AEE SURDOS

download AEE SURDOS

of 40

Transcript of AEE SURDOS

MDULO VII ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA ALUNOS SURDOS Professora: Melnia Melo Casarin Carga horria: 25 horas

Introduo

Para pensar na educao hoje

necessrio perceber as

mudanas

de

comportamento que as tecnologias imprimiram na vida humana. Rompemos com espaos e tempos secularmente institudos e passamos a conviver com novos paradigmas cunhados pela virtualizao e globalizao. inquestionvel que essas condies proporcionaram novas formas dos homens agirem entre si, e consequentemente nas formas de educar, exigindo uma reorganizao do espao escolar. Alguns elementos so fundamentais para essa conquista, podemos citar o uso de recursos didtico-pedaggicos compatveis com os recursos tecnolgicos que dispomos hoje, um projeto pedaggico reflexivo sobre a ao pedaggica, o papel do professor e sua qualificao, o papel do aluno, e o uso das de novas Tecnologias na Educao da Informao e da Comunicao na Educao TICs. Ao entender que essa disciplina Atendimento Educacional Especializado para alunos, do Curso de Formao de Professores para o Atendimento Educacional Especializado, busca discutir o acesso aos contedos curriculares pelos surdos sugerimos na Unidade A, o estudo sobre os Aspectos Relevantes Acerca dos Surdos e a Acessibilidade e na Unidade B, a Aprendizagem da Lngua Portuguesa.

Palavras-chave Educao, tecnologia, surdos

1

UNIDADE A: ACESSIBILIDADE.

ASPECTOS

RELEVANTES

ACERCA

DOS

SURDOS

E

A

A-1 Surdos, cognitivamente inferiores? Ou uma questo de acessibilidade? A histria da educao dos surdos passou por diferentes momentos histricos, desde a primeira escola para surdos, criao e aprendizagem de gestos (sinais metdicos), a imposio da oralidade at a construo de um novo olhar pautado em aspectos antropolgicos onde prima-se pela cultura surda. Em decorrncia do crivo da oralidade e da medicalizao da surdez a marginalizao vivida pelas comunidades surdas ocorreu em todas as instncias possveis, desde a representao acerca dos surdos at as estratgias pedaggicas no ambiente escolar.o que fracassou na educao dos surdos foram as representaes ouvintistas acerca do que o sujeito surdo, quais so seus direitos lingsticos e de cidadania, quais so as teorias de aprendizagem que refletem as condies cognitivas dos surdos, quais as epistemologias do professor ouvinte na sua aproximao como os alunos surdos, quais so os mecanismos de participao das comunidades surdas no processo educativo. (SKLIAR 1998, p. 21).

Somente no sculo XX na dcada de 1960, o olhar sobre os surdos comeou a se deslocar da normativa da medicina para estudos etnogrficos. No Brasil a Lngua de Sinais denominada Lngua Brasileira de Sinais (LBS), tambm denominada LIBRAS, uma lngua de modalidade gestual-visual, reconhecida como lngua natural dos surdos e constitui o smbolo da surdez (BRITO, 1993, p. 28). Hoje consideramos que a Lngua de Sinais o nico meio efetivo de comunicao entre os surdos, possibilitando-lhes se desenvolver lingstico-cognitivamente. Segundo SKLIAR (in SOUZA 1997, p. 271), a lngua de sinais uma lngua plena, natural, no um cdigo artificial de comunicao e como tal deve ser pensada; um direito dos surdos no uma concesso. Essa nova percepo frente s comunidades surdas, no ltimo sculo, reconhece o status lingustico da lngua de sinais e compreende que os surdos tm uma cultura surda. Entendo cultura aqui no como algo nico, estvel, mas plural, representao de diferena. Consideraes como essa tm mudado as representaes acerca da surdez, ocasionando na educao dos surdos significativas mudanas, exigindo que os professores

2

desses alunos ressignifiquem seus mtodos de trabalho onde os recursos didticos estejam coerentes com o avano tecnolgico, e que a experincia visual constitua-se como uma marca cultural e pedaggica em todo o processo de escolarizao das pessoas surdas. A.2- Marca de uma cultura: a Lngua de Sinais Somente no Sc XX, voltou-se a dar credibilidade lngua de sinais, quando Stokoe1 em 1960, publica um artigo onde descreve trs parmetros para a produo dos sinais: tabulao, designao, configurao da signao. No Brasil a Lngua de Sinais denominada Lngua Brasileira de Sinais LIBRAS, e foi reconhecida como meio legal de comunicao e expresso, fato que a tornou componente curricular nas escolas. As lnguas de sinais distinguem-se das lnguas orais por serem da modalidade gestual-visual. Hoje consideramos que a Lngua de Sinais o melhor meio efetivo de comunicao entre os surdos, possibilitando-lhes desenvolver lingsticocognitivamente. Segundo Skliar in Souza (1997:271), a LS uma lngua plena, natural, no um cdigo artificial de comunicao e como tal deve ser pensada; um direito dos surdos no uma concesso. Essa nova racionalidade frente s comunidades surdas, no ltimo sculo compreende que os surdos tm uma cultura, entendida aqui no como algo nico, estvel, mas plural, de representao de diferena. Pode-se perceber a cultura surda como Perlin (2004:76) sugere:Conhece-se e compreende-se a cultura surda como uma questo de diferena, um espao que exige posies que do uma viso do entre lugar, da diference, da alteridade, da identidade. Percebe-se que o sujeito surdo est descentrado de uma cultura e possui uma outra cultura.

Ainda em Perlim (1998:56) l-se:A cultura surda como diferena se constitui como uma atividade criadora, smbolos de prticas jamais aproximados na cultura ouvinte. Ela disciplinada por uma forma de ao e atuao visual e no auditiva.

Nessa perspectiva entender a educao dos surdos requer pensar para alm das questes clnicas, audiolgicas e de reabilitao, mas construir um conhecimento sobre os surdos que aponte para as questes da diferena, da cultura e da identidade surda. O que significa refletir sobre diferentes questes como: a surdez constitui uma diferena que deve ser reconhecida, uma identidade mltipla que se gesta e se constri nas vivncias cotidianas das comunidades surdas e principalmente a surdez constitui uma experincia efetivamente visual.

1

AUTOR- William Stokoe- lingista americano que publicou o artigo Sign Language Structure: Na Outline of the Visual Communication System of the American Deaf, demostrando que a ASL uma lngua com todas as caractersticas das lnguas orais.

3

Na dcada de 80, um grupo de surdos, passa a participar da FENEIDA2, alterando o nome e o estatuto dessa instituio para FENEIS3. Klein (2005:22), caracteriza o papel dessas entidades:Nesses espaos eles procuram se encontrar para compartilhar da lngua e de experincias as mais variadas. Suas atividades, na grande maioria, voltam-se ao lazer e ao esporte, havendo em algumas associaes, mobilizaes mais polticas , como a oficializao da Lngua de Sinais e a garantia da presena de intrpretes em situaes diversas.

Fatores como esses esto reconfigurando as formas de representar os surdos e a surdez, apontando os surdos numa perspectiva mais ampla de educao chamada de Estudos Culturais, onde os estudos surdos esto sendo contemplados. Skliar in Souza (1997:274) define estudos surdos como:um campo de investigao e de proposies educacionais que, atravs de um conjunto de concepes lingsticas, multiculturais e antropolgicas, definem uma particular aproximao ao conhecimento de mundo dos surdos. Nesta definio ficam excludas todas as referncias ao universo da audiologia e das deficincias auditivas, pois elas no cumprem nenhum papel na construo das experincias educacionais, nem comunitrias, nem culturais dos surdos .

Nessa perspectiva, o sujeito surdo apresenta uma diferena scio-lingstica, ou seja, ele interage com o mundo a partir de uma experincia visual. Todas as suas construes mentais se do pelo canal espao-visual mediados pelo seu instrumento natural de comunicao: a lngua de sinais e a lngua escrita. Alm de viabilizar todos os processos cognitivos, lingsticos, ticos, artsticos, intelectuais do surdo, a lngua de sinais constitui, conforme este modelo, um elemento identificatrio entre estes sujeitos. Ao compartilharem uma lngua comum, os surdos passam a se reconhecer como membros de uma comunidade singular. De acordo com Wrigley (1996, p. 3): o mundo visual percebe e produz a significao atravs de canais visuais de uma lingstica espacial. No um mundo necessariamente melhor ou pior, apenas distinto e diferente. Seguindo esta linha terica, convm destacar que os surdos manifestam sua diferena lingstica e cultural na formao de comunidades surdas. Entretanto, convm ressaltar que as comunidades de surdos no so consideradas apenas espaos de lazer, entretenimento, prticas de esportes... A comunidade surda , sobretudo, um espao de articulao poltica na busca pelo reconhecimento da surdez como diferena. E exatamente nesse sentido, os surdos, podem ser vistos como criando uma diferena poltica. Consideraes como essa tm mudado as representaes acerca da surdez e dos surdos, ocasionando, na educao dessas pessoas, significativas mudanas, que exigem23

GLOSSRIO- FENEIDA - Federao Nacional de Educao e Integrao do Deficiente Auditivo. GLOSSRIO- FENEIS- Federao Nacional de Educao e Incluso dos Surdos, para conhecer a FENEIS acesse o site: www.feneis.com.br. CONTEUDO RELACIONADO Para ler sobre eventos da comunidade surda, acesse: http://www.surdosol.com.br/

4

novas meios de interao lingstica com os alunos surdos, isto , hoje se prev a educao dos surdos materializada pela proposta de Educao Bilnge.

A.3- A Experincia visual, Educao Bilnge, e Currculo na Sala de aula de surdos. A diferena na percepo de mundo para as comunidades surdas perpassa as tambm uma interface relativa a experincia visual. Sabemos que o contato com o mundo a interao com o meio para os surdos se constri a partir do canal viso-manual, e no atravs da oralizao. Esse fato est diretamente ligado a construo cultural, e a viso que temos de ns enquanto sujeitos culturais, quais nossas impresses sobre o mundo, o que somos, para onde vamos? nesse sentido que se torna to importante falarmos da comunidade surda, pois nesse contexto, que os valores culturais das pessoas surdas, so criadas, nutridas e efetivamente vivenciadas. Para Strobel (2008, p. 39):os sujeitos surdos, com sua ausncia de audio e do som, percebem o mundo atravs de seus olhos, tudo o que ocorre ao redor deles: desde os latidos de um cachorro que demonstrado por meio dos movimentos de sua boca e da expresso corpreo-facial-bruta at de uma bomba estourando, que obvia aos olhos de um sujeito surdo pelas alteraes ocorridas no ambiente, como os objetos que caem abruptamente e a fumaa que surge.

Essa diferena de percepo do mundo para os surdos, consolida-se todos os dias em seu cotidiano, no s atravs do olhar, da viso, da pessoa surda, mas da forma como se comunicam, suas expresses, corporais, faciais, etc. Enfim todos os meios que usam para se comunicar, e acima de tudo por meio da lngua de sinais. Essas consideraes so fundamentais quando nos reportamos ao espao escolar, Como pensar a sala de aula para alunos surdos? Os recursos pedaggicos e didticos que devem ser valorizados e trazidos para esse contexto? Para contemplar esses aspectos importante que o professor e toda a comunidade escolar tenha conhecimento da educao bilngue. J postulada em legislao que a educao bilnge um direito daqueles que utilizam uma lngua diferente da lngua oficial do pas, de serem educados na sua lngua. Em relao aos estudantes surdos, a legislao brasileira define que a instruo e o ensino da lngua de sinais dos alunos surdos, e da lngua portuguesa devem estar presentes no contexto escolar. O bilingismo4 pressupe a lngua de sinais para o ensino de todas as disciplinas. Essa lngua tm, segundo os preceitos da educao bilnge, o status de primeira lngua4

ASSUNTO- Para ler mais sobre bilingsmo leia o captulo 2 da obra: GOLDFELD, Marcia. A Criana Surda: linguagem e cognio numa perspectiva sociointeracionista. 2.ed. So Paulo: Plexus, 2002. FERNANDEZ. Eulalia. QUADROS, Ronice Muller de. (orgs) Surdez e Bilingismo. Porto Alegre. Mediao. 2005. e\ou www.fe.unicamp.br/dis/ges/ , http://www.ges.ced.ufsc.br/

5

dos surdos, a qual deve ser adquirida num contexto comunicacional natural, isto sem imposio, no meio de outros surdos maiores, dominantes desta lngua e agentes de construo lingstica, cognitiva e de identidade. Outras interfaces fazem parte das propostas de uma educao bilnge, isto , outros sujeitos na escola tero papel importante na difuso da lngua de sinais e dos valores de uma educao bilnge, como caso dos funcionrios, administradores e principalmente da famlia dos surdos. Como pode ser visto, essa proposta no est centrada no professor e nos alunos surdos, mas em toda a estrutura escolar. A famlia parte fundamental, pois, torna-se necessria a aprendizagem da lngua de sinais, pelos irmos, pais e demais familiares, para que tambm em casa a Libras possa ser utilizada por todos.. Goldefeld (1997:40) enfatiza: sabido que mais de 90% dos surdos tem famlia ouvinte. Para que a criana tenha sucesso na aquisio da lngua de sinais, necessrio que a famlia tambm aprenda esta lngua para que assim a criana possa utiliz-la para se comunicar em casa.

Botelho (2002:112) colabora: a lngua de sinais tambm existe como disciplina curricular nos vrios nveis escolares. Os surdos aprendem tambm sobre as lnguas de sinais de outros pases, sobre a organizao de surdos, sobre a Cultura Surda e outros temas de importncia. Nesse contexto a lngua portuguesa escrita dever ser ensinada como lngua oficial, requerendo necessariamente o uso de metodologias especficas para a aprendizagem de segunda lngua.. Entendemos que a educao bilnge a forma mais legtima de demonstrar as condies scio-antropolgicas, lingsticas, culturais das comunidades surdas. Partindo desse olhar, a escola dever pensar em modelos pedaggicos que venham ao encontro dessa realidade, contemplando, segundo Skliar (1990:53), condies de acesso lngua de sinais e a segunda lngua, identidade pessoal e social, informao significativa, ao mundo do trabalho e a cultura surda. Sabemos que a segunda lngua no caso dos surdos a lngua portuguesa, a qual exige para seu aprendizado, condies de ensino de lngua estrangeira. Falaremos sobre esse tema na prxima unidade. Para estudarmos sobre o currculo seria oportuno definirmos o que entendemos sobre currculo, porm essa no uma tarefa fcil. Currculo assim como outros termos tem tido seu significado modificado ao longo dos tempos, percebido e abordado em diferentes perspectivas no campo educacional. Duas grandes tendncias marcaram a questo do currculo. A primeira verso defendida por aqueles que chamamos de conteudistas, isto , aqueles que entendem que o objetivo maior da escola a transmisso de contedos. Na segunda verso encontramos autores que defendem a importncia das experincias vividas pelos alunos no contexto escolar. Nesse sentido e sob essa tica imprimimos um significado fundamental para o currculo. Entendemos, portanto que estamos diante de duas situaes: o que ensinar e como ensinar, mas entendemos tambm que uma no exclui a outra, pelo contrrio, se constroem e se complementam.

6

Seria importante, porm no cabe nesse momento um resgate histrico sobre o conceito de currculo5 e como a escola foi influenciada pelas concepes brasileiras de currculo. O que nos interessa precisamente so as concepes sobre currculo na educao dos surdos6. . Nesse documento podemos perceber os fundamentos filosficos e sciopolticos da educao at os marcos tericos e suporte tcnicos que se efetivam no universo da escola relacionando a teoria e a prtica. O projeto poltico pedaggico da escola deve refletir o carter poltico, cultural. os interesses, as aspiraes, as dvidas e as expectativas da comunidade escolar. Sendo assim o currculo o espao disponvel e possvel de refletir a cultura escolar. Outros documentos 7que referendam a Poltica Nacional fundamentam e orientam as aes voltadas para os alunos surdos, numa abordagem de educao bilnge. Entre esses documentos encontra-se a Sala de Recursos Multifuncionais que define, entre outras questes, o papel do professor da sala de recursos para atendimento s necessidades educacionais especiais dos alunos com surdez ou deficincia auditiva, com as seguintes funes, conforme MEC et al (2006: 25): Complementar os estudos referentes aos conhecimentos construdos nas classes comuns do ensino regular; Ofertar suportes pedaggicos aos alunos, facilitando-lhes o acesso a todos os contedos curriculares; Aprofundar os estudos relativos lngua portuguesa principalmente na modalidade escrita Outros documentos referendam a poltica nacional, fundamentando e orientando as aes voltadas para os alunos surdos, numa abordagem de educao bilnge conforme o decreto n 5626/2005 Arts. 15 e 16 que dispe: Art.15. Para complementar o currculo da base nacional comum, o ensino de Libras e o ensino da Lngua Portuguesa, como segunda lngua para alunos surdos, devem ser ministrados em uma perspectiva dialgica, funcional e instrumental, como: Iatividades ou complementao curricular especfica na educao infantil e anos iniciais de ensino fundamental; e

5

ASSUNTO- Para ler mais sobre currculo leia: Moreira, Antonio Flavio Barbosa. Currculo: questes atuais. Campinas, So Paulo. Papirus, 1997.6

Atrevo-me nesse trabalho a apontar algumas questes centrais que podero colaborar para uma educao de qualidade para os surdos brasileiros: O currculo para surdos deve contemplar discusses acerca da cultura, lngua, linguagem; Histria das lnguas de sinais; Estudar o conceito de multiculturalismo, interculturalidade, diferena, diversidade; Problematizar o conceito de deficincia; Contemplar estudos acerca da histria dos surdos, e no s dos surdos brancos, europeus;7

ASSUNTO- Estou fazendo referncia ao texto do MEC/SEESP, que discute sobre Saberes e prticas da incluso: dificuldades de comunicao e sinalizao. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Especial. 2004. No texto h temas sobre a operacionalizao da educao bilnge, sugestes das funes do professor surdo e do professor ouvinte, consideraes sobre a lngua de sinais -LIBRAS, lngua portuguesa escrita e sugestes de atividades em relao ao ltimo tema.

7

II-

reas de conhecimento, como disciplinas curriculares, nos anos finais do ensino fundamental, no ensino mdio e na educao superior.

Art. 16. A modalidade oral da Lngua Portuguesa, na educao bsica, deve ser ofertada aos alunos surdos ou com deficincia auditiva, preferencialmente em turno distinto ao da escolarizao, por meio de aes integradas entre as reas de sade e da educao, resguardando o direito de opo da famlia ou do prprio aluno por essa modalidade. Recomendamos, para essa atuao, atividades contempladas em projetos pedaggicos que percebem o aluno como um sujeito integral, enfocando todas as reas do conhecimento humano como: lingstico, social, emocional, motor, imaginrio...Desnecessrio elucidar que para uma atuao de qualidade com alunos surdos inquestionvel o conhecimento acerca da lngua de sinais por parte do professor da sala de recursos, assim como planos de ao pautadas numa pedagogia que parta de experincias visuais, valorativa do canal viso-manual da lngua dos surdos. Porm sabe-se que apenas fazer uso da lngua de sinais, no assegura um trabalho pedaggico de qualidade. Nesse texto apresentaremos sugestes de projetos pedaggicos que podero ser utilizados na sala de recursos tanto na educao infantil como no ensino fundamental. Um dos projetos volta-se para a aprendizagem a partir do ldico, e o que outro faz consideraes acerca da literatura. A escolha por esses projetos justifica-se por entender que os mesmos otimizam a experincia visual na sala de aula de surdos. Sugerimos nesse trabalho atividades que valorizem o ldico na sala de aula e a literatura na sala de aula. Sobre o brinquedo sabemos que na Antigidade8 as crianas participavam das mesmas brincadeiras9 dos adultos. Toda a comunidade participava das festas e brincadeiras, com a finalidade de estreitar os laos afetivos. Hoje, dentro de uma viso scio-histrica, a criana est constantemente modificandose por estar imersa na sociedade, interagindo com os adultos. Esse desenvolvimento ocorre atravs da interao e das experincias sociais. A criana, quando ingressa na educao infantil, comea a interagir10 com os ambientes, que nem sempre so condizentes com aquele que ela faz parte. Est inserida num ambiente diferente, com ritmos diferentes, com objetos, aes e relaes ainda8

GLOSSRIO - Antiguidade -Compreende os momentos que vo desde a utilizao da escrita at a Queda do Imprio Romano do Ocidente, em 476. 9 Essas brincadeiras, jogos e divertimentos eram vistos sob dois aspectos. Uma parte da sociedade aceitava este tipo de atitude, percebendo-as como meio de crescimento social, os outros recriminavam, pois associavam aos prazeres carnais, ao vcio e ao azar.Com o passar dos tempos houve uma preocupao com a moral, a sade e o bem comum e passou-se a elaborar propostas baseadas no jogo especializado, de acordo com a idade e o desenvolvimento da criana. Posteriormente deixou-se de ver a brincadeira apenas como um ato ldico. Ela passou a ser valorizada no espao educativo.A partir das dcadas de 60 e 70 do sculo XX, a psicologia do desenvolvimento e a psicanlise contriburam para que se entendesse a infncia como o perodo principal do desenvolvimento humano, enfatizando o papel da brincadeira na educao infantil. O brincar no poder ser concebido nem como direito nem como dever. As brincadeiras da criana so uma estrutura ligada s caractersticas da espcie humana.10

CONTEUDO RELACIONADO- Partindo da viso-sociointeracionista o homem um ser geneticamente social. Desta forma, o crescimento intelectual ocorre a partir da apropriao de conhecimentos culturais, conseqentemente, dos processos de ensino e aprendizagem. No basta estar em grupo para que ocorra a aprendizagem, o ensino ou o desenvolvimento. necessrio que ocorra interao entre os membros do grupo.

8

desconhecidos. Esta diversidade e heterogeneidade so elementos primordiais para o enriquecimento do desenvolvimento das crianas. Atravs da brincadeira, a criana pode experimentar novas situaes, na perspectiva de uma educao criadora, voluntria e consciente. O brinquedo proporciona mudanas no que se refere s necessidades e conscincia da criana. A criana, com o brinquedo, pode colocar hipteses, desafios, alm de construir relaes, com regras e limites impostos pelos adultos. No processo da educao infantil, o papel do professor primordial, pois aquele que cria espaos, oferece os materiais e participa das brincadeiras11, e faz mediao da a construo do conhecimento. O professor fazendo parte da brincadeira ter oportunidade de apresentar valores e a cultura da sociedade. O professor estar possibilitando a aprendizagem da maneira mais criativa e social possvel. O brinquedo, visto como objeto, suporte da brincadeira, permite criana criar, imaginar e representar a realidade e as experincias por ela adquiridas. Desta forma, o brinquedo visto como a representao das experincias, da realidade que a criana faz parte. Alm disso, o brinquedo tambm pode ser visto como fruto da imaginao. atravs dele que a criana pode representar o mundo imaginrio que ela criou. Essa questo imaginria pode variar de acordo com a idade. Aos 3 anos a imaginao carregada de animismo12, dos 5 aos 6 anos a criana inclui nesse processo imaginativo elementos da realidade e na fase adulta passa a utilizar elementos culturais. Independente de cultura, raa, credo ou classe social, toda a criana brinca. Todos os seus atos esto ligados brincadeira, ela interage, atravs do brinquedo, desde cedo, com a cultura em que est inserida. Com a inteno de aproximar o aluno da escola e mant-lo motivado neste ambiente, deve-se utilizar recursos que diversifiquem a prtica pedaggica, buscando tornar o espao da sala de aula aconchegante, divertido, descontrado, propiciando o aprender dentro de uma viso ldica. O ato de brincar, independente do espao em que ocorra, deve ser valorizado por se constituir num instrumento de aquisio de novos conhecimentos e de aprendizado das regras e normas adultas vigentes na sociedade, contribuindo com a formao de um cidado crtico e atuante. Segundo Cunha (2004:12):as situaes de jogo trazem um desafio maior, que a competio, mas precisam ser conduzidas compreensivamente para que no ressaltem diferenas individuais. Os jogos cooperativos e os jogos em grupo tm vantagem de estimular a cooperao entre os participantes. .

11

SAIBA MAIS- Histria do brinquedo. acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Brinquedo. Para saber mais sobre brinquedo e a educao, acesse: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73301997000200011. Para saber mais sobre tipos de brinquedos: Brinquedo tradicional e popular, acesse: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-7330199700020001112

GLOSSRIO Tendncia a considerar todos os seres da natureza como dotados de vida e capazes de agir conforme sua finalidade.

9

Quanto menor for criana, mais a brincadeira ser a atividade central e essencial, e as atividades dirigidas aparecero progressivamente, sempre relacionadas com as atividades de jogo. Podemos apontar alguns tipos de jogos: Jogos de comunicao, Jogos motores, Jogos simblicos, Jogos folclricos, jogos virtuais etc... Ao professor cabe saber utilizar os jogos e brincadeira em aula, numa perspectiva educacional, para que as crianas possam se apropriar do mundo. Elementos como: observao, formas de interveno, atividades dirigidas so algumas posturas necessrias para que efetivamente uma educao de qualidade. No se pode esquecer do papel do professor como aquele que promove as estratgias sociais, lingsticas e cognitivas, num contexto educativo, fornecendo subsdios para a construo dos conhecimentos que sero adquiridos, servindo-se do brincar. Outra sugesto de atividade que promove a otimizao da experincia visual na sala de aula de surdos a literatura.13 A literatura infantil 14 atribuda uma funo social que a torna imprescindvel e que decretou seu aparecimento, sendo este, de carter preparatrio e misso formadora com a inteno de incutir na criana certos valores de natureza social e esttica, como tambm, propiciar a adoo de hbitos de consumo ao estimular a aquisio de livros com freqncia ou hbitos de comportamentos socialmente preferidos, sejam eles de adoo de boas maneiras ou estmulo a atitudes de questionamento das bases de organizao da sociedade. O que garante a necessidade e a importncia da literatura infantil no seio da vida social seu carter educativo e complementar atividade pedaggica exercida no lar e na escola, pois, a origem primria dos textos escritos para crianas est relacionados com os ensinamentos pedaggicos e no exclusivamente literrios. A literatura infantil tornou-se um instrumento atravs do qual se apresenta s crianas, valores da gerao adulta, pois, embora sendo consumida por crianas, a reflexo sobre o produto oferecido a elas provm do adulto, que a analisa de acordo com seus interesses. . Ainda hoje se discute quando foi o marco inicial da literatura infantil propriamente dita, ou seja, quando se comeou a escrever com inteno de fornecer literatura apropriada para crianas, levando-se em considerao os aspectos da sua evoluo mental e emocional. Antes mesmo de serem escritas, as histrias de fico e os contos existiam e passavam de gerao a gerao, pela tradio oral, atravs de jograis, de contadores de histrias ou simplesmente pela necessidade de comunicao entre as pessoas. Os seres tornaram-se um hbito dirio, pois no existiam outros meios de recreao. Durante o13

O surgimento da literatura infantil decorreu da ascenso da famlia burguesa, no sculo XIX, do novo status concedido infncia na sociedade e no mbito domstico e da reorganizao da escola. Para a classe mdia, a educao um meio de ascenso social, e a literatura, um instrumento de difuso de seus valores, tais como a importncia da alfabetizao, da leitura e do conhecimento, no comportamento moral aceitvel e no esforo pessoal.14

SAIBA MAIS- Para ler sobre literatura: ABRAMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. So Paulo: Scipione, 1989. BETTELHEIM, Bruno. A psicanlise dos contos de fadas. 10 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. KAERCHER, Gldis. E por falar em literatura. In: Literatura infantil: pra que te Quero. (Org.) Carmem M. A. CRAIDY e Gldis KAERCHER. Porto Alegre: UFRGS/Governo do RS. 1998. LADEIRA, Idalma. Fantoche e Cia. So Paulo: Scipione, 1998. ROSEMBERG, Flvia. Literatura infantil e ideologia. So Paulo: Global, 1984. SZPIGEL, Marisa. Arte em classes de pr-escola. In: Arte na sala de aula. (Coord.) Zlia CAVALCANTI. POA: Artes Mdicas, 1995.

10

sculo XVII, foram escritas histrias que vieram a ser consideradas como literatura apropriada infncia: o conto de fadas. As origens dos contos de fadas so as mais diversas, mas o que se tornou ponto concreto que a fonte oriental e cltica a mais antiga da literatura popular maravilhosa, e est integrada no folclore de todas as naes do mundo ocidental. O que no foi possvel determinar, aps muitos estudos e pesquisas, quais foram as fontes ou textos-matrizes que originaram a literatura maravilhosa, de produo annima e coletiva , sendo que, um fundo comum entre todas elas foi detectado no momento em que se percebeu a coincidncia de episdios, motivos etc., em contos pertencentes a regies geograficamente to distantes entre si e com culturas, lnguas ou costumes absolutamente diferentes. Vindos da tradio oral, os contos e lendas da Idade Mdia15 foram adaptados pela primeira vez pelo francs Charles Perrault16, no sculo XVII, conforme Ligia Cademartori (1987), apontado como o iniciador da literatura infantil. Esta coleta de contos e lendas populares com suas adaptaes constitui os chamados contos de fadas e, sendo fiis sua origem, as histrias mantm a estrutura tradicional dos contos folclricos. Na Segunda metade do sculo XVIII, a literatura deixa de ser um jogo verbal, para se caracterizar pela busca do conhecimento. A palavra de ordem do Iluminismo17 era instruir. A preocupao didtica transformava o livro da criana num verdadeiro manual de Cincias, criando, assim, uma nova literatura. Nesta poca distinguisse dois tipos de crianas, com acesso a literatura bem diferente: a criana da nobreza, orientada por preceptores, lia geralmente os grandes clssicos e a criana das classes desprivilegiadas liam ou ouviam as histrias de cavalaria, de aventuras. As lendas e os contos folclricos formavam uma literatura de cordel endereadas s classes populares. No sculo XIX, outra coleta de contos populares realizada, na Alemanha, pelos Irmos Grimm18, alargando a antologia dos contos de fadas. Como no poderia deixar de ser, no Brasil, a literatura tem incio com obras pedaggicas e, sobretudo adaptadas de produes portuguesas.. A segunda metade do sculo XIX caracterizou-se pela literatura infantil propriamente dita, sem preocupao didtica, mas conseguindo agradar simplesmente pela arte de despertar o interesse e prender a ateno da infncia. Os contos de fico, o folclore do15

GLOSSRIO- Idade Mdia- Abrange um longo perodo da histria que vai desde a queda do Imprio Romano do Ocidente, em 476, at a tomada de Constantinopla, em 1453.16

AUTOR- Charles Perrault- Para conhecer a histria de Charles Perrault, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Perrault17

GLOSSRIO-IIuminismo - Para ler sobre esse tema acesse: Iluminismo http://www.saberhistoria.hpg.ig.com.br/nova_pagina_31.htm http://www.mundoeducacao.com.br/historiageral/iluminismo/ http://www.suapesquisa.com/historia/iluminismo/18

SAIBA MAIS - Para ler sobre os Irmos Grimm acesse: http://www.graudez.com.br/litinf/autores/grimm/grimm.htm e\ou http://members.tripod.com/volobuef/page_maerchen_grimm_obras.htm CONTEUDO RELACIONADO- Para conhecer outro grande escritor da literatura clssica infanto-juvenil Hans_Christian_Andersen, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Hans_Christian_Andersen

11

passado, invadiram o mundo infantil, em forma de tradues, adaptaes, imitaes, compilaes, vindo sempre, de encontro ao gosto da criana e interessando-a profundamente. Os contos de fadas so as formas literrias mais valorizadas. Suas origens tm razes, como a histria nos mostra, em tempos primitivos, onde o desconhecido exercia sobre a humanidade um desafio constante. A Literatura uma das expresses mais significativas desse desejo permanente de saber e de domnio sobre a vida, que caracteriza o homem de todas as pocas. Existem elementos essenciais para estruturar o conto de uma histria, ou seja, a introduo, o enredo, o clmax e o desfecho. A introduo a parte inicial e preparatria, tem por objetivo localizar o trecho da histria no tempo e no espao, apresentar os principais personagens e caracteriz-los. Deve ser curta e dar as informaes necessrias para facilitar a compreenso. O enredo formado pela sucesso dos episdios, os conflitos que surgem e a ao dos personagens. importante destacar no enredo o que essencial e o que so detalhes. O essencial deve ser contado na ntegra e os detalhes podem fluir por conta da criatividade do narrador no momento. O clmax deve ser o ponto culminante da histria. Surge como uma resultante de todos os acontecimentos que formam o enredo. Em uma histria bem elaborada apresenta vrios pontos emocionantes. Ex.: O gato de Botas, onde vrias passagens se destacam pela emoo que despertam o ponto culminante, porm, s se apresenta quando o gato entra em luta com o gigante que era feiticeiro e se transformam num camundongo. Cabe ao professor dar maior suspense a fim de aguar a curiosidade dos ouvintes. Aps serem apresentadas as passagens emocionantes onde atingiram o ponto culminante da histria, esta ser encaminhada para o desfecho, ou seja, o final da histria. O professor antes de trabalhar com histrias deve levar em considerao alguns aspectos como: - Faixa etria que a criana se encontra; - Nvel de desenvolvimento cognitivo; - O assunto deve se adequar ao interesse da criana; - Material a ser utilizado; - Preparao do ambiente. - Conhecimento da lngua de sinais; O professor deve usar uma linguagem correta, simples e clara. Deve falar olhando para a criana, como tambm enriquecer a exposio com expresses faciais. A histria deve ser contada em lngua de sinais por um surdo adulto ou pelo professor bilnge . Deve fazer uso de preferncia de recursos visuais como gravuras e / ou dramatizaes. Ressaltamos que histrias infantis em lngua de sinais j podem ser encontradas no Brasil. Consideramos importante o professor, no trabalho com surdos, utilize tambm a literatura surda19.19

SAIBA MAIS Literatura e Literatura Surda - Para ler sobre esse tema acesse: http://143.106.58.55/revista/viewarticle.php?id=114- e\ou leia o artigo de: SILVEIRA, Hessel Rosa. Contando histria sobre surdos (as) e surdez. in COSTA , Marisa Vorraber & VEIGA -NETO Alfredo. (org). Estudos Culturais em Educao: mdia, arquitetura, brinquedo, biologia, literatura, cinema...2 ed. Porto Alegre, Editora da UGRGS. 2004. CADEMARTORI, Ligia. O que literatura infantil ? So Paulo, Brasiliense, 1991. GIRARDELLO. Gilka. Introduo. In GIRARDELLO. Gilka. (org).

12

Para contar histrias, diferentes materiais podem ser utilizados:. - Reproduzir com material de sucata situaes vividas pela criana, inventar histrias com material de sucata, histrias participadas, montar quadros de seqncia lgica, contar histrias por fichas, com ou sem escrita, livros, histria em quadrinhos, CD-ROM de Literatura. O professor pode utilizar alguns recursos como: slides, retroprojetor, dramatizao, onde o professor ou os alunos interpreta uma personagem, uso de mscaras, uso de marionetes ou fantoches, desenhos da histria pelos alunos, etc... A histria uma tcnica que pode ser utilizada pelo professor para introduzir ou explorar um contedo, como culminncia de uma unidade de trabalho. Porm nunca esquea que no podemos suprimir o aspecto prazeroso e agradvel de ler, ou seja, usar histria infantil apenas como um mtodo, com o nico objetivo de ensinar algum contedo. Todo o trabalho que envolva aquisio de conhecimentos histricos, geogrficos e mesmo de cincias naturais, se forem coloridos por uma histria provavelmente sejam mais bem compreendidos e assimilados. Exemplo: A professora poder utilizar a tcnica do conto de histrias, para introduzir noes como: dentro, fora, em cima, embaixo, na frente, entre outros. A utilizao desta tcnica proporcionar s crianas visualizarem uma situao concreta, e depois vivenciarem a mesma atravs da dramatizao. Isto lhes proporcionar uma melhor compreenso destes contedos.

Bas e chaves da narrao de histrias. Florianpolis: SESC/SC, 2004. KRAERCHER, Gldis. Por falar em literatura. Porto Alegre. 1998. LEBEDEFF, Tatiana B. Prticas de letramento na pr escola de surdos: reflexes sobre a importncia de contar histrias. In: THOMA, Adriana da S, LOPES, Maura C. (orgs). A inveno da surdez: cultura, alteridade, identidade e diferena no campo da educao. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004. p. 128-142. e acesse:

143.106.58.55/revista/include/getdoc.php?id=276&article=110&mode=pdf 143.106.58.55/revista/include/getdoc.php?id=274&article=112&mode=pdf CONTEUDO RELACIONADO- Podemos citar como exemplo de texto literrio em lngua de sinais; Tibi e Joca: uma histria, dois mundos, de BISOL. Claudia. Mercado Aberto, Porto Alegre. 2001. A Cinderela Surda, e A Rapunzel Surda. Ambos de HESSEL, Silveira. Carolina. KARNOPP. Lodenir B. ROSA, Fabiano. Esses livros que tm um diferencial na sua forma de produo, visto que so escritos por meio do sistema SIGNWRITING. Patinho Surdo de KARNOPP Lodenir B. ROSA, Fabiano. Canoas. Ed. ULBRA. 2005. Ado e Eva de KARNOPP Lodenir B. ROSA, Fabiano. Canoas. Ed. ULBRA. 2005. O Som do Silncio, de CORTES, Claudia. Lovise, So Paulo. 2004. O Ministrio da Educao, em 2002, publicou a Coleo Arara Azul, um material digital distribudo em Cd-ROMS, em que so contadas, em lngua de sinais, histrias como As Aventuras de Pinquio, Alice no Pas das Maravilhas, Iracema, O Alienista, entre outras. Para conhecer esse material acesse o site acesse www. mec.gov.br , clssicos da literatura em LIBRAS. Na UFSM desenvolve-se o Projeto Mo Livre, o qual tm pesquisado sobre a produo de livros bilnges. O livro A Lenda da Erva Mate, foi publicado em dezembro de 2006. CONTEUDO RELACIONADO: sites de algumas editoras que promovem a publicao de livros em LIBRAS.

http://www.editora-arara-azul.com.br/ http://www.editoradaulbra.com.brSAIBA MAIS- SIGNWRITING- SIGNWRITING para saber mais sobre este assunto, consulte o site www.signwriting.org ou leia o artigo Sistema SIGNWRITING: por uma escrita funcional para o surdo, de Mariane Rosa Stumpf (in: THOMA, A. S.; LOPES, M. C. (Orgs.). A Inveno da Surdez: cultura, alteridade, identidades e diferena no campo da educao. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004.

13

Os verbos presentes na histria devero ser explorados em diferentes situaes, para que a criana perceba que pode utilizar uma mesma ao em diferentes ocasies. Para explorar os verbos a professora dever utilizar outros recursos como: gravuras da representao de um mesmo verbo, enfocando vrias situaes em que ele pode ser empregado. Exemplos: Os meninos jogam bola, Paulo jogou o caderno no cho, Mrcia jogou na loteria, O menino joga peteca. Para trabalhar um contedo de cincia, por exemplo, germinao, o professor dever utilizar como recurso uma histria elaborando quadros de seqncia lgica do processo de germinao e crescimento do feijo. E, como culminncia do trabalho, poder apresentar a histria Joo e o p de feijo. Sabemos que as etapas do desenvolvimento cognitivo teoricamente so ordenadas, mas o ritmo de desenvolvimento de cada indivduo, assim como suas capacidades intelectuais, dependem intrinsecamente de sua herana gentica e das condies ambientais em que vive. O professor antes de trabalhar com esse recurso, deve ter conhecimento das etapas20 do desenvolvimento cognitivo e lingstico dos alunos. Para crianas pequenas as histrias devem ter enredo simples, vivo e atraente, contendo situaes que se aproximem o mais possvel da vida da criana, de sua vivncia afetiva e domstica, de seu meio social, de brinquedos e animais que a rodeiam. Assim, ela poder integrar-se com os personagens, consegue viver os enredos e sentir-se no lugar em que os episdios narrados ocorrem. As histrias devem, nesta fase, conter ritmo e repetio. Numa fase posterior as crianas solicitam vrias vezes a mesma histria a fase do conte de novo, conta outra vez. Por que a mesma histria? Da primeira vez tudo novidade, nas seguintes, j sabendo o que vai acontecer, a criana pode se identificar mais ainda, apreciando os detalhes. Isto s vezes acontece at com adultos aps ter lido um livro ou assistido a um filme. Quem nunca sentiu vontade de ler ou rever novamente um livro ou um filme ?. Essa fase se estende at aproximadamente os sete anos. No primeiro perodo, a criana prefere histrias com um mnimo de texto, enredo reduzido, expresses repetidas; no segundo perodo, a criana comea a apreciar histrias de animais domsticos, circo, enredos que evolvam alimentos, flores, nuvens, festas, etc. Na idade escolar, as crianas j sabem que os contos acontecem no mundo do fazde-conta e comeam a manifestar senso crtico e se expressar com certa lgica. Encerramos essa unidade que promoveu discusses sobre os surdos, sua lngua, sua cultura. Sugerimos que o professor oportunize a vivncia de projetos pedaggicos na sala de aula. Entendemos que os projetos so uma tima oportunidade para propiciar aes significativas tanto para os professores quanto para os alunos, viabilizando a aprendizagem de qualidade que todos ns almejamos. Embora tenhamos nessa unidade apontado o ldico20

Saiba mais: Faixa Etria e Interesses: At 3 anos: histrias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza, histrias de crianas 3 a 6 anos: histrias de fadas, histrias de crianas, animais e encantamento. 7 anos: aventuras no ambiente prximo: famlia, comunidade, contos de fadas 8 anos: histrias vinculadas realidade, histrias de fadas com enredo mais elaborado,histrias humorsticas, aventuras, narrativas de viagens, exploraes, invenes Adolescncia: fbulas, mitos e lendas

14

e a literatura, sabemos que h um universo de temas que podem ser contemplados por meio de projetos. Esses temas esto inseridos em todas as disciplinas do currculo e esto relacionadas a outras reas e aos temas transversais.

A.5- Educao de surdos e novos recursos tecnolgicos: a tecnologia assistiva. A evoluo tecnolgica dentre tantos aspectos proporcionou tornar a vida mais fcil. Cotidianamente usamos de ferramentas que facilitam nossas atividades como o uso de talheres, computadores, controle remoto, relgio, telefones celulares, enfim, uma gama de recursos que j fazem parte da nossa rotina e facilitam nosso desempenho em determinadas aes. Nas ltimas dcadas do sculo XX, a discusso acerca da acessibilidade passou a fazer parte das temticas relacionadas s pessoas com deficincia, fazendo parte do rol de reivindicaes feitas pelas pessoas que apresentam algum tipo de deficincia. Na dcada de 80 as discusses eram relativas s barreiras arquitetnicas, e o preconceito. Na dcada de 90, as atenes voltou-se para as barreiras de comunicao e transporte, incluindo a outro universo de sujeitos, que vo para alm daqueles que apresentam limitaes motoras. Essas discusses e estudos passam ento a construir uma nova racionalidade que ultrapassa a preocupao com a eliminao de obstculos voltando-se agora garantia de acesso, instituindo dessa forma e consequentemente um novo campo do saber, a Tecnologia Asssitiva. O termo Tecnologia Assistiva utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e servios que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficincia e conseqentemente promover vida independente e incluso. Para Raia (2008, p. 10), A educao inclusiva, dentro do novo paradigma tecnolgico, requer profissionais reflexivos (...) atualizados acerca dos mecanismos culturais e tecnolgicos que se encontram em constante renovao. A incluso tem sido discutida amplamente nas ltimas dcadas, porm estamos efetivamente promovendo a incluso? Nessa unidade procuro problematizar aspectos relativos incluso de alunos surdos, mais especificamente quanto acessibilidade dessas pessoas ao conhecimento.

15

Atualmente abordagens de novas pesquisas e novos campos do saber oportunizam o desenvolvimento de artefatos tanto em formato impresso como digital de materiais com vistas promoo do letramento das pessoas surdas, porm sabemos que essas iniciativas ainda so incipientes. Esses artefatos tecnolgicos tem tornado a vida dos surdos mais fcil, ampliando suas formas de comunicao como o mundo. No que se refere s pessoas surdas poderamos citar auxlios que incluem vrios equipamentos (infravermelho, FM), aparelhos para surdez, telefones com teclado teletipo (TTY), sistemas com alerta tctil-visual, e softwares disponibilizados em lngua de sinais. O acesso a artefatos digitais em lngua de

sinais alm de oportunizar a leitura na lngua que os surdos tm aquisio de forma natural, oportunizar a leitura de mundo de forma cidad e autnoma. Estas condies se constituem como premissas bsicas para construirmos efetivas prticas de incluso social. Vamos citar a partir de agora o estudo feito sobre esse tema por Lebedeff (2009, p 44: 51), para o Curso de Especializao em Educao Especial. 1- Telefones para surdos, O telefone para surdos conhecido como TDD Telecommunicacion Device for the Deaf (Dispositivo de telecomunicao para surdos) ou TTS Terminal Telefnico para Surdos ou telefone de texto. SAIBA MAIS: Leia em http//azhearing.com/portugues/tdd.htm WWW.koller.com.br, www.surdo.com.br ou

2- Aparelhos de telefonia mvel e SMS Segundo a autora, uma das grandes conquistas tecnolgicas para os surdos na ltima dcada foi o telefone celular como o servio de Short Message Service, traduzindo: os torpedos de celulares. (...) Uma novidade no Brasil a possibilidade de envio de torpedos em Lngua Brasileira de Sinais (Libras). O Centro de Tecnologia de Software CTS desenvolveu o TORPEDO RYBEN. Que um servio que permite receber e enviar mensagens de texto em LIBRAS. Por esse aplicativo, os surdos podem se comunicar em LIBRAS atravs da animao de imagens no celular, os ouvintes podem enviar textos em portugus aos surdos, que recebero a mensagem em LIBRAS. Alm desse dispositivo, o CTS disponibiliza o software Player Ryben, um tradutor que capaz de converter qualquer pgina da internet ou texto escrito em portugus para Libras. SAIBA MAIS: Para saber mais sobre o Torpedo Ryben acesse: http: //WWW.rybena.org.br

16

3- Vdeophones O Videophone conectado a um aparelho de televiso ou a um computador equipado com webcam. A utilizao pode ser ponto aponto. Ou seja, de aparelho para aparelho ou utilizar o servio de uma intrprete, que disponibilizada pela empresa telefnica que concede o servio. SAIBA MAIS: Para ler mais acesse http://WWW.sorensonvrs.com

4- C-PRINT Essa tecnologia similar a que podemos ver nos telejornais de canais abertos de televiso, denominada Close Caption, ou seja, a legenda e, tempo real, mas esta legenda para sala de aula. No sistema C- PRINT, dois computadores esto interconectados por um cabo. A intrprete, que foi treinada em estratgias de condensao de texto e digitao, senta prximo ao aluno e digita o discurso do professor e as interaes que ocorrem na sala de aula. O texto digitado simultaneamente visto pelo aluno no outro computador SAIBA MAIS: Acesse: http://WWW.ntid.rit.edu/cprint/ndex.php.

5- Ferramentas de comunicao na internet So vrias as ferramentas de comunicao que podem ser utilizadas na Internet, podemos citar o e-mail, os blogs pessoais, o MSN, chats, Orkut, twitter, my space entre tantos outros. 6- Vdeos Atualmente , as TICS permitem a captura de vdeos e sal publicao pelas mais diversas vias. Muitos telefones celulares j possuem cmeras filmadoras acopladas, webcams de computadores podem capturar imagens, filmadoras portteis esto cada vez mais acessveis, enfim, a produo textual em lngua de Sinais pode ser, finalmente, adequadamente armazenada e compartilhada. As narrativas no mais se perdem, mas se produzem, transformam-se, e utilizam recursos mais sofisticados para edio e publicao. H, agora, como nunca antes, a possibilidade de produo de literatura em sinais. Vale a pena assistir ao vdeo sobre caubis The Fasted hands in the West, ou, As mos mais rpidas do Oeste, disponvel no youtube no endereo: HTTP://www. Youtube. Com/watch?=kvN8U2ZBauo. Lebedeff (2009, p. 49), sugere ainda que se conhea a histria do Chapeuzinho Vermelho, produzida pela Organizao No Governamental (ONG), Vez da Voz, disponvel para download no endereo http://WWW.vezdavoz.com.br/videsos/vdeos/chapeuzinhovermelho_surda.wmv. Essa ONG, produz ainda um telejornal semanal em Libras, o Telelibras, que est disponvel para download no endereo http://WWW.vezdavoz.com.br/telelibras. Veja outras propostas de literatura na Editora Arara Azul (http://WWW.editora-arara-azul.com.br) e na LSB Videos (http://WWW.lbsvideos.com.br).

7- Softwares educativos Muitos ao os softwares educativos que podem ser utilizados com aluno surdos, muitos deles so os mesmos utilizados com alunos ouvintes. Por exemplo, a Unicamp desenvolveu 17

um software de produo de histrias em quadrinhos denominado HagQu, (livre e disponvel para download em: httpp://pan.nied.unicamp.br/~hague) que no possui destinatrio prvio. Outros Softwares esto sendo desenvolvidos para promover a escrita e autoria em signwriting, a escrita em sinais. Voc pode pesquisar diferentes objetos de aprendizagem para utilizar com seus alunos. Um bom lugar para iniciar sua pesquisa no repositrio Internacional de Objetos educacionais disponibilizados pelo MEC ( http: //WWW.objetos educionais2.mec.gov.br). SAIBA MAIS: Para saber mais sobre SIGNWRITING, consulte o site www.signwriting.org ou leia o artigo Sistema SIGNWRITING: por uma escrita funcional para o surdo, de Mariane Rosa Stumpf. (in: THOMA, A. S.; LOPES, M. C. (Orgs.). E sobre o teclado em signwriting e softwares de autoria em http://www.cintedufrgs.br/ciclo10//artigos/6iCreice.pdf.

8- Artefatos da vida Domstica Muitos artefatos foram e esto sendo desenvolvidos para facilitar a vida dos surdos e garantir a acessibilidade . Podemos citar como exemplos, a bab eletrnica com vibra call (quando o beb chora o receptor que fica com os pais vibra), ou conectada ao sistema de iluminao (quando o beb chora as luzes piscam); o relgio de pulso com sistema de despertar vibra call; a campainha conectada no sistema de iluminao da casa (as luzes piscam quando a campainha tocada); alarmes de incndio visuais (luzes circulares, como as de ambulncia so acionadas ao se detectar fumaa); dicionrios on line em Libras ( http://www.acessobrasil.org.br/libras) entre muitos outros.

18

UNIDADE B- A APRENDIZAGEM DA LNGUA PORTUGUESA. Essa unidade versa sobre aprendizagem da lngua portuguesa pelos surdos. Entendemos que essa aprendizagem fator fundamental para proporcionar o letramento. O domnio da leitura e da escrita no se trata de uma tarefa fcil. A lngua portuguesa deve ser ensinada num ambiente formal, exigindo tanto do professor quando do aluno estratgias especficas para esse aprendizado. Portanto abordaremos questes sobre as abordagens de ensino da lngua portuguesa, num contexto de segunda lngua, o papel da linguagem humana, concepes de aprendizagem e metodologias de trabalho. A unidade encerra com definio de conceitos e estratgias necessrias para esse processo de ensino aprendizagem apontando aspectos relativos avaliao da produo textual. Palavras-chaves surdos, lngua portuguesa, aprendizagem B1- O Letramento na educao dos surdos

Reconhece-se a importncia que a aprendizagem da leitura e escrita tm para a criana, no somente no transcurso de sua vida escolar, mas tambm em sua vida futura, como adulto dentro de uma sociedade na qual a linguagem escrita ocupa um lugar importante. A leitura e a escrita esto diretamente relacionadas com o mundo circundante. Entendemos que no importante, apenas, o que se aprende num contexto de leitura e escrita, mas como usamos esses conhecimentos em nossas prticas sociais, em nosso contexto, em nossas vidas. Considerando que o que nos rodeia um mundo todo escrito, e no l-lo tambm no conhec-lo, no revel-lo, suscita refletirmos sobre um novo conceito, o letramento. Para Soarez ( apud Botelho 1998:63):Letramento ultrapassa, pois, habilidades de codificao e decodificao de signos escritos e pressupe uso da leitura e da escrita, comportamentos centrais no mundo atual. dependente de condies, entre elas, escolarizao real e efetiva e disponibilidade de material de leitura.

Percebe-se que a relao direta do letramento21 com a construo do sujeito est diretamente ligada a uma natureza poltica, entendendo que o uso da leitura e da escrita possa gerar uma transformao social e individual no sujeito, consciente de sua realidade.

21

ASSUNTO - Letramento Conhea mais sobre o assunto lendo a obra: Letramento: um tema em trs gneros, Soares, Magda. Belo Horizonte: Autntica, 2002. Letramento na educao de surdos: escrever o que est escrito nas ruas, de Giordani, Liliane Ferrari., e Prticas de letramento na pr-escola de surdos: reflexes sobre a importncia de contar histrias, Lebedeff, Bolvar,Tatiana in: THOMA, A. S.; LOPES, M. C. (Orgs.). A Inveno da Surdez: Cultura, Alteridade, Identidades e Diferena no Campo da Educao. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004). Letramento e Alfabetizao. Tfouni, Verdiani, Leda. 7 edio. Editora Cortez 2005. e KARNOPP, Lodenir. B. Lngua de Sinais e Lngua Portuguesa: em busca de um dilogo. In LODI et al. Letramento e Minorias, Porto Alegre, Mediao, 2002. p. 56-61.

19

Nesse sentido justifica-se refletir sobre o letramento na educao dos surdos. Sabemos que de conhecimento comum, e quase impossvel que algum se oponha a idia de que todo o cidado tm direito de participar da vida poltica, social e econmica da nao, e sabemos o quanto ao longo da histria dos tempos a instituio escola tm ao menos teoricamente servido para a formao de cidadania das pessoas. Fato que a realidade nos mostra que esta situao no ocorre assim to naturalmente. Tanto o fracasso, como o sucesso tm sido vivido, promovendo situaes de incluso e de excluso social. Freire (1998:48) comenta:se o fracasso existe, ele tem que ser enfrentado a partir de uma proposta nova calcada nas reais necessidades do aprendiz surdo, para quem a primeira lngua a Lngua de Sinais e para quem a Lngua Portuguesa uma segunda lngua com uma funo social determinada.

Sabemos que as dificuldades encontradas vo desde a educao infantil at as ltimas sries do ensino mdio, em vrios temas do currculo, porm centrarei minha anlise na aprendizagem da lngua portuguesa, entendendo que essa se consolida numa necessidade e um grande desafio para o professor atualmente. Como ensinar uma lngua que no a lngua materna ? Quais as estratgias, metodologias, abordagens usadas para o ensino de segunda lngua ? Quais os requisitos necessrios para debruar-se nesse ensino e nessa aprendizagem ? Que habilidades o professor deve ter, e quais os requisitos para alunos surdos compreenderem e virem a dominar a lngua portuguesa, na modalidade escrita, considerando que a aprendizagem de uma segunda lngua no se d de forma natural, ou seja requer uma espao formal de educao, com professores habilitados para essa funo, conscientes de sua ao, no mnino conhecedores da Libras, e de preferncia acompanhados de educadores surdos, dominantes da Libras, alm disso h uma gama de aspectos que envolvem um processo de ensino e aprendizagem de qualidade para esse fim. Nesse sentido apontamos questes que se tornam relevantes quanto as bases tericas: Qual o nosso entendimento sobre os processo de aprendizagem? E uma segunda questo refere-se a nossa viso de linguagem. Svartholm (1998:39), colabora afirmando que: o conhecimento sobre como realmente funciona o desenvolvimento lingstico e o conhecimento das condies para o sucesso na tarefa de adquirir linguagem devem ser os pontos de partida para qualquer pessoa responsvel pela educao de surdos.

B2- Consideraes sobre a linguagem humana. Ao estudarmos sobre a linguagem, estamos tambm tratando da sociedade, pois a linguagem e a sociedade esto intrinsecamente ligadas entre si. Segundo Karnopp (2005: 31):

20

A lingstica o estudo cientfico das lnguas naturais e humanas e as pesquisas realizadas nesta rea incluem tanto as lnguas orais quanto as lnguas de sinais.(...) essa a rea que se preocupa com natureza da linguagem e de comunicao humana, procurando desvendar a complexidade das lnguas e as diferentes formas de comunicao. A lingstica busca resposta para problemas relacionados linguagem, tais como: Qual a natureza da linguagem humana ? Como a comunicao se constitui ? Quais os princpios que determinam a habilidade dos seres humanos em produzir e compreender uma lngua?

Alteraes significativas, inegveis e incitantes aconteceram sobre a forma de perceber a linguagem humana, esses estudos nas ltimas dcadas repercutiram sobre a produo cientfica acerca das lnguas orais, com tambm fizeram impulsionar o interesse pelas lnguas de sinais. Segundo Tellles (1998:03)Os argumentos utilizados por Chomsky, quando do lanamento da Teoria da Gramtica Transformacional (1957), objetivaram comprovar que a capacidade humana ultrapassa os limites da aprendizagem comportamental. A criana ganhou um espao primordial nesta escola. Os estudiosos deixaram de preocupar-se com o comportamento verbal infantil em sua essncia analtica, para centrar seus esforos junto gramtica presente; a partir da aptido h uma gramtica comum a todos (Gramtica Universal), a criana apropria-se das regras gramaticais prprias lngua a qual est exposta no inicio da sua vida.

Karnopp (2005:31), elucidando o trabalho dos lingistas comenta: descobrir as leis de uma lngua, assim como as leis que dizem respeito a todas as lnguas, representando as propriedades das lnguas, constitui o que se chama de uma Gramtica Universal (GU). Quanto ao aspecto da gramtica universal, Quadros (1995), pesquisando sobre o desenvolvimento lingstico cognitivo dos surdos mostra que crianas surdas filhas de pais surdos sinalizadores de LIBRAS, apresentam uma analogia com os dados analisados na ASL. Para a autora, os autores dessa teoria reconhecem a linguagem como um sistema altamente interativo, e passvel de modificaes, sofrendo influncias de diversos aspectos como: sociais, biolgicos, e lingsticos. Kambi (apud TELLES 1998:04) colabora com a seguinte colocao as estruturas de linguagem so vistas como um produto derivado das funes scio-interacionistas da linguagem. O ser humano considerado superior a outras espcies por fazer uso de um sistema de comunicao mais elaborado, que passado de gerao a gerao, independente de sua cultura. Sanches ( apud QUADROS 1990, p.17) considera que:a comunicao humana essencialmente diferente e superior a toda outra forma de comunicao conhecida Todos os seres humanos nascem com os mecanismos de linguagem especficos da espcie, e todos os desenvolvem normalmente, independente de qualquer fator racial social e cultural.

Todavia essas trocas comunicacionais iro constituir-se numa dificuldade quando a criana nasce em um ambiente diferente de sua lngua materna. Quadros (1997) alerta para

21

a dificuldade que as crianas surdas, filhos de pais ouvintes possuem na aquisio de de sinais. Segundo ela:As crianas surdas filhas de pais surdos tm acesso a LIBRAS porque as crianas usam a mesma lngua de seus pais. Alm disso no somente usada com as crianas porque os pais usam para se comunicar entre eles e com seus amigos.(...) Sem engano com as crianas surdas filhas de pais ouvintes a situao completamente diferente. (QUADROS, 1997, p. 80).

No Brasil estudos sobre desenvolvimento lingstico dos surdos22 tem sido feito conforme Quadros (1997), Karnopp (1994, 1999), os quais apontam fases por onde os surdos passam durante sua aquisio na lngua de sinais. Tecendo alguns comentrios sobre resultados de pesquisas j evidenciados quanto ao processo de aquisio de lngua de sinais e apontando algumas constataes quanto s estratgias pertinentes as comunidades surdas Rodrigues (apud QUADROS 1997: 80) destaca: a) se a lngua de sinais organizada no crebro da mesma forma que as lnguas orais (conforme vem sendo demonstrado atravs de pesquisas), ento as lnguas de sinais so lnguas naturais; se as lnguas de sinais so naturais, ento seu aprendizado tem um perodo crtico ( perodo ideal para aquisio da linguagem, aps esse perodo a aquisio deficiente e, dependendo do caso, impossvel (Leennerberg, 1967); se as lnguas de sinais tm perodo crtico, ento as crianas surdas esto iniciando tarde seu aprendizado; se a natureza compensa parcialmente a falta de audio, argumentando a capacidade visual dos surdos (conforme pesquisas realizadas, h uma competio entre os estmulos acsticos e visuais), ento est sendo ignorada a maior habilidade dos surdos quando imposta uma lngua oral, em vez da lngua de sinais.

b)

c) d)

Hoje, conhecemos vrios trabalhos na rea pedaggica com alunos surdos que contemplam essas questes. H no Brasil instituies em que podemos encontrar, instrutores de lngua de sinais 23 trabalhando com professores ouvintes dominantes da LIBRAS, alteraes significativas no currculo escolar esto sendo promovidas, contemplando aspectos relativos a histria dos surdos, no mundo e no Brasil, como tambm22

ASSUNTO Desenvolvimento lingstico dos surdos - Leia as obras: Quadros, Ronice Muller de. Educao de surdos. Aquisio da linguagem. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1997. Quadros, Ronice Muller de. Phrase Struture of Brazilian Sign Language. Tese de Douturado. Porto Alegre: PUCRS, 1999. e Quadros, Ronice Muller de. As Categorias vazias pronominais: uma anlise alternativa com base na lngua se sinais brasileira e reflexos no processo de aquisio. Dissertao de Mestrado. Porto Alegre. PUCRS, 1995. KARNOPP. Lodenir. B. Aquisio do parmetro configurao de mo na Lngua Brasileira de Sinais. (LIBRAS): estudo sobre quatro crianas surdas, filhas de pais surdos. Porto Alegre, PUC: Dissertao de Mestrado, 1994. KARNOPP. Lodenir. B. Aquisio fonolgica da Lngua de Sinais: estudo longitudinal de uma criana surda. Porto Alegre, PUC: Dissertao de Doutorado, 1999 e Quadros, Ronice Muller de & KARNOPP. Lodenir. B. Lngua de sinais brasileira: estudos lingsticos. Porto Alegre. Art Md. 2004.23

ASSUNTO Para ler sobre Instrutores de Lngua de Sinais acesse: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato20042006/2005/Decreto/D5626.htm http://www.unimep.br/phpg/posgraduacao/stricto/ed/documents/LaraFerreiradosSantos.pdf

22

contedos adequados as caractersticas dos surdos enfatizando o carter visual de apropriao do conhecimento, cursos famlia para aprendizagem da LIBRAS. Entretanto muitas so as regies do Brasil em que ainda encontram-se incipientes24 quanto a vrios aspectos determinantes para a educao dos alunos surdos, principalmente no processo de conhecimento da LIBRAS, enquanto lngua natural das comunidades surdas, desconhecendo quase que totalmente sua capacidade de fornecer aos surdos a apropriao do conhecimento, construo de mundo, de desenvolvimento lingsticocognitivo e base para aprendizagem do portugus como segunda lngua.

B.3- Como entendemos a aprendizagem que caminhos traar ? Muitas so as indagaes acerca da caminhada vivida pelos alunos surdos, na aprendizagem da lngua portuguesa. Segundo Assis-Peterson (1998:31):... as diferentes configuraes que as teorias de aquisio de segunda lngua tomam, de uma certa maneira, refletem esses dois paradigmas. De um lado, h a corrente que procura estudar o cdigo lingstico ou a natureza formal da linguagem, seja para revelar os processos cognitivos da aquisio ou os universais lingsticos. De outro lado, h a corrente que procura explorar a natureza social da linguagem, isto , o conhecimento aliado a funes sociais.

No livro, Ensino da Lngua Portuguesa para Surdos, Salles et al (2004), aponta algumas vertentes de abordagens utilizadas no ensino de segunda lngua, entre elas: Abordagens Estruturalista, Abordagem Funcionalista e a outra vertente chamada Abordagem interacionista. Abordaremos nesse trabalho a aprendizagem num contexto scio-interacionista, onde enfatizaremos a importncia do conhecimento prvio do aluno, e as condies de interao para aprender. Freire (1998:48), tratando sobre esse tema aponta:Assim sendo a viso scio-interacional de aprendizagem, se ope viso behaviorista que entende a aprendizagem de uma segunda lngua como um processo de aquisio de novos hbitos lingsticos atravs de uma rotina de estmulos do professor resposta do aluno e reforo\avaliao do professor. Nesse caso o foco de ateno est sempre colocado nos procedimentos de ensino e no papel do professor. O aluno visto como uma tbula rasa que deve ser moldada a partir de determinadas prticas metodolgicas. Por outro lado, a viso scio-interacional25 de aprendizagem tambm se ope viso cognitivista

que desloca o foco de ateno do ensino e do professor e o joga sobre o aluno e suas estratgias individuais na construo da aprendizagem de uma segunda lngua. Nessa perspectiva o papel do professor passa a ser ento a de um simples facilitador do processo de aprendizagem.

24

25

GLOSSRIO No sentido de iniciantesGLOSSRIO- Viso scio-interacional- Tratada na unidade A.

23

Entendendo o conhecimento construdo a partir da interao entre os interlocutores, por isso importante entender quem so os interlocutores, na viso scio-interacional de aprendizagem, prope-se a ateno tanto para o papel do professor quanto dos alunos. Vygostsky26 ( apud Freire 1998:48), acrescenta:...o conhecimento entendido como sendo construdo atravs da interao por aprendizes e pares mais competentes (o professor ou outros aprendizes), no esforo conjunto de resoluo de tarefas, explorando nvel real em que o aluno est e o seu nvel em potencial para aprender.

Nessa perspectiva a aprendizagem somente se efetivar quando as atividades partirem de conhecimentos j consolidados pelos alunos, isto , conhecimentos adquiridos em outras experincias, sejam elas acadmicas ou de atividades informais, vividas fora da escola ou na escola. O que se pretender deixar claro aqui que devemos proporcionar aes em sala de aula, que tenham um significado, sejam interessantes, oportunizando curiosidade, motivao envolvimento. Nesse sentido vale lembrar a importncia de usar materiais didticos ricos e interessantes em letramento visual, e a participao efetiva do instrutor/professor de surdos usurio da LIBRAS. Kleiman (1989:46) tambm colabora: Para ela, a compreenso melhora quando o leitor estabelece objetivos para a leitura. Em parte, o tipo de texto (pode ser a notcia do peridico, a receita de um pastel, um carta) determina o objetivo da leitura. O leitor deve querer buscar, na inter-relao com o autor as respostas a um problema, ou seja, ajudas para elaborar seu ato de ler. Para a autora: cabe notar que necessria que a leitura no propriamente uma leitura, quando lemos por que outra pessoa nos manda ler... estamos fazendo atividades mecnicas que pouco tm que ver com o significado ou sentido. Essa leitura no aprendizagem, pois facilmente esquecida por tanto, a leitura a escrita deve partir do interesse do aluno. importante ressaltar que a compreenso de qualquer processo de aprendizagem parte da constatao de que o aluno sempre relaciona ou quer aprender a partir do que j sabe. Em outras palavras, na construo do conhecimento, o aluno projeta os conhecimentos que j possui no conhecimento novo, no esforo de alcanar aprendizagem, caractersticas como essas que se relacionam com saltos qualitativos que, segundo Vygotsky, so a base para a construo do conhecimento No caso especfico da aprendizagem de uma segunda lngua, o aprendiz contribui de maneira decisiva na tarefa de aprender partindo do conhecimento que possui em sua primeira lngua, e de seu conhecimento prvio do mundo como tambm dos tipos de textos com os quais est familiarizado. As crianas em fase de alfabetizao, inicialmente, lem de forma lenta e tm dificuldades, muitas vezes, em integrar os elementos em frases e relacion-las entre si na construo de um trecho todo, coerente e com sentido. Nesta fase a criana apenas decodifica o texto, porm no l. J nas fases posteriores e de acordo com as riquezas do input27 recebido na fase inicial, o ato de ler, significa a verdadeira leitura, aquela que implica na participao ativa do26

SAIBA MAIS Para ler sobre Lev Semionovitch Vygotsky, acesse: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vygotsky GLOSSRIO- O termo Input, usado nesse trabalho a obra de Quadros, Ronice Muller de. Educao de surdos. Aquisio da Linguagem. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1997.27

24

leitor em busca de significados, formulando hipteses, re-avaliando-as, identificando intenes e argumentos, ou seja, realizando um completo trabalho de construo do texto, no qual cada ato tem sua particularidade, sem ser totalmente desvinculado, porque se assim fosse, no seria um texto: Com as crianas surdas se pressupe que elas criem hipteses com relao lngua de sinais para poder construir a aprendizagem da lngua portuguesa: primeiro elabora frases com a estrutura da lngua de sinais, posteriormente, na estrutura da lngua portuguesa. O input aqui percebido como as ofertas, os insumos que o aluno recebe do ambiente pedaggico. Podemos dizer que o professor de surdos tem um maior grau de responsabilidade em tornar a lngua, os inputs lingsticos, disponveis e compreensveis para as crianas. Nessa perspectiva, se elege um fator determinante para o sucesso do trabalho de ensino da lngua portuguesa para os surdos: a presena do instrutor surdo28, ou em caso de no haver pessoas surdas disponveis para trabalhar conjuntamente com o professor ouvinte, fundamental que o professor no mnimo conhea a Libras Alm disso o professor precisa saber avaliar e refletir sobre as hipteses, estratgias, erros e acertos fundamental para que novas aes sejam planejadas durante o ensino e a aprendizagem. A condio de sucesso ou fracasso no portugus, est relacionada a qualidade de oferta e exposio lngua de sinais, condio esta determinada pelo contato direto e natural vivido pelas crianas surdas com surdos. Cabe ressaltar que de suma importncia que a aprendizagem da segunda lngua ocorra no contexto educacional. Fora da escola seria impossvel obter sucesso. Por isso preciso realizar uma anlise detalhada da situao de aprendizagem de uma segunda lngua por surdos Sendo usurio da lngua de sinais, o surdo poder desenvolver competncias na leitura e na escrita em uma segunda lngua. Telles confirma (1998:03), dominar uma determinada lngua significar poder usufruir socialmente das suas vantagens. Estudos tm enfatizado a aquisio da Libras desde cedo, preferencialmente na educao infantil29, e a partir dessa aquisio a aprendizagem da segunda lngua. Porm h outras consideraes pertinentes que devem ser levadas em considerao, como o nvel de prontido dos alunos, estruturas cognitivas, relativas ao nvel de maturidade, que se tornariam decisivas para o enfrentamento de certas dificuldades que so inerentes a esse

CONTEUDO RElACIONADO - Entendemos aqui que todos os meios que promovam o acesso ao conhecimento pelos surdos constituem-se em inputs favorveis para aprendizagem, letramento e cidadania. Para ler sobre acessibilidade acesse: http://www.anatel.gov.br/universalizacao/direito_acessibilidade_comunic_surdos.pdf28

SAIBA MAIS Para saber sobre Instrutores de Surdos acesse: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato20042006/2005/Decreto/D5626.htm http://www.unimep.br/phpg/posgraduacao/stricto/ed/documents/LaraFerreiradosSantos.pdf29

Karnopp (2005:48) Ao discutir sobre a aquisio da lngua de sinais, aponta algumas atividades do processo educacional nesse nvel de ensino: atividades de rotina em sinais, brincadeira e jogos em sinais, realizao de experincias em sinais, hora do conto em sinais, passeios conduzidos por adultos surdos, atividades diversas com as comunidades surdas locais. Alguns objetivos especficos do processo educacional com sugestes de um plano de atividades e contedos: Oportunizar a vivncia das culturas surdas atravs do domnio da lngua de sinais brasileira; Garantir o desenvolvimento da estrutura gramatical da lngua de sinais brasileira; e Propiciar o acesso s diferentes funes e usos da lngua de sinais brasileira: informal, formal, potico, narrativas...

25

aprendizado. Essa uma observao que no se refere apenas a crianas surdas, mas sim a todas as crianas, sejam ouvintes ou surdas. Somos conhecedores de uma srie de indevidas racionalidades que surgiram nos ltimos sculos quanto capacidade lingstica-cognitiva das comunidades surdas, onde essas pessoas eram vistas como atrasadas, pobres lingisticamente. Afirmaes como essas relacionavam a surdez dficits de linguagem. Porm sabemos que essas representaes surgiram a partir de uma errnea comparao entre ouvintes e surdos durante o processo de aprendizagem da lngua portuguesa. Estudos feitos sobre a aprendizagem de uma segunda lngua por acadmicos ouvintes mostraram com clareza que h um universo de erros vividos por ouvintes e por surdos que manifestam caractersticas inerentes espcie humana no processo de aprendizagem de uma segunda lngua. Evidncias como essas reforam o fato de que as analogias feitas entre surdos e ouvintes so um equvoco, os quais os profissionais praticam e muitas vezes reforam em suas prticas pedaggicas, motivados muitas vezes pelo desconhecimento ou levados pelo imaginrio de que os surdos so lingisticamente incapazes. Para Svartholm (1998:40):...afirmaes como essas sobre a aquisio deficiente da linguagem em crianas surdas perdem totalmente a sua fora quando deixamos de comparar essas crianas com crianas ouvintes que esto lendo e escrevendo em sua lngua materna. Se, em vez disso analisarmos aprendizes ouvintes de segunda lngua, e seu desenvolvimento lingstico na segunda lngua, a situao ser totalmente diferentes. Tal comparao ir mostrar claramente que vrios daqueles erros gramaticais, que foram descritos como peculiares aos surdos, esto bem longe de serem peculiares. Ouvinte ou surdo o aprendiz de segunda lngua utiliza as informaes disponveis sobre a nova lngua, faz generalizaes e outras simplificaes com base nessas informaes e elabora internamente hipteses mentais sobre a lngua.

Os acertos e desacertos que o aluno surdo ir efetuar durante o processo de aprendizagem da lngua portuguesa, provavelmente ser uma fuga dos padres lingsticos dessa lngua, mas na verdade nada mais nada menos que o resultado de um caminho vivido pelo aprendiz dentro de um recurso ativo e criativo de aquisio de lngua. AssisPetersson (1998:30), enfatiza que os erros indicam que aprendizes constroem representaes internas da lngua que esto aprendendo. Em funo disso o professor deve em vez de tratar esses supostos dficits dos alunos surdos como incapacidades, manifestaes de aquisio de linguagem comum a toda a espcie humana. Diante dessa anlise podemos justificar o grande nmero de alunos surdos que permanecem a margem sem um ensino de qualidade e to poucos surdos saem da escolas com no mnimo um desempenho regular de proficincia escrita no portuguesa, a despeito de todos os esforos educacionais discutidos e implementados. Sabemos que ainda so poucos os relatrios de pesquisas que demonstram sucesso no processo de aprendizagem da lngua portuguesa pelos surdos. Uma premissa bsica para apontar razes que se referem a esse tipo de aprendizagem entender que ao longo dos anos partimos de concepes oralistas sobre a aquisio da linguagem sem fazermos os devidos apontamentos tericos acerca da aquisio da linguagem por pessoas surdas e entendermos que a surdez necessita de um

26

projeto educacional pautado na experincia visual e isso por si s imprime um recofigurao nas propostas educacionais.. Svaltholm (1998:42) colabora: aprender a ler , sem dvida, uma tarefa difcil para qualquer criana que aprende a ler em uma lngua diferente da sua, mas para os surdos essa tarefa parece ser ainda mais difcil, j que aprender a ler significa aprender a lngua. O ambiente da sala de aula, constitui um recurso potencial para o acesso ao letramento desde cedo. Num contexto letrado de educao independente de se oportunizar a aprendizagem do portugus, precisamos levar em conta que os alunos surdos esto permanentemente em contato com a escrita. Esse um aspecto que deve ser considerado pelo professor em sala de aula. O ambiente ldico rico em informaes sem perder de vista que brincar fundamental poder ser um agente de letramento e contato desde tenra idade com a lngua portuguesa, atravs da literatura, revistas e dos jornais. Cabe ao professor proporcionar a compreenso dos textos em LIBRAS. Svartholm (1998:42), enfatiza a necessidade da exposio dos surdos lngua portuguesa:A leitura de livros e revistas deve ser feita com crianas em fase pr-escolar, porque diverte, estimula e satisfaz a curiosidade da criana, e no por causa de objetivos educacionais. Atravs da leitura, a criana ser bem preparada para o ensino posterior de uma segunda lngua: uma postura em relao lngua escrita como algo divertido e interessante deve ser a melhor base para novos aprendizados.

A escrita da pessoa surda reflete, em certa medida, as vivncias que teve com a segunda lngua. Para tanto a escrita deve ter uma funo em sua vida, e nesse caso os artefatos culturais conhecidos e manuseados pelo aluno em sala de aula, iro decisivamente influenciar no gosto, na motivao e na curiosidade, aspectos determinantes para a aprendizagem em que esto sendo iniciados. Nesse caso como entender a escrita como algo interessante? E como construir essa representao para os alunos ? Sugiro alguns aspectos para que a escrita seja interessante na escola. Em primeiro lugar, aponta o input como algo relacionado com a experincia coletiva, professores e alunos construindo junto um conhecimento (um texto), a partir de uma experincia concreta. Essa vivencia, possibilitar que os alunos manifestem seus diferentes pontos de vista, creio que sem essa experincia esse aprendizado seria prejudicado. Quando me refiro a experincias coletivas, sugiro a leitura do Mtodo de Cartazes de Experincias30. Acredito que esse mtodo contribua muito para a aprendizagem da lngua portuguesa para o alunos surdos. Sanches (1996:07) afirma: todo caso, devemos estar conscientes de que la aquisicin de la lengua escrita deve darse en el seno de la prctica social de la lectura y la escritura, en un contexto comunitario. Para Bittencurt (1983:12) ... um mtodo de alfabetizao baseado nas prprias experincias dos alunos uma das melhores, seno o melhor recurso, para seu desenvolvimento.30

ASSUNTO- Leia sobre o Mtodo de Cartazes de Experincias em: BITTENCURT, Mirian F. Alfabetizao uma aventura para a criana. 2 Ed. Florianpolis: Edeme, 1983.

27

Esse mtodo, parte do pressuposto que as vivncias concretas sero extremamente significativas para os alunos, quando o aluno v na sala de aula experincias que retratam seu cotidiano, sua vida, levanta hipteses, faz relaes, conhece as experincias j vividas pelos colegas em relao a temtica tratada. O mtodo de cartazes de experincias possibilita que a professora juntamente com a turma combine uma ao coletiva, como uma salada de frutas feita por todos, um passeio. No trmino dessa atividade voltam para a sala de aula. Juntamente com a professora constroem um texto onde todos colaboram. Para Salles (2004:45), importante ter em mente que a leitura para os surdos deve ser conduzida dos textos mais simples aos mais complexos, simplificando-se, apenas no incio, para evitar o reducionismo. A cada experincia vivida contemplando diversas reas do conhecimento, possibilita outra atividade que de alguma forma estabelece uma relao. O texto ir demonstrar isso porque nesse novo texto dever ter vocabulrio j trabalhado no primeiro. Muitas atividades sero vividas e os textos iro aumentando com o tempo, como o nvel de exigncia nas atividades e proficincia na lngua que est sendo estudada. No final de um bimestre por exemplo teremos um conjunto de textos elaborados pelos alunos, e um acervo que poder com certeza ser usado a qualquer momento na sala de aula como material de pesquisa. Na perspectiva de discutir sobre os caminhos que devem ser trilhados pelo professor e os alunos surdos no processo de aprendizagem da lngua portuguesa nos embasaremos em alguns estudiosos da rea da lingstica que tm enfrentado esse desafio e proposto algumas estratgias. FREIRE (1998), MOITA LOPES (1998), SALLES et al (2004), KARNOPP (2005), QUADROS (1997).

B 4. A Leitura31 do portugus pelos alunos surdos Na perspectiva de discutir sobre a leitura do portugus pelos surdos, Salles (2004: 09), afirma: Atualmente, consensual que a leitura um processo de interpretao que um sujeito faz do seu universo scio-histrico-cultural. A leitura , portanto, entendida de maneira mais ampla, em que certamente o sistema lingstico cumpre um papel fundamental, tendo em vista que a leitura do mundo precede a leitura da palavra e a leitura desta importante para a continuidade da leitura daquele. Freire ( apud SALLES 004:19). Parafraseando a autora podemos dizer que as comunidades surdas constituem-se como cidados-leitores tanto quanto os ouvintes, muito embora os procedimentos metodolgicos sejam diferentes quando tratarmos da aquisio de L132 e de L2.33.31

SAIBA MAIS - Para Garcez apud Salles (2004:20), existem algumas condies para a realizao da leitura: decodificao de signos; seleo e hierarquizao de idias; associao com informaes anteriores; elaborao de hipteses; construo de inferncias; construo de pressupostos; controle de velocidade; focalizao da ateno; avaliao do processo realizado; reorientao dos prprios procedimentos mentais32 33

GLOSSRIO- L1 - Esse termo refere-se a lngua de sinais, considerada a lngua materna dos surdos.

GLOSSRIO- L2- A L2 para os surdos lngua portuguesa na modalidade escrita, isto a segunda lngua. ASSUNTO Segunda lngua Para conhecer mais sobre o assunto leia: Aquisio de segunda lngua por surdos, de Ana Antonia de

28

B 4.1 Procedimentos sugeridos para a leitura A leitura deve ser uma das principais preocupaes no ensino de portugus como segunda lngua para surdos, considerando que esta etapa vista como uma etapa fundamental para aprendizagem da escrita. Segundo Garcez (apud SALLES 2004:21), reconhecer e entender na organizao sinttica, o lxico, identificar o gnero e o tipo de texto, bem como perceber os implcitos, as ironias, as relaes estabelecidas intra, inter e extratexto, o que torna a leitura produtiva. No caso do surdo, alguns dos procedimentos so imprescindveis, e o professor deve sempre estar atento para conduzir o seu aprendiz a cumprir etapas, que envolvam aspectos macroestruturais e microestruturais como pode ser visto abaixo: Aspectos Macroestruturais analisar e compreender todas as pistas que acompanhem o texto escrito: figuras, pinturas,enfim, todas as ilustraes; identificar, sempre que possvel, nome do autor, lugares, referncias temporais, e espaciais internas no texto; situar o texto sempre que possvel, temporal e espacialmente; observar, relacionando com o texto, ttulo e subttulo; explorar a capa de um livro, inclusive as personagens, antes mesmo da leitura; elaborar sempre que possvel, uma sinopse antes da leitura do texto; reconhecer elementos paratextuais importantes, tais como: pargrafos, negritos, sublinhados, travesses, legendas, maisculas e minsculas, bem como outros que concorram para o entendimento do que est sendo lido; estabelecer correlaes com outras leituras, outros conhecimentos que venham auxiliar na compreenso; construir parfrases em LIBRAS ou em portugus (caso j tenha um certo domnio); identificar a tipologia textual; ativar e utilizar conhecimento prvios; tomar notas de acordo com os objetos;

Aspectos microestruturais reconhecer e sublinhar palavras chaves

Assis-Peterson. Aquisio de segunda lngua por surdos. Kristina Svartholn. e Aquisio do Portugus como Segunda Lngua: uma proposta de currculo. Alice Freire. Revista Espao-Informativo do INES. N 9 (janeiro-junho). Rio de Janeiro. INES, 1998. Lodenir B. Karnopp & Madalena Klein. A Lngua na Educao dos Surdos. Secretaria de Educao. Departamento Pedaggico. Diviso de Educao Especial. Vol 2. Porto Alegre 2005. Ensino de Segunda Lngua para Surdos. Caminhos para a Prtica Pedaggica. Heloisa Mara Moreira Lima Salles. Programa Nacional de Apoio Educao dos Surdos. Ministrio da Educao. Secretaria de Educao Especial. vol 1 e vol 2. Braslia 2004. PEREIRA, Maria Cristina. Papel da lngua dna aquisio da escrita por estudantes surdos. In: LODI et al. et al. Letramento e Minorias, Porto Alegre, Mediao, 2002.p. 47-55. ALMEIDA. Elisabeth Oliveira Crepaldi de. Leitura e Surdez. Um estudo com adultos no oralizados. Rio de Janeiro. REVINTER. e\ou acesse; http://www.ines.org.br/ines_livros/22/22_PRINCIPAL.HTM

29

tentar entender, se for o caso, cada parte do texto, correlacionando-os entre si: expresses, frases, perodos, pargrafos, versos, estrofes; identificar e sublinhar ou marcar na margem fragmentos significativos; relacionar quando possvel, esses fragmentos a outros; observar a importncia do uso do dicionrio; decidir se deve fazer uso do dicionrio imediatamente ou tentar entender o significado de certas palavras e expresses observando o contexto, estabelecendo relaes com outras palavras, expresses ou construes maiores; substituir itens lexicais, complexos por outros familiares; observar a lgica das relaes lexicais, morfolgicas e sintticas; detectar erros no processo de decodificao e interpretao; recuperar a idia geral de forma resumida;

A autora recomenda que o uso de todos esses itens para um s texto impraticvel, considerando que h um conjunto de procedimentos adequados para a compreenso de cada texto.

B 4.2- O Texto Entende-se o texto a partir de muitas concepes, dependendo de cada uma delas dos princpios tericos adotados. Salles afirma (2004:23);Ao longo dos estudos este objeto foi compreendido sob diversas ticas: ora observando-se a sua natureza sistmica: como unidade lingstica superior a frase, como uma sucesso de combinao de frases, como um complexo de proposies semnticas; ora considerando-se o aspecto cognitivo: vendo-o como um fenmeno psquico, resultado de processo mentais; ora ressaltando-se o seu carter pragmtico: como seqncia de atos da fala, como um elemento de comunicao verbal, ou ainda como processo\produto de prticas scias.

Vale a pena ressaltar o carter pedaggico do texto, considerando que o texto no deve ser visto como um produto final, pelo contrrio o texto uma produo dialogada, comprometida com seu processo, compartilhado, construdo, verbalizado. Desta forma Koch apud Salles (2004; 24) ressalta; o sentido no est no texto, mas se constri a partir dele dependendo das experincias, dos conhecimentos prvios, enfim, da viso de mundo que cada participante traz consigo do evento em que o texto se realize. O texto poder sofrer diferentes interpretaes, adquirir diferentes significados considerando tempos e espaos diferentes daquele que o texto foi construdo. Segundo Salles (2004), o texto tem sido apontado como um recurso por excelncia. Percebido como um elemento determinante para o processo de aprendizagem, constitui-se num instrumento potencial na aquisio de novos conhecimentos. Importante mencionar a relao de texto e contexto, e aqui resgata-se o conceito de letramento j discutido no incio dessa unidade. Nesse sentido suscitamos alguns questionamentos: para que serve o texto? a quem ele dirigido? qual sua importncia social ? Essas questes nos remetem aos cidados surdos, pois, muito embora o portugus no

30

seja a lngua materna dos surdos, eles convivem com essa lngua constantemente, portanto o que nos desafia como transformar essa convivncia numa relao que promova cidadania. B 4.2.1- Aspectos determinantes para a construo textual com surdos

A compreenso de um texto uma tarefa complexa, porque compreende mltiplos processos. Para Kleiman (1989:80), o leitor deve perceber relaes intra-texto e projet-las sobre outras (extra y intertextos), descobrir e inferir significados mediante estratgias flexveis e originais. Nesse sentido para Lopes (apud FREIRE 1998), a interao e produo de um texto numa segunda lngua pressupe conhecimentos adquiridos anteriormente como: conhecimento de mundo, conhecimento sistmico, e conhecimento de organizao textual. Conhecimento de Mundo O conhecimento de mundo um dos principais fatores pedaggicos para todo o professor de surdos que pretender ensinar uma segunda lngua, quando o objetivo a qualidade da produo escrita. Nesse sentido importante por parte do professor pensar que no s aquele conhecimento que ele ir proporcionar em sala de aula importante, mas tambm aqueles que o aluno traz consigo, que representam sua histria de vida. Podemos entender que o conhecimento de mundo so os significantes, j convencionados que as pessoas tm sobre as coisas do mundo, e que so trazidos para o processo de aprendizagem armazenado na memria, construindo arquivos de informao. Este pr-conhecimento do mundo se refere a experincias construdas ao longo da vida e que, portanto, vo variar de pessoa para pessoa. (Moita Lopes, 1996 apud Freire 1998). O conhecimento de mundo contribui para a compreenso e interpretao do aluno ao produzir ou ler um texto, pois o entendimento, a compreenso sobre determinada temtica se constri pela interao com o artefato