão tão sui generisque todos os dias era transportadode Caxias num carro celular para orestaurante do Hotel Altis, local ondeos dois se encontravamocasionalmente para almoçar.

A vida já corria veloz antes darevolução, mas o pós 25 de Abrilacrescentou loucura, aceleração enotoriedade em doses gigantes. Foipara a RTP logo em 1974, a convitedo Ministério da Informação dirigidopor Raul Rego e com a aprovação doMFA. A passagem anterior pela BBCfoi fundamental para enfrentar essestempos em que "não existia aexperiência de uma televisão livre,com programas de discussão deideias, com entrevistas ao vivo". Noprimeiro dia de trabalho na RTP,enquanto aguardava na sala deespera do presidente do Conselhode Administração, conheceu um"senhor fardado, com a fardanúmero um do Exército e umapeliça, um casaco muito bonito dosoficiais, que ninguém usava naqueleperíodo revolucionário". Era o(então) major Ramalho Eanes,também no seu primeiro diaenquanto diretor de programas.

Passados 15 dias, o "coronelamigo do general Spínola" que naaltura dirigia a televisão estava adespedir "o tipo das barbas" (opróprio Letria, alegadamente porSpínola não ter gostado de umaentrevista ao presidente Pedro Piresde Cabo Verde). Outros 15 diasdecorridos, já era o major RamalhoEanes quem presidia à RTP. Odespedimento ficou esquecido,acabou de "desalfandegar os livrosque trouxera de Londres" e começoua trabalhar na dependência deÁlvaro Guerra, diretor deinformação, fazendo programas dedebates, com o estúdio cheio e onde JJ

O pós 25 de Abril acrescentou loucura, aceleração e notoriedade em doses gigantes. Foi para a RTP logo em 1974,a convite do Ministério da Informação dirigidopor Raul Rego

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Casa daImprensaprepara regimecomplementarde reforma

ACasa da Imprensa prepara olançamento em breve de umanova modalidade de Previ -

dência-Reforma. Ela é destinadaprimeiramente à adesão individualdos seus sócios, mas poderá seraberta também à adesão coletiva deoutras associações e das empresas dosector da comunicação social.

A modalidade de Previdência-Reforma destina-se a proporcionar aconstituição e valorização dapoupança dos seus subscritores - emfavor destes, em situação de reformaou invalidez, ou, em caso de morte,em favor dos seus herdeiros legais oudos beneficiários que para taldesignarem.

Trata-se, na sua essência, de uma

solução mutualista típica, mas comsemelhanças também com os PPRlançados por bancos e companhias deseguros. No caso concreto, porém,tem características próprias, uma dasquais é a que alia, no mesmo produto,a constituição e valorização dapoupança com a proteção contra osriscos de morte e invalidez em moldessemelhantes aos de um seguro devida.

Em traços resumidos, com asubscrição da modalidade oassociado cria um Plano dePoupança, que lhe confere o direito,ao atingir a idade normal dereforma, a receber um Capital deReforma que corresponde àpoupança acumulada e ao

rendimento gerado ao longo dosanos. O capital investido é garantidono final do plano e a valorização dapoupança beneficia de umrendimento mínimo garantido,fixado antecipadamente, e de umrendimento suplementar que variaem função dos resultados damodalidade.

Em caso de invalidez ou demorte, o subscritor ou os seusherdeiros legais ou os beneficiáriosque designar recebem um Capital deRisco, cujo valor corresponderá, nomínimo, ao somatório das quotas jápagas e das que pagaria até à idadede reforma.

A criação da nova modalidadecorresponde a uma necessidade há

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muito sentida pelos associados daCasa da Imprensa e pelos jornalistas eprofissionais da comunicação emgeral.

Na ação social desenvolvida pelaassociação mutualista confirma-seuma acentuada degradação dascondições de vida dos jornalistas, emespecial dos que estão no final dacarreira ou na situação de reforma.

São conhecidas as causas destequadro sombrio: o desemprego,frequentemente de longa duraçãoapós os 50 anos de vida, e o baixovalor das pensões, consequência,muitas vezes, da antecipação dareforma e de carreiras contributivasinsuficientes. São muitos os casos dejornalistas com pensões mínimas ou

pouco mais. E não são poucos os que(sobre)vivem com o rendimentosocial de inserção e com a ajudafamiliar.

As perspetivas para os maisjovens também são sombrias.Escassas carreiras contributivas,devido à precaridade dos vínculoslaborais (principalmente nosprimeiros anos) e baixos salários nãogarantem no futuro pensõescondignas.

A necessidade de soluçõescomplementares às pensões develhice do regime público é assimevidente e a opção mutualista deveser considerada seriamente. Assoluções mutualistas sãonormalmente mais flexíveis,

ajustando-se às condições do seupúblico-alvo e os resultados revertemintegralmente para os subscritores. Anatureza democrática do mutualismopermite um maior controlo dosregimes e um maior poder negocial.

A Casa da Imprensa propõe-segerir a nova modalidade em parceriacom um parceiro legalmentehabilitado a tal, com resultadosauditados por uma entidade externae independente. Além disso, noquadro legal existente, pretendeabrir a modalidade à adesão coletivade associações e empresas do sector.No caso das empresas, trata-se deum desafio para que assumam umaresponsabilidade social que até agoranão têm partilhado. JJ

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Jornal|SitesPor Mário Rui Cardoso > [email protected]

A rthur Gregg Sulzberger começou a desempenharas funções de director adjunto do New York Timesem Novembro, perfilando-se para suceder ao pai

e tornar-se na quinta geração Sulzberger a chefiar ojornal. Em entrevista ao “site” do Poynter Institute, A.G.Sulzberger elencou como seus principais objectivos“manter a publicação no caminho imparável darevolução digital, competir com a concorrência maisinovadora pela atenção do público e transformar leitoresocasionais em subscritores”. O seu fim último é tornar oNY Times numa “verdadeira empresa digital first”. A histórica publicação norte-americana está numaposição privilegiada para obter êxito na sua estratégiadigital futura. Pela excelência do Jornalismo, pelafidelidade dos leitores e pela consistência dos avançosque já promoveu nas plataformas digitais. O NY Timesconta com uma sólida fonte de receitas provenientes dosseus leitores muito dedicados, a maior parte ainda fiel àedição impressa, mas A.G. Sulzberger está consciente deque, para sustentar o crescimento do jornal, “é necessárioque a redacção mude ainda mais do que o fez no últimopar de anos”. A.G. Sulzberger foi o autor do Relatório de Inovação do NYTimes (www.niemanlab.org/2014/05/the-leaked-new-york-times-innovation-report-is-one-of-the-key-documents-of-this-

media-age), que muito deu que falar há dois anos. Essedocumento foi a resposta a um momento detransformação na vida do jornal, que estava a perderleitores a um ritmo preocupante para “sites” como oBuzzfeed (www.buzzfeed.com) ou o Vox Media(www.vox.com). Desde então, o jornal tem-se focado naexploração de formas inovadoras de contar as histórias,expandindo-se para além do recurso clássico ao texto e àfotografia. Interactividade, vídeo e realidade virtualentraram no vocabulário quotidiano da redacção do NYTimes. Os melhores recursos são postos ao serviço dessasnovas linguagens. A publicação foi pioneira na aplicaçãoda realidade virtual ao Jornalismo. Steve Duenes e a suaequipa têm desenvolvido um trabalho muito apreciadoao nível do Jornalismo visual e interactivo. E a estratégiapara as plataformas móveis, liderada por Cliff Levy,mereceu do “guru” Ken Doctor (www.newsonomics.com) aclassificação de “melhor experiência de conteúdosinformativos em smartphones”. No que diz respeito ao digital, o diário da famíliaSulzberger não facilita. É o futuro da publicação que estáem causa, e ainda recentemente foi dado outro sinal deconsistência estratégica nesse caminho, com a aquisiçãodo popular guia de compras norte-americano Wirecutter(www.wirecutter.com).

www.poynter.org/2016/a-g-sulzberger-on-his-new-job-transforming-the-new-york-times-and-the-things-that-keep-him-up-at-night/435977

A. R. Sulzberger apontaao futuro do NY Times

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Fixar as atenções de quem nos lê, ouve e vê numapaisagem digital saturada de informação epropícia à dispersão não será nada fácil, mas o

Content Marketing Institute deixa-nos pistas que talvezpossam ajudar a fazer esse caminho. Este “site” publicaregularmente textos tutoriais destinados a tornar maiseficiente a comunicação nas plataformas digitais e afidelizar os utilizadores. Recomendo a entrada no Content Marketing Instituteatravés do artigo de Gareth Bull a que se refere o “link”supramencionado. Bull releva a necessidade deapresentar conteúdos que sejam claros, informativos epartilháveis. Para isso propõe que se criem esquemas depublicação que assegurem clareza, foco e fluidez ao quese publica. Sugere igualmente a adopção de um modo de

procedimento padrão, sem prejuízo da criatividade. Eque, sempre que possível, fique claro para os utilizadoresque aquilo que é publicado é algo que lhes é útil eaplicável nas suas vidas diárias. Bull alerta também paraa necessidade de ligar constantemente as publicações aoutros conteúdos de qualidade existentes na Net.“Linkar” e citar sempre. Bem como evitar, a todo o custo,a opção fácil pelos “teasers” apelativos (clickbaits) se elesnão remeterem para matérias de qualidadeinquestionável. Por último, mas não menos importante,Gareth Bull lembra a obrigatoriedade de publicar muitoregularmente. Nos tempos que correm, só assuperautoridades nas suas respectivas áreas podem dar-se ao luxo de publicar de longe a longe sem se arriscarema perder a atenção.

http://contentmarketinginstitute.com/2016/11/write-user-oriented-content

Guia de sobrevivêncianos media digitais

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Jornal|Sites

Uma das tendências em voga, na produção deconteúdos informativos para as plataformasdigitais, é o envio de notificações para os ecrãs

de protecção dos smartphones. Essa práticageneralizou-se, mas a Mic (www.mic.com), um “site” deinformação que nasceu assumidamente virado para ageração “millennial”, está a dar alguns passos emfrente na utilização dessa tecnologia, ao criar umaversão melhorada da app MicCheck para iPhone quepermite, por exemplo, enviar vídeos visualizáveisdirectamente no ecrã de protecção. A ideia por detrás do programa de notificações da Micé que os utilizadores não necessitem de abrir aaplicação para ficarem com o essencial da informaçãode que precisam. O programa está organizado em 12tópicos – breaking news, eleições americanas 2016,feminismo, Black Lives Matter, etc. – e o utilizador recebeas notificações das áreas que subscreveu, produzidas

invariavelmente sob uma lógica de proporcionar aossubscritores uma informação completa no ecrã deprotecção, e não só “teasers” para os conteúdosdesenvolvidos no “site”.A publicação está a produzir mais de 50 vídeosoriginais por dia, criados quer para o “site” quer para asvisualizações rápidas nos ecrãs de protecção. Ao mesmotempo, tem em curso um estudo de comportamentodos utilizadores face aos alertas que recebem nostelemóveis, que servirá de base ao desenvolvimento deníveis de personalização mais apurados para osprogramas de notificações.Neste artigo de Joseph Lichterman para o Nieman Labsão apresentados outros exemplos de formasinovadoras de utilizar a tecnologia de notificações,como o caso da NBC News (www.nbcnews.com), queactualizou recentemente a sua app para iPhone parapoder incluir fotos, mapas e infografias nos alertas.

www.niemanlab.org/2016/11/mic-is-now-sending-iphones-push-notifications-with-videos-that-play-right-on-the-lock-screen

Informaçãopara millennials

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www.ericsson.com/thinkingahead/consumerlab/consumer-insights/tv-and-media-2016

O futuro da TV é móvel

www.facebook.com/facebookmedia/journalists

Cursos online para usarmelhor o Facebook

Oúltimo relatório anual Ericsson ConsumerLabTV & Media, com as conclusões de uminquérito a trinta mil pessoas de 24 países,

incluindo Portugal, aponta para um enorme e rápidoaumento do número daqueles que preferem vertelevisão e vídeo em dispositivos móveis, comosmartphones e tablets. O tempo dedicado àvisualização de TV e vídeo em equipamentos móveisaumentou 85% nos últimos seis anos, enquanto quenos ecrãs fixos esse tempo reduziu-se 14% no mesmoperíodo. O desejo de consumo de TV e vídeo mantém-se o

mesmo, mas vem mudando a preferência pelosdispositivos utilizados. E isto apesar de se gastar muitomais tempo a escolher o que ver nos equipamentosmóveis. Os consumidores gastam 45% mais tempo adecidir o que ver quando estão a utilizar um dispositivomóvel do que quando usam a televisão linear. Noentanto, ficam mais satisfeitos com o que acabam porescolher num dispositivo móvel, o que faz com que osserviços de Video on Demand sejam considerados pelosinquiridos mais importantes do que os serviços detelevisão tradicionais. Think mobile parece ser cada vezmais um imperativo.

Aempresa de Mark Zuckerberg tem tentadoconstituir-se como opção válida para osjornalistas, que tendem a utilizar o Twitter como

rede social preferencial para a sua actividade. Um dosprimeiros passos nesse sentido foi o lançamento doSignal (www.facebook.com/facebookmedia/get-started/signal), uma ferramenta pensadaespecificamente para os jornalistas e que permiterastrear o Facebook e o Instagram em buscade informação relevante sobre osassuntos que dominam as discussões, emcada momento, nessas redes sociais.Possibilita igualmente a incorporaçãodesses conteúdos nas própriaspublicações dos jornalistas que efectuam

os rastreios – o Twitter está a trabalhar num projectosemelhante, a que deu o nome de Project Lightning.Mais tarde foi criado um grupo fechado, já com cercade nove mil membros, denominado News, Media &Publishing on Facebook (www.facebook.com/groups/media.publishers). Por último, surgiu um conjunto decursos gratuitos “online” para jornalistas, destinados amaximizar o potencial de utilização do Facebook para fins

profissionais. Estes cursos cobremmúltiplas vertentes, como a pesquisa deinformação, o processo de escrita, aprodução de vídeo e fotos de 360 graus oua utilização do Facebook Live(https://live.fb.com). Os workshops “online”são a não perder.

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Numa propriedade emSintra, um rei destronadomostra-se avesso aentrevistas e uma jovemjornalista inventa umsubterfúgio para o abordar.Esta é a história daentrevista de Manuela deAzevedo com Humbertode Sabóia.

Texto Gonçalo Pereira RosaIlustrações Draftmen

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JORNALISTAS

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SOUCRIADADE SUA

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STADE”

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Acaminho da Quinta daPiedade, em Colares, umautomóvel rola vagarosa-mente pela estrada flores-tal. Talvez o motorista LuísPreto se interrogue sobre oestranho pedido da «senho-

rinha» que o mandou parar à entrada de umhotel em Sintra e lhe pediu transporte até à pro-priedade da Marquesa de Cadaval. Pelo caminho,avisou-o que o «seu assunto» poderia demoraralgumas horas e pediu-lhe que a esperasse umacentena de metros antes do portão, abrigado nasombra.

Já no interior da propriedade, Manuela deAzevedo sente o nervosismo das grandes decisõ-es. À boa maneira portuguesa, o seu projecto nãofoi planeado, nem encenado. Resulta de umimpulso, de uma decisão instantânea de chegaronde ninguém chegou. Repugna-lhe ter de men-tir enquanto caminha através de uma alameda,mas não tem outra hipótese, sobretudo quando,ao virar da esquina, dá de caras com um dos doisagentes da polícia destacados para a vigilância dapropriedade.

Impassível, embora tremendo por dentro,pede indicações para chegar à fala com o cozi -nheiro Jaime Coelho, «que é como se fosse defamília». Na vila, nessa mesma manhã de 19 deJunho de 1946, apurara discretamente os nomesdos intermediários que poderão ser úteis naaventura: o motorista Miro, o criado de mesaFernández e o cozinheiro Jaime. São funcionáriosda propriedade que a Marquesa de Cadavalcedeu a Humberto de Sabóia, esposa e filhos,para o exílio em Portugal. Mas Manuela deAzevedo só lhes conhece os nomes.

A jornalista respira fundo ao entrar na cozi -nha. O nome do cozinheiro foi o seu cavalo deTróia, o estratagema para obter acesso até à inti-midade do homem que, durante um mês, forarei em Itália e se vira obrigado ao exílio depoisde um referendo ter dado vitória esmagadora àsolução republicana. Enquanto troca palavrasconfusas com o cozinheiro, procurando conge-minar um plano que justifique a sua presença naQuinta da Piedade, aproxima-se o rei, recém-chegado dos seus passeios higiénicos pela serra.Olha-a com curiosidade, de bengalinha na mão,e avança. Manuela de Azevedo poderia ter con-fessado logo ali o seu propósito: queria entrevis-tar o soberano que recusara os esforços de todaa imprensa europeia desde que chegara aPortugal uma semana antes. Queria mostrar aos

camaradas do Diário de Lisboa que era tão deste-mida como eles. Num ápice, porém, o rei avan-çou e a oportunidade esfumou-se.

UM PROJECTO JORNALÍSTICOO rei de Itália, filho de Vítor Manuel III, reinoufugazmente depois da abdicação do pai em 9 deMaio de 1946. Foi-lhe imposto um referendo, cujodesfecho validou, de forma esmagadora, o fim damonarquia. O povo italiano não perdoava à Casade Sabóia a conivência com o governo deMussolini nem a temeridade da participação naSegunda Guerra Mundial que deixara o país emfrangalhos. Pouco importava que o próprioHumberto II tivesse igualmente sofrido com oconflito: a irmã Mafalda morrera num campo deconcentração e a irmã Giovanna fora detida naBulgária e acusada de cumplicidade com os nazis.

Com a dissolução da monarquia, a família realteve de encontrar refúgio. Vítor Manuel III e arainha Helena abrigaram-se no Egipto.Humberto II escolheuPortugal, onde aterrouna manhã do dia 14 deJunho de 1946, recebidopela fiel comunidadeitaliana em Portugal. Navéspera, chorara o diamais triste da sua vida,mas prometeu a simesmo que não comen-taria a situação políticado seu país. Sorriu aosrepórteres que o aguar-davam na Portela, mas recusou com firmezaqualquer entrevista, compromisso que mantevenos dias seguintes.

Na Rua Luz Soriano, em Lisboa, «num BairroAlto ainda alumiado a bicos de gás», como contana sua Memória de uma Mulher de Letras, o Diáriode Lisboa é agora a casa de Manuela de Azevedo,a única (mas não a primeira) mulher redactoraprofissional em Portugal. Acumulou experiênciana República (de 1937 a 1941) e na Vida MundialIlustrada (de 1941 a 1945) e já tem dois livrospublicados. Corresponde-se com MarceloCaetano, a quem pede que interceda por umaamiga em 1946, e o seu talento foi reconhecidopor Aquilino Ribeiro, que a promoveu junto dodirector Joaquim Manso, e pelo chefe de redac-ção José Ribeiro dos Santos, que a recomendoudepois de trabalhar com ela na República. À datada sua admissão em 16 de Julho de 1945, Mansodisse-lhe apenas: «Minha senhora, no Diário de

ENQUANTO TROCAPALAVRAS CONFUSASCOM O COZINHEIRO,PROCURANDOCONGEMINAR UMPLANO QUE JUSTIFIQUEA SUA PRESENÇA NAQUINTA DA PIEDADE,APROXIMA-SE O REI,RECÉM-CHEGADO DOSSEUS PASSEIOSHIGIÉNICOS PELA SERRA

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Lisboa, os redactores têm liberdade máxima e res-ponsabilidade máxima.»

Nem tudo são rosas para Manuela deAzevedo. Discretamente, apercebe-se que, quan-do está presente, uma bandeira branca é coloca-da na secretária à entrada da redacção, sinalizan-do que a linguagem tem de ser controlada napresença da «senhora». Pior: aberta ou velada-mente alguns dos principais vultos do jornalexpressam-lhe animosidade. Com Mário Neves eArtur Portela, tem zangas duradouras. É a elesque Manuela de Azevedo terá de provar o seuvalor. É talvez por isso que se encontra em Sintraem perseguição do «furo» que a imprensa euro-peia não obteve.

CRIADA DE OCASIÃONa Quinta da Piedade, enquanto aguarda pornovo contacto com o rei ou a rainha, Manuela deAzevedo vai tomando notas. Regista as brinca-deiras dos quatro príncipes, sempre lideradospor Maria Pia, «a maissenhorinha»; o camarei-ro que entoa árias deópera; as amigas darainha, como aCondessa de Sorrentinie a Marquesa doCadaval, que a levamao Estoril em longospasseios. Ninguémparece dar conta desteintruso na vida palacia-na até uma empregadamais idosa lhe pergun-tar se vem à procura de emprego. É nesse instan-te que o plano se define na mente de Manuela deAzevedo. Será pois uma candidata ao empregode criada nesta propriedade onde ainda falta ilu-minação eléctrica, os banhos são tomados numatina e a maioria das paredes mostra-se nua. Sóassim passará despercebida.

Falta, porém, ludibriar os dois agentes desegurança que podem a qualquer momentodetectar o automóvel que a espera na curva daestrada e estranhar tamanha persistência. Pelas19h30, surge nova oportunidade de conversarcom o rei. O monarca regressa do seu passeiopela serra e cruza-se com Manuela de Azevedo.Vem porém acompanhado de um agente desegurança e a jornalista não arrisca uma aborda-gem. Em contrapartida, é o agente que se dirigea ela. Tudo pode ruir agora, mas, como nos filmesde suspense, trata-se de falso alarme. O políciaquer apenas confidenciar-lhe que os passeios

COM MÁRIO NEVES EARTUR PORTELA, TEMZANGAS DURADOURAS.É A ELES QUE MANUELADE AZEVEDO TERÁ DEPROVAR O SEU VALOR. ÉTALVEZ POR ISSO QUESE ENCONTRA EMSINTRA EMPERSEGUIÇÃO DO«FURO» QUE AIMPRENSA EUROPEIANÃO OBTEVE

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com o rei acabam sempre da mesma maneira:encharcados em suor até aos ossos. Atencio -samente, acompanha Manuela de Azevedo àsaída, detecta o táxi e recomenda-lhe que tome oeléctrico no dia seguinte para «não gastar osfuturos ordenados».

De regresso ao hotel em Sintra, a jornalistaretoca o seu plano. Enegrece as mãos, raspa asunhas na pedra e escolhe roupa mais consentâ-nea com o seu disfarce. De Lisboa, JoaquimManso mandou-lhe um automóvel e um fotógra-fo para acompanhar as diligências. No diaseguinte, repete o percurso até à Quinta daPiedade, mais nervosa do que na véspera.

Talvez por isso, quando abordada pelo agentede segurança na rampa de acesso à propriedade,desata a correr na direcção da residência. Querencontrar o rei, colocar um fim na charada.Acaba por se cruzar com a Marquesa de Cadavalque, elucidada sobre a sua identidade, se mostradivertida com a proeza e promete não a expulsar,embora não intercedaem seu favor pois pro-meteu a si própria que«evitaria qualquer coisaque lembrasse [aosSabóias] o seu drama dapátria e da família».

Resta-lhe o contactodirecto com o rei, porora ausente da proprie-dade. Os agentes desegurança vasculham aQuinta à sua procura.Pela hora de almoço, ocarro de Humberto II regressa a Colares. É agoraou nunca. No preciso momento em que o secre-tário pessoal do rei a interpela e quer saber a suaidentidade, «abre-se uma porta lá no fundo e naminha frente está a figura varonil e surpreendidado rei».

Manuela de Azevedo corre para o soberano,esbaforida e desgrenhada. Apresenta-se: «Hádois dias que ando por aqui disfarçada de criadade Sua Majestade.» Para seu alívio, o rei mostra-se divertido. A jornalista pede-lhe uma entrevis-ta e, em desespero de causa, diz-lhe: «Falemos deflores, do clima, da paisagem. Tudo o que quiser,menos política, que decerto o horroriza.»

O rei sorri. Dá instruções em italiano ao secre-tário Brustia. Prepara-se para se despedir, mas arepórter não compreende o desfecho. Afinal, oque acontecerá? Passam-lhe um papel para asmãos. «A portadora é a senhorinha Manuela deAzevedo, jornalista que falou com o Rei, que

É AGORA OU NUNCA. NO PRECISO MOMENTOEM QUE O SECRETÁRIOPESSOAL DO REI AINTERPELA E QUERSABER A SUAIDENTIDADE,«ABRE-SE UMAPORTA LÁ NO FUNDOE NA MINHA FRENTEESTÁ A FIGURA VARONILE SURPREENDIDADO REI»

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quer dar-lhe uma entrevista e que pede paraV.Ex.ª marcar o dia e a hora – Brustia.» É umanota para o general Grazziani, principal conse -lheiro de Humberto II, ironicamente alojado nomesmo hotel da jornalista em Sintra. A entrevis-ta está garantida. À saída, com «o bilhetinho» nobolso, «o laissez-paisser maravilhoso e mágico»,Manuela de Azevedo já não teme os polícias. Ediverte-se a valer quando o fotógrafo do seu jor-nal lhe conta que o agente de segurança prome-tera ali mesmo que a Marquesa do Cadaval iriacorrer com a rapariga de «cabelo à refugiado»que invadira a mansão.

Como Norberto Lopes contará muito maistarde (em Elogio do Repórter, número de aniversá-rio de 1983 do Diário Popular), «ao terceiro dia,[Manuela de Azevedo] não ressuscitou comoCristo, mas acabou por se dar a conhecer».

A ENTREVISTAA entrevista com o rei teve lugar três dias depois,no dia 23 de Junho e não foi uma conversamemorável. O «furo» era a própria entrevista,não o conteúdo. Começou, porém, com uma des-coberta inusitada: «Ao fechar a porta da salaquase nua onde nos sentámos, o ex-rei de Itáliadeu com os olhos numa vassoura, explicandoembaraçado: ‘Foram mes enfants que puseram avassoura atrás da porta para não nos demorar-mos.’ Era, inadvertidamente, a metáfora perfeitapara o artifício escolhido por Manuela deAzevedo para aceder à Quinta da Piedade.

Durante a conversa, Humberto de Sabóia elo-giou Sintra e o humanismo do povo português,lamentando o destino da sua família. Iniciada às9 horas da manhã, a prometida conversa de 5/10minutos prolongou-se por meia hora. O sobera-no prontificou-se ainda a posar para o fotógrafodo Diário de Lisboa.

Publicada entre 24, 25 e 27 de Junho de 1946

(no dia 26, o jornal não a publicou, lamentandoum «motivo de força maior» que travara asequência da história), a aventura foi um triunfonacional e internacional, cimentando a reputaçãojornalística de Manuela de Azevedo. A repórtervendeu a história à imprensa estrangeira e a suaproeza correu mundo através da Reuter, «sendoincluída numa antologia espanhola como a me -lhor proeza jornalística do ano», registouNorberto Lopes.

Segundo a repórter (embora as peças proces-suais deste desfecho não tenham sido anexadasaos seus processos na PIDE), os dois agentes dapolícia destacados para a segurança da Quinta daPiedade foram compulsivamente transferidosdepois de a sua incapacidade ter sido expostaperante os leitores do Diário de Lisboa. Poucodepois, na tertúlia de A Brasileira, onde agentesda PIDE confraternizavam com alguns homensdos jornais, Denis Salgado, chefe do quadro foto-gráfico do jornal, foi mensageiro de uma ameaçapara a jornalista: «A cor-poração vingar-se-ia demim nem que fosse asacudir o pano do pó àjanela», conta nas suasmemórias.

De facto, nas quasetrês décadas que seseguiram até à revolu-ção de Abril, Manuelade Azevedo foi repeti-damente escrutinadapela polícia política. Ointeresse já vinha doano anterior e do momento em que a repórterassinara no Centro Almirante Reis uma petiçãoao governo para adiar eleições, extinguir a PIDEe a Censura e modificar a Constituição. A proezavalera-lhe a detenção por algumas horas em 12de Fevereiro de 1946 e o constante interesse daPIDE pelas actividades da «esquerdista Manuelade Azevedo», como nota um relatório de 1962.Mesmo assim, não se vergou. Num tempo emque, como notou nas suas memórias, muitos jor-nalistas «eram simples mandaretes que se limita-vam a tomar nota do acontecimento e levar aochefe da redacção o papel» entregue pelos servi-ços oficiais, Manuela de Azevedo fez jornalismo.

Com 105 anos, Manuela de Azevedo lançou hápouco tempo O Pão que o Diabo Amassou, volumede contos e memórias. Ali prometeu, como fizeraem mais de oito décadas de carreira, que os ócu-los que utiliza para ver o mundo não deformam.Dão apenas mais cor.

DURANTE A CONVERSA,HUMBERTO DE SABÓIAELOGIOU SINTRA E OHUMANISMO DO POVOPORTUGUÊS,LAMENTANDO ODESTINO DA SUAFAMÍLIA. INICIADA ÀS 9HORAS DA MANHÃ, APROMETIDA CONVERSADE 5/10 MINUTOSPROLONGOU-SE PORMEIA HORA

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I M P R E S S R A L C E N T E R U N I P E S S O A L , L D A .

D e s i g n G r á f i c o | A r t e F i n a l | P r é - I m p r e s s ã oI m p r e s s ã o D i g i t a l | I m p r e s s ã o O f f s e t

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HOMENAGEM

Paquete de Oliveiraà JJ n.º1 Jan/Mar 2000

Mundo profissionale mundo académico: “A aproximação teráde ser recíproca”

O Prof. Paquete de Oliveira é alguém particularmente bem colocadopara, como primeiro convidado desta secção da JJ, nos falar,precisamente, de alguns dos temas que constituem o núcleo centraldas preocupações da nossa revista. Jornalista durante cerca de décadae meia – chefe de redacção do Jornal da Madeira, de 1960 a 1966, edirector do Diário de Notícias da Madeira, logo a seguir ao 25 de Abril eaté 1976 – José Manuel Paquete de Oliveira enveredou depois pelacarreira universitária, com larga actividade no ensino e nainvestigação, tendo a sua tese de doutoramente, em 1988, sido aprimeira sobre jornalismo apresentada nas nossas universidades.Actualmente, além de professor de sociologia no ISCTE, écoordenador do mestrado de Comunicação, Cultura e Tecnologias deInformação e da Pós-Graduação em Jornalismo. É também,nomeadamente, coordenador das pesquisas do Projecto Sociedade daInformação – Internet, Interfaces da Sociedade (Praxis XXI, FCT) e doEstudo do Mercado Electrónico Português (Comissão Europeia, FCT).

Texto Fernando Correia Fotos* José Frade

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O ensino e a investigação sobre jornalismo eram entre nós

impossíveis, por motivos conhecidos, antes do 25 de Abril.

Como descreve os passos dados desde então? Como carac-

teriza, nas suas coisas boas e menos boas, a actual situa-

ção do ensino do jornalismo, e quais os caminhos que pre-

coniza para a sua melhoria?

Com a excepção talvez em dois ou três campos como emDireito, Medicina, Engenharia, o ensino e a investigaçãonos mais diversos domínios de formação foram descuida-dos pelo Estado Novo. Convém não esquecer que a situa-ção do ensino superior em Portugal só começou a vivermelhores dias após a reforma de Veiga Simão (1973). AsCiências Sociais foram no seu todo as mais desprotegidas,pois eram vistas como «perigosas» para o «statu quo». Num Estado em que a liberdade de opinião e expressãoestavam «confiscadas», logicamente não era conciliável«produzir» profissionais de informação. (Isto não querdizer que não tenham existido alguns excelentes jornalis-tas). Fora das preocupações da universidade e das empre-sas, a responsabilidade desta formação foi sendo reinvidi-cada pelo Sindicato dos Jornalistas. Em 1940, esteSindicato apresentou ao Governo um projecto de umcurso de formação de jornalistas, obviamente guardadona gaveta. Em 1970, é elaborado outro projecto ( o projec-to Silva Costa), subscrito por Jacinto Baptista, AntónioReis, João Gomes e Cáceres Monteiro.

Durante o Marcelismo (1968/74) três factos começaram

a alterar a situação neste campo: a lei da Imprensa apre-sentada por Sá Carneiro, Pinto Balsemão; um primeirocurso de jornalismo montado pelo grupo Quina e quefuncionou na Faculdade de Letras da Universidade deLisboa (1973-77) e a fundação do Expresso (1973).

Com a libertação trazida pelo 25 de Abril, a explosãodos Media e do mercado publicitário (a industrialização dosector), o fascínio encantatório desta nova profissão dejornalista e também a sua credibilização e legitimaçãosocial, o panorama modificou-se. Contudo, só a partir de1980 a universidade, de forma explícita, dá resposta aoensino em ciências da comunicação. Primeiro a FCSH daUniversidade Nova de Lisboa, depois o ISCSP daUniversidade Técnica de Lisboa e a UniversidadeCatólica. Acontece então para o ensino nesta área o queMário Mesquita chamou o «milagre da multiplicação decursos». É caso para dizer-se «não há fome que não dê emfartura».Todavia, esta imensa proliferação exige umaredefinição dos objectivos, uma reordenação dos campose das funções a que se quer dar resposta com o ensinoespecífico em jornalismo e em ciências da comunicação.

Para além das instituições de ensino, importa salientarneste aspecto valorativo da formação o papel dos centrosde formação fundados entretanto, o CEJ do Porto (1983) eo CENJOR (1986).Não existirá actualmente uma desadequação entre, por um

lado, o tipo de ensino ministrado e, por outro, as novas exi-

gências e a previsível evolução da prática profissional,

nomeadamente no que se refere à utilização das novas tec-

nologias?

Este problema da dissociação entre o ensino ministrado ea prática profissional não é novo, nem tão pouco dizexclusivamente respeito ao ensino de jornalismo. Hoje,sobretudo em virtude do ritmo veloz em que a vivênciado quotidiano se altera constantemente, coloca-se emtodos os campos. No jornalismo, porém, ou melhor, naacepção que se tem feito do ensino de jornalismo, emPortugal, essa questão reflecte uma velha polémica. Sempre houve uma convicção «íntima» por parte da «clas-se», como na gíria se reconhecem os jornalistas, que jorna-lismo se aprende é «com tarimba», na prática, com o chei-ro – antes do chumbo, agora com a tinta das impressoras«laser» ou o «cheiro quente» dos computadores. Por seulado, a genérica concepção e ministração de cursos não

HOMENAGEM Paquete de Ol iveira

Homenagem

Nesta primeira edição da JJ publicada após o

falecimento de Paquete de Oliveira, em Junho passado,

não poderíamos deixar de aqui lembrar alguém que no

nosso país marcou as últimas três décadas de

crescimento e consolidação das ciências da

comunicação, quer no plano da investigação quer no do

ensino, em particular no que se refere ao jornalismo.

Aliando seriedade e exigência à disponibilidade para a

compreensão dos novos tempos trazidos pela revolução

tecnológica, revelou-se um pioneiro na defesa da

ligação entre as salas de redacção e as salas de aula,

como o mostra a entrevista aqui integralmente

reproduzida – em vários pontos ainda plena de

actualidade... – publicada, significativamente, logo no

primeiro número da revista do Clube de Jornalistas.

Clube com o qual, aliás, Paquete de Oliveira colaborava

desde 1997 enquanto membro do Júri dos Prémios

Gazeta, em cujos trabalhos a sua intervenção sempre se

caracterizou por traços que lhe eram próprios – rigor,

competência, bom senso.

A lembrança aqui, e com ela a sentida homenagem ao

mestre, ao companheiro, ao amigo.

“Não se compreende como é possívelhoje em dia ministrar ensino nestecampo sem a utilização das«ferramentas» próprias às novastecnologias, aos novos media, como aInternet.”

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especificamente direccionados para jornalismo, mas paraformações mais abrangentes na área da comunicação,contribuíu para acentuar esse diferendo. As ciências dacomunicação não têm de responder obviamente só ao jor-nalismo.

Por mim, entendo que todas as profissões se aprendemno «terreno», no exercício da profissão, com a aquisiçãoanterior de uma sólida e actualizada formação intelectual,cultural e cívica, e um adestramento técnico-profissional-científico direcionado para o campo de actividade previs-to. O resto, fazendo se aprende.

Esta concepção exige cooperação das escolas, dasempresas, dos próprios «formandos» e compreensão-acei-tação por parte da sociedade. Particularmente, o binómioescola-empresa tem de funcionar de forma muito coope-rante. No que se refere, por exemplo, à questão das«novas tecnologias», não se compreende como é possívelhoje em dia ministrar ensino neste campo sem a utilizaçãodas «ferramentas» próprias às novas tecnologias, aosnovos “media”, como a Internet. É um dos aspectos dadesadequação. Continua a constatar-se um apreciável fosso entre, por um

lado, o número de estudantes que completam os cursos e,

por outro, a oferta de emprego, pelo menos no que se refe-

re aos grandes media. Como vê esta situação?

Creio que o hiato que existe neste momento no país entrea oferta feita pelo ensino superior e a procura por parte domercado de emprego de licenciados pelos mais diversoscursos começa a ser preocupante. Fala-se em cerca de22.000 licenciados desempregados. Os licenciados em jor-nalismo não poderiam fazer excepção. O estudo elabora-do por Mário Mesquita e Cristina Ponte para a ComissãoEuropeia em Portugal e referente a dados de 1996/97inventaria mais de 30 cursos nesta área com a frequênciaaproximada de 7.000 alunos.

Efectivamente a evolução registada neste sector nãoparece de molde a prometer perspectivas animadoras. Osector está em franco desenvolvimento, mas este factorcomporta um forte concentracionismo dos grupos mediae porventura uma consequente internacionalização com ainevitável racionalização gestionária do emprego derecursos humanos. Terá de haver uma reorientação daoferta e uma imaginação criativa na desmultiplicação dasfuncões e dos «ofícios» para aqueles que se formam emciências da comunicação.Quanto à investigação, é evidente que nos últimos anos se

tem assistido a um notável incremento, com a apresentação

de teses, a criação de associações, a realização de congres-

sos, o incremento da edição, os contactos internacionais.

Que balanço faz a este respeito?

A nova configuração do ensino e formação neste campoveio transformar a situação. Ao número crescente de li -cen ciados corresponde o aumento de teses de licenciatu-ra e, progressivamente, de teses de mestrado e doutora-mento. Isso representa um investimento significativo na

HOMENAGEM Paquete de Ol iveira

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“Todas as profissões se aprendem no«terreno», no exercício da profissão,com a aquisição anterior de uma sólidae actualizada formação intelectual,cultural e cívica, e um adestramentotécnico-profissional-científico”

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preparação de recursos humanos e na produção de estu-do e investigação nestes domínios. Começa a haver umconjunto importante de trabalhos nesta área. Talvez quan-do estes vierem à luz da publicidade, a crítica de que seinvestiga pouco nesta área deixe de ser pertinente. É penaque a maior parte permaneça no «silêncio» das bibliotecasou depósitos escolares.

O programa de financiamento à edição de obras naárea de ciência da comunicação instituido em 1999 peloSecretário de Estado que tutela o sector vai, com certeza,provocar uma maior divulgação. Ao pioneirismo da revis-ta Comunicação & Linguagens do Centro de Estudos deComunicação e Linguagens da Universidade Nova deLisboa veio agora juntar-se a Comunicação e Sociedade,Cadernos do Noroeste, do ICS da Universidade do Minho.

Por outro lado, importa registar a atenção que diversaseditoras vêm ultimamente dedicando a este domíniocientífico com colecções específicas, tais como a Presença,a Minerva, a Editorial Notícias, a Terramar, a Bizâncio, asedições Piaget, a Celta. O financiamento à investigaçãopor parte da Fundação para a Ciência e Tecnologia doMinistério da Ciência também tem aumentado, ainda quefalte a esta área ganhar junto da comunidade científicamaior credibilidade na hierarquização da importância dainvestigação a produzir, e portanto financiar. É de lamen-tar que as empresas do sector não se mostrem dispostas ainvestir neste domínio, nem tão pouco criem um departa-mento próprio, como esse caso exemplar do «VerificaQualitativa Programmi Trasmessi», da RAI, que entre1978 e 1999 já publicou mais de 170 estudos.

Todavia, não podemos deixar de dar tempo ao tempo.Os departamentos ou secções das respectivas instituiçõesescolares estiveram até agora mais preocupados com atarefa de preparar recursos humanos. Os centros deinvestigação específicos podem vir a ter um papel decisi-vo na mudança. Os encontros nesta área das ciências dacomunicação realizados pela IBERCOM, LUSOCOM,SOPCOM, estão a contribuir para o romper desse «silên-cio».Sempre houve um certo distanciamento entre o mundo pro-

fissional e o mundo académico, que não se afigura positivo

nem para uns nem para outros. Actualmente, há indícios de

que a situação se está a alterar. Como avalia esta questão?

O curso de pós-graduação levado a efeito, em parceria,pela Escola Superior de Comunicação Social do InstitutoPolitécnico de Lisboa e pelo ISCTE obedece, precisamen-te, a uma determinação para «encurtar» este distancia-mento. Não se pretende - esta tarefa cabe a outros - ensi-nar jornalismo. Pretende-se exactamente relacionar omundo académico com o mundo profissional e vice-versa.

Instituições como a Associação Portuguesa de Ciênciasda Comunicação (SOPCOM) ou o Centro de InvestigaçãoMedia e Jornalismo (CIMJ), fundados em 1997, têm linhasprogramáticas para contribuirem para uma aproximação

desejada. Iniciativas conjuntas com o Sindicato dosJornalistas, com o Observatório de Imprensa, com oOBERCOM, podem muito bem quebrar barreiras. A apro-ximação, sem preconceitos, sem estereótipos, sem descon-fianças, terá de ser de ambos os lados.Tradicionais referências do jornalismo (nem sempre, é certo,

reflectidas na prática) relativas à deontologia, ao respeito

pelo público, à responsabilidade social, até mesmo à solida-

riedade entre os profissionais, tendem a ser substituidos,

em largos sectores da classe, pelo pragmatismo, pelo

sucesso a todo o custo, pela subordinação aos aspectos

comerciais. Ao mesmo tempo, novos protagonistas têm

cada vez maior peso, directo ou indirecto, na produção da

informação – gestores, publicitários, estrategas comerciais

e de marketing, técnicos de sondagens, apresentadores,

animadores, comentadores, analistas, assessores, consul-

tores, etc. Como vê a adaptação ao futuro do jornalismo e

dos jornalistas?

Não é o «noblesse» que obriga. É a vida, o estado de coisas,a «mercadorização» da informação, a lei de uma forte con-corrência e competição no mercado, a ameaça do desem-prego que o exigem. Sem dramatismos, sem falsos mora-lismos, é preciso enfrentar com realismo a nova situação.No seu número 44 de 1994 a revista Reseaux publicava jáum interessante dossier sobre este assunto. Que fazem hoje aqueles que se formaram ou trabalhamem comunicação? Fazem um pouco de tudo. Com a«sociedade da comunicação» alargou-se o espaço socialdas actividades comunicacionais, dos profissionais destecampo. Estabeleceu-se uma nova cartografia de funções eempregos. O mundo da informação porventura outroraconfinado aos jornalistas e o reduto das instâncias produ-toras de informação socialmente legitimadas alteraram omundo da comunicação. Todas as profissões liberais estãoa morrer.

É necessário repensar e reordenar a profissão e o papelde jornalista num contexto dos profissionais dos «velhos»e dos «novos» media. Alargar as hipóteses, definir os cam-pos, as «missões», sem confundir papéis, evitando duvi-dosas ou reprováveis prosmicuidades. Ao fim e ao cabo,configurar o quadro para o novo mundo.

*Pela impossilidade de se aceder aos diapositivos originais,as fotografias foram digitalizadas da JJ n.º 1, onde forampublicadas.

HOMENAGEM Paquete de Ol iveira

“É necessário repensar ereordenar a profissão e o papelde jornalista num contexto dosprofissionais dos «velhos» e dos«novos» media.”

JJ

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