ABIM 005 JV Ano XI - Nº 87 - Jul/17 - Entre Irmãos · “livros”, como a sumeriana...

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ABIM 005 JV Ano XI - Nº 87 - Jul/17

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A Revista Arte Real é um periódico maçônico virtual, fundado em 24 de fevereiro de 2007, de periodicidade mensal, distribuído, gratuitamente, pela Internet, atualmente, para 33.154 e-mails de leitores cadastrados, no Brasil e no exterior, com registro na ABIM - Associação Brasileira de Imprensa Maçônica, sob o nº 005 JV, tendo como Editor Responsável o Irmão Francisco Feitosa da Fonseca, 33º - Jornalista MTb 19038/MG.

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Editorial

A imagem da capa, cujo objetivo de sua escolha outro não foi, senão o de nos induzir a uma breve, porém necessária reflexão, expressa

nossa Ordem, no momento atual, em meio a mais grave crise política da história brasileira. Uma pessoa (maçom), solitária, em meio a um vazio cinzento e nebuloso, sobe alguns degraus de uma escada, a fim de tentar contemplar o horizonte, auxiliado por um binóculo.

Na visão de alguns, tal pessoa poderia estar tentando avistar o longínquo passado de glórias de nossa Ordem, quando maçons proeminentes mudaram a história desse país, muitos sacrificando a própria vida, em prol da liberdade da população. Histórias que são, incansavelmente, repetidas em livros, trabalhos e palestras no seio dos Templos maçônicos, sobre as quais muito preferem se debruçar, em meio a sua ociosidade. Em verdade, há muito que não conseguimos enxergar nossa instituição participando, diretamente, das decisões desse país.

Outros poderiam interpretar que, o momento é nebuloso, cinzento e frio, que apesar de o auxílio do binóculo e da escada, ainda assim, torna-se impossível enxergar uma saída, a curto prazo, para situação. Sufocados pela tortura diuturna de uma mídia terrorista, a vomitar tantas notícias escandalosas, que até mesmo o GADU duvida, banham-se de desesperança, ao ver a inércia de nossa instituição, diante dos fatos.

Haveria, talvez, poucos, decerto, que o enxergaria, em sua postura, a consciência de um iniciado que, embora envolvido por um cenário caótico, não se deixara abalar, mantendo sua postura ereta e a seriedade no olhar, expressando a confiança de dias melhores.

Enfim, essa imagem que ilustra a capa desta edição é você, sou eu, é cada um de nós, que, semanalmente, reveste-se, orgulhosamente, de um avental e frequenta um Templo dedicado ao GADU, com o objetivo de tornar feliz a humanidade!

A Maçonaria somos todos nós! Se a leitura deste Editorial te levou à reflexão, transportando-o para os degraus daquela escada, por si só, já estamos contente. Se tal reflexão te levar ao questionamento em que postura você se enquadraria contemplando o horizonte, estaremos por demais satisfeito. Mas se tudo isso te motivar a ser um agente de transformação de nossa Ordem, saiba que não estará sozinho na escada, pois, juntos, estaremos na busca de uma solução. Conte conosco!

Façamos em nós a mudança que gostaríamos de ver no mundo! (Mahatmã Ghandi)

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A invenção da escrita foi um dos primeiros e dos mais importantes marcos da história da humanidade. Através dela pôde-se se

perpetuar a Tradição até os dias atuais. Na Pré-história, a comunicação por desenhos nas paredes de cavernas (arte rupestre), ainda, não possuía um padrão e, portanto, não poderia se considerar uma forma de escrita. Muito embora, os escritos primitivos surgiram dos esboços de desenhos, o que leva muitos a dizer que a literatura é filha da arte.

Os vestígios mais antigos da escrita são as “Tábuas Tártaras”, descobertas na Tartária, na Romênia, com datação estimada de 5.500 a.C. O significado de seus símbolos é desconhecido, e sua natureza tem sido objeto de debates calorosos. Os primeiros livros do mundo foram gravados em colossais monumentos de pedra. Alguns desses “livros”, como a sumeriana “Epopeia”, de Gilgamesh, e a “História Egípcia dos Faraós”, pesavam muitas toneladas, cada um.

A forma mais primitiva de escrita seria a cuneiforme, palavra que significa “em forma de cunha”, devido aos povos primitivos, assim como os sumérios, utilizarem-se de instrumentos, em forma de cunha, para imprimir, na argila, ainda mole, desenhos toscos que, posteriormente, eram colocadas ao Sol para secar. Tais desenhos representavam sílabas, palavras e, o seu conjunto, histórias que ficaram registradas, por volta de 3.000 a.C., na Mesopotâmia, pelos sumérios.

Os antigos egípcios desenvolveram duas formas de escrita, a “hieroglífica” e, a partir da segunda metade do primeiro milênio antes de Cristo, a “demótica”, ambas podem ser encontradas nas paredes internas das pirâmides. A paleografia é a ciência que estuda as escrita da Antiguidade.

A partir do caule da planta “cyperus papyrus”, muito comum às margens do rio Nilo, surgiu o primeiro papel a ser utilizado para a escrita. Mais tarde, na Roma Antiga, surgiria o pergaminho, obtido através da pele de caprino, uma técnica que foi aperfeiçoada no antigo reino de Pérgamo, atual Turquia, nome que originou sua denominação. Em sequência, surgiu o códice, em substituição ao pergaminho. Era uma pequena placa de madeira encerada, utilizada pelos antigos romanos para escrever. O conjunto dessas placas, com dobradiças, formavam uma espécie de livro.

O “Escriba” era o profissional que, na Antiguidade, dominava a escrita. A mando do rei, redigia as leis do reino ou de determinada religião, registrava dados numéricos, copiava e arquivava informações. A escrita era de domínio de poucos, com isso, tais profissionais gozavam de enorme prestígio e destaque na sociedade. Considerados como parte da corte real, os escribas eram dispensados de pagar impostos e de servir as forças armadas, de então. Seus filhos eram educados na mesma tradição escriba e herdavam os cargos de seus pais.

Abrindo os Portais de um Novo Mundo!

Francisco Feitosa

Escritor

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A história deve seus registros a esses profissionais que, através da escrita, perpetuaram os acontecimentos para que, hoje, dele, pudéssemos tomar conhecimento.

Os Escribas, nos livros sagrados, referem-se aos doutores e mestres, homens especializados no estudo das leis divinas. Existiram escribas de diferentes seitas, como os saduceus, fariseus e essênios. Após o exílio babilônico suas funções passaram a ser mais específicas e relacionadas à religião, como copistas, preservadores e intérpretes da lei religiosa. Esdras é um exemplo de sacerdote e escriba.

No ano 70 d.C., com a destruição do Templo de Herodes (Jerusalém), com o consequente desaparecimento dos sacerdócio judaico, sua influência passaria a ser, ainda, maior. Pouco antes de Cristo, nomes de escribas como Hillel e Sammai ganharam destaque. O escriba Gamaliel, filho de Hillel, foi mestre de Paulo de Tarso.

A escrita chinesa e a escrita adotada pelas civilizações pré-colombianas, na América, como, por exemplo, a escrita maia, tiveram origens independentes. Vários sistemas de escrita mesoamericanos são conhecidos, sendo a mais antiga, a olmeca ou zapoteca, do México. A escrita japonesa foi criada a partir da escrita chinesa, por volta do século IV.

Os japoneses produziram o primeiro e mais longo romance do mundo. Uma história em 54 volumes, e o autor era uma mulher! O nome desse romance é bastante interessante, Genji Monogatari (Mexerico a respeito do sr. Genji). A autora desse livro é Murasaki (Senhora Violeta).

Em verdade, os antigos escritores sumerianos não mostravam interesse pela escrita, em si. Seu foco era os negócios. A invenção da escrita, por eles, tinha por fim consignar os extratos de contas e as faturas de venda.

Foram os gregos os primeiros europeus a aprender escrever com um alfabeto e seu sistema foi fundamental para o mundo moderno. Já o alfabeto romano, na Roma Antiga, dispunha, apenas, de letras maiúsculas. Na época em que a escrita passou a ser em pergaminhos, foi criado um novo estilo, denominado de “uncial”, que resistiu até o século VIII, inclusive utilizado na escrituras da Bíblia. Foi quando surgiu um novo estilo, desenvolvido pelo monge inglês, de nome Alcuíno, atendendo ao pedido do imperador Carlos Magno. Por volta do século XV, foi criado, por alguns eruditos italianos, um novo estilo menos complexo.

No Mundo Medieval, o acesso aos escritos era restrito aos clérigos, com isso, surgiria a figura do Monge Copista, herdeiros dos escribas egípcios. Os mosteiros e abadias eram os poucos centros de cultura letrada.

O estilo, hoje, denominado itálico, teve origem com a criação do primeiro caderno de caligrafia, pelo italiano Lodovico Arrighi, em 1522. Com o tempo, outros cadernos foram impressos, tendo seus tipos gravados em chapas de cobre, dando origem a escrita calcográfica (escrita ao contrário).

Do mesmo modo que o telescópio revolucionou a astronomia, a invenção da imprensa pelo alemão Johannes Gutenberg, em 1430, revolucionou a escrita, com a produção mecanizada, em massa, de livros, através de tipos produzidos em chumbo, substituindo o códice, o livro escrito manualmente. Em 30 de setembro de 1452 foi produzido o primeiro livro impresso, a Bíblia, que ficou conhecido como a “Bíblia de Gutenberg”.

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Gutenberg imprimiu a sua transcrição da Bíblia, em latim, em dois volumes, distribuídos em 1282 páginas, com 42 linhas cada, resultando em, aproximadamente, três milhões de caracteres. Foram impressas 180 unidades até o ano de 1455, mas, apenas, 48 exemplares estão conservados até hoje. Considerada a obra-prima da impressão e do artesanato refinado, seu texto original é a tradução, em latim, conhecida como Vulgata, feita por São Jerônimo, no século IV.

Enfim, o alfabeto utilizado atualmente, é o legado de várias culturas, a partir da necessidade do registro dos sons das palavras, passando por diversas transições, porém, é atribuída aos fenícios a representação fonética das palavras, sendo, os alfabetos, o abstrato que podem ser adaptados e usados a qualquer tipo de idioma.

O surgimento da escrita é um marco importante na história do mundo, por demarcar a separação entre a história e a pré-história, iniciando o registro dos acontecimentos. Os antigos inventores da escrita foram os pioneiros da educação moderna. Contudo, não tinham ideia da parte proeminente que haveriam de desempenhar na história da cultura humana.

O escritor é o profissional que utilizando-se da palavra escrita, expressa suas ideias. O termo “pa-lavra” é a “pá” que “lavra” o terreno fértil (a mente do leitor), com o objetivo de semear ideias, conceitos e ensinamentos, contribuindo, com isso, para o nascimento de um novo estado de consciência, naqueles que se permitem enveredar pelos mundo mágico da leitura.

Através da escrita e a da leitura o homem transcende ao tempo e ao espaço, permitindo ao escritor da Antiguidade comunicar suas ideias ao leitor da atualidade. Concede ao leitor um passaporte para uma viagem ao mundo das ideias do escritor, vivenciando emoções e angariando conhecimentos que, colocados em prática e transmitidos a outrem, poderão se consolidar em sabedoria!

Francis Bacon dizia que “a leitura torna o homem completo; a conversação torna-o ágil; e o escrever dá-lhe precisão”. Decartes dizia que “a leitura de todos os bons livros é como uma conversa com os melhores espíritos dos séculos passados, que foram seus autores, e é uma conversa estudada, na qual eles nos revelam seus melhores pensamentos”.

Essa breve viagem pela história da escrita, serviu-nos de preâmbulo para homenagear esses profissionais que, através do bailado harmonioso de seu grafite, registram e perpetuam suas ideias, como o incansável barqueiro, que faz a travessia entre o abstrato, que sua mente plasmou, transportando para o concreto, e eternizando, no papel, em forma de escrita.

Quando “suas ideias” transcendem a sua capacidade mental, humildemente, agradece a seus mentores espirituais pela oportunidade de ter-Lhes servido de um canal, para a expressão de uma Vontade Superior.

Mundialmente, comemorado no dia 13 de outubro, no Brasil, o Dia do Escritor é comemorado no dia 25 de julho, por ocasião da realização do I Festival do Escritor Brasileiro, organizado pela União Brasileira dos Escritores. Devido ao enorme sucesso do evento, foi sugerida tal data para homenagear tão nobre profissional da escrita, o que foi, devidamente, acatada e aprovada, a partir de 1960, pelo Ministério da Educação e Cultura.

“O Ministério da Educação e Cultura, reconhecendo este significado, promove, na data de hoje, a criação do Dia do Escritor Brasileiro, que será doravante comemorado, por iniciativa oficial. E aproveita, como patrono do fato, a figura de João Ribeiro – símbolo do humanismo brasileiro – cujo centenário de nascimento se celebra em todo o território nacional, e que representa, de modo expressivo, por suas virtudes poligráficas de escritor, a própria Inteligência Brasileira”.

Aos nobres colegas, desde os icônicos Machado, Drumond e tantos outros, aos infinitamente menos conhecidos, como eu, que se equilibram em suas penas, a franquear os portais de um mundo novo para nossos diletos leitores, recebam nossa sincera, carinhosa e humilde homenagem!

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Decifrar a existência humana é uma tarefa que beira o impossível. Dentro da nossa complexidade, enquanto ser racional e ao mesmo tempo

animal, somos seres capazes de tudo, que percorrem constantemente o limiar dos extremos, quer dizer, somos seres capazes de vivenciar todas as ambiguidades, todos os paradoxos, de quebrar e criar paradigmas.

Nesse texto vou tentar fazer uma analogia entre a existência humana e a pedra, e tentar propor uma reflexão, que leve cada um dos leitores a responder ao seguinte questionamento: que pedra sou eu?

Uma brita: são pedras comuns encontradas aos montes, servem para dar suporte, mas estão, sempre, envoltas por outras camadas, por isso dificilmente são percebidas. Mas mesmo não sendo vistas, todos sabem que elas estão lá desempenhando o seu papel.

Uma pedra grande: por ser pesada, nem sempre é carregada, consequentemente, costuma ficar, sempre, no mesmo lugar servindo como enfeite ou até mesmo um lugar para sentar. Algumas pessoas, também, são assim, um peso na vida das outras, dificilmente são bem-vindas e quando estão presentes não passam de um enfeite.

Um diamante: são pedras raras formadas no meio de tantas outras pedras brutas, nem sempre são percebidas ou encontradas, mas estão lá. Quando achadas, são valiosas e quem as tem possui um tesouro.

Uma pedra no rio: praticamente, em todos os rios encontramos no fundo do seu leito uma quantidade considerável de pedras, que em tempos de fortes chuvas são levadas pela correnteza. Na turbulência das águas, nas quedas e batidas entre si, aos poucos ela vai ganhando polidez, ganhando forma, perdendo as arestas, deixando de ser pontiagudas. Assim somos nós, para quem quer aprender a vida é capaz de ensinar muitas coisas.

Uma pedra na vidraça: existem pedras que só parecem servir para quebrar a fragilidade do outro, são como aquelas jogadas nas vidraças. Na maioria das vezes não contribuem com nada, mas causam estrago.

Um granito: para dar o toque de beleza de uma construção são fundamentais. Sempre à vista, são belos, resistentes e duradouros. Estão presentes nos lugares certos e bem usados dão harmonia ao ambiente. Muitas pessoas, também, são assim, sabem o seu papel, desempenham sua função de eficiência dentro de suas características, possibilidades e potencialidades. Mas não podemos esquecer que há, também, pessoas granito ocupando o lugar errado, tornando-se quando molhadas escorregadias, portanto, sempre, torcendo para a queda de alguém.

Pedra angular: a primeira pedra de todas, é a partir dela que tudo vai ser feito. Uma pedra líder, guia, disposta a direcionar os rumos da construção. Encontramos, também, pessoas assim.

Pedra sabão: considerada uma rocha macia e frágil, por isso, usada pelos escultores como matéria prima para suas obras de arte. Fácil de ser esculpida, aceita os desbastes, os contornos e formas. Entretanto, é frágil às intempéres causadas pelos ventos, chuvas. Existem pessoas assim também, aceitam serem “moldadas”, mas mudam suas formas devido à ação do meio, geralmente, não têm personalidade ou vivem das conveniências.

Agora imaginemos que todos nós iremos fazer parte de uma grande construção. Uma obra que será chamada vida. O Grande Arquiteto do Universo responsável pela obra precisará de pedras e lhe perguntará: posso contar com você? Que tipo de pedra você é?

QuePedraé Você?

Walber Gonçalves

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Desafios da Maçonaria no Século XXI

Rogério Vaz

Este importante tema tem ocupado a mente de líderes maçônicos do mundo todo, desde que foram constatadas as influências

das mudanças do atual mundo pós-moderno na Maçonaria. O crescimento da Maçonaria foi exponencial nas últimas décadas, principalmente em países que mantinham regimes totalitários, mesmo assim, ainda, não está presente em todos países. Podemos citar alguns em que por momentos existiu, instalou-se e foi adormecida, como: Arábia Saudita, Argélia, Iêmen, Indonésia e Irã, no entanto, uma pesquisa mais direcionada trará outros locais onde a Maçonaria, ainda, não está presente.

Enquanto em alguns países ela se instala, em outros, onde tradicionalmente está inserida há muito tempo, vê-se uma redução em sua influência e de seus quadros nas sociedades mais desenvolvidas econômica e culturalmente. Isso não significa que a necessidade do propósito filosófico da Maçonaria seja descartável, mas que sua influência é menor do que no passado.

Só este ponto já merece uma atenção de nossos dirigentes maçônicos, para que sejam implementadas mudanças importantes, a fim de que retomemos nossos objetivos, como instituição progressista.

Enfrentar desafios e procurar soluções não é algo novo para a instituição. Os desafios para a nossa integridade fizeram parte da história maçônica, mesmo antes de 1717. Procuramos soluções por séculos e, ainda assim, os desafios permanecem. No entanto, nossa sobrevivência durante esse período é uma indicativa do nosso sucesso como instituição.

Ressaltamos que todo o desafio, seja ele do tamanho que for, é transitório, pois nossos princípios e propósitos filosóficos nunca foram esquecidos e descuidados. A prova disso é que continuamos prosperando em todo o mundo, pois nossos objetivos são universais e eternos.

O que consideramos desafios atuais para a Maçonaria? Creio que um dos principais problemas seja a crise de valores que a nossa sociedade pós-moderna está enfrentando, a exemplo do consumismo e a busca pelos objetos de desejo, que têm erodido as identidades sociais, personalidades, criando indivíduos narcisistas, individualistas, inseguros diante da multiplicidade de escolhas que a vida lhe oferece, pressionando para que nada e nunca esteja pronto, sempre, havendo algo por adquirir, sempre, havendo algo novo para se aprender.

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As relações sociais tornam-se superficiais e seus laços são facilmente desfeitos. Os relacionamentos afetivos terminam sem motivo justificável, tão rápido quanto começaram. Há um sentimento de vazio e desamor.

Outro ponto que devemos refletir é que muitas pessoas não desejam assumir compromissos semanais, que possam lhe “roubar” o tempo livre para sair, beber com amigos, ir ao cinema, realizar um curso noturno ou, até mesmo, jogar futebol, já que o mundo moderno é exigente a tal ponto, que devemos trabalhar para ter e viver as expectativas de adquirir um carro mais moderno, um apartamento em um bairro mais nobre. “Ter” é a palavra-chave. “Ser” um homem melhor deixou de ser uma prioridade.

É bem provável que nossas respostas não venham com tanta facilidade, pois, ainda, existem tantos questionamentos: é necessário que nos tornemos, fundamentalmente, diferentes do que fomos nos últimos 300 anos? As mudanças ambientais do mundo moderno são tão diferentes das do passado, que a filosofia maçônica, com sua ênfase na moral e ética, não é mais aplicável?

Afirmo, que diante do afrouxamento dos preceitos éticos, não é a Maçonaria que deve mudar, mesmo que a sociedade os tenha reduzido, não significa que devemos relaxar nossa vigilância ética e moral para nos adequarmos. Devemos, sim, ajustá-los com base em nossos padrões e não descer ao nível mais baixo, para poder integrá-los à Ordem.

Eu penso que o problema não é conosco ou com nossa filosofia, mas sim com a atual sociedade e seus valores. Nossa preocupação, hoje, não deve tanto estar com o ambiente em mudança no qual operamos, mas sim com nossa reação a tudo o que ocorre.

Tranquilizo-me ao ler a história da Maçonaria e entender que ela sobreviveu, floresceu em ambiente de constantes mudanças nesses três séculos.

A Maçonaria não chegou até os nossos dias se inclinando aos desejos ou as exigências de uma sociedade carente de valores éticos e morais, os quais se constituem em atributos basilares de nossa Instituição. Também, não prosperou subjugando o seu trabalho a regimes ditatoriais ou

a poderes religiosos opressivos. Não se tornou a maior organização concebida pela mente humana, reduzindo nossos padrões e sacrificando nossos princípios, para receber maiores números ou aceitação do mundo profano, que não faz nenhuma tentativa de nos entender.

A Maçonaria tornou-se grande e com prestígio devido ao nosso cuidado e compromisso de preservar as qualidades que a tornaram uma Instituição que goza de prestígio e respeito, porém, se esse prestígio diminui, nossa influência na evolução contínua da sociedade, também, diminui. Essa é uma perda trágica para o mundo: outro desafio a ser enfrentado!

Ao escolhermos um cidadão para ingressar na Maçonaria, devemos buscar aqueles que possuem atributos que irão contribuir para o fortalecimento dos valores éticos e morais. E os que não possuem? Muito bem, a minha resposta é a que dizem que para fazer porcelana fina não pode ser usado barro ruim. A Maçonaria não tem a função de ser um reformatório. Existem instituições vocacionadas para esse trabalho.

Historicamente, os maiores desafios enfrentados pela Maçonaria eram externos. Nossos maiores inimigos foram líderes de governos ditatoriais e de religiosos fundamentalistas.

Os desafios de nossa Ordem, no século XXI, não são mais os externos. Infelizmente, são internos, com questões que levam a dissensões e rupturas, enfraquecendo suas estruturas. Vaidades, egoísmo e busca do poder são mazelas que devem ser extirpadas de nossa Instituição.

Desejamos legar uma Maçonaria que enfrente os desafios do século XXI e ingresse no século seguinte com uma história de superação e ensinamentos para os nossos Irmãos do futuro.

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A priori, devemos estabelecer um rigor conceitual acerca do conceito de Maçonaria Universitária. Na verdade, não existe uma

Maçonaria “diferente” da tradicionalmente conhecida. O que existe são Lojas Maçônicas chamadas de Acadêmicas e Universitárias.

No contexto nacional, as leis que as regem são as mesmas que regem qualquer outra Loja Maçônica, o que não poderia ser diferente. Ressaltando que o propósito era agregar numa mesma Loja, Irmãos com características comuns.

Não obstante, devemos, também, ressaltar que o movimento de criação de Lojas Universitárias encontrava, também, conexão com a conjuntura nacional da segunda metade dos anos noventa. Nesse período, podemos identificar um crescimento do ensino superior no país. Na verdade, a expansão das IES - Instituições de Ensino Superior, foi um dos primeiros sintomas do processo de crescimento da economia advindos do Plano Real, a partir de 1994. Segundo dados do MEC/INEP, o número de IES cresceu em 82% no período 1997/2002, sendo que grande parte da oferta se apresentou através de IES privadas. (INEP, 2008)

No mesmo período, a reboque do aumento do número de IES, observamos o aumento do número de matrículas na educação superior. Os

dados do MEC/INEP comprovam que o acesso ao ensino superior aumentou em 54% nas IES públicas e 135% nas IES privadas. Estes números, por si só, já atestam o crescimento de um grande contingente de jovens universitários e potenciais candidatos a frequentarem as Lojas Universitárias.

Assim, estaríamos reforçando a que, talvez, seja a única diferença entre as Lojas Acadêmicas e Universitárias, e as Lojas tradicionais. Essas agremiações privilegiam a iniciação de universitários, de professores e demais candidatos ligados à área acadêmica. Sobre o processo de seleção de maçons, destacamos o que aponta o sitio eletrônico da Loja Maçônica “Fraternidade Acadêmica Ciência e Artes” n° 3685 (GOB-SC), que estabelece:

O objetivo dessas Lojas (Universitárias e Acadêmicas) é o de iniciar em seus quadros jovens universitários que possam, com sua força e vigor, além de aprender os postulados da Maçonaria, pô-los em prática com maior empenho e o mais cedo possível, unindo disposição, determinação e atributos dos jovens. Quando se aprende mais cedo, coloca-se em prática mais cedo esse aprendizado.

O sitio eletrônico da Loja, ainda, complementa que “não dispensamos, com isso, a iniciação de homens mais maduros, mas sabemos conscientemente, que é mais difícil tornar a teoria

A LojaMaçônica

UniversitáriaSemelhanças e Diferenças Perante as Lojas Tradicionais

Lucas Francisco Galdeano

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uma prática com o passar do tempo. Quanto aos mais jovens e elucidados, intelectualmente falando, fica muito mais fácil este processo de assimilar determinada filosofia e pôr em prática esses ensinamentos”.

Fica evidente, para a referida Loja, que o maçom universitário trará benefícios à mesma e à doutrina maçônica, reunindo condições de buscar um conhecimento, metodologicamente, mais aprofundado e com a vertente científica necessária para a consolidação do ensino maçônico.

Ademais, as Lojas Acadêmicas/Universitárias buscam a adequação das atividades, em Loja, com a vida acadêmica do iniciado. Dessa forma, buscam reunir-se em condições de hora, local e frequência que possibilitem a conciliação das atividades da Ordem Maçônicas com as de estudante ou professor.

Também, por esse motivo, não raro ocorre a iniciação de jovens a partir dos 18 anos, idade onde normalmente se iniciam os estudos universitários. Nas demais Lojas, a iniciação normalmente ocorre, apenas, após os 21 anos, em razão da possibilidade de ingresso nas instituições paramaçônicas (Ação Paramaçônica Juvenil – APJ e Ordem DeMolay), que são mais apropriadas para um candidato nessa idade.

Segundo Maia (2004), os principais argumentos para a difusão das Lojas Universitárias são: a necessidade de se reduzir a faixa etária média dos maçons; a implantação e a instituição da Ação Paramaçônica Juvenil e da Ordem DeMolay criaram ambientes favoráveis à Maçonaria por parte dos jovens, com um excedente de candidatos oriundos dessas entidades, que atendem os moços até os 21 anos; de outra parte, também, o fenômeno da informatização, na última década, que aguçou a curiosidade, principalmente, dos jovens sobre

a Maçonaria, especialmente dos acadêmicos; a abertura gradual que vem sendo feita pela Maçonaria, principalmente pela Maçonaria Inglesa, considerada como aquela que deu origem a todas as Obediências regulares de todo o mundo e que abre seus Templos à sociedade, com eventos culturais e a divulgação de campanhas de toda sorte.

Somando-se a estes argumentos e analisando a minha a experiência como Venerável Mestre da Loja Maçônica “Universitária Verdade e Evolução” n° 3.492, na cidade de Brasília, pude observar que os jovens maçons apresentam-se comprometidos e motivados, ao passo que o maçom da Loja poderá participar da administração da Oficina e assumir cargos, inclusive o de Venerável, com uma idade inferior a 30 anos, o que prepara o maçom para maiores desafios.

O Tempo de Estudos, uma das atividades comuns a uma Sessão Maçônica, é, sempre, pautado por temas maçônicos que são cotidianos à vida universitária, motivando o maçom a estudar e a se preparar, cada vez mais, para sua trajetória dentro da Maçonaria. A idade que para alguns maçons é vista como empecilho para crescimento do maçom é, atualmente, vista por mim, nesses mais de oito anos em Loja Universitária, como um ponto importante e motivador para a busca dos conhecimentos e, sobretudo, para o preenchimento de várias lacunas sobre aspectos simbólicos, filosóficos e históricos que envolvem a Maçonaria.

Sendo uma Loja Maçônica igual à outra qualquer, os Irmãos podem ser convidados para a fundação de uma Loja desse tipo, mesmo se ligados à área acadêmica ou não. Da mesma forma, os candidatos não terão que ser única e exclusivamente oriundos de Instituições de Ensino Superior para compor os seus quadros.