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Universidade Federal de São Carlos. AÇÕES IMITATIVAS DURANTE A INTERAÇÃO ENTRE BEBÊS EM CRECHE. Simone de Oliveira Barreto. São Carlos, Julho, 2004.

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Universidade Federal de São Carlos.

AÇÕES IMITATIVAS DURANTE A INTERAÇÃO ENTRE

BEBÊS EM CRECHE.

Simone de Oliveira Barreto.

São Carlos, Julho, 2004.

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Universidade Federal de São Carlos

Centro de Educação e Ciências Humanas.

Departamento de Psicologia.

Ações imitativas de bebês em creches.

Aluna: Simone de Oliveira Barreto.

Orientador: Maria Stella de Alcântara Gil.

Monografia apresentada na disciplina

“Pesquisa em Psicologia 8”,

como requisito para obtenção

do Grau de Bacharel em Psicologia.

São Carlos, 2004.

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Aos meus pais: Eni e Mauricio que me ensinaram as melhores formas de amar, a

ter responsabilidade e a respeitar as falhas do outro; “a minha sobrinha Brenda que ‘e a

razão da curiosidade e interesse por esse trabalho; ao Rogério e a Aline que me dão

modelos de perseverança diante das dificuldades; as minhas amigas Mili e Thais que me

ouviram e reforçaram o contato com o novo; as meninas de casa:” “Erica; Milena;

Priscila e Thais que acalmaram minhas aflições e suportaram minha impaciência.

Agradeço minha amiga e companheira de trabalho Eliana pela convivência diária, carinho

e incentivo durante todas as etapas desse trabalho”.

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Agradecimentos

Agradeço a todos que contribuíram para o desenvolvimento do presente projeto de

pesquisa:

A minha orientadora Maria Stella de Alcântara Gil pela contribuição na minha

formação em Investigação Cientifica.

A todos os funcionários da Creche municipal “Nosso Lar”, da cidade de São

Carlos, que permitiram a realização do trabalho, nos acolheu, respeitou e participaram de

todas as atividades propostas.

As crianças participantes: Ademir, Vitor Hugo e Marcos Vinicius. Obrigado por

terem respondido ao ambiente por nos arranjado, por nos fazer rir da pureza desses

comportamentos, e ainda por nos dar um beijo a cada visita a creche.

A minha amiga Eliana Bastos que me ouviu e respondeu diante de todas as nossas

dificuldades e empecilhos; por ter estado sempre disponível, por ter sido paciente, por ter

sido perito das transcrições e ainda por ter me dado valiosas sugestões.

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SUMÁRIO

RESUMO -------------------------------------------------------------- 7

INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------8

MÉTODO --------------------------------------------------------------16

Participantes ----------------------------------------------------16

Material e Equipamentos -------------------------------------16

Ambiente --------------------------------------------------------18

Procedimento --------------------------------------------------18

Coleta de Dados -----------------------------------------------19

Tratamento e Analise dos Dados ---------------------------21

RESULTADO --------------------------------------------------------22

DISCUSSÃO ---------------------------------------------------------29

REFERENCIAS ------------------------------------------------------33

ANEXO 1 -------------------------------------------------------------36

ANEXO 2 -------------------------------------------------------------37

ANEXO 3 -------------------------------------------------------------38

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES FIGURA Figura 1. Esquema da sala experimental onde foi realizada a coleta dos dados. 18 QUADRO Quadro 1. Número de episódios imitativos de acordo com a sessão avaliada e com a condição experimental. 22 Quadro 2: Número de interações entre pares e trios de crianças. 23 Quadro 3. Número de modelos emitidos por cada criança durante todas as interações. 23 Quadro 4. Ocorrência da classe de imitação do tipo pontual nas duas condições ambientais. 25 Quadro 5. Ocorrências da classe de imitação do tipo Extensão nas duas condições

ambientais. 26

Quadro 6: Número de episódios com antecedente e subseqüente interativos e não

interativos. 27

Quadro 7: Número de episódios da classe pontual com condição antecedente e

subseqüente interativa e não-interativa. 28

Quadro 8: Número de episódios da classe Extensão com condição antecedente e

subseqüente interativa e não-interativa. 29

GRÁFICO Gráfico 1. Número de ocorrências das classes de imitação por intervalo de tempo. 26

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Resumo Este trabalho apresenta um estudo sobre imitação em crianças com idades entre dois e três anos e teve por objetivo estabelecer uma relação entre a idade dos parceiros de brincadeira e a ocorrência de episódios de imitação tendo como variáveis a presença ou ausência de brinquedos estruturados e sucatas durante as interações. Esse trabalho foi desenvolvido a partir de estudos como o de Bandura, 1977, no qual ele define a imitação como um processo que pode servir como forma de aquisição de novos comportamentos e um precursor necessário para o desenvolvimento de determinadas habilidades, e também se baseou em estudos como o de Pedrosa e Carvalho, 1995, em que as crianças construíram suas brincadeiras recortando pequenas ações das outras, imitando integralmente ou parcialmente a ação da outra, sendo controlada pela topografia do comportamento da outra, construindo dessa forma suas brincadeiras e comunicando-se umas com as outras sem a interferência ou sugestão do adulto. Esse trabalho foi realizado em uma creche da cidade de São Carlos, tendo como condições de estudo: estruturação de interações entre tríades de crianças que se conheciam previamente, uso de câmeras de vídeos para filmagem das interações, e uso de brinquedos estruturados e não estruturados nos últimos dez minutos de filmagem. A análise dos resultados foi realizada com base nos registros das filmagens. Assim foram identificados comportamentos imitativos tanto entre duplas quanto entre trios de crianças que foram avaliados quanto à sua prevalência na condição com e sem brinquedo, quanto à duração dos episódios, quanto à modificação ou não da criança modelo e mudança de topografia do comportamento de imitação. Houve mais episódios imitativos durante o período em que não havia brinquedos na sala experimental e houve prevalência de outros tipos de comportamentos sociais durante o período sem brinquedo.

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Introdução

Nas últimas décadas houve um aumento na quantidade de estudos com bebês, sendo

que as publicações científicas dos anos 30 descreviam o bebê como uma espécie de larva

que se alimenta, se limpa, se enche de leite e que dorme o resto do tempo, enquanto na

década de 60 começa-se a perceber o bebê como um ser social desde o seu nascimento

(Perosa, 1993).

Em relação a essa última concepção de criança, que a considera como um ser que

interage com o seu meio, houve uma evolução dos estudos quanto aos componentes do

ambiente social infantil. Assim, se os primeiros estudos limitavam as relações sociais do

bebê à figura materna, no fim dos anos 70, aparecem estudos que incluem o pai, outros

adultos e mais recentemente os pares da mesma idade como pertencentes ao ambiente

social da criança (Perosa, 1993).

Partindo do reconhecimento da importância do parceiro social e da brincadeira no

desenvolvimento da criança, houve um aumento na atenção dada a eles. Há, atualmente,

uma revalorização da atividade lúdica e dos companheiros de interação como componentes

fundamentais do desenvolvimento do ser humano, sendo essas tendências já antigas e bem

incorporadas aos conhecimentos e concepções da Psicologia (Pedrosa e Carvalho, 1995).

Nas últimas décadas houve um aumento das concepções descritas acima, sendo que

se tem dado ênfase na análise empírica da brincadeira entre crianças. Vários estudos

realizados em situação natural analisaram a importância do companheiro no

desenvolvimento infantil, durante o brincar junto, tendo como variáveis a idade das

crianças, o uso de objetos e a presença ou ausência dos pais durante a interação.

Um desses estudos, que caracterizou a importância das interações infantis no

desenvolvimento social durante a infância, foi realizado por Eckerman (Eckerman, Whatley

e Kutz 1975), no qual crianças, com idades entre 6 meses e 25 meses, não-familiares,

foram colocadas em uma sala juntamente com suas mães e com brinquedos. Os

pesquisadores avaliaram a ocorrência de interação entre: criança/criança, criança/objetos e

crianças/mães. Os resultados mostraram que as crianças interagiram mais com os

brinquedos e com outras crianças trocando sorrisos, vocalizações e brinquedos e imitando

as ações uns dos outros do que com suas mães ou brincando sozinhas.

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Em outro estudo sobre interação social, quarenta e quatro pares de crianças com

idades entre 12 e 24 meses, não-familiares, foram colocadas, juntamente com suas mães,

em uma sala desconhecida. Foram formados pares de crianças de acordo com a idade (10 a

12 meses e 12 a 24 meses). Metade delas foi para uma sala na qual havia brinquedos,

enquanto a outra metade foi para uma sala sem brinquedos. As mães das crianças

permaneceram na sala experimental e foram instruídas para não iniciarem interação com as

crianças, deixando-as fazer o que quisessem. Os pesquisadores avaliaram a ocorrência de

interação entre: criança/criança, criança/objetos e crianças/mães. Os resultados mostraram

que na situação sem brinquedos as crianças de ambas as idades interagiram mais uns com

os outros, sorriram e gestualizaram e duplicaram as ações uns dos outros. Embora os

brinquedos tenham reduzido a freqüência de muitos tipos de interação entre as crianças,

eles promoveram oportunidades para outros tipos de interação social. As crianças de ambas

as idades participantes desse estudo, ofereciam brinquedos, pegavam os brinquedos mesmo

quando eles não eram oferecidos, resistiam em dar seus brinquedos e, às vezes, os cediam

sem protesto. Embora esses comportamentos tenham ocorrido com menos freqüência que

os comportamentos sem brinquedos (interação criança/criança, sorrisos e gestualizações),

eles tiveram maior ocorrência nas crianças com dois anos de idade (Eckerman e Whatley,

1977).

O estudo de Eckerman, Whatley e Kutz (1975), o qual verificou a ocorrência de

interação entre crianças com idades entre 6 e 25 meses desconhecidas, usando brinquedos

como fator de promoção de relações sociais entre elas, descreveu categorias de interação

social. Dentre tais categorias está a imitação que foi definida como uma duplicação,

realizada pela criança, da atividade de seu companheiro de interação.

Os estudos sobre interação abordam várias possibilidades delas ocorrerem. Uma das

modalidades de interação entre crianças é a imitação, que tem despertado o interesse de

pesquisadores por consistir em uma oportunidade da criança interagir e se comunicar com

parceiros da mesma idade mesmo quando ainda não dominam o código verbal. Mais do que

isso, a imitação seria a forma predominante de interação entre essas crianças já que, na

faixa etária de um a três anos, a ação é a principal estratégia de contato com os parceiros

sociais, sendo considerada um recurso eficiente de comunicação (Piccinato, 1999).

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Um estudo que mostra a ocorrência de comunicação durante a brincadeira entre

crianças de 1 a 3 anos de idade foi o de Pedrosa e Carvalho (1995) no qual dois episódios

lúdicos foram selecionados de um registro de vídeo gravados durante períodos de recreação

livre, em uma creche da cidade de São Paulo. Os episódios consistiram de jogos entre

duplas ou trios de crianças nos quais houve revezamento de papéis. As crianças construíram

suas brincadeiras recortando pequenas ações das outras, imitando integralmente ou

parcialmente a ação da outra criança, sendo que a criança foi controlada pela topografia do

comportamento da outra. Dessa forma conseguiram construir suas brincadeiras e

comunicaram-se umas com as outras sem a interferência ou sugestão do adulto (Pedrosa e

Carvalho, 1995).

A imitação pode ser estudada enfocando-se a duplicação de comportamentos

modelados por outro organismo o que ocorreu nos estudos de Eckerman e Whatley (1977),

Eckerman, Whatley e Kutz (1975), Pedrosa e Carvalho (1995). O outro tipo de imitação

que é estudada se limita à duplicação de somente de instâncias específicas do

comportamento que tenham sido ensinadas (Catania, 1999).

Assim o processo de imitação pode servir como forma de aquisição de novos

comportamentos e um precursor necessário para o desenvolvimento de determinadas

habilidades. A imitação é tratada como forma da criança aprender a discriminar estímulos,

já que ela imita somente alguns aspectos do comportamento do modelo, e ainda como

forma de poder prever seus comportamentos futuros de acordo com seu repertório já

aprendido (Bandura, 1977).

Esse processo de aprendizagem de comportamentos através do ensino da imitação

representa, para alguns pesquisadores, a possibilidade de treino de técnicas para crianças

que requerem métodos especiais de instrução (Baer, Peterson & Sherman, 1967; Baer e

Peterson, 1968).

O estudo de Baer, Peterson & Sherman (1967) demonstrou algumas condições nas

quais crianças com retardo mental podem ser ensinadas a imitar as ações dos adultos. Antes

do experimento, os participantes não tinham imitação espontânea de comportamentos, tanto

vocal quanto motora. As três crianças participantes do estudo foram ensinadas, com o uso

de comida como reforçadores, uma série de respostas idênticas às respostas demonstradas

pelo experimentador, sendo que cada resposta só era reforçada se fosse idêntica a resposta

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modelo. Inicialmente, foi necessário fazer uma modelação intensiva para estabelecer

respostas discriminativas nos participantes. Após o treino, a probabilidade de ocorrência de

imitação imediata de cada nova demonstração aumentou muito. Assim a imitação é uma

forma de discriminação operante, o sujeito discrimina um estímulo e emite uma resposta

que tem uma conseqüência específica.

O desenvolvimento do conceito de imitação generalizada parte de estudos como o

de Baer, Peterson e Sherman (1967) no qual há a demonstração de um método de produção

de um repertório de imitação em crianças que não imitavam. Nesse estudo, após o

estabelecimento de respostas de imitação, algumas respostas imitativas não foram

reforçadas e mesmo assim permaneceram com alta probabilidade de ocorrência, sendo que

o responder imitativo passou a ser uma classe de respostas que pode ser diferencialmente

reforçada. Um exemplo do que foi feito no estudo foi a programação de conseqüências para

a imitação de vários tipos de gestos, exceto o de bater palmas, a criança geralmente

continuaria imitando o bater palmas junto com os demais comportamentos, mesmo que

essa imitação nunca produziria aquelas conseqüências. Na medida em que essa imitação

não se extingue, pode-se dizer que ela faz parte de uma classe generalizada.

A partir disso, Baer e Sherman (1967) realizaram outro estudo no qual formularam

o conceito de imitação generalizada. Nesse estudo três respostas foram estabelecidas nas

crianças com uso de reforçamento social (palavras bom, muito bem). Uma quarta resposta

imitativa não-reforçada aumentou sempre quando foi mostrada após as três respostas

instaladas. A partir desses dados, eles concluíram que essas respostas tinham em comum o

fato de serem imitações de um modelo e que a emissão da quarta resposta foi atribuída a

generalização das imitações.

Uma explicação para o desenvolvimento da teoria da imitação generalizada pode ser

dada pela teoria desenvolvida por Bandura em que ele afirma que os repertórios

comportamentais são aprendidos tanto pela experiência direta quanto por observação

(Bandura, 1977). Assim, ele explica que uma das funções das conseqüências das respostas é

dar informações às pessoas sobre quais respostas são mais adaptativas o que serve como um

guia para ações futuras, além de poder induzir comportamentos, já que se pode prever as

conseqüências. O conhecimento das conseqüências das ações pode aumentar a

probabilidade delas ocorrerem (Bandura, 1977). Logo, ao ser reforçado por uma ação

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imitativa, um sujeito imita outras ações não reforçadas induzindo que tal comportamento

terá conseqüências reforçadoras.

A imitação generalizada ocorre quando um imitador em potencial observa a

resposta emitida pelo modelo; a resposta do imitador é funcionalmente controlada pela

topografia da resposta do modelo; este controle topográfico é exibido em uma extensa

variedade de respostas modeladas; respostas imitativas que raramente ou nunca foram

reforçadas se mantêm desde que outras respostas imitativas continuem sendo reforçadas

(Nunes, Poulson, Warren e Fernandes, 1944).

A imitação generalizada é uma forma de comprovação de que a imitação é uma

forma de aprendizagem de comportamentos, já que em crianças com bom repertório de

imitação, comportamentos novos podem ser desenvolvidos antes da modelação, sendo

necessário somente uma demonstração apropriada do modelo (Catania,1999). Um exemplo

disso é o estudo realizado por Peterson (1968) no qual uma criança com retardo mental de

12 anos de idade, que não apresentou nenhum exemplo de imitação durante os primeiros

testes realizados pelo experimentador, imitou alguns modelos mesmo que esses não fossem

reforçados, tendo aprendido novos comportamentos. Durante o procedimento da pesquisa o

experimentador deu modelos, como por exemplo: sentar em uma cadeira e levantar-se, após

a criança emitir a resposta, ela recebeu uma colherada de comida. Dentre as respostas

reforçadas foram intercaladas respostas cujas imitações não foram reforçadas como bater

palmas, remover uma tampa de uma caixa e colocar as mãos no rosto, as quais foram

imitadas pela criança, tendo a criança generalizado as imitações a outros estímulos.

Em todos os estudos é possível observar a referência à importância da imitação para

o desenvolvimento de novos repertórios comportamentais. A vantagem da imitação para a

instalação desses repertórios está relacionada ao fato de que ela representa um processo que

permite a emissão de novas respostas sem que seja necessário que o indivíduo experiencie

todas as situações, já que ele adquire comportamentos com base em um modelo (Piccinato,

1999).

Partindo da afirmação de que a criança que imita aprende novos comportamentos

esse estudo abordará um outro aspecto da imitação que é a sua função de comunicação

durante a interação entre crianças, o que não deixa de ser uma forma de aprendizagem de

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comportamentos, já que quando ela imita pode estar duplicando tanto um comportamento

novo quanto um comportamento já presente em seu repertório.

No estudo de Pedrosa (1994) a autora classificou níveis de imitação a partir da

observação da interação entre crianças pequenas. O estudo foi realizado com base em

registros de vídeo-gravação de crianças de ambos os sexos, que tinham idades que

variavam de 1 ano e 4 meses a 2 anos e 9 meses. Essas crianças freqüentavam uma creche

pública municipal da cidade de São Carlos-SP. As filmagens foram realizadas,

semanalmente, no período de recreação livre. Partindo das observações, a autora definiu a

imitação como a ação que deve ser regulada por um estímulo que serve à criança como

parâmetro para indicar a semelhança entre sua resposta e a resposta modelo. Para esse

estudo foi considerada a imitação imediata, ou seja, aquela que é realizada imediatamente

após a ação da outra criança.

As categorias por ela descritas relacionam a imitação com a modificação da

interação entre as crianças, ou seja, a imitação como fator que proporciona comunicação

entre as elas. Há categorias de imitações nas quais o parceiro imitado não percebeu a

imitação do outro, não havendo modificação no arranjo interacional; a imitação

reconhecida pela criança imitada, ocorrendo sugestões de novas ações; a imitação que

compõe uma seqüência interacional existindo, entretanto, outras ações que fazem parte

daquele arranjo; a imitação que desencadeia uma nova categoria de interação; e a ação

imitada que é reconhecida numa seqüência de reciprocidade, havendo revezamento de

papéis entre as crianças (Pedrosa, 1994).

No estudo de Pedrosa, verificaram-se inúmeras indicações de que a imitação serve

como ações sinalizadoras no ambiente interacional.

“O riso alto, a agitação do corpo e os gritinhos constituíram, conjuntamente, em um

dos episódios, um código comunicativo entre as crianças” (Pedrosa, 1994).

A peculiaridade da comunicação durante a imitação entre as crianças está no olhar,

na atenção em direção ao outro, na aproximação e sincronia das ações, etc, comportamentos

que permitem inferir que há uma forma de comunicação entre as crianças mesmo na

ausência de fala (Piccinato, 1999).

Nos estudos de Eckerman e Whatley (1977) e Eckerman, Whatley e Kutz (1975) em

que foram avaliadas as interações entre crianças desconhecias tendo como variáveis o uso

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de brinquedos ou não, eles demonstraram a ocorrência de comportamentos de imitação,

com função de comunicação, tanto nas situações que envolviam brinquedos quanto nas que

não envolviam, já que as crianças não se conheciam anteriormente e não possuíam

repertório de fala.

Um aspecto encontrado em diferentes estudos é a relação entre a ocorrência de

imitação e a idade dos participantes, indicando que a imitação aparece de maneiras

diferentes quando se consideram as diferentes faixas etárias da criança pequena (Piccinato,

1999).

Ambos os estudos de Eckerman citados anteriormente mostram que os contatos com

o mesmo objeto e o envolvimento nas atividades com os companheiros de interação

aumentaram com a idade (Eckerman e Whatley, 1977 ;e Eckerman, Whatley e Kutz 1975).

No estudo de Oliveira e Rosseti Ferreira (1993), foram avaliados episódios de

interação entre crianças com idades entre dois e quatro anos, matriculados em creches. Esse

estudo mostrou a evolução da imitação sendo que aos dois anos houve imitação de gestos e

posturas e sincronização de ritmos sendo que aos quatro anos a linguagem verbal já pode

ser vista auxiliando as crianças nos seus novos modos de coordenar papéis, alcançando uma

atividade comum.

Tanto os estudos de Eckerman e Whatley (1977); Eckerman, Whatley e Kutz (1975)

e Oliveira e Rosseti Ferreira (1993), usaram brinquedos como forma de propiciar maior

interação entre as crianças e é com esse objetivo que esse estudo utilizará brinquedos

estruturados e não estruturados nas interações entre as crianças, já que com isso as crianças

podem trocá-los, oferece-los e pegá-los, tendo um objeto em comum durante a interação.

Assim o uso de objetos no presente estudo tem uma função de aumentar os

comportamentos de imitação.

Uma questão complementar ao uso de objetos é o arranjo do ambiente para a

promoção de interações sociais entre as crianças. Sendo que há o reconhecimento de que a

proximidade física aumenta a probabilidade de formação de pares e trios de crianças

principalmente em crianças de três anos de idade (Campos de Carvalho, Meneghini e

Mingorance, 1966). Um ponto a ser ressaltado é que as características físicas de ambientes

geralmente são negligenciadas no planejamento de ambientes infantis coletivos, sejam eles

creches, escolas ou hospitais. O ambiente infantil deve ser planejado tanto em termos de

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espaço como de objetos disponíveis para atender às necessidades de contato social (Campos

de Carvalho e Rubiano, 1994).

A escolha de tríades, nesse estudo, na faixa etária de 2 a 3 anos deve-se aos estudos

de Pedrosa e Carvalho (1995), em que os autores afirmam que crianças nessa faixa etária

tendem a interagir mais umas com as outras do que com objetos e também porque nessa

idade é mais provável que as crianças se engajem mais em brincadeiras conjuntas que

sozinhas. Outros estudos que partilham tais resultados são os estudos de Eckerman Whatley

e Kutz (1975) e Eckerman e Whatley (1977).

Tendo como interesse de estudo a interação entre crianças, deve-se propiciar

condições para que elas ocorram. Por isso, o presente estudo utilizou um arranjo espacial,

ou seja, maneira como móveis e equipamentos existentes em um local posicionam-se entre

si. Assim foram usadas zonas circunscritas semi-abertas, ou seja, áreas espaciais claramente

delimitadas pelo menos em três lados por barreiras formadas por mobiliário ou parede

proporcionando a criança uma visão de todo o campo de ação, incluindo localização do

adulto e demais crianças (Campos de Carvalho e Rubiano, 1994).

Partindo dos pressupostos acima, nos quais a imitação é uma categoria das

interações entre as crianças, que uma de suas funções é a comunicação entre as crianças, e

ainda que o brinquedo e o ambiente estruturado propiciam a interação entre as crianças,

esse estudo analisou episódios de imitação que foram registrados em uma creche da cidade

de São Carlos. Os registros foram realizados com uma tríade de meninos entre 24 e 36

meses de idades, que foram submetidos a um procedimento que envolveu mudança nas

fontes de estimulação (presença ou não de brinquedos industrializados e sucatas).

O presente estudo teve por objetivo estabelecer uma relação entre a idade dos

parceiros de brincadeira e a ocorrência de episódios de imitação.

Essa pesquisa faz parte de um projeto de monografia de conclusão de curso. Seus

resultados poderão ser publicados em congressos, artigos e revistas científicas tendo

somente finalidades acadêmicas, preservando a identidade dos participantes. O presente

pesquisador teve como responsabilidade desenvolver atividades de estimulação com os

trios de crianças participantes do estudo e também fazer avaliações de desenvolvimento

através da aplicação do Inventário Portage de Desenvolvimento Infantil. (O Inventário

Portage de Desenvolvimento Infantil; Willians, L. A C. e Aiello, A L. R, 2001).

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A responsabilidade da Instituição na qual essa pesquisa foi realizada era enviar as

autorizações aos pais dos alunos participantes e também comunicar aos seus funcionários

que as pesquisadoras retirariam as crianças da sala de aula para a realização das filmagens e

das brincadeiras com as crianças. (Exigência do comitê de ética ter isso na Introdução do

trabalho).

Método

Participantes

Participaram desse estudo três meninos, com idades variando entre 24 e 36 meses,

freqüentadores de uma creche filantrópica da cidade de São Carlos que atende à população

de baixa renda. As crianças se conheciam previamente, pois permaneciam juntas na creche

durante o dia todo, e comunicavam-se predominantemente por gestos e brincadeiras. A

seleção das crianças que participaram do estudo foi feita com a ajuda das professoras que

consideraram o grau de afinidade entre elas e o repertório semelhante em relação às áreas

de afinidade avaliadas pelo Inventário Portage. ( Anexo 1).

Os pais das crianças receberam informações sobre a natureza da participação de

seus filhos, estiveram de acordo com a proposta e assinaram o termo de consentimento

(Anexo 4).

Material e Equipamento

Os materiais utilizados foram brinquedos industrializados e sucatas: três roupas de

boneca, um telefone de brinquedo, duas motocicletas, três bolas, um secador de cabelo

pequeno, três ursos de pelúcia, três bonecas, três pentes, quatro panelas pequenas com

tampas, quatro pratos de plástico pequenos, dois cavalos de brinquedo, três garrafas

plásticas de tamanho médio, um batom de plástico, uma caixa de papelão, vinte potinhos de

iogurte de diferentes formas e tamanhos, dez rolos de papel higiênico e uma caixa de pasta

de dente.

Para a realização das sessões foram utilizadas uma câmera Super VHS da marca

Panasonic e fitas de vídeo para a gravação. Para a análise e tratamento dos dados foram

utilizados uma televisão, um vídeo cassete e três tipos de protocolos de registros. No

Protocolo 1 eram registrados: data da sessão, participantes e objetos disponíveis na sala; era

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descrito também as situações nas quais as crianças estavam envolvidas antes de entrarem na

sala de coleta. (Anexo-2). No Protocolo 2 foram registradas descrições gerais das atividades

desenvolvidas antes e depois de cada episódio de imitação, assim como a duração de cada

episódio e a transcrição das ações das crianças em cada episódio. (Anexo 3). No protocolo

3 havia uma caracterização de cada episódio contendo a classe pertencente, os parceiros de

interação, além da data da sessão, duração e freqüência de cada episódio ( Anexo 4).

Como as sessões deveriam ser programas de forma a promover oportunidades de

contato social entre as crianças, foram usadas estantes de madeira para que houvesse um

espaço circunscrito no qual as crianças deveriam interagir.

Ambiente

A coleta de dados foi realizada em uma das salas da creche, que tinha

aproximadamente 8m2 e estava localizada próxima à sala de aula na qual as crianças

permaneciam a maior parte do tempo.

Foi organizado um espaço delimitado por quatro estantes de 1,0 x 0,3 x 0,5 m formando um

espaço circunscrito de aproximadamente 2,5m2, na sala, com a finalidade de maximizar as

ocorrências de contato social entre as crianças (Campos de Carvalho e Meneghini, 1996).

No centro desse quadrado havia um tapete que forrava todo o espaço.

As zonas circunscritas favoreceram a promoção e manutenção das interações entre

crianças pequenas. Isso ocorreu em função da diminuição da probabilidade de interrupção

das atividades por outras crianças ou por adultos, além de ajudarem a criança focalizar sua

atenção tanto na atividade que estava sendo desenvolvida bem como no comportamento do

parceiro, sendo esses requisitos essenciais para a ocorrência de interação entre crianças

com idade igual ou inferior a 3 anos (Campos de Carvalho e Rubiano, 1994). Além disso,

as zonas circunscritas com estantes baixas foram importantes para propiciarem o registro

das interações entre as crianças.

A câmera utilizada para o registro dos dados estava localizada fora do espaço de

circulação das crianças.

Na sala experimental permaneceram, além das crianças, dois adultos: uma

pesquisadora que operou uma das câmeras e outra que auxiliou no cuidado das crianças.

Um esquema do ambiente da coleta de dados está representado na Figura 1.

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18

Legenda

Tapete

Estantes

Pesquisador/ Câmera.

Figura 1. Esquema da sala experimental onde foi realizada a coleta dos dados.

Procedimento

Coleta de dados

Foram realizadas duas sessões semanais de registro das brincadeiras entre as

crianças, no período de julho a setembro de 2003, totalizando 5 horas de videotapes.

(Cronograma de atividades em anexo). Os horários das sessões foram definidos de acordo

com a rotina da creche, sendo que as filmagens foram realizadas sempre no período da

manhã de forma a não prejudicar as atividades desenvolvidas pelas professoras.

Em cada sessão, o trio de crianças foi levado à sala de coleta por uma das

experimentadoras e após entrarem na sala receberam as seguintes instruções: não subir nas

estantes, para prevenir acidentes e não conversar com as experimentadoras.

Cada sessão teve duração de 20 minutos. Nos primeiros dez minutos de filmagens

as crianças não receberam nenhum tipo de brinquedo. Nos próximos dez minutos seguintes

elas receberam brinquedos industrializados e sucatas.

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19

Tratamento e Análise de dados

O tratamento de dados foi realizado com base nos registros das filmagens, sendo

que foram realizadas as transcrições dos episódios contendo ações imitativas. Foram

utilizadas, inicialmente, os protocolos 1 e 2. Foram usadas categorias de imitação,

desenvolvidas por Piccinato (1999) com o objetivo de avaliar a qualidade dos

comportamentos imitativos emitidos.

Inicialmente, o registro das sessões foi assistido, na íntegra, pelas experimentadoras.

Em seguida, a primeira sessão filmada foi examinada e foi realizada uma transcrição literal

das ações de cada criança. Dessa transcrição constaram informações sobre as vocalizações,

deslocamentos, direção de olhar, objetos utilizados e parceiros de interação (Protocolo 1).

A partir da transcrição, para identificar a ocorrência de imitação, foram destacados,

trechos que apresentavam possíveis comportamentos de imitação. Foram adotados os

critérios propostos por Baer, Peterson, e Sherman, (1967):

- Modelo e imitador encontram-se em um mesmo ambiente, com possibilidade de

se observarem mutuamente;

- A ação replicada deveria ser topográfica e funcionalmente semelhante àquela

emitida pelo modelo.

- A ação deveria ocorrer imediatamente após o comportamento do modelo.

O primeiro e o segundo critérios foram adotados para a certificação de que ocorreu

imitação, deve-se comprovar que o comportamento do imitador está sob o controle de

estímulos do comportamento do modelo, ou seja, deve-se verificar se a similaridade de seus

comportamentos não está sob controle de um terceiro fator, sendo que mudanças no

comportamento do modelo devem produzir mudanças similares no comportamento do

imitador.

O terceiro fator especifica que a similaridade ao comportamento do modelo será

importante para que o imitador responda a uma ampla variedade de outros comportamentos

do modelo, sendo que o controle exercido por topografias de comportamentos semelhantes

pode tornar-se um estímulo reforçador para o imitador. Dessa forma há maior probabilidade

de aquisição de novos comportamentos, na medida em que, passa a haver uma

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20

generalização desses novos comportamentos de imitação (Baer, Peterson, e Sherman,

1967).

Outro fator importante para análise refere-se à especificação do início e do final de

cada episódio de imitação. O critério utilizado para o início do episódio foi a emissão do

comportamento replicado, ou seja, o comportamento do modelo, seu término foi

determinado pelo último comportamento replicado pelo imitador.

Partindo da definição de comportamento social proposto por Skinner (1953) a

análise de um episódio social deve avaliar um organismo por vez, verificando quais

variáveis estão sendo geradas por um segundo organismo, e supondo o primeiro também

como uma fonte de variáveis. Assim, para a completa análise de contingências sociais

providas por um par, deve-se colocar essas descrições lado a lado e assim reconstruir o

episódio. Dessa forma, há a possibilidade de definir quem exerce o papel de modelo e quem

é o imitador, tendo como objetivo final caracterizar os tipos de imitação existente em cada

episódio imitativo.

Como havia o interesse em analisar as condições de ocorrência dos episódios

imitativos, informações sobre os antecedentes e subseqüentes foram coletadas. Na análise

desses eventos, preocupou-se em classificar os antecedentes e subseqüentes dos episódios

como interativos ou não interativos.

No presente estudo, foram empregadas as categorias desenvolvidas por Piccinato

(1999) para classificar os tipos de imitação presentes nos episódios:

Imitação pontual - caracterizada por apresentar modelo e imitador fixo, ou seja, a criança

que imita ou é imitada se mantém no papel de modelo ou imitador durante todo o episódio.

Outra característica é que a topografia é semelhante e mantida por todo o episódio

(Piccinato, 1999) Um exemplo desse tipo foi quando “ A estava conversando com uma das

experimentadoras e V estava se jogando no chão em cima do tapete, no centro da sala. A

foi para o centro da sala e bateu a mão em cima de uma das estantes. V se levantou e bateu

a mão em cima da estante como A havia feito. A bateu a mão na estante e se jogou no

chão, V bateu a mão na estante e se jogou no chão também.”

Imitação de extensão: caracterizada por apresentar modelo e imitador variável. Isto ocorre

porque qualquer um pode apresentar o novo comportamento replicável. A topografia

também varia durante o episódio, pois o que se observa é que o modelo emite um

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21

comportamento, a outra criança imita e adiciona uma pequena variação, que é repetida pelo

modelo (Piccinato, 1999). Um exemplo desse tipo foi encontrado num episódio com o trio

no qual “A e H estavam sentados em cima da estante, M arrasta a outra estante se senta em

cima dela. H olha para M fala ‘tchau pai’, A repete: ‘tchau pai’. A desce da estante e fala:

‘é meu pai’ e vai em direção a M. H também desce da estante, vai até M e também fala ‘é

meu pai’. A abraça M, fala ‘pai’, H também abraça M e também fala ‘pai’.”

Depois de estudar as classes de imitação voltou-se aos registros para classificar cada

episódio. Nessa etapa, o Protocolo 3 foi preenchido contendo as seguintes informações

sobre cada episódio: a sessão, o trio, o modelo de imitação e o participante, a duração, o

antecedente e subseqüente e o tipo de imitação presente no episódio (Extensão ou pontual).

RESULTADOS

Os resultados obtidos nesse estudo relacionam-se a análise da ocorrência de

episódios de imitação, assim como do contexto interativo no qual o episódio estava

inserido.

Com relação à ocorrência de ações imitativas, foram identificados um total de 73

episódios, sendo 14 na primeira sessão avaliada, 12 na segunda sessão e 7 na terceira

sessão, 9 na quarta sessão, 10 na quinta sessão avaliada, 5 na sexta sessão, 7 na sétima

sessão e 9 na oitava sessão avaliada. Foram realizadas, aproximadamente, quinze sessões,

de vinte minutos de duração cada, sendo que muitas foram descartadas por causa da

interferência das experimentadoras nas brincadeiras das crianças devido aos ricos presentes

durante a interação dos participantes. Em todas as sessões filmadas houve ocorrências de

imitação e um dos trios filmados foi analisado em oito dessas sessões.

Dos 73 episódios analisados, 49 ocorreram na condição sem brinquedo e 24

ocorreram na presença de brinquedos.

Na primeira sessão de filmagem foram identificadas 14 ações imitativas, sendo 8 na

condição sem brinquedo e 6 na condição com brinquedo.

Na segunda sessão de filmagem avaliada foram identificados 12 episódios, sendo 7

na condição sem brinquedo e 5 na condição com brinquedo.

Na terceira sessão avaliada foram identificados 7 episódios imitativos, sendo 5 na

primeira condição e 2 na segunda.

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22

Na quarta sessão avaliada foram identificados 9 episódios imitativos, sendo 7 na

condição sem brinquedo e 2 na condição com brinquedo.

Na quinta sessão avaliada foram identificados 10 episódios imitativos, sendo 6 na

primeira condição e 4 na segunda.

Na sexta sessão avaliada foram identificados 5 episódios imitativos, sendo 4 na

primeira condição e 1 na segunda.

Na sétima sessão avaliada foram identificados 7 episódios imitativos, sendo 5 na

primeira condição e 2 na segunda.

Na oitava sessão avaliada foram identificados 9 episódios, sendo 7 na primeira

condição e 2 na segunda.

Os resultados descritos acima estão expressos no quadro abaixo.

Sessão Sem brinquedo Com brinquedo Total de Episódios

1o. 8 6 14

2o. 7 5 12

3o. 5 2 7

4o. 7 2 9

5o. 6 4 10

6o. 4 1 5

7o. 5 2 7

8o. 7 2 9

Total 49 24 73

Quadro 1: Número de episódios imitativos de acordo com a sessão avaliada e com a condição experimental.

Com relação à participação das crianças em interações entre si, foram evidenciadas

interações nos episódios imitativos tanto entre pares quanto entre trios de crianças. Assim,

o trio A-H-M engajou-se em 36 episódios imitativos, o par A-H em 29 episódios e o par M-

H em 8 episódios e o par A-M em não participou em episódios imitativos entre si.

Dentre as ações imitativas emitidas pelo trio A-H-M, 32 ações foram guiadas por A

atuando como modelo. A criança H atuou como modelo em 1 ação e a criança M atou como

modelo em 3 ações imitativas.

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23

Dentre os 29 episódios imitativos apresentados pelo par A-H, 27 foram guiadas por

A atuando como modelo, sendo que essa criança tinha dois anos de idade e era a mais nova

do trio. A criança H, com dois anos e seis meses de idade, conduziu 2 episódios de imitação

dentre as interações da dupla. Não houve nenhum episódio imitativo entre o par M-A.

Dentre os 8 episódios imitativos apresentados pelo par H-M, 5 foram guiadas por H

atuando como modelo e 3 foram guiados por M nas interações da dupla.

O quadro abaixo ilustra a quantidade de interações entre as três crianças e entre duplas de

interação.

Sessão Trio

A-H-M

Par

A-H

Par

H-M

1o. 5 9 0

2o. 10 2 0

3o. 3 4 0

4o. 3 2 4

5o. 4 4 2

6o. 2 2 1

7o. 4 3 0

8o. 5 3 1

Total 36 29 8

Quadro 2: Número de interações entre pares e trios de crianças.

O Quadro abaixo ilustra a quantidade de modelos imitativos emitidos por cada

criança durante a interação entre pares e trios.

Criança A-H-M A-H H-M Total

A 32 27 0 59

H 1 2 5 8

M 3 0 3 6

Quadro 3: Número de modelos emitidos por cada criança, durante as interações.

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24

Na analise dos dados foram identificadas duas classes de imitação: pontuais e com

extensão. Dos 73 episódios de imitação, 58 pertenciam à classe denominada pontual e 20

pertenciam à classe denominada extensão.

Na primeira sessão avaliada, foram identificadas 6 ocorrências de imitação da

classe denominada pontual, durante a condição sem brinquedo, 4 ocorrências de imitação

dessa mesma classe ocorreram durante os outros dez minutos em que haviam brinquedos na

sala.

Na segunda sessão, houve 11 episódios da classe pontual, sendo que 6 ocorreram

nos primeiros dez minutos, nos quais não haviam brinquedos na sala, e 5 ocorreram durante

os próximos dez minutos da segunda condição ambiental.

Na terceira sessão avaliada, foram identificados 6 episódios imitativos da classe

pontual. Dentre elas, 4 ocorreram durante os primeiros dez minutos e dois ocorreram

durante os dez minutos em que haviam brinquedos na sala experimental.

Na quarta sessão avaliada houve 5 episódios de imitação da classe pontual durante a

condição sem brinquedo e 2 imitações dessa classe na segunda condição.

Na quinta sessão avaliada foram identificados 3 episódios da classe pontual na

condição sem brinquedo e 4 na condição com brinquedo.

Na sexta sessão foi identificado um episódio da classe pontual em cada condição

experimental.

Na sétima sessão houve 3 episódios da classe pontual na primeira condição e 1 na

segunda condição.

Na última sessão avaliada, houve 5 episódios da classe pontual na condição sem

brinquedo e 2 episódios dessa classe na condição com brinquedo.

Aconteceram, ainda, 20 episódios de imitações pertencentes à classe denominada

extensão. Na primeira sessão avaliada ocorreram 2 episódio da classe extensão, durante a

primeira condição e 3 durante o período em que havia brinquedos na sala experimental. Na

segunda sessão houve 1 episódio da classe denominada extensão, durante a segunda

condição. Na terceira sessão foi identificado somente 1 episódio imitativo da classe

extensão identificada durante o período em que não havia brinquedos na sala. Na quarta

sessão ocorreram 2 episódios dessa classe durante a primeira condição ambiental. Na quinta

sessão foram identificados 4 episódios da classe extensão durante o período sem brinquedo.

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25

Na sexta sessão foram emitidos 3 episódios de imitação da classe extensão durante a

primeira condição ambiental. Na sétima sessão houve 2 episódios de imitação dessa classe

durante a condição sem brinquedo e 1 durante a condição com brinquedo. Na última sessão

houve 2 episódios da classe extensão durante a condição sem brinquedo. Os dados descritos

acima estão ilustrados nos quadros abaixo.

Tipo/ Sessão Condição Ambiental

Pontual

1o.

Sessão

Pontual

2o.

Sessão

Pontual

3o.

Sessão

Pontual

4o.

Sessão

Pontual

5o.

Sessão

Pontual

6o.

Sessão

Pontual

7o.

Sessão

Pontual

8o.

Sessão

Sem

Brinquedo

6 6 4 5 2 1 3 5

Com

Brinquedo

4 5 2 2 4 1 1 2

Total 10 11 6 7 6 2 4 7

Quadro 4: Ocorrência de classes de imitação do tipo pontual nas duas condições ambientais.

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26

Tipo/ Sessão Condição Ambiental

Extensão

1o.

Sessão

Extensão

2o.

Sessão

Extensão

3o.

Sessão

Extensão

4o.

Sessão

Extensão

5o.

Sessão

Extensão

6o.

Sessão

Extensão

7o.

Sessão

Extensão

8o.

Sessão

Sem

Brinquedo

2 1 1 2 4 3 2 2

Com

Brinquedo

2 0 0 0 0 0 1 0

Total 4 1 1 2 4 3 3 2

Quadro 5: Ocorrência de classes de imitação do tipo extensão nas duas condições ambientais

A duração dos episódios classificados por tipo de imitação foi variada. Dentre as 53

ocorrências pertencentes à classe denominada pontual, 4 tiveram duração entre 20 e 30

segundos, 10 tiveram duração entre 30 e 45 segundos, 16 tiveram duração que variava entre

45 e 60 segundos, 3 tiveram duração no intervalo entre 60 e 75 segundos, 9 estavam no

intervalo de 60 a 90 segundos, 4 no intervalo entre 90 e 120 segundos, 1 no intervalo entre

120 e 150 segundos e 1 no intervalo entre 150 e 180 segundos.

O episódio dessa classe com maior duração foi o de 130 segundos e o de menor duração foi

de 20 segundos, conforme mostra o gráfico 1.

A duração dos episódios classificados como de Extensão também foi variada: 1

episódio com duração entre 30 e 45 segundos, 7 episódios com duração entre 45-60

segundos, 1 episódio com duração entre 60 e 75 segundos, 2 episódios no intervalo entre 60

e 90 segundos, 5 episódios no intervalo entre 90 e 120 segundos, 3 episódios no intervalos

de 120 e 150 segundos e 1 episódio no intervalo entre 150 e 180 segundos.

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27

Número de Episódios por intervalo de tempo

0

5

10

15

20

20-3

030

-45

45-6

060

-75

60-9

0

90-1

20

120-

150

150-

180

Intervalos (s)

Núm

ero

de E

pisó

dios

PontualExtensão

Gráfico 1: Número de ocorrências das classes de imitação por intervalo de tempo. Segundo a classificação de episódios interativos os quais tiveram condição

antecedente interativa, ou seja, com uma criança sendo regulada pela ação de outra e

episódios não interativos que possuíam condição antecedente não interativa, ou seja, as

crianças não estavam envolvidas em um mesmo tipo de brincadeira ou ação, houve uma

classificação quanto à presença ou não de interação nos episódios.

Assim, foram identificados 37 episódios com antecedente interativo, 36 episódios com

antecedente não-interativo, 54 episódios com subseqüente interativo e 19 com subseqüente

não-interativo, conforme o Quadro 6.

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28

Quadro 6: Número de episódios com antecedente e subseqüente interativos e não interativos.

Dentre os episódios de imitação da classe pontual, 30 tiveram antecedente interativo

e 23 tiveram antecedente não-interativo e 40 tiveram subseqüente interativo e 13 tiveram

subseqüente não-interativo. Esses dados estão descritos no quadro abaixo.

Sessão Antecedente

Interativo

Pontual

Antecedente

Não-Interativo

Pontual

Subseqüente

Interativo

Pontual

Subseqüente

Não-Interativo

Pontual

1o. 7 3 7 3

2o. 4 7 9 2

3o. 4 2 3 3

4o. 4 3 4 3

5o. 2 4 5 1

6o. 2 0 2 0

7o. 4 0 4 0

8o. 3 4 6 1

Total 30 23 40 13

Quadro 7: Número de episódios da classe pontual com condição antecedente e subseqüente interativa e não-interativa.

Sessão Antecedente

Interativo

Antecedente

não-interativo

Subseqüente

Interativo

Subseqüente

não-interativo

1 10 4 8 6

2 4 8 10 2

3 4 3 4 3

4 4 5 6 3

5 3 7 7 3

6 3 2 5 0

7 4 3 7 0

8 5 4 7 2

Total 37 36 54 19

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29

Quanto aos episódios da classe extensão 7 tiveram antecedente interativo e 13

tiveram antecedente não-interativo e 16 tiveram subseqüente interativo e 4 tiveram

subseqüente não-interativo, conforme o quadro abaixo.

Quadro 8: Número de episódios da classe Extensão com condição antecedente e subseqüente interativa e não-interativa.

Discussão

O primeiro resultado a ser considerado é a ocorrência de imitação entre todas as

crianças do estudo, ou seja, tanto na interação entre pares quanto na interação entre trios de

crianças houve respostas imitativas de todos os participantes. Esses dados foram

apresentados no Quadro 1 em que há a quantidade de episódios imitativos emitidos, em

cada sessão, nas duas condições filmadas. Há neste trabalho dados semelhantes aos obtidos

no estudo realizado anteriormente por Eckerman, Whatley e Kutz, (1975), no qual crianças

com idades entre 6 e 25 meses, que não se conheciam anteriormente, foram colocadas

juntas para que os pesquisadores avaliassem a ocorrência de interação entre:

criança/criança, criança/objetos e crianças/mães. Os resultados mostraram que houve mais

Sessão Antecedente

Interativo

Extensão

Antecedente

Não-Interativo

Extensão

Subseqüente

Interativo

Extensão

Subseqüente

Não-interativo

Extensão

1o. 3 1 1 3

2o. 0 1 1 0

3o. 0 1 1 0

4o. 0 2 2 0

5o. 1 3 3 1

6o. 1 2 3 0

7o. 0 3 3 0

8o. 2 0 2 0

Total 7 13 16 4

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interações entre crianças e entre crianças e brinquedos que interações com suas mães ou

brincando sozinhas.

O presente estudo aponta os mesmos resultados do estudo sobre interação social

realizado por Eckerman, (1977), em que houve comparação da interação entre pares de

crianças, com idades entre 10 a 12 meses e 12 a 24 meses, na condição com e sem

brinquedo. Assim, no presente estudo também houve mais interações, com episódios

imitativos, entre crianças na condição sem brinquedos, sendo que as crianças de ambas as

idades interagiram mais uns com os outros, sorriram e gestualizaram e duplicaram as ações

uns dos outros nessa condição. Na presença de brinquedos houve mais oportunidades para

outros tipos de interação social como: oferecer brinquedos; pegá-los mesmo quando eles

não eram oferecidos, resistir em dar seus brinquedos e, às vezes, cedê-los sem protesto.

Nesse mesmo estudo citado acima, os comportamentos que ocorreram na situação

sem brinquedo foram menos freqüentes, porém os sorrisos e gestualizações presentes na

situação sem brinquedo tiveram maior freqüência entre crianças com dois anos de idade

(Eckerman e Whatley, 1977). Esse resultado também ocorreu no presente trabalho, já que

aqui uma das crianças com 2 anos de idade foi a que emitiu o maior número de

comportamentos modelos para os demais companheiros de interação, tanto na condição

com brinquedo quanto na condição sem brinquedo. Sendo que quando não estavam

engajados em comportamentos imitativos, a criança mais nova estava a maior parte do

tempo brincando com brinquedos ou fazendo movimentos ao redor da sala o que pôde ser

constatado durante a analise das filmagens. Uma variável importante a ser considerada na

caracterização desse resultado é a idade das crianças participantes deste estudo, já que duas

delas tinham 2 anos de idade e a outra criança tinha 3 anos de idade.

É importante destacar que nesse estudo houve a verificação de que a imitação é uma

forma de comunicação entre as crianças o que ocorreu por meio da interação social durante

as brincadeiras tanto na presença quanto na ausência de brinquedos. Assim como no estudo

de Pedrosa e Carvalho (1995) as crianças participantes desse estudo construíram suas

brincadeiras recortando pequenas ações das outras, imitando integralmente ou parcialmente

a ação da outra criança, sendo que cada criança era controlada pela topografia do

comportamento da outra. Dessa forma conseguiram construir suas brincadeiras e

comunicaram-se umas com as outras sem a interferência ou sugestão do adulto (Pedrosa e

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31

Carvalho, 1995). Além disso, esse tipo de interação mostrou-se como uma forma de

discriminação de estímulos como afirmou Bandura (1977).

Outro estudo que relaciona a importância da imitação na interação entre crianças foi

o de Pedrosa (1994) em que crianças com idades variando entre 1 e 3 anos foram

observadas no período de recreação livre. Assim a partir de suas observações das

filmagens realizadas, ela definiu o conceito de imitação como a ação que deve ser regulada

por um estímulo que serve à criança como parâmetro para indicar a semelhança entre sua

resposta e a resposta modelo e, além disso, definiu categorias que relacionavam a imitação

com a modificação da interação entre crianças. O presente trabalho confirma a prevalência

de tais categorias de imitação durante a interação entre crianças, sendo que nas filmagens

analisadas havia imitações nas quais o parceiro imitado não percebeu a imitação do outro,

não havendo modificação no arranjo interacional; a imitação reconhecida pela criança

imitada, ocorrendo sugestões de novas ações; a imitação que compõe uma seqüência

interacional existindo, entretanto, outras ações que fazem parte daquele arranjo: a imitação

que desencadeia uma nova categoria de interação e a ação imitada que é reconhecida numa

seqüência de reciprocidade, havendo revezamento de papéis entre as crianças (Pedrosa,

1994). Porém, no presente trabalho houve somente dois tipos de classificação de cada

episódio interativo, já que houve dificuldade em diferenciar os tipos de episódios imitativos

possíveis. Isso ocorreu porque nem sempre a topografia dos comportamentos imitados era

semelhante à topografia do comportamento do modelo e, além disso, a topografia se

modificava durante a seqüência de comportamentos imitativos, sendo considerado, então a

variação ou não da criança modelo e do imitador, além do acréscimo de algum tipo de

variação nas topografias comportamentais.

Um outro aspecto que deve ser considerado na analise dos resultados é o uso de

brinquedos como fator de promoção de interação entre as crianças. Assim como no estudo

de Eckerman, Watley e Kutz (1975), no presente trabalho, as crianças de 2 anos de idade

engajaram-se mais em atividades com o companheiro de interação tanto na situação com

brinquedo quanto na sem brinquedo. Porém, a criança de 3 anos de idade teve menor

interação com os companheiros de interação durante o período em que haviam brinquedos

na sala. Uma possível explicação para esse fato é o de que essa criança era mais velha que

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32

as demais e, além disso, apresentava dificuldade em se comunicar através da linguagem

falada.

Em uma analise qualitativa desse último resultado citado, os objetos foram

importantes para a estimulação das interações sociais, sendo que as crianças os colocaram a

fazer coisas, combinando-os com outros objetos e brincadeiras. Assim, objetos não-sociais

passaram a ser veículos para várias formas de interação social: as crianças ofereceram

brinquedos, conversaram, imitaram, cooperaram uma com as outras e deram instruções,

desenvolvendo, assim, formas proeminentes de comportamento social como sorrir e

vocalizar. Nessa forma de interação, com o uso de brinquedos como mediadores, a imitação

não pareceu ser o comportamento predominante e passou a se destacar quando as crianças

se integraram em atividades com brinquedos e com outras crianças tendo como objetivo

adquirir outras formas de interação social como brincadeiras conjuntas e ações dirigidas a

um objetivo específico.

Um último ponto a ser destacado nesse trabalho foi o uso do arranjo ambiental da

sala em que foram realizadas as filmagens, ou seja, o uso de estantes que delimitavam a

área na qual as crianças deveriam permanecer durante as sessões. O presente trabalho

aponta os mesmos dados apresentados nos pressupostos teóricos desenvolvidos por

Campos de Carvalho, Meneghini e Mingorance, (1966), os quais afirmam que o arranjo do

ambiente é primordial para a promoção de interações sociais entre as crianças, sendo que a

proximidade física aumentou a probabilidade de formação de pares e trios de interação.

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33

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Cronograma de Atividades realizadas durante a pesquisa. Data Atividades realizadas Março a Dezembro/2002

Realização de levantamento bibliográfico sobre o tema: “Imitação em crianças com idade entre 2 e 3 anos.” Desenvolvimento da introdução e da metodologia de coleta de dados da pesquisa.

Março a Junho/2003

Contato com instituições filantrópicas de atendimento à criança, da cidade de São Carlos, tendo como objetivo a obtenção de autorização para realização da pesquisa.

Julho a Setembro/2003.

Coleta de dados na Instituição: “Nosso Lar” na qual foram desenvolvidas das seguintes atividades:

• Montagem dos grupos de crianças que participaram do estudo. • Aplicação do Inventário Portage de Desenvolvimento Infantil. • Filmagem dos grupos participantes, na freqüência de duas

vezes por semana. • Aplicação de brincadeiras com as crianças visando o

aprimoramento de alguns comportamentos específicos como: adequação às brincadeiras com companheiros, aprendizado dos nomes das partes do corpo, equilíbrio corporal e diferenciação de cores.

Setembro/ 03 a Junho/2004

Analise das filmagens realizadas. Conclusão do projeto de monografia com desenvolvimento dos resultados e da discussão do projeto.

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ANEXO 1

Protocolo de Transcrição P-1.

Data da coleta: Sessão Participantes Criança Data de Nascimento Idade Sexo Descrição Geral dos antecedentes da coleta:

Transcrição

A H M

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ANEXO 2

Protocolo 2

Episódios de Imitação.

Participantes:

Data:

Condição:

Sessão:

Dur Freq Antecedente Subseqüência Subseqüente Inter Duração

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ANEXO 3

Protocolo 3 Caracterização dos episódios de imitação.

Participantes: Data: Sessão: Episódio

Duração

Freqüência

Parceiros de Interação

Classe

Antecedente

Subseqüente

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Anexo 4

Termo de consentimento livre esclarecido

Resumo do projeto

O projeto de pesquisa será realizado por duas estudantes do curso de Psicologia da

Universidade Federal de São Carlos. Ele tem como objetivo verificar a ocorrência de alguns

comportamentos durante as brincadeiras entre as crianças.

Para isso as estudantes irão filmar três crianças de cada vez brincando com

brinquedos industrializados e com brinquedos feitos de sucata, durante 20 minutos, sendo

que todas as crianças da sala serão filmadas mais de uma vez e passarão pelas mesmas

etapas.

Para a análise somente as filmagens de um trio de crianças serão utilizadas. As fitas

das outras crianças serão guardadas pela supervisora da pesquisa e poderão ser usadas para

outras pesquisas.

Esse estudo tem finalidades acadêmicas e é totalmente garantido aos pais que as

filmagens realizadas nunca serão publicadas ou vendidas.

Eu _____________________________________________________________

(nome do pai ou responsável),

estou ciente de que meu filho____________________________________ participará do

(nome da criança)

projeto de pesquisa descrito anteriormente.

(Responsável pelo projeto)