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Adsorção do carvão: Construindo uma aprendizagem significativa através de um
experimento simples
Cleiciane Silva Novais1*
, Aracele Lima Lacerda1, Thatiana Carneiro dos Santos
1, Dulcinéia
da Silva Adorni2, Fábio Weligton Andrade de Jesus
2, Ademir de Jesus Silva Júnior
2.
1 Bolsistas do Programa Institucional de Iniciação a Docência – PIBID - Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia, Rodovia BR 415, Km 03, S/N, 45700-000, Itapetinga – BA, Brasil.
2 Professores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – Campus Itapetinga, Departamento de
Estudos Básicos e Instrumentais, Rodovia BR 415, Km 03, S/N, 45700-000, Itapetinga – BA, Brasil.
Resumo
A compreensão de conceitos básicos de química pelos alunos é facilitada pelo uso da
experimentação. Ela promove uma aprendizagem mais significativa, pois estabelece um
envolvimento maior do aluno durante a aula, além de despertar o interesse pelo assunto em
pauta. A interação do estudante e os resultados obtidos vão sendo proporcionalmente maiores
à medida que os assuntos envolvidos refletem na sua vivencia diária. Por isso, o uso do
experimento a respeito da adsorção do carvão despertou a curiosidade e possibilitou a
assimilação de alguns conceitos químicos presentes nesse assunto, através de uma prática
simples associada a discussões estabelecidas antes e durante a experimentação. Os resultados
obtidos serão úteis na vida dos alunos no sentido de compreenderem as transformações
químicas que ocorrem ao seu redor, podendo julgar com base nos conhecimentos científicos
as informações advindas da tradição cultural, meios de comunicação e da própria escola,
possibilitando assim, a tomada de decisões de forma autônoma enquanto cidadãos.
Palavras-Chave: Carvão, ensino, aprendizagem, química.
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INTRODUÇÃO
O ensino de Química na educação básica vem sendo objeto de diversos estudos e discussões a
muitos anos. A questão central refere-se a falta de compreensão e dificuldades, por parte dos alunos,
de seus conceitos básicos.
“O aprendizado do ensino de Química pelos alunos do Ensino Médio implica
que eles compreendam as transformações químicas que ocorrem no mundo
físico de forma abrangente e integrada e assim possam julgar com
fundamentos as informações advindas da tradição cultural, da mídia e da
própria escola e tomar decisões autonomamente enquanto indivíduos e
cidadãos.” (BRASIL, 2012, p.31)
Giordan (1999, p.43) destaca a importância da experimentação não só para um maior
envolvimento dos alunos, mas, sobretudo, para uma aprendizagem mais significativa: “a
experimentação aumenta a capacidade de aprendizagem, pois funciona como meio de
envolver o aluno nos temas em pauta”.
Quando o professor utiliza os experimentos tanto no laboratório quanto em sala de
aula, esta se torna mais atrativa para os alunos e estes, na maioria das vezes, conseguem
assimilar melhor os conteúdos trabalhados. Mostram-se mais envolvidos e interessados.
“A experimentação formal em laboratórios didáticos, por si só não soluciona
o problema de ensino aprendizagem em Química. As atividades
experimentais podem ser realizadas na sala de aula, por demonstração, em
visita e por outras modalidades”. (BRASIL, 2012, p.36)
Considerando que, ainda segundo os PCNEM (BRASIL, 2012, p.38), “nunca se deve
perder de vista que o ensino de Química visa contribuir para a formação da cidadania e, dessa
forma, deve permitir o desenvolvimento de conhecimento e valores que possam servir de
instrumento mediadores da interação do individuo com o mundo”, torna-se ainda mais
relevante o papel da experimentação no processo de ensino aprendizagem.
Partindo do pressuposto de que a experimentação favorece ao aluno a compreensão
dos conteúdos químicos, e que esta compreensão é necessária para sua atuação como cidadão,
as aulas práticas possibilitam-lhe repensar o cotidiano, estabelecendo a relação entre a teoria e
a química envolvida em seu cotidiano. É, mediante a aplicação pratica, mesmo que de forma
simples, que muitos alunos tem um verdadeiro contato com a química, ultrapassando, desta
forma, as limitações da aula tradicional.
Santos e Schnetzlez (2010, p.35) afirmam que:
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[...] o professor necessita trazer problemas, estimular o debate, a fim de que
os alunos possam discutir os diferentes tipos de soluções. [...] A educação,
portanto, tem o papel também de desenvolver no individuo o interesse pelos
assuntos comunitários de forma que ele assuma uma postura de
comprometimento com a busca conjunta de soluções para os problemas.
Neste sentido, o desenvolvimento de aulas experimentais possibilita ao professor
promover debates, tornando a aula ativa, favorecendo a participação dos alunos. Estes debates
podem tratar do cotidiano do educando e de temas atuais que estão sendo discutidos pelas
mídias, objetivando que ele consiga identificar onde a Química está empregada e qual o seu
papel.
Um tema que pode ser objeto de debate é a adsorção, pois permite ao educando
apropriar-se de um conceito químico através de uma prática popular e simples do cotidiano,
tal como a utilização de carvão para eliminar odores da geladeira. Quando se utiliza o carvão
para a retirada de odores, tais substâncias são retidas na superfície do mesmo diminuindo a
intensidade das mesmas no ambiente.
Partindo desses pressupostos e de acordo com o prescrito na LDB 9394/97, foi
solicitado aos bolsistas do PIBID – Programa de Institucional de Bolsas de Iniciação à
Docência, o desenvolvimento de uma oficina temática aos alunos do Ensino Médio, durante o
II Simpósio de Química da UESB/Itapetinga-BA, com o objetivo de favorecer a compreensão
de alguns conceitos químicos para uso no cotidiano.
[...] a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) o ensino
médio é entendido como parte integrante da educação básica sendo
fundamental para formação do indivíduo enquanto cidadão, devendo
“permitir a percepção da interação da ciência e da tecnologia com todas as
dimensões da sociedade, considerando as suas relações recíprocas,
oferecendo ao educando oportunidade para que ele adquira uma concepção
ampla e humanista da tecnologia” (Bazzo, Pinheiro e Mattos, 2007, p.2).
Em nossas observações nas escolas, constatamos que os alunos parecem compreender
e aprender mais com práticas e experimentações do que simplesmente com aulas teóricas.
Neste contexto, propusemos uma oficina através da qual os educandos pudessem
compreender o fenômeno da adsorção do carvão – tema gerador de fácil identificação no
cotidiano.
Devido à sua composição química e área superficial, o carvão apresenta
uma propriedade importante chamada adsorção, que consiste na retenção de
substâncias líquidas, gasosas ou dissolvidas em sua superfície. (MIMURA;
SALES; PINHEIRO, 2010, p.53)
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O carvão é um material formado por cadeias de carbono em cujas extremidades podem
existir vários elementos. Os mais comuns são o carvão mineral, o vegetal e o ativado, o
vegetal é utilizado para retirar odores dos refrigeradores, o mesmo é obtido pela carbonização
da madeira, já o carvão ativado apresenta vantagens associadas à adsorção, ele é obtido a
partir da carbonização em atmosfera inerte de materiais lignocelulósicos como madeira, casca
de coco, palha de milho, dentre outros.
“A adsorção é um fenômeno físico-químico onde o componente em
uma fase gasosa ou líquida é transferido para a superfície de uma fase
sólida. Os componentes que se unem à superfície são chamados
adsorvatos, enquanto que a fase sólida que retém o adsorvato é
chamada adsorvente. A remoção das moléculas a partir da superfície é
chamada dessorção” (VALENCIA, 2007).
Como a substâncias adsorvidas ficam na superfície do carvão, então quanto maior a
superfície de contato melhor será sua adsorção, neste caso será o carvão ativado que obterá
um melhor resultado e não o carvão vegetal.
Marcondes e Peixoto (2007), em uma perspectiva piagetiana, priorizam a importância
do “fazer” do aluno, entendendo que a aprendizagem se dá pela interação entre sujeito e
objeto. Assim, os indivíduos, ao interagirem com o ambiente, analisam o ocorrido de acordo
com o estágio de desenvolvimento cognitivo em que se encontra.
METODOLOGIA
Para o desenvolvimento da oficina utilizamos materiais recicláveis e de fácil acesso
aquisitivo, para mostrar que é possível ensinar química sem um laboratório moderno,
possibilitando a contextualização e um aprendizado mais significativo, partindo de um tema
gerador.
A oficina começou, então, com o levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos
sobre carvão e sua utilidade em seu cotidiano. Foi indagado a eles, por exemplo, se já tinham
ouvido falar ou visto alguém colocar carvão na geladeira e o objetivo disso.
Nesse primeiro momento de perguntas e respostas, foi possível gerar indagações por
parte dos alunos e as explicações dessas indagações posteriormente foram contrapostos com a
visão da ciência. Os estudantes foram se sentindo mais a vontade e mais interessados no que
estava em pauta, à medida que relacionavam o assunto com suas vivências cotidianas.
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Em seguida, foi feita uma exposição, através de slides, sobre a história do carvão, sua
composição química e algumas aplicações na prática, durante a qual os alunos foram
instigados a participarem com perguntas e observações. Na sequência, foi proposta a
realização de dois experimentos para a comprovação da teoria da adsorção do carvão. O
primeiro consistiu na utilização de duas mascaras de gás, confeccionadas com garrafa PET,
uma com carvão ativado e outra com carvão vegetal, sendo que ambas tinham como odor
ativo a cebola e o alho. Os alunos tiveram a oportunidade de manipulá-las e comprovar sua
eficiência, observando que a mascara que continha o carvão ativado demonstro melhor
adsorção. No segundo momento, foi utilizado refresco artificial de uva dissolvido e colocado
em dois béqueres, em seguida colocou- se uma pequena quantidade de carvão em cada, um
com ativado e outro com vegetal. Da mesma maneira que na experiência anterior, os alunos
manipularam, observaram e comprovaram que o carvão ativado adsorve as substâncias
contidas na solução.
Após a realização dessas experiências, foi aplicado aos alunos um questionário com o
objetivo de identificar se houve aprendizagem significativa.
Pode destacar abaixo algumas perguntas presentes no questionário aplicado.
1) Explique a razão para a diminuição de intensidade da coloração do refresco.
2) Que tipo de carvão adsorveu mais o corante do suco?
3) Os odores de alho e cebola são perceptíveis usando a máscara de carvão?
4) Como explicar o fato de esses odores serem retidos pela máscara?
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após análise das respostas obtidas através do questionário, obtiveram-se os seguintes
resultados expressos no gráfico a seguir.
63,7
%
9,1
%
18,2
%
81,8
%
18,2
%
0,0
%
63,7
%
18,2
%
9,1
%
63,7
%
18,2
%
9,1
%0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
90,0%
Perguntas feitas aos alunos sobre adsorção do carvão em
algumas substâncias.
Correta
Incorreta
vaga
Gráfico 1: Respostas dos 11 alunos participantes da Oficina.
Santos e Schnetzlez diz que “o professor necessita trazer problemas, estimular o
debate”. Ao iniciar o debate com os alunos, pode-se perceber que o único conhecimento que
os mesmos possuíam era o popular, adquirido de forma simples, passado por seus familiares e
amigos. Ao iniciar a experimentação, os mesmos não tinham ideia que a mesma possui um
fundamento cientifico. Pode-se perceber que o conteúdo ministrado foi aprendido pelos
educandos. Pode-se comprovar de fato que a experimentação alcança um nível de
aprendizagem mais satisfatório do que uma aula tradicional, onde se pode verificar uma
porcentagem alta de respostas coerentes.
Este fato pode ser comprovado pelo gráfico, afirmando o que Giordan destaca sobre a
importância da experimentação e a aprendizagem.
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Abaixo estão relacionadas algumas respostas apresentadas pelos alunos:
“Porque a finalidade do carvão é a adsorção, com isso a coloração dele diminui com a
adsorção carvão sobre o líquido”
“Porque quanto mais tempo com o carvão ele fica com menos intensidade, ele vai
conter uma coloração menor.”
“Porque o carvão agiu como um purificante deixando o refresco menos concentrado.”
“Porque o carvão reteve o corante do suco.”
Através das respostas dos alunos, nota-se as diversas tentativas de explicar o
fenômeno observado por eles, o que possibilita uma construção de conhecimentos de forma
autônoma, mediada pelo professor. Dentro desse enfoque, Paulo Freire defende a ideia do
professor mediador e o aluno como um indivíduo que deve ser o responsável pela aquisição e
construção dos conceitos.
Isso também é comprovado nos PCNEM “a experimentação formal em laboratórios
didáticos, por si só não soluciona o problema de ensino aprendizagem em Química. As
atividades experimentais podem ser realizadas na sala de aula, por demonstração, em visita e
por outras modalidades.”
CONCLUSÃO
Através do questionário que aplicamos podemos comprovar o papel fundamental que
a experimentação possui, pois a partir dela ocorreu o aprendizado pelos discentes, conforme
traz o PCNEN que “O aprendizado do ensino de Química pelos alunos do Ensino Médio
implica que eles compreendam as transformações químicas que ocorrem no mundo”, a partir
da observação que foi proposta aos educandos, os mesmos puderam de fato verificar que a
adsorção tem papel fundamental no dia a dia, e dessa forma desmitificar a visão que muitos
possuíam de que a química é algo sem sentido e significados.
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AGRADECIMENTOS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio). MEC. SEMT. Parte III:
Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencian.pdf. Acessado em: 30/10/2012.
SANTOS, W.L. P DOS; SCHNETZLER, R. P. Educação em Química – Compromisso
com a Cidadania . 4º Edição; Ijuí. RS; Ed. Unijuí; 2010.
MIMURA, A. M.S; SALES, J. R.C; PINHEIRO, P. C. Atividades Experimentais Simples
Envolvendo Adsorção Sobre Carvão. Química Nova na Escola, vol. 31, Nº 1 p 53
fevereiro de 2010.
GIORDAN, M. O Papel da Experimentação no Ensino de Ciências. Química Nova na
Escola, nº 10, 1999.
MARCONDES, Maria E. R., PEIXOTO, Hebe R. C. Interações e Transformações –
Química para Ensino Médio: uma Contribuição para a Melhoria do Ensino. Ijuí – RS:
Unijuí, 2007, p. 43, 46 e 47. IN: Zanon, Lenir B. Maldaner, Otavio A. Fundamentos e
Proposta de Ensino a Educação Básica no Brasil.
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VALENCIA, Claudia A. V. Aplicação da adsorção em carvão ativado e outros materiais
carbonosos no tratamento de águas contaminadas por pesticidas de uso agrícola.
Dissertação Puc - RJ, Rio de Janeiro, 06 de julho de 2007, p. 34