Administração escolar_estudos

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ISSN 2237-258X Revista Educação e Fronteiras On-Line, Dourados/MS, v.4, n.10, p.164-168, jan./abr. 2014 164 RESENHA ______________________________________________________________________ ADMINISTRAÇÃO ESCOLAR: ESTUDOS 1 Andréia Nunes Militão LIMA, Licínio C. Administração Escolar: Estudos. Porto, Portugal: Porto Editora, 2011. A obra Administração Escolar: estudos, de autoria do renomado investigador Licínio C. Lima, é composta por seis capítulos e reúne trabalhos, revisados e ampliados, anteriormente publicados, seja em revistas especializadas, seja em intervenções acadêmicas. Os três primeiros são dedicados a aspectos específicos da realidade escolar portuguesa, esmiuçando questões sobre a administração e a organização escolar. Os capítulos subsequentes detêm-se em questões de ordem metodológica. Apresentado em língua portuguesa, o livro totaliza 175 páginas. Os capítulos que integram o presente livro resultam da trajetória de investigação do autor durante as duas últimas décadas acerca da administração do sistema escolar e das escolas portuguesas. Dessa forma, a obra traz um panorama dos estudos que foram realizados em diferentes momentos abordando a realidade educacional portuguesa. A referida obra inaugura a Coleção Educação e Formação, publicada pela Editora Porto, sob a coordenação do professor José Augusto Pacheco. Assume, portanto, duplo caráter, por um lado tem um caráter didático e por outro tem profundidade no trato das questões de ordem teórico-epistemológica. A leitura da obra destina-se aos pesquisadores da área educacional, em especial àqueles que vêm se debruçando em torno de investigações sobre políticas públicas, administração e gestão, autonomia, assessoria e organização das escolas. 1 Resenha livre da obra: LIMA, Licínio C. Administração Escolar: Estudos. Porto, Portugal: Porto Editora, 2011. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP, campus de Presidente Prudente. Membro do Grupo de Pesquisa Formação de Professores, Políticas Públicas e Organização do Espaço Escolar (GPFOPE). Bolsista da agência de fomento FAPESP. Atualmente realiza Estágio Científico Avançado na Especialidade Organização e Administração Escolar junto à Universidade do Minho, Portugal, sob a supervisão do Prof. Dr. Licínio C. Lima.

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Resenha da obra "Administração escolar: estudos" de Licinio Lima

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    Revista Educao e Fronteiras On-Line, Dourados/MS, v.4, n.10, p.164-168, jan./abr. 2014 164

    RESENHA

    ______________________________________________________________________

    ADMINISTRAO ESCOLAR: ESTUDOS1

    Andria Nunes Milito

    LIMA, Licnio C. Administrao Escolar: Estudos. Porto, Portugal: Porto Editora, 2011.

    A obra Administrao Escolar: estudos, de autoria do renomado investigador

    Licnio C. Lima, composta por seis captulos e rene trabalhos, revisados e ampliados,

    anteriormente publicados, seja em revistas especializadas, seja em intervenes

    acadmicas. Os trs primeiros so dedicados a aspectos especficos da realidade escolar

    portuguesa, esmiuando questes sobre a administrao e a organizao escolar. Os

    captulos subsequentes detm-se em questes de ordem metodolgica. Apresentado em

    lngua portuguesa, o livro totaliza 175 pginas.

    Os captulos que integram o presente livro resultam da trajetria de investigao

    do autor durante as duas ltimas dcadas acerca da administrao do sistema escolar e das

    escolas portuguesas. Dessa forma, a obra traz um panorama dos estudos que foram

    realizados em diferentes momentos abordando a realidade educacional portuguesa.

    A referida obra inaugura a Coleo Educao e Formao, publicada pela

    Editora Porto, sob a coordenao do professor Jos Augusto Pacheco. Assume, portanto,

    duplo carter, por um lado tem um carter didtico e por outro tem profundidade no trato

    das questes de ordem terico-epistemolgica.

    A leitura da obra destina-se aos pesquisadores da rea educacional, em especial

    queles que vm se debruando em torno de investigaes sobre polticas pblicas,

    administrao e gesto, autonomia, assessoria e organizao das escolas.

    1 Resenha livre da obra: LIMA, Licnio C. Administrao Escolar: Estudos. Porto, Portugal: Porto Editora,

    2011. Doutoranda do Programa de Ps-Graduao em Educao da Faculdade de Cincias e Tecnologia da

    UNESP, campus de Presidente Prudente. Membro do Grupo de Pesquisa Formao de Professores, Polticas

    Pblicas e Organizao do Espao Escolar (GPFOPE). Bolsista da agncia de fomento FAPESP. Atualmente

    realiza Estgio Cientfico Avanado na Especialidade Organizao e Administrao Escolar junto

    Universidade do Minho, Portugal, sob a superviso do Prof. Dr. Licnio C. Lima.

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    A temtica central administrao escolar percorre todo o livro, ora se

    referindo aos processos de mudanas no sistema educacional portugus, ora tratando de

    questes metodolgicas.

    Ao elaborar o verbete2 administrao escolar, Lima localiza a origem da

    expresso j durante o sculo XIX e a atribui a Compayr. Para o autor, a terminologia

    rene tanto as prticas de administrao como tambm remete a um campo de estudos.

    Embora considere o conceito de Administrao Educacional mais geral, Lima defende que

    o seu uso no deve obliterar o conceito de Administrao Escolar, de uso mais recorrente

    em Portugal e que d ttulo obra ora analisada.

    No primeiro captulo Administrao e autonomia das escolas, o autor examina a

    administrao do sistema escolar portugus, destacando administrao (governo) das

    escolas primrias e secundrias. Tema caro aos investigadores portugueses, para o autor a

    autonomia eleita tambm como elemento prioritrio para o entendimento das polticas

    referentes administrao escolar portuguesa.

    Ao final desse texto, Lima identifica que aps a promulgao da Lei de Base de

    1986, a questo da autonomia no se materializou em prticas organizacionais e

    administrativas, em que pese haver permeados os discursos e normativos legais. Outro

    aspecto observado com relao presena de uma direco escolar atpica, ou seja, a

    administrao da escola ocorre ao nvel do Ministrio da Educao e no no interior das

    escolas, portanto, h ausncia de autonomia.

    No texto Modelos de governo das escolas e universidades: a progressiva eroso

    da gesto democrtica, o autor historiciza o processo de implementao da gesto

    democrtica em todos os nveis de ensino em Portugal, por meio do Decreto de maio de

    1974 (Decreto-Lei n 221/74, de 27 de maio). O autor chama a ateno para o fato de que

    essa conquista histrica no se deu sem a efetiva participao dos atores escolares. No

    entanto, a gesto democrtica foi decretada sem o acompanhamento da descentralizao

    da administrao escolar e sem autonomia, necessrias para a efetivao da to desejada

    gesto democrtica.

    2 LIMA, L.C.V.S. Administrao escolar. In: OLIVEIRA, D.A.; DUARTE, A.M.C.; VIEIRA, L.M.F.

    Dicionrio: trabalho, profisso e condio docente. Belo Horizonte: UFMG- Faculdade de Educao, 2010.

    CDROM.

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    Na sequncia, o autor localiza na dcada de 1980 a emergncia de um processo

    de desvitalizao da gesto democrtica, em especial, dos normativos legais e dos

    discursos polticos.

    Ao final desse captulo, o autor conclui que vem ocorrendo um processo de

    enaltecimento da categoria autonomia em detrimento da categoria gesto democrtica.

    Entretanto, a autonomia vem tomada numa perspectiva gerencialista, na expresso do

    autor, est se vivenciando um processo de ps-democracia gerencial.

    O terceiro captulo intitulado O agrupamento de escolas como novo escalo da

    administrao centralizada discute, dentre outras questes, o processo de agrupamento das

    escolas portuguesas. Para o autor, esse modelo de organizao passa a se constituir no

    lcus estratgico do governo no que se refere administrao das escolas. Contudo,

    confere cada vez menos centralidade s escolas, constituindo-se ao mesmo tempo num

    modelo de administrao central e desconcentrada.

    Os trs captulos subsequentes tratam de questes de ordem metodolgica e,

    dessa forma, contribuem para a consolidao e as reflexes sobre esse campo de estudos.

    O recurso da contratao de assessorias para a formulao de polticas pblicas,

    em especial, na rea educacional tem-se disseminado na atualidade nos mais diferentes

    pases. Assim, no quarto captulo, intitulado Assessoria, saberes e poderes na produo de

    polticas em educao, a temtica abordada com criticidade pelo autor.

    A pretensa neutralidade das assessorias constitui-se em aspecto destacado por

    Lima. Para o autor, embora comporte um saber pericial, o mesmo no pode prescindir de

    sua politicidade. Aspecto que no pode ser ignorado que o decisor poltico ao recorrer

    determinada empresa de assessoria e/ou de consultoria externa, a priori, opta por um grupo

    que tem valores, objetivos, vises de mundo e interesses especficos.

    Por fim, ressalta que a formulao de polticas pblicas educacionais so mais

    burocrticas, sobretudo, porque sua legitimidade est acoplada necessidade de se recorrer

    aos saberes periciais dos especialistas.

    No quinto captulo, A escola como categoria de investigao, o autor detecta

    e nomeia as diferentes formas de tratamento que tm sido atribudas Escola nas

    investigaes do campo educacional: a escola jurdico-formal, a escola como reflexo, a

    escola como invlucro e a escola como coleo. Para o autor, tem sido recorrente tratar a

    categoria escola sem a preocupao de contextualiz-la.

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    Destaca, tambm, que o processo de investigao deve ser embasado em

    modelos organizacionais analticos ou interpretativos, entendidos pelo autor como

    lentes que acompanhariam nossas leituras acerca da organizao escolar.

    Os estudos que tratam a escola sob o vis jurdico-formal e/ou como reflexo tm

    em comum o fato de colocar os sujeitos numa posio de pura passividade. Entende-se que

    essas perspectivas tm ocupado maior espao nos estudos sobre a escola.

    Tece crticas s pesquisas que privilegiam o enfoque jurdico em detrimento de

    uma investigao que olha para a organizao escolar em ao, uma vez que as mesmas

    acabam por ignorar que, no momento da sua concretizao emprica, extravasando j as

    fronteiras dos textos legais, o seu carter geral e singular confrontado com a pluralidade

    de escolas concretas, em aco concreta (LIMA, 2011, p. 152). Portanto, adotar o vis

    jurdico nas pesquisas sobre Escola, trabalhar na perspectiva do que deve ser e no do

    que est sendo. Soma-se a essa vertente a escola como reflexo, por esta ser vista como

    espao de reproduo e no de produo, em especial, de agentes/agncias externas. O

    autor chama a ateno para o fato de os pesquisadores, ao adotarem esse modelo de escola,

    no perceberem as possveis desconexes entre o plano da ao e a ao concretizada, ou

    seja, marcas de infidelidade normativa.

    Outras duas abordagens tm sido recorrentes na anlise da escola: ora como

    invlucro, circunscrita mera descrio, por vezes superficial, e ora como coleo. No

    entanto, para o autor, a Escola se

    constituindo uma organizao formal, dotada de objetivos, recursos, estruturas,

    tecnologia, etc., necessariamente habitada por actores sociais concretos que so

    responsveis pela aco organizacional, ou seja, por uma acepo de organizao

    no s como unidade social, mas tambm como atividade de organizar e de agir

    a organizao em aco -, no apenas um nome (organizao) mas tambm um verbo (organizar) (LIMA, 2011, p. 155).

    Na perspectiva do autor, torna-se fundamental analisar a organizao escolar em

    ao, sobretudo, porque, dessa maneira, confere-se aos atores escolares certo

    protagonismo, ao invs de serem tratados como sujeitos amorfos, sobredeterminados por

    regras formais. Portanto, trata-se de valorizar o estudo da organizao em ao.

    Partindo da premissa em torno da qual as transformaes no campo educacional

    no se operam por meio de ofcios, o autor defende que a ao humana interfere

    sobremaneira no processo de implementao de uma dada legislao. Essa a tnica do

    captulo seis, que encerra o livro. Denominado A legislao escolar e os ofcios da

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    mudana em educao, tem como foco a anlise do conjunto de textos que fundamentam

    e/ou pretendem fundamentar a ao concreta das escolas.

    O autor prope, ainda, que o estudo das organizaes escolares seja pautado por

    dois planos: o plano das orientaes para a ao e o plano da ao. A partir dessa

    perspectiva terica, ser possvel captar a organizao escolar com maior profundidade, ou

    seja, captar aquilo que propagado e aquilo que concretamente ocorre. Portanto, para o

    autor torna-se necessrio analisar a escola em toda sua complexidade, ora como locus de

    reproduo poltica, social e normativa e, simultaneamente, como locus de produo

    (LIMA, 2011, p. 170).

    Finaliza o texto, explicitando que investigaes embasadas somente em

    abordagens normativas tendem a chegar a concluses equivocadas. Na acepo do autor, a

    legislao trabalha com o que deve ser e no com o que a escola est sendo.

    Embora a obra apresente um panorama da administrao escolar no contexto

    portugus, historicamente caracterizado por um sistema educacional centralizado, portanto,

    diferente do modelo brasileiro, a realidade portuguesa oferece pistas para se pensar

    nuances da administrao educacional brasileira.

    Pelo exposto, denota-se a importncia da obra Administrao Escolar: estudos

    que tem como fio condutor a anlise e o aprofundamento terico-epistemolgico de

    elementos constituintes da administrao escolar. Por isso, recomenda-se a sua leitura por

    pesquisadores da rea educacional, em especial, estudiosos das polticas pblicas e

    profissionais que se encontram no exerccio profissional.

    Recebido: 29/04/2014

    Aprovado: 05/05/2014