Adeus Lênin: um filme de ficção ideologicamente real
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Adeus Lênin: um filme de ficção ideologicamente real
Amanda Turano | [email protected]
Graduanda do curso de Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP
Eduardo Marcondes | [email protected]
Graduando do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda
pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP
Fernando Carvalho Tabone | [email protected]
Graduando do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda
pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP
Gustavo Haruki Kume | [email protected]
Graduando do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda
pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP
Resumo
Resenha do longa metragem “Adeus, Lênin!”, produzido na Alemanha em 2003, por
Wolfgang Becker, a partir de uma visão critica da influência ideológica à realidade presente
nos discursos, ou, acontecimentos decorridos no filme. A resenha ocorre embasada nos
estudos de autores como Mikhail Bakhtin, Maria Lourdes Motter, Ecléa Bosi, Humberto Eco
e Walter Lippmann.
Introdução
O presente estudo tem como objeto o filme “Adeus, Lênin!”, produzido na Alemanha em
2003, por Wolfgang Becker, e busca realizar uma resenha a partir de uma visão crítica da
influência ideologica à realidade presente nos discursos, ou, acontecimentos decorridos no
filme.
O longa metragem traz a história da personagem Alexander, que vive na Alemanha
Oriental em meados de 1978. Sua mãe sofre um ataque cardíaco e entra em coma. Quando ela
retoma a consciência, a Alemanha Oriental já havia sofrido diversas modificações e estava
praticamente imersa na cultura Ocidental. Porém, a mãe de Alex não deve sofrer emoções
fortes segundo recomendações médicas. Então, Alex “recria” o mundo oriental para sua mãe,
através de mobílias, alimentos, comportamentos, notícias, pessoas, etc.
Em função da riqueza do objeto, elegemos apenas algumas cenas expressivas para
análise profunda. Para tal, nos basearemos em autores como Mikhail Bakhtin, Maria Lourdes
Motter, Ecléa Bosi, Humberto Eco e Walter Lippmann.
No tocante a analise, faz-se válida uma ressalva: o filme é originalmente alemão,
portanto, a real análise estará baseada na sua tradução para a língua portuguesa. Temos
consciência de que algumas expressões são intraduzíveis, já que cada língua possui
características ímpares, que não podem ser compartilhadas com outras. E, por conseguinte,
toda a linguagem do filme deixa de ser parcial, já que passa pelo “crivo” do tradutor, ou seja,
se compararmos a linguagem original com a traduzia, além das diferenças na impossibilidade
de tradução de algumas expressões, ainda encontraremos traços do interpretante da língua.
O objeto e o signo ideológico
A palavra é um fenômeno ideológico e condição precípua das relações sociais. Em sua
essência, a palavra é neutra, mas torna-se tendenciosa de acordo com o contexto ou com seu
emissor. No caso do filme, podemos citar as palavras “ocidental” e “oriental” com uma forte
carga valorativa. E, se compararmos com os dias de hoje, elas não carregam um significado
tão forte, pois os contextos histórico e social são bem diferentes.
Um ponto importante para lembrarmos é que o processo de tomada de consciência de
uma ideologia só é promovido por meio dos signos, e estes só emergem da interação social,
ou seja, entre uma consciência e outra. O signo só existe em função do outro e é algo do
mundo exterior, refletindo seus resultados apenas no exteriormente.
A dicotomia infra-estrutura/superestrutura foi sugerida por Marx, ainda em 1859
“Na produção social da sua vida, os homens estabelecem relações definidas que
são independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a uma
fase definida de desenvolvimento das forças produtivas materiais. A soma total
dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base
real, sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política e à qual
correspondem formas definidas de consciência social. O modo de produção da
vida material condiciona os processos social, político e intelectual da vida em
geral”. (MARX apud BARBOSA, 2001: 84)
Essa relação permeia o filme inteiro de forma bastante inteligente, e é interessante notar
como os símbolos do capitalismo e do socialismo são facilmente identificáveis pelo público-
alvo do filme, sendo inclusive essa a intenção do diretor, uma vez que caso a identificação
não fosse imediata, certas cenas não fariam sentido. Sob esta perspectiva, o filme ganha
contornos metalingüísticos, uma vez que é preciso que tanto os personagens quanto o público
reconheçam os mesmos símbolos e ideologias impregnados nas cenas. Estes símbolos
remetem sempre a um objeto material e a uma idéia. Assim, um produto de consumo,
monumento ou um objeto pode ser transformado em signo ideológico.
Bakhtin explica que os objetos físicos podem converter-se em signo, mas, mesmo assim,
continuar fazendo parte da realidade material. Porém, com essa nova faceta, o objeto físico
passa não só a refletir a realidade, mas refratá-la. Essa refração dá-se por meio das ideologias
de cada grupo na sociedade.
Talvez o melhor exemplo disso seja a cena em que a mãe recebe a visita de dois
escoteiros, que na verdade eram crianças contratadas pelo filho para enganar a mãe, e
enquanto os dois garotos cantam músicas louvando a Alemanha Oriental, a mãe vê pela janela
um enorme anúncio de Coca-Cola sendo colocado na parede do prédio vizinho. O riso é
imediato ao se vislumbrar as letras brancas tão conhecidas da marca Coca-Cola sobre o fundo
vermelho, e a razão disso está na relação entre a força e o poder que esta empresa tem nos
mercados capitalistas, ou seja, a infra-estrutura, e como por conta disso ela se tornou um dos
símbolos desse modelo econômico, ou seja, a superestrutura. Bakhtin descreve bem o que
ocorreu com a marca Coca-Cola ao dizer que “a cada etapa do desenvolvimento da sociedade,
encontram-se grupos de objetos particulares e limitados que se tornam objeto da atenção do
corpo social e que, por causa disso, tomam um valor particular. Só este grupo de objetos dará
origem a signos” (BAKHTIN, 1981: 44).
Outro ótimo exemplo desta relação são as confusões por conta de uma marca de picles
que a mãe costumava comer. Em economias socialistas, não existe concorrência de mercado,
e portanto não há várias marcas disputando o consumidor. Assim, uma única marca de um
produto acaba se tornando preferência nacional (até por falta de opção). No caso do filme, o
fato de existir somente uma marca de picles, por conta do sistema econômico socialista (infra-
estrutura) faz com que este adquira um poder simbólico muito forte para a mãe
(superestrutura). Para esta, o produto em si não significa nada, mas sua marca representava
Alemanha Oriental, e é bastante simbólico que com a queda do muro e o fim do comunismo,
estas marcas únicas e representativas desapareceram dos supermercados, como citado em
Bakhtin “Qualquer produto de consumo pode, da mesma forma, ser transformado em produto
ideológico” (BAKHTIN, 1981: 30). Os mesmos supermercados que surgem com os mais
variados produtos e marcas, onde funcionários aparecem colocando preços em latas de Pepsi.
Esta cena também é bastante representativa do conceito elaborado por Marx
“a transformação de toda a imensa superestrutura, na revolução social que começa
com as modificações de relações de forças produtivas e de relações de produção, é
um processo no qual os homens se tornam conscientes desse conflito e o
solucionam através de formas ideológicas que passam a incluir tanto o religioso,
estético ou filosófico, como também o jurídico e o político” (MARX apud
BARBOSA, 2001: 85)
Por fim, a cena talvez mais emblemática, cena inclusive que dá título ao filme, é aquela
em que a estátua de Lênin é levada por um helicóptero por sobre as ruas da antiga Alemanha
Oriental. Como disse Bakhtin, “o tema e a forma do signo ideológico estão
indissociavelmente ligados” (BAKHTIN, 1981: 45) e por isso a imagem de Lênin fazendo
uma saudação é das mais emblemáticas do socialismo. Ao colocar esta mesma imagem sendo
carregada por um helicóptero, a mesma saudação imediatamente se transforma em um gesto
de despedida, como se o socialismo estivesse dizendo adeus à mãe e seus sonhos de um
mundo socialista idealizado. Além da montagem muito bem feita de toda a cena, é evidente
que o impacto se deve ao fato de ter se criado uma superestrutura em torno do que este
governante realizou durante seu governo, ou seja, como ele trabalhou a infra-estrutura da
sociedade que comandava.
Distorção da realidade
Bakhtin afirma que a linguagem sempre apresenta enunciações precisas, implicando em um
contexto ideológico preciso. Assim, o que pronunciamos são mais que palavras, e sim
verdades, mentiras, a realidade em si.
Através da manipulação da língua e dos signos, somos capazes de distorcer completamente a
realidade, possibilitando a projeção de praticamente qualquer ideal.
“O conhecimento do mundo pelo homem se realiza num duplo
movimento, num processo dialético em que sujeito e objeto se influenciam
mutuamente. A linguagem, como resultado dessa interação, se constitui como
mediação que não só reflete a realidade, mas também a projeta”. (MOTTER,
2002: 43)
Após o ataque cardíaco de sua mãe, o protagonista do filme decide isolá-la da
realidade da queda do socialismo na Alemanha Oriental para não forçá-la e correr o risco de
sofrer outro colapso.
Assim, Alexander, realiza uma série de dissimulações para fazer com que sua mãe
acreditasse que tudo continuava da mesma maneira e dentre eles, destacam-se as filmagens
simulando a antiga rede televisiva do governo socialista, a Deutscher Fernsehfunk (DFF).
O protagonista, a pedido de sua mãe, coloca uma televisão no quarto em que ela estava
se recuperando. Para não passar a programação nova, da Alemanha unificada, Alex coloca
diversas fitas com gravações de programas antigos, que, devido ao caráter notadamente
padrão e repetitivo de reafirmação, faz com que sua mãe não se lembre que afetivamente
estava vendo notícias passadas, que ocorreram antes de seu ataque cardíaco.
Estudando a linguagem do noticiário, o protagonista e seu companheiro de trabalho
Dennis realizam três falsas matérias para introduzir as mudanças que a unificação trouxe à
Alemanha Oriental.
O primeiro ocorre para, de alguma maneira, justificar a enorme bandeira da Coca-
Cola, empresa capitalista, que sua mãe visualiza, por acidente, da janela de seu quarto. Para
tal, justificam com uma falsa descoberta: afirmaram que a receita original da Coca-Cola era
na realidade da própria Alemanha Socialista, e que sua patente estava sendo indevidamente
utilizada por empresas capitalistas.
A segunda simulação ocorre para justificar a presença de pessoas da Alemanha
Ocidental no prédio em que moravam. Assim, o falso noticiário afirma que o governo
permitiu a entrada de alemães ocidentais que buscavam uma vida melhor no socialismo.
E, finalmente, a terceira falsa reportagem conduziu sua mãe à idéia de que as
Alemanhas oriental e ocidental agora formavam somente um país. Para isso, o protagonista
utiliza inclusive uma figura que durante o socialismo era de grande influencia pública, o
cosmonauta Sigmund Jähn, que na reportagem tornara-se o novo chefe de Estado. Ele então
afirma que abriria as fronteira da Alemanha Oriental para que todos que quisessem entrar no
país estivessem livres para fazê-lo. Durante a terceira reportagem o protagonista não sabia que
sua mãe já havia descoberto toda a verdade. Essa descoberta da verdade se deu por meio da
namorada de Alex, que não suportava mais ver a mãe sendo enganada com tantas mentiras.
Ocorreu então, durante a simulação, uma inversão da realidade. A Alemanha Oriental
encontrava-se em uma situação de decadência, com a população altamente insatisfeita e
seduzida pelo padrão consumista do capitalismo. As pessoas exigiram a queda do muro para
que elas pudessem sair e para que as empresas de capital não-governamental pudessem entrar.
O protagonista criou o socialismo que sua mãe idealizava. Um país justo onde as
decisões tomadas não eram radicais nem proibitivas. E nele, as mudanças para uma unificação
entre o sistema capitalista e o sistema socialista caminharam de modo que todos saíram
satisfeitos.
A linguagem se reafirmou como mediadora entre o ser e o mundo, como cita Motter:
“A linguagem diz mais do que aparenta o simples falar presente nas
relações de sujeitos que dela fazem uso para suas trocas cotidianas. Ela é um
índice de classificação social, define instâncias de poder, revela conflitos e
ideologias.
Também não se trata de identificar o que dizem de verdade ou mentira
os discursos, mas de buscar por trás da aparente neutralidade e objetividade,
não o que os discursos querem fazer crer que dizem, mas o que eles realmente
dizem enquanto produção vinculada às formações discursivas e ideológicas que
constituem seu substrato”. (MOTTER, 2002: 32)
Da ficção à realidade
Apesar da clareza que temos em nossas mentes quando vemos um filme de ficção que a
história relatada trata-se de uma ficção, ou seja, trata-se de algo que não é real, quando o
roteiro é bom, pelo menos durante o filme, acabamos por aceitar algo parecido com o que
Coleridge chama na literatura de “suspensão da descrença” (COLERIDGE apud ECO, 1994:
81). O telespectador, assim como o leitor de uma obra de ficção literária, firma
temporariamente um acordo ficcional com o diretor que o que está sendo narrado é real e
suspende a sua descrença em relação a muitos pontos permitindo-se ser conduzido pela trama.
Em “Adeus Lênin!” é bastante interessante a facilidade com que firmamos esse acordo
ficcional com o diretor e logo nos desprendemos da “irrealidade” de muitas cenas e deixamo-
nos realmente ser conduzidos pelo filme. Talvez, pelo fato do filme retratar um drama entre a
mãe e o filho tendo a História como pano de fundo, a facilidade com que o “acordo” acontece
seja maior. Umberto Eco afirma que muitos leitores precisam saber uma porção de coisas a
respeito do mundo real para presumi-lo como pano de fundo correto do mundo ficcional
(ECO, 1994: 91), transportando da literatura para o cinema, as cenas do filme que retratam
muitos episódios reais da unificação entre Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental admitem
o papel de nos informar sobre o que de fato aconteceu permitindo uma aceitação maior da
história ficcional apresentada. Mesmo com muitas cenas que poderiam ser facilmente
contestadas quanto sua veracidade - como a perda pela mãe da memória de curta lembrança
após um repentino ataque cardíaco seguido de profundos meses em coma - por meio de cenas
históricas - como as que retratam as viagens do homem ao espaço e a queda do muro de
Berlim - somos tranquilamente conduzidos por um verdadeiro passeio nos bosques da ficção,
como diria Umberto Eco.
Entretanto, apesar de toda “suspensão da descrença” que aceitamos, o que acaba sendo
de fato traduzido para o mundo real não são as cenas de ficção, essas continuarão sempre
sendo fictícias. Por outro lado, a caracterização que se faz do ser socialista e do ser capitalista,
essa pode transfigurar de ficção, a realidade. Lippmann faz uma interessante afirmação acerca
do que a ficção acaba impondo à realidade e sobre a influência que o cinema pode produzir no
homem:
“Mas, de qualquer maneira, como Platão na discussão sobre os poetas,
sentem vagamente que os tipos adquiridos através da ficção tendem a ser
impostos à realidade. Dessa maneira, não pode haver dúvida de que o cinema
esteja construindo constantemente imagens que são, depois, evocadas pelas
palavras que as pessoas lêem nos jornais. Em toda experiência da raça ainda
não houve ajuda a visualização comparável à do cinema.” (LIPPMANN, 1980:
157)
O filme nos transmite em diversas cenas um estereótipo tanto do socialista, que é
caracterizado como uma pessoa ingênua e ultrapassada, ludibriada pelas propagandas oficiais
e fortemente contrária a modernidade - como o senhor amigo de Christine que cruza em
muitas cenas com Alex; quanto do capitalista, que é caracterizado como alguém fútil que não
valoriza a educação e faz de tudo por dinheiro - como a irmã de Alex que larga a faculdade
para trabalhar em uma rede de fast-food junto com o namorado. Na maioria das vezes, na
finalidade de chegarmos a alguma conclusão sobre um determinado assunto, admitimos a
tendência de primeiro vermos para depois então definirmos, ao invés de definir primeiro para
só depois então, vermos. Por conseqüência dessa tendência, somos muito suscetíveis ao que
nos é transmitido no modo como nos é transmitido e assim, a definição que aceitamos, acaba
sendo “aquela que colhemos de forma estereotipada de nossa cultura” (LIPPMANN, 1980:
151).
Deste modo, todo estereótipo transmitido tende a ser facilmente absorvido e
consequentemente “o processo de estereotipia se apodera da nossa vida mental” (BOSI, 1977:
98), ou seja, a partir do momento que assimilamos os estereótipos estes, de fato, se tornam
realidade para nós.
Portanto, o espírito socialista ou espírito capitalista que conhecemos e vivemos é
reflexo do que nossa cultura nos serviu, e “Adeus Lênin!”, por sua vez, mesmo já sendo
reflexo dessa cultura, também contribui para sua continuação. Por fim, é interessante a
percepção de como algo que começa em ficção, pode se tornar realidade, e, uma vez na
realidade, como pode ser passada de geração em geração.Lippmann faz a seguinte afirmação,
corroborando com o assunto:
“E assim, quando nos referimos ao espírito de um grupo de pessoas, ao
espírito francês, ao espírito militarista, ao espírito bolchevista, estamos sujeitos
a uma séria confusão a menos que concordemos em separar o equipamento
instintivo dos estereótipos, padrões e fórmulas que desempenham papel tão
decisivo na construção do mundo mental a que o caráter nativo se adapta e
reage. A incapacidade de estabelecer essa distinção explica enxurradas de
baboseiras acerca de espíritos coletivos, almas nacionais e psicologia racial. O
estereótipo, de fato, pode ser tão consistente e autorizadamente transmitido, em
cada geração, de pai para filho que quase parece um fato biológico.”
(LIPPMANN, 1980: 158)
Conclusão
Os objetos são ideológicos em si, já que captam determinado significado de acordo com
ideologia na qual estão imersos. Tais ideologias constituem-se apenas com base nos signos
que, por serem exteriores à consciência, permeiam nossa realidade e a determinam,
ciclicamente.
A abstenção temporária da realidade permitida pela ficção do longa metragem nos
permite fazer esse claro contraste entre a ideologia vigente na época e a corrente, ressaltado
pelas diferentes formas de expressão utilizadas nos mais variados diálogos entre mãe e filho,
filho e irmã, filho e namorada, etc, revelando o caráter parcial da linguagem.
Desta forma, a escolha de um filme sobre a unificação alemã como tema do trabalho
se mostrou adequada para se debater os assuntos tratados ao longo da matéria. Afinal, poucas
vezes na história da humanidade observou-se o surgimento de tantos símbolos e signos
ideológicos em um espaço tão curto de tempo quanto durante a Guerra Fria.
Consequentemente, poucas vezes na história da humanidade os símbolos tiveram tanta
influência sobre a sociedade quanto durante a Guerra Fria, e poucas vezes na história da
humanidade o sistema econômico vigente mudou tão rápido que foi possível observar as
discrepâncias entre infra-estrutura e superestrutura quanto na queda do Muro de Berlim.
Referências
Adeus, Lênin!. Good Bye, Lenin!. Wolfgang Becker. Alemanha: 2003. 121 min, cor.
BAKHTIN, Mikhail (VOLOSCHINOV). Marxismo e Filosofia da Linguagem, São Paulo:
Hucitec, 1981.
BARBOSA, M., História e Marxismo e as idéias comunicacionais latino-americanas. In
Revista de Economia Política das Tecnologias da Informação e Comunicação, Vol.III, n.
3, Sep/Dic 2001, p. 79-93. Disponível em:
http://www2.eptic.com.br/arquivos/Revistas/Vol.III,n.3,2001/EPTIC-III-3.pdf.
Acesso em: 11/10/2009.
BOSI, Ecléa. A opinião e o estereótipo. In. Revista Contexto, no 2, mar. 77, p. 97-104.
ECO, Umberto. Seis Passeios pelos bosques da ficção, São Paulo, Companhia das letras,
1994.
LIPPMANN, Walter. Estereótipos. In SREIMBERG, Ch. (org.) - Meios de Comunicação de
Massa, Rio de Janeiro, Cultrix, 1980.
MOTTER, Maria Lourdes. Campo da Comunicação: Cotidiano e Linguagem. In: BACEGGA,
M. A. Gestão dos Processos Comunicacionais. São Paulo, Atlas, 2002.