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27 ARTIGO ORIGINAL Acidentes domésticos em crianças: uma análise epidemiológica Sérgio Botelho Guimarães 1 , Amaury de Castro e Silva Filho 2 , Adaylton Aragão Correia 2 , João Paulo Aguiar Ribeiro 2 , Antônio Walnickson 2 , Darlan Barbosa de Castro Lima 2 1. Mestre em Cirurgia, Professor Adjunto, Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina (UFC) e Coordenador da “Liga de Prevenção do Trauma Pediátrico”, projeto de extensão da UFC. 2. Estudantes de Medicina (UFC). Home accidents in children: an epidemiologycal analysis Recebido em: 01.10.03 Aceito em: 01.11.03 Revista de Pediatria do Ceará Resumo Objetivo: definir o perfil das crianças vítimas de acidente domiciliar na cidade de Fortaleza. A prevenção do trauma exige uma série de informações básicas para ser efetiva e permitir o desenvolvimento de estratégias capazes de coibir sua ocorrência. A inexistência desse estudo na cidade de Fortaleza motivou a realização do presente trabalho. Delineamento: análise retrospectiva dos prontuários de 600 pacientes pediátricos vítimas de trauma no período de Janeiro de 1995 a Dezembro de 1997. Os pacientes foram distribuídos em três faixas etárias: lactentes e crianças jovens (0-2 anos incompletos), pré-escolares (2-7 anos incompletos) e escolares (7- 12 anos completos). Local: Instituto Dr. José Frota, Participantes: 159 crianças vítimas de trauma domiciliar. Medidas de desfecho: as informações obtidas foram tabuladas e analisadas utilizando-se o programa Epi Info versão 6.04b. Resultados: houve predominância do sexo masculino (65,4%), a maioria dos pacientes tinha menos de 7 anos de idade (80,8%) e residiam na cidade de Fortaleza ou região metropolitana (69,8%). Os mecanismos de trauma mais encontrados foram a queimadura pelo calor (87,4%) e queda de altura indeterminada (8,8%). Os principais diagnósticos determinantes da internação foram a queimadura (87,4%) e o trauma crânio-encefálico (9,4%) O tempo médio de permanência hospitalar foi de 10 dias. Ocorreram 3 (1,9%) óbitos após 48 horas de internação. O alto número de queimaduras pode estar relacionado a fatores sócio-econômicos. Os demais resultados são semelhantes aos encontrados na literatura. Conclusões: Na amostra estudada, a queimadura pelo calor é a lesão mais freqüente no trauma pediátrico domicilar, afligindo com maior freqüência crianças do sexo masculino, provenientes da capital e zona metropolitana de Fortaleza. Descritores: Acidentes domésticos, trauma/ epidemiologia, criança Abstract Objective: to define the profile of children’s domestic accidents in the city of Fortaleza. Implementation of trauma preventive measures demands a series of basic information in order to allow the development of strategies aimed at restraining its occurrence. The inexistence of that study in the city of Fortaleza motivated the accomplishment of the present work. Outline: retrospective analysis of the medical records of 600 pediatric trauma patients admitted in the period of January of 1995 to December of 1997. Patients were distributed in three age groups: infants and young children (0-2 incomplete years), pre-school (2-7 incomplete years) and school (7-12 complete years). Settings: Instituto Dr. José Frota. Participants: 159 children victims of domestic accidents. Statistical analysis: information colleted was tabulated and analyzed utilizing the computer program Epi Info version 6.04b. Results: Most patients were males (65,4%), had less than 7 years of age (80,8%), and lived in the city of Fortaleza or metropolitan area (69,8%). Frequent trauma mechanisms were thermal (heat) burns (87,4%) and fall from an uncertain height (8,8%). The main admission diagnoses were burns (87,4%) and the head injuries (9,4%). Average hospital stay was 10 days. Three (1,9%) deaths occurred at least after 48 hours of hospital stay. The high number of burns could be related to socioeconomic factors. The other results are similar to those found in the literature. Conclusions: In the present population thermal (heat) burns are the most frequent lesion in pediatric domestic accidents afflicting preferentially male children living in the capital and metropolitan zone of Fortaleza. Keywords: Domestic accidents, trauma/ epidemiology, child. Rev Pediatr Ceará, 4(2): 27-31, jul./dez. 2003

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ARTIGO ORIGINAL

Acidentes domésticos em crianças: uma análise epidemiológica

Sérgio Botelho Guimarães1, Amaury de Castro e Silva Filho2, Adaylton Aragão Correia2, João Paulo Aguiar Ribeiro2, Antônio Walnickson2, Darlan Barbosa de Castro Lima2

1. Mestre em Cirurgia, Professor Adjunto, Departamentode Cirurgia da Faculdade de Medicina (UFC) eCoordenador da “Liga de Prevenção do TraumaPediátrico”, projeto de extensão da UFC.

2. Estudantes de Medicina (UFC).

Home accidents in children: an epidemiologycal analysis

Recebido em: 01.10.03Aceito em: 01.11.03

Revista de Pediatria do Ceará

Resumo

Objetivo: definir o perfil das crianças vítimas deacidente domiciliar na cidade de Fortaleza. Aprevenção do trauma exige uma série de informaçõesbásicas para ser efetiva e permitir o desenvolvimentode estratégias capazes de coibir sua ocorrência. Ainexistência desse estudo na cidade de Fortalezamotivou a realização do presente trabalho.Delineamento: análise retrospectiva dos prontuáriosde 600 pacientes pediátricos vítimas de trauma noperíodo de Janeiro de 1995 a Dezembro de 1997.Os pacientes foram distribuídos em três faixas etárias:lactentes e crianças jovens (0-2 anos incompletos),pré-escolares (2-7 anos incompletos) e escolares (7-12 anos completos).Local: Instituto Dr. José Frota,Participantes: 159 crianças vítimas de traumadomiciliar.Medidas de desfecho: as informações obtidasforam tabuladas e analisadas utilizando-se o programaEpi Info versão 6.04b. Resultados: houve predominância do sexomasculino (65,4%), a maioria dos pacientes tinhamenos de 7 anos de idade (80,8%) e residiam nacidade de Fortaleza ou região metropolitana (69,8%).Os mecanismos de trauma mais encontrados forama queimadura pelo calor (87,4%) e queda de alturaindeterminada (8,8%). Os principais diagnósticosdeterminantes da internação foram a queimadura(87,4%) e o trauma crânio-encefálico (9,4%) Otempo médio de permanência hospitalar foi de 10dias. Ocorreram 3 (1,9%) óbitos após 48 horas deinternação. O alto número de queimaduras pode estarrelacionado a fatores sócio-econômicos. Os demaisresultados são semelhantes aos encontrados naliteratura.Conclusões: Na amostra estudada, a queimadurapelo calor é a lesão mais freqüente no traumapediátrico domicilar, afligindo com maior freqüênciacrianças do sexo masculino, provenientes da capitale zona metropolitana de Fortaleza.Descritores: Acidentes domésticos, trauma/epidemiologia, criança

Abstract

Objective: to define the profile of children’s domesticaccidents in the city of Fortaleza. Implementation oftrauma preventive measures demands a series of basicinformation in order to allow the development ofstrategies aimed at restraining its occurrence. Theinexistence of that study in the city of Fortalezamotivated the accomplishment of the present work.Outline: retrospective analysis of the medical recordsof 600 pediatric trauma patients admitted in the periodof January of 1995 to December of 1997. Patientswere distributed in three age groups: infants and youngchildren (0-2 incomplete years), pre-school (2-7incomplete years) and school (7-12 complete years).Settings: Instituto Dr. José Frota.Participants: 159 children victims of domesticaccidents.Statistical analysis: information colleted wastabulated and analyzed utilizing the computer programEpi Info version 6.04b.Results: Most patients were males (65,4%), hadless than 7 years of age (80,8%), and lived in the cityof Fortaleza or metropolitan area (69,8%). Frequenttrauma mechanisms were thermal (heat) burns(87,4%) and fall from an uncertain height (8,8%).The main admission diagnoses were burns (87,4%)and the head injuries (9,4%). Average hospital staywas 10 days. Three (1,9%) deaths occurred at leastafter 48 hours of hospital stay. The high number ofburns could be related to socioeconomic factors. Theother results are similar to those found in the literature.Conclusions: In the present population thermal (heat)burns are the most frequent lesion in pediatricdomestic accidents afflicting preferentially malechildren living in the capital and metropolitan zone ofFortaleza.Keywords: Domestic accidents, trauma/epidemiology, child.

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Introdução

O trauma é uma realidade incontestável no dia-a-dia do cirurgião pediátrico. Fatores sociais, comoo desenvolvimento de grandes aglomerados humanosde precárias condições de subsistência na periferiadas capitais e grandes cidades, o empobrecimentoprogressivo e a desinformação da grande maioria dapopulação brasileira têm contribuído de maneirasignificativa para o aumento do número de casos detrauma infantil.

O trauma não intencional não é uma ocorrênciafortuita e secundária ao acaso, como presume oideário popular. Há mais de 30 anos, Haddon (1972)afirmava que as circunstâncias causais relacionadasao traumatismo eram eventos distintos das lesõesconseqüentes ao mesmo1. Os traumatismospediátricos seguem padrões específicos, previsíveis,e são diretamente influenciados pela idade, sexo, localde moradia, hora do dia e clima2.

O ambiente doméstico pode ser especialmentehostil às crianças. Instrumentos cortantes, móveis,janelas, panelas contendo alimentos fumegantes,fósforos, garrafas de detergentes e produtos tóxicosdeixados embaixo da pia da cozinha se constituematrativos especiais para crianças, contribuindo demodo efetivo para aumentar o número de criançaslesionadas, com resultados muitas vezes nefastos.

Face ao exposto torna-se óbvio que o perfildos acidentes pediátricos sofre variações em funçãode múltiplos fatores. A prevenção do trauma exigeuma série de informações básicas para ser efetiva epermitir o desenvolvimento de estratégias capazesde coibir a disseminação dessa verdadeira epidemia.A inexistência de estudo similar motivou a realizaçãodo presente trabalho, que teve por objetivo definir operfil das crianças vítimas de acidente domiciliar,atendidas em um grande hospital público dereferência em trauma, da cidade de Fortaleza.

Métodos

O estudo foi realizado como parte do projetode extensão “Liga de prevenção do traumapediátrico”, aprovado pelo Departamento deCirurgia da Faculdade de Medicina (UFC) ecadastrado na Pró-Reitoria de Extensão da

Universidade Federal do Ceará sob o númeroQE00.2000.008, em 20 de janeiro de 2000.

Uma análise retrospectiva utilizando umprotocolo previamente estabelecido coletou os dadosdos prontuários de 600 pacientes pediátricosatendidos no Instituto Dr. José Frota em Fortaleza(CE), no período de Janeiro de 1995 a Dezembrode 1997, todas vítimas de trauma, incluindo acidentesautomobilísticos. No mesmo período foram atendidas159 crianças vítimas de trauma domiciliar (Figura 1).As variáveis coletadas incluíram, sexo, idade,procedência, mecanismo da lesão, evolução, tempode internação e destino final dos pacientes.

Para efeito de sistematização os paciente foramdistribuídos em três faixas etárias: lactentes e criançasjovens (0 a 2 anos incompletos), pré-escolares (2 a7 anos incompletos) e escolares (7 a 12 anosincompletos). As informações obtidas foramtabuladas e analisadas utilizando-se o programa EpiInfo versão 6.04b.

Resultados

Os pacientes do sexo masculino foram maisnumerosos (65,4%). Quase metade (42,1%) dospacientes atendidos era constituída por lactentes ecrianças jovens (0 a 2 anos incompletos) com 42,1%,

050

100150200250300

Pacientes

Queimaduras Quedas Outros

Mecanismo

Trauma Geral Trauma Domiciliar

Pacientes

Figura 1 – Comparação entre o número total de casos detrauma pediátrico (n = 600) atendidos no Instituto Dr. JoséFrota, em Fortaleza - Ce, de jan/95 a dez/97 e o número decasos de acidente domiciliar (n = 159), mostrando osprincipais mecanismos de lesão.

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Quanto à procedência, 51,6% residiam nacapital, 18,2% nas outras cidades da regiãometropolitana e 28,3% no interior do estado. (Figura3).

Figura 3 – Procedência dos pacientes vítimas de acidentesdomiciliares, atendidos no I. J. F. em Fortaleza, no períodojan. 1995 a dez. 1997.

Os mecanismos de trauma mais encontradosforam a queimadura pelo calor (87,4%) e queda dealtura indeterminada (8,8%). Os principaisdiagnósticos determinantes da internação foram aqueimadura (87,4%); e o traumatismo crânio-encefálico (9,4%). A grande maioria dos pacientes(97,5%) apresentou uma evolução satisfatória,recebendo alta hospitalar em menos de duas semanas(97,5%), com uma média de 10 dias de internação.

Verificaram-se três óbitos (1,9%) após 48 horas deinternação. Um paciente foi transferido para outraunidade hospitalar após o atendimento inicial.

Discussão

O trauma pediátrico não é prerrogativa dospaíses pobres ou em desenvolvimento. Nos EstadosUnidos, somente no ano de 2002, aproximadamente2.100 crianças menores de 14 anos faleceram emdecorrência de acidentes domiciliares. Um fatoimportante é que mais de 70% destas mortesocorreram em crianças com idade até 4 anos.3

O trauma é a principal causa de óbito após oprimeiro ano de vida na China.4 Chow (1999),estudando o trauma pediátrico em Hong Kong,constatou que as quedas acidentais contribuíam com20% dos óbitos decorrentes de lesões acidentais emcrianças com idade inferior a 15 anos.5

Estudo realizado por Yunes (1993), naColômbia, mostrou que o trauma é responsável por40% de todos os óbitos em indivíduos com menosde 40 anos de idade. Correa et al. (2000) estudaramo perfil epidemiológico dos acidentes pediátricosdomiciliares com vítimas fatais (1983-1993),demonstrando que, em crianças com idadescompreendidas na faixa 4-14 anos, a mortalidadecorrespondeu a 44% de todos os óbitos pediátricosocorridos na cidade de Medellín, Colômbia.6

Bassols (1989) realizou um estudoepidemiológico prospectivo, analisando asinternações ocorridas no período 1989-1992 noHospital Municipal de Porto Alegre (RS) e concluiuque as lesões mais freqüentes, responsáveis por 70%de todas as internações, foram decorrentes deacidentes de trânsito, quedas e queimaduras.7 Nocontexto global, as queimaduras contribuem, demaneira significativa, para a morte e a mutilação comresultante incapacitação dos indivíduos atingidos pelofogo.8 Na Inglaterra, em 1998, cerca de 500 mortese 15.00 pessoas foram atingidas pelo fogo, no interiorde suas residências.9

Houve prevalência de pacientes do sexomasculino (65,4%) à semelhança de outrosestudos.4,5,6,7,11,13

No presente estudo mais de 80% dos acidentes

seguida pelos pré-escolares (2 a 7 anos incompletos)com 38,4%; e pelos escolares (7 a 12 anos) com19,5% (Figura 2)

Figura 2 – Distribuição dos pacientes vítimas de acidentesdomiciliares por faixa etária

Guimarães SB, Filho ACS, Correia AA, Ribeiro JPA, Walnickson A, Lima DBC

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

0-2 anos

incompletos

2-7 anos

incompletos

7-12 anos

completos

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

Fortaleza Reg.

Metropolitana

Interior do

Ceará

N.I.

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Costa et al. (1999) apresentaram um estudode 408 crianças menores de 10 anos vítimas dequeimaduras diversas e concluíram que a maioria daslesões ocorreu com maior freqüência na cozinha dopróprio domicílio, por ação de líquidos quentes,vitimando principalmente crianças menores de 7anos.10

Questionam-se as razões da prevalência daqueimadura nos pacientes estudados. As condiçõessociais, onde as crianças ficam restritas a um ambientedoméstico muitas vezes constituído de um únicocômodo, onde convivem com um fogão algumasvezes queimando carvão vegetal, panelas em ebuliçãolocalizadas ao alcance dessas crianças, o absenteísmodos pais, obrigados a buscarem a alimentação diáriaatravés da realização de pequenos serviços(biscates), deixando os menores assistidos por umirmão também menor de idade podem ser fatoresfundamentais para a ocorrência de queimaduras deintensidade variável.

Del Rio et al. (1997) estudaram os prontuáriosde 11.207 casos de trauma pediátrico ocorridos naEspanha durante o ano de 1995, dos quais 521necessitaram hospitalização e concluíram que omecanismo de trauma mais freqüente foram as quedasacidentais (35%).11 Stracieri et al. (2001)apresentaram uma análise retrospectiva de 1845casos de trauma pediátrico atendidos em hospital denível terciário, localizado no estado de São Paulo.Os mecanismos de trauma mais freqüentes foram asquedas (50,51%), acidentes de trânsito (41,49%) eas queimaduras (6,94%). Os resultados nãoconsideraram o local da ocorrência.12

Conclusões

A queimadura pelo calor é a lesão maisfreqüente no trauma pediátrico domicilar, afligindocom maior freqüência crianças do sexo masculino,provenientes da capital e zona metropolitana deFortaleza.

Agradecimentos:

Ao Prof. Heládio Feitosa de Castro Filho,Coordenador do projeto de extensão “Liga deTrauma” e médico do Instituto Dr. José Frota (IJF)pelo auxílio na coleta de dados e supervisão dosestudantes de Medicina no âmbito dessa instituiçãode referência em trauma, da cidade de Fortaleza.

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ocorreram em pacientes menores de 7 anos,resultados semelhantes aos observados na literaturaespecializada. Os óbitos (3) ocorridos após 48 horasde internação poderiam estar relacionado à gravidadedas lesões. No estudo atual, a queda de alturaindeterminada com trauma crânio-encefálico atingiuapenas 8,8% das crianças. Embora o estudo nãotenha investigado em detalhe o grau decomprometimento de cada paciente, a média depermanência hospitalar de 10 dias sugere que amaioria das lesões tenha sido de média gravidade.

Os resultados encontrados no presente estudomostram que a queimadura pelo calor, conseqüenteao contato com água fervente, chama ou objetosaquecidos foi a causa mais freqüente de internamentohospitalar (87,4%). A figura 4 exibe a intensidade eo grau de comprometimento tissular nas queimaduras.Muitos prontuários analisados (48,2%) nãoapresentavam a classificação do tipo de queimadura,o que dificulta uma melhor apreciação. Supõe-se quea ausência desta informação possa representarqueimaduras de pequena monta, talvez grau 1.

Figura 4 – Classificação das queimaduras pelo calor (água fervente,chama ou contato com objetos previamente aquecidos) ocorridas

no âmbito domiciliar (n = 139)

0

10

20

30

40

50

60

70

G rau 1 Grau 2 Grau 3 N.I.

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Endereço para correspondência:

SÉRGIO BOTELHO GUIMARÃESDepartamento de CirurgiaRua Profº Costa Mendes 1608 3o AndarCEP: 60430-140, Fortaleza – Ce, BrasilTel. +55 85 288 8063 Fax: +55 85 288 8064E-mail: [email protected]

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