Adeus Lênin: um filme de ficção ideologicamente real

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Adeus Lênin: um filme de ficção ideologicamente real Amanda Turano | [email protected] Graduanda do curso de Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo ECA/USP Eduardo Marcondes | [email protected] Graduando do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo ECA/USP Fernando Carvalho Tabone | [email protected] Graduando do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo ECA/USP Gustavo Haruki Kume | [email protected] Graduando do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo ECA/USP

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Trabalho apresentando na disciplina de Língua Portuguesa, Redação e Expressão Oral II, ministrada pela Profª Dra. Maria Cristina Mungioli, na Escola de Comunicações e Artes da USP, durante o segundo semestre de 2009.

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Adeus Lênin: um filme de ficção ideologicamente real

Amanda Turano | [email protected]

Graduanda do curso de Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas pela

Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP

Eduardo Marcondes | [email protected]

Graduando do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda

pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP

Fernando Carvalho Tabone | [email protected]

Graduando do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda

pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP

Gustavo Haruki Kume | [email protected]

Graduando do curso de Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda

pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP

Resumo

Resenha do longa metragem “Adeus, Lênin!”, produzido na Alemanha em 2003, por

Wolfgang Becker, a partir de uma visão critica da influência ideológica à realidade presente

nos discursos, ou, acontecimentos decorridos no filme. A resenha ocorre embasada nos

estudos de autores como Mikhail Bakhtin, Maria Lourdes Motter, Ecléa Bosi, Humberto Eco

e Walter Lippmann.

Introdução

O presente estudo tem como objeto o filme “Adeus, Lênin!”, produzido na Alemanha em

2003, por Wolfgang Becker, e busca realizar uma resenha a partir de uma visão crítica da

influência ideologica à realidade presente nos discursos, ou, acontecimentos decorridos no

filme.

O longa metragem traz a história da personagem Alexander, que vive na Alemanha

Oriental em meados de 1978. Sua mãe sofre um ataque cardíaco e entra em coma. Quando ela

retoma a consciência, a Alemanha Oriental já havia sofrido diversas modificações e estava

praticamente imersa na cultura Ocidental. Porém, a mãe de Alex não deve sofrer emoções

fortes segundo recomendações médicas. Então, Alex “recria” o mundo oriental para sua mãe,

através de mobílias, alimentos, comportamentos, notícias, pessoas, etc.

Em função da riqueza do objeto, elegemos apenas algumas cenas expressivas para

análise profunda. Para tal, nos basearemos em autores como Mikhail Bakhtin, Maria Lourdes

Motter, Ecléa Bosi, Humberto Eco e Walter Lippmann.

No tocante a analise, faz-se válida uma ressalva: o filme é originalmente alemão,

portanto, a real análise estará baseada na sua tradução para a língua portuguesa. Temos

consciência de que algumas expressões são intraduzíveis, já que cada língua possui

características ímpares, que não podem ser compartilhadas com outras. E, por conseguinte,

toda a linguagem do filme deixa de ser parcial, já que passa pelo “crivo” do tradutor, ou seja,

se compararmos a linguagem original com a traduzia, além das diferenças na impossibilidade

de tradução de algumas expressões, ainda encontraremos traços do interpretante da língua.

O objeto e o signo ideológico

A palavra é um fenômeno ideológico e condição precípua das relações sociais. Em sua

essência, a palavra é neutra, mas torna-se tendenciosa de acordo com o contexto ou com seu

emissor. No caso do filme, podemos citar as palavras “ocidental” e “oriental” com uma forte

carga valorativa. E, se compararmos com os dias de hoje, elas não carregam um significado

tão forte, pois os contextos histórico e social são bem diferentes.

Um ponto importante para lembrarmos é que o processo de tomada de consciência de

uma ideologia só é promovido por meio dos signos, e estes só emergem da interação social,

ou seja, entre uma consciência e outra. O signo só existe em função do outro e é algo do

mundo exterior, refletindo seus resultados apenas no exteriormente.

A dicotomia infra-estrutura/superestrutura foi sugerida por Marx, ainda em 1859

“Na produção social da sua vida, os homens estabelecem relações definidas que

são independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a uma

fase definida de desenvolvimento das forças produtivas materiais. A soma total

dessas relações de produção constitui a estrutura econômica da sociedade, a base

real, sobre a qual se levanta uma superestrutura jurídica e política e à qual

correspondem formas definidas de consciência social. O modo de produção da

vida material condiciona os processos social, político e intelectual da vida em

geral”. (MARX apud BARBOSA, 2001: 84)

Essa relação permeia o filme inteiro de forma bastante inteligente, e é interessante notar

como os símbolos do capitalismo e do socialismo são facilmente identificáveis pelo público-

alvo do filme, sendo inclusive essa a intenção do diretor, uma vez que caso a identificação

não fosse imediata, certas cenas não fariam sentido. Sob esta perspectiva, o filme ganha

contornos metalingüísticos, uma vez que é preciso que tanto os personagens quanto o público

reconheçam os mesmos símbolos e ideologias impregnados nas cenas. Estes símbolos

remetem sempre a um objeto material e a uma idéia. Assim, um produto de consumo,

monumento ou um objeto pode ser transformado em signo ideológico.

Bakhtin explica que os objetos físicos podem converter-se em signo, mas, mesmo assim,

continuar fazendo parte da realidade material. Porém, com essa nova faceta, o objeto físico

passa não só a refletir a realidade, mas refratá-la. Essa refração dá-se por meio das ideologias

de cada grupo na sociedade.

Talvez o melhor exemplo disso seja a cena em que a mãe recebe a visita de dois

escoteiros, que na verdade eram crianças contratadas pelo filho para enganar a mãe, e

enquanto os dois garotos cantam músicas louvando a Alemanha Oriental, a mãe vê pela janela

um enorme anúncio de Coca-Cola sendo colocado na parede do prédio vizinho. O riso é

imediato ao se vislumbrar as letras brancas tão conhecidas da marca Coca-Cola sobre o fundo

vermelho, e a razão disso está na relação entre a força e o poder que esta empresa tem nos

mercados capitalistas, ou seja, a infra-estrutura, e como por conta disso ela se tornou um dos

símbolos desse modelo econômico, ou seja, a superestrutura. Bakhtin descreve bem o que

ocorreu com a marca Coca-Cola ao dizer que “a cada etapa do desenvolvimento da sociedade,

encontram-se grupos de objetos particulares e limitados que se tornam objeto da atenção do

corpo social e que, por causa disso, tomam um valor particular. Só este grupo de objetos dará

origem a signos” (BAKHTIN, 1981: 44).

Outro ótimo exemplo desta relação são as confusões por conta de uma marca de picles

que a mãe costumava comer. Em economias socialistas, não existe concorrência de mercado,

e portanto não há várias marcas disputando o consumidor. Assim, uma única marca de um

produto acaba se tornando preferência nacional (até por falta de opção). No caso do filme, o

fato de existir somente uma marca de picles, por conta do sistema econômico socialista (infra-

estrutura) faz com que este adquira um poder simbólico muito forte para a mãe

(superestrutura). Para esta, o produto em si não significa nada, mas sua marca representava

Alemanha Oriental, e é bastante simbólico que com a queda do muro e o fim do comunismo,

estas marcas únicas e representativas desapareceram dos supermercados, como citado em

Bakhtin “Qualquer produto de consumo pode, da mesma forma, ser transformado em produto

ideológico” (BAKHTIN, 1981: 30). Os mesmos supermercados que surgem com os mais

variados produtos e marcas, onde funcionários aparecem colocando preços em latas de Pepsi.

Esta cena também é bastante representativa do conceito elaborado por Marx

“a transformação de toda a imensa superestrutura, na revolução social que começa

com as modificações de relações de forças produtivas e de relações de produção, é

um processo no qual os homens se tornam conscientes desse conflito e o

solucionam através de formas ideológicas que passam a incluir tanto o religioso,

estético ou filosófico, como também o jurídico e o político” (MARX apud

BARBOSA, 2001: 85)

Por fim, a cena talvez mais emblemática, cena inclusive que dá título ao filme, é aquela

em que a estátua de Lênin é levada por um helicóptero por sobre as ruas da antiga Alemanha

Oriental. Como disse Bakhtin, “o tema e a forma do signo ideológico estão

indissociavelmente ligados” (BAKHTIN, 1981: 45) e por isso a imagem de Lênin fazendo

uma saudação é das mais emblemáticas do socialismo. Ao colocar esta mesma imagem sendo

carregada por um helicóptero, a mesma saudação imediatamente se transforma em um gesto

de despedida, como se o socialismo estivesse dizendo adeus à mãe e seus sonhos de um

mundo socialista idealizado. Além da montagem muito bem feita de toda a cena, é evidente

que o impacto se deve ao fato de ter se criado uma superestrutura em torno do que este

governante realizou durante seu governo, ou seja, como ele trabalhou a infra-estrutura da

sociedade que comandava.

Distorção da realidade

Bakhtin afirma que a linguagem sempre apresenta enunciações precisas, implicando em um

contexto ideológico preciso. Assim, o que pronunciamos são mais que palavras, e sim

verdades, mentiras, a realidade em si.

Através da manipulação da língua e dos signos, somos capazes de distorcer completamente a

realidade, possibilitando a projeção de praticamente qualquer ideal.

“O conhecimento do mundo pelo homem se realiza num duplo

movimento, num processo dialético em que sujeito e objeto se influenciam

mutuamente. A linguagem, como resultado dessa interação, se constitui como

mediação que não só reflete a realidade, mas também a projeta”. (MOTTER,

2002: 43)

Após o ataque cardíaco de sua mãe, o protagonista do filme decide isolá-la da

realidade da queda do socialismo na Alemanha Oriental para não forçá-la e correr o risco de

sofrer outro colapso.

Assim, Alexander, realiza uma série de dissimulações para fazer com que sua mãe

acreditasse que tudo continuava da mesma maneira e dentre eles, destacam-se as filmagens

simulando a antiga rede televisiva do governo socialista, a Deutscher Fernsehfunk (DFF).

O protagonista, a pedido de sua mãe, coloca uma televisão no quarto em que ela estava

se recuperando. Para não passar a programação nova, da Alemanha unificada, Alex coloca

diversas fitas com gravações de programas antigos, que, devido ao caráter notadamente

padrão e repetitivo de reafirmação, faz com que sua mãe não se lembre que afetivamente

estava vendo notícias passadas, que ocorreram antes de seu ataque cardíaco.

Estudando a linguagem do noticiário, o protagonista e seu companheiro de trabalho

Dennis realizam três falsas matérias para introduzir as mudanças que a unificação trouxe à

Alemanha Oriental.

O primeiro ocorre para, de alguma maneira, justificar a enorme bandeira da Coca-

Cola, empresa capitalista, que sua mãe visualiza, por acidente, da janela de seu quarto. Para

tal, justificam com uma falsa descoberta: afirmaram que a receita original da Coca-Cola era

na realidade da própria Alemanha Socialista, e que sua patente estava sendo indevidamente

utilizada por empresas capitalistas.

A segunda simulação ocorre para justificar a presença de pessoas da Alemanha

Ocidental no prédio em que moravam. Assim, o falso noticiário afirma que o governo

permitiu a entrada de alemães ocidentais que buscavam uma vida melhor no socialismo.

E, finalmente, a terceira falsa reportagem conduziu sua mãe à idéia de que as

Alemanhas oriental e ocidental agora formavam somente um país. Para isso, o protagonista

utiliza inclusive uma figura que durante o socialismo era de grande influencia pública, o

cosmonauta Sigmund Jähn, que na reportagem tornara-se o novo chefe de Estado. Ele então

afirma que abriria as fronteira da Alemanha Oriental para que todos que quisessem entrar no

país estivessem livres para fazê-lo. Durante a terceira reportagem o protagonista não sabia que

sua mãe já havia descoberto toda a verdade. Essa descoberta da verdade se deu por meio da

namorada de Alex, que não suportava mais ver a mãe sendo enganada com tantas mentiras.

Ocorreu então, durante a simulação, uma inversão da realidade. A Alemanha Oriental

encontrava-se em uma situação de decadência, com a população altamente insatisfeita e

seduzida pelo padrão consumista do capitalismo. As pessoas exigiram a queda do muro para

que elas pudessem sair e para que as empresas de capital não-governamental pudessem entrar.

O protagonista criou o socialismo que sua mãe idealizava. Um país justo onde as

decisões tomadas não eram radicais nem proibitivas. E nele, as mudanças para uma unificação

entre o sistema capitalista e o sistema socialista caminharam de modo que todos saíram

satisfeitos.

A linguagem se reafirmou como mediadora entre o ser e o mundo, como cita Motter:

“A linguagem diz mais do que aparenta o simples falar presente nas

relações de sujeitos que dela fazem uso para suas trocas cotidianas. Ela é um

índice de classificação social, define instâncias de poder, revela conflitos e

ideologias.

Também não se trata de identificar o que dizem de verdade ou mentira

os discursos, mas de buscar por trás da aparente neutralidade e objetividade,

não o que os discursos querem fazer crer que dizem, mas o que eles realmente

dizem enquanto produção vinculada às formações discursivas e ideológicas que

constituem seu substrato”. (MOTTER, 2002: 32)

Da ficção à realidade

Apesar da clareza que temos em nossas mentes quando vemos um filme de ficção que a

história relatada trata-se de uma ficção, ou seja, trata-se de algo que não é real, quando o

roteiro é bom, pelo menos durante o filme, acabamos por aceitar algo parecido com o que

Coleridge chama na literatura de “suspensão da descrença” (COLERIDGE apud ECO, 1994:

81). O telespectador, assim como o leitor de uma obra de ficção literária, firma

temporariamente um acordo ficcional com o diretor que o que está sendo narrado é real e

suspende a sua descrença em relação a muitos pontos permitindo-se ser conduzido pela trama.

Em “Adeus Lênin!” é bastante interessante a facilidade com que firmamos esse acordo

ficcional com o diretor e logo nos desprendemos da “irrealidade” de muitas cenas e deixamo-

nos realmente ser conduzidos pelo filme. Talvez, pelo fato do filme retratar um drama entre a

mãe e o filho tendo a História como pano de fundo, a facilidade com que o “acordo” acontece

seja maior. Umberto Eco afirma que muitos leitores precisam saber uma porção de coisas a

respeito do mundo real para presumi-lo como pano de fundo correto do mundo ficcional

(ECO, 1994: 91), transportando da literatura para o cinema, as cenas do filme que retratam

muitos episódios reais da unificação entre Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental admitem

o papel de nos informar sobre o que de fato aconteceu permitindo uma aceitação maior da

história ficcional apresentada. Mesmo com muitas cenas que poderiam ser facilmente

contestadas quanto sua veracidade - como a perda pela mãe da memória de curta lembrança

após um repentino ataque cardíaco seguido de profundos meses em coma - por meio de cenas

históricas - como as que retratam as viagens do homem ao espaço e a queda do muro de

Berlim - somos tranquilamente conduzidos por um verdadeiro passeio nos bosques da ficção,

como diria Umberto Eco.

Entretanto, apesar de toda “suspensão da descrença” que aceitamos, o que acaba sendo

de fato traduzido para o mundo real não são as cenas de ficção, essas continuarão sempre

sendo fictícias. Por outro lado, a caracterização que se faz do ser socialista e do ser capitalista,

essa pode transfigurar de ficção, a realidade. Lippmann faz uma interessante afirmação acerca

do que a ficção acaba impondo à realidade e sobre a influência que o cinema pode produzir no

homem:

“Mas, de qualquer maneira, como Platão na discussão sobre os poetas,

sentem vagamente que os tipos adquiridos através da ficção tendem a ser

impostos à realidade. Dessa maneira, não pode haver dúvida de que o cinema

esteja construindo constantemente imagens que são, depois, evocadas pelas

palavras que as pessoas lêem nos jornais. Em toda experiência da raça ainda

não houve ajuda a visualização comparável à do cinema.” (LIPPMANN, 1980:

157)

O filme nos transmite em diversas cenas um estereótipo tanto do socialista, que é

caracterizado como uma pessoa ingênua e ultrapassada, ludibriada pelas propagandas oficiais

e fortemente contrária a modernidade - como o senhor amigo de Christine que cruza em

muitas cenas com Alex; quanto do capitalista, que é caracterizado como alguém fútil que não

valoriza a educação e faz de tudo por dinheiro - como a irmã de Alex que larga a faculdade

para trabalhar em uma rede de fast-food junto com o namorado. Na maioria das vezes, na

finalidade de chegarmos a alguma conclusão sobre um determinado assunto, admitimos a

tendência de primeiro vermos para depois então definirmos, ao invés de definir primeiro para

só depois então, vermos. Por conseqüência dessa tendência, somos muito suscetíveis ao que

nos é transmitido no modo como nos é transmitido e assim, a definição que aceitamos, acaba

sendo “aquela que colhemos de forma estereotipada de nossa cultura” (LIPPMANN, 1980:

151).

Deste modo, todo estereótipo transmitido tende a ser facilmente absorvido e

consequentemente “o processo de estereotipia se apodera da nossa vida mental” (BOSI, 1977:

98), ou seja, a partir do momento que assimilamos os estereótipos estes, de fato, se tornam

realidade para nós.

Portanto, o espírito socialista ou espírito capitalista que conhecemos e vivemos é

reflexo do que nossa cultura nos serviu, e “Adeus Lênin!”, por sua vez, mesmo já sendo

reflexo dessa cultura, também contribui para sua continuação. Por fim, é interessante a

percepção de como algo que começa em ficção, pode se tornar realidade, e, uma vez na

realidade, como pode ser passada de geração em geração.Lippmann faz a seguinte afirmação,

corroborando com o assunto:

“E assim, quando nos referimos ao espírito de um grupo de pessoas, ao

espírito francês, ao espírito militarista, ao espírito bolchevista, estamos sujeitos

a uma séria confusão a menos que concordemos em separar o equipamento

instintivo dos estereótipos, padrões e fórmulas que desempenham papel tão

decisivo na construção do mundo mental a que o caráter nativo se adapta e

reage. A incapacidade de estabelecer essa distinção explica enxurradas de

baboseiras acerca de espíritos coletivos, almas nacionais e psicologia racial. O

estereótipo, de fato, pode ser tão consistente e autorizadamente transmitido, em

cada geração, de pai para filho que quase parece um fato biológico.”

(LIPPMANN, 1980: 158)

Conclusão

Os objetos são ideológicos em si, já que captam determinado significado de acordo com

ideologia na qual estão imersos. Tais ideologias constituem-se apenas com base nos signos

que, por serem exteriores à consciência, permeiam nossa realidade e a determinam,

ciclicamente.

A abstenção temporária da realidade permitida pela ficção do longa metragem nos

permite fazer esse claro contraste entre a ideologia vigente na época e a corrente, ressaltado

pelas diferentes formas de expressão utilizadas nos mais variados diálogos entre mãe e filho,

filho e irmã, filho e namorada, etc, revelando o caráter parcial da linguagem.

Desta forma, a escolha de um filme sobre a unificação alemã como tema do trabalho

se mostrou adequada para se debater os assuntos tratados ao longo da matéria. Afinal, poucas

vezes na história da humanidade observou-se o surgimento de tantos símbolos e signos

ideológicos em um espaço tão curto de tempo quanto durante a Guerra Fria.

Consequentemente, poucas vezes na história da humanidade os símbolos tiveram tanta

influência sobre a sociedade quanto durante a Guerra Fria, e poucas vezes na história da

humanidade o sistema econômico vigente mudou tão rápido que foi possível observar as

discrepâncias entre infra-estrutura e superestrutura quanto na queda do Muro de Berlim.

Referências

Adeus, Lênin!. Good Bye, Lenin!. Wolfgang Becker. Alemanha: 2003. 121 min, cor.

BAKHTIN, Mikhail (VOLOSCHINOV). Marxismo e Filosofia da Linguagem, São Paulo:

Hucitec, 1981.

BARBOSA, M., História e Marxismo e as idéias comunicacionais latino-americanas. In

Revista de Economia Política das Tecnologias da Informação e Comunicação, Vol.III, n.

3, Sep/Dic 2001, p. 79-93. Disponível em:

http://www2.eptic.com.br/arquivos/Revistas/Vol.III,n.3,2001/EPTIC-III-3.pdf.

Acesso em: 11/10/2009.

BOSI, Ecléa. A opinião e o estereótipo. In. Revista Contexto, no 2, mar. 77, p. 97-104.

ECO, Umberto. Seis Passeios pelos bosques da ficção, São Paulo, Companhia das letras,

1994.

LIPPMANN, Walter. Estereótipos. In SREIMBERG, Ch. (org.) - Meios de Comunicação de

Massa, Rio de Janeiro, Cultrix, 1980.

MOTTER, Maria Lourdes. Campo da Comunicação: Cotidiano e Linguagem. In: BACEGGA,

M. A. Gestão dos Processos Comunicacionais. São Paulo, Atlas, 2002.