Adoração na Igreja primitiva

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Prefácio à Edição Revista C O N T E Ú D O Pág. Prefácio â Edição Revista Iniiodução 1. A Igreja - Uma Comunidade Adoradora 2. A Herança Judaica no Templo e na Sinagoga 3,As Orações e os Louvores do Novo Testamento 33 4. Hinos t: Cânticos Espirituais 5 "O Padrão das S3s Palavras" — Antigos Credos e Confissões de Fe Ministério da Palavra 7. "Quanto à Coleta" — A Mordomia Cristã

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Prefácio à Edição Revista

CONTEÚDO

Pág.Prefácio â Edição RevistaIniiodução

1. A Igreja - Uma Comunidade Adoradora

2. A Herança Judaica no Templo e na Sinagoga3, As Orações e os Louvores do Novo Testamento 334. Hinos t: Cânticos Espirituais5 "O Padrão das S3s Palavras" — Antigos Credos e Confissões de FeMinistério da Palavra7. "Quanto à Coleta" — A Mordomia Cristã

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8 Os Sau amentos do Fvangelho — O Batismo nos ensinos de Jesus9. A Prática Apostólica do Batismo10. A Ceia no Cenáculo — Pano de Fundo e Relevância11. A Ceia do Senhor na Igreja Primitiva12. Desenvolvimentos Posteriores da Adoração

CristãÍndices

Faz pouco mais de der. anos que a primeira edição deste livro apare« ceu publicada naquela ocasião pela Fleming J.J. Revell Company. Aquela edição foi escrita como uma expansão

de artigos emanais para uma revista britânica. A Origem do livro explica as referências nas notas de rodapé a edições e publicadoras no Reino Unido. A sugestão de que o livro fosse publicado de novo deu uma oportunidade para o autor atualizar a bibliografia. Embora infelizmente não fosse possível revisar o texto (a não ser para corrigir alguns erros tipográficos), o autor tem prazer

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em mencionar vários estudos de destaque que apareceram no decurso dos últimos dez anos ou mais.

O interesse na adoração cristã continuou no decurso da década, e contribuições notáveis foram feitas no campo da erudição neo-testamentária e patrística bem como na área da teologia sistemática ( Worship in the Name of Jesus, por Peter Brunner [Concórdia, 1968] pode ser citado como exemplo de um tratamento em grande escala do pomo de vista da teologia luterana) e estudos litúrgicos na forma de

ensaios, das tradições católicas e reformadas, em Litúrgical Renewal in the Chistian Churches. ed. M. J. Taylor (Helicon. 1967).

A natureza da adoração cristã foi rigorosamente escrutinada es-pecialmente por aqueles que consideram as formas tradicionais (bem como a teologia que subjaz os modos tradicionais da adoração) ina-ceitáveis ao homem secular. Em especial, o conceito do numinoso foi atacado, notavelmente por J. G. Davies, Every Day God (S.C.M Press. 1973), e algumas

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questões acerca da propriedade do termo, feitas em nome da filosofia da religião, são levantadas por N. Smart. The Concept of Worship (Macmillan, 1972). Numa frente mais am-pla, a adoração e a secularização foram discutidas em Studia Liturgica, vol. 7 (1970), com uma contribuição importante por Charles Davis.

Um breve panorama de The Worship of the Early Church por Ferdinand Hahn (Fortress Press, 1973) está repleto de dados de fontes. Contém uma tentativa notável de seguir os

padrões neo-testamentários segundo seu desenvolvimento.

Para o pano de fundo veterotestamentário no culto e nas festas de Israel, agora temos a tradução em inglês do livro de H. J. Kraus

(VER pág. 11 neste livro), que aparece com o título Worship in Israel (John Knox Press, 1966), e deve ser mencionado o estudo excelente de H. H. Rowley, Worship in Ancient Isral (S.P.C.K, 1967).

As orações dos cristãos primitivos foram consideradas, de modo útil, por F. D. Coggan, Arcebispo de Cantuária, em seu livro The Prayers of the New

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Testament (Corpus Books, 1968). Mais tecnicamente. G. P. Wiles, Paul's Intercessory Prayers (C.U.P. 1974), oferece um exame pormenorizado da linguagem de oração de Paulo quanto à sua forma e conteúdo. O mesmo pode ser dito em prol do livro de P. T O'Brien, Pauline Thanksgiving,

Desde 1964, tem havido várias discussões importantes dos hinos do Novo Testamento. R. Deichgraber, Gotteshymnus und Christy- shymnus in der frühen Chrisienheit (Vandenhock and Ruprecht, 1967), e J. T. Sanders, The New

Testament Christological Hymns (C.U-P-, 1969), estão entre os líderes neste campo. O estudo de Filipenses 2:5-11, mencionado na pág. 162, foi publicado como número 4 na série S.N.T.S. (1967). Trabalhos representativos sobre passagens específicas no Novo Testamento incluem: C.F.D. Moule sobre Filipenses 2 e R. H. Gundry sobre 1 Timóteo 3:16, sendo que os dois ensaios estão disponíveis no livro em honra a F. F. Bruce. Apostolic History and the Gospels (Eerdmans, 1970), ao passo que o comen-

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tário mais recente sobre Filipenses (por J. F. Collange na sétie Commentaire du Nouveau Testament, 1978) contém uma discussão completa (págs. 74-79) do hino cristológico, e um relato sobre o modo mais recente de entender Colossenses 1:15-20 pode ser lido em minha edição do comentário da New Century Bible sobre aquela Epístola (Attic Press, 1974).

O livro-texto padrão sobre credos e confissões nos primeiros séculos é J. N. D. Kelly, Early Christian Creeds, que agora está em sua terceira

edição (Mackay, 1972).

Sobre o batismo no cristianismo primitivo agora temos a versão em inglês do tratamento excelente dado por R. Schnakenburg, Baptism in the Thought of St. Paul (Herder, 1964), que pode ser considerado, juntamente com a obra republicada de G. R. Beasley – Murray, Baptism in the New Testament (Fendmans, 1972), como uma das exposições modernas definitivas do tema. O ensaio de G. Wagner (referida em pág. 105) foi traduzido para o inglês com o

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título Pauline Baptism and the Pagan Mysteries (Oliver and Boyd, 1967). Em defesa do batismo geral, i. é, a disposição de batizar a todos — especialmente as Crianças — que são trazidos para o rito, R. R. Osborn escreveu seu livro Forbid Them Not (S.P.CK, 1967). O ponto de vista "batista" é reafirmado em J. K. Howard, New Testament Baptism (Pickering and Inglis, 1972).

O livro de J. D. G. Dunn, Baptism in the Holy Spirit (Allenson 1970) é um tratado

importante que dá cobertura ao ensino neotestamentário sobre o Espírito Santo com relação ao batismo de iniciação e os dons do Espírito na vida e na adoração da Igreja.

As origens da refeição sacramental da Igreja permanecem sendo um problema para o intérprete erudito. As questões difíceis da crítica da forma e da redação das narrativas dos Evangelhos destacam-se em estudos recentes, e. g. E. Schweizer. The Lord's Supper according to the Nem Testament (Fortress Press,

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1967) e W. Marxsen, The Lord's Supper as a Christological Problem (Fortress Press. 1970). Uma abordagem segundo a história das tradições que é adotada neste último livro lança nova luz sobre o desenvolvimento da teologia e prática eucarísticas, mas não está livre da acusação de especulação. Eucharist and Eschatology, por G Wainwright (Epworth Press, 1971) rompe novo terreno com uma investigação completa dos aspectos esca-tológicos da Ceia do Senhor.

A possibilidade de

traçar uma linha de desenvolvimento (agora chamada uma trajetória) dentro do período neotestamentário da vida da Igreja, foi levantada pela primeira vez por J M. Robinson (conforme a referência na pág. 162). Seu ensaio agora apareceu numa versão alemã nos escritos em honra a E. Haenchen, ApophoreTa, (Topelmann, 1964), com o título: “Die Hodajot-Fonnel in Gebetund Hymnus des Früchristentums”. O ensaio valioso de F. Schweizer (referido na pág. 162) e mais

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facilmente acessível no volume das suas obras colecionadas. Neotestamentica German and English Essays 1951-1963 (Zwingli, 1963).

Estudos especiais que dizem respeito ao tema da adoração cristã primitiva têm sido providenciados por W Rordorf, cujo livro (men-cionado na pág. 149), apareceu em inglês com o título: Sunday - The History of the Day of Rest and Worship in the Earliest Centuries of the Christian Church (Westminster Press, 1968). e, para um trata-mento popular do Domingo ver P. K Jewell. The land's Day

Eerdinaus, 1971). Estudos sobre a celebração da Páscoa na igreja primitiva se acham em W. Hubet, Passa und Ostern (Topelmann, 1969). A série Traditio Christiana contém citações muito úteis de dados bíblicos, subaspotólicos, patrísticos e conciliares em conexão com o sábado e o domingo em Sabbat et dimanche dans l'eglise ancienne, ed. W. Rordorf (Delachaux e Niestlé, 1972).

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Finalmente, a relevância da adoração na Igreja hoje está recebendo atenção. Podemos citar, como exemplo, J. G. Davies. Culto e Missão (ed. Sinodal), J. Killinger, Leave It to the Spirit (Harper and Row, 1971), e J. F. White, New Forms of Worship (Abingdon, 1971). Três livros terão valor especial em obter compreensão da 10 aplicação da teologia da adoração a preocupações pastorais: J. J. von Allmen, O Culto Ctisiào (ASTE - São Paulo). S. F. Win-ward, The reformation of our Worship (John Knox Press, 1905), e P. W. Hoon, The Integra y of Worship (Abingdon, 1971). A última obra é especialmente oportuna com sua insistência de que, no meio da experimentação e do fluxo na liturgia, não devemos perder de vista o caráter essencialmente teológico de nossa atividade de adoração. A batida do cotação de toda a liturgia é sentida à medida em que a Igreja formula sua adoração como resposta a seu entendimento da ação de Deus em Jesus Cristo. "Se não colocarmos nossos pensamentos em ordem no assumo du cristologia, não teremos probabilidade de endireita-los em qualquer outro assunto" é uma frase muito falada, que o presente autor gostaria de repetir como sua convicção também, na ocasião do relançamento deste livro.

Fuller Theological Seminary, Pasadena, California (1975).

Ralph P. Martin

INTRODUÇÃO

Alguns aspectos destacados do cenário religioso atual confirmam a impressão de que continua a haver um interesse pelo assunto da adoração cristã. Entre estes aspectos, podem alistar-se os seguintes: o movimento da Reforma Litúrgica, originalmente uma preocupação católico-romana no começo do século mas que agora abrange um ambiente mais largo, ecuménico; as experiências da comunidade monástica reformada em Taizé; nos Estados Unidos e fora dele, dentro da comunhão anglicana, o crescimento da ''Eucaristia da Paróquia" com seus objetivos de restaurar um culto dominical ideal mediante a participação da família e a fomentação (segundo as linhas da Ágape antiga) da comunhão cristã entre o povo da Igreja; um reavivamento de interesse numa "Ordem de culto" mais sistemática entre as Igrejas não-litúrgicas; o planejamento e

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introdução de novos livros de culto que reúnem numa unidade compreensiva muitas das tradições mais antigas, e.g. a Liturgia da Igreja da índia do Sul; e a edição de revistas e livros (tais quais a série Ecumenical Studies in Worship) dedicados ao estudo de questões litúrgicas.

Por mais importantes que sejam estes aspectos, a primazia deve ser dada à crescente compreensão entre os cristãos da natureza da Igreja como comunidade de adoração, chamada à existência pelo próprio Deus, não como instituição social ou lugar conveniente de encontro para aqueles cujo interesse individual e experiência religiosa os trazem juntos, mas como o corpo de Cristo no mundo. A Igreja de Jesus Cristo é, por definição, o povo de Deus, vocacionado por Ele para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis através de Jesus Cristo, e para proclamar as obras maravilhosas da Sua graça (I Pedro 2:5-9).

Como inquérito preliminar a qualquer avaliação do interesse e da moda contemporâneos, as páginas que se seguem (que são uma versão revista e expandida do curso de estudosbíblicos no semanário The Life of Faith) são oferecidas como introdução àquilo que o Novo Testamento ensina acerca dos princípios e práticas da adoração comunitária no cristianismo primitivo. Poucas tentativas são feitas pata aplicar às necessidades diárias os resultados de nossa investigação, mas é a esperança do autor que este estudo bíblico transmitirá sua própria mensagem ao leitor interessado, e que sirva para vivificar uma preocupação prática na vida e na adoração de nossas igrejas hoje em dia.

As notas que acompanham o texto visam a conveniência daqueles que gostariam de lei mais acerca do assunto, mas podem ser deixa cias de lado se o leitor assim escolher. De maior importância são as referências bíblicas que fazem parte integrante do propósito do autor cm escrever estes capítulos.

É um dever agradável para o autor revelar suas dívidas e reconhecer a ajuda recebida, ao escrever

estas páginas, de seus mentores, colegas e amigos no mundo do estude» do Novo Testamento; o estímulo obtido do debate com seus estudantes; e, não menos, a paciência de sua esposa e família enquanto o livro estava sendo feito. A sua esposa Lily que leu o manuscrito, e à sua filha mais velha Patrícia, que ajudou na compilação do índice, o autor oferece agradecimentos e estima nas palavras de Browning:

"Aceite-os, Amor, o livro e eu juntos"RPM.

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A Igreja — Uma comunidade adoradora

A descrição da Igreja Cristã como "o povo de Deus" leva consigo associações da nossa redenção e do nosso destino. Fomos chamados por Ele, ficamos sendo exclusivamente dEle, e investidos com alta dignidade. Três passagens do Apóstolo Paulo dizem respeito a estes temas: "Assim como nos escolheu nele [no Senhor Jesus Cristo] antes da fundação do mundo, pata sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade... predestinados... a fim de sermos para louvor da sua glória... em quem também vós... tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa"

(Efésios 1:4.5, 11-13). "Não sois de vós mesmos. Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo"

(I Coríntios 6:19-20). "Falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus preordenou desde a eternidade para a nossa glória"

(I Coríntios 2:7).

O significado destes versículos, numa expressão breve, é: "Já não pertencemos a nós mesmos; somos povo escolhido dEle." O povo de Deus se dirige ao seu Senhor e Criador nas seguintes palavras: "Foi ele quem nos fez e dele somos, somos o seu povo, e rebanho do seu pastoreio"

(Salmo 100;3). Pelos vínculos da eleição eterna, da criação física, da redenção de Cristo e da resposta pessoal à chamada do Evangelho, pertencemos a Ele. Tudo isto está contido em 1 Pedro 2:9-10.

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Esta é apenas parte da história da atividade salvífica de Deus, pois na citação de I Pedro 2 devemos considerar, não somente vv. 9, 10, mas também a seção inteira da epístola do apóstolo. A Igreja, segundo ele mostra, é um templo espiritual, construído para a glória de Deus, e para a adoração a Ele (v. 5). A Igreja é um sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus por Jesus Cristo (v. 5). A Igreja, como parceira do Israel antigo dentro da única aliança da graça, existe mediante a chamada do próprio Deus, "a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz". Enfim, Deus conclamou a Igreja de Cristo à existência a fim de ser uma comunidade adoradora. Este fato prepara o palco para nossos estudos.

Definindo o Termo “Adoração”

Adoração é uma palavra nobre. O termo (em inglês, “Worship") veio a nossa linguagem moderna através do Anglo-saxônico weorthscipe, palavra esta que mais tarde desenvolveu em worthship, depois, em worship. Significa “atribuir valor” a um objeto. Empregamos o termo de modo informal quando dizemos que um homem, "Adora seu dinheiro", ou seu carro, ou seus tacos de golfe. Um significado mais profundo acha-se no título de honra "Sua Excelência [Worship] o Prefeito", mediante o qual dignificamos o primeiro cidadão da nossa cidade como pessoa que merece estima e respeito especiais. No Culto de Casamento no Livro de Orações da Igreja Anglicana, a promessa do futuro marido é "Com meu corpo te adoro" — uma promessa de total lealdade e devoção à sua noiva que, aos olhos dele, é digna disto. Se podemos elevar este pensamento para o âmbito dos relacionamentos divinos-humanos, temos uma definição prática do termo "adorar" já pronta para nós. Adorar a Deus é atribuir a Ele valor supremo, porque somente Ele é digno.

Os Salmos do Antigo Testamento reecoam esta verdade de muitas maneiras. "Tributai ao

SENHOR a glória devida ao seu nome" (Salmo 96:8). Porque o Senhor é grande, é "mui digno de ser louvado" (Salmo 96.1). "Exaltai ao SENHOR nosso Deus, e prostrai-vos ante o seu santo monte" é a chamada de Salmo 99:9, citando-se a razão deste convite à adoração: "Porque santo é o SENHOR nosso Deus".

É a excelente dignidade de Deus, portanto, que possibilita nossa adoração, e quando oferecemos a Ele nossa devoção, louvor e oração, este pensamento que deve ocupar o primeiro lugar em nossa mente: Somente Ele é digno de adoração. Atribuímos a Ele tudo quanto está de acordo com Sua natureza e Pessoa revelada. Diante da Sua augusta presença e Seu grande nome (Malaquias 1:11), quem pode recusar-se a curvar-se e reconhecer que somente Ele é Deus? Pesa a exigência sobre todos os homens, portanto (I Timóteo 2:8) como criaturas de Deus, sobre todas as classes dos homens: rapazes e donzelas, velhos e crianças... louvem o nome do SENHOR, porque só o seu nome é excelso, a sua majestade á acima da terra e do réu" (Salmo 148:12, 13).Alguns Princípios da Adoração Cristã

Conforme teremos a oportunidade de notar mais tarde, o molde da adoração cristã primitiva et a o culto e devoções da fé judaica, conforme seu cumprimento visto na v inda do Messias. É necessário, portanto, começar com o Antigo Testamento, as Escrituras que o judaísmo e a Igreja que nascia tinham em comum.

Não é nosso propósito, no entanto, descrever com detalhes os ritos e as cerimônias da comunidade adoradora no Antigo Testamento. Para informações sobre estes assuntos, os livros de A. S. Herbert e H.J. Kraus podem ser consultados.1 Nem é

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nossa tarefa investigar o rico vocabulário que o Antigo Testamento emprega para retratar a adoração da nação, a não ser para chamar a atenção aos dois termos preeminentes que lançam luz sobre os princípios subjacentes da adoração.

Em primeiro lugar, a palavra vétero-testamentária hisahawah significa literalmente um "curvar-se"; e enfatiza o modo apropriado de um israelita pensar na sua aproximação à santa presença de Deus. Curva-se em humilde reverência e prostração. O termo, de fato, também se emprega da homenagem que os homens prestam aos seus semelhantes que, como personagens importantes, impõem respeito (Gênesis 27:29; I Samuel 25:23; 2 Samuel 14:33, 24:20); mas a plena significância da palavra é vista no emprego da palavra quando significa a aproximação do hebreu a Deus, o grande Rei e Senhor soberano (Gênesis 24:52; 2 Crônicas 7:3; 29:29). O termo grego, que se

I Igreja — Uma Com unidade Adoradora

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A Igreja — Uma Comunidade Adoradora

emprega na Srptuagirita para traduzir sahah, é proskunein, com a mesma implicação de humildade submissa e profundo respeito.

O segundo termo é abodah, traduzido ''serviço". Vem da mesma raiz de onde se tira o termo ''escravo", "servo" ('ebed); e isto é importante. A designação mais alta do hebreu no seu engajamento na adoração de Deus é precisamente esta palavra "servo". Deleitava-se em chamar-se 'ebed de Deus (e. g. Salmo 116:16); e expressava aquela alegria nos seus atos particulares e

públicos de louvor e oração. Diferentemente do conceito grego de escravidão como rebaixamento servil e cati-veiro, a noção hebraica, implícita na palavra 'ebed, expressava o relacionamento entre o servo e o senhor bondoso (e. g. Êxodo 21:1-6). Esta ligação era imaginada e descrita em termos de privilégio e honra mais do que de es-cravidão desumana; e quando os homens se chamavam os "servos de Deus" no sentido religioso, estavam prestando tri-buto ao relacionamento

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íntimo e honrado ao qual Deus nos trouxera. Dessa forma, os grandes líderes de Israel são assim chamados, "os servos de Deus" (especialmente Davi, Salmo 89:3, 20). O termo grego correspondente é latreia ("serviço") e à luz do pano de fundo no Antigo Testamento, devemos entender o uso que Paulo fez da mesma palavra grega em Romanos 1:9, 12:1, e 15:16, bem como sua referência à ado- ração prestada por Israel em Romanos 9:4. Entende que é o privilégio e honra solenes dele e da Igreja, terem o serviço do Evangelho confiado a eles.

Esse serviço é sua oferta a Deus daquele valor e honra mediante o qual Ele é glorificado na salvação dos gentios.

A partir destes dois termos bíblicos, ficamos sabendo algu-ma coisa acerca da atitude do adorador ao mandamento que Deus dirige a ele. É conclamado à presença do Santo de Israel: e corresponde a esta chamada com um senso apropriado de reverência, mas também com a consciência de que contemplar a face de Deus e ter comunhão com Ele é bênção e deleite inestimáveis. Esta abordagem à adoração pública nos deu obras-primas

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religiosas tais quais Salmos 42, 43, 65, 84 e 122. Todos estes salmos soam a nota de grato reconhecimento de Deus e da alegria do salmista em vir ao Seu santuário.

Podemos sondar um pouco mais profundamente e descobrir certos princípios fundamentais que subjazem e sustentam a doutrina bíblica da adoração.

I. Deus Existe: Seu Caráter Revelado

O ensino bíblico sobre este assunto começa onde surge todo o ensino bíblico: com a doutrina do próprio Deus. Certos estudiosos bíblicos ressaltaram este fato. J. Alan Kay

observa:2 "A adoração é a resposta do homem à natureza e à ação de Deus”, ao passo que O. F. B. Cranfield, num artigo valioso sobre a relevância teológica da adoração cristã, ressalta o fato de que "em todas as partes da Bíblia é tomado como certo que a iniciativa na adoração verdadeira vem da parte de Deus."3 Em Êxodo 29:38-46 parece muito claro que é Deus que dá o primeiro passo ao propor a maneira segundo a qual Ele deve ser abordado, e é a promessa da Sua presença entre um povo obediente que garante a comunhão. À adoração que é

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planejada pelos homens e levada a efeito conforme os ditames e caprichos humanos, por mais impressionante e estética que possa parecer, não é aceitável. O veredito sobre o santuário rival de Jeroboão em Betel é uma lição típica (1 Reis 12:3.-5). Adorar pelo Espítito de Deus envolve a rejeição de toda "confiança na carne" (Filipenses 3:3). Nossa primeira pesquisa deve ser aquela que procura entender o caráter de Deus, a quem adoramos. A natureza de Deus, conforme Ele graciosamente a revelou nas páginas da Bíblia determinará

todas as considerações subseqüentes deste assunto, e afetará toda fase da comu-nhão que desejamos ter com Ele. Podemos alistar algumas das facetas principais da auto-revelação de Deus.

a) Ele é o Deus vivo (e.g., Jeremias 10:10; 1 Timóteo 6:17) — verdade mais implícita na Escritura do que declarada explicitamente. A totalidade do arcabouço e da substância da auto revelação de Deus fundamenta-se nesta base: que Ele é o Deus no qual toda a criação vive e de quem todas as Suas criaturas obtêm sua existência, momento após momento (Daniel 5:23; Atos 17-25-28).

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Somente com base neste postulado fundamental da "vivacidade" e da realidade de Deus podemos contemplar nossa vinda a Ele em adoração, pois a declaração de Hebreus 11:6: "É necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe" fornece a lógica que todos devem reco-

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Adoração na Igreja Primitiva

nhecer. Conforme a expressão de A.M. Fairbairn: "o homem que não acredita que Deus pode falar-lhe não falará a Deus". O tolo que diz no seu coração que não há Deus (Salmo 14:1; 53:1: Jó 2:10) nunca se tornará um adorador. Como poderia ser? O corolário do bem-conhecido dito de Martinho Lutero, "Crer em Deus é adorar a Deus," também é verdadeiro. A adoração é possível somente com base na fé em que Deus existe.

(b) Ele é majestoso em Sua santidade. A santidade de Deus, inspiradora de reverente

temor, é um fio de ensino que percorre a Bíblia inteira. Naquela presença que inspira reverente temor. Seus servos ficam conscientes de que são finitos e frágeis. Abraão confessa que é pó e cinza (Gênesis 18:27). Além disto, a pecaminosidade e vergonha humanas ficam desmascaradas à luz da Sua presença pura (Jó 42:5,6; Daniel 9:3-20; Lucas 5;8; Atos 9:3.4. Apocalipse 1:17) e os homens se tornam conscientes da sua indignidade para aproximar-se de Deus no Seu poder "numinoso"', conforme a palavra com que Rudolf Otto designou este

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aspecto distintivo de Deus (ver Isaías 6:5 para esta consciência de temor e reverência, cf. 1 Samuel 6:20. Jeremias 30:21). Nem todas as partes da apresentação de Otto da ideia daquilo que é santo (Idea of the Hoty) são aceitáveis, mas podemos concordar que há, no testemunho bíblico, os dois aspectos da revelação de Deus que ele rotulou de tremendum, i. é, a manifestação de Deus, que inspira temor, como Total-mente Diferente; e fascinans. i.é, que atrai bem como repele. É o primeiro elemento que imprime sobre nós o aspecto "diferente" e santo de Deus.

Sua grandeza e Sua glória. Seu poder e Sua majestade, de modo que nos curvamos diante da Sua presença e nos humilhamos como aqueles que reconhecem que há uma distância incomensurável entre nós mesmos como meros homens cujo fôlego está no seu nariz, (Is 2:22) e Ele, o Deus Eterno e Único. Nossa aproximação, portanto, será feita na consciência constante de nossa fraqueza e pecaminosidade; e chega-remos perto com devida reverência e temor, conforme as direções que recebemos em Hebreus 12:28, 29. Não podemos ser do tipo

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"coleguinha" ou irreverente com o Deus que é um fogo que a tudo consome!

(c) Mesmo assim, no paradoxo da descrição de Otto, o Todo-Santo é o Todo-Gracioso, e Seu amor se estende de tal maneira a nós que podemos vir com confiança e com um amor

Uma Comunidade Adoradora

correspondente. A busca agonizante de Lutero: "Como posso assegurar-me de um Deus gracioso?" cumpre-se na revelação de Deus em Seu Filho. Ele é o Deus de toda a

graça (1 Pedro 5:10). Por causa desta verdade revelada, recebemos a coragem de aproximarmo-nos. Este é o tema principal de Hebreus, que faz ressoar a exortação: "Venhamos.., cheguemos perto... aproximemo-nos de Deus por nosso Sumo Sacerdote, Jesus, o Filho de Deus." O Novo Testamento fala muitas coisas acerca da importância da intermediação de Cristo e da Sua presença no céu, em prol do Seu povo. O acesso do cristão a Deus é assim assegurado (Efésios 2:18. Romanos 5:2: 1 Fedro 3:18: Hebreus 7:25; 10:19-22) e suas orações são proferidas em nome do Filho (João

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15:16; Efésios 5:20) bem como seus louvores (Hebreus 13:15; 1 Pedro 2:6). C. E. B. Chanfield comenta: A eficácia de nossa adoração como ação nossa fundamenta-se em Sua ação por nós, em Sua contínua intercessão" (Romanos 8:34; Hebreus 7:25; 1 João 2:l-2);5 e o ofício intercessório de Cristo assume a plenitude de seu significado a partir do fato de ser Ele o Filho e a Revelação do Pai. Aquele a quem adoramos tornou conhecido Seu caráter em Jesus Cristo através de quem nos aproximamos de Deus.

Chegamos, portanto, com confiança, e não com medo,

como se não tivéssemos certeza de Deus. Seguindo os teólogos mais antigos, podemos expressar o assunto da seguinte forma. Nossa comunhão com Deus em adoração não é com medo servil, mas, sim, em temor filial que leva a uma santa coragem e ao amor que adora, mas que nunca se esquece quem é Deus e o que somos diante d Ele.

(d) Deus é único — e deve ser adorado com a exclusão de tudo o mais. Este é o significado do termo "zeloso" quando se aplica a Ele em Êxodo 20:3. Ver também Isaias 42:8. O Novo Testamento leva adiante

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este tema da glória sem igual de Deus, que faz da idolatria um crime de lesa-majestade, e do Seu direito exclusivo de ser louvado por todos os seres vivos (Apo-calipse 4:10, 11; 5:13). A advertência severa de Paulo aos crentes coríntios que não achavam dificuldade em participar de uma refeição no templo idólatra e em comer alimento consagrado ao deus pagão é clara: "Fugi da idolatria" (1 Coríntios 10:14). Há uma exclusividade na lealdade a Cristo que deve ser honrada, custe o que custar (1 Coríntios 10:21). Se esta reverência

A Igreja —

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para o Senhor é exclusiva, e a adoração prestada a Ele é total, então segue-se que os homens não podem ser indevidamente honrados (Atos 10:25, 26: 14.11-18; I Coríntios 3:5,20, nem aos anjos pode ser atribuída uma dignidade que usurpe o lugar de Deus (Colossenses 2:18: Apocalipse 22:9; Hebreus 1:1-14).

Os escritores do Novo Testamento sabem que há aqueles que, numa atitude de desafio, colocam-se no lugar de Deus e procuram reivindicar a homenagem e o serviço dos homens (Atos 12:21-23). O principal destes é Satanás (Mateus 4:9) que procura desviar nossa devoção a Deus para ele mesmo. A escolha, porém, é nítida: "Não podeis servir a Deus e às riquezas" (Mateus 6:2-1). Qualquer que seja o modo de interpretar 2 Tessalonicenses 2:1-12, se "o homem da iniqüidade" estava presente nos dias de Paulo, ou se ainda há de aparecer, a aspiração insensata de quem alega ser Deus é algo paralelo com a posição da besta do Apocalipse que é adorada e cuja boca está cheia de blasfémias (Apocalipse 13: 4 e segs.). E nos dois casos, o fim deles é certo (2 Tessalonicenses 2:8, 9; Apocalipse 20:10).

A verdadeira adoração, portanto, se oferece no Novo Testamento "ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único" (I Timóteo 1:17). Mesmo assim, o Deus invisível revelou Sua natureza em Seu Filho (João 1.18; 2 Coríntios 4:4-6; Colossenses 1:15). Em Cristo temos o retrato perfeito de Deus em forma humana, de modo que nossa adoração deve ter relacionamento com Aquele cujo caráter é real e pode ser apreciado, e por Cristo estamos capacitados a chegar a Deus. Este fato abre diante de nós, naturalmente, o assumo dos atos redentores de Deus.

II. Deus Dá: Suas Dádivas GraciosasAgora nos voltamos para enfrentar de um

ângulo novo, a pergunta: por que devemos adorar a Deus? Desejamos oferecer-lhe nossas ações de graças porque deu a nós de modo tão marcante

Suas dádivas. A adoração é nossa resposta às dádivas de Deus. O ensino bíblico é tão rico que nos envergonha. Deus de dia em dia nos cumula de benefícios, canta o Salmista (Salmo) 68:19 — ARC): e em nossa adoração reconhecemos que Ele é o Doador de toda boa dádiva e todo dom perfeito (Tiago, 1:17). Faz o bem, dando-nos do céu chuvas e estações frutíferas (Atos 14:l7). Boa parte do Antigo Testamento se ocupa com este tema do cuidado de Deus em prover as necessidades humanas: e os assim-chamados "Salmos da Natureza" dão tributo à provi-

A Igreja — Uma Comunidade Adouidora

dência de Deus (e.g. Salmo 101, especialmente w. 14 e segs.). Mesmo assim, Deus é louvado, no próprio contexto da Sua provisão material, pelas bênçãos da aliança. Deuteronômio 26:1 ss. é de especial valor aqui, porque mostra como, encai-xada na oferta das primícias, há uma confissão em forma de credo (vv. 5-9) que celebra a eleição, vocação e redenção de Israel, e a instalação da nação na terra da promessa divina.

Os livros do Novo Testamento ressaltam os enriquecimentos espirituais da vida. As explosões exultantes de Efésios 1:3 ss. e 1 Pedro 1:3 ss, centralizam nossos pensamentos na misericórdia salvífica de Deus em Cristo e no Evangelho. A liberalidade do cuidado e provisão de Deus registra-se, de fato, especialmente no ensino de Jesus (e.g. Lucas 12:22-31); e o poder criador e sustentador de Deus na natureza é um tema do anterna celestial (Apocalipse 4:11), mas não pode haver dúvida quanto ao centro da gravidade no ensino neotestamentário sobre a adoração. O imã que irresistívelmente atrai a Igreja do Novo Testamento ao reconhecimento do amor e misericórdia de Deus é Sua ação salvífica no Filho do Seu amor. A límpida confissão de fé de Lutero: "Cristo o Filho de Deus é nosso Salvador" é

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suficiente para conclamar os acordes mais altos e mais triunfantes da adoração e do louvor. A adoração cristã acha aqui seu verdadeiro centro e sua inspiração principal,6 na medida em que celebra aquele ato poderoso de redenção em Cristo — encarnado, expiador e exaltado (este são os temas do "cântico novo" dos redimidos em Apocalipse 5:9-14); e Sua contínua presença com Seu povo, no Espírito Santo, faz com que nossa adoração seja uma realidade e não (como doutra forma seria) uma forma vazia (Fili.pen.ses 3:3).

III. Deus Espera: Sua Reivindicação Imperiosa

Por causa daquilo que Deus fez por nós — amou-nos, salvou-nos, abençoou-nos, conservou-nos — e ainda continua fazendo, devemos a Ele a oferenda de nossos tributos de louvor e oração coletivos. Como o Apóstolo raciocina em Romanos 12:1, e porque conhecemos as misericórdia de Deus (expostas nos capítulos anteriores de Romanos) que somos conclamados a entregar nossa vida como sacrifício vivo. Este é nosso culto espiritual (RSV). Nesta altura, o dever e o privilégio se encon-

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tram e se unem. É a Deus que devemos nossa adoração, porque somente Ele merece ser louvado "desde o nascente do sol até ao poente" (Malaquias 1:11). Esta reivindicação Sua sobre nós não é tarefa aborrecida e dever incongenial que aceitamos com relutância e desgosto. Pelo contrário, é nosso deleite supremo e ofício alegre corresponder à Sua reinvindicação sobre nós como Seu povo. Longe de murmurarmos e nos queixarmos como fizeram os israelitas (como em Salmo 106 e Miquéias 6) quando o ritual impunha exigências sobre eles, sigamos o exemplo melhor daqueles que ficavam alegres quando soava a chamada: "Vamos à casa do SENHOR" (Salmo 122), e que achavam o máximo prazer em se reunir nos átrios do lugar santo (Salmo 84).

A adoração cristã, portanto, é a mistura feliz de oferecer a Deus nosso Criador e Redentor mediante Jesus Cristo, não somente aquilo que Lhe devemos, como também aquilo que desejamos dar-lhe.

Nenhuma dádiva podemos oferecer Por tudo que do Teu amor recebemos, Senão o que tu desejas: Nosso coração humilde e grato.

Notas do Capítulo I

t. A .$' HcffVít, iYuisfiip :tt -Iruituí hrari \ t<(jntcnicaf Sitidú > in Warship" (Iondrrs. 1959). Jt. J Kj.u«>. (iouexàicntl iu Jynurt Níumqur, l!)5l). C<wfoct<i« indica o siib-lituJo deste úhimo livro. diz respeito ao significado da Festa dos I abei iiátuío» no judaísmo.2. J A K*», The ,\Vtfttr< »{ C.hxt^Uau Wo*\hi;> (L<Hidics. HWSj. pá§. 7.•> c;. L. B. Craníkld <tu. "Oivine and Ftisinnn A« lio». The BibJicat Ccnrcpt. ot Worshíp". lutrrpreiation. xxii. 195$. pá«» SS7-9S.1 R Oito. The idea oj íftr lloly<,YtVwan Hook, T"m |jvjt>reomlt. The Cnncep >.</ Hoiótttf, por O. R J.irw s íl XITUJKS. IÍKÍIJ tem algumas críticas pertinentes da tesedt Òuo

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3. C H. B. Oardield. anino fitada, pig. SVI.6. A íf»)biaii<a <lr C K. R. OanlícJd oportiuij. portanto. 't"uw das piores forma.1 de ingratidão í estar l3o <Kup:idu agiadc«ndo ;i Deus jx>r .Suas incontáveis misciv <ójdras menores que pouco (ewifjo nos sobra para a&radccê-l o poi .Stw Dádiva Sn- piejna", artigo cuado, páç. 39-i.

A Herança Judaica no Templo e na Sinagoga

A primeira comunidade cristã em Jerusalém começou íua existência como grupo dentro do arcabouço da fé judaica ancestral. Pelo menos, era assirn que parecia externamente, poique Tettulo, o "advogado do diabo'' contratado, refere-se com ironia a Paulo como sendo "o principal agitador da seita dos nazarenos" (Atos 24:5); e versículos posteriores em Aros dos Apóstolos confirmam que, aos olhos dos judeus, a Igreja cristã mais antiga parecia sei um pai lido dentro do redil judaico. A mesma palavra, traduzida como "seita" em Atos 24;!>; 28:22 e 24:14, é o termo regular para um partido dcntio do judaísmo. Dessa forma, em Atos 5:17 lemos do partido dos .saduceus e em 15:5 e 26:5 do partido dos fariseus (ver também josefo, Ant. XVIII 1 para estes grupos juntamente com os essênios e a "quarta filosofia" —• os zelotes). Nada lia via, de estranho num exame superficial, se um grupo de judeus de idéias semelhantes se congregasse como agrupamento dos nazarenos.

Havia, no entanto, uma aspecto distintivo que destacava estas pessoas doutras "seitas" judaicas.

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Tratava-se de seu apego à crença de que o Messias já viera, e que Seu nome era Jesus de Nazaré. Logo, parece que o título "Nazaieno" se explica me-lhor por sua devoção a Fie como o Messias que viera de Nazaré (At 2:22: cf. Mateus 2:23). Mesmo assim, nos primeiros dias da vida da Igreja não parece ter havido qualquer desejo de deixar a religião-mãe pelo menos no que diria respeito à prática externa da fé. Os seguidores do Senhor ressurreto "perseveravam em oração" (Atos 1:14), versículo este que dá a entender que os primeiros crentes eram diligentes na "reunião de oração". O termo grego que aqui se emprega é o termo usado paia a

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24 Adoração n<i Igr*ja Primitivacomunhão regulai na sinagoga judaica (Atos 16:1 3, 16); e alguns estudiosos tireram desta palavra a inferência de que os discípulos em Jerusalém se Coimaram em sinagoga.'-A lei da Mi.slma permite que dez homens judeus em qualquer lugar formem uma sinagoga, e nada havia de cismático nesta ação. A descrição dada em Atos 2:42-47 sugere uma continuidade nos cultos do Templo (comparar Lucas 21:52, Atos 3:1), e o emprego dos recintos do Templo para a adoração, juntamente com práticas distintivamente cristãs lais i.omo o "partir do pão" {Atos 2:42, 46) e orações em nome de Jesus (Atos 4:24-30).

A medida em que a Igreja crescia e alargava suas fronteiras na formação, sob a orientação de Deus, de ctfmunidades cristas fora de Jerusalém, recebia na sua comunhão aqueles cujo pano de fundo religioso e cultural fora formado pela sinagoga. Os primeiros convertidos fora da cidade santa foram evidentemente tirados de seções da vida judaica mais influenciadas pelo culto da sinagoga, fcsxes eram os prosélitos yudvvuo*, i.fc, os gentios que expressaram seu desejo de tornar-se judeus pelo procedimento da obediência à Lei, da circuncisão, e de um batismo ritual, e, como classe separada, os ''tementes a Deus" (c onforme são chamados em Atos 10:22, IB:16), i.é, aqueles que ficam ria orla da religião judaica, atraídos a ela e sim pau- zando-se com ela, mas não suficientemente convictos para dar os passos decisivos de uma dedicação total. Para estes homens e mulheres que tinham familiaridade com as tradições da fé judaica e do culto na sinagoga, não menos do que para aqueles que freqüentavam os cultos no Templo na capital (ver Atos 6:7 para a aderência a lgieja cle "muitíssimos sacerdotes"), não haveria necessidade alguma de inventar nov^s formas de adoração. O cristianismo entrou na herança de um padrão de adoração já existente, fornecido pelo ritual do Templo e pela Liturgia da

Sinagoga, assim como também se edifica sobre as doutrinas fundamentais judaicas que tanto impressionavam os convertidos àquela fé, a saber: a crença no Deus únicoe justo, a na Sua chamada a Seu povo no sentido de qu«' suas vidas sejam santas e puras. Pode ser citada a conclusão de T. W. Manson: "Os primeiros discípulos eram judeus por nascença e por < ria- ção, e a probabilidade a priori é que trariam para a nova comunidade pelo menos alguns dos usos religiosos aos quais tinham sido acostumados."2 O pano de fundo da adoraçãoA Herança Judaica no Templo e na Sinagoga

dista primitiva deve ser procurado nestas duas instituições judaicas do Templo e da sinagoga.

} O Lugar do Templo

t, fato singular que os escritores do Novo Testamento mantêm uma atitude de nítida reserva para com o culto do Templo. Na missão e no ministério de Jesus, Ele preocupava- Se com a santidade do Templo de Deus. Chamava-o "a casa de meu Pai" (Lucas 2:49) e o mesmo senso de reverência para com0 edifício como habitação do Deus de Israel se expressa na <>bservação <lo d isc íp u Io em .\ ia rcos 13:1: "Mestre! Que pedras, que construções!" Os rabinos exclamam com exagero perdoável: "Aquele que não viu o Lugar .Santo plenamente construído nunca ria sua vida viu uma construção esplêndida!pois Jo.sefo dá tiíbuto à maneira de os visitantes à capital serem1 media tumente impressionados |>ela arquitetura do Templo e dos seus recintos.11 Nosso Senhor adorava a\i nas íesias e dias santos estipulados (João 2:1a ss.: 7:2 ss.; 10:22 e. naturalmente, há o registro da Sua entrada final na cidade e da ultima ceia da Páscoa). K claro que atribuía muita importância a seu lugar central na vida da Sua própria mça, a cujas tradições antigas atribuía grande valor {cf. João 4:22; Romanos 9:4, 5; Gálatas 4:4).

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Mesmo assim, não há evidência indisputável de que alguma vez ofereceu sacrifícios no Templo, e há muitas evidências que demonstram que rompeu, em certos pontos decisivos, com oitodoxia iabínica das autoridades do Templo em Jerusalém. O c aso que sei ve de prova é a obsei vância da refeição final com Seus discípulos, sendo que. embora ela tivesse muitas feições de uma festa da Páscoa, não era aparem emente a celebração regu-lar da Páscoa. Este assunto ocupará nossa atenção quando chegai mos à Ceia do Senhor na Igreja primitiva, que tem conexão com a Oltirua Oia do Senhor. Por enquanto, basta c hamar a atenção a um 3S{*ecto surpreendente de omissão na última refeição no Cenáculo. Embota os discípulos recebam a ordem de preparar a páscoa (Marcos 14:12. Lucas 22:7) no Cenáculo, a tefeição que se segue é descrita sem alusão a um cordeiro. O regulamento tabínico, no entanto, preceitua que irês coisas são necessárias para a Páscoa: um cordeiro que deve ser ritualmente sacrificado no lecinto do Templo, os pães

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A Herança Judaica no Templo e na Sinagoga

asmos, e as ervas amargas. Como se explica a omissão do primeiro elemento, pois há referência explícita às demais partes do culto?

Dois estudiosos recentes ofereceram as seguintes explicações. E. Stauffer*chamou a atenção à lei judaica que proibia a um apóstata a participação do cordeiro da Páscoa, embora esta mesma lei permitisse que comesse pães asmos e ervas amargas. Aos olhos dos rabinos, Jesus era um apóstata assim, e teria sido impedido de obter um cordeiro das autoridades do Templo. Stauffer também nota que as possibilidades de uma celebração da Páscoa sem um cordeiro são mencionadas na literatura do Século I; e este argumento foi retomado por B. Gartner em seu estudo de João 6.* Josefo. por exemplo, considera a possi- bílidade de uma refeição da Páscoa fora de Jerusalém, na Dispersão dos judeus, onde não haveria disponível um cordeiro ritualmente sacrificado; e até sugere-se que. sem um cordeiro, pode ser observada uma Páscoa válida. A situação histórica de Nosso Senhor como judeu da Galileia conformaria a suposição de que não Se conformasse rigidamente ao padrão da celebração em Jerusalém; este fato é confirmado por Suas refeições da Páscoa na Galileia (e.g. cm João 6). Embora, porém, reverenciasse o Templo como sendo a casa de Seu Pai, não ocupava para Ele nenhum lugar indispensável e nenhum valor mágico (ver João 4:20 ss.).

Sua solicitude principal parece ter sido salvaguardar o santuário como "casa de oração" para todos os povos (Marcos 11:17, citando Isaías 66:7). Por esta razão, esvaziou e purificouo átrio externo dos gentios de todos os mascates avarentos por dinheiro cujo comércio e fraude destruíam a santidade do lugar santo.

Há, porém, uma razão mais profunda desta açãodEleem purificar o átrio do Templo, conforme Ernst Lohmeyer notou com grande percepção.,7 Jesus entrou na cidade cumprindo a profecia do

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Antigo Testamento (Marcos 11:1-11), e parte da-quele cumprimento foi Sua ação em reivindicar o Templo para Si mesmo, declarando-Se assim o legítimo Senhor do santuário de Deus. Este é o significado que Lohmeyer sugere para Marcos 11:11: "E Jesus entrou em Jerusalém, e no templo." Declarou, assim, por esta ação, que a expectativa profética prevista por Isaías agora era uma realidade presente. Esta reivindicação que registrou se resume em Mateus 12:6: "Pois eu vos digo: Aqui está quem (literalmente: o que) é maior que o templo." Esta é uma alusão velada ao Reino que é uma realidade presente na Sua Pessoa e presença entre os homens (Marcos 1:15, Ix 11:20). Segue-se deste pronunciamento autoritativo que Ele é o verdadeiro Senhor do Templo, e que a adoração ali realizada está para cessar, pois uma nova oídem tomou o lugar dela. Mas nosso Senhor fala disto somente com o tom pungente e trágico de Quem honrava tudo quanto havia de melhor ria tradição na fé e nas formas de adoração ancestrais (Marcos 13:2; 14:57-59), embota reconhecesse como uma devoção religiosa externa poderia tornar-se laço e perigo espiritual (cf. Jeremias 7 — o eapitulo inteiro deve ser lido como advertência contra uma confiança cega nas ordenanças religiosas).

A A (ilude de Nosso Senhor

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A atitude de Jesus perante a religião organizada dos Seus dias, portanto, tinha dois lados. Dava valor ao Templo, mas principalmente por causa das instalações que oferecia para a comunhão com Deus e para a oração, mais do que por seu aparato sacrificial. Mesmo assim, na Sua própria Pessoa, en-carnava uma nova ordem que finalmente deslocaria o culto venerável do lugar santoe as oferias cerimoniais. João 4:21-24 é í» resumo mais completo do Seu -ensino sobre a interioridade e realidade da adoração que está aberta a todos aqueles que queiram vir "em espírito eern verdade", e disponível em todos os lugares. I Iá, porém, muitas indicações nos Evangelhos Sinó- licos de que Seu ministério e ensino estavam em desacordo com :t religião ritual dos líderes judaicos dos Seus dias; e que este conflito finalmente levaria a uma cruz. Além da cruz e do corpo quebrado do Messias haveria um novo Corpo, o Corpo de Cristo, e um novo Templo (João 2:19-22). Estas indicações se vêem em questões tais como Sua declaração de que tinha direito próprio de perdoar os pecados, Sua recusa do jejum. Seu desdém para com as leis do sábado feitas pelos escribas e para com aqueles tabus rituais que tornavam a vida tão difícil e jK*sada para o povo comum dos Seus dias (Marcos 2:1-9, 15-17, 18-20 e 23 a 3:6. 7:1-23). Podemos também comparar Lucas 15:1, 2; Mateus 23:1-28; e em Mateus 9:13 e 12:7 justifica não st.imonlc .Sua convivência com publica nos e pecadores aos quais os fariseus despie/avam de modo cspccial, mas também Sua liberdade para contrariar a interpretação que os est ribas davam ao regulamento do sábado, baseando-Se ria profecia de Oséias: "Misericórdia quero, e não holocaustos ' (Oséias 6:6, vei também 1 Samuel 15.22; Salmo 51:16; Amós 5:21-24; Isaías 1:10 ss. ern tom semelhante).

I l üA O Adoração na Igreja Primitiva-

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Não seria estranho se Seus seguidores adotassem a mesma atitude ambivalente para com o culto no Templo. Pedro e João sobem para o Templo à hora da oração (Atos 3:1), mas não se menciona que lotam sacrificai ali. Estevão proclama a verdade do novo Templo (Atos 6:14 — 7:50).*E a linguagem do Novo Testamento a respeito do sacrifício e da oferta está totalmente espiritualizada e sublimada, com alusões somente ocasionais ao calendário judaico de jejuns e festas (Atos 20:16; 21:17 ss., I Coríntios 16:8. Contrastar Colossenses 2:16, 17 Gálatas 4:10). O sacrifício que o cristão tem para oferecer é o "sacrifício vivo" da sua pessoa, consagrada cm entrega e serviço por Cristo. E este seu "culto racional" (Romanos 12:1. 2). O ofício sacerdotal de toda a Igreja (Apocalipse 1:6, 5:10 etc.) já não se acha em qualquer altar terrestre, pois irata-se de oferecer o sacrifício do louvor e das ações de graças (Hebreus 13:15, que juntamente com v. 10 talvez sugira uma referência à Ota do Senho» como ações de graças). Não é necessário ir longe para achar a razão, desta "sublimação". O sacrifício para terminar todos os sacrifícios de expiação já foi oferecido no altar do Calvário, e Aquele que Sr ofereceu, como Sacerdote e Vítima ao mesmo tempo, nunca mais poderá morrer (Romanos 6:9; Hebreus 9:23-28). e não tem necessidade de oficiai como se fosse inadequada Sua obra oferecida de uma vez paia todas (Hebreus 10:11 ss.). Os sacrifícios, das boas obras (Hebreus 1.1:16), da fé (Eilifxmses 2:17V do ministério evangelísneo (Romanos 15:16), das esmolas (Ei li penses 4:18), e da coragem do mártir (2 'Timóteo 4:5) — estes são os sacrifícios que agradam a Deus. A linguagem dos cultos e rituais do Templo permanece — sa< ri- íícios, oferta, sacerdote, e santuário são termos comuns. Mas é reaplicada k adoração da Igreja que não se vincula com qual-quer mediação humana sacerdotal. A Igreja é o santuário do Espírito (1 Coríntios 3:16, 17), um Templo não feito cóm mãos (Atos 7:48; 17:24), e a adoração que a Igreja oferece a Deus é essencial mente espiritual em seu caráter (João 4:23-24. Fili-

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jH-nses 3:3: "Porque nós adoramos pelo Espírito de Deus" — A. V.).

II. A Adoração da Stnagoga

O ministério de nosso Senhor na Galileia foi realizado ao .ir livre e nas sinagogas dos distritos que visitava. Ensinava nas sinagogas, e era Sua prática regular adorai ali aos sábados (Marcos 1:21-28: 3:1 -6, 6:2-3; Mateus 4:23, Lucas 4:15, 16:30. 31 ss-, 44; 6:6; 13:10 ss.; João 6:59; 18:20). Paulo, nas suas v iagens missionárias, fez uso das sinagogas da Dispersão judaica, i.é., os judeus que, embora não residissem na teira santa, procuravam ser fiéis a sua religião ancestral. O registro em Atos é e specialmente enfático quanto a isto (Atos 13:5. 14:1, 17:1, 10, 17; 18:4, 19). E o apóstolo não ficou sozinho nesta prática de empregar a sinagoga como trampolim de onde a mensagem evangélica da esperança de Israel e da salvação fosse enviada para aqueles que se reuniam como judeus dedicados ou como "tementes a Deus", vinculados de modo mais informal; Apolo lez exatamente a mesma coisa em Éfeso (Atos 18:26). Fica claro que a sinagoga judaica foi um elo importante na disseminação das Boas Novas e é mais que provável que (conforme observamos antes, pág. 24) seu padrão de adoração tivesse uma influência formativa sobre a adoração cristã.9

A Estrutura da Adoração na .Stnagoga

Os estudiosos judaicos nos ajudaram a formar uin retrato do padrão essencial da adoração na sinagoga,1" eniboia deva ser confessado que haja alguns assuntos que são debatíveis. Para o período antes da destruição do Templo em 70 d.C, há fontes valiosíssimas de informação contidas no Novo Testamento (especialmente Lucas 4:15-21), mas muito JJOUCOS detalhes precisos são dados em

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qualquer documento contemporâneo. O quadro geral, no entanto, fica razoavelmente claro.

Há três elementos principais: o louvor, a oraçãoe a instrução.

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30O louvor

F a nota de louvot coletivo que abre o mito; assim fica cie acordo com o princípio preconizado no Talmude: "O homem deve sempre proferir louvores em primeiro lugar, e então orar."11 A adoção deste procedimento talvez subjaza a oídem em 1 Coríntios 14:26 que pede que, no começo da lista da adoração coletiva cristã em Corinto, um "salmo" de louvor seja cantado.

O ' presidente" convoca o "assistente" (ver L.ucas 1;20> a convidar alguém da congregação pata começar o culto rom esta "chamada ao louvor". Começa com a exclamação: "Bendizei ao Senhor.. Aquele que deve ser bendito", e o povo responde com a benção: "Bendito seja o Senhor... para sempre. " no espírito de Neemias 9:5. No começo, poilanto, os adoradores são convidados a pensar em Deus e a reconhecer Sua grandeza e bênção.

As orações

As orações na adoração judaica dividem-se em duas partes. O primeiro grupo consiste em duas declarações muito belas (a Yoizcr que significa "Aquele que fotma" e toma o tema de Deus como Criador de todas as coisas, e a Ahabak que significa "Amor" e que se ocupa não somente em rclembiar o amot de Deus para com Seu povo c omo também em cumprir a promessa desLe.povo de cumpiir sua obrigação de amá-I-o. A conclusão é: "Bendito és Tu, ó Senhor, que escolheste em amor Teu povo Israel". Imediatamente a|>ós estas orações segue-se o Shema que é uma confissão de fé e uma bênção alegre ao mesmo tempo. O titulo do Shema é derivado de sua primeita palavra ("Ouve" em Deuteronômio 6:4: "Ouve. Isarael, O SENHOR nosso Deus é o único SENHOR"). Tão logo a congregação chega a palavra "único" — pois o Shema é recir lado como antífona — o líder acrescenta a exclamação

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alegre: "Bendito seja o nome da glória do Seu Reino jjata sempre e sempre." O termo "único", que enfatiza a unidade de Deus, sem pie tem sido a confissão judaica central. Recebe, portanto, destaque especial na Ur urgia; e podemos relembrar que o Rabino Aquiba morreu com esta palavra hebraica "Único"

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Çehad) em seus lábios. Na sua forma inteira, o Shema consiste em Deuicionômio 6:4-9. 11:13-21; e Números 15:37-41.

Segue-se, então, a segunda divisão da oração em conjunto. e o caminho para ela é preparado pela recitação da oração conhecida como "Verdadeiro e firme" (é esta palavra — o Shema' — pata nós eternamente), com sua lembrança de que as promessas de Deus .são certas e fidedignas para Seu povo. A esta altura, o "ministro" conclama um membro da assembléia para dirigir a ' Oração propriamente dita", i.é., as Dezoito Bênçãos. O homem assim nomeado vai para a frente, defronte da Arca.e. tom seu rosto voltado para a Arca, dirige as intercessões uníssonas da congregação, que responde, dizendo "Amém". Estas "De/oito bênçãos" abrangem uma ampla gama de temas. São parcialmente urna expressão de louvor, parcialmente petições por benefícios espirituais e materiais, t parcialmente súplicas pelos necessitados, os j uizes e conselheiros, e o povo escolhido). Podemos captar a tonalidade destas orações ao considerarmos a última: "Concede paz a Israel Teu povo, e à Tua cidade, e à tua herança, e a abençoa-nos todos juntos {lit. "como um"). Bendito és tu, ó Senhor, o Criador da paz," Parece permissível acreditar que estas exatas palavras estavam nos lábios de Jesus enquanto entrava, segundo Seu costume, nu sinagoga para adorar, nos dias dF.lc.

A instrução

Uma vez proferidas as orações, o culto assumia uma forma que deu à sinagoga seu caráter distintivo. Realmente, os próprios judeus a chamavam de "a casa de instr uçâo", pois não há nada que seja mais de acordo com a adoração judaica que a ênfase que é dada à leitura e exposição da Escritura. Em primeiro lugar, a Lei e

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os Profetas eram lidos pelos membros da congregação que vinham para a frente e compartilhavam tia tarefa (conforme o tamanho dos respectivos trechos). Orno a antiga língua bíblica, o hebraico, não era entendida por todos os presentes, um tradutor normalmente verteria as leituras da Escritura para o vernáculo, usualmente -aramaico. Seguia-se, então., a homília ou preleçao baseada na passagem lida. Qualquer pessoa na congregação que fosse considerada apropriadarecebia o convite para pregar este "sennão" — conforme ocorreu tanto em Nazaré (I ucas 4:21 ss.) corno em Antioquia (Atos 13:1.5 ss.). Este culto concluía-se com utna bênção e o "Amém" da congregação.

Havia certas modificações deste padrão básico, conforme a estação do ano e o dia da semana (os dias de feira, as segundas- feiras e quintas-feiras, tinham leituras bíblicas mais curtas!). Mesmo assim, os ingredientes que fornecem esta dieta básica de adoiação na sinagoga — louvor, oração e instrução — se acham ern todos os casos.

Em nossos capítulos posteriores veremos como estes mesmos elementos são descobertos nos

padrões neotestamentários de adoração, juntamente com algumas inovações distintiva-mente cristãs. As evidências que examinaremos nos ajudarão a ver quão bem-fundamentada é a tese de que " a adoração cristã, como coisa distintiva e autóctone, surgiu da fusão, no cadinho da experiência cristã, da sinagoga e do Cenáculo... A adoração típica da Igreja pode ser achada até ao dia cie hoje na união entre a adoração na sinagoga e a experiência sacramental do Cenáculo, e essa união remonta aos tempos neotestamentários".12

Notas de Rodapé do Capítulo 2

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A Herança Judaica no Templo e na Sinagoga

As Orações e os Louvores

do Novo Testamento

Dors tipos de oi ação são conhecidos no ensino e no exemplo da Igreja do Novo Testamento. Há a oração parti- I nlat no lugar secreto da comunhão pessoal entre o crente e seu Senhor. Roa pane do ensino do Novo Testamento trata diretamente com este aspecto d* devoção cristã., seja quando (K-nsamos nas instruções do Sermão do Monte (Mateus 6:5-8), ou nas parábolas de Jesus sobre a oração (Lucas. 11:5-13 e 18:1- 1-1 silo talvez os exemplos mais conhecidos), ou nos muitos pedidos que o apóstolo Paulo faz aos seus amigos rio sentido de oi arem em prol dele e de sua

obra missionár ia: "ajudando-nos lambem vós, com as vossas orações a nosso favor" é seu apelo aos coríntios (2 Coríntios !:Il).

Há. além destas, as orações do próprio Jesus, C j i r e são testemunho eloqüente à realidade e ao pcxler da oração, e ■ igualmente «m guia c inspiração para nós hoje ern nossa vidi« de oração. V rn estudo perceptivo da vida de oração de Jesus será achado no livro de James S. Stewart, The I.ife and Tea- eh irtç of Jesus Chi ist; e este autor demonstra que "o Cristo que <>ra é o argumento supremo em prol da oração", Muita orientação para a oração cristã pode set obtida à medida em que examinamos as ocasiões em que o Senhor orava e o conteúdo daquelas orações. Orava, conforme as informações que rece-bemos, nos momentos críticos da Sua vida — no Seu batismo quando começou Seu ministério 'Lucas 3:21), quando

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A Herança Judaica no Templo e na Sinagoga

escolheu os Doze (Lucas 0:12), na .Sua transfiguração que .se seguiu após o desafio e resposta momentosos ern Cesaréia de Filipe (Lucas íl:28); e na Sua agonia no Jardim (Lucas 22:39-15. Hebreus 5:7 também descreve esla cena ). Na realidade, mor teu — assim < crmo vivia — orando (I.ucas 23:46). Estes episódios na história

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As Orações e os I.ouvores do Novo Testamento>

de Jesus nos

ensinam que buscava a fac e de Seu Pai em tempos especiais de crise e necessidade. Mas também fica claro que a comunhão com Deus era a inspiração diária de Sua vida. A oração, comenta o Professor Stewart, "era uão somente unia parte importante da Sua vida: era Sua vida, o próprio hábito da Sua existência". 1

1 I .ake r Jackson. The Beginnings of Christianity, Vol. I .(londrrs. 1920), pág. 304.2. T. W. Manson. an. "The Jewish Background". Christian Worship: Studies in its History and Meaning, rd. N. Mick kin (Oxford, 1936), pág. 55.3. fc. Sukkah ?)1 b- fitado por W. Grundmamt. Da.i Ewngelium ntuh Markus (Beilim. 1962). pig. 262.•1. Ver A Guerra dos Judeus, Livro V, cap. 5. especialmente seç. 6.5. F. Stauffer. Jesus and His Story (Londres. t rad, mg . I960). págs. 93 ss.6. B. Gartner, John 6 and the Jewish Passover (Lund. 1959). págs. 45 vs.7. K. Lobmeyer, Lord of the Temple (Edimburgo. Tiad. Ing., 1961). págs. 34-35.

E as orações de nosso Senhor eram muito mais ricas quanto ao seu conteúdo do que uma mera lista de pedidos e preferências. A profunda comunhão com Deus (Lucas 9:29); a cxultação das graças (Lucas 10:21 e segs.) e uma intercessão que a tudo abrangia (Marcos 1 0 : 1 L u c a s 23:34; 22:31-32: João 17:9} estes são os aspectos da Sua vida de oração que fixam

8. Ver R Alan Cole. The Xew Temple (Ix>ndres, I950).9. A obra padrão acerca desta dependência c C. W. Dungmorr. The Influence of the Synagogue upon the Divine Office Oxford 194-1). Ver. também. W. O. F.. Oesterley, The Jewish Background of the Christian Liturgy (Oxford. 1925).10. Dois rela ins simples r diretos podem ser mencionados, â parto das obra* mais técnicas: G Dalman. Jesus-Jeshua (Londres, 1929) e o ensaio de P.P. Leverroff sobie "Synagogue Worship in the fiisl century" em Liturgy and Worship, ed. W. K. L. Clarke (l-ondres, 1932).

3534 Adoração na Igreja Primitiva

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22 Adoração na igreja Primitiva

um padrão pata Seus discípulos em todas as eras. Neste aspecto, pois, como nalgumas outras maneiras, "não é o .servo Ttraiot do que seu senhor" (João 13:16; 15:20).

Aquelas passagens dos registros do Evangelho que contêm as próprias palavras de Jesus em comunhão com Deus — Mateus 11:25-27 = Lucas H:2I, 22; Marcos 14:36; João V? — merecem nossa mais cuidadosa atenção, e inspirarão e diri-girão nossa vida de oração como Seus discípulos modernos.

A Oração Coletiva

Mas, além do relato da oração particular, há o registro da oração coletiva du igreja à medida em que a congregação unida dos crentes

dá expressão vocal ao seu louvor e súplica. E este aspecto é nossa preocupação imediata ao considerarmos a adoração da fgreja neotestamentária. Mateus 18:19-20 é talvez o lexío mais conhecido nesta conexão:

"Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobte a terra; concordarem a respeito de qualquer coisa que porventura pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai que está nos céus. Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles/'

Esta referência pode ser entendida à luz de um paralelo de fontes rabínicas. Rabino Ananias disse: '"Se dois se sentam juntos, e as palavras da Lei

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(são faladas) entre eles, a Presença divina — a Shektnuh — pousa entre eles. "2 Para os crentes em Cristo, a promessa do Senhor é de uma presença e poder muito mais ricos. Os dois ou três que são reunidos {por Ele) em nome dEle, recebem a certeza de que Sua presença viva estará ali. Esta verdade se aplica ao culto do domingo, c, realmente, sempre quando a igreja se congrega para administrar sua vida de m ordo com a vontade de Cristo (I Coríntios 5:4). £ o outro lado do dito de Inácio, o bispo e mártir de século H; "Onde estiver Cristo, lá está a Igreja universal."*

Atos dos Apóstolos descreve a comunhão em oração dos i rentes mais

primitivos. Aios 2:42 refere-se a prática da sua ÍÍ união coletiva, seja cm casa (2:46; 4:23 ss.; 5:42) ou no Tem-plo (3:1, 1 1 , v. 12. 42). É interessante observar as circun.stãn-< ias que traziam os cientes juntos, e os pensamentos que eram expressos em oração e louvor articulados. Pr ecisavam de orientação e a buscavam (1:14. 24). Reuniam-se sob a pressão da peiseguição c da hostilidade (4:23-31), e pediam a graça forta- lecedoin do seu Senhor para continuar seu testemunho dEle. Entendiam a detenção e prisão de Pedro (J2:5) como um desabo à intercessão sincera, porque devemos notar que o verdadeiro significado de "incessante" é ''fervorosamente'1

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22 Adoração na igreja Primitiva

(N.E.B.). iilerahneuie, '"'de modo esticado"; e Deus ouviu e respondeu, a despeito da fé vacilante que quase nem esperava a intervenção divina (12:12-17). Reuniram-se em Antioquia p;ua adorar ao Senhor, buscando a orientação que veio através da convocação lei ta pelo Espírito: "Separai-me agora a Barnabé e a Saulo"; e, 4 oi ri mais oi ação coletiva, estes homens que mais tarde arriscaram a vida pelo nome do Senhor Jesus (15:26) foram enviadas para á obra do Evangelho na Ásia Menor, e a missão cristã foi lançada à sua viagem épica (13:1-3). Outras alusões à oração< oleiiva do povo de Deus se acham em 20:36 e 21:5 — trata-se de duas cenas de

tocante emoção de ternura.

O Co7tteúdo das Orações e dos Louvores

Nos registros históricos, pouca coisa há para guiar-nos quando procuramos descobrir o conteúdo das orações na Igreja primitiva. As orações da Igreja cm Atos são expressões do momemo, louvores do fundo do coração e petições que brotam conforme as exigências da hora. Mesmo assim, há alguns prin- f íptos importantes a serem notados.

Atos 1:24. O objeto desta oração, na eleição de Matias, parece ser Deus Pai, a quem Lucas considera o soberano árbitro dos assuntos humanos e o orientador das decisões da Igreja.

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Atos 4:24-30. Podemos notar a invocação dc Deus como "Soberano", em v. 24 (cf. Lucas 2:29). Nos dois textos, o tenno correspondente para o suplicante é "servo". Nas suas orações, a Igreja de Jerusalém reconhecia Deus como Senhor supremo.O título de Jesus, também, é "Servo" (vv. 27, 30), mas aqui é empregada outra palavra grega, que talvez indique a profecia de Isaías acerca do Servo sofredor como seu pano cie fundo. O emprego do Saltério é importante, à medida cm que os cristãos instintivamente, como o Senhor deles (Lucas 23;46), se voltavam aos Salmos de Davi à procura de linguagem para dar expressão às suas emoções mais profundas. Talvez nos dois casos a Liturgia da sinagoga fosse a influência permanente; o Salino 31:5 c uma oração da criança ao anoitecer no lar j tidaico. assim como cantamos "Finda-se este dia que meu Pai me deu ".

Atos 13:1-2 é importante porque dele aprendemos que a Igreja em Antioquia oferecia adoração ao Senhor. É atraente fazer a conexão entre isto e a adoração a Jesus, clamando a Ele ein devoção e súplica, conforme fez Estevão (Atos 7:59). bem como Paulo, também (2 Coríntios 12:8). Muitos estudiosos descobrem hinos a Cristo (como em Filipenses 2:6:11; 1 Timóteo 3:16) nos quais Jesus é louvado com uma adoração que pertence propriamente a Deus mesmo. A frase ' invocar o nome do Senhor" (Atos 2:21, 9:14; 22: 16; Romanos 10:13-14) aponta na mesma direção, porque parece demonstrar que Jesus era saudado como Aquele que era digno da adoração e da dedicação total. E provável que a frase fosse tomada por empréstimo da Escritura do Antigo Testamento, onde denotava "praticar o culto a Javé," "ser um adorador do Deus verdadeiro" (Génesis 6:26; 21:33, etc.). Se é este o caso. nada demonstra mais claramente que Jesus foi colocado no nível do Deus da aliança por estes cristãos judaicos que, tão recentemente, confessavam na sinagoga que Deus é um só, e que, logo no início da era cristã, Jesus Cristo era saudado coin honras divinas e colocado no centro de um culto que obtinha sua inspiração da Sua presença viva no meio dos Seus. A M. Hunter, no seu livro mais magnífico. Paui and his Predee.e.ssors, demonstrou de modo convi- cente que "è totalmente provável que a igreja primitiva adorasse a Jesus como o Messias e Senhor exaltado, que

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22 Adoração na igreja Primitivaisto pressupõe um culto (i.é., uma devoção religiosa apropriada) a Cristo, e que, nesta confissão de Cristo e culto a Ele como o

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Senhor e Cristo exaltado, havia os elementos essenciais de toda a rristologia posterior".^.

Trataremos deste assunto no capítulo seguinte.Existe um irem de evidência que tem considerável

interesse < valor. Na conclusão de 1 Coríntios lemos o termo aramaico, tjue soa estranho, Maranatha (16:22) que nalgumas versões da Bíblia é traduzido "nosso Senhor vem" ou "nosso Senhor, vem!" Parece razoavelmente certo que a segunda alternativa deva ser preferida, e que esta frase é uma oração de invocação, dirigida a Jesus. Linguagem semelhante se acha em Apocalipse 22:20: "Amém. Vem, Senhor Jesus", e a Ordem da Igreja co- nheíida como O Ensino dos Doze Apóstolos (ou Didaquê) emprega esta exala fórmula para um culto que prepara para a mesa do Senhor. A posição exata das palavras no fim de 1 Coríntios é disputada, 5 mas é mais importante reconhecer, nesta oração ao Senhor ressurreto, o modo como é saudado e adorado. O emprego de uma frase aramaica somente pode ser explicado de modo satisfatório conforme a suposição de que Marana lha seja uma senha antiga que remonta aos dias mais amigos da ilgrcja' na Palestina onde o aramaico era a língua falada, porque dificilmente podemos imaginar porque Paulo KC daria o trabalho de incluir um termo (numa língua que era desconhecida aos crentes coríntios) numa Epístola escrita íiqueles que faiavam e entendiam grego a não ser. na realidade, íjue Marana lha tivesse sido aceito como termo litúrgico desde os dias mais primitivos da Igreja. Hoje, fazemos livre uso de uma palavra tal como Amém nas orações, sem parar para lembrar que nós estamos empregando um termo hebraico antigo. Marana lha tornara-se uma parte aceita do vocabulário ic ligioso dos coríntios assim como Amém (- "Que assim seja"} veio a ser parte do nosso.

As Orações e os Louvores do Novo Testamento 37

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22 Adoração na igreja PrimitivaOra, a evidência desta invocação antiga dos cristãos,

dirigida a Cristo, lança uma torrente de Iti/ sobre o modo de os cristãos judaicos adorarem ao Seu Senhor. Marana tfia> pois, não somente c a oração cristã mais antiga que temos registrada,:^, mas também somente jxxle significar que aqueles que ião recentemente tinham invocado o nome do Deus da aliança (o mo "Senhor" na Liturgia da sinagoga 3gora vieram a aplicar o mesmo título divino a Jesus o Messias. Muito tempo antes de a Igreja começai a especular acerca das fórmulas trínitarianas nas quais seus credos jx>steriores haveriam de ser definidos, estava confessando que Jesus eia igual a Deus c digno de tais honras divinas e transcendentes que mais apropriadamente pertenciam ao Deus único, vivo e verdadeiro.. Criador do céu e da terra. A cristologia nasceu na atmosfera da adoração.

A Oração Coletiva nas Epistolas

Não nos è deixada dúvida alguma de que as primeiras comunidades de cristãos invocavam o nome do seu Senhor ressurreto ao reunir-se para a adoração. Como frontispício à Primeira Epístola aos Coríntios Paulo relembra a Igreja (cm i Coríntios 1:2) de que estão unidos com todas as demais assembléias no mundo que "invocam o nome" de um só Senhor que têm em comum. A frase que é empregada neste versículo subentende uma invocação pública de Jesus c uma profissão de fé nEle como Cabeça exaltado do Seu povo. lemos, porém algum exemplo do tipo de oração e louvor que Lhe era oferecido?

E verdade que não existe qualquer descrição objetiva de um culto cristão primitivo de adoração. Talvez a maior aproximação que temos de tal descrição seja o relato da visita de Paulo a Trôade (Atos 22:7-12). Mesmo assim, parece claro que Paulo unha diante de si mentalmente, ao escrever suas Epístolas ou ao ditá-las aos seus amanuenses, um retrato da Igraja reunida para o culto público. As saudações inn<xiuíórias e as orações de abertura não estão lavradas em linguagem comum; pelo contrário, refletem na sua plenitude de expressão e voca-bulário tncomum, a vida litúrgica das Igrejas. A passagem em Efésios 1:3-J4 é uma boa ilustração disto. Três coisas podem ser ditas acerca desta seção notável:

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22 Adoração na igreja Primitiva(i) O pensameriro do Apóstolo é estendido e

cominuado de um tema para outro pelo emprego de cláusulas relativas. É este fato que faz uma leitura pública de Efésios i tão difícil e empolgante!

(ii) As frases não somente são rítmicas como também têm uma eufonia marcante que empresta às palavras uma cadência sonora quando são lidas em voz alta no Grego original.

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(iii) A seção pode ser dividida em estrofes, que corres-pondem aos nossos versículos 3-6; 7-12; 13-14. Em cada estrofe lia u refrão "para louvor da sua glória "(nos vv.6, 12, 14) que vem na conclusão de cada estrofe de modo a completá-la de modo condizente.

É, portanto, com instinto seguro que os estudiosos detec- laram nesta explosão magnífica da oração pessoal do Apóstolo, li ases e termos litúrgicos que toma emprestados da adoração do povo de Deus. São a propriedade comum da Igreja enquanto ria reflete sobre o amor de Deus. a redenção por Cristo e a oj>eração do Espírito Santo nas vidas humanas.

Há ainda outra linha de evidência. Ficamos sabendo em 1 Coríntios 5:1 e segs. que Paulo não se considera um observa- dor desvinculado e imparcial na vida dos seus convertidos. Em lom solene, ordena o que deve ser feito em Corinto como se ele mesmo estivesse pessoalmente presente na congregação. Realmente, está presenteno meio deles(v. 4) enquanto compartilha tom eles da comunhão espiritual. Que este não c um incidente isolado ocasionado pela seriedade da situação em Corinto vê-se em Colossense 2:5: "Pois, embora ausente quanto ao corpo, (ontLido em espírito estou convosco, alegiando-me, e verifi-cando a vossa boa ordem e a firmeza da vossa fé em Cristo." I .ogo, suas orações registradas podem ser uma possessão compartilhada por todas as suas Igrejas.

Além disto, sabemos que suas Epístolas eram para ser lidas nu voz alta nos cultos públicos (Colossenses 4:16, 1 Tessa- lonicenses 5:27), e, enquanto isto era feito, convidava seus leitores a serem seus companheiros de adoração e a comparti lharem com ele um exercício de devoção e louvor do fundo do \ oração. O exemplo mais claro da linguagem da oração na <|ual Paulo entra ao escrever suas Epístolas se acha em Efésios 3:14 ss. Aqui, também, podemos notar as frases compridas e pensamentos elevados; e, no clímax, vem a esplêndida doxo- logia dos vv. 20, 21.

"Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos, ou pensamos, conforme

As Orações e os Louvores do Novo Testamento 39

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o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre.Amém."

40 Adoração na Igreja Primitiva

Algumas Palavras Especiais para a Oração

Voltemo-nos para considerar algumas expressões inco- muns que acharam um lugar na linguagem de oração dos crentes primitivos.

(i) 'Abba sugere a oração de nosso Senhor no Getsêmani, registrada em Marcos 14:32-39: "Aba, Pai, tudo te é possível." Conforme ocorreu no caso de Marana tha em 1 Coríntios 16:22, esta palavra aramaica volta a ocorrer na sua forma original nas Epístolas de Paulo em grego: em Romanos 8:15 e Gálatas 4:6; e é traduzida para o proveito dos leitores originais. Parece certo, portanto, que 'abba era "moeda corrente" nas Igrejas primitivas como título de Deus com especial relevância e profundidade de significado. E a probabilidade disto pode ser demonstrada uma vez que examinamos o sentido preciso desta palavra;7

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'Abba é a designação predileta que nosso Senhor tinha para Deus; e tem sido assunto de muitas pesquisas eruditas. 8 Temos que agradecer aos estudiosos alemães jx*la conclusão de que, embora 'Abba fosse a palavra da criança judia para seu pai terrestre, não há evidência alguma que o judeu piedoso empregasse precisamente esta forma (com o significado de "pai querido", "papai") para Deus. Pelo contrário, empregava urna forma diferente, tal como 'Abinu, "nosso Pai"), mas 'Abba era evitado porque é considerado por demais audacioso e familiar como palavra a empregar para o Rei do Universo. Ora, o Filho de Deus emprega exatamente esta palavra familiar, que talvez não seja surpreendente, visto que desde sua meninice Ele tinha consciência de um relacionamento filial sem igual com Deus (Lucas 2:49). O que é estonteante é que ensina Seus discípulos a fazer o mesmo, o que nos leva à assim-chamada Oração do Senhor, registrada em Mateus 6:9-13 e Lucas 11:2-4. Devemos notar logo de início que é a oração dos discípulos mais do que do Senhor, mas o título já faz parte da nossa língua e pode ser justificado porque foi o Senhor que deu esta oração ao Seu povo em resposta ao pedido, "Senhor, ensina-nos a orar." Há evidência para demonstrar que, bem cedo na história da Igreja esta oração veio a ser a oração-padrão, e que tinha a autorização do Senhor. Já no tempo em que o Didaquê foi com- posto como manual de ordem e prática da Igreja (cerca de 80-100 d.C), esta oração tinha chegado a ser parte integrante da adoração cristã: "E não orem como os hipócritas, mas, sim, como o Senhor ordenou no Seu Evangelho, orai assim... três vezes por dia" (Didaquê*). Foi feita para ser orada coletiva-mente, "quando vós orardes, dizei", conforme ressaltou Ci-priano num século posterior, e Tertuliano (c. de 150-225 d.C.) fala de "orações em comum e súplicas uníssonas", provavelmente tendo em mente a Oração do Senhor.

Quanto ao conteúdo da oração, podemos observar, com T. VV. Manson9 que "separa-se em duas divisões principais, das quais a primeira se ocupa com questões de âmbito mundial, e a segunda com as questões dos indivíduos. Ambos os tipos de questões são considerados como estando nas mãos do Pai. O mesmo Deus que ordena o decurso da história com poder soberano também ministra

As Orações e os Louvores do Novo Testamento 41

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22 Adoração na igreja Primitivaàs necessidades diárias, materiais e espirituais, dos Seus filhos individuais."

Deve ser notado o alcance da oração: estende-se das aspirações mais altas das quais são capazes a emoção e a vontade humanas ("santificado seja o teu nome, venha o teu reino, laça-se a tua vontade no mundo — e por mim") até à necessidade mais humilde ("o pão nosso de cada dia dá-nos hoje"). A oração "revela que Deus Se importa com coisas infinitamente grandes c infinitamente pequenas" e mostra que "a vontade do Pai abrange a totalidade da vida do homem: e a totalidade do homem pode entrar em comunhão com o Pai". É a súmula do ensinamento de Jesus acerca da Paternidade de Deus; e se os homens desejam aprender o que significa isto, é a Oração do Senhor que lhes mostrará.

Embora a Oração não seja referida como tal nas Epístolas tio Novo lesta mento, não pode ser por acidente que Paulo Ireqüentemente começa suas orações pelas Igrejas ao invocar o nome de Deus como Pai. Ora ao Pai de Jesus Cristo — e assim, por implicação, ao Pai de todos aqueles que estão ligados a Cristo numa só família da Sua graça (ver Romanos 8:15-17). E c ertamente é relevante que Paulo, neste parágrafo, emprega o termo 'Abba (como em Gálatas 4:6) para ressaltar o espírito de adoção filial que fica sendo nosso à medida em que o Espírito Santo dá testemunho à nossa membrezia da família de Deus. Talvez até seja verdade que 'Abba nestes textos (como em 1Pedro 1:17) seja urna alusão velada à Oração do Senhor, cuja recitação significante trouxe ao convertido recém-nascido uma profunda consciência do alegre privilégio de pertencerá família de Deus. Assim seria explicada, então, a referência que se segue em 1 Pedro a "crianças recém-nascidas" (1 Pedro 2:2).

(ii) Amém é um termo cristão familiar. No culto da sina-goga, como no Antigo Testamento, era a resposta do fundo do coração e com plenos pulmões ("o som de um grande Amém") do povo diante das palavras doutra pessoa, e como endossa- mento delas (e.g. Neemias 8:6). A palavra significa literalmente "ser firme, verdadeiro", e tem conexão com o verbo "crer". Ocorre de modo mais óbvio no fim das doxologias do Novo Testamento que atribuem Louvor a Deus e a Seu Cristo (Romanos 1:25; 9:5: 11:36;

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16:27; Gálatas 1:5; Efésios 3:21: Fili- penses 4:20; 1 Timóteo 1:17; 6:16. 2 Timóteo 4:18; Hebreus 13:21; 1 Pedro 4:11; 5:11; Judas 25). Apocalipse 5 retrata uma cena dramática, e provavelmente reflete a adoração da igreja militante bem corno da Igreja triunfante no céu. A resposta dos seres viventes, diante da aclamação dos anjos, é "Amem" ao representarem (juntamente com os anciãos) a totalidade da criação redimida, acrescentando seu testemunho e aprovação à peã universal: "Aquele que está sentado no trono, e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos" (vv. 13, 14).

Duas outras passagens estão cheias de interesse. 2 Coríntios 1:20-21 retrata uma cena que mais provavelmente nos leva para o tempo da adoração antiga. Cristo, segundo assevera o Apóstolo, confirma para nós as promessas de Deus, e nossa resposta apropriada à fidelidade de Deus na Sua Palavraéo Amém que aceita e endossa tudo quanto Deus prometeu no Evangelho. "F. por isso que, quando damos glória a Deus, é através de Cristo Jesus que dizemos 'Amém'... É Deus que colocou sobre nós Seu selo, e como penhor do que há de vir deu-nos o Espirito para habitar em nossos corações" (N.E.B.). A terminologia litúrgica da passagem inteira é especialmente rica, e é bem possível que Paulo esteja fazendo alusão ao rito do batismo cristão sob a figura do "selo". Este ultimo veio a ser uma palavra descritiva na Igreja para a obra do Espírito Santo que, no batismo, transmitia aos convertidos uma certeza da filiação divina.

Ern 1 Coríntios 14:16, Paulo repreende a Igreja por sua indulgência desenfreada nos "dons dos Espírito" iu ais exóticos na assembléia pública. Está preocupado em evitar que uma jx1ssoa não instruída na fé, urri de fora. entre na igreja e fique envergonhada por uma demonstração de linguagem estranha. "F se tu bendisseres apenas em espírito* como dirá o indouto o amém depois da tua ação de graças? visto que não entende o que dizes" pergunta o Apóstolo, assim deixando claro que Amém estav a em uso comum corno o assentimento do adorador Aquilo que ouvia dos lábios dos seus irmãos crentes.

(iii) O mesmo versículo citado supra (í. Coríntios 14:15) também contém uma referência à oração de "ação de

1 J-S- Stewart, op. cíi. (Edimburgo, 19531. pág. 10$.

As Orações e os Louvores do Novo Testamento 43

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22 Adoração na igreja Primitivagraças". A presença do artigo definido (oculto em "tua. ação de graças") jKirece sugerir que um tipo especial de oração está em mira. em contraste com o emprego gerai do teimo "dar graças" (como em 2 Coríntios 1:11; 9:12: 1 Tessalonicenses 5:18). Pouc a coisa é dita acerca do conteúdo de lai oração cie Ação de Graças. £ jjossível que a oração à mesa cio Senhor esteja em mente; e mais tarde veremos que é este verbo (Grego: eucharistein — "dar aças") que deu o nome de Eucaristia à Ceia do Senhor como ocasião em que. de modo preeminente, a Igreja cristã oferece louvor e reconhecimento grato das bênção, cia redenção em ('risto. Mesmo assim, nas Epístolas Pastorais, lemos acerca de lais orações de Ações de Graças que não têm conexão com a mesa do Sernhor — em 1 Timóteo 2:1 e 4:4. 5. Este último trecho é especialmente relevante, porque dá indício das ações de graças pelo alimento.

Nosso Senhor, nos Evangelhos, sempre bendizia a Deus antes de urna refeição, e rendia graças depois dela (Marcos 6:41; H:6; 14:22-23; Lucas 24:30. João 6:11, 23). Esta atitude estava de acordo com o costume judaico que dava considerável importância às "ações de graças antes das refeições" que não somente reconhecia Deus como Criador e Supridor cio alimento, mas também "consagrava" a comida na mesa para o consumo humano.10 Paulo semelhantemente aceita a verdade cie Deus como Doador de todo o bem (I Coríntios J0:26. citando .Salino 24:1: "do Senhor é a terra") mas. captando o espírito do seu Senhor (em Marcos 7:1-9), recusa-se a permitir distinções com-plicadas entre comidas "puras" e "impuras" — um tema destacado da discussão rabi nica11 —■ para privar a ele mesmo ou àIgreja o benefício da criação de Deus (1 Timóteo 4:4, 5). A única coisa que poderia advir disto seria a aceitação ingrata e impensada da comida. Mas participar dela "com ações de graças" significa que, decerto, podemos "comer e beber" para a glória de Deus (I Coríntios 10:31).

Outras orações de gratidão a Deus e ao Seu Filho estão espalhadas em todas as parles do livro do Apocalipse. O vi-dente, arrebatado no Espírito no dia do Senhor (1:10), registra as visões que teve da hoste celestial que adora a Deus sem cessar (4:8), A linguagem que emprega, no

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entanto é a da Igreja sobre a terra; em 11:16-18 podemos ouvir de longe alguma coisa dos hinos de adoração e de ações de graças que se oferecem:

"Graças te damos.. Senhor Deus. Tcxlo-poderoso, que és e que eras,porque assumiste o teu grande podei e passaste a reinar."

Notas do Capítulo S

As Orações e os Louvores do Novo Testamento 45

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■>. YVi -C.F.D. Moulf, Worship <>< the \'cw Teítament (Lundrc». I9õí>>. P. 27fi. fi. Assim A. Hamiriüii, La Priire: Íjc Nouveau Testament. (Tournai. \%9). p. 276 7 Para a discussão sobre o significado do Abba. ver Theological Dictionary uf { f i e New Testament, Vol. T (Grand Rapids, pâg*. 5-6 (v. 0 pai Nosso:

A Ora(ã'o do Senhor. J. Jeremias, cd. Paulinas). f< A dilerenca da redação é meJhoi explicada (juntamente cot« J. Jeremias, O Seitnáo da Montanha Rd Paulina* pág 22) pelos auditórios diíeiemes em mira. Em Mateus, iraia-.se de um auditório judaico-tristão, ao passo que a versão 1 uca na c uma instrução gentia cristã sobre oração 9. Í.VV. Mansoa. O F.nsirto de Jesus ASTESP, pág. li 3. .Seu traia men to (págs. 1 1 3 ss.) é especialmente valioso, conforme as duas frases que se seguem supra demonstrara Para um estudo mass mente e sugestivo, ver W I.üihi. Lord's Pr«yer (Edijiibuigi», Trad., Ing., 1961). 10 O tratado Berakolh ("Bênçãos") na Mishna trata destes assuntos. Vet, tamlxjm. a discussão de O.A. Michell, ExtchariUte Consecration in the Primitive Church (Londres. 19-18).U. Ver o tratado 'Abodah Zurah ("Culto E&oaiiho") na Mishna.11. Vcr b. Berak. 32a.12. W. I). Maxwell, An Outline of Christian Worship (Oxford. 1945) pág. 5.2, Eílt "dito" è eirado da obra judaica "Os Ditos dos Pâi»'YPirqe 'Aboth) iii, 2 (Panbv,

The Mishnah, Oxford, 193.1 pàg, 4.S0). Baseia-se em Malaquias 3:1 tf.3 Esrnimeanos, ciii:2.1. A.M. Hunter. Paul atid ftis PredccexwTs (segunda edição: Londres. i9f»l). pág.

82. Ver também o estudo detalhados de A.F..J. Rawltmon. The Nevj Testament Doí-mVw ofjhe Chriií (Londies, lfJííft) r, pata a adorarão a Jesus na Igreja do Nov-o Testamento, J.M. Nielen, The Earlirsf Christian Liturgv (Londres, Trad. Ing , 1941).Quanto ao úJrimo assunto na declaração do Professor Huiitei, è interessante notar Fi li penses 2:.rj-Il, onde o Oisu» entronizado é saudado como Senhor e relembrar a conc lusão semelhante de J. Jeremias sobre esta passagem: '" Visto que este hino a Cristo é psé-paulmo, é a evidencia mais antiga ero prol do... ensinamento dos três níveis da existência de Cnsto" (i.é, pré-exisieme, encarnado e exaltado). Este ensino, assevera ele, foi básico para a etistologia desenvolvida dos tempos posteriores. An. "Zut Gedankerifühnmg in den paulimschen Bnefen,'" Siudia Paulino (ed. J.N. Sevcnsier e W.C van Unnik: ffaarlem, J953}, pág.tW.

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