Adão Sousa Santana - Adao... · ... para uso em residências ou no setor industrial. ......
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FACULDADE REDENTOR
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM PERÍCIA,
AUDITORIA E GESTÃO AMBIENTAL
MODELO SUSTENTÁVEL DE CAPITAÇÃO E RESERVA DA ÁGUA
DAS CHUVAS: UM ESTUDO DE CASO DO PROGRAMA ASA
RURAL, IMPLANTADO NA FAZENDA BULCÃO, MUNICÍPIO DE
AIMORÉS, MINAS GERAIS
Adão Sousa Santana
Ponte Nova
2012
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Adão Sousa Santana
MODELO SUSTENTÁVEL DE CAPITAÇÃO E RESERVA DA ÁGUA
DAS CHUVAS: UM ESTUDO DE CASO DO PROGRAMA ASA
RURAL, IMPLANTADO NA FAZENDA BULCÃO, MUNICÍPIO DE
AIMORÉS, MINAS GERAIS
Trabalho de Conclusão de Curso no formato de Monografia apresentado à Faculdade Redentor como parte dos requisitos para a obtenção do título de Especialista em Auditoria, Perícia e Gestão Ambiental. Orientador: Prof. Wellerson David Viana
PONTE NOVA
2012
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AGRADECIMENTOS
A Deus, razão de minha vida. Aos professores (as) pela orientação e estímulo neste
trabalho. Aos colegas de curso, pelo convívio e pela amizade. A todos que, direta e
indiretamente, contribuíram para a elaboração deste trabalho, minha profunda
gratidão.
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“Não destruirás o seu arvoredo, metendo nele o machado; porque dele comerás,
pelo que o não cortarás (pois o arvoredo do campo é o mantimento do homem), para
que sirva de tranqueira diante de ti". Deut. 20:19.
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RESUMO
A água é um recurso renovável de grande valor para cada ser vivo. Sendo que cerca de ¾ da superfície da Terra é ocupada pela água, deste total apenas 3% são água doce, dos quais apenas 20% encontram-se disponíveis para o consumo. Com isso a cada dia fica mais escasso seu volume, devido a falta de manejo adequado, pela má distribuição e pelo uso incorreto, surgindo assim à necessidade de elaborar projetos eficazes para amenizar o seu consumo sem degradar o meio ambiente. O estudo de caso apresentado, pode contribuir para o menor consumo de água, pois a reutilização da água de chuva é a melhor forma de se economizar ou reduzir gastos. O projeto apresentado neste estudo de caso tem como objetivo a captação de água de chuva pelo telhado utilizando-se de calhas feito com bambu gigante, onde as águas captadas são armazenadas em cisterna do tipo calçadão. A captação de água de chuva, utilizando o bambu como calha, mostrou-se como modelo alternativo, aos modelos de captação convencional principalmente o mais difundido no mercado que são os de PVC considerando os aspectos econômicos, sociais e de preservação e conservação dos recursos naturais. É um sistema de baixo custo de aquisição, e de ampla ocorrência natural tanto no meio rural quanto urbano, para uso em residências ou no setor industrial. Ao final desta pesquisa pode-se avaliar que o reaproveitamento da água, não somente a pluvial, mas também das ‘águas servidas’, representou uma alternativa eficiente e econômica no combate ao desperdício. PALAVRAS CHAVES: Captação, Água, Chuva, Bambu, Sustentabilidade.
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ABSTRACT
Water is a renewable resource of great value to every living being. Since about three-quarters of the earth's surface is occupied by water, only 3% of this total is fresh water, of which only 20% are available for consumption. With each day it becomes more scarce volume, due to lack of proper management, poor distribution and the incorrect use, thus resulting in the need to develop effective designs to minimize their consumption without degrading the environment. The case study presented, may contribute to lower water consumption, for the reuse of rainwater is the best way to save money or reduce expenses. The project presented in this case study aims to capture rainwater from the roof using gutters made of giant bamboo, where the water captured is stored in tank-type boardwalk. The capture of rainwater, using bamboo as rail, was a model alternative to conventional models primarily capture the most widespread in the market that are PVC considering the economic, social and preservation and conservation of natural resources . It is a system of low cost, and wide natural occurrence both in rural and urban, for use in homes or in the industrial sector. At the end of this research can evaluate the reuse of water, not only rain but also the 'wastewater', represented an economic and efficient alternative in the fight against waste.
KEYWORDS: Collection, Water, Rain, Bamboo, Sustainability
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SUMÁRIO
1 - INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 8
2 - OBJETIVOS ......................................................................................................... 11
2.1 - OBJETIVO GERAL ........................................................................................... 11
2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................. 11
3 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................. 12
3.1 - Legislação relativa à captação de água de chuva ......................................... 15
3.2 - Forma de captação de água de chuva .......................................................... 17
3.2.1 - Utilização do bambu ................................................................................ 18
3.3 - Formas de armazenamento de água de chuva ............................................. 20
4 - METODOLOGIA .................................................................................................. 24
5 - RESULTADO ....................................................................................................... 25
6 - CONCLUSÃO ...................................................................................................... 32
7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 34
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1 - INTRODUÇÃO
A água é um recurso hídrico muito importante para a sobrevivência dos seres
vivos e sua disponibilidade hídrica, encontrada em acúmulo nos rios, lagoas, lagos e
no lençol freático, é fundamental para a sociedade moderna.
Os índices da quantidade de água existente na terra são compostos de 97,5% de água salgada que estão nos oceanos e mares, 2,5% de água doce, sendo 68,9% encontra se nas calotas polares, geleiras e neves eternas que cobrem os cumes das montanhas altas do planeta, 29,9% restante de água disponível constituem os lençóis subterrâneos, e 0,9% correspondem pela umidade do solo e pelo líquido contido nos pântanos (MARCONDES, 2008).
De acordo com Marcondes (2008), a água é o recurso natural mais abundante
no mundo. Porém, este recurso tem sido utilizado de maneira desordenada, gerando
preocupação aos órgãos governamentais responsáveis pelos recursos hídricos. Esta
preocupação surgiu a partir do momento em que o desmatamento, os processos de
desertificação e outros danos ambientais passaram a prejudicar as nascentes e
lençóis freáticos.
Porém, de acordo com Demósteles, a utilização da água de forma
sustentável não é novidade. Porém, a necessidade de se ter um olhar voltado para a
recomposição ambiental dos recursos naturais das regiões infrutíferas ou afetadas
de forma direta ou indireta pelo homem é que se faz novo. Para tal, a quebra de
paradigmas sobre meios de acesso a terra, a água potável e outros bens naturais
fazem-se necessário.
Sistemas de captação de água pluvial não são recentes, pois os povos antigos já faziam o seu aproveito. No ano 106 d.C, os nabáteos já produziam alimentos no deserto de Neguev (com precipitação média anual de 100 a 150mm), utilizando sistemas de captação de água superficiais que era encontrada em tabuleiros nas partes baixas dos terrenos (DEMÓSTELES, 2000)
Para ampliar a disponibilidade d’água com parâmetros aceitáveis e toleráveis
para uso geral, com finalidade de melhor aproveitamento, buscando viabilizar e
disponibilizar água da chuva que cai sobre o telhado das construções que é perdida
é necessário propor um sistema de captação de água, seja para uso de
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abastecimento para consumo ou aproveitadas para diversas finalidades como, por
exemplo, a manutenção de plantações.
Segundo MALVEZZI (1985), o uso das águas das chuvas é ainda pouco
praticado no Brasil, principalmente fora do Nordeste. Levando-se em consideração
que temos períodos de seca em todo o país, e que este programa poderia ser
utilizado de forma mais abrangente com maiores resultados, os estados que não
compões as regiões de risco elevado escassez hídrica ainda não possuem uma
visão de sustentabilidade ambiental focada no reaproveitamento da água das
chuvas para uso doméstico, no trato de animais e até mesmo como água potável
para consumo humano.
Para que houvesse um aproveitamento satisfatório da água das chuvas,
foram necessárias providencias que buscaram um modelo satisfatório de captação
da água da chuva utilizando material renovável, possibilitando assim, o reuso
planejado da água viabilizando uma estratégia global para a administração da
qualidade da mesma.
É interessante que se tenha um modelo satisfatório, de captação da água da chuva utilizando material renovável, possibilitando assim, o reuso planejado da água viabilizando uma estratégia global para a administração da qualidade da mesma. A proposta do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e da Organização Mundial da Saúde, prevê o alcance simultâneo de três importantes elementos que são a proteção da saúde pública, a manutenção da integridade dos ecossistemas e o uso sustentado dessa fonte hídrica para o consumo domestico (RAMOS, 2004).
A instalação, portanto, de cisternas para a captação da água das chuvas foi o
meio viável de reuso tanto da água quanto dos materiais necessários para a mesma,
pois foram utilizadas peças de bambu para a instalação das calhas. Este mecanismo
possibilitou a redução dos gastos de água tratada no manuseio das residências,
uma vez que a água captada era para diversos usos domésticos.
A água pluvial que será utilizada nas residências tem a finalidade de reaproveitamento desse recurso natural de maneira eficiente e adequada, sem impactar o meio ambiente, ressalta-se que o armazenamento traz vantagens, não somente econômicas ao usuário, mas também sob o ponto de vista qualidade ambiental e de controle de enchentes urbanas, uma vez que essa água não é mais lançada na rede de drenagem pluvial (LORENO, 2005).
Garantindo o direito de abastecimento de água da população no semi-árido
brasileiro foi criado um programa que visa à reutilização das águas das chuvas de
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forma a diminuir a necessidade do uso de água tratada. Este programa atende pelo
nome de ASA Rural e define que no semi árido, o acesso à água é um direito
humano básico que necessita ser urgentemente efetivado para toda a população,
em especial os agricultores familiares.
O programa ASA compreende a maior parte dos Estados da Região Nordeste
(86,48%), a região setentrional do Estado de Minas Gerais (11,01%) e o norte do
Espírito Santo (SILVA, 2006), com o objetivo de fazer com que o direito de todo
cidadão de acesso a água para sua subsistência seja garantido o programa tem
como finalidade a construção de cisternas para a capitação da água das chuvas
como forma de garantir que mesmo no período de seca o cidadão tenha como se
manter dignamente, com todos os recursos naturais necessários.
Na região do médio rio Doce, no estado de Minas Gerais está apresentando problema qualitativo e quantitativo em relação à água potável, possuindo alguns municípios que estão cadastrados no programa da ASA. O programa propiciou a construção de um milhão de cisternas rurais com fortalecimento da sociedade civil, através da mobilização e capacitação das famílias, envolvendo uma proposta de educação processual o desencadeando um movimento de articulação e de convivência sustentável com esse ecossistema, beneficiando assim cinco milhões de pessoas através de reservatório, fornecendo água potável de boa qualidade para beber e cozinhar (LINS, 2005).
O presente trabalho busca apresentar, através de um estudo de caso, o
modelo de capitação de água das chuvas, adotado pelo programa ASA Rural, no
município de Aimorés, estado de Minas gerais, bem como, o aproveitamento de
materiais disponíveis na natureza para instalação de calhas para captação das
águas de chuvas e para instalação das cisternas como forma de armazenamento da
água de chuva captada.
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2 - OBJETIVOS
2.1 - OBJETIVO GERAL
O presente estudo tem como objetivo, apresentar, através de um estudo de
caso, o modelo de capitação de água das chuvas, adotado pelo programa ASA
Rural, no município de Aimorés, estado de Minas Gerais, bem como, o
aproveitamento de materiais disponíveis na natureza para instalação de calhas para
captação das águas de chuvas e para instalação das cisternas como forma de
armazenamento da água de chuva captada.
2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Apresentar formas de captação da água das chuvas e de que forma esta
água poderia ser captada sem agredir o meio ambiente, de forma a aproveitar o que
a natureza tem a oferecer para instalação do sistema de captação;
• Apresentar forma de armazenamento da água das chuvas captadas
através da implantação de sistemas de captação de água de chuva de baixo custo;
• Apresentar o processo de implantação do sistema de captação e
armazenamento da água das chuvas que envolve as comunidade do município de
Aimorés, estado de Minas Gerais.
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3 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
No Brasil a água doce é abundante na maioria das regiões. No entanto, o
mau uso, o desperdício e a poluição dos rios e lençóis freáticos ameaçam o
abastecimento e aumentam o custo da água tratada da rede pública, principalmente
nos grandes centros. Neles, a situação é agravada pelo problema da
impermeabilização do solo, que além de diminuir a recarga dos lençóis aqüíferos,
causa enchentes em épocas de chuva intensa.
Segundo Aquastock (2005), a captação da água da chuva é uma prática
muito difundida em países como a Austrália e a Alemanha, onde novos sistemas
vêm sendo desenvolvidos, permitindo a captação de água de boa qualidade de
maneira simples e bastante eficiente em termos de custo-benefício. Segundo o
autor, a utilização de água de chuva traz várias vantagens:
• Redução do consumo de água da rede pública e do custo de fornecimento
da mesma;
• Evita a utilização de água potável onde esta não é necessária, como por
exemplo, na descarga de vasos sanitários, irrigação de jardins, lavagem de pisos,
etc;
• Os investimentos de tempo, atenção e dinheiro são mínimos para adotar a
captação de água pluvial na grande maioria dos telhados, e o retorno do
investimento ocorre a partir de dois anos e meio;
• Faz sentido ecológica e financeiramente não desperdiçar um recurso
natural escasso em toda a cidade, e disponível em abundância todos os telhados;
• Ajuda a conter as enchentes, represando parte da água que teria de ser
drenada para galerias e rios;
• Encoraja a conservação de água, a auto-suficiência e uma postura ativa
perante os problemas ambientais da cidade.
O consumo dessa fonte natural é direito fundamental do ser humano, tal qual
é estipulado no Art.30 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (LEME, 2009).
Sendo assim, a busca por fontes hídricas que tenham um foco sustentável faz com
que os recursos naturais possam ser renovados e garanta a recuperação de
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nascentes e lençóis freáticos através do reflorestamento e outras fontes de
recuperação.
O aproveitamento da água pluvial é uma prática muito antiga, ela apresenta algumas vantagens ambientais, tais como: amenizar erosão local e enchentes, através do escorrimento superficial; o recarregamento dos lençóis subterrâneo; redução do consumo de água da rede pública e do custo de fornecimento da mesma; Minimizar a falta desse recurso em área sujeita a seca; aumenta a oferta de água para dessedentação animal e reserva para situações de emergências (Brasil e Santos, 2007).
A má utilização da água das chuvas e a falta da absorção da mesma pelo
solo é um dos fatores que prejudicam a recuperação das nascentes e rios. A
secagem de alguns reservatórios também é conseqüência do mau uso da água das
chuvas. Este fato acaba sendo o responsável pela falta de recuperação ambiental
esperada no processo de sustentabilidade ambiental, bem como citado por
Demóstens, (2002):
A falta de cuidados adequados na captação de chuvas, e logo, na alimentação e na porosidade de absorção e de drenagem das águas e chuvas e, conseqüentemente, de alimentação dos reservatórios que existem debaixo dos solos podem causar indisponibilidade da mesma. Esta é uma das principais explicações para tanta nascente secando e para a preocupante redução dos volumes de águas em córregos, riachos, rios
Sendo a água um fator ambiental de grande preocupação, faz-se necessário
que haja um reaproveitamento não só das águas da chuva bem como da água
tratada nas residências e demais estabelecimentos. Uma forma de reutilização pode
ser o uso da água da pia da cozinha e da lavagem de roupa para lavagem de quintal
e para descarga entre outros.
A água de fácil acesso ao homem, como lagoas, lençol freático, rios, estão se tornando cada dia mais escasso e em menor quantidade, surgindo à importância de haver um racionamento e ter a conscientização de consumir menos esse recurso renovável (DEMÓSTENS, 2002). O reaproveitamento ou reuso da água aponta a necessidade de se fazer um sistema de captação da água, onde a mesma será direcionada através da calha para o reservatório. Essa reutilização pode ser forma direta ou indireta, decorrente de ações planejadas ou não (LORENO, 2005).
A escassez de água doce é hoje um dos maiores problemas para a
sociedade, pois na busca por soluções gastasse muito com pouco retorno financeiro
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e/ou ambiental. O descongelamento de geleiras e a alta concentração de água
salinizada acaba sendo um obstáculo para que se tenha uma recuperação do
sistema hídrico mundial. Tal acontecimento é perceptível no que diz SZANÕ (2008).
Verifica-se uma escassez de disponibilidade do volume de águas doces superficiais e exigindo soluções de alto custo, como a busca de águas subterrâneas profundas ou a dessalinização de águas oceânicas; Em alguns lugares esse recurso hídrico se tornou um fator ainda mais limitante, considerando ainda agravantes como concentrações elevadas de sais tornando-a imprópria para o consumo humano e animal.
Conforme Mieli (2001) existem vários métodos para que se faça o reuso da
água e define cada tipo, sendo:
• Reuso indireto não-planejado da água em que a água, utilizada em
alguma atividade humana, é descarregada no meio ambiente e novamente utilizada
a jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada;
• Reuso indireto planejado da água cujos efluentes depois de tratados são
descarregados de forma planejada nos corpos de águas superficiais ou
subterrâneas, para ser utilizado em jusante, de maneira controlada, no atendimento
de alguma necessidade, fazendo-se necessário um controle sobre as eventuais
novas descargas de efluentes no caminho, garantindo assim que o efluente tratado
estará sujeito apenas a misturas com outros efluentes que também atendam aos
requisitos de qualidade do reuso objetivado;
• Reuso direto planejado das águas cujos efluentes, depois de tratados, são
encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reuso, já sendo
praticado por indústrias e em irrigação e ainda o método de reciclagem de água que
é o reuso interno da água, antes de sua descarga em um sistema geral de
tratamento ou outro local de disposição funcionando como fonte suplementar de
abastecimento do uso original.
Portanto, a reutilização da água e utilização da água das chuvas pode ser o
meio mais viável de se recuperar as fontes hídricas para manutenção da população
e indústrias e recuperação ambiental.
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3.1 - Legislação relativa à captação de água de chuva
A lei municipal de Curitiba-Paraná nº. 10785 de 18 de setembro de 2003 diz
que cria no Município de Curitiba, o Programa de Conservação e Uso Racional da
Água nas Edificações – PURAE, segundo LEME (2008), “estabelece normas para a
contenção de enchentes e destinação de águas pluviais”.
A necessidade de se conscientizar a população ao uso racional das águas
buscou-se através de leis, medidas que induzam à conservação, uso racional e
utilização de fontes alternativas para captação de água, seja ela nas novas
edificações ou por meio de economia dos recursos hídricos que se tem.
O sistema estabelecido pela lei municipal da cidade de Curitiba tem como
objetivo instituir medidas que induzam à conservação, uso racional e utilização de
fontes alternativas para captação de água nas novas edificações, bem como a
conscientização dos usuários sobre a importância da conservação da água.
Com base na necessidade já citada a cima, o artigo 07 da lei nº 10785 diz que
...a água das chuvas deve ser captada na cobertura das edificações e encaminhada a uma cisterna ou tanque, para ser utilizada em atividades que não requeiram o uso de água tratada, proveniente da Rede Pública de Abastecimento, tais como rega de jardins e hortas, lavagem de roupa, lavagem de veículos, lavagem de vidros, calçadas e pisos. (I - reduzir a velocidade de escoamento de águas pluviais para as bacias hidrográficas em áreas urbanas com alto coeficiente de impermeabilização do solo e dificuldade de drenagem. (MIELI, 2001).
O artigo 8 ainda complementa com a reutilização da água utilizada,
direcionada através de encanamento próprio, a reservatório destinado a abastecer
as descargas dos vasos sanitários e, apenas após tal utilização, será descarregada
na rede pública de esgotos.
Conhecida como “Lei das Águas”, a Lei nº 9.433, de 08 de Janeiro de 1997,
prevê em seus objetivos:
• assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; • a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável; • a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais. (http://fonasc-cbh.org.br/lei)
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Com base na lei citada, podemos observar que o setor hídrico é amparado
por lei em seus objetivos de proteção, preservação e recuperação. Sendo assim,
qualquer atitude tomada com o objetivo de recuperação e reutilização dos potenciais
hídricos é aceitável desde que não seja prejudicial a outros setores ambientais e
sociais.
Devido à necessidade de aproveitamento da água das chuvas, o estado de
São Paulo votou uma lei estabelecendo a normas para que cisternas fossem
instaladas de forma a reaproveitar a água das chuvas. A lei estadual N.º 12526 de
02 de janeiro de 2007, regulamenta as normas de captação e retenção de águas
pluviais fazendo com que sejam obrigatórias. Sua implantação é pelo sistema de
coleta seja pelo telhado, ou coberturas, terraços e pavimentos descobertos, em
lotes, edificados ou não, que tenham área impermeabilizada superior a 500m2
(quinhentos metros quadrados). Já a norma NBR-15527 regulamenta a Água de
chuva como aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis.
Segundo Mieli (2001), tal lei tem como objetivos os seguintes itens:
I - reduzir a velocidade de escoamento de águas pluviais para as bacias
hidrográficas em áreas urbanas com alto coeficiente de impermeabilização do solo e
dificuldade de drenagem;
II - controlar a ocorrência de inundações, amortecer e minimizar os problemas
das vazões de cheias e, conseqüentemente, a extensão dos prejuízos;
III - contribuir para a redução do consumo e o uso adequado da água potável
tratada.
Além de reaproveitamento esta lei prevê também a redução no escoamento
da água das chuvas e o controle de inundações para evitar danos ambientais e
problemas sociais. A lei prevê também a composição deste sistema de
reaproveitamento, visando os seguintes passos:
I - reservatório de acumulação com capacidade calculada com base na seguinte equação: a) V = 0,15 x Aix IP x t; b) V = volume do reservatório em metros cúbicos; c) Ai = área impermeabilizada em metros quadrados; d) IP = índice pluviométrico igual a 0,06 m/h; e) t = tempo de duração da chuva igual a 1 (uma) hora. II - condutores de toda a água captada por telhados, coberturas, terraços e pavimentos descobertos ao reservatório mencionado no inciso I;
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Seguindo as etapas determinadas em lei no estado de São Paulo, é possível
se conseguir um desenvolvimento sustentável no setor hídrico com utilização do
mecanismo pluvial. Desta forma, a obtenção de resultados na recuperação hídrica
pode acontecer com maior agilidade e qualidade.
3.2 - Forma de captação de água de chuva
Malvezzi (1985), menciona que existem diferentes sistemas para a captação e
armazenamento de água das chuvas que são adequados a finalidades variadas.
Segundo o autor, o importante é enfatizar que um sistema depende de três
elementos principais para que seja efetivo e eficiente:
• Superfície de captação ou retenção da água (telhado);
Os telhados como áreas de captação; grotas, estradas e canais de infiltração
também podem ser utilizados como superfícies de captação, coletando e dirigindo a
chuva para um açude ou outro tipo de local impermeabilizado. Para a utilização
doméstica, os telhados das edificações são as principais áreas de captação que, em
localidades rurais, podem incluir outros prédios como celeiros, galpões etc.
A lavagem do telhado, ou a eliminação da água dos primeiros minutos de
chuva, é uma questão particular quando a chuva coletada será usada para consumo
humano, pois esta eliminação das primeiras águas lava a maior parte da poeira e
outros contaminantes como fezes de aves que se acumularam no telhado e nas
calhas durante o período seco. Este sistema é muito simples e pode ser construído
no próprio local com canos de PVC. Ou com o bambu gigante.
• Calhas, tubos de queda ou desviadores de água
Estes são os componentes que recolhem a chuva da área de captação do
telhado e a transportam até o tanque de armazenamento. Formas, tamanhos e
materiais convencionais são facilmente encontrados, e adaptam-se perfeitamente ao
sistema. Assim como as superfícies de captação, é importante se assegurar de que
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estes condutores sejam livres de chumbo ou qualquer outro tratamento que possa
contaminar a água.
• Reservatório ou cisterna (local onde a água é armazenada).
Além do telhado, os tanques são o maior investimento em um sistema de
captação de água da chuva. Para maximizar a eficiência do sistema, devemos tomar
decisões a respeito do melhor posicionamento do tanque, de sua capacidade e da
seleção do melhor material.
A estética de um sistema com dois tanques oferece certa flexibilidade, na
maioria dos casos. Um tanque no sistema mencionado acima representa um custo
adicional além do aumento da capacidade de armazenamento. Isto por que dois
tanques menores, digamos de 6.000 litros cada um, são geralmente mais caros do
que um único tanque com 12.000 litros de capacidade.
O principal benefício de um sistema multi-tanques é que o sistema continua
operacional se um dos tanques tiver que ser fechado para manutenção.
Independente do modelo de tanque escolhido, inspeções regulares e manutenção
apropriada são imperativos para assegurar a confiabilidade, segurança e eficiência
de operação do sistema. Lembre-se que a água é pesada. Um tanque de 2000 litros
irá pesar mais de 2 toneladas, então uma fundação apropriada é essencial.
3.2.1 - Utilização do bambu
A necessidade de repensar o consumo de materiais na construção para torná-
la mais sustentável do ponto de vista ambiental atrai olhares para a exploração de
novas alternativas. De acordo com Malvezzi (1985), o uso do bambu, é visto como a
promessa para este século. De crescimento rápido (em três anos, esta pronta para o
corte), essa gramínea gigante chama a atenção, a principio, pela beleza.
Conforme Pereira (2000), o bambu, sendo uma gramínea é, portanto,
renovável. Seu formato, dimensões e características fazem-no um instrumento
adequado para utilização como tubo condutor de água, substituindo os tubos de
PVC e metálicos. Porém, existem cerca de 1100 espécies, sendo encontrados em
altitudes que variam de zero até 4800 metros. Está espécie de planta resiste a
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temperaturas abaixo de zero, e também são facilmente adaptadas às regiões de
clima tropical, crescem como gramíneas e chegam ao extremo de 40 metros de
altura.
No Brasil são encontradas diferentes espécies nativas e exógenas de bambu
sendo sua ocorrência comum em todo o país. O bambu é originário da China, possui
colmos grossos e os mais conhecidos são da espécie imperial ou bambu brasileiro,
mas o nome morfológico é Bambusa. Os bambus apresentam florações do tipo
esporádicas, que ocorrem apenas em algumas plantas de uma população, e do tipo
sincrônicas, que ocorrem simultaneamente em todas as plantas de uma população.
(PEREIRA E BERALDO, 2000).
Em muitas espécies de bambus o florescimento é um fenômeno raro,
podendo acontecer em intervalos de até 120 anos (Filgueiras, 1988). Várias
espécies de bambus morrem ao florescer devido à energia desprendida pela planta
para a formação de um grande número de sementes.
O Bambu Gigante é um material muito utilizado nas construções civis como
coluna, viga e lastro. Para alguns tipos de animais o bambu serve como alimento,
abrigo, protetor de solo e barreira de vento. Ele também serve como lenha, carvão,
regenerador ambiental, mata ciliar, tubos, artesanatos, móveis, vara de pescar, e na
feitura de pipa (FILQUEIRAS, 2001).
Por ser tubular, flexível e fácil de manusear e transportar, é mais leve que a
maioria de alguns outros materiais fortes, e é adequado para determinados
encanamentos de água, sendo também bastante resistente suporta pressões da
ordem de 50 mca (5atm), é um produto de baixo preço aquisitivo, que em nosso país
e região, é bastante fácil de encontrar (PEREIRA E BERALDO, 2000). A frase ta
muito grande.
Na alimentação, os países asiáticos mantêm a tradição do uso do bambu,
onde a população consome o bambu isolado ou misturado a legumes e verduras. O
broto de bambu é um alimento rico em proteínas, cálcio, ferro e vitaminas, é
bastante apreciado nos mais variados pratos. Neste continente, brotos e cervejas de
bambu também são processados e enlatados, atividade que constitui parte
importante da indústria alimentícia dessa região (Teixeira,2006).
Os colmos do bambu possuem excelentes propriedades físicas e mecânicas
que podem ser utilizadas em lugar dos custosos plásticos e metais. Suas
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características de leveza, força, dureza, conteúdo de fibras, flexibilidade e facilidade
de trabalho são ideais para os diferentes propósitos tecnológicos (Pereira, 1997a).
Em todos os aspectos, o bambu é excelente material para construção, para
artesanato e para a produção de artigos de decoração. Ele ainda é grande
contribuinte para a recuperação da margem de rios e até mesmo para a alimentação
humana e animal.
3.3 - Formas de armazenamento de água de chuva
Segundo Pereira e Beraldo (2000), existem várias formas de se armazenar a
água pluvial. Dentre elas estão oito mais importantes, segundo o autor:
• Cisternas para uso humano:
O Programa 1 Milhão de Cisternas (P1MC), partindo de uma iniciativa de
ONGs do Semi-Árido Brasileiro (ASA - Articulação do Semi-Árido), está no caminho
de construir um milhão de cisternas com recursos financeiros do governo brasileiro
nos próximos anos. Com o P1MC foi desencadeado um processo político que é o
ponto de partida para uma transformação do Semi Árido inteiro.
• Cisterna adaptada para a agricultura:
É formado por uma área de captação (para captar água das chuvas que
escorre dos desníveis do terreno ou de áreas pavimentadas), um reservatório de
água (que deve ser bem maior que a cisterna para o uso humano) e um sistema de
irrigação (que pode ser feito à mão ou por gotejamento).
Com a água de uma cisterna de 16 mil litros não é possível irrigar grandes
áreas, mas sim um “quintal produtivo” de 10 m2 de verduras, regar mudas ou ter
água para galinhas e abelhas.
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• Cacimba:
É um poço raso, muitas vezes feito na pedra, com uma abertura de até 2
metros, coberto com uma tampa de madeira ou cimento e com um carretel ou uma
bomba manual para retirar a água. Um poço raso pode ser construído também com
anéis pré-moldados ou blocos de cimento, 30 metros distante e acima de qualquer
foco de poluição (fossas, sumidouros, currais, esterqueiras etc). Os três primeiros
metros da base do poço devem ser revertidos com cimento, para evitar
contaminações. Uma laje sobre o poço garante sua segurança e higiene. Pode
fornecer água para uso humano, animal e agrícola.
• Barragem subterrânea:
Aproveita as águas das enxurradas e de pequenos riachos intermitentes
disponíveis na região. É cavada uma valeta transversal nos estreitamentos dos
córregos, até chegar à base cristalina. As saídas da água podem ser fechadas com
barro apilado ou lona de PVC. Toda barragem deve ter um sangradouro, para
escoar o excesso de água e evitar que a força da água quebre a barragem.
Durante o inverno acumula-se água no solo (e não nas superfícies, como nas
barragens tradicionais). No tempo de seca a área a montante da barragem pode ser
plantada com todo tipo de fruteiras, verduras e culturas anuais, e/ou pode-se
aproveitar a água armazenada a partir do poço amazonas que obrigatoriamente tem
que ser construído.
• Barreiro e caxio:
Criados para disponibilizar água para os animais, para “irrigação de salvação”
e para complementar o abastecimento de cultivos anuais. São reservatórios com um
ou mais compartimentos e de mais de três metros de profundidade, com fundo e
parede de pedra, que não deixa a água se infiltrar e se perder. Pequenas valetas
são construídas para direcionar a água de enxurradas para esses compartimentos,
tendo-se de preocupação de evitar a passagem de sedimentos.
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• Pequeno açude:
Área de baixio onde se recolhe a água da chuva. É natural ou construído com
trator ou à mão. Para diminuir a evaporação, recomenda-se arborizar as margens do
açude. Pelo mesmo motivo é importante uma boa profundidade. Deve ter um
sangrador grande e bem construído para não quebrar em anos de chuva excessiva.
Pode-se plantar na várzea ou embaixo do açude com irrigação de salvação.
• Caldeirão (tanque de pedra):
É uma caverna natural, escavada em lajedos (às vezes aumentada nos
períodos de seca), que representa excelente reservatório para armazenar água das
chuvas para uso humano, animal e agrícola.
• Mandala:
É uma tecnologia da agricultura irrigada. Uma mandala é composta de nove
círculos de distribuição de água, organizados ao redor de um reservatório central em
forma de cone. O desperdício na irrigação é controlado com o gotejamento regular
nas plantações diversificadas nos nove círculos concêntricos. O reservatório de
água, cercado com tela ou galhos, pode ser utilizado para criação de patos e peixes.
A mandala somente funciona com bastante água; assim, além da água de
chuva, deve-se ter outra fonte de abastecimento, como, por exemplo, um curso
d´água, um açude ou um poço.
• Barramento de água de estradas:
A experiência consiste em captar e canalizar a água de chuva que escorre
pela lateral de estradas, através de manilhas, e armazená-la, depois de processos
de decantação, numa cisterna subterrânea, da qual será retirada para irrigação de
salvação.
De qualquer forma, os meios de captação de água citados acima prevêem o
uso da água da chuva como principal componente hídrico utilizando em alguns
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4 - METODOLOGIA
Visando classificar esta pesquisa, usou-se as tipologias sugeridas por Gil
(1996) e Vergara (2000). Neste caso, segundo Gil (1996) esta pesquisa se classifica
como exploratória, do ponto de vista dos seus objetivos. Baseado em Gil (1996),
exploratória, uma vez que “visa proporcionar maior familiaridade com o problema
com vistas a torná-lo explícito ou a construir hipóteses”. Ainda segundo o autor,
“envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema pesquisado; análise de exemplos que
estimulem a compreensão”. Neste sentido, a pesquisa irá apresentar um modelo
proposto para capacitação de água de chuva com baixo custo, visando apresentar
sua viabilidade de implantação. Para tanto, se faz necessária uma análise descritiva
dos fenômenos envolvidos neste processo e como os diversos fatores envolvidos
nestes fenômenos contribuíram para a ocorrência dos mesmos. Por isto, necessita-
se de algumas ferramentas de pesquisas descritivas e explicativas.
Já no que tange aos delineamentos da pesquisa, segundo Gil (1996), esta pesquisa,
se classifica como um estudo de caso. Baseado na metodologia de estudo de caso
de Yin (1996), será possível fazer uma pesquisa mais profunda das características
do modelo de capitação de água de chuva, analisando sua viabilidade de
implantação.
Contudo, houve inicialmente uma revisão bibliográfica e documental,
auxiliando a realizar um embasamento teórico e balizar a linha a ser seguida,
classificando a empresa em foco. Nesta revisão bibliográfica e documental foram
levantados dados relativos à implantação do modelo de capitação de água de chuva
de baixo custo.
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5 – RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na busca pelo conhecimento e aplicação de formas de aproveitamento da
água das chuvas e, acima de tudo, um modelo sustentável de captação e reserva
desta água, este trabalho apresenta, através de um estudo de caso, o modelo
adotado é bastante semelhante ao programa Asa Rural, onde na região de Aimorés
implantaram-se e com grande probabilidade em se estender para a região leste, que
é o caso de Governador Valadares. A apresentação se dará em três etapas: a
primeira etapa irá apresentar o modelo sustentável de captação da água das chuvas
de baixo custo; a segunda etapa irá apresentar o modelo de reserva da água das
chuvas captada; a terceira etapa irá apresentar o processo de estender-se para a
região de Governador Valadares, com o mesmo modelo.
5.1. Modelo Sustentável de captação da águas das chuvas
Para a efetiva prática deste modelo, buscou-se trazer o conhecimento da
necessidade de se ter uma prática voltada para o aproveitamento de recursos que o
meio ambiente oferece como a instalação do bambu gigante na substituição dos
canos de PVC para a captação da água das chuvas.
No projeto deste trabalho, buscou-se a instalação de um modelo para
telhados de casas populares com dimensão de 10,47 x 7,6m, com arquitetura de
duas águas, usando o bambú gigante com matéria prima para sua moldagem. Esta
arquitetura se justifica devido sua moldagem de calhas para esse tipo de construção
ser diferenciada das arquiteturas com quatro águas. O modelo de telhado com
arquitetura de duas águas visa também minimizar o custo financeiro da obra, no qual
esse modelo de queda d’água fica bem mais em conta em relação ao material gasto
na sua construção e fabricação das calhas é bem menor. A figura 1, ilustra o modelo
de capitação de água com arquitetura de duas águas.
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Figura 01: Modelo sustentável de captação da água das chuvas
Fonte: 3P-Technik do Brasil
Essa atividade é feita de acordo com a arquitetura das construções. As
confecções deste sistema inovador serão obtidas através da retirada de Bambu
Gigante que tem aproximadamente 10 a 14 metros de comprimento utilitário, com
um diâmetro variando de 100 a 150mm e esses devem passar por um processo de
retirada, tratamento e moldagem. No caso dos telhados terem arquitetura de quatro
águas, é necessário fazer uma moldagem no encaixe dos bambus para substituir os
esquadros, utilizando o próprio material para obter os bocais de saída de água. As
confecções desses sistemas de calhas serão fixados através de pequenos suportes
metálicos de 125mm acompanhando o nível beiral do telhado, porém se faz
necessário adquirir, grelha flexível para colocar nos bocais de saída d’água,
suportes metálicos para fixar as calhas no telhado, cola Cascaresa para vedar os
encaixes do bambu. Este trabalho se dará com auxílio de um facão, formão, lixa de
madeira, serra fita e furadeira para a moldagem das calhas. Os bocais de saída das
calhas serão montados nos dois lados do casa, duas dividindo o meio do mesmo, na
extremidade da construção faz-se do mesmo modo, sendo mais perto possível da
base. Para facilitar a confecção desse modelo, apresenta-se uma montagem de
parte da calha com tubo de bambu.
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Sabendo que uso do PVC é bastante caro em relação ao que se usa neste
modelo, além de ser um material renovável e de baixo custo, encontrado em
abundância em regiões tropicais e subtropicais. No entanto, como a maior parte das
espécies de bambu é altamente suscetível ao ataque de fungos e insetos, fez-se
necessário aumentar a durabilidade dos colmos de bambu através do tratamento
dos colmos de duas maneiras: por procedimentos culturais (naturais) e pelo
tratamento dos colmos com produtos químicos.
A implantação do projeto requer um investimento de R$ 11.044,90 (onze mil e
quarenta e quatro reais e noventa centavos), na construção da calha, do reservatório
e implantação com uso do bambu e de placa de argamassa e mão de obra. É
importante ressaltar que o modelo poderá ter uma durabilidade que varia entre 4-6
anos para o bambu tratado (NASCIMENTO et. al, 2005).
Para execução do projeto, inicialmente, foi feita a escolha do bambu que seria
utilizado no empreendimento, o trato do bambu e sua modelagem. No
desenvolvimento do projeto, foi feito um estudo do potencial de recepção da casa
escolhida para o projeto. Em seguida, depois de feito o estudo e medição das
localizações que seriam atendidas pelo projeto tiveram inicio o processo de
preparação e montagem das calhas a serem utilizadas no local. A figura 2 ilustra os
bambus modelados e montados para serem colocados como calhas para captação
da água das chuvas.
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Figura 2. Bambus modelados e montados para serem colocados como calhas para captação da água
das chuvas, programa Asa Rural, Aimorés, Minas Gerais.
Fonte: Instituto Terra
Depois de feito o processo de montagem das calhas deu-se inicio ao processo
de colocação e teste da mesma. Neste processo foi instalado um suporte resistente
a instalação do bambu preparado em seguida. Em seguida, foi feita a colocação de
forma correta das calhas de bambu preparadas, conforme ilustra a figura 3.
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Figura 3. Calhas de bambu gigante fixadas nos telhados com arquitetura em duas águas.
Fonte: Instituto Terra
5.2 - Modelo Sustentável de reserva da águas das chuvas captadas
Os reservatórios são de fundamental importância, pois são eles que permitem
que água da chuva captada pelo telhado seja distribuída para as residências e para
irrigação, dessedentação animal atendendo assim as seguintes finalidades: Atender
as variações de consumo; Manter pressão mínima e constante na rede e atender as
demandas de emergência.
Os reservatórios podem ser construídos em locais onde não é possível escavar (solos rasos e lajedos). Têm também a finalidade de abastecimento humano, porém deve-se ter um cuidado essencial: que sejam feitas em terreno firme e bem nivelados, para garantir a estabilidade. Necessitam de uma quantidade maior de arame para a amarração da parede, neutralizando a pressão interna da água. Permitem a colocação de uma torneira na base, de onde a água pode ser retirada, por gravidade, sem nenhum contato manual. (Site ASA BRASIL)
Para o armazenamento da água das chuvas captadas, o programa Asa Rural
baseia-se no modelo de armazenamento de água de chuva, sugerido por Malvezzi
(1985), a saber: as cisternas em calçadão.
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As cisternas em calçadão têm como finalidade, sobretudo, captar água de
chuva para a produção. O armazenamento é feito no chão ou em áreas
impermeabilizadas, como os terreiros cimentados como ilustra a Figura 4.
Figura 4: Cisterna de calçadão
Fonte: Site Asa Brasil.
Conforme se pode observar na figura 4, para confecção da cisterna em
calçadão é necessário uma perfuração no solo para que seja feito o serviço de
alvenaria.
Deve-se chamar a atenção para estas cisternas sejam hermeticamente
fechadas, evitando assim, que algas e bactérias dependentes da luz solar venham a
se proliferar. Para a execução deste tipo de projeto é necessário o uso de placas de
argamassa, que devem ser feitas com antecedência para não comprometer a
montagem da cisterna. A prática de montagem em solo possibilita a estabilidade
entre as paredes da construção.
Para o projeto em estudo, foi construído um reservatório de captação de água
da chuva com dimensão de 2x8x1 pelo telhado na base da casa, sendo que a água
captada pela calhas de bambu foi recolhida diretamente para a cisterna do tipo
Calçadão, ilustrado na figura 4. Para sua construção foi necessário o uso de um
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maquinário para escavar poços. O poço foi construído com placas de argamassa
sendo dois terços do mesmo enterrado no chão. O reservatório construído
possibilitou um modelo hermeticamente fechado, que não permitiu a entrada da luz,
multiplicação de algas e outros elementos vivos, ficando a água plenamente
preservada.
O reservatório da casa popular tem uma área de 51,21m2, com capacidade de
armazenar 16 mil litros de água.
5.2.1 - Processo de implantação do modelo nas comunidades de Aimorés.
Durante todo o processo foi feito um trabalho de conscientização ambiental na
escola próxima ao Instituto Terra. Este trabalho na escola foi composto por
palestras, dinâmicas e demonstração da construção de calhas provenientes de
bambu. Em seguida, foi apresentado um projeto de estruturação de uma cisterna
ecologicamente correta. Os alunos participaram ativamente das propostas
apresentadas até este momento, sendo bastante curiosos e questionadores.
A escola aceitou o projeto e levou os alunos a pesquisarem em sua
comunidade a possibilidade de instalação do projeto das cisternas para o
aproveitamento das águas pluviais com a exploração de materiais que o meio
ambiente tem a oferecer, obtendo uma prática sustentável.
Após o trabalho na escola e na comunidade, foi feito o trabalho de prática
levando os alunos a participarem direta ou indiretamente da implantação das calhas
para o aproveitamento das águas da chuva. Durante este processo foi feito com os
alunos um levantamento das vantagens de se utilizar o bambu no lugar do PVC,
demonstrando que a prática de sustentabilidade é mais viável para a comunidade
uma vez que se torna também a mais econômica.
Com a aplicação do uso do bambu como condutor da água até as cisternas,
observou-se que a comunidade teve aceitação e credibilidade para o projeto, uma
vez que o processo de recolhimento pode ser efetuado também para “águas
servidas”. Um fator que proporcionou a contribuição da comunidade escolar e social
foi o fator de reaproveitamento e de economia, uma vez que a redução da água
potável para determinados tipos de serviços domésticos e industriais reduz os
custos e proporcionam uma sustentabilidade necessária par as gerações futuras.
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6 - CONCLUSÃO
Como o aumento da demanda pela água, é natural que alternativas para seu
uso sejam previstas. A contribuição do Programa ASA RURAL, apresentado neste
trabalho, visa apresentar um projeto de ampliação do uso da água reciclada,
expectativa de que, com a comprovação das vantagens de seu aproveitamento, tal
recurso torne-se uma prática mais comum. Nem sempre a economia é significativa
em termos financeiros, porém com a escassez cada vez maior da água, o percentual
encontrado é bem expressivo, o que reforçou a aceitação e participação da
comunidade atingida pelo projeto.
Visando investigar quais as formas de utilização da água das chuvas e de que
forma esta água poderia ser captada sem agredir o meio ambiente, aproveitando o
que a natureza tem a oferecer para instalação das formas de captação e
armazenamento das águas das chuvas, buscou-se conscientizar os moradores
atingidos pelo projeto, sobre a importância de economizar água, contribuindo assim
para um aprendizado coletivo e influenciando nas práticas de uso da água em toda
comunidade.
Através do incentivo a implantação de sistemas de captação de água de
chuva e seu armazenamento através de cisternas conseguiu-se disseminar entre a
comunidade a idéia da implantação de cisternas para o aproveitamento da água das
chuvas. Através do conhecimento adquirido pelo público sobre a técnica de
implantação de cisternas e sua importância para o Meio Ambiente, foi proporcionado
à demonstração da possibilidade de que é possível implantar cisternas com poucos
recursos.
A captação de água de chuva, utilizando o bambu como calha, mostrou-se
como modelo alternativo, aos modelos de captação convencional principalmente o
mais difundido no mercado que são os de PVC considerando os aspectos
econômicos, sociais e de preservação e conservação dos recursos naturais. É um
sistema de baixo custo de aquisição, e de ampla ocorrência natural tanto no meio
rural quanto urbano, para uso em residências ou no setor industrial.
Ao final desta pesquisa pode-se avaliar que o reaproveitamento da água, não
somente a pluvial, mas também das ‘águas servidas’, representou uma alternativa
eficiente e econômica no combate ao desperdício.
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Os benefícios do reuso foram informados à população para que ela refletisse
sobre os desdobramentos na economia tanto da matéria-prima quanto dos recursos
financeiros, uma vez que a água reciclada costuma apresentar alguma turbidez - o
que não chega a comprometer o seu uso – mas sempre causa estranheza ao
usuário que não está acostumado a ela.
Através da implantação do programa, foi possível incentivar a implantação de
sistemas de captação de água de chuva e seu armazenamento através de cisternas.
Em seguida, foi possível disseminar entre a comunidade a idéia da implantação de
cisternas para o aproveitamento da água das chuvas, bem como, levar ao público o
conhecimento sobre a técnica de implantação de cisternas e sua importância para o
Meio Ambiente, demonstrando que é possível implantar cisternas com poucos
recursos utilizando o que o meio ambiente tem a oferecer.
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7 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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