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Escola Secundária Dra Laura Ayres Actividade: Representação teatral de um Excerto do “Teeteto” de Platão Definição de Conhecimento Professora Inês Aguiar A maior parte dos filósofos pensa que não basta ter uma crença verdadeira para ter conhecimento. O primeiro a expressar esta ideia foi Platão, num diálogo chamado Teeteto. Sócrates – Mas, voltando ao início da discussão, como é que poderíamos definir o conhecimento? Não vamos desistir da investigação, presumo eu. Teeteto - De modo nenhum, a não ser que tu mesmo desistas. Sócrates – Diz-me, então qual a melhor definição que poderíamos dar de conhecimento, para não entrarmos em contradição connosco mesmos. Teeteto – é exactamente a que já procurámos dar, Sócrates. Da minha parte, não vejo outra. Sócrates – Qual é? Teeteto – Que a crença verdadeira é conhecimento. A crença verdadeira, parece, é infalível e tudo o que dela resulta é belo e bom. Sócrates – Não há como experimentar para ver, Teeteto, diz o chefe de fila na passagem do rio. Aqui dá-se o mesmo: o que temos a fazer é avançar na investigação. Talvez venhamos a esbarrar nalguma coisa que nos revele o que procuramos. Se pararmos por aqui, é que não descobriremos nada. Teeteto – Tens razão. Vamos em frente e examinemos. Sócrates – O problema não exige estudo prolongado, pois existe uma profissão que mostra bem como a opinião verdadeira não é conhecimento. Teeteto – Como é possível? Que profissão é essa? Sócrates – A desses modelos de sabedoria a que se dá o nome de oradores e advogados. Tais indivíduos, com a sua arte, produzem a convicção, não ensinando, mas sugerindo as crenças que lhes aprazem. Ou julgas tu que há mestres tão habilidosos que, no pouco tempo concedido pela clepsidra, sejam capazes de ensinar 1

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Atividade Teeteto

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Escola Secundária Dra Laura AyresActividade: Representação teatral de um

Excerto do “Teeteto” de PlatãoDefinição de Conhecimento

Professora Inês Aguiar

A maior parte dos filósofos pensa que não basta ter uma crença verdadeira para ter conhecimento. O primeiro a expressar esta ideia foi Platão, num diálogo chamado Teeteto.

Sócrates – Mas, voltando ao início da discussão, como é que poderíamos definir o conhecimento? Não vamos desistir da investigação, presumo eu.Teeteto - De modo nenhum, a não ser que tu mesmo desistas. Sócrates – Diz-me, então qual a melhor definição que poderíamos dar de conhecimento, para não entrarmos em contradição connosco mesmos.Teeteto – é exactamente a que já procurámos dar, Sócrates. Da minha parte, não vejo outra.Sócrates – Qual é?Teeteto – Que a crença verdadeira é conhecimento. A crença verdadeira, parece, é infalível e tudo o que dela resulta é belo e bom.Sócrates – Não há como experimentar para ver, Teeteto, diz o chefe de fila na passagem do rio. Aqui dá-se o mesmo: o que temos a fazer é avançar na investigação. Talvez venhamos a esbarrar nalguma coisa que nos revele o que procuramos. Se pararmos por aqui, é que não descobriremos nada.Teeteto – Tens razão. Vamos em frente e examinemos.Sócrates – O problema não exige estudo prolongado, pois existe uma profissão que mostra bem como a opinião verdadeira não é conhecimento.Teeteto – Como é possível? Que profissão é essa?Sócrates – A desses modelos de sabedoria a que se dá o nome de oradores e advogados. Tais indivíduos, com a sua arte, produzem a convicção, não ensinando, mas sugerindo as crenças que lhes aprazem. Ou julgas tu que há mestres tão habilidosos que, no pouco tempo concedido pela clepsidra, sejam capazes de ensinar devidamente a verdade acerca dum roubo ou de qualquer outro crime, a ouvintes que não foram testemunhas do facto?Teeteto – Não creio, de forma nenhuma. Eles não fazem senão persuadi-los.Sócrates – Mas, para ti, persuadir alguém não será levá-lo a acreditar em algo?Teeteto – Sem dúvida.Sócrates – Então, quando há juízes que se acham justamente persuadidos de factos que só uma testemunha ocular, e mais ninguém, pode saber, não é verdade que, ao julgarem esses factos por ouvir dizer, depois de terem formado deles uma opinião verdadeira, pronunciam um juízo desprovido de conhecimento, embora tendo uma convicção justa, se deram uma sentença correcta?Teeteto – Com certeza.Sócrates – Mas, meu amigo, se a crença verdadeira dos juízes e a ciência fossem a mesma coisa, nunca o melhor dos juízes teria uma crença verdadeira sem conhecimento. A verdade, porém, é que se trata de duas coisas diferentes.

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Teeteto – Eu mesmo já ouvi fazer essa distinção, Sócrates; tinha-me esquecido dela, mas voltei a lembrar-me. Dizia essa pessoa que a crença verdadeira acompanhada de razão (logos) é conhecimento e que desprovida de razão, a crença está fora do conhecimento.

Platão, Teeteto

Plano de perguntas

A) Que tese defende o texto?B) Qual o principal argumento que utiliza para a defender?C) Que definição de conhecimento está implícita no texto de Platão?

Plano de respostas

A) A tese defendida no texto é a seguinte: não basta ter uma crença verdadeira para ter conhecimento; são condições necessárias, mas não suficientes.B) O autor para defender esta tese utiliza como exemplo uma profissão que mostra como a opinião verdadeira não é conhecimento. Essa profissão é a dos oradores e advogados, uma vez que os advogados levam as pessoas a acreditar em coisas que, em alguns casos, são verdadeiras, fazendo deste modo com que tenham crenças verdadeiras, mas não conhecimento.C) A definição de conhecimento implícita neste diálogo é a seguinte: o conhecimento é uma crença verdadeira justificada pela razão.

A professora

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