Abordagem Sistémica da família-apontamentos CEF

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Formadora: Sónia Midões 2011 1 ABORDAGEM SISTÉMICA DA FAMÍLIA Para melhor compreender o trabalho que os profissionais de educação devem desenvolver com a família, é importante salientar alguns aspectos teóricos que explicam o funcionamento familiar. Um dos modelos teóricos que facilitam essa compreensão é o da Abordagem Sistémica da Família, baseada na teoria geral dos sistemas de Von Bertalanffy (1968). Actualmente existem muitas definições de família, mas o mais importante é olhá-las como um todo, na emergência dos seus elementos e naquilo que a torna única. Ler sistemicamente uma família implica ter uma visão global da sua estrutura e do seu desenvolvimento. Assim, segundo Sampaio e Gameiro, podemos definir família como um “sistema, um conjunto de elementos ligados por um conjunto de relações em contínua relação com o exterior, que mantém o equilíbrio ao longo de um processo de desenvolvimento percorrido através de estádios de evolução diversificados”. A partir desta definição, a família pode ser considerada como um sistema. A família contém subsistemas e é contida por diversos outros sistemas, ou supra-sistemas, todos eles ligados de forma hierarquicamente organizada, possuindo limites ou fronteiras que a distingue do seu meio. Numa família podemos distinguir claramente quatro subsistemas: Individual, Conjugal, Parental e Fraternal.

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Formadora: Sónia Midões 2011

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ABORDAGEM SISTÉMICA DA FAMÍLIA

Para melhor compreender o trabalho que os profissionais de educação devem

desenvolver com a família, é importante salientar alguns aspectos teóricos que

explicam o funcionamento familiar.

Um dos modelos teóricos que facilitam essa compreensão é o da Abordagem

Sistémica da Família, baseada na teoria geral dos sistemas de Von

Bertalanffy (1968).

Actualmente existem muitas definições de família, mas o mais importante é

olhá-las como um todo, na emergência dos seus elementos e naquilo que a

torna única.

Ler sistemicamente uma família implica ter uma visão global da sua estrutura e

do seu desenvolvimento.

Assim, segundo Sampaio e Gameiro, podemos definir família como um

“sistema, um conjunto de elementos ligados por um conjunto de relações

em contínua relação com o exterior, que mantém o equilíbrio ao longo de

um processo de desenvolvimento percorrido através de estádios de

evolução diversificados”.

A partir desta definição, a família pode ser considerada como um sistema. A

família contém subsistemas e é contida por diversos outros sistemas, ou

supra-sistemas, todos eles ligados de forma hierarquicamente organizada,

possuindo limites ou fronteiras que a distingue do seu meio.

Numa família podemos distinguir claramente quatro subsistemas: Individual,

Conjugal, Parental e Fraternal.

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Estrutura Familiar

As interacções que se desenvolvem entre os vários elementos de uma família

organizam-se através de sequências repetitivas de trocas verbais e não-

verbais, que se vão constituindo no dia-a-dia familiar como resultado de

adaptações recíprocas, implícitas e explícitas entre os seus elementos. Estas

sequências, que Minuchin (1979) designa por padrões transaccionais, regulam

não só as trocas afectivas, cognitivas e comportamentais dos diferentes

membros, como lhes especificam papéis particulares. É este modelo de

relações, definido na (e pela) família, que Minuchin designa por estrutura,

definindo esta como “a rede invisível de necessidades funcionais que

organiza o modo como os membros da família interagem”.

Subsistema

individual

Subsistema conjugal

Subsistema parental

Subsistema fraternal

País

Comunidade

Família

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Como as diferentes componentes do sistema familiar organizam-se em

unidades sistémico-relacionais denominadas subsistemas, numa família

podemos ter, fundamentalmente quatro:

Subsistema individual: é composto pelo indivíduo, que para além do

seu estatuto e funções familiares tem, também, funções e papéis

noutros sistemas. Esta dupla pertença repercute no seu próprio papel e

na forma como está em cada um desses contextos.

Subsistema conjugal: composto por marido e mulher, a

complementaridade e a adaptação recíproca são aspectos importantes

do seu funcionamento, e uma boa gestão da simetria permitirá a cada

elemento manter a sua individualidade. Uma das funções deste

subsistema é o desenvolvimento de limites e fronteiras que protejam o

casal da intrusão de outros elementos (tais como famílias de origem ou

filhos), de modo a terem satisfação das suas necessidades psicológicas.

Este subsistema é, ainda vital para o crescimento dos filhos, servindo-

lhes como modelo relacional para o estabelecimento de futuras relações

de intimidade.

Subsistema parental: é constituído, habitualmente pelos mesmos

adultos, mas agora com funções executivas, tendo em vista a educação

e a protecção das gerações mais novas. É a partir das interacções pais-

filhos que as crianças aprendem o sentido da autoridade, a forma de

negociação e de lidar com o conflito. É neste contexto que as crianças

desenvolvem o sentido de filiação e pertença familiar. Este subsistema

pode variar na sua composição, que por vezes pode incluir só um

membro, dois (pai e mãe), ou mais que dois (pais e avós).

Subsistema fraternal: é constituído pelos irmãos e representa,

fundamentalmente um lugar de socialização e experimentação de papéis

face ao mundo extra-familiar (escola, grupo de amigos, mercado de

trabalho). É neste subsistema que as crianças desenvolvem as suas

capacidades relacionais com o grupo de pares, experimentando o apoio

mútuo, a competição, o conflito e a negociação em brincadeiras

solidárias e “guerras”.

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Assim, há toda uma rede relacional que interage com a família e a ajuda a

ganhar forma e identidade. Cada família tem as suas próprias particularidades

que a distingue das outras famílias. O meio também vai solicitando desafios à

família. Desta forma, acontecem interacções em função da forma como a

família se relaciona com os contextos e com os outros sistemas.

O que caracteriza e delimita todos os sistemas (família, escola, trabalho,

comunidade…) e subsistemas são os papéis e funções, as normas e os

estatutos ocupados pelos indivíduos. A clara delimitação desses limites

interaccionais permite a cada um, em cada momento e em cada espaço, saber

o que pode esperar de si próprio e dos que o circundam, mas também permite

que os outros possam esperar certas atitude e comportamentos por parte do

indivíduo, consoante o sistema ou subsistema que estejam a ocupar.

Neste desempenho de diferentes papéis, os indivíduos participam e pertencem

a diferentes sistemas e/ou subsistemas, tornando-se evidentes dois aspectos:

As suas fronteiras são permeáveis, isto é, permitem a passagem

selectiva de informação e interacções

A compreensão de cada sistema ou subsistema, desde o individual ao

mais alargado, requer o conhecimento dos contextos em que se

participa.

Conclusão:

Em qualquer situação de intervenção, os profissionais deverão estar

conscientes das interacções entre os diferentes subsistemas familiares, para

que possam avaliar se a intervenção irá afectar de forma equilibrada ou

desequilibrada as interacções do sistema familiar, e assim melhorar o processo

de mudança (na criança), criando um ambiente de equilíbrio nas interacções

familiares.