Abraão de Almeida - O Sábado, a Lei e a Graça

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Todos os Direitos Reservados. Copyright 1981 para a língua portuguesa daCasa Publicadora das Assembléias de Deus.

CIP-Brasil. Catalogação-na-fonteSindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ.

Almeida, Abraão Pereira de, 1939-

A444s O Sábado, a lei e a graça / Abraão de Almeida. - Rio deJaneiro : Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 1981.

Bibliografia

1. Sábado - Ensinamentos bíblicos I. Título

CDD - 263

81-0166 CDU - 263

Código para Pedidos: CV-402Casa Publicadora das Assembléias de Deus

Caixa Postal, 331

20001 Rio de Janeiro, RJ, Brasil

6ª Edição/1996

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DEDICO

Aos meus pais Antonio e Maria:

À minha esposa Lúcia;

Aos meus filhos

Elaine,

Elaíse,

Elida e

Júnior;

Aos meus irmãos

Clara,

Manoel,

Carmem,

Elisa,

Iolanda,

Moisés,Irani,

Irene,

Ananias,

Marina.

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ÍNDICE

Prefácio à primeira edição 7

Prefácio à segunda edição 13

1. Religião divina e religiões humanas 15

2. Fé, a força do cristão 25

3. Obras mortas e obras vivas 31

4. A lei é santa 43

5. Os dez mandamentos e o sábado 51

6. Sinal da besta: sábado ou domingo? 63

7. Quem não guarda o sábado não é de Deus?! 69

8. Diálogo com um sabatista 77

9. Privados da verdade 85

10. Liberdade cristã ou servidão legalista? 91

11. O evangelho da graça de Deus 101

12. Respostas bíblicas a diversas questões sabatistas ..115

 Notas 131

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Prefácio

à primeira edição

Convidados que fomos a prefaciar esta obra, oferecemos a nossasincera opinião. O Sábado, a Lei, e a Graça c o título do novo livro doescritor evangélico Abraão de Almeida.

Abraão de Almeida não necessita de apresentações: está consagrado pelas suas obras e por elas se faz conhecido como autor evangélico derenome, mas é bom lembrar que formou-se em teologia pela FaculdadeEvangélica de Teologia "Seminário Unido", do Rio de Janeiro. É professor de diversas matérias teológicas.

Dos seus muitos livros publicados, destaca-se o "best sei ler" Israel,Gogue e o Anticristo, obra prima no assunto, que recebeu diversas ediçõesno Brasil, nos Estados l In idos (em espanhol) e em Portugal.

Há muito os evangélicos no Brasil se ressentiam de um livro que, baseado nas Escrituras Sagradas e na Historia da Igreja Cristã, pudesseapontar e corrigir algumas doutrinas heréticas dos adventistas do sétimodia. Dizemos algumas porque nem todas o são. Há adventistas nãofanáticos, que não se apegam ao sábado como tábua de salvação, antes

 buscam refúgio na graça salvadora do Senhor Jesus. Outros há (a maioria)que estão voltados para o sábado e outros mandamentos como leis, pelos

quais pretendem justificar-se diante de Deus. Estes é que se acham emgrave perigo espiritual, pois sobre eles pesa a terrível sentença gravada emletras de fogo na incontraditável Palavra de Deus: "Separados estais deCristo, vós os que vos justificais pela lei!" (G1 5,4), A esses Paulo censuraduramente dizendo: "Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio devós que não haja trabalhado em vão para conosco!" (Gl 4.10-1 1).

O Sábado, a Lei, e a Graça vem preencher a lacuna existente. Elevisa não somente alertar os crentes a não se deixarem levar por essas

heterodoxias tão daninhas à seara do Senhor, mas também a despertar os

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adventistas sinceros a imitar os bem-aventurados bereanos, que "de bomgrado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estascoisas eram assim" (At 17.1 1).

Jovem ainda, fomos levados por um dos bem apresentados livrosadventistas a aceitar a guarda do sábado como lei férrea de Deus que não poderia ser transgredida sem que o escarmento divino se deixasse cair sobre nós, executando a inapelável sentença de perdição eterna. Como nosera impossível guardar o sábado por causa do serviço secular, decidimosaguardar o dia que nos fosse possível cumprir o mandamento. Mas, alguémenviado por Deus, nos levou a examinar nas Escrituras "se estas coisaseram assim". Ali, na relação divina, constatamos que "estas coisas não

eram assim" e que a graça, e somente a graça nos leva a Deus, nos perdoa,nos salva, nos batiza com o Espírito Santo, nos enche de alegria nesta peregrinação: "Pela graça sois salvos, por meio da fé... Não vem das obras"(Ef 2.8-9); "Ninguém vos julgue... por causa... dos sábados" (Cl 2.16).

O novo livro de Abraão de Almeida nos leva a examinar asEscrituras. Ele é um pedagogo que deseja guiar pela mão, através darevelação divina, de Gênesis a Apocalipse, os duvidosos e os adventistassinceros para que, qual peregrinos no deserto, encontrem os oásis da

verdade e bebam da água da incomensurável graça de Deus.

É preciso ler este livro. É imprescindível que se faça isso. Leiam-noos duvidosos e desafiamo-los a duvidarem; leiam-no os adventistassinceros e desafiamo-los nos, todos os crentes, e aprenderemos a“responder aos que se gloriam na aparência” (2 Co 5.12).

 Ninguém melhor que Abraão de Almeida poderia ter escrito estelivro, pois, filho de pais adventistas, foi criado e educado até a adolescência

nas doutrinas sabatistas que conhece profundamente, podendo, assim,opinar sobre elas com absoluto conhecimento de causa, com a ênfase comque Paulo pôde falar aos gálatas sobre a lei.

O livro, em síntese, enfoca os temas a seguir.

1. Há a religião divina e as religiões humanas. A divina é a religião"do alto para baixo". Nela Deus fala, i. e, oferece ao homem a graçasalvadora por reconhecer a incapacidade humana de produzir obras de

 justiça.

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A religião divina é o plano de Deus para salvar o homem caído". Asreligiões humanas são "de baixo para ei ma". Nelas o homem faz, i. é,oferece a Deus o produto de seu esforço, exigindo salvação, por não aceitar a incapacidade humana.

As religiões humanas são todas o plano de Satanás para que ohomem caído continue caído e morra sem salvação. Aceitar a graçaoferecida é religião divina; é estar no plano de Deus. Condicionar asalvação à guarda da lei é adotar uma religião humana; é estar no plano deSatanás.

2. Ter fé e ter confiança em Deus. O cristão é dependente de Deus:"Sem mim nada podeis fazer". A falta de fé é falência humana. De Deus

tudo recebemos pela fé e não em troca de obras mortas.

3. Há obras mortas e obras vivas. As obras vivas são o produto dagraça, da fé, da salvação; vêm de Deus: o homem faz porque é salvo. Asobras mortas são o produto do orgulho humano, são inspiradas por Satanás,o grande orgulhoso: o homem faz para salvar-se. Guardar um dia comocondição imprescindível à salvação é praticar obras mortas.

4. A lei é santa, justa e boa, mas, por ser predominantemente

negativa (oito dos dez mandamentos começam por um "não!"), foitransitória: durou até João, o Batista. A lei não conseguiu justificar ninguém, mas conseguiu a sua finalidade: mostrar ao homem que ele é

 pecador.

5. Se o cristão tem o dever de guardar o sétimo dia, que é ummandamento da lei mosaica, ele fica obrigado a guardar toda a lei,inclusive as suas cerimônias, pois a transgressão de uma parte da lei

importa na transgressão de toda ela.6. O cristão que observa o domingo como o "Dia do Senhor" não tem

o sinal da besta, pois assim fizeram os cristãos dos tempos apostólicos,como se vê no Novo Testamento e na história da Igreja cristã.

O Concilio de Laodicéia, realizado no ano 364, e apontado pelosadventistas como o que mudou a observância do sábado para a observânciado domingo, não teve influência papal, pois o papa, então, não tinha

nenhuma autoridade sobre as igrejas do Oriente. Esse conclave não fez

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mudança alguma; apenas reconheceu o que se praticava desde os temposapostólicos.

7. A observância do sábado é um sinal somente entre Deus e Israel.

Os apóstolos frequentavam o templo e as sinagogas dos judeus aos sábados para aproveitar a oportunidade de falar a estes acerca de Jesus; mas, comocristãos, reuniam-se no primeiro dia da semana. Documentos históricos

 provam que os cristãos continuaram reunindo-se nesse dia nos primeirosséculos da era cristã.

8. Interessante diálogo entre uma legalista e um cristão seguidor dagraça. Enfoca e esclarece os principais pontos apresentados pelosdefensores da guarda do sábado.

9. As seitas heréticas mudam suas doutrinas porque não têm base bíblica. Assim aconteceu com os adventistas, que marcaram o retorno deJesus para nove datas consecutivas, sem que ele tenha vindo em nenhumadelas.

10. Os defensores do neolegalismo procuram enganar os incautoscom citação de textos bíblicos isolados, os quais eles torcem em favor deseus pontos de vista. Mas a Bíblia, inspirada pelo Espírito Santo, constitui

um iodo em si mesma. Só podemos aceitar como doutrina bíblica aquelasque estão respaldadas em todo o contexto bíblico. E errado considerar toda

 palavra "mandamento" como uma referência ao decálogo, e é erradoensinar que Jesus cumpriu na cruz somente os mandamentos "cerimoniais".

11. Não há duas leis de Moisés, mas apenas uma, que compreendetodo o Pentateuco. A antiga aliança foi invalidada por Israel.

12. A palavra "lei", nas quatrocentas vezes em que ocorre na Bíblia,nunca se refere a decálogo como sendo este a lei moral, nem aos demais

 preceitos como sendo lei cerimonial. Toda vez que o Novo Testamento falade lei refere-se à lei contida no Pentateuco como um todo. Cristo noslibertou da maldição da lei fazendo-se maldição por nós. Pelo fato de,como cristãos, estamos libertos da lei, não significa que estamos sem lei,

 pois estamos debaixo da lei de Cristo. Todos os mandamentos do decálogoestão repetidos no Novo Testamento (exceto o quarto, que trata do sábado).

13. Jesus diferenciou o sábado dos demais mandamentos por causada sua natureza evidentemente cerimonial e não moral. Jesus justificou os

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seus discípulos quando estes foram acusados de ter quebrado o sábado. Elenão os justificaria se tivessem cometido adultério ou furto, mesmo por necessidade.

 Nós, os evangélicos, não estamos obrigados à guarda do domingo damesma maneira como os judeus guardam o sábado. Enquanto estes sesubmetem aos rigores de uma lei, nós, movidos pela gratidão a Deus,dedicamos o primeiro dia da semana a uma maior disseminação doevangelho da graça.

São esses pontos que precisamos conhecer a fundo lendo O Sábado,a Lei e a Graça.

Rio, novembro de 1979Gustavo Kessler 

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Prefácio

à segunda edição

Depois de três lustros e de dezenas de milhares de exemplaresdistribuídos entre todos os povos de fala portuguesa, tenho o prazer deapresentar ao leitor a nova edição de O Sábado, a Lei e a Graça.

Partindo dos temas principais da obra original, ampliei nesta edição

 praticamente todos eles, e os enriqueci com minhas experiências adquiridasno estudo pessoal da Palavra de Deus e no meu ministério de ensino aolongo de mais de trinta anos. Além disso, escrevi um capítulo extra, queintitulei de "O Evangelho da Graça de Deus".

A edição original cumpriu vasto ministério, a julgar pelas inúmerascartas que tenho recebido de seus leitores, na sua maioria adeptos dosabatismo tentando inutilmente relutar os argumentos bíblicos queapresento. Alegra-me saber que muitos leitores honestos, ajudados por aquela obra, afastaram-se do legalismo e se refugiaram na graça de Deus.Ainda recentemente, enquanto preparava esta segunda edição, um obreirocristão da cidade de Santo André, no Estado de São Paulo, contou-me quedeu um exemplar do livro a um adventista, e este, após a sua leitura,abandonou a seita legalista e buscou uma igreja evangélica, na qual é agoraum dinâmico obreiro.

Espero que esta nova edição, a exemplo da primeira, seja uma

 bênção para a nova geração de obreiros e de estudiosos da Palavra de Deus.Oro para que muitas vidas preciosas abandonem os pântanos venenosos dolegalismo e venham abeberar-se nas fontes cristalinas e inesgotáveis damaravilhosa graça de Deus.

Abraão de AlmeidaHollywood, Flórida, julho de 1997

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CAPÍTULO 1

Religião divina ereligiões humanas

 Jesus afirma a nulidade dos esforços humanos na economia da

 salvação, e Paulo enfatiza esta mesma verdade ao concluir que

 somos salvos pela graça, mediante a fé, sem as obras da lei.

Livros existem que, por revelarem alguns meandros da personalidadehumana, representam claro lenitivo aos corações açoitados pelos vendavaisda vida; contudo, somente a Bíblia, qual luz capaz de penetrar até os mais

 profundos recônditos da nossa alma, pode comunicar a mais perfeita eimprescindível consolação divina.

 Nos melhores tratados sobre as Escrituras Sagradas, preparadas por 

 pessoas reconhecidamente piedosas, somos orientados acerca do caminhoda salvação; pela Bíblia somos impelidos a entrar e a viver nesse gloriosocaminho.

Renomados autores legaram-nos alguns brilhos, apontando um bem-estar social, superficial e terreno; humildes escritores sacros, inspirados

 pelo Espírito Santo, revelam-nos o segredo da verdadeira felicidade, presente e futura, e nos fazem participantes dela.

As mais diferentes filosofias têm-se esforçado, em todos os tempos, por desvendar o mistério que envolve a vida e a morte havendo entre elasmuitas divergências; entretanto, o livro dos livros, em linguagem singela efamiliar, esclarece de uma vez por todas esse magno problema.

É justamente por causa de seus sublimes princípios e incontestávelveracidade que as Escrituras jamais deixaram de influenciar beneficamentea humanidade, através dos milênios. Mas qual seria a razão de tãoassombrosa diferença entre a Bíblia e os livros comuns?

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A resposta é simples. Ela é a Palavra de Deus. Portanto, divina é asua mensagem. Deus se revela ao homem através da Bíblia, falando-lhe aocoração pelo seu Espírito. Quando reverentemente lemos este livro,recebemos, do próprio Deus de amor, conselho, consolo, exortação e

orientação. As palavras divinas são Espírito e Vida, e quando descem aonosso coração, a nossa alma sobe jubilosa aos páramos celestiais. "[Deus]nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus" (Ef 2.6).

Como portadora da amorosa mensagem de Deus, a Bíblia é um livro perfeito. Suas leis, seus ensinos e seus preceitos jamais foram igualados por qualquer obra humana. O missionário William Jones escreveu: "Todos osoutros livros orientais, por mais poéticos que sejam, necessitam de ser 

transfundidos para se tornarem inteligíveis e agradáveis à mentalidadeocidental. Uma ou outra passagem terá de ser omitida, e grande parte sofremodificações. Por isso se torna mais curioso o fato de que esse livrooriental, esta nossa Bíblia, quer seja levada à Islândia, Madagáscar, Áfricado Sul ou índia, é sempre o livro que apela para o coração e a mentalidadedaqueles que a escutam".

Como palavras de Deus, os relatos bíblicos são historicamenteinfalíveis. Na medida em que prosseguem as escavações arqueológicas no

Médio Oriente e os peritos interpretam os hieroglifos exumados, osmodernos compêndios de história e geografia vão sendo utilizados com

 preciosas informações de lugares e civilizações milenares até entãoreferidas somente na Bíblia.

Por outro lado, a vitalidade da Bíblia testifica também da suainspiração divina, pois ela tem transformado indivíduos, sociedades enações. É o meio usado por Deus para a regeneração de vidas caídas,

 bastando ao pecador receber sua mensagem no coração para tornar-se unianova criatura, em cujo viver “as coisas velhas já passaram; eis que tudo sefez novo” (2 Co 5.17).

Apontando para a justiça de Cristo

Muitas religiões estão apresentando meios antibíblicos, os maisdiversos, para justificar a criatura humana. À luz da Palavra de Deusafirmamos que essas religiões jamais conseguirão o seu intento. Aos

homens não foi concedida por Deus autoridade alguma para justificar os

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seus semelhantes. Centenas de milhões estão completamente fora do planodivino da salvação tão-somente por procurar justificar-se segundo os planosengendrados por Satanás. É realmente uma cena triste! Milhões e milhões,inteiramente enganados pelas falsas religiões que saturam a sociedade

moderna, estão gastando o seu dinheiro, o seu tempo, até mesmo a suasaúde, sem obter o menor proveito espiritual.

Existe somente um meio de justificação, e é o que está exarado naSanta Bíblia. Mas a Bíblia, antes de tratar da nossa justificação, trata danossa verdadeira condição aos olhos de Deus: "Não há um justo, nem umsequer... todos estão debaixo do pecado... todos pecaram... [e] o salário do

 pecado é a morte" (Sl 14.1-3; Rm 3.9; 4.12; 6.23). Foi a luz dessas

 passagens que Spurgeon escreveu: Não imagine, ó homem mortal, que poderá ficar em pé diante de

Deus em sua moralidade, pois você não é mais do que uma carcaçaembalsamada em legalismo, um defunto mimado em finas roupas, porémainda corrupto na presença de Deus. E não pense, ó possuidor de umareligião natural que poderá, pelo seu poder e força, fazer-se aceitável aDons. O homem, você está morto, e poderá vestir a morte tãogloriosamente como quiser, mas ainda assim isso seria uma farsa solene.

Dessa lei divina nenhum ser humano pode se excluir. Todos pecarame por isso todos precisam ser libertos do pecado, precisam ser perdoados. Nisto consiste a justificação: livramento da culpa. Tornados injustos pelo pecado, precisamos revestir-nos de justiça. Mas onde adquirir essa preciosa justiça?

Quando nossos primeiros pais pecaram, coseram para si ramos defigueira, fazendo aventais que pudessem cobrir os seus corpos. Deus,

 porém, substituiu essas inadequadas vestes por outras incomparavelmente

melhores, ou seja, por peles de ovelhas. Nesse simples relato vemosesboçado em figura o plano divino da justificação, plano que tem origemem Deus, que quer e pode justificar o homem. Este não pode justificar-se asi mesmo, porque lhe faltam os meios necessários para tanto. Assim comoDeus não aceitou as vestes preparadas por Adão e Eva, assim também nãoaceita as vestes da autojustificação, baseadas nas boas obras e sacrifíciostolos.

Jesus deixou este assunto bem claro quando contou a parábola das bodas reais, enfatizando que a única condição para ser admitido na festa era

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estar envergando a vestimenta de núpcias fornecida gratuitamente pelo rei para a ocasião, sem mérito algum da parte do convidado (Mt 22.1-14).

A parábola das bodas reflete o que registrou Isaías acerca da única solução

 para o nosso pecado:Quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião, e limpar o

sangue de Jerusalém do meio dela, com o espírito de justiça e com oespírito de ardor, criará o Senhor sobre toda a extensão do monte de Sião,e sobre as suas congregações, uma nuvem de dia, e uma fumaça e umresplendor de fogo chamejante de noite; sobre toda a glória haverá umdossel. Será abrigo e sombra contra o calor do dia, e refúgio e esconderijocontra a tempestade e a chuva... Como, pois, podemos ser salvos? Todosnós somos como o imundo, e iodos os nossos atos de justiça como trapo da

imundícia; iodos nós caímos como a folha, e os nossos pecados como umvento nos arrebatam. Ninguém há que invoque o teu nome, que desperte, ete detenha; pois escondeste de nós o leu rosto, e nos consumistes por causadas nossas iniquidades (Is 4.4-6; 64.5-7, EC).

Ao afirmar que somente Deus pode lavar e limpar o homem, a Bíbliarevela a condição imposta aos que desejam apropriar-se da justificação. Dizo apóstolo Paulo: Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, semas obras da lei" (Rm 3.28). "Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso

não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém seglorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boasobras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.8-10).

Biblicamente, a fé salvadora não consiste na observância de dogmas,ritos, cerimônias e mandamentos — mesmo dos Dez Mandamentos — masna aceitação de Cristo como Salvador pessoal, mediante a sua obraredentora na cruz do Calvário. Cristo, diz a Bíblia, ressurgiu para a nossa

 justificação. Toda a justiça de Deus foi satisfeita em Cristo, que se fezmaldição e pecado por nos. Veja estes textos bíblicos: "Pois o que eraimpossível à lei, visto que estava enferma pela carne, Deus, enviando o seuFilho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecadona carne" (G1 3.13; Rm 8.3 2 Co 5.21; Is 53.5, EC).

A marca da religião humana

Faz parte da estratégia diabólica induzir as pessoas a realizar por si

mesmas a sua salvação. Assim, milhões aceitam como absoluta verdade

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 princípios religiosos como o “f ora da igreja não há salvação”, dos católicosromanos; ou o "fora da caridade não há salvação", dos espíritas, e outrosmétodos similares, todos estribados nos méritos das boas obras humanas.

Dentro desse mesmo engano estão milhões de adeptos das seitasmais diversas, como os testemunhas-de-jeová, que se empenham emgarantir a sua participação no reino vindouro mediante esforços pessoaisem espalhar ao máximo a sua doutrina; e os mórmons, de cuja históriafazem parte muitos casos de auto-sacrifício pelo fato de crerem que, para aexpiação de certos pecados, é necessário derramar o próprio sangue, umavez que o sangue de Jesus nada mais pode fazer.

 Na longa lista das religiões estão muitas que possuem lindos e

atraentes rótulos, como "Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos ÚltimosDias", "salões do reino", "Igreja da Unificação", "Ciência Cristã", "IgrejaMessiânica" etc., as quais, a despeito da sua aparência cristã, na práticanegam os eternos fundamentos do Cristianismo. São meros esforços nosentido de reaproximar o ser humano da pessoa de seu Criador mediantecaminhos que só distanciam dEle. Em outras palavras, valendo-se dos

 parcos recursos de uma mentirosa filosofia divorciada da EscrituraSagrada, tais seitas fazem tudo o que podem dentro do falido princípio

religioso que atua sempre no sentido de baixo para cima, tentando levar ohomem a Deus. E dentro desse princípio que se agrupam todos os credosforjados na oficina de Satanás, todos eles destinados ao obscuro esupersticioso espírito humano, religioso por natureza.

O cumprimento da lei é o amor

A mais gloriosa verdade bíblica, ilustradora da salvação unicamente

 pela graça divina, saiu dos lábios sacrossantos de Cristo: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5). Com esta assertiva estava o Senhor abonando adoutrina da graça, segundo ao qual Deus mesmo planejou e consumou nacruz, sem quaisquer contribuições da nossa parte a não ser o exercício da fé

 — a salvação eterna. Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu oseu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mastenha a vida eterna" (Jo 3.16).

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Esta mesma verdade encontra-se também na mensagem angelical aos pastores belemitas: "Paz na terra, boa vontade para com os homens a quemele quer bem" (Lc 2.14, EC).

A boa vontade desceu de Deus para os homens; não subiu doshomens para Deus. Na entrevista com Nicodemos ensinou o Senhor anecessidade de se nascer de novo, expressão semelhante a nascer de cima

 para baixo, que foi o modo como foi rasgado o véu que separava o Lugar Santo do Lugar Santíssimo no templo de Jerusalém. Tanto o "de novo"como o "de alto a baixo" indicam que o novo nascimento vem do alto — doCéu à terra (Jo 3.7; Mt 27.51).

Que participação, pois, tem o pecador na obra da redenção?

Evidentemente que não tem nenhuma. A única coisa que toca ao pecador fazer é aceitar, como seu todo suficiente Salvador, a pessoa do Senhor Jesus Cristo, confessá-lo diante dos homens e permanecer nEle a fim de

 poder viver uma nova vida debaixo da graça. Sem Jesus, o pecador nada pode fazer, como o próprio Salvador afirmou em João 15.5.

Cabe a nós escolher viver ou pela lei da vida ou pela “graça da vida”  (1 Pe 3.7). Como cristãos, se recusarmos a graça da vida, acabaremos

irremediavelmente debaixo da lei, e então já não seremos cristãos, masreligiosos. Vivemos debaixo da graça quando nos entregamos sem reservasaos processos do amor de Deus e nos deixamos governar por eles. As três

 palavras-chaves são: “render-se”, “confiar” e "obedecer". Somente quandoa nossa vida mesmo insignificante, é colocada em sintonia com os

 propósitos elevados da vida espiritual, é que nos sentimos redimidos echeios do que Jesus chamou de vida abundante.

Por outro lado, recusar-se a viver debaixo da graça é sujeitar-se à lei.

 Não apenas à lei mosaica, mas qualquer lei, a própria lei da vida, a lei dasemeadura e colheita. Colhe-se o que se semeia. A vida!, então, torna-seum dar e receber.

Assim, lei, aqui, é muito mais que uma lei específica ou um conjuntode leis. Alguém poderá pensar imediatamente nos dez mandamentos, nasleis do Antigo Testamento ou nos mandamentos da Nova Aliança. Jesus, aomudar a fraseologia de um mandamento (Dt 6.5), revelou-nos o que a lei

era realmente: "Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de tuaa tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande

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mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximocomo a ti mesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os

 profetas" (Mt 22.37-40).

O apóstolo Paulo partiu das palavras de Jesus para escrever que "ocumprimento da lei é o amor" (Rm 13.8- 10). João também enfatizou oamor a Deus e aos outros (1 Jo 3.1 1-24; 4.7-21). Não há dúvida de que alei do amor, também chamada nas Escrituras de "lei do espírito de vida emCristo Jesus", é o centro em torno do qual giram todas as ordenanças e

 proibições da Bíblia. Sem esse princípio nenhum mandamento da Escritura parece ter significado.

A pessoa que se sujeita a um sistema de lei como, por exemplo, o do

decálogo, tem de vigiar cada ação, pois receberá exatamente o equivalenteaos seus atos. Alguém definiu esse tipo de vida da seguinte maneira:

A vida, assim, operará como num verdadeiro "deve e haver": vocêdeposita o caixa de seu ato e transporta o resultado ou as consequências detal ato. Não haverá, pois, surpresas na vida, nem saídas para as margens dorio da vida. Tudo será assaz justo, tudo essencialmente dependente e tudomais do que morto.

É este o evangelho da religião-de-mercado. Você negocia com avida, e esta negocia com você. E ela o deixa amarrado. Nela não há boasnovas, porque então a vida terá hórrida catadura, e você também. A religião

 baseada no dar e receber não tem espontaneidade em si, não tem alegriacontagiante, nem liberdade. Ela se cansa logo, e não pode levantar vôo.Suspira, lamenta-se por não poder cantar. E a religião do irmão mais velho:

 Nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos" (Lc15.29). E como lhe teria sido isso possível, se ele estava vivendo na base do

legalismo? Assim, quando desceu a cortina, o irmão mais velho ficou defora, vivendo na lei, ao passo que o mais moço estava lá dentro, vivendo

 pelo amor.

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CAPÍTULO 2

Fé, a força do cristão Fé perfeita no Cristo que tem todo o poder é a única opção

 para um viver vitorioso em todos os sentidos. O cristão, em virtude

de sua fé bíblica, está solidário com Cristo em tudo.

Durante a Segunda Guerra Mundial, um espião inglês, fazendo-se passar por alto empresário sueco simpático à política expansionista do III

Reich, conseguiu marcar uma audiência com o famoso Himler  — o homemde confiança do Führer  — na qual tratariam de importante empreendimento

 binacional do interesse da máquina de guerra hitlerista. Tão exaltadas eramas virtudes do oficial nazista que o agente secreto teve que procurar algumdeslize na vida pregressa de Himler para certificar-se de que este era umfalível ser humano. O falso empresário achou o que buscava, o encontrorealizou-se de igual para igual e o assessor imediato de Hitler passou para aeternidade sem saber que havia sido enganado!

A glorificação da personalidade humana, como consequência diretade excessiva confiança depositada num ser contingente dependente, temsido um expediente Lusamente empregado nos regimes belicosos outotalitários, desde remota antiguidade, passando pela Assíria. Babilônia,Grécia, Roma etc., até o nosso século, onde se destacaram Japão eAlemanha. Neste último país Hitler foi quase um deus, cujo pôster milhõesde pessoas reverenciavam, enquanto na terra do sol nascente divinizava-se

o imperador.Essa prática levou os Estados Unidos a uma campanha de

valorização do homem livre através de "heróis" cinematográficos comoSuper-homem, Flash Gordon e outros, capazes de proezas sobre-humanas.Em última análise, o objetivo era induzir a massa de seu próprio país e asdos seus aliados, por processos subliminares, a confiarem nos cabeças desuas nações.

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A falência humana

Teologicamente, a força do homem é nada. "Que é o homem mortal para que te lembres dele? A duração da nossa vida... passa rapidamente, e

nós voamos. Toda a glória do homem [é] como a flor da erva. Secou-se aerva, e caiu a sua flor. Maldito o homem que confia no homem" (Sl 8.4;90.10; 1 Pe 1.24; Jr 17.5). A história da humanidade é o melancólico relatode seus próprios fracassos; fracassos de líderes e liderados. Já antes denossa era, quanto mais o mundo se aproximava do advento de Cristo, maisse acentuava entre as nações a esperança messiânica, como a única formade arrancar os povos do atoleiro moral e espiritual em que se achavam.Jesus veio na hora certa  —  na plenitude dos tempos (G1 4.2)  —  e o

Cristianismo, tal como a poderosa ação do sal na preservação doselementos, salvou o mundo de uma generalizada putrefação social.

Mas a solução para o inundo romano, que poderia salvar o nosso presente século, está hoje cada vez mais relegada a um plano inferior, emdecorrência de forças deletérias, como o comunismo ateu, o sincretismoreligioso e o neopaganismo, que cegam o entendimento dos incrédulos e

 preparam o terreno para o advento do Falso Profeta. Assim, as nações em

crise clamam por alguém capaz de resolver os aflitivos problemas domundo mas desprezam a Jesus, o Homem de Nazaré, e a solução apontada pela Bíblia: "Bem-aventurada é a nação cujo Deus é o Senhor" (Sl 33.12).

Precisamos de um homem de estatura suficiente para garantir aliderança de todas as pessoas e para arrancar-nos do atoleiro econômico emque estamos mergulhados", é o que dizem ter exclamado Henry Spaak, umdos pioneiros do Mercado Comum Europeu, que acrescentou: Que enviemum homem; seja ele Deus ou demônio, nós o receberemos".

A força do cristão

 Na mesma Bíblia onde a fraqueza humana é revelada, deparamo-noscom a afirmação positiva que a nossa força está no Todo-poderoso. "OSenhor é a força da minha vida", confessa Davi, infelizmente não imitados

 por muitos de nossos dias. O rei-poeta de Israel conhecia as limitaçõeshumanas. E sua humildade e dependência do poder divino fizeram dele

homem segundo coração de Deus, que levou sua pátria à paz e ao progresso

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tão somente em virtude de sua confiança naquele que "resiste aos soberbos,mas dá graça aos humildes" (Sl 27.1; 1 Pe 5.5).

Mil anos mais tarde, Saulo de Tarso, outro ilustre israelita, descobre-

se a si mesmo a caminho de Damasco, no encontro com o Cristo Vivo, aover cair por terra os méritos de sua religiosidade, cultura, cidadaniaromana, e ascendência genealógica. "Miserável homem que eu sou!"exclama ele. Mas ergue os olhos a seu Salvador e canta: "Graças a Deus,que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo"; "Posso todas as coisasnaquele que me fortalece" (Rm 7.24; 1 Co 15.57; Fp 4.13; Hb 11.1).

A experiência pessoal de Davi e Paulo, bem como a de incontáveisoutros heróis da fé, é válida ainda hoje para todos os homens. Os grandes

 benfeitores da humanidade revelaram-nos o segredo da sua vitória: a fé que possuíam no Deus que tudo pode. Armados desse extraordinário recurso,marcaram com enobrecedoras realizações sua trajetória por este mundo,legando-nos luminoso e imorredouro exemplo.

Definindo a Fé

Apenas uma vez encontramos nas Escrituras uma definição de "fé",

embora este termo esteja escrito em quase todas as páginas do NovoTestamento. De acordo com o autor da Epístola aos Hebreus, "fé asubstância das coisas esperadas, a prova das coisas não vistas". Alguémdefiniu fé como a facilidade em condescender com o amor de Deus.Significa esta declaração que pela fé o crente considera infalível todas as

 promessas divinas, a ponto mesmo de viver dentro desta esperança. Dosexemplos de fé tiradas do Antigo Testamento, destaca-se a de Abraão, dequem disse Jesus: "Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e

alegrou-se" (Jo 8.56).Isaías, no texto que trata das dores e da glória do Messias, usa o

verbo no passado ao descrever acontecimentos futuros, distantes setecentosanos da sua época: "Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossasenfermidades e as nossas dores levou sobre si" (Is 53.4). O mesmo poderiase dizer de Davi que, em momento de angústia, chegou a antever ossofrimentos de Cristo e a pronunciar, pela fé, algumas das frases que onosso Redentor pronunciaria na cruz.

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 No Novo Testamento, crer significa aceitar como verdadeiro oEvangelho anunciado pelo Senhor Jesus, segundo o qual "Deus amou omundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aqueleque nele crê não pereça, mas tenha vida eterna" (Jo 3.16). Fé, então, é

confiança plena em nosso Senhor Jesus Cristo como Messias, o Salvador do mundo, e na veracidade da sua palavra, da sua mensagem. E adesãototal à pessoa de Cristo, admitindo que sua pregação e milagres revelamsua missão de grande Libertador.

Em suma, Cristo é o objetivo final da fé. Aos israelitas, para quemcrer em Deus era naturalíssimo, Jesus afirmou: “Crede também em mim” (Jo 14.1).

A salvação, ou seja, a vida eterna, consiste numa fé viva e eficaz noPai e no Filho: "E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deusverdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3).

Em conclusão, pois, fé perfeita no Cristo que tem lodo o poder é aúnica opção para um viver vitorioso em iodos os sentidos. Um viver que jánão é mais natural deste mundo, pois o cristão, em virtude de sua fé bíblica,está solidário com Cristo em tudo. Ele morreu com Cristo, loi ressuscitado

e ressuscitou com Ele; com Ele vive e com Ele reinará. E o resultado doque o próprio Filho de Deus afirmou: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo15.5).

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Capítulo 3

Obras mortase obras vivas

O crente realiza a obra de Deus por ser salvo, e não para ser salvo. No primeiro caso, são obras vivas, de fé; no segundo, são obras mortas, da

carne, e executadas mediante o esforço humano.Afirmam os católicos que "fora da igreja não há salvação"; os

espíritas dizem que "fora da caridade ninguém se salvará", e os cristãos judaizantes, pregam que "sem a observância da lei (decálogo) ninguém serásalvo". A despeito de suas aparentes divergências, todos esses grupos têmalgo em comum, pois seus princípios caracterizam a religião humana,

 baseada nas boas obras.

Do ponto de vista profético, cada um desses dogmas desempenhahoje a sua parte no cumprimento da profecia bíblica: "Mas o Espírito dizexpressamente que nos últimos tempos alguns apostatarão da fé, dandoouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios, pela hipocrisiade homens que falam mentiras e têm cauterizada a própria consciência, que

 proíbem o casamento, e ordenam a abstinência de alimentos" (1 Tm 4.1,2,EC).

Pelas expressões "espíritos enganadores", "proíbem o casamento" e

"abstinência de alimentos", percebe-se clara alusão profética aos trêsreferidos movimentos religiosos.

 Não é de admirar que a apostasia esteja hoje tão em evidência.Estamos na época em que lobos devoradores se vestem de ovelhas,infiltram-se no rebanho de Deus e ali procuram fazer suas vítimas. Jesus

 preveniu-nos acerca desses falsos mestres e falsos profetas, e disse que, se possível fora, eles enganariam até os escolhidos.

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De cima para baixo

Enquanto a salvação que vem de Deus foi consumada por JesusCristo no Calvário, a religião dos homens tem sido baseada no princípio

antibíblico de se fazer alguma coisa para Deus, característica mais evidentede toda e qualquer falsa seita, rotulada ou não de Cristianismo.

A palavra de Deus é clara quando afirma: "Pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, paraque ninguém se glorie" (Ef 2.8,9). Ao expiar Jesus no madeiro, o véu dotemplo rasgou-se de "alto a baixo", expressão idêntica à que foi usada peloSenhor no diálogo com Nicodemos: "Necessário vos é nascer de novo"."Alto a baixo" e "nascer de novo", segundo os entendidos em etimologia

 bíblica, são uma mesma coisa: de cima para baixo, do Céu para a terra, deDeus para o homem.

Jesus afirma ainda a nulidade dos esforços humanos na economia dasalvação: "Sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5), e Paulo enfatiza estamesma verdade ao concluir que "Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar" (Fp 2.13).

E. Stanley Jones menciona, numa de suas obras, que ThomasChalmers, antes de se tornar o grande pregador escocês, esteve pregando osmandamentos durante oito anos, com pouco resultado. Então mudou da lei

 para Cristo, ao aceitar a este como seu Salvador pessoal e Senhor. Maistarde, escreveu Chalmers: "A não ser depois de ter exortado meus ouvintesa aceitar a graciosa oferta do perdão, através do sangue dc Cristo, é quesoube daquelas reformas que foram o objetivo supremo das minhas

 primeiras pregações. Pregar a Cristo é o único meio efetivo de pregar 

moralidade".Foi como resultado da mudança ocorrida na vida de Chalmers, a qual

resultou na mudança da ênfase de seu ministério da lei para a graça, que eleimprimiu a moral .obre a alma da Escócia.

O mesmo autor menciona a experiência de outro homem famoso, ocomandante Philip Wolfe Murray, que julgava poder alcançar o favor deDeus mediante o fazer isto e aquilo, cortar aqui e acolá. A fim de agradar a

Deus, Murray abriu mão de prazeres, como o de dançar, e passou a ler aBíblia todos os dias. Mas o sofrido cativeiro continuou por mais sete anos.

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A religião sem Cristo realmente pode ser um cativeiro muito doloroso.Então Murray descobriu que era salvo de graça, somente pela fé em Cristo.Escreveu ele:

Que fardo rolou de minha alma! Que alívio! Imagine! Passeiaproximadamente 11 anos  —  três dos quais convicto, oito procurandoagradar a Deus em oração, por auto-renúncia e boas obras  — sem nuncasaber quando havia sido vitorioso. E, quando vi que Deus me salvara e queeu nada mais precisava fazer para salvar-me, dancei de alegria em meuquarto! Tenho dançado desde então. Não com os meus calcanhares, masem meu coração, louvando a Deus.

Wesley, mesmo vivendo num ambiente pastoral como clérigoordenado da Igreja Anglicana, missionário no estrangeiro e membro do

Clube Santo de Oxford, é outro exemplo clássico. Apesar de buscar comdevoção e boas obras a santidade pessoal, todo o seu serviço sacrificial nãolhe trazia a paz com Deus. Por isso ela chamava a si mesmo de "um quasecristão". Então, no dia 24 de maio de 1738, ao ouvir alguém ler o prefáciode Lutero à Epístola aos Romanos, ele descobriu a graça de Deus. Eis assuas palavras:

Por volta dos 15 para as nove, enquanto ele descrevia a mudançaque Deus opera no coração, pela fé em Cristo, senti um estranho ardor.Senti que realmente confiei em Cristo, em Cristo somente, para a salvação;e foi-me dada uma certeza, a de que ele tinha removido meus pecados eme havia livrado da lei do pecado e da morte.

A tremenda transformação ocorrida na vida de Wesley otransformou, segundo as próprias palavras dele, num "cristão por inteiro".Disse mais que, antes dessa experiência, ele possuía a religião de "servo",mas que, depois do seu novo nascimento, passou a possuir a religião de

"filho", referindo-se aos dois irmãos da parábola do filho pródigo.Como milhares de outros servos de Deus descobriram, como

aconteceu a Lutero, a Wesley e a tantos outros, o segredo da vida cristãgenuinamente bíblica e plenamente vitoriosa não está na observância demandamentos legalistas, mas no desaparecimento de todas as barreiras dadúvida, do orgulho e da independência, e na permissão de que Jesus venhae entre em nossa vida, em vez de insistirmos em ir a Ele. Quando a Bíbliaafirma que a lei de Moisés, pelo fato de nada haver aperfeiçoa¬do, é

impotente para salvar-nos, indica a pessoa de Cristo em nós como o único

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meio de vivermos vitoriosamente a vida cristã. É como disse o apóstoloPaulo: "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristovive em mim" (G1 2.20).

Do exposto, conclui-se, pois, que o crente realiza a obra de Deus não para ser salvo, mas por ser salvo. No primeiro caso, são obras mortas, dacarne, executadas mediante o esforço humano; no segundo caso, são obrasvivas, de fé, realizadas por Cristo no crente mediante a ação do EspíritoSanto que produz o seu fruto na vida daquele que crê.

A obediência da fé

Inconformados com os claros ensinos das Escrituras sobre a

 justificação mediante a fé, há os que torcem textos sagrados em defesa daobediência e das obras. "A fé sem obras é morta" (Tg 2.17) é versículo

 preferido de uns: "Obedecer é melhor do que sacrificar" (1 Sm 15.22) passagem predileta de outros. Com tais citações, pseudocristãos destesúltimos tempos procuram induzir os crentes a guardar o decálogo da lei,

 particularmente o sábado, ou a encarar as obras humanas como possuidorasde algum mérito aos olhos de Deus.

Todavia, a Bíblia diz que "separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído" (Gl 5.4). E, em Romanos 1.5 e16.26, o mesmo apóstolo dos gentios fala da "obediência da fé".

A expressão "obediência da fé", como tem sido n aduzida em português, implica a necessidade da fé antes da obediência. É a fé emCristo que produz a obediência a verdade que esteve oculta no passado por muitos séculos, mas que agora, por ordem do Deus eterno, "se tornouconhecida em todas as nações, para que todos creiam e obedeçam" (BLH).

A  Bíblia Viva traz: "Agora, porém, tal como os profetas predisseram econforme Deus ordena, esta mensagem está sendo pregada em toda a parte,

 para que todo o povo ao redor do mundo tenha fé em Cristo e lhe obedeça".A conclusão que Henriqueta C. Mears tira desse texto de Paulo não meconvenceu. Escreveu ela: Pouco podemos fazer para Deus antes de sermossalvos pela sua graça e transformados pelo seu amor". Substituindo a

 palavra "pouco" por "nada", a sentença fica correta: "Nada podemos fazer  para Deus antes de sermos salvos pela sua graça e transformados pelo seu

amor", o que é exatamente o que Jesus ensinou no texto já referido de João

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5.5. E somente quando nos entregamos a Jesus Cristo e nos enchemos deseu amor que nos dispomos a obedecer aos mandamentos dEle. Jesusdeseja de cada um de seus discípulos um "sacrifício vivo", e não um"sacrifício morto" (Rm 12.1).

Portanto, obediência, aqui, não é à letra que mata, ou a mandamentoslegalistas já abolidos na cruz, mas à fé salvadora. O homem nascido denovo não mais procura estabelecer uma obediência pessoal fundada sobreas obras, mesmo que esteja em tudo imitando a pessoa perfeita de JesusCristo. A obediência da fé é muito mais que isso, pois significa que quemobedece esteja revestido da obediência do próprio Jesus Cristo. O apóstoloPaulo explica, em Romanos 6, de que maneira as pessoas desobedientes se

tornam obedientes em Cristo. Ao ser mergulhado na morte de Jesus Cristo pelo batismo, o velho homem desobediente morre, e a nova vida que entãorecebe é a vida obediente de Cristo, a qual lhe é outorgada gratuitamente. Ecomo A. Lelievre escreveu:

A obediência do cristão é à fé em Jesus Cristo: a fé que, nesta troca batismal, aceita ter por vida, não mais a que o homem poderia dar-se a simesmo, mas a que Deus lhe comunica em Jesus Cristo (Cl 3.3). Tudo se dánesta obediência da fé; mas sem ela o homem fica com sua desobediênciasob a ira de Deus (2 Ts 1.8). A obediência do cristão não é a do judeu,regulamentada por uma lei feita de preceitos e de proibições. É amplacomo outrora no Éden... O limite no exercício da liberdade cristã,característica da obediência da fé, é o reconhecimento da obra de Cristo no

 próximo (Rm 14.13; 1 Co 8.9) e da vida de Cristo em sua própria vida(Rm 6.3).

Assim, é impossível a uma pessoa não regenerada obedecer a Deus, por mais que se esforce. Necessitamos, pois, em nós, da vida obediente deJesus, e esta só podemos receber pela fé. É mediante a fé que recebemos o

Espírito Santo, que nos guia em toda a verdade, produzindo em nós o seufruto (Gl 5.22, 23), prova final de que somos filhos amados de Deus, pois éeste mesmo Espírito que testifica com o nosso espírito que somos filhos deDeus (Rm 8.16).

Em outras palavras, o Senhor não quer o nosso trabalho: Ele quer anós. Não exige as nossas boas obras, mas deseja habitar e viver em nós,operando em nosso viver diário a sua boa, agradável e perfeita vontade,

 pois é ele quem opera em nós tanto o querer como o efetuar.

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O autor da Epístola aos Hebreus, depois de afirmar que "ainda restaum sabatismo [repouso] para o povo de Deus", conclui: "Porque aquele queentrou no seu repouso, ele próprio repousou das suas obras, como Deus dassuas". E pela fé em Cristo  —  o nosso Descanso (Mt I I 2(S)  —  que

abandonamos as nossas obras mortas para que Ele opere em nós as suasobras vivas.

 Não sendo uma realidade em si mesma, a graça significa o próprioDeus misericordioso compadecendo-se de nós, relacionando-se conosco,amando-nos e perdoando-nos. No Antigo Testamento encontramos

 belíssimas definições da graça divina, como nesta passagem: "Tão-somenteo Senhor se afeiçoou a teus pais para os amar; a vós outros, descendentes

deles, escolheu de todos os povos, como hoje se vê" (Dt 10.15, ARA).Ainda no Antigo Testamento, a graça de Deus para os pecadores

consiste no perdão dos pecados, ou seja, num ato divino que põe fim a umasituação infeliz criada por alguma transgressão, iniquidade, ofensa ou

 blasfêmia perturbadora do relacionamento efetivo entre o homem e o seuCriador. A graça divina é, então, Deus mesmo renunciando ao exercício do

 justo castigo por sua livre e soberana decisão. Este atributo reconheceu-oMoisés: "... Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo, e grande em

misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta oculpado..." (Êx 34.6,7, ARA).

Davi cantou a graça de Deus em muitos salmos: "Bem- aventurado éaquele cuja iniquidade é perdoada, cujo pecado é coberto... Confessei-te omeu pecado e a minha iniquidade não mais ocultei... e tu perdoaste ainiquidade do meu pecado"; "Bendize, ó minha alma, ao Senhor e não te

esqueças de nenhum só de seus benefícios. Ele é quem perdoa todas as tuasiniquidades" (SI 32.1,5; 103.2,3, ARA).

Jesus é a graça

 No Novo Testamento, Deus mesmo, numa profunda manifestação dasua graça, desce à terra na pessoa de Cristo Jesus e aproxima-se do homema fim de salvá-lo da sua triste condição de destituído da glória de Deus.Jesus revela-se, portanto, como a graça de Deus, como o possuidor dessa

mesma graça e como seu distribuidor a tantos quantos dEle se aproximam

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em inteireza de fé, "porque a graça de Deus se há manifestado, trazendosalvação a todos o homens, ensinando-os que, renunciando à impiedade eàs concupiscências mundanas, vivam neste presente século sóbria, justa e

 piamente" (Tt 2.11,12).

O evangelista João conclui também que a graça e a verdade sãoconsequências da encarnação do Verbo: "A graça e a verdade vieram por Jesus Cristo" (Jo 1.17). Graça, favor de Deus não merecido por nós, everdade, a revelação absoluta de Deus, significam, em outras palavras, quetodo o amor do Pai, amor doador e perdoador, e toda a revelação divina econhecimento espiritual estão depositados em Cristo Jesus para, por meiodeste, manifestar-se aos homens no propósito de transportá-los do reino das

trevas para o reino da sua maravilhosa luz.Phillip traduz "graça" por "amor", e Moffat traduz verdade" por 

"realidade". Então, uma expressão paralela para "graça e verdade" seria"amor e realidade". Assim, em Cristo Jesus vieram à luz não apenas o amor de Deus, mas a realidade das coisas outrora ocultas. Um teólogo analisou otexto de João 1.14-17 e concluiu:

Em Jesus Cristo há uma inesgotável capacidade de dar, sem outramedida a não ser a plenitude de Deus. A graça e a verdade, objetivos darevelação da antiga aliança, acham-se plenamente reveladas e plenamenteconcedidas a nós em Jesus Cristo. Com a presença de Jesus, o AntigoTestamento e todo o judaísmo se apagam, dando lugar a outra religião nãoimperfeita nem suscetível de ser substituída por uma melhor, pois éverdadeira e definitiva: a religião do dom e da comunicação plena edecisiva de Deus na pessoa do Unigênito. É esta a verdadeira graça (1 Pe5.12), a genuína graça de Deus.

O Novo Testamento também denomina graça de Deus a lodo o

Evangelho. É o que lemos: "Para dar testemunho tio evangelho da graça deDeus... falando ousadamente acerca do Senhor, o qual dava testemunho à

 palavra da sua graça" etc. (At 20.24; 13.43; 14.3; Cl 1.6 etc.). Todavia, oEvangelho não possui, por si mesmo, a graça. Ela está com Cristo, e é estequem difunde e torna poderosa a mensagem evangélica.

Fé e obras

Todos os cristãos admitem que são justificados pela fé, mas nemtodos acreditam que a fé basta para a justificação. As diferentes atitudes

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decorrem de uma falsa interpretação do que a respeito registraram osapóstolos Paulo e Tiago.

O primeiro concluiu que o "homem é justificado pela fé, sem as

obras da lei" (Rm 3.28), e o segundo afirmou: “Vedes, então, que o homemé justificado pelas obras, e não somente pela fé... Porque, assim como ocorpo sem o espírito está morto, assim também a fé sem obras é morta" (Tg2.24,26).

Analisando a aparente divergência apostólica à luz do contexto bíblico, somos levados a rejeitar qualquer participação das obras da lei no processo da justificação. Ao dizer que Abraão foi justificado pelas obras,Tiago está mostrando tão-somente a relação das obras com a fé. Ele não

está discutindo a questão da nossa justificação, mas afirmando que a fésalvadora é seguida por boas obras e que, onde faltam estas, a fé está morta.Tiago não afirma, ao tratar do oferecimento de Isaque por Abraão, que estefora justificado por tal ato de obediência, uma vez que o patriarca já haviasido perdoado e aceito muito tempo antes. É o que afirma a Bíblia: 'É ocaso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça".Quando ocorreu isso? Quando Isaque nem sequer havia nascido (G1 3.6;Gn 15.6).

A respeito desta delicada questão, escreveu Wesley: "Afirmando quea salvação é pela fé, queremos dizer: 1) que o perdão (salvação principiada)é recebido por fé que produz obras; 2) que a santidade (salvação contínua)é a fé operada por amor; 3) que o Céu (salvação completa) é recompensadesta fé".

Os reformadores que, ao final da Idade Média, enfatizaram a célebreafirmação de Habacuque: "Mas o justo viverá pela fé" (2.4, ARA), faziam

questão de sublinhar que tal fé era uma  fides sola, e nunca uma  fides

 solitaria. Isto porque as boas obras são uma evidência da fé salvadora. Ocrente pratica boas obras, não para ser salvo, mas por estar salvo. Uma vezque sem a santificação ninguém verá o Senhor, aquele que é justificadoglorifica a Deus realizando boas obras, que são não apenas a consequênciada fé bíblica, sem a qual ninguém pode agradar ao Senhor, mas também a

 parte visível, aos olhos do mundo, dessa mesma fé.

Desejo concluir este capítulo citando Agostinho, o grande pensador cristão do quarto século. Ao concluir o seu tratado sobre o encontro de

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Deus, o famoso bispo de Hipona baseia-se em passagens como Romanos6.23, 1 Timóteo 2.5, Gaiatas 5.4, Filipenses 2.6,8, Mateus 4.23, Romanos7.34 e outras, e afirma:

O verdadeiro Mediador, que por vossa oculta misericórdia mostrase enviastes aos homens para que a seu exemplo aprendessem a humildade,é Jesus Cristo, Mediador entre Deus e os homens. Apareceu comointermediário entre os mortais pecadores e o Justo Imortal. Apareceumortal com os homens, e justo com Deus. Como a recompensa da Justiça éa vida e a paz, pela justiça unida a Deus desfez a morte dos ímpios

 justificados, querendo partilhá-la com eles...

Como nos amastes, ó Pai bondoso! Não perdoastes ao vosso FilhoÚnico! Entregaste-o à morte por nós, ímpios pecadores! Como nos

amastes! Foi por nosso amor que Ele, não considerando como rapina o ser igual a vós, se fez por nós obediente até à morte e morte de cruz. Ele era oúnico entre os mortos que estava isento da morte, o único que tinha o

 poder de entregar a vida e de a reassumir de novo! Foi, diante de vós, onosso vencedor e vítima. Tornou-se vencedor porque foi vítima. Foi,diante de vós, o nosso sacerdote e sacrifício. De escravos fez-nos vossosfilhos, servindo-nos apesar de ter nascido de vós.

Com razão nEle coloco toda a minha firme confiança, esperandoque curareis todas as minhas enfermidades, por intermédio daquele que,

sentado à vossa direita, intercede por nós. Doutro modo, desesperaria, poissão muitas e grandes as minhas fraquezas! Sim, são muitas e grandes, masmaior é o poder da vossa medicina. Poderíamos pensar que o vosso Verbose tinha afastado da união com o homem e desesperado de nos salvar, senão se tivesse feito homem e habitado entre nós.

Atemorizado com os meus pecados e com o peso da minha miséria,tinha resolvido e meditado, em meu coração, o projeto de fugir para oermo. Mas vós mo proibistes e me fortalecestes, dizendo: "Cristo morreu

 por todos, para que os viventes não vivam para si, mas para aquele quemorreu por eles".

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Capítulo 4

A lei é santa A lei é santa porque veio de Deus; tão boa que Jesus a

cumpriu e tão justa que Cristo morreu por ela, dando assim o seu

cumprimento. A lei continua santa, boa e justa, mas não estamos

mais sujeitos a ela.

A palavra torah, como característica da lei propriamente dita, ocorre

mais de quinhentas vezes no Antigo Testamento, significando "ensino","instrução". Sua autoridade é indiscutível em virtude da sua emanaçãosuperior, ou seja, do próprio Deus, como nesta passagem: "Vindo, pois,Moisés, e contando ao povo todas as palavras do Senhor e todos osestatutos, então, o povo respondeu a uma voz. E disseram: Todas as

 palavras que o Senhor tem falado faremos" (Êx 24.3).

Pelo fato de originar-se em Deus, a lei reveste-se de santidade e

graça, assim como Deus é santo e misericordioso: "Porque povo santo és aoSenhor, teu Deus"; e: "Mas porque o Senhor vos amava... vos tirou commão forte e vos resgatou da casa da servidão (Dt 7.6-15). Todo este trechoenfatiza a bondade divina e revela que a lei não deixa de ser uma graça doalto.

 Nos tempos do Antigo Testamento, não se conhecia nenhuma divisãoentre leis profanas e religiosas, ou entre mandamentos morais ecerimoniais. A Tora era um todo, abarcando plenamente a vida da nação e

de cada indivíduo. Para isso alternam-se os tratamentos "vós" e "tu", adeclaração como válidos e verdadeiros todos os preceitos nela contidostanto para o povo como para o indivíduo.

Por outro lado, a lei, como a primeira divisão das Escrituras, ou seja,o Pentateuco, é predominantemente negativa. De suas 613 ordenanças, 365são proibições, segundo revelam os rabinos israelitas. É o caso dodecálogo, onde oito dos dez mandamentos são iniciados por um "não".

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Sua unidade

A unidade da lei aparece no Novo Testamento de forma eloquente,mesmo quando se faz alusão à divisão tripartite das Escrituras hebraicas:

"... na Lei de Moisés, e nos Profetas, e nos Salmos" (Lc 24.44), onde "lei"são os cinco primeiros livros bíblicos, escritos por Moisés. Em outras

 passagens, "lei" e "lei e profetas" referem-se a todo o Antigo Testamento,como sendo a máxima expressão da imperativa vontade divina para o seu

 povo, Israel.

Em se tratando especialmente do Pentateuco, é flagrante aimpossibilidade de se distinguir duas leis — uma moral e outra cerimonial,

uma cumprida por Cristo e outra a ser cumprida por nós  —  sem torcer violentamente todo o ensino neotestamentário (onde torah aparece quasesempre no singular) e sem trair o princípio divino da justificação pela fé, talcomo Ele nos é apresentado em toda a Bíblia Sagrada. Jesus e os escritoresdo Novo Testamento citam passagens de Gênesis, Êxodo, Levítico,

 Números e Deuteronômio, além de outros livros do Antigo Testamento,designando-os de "lei". Vejamos estes casos:

O apóstolo Paulo ensina que "as mulheres estejam... sujeitas, como

também ordena a lei", e aponta o livro de Gênesis (1 Co 14.34; Gn 3.16).Aos romanos, escreve: "... se a lei não dissesse: não cobiçarás...", referindo-se a Êxodo e Deuteronômio (Rm 7.7; Êx 20.17; Dt 5.21.5).

Jesus, ao ser interrogado acerca do grande manda¬mento da lei, citouos livros de Levítico e Deuteronômio (Mt 22.36-39; Lv 19.18; Dt 6.5). Emoutra ocasião afir¬mou: "Não tendes lido na lei...?", referindo-se ao livrode Números (Mt 12.5; Nm 28.8,10).

Portanto, segundo o Senhor Jesus e o apóstolo Paulo, iodos os livrosdo Pentateuco são "lei", não fazendo eles nenhuma distinção entremandamentos cerimoniais e morais. Também não fazem, nem Jesus nem osapóstolos, quaisquer alusões ao decálogo como sendo a parte maisimportante da lei. Se existe alguma alusão, é a que fez Jesus a Levítico eDeuteronômio pelo fato de conterem estes livros o maior de todos osmandamentos.

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Sua santidade

As Escrituras Sagradas apresentam a lei no seu todo como sendosanta, justa e boa. Tendo ela essas virtudes, é evidente pelo seu próprio

caráter que ela exige de cada um perfeita santidade, justiça e bondade. Nenhum ser inteligente do Universo pode duvidar desse resultado. A leirequer que a alma seja perfeitamente livre de pecado na presença de Deus,e Deus, sendo santo, não deve permitir ou tolerar um só pecado. Se ele o

 permitisse, a lei não seria santa nem adaptada para fazer que os homenssejam santos.

Quanto mais santa, porém, é a lei, tanto maior convicção produzirá

ela no íntimo dos pecadores. A lei divina é totalmente abrangente em todasas suas exigências. Se ela se estendesse somente à vida exterior, os homensnão se sentiriam culpados pelos seus maus pensamentos, desejos oudesígnios; e se ela se estendesse somente a certas classes de pecados doespírito, os homens não se sentiriam culpados pelos outros pecados doespírito que ela não condenasse. Mas se a lei exige que a própria pessoa noseu todo  —  no seu ego  —  seja plenamente santa, com todos os seus

 pensamentos e sentimentos em harmonia com o amor e a retidão, então

essa pessoa fica convencida de culpa por um só ato mau que pratique, porque, sentindo ela que a lei é santa, justa e boa, não pode deixar desentir-se condenada por infringir tal lei.

Desde, portanto, que Cristo apareceu, cada pessoa posta em contatocom Ele se sente imediatamente convencida de pecado. Dessa maneira,uma de duas coisas cabe a cada pessoa fazer: ou impedir que a luz de Cristolhe penetre na alma, recusando-se a acreditar nas espirituais e perfeitasexigências do Salvador, ou julgar- se a si mesma e condenar-se a si mesma

 pelos preceitos da lei.

Enquanto a lei revelava o pecado e condenava o pecador à morte,essa mesma lei não dava ao pecador nenhuma chance de cumprir asexigências da lei. Esta, portanto, se restringiu a apontar ao pecador a normaverdadeira, que é santa em si mesma e mantida por um Deus santo, e,assim, condenar o transgressor e condená-lo à maldição.

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Sua finalidade

Talvez em nenhuma outra passagem da Escritura o objetivo da leiesteja tão bem explicado como na carta aos Gálatas. O apóstolo Paulo

 pergunta para que é a lei, e em seguida responde: "Foi ordenada por causadas transgressões, até que viesse a posteridade a quem a promessa tinhasido feita, e foi posta pelos anjos na mão de um medianeiro". E maisadiante: "De maneira que a lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo,

 para que, pela fé, fôssemos justificados" (G1 3.19,24).

Do texto bíblico, e à luz de todo o contexto, percebe- se que a lei,embora ordenada para o bem, não conseguiu justificar ninguém. Pelo

contrário, foi alvo de muitas transgressões e culpas que deveriam levar ohomem a conhecer a sua própria miséria e impotência e, partindo daí, a sehumilhar diante de Deus, arrepender-se e a ser salvo mediante a fé.Todavia, em si mesma, a lei não tinha poder algum para levar o homem aoCriador: "E é evidente que, pela lei, ninguém será justificado diante deDeus, porque o justo viverá da fé" (G1 3.11).

Um teólogo britânico expressou corretamente a finalidade da lei, aoafirmar que ela era, em certo sentido, como um instrumento perfeito,

enviado para revelar ao homem o seu desarranjo moral. Diz ele:

Se eu me puser diante de um espelho com o meu vestuáriodesarranjado, o espelho mostra-me o desarranjo, mas não o põe em ordem.Se eu fizer descer sobre um muro tortuoso um prumo, o prumo mostra atortuosidade, mas não a altera. Seu eu sair numa noite escura com uma luz,esta revela-me iodos os obstáculos e dificuldades que se.acham nocaminho, mas não os remove. Além disso, o espelho, o prumo e a luz nãocriam os males que revelam distintamente: nem os criam nem os afastam,

apenas os revelam. O mesmo acontece com a lei: não cria o mal nocoração do homem nem tampouco o tira; mas revela-o com infalívelexatidão.

A lei, portanto, serviu ao israelita, a quem foi dada, como um pedagogo, ou aio, até que a fé viesse. Mas depois que a fé veio, nãoestamos mais sujeitos ao pedagogo. Em outras palavras, o objetivo últimoda lei é fazer que o pecador sinta a necessidade de justificação e perdão, elevá-lo, ao final, a confiar em Jesus Cristo e a recebê-lo como seu único

Salvador e Senhor, recebendo dele a salvação do pecado e da consequênciadeste, a morte espiritual.

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Argumenta ainda o apóstolo que a lei sinaítica, dada 430 anos depoisde Abraão, não invalidou a promessa de Deus feita àquele patriarca. "Mas aEscritura encerrou tudo sob o domínio do pecado, a fim de que a herança

 prometida fosse dada aos crentes por virtude da fé em Jesus Cristo" (3.22,

tradução do Pontifício Instituto Bíblico de Roma).

Cristo, o único a cumprir plenamente toda a lei através de umaobediência perfeita, tornou-se "Mediador de um novo testamento, para que,intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do

 primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da eterna herança"(Hb 9.15, ver também Fp 2.5-8).

Servindo-se de duas palavras gregas, anti (que significa "contra"), enomos (que significa “lei"), Lutero inventou o termo "antinomianismo",que quer dizer "contra a lei". Embora o reformador alemão usasse esseneologismo em relação a outros, ele próprio nunca se considerou umantinomianista. Lutero e outros reformadores deixaram bem claro que,embora fôssemos salvos somente pela fé em Cristo, uma vez salvoshaveríamos de cumprir a lei. Assim, não praticamos boas obras a fim desermos salvos, mas porque somos salvos.

Ora, a Bíblia declara que esse é o objetivo último da lei: fazer que o pecador sinta a necessidade de justificação e perdão, e levá-lo, ao final, aconfiar cm Jesus Cristo e a recebê-lo como único Salvador e Senhor,recebendo dele a salvação do pecado e da consequência deste, a morteespiritual.

Sua transitoriedade

Ao apresentar Cristo como o fim da lei, o Novo Testamento cumpre

uma profecia de Jeremias:

Vem dias, diz o Senhor, em que farei uma aliança nova com a casade Israel e com a casa de Judá. Não conforme a aliança que fiz com seus

 pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito, porque eles invalidaram a minha aliança, apesar de eu os haver desposado,diz o Senhor. Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depoisdaqueles dias, diz o Senhor. Porei a minha lei no seu interior, e aescreverei no seu coração. Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo.

 Não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém a seu irmão,dizendo: Conhecei ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor 

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deles até o maior, diz o Senhor. Pois lhes perdoarei a sua maldade, e nuncamais me lembrarei dos seus pecados (Jr 31.31-34, EC).

Comentando esta profecia, o autor da Epístola de Hebreus registra:"Dizendo nova aliança, ele tornou antiquada a primeira. Ora, aquilo que setorna antiquado e envelhecido, perto está de desaparecer" (Hb 8.13, EC).

A antiga aliança estava sujeita a ser invalidada por nina das partes pactuantes: Deus ou Israel. É evidente que Deus foi fiel, ao passo que osisraelitas não; eles transgrediram a aliança, a invalidaram e a violaram. Estaverdade está registrada principalmente na Segunda Epístola aos Coríntios,onde se afirma a transitoriedade da lei, e que "não somos como Moisés, que

 punha um véu sobre a sua face para que os filhos de Israel não fitassem o

fim daquilo que desvanecia. Mas os seus sentidos foram embotados, poisaté hoje, à leitura da antiga aliança, permanece o mesmo véu. Não foiremovido, porque somente em Cristo é ele abolido. E até hoje, quando élido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles (2 Co 2.13-15).

A nova aliança, baseada na fé em Jesus, é incomparavelmentesuperior à antiga porque 1) sua religiosidade, brotando espontaneamente deum coração perdoado e regenerado, independe de impulsos exteriores; 2) avontade divina, testemunhada antes em tábuas de pedra, está agora gravadanas tábuas de carne do coração; 3) o conhecimento de Deus, diferentementedo modo tomo era ministrado na antiga aliança, torna-se, no NovoTestamento, uma experiência viva e profunda, magistralmente definida por Paulo nesta frase: "Mas nós temos a mente de Cristo" (1 Co 2.16).

A aliança da lei, portanto, era transitória. Os cristãos não estavam (enão estão) obrigados ao seu cumprimento, razão pela qual o apóstolo Pauloadverte: "Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por 

causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados" (Cl 2.16). A novalei, sob a qual estão os crentes, é a "lei do Espírito de vida, em CristoJesus", que os livra "da lei do pecado e da morte" (Rm 8.2). Aos coríntios,afirma o mesmo apóstolo, referindo-se aos gentios: "Para os que estão semlei, como se estivera sem lei (não estando sem lei para com Deus, masdebaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei" (1 Co 9.21).

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Capítulo 5

Os dez mandamentose o sábado

Todos os mandamentos do decálogo estão repetidos no Novo

Testamento, exceto o sábado. O cristão não rouba, não mata, não

toma o nome de Deus em vão etc., pois a nova aliança proíbe tais pecados.

Há muitos anos o periódico The Pentecostal Evangel, órgão doConcilio das Assembléias de Deus nos Estados Unidos, publicou excelenteartigo de autoria de Nelson E. Hinman, sob o título acima, que tomamos aliberdade de transcrever e adaptar:

A questão do sábado tem deixado muitos cristãos evangélicos num

verdadeiro estado de confusão. Especialmente os novos na fé, que nãosabem discernir entre uma e outra dispensação, ou entre uma e outraaliança bíblica, se tornam presa fácil dos falsos mestres legalistas que seapresentam carregados de argumentos aparentemente irrefutáveis.

Se a Palavra de Deus nos ensina que os dez mandamentos, como osencontramos no livro de Êxodo, são obrigatórios para o cristão, entãotemos de admitir que o sábado igualmente o é. Mas a Bíblia não nos ensinaassim. Nela lemos que Cristo é mediador de uma melhor aliança, que está

firmada em melhores promessas. Porque, se aquela primeira aliança fosseirrepreensível, não haveria lugar para uma segunda. Mas Deus, aorepreender os israelitas por intermédio do profeta Jeremias, afirma: "Virãodias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judáestabelecerei uma nova aliança. Ela não será segundo a aliança que fiz comseus pais no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito,

 porque não permaneceram naquela minha aliança, e eu para eles nãoatentei, diz o Senhor. Esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a

casa de Israel, diz o Senhor. Porei as minhas leis no seu entendimento, e em

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seu coração as escreverei. Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Enão ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão,dizendo: Conhece ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde o menor deles até o maior. Pois serei misericordioso para com suas iniquidades, e de

seus pecados e de suas iniquidades não me lembrarei mais" (Hb 8.8-13).

Que o leitor atente para as expressões que aparecem nos versículosanteriores aos da citação acima, como: "ministério tanto mais excelente","superior aliança" e "firmada em melhores promessas". As Escrituras falamde duas distintas alianças, e afirma que a segunda destas alianças, emrelação à primeira, é não apenas diferente, mas incomparavelmentesuperior.

As duas alianças

Moisés foi o mediador da primeira aliança, estabelecida no monteSinai, também conhecido como Horebe. Foi feito com os filhos de Israel.Foi selado com o sangue de animais sacrificados. Era condicional da partedo homem em obediência aos dez mandamentos.

Mas o tempo chegou, quando uma nova ordem tinha de ser 

introduzida e estabelecida uma nova aliança. O profeta Jeremias foi umdaqueles que anunciou a nova aliança, conforme a citação de Hebreus,acima. Uma das características dessa nova aliança é que ela seria gravadano coração do crente: "Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei noseu coração.... Não ensinará alguém mais a seu próximo, nem alguém a seuirmão, dizendo: conhecei ao Senhor, porque todos me conhecerão, desde omenor deles até o maior, diz o Senhor. Pois lhes perdoarei a sua maldade, enunca mais me lembrarei dos seus pecados" (Jr 31.32-35, EC).

Uma nova e superior aliança seria feita com o povo de Deus e substituiria aantiga aliança, chamada por Paulo, entre outras coisas, de transitória.Vejamos como o apóstolo Paulo compara as duas alianças, em 2 Coríntios3.

A primeira aliança

• Antiga, Êxodo 34.27-28.

• Mediador: Moisés, 2 Coríntios 3.7.

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• Gravada em pedras, v. 7.

• Escrita com tinta, v. 3.

• Veio em glória, v. 7.

• Ministério da condenação, v. 9.

• E um jugo de servidão,

• Acaba com morte, vv. 3,6,7.

• Era transitório, vv. 7,11.

A segunda aliança

• Nova, Jeremias 31.31-34.

• Mediador: Cristo, 2 Coríntios 3.3-14; Hebreus 8.6- 9,15.

• Escrita no coração, vv. 2,3.

• Tem excelente glória, v.10.

• Ministério da justificação, Atos 13.38,39.

• Traz liberdade, 2 Coríntios 3.17.

• Vivifica, v. 6.

• E permanente, v. 11.

Os que defendem a guarda do sétimo dia geralmente não aceitamesse argumento, dizendo que Paulo, em 2 Coríntios 3, refere-se a outra lei enão àquela que foi gravada em pedras. Porém, comparando Deuteronômio

10.1 ("Naquele mesmo tempo me disse o Senhor: Alisa duas tábuas de pedra, como as primeiras, e sobe a mim a este monte, e faze uma arca demadeira") com 2 Coríntios 3.7 ("E, se o ministério da morte, gravado comletras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não

 podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, aqual era transitória"), vê-se claramente que Paulo fala da lei dos dezmandamentos. Portanto, se a antiga aliança já findou, perguntamos: Qual éo conteúdo da nova aliança? Porventura ordena ela que observemos o

sétimo dia da semana?

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Se os dez mandamentos dados na antiga aliança já passaram, vivementão os cristãos sem eles? Podem tomar o nome de Deus em vão, matar,roubar etc.? Por certo que não, pois que o Novo Testamento proíbe tais

 pecados.

Os mandamentos da nova aliança

Examinemos os dez mandamentos em Êxodo 20, um após o outro, evejamos o que o Novo Testamento (ou a nova aliança) diz acerca deles:

1. O primeiro mandamento diz: "Não terás outros deuses diante demim". Este é um mandamento contra a idolatria, contra a adoração dedeuses falsos.

A nova aliança contém uma linguagem forte ao proibir a idolatria.Considere as seguintes passagens: "Não vos façais idolatras... como algunsdeles"; "Portanto, meus amados, fugi da idolatria" (1 Co 10.7,14);"Filhinhos, guardai-vos dos ídolos" (1 Jo 5.21). "E Jesus disse-lhe: Amaráso Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo oteu pensamento" (Mt 22.37; veja também Mc 12.30; Lc 10.27).

2. O segundo mandamento ensina: "Não farás para ti imagem de

escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra". Este mandamento étambém contra a idolatria que coloca uma imagem de Deus ou outrosobjetos para adoração.

O ensino do Novo Testamento acerca deste pecado é nítido. Jesusdisse: "Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradoresadorarão o Pai em espírito e cm verdade, porque o Pai procura a tais que

assim o adorem" (Jo 4.23). Os cristãos têm de adorar com o coração, nãocom a formalidade. Adoração espiritual é aquela que não depende de ritos ecerimônias, nem de pompa e formas exteriores; é a que sai do coração paraDeus em qualquer tempo e em qualquer lugar: "O Pai procura a tais queassim o adorem".

Outros textos do Novo Testamento acerca desse mandamento: "Masescrever-lhes [aos gentios convertidos] que se abstenham dascontaminações dos ídolos... Que vos abstenhais das coisas sacrificadas aos

ídolos... Todavia, quanto aos que crêem dos gentios, já nós havemos escrito

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e achado por bem que se guardem do que se sacrifica aos ídolos..." (At15.20,29; 21.25). "E mudaram a glória do Deus incorruptível emsemelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes,e de répteis" (Rm 1.23). "Não vos façais idolatras, como alguns deles;

conforme está escrito: O povo assentou-se a comer e a beber e levantou-se para Iblgar... Portanto, meus amados, fugi da idolatria" (1 Co 10.7,14). "Asobras da carne são manifestas, as quais são... idolatria" (G1 5.19,20)."Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição, impureza,

 paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é idolatria" (Cl 3.5, ARA)."Filhinhos, guardai-vos dos ídolos" (I Jo 5.21).

3. O terceiro mandamento é: "Não tomarás o nome do Senhor teu

Deus em vão, pois o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nomeem vão". Este mandamento proíbe profanar o santo nome de Deus. Oscristãos têm um mandamento semelhante que vai mais além: "Eu, porém,vos digo que, de maneira nenhuma, jureis nem pelo céu, porque é o tronode Deus... Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não" (Mt 5.34,37)."Mas, agora, despojai-vos também de tudo: da ira, da cólera, da malícia, damaledicência, das palavras torpes da vossa boca" (Cl 3.8).

4. O quarto mandamento diz: "Lembra-te do dia do sábado, para o

santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra, mas o sétimo dia éo sábado do Senhor teu Deus. Não farás nenhum trabalho, nem tu, nem oteu filho, nem a tua filha, nem o teu escravo, nem a tua escrava, nem o teuanimal, nem o estrangeiro que está dentro das tuas portas. Pois em seis diasfez o Senhor o céu e a terra, o mar e tudo o que neles há, mas ao sétimo diadescansou. Por isso abençoou o Senhor o dia de sábado, e o santificou".

Esse é o único mandamento que não se encontra repetido na nova

aliança. Esquadrinhando todo o Novo Testamento, não encontramosnenhum ensino de Jesus ou dos apóstolos para santificarmos o dia sétimomais do que qualquer outro.

Todos os que ensinam que o sábado, o sétimo dia, deve ser santificado por todos os cristãos, não guardam este dia da maneira como foiordenado. Os tais devem saber que a lei, ao mandar guardar ao sábado,também diz como ele deve ser observado. Para guardar o sábado osisraelitas recebem as seguintes instruções:

1) não fazer nenhuma obra nesse dia, Êxodo 20.10;

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2) trabalhar nos outros seis dias, v. 9;

3) não podiam apanhar lenha no dia de sábado; um homem achadofazendo isso foi apedrejado até morrer, Números 15.32,36;

4) não acender fogo em casa, Êxodo 35.3;

5) sacrificar duas ovelhas em oferta de manjares todos os sábados, Números 28.9,10.

Se os sabatistas querem insistir na guarda do sétimo dia, então terãode guardá-lo conforme estes preceitos.

A lei exigia que toda comida fosse preparada na véspera do sábado, e

este dia era conhecido no tempo de Jesus como "o dia da preparação",assim mencionado nos Evangelhos. Os judeus que guardam a letra da lei,nem sequer acendem luz elétrica no sábado, porque seria acender lume. Ese nós estamos vivendo sob a lei, devemos obedecer aos mandamentos emtodos os preceitos.

Mas graças a Deus que não vivemos sob a lei, mas sob a graça danova aliança, e por isso não estamos obrigados a guarda um dia mais doque outro. Em Romanos 14.5,6 o apóstolo escreve: "Um faz diferença entredia e dia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramenteseguro em seu próprio ânimo. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor ofaz. O que come para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e o que nãocome para o Senhor não come e dá graças a Deus".

A doutrina dos que guardam o sábado corresponde com esta? Não, porque dizem que o sábado tem de ser guardado sobre todos os outros dias. Negam assim o privilégio de cada um decidir por si mesmo a esse respeito,

 privilégio que é parte da gloriosa liberdade dos filhos de Deus.

Muito se ensina no Novo Testamento acerca do primeiro dia, o doSenhor, mas à luz de Romanos 14.4-6, entendemos que a questão deguardar um dia mais do que a outro não era obrigação, mas opção na

 primitiva igreja. O dia do Senhor, ou o primeiro dia, era guardado tendo por motivo o amor, e não a lei.

Se alguém arguir que Jesus guardava o sábado de Moisés, replico:

tinha de fazer assim, visto que veio sob a lei e guardou todos osmandamentos de seu Pai para os judeus; porém, ao estabelecer a nova

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aliança, não nos deixou nenhum mandamento a respeito do sábado, excetoo que já mencionamos em Romanos 14 e em Hebreus 10.25, onde diz:"Não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns; antes,admoestemo-nos uns aos outros; e tanto mais quanto vedes que se vai

aproximando aquele Dia". Somos ensinados acerca das reuniões, mas o dia para realizá-las fica à nossa escolha.

5. O quinto mandamento diz: "Honra a teu pai e a tua mãe, para quese prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá". Estemandamento está repetido em Efésios 6.1-4, com a diferença que na novaaliança o mandamento foi ampliado, pois inclui a responsabilidade dos paisde disciplinar os próprios filhos: "Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais

no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa, para que te vá bem, e vivas muitotempo sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mascriai-os na doutrina e admoestação do Senhor". "Vós, filhos, obedecei emtudo a vossos pais, porque isto é agradável ao Senhor" (Cl 3.20).

6. No sexto mandamento, o Senhor diz: "Não matarás". E Jesusinterpreta-o, dizendo que odiar equivale a matar. Sentimentos e palavras deódio são tão maus à vista de Deus como o ato de matar. O que pensará

Deus quando os homens vêm à sua presença para o adorar com os seuscorações cheios de ódio, malícia e inveja contra os irmãos?! "Que nenhumde vós padeça como homicida" (1 Pe 4.15, ver também Mt 5.22; 1 Jo 3.15).

7. O sétimo mandamento diz: "Não adulterarás". Este mandamentofoi, como o sexto, ampliado por Jesus para incluir o desejo do coração (Mt5.27,28). Deus acentua a vida interior, pois é ali que a luta é ganha ou

 perdida. "Com efeito: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não darás

falso testemunho, não cobiçarás, e, se há algum outro mandamento, tudonesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo" (Rm13.9).

8. O oitavo mandamento afirma: "Não furtarás". O apóstolo Pauloescreveu: "Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo comas mãos o que é bom, para que tenha o que repartir com o que tiver necessidade" (Ef 4.28).

9. O nono mandamento é: "Não dirás falso testemunho contra o teu próximo". E uma advertência contra o pecado de perjúrio. Paulo ensina o

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mesmo mandamento na nova aliança: "Não darás falso testemunho" (Rm13.9). "Pelo que deixai a mentira e falai a verdade cada um com o seu

 próximo; porque somos membros uns dos outros" (Ef 1.25). "Não mintaisuns aos outros, pois já vos despistes do velho homem com os seus feitos"

(Cl 3.9).

10. O décimo mandamento diz: "Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu escravo, nem asua escrava, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu

 próximo". O ensino da nova aliança é igual: "Porque bem sabeis isto: quenenhum... avarento... tem herança no reino de Cristo e de Deus" (Ef 5.5)."Nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes,

nem os roubadores herdarão o Reino de Deus" (1 Co 6.10). "Não cobiçosode torpe ganância" (1 Tm 3.3). E Jesus afirma: “E disse-hes: Acautelai-vose guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste naabundância do que possui", e conta a história do rico insensato para ilustrar o seu mandamento, Lucas 12.15-21.

Não estamos sem lei

Podemos ver, pois, que apesar de todos os mandamentos estarem

repetidos no Novo Testamento, não há ordem alguma que obrigue oscristãos a guardar o sábado.

Argumentam os apologistas do sétimo dia que, se nos abstêmios deadultério, mentira, idolatria, roubo, perjúrio etc., que é uma parte dos dezmandamentos, devemos igualmente cumprir a parte da lei referente aosábado. A nossa resposta é: o motivo por que não praticamos aqueles

 pecados é porque eles são proibidos na nova aliança, do qual o Senhor 

Jesus é mediador. Não estamos sem lei, mas sob a lei de Cristo, 1 Coríntios9.21.

Deus providenciou uma provisão para os que erraram na antigaaliança: o sacrifício segundo a lei levítica. Deus também estabeleceu uma

 provisão para os que erram na segunda aliança: a provisão de Jesus Cristo,o Justo, que derramou o seu sangue para propiciação pelos nossos pecadose pelos de todo o mundo. Tornando-nos culpados de desobediência contraalguns de seus mandamentos, encontramos perdão de Deus em nome de

Jesus, se confessarmos os nossos pecados.

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Os defensores do sábado alegam que esse dia era reconhecido pelos primitivos cristãos até que o imperador Constantino, em 321, mudou o diade guarda de sábado para domingo; outros dizem que foi um papa que fezisso. Mas a verdade é que os primitivos cristãos guardavam o domingo

como dia de descanso e adoração, e isso durante três séculos antes de haver Constantino reconhecido oficialmente esse dia como o descanso cristão. Eo que vemos na história da Igreja.

Muito mais poderia ser dito sobre o assunto, mas uma palavra deDeus em Gálatas 5.22,23 é suficiente para terminá-lo: "Mas o fruto doEspírito é: caridade [amor], gozo, paz, longanimidade, benignidade,

 bondade, fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei".

Depois de ter registrado o fruto de uma vida cheia do Espírito, Paulodiz: "Contra essas coisas não há lei". Nem a lei de Moisés nem a lei deCristo podem condenar uma vida que produz esse fruto.

A antiga aliança foi o bulbo de onde cresceu a flor da nova aliança.Quando o bulbo cumpriu sua missão, surgiu a flor bela, independente,capaz, mas continuou mantendo intima relação que confunde a muitos. Souforçado, portanto, a advertir a grande insensatez que está em preferir o

 bulbo à flor, ou em forçar o bulbo a ocupar o lugar da flor. Aqui reside oerro de tentar guardar os artigos concernentes à primeira aliança, enquantose pode viver sob os privilégios abençoados da segunda!

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Capítulo 6

Sinal da besta:sábado ou domingo?

 Nem a Igreja Católica Romana nem o papado podem ser 

identificados com qualquer das bestas, por falta absoluta de

cumprimento do que se exige no livro de Apocalipse. E perigoso forçar a Palavra de Deus a dizer aquilo que ela não diz.

Em suas campanhas proselitistas, os adeptos da guarda do sábadoinsistem em afirmar que todos os guardadores do domingo têm o sinal da

 besta, estão enganados por falsos profetas e estão debaixo da ira de Deus,conforme afirmam estes textos bíblicos:

E fez que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres eescravos, lhes fosse posto um sinal na mão direita, ou na testa... também otal beberá do vinho da ira de Deus, preparado, sem mistura, no cálice dasua ira. E será atormentado com fogo e enxofre diante dos santos anjos ediante do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre.

 Não têm repouso nem de dia nem de noite os que adoram a besta e a suaimagem, e aquele que receber o sinal do seu nome... E a besta foi presa, ecom ela o falso profeta que diante dela fizera os sinais com que enganou osque receberam o sinal da besta, e os que adoraram a sua imagem. Estesdois foram lançados vivos no lago de fogo que arde com enxofre (Ap13.16; 14.10,11; 19.20).

Embora tais julgamentos não tenham nenhuma base bíblica quandoaplicados aos cristãos na era da graça, eles não deixam de assustar econfundir os incautos, principalmente os novos convertidos ainda não

 plenamente firmados na sã doutrina da Palavra de Deus.

Baseando-se em interpretações forçadas dos livros de Daniel eApocalipse, os sabatistas crêem que o papado é a primeira besta doApocalipse, e que foi ele o autor da mudança da guarda do sábado para o

domingo.

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Desfazendo dúvidas

Tanto os escritores do Novo Testamento como os escritores que lhesseguiram nos primeiros séculos da era cristã são unânimes em afirmar que

os cristãos primitivos passaram a descansar no domingo em comemoraçãoà ressurreição do Senhor Jesus e aos grandes eventos que se deram nessememorável dia. Além de haver ocorrido no primeiro dia da semana aconsumação da obra redentora  —  considerada mesmo maior que a da

 própria criação — foi também nesse dia que Jesus apareceu diversas vezesaos seus discípulos, dando provas de sua vitória completa sobre o pecado ea morte (Jo 20.1-26; Mt 28.1,8- 10; Lc 24.3-15; Mc 19.9-13).

Foi também no primeiro dia da semana que Jesus abençoou seusdiscípulos e deu-lhes o Espírito Santo (Jo 20.19,22). Nesse dia muitossantos ressurgiram e também nele o Espírito Santo iniciou sua dispensaçãona terra, batizando os primeiros crentes e dando-lhes poder para pregar oevangelho da graça de Deus. Foi ainda no domingo que três mil almas seconverteram a Cristo (Mt 27.52,53; At 2.1,2,41).

 Não é de admirar, portanto, que a igreja se reunisse no primeiro diada semana a fim de cultuar a Deus e comemorar tantos eventos gloriosos, e

 passasse a chamar esse dia, no mundo latino, de domingo, que quer dizer "dia do Senhor".

O fim do sábado

Como integrante da lei mosaica, o sábado foi cumprido por Cristo,que o cravou na cruz, conforme afirma a Escritura: "Havendo riscado acédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira

nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. li,despojando os principados e as potestades, os expôs publicamente e delestriunfou em si mesmo. Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo

 beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados" (Cl2.14-16).

Os versículos 14 e 15 do texto acima são assim traduzidos por Phillips:

Foi ele que perdoou todos os pecados. Por termos quebrado as leis e osmandamentos, fomos condenados, mas Cristo riscou essa condenação que

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 pesava sobre as nossas cabeças, anulando-a completamente e pregando-a na cruzsobre a sua própria cabeça. E depois, retirando a força aos poderes hostis a nós,expô-los já despedaçados, vazios e derrotados, no seu ato final glorioso etriunfante!

Os sábados, inclusive o semanal, como é evidente, não pertence ànova dispensação, não foi ordenado nem por Jesus nem pelos apóstolos,

 pois era apenas um sinal entre Deus e Israel (Ez 20.10-12).

Acusado pelos judeus de violação do sábado, Jesus afirmou que "osábado foi feito por causa do homem", e que Ele "até do sábado é Senhor"(Mc 2.27; Mt 12.8). Assim, por um lado Jesus defende o princípio moral doquarto mandamento do decálogo, que é a necessidade humana de se

descansar um dia em cada sete, valendo para esse fim qualquer deles; e, por outro lado, ao condenar o cerimonialismo que cercava o guarda do sábado,revela sua autoridade divina sobre esse sétimo dia para cumpri-lo, aboli-loou mudá-lo. O autor da Epístola aos Hebreus escreveu que os israelitas não

 puderam entrar no repouso de Deus por causa da sua incredulidade. Econclui: "Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus" (Hb 4.8).O sábado da lei, como sombra das coisas vindouras, prefigurava o descansoespiritual que encontramos, pela fé, em Cristo, que disse: "Vinde a mim,

todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28).

A voz da História

O pastor Ricardo Pitrowski, na obra O Sabatismo à Luz da Palavra

de Deus, relaciona testemunhos comprobatórios de que a instituição dodomingo, como dia de descanso, não partiu do papa.

Acerca do concilio de Laodicéia, realizado em 364, local e data

apontados pelo sabatismo como sendo os da mudança da guarda do sábado para a guarda do domingo, afirma a mencionada obra que o bispo de Romanão esteve presente nem foi representado. Apenas 32 pastores (ou bispos)da Ásia Menor compareceram àquela reunião, cujo objetivo não foi outrosenão disciplinar pequenas questões locais.

É importante salientar aqui que nesse tempo o bispo de Roma aindanão possuía nenhuma autoridade sobre outras igrejas, e mesmo unsduzentos anos mais tarde sua influência ainda era nula no Oriente. E mais:

Laodicéia não é Roma, não fica na Europa e não é cidade latina!

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Portanto, fazer do papa ou do papado a primeira besta e da guarda dodomingo o seu sinal é torcer violentamente tanto os fatos históricos comoos ensinamentos claros das Escrituras Sagradas.

Quem será a besta?Quando dava os meus primeiros passos na fé cristã, em 1959, depois

de desembaraçar-me das doutrinas batistas em que fui criado até os oitoanos de idade, deparei-me com um curioso folheto espírita no qual se

 procurava identificar o papa com a besta através da aplicação do número666 aos vários títulos usados pelo pontífice romano.

Os adventistas se valem do mesmo expediente para justificar seus

ensinos, esquecendo-se de que ao longo dos séculos esse mesmo número da besta já foi aplicado a dezenas de pessoas e instituições que perseguiram osristãos ou os judeus, estando entre essas pessoas Hitler e a própria co-fundadora do sabatismo, a Sra. Ellen Gould White. Somando-se as letrasdesse nome que têm valor em algarismos romanos (o "U" como "V" e o"W" como “VV”, como se usava antigamente), obtém-se o mesmomisterioso número 666! Se esse fato significa que também o sabatismoentra na esfera de tudo quanto é contrário a Deus, então o sinal da besta

 poderia ser a guarda do sábado, e não a do domingo!

Mas a Bíblia é muito clara em afirmar que o 666 é número dehomem e não de mulher. Por outro lado, as bestas do capítulo 13 doApocalipse ainda não se manifestaram, e é bem provável que elas surjamsomente depois do arrebatamento da igreja, embora já possamos vislumbrar o seu futuro surgimento mediante a restauração do império romano naEuropa e aos progressos do movimento ecumênico liderado pelo Conselho

Mundial de Igrejas. Este último, que já conta com mais de seiscentosmilhões de adeptos, tem como objetivo principal uma só Igreja e um sógoverno para o mundo.

Por outro lado, a igreja romana não foi esquecida pela Bíblia e estádescrita de maneira inconfundível no capítulo 17 de Apocalipse. E a grande

 prostituta, "a mãe das abominações da terra". Nem ela nem o papado podem ser identificados com nenhuma das duas bestas por absoluta falta decumprimento do que se exige em Apocalipse 13. li perigoso torcer ou

forçar a Palavra de Deus.

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Capítulo 7

Quem não guarda o sábadonão é de Deus?!

Quem pensa, crê e ensina dessa forma, pensa, crê e ensina em

conformidade com os preceitos dos fariseus, e nunca de acordo com

o espírito do evangelho da graça de Deus.

Escrevi este capítulo baseando-me em um artigo com o mesmotítulo, publicado há muitos anos na revista portuguesa Novas de Alegria,

 periódico em que também publiquei diversos trabalhos alusivos à guarda dalei de Moisés e do sábado. O autor do referido artigo havia perguntado, aum defensor da guarda do sábado, se um cristão poderia ou não ser salvosem a observância do sétimo dia. A resposta que ele recebeu foi: "Quemnão guarda o sábado não anda na vontade de Deus e não poderá se salvar".

Alguns fariseus disseram algo parecido a respeito do próprio Cristo:"Este homem não é de Deus, pois não guarda o sábado" (Jo 9.16). Naverdade, Jesus nunca quebrou a lei em nenhum só de seus mandamentos,nem mesmo quanto ao sábado. Ele curou e salvou no sábado. Se Jesusquebrou algumas das leis sociais instituídas pelos judeus, foi justamente afim de integrar na sociedade pessoas socialmente marginalizadas, comocobradores de impostos, prostitutas, leprosos, coxos etc.

O que diz a Bíblia

Em nenhuma passagem do Novo Testamento encontramos outradoutrina da salvação, além desta: "Porque pela graça sois salvos, por meioda fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para queninguém se glorie" (Ef 2.8,9). A prova da nossa salvação é o novonascimento, que por sua vez não deve ser confundido com o crescimentoespiritual do crente. Nunca devemos confundir salvação com perfeição.

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Aquela está consumada; esta é um processo na vida de todo aquele que amaa Jesus Cristo.

Voltemos à questão da observância do sábado. Os apologistas do

sétimo dia citam textos bíblicos segundo os quais haveria a obrigatoriedadeda guarda do sábado antes do Sinai, mas aqueles textos, quandoexaminados à luz de seu contexto imediato ou distante, não confirmam taisalegações. Vejamos:

Gênesis 2.1-3: “Assim, os céus, e a terra, e todo o seu exército foramacabados. E, havendo Deus acabado no dia sétimo a sua obra, que tinhafeito, descansou no sétimo dia de toda a sua obra, que tinha feito. Eabençoou Deus o dia sétimo, e o santificou; porque nele descansou de toda

a sua obra, que Deus criara e fizera”. Este texto não contém ordenançaalguma, limitando-se a informar que o Senhor findou a criação no sétimodia, e que nesse dia descansou (isto é, cessou de trabalhar) e santificou osétimo dia.

Oséias 6.7: "Mas eles traspassaram o concerto, como Adão; eles se portaram aleivosamente contra mim". De modo nenhum esta passagemdeve ser relacionada ao mandamento da guarda do sábado. O mandamento

que Adão transgrediu não está em Gênesis 2.1-3, mas sim em Gênesis2.16,17: "E ordenou o Senhor Deus ao homem, dizendo: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore da ciência do bem e do mal, delanão comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamen¬te morrerás".

Os contemporâneos do profeta Oséias haviam desobedecido a Deus,à semelhança de quando nossos primeiros pais comeram do fruto proibido.Como poderia Adão e Eva transgredir o mandamento da guarda do sábado,se esse mandamento não lhes havia sido dado?

 Não é boa hermenêutica citar Gênesis 26.5 com a mesma intenção.Afirma esse texto: "Porquanto Abraão obedeceu à minha voz e guardou omeu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis". OSenhor havia ordenado várias práticas a Abraão: a circuncisão (Gn 17.10),a saída pela fé da sua terra (Gn 12.1) e a proibição de descer ao Egito (Gn26.2).

Quão perigosas são as idéias fixas! Quando o Senhor diz que o

 patriarca "guardou o mandamento", poderia ele referir-se àquele que

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assinalaria a aliança entre ambos, o patriarca e Deus. E possível que o povode Deus tenha escolhido, desde o princípio, livre e voluntariamente,descansar no sétimo dia, e nunca em virtude do capítulo 20 de Êxodo. Já no

 país dos faraós, o dia em causa era observado entre os Hebreus:

Sete dias comereis pães asmos. No primeiro dia tirareis o fermentodas vossas casas, pois qualquer que comer pão levedado, desde o primeirodia até o sétimo, será eliminado de Israel. No primeiro dia haverá santaassembléia, e também no sétimo dia tereis santa assembléia. Nenhumaobra se fará neles, senão o que cada pessoa houver de comer; somente isso

 podereis fazer. Guardai, pois, a festa dos pães asmos, porque nesse mesmodia tirei vossos exércitos da terra do Egito. Pelo que guardareis este dia nasvossas gerações por estatuto perpétuo. No primeiro mês, aos quatorze diasdo mês, à tarde, comereis pães asmos ale vinte e um do mês à tarde. Por sete dias não se ache nenhum fermento nas vossas casas. E qualquer quecomer pão levedado será eliminado da congregação de Israel, tanto o

 peregrino como o natural da terra (Êx 12.15-19, EC).

Falando de sinais, o sinal entre Deus e o patriarca Abraão foi acircuncisão, e não o sábado. "Circuncidareis a carne do vosso prepúcio; eisto será por sinal do concerto entre mim e vós" (Gn 17.1 1, grifo meu). Oque assinalou a aliança entre o Senhor e Noé foi o arco-íris, e não o dia dedescanso:

E disse Deus: Este é o sinal da aliança que ponho entre mim e vós eentre todos os seres viventes que estão convosco, por gerações perpétuas:O meu arco tenho posto nas nuvens, e ele será por sinal de haver umaaliança entre mim e a terra. Sempre que eu trouxer nuvens sobre a terra, eaparecer o arco nas nuvens, eu me lembrarei da minha aliança, que estáentre mim e vós e todos os seres viventes de toda a carne. As águas não setornarão mais em dilúvio, para destruir tudo o que tem vida. O arco estaránas nuvens, e eu o verei, para me lembrar da aliança eterna entre Deus e

todos os seres viventes de todas as espécies, que estão sobre a terra. DisseDeus a Noé: Este é o sinal da aliança que tenho estabelecido entre mim etudo o que tem vida que está sobre a terra (Gn 9.12- 17, EC).

Porém, a observância do sábado foi, é e continuará a ser um sinalentre o Senhor Deus e Israel, como provam estes textos do AntigoTestamento:

Dize aos filhos de Israel: Certamente guardareis os meus sábados.Isso é um sinal entre mim e vós nas vossas gerações, para que saibais que

eu sou o Senhor, que vos santifica... Os filhos de Israel guardarão osábado, celebrando-o nas suas gerações por aliança perpétua. Entre mim e

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os filhos de Israel será ele um sinal para sempre, pois em seis dias fez oSenhor o céu e a terra, e ao sétimo dia descansou e tomou alento (Êx31.13,16,17, EC)

Também lhes dei os meus sábados, para que servissem de sinal

entre mim e eles; para que soubessem que eu sou o Senhor que ossantifica... Santificai os meus sábados, e servirão de sinal entre mim e vós,

 para que saibais que eu sou o Senhor vosso Deus (Ez 20.12,20, EC, grifosmeus).

 No entanto, o nosso atual domingo, o primeiro dia da semana, quecorresponde ao oitavo dia entre os israelitas, era também dia de grandesolenidade no seio dos filhos de Abraão:

 No primeiro dia haverá santa convocação; nenhum trabalho servilfareis. Durante sete dias oferecereis ofertas queimadas ao Senhor, e no diaoitavo tereis santa convocação, e apresentareis ofertas queimadas aoSenhor. É dia solene; nenhum trabalho servil fareis... Porém aos quinzedias do sétimo mês, quando tiverdes recolhido os produtos da terra,celebrareis a festa do Senhor durante sete dias; o primeiro dia é dia dedescanso, e também o oitavo dia é dia de descanso (Lv 23.35,36,39, EC).

 No oitavo dia tereis reunião solene; nenhum trabalho servil fareis.

Apresentareis uma oferta queimada de cheiro suave ao Senhor: um novilho,um carneiro, sete cordeiros de um ano, sem defeito, com a sua oferta decereais, e as suas libações para o novilho, para o carneiro e para oscordeiros, conforme o seu numero, segundo o estatuto; e um bode comooferta pelo pecado, além do holocausto contínuo, da sua oferta de cereais eda sua libação. Estas coisas oferecereis ao Senhor nas vossas solenidades,além dos vossos votos, das vossas ofertas voluntárias, com os vossosholocaustos, com as vossas ofertas de cereais, com as vossas libações, e

com os vossos sacrifícios de ofertas pacíficas (Nm 29.35-39, EC).

O sábado cristão

As comunidades cristãs dos primeiros séculos do Cristianismotinham suas reuniões no domingo, embora não tivessem recebido nenhumaordenança nesse sentido, nem da parte do Senhor Jesus nem da dosapóstolos. Do mesmo modo como os hebreus e seus patriarcas começaram

a seguir o exemplo de Deus, descansando no sétimo dia, assim fizeram os

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cristãos em relação ao primeiro dia da semana em virtude de nesse dia ter sido consumada a obra de redenção mediante a ressurreição de Cristo.

Entretanto, a observância do domingo como dia de descanso (a

 palavra "domingo" vem do latim dies dominicu, e significa "dia doSenhor") nunca foi imposta aos crentes como um mandamento de Cristo oude seus apóstolos. Nossos irmãos que viveram nos primeiros séculosentendiam que todos os dias deveriam ser dedicados ao Senhor, seguindo oensino do apóstolo Paulo aos romanos de que "um faz diferença entre dia edia, mas outro julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramenteseguro em seu próprio ânimo. Aquele que faz caso do dia, para o Senhor ofaz" (Rm 14.5,6).

Vejamos estas outras passagens:A lei e os profetas duraram até João. Desde então é anunciado o

reino de Deus, e todo homem emprega força para entrar nele (Lc 16.16,EC).

Pois a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdadevieram por meio de Jesus Cristo (Jo 1.17, EC).

Havendo riscado o escrito de dívida que havia contra nós nas suasordenanças, o qual nos era contrário, tirou-o do meio de nós, cravando-ona cruz. E, tendo despojado os principados e as potestades, os expôs

 publicamente ao desprezo, e deles triunfou na cruz. Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber ou por causa dos dias de festa, ou de luanova, ou de sábados. Estas são sombras das coisas futuras; a realidade,

 porém, encontra-se em Cristo (Cl 2.14-17, EC).

Estudando atentamente o Novo Testamento, concluímos que osapóstolos frequentavam o templo e as sinagogas mais na qualidade de

 judeus que de cristãos. Como cristãos, reuniam-se noutros locais, e sempreno primeiro dia da semana. No templo e nas sinagogas eles seapro¬veitavam da própria liberdade que possuíam para dar testemunho dasua fé na pessoa do Senhor Jesus. Lemos no livro de Atos dos Apóstolosque Paulo e os que estavam com ele, ao chegarem em Antioquia da Pisídia,entraram "na sinagoga, num dia de sábado", e assentaram- se (13.14). Maisadiante, os mesmos irmãos "chegaram a Tessalônica, onde havia umasinagoga dos judeus. Paulo, como tinha por costume, foi ter com eles e, por 

três sábados, disputou com eles sobre as Escrituras" (17.1,2).

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O próprio Paulo dá uma das razões por que ele, em suas viagensmissionárias, "tinha por costume" visitar as sinagogas aos sábados: "Fiz-mecomo judeu para os judeus, para ganhar os judeus; para os que estãodebaixo da lei, como se estivera debaixo da lei, para ganhar os que estão

debaixo da lei. Para os que estão sem lei, como se estivera sem lei (nãoestando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo), para ganhar os que estão sem lei" (1 Co 9.20,21).

Os que defendem a guarda do sétimo dia como essencial à salvação,alegam que os cristãos primitivos guardavam o sábado conforme omandamento do decálogo, e que só passaram a guardar o domingo emdecorrência de um decreto imperial. Esse argumento não encontra respaldo

nem na Bíblia, como já vimos, nem na História. O que a História registra éque Constantino Magno, que viveu no quarto século, promulgou umdecreto favorável aos cristãos em 313 d.C. No entanto, há documentosmuito anteriores àquela data que provam as afirmações do NovoTestamento de que os cristãos, sempre e em toda a parte, tinham suasreuniões no domingo, e não no sábado. Basta ler a  Didache, cap. XIV: 1, ea Carta de Santo Inácio de Antioquia aos Magnésios, Cap. IX 19.21. Sãodocumentos bem anteriores a Constantino e à supremacia dos bispos de

Roma.Resumindo nossa resposta à pergunta que serve de título a este

capítulo, afirmamos que a vida santificada pelo Espírito Santo, vivida emtodos os dias da semana, é de valor incomparavelmente maior do que aguarda litúrgica de dias, meses e anos "santos".

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Capítulo 8

Diálogo com um sabatista A lei é regra de morte, enquanto Cristo é regra de vida.

Se eu quiser saber como devo viver, não vou ter com a lei, mas comCristo. A lei nada aperfeiçoa, pois o modelo de perfeição é Cristo.

 —  O senhor diz que é adventista do sétimo dia?

 —  Sim, sou.

 —  Ah! Tenho lido alguns opúsculos e livros da sua religião.

 —  Tem? E qual a sua impressão?

 —  Admirei-me de que seus autores sejam estranhos à graça deDeus. Queira desculpar-me, mas o senhor tem certeza do perdão dos seus

 pecados?

 —  Tenho. Eu guardo a lei moral.

 —  Parece que o senhor está procurando sinceramente a verdade, e por isso agarrou-se avidamente ao adventismo. O senhor acha que fez aescolha certa?

 —  Posso responder com outra pergunta?

 —  E claro!

 —  E sobre o sétimo dia. O senhor acha que há qualquer evidêncianas Sagradas Escrituras de que o sábado tenha sido mudado para o primeirodia da semana?

 —  Claro que não. Mas o sábado e o primeiro dia da semana sãoconsiderados dias diferentes nas Escrituras.

 —  Muito bem! Pode dizer-me, então, por que o senhor muda o

descanso e guarda o sábado no primeiro dia da semana, em vez de guardá-lo no sétimo?

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 —  Eu não mudo o dia, pois não guardo o sábado!

 —  Nem mesmo o domingo?

 —  Não senhor.

 —  O senhor então abre o seu escritório aos domingos e ocupa-sede seus negócios?

 —  De jeito nenhum, pois a Bíblia diz em Romanos 14.16 que onosso bem não deve ser blasfemado. Agradeço o domingo a Deus por ser um dia em que deixo de lado o trabalho terreno. Não sou da opinião que sedeva trabalhar aos domingos, porque Jesus disse que tudo o que queremosque os outros nos façam, devemos fazer também a eles. Contudo, não

guardo o domingo como se fosse o sábado, porque, como ambosadmitimos, não o é. E o dia do Senhor.

 —  Mas no princípio do mundo o Senhor abençoou o sétimo dia, eo santificou! Não deveríamos nós guardá-lo como dia de descanso, vistoque Deus nele descansou da obra da criação? — perguntou o sabatista.

 —  Se guardássemos o sábado por essa razão estaríamosignorando que o pecado entrou no mundo e interrompeu o descanso deDeus. O Todo-poderoso trabalha agora, tem estado trabalhando desde aqueda de Adão e há de continuar até que venha "o descanso de Deus", queestá baseado na redenção, e não na criação, conforme a Bíblia afirma emJoão 5.17. Lemos na carta aos Hebreus que ainda resta um repouso para o

 povo de Deus. Até que aquele repouso se cumpra no Milênio, não poderáhaver uma verdadeira guarda do dia do sábado na Terra, nem para Deus,nem para o homem.

 —  Como explica então o capítulo 56 de Isaías e muitos outros pontos do Antigo Testamento, os quais declaram que os gentios hão deguardar o sábado do Senhor Deus?

 —  Examinando esses textos, descobrimos que eles não se referemao nosso tempo presente, mas ao porvir, quando o Messias estiver reinandoaqui na Terra.

 —  Então não devemos guardar a santa lei de Deus concernente ao

sábado? — replicou o adventista.

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 —  O senhor cumpre essa lei?

 —  Penso que sim.

 —  Tem certeza? A lei diz em Êxodo 31.14 e Deuteronômio 5.14

que não devemos fazer obra alguma no dia sétimo. Lê-se no capítulo 15 de Números que um homem foi apedrejado porque apanhou lenha no dia desábado. O senhor acende fogo no sábado ou viaja nele mais do que "adistância do caminho de um sábado?

 —  E sabido que há obras de necessidade  —  respondeu oadventista.

 —  Meu amigo, a lei não se curva perante obras de necessidade!

 Não podemos modificar a lei de Deus a fim de satisfazer as nossasnecessidades modernas. Se o senhor se coloca sob a lei, tem de guardá-laou morrer.

 —  Suponho que o senhor pretende sustentar que a lei de Deus, noque diz respeito ao sábado, foi posta de lado.

 —  Nunca!

 —  Mas o Senhor procura pô-lo de lado — ponderou o legalista.

 —  Não. Sou eu quem me ponho de lado; ou antes, Deus é que me pôs. A lei não morreu; mas eu morri! A lei ainda vigora, e se qualquer  pessoa quiser guardá-la, tem de pôr-se debaixo de seu jugo. Mas, sequebrar apenas um de seus elos, quebra a cadeia toda. E a lei o condena e oamaldiçoa, como lemos em Tiago 2.10.

 —  O que o senhor quer dizer quando afirma que está morto?

 —  Quero dizer que, no sentido judicial, eu estou morto perante asanta lei de Deus, porque essa lei exigiu a pena de morte para aquele quetomou o meu lugar e morreu por mim. Leiamos duas passagens. A primeiraé a de Gálatas 3.10: "Todos aqueles que são das obras da lei estão debaixoda maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer emtodas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las". A segundaé Romanos 7.4: "Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei

 pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressurgiu dentreos mortos, a fim de darmos fruto para Deus". Estou morto, mas a minha

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vida, com todos os princípios e motivos que a governam, encontra-se longedo domínio da lei, porque Cristo me livrou dela. Daniel, o profeta,desobedeceu a uma lei humana, e ela o condenou à morte, lançando-o nacova dos leões. Deus, contudo, tirou-o de lá. E, apesar de Daniel ter vivido

mais alguns anos, essa lei que transgredira não o podia tocar, porque, àvista daquela lei, Daniel era um homem morto: ela não tinha mais poder sobre ele. Paulo diz, em Gálatas 2.19: "Porque eu pela lei estou morto paraa lei, para viver para Deus". Eu posso afirmar a mesma coisa.

 —  Mas não estaria o apóstolo falando aí da lei cerimonial, e nãoda lei moral?

 —  Esses termos são humanos e desconhecidos das Escrituras

Sagradas! Se o senhor se colocar debaixo da mais pequena obrigação decumprir a lei, seja cerimônia ou preceito, se torna responsável pelaobediência de toda a lei em tudo o que ela ordena. A circuncisão, em simesma, era coisa pequena, mas Paulo declarou: "Protesto a todo homemque se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei" (G1 5.3). Alei é um sistema composto de mandamentos e ordenanças que tem a ver com o homem na carne, revelando-lhe o que ele é: pecador, culpado,maldito e sem forças. É para isso que serve a lei.

 —  O senhor diz que a lei não é uma base de vida para o pecador,mas não pode negar que ela seja uma regra de vida para o cristão  —  retrucou o adventista.

 —  Não acredito nisso. O que a Bíblia diz é que a lei é uma regrade morte. Cristo é regra de vida. Ele é a vida, e disse que veio para que osque nele crêem tenham vida em abundância. Assim, se eu quiser saber como devo viver, não vou ter com a lei, mas com Cristo, pois a Bíblia diz

que em Cristo está a verdade, e nEle é que somos ensinados. E, ainda queeu me coloque no terreno da nova aliança, acho que não é a lei que Deus

 põe no meu coração e escreve nos meus pensamentos, mas Cristo, porqueafirma a Palavra de Deus em 2 Coríntios 3.3 que nós somos a carta deCristo, escrita com o Espírito do Deus vivo. Quando o cristão deseja viver em conformidade com a sua vocação e caráter celestial, percebe que a leinão o leva à perfeição, pois o modelo de perfeição é somente Cristo. Cristoera o alvo final de Paulo e é o alvo final de cada crente.

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 —  O apóstolo Paulo diz, todavia, que a justiça da lei deve ser cumprida por nós — objetou o sabatista.

 —  Não por nós, mas em nós. As exigências justas da lei são

cumpridas, completadas em nós porque as Escrituras dizem claramente quese a justiça viesse pela lei, então Cristo morreu em vão. Em Romanos 10.4,lemos: "O fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê"; e, emGálatas 3.21: "Pois se fosse dada uma lei que pudesse vivificar, a justiça,na verdade, teria sido pela lei".

 —  Então como é possível alguém cumprir a justiça da lei, se a leinão é a nossa regra de vida?

 —  Simplesmente porque todas as exigências justas da lei seencontram ou formam parte da doutrina cristã e são ensinadas pelasEpístolas quando se torna mister o ensino corretivo. Assim, se desejoaprender a respeito da circuncisão, do amor para com Deus e o próximo, daidolatria, da cobiça etc., não preciso consultar a lei, mas o NovoTestamento.

 —  Mas falta o sábado!

 —  Ele também se completa moralmente em Cristo, de quem erauma sombra. Por que havemos de nos ocupar com a sombra quando

 possuímos a substância? Por que temos de descansar num dia quando podemos descansar em Cristo?

 —  O senhor então sustenta que o crente não está de maneiraalguma debaixo da lei? — pondera o adventista.

 —  Exatamente. A lei não salva nem ensina: a graça faz ambas as

coisas. O novo marido não põe a mulher outra vez sob a lei do antigo, paraaprender como deve portar-se; ele mesmo a ensina. Ismael, o filho daescrava, que representa a lei, não pode habitar com Isaque, filho da mulher livre (que representa a graça). Lei e graça não podem estar juntas, nemcomo fundamento da nossa justificação perante Deus, nem como

 justificação perante os homens.

 —  Cristo não guardou, acaso, o sábado?

 —  Como poderia ser verdadeiro judeu se não o fizesse? Nasceudebaixo da lei e cumpriu-a. Assim pôde apresentar-se na cruz como vítima

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 perfeita sobre quem a lei não possuía nenhum direito, pois nunca atransgredira. Depois de suportar a maldição da lei, Ele morreu para ela, eagora o seu povo está associado, pelo Espírito, com Ele: está morto para alei. O sabatista nega o verdadeiro espírito do Cristianismo, porque trata a

mim, cristão, como se o meu estado espiritual perante Deus fosse o de umfilho caído de Adão. Mas tenho uma nova posição, porque estou em Cristo;e, ainda, tenho uma nova condição, porque Cristo está em mim.

 —  Custa-me entender o que o senhor diz.

 —  Não me surpreende que tudo isso seja difícil demais para osenhor entender, mas talvez meu empenho em mostrar-lhe a verdade possadar-lhe um vislumbre das bênçãos que está perdendo ao colocar-se sob o

 jugo da escravidão da lei. Sinto, há muito tempo, que a única maneira delivrar uma alma sincera dos erros do legalismo não é citar textos isolados,mas mostrar que o Cristianismo não é um judaísmo remendado oumelhorado. O Cristianismo é uma nova ordem de coisas que tem no seucentro o Cristo celestial. Quando se compreende que a morte de JesusCristo foi o fim moral do homem na carne, então sábados, decretos legais,sacerdócio ordenado humanamente, vestimentas clericais e outrasordenanças tiradas do judaísmo, tudo é abandonado aos pés da cruz. O

crente aprende que, sendo ressuscitado com Cristo, sua vida,comportamento e tudo o que lhe diz respeito aqui no mundo não é regido

 pela lei, mas pelo amor, porque estão ligados a uma esfera celestial onde jamais se ouve o ribombar dos trovões do Sinai e onde "Cristo é tudo emtodos".

Vemos, então, que:

1. Conforme a Bíblia Sagrada, o dia sétimo, e somente esse dia, é

sábado.

2. A cristandade não guarda o sábado no dia certo, nem de um modocerto.

3. Qualquer que fossem as instruções recebidas pelo judeu a fim deguardar o dia sétimo, o cristão não recebeu absolutamente nenhuma! Pelocontrário, é advertido a não guardar dias judaicos, incorporando-os aoCristianismo. E verdade que observa, assim como as Escrituras também

reconhecem, o primeiro dia da semana, domingo, como o dia da

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ressurreição do Senhor, mas não pode, inteligentemente, guardá-lo com ocerimonial com que os judeus guardavam o sábado.

4. O crente, tendo morrido com Cristo, está "morto para a lei"; tendo

"ressuscitado com Cristo e, estando em Cristo", pertence a "uma novacriação" de Cristo, pois somente Cristo é a regra perfeita de vida esantidade. (Adaptado.)

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Capitulo 9

Privados da verdadeTodas as seitas, ao aceitarem falsos princípios, afastam- se da

 pureza e simplicidade do Evangelho e passam a valorizar mais seus

compêndios de doutrina que a própria Palavra de Deus.

Os "testemunhas de Jeová"' mudaram a sua doutrina dezenas devezes, e o mesmo ocorreu com outras seitas heréticas e falsas religiões,

inclusive com o catolicismo romano, que já adicionou centenas deinovações ao seu culto. Nesses agrupamentos religiosos cumpre-se adeclaração bíblica de que um abismo chama outro abismo (Sl 42.7), ouseja: um erro exige sempre outro erro.

Mais recentemente, alguns cristãos legalistas concluíram, mediante"exaustivas pesquisas", que a Bíblia está errada quanto às datas da morte eressurreição de Jesus! Num de seus livretos, não temeram registrar o que se

segue: "Ora, a morte e o derramar do sangue do Cordeiro de Deus tevelugar numa quarta-feira e sua ressurreição no sábado à tarde; logo nadamais justifica a guarda do primeiro dia".

Lembramos ao leitor, por certo surpreso ante essa inovação, que osguardadores do sábado são pródigos em sensacionais descobertas quesempre redundam no mais completo fracasso. Foram eles que previram oretorno de Cristo para 1843, depois para 1844, 1852, 1854, 1863, 1867,1868, 1877 etc. E Cristo não veio em nenhuma dessas datas! Acerca da sua

vinda, disse Jesus: "Mas, daquele Dia e hora, ninguém sabe, nem os anjosque estão no céu, nem o Filho, senão o Pai. Não vos pertence saber ostempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder" (Mc13.32; At 1.7).

Criação e redenção

Que diz a Escritura acerca do dia em que Cristo morreu? "Era o Dia

da Preparação, isto é, a véspera do sábado..." (Mc 15.42). Vejamos estemesmo texto em outras versões: "Sendo já tarde, era a Preparação, isto é, a

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véspera do sábado" (Monges Beneditinos de Meredsous); "Já ao cair datarde, porque era a Preparação, isto é, o dia antes do sábado" (PontifícioInstituto Bíblico de Roma); "Chegada a tarde, porque era preparação daPáscoa, isto é, a véspera do sábado" (Frei Mateus Hoepers); "Quando

chegou a tarde, porque era o dia de Preparação, que é o dia antes doSábado" (J. B. Phillips); "Quando chegou a noite, porque era a preparação,isto é, a véspera do dia de repouso" (Reina-Valera). Deixamos de citar outras versões (Nova Versão Internacional, A Bíblia de Jerusalém, etc.) emrazão da absoluta semelhança de seus textos aos acima referidos.

A fim de que não paire a menor dúvida, "véspera" é "o dia queantecede imediatamente aquele de que se trata" (Aurélio).

A mesma passagem aparece da seguinte forma em Lucas e João: "Eera o dia da Preparação, e amanhecia o sábado" (Lc 23.54). Os judeus, pois,

 para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, visto como era a preparação (pois era grande o dia de sábado), rogaram a Pilatos que se lhequebrassem as pernas, e fossem tiradas" (Jo 19.31).

Esses textos, aceitos pelos principais críticos bíblicos, afirmam queJesus morreu na véspera de sábado, ou seja, sexta-feira, e, incluindo-a,

temos o dia da ressurreição de Jesus no primeiro da semana. Escreve Paulo:"Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristomorreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, eque ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Co 15.3,4).

Discrepâncias?

Acerca das aparentes dificuldades apontadas por alguns eruditos nacomparação entre os evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) e o de

João (Lc 22.7; Jo 18.28), W. Arndt diz:

Argumenta-se, com base em boa evidência, que entre os judeus devez em quando havia divergência de opinião sobre o dia que começava onovo mês. Privados dos nossos modernos aparelhos e cálculos para fixar otempo exato do aparecimento da lua nova, os judeus antigos tinham quefiar-se em suas observações oculares.

Esse método, por vezes, devido às condições atmosféricasdesfavoráveis, era imperfeito. Acontecia, nessas ocasiões, afirmarem

algumas pessoas que a lua nova, que marca o início de outro mês,aparecera, ao passo que, concomitantemenle, outros negavam o fato.

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Resultado: se o mês era nisã, havia divergência sobre qual dos dias era odécimo- quarto do mês.

Supõe-se que isso tenha acontecido precisamente no ano em quemorreu o Senhor. Pensa-se que o povo considerava a quinta-feira do que

hoje chamamos de Semana Santa como o décimo-quarto dia do mês denisã, enquanto os principais dos sacerdotes fixavam a sexta-feira comosendo este dia. Segundo esta teoria, os escritores sinóticos refletem o datar dos fariseus e da maioria dos judeus, e João, o dos principais dossacerdotes (saduceus). Não se encontrou evidência de que haja ocorridoisso no ano da crucificarão de Jesus, mas é possível provar que haviadesencontro entre os fariseus e os saduceus quanto aos dias das datas decertas festas, e isso pode ter ocorrido no presente caso.

As conclusões acima, resultado das mais recentes pesquisas eruditas,mostram que Jesus celebrou a Páscoa na quinta-feira, e foi crucificado nasexta-feira. Como o dia judaico iniciava-se com o pôr-do-sol, Jesus teriacelebrado a Páscoa já no dia 14 de nisã, e morrido no mesmo dia, nocomeço do crepúsculo vespertino, ou seja, período que vai das três às cincohoras da tarde, quando o cordeiro pascal era imolado. O fato de ossacerdotes não haverem ainda comido a Páscoa significa que eles o fizeramapós o pôr-do-sol da sexta-feira, portanto no décimo- quinto dia do mês denisã. Saliente-se ainda que as contaminações temidas pelos sacerdotes nãoos impede de celebrar a Páscoa após o pôr-do-sol, pois só tornavam a

 pessoa impura para o dia em que ocorriam.

Dia do Senhor

Em defesa de alguns de seus pontos de vista antibíblicos, como adivisão da lei em "moral" e "cerimonial" e a guarda do sábado, osdiscípulos de Guilherme Miller e Ellen White desprezam o texto e torcem o

sentido das Escrituras. Particularmente no que diz respeito ao domingo,convinha-lhes diminuir a inquestionável importância cristã desse dia,custasse mesmo o sacrifício de uma interpretação consagrada em vinteséculos e jamais contestada pelos mais expressivos intérpretes da Palavrade Deus em todos os tempos.

 Não há dúvida de que o primeiro dia da semana, pelos eventosmaravilhosos nele sucedidos, tornou-se dia de grande alegria para a Igrejae, portanto, digno de ser comemorado. Nesse dia Jesus ressurgiu dentre osmortos, dando aos discípulos uma viva esperança; nele Jesus abençoou os

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seus discípulos, deu-lhes o Espírito Santo, ordenou-lhes que pregassem oEvangelho, deu-lhes autoridade; nele Jesus explicou a Escritura aos seusdiscípulos; nele eles pregaram pela primeira vez o evangelho do Cristoressurreto (1 Pe 1.3; Jo 20.19-23; Lc 24.27, 34, 45) e nele muitos santos

foram ressuscitados; no domingo, o Espírito Santo desceu no Pentecoste, enesse mesmo dia milhares de almas se converteram ao Senhor (Mt27.52,53; At 2.1,2,41).

Ainda com o fim de justificar a observância do sábado mosaico,alegam os modernos legalistas a sua relação com os dias criativos deGênesis, esquecidos de que a obra de Cristo, livrando-nos da condenaçãoeterna, é maior do que a própria criação.

Os eloquentes testemunhos da Escritura e da História atestam que o primeiro dia da semana era o preferido pelos cristãos primitivos para odescanso semanal e o culto divino. Desde muito cedo esse dia ficouconhecido como o "dia do Senhor" (Ap 1.10). Os principais doutores daIgreja, que viveram logo após a era apostólica, foram unânimes emregistrar esse fato em seus escritos, estando entre eles Inácio (100 d.C.),Barnabé (120 d.C.), Justino, o Mártir (140 d.C.), Bardesanes de Edessa(180 d.C.) etc.

A negação da Bíblia

Quando os frutos de puras especulações são colocados acima dosensinamentos claros das Escrituras, estas já não são consideradas infalíveis.Lamentavelmente, muitas seitas, ao aceitarem falsos princípios, afastam-secada vez mais do contexto bíblico. Seus compêndios de doutrina passam afalar mais alto que o próprio Deus. A Bíblia, então, por não apoiar os erros

de seus adversários, é por eles posta em dúvida. Toda passagem que nãolhes convém sofre a mais arbitrária interpretação, ou é prescindida sob aalegação de "erro dos tradutores". Geralmente, como resultado de tantasmutilações e violências praticadas contra o texto sagrado, a Bíblia chega aser menosprezada e transformada mesmo em objeto de versões espúrias,em que as distorções se ajustem aos manuais doutrinários dos inimigos dasã doutrina. É o que se pode chamar de medo da verdade ou paixão do erro.

A Bíblia refere-se aos tais como "homens corruptos de entendimento,

e privados da verdade", "que aprendem sempre, mas nunca podem chegar 

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ao conhecimento da verdade. E, como Janes e Jambres resistiram a Moisés,assim também estes resistem à verdade, sendo homens corruptos deentendimento e réprobos quanto à fé. Não irão, porém, avante; porque atodos será manifesta a sua insensatez, como também aconteceu com a

daqueles (1 Tm 6.5; 2 Tm 3.7,9; 4.3,9).

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Capítulo 10

Liberdade cristã ouservidão legalista?

 Estamos hoje na Nova Aliança prometida pelo próprio Deus e

 selada por Jesus com o seu precioso sangue; portanto, nenhum

crente fiel pode trocar sua liberdade espiritual pela maldição e servidão da lei.

Iniciado em 1831 pelo fazendeiro norte-americano Guilherme Miller,e mais tarde baseado também, não na Bíblia, mas em falsas interpretaçõesdela e em visões e profecias da Srª. White, o sabatismo é hoje uma das maisatuantes seitas no mundo inteiro, especialmente no Brasil.

Por sua própria natureza legalista, o sabatismo opõe- se à doutrina da

graça tão claramente explícita em toda a Bíblia, especialmente no NovoTestamento. Seus adeptos, muitas vezes inconscientemente, torcem asEscrituras e citam versículos isolados fora do contexto, a fim de sustentar suas estranhas doutrinas.

Para mim, que fui adventista até à adolescência, não é fácil fazer taisafirmações. Afinal de contas, foram os missionários adventistas quetranspuseram a serra da Mantiqueira e se embrenharam pelos sertões deMinas Gerais, naquela recuada década de 1930, levando o conhecimento da

 preciosa Palavra de Deus às pequenas cidades e vilas. Com todas as suaslimitações doutrinárias, o Evangelho penetrou primeiramente no coração demeu tio Bilí, o mais letrado da família, o qual evangelizou todos os meusfamiliares, levando a maioria deles a Cristo.

Recordo-me de algumas de minhas tias e de minha avó materna, que passaram para a eternidade como adventistas, porém confiando plenamentena imensa graça de Deus. Minha avó Angélica era um modelo de cristã. Ela

leu toda a Bíblia cerca de cinquenta vezes, uma vez a cada ano. Vivendocom suas filhas, inclusive mamãe, a vida dela se resumia em orar, ler a

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Bíblia e cantar louvores a Deus. Ela excedeu em muito ao sabatismo, econheceu a Cristo muito de perto.

O mesmo poderia eu dizer de minhas tias que passaram para o

Senhor na igreja adventista. Elas nunca falavam de leis ou do sábado, masfalavam de Cristo. Tia Olímpia, por exemplo, foi um instrumento de bênçãos nas mãos de Deus, inclusive para a minha vida. Recordo-me deseus lindos sonhos, das impressionantes revelações divinas, e dos milagresde Deus operados na vida dela.

Certa ocasião, tia Olímpia havia sido desenganada pelos médicos elevada para casa para que morresse entre os seus entes queridos. A casaestava cheia de gente, pois ela morreria a qualquer momento. De repente,

quando estava sozinha no quarto e parecia dormir, viu aproximar- se de seuleito o que parecia ser um médico jovem, belo, todo de branco, que a

 preparou para uma cirurgia. Ela então disse de si para si: "Ah! Vou ser operada!" Minutos depois, ao acordar, ela desceu do leito chamando asfilhas. Estava completamente curada! Foi um alvoroço na família.

Como vovó Angélica, também essa minha tia foi muito além dasdoutrinas legalistas dos adventistas, e teve um conhecimento real, íntimo,

de Cristo, de quem ela nunca se cansava de falar. Tornou-seconhecidíssima no lugar onde vivia, na pequena cidade de Bom Jardim deMinas, de parcos recursos. Quando uma criança nas redondezas adoecia, a

 primeira pessoa em quem se pensava era na Dona Olímpia. Bastava queminha tia tomasse nos braços a criança, para que esta sarasseimediatamente.

Ao contar aqui esses testemunhos, pretendo salientar que este livronão é contra ninguém, mas contra somente a erro doutrinário, que muitas

vezes impede a pessoa de desfrutar o genuíno Evangelho de Cristo. O quedisse acima, acerca de minha avó e de minhas tias, não poderia dizer deoutros parentes meus, também adventistas, que se tornaram verdadeirosfariseus.

 Não gostaria de ser visto, neste livro, como quem só sabe apontar odedo acusador. Concordo com Billheimer, quando afirma que, ao

 julgarmos o próximo, nos submetemos a uma lei universal, segundo a qual

"chegamos a conclusões errôneas por causa do mero fato de que, por natureza, julgamos com severidade superacentuada". Continua esse autor:

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"Um dos efeitos de nossa natureza decaída é colocar a pior interpretaçãosobre o que vemos ou ouvimos a respeito dos outros, e minimizar todo o

 bem (senão removê-lo) que estiver escondido neles. Também,inconscientemente, julgamos os outros segundo o que temos de pior em

nossa disposição pessoal, e não pelo que temos de melhor. É natural que julguemos a nós mesmos segundo o que há de melhor em nós, porém julgamos os outros pelo que temos de pior. E muito comum transmitir nossa maldade aos outros, e pensar que nossa bondade é produto

 peculiarmente nosso... Todavia, quanto mais perto estivermos de Deus,quanto mais íntima for nossa comunhão com ele, e quanto maisintensamente bebermos da doçura interior da sua vida, tanto maisobteremos da bondade e compaixão divina, que desfará a nossa tendência

 para o julgamento severo dos outros, e a acuidade com que descobrimos osseus defeitos. Até mesmo quando o julgamento é legítimo e inevitável,

 podemos estabelecer como regra que a severidade é um índice infalível do baixo grau de nossa vida espiritual. A santidade imatura caracteriza-se pelarapidez e agudeza dos julgamentos e pensa que Deus é compassivo demais,e com frequência age como se o trono de Deus estivesse vago, precisandode um ocupante. A santidade madura é sempre lenta, gentil e compassiva,faz concessões aos outros, as quais jamais se sente justificada a fazer a si

mesma. Devemos, portanto, estar alertas: quanto mais severos formos,tanto menor será nosso amor, e em proporção, quanto mais bondosos paracom os outros, tanto mais severos seremos para com nós mesmos. OEvangelho em parte alguma nos diz que os pecadores serão punidos na

 proporção dos seus deméritos, mas diz-nos, claramente, que os retos serãorecompensados com 'boa medida, recalcada, sacudida, transbordante.Portanto, é ao recompensar a bondade que nosso misericordioso Criador 

 parece estar interessado em fazer o máximo".

Não guardam a lei

Os adventistas dividem a lei em "lei cerimonial" e "lei moral", edizem que aquela é a de Moisés, e esta, compreendida pelo decálogo, é a deDeus.

A Bíblia, todavia, não faz nenhuma distinção entre lei moral ecerimonial, e por isso continua vigente a maldição divina que diz: "Todos

aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque

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escrito está: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisasque estão escritas no livro da lei, para fazê-las" (Gl 3.10).

Uma vez que a observância da lei invalida o princípio bíblico da

 justificação pela fé, os sabatistas se colocam sob a servidão demandamentos que não podem produzir o fruto do Espírito, que é:"caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão,temperança. Contra estas coisas não há lei" (G1 5.22).

O apóstolo Paulo, na carta aos Gálatas, está tratando especificamenteda questão da observância, pelos cristãos, da lei mosaica, e quando ele dizque contra o fruto do Espírito não há lei, ele quer dizer qualquer lei, mesmoo decálogo.

Será que os modernos guardadores do decálogo estão permanecendo"em todas as coisas" da lei? De modo nenhum!

 Nas quatrocentas vezes em que a palavra "lei" ocorre na Bíblia, emnenhuma se faz distinção entre "cerimonial" ou "moral". Nem Jesus, nemos apóstolos, nem os profetas, nem os salmistas, nem o próprio Moisés sereferem a tal distinção. Para eles, lei sempre foi todo o Pentateuco, ou seja,os primeiros cinco livros da Bíblia, escritos por Moisés. Veja estas

 passagens:

As mulheres estejam caladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam sujeitas, como também ordena a lei (1 Co14.34, citando Gn 3.16).

Que diremos, pois? E a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu nãoconheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria aconcupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás (Rm 7.7, citando Ex20.17).

Mestre, qual é o grande mandamento da lei? E Jesus disse-lhe:Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, ede todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento (Mt22.36-38, citando Dt 6.5).

E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a timesmo. Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas (Mt22.39-40, citando Lv 19.18).

Ou não tendes lido na lei que, aos sábados, os sacerdotes no temploviolam o sábado e ficam sem culpa? (Mt 12.5, citando Nm 28.9).

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Jesus cumpriu a lei

 Não encontramos nos ensinos de Jesus, quer direta, quer indiretamente, um só mandamento para que a Igreja observasse o decálogo,

como aparece em Êxodo 20. O Novo Testamento, como vimos no quintocapítulo deste livro, cita várias vezes todos os mandamentos de Moisés,menos o da guarda do sábado — menos, justamente, o mais severo de todosos preceitos do Antigo Testamento. Sem dúvida alguma, uma provaevidente de que ele não foi dado à Igreja.

Jesus compareceu a muitas reuniões dos judeus nas sinagogas e notemplo, pois era nascido sob a lei, havia sido apresentado no templo

conforme a lei e circuncidado de acordo com a lei.Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido

de mulher, nascido sob a lei (G1 4.4). E subiu da Galiléia também José, dacidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi chamada Belém (porque erada casa e família de Davi)... E, quando os oito dias foram cumpridos paracircuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora

 posto antes de ser concebido. E, cumprindo-se os dias da purificação,segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem aoSenhor (segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo macho

 primogênito será consagrado ao Senhor) e para darem a oferta segundo odisposto na lei do Senhor: um par de rolas ou dois pombinhos (Lc 2.4,21-24).

Mas apesar de tudo, a atitude do Salvador em relação aosmandamentos mosaicos foi bem diferente da atitude dos fariseus. Estesgostariam muito que Jesus pregasse mais sobre as virtudes da lei, emboraele nada ensinasse abertamente sobre o fim dos sacrifícios, da circuncisão edas festas durante o tempo de seu ministério terreno. Todavia, em todas as

suas obras realizadas no sábado, podemos perceber a glória do NovoTestamento ofuscando o brilho do Antigo. Por exemplo, quando osdiscípulos começaram a colher espigas e a comê-las, Jesus apelou para odireito que o sacerdote tinha de violar o próprio sábado, defendendo assimseus discípulos. E para mostrar a sua autoridade sobre o sábado, nesse diamanda um doente, depois de por ele curado, levantar-se, tomar a sua camae caminhar (Mt 12.1-8).

"O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem, por causado sábado" (Mc 2.27). Aqui, como o "Filho do Homem" e como

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representante do homem, a favor de quem o sábado foi feito, Jesusdefendeu seus discípulos e os justificou contra a acusação de estaremquebrando o sábado. E, como "Senhor do sábado", ele tinha autoridade paradispor dele como bem quisesse. Mas de maneira nenhuma Jesus justificaria

seus discípulos por furtar, matar etc, mesmo que fosse por necessidade.Jesus diferenciou o sábado dos outros mandamentos da lei, exatamente por causa da sua natureza puramente cerimonial. O texto de Marcos ensina queo sábado, ou dia do descanso, deve servir ao homem.

Os gloriosos acontecimentos do primeiro dia da semana fizeram comque esse dia tomasse o lugar do sétimo. Assim como o sábado do AntigoTestamento comemora a completa execução da extraordinária obra da

criação  —  infelizmente corrompida pelo pecado  —  da mesma maneira o"sábado cristão", chamado no Novo Testamento de "o dia do Senhor",comemora a consumação da bendita obra de redenção, ainda maior que ada criação. Com a ressurreição de Jesus, proclamou-se a vitória dos filhosdo primeiro Adão. Contudo, os evangélicos não estão obrigados a guardar odomingo da mesma maneira como os judeus guardavam o sábado, poisnenhuma recomendação nesse sentido existe no Novo Testamento. Masobservamos o mesmo princípio moral do sábado do Antigo Testamento,

 pois o sábado foi feito por causa do homem, para que nesse dia pudessedescansar. Aproveitamos esse dia para anunciar o Evangelho de Cristo, queé poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeue também do grego.

A observância daquilo que já foi consumado por Cristo no Calvário éuma ofensa aberta à graça divina. É contestar a gloriosa obra de redençãoconcluída por Jesus. E considerar ineficaz o sacrifício supremo do Filho deDeus. A interpretação sabatista do Evangelho de Cristo é mais

comprometedora do que possa parecer à primeira vista: ela se chocaviolentamente com a doutrina da salvação pela graça, tão magistralmenteexposta nas páginas da Bíblia. A lei serviu de aio aos judeus, para osconduzir a Cristo. Se já estamos em Cristo, não precisamos mais do aio,assim como não precisamos mais da condução depois que ela nos leva aonosso destino. Guardar a lei em Cristo é o mesmo que continuar no aviãoao findar a viagem. E isto é absurdo. Partir a lei em duas, ensinar queCristo cumpriu uma parte e deixou a outra para nós cumprirmos, é ofender 

a graça de Deus; é entristecer o Espírito Santo; é renunciar aos lugares

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celestiais em Cristo Jesus (cf. Ef 2.6) e meter-se debaixo do jugo daservidão (cf. G1 5.1).

A Palavra de Deus afirma, com meridiana clareza, que a lei foi

totalmente cumprida por Jesus. Nem um jota ou um til ficaram semcumprimento (Mt 5.17). Jesus nasceu sob a lei a fim de cumpri-la em lugar de todos os israelitas, que tinham o dever, mediante a aliança do Sinai, decumpri-la. Jesus, ao tomar o lugar do transgressor e cumprir a lei, cravou-ana cruz, pois ela era transitória:

E farei cessar todo o seu gozo, e as suas festas, e as suas luas novas,e os seus sábados, e todas as suas festividades (Os 2.11).

Porque, se o que era transitório foi para a glória, muito mais é emglória o que permanece. Tendo, pois, tal esperança, usamos de muitaousadia no falar. E não somos como Moisés, que punha um véu sobre asua face, para que os filhos de Israel não olhassem firmemente para o fimdaquilo que era transitório. Mas os seus sentidos foram endurecidos;

 porque até hoje o mesmo véu está por levantar na lição do VelhoTestamento, o qual foi por Cristo abolido (2 Co 3.1 1-14).

Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, aqual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós,

cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo. Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova,ou dos sábados, que são sombra das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo(Cl 2.14-17).

O profeta Oséias, no texto acima citado, claramente profetizou o fimnão apenas do sábado, mas de toda a lei. Nunca devemos nos esquecer, noestudo da Palavra de Deus, que a lei foi dada somente ao povo de Israel, eassim mesmo até que a fé viesse, como afirma o apóstolo Paulo:

Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo da lei eencerrados para aquela fé que se havia de manifestar. De maneira que a leinos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos

 justificados. Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio (G13.23-25).

Portanto, estamos hoje vivendo sob a "lei do espírito de vida em

Cristo Jesus", que nos livra da lei do pecado e da morte, como afirma o

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apóstolo Paulo no oitavo capítulo de Romanos. Esta lei do espírito é a novaaliança prometida pelo próprio Deus através do profeta Jeremias:

Eis que dias vêm, diz o Senhor, em que farei um concerto novocom a casa de Israel e com a casa de Judá. Não conforme o concerto quefiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terrado Egito, porquanto eles invalidaram o meu concerto, apesar de eu oshaver desposa- do, diz o Senhor. Mas este é o concerto que farei com acasa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: porei a minha lei no seuinterior e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus, e eles serão omeu povo. E não ensinará mais alguém a seu próximo, nem alguém, a seuirmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde omenor deles até ao maior, diz o Senhor; porque perdoarei a sua maldade enunca mais me lembrarei dos seus pecados (Jr 31.31-34).

Esta nova aliança foi selada com o precioso sangue de Cristo, quedisse por ocasião da instituição da ceia: "Semelhantemente também, depoisde cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meusangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim" (1 Co11.25).

Se a lei foi dada única e exclusivamente a Israel, até que Jesus aabolisse e estabelecesse a nova aliança, é evidente que '"pela lei, ninguém

será justificado". "Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pelalei; da graça tendes caído" (G1 3.11; 5.4).

Que nenhum crente fiel troque sua preciosa salvação e gloriosaliberdade em Cristo pela maldição e servidão da lei. A Bíblia adverte:

Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimostempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritosenganadores e a doutrinas de demônios, pela hipocrisia de

homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própriaconsciência, proibindo o casamento e ordenando a abstinên¬ciados manjares que Deus criou para os fiéis e para os queconhecem a verdade, a fim de usarem deles com ações degraças (1 Tm 4.1-3).

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Capítulo 11

O evangelhoda graça de Deus

O evangelho da graça de Deus não pode ser confundido com

nenhuma forma de legalismo. A graça divina não podemos adicionar 

nada; ela é suficiente; ela basta.

A palavra "graça" poderia ser definida como "favor divino concedidoa nós, que dele nada merecemos". O Dr. A. W. Tozer disse que "graça é o

 bom prazer de Deus que o inclina a conceder benefício a quem não omerece".15 Stanley Jones definiu esta palavra numa linguagem jornalística,ao afirmar que "graça" é a "taquigrafia do amor redentor de Deus".

De fato, o Evangelho começa com o amor redentor de Deus, que

outra coisa não é senão a manifestação da graça divina em favor de todosos homens. Foi esse evangelho que os pastores belemitas ouviram na noitedo nascimento de Jesus:

E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas degrande alegria, que será para todo o povo, pois, na cidade de Davi, vosnasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal:achareis o menino envolto em panos e deitado numa manjedoura. E, nomesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitoscelestiais, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas alturas, paz na

terra, boa vontade para com os homens! (Lc 2.10-14).

A graça opõe-se a leis

David A. Seamands conta a história verídica de Devadas, um cristãoexemplar que um dia o procurou com um assunto muito sério. Devadasfalou de seus extremos esforços em perseverar na oração, na leitura daBíblia, enfim, em fazer a vontade de Deus, mas parecia ser um fracasso

total. Disse Devadas ao Dr. Seamands:

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 — Para ser realmente honesto com o senhor, nada disso tem ajudadomuito. Na verdade, por mais estranho que pareça, estou piorando. Algumacoisa dentro em mim está constantemente me dizendo que eu teria de ler ainda mais, e que devia orar ainda mais. Não consigo entender, mas parece

que nunca sou capaz de fazer o bastante. Na verdade, parece ser esse o problema.

Fiquei perplexo. Eu acreditava que ele me estava dizendo a verdade.Sabia que não adiantaria perguntar-lhe sobre a comunhão com outroscristãos ou sobre o testemunho — eu conhecia sua "ficha" nessas áreas. Naminha frustração, o Espírito Santo sugeriu com firmeza: 'Por que você nãose cala e ouve o que ele está dizendo? Você está tão ansioso para

impressioná-lo com as suas respostas que não está ouvindo as suas perguntas'. Pela primeira vez, abrindo os ouvidos para ouvir, realmente percebi o significado do que ele estava dizendo. Mais importante ainda,comecei a sentir a sua dor. 'Sinto como se eu tivesse de fazer mais. Eudevia fazer mais, podia fazer mais. E tento, sinceramente, mas parece quenunca faço o bastante'. Mais tarde percebi ter caído numa emboscada dealguma coisa completamente diferente da indisposição espiritual que

 provém de se negligenciar os meios normais da graça e do crescimento.

A experiência do Dr. Seamands mudou completamente a sua visãodo Evangelho de Cristo. Escreveu ele:

Essa experiência inesquecível aconteceu há mais de trinta anos.Desse encontro pessoal, de coração para coração, surgiu um tênue início doque nos anos seguintes viria a se tornar um ministério a muitos cristãosferidos e abatidos. Essas pessoas sensíveis, sinceras, bastante motivadas eextremamente esforçadas, estavam presas na armadilha da roda-viva do

desempenho espiritual, sem modo de escapar. Em certo sentido, estavamencerradas numa prisão que, pelo menos em parte, elas próprias haviamconstruído...

Devadas dissera tudo com sua descrição sucinta: 'Eu devo, eu quero,eu tento, mas nunca parece que sou capaz de fazer o bastante'. Essa é aescravidão da qual não se pode escapar, o círculo vicioso do qual não se saiatravés de um desempenho maior e melhor. Essa é a essência da maldição,o terrível núcleo do qual saem todos os raios que sustentam a roda-viva em

seu lugar.

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Mackintosh, um dos maiores expositores da Bíblia do século XIX,inicia o seu comentário de Êxodo capítulo 20, afirmando que é da maior importância compreender o verdadeiro caráter e objetivo da lei. Escreveele:

Existe uma tendência no homem para confundir os princípios da leicom a graça, de sorte que nem a lei nem a graça podem ser perfeitamentecompreendidas. A lei é despojada de sua austera e inflexível majestade, e agraça é privada de todos os seus atrativos divinos. As santas exigências deDeus ficam sem resposta, e as profundas e múltiplas necessidades do

 pecador permanecem insolúveis pelo sistema anômalo criado por aquelesque tentam confundir a lei com a graça. Com efeito, nunca podem

confundir-se. visto que são tão distintas quanto o podem ser duas coisas. Alei mostra- nos o que o homem deveria ser, enquanto a graça demonstra oque Deus é. Como poderão, pois, ser unidas num mesmo sistema? Como

 poderia o pecador ser salvo por meio de um sistema formado em parte pelalei e em parte pela graça? Impossível: ele tem de ser salvo por uma ou por outra. A lei tem sido, às vezes, chamada a expressão do pensamento deDeus'. Mas esta definição é inteiramente inexata. Se a considerássemoscomo a expressão daquilo que o homem deveria ser, estaríamos mais perto

da verdade. Se eu considerai-os dez mandamentos como a expressão do pensamento de Deus, então, pergunto, não há nada mais no pensamento deDeus senão 'farás' isto, e não farás aquilo? Não há graça, nem misericórdia,nem bondade? Deus não manifestará aquilo que é, nem revelará ossegredos profundos desse amor que enche o seu coração? Não existe nadamais no coração de Deus senão exigências e proibições severas? Se fosseassim, teríamos de dizer que 'Deus é lei', em vez de dizermos que 'Deus éamor'. Porém, bendito seja o seu nome, existe muito mais em seu coração

do que  jamais poderão expressar os „dez mandamentos‟ pronunciados nomonte fumegante.

A graça ensina

O apóstolo Paulo, que ouviu do Senhor as consoladoras palavras: "Aminha graça de basta" (2 Co 12.9), escreveu:

Pois a graça de Deus se manifestou, trazendo salvação a todos oshomens. Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas,

 para que vivamos neste presente sécu¬lo sóbria, justa e piedosamente,

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aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória donosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus, o qual a si mesmo se deu por nós, a fim de remir-nos de toda iniquidade, e purificar para si um povotodo seu, zeloso de boas obras (Tito 2.11-14).

O que acontece quando o povo é ensinado pela graça de Deus, comoafirma o apóstolo Paulo no texto acima?

Como a graça de Deus, operando pelo amor, é muitas vezes maisexigente do que qualquer lei, o cristão nunca fica limitado em seurelacionamento com Deus. Por mais que ele trabalhe e realize a obra deDeus, ele sempre se sentirá em débito para com Deus e para com todas as

 pessoas. A consciência desse "débito", porém, não escraviza, mas liberta,

 pois é um sentimento produzido pelo amor, e nunca do dever.E muito diferente quando observamos uma lei, pois esta fica

cumprida no que respeita à sua conformidade exterior. E perfeitamente possível uma pessoa guardar, aparentemente, os dez mandamentos, semcontudo ser convertida. Mas quando o amor de Deus está derramado emnossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado (Rm 5.5), esse amor 

 jamais se satisfará pela conformidade exterior, mas somente pelaconformidade interior.

Seamands coloca essa questão da seguinte maneira:

Para tornar as coisas ainda mais impossíveis para nós. Deus exigeque a sua lei seja cumprida perfeitamente em nossos corações. A nossaobediência deve ser uma tarefa interior e não mera conformidade externa.Portanto, não é suficiente que evitemos assassinar, adulterar ou roubar,

 pois agora os mandamentos são altamente internalizados. Exige- se de nósque não guardemos rancor, não sejamos lascivos, nem gananciosos. No

 Novo Testamento, aprendemos que devemos amar a Deus de todo o nosso

coração, perdoar de coração as pessoas, e fazer de coração a vontade deDeus (Mt 22.37; 18.35; Ef 6.6). Esta era a questão por trás das batalhasque Jesus travou com os fariseus, os obreiros orientados pelo desempenho,em sua época. Eles guardavam a letra da lei com perfeição, masconstantemente quebravam o seu espírito. Jesus lhes disse: 'Hipócritas,

 bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo honra-me comos seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas em vão meadoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens' (Mt 15.7-9). 

Assim, quando cumprimos uma lei, já não devemos mais nada. Masquando o Espírito Santo produz em nós o seu fruto, que começa com o

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amor e termina com o domínio próprio, nós sempre ficaremos em débito. Oamor se nos apega a cada momento, impelindo-nos cada vez mais para afrente no caminho da oração, da ação de graças, da adoração, da santidade,do poder, do serviço.

A graça de Deus nos ensina a renunciar ao pecado e a viver uma vidade domínio próprio.

A graça de Deus nos ensina, nos instrui, nos disciplina! Eis que alivre graça nos põe na escola! E na mais severa das escolas! Disciplina e

 pensamento mais íntimo, e a ação mais exterior, e tudo quanto temos nasentrelinhas. Aceitando você a graça de Deus, estará aceitando, ipso facto, odomínio próprio, ou melhor  —  o domínio próprio pelo controle divino.Estará, assim, livre para agir dentro dos limites da direção divina. E ocontrole de Deus e liberdade perfeita.

O evangelho começa com a iniciativa redentora de Deus. "Todas asreligiões do mundo", alguém afirmou, "começam com a iniciativa dohomem; é o homem buscando a Deus. No Cristianismo, é Deus quem tomaa iniciativa". Nas outras religiões o homem está tateando à procura deDeus, ao passo que, no Evangelho, Deus está à procura do homem. Jesusilustrou esta verdade quando contou a parábola da ovelha perdida:

Que homem dentre vós, tendo cem ovelhas e perdendo uma delas,não deixa no deserto as noventa e nove e não vai após a perdida até quevenha a achá-la? E, achando-a, a põe sobre seus ombros, cheio de júbilo; e,chegando à sua casa, convoca seus amigos e vizinhos, dizendo-lhes:Alegrai-vos comigo, porque já achei a minha ovelha perdida. Digo-vos queassim haverá alegria no céu por um pecador que se arrepende, mais do que

 por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento (Lc 15.4-7).

O apóstolo João registrou estas palavras de Jesus aos seus discípulos:"Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós" (Jo 15.16). Essemesmo apóstolo também escreveu: "Nós o amamos porque ele nos amou

 primeiro" (1 Jo 4.19).

Assim, pois, nunca devemos confundir o Evangelho com bonsmandamentos ou bons conselhos. O Evangelho é boa nova, e como tal não

 pode ser confundido com judaísmo, nem ecletismo, nem um amontoado deverdades trazidas de diversas fontes, nem qualquer outra colcha de retalhos

de criação humana. O Evangelho não é um ensino acerca de como devemos

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viver; é um oferecimento de vida. Jesus não veio para nos mostrar ocaminho para Deus, e sim para se apresentar como o caminho. "Ele nãoveio para pregar o Evangelho", escreveu Stanley Jones; "veio para ser umevangelho a ser pregado".

 Não é por acaso que foi numa cidade gentílica que os discípulos deJesus foram primeiramente chamados de cristãos. Isso nunca poderiaocorrer em Jerusalém, por causa da tentativa dos judaizantes de transformar a fé cristã num judaísmo melhorado. Aqueles judaizantes se haviamesquecido das palavras de Jesus de que não se pode pôr "remendo de panonovo em veste velha, porque semelhante remendo rompe a veste, e faz-semaior a rotura. Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás, rompem-se

os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinhonovo em odres novos, e assim ambos se conservam" (Mt 9.16-17).

Portanto, o Evangelho é Cristo, e Cristo é a verdade. Todo sistema defé que não tenha unicamente a Cristo no centro, não é cristão. O Evangelhonão pode estar centralizado em leis, mandamentos e confissões de fé. Overdadeiro evangelho é uma Pessoa: o Senhor Jesus Cristo.

A graça liberta

O Evangelho de Cristo não pode ser aprisionado pelo legalismo, nem jamais ser circunscrito ao decálogo. Como pode a vida abundante ser retida pelo "ministério de morte" (2 Co 3.7), ou a graça salvadora ser associadacom o "ministério da condenação" (2 Co 3.9)?

O cristão não está preso a currais, e por isso Jesus nunca falou de suaIgreja em termos de aprisco, mas de rebanho. Somos um rebanho queseguimos o bom Pastor por pastos verdejantes, águas tranquilas, e veredas

de justiça.

Jesus resumiu sua missão nestas palavras, registradas pelo apóstolodo amor:

 Na verdade, na verdade vos digo que aquele que não entra pela porta no curral das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador.Aquele, porém, que entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o

 porteiro abre, e as ovelhas ouvem a sua voz, e chama pelo nome às suas

ovelhas e as traz para fora. E, quando lira para fora as suas ovelhas, vai

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adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz (Jo 10.1-4).

Analisemos este texto bíblico. O aprisco é a nação de Israel, que foicolocada dentro dos muros protetores da aliança mosaica (Mt 21.33). Jesus,como o verdadeiro pastor, entra no aprisco pela porta da submissão à lei(cf. G1 4.4). As ovelhas, ou seja, os que dentro de Israel ouvem a sua voz,ele as chama pelo nome, as tira para fora, vai adiante delas, e elas oseguem.

Assim nasceu a igreja em Jerusalém. Deus cumpriu a profecia deSofonias: "Mas deixarei no meio de ti um povo humilde e pobre; e elesconfiarão no nome do Senhor" (Sf 3.12). Nas pessoas que o próprio Senhor 

Jesus tirou para fora do aprisco da lei mosaica, cumpriram- se as palavrasdele: "E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará... Se, pois, o Filhovos libertar, verdadeiramente, sereis livres (Jo 8.32, 36).

E próprio da natureza humana desejar ardentemente não apenas algoque esteja à mão, mas também algo que desafie, que seja universal. Estanossa característica se manifesta nos feitos dos que escalam montanhas,cruzam oceanos, aperfeiçoam inventos e superam recordes olímpicos. ABíblia afirma que Deus pôs a eternidade em nosso coração (Ec 3.11). Pois overdadeiro Cristianismo nos satisfaz tanto no aqui e agora, como nouniversal e eterno. Vejamos esta passagem:

[Oro] para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda quesejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; paraque Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados efundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos ossantos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade econhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que

sejais cheios de toda a plenitude de Deus (Ef 3.16-19).

E interessante como o metodista Stanley Jones, ao analisar este textode Paulo, afirma que aqui o apóstolo aos gentios está falando de uma fé queé, a um só tempo, perfeitamente arraigada e fundada, e não obstante, móvele apta a compreender ou apreender as quatro dimensão da fé cristã,expressas pelas palavras "largura", "comprimento", "altura" e"profundidade". Diz ele:

Se Cristo habitar em seu coração, você será a pessoa maisavizinhada, ou mais estreita deste mundo, pois será um homem dominado

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 por uma Pessoa, por uma Aliança, por um Amor. Será um indivíduocentralizado numa outra Pessoa. Não obstante, você se verá como queuniversalizado, pois que 'apreenderá' todas as dimensões da vida. Você se'apossará' da verdade na 'largura'  —  dos liberais. Você será mais liberalque os liberais, porque a verdade achará que todos pertencem a você, umavez que você pertence à Verdade — Cristo.

Você se 'apossará' da verdade no 'comprimento'  —  dossucessionistas, desses que se sentem ligados com os séculos cristãos. Vocêse sentirá mais sucessionista do que aqueles que dizem ter a verdadeirasucessão apostólica, porque se sentirá sucessor de Cristo, e assim, oscristãos de todos os séculos, e não só os apóstolos, pertencem a você, pelofato de você pertencer a Cristo.

Você poderá 'apropriar-se' da verdade em sua 'profundidade' — dosfundamentalistas, desses que insistem na encarnação, na morte redentora, ena ressurreição. E você se sentirá mais fundamentalista que osfundamentalistas, porque estará 'arraigado e fundamentado' no Cristoencarnado, redentor e ressurreto, e não em meras doutrinas a seu respeito

 — Ele é o centro fundamental de sua fé.

E você se apossará também da verdade em „Altura‟   —  dosmísticos. E será mais místico que os próprios místicos, porque conhecerá'o amor de Cristo que vai além de toda a compreensão' — o universal.

A graça vivifica

A Bíblia Sagrada ensina com muita clareza que a completa obra deCristo — sua encarnação, seus ensinamentos, seus milagres, sua morte, suaressurreição e sua ascensão ao Céu  —  quebraram todos os grilhões quemantinham a raça humana em cativeiro, especialmente do cativeiroreligioso. É precisamente neste aspecto que é impossível deixar de perceber que o empenho maior do Senhor Jesus foi o de livrar o povo do legalismo

dos fariseus e de outros religiosos, não apenas de seu tempo, mas para todoo porvir.

E interessante ressaltar que Jesus, nos Evangelhos, nunca investiucontra as prostitutas, contra os ladrões, os bêbados e os odiados cobradoresde impostos que constituíam  —  estes últimos  —  uma espécie de crimeorganizado em Israel. Na verdade, o que Jesus fez foi amar essas pessoasdesprezadas, libertá-las, transformá-las, e fazer-se amigo delas. Essa

identificação de Jesus com os pecadores, a quem ele veio buscar e salvar,

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se expressa no fato de ele não ter sido crucificado no templo, ou numacatedral, entre dois candelabros; mas numa cruz, entre dois criminosos.

E claro que Jesus amou os fariseus, os saduceus e outros religiosos,

ao ponto de ter alguns destes entre os seus discípulos, mas percebe-se que oministério integral do Filho de Deus foi praticamente uma cruzadainflexível contra os ensinos dos religiosos fariseus, ensinos que ele chamoude fermento.

Que tipo de sistema doutrinário era esse (dos fariseus) que atraíasobre si as palavras mais fortes e severas de Jesus? O fato é que os fariseusorientavam as pessoas a buscar a aceitação da parte de Deus através deseus méritos pessoais, mencionando diante dEle as boas obras que cada um

tivesse praticado; era a mensagem da busca da benevolência divinamediante o desempenho pessoal. Ora, coincidentemente, esta é amensagem que se encontra no cerne de todas as religiões, e é também oque deixa as pessoas exaustas em seus esforços no sentido de desempenhar seu papel de modo aceitável perante Deus.

Lembro-me de algumas das últimas reuniões sabatistas a que assisti. Numa delas, dizia o dirigente que todo adventista sabe que tem o EspíritoSanto morando nele, em virtude da sua obediência à lei de Deus reveladanos dez mandamentos. Quanta hipocrisia havia naquelas palavras!Lamentavelmente, era difícil perceber na vida daquelas pessoas  —  inclusive na minha própria  —  o verdadeiro fruto da presença do EspíritoSanto. Todos nós nos parecíamos muito mais com os fariseus dos dias deJesus do que com seus verdadeiros discípulos.

 Nos dias do apóstolo Paulo, os judaizantes que tentaram impor a lei judaica sobre os convertidos gentios de Paulo, nas igrejas da Galácia,davam a entender em seus ensinos que a morte de Cristo era praticamente

ineficaz (cf. G1 2.21). Por isso o apóstolo os chama de inimigos da cruz,embora Paulo nada diga contra seus padrões morais.

De modo idêntico, ainda hoje a graça de Deus se torna vã paraaqueles que continuam a viver sob a lei ou sob parte da lei, como os dezmandamentos, assim como também se torna vã para aqueles que pensamque devem permanecer uno pecado, para que a graça seja mais abundante"(Rm 6.1).

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Enquanto nos dias de Paulo a insistência maior dos judaizantes eraquanto à prática da circuncisão, nos nossos dias os judaizantes modernos seocupam muito mais com a guarda do sábado, que chega a ser a base da suamensagem. Todavia, tanto a antiga insistência na circuncisão, como a

moderna insistência na guarda do sábado, representam um afastamento dagraça. A mensagem central do Evangelho é que a graça de Deus é que

 justifica tanto judeus como gentios, de modo igual, mediante a fé emCristo, sem necessidade alguma de qualquer exigência legal.

A uma menina refugiada da Inglaterra destruída pelas bombas,durante a Segunda Guerra Mundial, seus hospedeiros norte-americanosderam um copo cheio de leite, e ela perguntou emocionada: "Até quanto

 posso beber?" No Cristianismo podemos beber o quanto quisermos daabundante graça divina. É tudo sem limites. Jesus disse: "Eu vim para quetenham vida, e a tenham com abundância" (Jo 10.10).

Agora, se a pessoa vive debaixo da lei, ela se submete aos princípiosda lei, e um deles é: "olho por olho e dente por dente". Dentro de qualquer espécie de legalismo  — seja ele mosaico ou não  — a pessoa só recebe davida aquilo que dá à vida. Assim, a vida não passará de um dar e receber,uma barganha bem estrita. Nesse insípido estilo de vida não há surpresas,

não há progresso, e nenhuma saída para as margens do rio da vidaespiritual, pois a graça não opera sob o legalismo. Tudo será assaz justo;tudo será essencialmente dependente, e tudo será muito mais do que frio emorto.

 Nesse tipo de religião-de-mercado, a pessoa negocia com a vida, e avida negocia com a pessoa. Nessas condições, o cristão  —  se é que

 podemos chamar a tal pessoa de cristã  —  fica presa. A mensagem que

 prega, ou em que se diz crer, não é mensagem de boas novas, porque não produz espontaneidade, nem alegria contagiante, nem liberdade, nem vida.Um menino que visitava cm companhia de seus pais as famosas cataratasde Niágara, encheu uma garrafa com aquela impetuosa e espumante água.Dias mais tarde, ao abrir a garrafa e despejar o seu líquido, exclamou: "Estaágua morreu!"

O mesmo ocorre quando uma pessoa se submete ao legalismo. Aágua viva do Evangelho morre.

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Alguém definiu a fé legalista como um sistema que se cansa logo enunca pode levantar vôo. O cristão aterrado ao legalismo suspira por algomais significativo, por assentar-se nos lugares celestiais em Cristo Jesus, elamenta-se por não poder cantar o cântico da liberdade.

Esse tipo de religião se parece muito com a religião do irmão maisvelho: "Nunca me deste um cabrito para alegrar-me com meus amigos" (Lc15.29). "E como lhe teria sido isso possível, se ele estava vivendo na basedo legalismo? Assim, quando desceram as cortinas, o irmão mais velhoficou de fora, vivendo na lei, ao passo que o mais moço estava lá dentro,vivendo pelo Amor".

Se você ficou chocado com o parágrafo anterior, prepare-se para

ficar mais chocado ainda. Estou convencido de que muito do que se prega ese ensina hoje, em diversas igrejas (protestantes, evangélicas, renovadas,carismáticas, pentecostais etc.), não passa de um legalismo rotulado de

 boas novas. Nesse sistema, o conteúdo não condiz com o rótulo. Pode atéhaver muito barulho e manifestações exteriores, mas está faltando oessencial. Um trem vazio faz muito barulho. A experiência religiosa demuitos cristãos não passa do terreno das emoções, e raramente atinge aconsciência. Por isso há tão pouco fruto real.

Anos atrás, numa grande igreja no Brasil, vários pregadores usavama palavra. Alguns compeliam o povo a bradar glórias e aleluias em altasvozes, e tudo parecia muito espiritual. Depois, usou a palavra um irmão emseu estilo natural e calmo de ensinar, e a igreja ouvia em silêncio. Aoconcluir, assentou-se. Antes mesmo que o dirigente se levantasse para dar 

 prosseguimento ao culto, o Espírito Santo começou a sua obra no meio do povo. Toda aquela multidão começou a chorar de gozo e a glorificar a Deus

de um modo espontâneo, crescente, e contagiante. A glória divina enchia otemplo e os corações. Um obreiro experiente, assentado ao meu lado,comentou: "Este é o verdadeiro mover do Espírito Santo".

Meses atrás, na igreja que pastoreio em Hollywood, Flórida, umirmão, recém-convertido, levantou-se e disse que havia cerca de três anosque ele frequentava uma igreja evangélica, da qual se tornara membroatravés do batismo. "Mas foi aqui", disse ele, indicando a nossa igreja,'"que eu realmente conheci a Cristo, que nasci de novo, que fui liberto de

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quase quarenta anos de vício do jogo, e que deixei de fumar. Vocês sãoagora a minha família".

O que mais deve ter impressionado a igreja nesse testemunho talvez

tenha sido o fato de nunca pregarmos contra o fumo, contra o jogo, oucontra o pecado em si. Nossa mensagem está sempre centralizada na pessoade Cristo, como aquele que pode fazer todas as coisas. Procuramos ser omais cristocêntrico possível, e temos visto os resultados do maravilhoso

 poder do evangelho da graça de Deus. Quando, em vez de impor às pessoasregras e condições, nós as levamos diretamente a Cristo, o milagre da novavida acontece.

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Capítulo 12

Respostas bíblicas adiversas questões sabatistas

 Em nenhuma das quatrocentas vezes que a palavra “lei” 

aparece na Bíblia se faz quaisquer distinção entre lei moral e lei

cerimonial. A lei é una, e Cristo a cumpriu plenamente por nós.

Em grande parte, este capítulo foi extraído de uma resposta por mimenviada a alguns sabatistas de Portugal, depois que tentaram contestar umartigo meu, publicado no periódico lusitano "Novas de Alegria", e que faziaum confronto entre a liberdade cristã e a servidão legalista.

1. Argumento legalista: A lei dos dez mandamentos foi falada por Deus (Dt 4.12).

Resposta: Se o decálogo deve ser observado hoje porque foi falado por Deus, igualmente devem ser observados hoje todos os mandamentos"cerimoniais", como: Páscoa, primícias, dia da expiação etc., pois foramigualmente falados por Deus. A única diferença é que, a pedido do próprio

 povo, que não suportava ouvir a voz divina, Deus falou a Moisés ou aArão, e estes ao povo.

2. Argumento legalista: A lei (dos dez mandamentos) foi escrita por 

Deus (Èx 31.18).Resposta: O fato de ter sido escrita por Deus não significa que o

decálogo seja mais importante que a parte restante da lei. O apóstolo Paulo,referindo-se exatamente às tábuas de pedra, afirma que elas representavamo "ministério da morte", gravado com letras em "pedra", e que foi por Cristo abolido (cf. 2 Co 3.1 1-14). A eterna lei de Deus foi escrita por Elenão em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração. E a "lei doespírito de vida, em Cristo Jesus" (Rm 8.2). Muito antes de Deus entregar a

Israel os dez mandamentos, já todos eles estavam em vigor na consciência

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de cada pessoa, pelo fato de consubstanciarem a natureza do próprioCriador no que diz respeito à sua santidade e justiça.

3. Argumento legalista: A lei dos dez mandamentos foi escrita em

 pedra (Êx 31.18; Dt 10.3-4).Resposta: E interessante notar que o antiga aliança, representada

 pelas tábuas de pedra como se vê na linguagem de Jeremias 31, foi"invalidada" por Israel. Daí a promessa de um nova aliança, cujo mediador é Cristo. O autor da Epístola aos Hebreus comenta assim o profetaJeremias: "Dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foitornado velho e se envelhece perto está de acabar" (Hb 8.13). Portanto, astábuas de pedra, em si mesmas, nunca foram tratadas na própria Bíblia

como uma lei, mas como símbolo da lei no seu todo, dessa lei referida por Paulo como o "mistério da morte" gravado com letras em pedras, ou antigaaliança que "foi por Cristo abolida". Vê-se que o apóstolo não faziaqualquer distinção entre lei "moral" e "cerimonial", pois ao afirmar queCristo aboliu a antiga aliança, dá como referência as tábuas de pedra...

4. Argumento legalista: A lei de Deus foi guardada dentro da arca(Dt 10.1,5).

Resposta: As tábuas de pedra foram guardadas na arca dotestemunho não porque fossem mais importantes que todo o restante da lei,mas porque elas eram as tábuas do testemunho. "Depois, porás na arca oTestemunho, que eu te darei" (Ex 25.16). "E deu a Moisés (quando acaboude falar com ele no monte Sinai) as duas tábuas do Testemunho, tábuas de

 pedra, escritas pelo dedo de Deus" (Êx 31.18). "E voltou Moisés, e desceudo monte com as duas tábuas do Testemunho na sua mão; tábuas escritas deambas as bandas; de uma e de outra banda escritas estavam" (Ex 32.15). "E

 porás o altar de ouro para o incenso diante da arca do Testemunho; então, pendurarás a coberta da porta do tabernáculo" (Ex 40.5). Grifei de propósito, nestas passagens, a palavra testemunho.

Por sua vez, a parte restante, denominada de "cerimonial" pelossabatistas, não era menos importante pelo fato de haver sido colocada aolado da arca. "E aconteceu que, acabando Moisés de escrever as palavrasdesta Lei num livro, até de todo as acabar, deu ordem Moisés aos levitas

que levavam a arca do concerto do Senhor, dizendo: Tomai este livro daLei e ponde-o ao lado da arca do concerto do Senhor, vosso Deus, para que

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ali esteja por testemunha contra ti" (Dt 31.24-26). Sua finalidade erasemelhante à do decálogo, pois ali estava "por testemunha contra ti".

5. Argumento legalista: A lei dos dez mandamentos é completa (Dt

5.22).Resposta: Segundo a nova aliança da Bíblia, tem sido feita a

conjetura que as palavras (34.28), conforme originalmente anunciadas eescritas nas tábuas de pedra, consistem-se cada qual de uma sentença... Seassim foi, as formas expandidas representariam o comentário inspirado deMoisés, ao declará-las ele ao povo, nas duas ocasiões (cf. Êx 19.9). Atradução "mandamentos" para o que as Escrituras chamam de "dez

 palavras" impõe uma totalidade por demais severa a elas. Seja como for, os

dez mandamentos foram escritos pelo dedo de Deus nas tábuas, que foramguardadas na arca do testemunho. Deuteronômio 5.22 não se refere aos dezmandamentos como a lei completa, distinta da "lei cerimonial", mas afirmaque, como um testemunho ao povo de Israel, com quem a aliança fora feita,

 bastava às proposições ali gravadas.

Em outras palavras, Deus codificou em dez proposições todos os princípios morais coexistentes com a raça humana, e desses princípios fez

os dez mandamentos para que servissem de lei ao povo com quem agoraentrava em aliança. O professor Antônio Neves de Mesquita comenta:"Como jamais povo algum senão os israelitas entrou em aliança com Deus,

 jamais algum povo esteve diretamente obrigado a viver dentro desta Lei daforma que os israelitas se obrigaram".

6. Argumento legalista: A lei é eterna (Sl 111.7-8).

Resposta: Este texto não faz referência alguma do decálogo, mas a

"todos os seus mandamentos", isto é, a todos os mandamentos de Deus, oque inclui também os mandamentos "cerimoniais" de todo o Pentateuco.Segundo o método correto de interpretação da Bíblia, o texto em apreçonão pode ser aplicado ao decálogo exclusivamente. Por outro lado, emnenhum lugar as Escrituras afirmam que Deus revoga os seusmandamentos, pois a vontade de Deus é eternamente imutável: é parasempre. Os israelitas, porém, eram incapazes de cumprir a lei, conformeRomanos 8.3, razão pela qual Cristo a cumpriu por eles. Pelo fato de

ninguém poder cumprir a lei, "pela lei ninguém é justificado diante deDeus" (G1 3.1 1), e "todos quantos são das obras da lei, estão debaixo da

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maldição" (v. 10). Os eternos preceitos de Deus (não somente os dezmandamentos), que nenhum homem jamais conseguiu até hoje guardar,foram cumpridos plenamente por Cristo e, então, postos de lado, para que a

 justiça que havia nesses preceitos se cumprisse em nós.

7. Argumento legalista: A lei é santa, justa e boa (Rm 7.12).

Resposta: Pouco antes, Paulo havia dito que não estava debaixo dalei (Rm 6.14), e ilustra este fato dizendo que a mulher está ligada ao marido

 pela lei, mas morto este, ela "está livre da lei do marido". É claro que Paulofala aqui como judeu que era, uma vez que os não judeus jamais estiveramdebaixo da lei mediante a força de uma aliança, embora tivessem os

 princípios dessa lei gravados em sua consciência. A lei do marido não

deixa de ser boa depois que ele morre, mas a mulher já não está maissujeita a ela. A lei mosaica continua boa, santa e justa, só que não estamosmais sujeitos a ela em virtude de Jesus tê-la cumprido integralmente.

Em seu comentário do capítulo 3 de Gálatas, S. E. McNair citaScroggie:

O argumento aqui é complexo e profundo. Todos os justificados osão pela fé (6-9). Por isso, ninguém pode ser justificado pela lei (10-12).

mas a lei tem de ser satisfeita para que alguém possa ser justificado (13-14). A revelação da lei não pode de maneira nenhuma desfazer a promessa(15-18). Entre a promessa dada a Abraão e a lei dada a Moisés houve um

 período de 430 anos (17), de maneira que Abraão não poderia ter sido justificado pela lei, mas somente pela fé. Somos justificados somente por aquilo que Cristo fez.

O mesmo comentador acima referido cita ainda o que F. W. Grantafirmou acerca da lei:

Como sistema de governo mundano  —  o governo de um povoterrestre — a lei, nas suas recompensas e apenas, não ia além da Terra. Elanunca disse ao cumpridor dos mandamentos: "Irás para o Céu", nem aotransgressor convicto: "Irás para o inferno". "A alma que pecar, essamorrerá", e "o homem que as fizer viverá por elas", era linguagem comume compreensível aos homens, e assim o sentido da lei é tão claro einteligível como inegável o seu poder de condenar.

8. Argumento legalista: A lei de Deus aponta para o pecado (1 Jo

3.4; Rm 7.7).

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Resposta: Como judeu, a quem a lei foi dada (e somente ao judeu ouisraelita), Paulo a conhecia como santa, como aquela que condenava o

 pecado. A lei, todavia, não resolveu o problema do pecado, mas o agravou, por ser ela espiritual e o homem carnal (v. 14). Daí haver Deus enviado seu

 próprio Filho "na semelhança da carne do pecado... condenando o pecadoda carne, para que a justiça da lei se cumprisse em nós" (v. 3, 4). Desdeentão, "Deus encerrou a todos debaixo da desobediência, para com todosusar de misericórdia" (Rm 11.32).

Um conhecido pastor comenta o papel da lei de apontar para o pecado:

Tornar-se antinomianista [contra a lei] é trágico, mas não

totalmente prejudicial. Pelo menos, mesmo sendo herético, umantinomianista ainda pode estar em campo, pairando perto do trono. Um

 pastor fez a seguinte observação sobre a razão pela qual o povo não deixao antinomianismo: a lei gera a culpa, a culpa a luta, a luta o fracasso, ofracasso gera mais culpa, mais culpa leva ao antinomianismo, este por suavez leva à apostasia, que leva à descrença total. Desta descrença flui raivae dureza de coração.

E triste perceber o quanto o processo acima ocorre entre os modernos

 judaizantes. Entre meus familiares, mesmo, restaram pouquíssimosguardadores da lei. Alguns poucos, como minha avó e tias a que me referiatrás, felizmente penderam para a graça de Deus e viveram e morreramcomo cristãs autênticas; mas a maioria se desviou por completo eapostatou, inclusive um primo meu que fez todos os seus estudos em umseminário legalista.

9. Argumento legalista: A lei de Deus nunca deve ser violada (Mt5.19).

Resposta: Este texto não afirma que cada jota e cada til da lei vão permanecer até que o céu e a terra passem. Diz que não passarão "sem quetudo seja cumprido". João Batista marcou o fim da lei: "A lei e os profetasduraram até João... é mais fácil passar o céu e a terra do que cair um til dalei" (Lc 16.16,17). Note-se que "lei", aqui, também não é só o decálogo,mas toda a lei contida em Gênesis, Êxodo, Levítico, Números eDeuteronômio.

10. Argumento legalista: A lei é espiritual (Rm 7.14).

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Resposta: Este texto bíblico afirma: "Bem sabemos que a lei éespiritual; mas eu sou carnal, vendido como escravo ao pecado". Pelo fatode o homem ser carnal, "vendido como escravo ao pecado", nenhumdescendente natural de Adão jamais pôde cumprir a lei. Nem o israelita

mais piedoso e admirador dos preceitos divinos, como Davi, por exemplo(que escreveu o salmo 119), jamais conseguiu cumprir a lei. Aliás, o

 próprio Davi declara que "à tua vista [de Deus] não se achará justo nenhumvivente" (Sl 143.2), e o apóstolo Paulo escreve que "todos pecaram edestituídos estão da glória de Deus" (Rm 3.23). A impossibilidade do ser humano de cumprir a lei não invalida a santidade da lei. A lei é santa eespiritual porque foi dada pelo próprio Deus criador, que é santo e éEspírito; é tão boa que Jesus a cumpriu; e tão justa que Jesus morreu por 

ela, dando-lhe pleno cumprimento. O problema é que essa santa lei de Deusnão invalida o poder da "lei do pecado e da morte" (Rm 8.2), que age emnossa natureza pecaminosa. É como disse Watchman Nee: "Vencer o

 pecado não requer um só quilo de força, pois é trabalho da lei. Existe umalei que me faz pecar sem que me esforce, e há outra lei que me livra do

 pecado, também sem esforço algum de minha parte".

11. Argumento legalista: A lei é perfeita (SI 19.7; Tg 1.25).

Resposta: Aqui não se faz referência alguma unicamente aodecálogo, mas à lei toda, que é todo o Pentateuco. Veja-se Salmo 119.128.

12. Argumento legalista: A lei de Deus é lei de liberdade (Tg2.11,12).

Resposta: Aqui Tiago está falando de toda a lei, pois cita Levítico19.18 no verso 8, parte da lei que ficou fora da arca de testemunho e nãodentro. E guardar apenas alguns poucos mandamentos da lei é tropeçar em

toda ela, principalmente o que não sacrifica animais, não guarda todas asfestas, etc. A lei da liberdade de que fala Tiago é a do Novo Testamento,

 pela qual seremos julgados.

13. Argumento legalista: A lei é deleitosa (Sl 119.77).

Resposta: Toda a lei, com todas as suas disposições, era para o povoisraelita uma unidade indivisível e indissolúvel. Essa lei, pelo fato de fixar na alma do povo a piedade, a união e a felicidade, era de todas as maneiras

mui digna de receber os louvores que em todos os tempos os judeus

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 piedosos lhe dirigiam (SI 19e 119). Referindo- se a Gálatas 3.10, o Dr.Finis Jennings Dake comenta:

Todas as coisas da lei precisam ser praticadas, se alguém se colocadebaixo da lei. Isto não somente significa os dez mandamentos, mas todosos rituais, festas, sacrifícios, e todas as coisas que estão escritas no livro dalei. Se alguém pode provar que somente os dez mandamentos são todo olivro da lei, então essa pessoa pode provar que somente os dezmandamentos são a parte da lei que deve ser cumprida. Se alguémencontra festas, rituais, sacrifícios, e outras coisas no livro da lei, entãoessa pessoa ainda está sob a obrigação de guardar todas essas coisas seinsiste em permanecer sob a aliança do antiga aliança que foi abolida.

14. Argumento legalista: Cristo engrandeceu a lei divina (Is 42.21).

Resposta: Afirma esse texto bíblico: "Foi do agrado do Senhor, por amor da sua própria justiça, engrandecer a sua lei, e torná-la gloriosa". A

 palavra "lei" aqui ("Torah" no hebraico), não pode ser aplicada somente aodecálogo. Grogan comenta este versículo dizendo que lei, aqui,"provavelmente signifique 'ensinos', assim incluindo também a palavra

 profética". Nenhuma referência se faz aqui exclusivamente ao decálogo.Portanto, a lei que Jesus engrandeceu mediante "a sua própria justiça", ouseja, em outras palavras, pelo seu cumprimento, não pode ser restringida aodecálogo. E mais: Jesus tornou gloriosa essa lei ao fazer-se maldição por nós a fim de resgatar-nos da maldição da lei".

A pena de morte em Israel era sempre executada através doapedrejamento, como pouco tempo depois da morte de Jesus ocorreu comEstêvão. Como, porém, segundo a lei dos judeus, a pessoa que fosse

 pendurada num madeiro  —  ou mediante a crucificação ou mediante oenforcamento  —  morria sob maldição divina (cf. G1 3.13, citando Dt 21

.23), os líderes religiosos tudo fizeram para que Jesus sofresse o tipo demorte que o caracterizasse como maldito.

Os historiadores afirmam que na educada sociedade romana a palavra "cruz" era tão pejorativa e obscena que nunca era mencionadanuma conversa. Até mesmo quando uma pessoa era condenada à morte por meio de tal suplício, usava-se uma fórmula antiga a fim de não pronunciar crux em latim. Foi essa terrível forma de castigo que Jesus voluntariamentesuportou por nós, transformando aquele vergonhoso instrumento desuplício e morte em algo digno do regozijo do apóstolo Paulo e de todo

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verdadeiro cristão. "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruzde nosso Senhor Jesus Cristo" (G1 6.14).

15. Argumento legalista: Até que o céu e a terra passem (Mt 5.18; Lc

16.17).Resposta: Tanto em Mateus como cm Lucas a Bíblia afirma que a lei

 passaria logo que fosse cumprida. O que Jesus afirmou foi a certeza documprimento da lei, c não o tempo que ela duraria. "A lei e os profetasduraram até João". Ademais, se Mateus 5.17,19 deve ser cumprido hoje,também o devem todos os demais preceitos, porque aqui, como em todoslugares, lei significa todo o Pentateuco, uma vez que nessa mesma base dediscussão Jesus fala de mandamentos considerados pelos legalistas como

"cerimoniais". Jesus já cumpriu toda a lei, inclusive o decálogo, que é parteda lei, razão pela qual a obrigatoriedade da sua obediência já passou. "Jánão estamos debaixo de aio" (G1 3.25).

É incrível o modo como os legalistas torcem tão violentamente osentido claro da Palavra de Deus. Infelizmente, tanto neles como em todosos judeus se cumpre esta passagem: "E até hoje, quando é lido Moisés, ovéu está posto sobre o coração deles. Mas, quando se converterem ao

Senhor, então, o véu se tirará" (2 Co 3.15,16).16. Argumento legalista: A lei dos dez mandamentos é padrão no

 juízo (Tg 2.12).

Resposta: Já vimos no item 12 que esta lei referida por Tiago não é alei mosaica, da qual faz parte o decálogo, mas sim o Novo Testamento,

 pois ao regime da lei sucede o regime do espírito de vida em Cristo Jesus,ou seja, o Espírito vivificante ( pneuma zoopoiun), que dá a vida. "Agora

 pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus" (Rm8.1). Se o crente não mais está "na carne" e se "o corpo do pecado" estámorto em virtude da união do crente com Cristo, tais fatos acarretam otérmino efetivo da lei. Achamos em Cristo uma autoridade nova etotalmente diferente.

17. Argumento legalista: Em Efésios 2.15 e Romanos 3.31, nóstemos uma lei cerimonial, que foi cumprida, e outra lei, a divina, que deveser estabelecida.

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Resposta: Vejamos estas passagens: "Na sua carne desfez ainimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, paracriar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz". "Anulamos,

 pois, a Lei pela fé? De maneira nenhuma, antes estabelecemos a lei".

 Nestas passagens Paulo está argumentando que ninguém jamais temguardado a lei — nem os judeus — e que ninguém pode ser justificado pela"lei das obras", mas pela "lei da fé" (Rm 3.27). Com tal argumentação,Paulo não afirma que estava sem lei pelo fato de a lei mosaica haver sidoabolida por Cristo (cf. Ef 2.15), pois encontrava-se debaixo de outra lei, a"lei de Cristo" (1 Co 9.21).

Romanos 3.31 fala de uma lei num sentido mais lato, ou seja, a

grande lei moral de Deus, que abrange muito mais que os princípios moraisde toda a lei de Moisés. Essa é a lei estabelecida pela fé, porque uma fésem lei alguma é anarquismo. Mais adiante, referindo-se à lei mosaica,Paulo diz: "Não estais debaixo da lei" (Rm 6.14); "Estais mortos para a lei"(Rm 7.14), e "livres da lei" (Rm 7.6).

Em nenhuma passagem da Bíblia, repetimos, se afirma a existênciade duas leis: uma moral e outra cerimonial; uma abolida e outra não; umacumprida por Cristo e outra a ser cumprida por nós etc. A confusão decorre

da má interpretação do texto sagrado, interpretação que exalta uma parte dalei em detrimento da outra, jogando perigosamente com palavras-chavecomo "moral" e "cerimonial". Quando o vocábulo "mandamentos" éconveniente ao seu sistema, o sabalismo subentende logo como se referindoà "lei moral", aos dez mandamentos; quando não, é à "lei cerimonial".

O cristão não está obrigado a guardar a lei das duas tábuas de pedra, porque a sua lei é Cristo, que cumpriu todas as exigências da lei de Deus.

Jesus não cumpriu uma parte da lei, denominada de cerimonial, e deixou oresto da lei, os dez mandamentos, para que os cumpríssemos. Ao ser cravado na cruz, Jesus encravou ali também a lei, toda ela, dando-lhe plenae final satisfação, conforme suas próprias palavras, de que nem um só jotanem um só til passariam da lei sem que tudo fosse cumprido.

O professor Mesquita comenta a esse respeito:

E fútil pensar que Deus, sabendo que ninguém jamais tinhacumprido a Lei, e que nem mesmo a nação a quem ela foi dada a poderiacumprir, levasse o seu Filho a morrer no Calvário para satisfazer essa lei,

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que era a síntese de sua santidade, e depois de toda aquela tragédia doCalvário, a mais terrível de toda a história, ainda deixasse um pedaço paranós, miseráveis e incapazes pecadores, cumprirmos. Não. Isto não érazoável nem possível. Aberra de todo o bom senso, e mistura o legalismocom a graça, deixando Deus responsável pela continuação de um estado decoisas que determinou a morte de Jesus mesmo. Não, mil vezes não. A leimoral, cerimonial e civil, não são três leis, mas uma só lei, que foiencravada na cruz e lá morreu para toda a história da humanidade. O quesempre esteve e continua a estar de pé é o concerto da fé, feito entre Deuse Abraão, mediante o qual aquele antigo varão foi feito amigo de Deus, enós também o seremos, crendo como ele creu. Qual será a coisa maisagradável a Deus? Olharmos para os dez mandamentos, procurandoobedecer-lhes, ou olhar para Cristo e amá-lo e segui-lo? Qual terá maisvalor para Deus e para nós: a lei fria e inflexível, ou Cristo, todo amor e

misericórdia?

18. Argumento legalista: Ora, a lei não pode ser espiritual e carnal aomesmo tempo, nem perfeita e imperfeita, nem prejudicial, e justa e boa,"porque Deus não é Deus de confusão, senão de paz, como em todas asigrejas dos santos" (1 Co 14.33).

Resposta: Nenhum evangélico medianamente conhecedor da Bíbliaadmite nela tal discrepância doutrinária. A confusão existe, isto sim, na

mente daqueles que partem de um falso fundamento para sustentação deum edifício doutrinário estranho ao Novo Testamento. Daí a necessidade detorcer e fragmentar a Palavra de Deus, adicionando a certos trechos

 bíblicos, através de arranjos espúrios, termos como "moral", "cerimonial"etc. Hebreus 7.16 não afirma que a lei é carnal. Fala do sacerdócio levíticoem contraste com o sacerdócio eterno de Cristo "instituído não segundo anorma de uma lei que se baseia na carne, mas segundo a força de vidaindestrutível". E evidente que no antigo sacerdócio, as qualificações

necessárias para que alguém fosse sacerdote eram puramente físicas eexternas. A lei era e é espiritual, mas "nada aperfeiçoou", porque esbarrou(em outras palavras, "se baseia") na natureza humana, carnal, onde opera a"lei do pecado" (Rm 7.23).

19. Argumento legalista: Nós, adventista do sétimo dia, nãoincorremos nas pragas de Apocalipse 22.18, porque não acrescentamosaquilo que a Palavra de Deus não diz. As pragas de Apocalipse destinam-se

 para vós, porque acrescentais o domingo à Palavra de Deus, "e assim

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invalidastes pela vossa tradição, o mandamento de Deus" (Mt 15.6; Is29.13; Mt 15.9).

Resposta: O que a Bíblia afirma, com meridiana clareza, é que a lei,

 pela sua origem e propósitos elevados, é santa, justa e boa; porém o homemé carnal e incapaz de cumpri-la, porque ninguém cumpriu a lei, nem judeusnem sabatistas, mas somente Jesus. A lei (não somente os dezmandamentos) findou na cruz, com a mudança de sacerdócio. Emboraainda permaneça boa, santa e espiritual, cessou sua vigência por causa doseu cumprimento em Cristo, e do estabelecimento de uma nova ordem,inaugurada por Jesus com seu próprio sangue, cuja base é anterior à leimosaica do Sinai, pois tem como princípio a justificação mediante a fé (cf.

G1 3.14). De sorte que a lei serviu de aio aos judeus, até que a fé viesse (v.24).

20. Argumento legalista: Quando a Bíblia manda guardar osmandamentos, vê-se logo que se refere à lei de Deus, aos dezmandamentos, João 14.15; 15.10; Mateus 3.6. Aí Jesus chama ao quintomandamento, "mandamento de Deus". Em Mateus 19.17-19, Jesus mandaguardar os mandamentos e cita o decálogo...

Resposta: E interessante observar que em Mateus 19.19, depois decitar alguns mandamentos contidos no decálogo, Jesus menciona ummandamento de Levítico 19.18, contido, portanto, na parte "cerimonial",colocada não dentro da arca, mas fora dela. Se o decálogo deve ser guardado porque Jesus citou mandamentos dele, também a "lei cerimonial"deve ser guardada, pois Jesus citou mandamentos que fazem parte dela (vv.31, 38 etc). Quanto ao arrazoado que se faz em relação a guardar os"mandamentos de Deus", "que é dever de todo o homem", e quanto à

alegação de que se Cristo aboliu a lei então todo o mundo está salvo, etc.,responde a infalível Palavra de Deus: "Tanto judeus (a quem a lei foi dada)como gregos (que desconheciam a lei), todos estão debaixo do pecado"(Rm 3.9).

Os mandamentos de que fala Eclesiastes 12.13 não são o decálogo,mas sim a lei espiritual e perfeita, que se estende a todas as ações internas eàs ações externas dos homens, e nunca poderá ser mudada nem aniquilada(cf. Sl 18.8-9; Pv 30.5-6; Rm 7.12, 14; Ap 22.18-19). Esta lei moral é

aquela que revela a vontade de Deus no que diz respeito aos deveres dos

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homens para com o seu Criador e para com o seu semelhante  —  seu próximo  —  melhor do que o fazem os dez mandamentos. Ela estáexemplificada em Lucas 10.33-37, e foi escrita inicialmente nos corações enas consciências dos homens para que estes, pelo uso próprio das suas

faculdades racionais e morais, pudessem chegar ao conhecimento de todo oseu dever (cf. Jo 1.9; 3.19-20; Rm 1.19-20; 2.14- 15). E, com relação aRomanos 4.15, saliente-se que a Bíblia afirma que antes da lei já havia o

 pecado (cf. Rm 5.13), e que o pecado existe onde a lei não é conhecida (cf.Rm 2.12, 16; 5.9). Mas o conhecimento da lei torna o pecadoespecialmente virulento, apenas para condenar ainda mais o pecador. "Se,

 pois, faço o que não quero, reconheço que a lei é boa" (v. 17). Namaravilhosa dispensação da graça, Deus encerrou todos os seres humanos

debaixo do pecado, para com todos usar de misericórdia. Agora, já não émais a lei que mostra a virulência do pecado, mas o Espírito Santo, que"convencerá o mundo do pecado" (Jo 16.8), e "nos guia a toda a verdade"(Jo 16.13).

Concluímos este livro com as palavras de Scofield acerca da doutrinacristã da lei (omitiremos dessa citação as muitas referências bíblicas, pelofato de todas elas já estarem fartamente mencionadas ao longo desta obra):

1. A lei está em contraste com a graça. Sob a graça, Deus confere a justiça que sob a lei ele exigia.

2. A lei é, em si mesma, santa, justa, boa e espiritual.

3. Perante a lei, todo o mundo é culpável, e, portanto, a lei é,necessariamente, um ministério de condenação, de morte, e de maldição divina.

4. Cristo levou a maldição da lei, e redimiu o crente tanto da maldiçãocorno do domínio dela.