Acabou o amor
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JORNAL DA
10AGO
12
AVENIDA BA-VI: JOGADORES GANHAM APELIDOS DE PERSONAGENS DE NOVELA pág. 14
DIVULGAÇÃO
A relação entre o soteropolitano e a cidade está abalada. O orgulho de morar numa das mais belas e tradicionais capitais do país deu lugar à desilusão, motivada pela queda na qualidade de vida e no agravamento de problemas cotidianos. Praias abandonadas pelo poder público, trânsito caótico e a insegurança nas ruas, só para citar alguns exemplos, diminuíram a autoestima do povo ao ponto de ele apontar Salvador, em uma pesquisa nacional, como a pior capital para se viver. Págs. 4 e 5
Salvador, 10 de agosto de 20124
cidadeO espelho se partiuPara o antropólogo Roberto Albergaria, o sentimento de pessimismo do so-teropolitano é um reflexo do excesso de otimismo em outros tempos. “A gen-te vivia diante do espelho do Narciso, um espelho mágico que mais escondia do que mostrava. Mas, nos últimos tempos, esse espelho se partiu”, opina.
Está tudo acabado entre nós...Problemas e falta de solução minam relação de amor entre os soteropolitanos e a capital da Bahia
“EU POSSO falar mal. Você, não!”. O soteropolitano pode até continuar dizendo isto quando algum forasteiro criti-car a Bahia ou Salvador. Mas, por dentro, o relacionamento amoroso entre o cidadão e a cidade já anda bem enfraqueci-do. É o que se nota nos últimos
tempos ao andar nas ruas, en-frentar engarrafamento, chuva, alagamentos, deslizamentos de terra, falta de segurança, orla mal cuidada, pontos turísticos abandonados, lixo nas ruas e até mesmo falta de infraestru-tura, se comparada a outras ca-pitais brasileiras.
Problemas não faltam. Prova disso é que uma pesquisa, reali-zada pela Proteste - Associação
de Consumidores, no mês de julho, apontou Salvador como a pior capital brasileira para se
viver. Foram ouvidos 2.002 bra-sileiros, entre 18 e 74 anos, sobre acessibilidade, habitação, saú-de, educação, mobilidade urba-na, emprego e segurança.
De acordo com a pesquisa-dora Melissa Reis, o principal problema apontado pelos so-teropolitanos foi a mobilidade urbana e o transporte público, com 23% do total. “As notas de Salvador foram inferiores às
outras cidades no índice ge-ral da qualidade de vida. Pode ser um lugar muito bonito, um ponto turístico muito famoso no Brasil, mas q uem mora aí ainda enfrenta muitas dificul-dades no dia-a-dia”, disse.
O Jornal da Metrópole de-cidiu trabalhar com atenção três dos problemas mais citados por soteropolitanos nas redes so-ciais: trânsito, violência e orla.
Texto Clarissa [email protected]
Fotos Manuela Cavadas
Mais cidade?
www.metro1.com.br/cidade
Recordista no nível “irritação”, trânsito de Salvador mostra-se cada dia mais complicado. Para especialista, a situação na capital baiana é de caos. “Se não melhorar, vamos ao colapso”
mismo do so-os. “A gen-is escondia
u”, opina.
ARQUIVO METROPOLE
Salvador, 10 de agosto de 2012 5
Praias ficaram sem barracas, mas o lixo na areia é presença garantida em boa parte da orla de Salvador
Orla abandonadaSe há algum tempo as praias
de Salvador eram motivo de orgu-
lho e uma das principais opções
de lazer de soteropolitanos e tu-
ristas, hoje andam bem menos
visitadas. Após a derrubada das
barracas, em agosto de 2010, a tão
falada revitalização da orla não
veio, o que acabou reduzindo o
número de frequentadores.
Para a paulista Paula Bastos,
29 anos, foi uma surpresa encon-
trar praias vazias. “Eu achei que
as praias de Salvador fossem
cheias, mas cheguei e vi pouca
gente. E é ruim ir sozinho, você
não tem com quem deixar as coi-
sas, não tem onde sentar”, lamen-
ta a analista de redes sociais.
Apesar de preferir a orla sem as
barracas, a estudante Talita Olivei-
ra, 19 anos, não aprecia a atual si-
tuação das praias. “Estão sujas, mal
cuidadas. Acho que a revitalização
só sai em outro governo”, aponta.
Para o presidente da Fundação
Mário Leal Ferreira (FMLF), Luiz
Baqueiro, pouca coisa mudou des-
de o início do ano, quando o plano
de revitalização foi embargado por
uma decisão da Justiça Federal.
Para Baqueiro, no momento, só é
possível fazer ações emergenciais,
como limpeza e iluminação. “Não
existe mais verba para este gover-
no dar a atenção que a orla merece.
Por isso, consideramos que é me-
lhor aguardar”, afirmou.
“Asfalto-Sonrisal”. Este é o ape-
lido dado à malha viária de Salva-
dor por moradores de bairros onde
a situação é mais caótica, com bu-
racos que se multiplicam a cada
chuva. Na Avenida Gal Costa, no
Nordeste de Amaralina ou na Rua
Régis Pacheco, os buracos incomo-
dam diariamente. Por consequên-
cia, os engarrafamentos são cada
dia mais comuns. O vendedor de
sorvete Roque de Jesus, 64 anos,
reclama do tempo que leva para
percorrer uma distância curta. “De
tarde, eu chego a levar meia hora
da Barros Reis para a rodoviária. E
o transporte ainda é caro”, diz.
Para o especialista em trânsito
Elmo Felzemburg, não há solução
sem a implantação de um transpor-
te de massa eficiente. “O trânsito é
um caos. A solução é desestimular
o uso do carro em horários de pico
com um transporte de massa de
qualidade. A estrutura viária daqui
é ruim até para o pedestre”, diz.
“O trânsito é um caos”
Excesso de buracos complica o tráfego em diversos pontos da cidade
Recorde de homicídiosPara a vendedora Patrícia Ro-
cha, mais uma vítima dos assaltos
na cidade, o sistema de segurança
que atende Salvador é precário. No
caso de Patrícia, o roubo aconteceu
na Rua Thomaz Gonzaga, em Per-
nambués. “Não recomendo a nin-
guém andar naquela área. Falta vi-
gilância, policiamento e ronda”, diz.
Segundo Carlos Costa Gomes,
do Observatório de Segurança Pú-
blica da Bahia, Salvador é a cidade
brasileira recordista de homicídios.
“Por incrível que pareça, a solução
nada tem a ver com segurança. A
primeira medida é reconfigurar a
cidade para que o povo entenda as
informações de acordo com regiões
e que os órgãos sejam administrados
segundo as regiões. E que a questão
da segurança seja levada para o Exe-
cutivo, para que este faça uma inter-
locução com outras secretarias”, diz.
Taxa de homicídios cresceu 3,28% no pri-
meiro semestre de 2012
cidadePrivatizado?O Aeroporto Internacional de Salvador pode se juntar ao de Confins e do Galeão entre os privatizados do país. A previsão foi feita pelo presidente da Associação Nacional de Conces-sionárias de Aeroportos Brasileiros, Mauro José Gandra.
Prato Popular reabertoApós um mês fechado para reforma, o restaurante Prato Popular voltou a funcionar no início da semana, em São
Tomé de Paripe. O prato custa R$ 0,50 e o lugar fica aberto de segunda a sexta, das 11h30 às 13h30.