Aaliançaentre imobiliárioeturismo - Cofina...

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Publicidade Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n. o 3369, de 3 de Novembro de 2016, e não pode ser vendido separadamente. A aliança entre imobiliário e turismo Entrevista a Gonzalo Bernardos “Portugal devia estender uma passadeira vermelha aos investidores” “Porto é melhor oportunidade do que Lisboa” Fugir à monocultura do turismo em Lisboa O equilíbrio entre turistas e habitantes A “tragédia” das alterações fiscais Inês Gomes Lourenço

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Este suplemento faz parte integrante do Jornal de Negócios n.o 3369,de 3 de Novembro de 2016, e não pode ser vendido separadamente.

A aliança entreimobiliário e turismo

Entrevista a Gonzalo Bernardos“Portugal devia estender umapassadeira vermelha aos investidores”

“Porto é melhoroportunidade do que Lisboa”

Fugir à monocultura do turismo em LisboaO equilíbrio entre turistas e habitantesA “tragédia” das alterações fiscais

Inês Gomes Lourenço

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s trabalhos da segun-daediçãodoObserva-tório: O Imobiliárioem Portugal começa-

ramcomumconfronto: “Turismoversus Habitantes locais”. Comose gere estaquestão?

“Aspessoastêmdevivernasci-dades. Temos de conservaracida-de boaparaos seus habitantes. Sóassim é também uma cidade boaparao turismo”, começou por po-sicionar Cristina Siza Vieira, pre-sidenteexecutivadaAssociaçãodaHotelariade Portugal (AHP).

OdebateacabouporsecentraremLisboa. A18 de Outubro no Pa-lácio Foz, também a autarquia e oalojamento localforamchamadosadar o seu contributo.

Lisboacontacom“quatro sec-tores essenciais” na sua estraté-gia”, começou o vereador para oUrbanismo na autarquia da capi-tal, Manuel Salgado.

“Para nós é um erro apostar-mos namonoculturado turismo”,lembrou.Quaissãoosoutrostrês?Imobiliário, serviços de apoios aempresas e empreendedorismo.

Por isso mesmo, o WebSummitláacabouporviràbaila.Éque um dos maiores eventos deinovação do mundo estreia-se emNovembro nacapital portuguesa.

“Se o Web Summit tiver o su-cessoqueesperamos,quenosper-mita aumentar a comunidade deempreendedores estrangeiros fi-xados em Lisboa, eles vão ter deencontraralgumlugarparaviver”,exemplificou.

E,comessanecessidade,resol-vem-se outros problemas. Porexemplo, comaocupação de Alfa-ma,ondepredominamhabitaçõescom menos de 60 metros quadra-dos,quenãoestãopreparadasparareceber famílias.

Manuel Salgado também nãodeixa de fora um cenário de con-versão das casas destinadas a alo-jar turistas. “A grande vantagemdo alojamento local é que recupe-raimóveis.Hojesãoturistas,ama-nhãpodem serresidentes perma-nentes”, argumenta.

O alojamento local, represen-tado por Eduardo Miranda, mos-trou disponibilidade para essa al-teração.OpresidentedaALEPnãodeixou de falar dos conflitos cria-dos por esta actividade, que acre-ditaseremescassosjuntodapopu-lação.

“O impacto[mediático]émui-to menor que a realidade. Mas se

deixarmos a bolha crescer, ganhaproporções desmedidas”, lamen-tou. Para Eduardo Miranda, o en-volvimento com as comunidadesé umadas chaves paraacabarcomos mitos.

Cristina Siza Vieira aplaude a“estratégia de intervenção” emLisboa, com público e privado atrabalharemnosentidodamelho-ria do espaço público e na reabili-tação de edifícios. Isso, só por si, émotivo para captar mais visitan-tes. Basta acrescentar-lhe umaofertadiversificada.

Lisboa tem de ser cada vezmais uma cidade do mundo. Ma-nuel Salgado recordou que só nafreguesiade Arroios existemmaisde sete mil cidadãos estrangeirosregistados e que outra realidadeemafirmação nacapitalé ados re-sidentes não permanentes.

“Estamos num processo detransformação da cidade de Lis-boa. Este processo de transforma-

ção é imparável e irreversível”,conclui o vereador.

Lisboasegueoritmodecresci-mento da actividade turística emPortugal. De Janeiro a Agosto, aárea metropolitana de Lisboa re-cebeu 3,8 milhões de hóspedes e8,8 milhões de dormidas, subidasnaordem dos 7%.

Nos primeiros oito meses de2016, o sector registou proveitosde 566 milhões de euros nesta re-gião, mais 11% que em termos ho-mólogos. A taxa de ocupação fi-xou-se nos 72,2%, comumarecei-ta por quarto superior a 58 euros.Os números são do Instituto Na-cional de Estatística (INE).

Também os turistas a entrarem Portugal através do aeroportoHumberto Delgado estáaaumen-tarquase 9%. De Janeiro aAgosto,foram7,4milhõesaescolheraque-lainfra-estrutura, mostramos da-dos daANA Aeroportos.�

Lisboa não quer depender apenas doturismo puro e duro para se desenvolvere crescer. Na capital, há quatro pilares.Para que a fórmula seja de sucesso, todosdevem estar em ligação constante.

WILSON [email protected]

O

O equilíbrioestá na fugaà “monoculturado turismo”

NEGÓCIOS INICIATIVAS O imobiliário em Portugal

A grande vantagemdo alojamento localé que recuperaimóveis. Hoje sãoturistas, amanhãpodem ser residentespermanentes.

MANUEL SALGADOVereador para o Urbanismoda Câmara Municipal de Lisboa

As pessoas têm deviver nas cidades.Temos de conservara cidade boa paraos seus habitantes.Só assim é tambémuma cidade boapara o turismo.

CRISTINA SIZA VIEIRAPresidente da Associação daHotelaria de Portugal (AHP)

“O primeiro painel discutiu o impacto do crescimento do turismo nas cidades e as

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O que Lisboa está a fazer paraatenuar a pressão do turismoAscríticastêm-seacumuladocomoacentuardaprocuraturísticanosúltimos anos: “háturistas amais”,“os hotéis nascem como cogume-los”,“jánãoqueremsaberdequemcávive”.

ACâmaraMunicipaldeLisboaquercontrariareatenuarestespe-quenosfocosdeconflitoemostrarque se preocupa com um balançoentre os turistas e os locais.

Porisso mesmo vaiavançar, jáem 2017, com um programa desete mil casas a preços acessíveisnacidade, contrariando apressãosentida na subida do preço da ha-bitação - emparte devido ao turis-mo.

Avontadeestende-seumpou-

co por toda a cidade, com áreascomo Martim Moniz, que recebe-rá 240 novas habitações, Lumiarou Praçade Espanhaabeneficiar.

Outro dos projectos visa faci-litar a vida a quem chega enquan-to permite, emsimultâneo, aliviaro número de veículos a circularnos bairros históricos.

Em estudo está a criação deum “hub” do transporte turísticona Praça do Martim Moniz, jun-tandoaíváriasopções,comoauto-carros e tuktuks.

Manuel Salgado, vereador doUrbanismo em Lisboa, explicouque esta é uma forma para “ate-nuaros conflitos [gerados pelo tu-rismo] e melhorar a qualidade de

vida” em Lisboa. Um dos casos aevitarsão os autocarros turísticosque seguem paraaSé.

A escolha do Martim Monizparainstalareste “hub” temaindaem conta a instalação prevista deumasescadasrolantesentreaque-lapraçae acolinadaSé e do Caste-lo.

As freguesias de Santa MariaMaioreMisericódiaacabaramporsurgirnaconversaparaprovarqueseassistiaaumfenómenodeesva-ziamento da população e, conse-quentemente, dareabilitação noscentros das cidades.

Em resumo: não são agora osturistas a expulsar residentes dasáreasmaishistóricas.Pelocontrá-

rio:oinvestimentonareabilitaçãoestáatrazer mais vidae pessoas.

“Estamos a assistir ao preen-chimento do vazio que havia nocentro dacidade. É errado, nami-nha opinião colocar tudo nomemso saco do turismo”, afirmouManuelSalgado, durante asegun-daediçãodoObservatório: O Imo-biliário em Portugal, onde se dis-cutiaestadinâmicaentre turismoe avidalocal.

O responsável recordou que,nosúltimoscincoanos,osectordahotelaria gerou um investimentototal de 126 milhões de euros emLisboa, a que se juntam outros 27milhões do alojamento local.�

WILSON LEDO

Há muitopara ver.“Isto não é aDisneyland”

Paraqueminvesteemhotelaria,nãoé o preço mas a rentabilidade quemais pesa na hora de avaliar novosinvestimentos, diz Cristina SizaVieira.ApresidenteexecutivadaAs-sociação da Hotelaria de Portugal(AHP) sente que este tipo de inves-timento não estáaabrandar, devidoà subida de preços dos imóveis naszonas turísticas.

“Lisboa está mais preparadaparao turismo. Estácáatrave-mes-trado que é o investimento”, posici-nou durante o segundo Observató-rio: O Imobiliário em Portugal.

A representante dos hoteleirosacredita que “há uma filosofia, umaestratégia de intervenção” no querespeitaàcapitalportuguesa, comotratamento do espaço público e areabilitaçãodoedificado,numapar-ceriaentre entidades públicas e pri-vadas.

“Os turistas não vêm ver turis-tas. Isto não é a Disneyland”, afir-mou perante a oferta de Lisboa. Avida local continua a ser um dosatractivos para quem visita e nãopode ser esquecida. “O equilíbrioque estamos atentarencontrarnãoé artificial”, acrescentou.

Esforço que também tem sidofeito asul, nomeadamente emFaro.“Temos colocado a nossa cidademais confortável e acessível. Issotem trazido mais turistas para a ci-dade”,referiuoautarcadaquelecon-celho algarvio, Rogério Bacalhau.

Só por via aérea, através do Ae-roporto de Faro, deverão chegar7,5milhões de passageiros este ano. Oconcelho conta com pouco mais detrês mil camas.

Rogério Bacalhau reconheceque Faro “tem ainda uma carênciagrande de unidades hoteleiras” edeixa o apelo a este tipo de investi-mentos.Recentemente,asuaautar-quiaaprovouumnovo hotelde qua-tro estrelas.

Umadas apostas paracaptartu-ristas e atenuar a sazonalidade estárelacionadacomos eventos, como oFestival do Marisco.� WL

soluções para chegar a um equilíbrio na relação com os hatitantes.

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onzaloBernardosDomín-gueztemumaideiafixa:oscentros das cidades vão

converter-se numa“grande atrac-ção” paraturistas. As zonas ribeiri-nhasoudemar,porexemplo,nãosepodem esquecerdestadinâmica. Apartirdocentroturísticotodaares-tantevidaseorganiza.Pormuitoqueissocuste.Nãofazê-loseria“rejeitaroprogresso”.

Aideiade que existiráum cen-tro das cidades destinado ape-nas aturistas aplica-se atodasas cidades?É uma situação praticamente

irreversível em todas as cidadescomumencanto especial, sejana-tural ou artificial. Neste últimocaso, o charme seria construídopelas autoridades e empresas dacidade, como resultado de umpla-no detalhado. Nas próximas duasdécadas, é certo que o fluxo de tu-ristas aumentará consideravel-mente.

Porquê?Porduas razões: aredução dos

custos de transportes e abuscadenovosexperiênciasnascidadesvi-

sitadas. Não vai ser só ver monu-mentos mas desfrutardo ambien-te, das festas, das compras, dos es-pectáculos e cultura que disponi-bilizaacidade. Ataxade repetiçãode viagens para as cidades vai au-mentarmuitomais.Nestecontex-to, os centros históricos das cida-des continuam a ser a área maisdesejadaparavisitar.Porissomes-mo,nelesenosseusarredores,ha-verá cada vez mais hotéis, restau-rantes, bares ou salas de espectá-culos dedicados aos turistas. O tu-rismo irá desempenhar um papelcada vez mais importante no PIBda cidade. Aquelas que o limitemvão desistir de uma importantefonte de emprego e riqueza.

Que potencial vê em Lisboa eno Porto para investimentoimobiliário?Nasúltimasduasdécadas,qua-

se todos os centros históricos dascidades europeias foram comple-tamente reabilitados. Mesmo nospaíses da Europa de Leste como aLetónia, Lituânia e Estónia. Por-tugal não tem sido excepção. Paraaqueles que querem comprar nocentro histórico de umacidade, asduas primeiras cidades de Portu-galsãoumamagníficaoportunida-de. Pelo preço, bastante mais oPorto que Lisboa.

Como se dará o investimento?Oinvestimentoimobiliáriovai

bem quando se reúne alguma outodas as seguintes circunstâncias:háumelevadocrescimentodoPIB,umagrande criação de emprego, ataxadejurosémuitobaixoeaban-ca financia aos compradores umaparte elevada do preço do imóvel.Portugalviolatrêsdasquatrocon-dições. Por isso, não se espera umgrandeaumentonospreçosdasca-sas nos próximos anos. Pelo con-trário, em Espanha reúnem-sequatro.Aminhaexpectativaacur-toprazoparaomeupaísédequeospreçoseastransacçõesaumentemde formaacentuada.

A compra de edifícios por in-vestidores estrangeiros podelevarà perda de identidade deuma cidade?Os decisores políticos deviam

colocarumapassadeiravermelhaaos investidores estrangeiros quevêm comprar edifícios em Portu-gal.Elesajudammuitoamelhoraracondiçãodemuitosedifíciosbemcolocados, em ruínas, e a dotá-losdemais“glamour”,aspectoquetu-risticamente também resulta deforma interessante. Contudo, os

Portugal está a posicionar-se no investimentoestrangeiro em imobiliário. Contudo, esse destaquepode ir ainda mais além. É preciso mais qualidadee organização nas cidades, diz o especialista.

GONZALO BERNARDOS PROFESSSOR

“Portugal deviacolocar umapassadeiravermelha aosinvestidores”

“As duas primeiras cidades dePortugal são uma magníficaoportunidade para investir. ”

“O problema não é oinvestimento estrangeiromas algumas autoridadeslocais que estão a fazerum mau trabalho.”

“As cidades que limitemo turismo vão desistirde uma importante fontede emprego e riqueza.”

NEGÓCIOS INICIATIVAS O imobiliário em Portugal

WILSON [email protected]

GGonzalo Bernardos é professor de Economia na Universidade de Barcelona.

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estrangeiros não devem fazer oque querem, mas cumprir asnormas definidas pelas autori-dadeslocais.Seestassãoadequa-das para preservar a identidadeda cidade, esta apenas tem a ga-nhar. O problema não é o inves-timento estrangeiro mas algu-masautoridadeslocaisqueestãoafazerummautrabalho, permi-tindo que os estrangeiros obte-nhammais valias semdarquasenadaparaacidade.

Que sugestões deixa paraum maior equilíbrio entre oturismo e os habitantes?Primeiro,apostarnumturis-

mo de qualidade. Paraisso, é es-sencialterumaofertade hotela-ria de primeira categoria, com-postaprincipalmente porhotéisdequatroecincoestrelas.Emse-gundolugar,realizarcampanhasentre os cidadãos sobre os bene-fícios económicos que o turismotraz. Em terceiro lugar, ter polí-ticosmaisresponsáveis,quenãopromovamoconfrontoentretu-ristas e cidadãos só para teremvotos emdeterminados bairros.

O confronto pode matar a gali-nhados ovos de ouro, o turismo.E, se isso acontecer, terão muitoparase arrepender.

Pode concretizar?La Barceloneta é um bairro

de Barcelona, habitado há 50anos por trabalhadores e pesca-dores. O seugraude segurançaànoite podia ser melhorado e oconforto das casas era escasso.Nos últimos 25 anos, tem assis-tido a uma grande transforma-çãourbana.Asruastornaram-semais amplas, criaram-se novaspraçaseretiraram-setodasasfá-bricas e edifícios que impediamum acesso rápido à praia. Agoraé um bairro completamente se-guro, com muitas atracções tu-rísticas, acinco minutos do cen-trodacidadeeumaqualidadedevida espectacular. O resultadotem sido um aumento no preçodahabitação e aexpulsão dos fi-lhos dos trabalhadores e pesca-dores. A solução era não fazernada para que estes pudessemcontinuar a viver ali? Isso seriarejeitar o progresso.�

Inês Gomes Lourenço

Umacadémicono imobiliário

PERFIL

Doutorado em Economia pelaUniversidade de Barcelona em1994, é nesta universidade quese continua a desenvolvero tra-balho de Gonzalo BernardosDomínguez. O académico lec-ciona também em Valência eBilbao. Na Universidade de Bar-celona fundou a Graduação emEstudos Imobiliário e de Cons-trução. É presença assídua nacomunicação social espanhola,na televisão, rádio e jornais. Jápublicou quase três dezenas delivros, muitos dedicados àques-tão imobiliária: há publicaçõescom conselhos de investimen-to no sector, seja para casa pró-priaou com umavisão mais ins-titucional. Gonzalo Bernardosrealizou mais de 300 conferên-cias. Nasceu em Novembro de1962 em Barcelona, cidade queutiliza frequentemente comoreferência para as suas pales-tras sobre imobiliário. É críticodas medidas da esquerda polí-tica adoptadas naquela cidade.

Na segunda edição do Observatório: O Imobiliário em Portugal, o especialistaespanhol em imobiliário deixou dicas para quem quer investir no sector.Madrid e Barcelona são os exemplos para retirar conclusões mais amplas.

Os conselhosde Gonzalo Bernardospara investir

BarcelonaeMadrid.GonzaloBer-nardos Domínguez serve-se des-tas duas cidades do seu país paratraçarcenários mais gerais e que,de certa forma, acabam por seadaptarao contexto português.

O que se passa então em Ma-drid e Barcelona? Dois fenóme-nos: “os estrangeiros e os ricosque não sabem o que fazercom oseudinheiro”.Équeestascidadesespanholas, comparando comLondres, Paris ouRoma, têmumpreço barato. “E os investidoresdeixam-se levar pelaemoção”.

“Se tens algo no centro da ci-dade é tempo de vender. Porquehá pouca margem para o merca-dosedesenvolverdaquiemdian-te”, alerta o professor de Econo-miadaUniversidade de Barcelo-na-cidadequerecebemaisturis-tasquetodooBrasil,oitomilhõespor ano, e exemplo frequente depressão turísticae imobiliária.

Se fosse investidor, a sua ga-rantiaé de que “não colocariaumeuro em Barcelona ou Madrid”.Nesta altura, está bom para ven-der e não para comprar, o retor-no futuro não pode irmuito maislonge nestas localizações. Ondeestáentão esse potencial?

“A oportunidade está agoranos terrenos. Há imensa genteque não estáaver essaoportuni-dade de tão centradaque estáemMadrid e Barcelona, que é ondesobemospreços”.Hámargensderetorno maiores em outras cida-descomoValência,BilbaoouMá-laga.Atéporqueestespontosnãotendem,nestafase,adespertarosradares do investimento. Aideiaé ver o potencial e apostar antesque os outros dêem conta.

Foramos conselhos que o es-pecialista em imobiliário deixou

nasegundaedição do Observató-rio: O Imobiliário em Portugal.Olhando para o mercado nacio-nal, considera o Porto uma loca-lizaçãomaisinteressanteparain-vestir do que Lisboa. E é o preçoaditar apreferência.

Numaalturaemque afiscali-dadesobreosectorimobiliáriosediscute - comapropostaparaumnovoimpostosobreopatrimónioacimados 600 mileuros previstano Orçamento do Estado para2017 - Gonzalo Bernardos Do-mínguez defende que alteraçõesconstantes a esse quadro só dei-xamos investidores estrangeirosmais desconfiados quanto à suavontade de avançar.

Antes de encontradaumaso-lução governativaemEspanha, oacadémicolembrava:“NãotemosGovernoeéumamaravilha.Qualé o segredo? O segredo está emnão fazernada”. Lógicaque tam-bémsepoderiaaplicaremPortu-gal, compara.

Emterritórioluso,oespanholgostaria de ver em marcha “umprojecto”paraoordenamentotu-rístico e imobiliário das cidades,embora acredite que dificilmen-te aqui se assistirá a um “boom”capazdequestionarasustentabi-lidade destas actividades comoem Barcelona. “Vamos vercomose porta o novo Governo portu-guês”, conclui, deixando o mote.

Gonzalo Bernardos Domín-guez é defensor daideiados cen-tros das cidades convertidosnuma“grandeatracçãoturística”perante as novas dinâmicas dosector. EmLisboa, azonaribeiri-nhapoderiafuncionarcomopon-to de partida para toda esse pro-cessodereorganizaçãodacidade,sugere.�WL

3.667BARCELONAO preço médio devenda em Barcelonano terceiro trimestrede 2016 foi de 3.667euros por metroquadrado.

2.945LISBOAO preço médio devenda em Lisboa noterceiro trimestre de2016 foi de 2.945euros por metroquadrado. São menos722 euros queBarcelona.

3,8%BARCELONAO preço de venda emBarcelona subiu 3,8%em relação aotrimestre anterior.

8,4%LISBOAO preço de venda emLisboa subiu 8,4% emrelação ao trimestreanterior. Todos osdados são do portalimobiliário Idealista.

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ão foi preciso muito tem-po para que o problemafosse colocado em cima

damesa.Opaineldasegundaediçãodo Observatório: O Imobiliário emPortugaldiscutia“ARecuperaçãodoMercado Imobiliário”. Até que pon-toelaestáemriscocomumnovoim-posto?

Emcausaestáaintenção do Go-verno emtaxaro património imobi-liário acima dos 600 mil euros comum IMI adicional. A proposta fazparte do Orçamento do Estado para2017 e estáadeixaro sectordo imo-biliário àbeirade umataque de ner-vos.

Mais do que pelo imposto em si,pela mensagem que ele transmitealém-fronteiras.“Quesinaléquees-tamos a dar aos estrangeiros? Sem-pre ouvi dizer: sem palhaço não sefaz afesta”, afirmou Luís Lima.

O presidente da APEMIP, querepresenta as agências imobiliáriasnacionais, lamentaque o sectornãotenha sido ouvido pelo Governo deAntónio Costa antes de ter avança-do com este novo imposto. “Nãoacreditoqueváemfrente.Istoéumatragédiaparanós. Até parao comér-cio e serviços”, realçou.

A perspectiva é que o investi-mento estrangeiro em imobiliário

português - umsector“que é aárvo-re das patacas” - atinjaafasquiadosquatro mil milhões de euros esteano, com os estrangeiros aprotago-nizar umaem quatro operações.

Até ao momento, Luís Lima dizque o impacto ainda não se faz sen-tir. Até porque só se estão a assinarnegócios que já têm três ou quatromeses, anteriores à nova medida.“Nos negócios de maior valor está aafectar,oquenãoquerdizerquenãose façam”, dizLuís Lima. Os agentese consultores imobiliários ouvidospelo Negócios ao longo das últimassemanas confirmam o cenário.

Todos estão preocupados comocenário de instabilidade fiscal, con-siderando-o uma “tragédia” numsector que vive assente na confian-ça dos investidores e na estabilida-de das condições de negócio.

Luís Lima recorda a injustiça do

novoimpostonumpaísmarcadoporassimetrias: “Lisboa e Porto é umacoisa.Orestodopaísnãoébemassim.E vai-se criarumnovo imposto?”.

Jorge Figueiredo, sócio da Pri-cewaterhouseCoopers (PwC), acre-dita que o novo imposto pode adiara decisão de investir. Contudo, nãoafectaráo fecho de negócios. “Tudoo que é discutido aqui, sabe-se láfora. Os estrangeiros só não sabemse estiverem muito distraídos”, avi-sou.

O novo imposto acaba por serumsinal contraditório numaalturaem que a própria banca começa amostrarmaiordisponibilidade paraocrédito,emborasemosníveisaquese assistiu no passado, acabou porser destacado. “Não se vai fazer namesmadimensão,escalaevelocida-de que se fez no passado, em que seacreditou num retorno demasiadorápido dos investimentos”, posici-nouManuel PuertadaCosta, admi-nistrador do BPI Gestão de Activosduranteostrabalhosdaconferênciarealizadaa18 de Outubro.

Mas o imobiliário não foi o úni-co a apontar o dedo ao Governo nahoradediscutiraumentosdeimpos-tos no Orçamento do Estado para2017. Neste caso, o documento pre-vê quemprestaactividades de aloja-mento aturistas passe apagarIRS eIRCsobre35%dasvendas,contraos15% actuais.

Mais do que o aumento do im-posto, “o que mais ressente o mer-cado é não entender as motivaçõese qual pode ser a evolução futura”,posicionou o líder daALEP. Eduar-doMirandalembrouqueosectordoturismoéuma“redemuitofina”quepode ser quebrada com qualquerinstabilidade, como a fiscal. “Comoum todo, temos de agir estrategica-mente”, afirmou.

O sectordo imobiliário, até por-que tem fortes ligações com o turis-mo, concorda. As alterações fiscaispensadas a “curto prazo” podemmancharareputaçãodeumpaísquese vinhaafirmando, mais do que pe-los seus preços, pela sua estabilida-deegarantias.Maisdoqueumasim-ples “tragédia”, é uma “tragédia au-têntica”, resume Luís Lima.�

WILSON LEDO

Mais ou menos impostos?A “tragédia” já é mudar

O receio é de que a rede fina da confiança possarasgar. Com ela, negócios perdidos. A instabilidadefiscal não agrada ao imobiliário nem ao alojamentolocal. Até porque os estrangeiros estão bem atentos.

NEGÓCIOS INICIATIVAS O imobiliário em Portugal

N

O novo imposto sobre o imobiliário esteve em destaque no painel que discutia a recuperação deste mercado.

600PATRIMÓNIOUm novo imposto incidirásobre o patrimónioimobiliário acima dos600 mil euros.

Inês Gomes Lourenço

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Ricardo Sousa, durante a segundaediçãodoObservatório: O Imobiliá-rioemPortugal,apelouaumaestra-tégiaintegradaparaosectordoimo-biliário.Paraqueseconsigatambémum maiorequilíbrio entre averten-te habitacional e turística, o direc-tor-geral da Century 21 Portugalpede mais transparência da infor-mação.

A procura nacional para a com-pra de casa e arrendamento está aaumentar, com a maioria das tran-sacções a verificar-se nas periferiasdas cidades. Aí, o preço é mais aces-sível à maioria das bolsas das famí-lias portuguesas. “Tem de haver al-guma prudência nas políticas, paraque se proteja o mercado domésti-co, que é o motor da economia”, re-cordou naaltura.

Até porque a pressão turística,sentidasobretudo emLisboa, estáalevar à subida constante dos preçosdas habitações nos centros das cida-des. Ricardo Sousa apela à promo-çãodeconstruçãonova.Aautarquiada capital, liderada por FernandoMedina, responde com um plano:existirão sete mil novas casas na ci-dade apreços acessíveis. As primei-raschavescomeçamaserentreguesem 2017.

Manuel Salgado, vereador parao Urbanismo daCâmaraMunicipalde Lisboa, confirmou que a primei-rafasearrancaránazonadoMartimMoniz, com240 habitações ao abri-go deste programa.

Como está a Century 21 a evo-luir até ao momento?Arede Century21 Portugal está

a crescer cerca de 32% este ano e aregistar uma evolução bastante po-sitivaao longo dos últimos anos.

Apelou a uma estratégia para osector imobiliário. Quais devemser os pilares da mesma?Considero que os pilares funda-

mentais para assegurar o acesso àsnecessidades de habitação dos por-

tugueses são a reabilitação urbana,o arrendamento habitacional e aqualificação dos alojamentos talcomo previsto pelo IHRU [Institu-to da Habitação e da ReabilitaçãoUrbana]. Contudo, é necessário quesejacriadoumequilíbrioentreases-tratégias de captação de investido-res e turistas, parao mercado de ar-rendamento de curta duração, e aspolíticas de habitação, desenvolvi-mento social e protecção do ADNdas cidades nacionais.

Acredita que em Portugal já seassistem a fenómenos de pressãoimobiliária provocadas pelo turis-mo ou as manifestações de descon-tentamento são exageradas?

Possodizer,comamaiorconvic-ção, que Portugal tem um mercadoimobiliário extremamente equili-brado. Contudo, em algumas áreasde Lisboaexiste umamaiorpressãoimobiliáriaprovocadaporumatran-

sição de edifícios residenciais parafins turísticos e também por umaforte procurainternacionalde imó-veis residenciais.

Há uma colocação dos interes-ses dos clientes portugueses em se-gundo plano perante a maior pro-cura estrangeira?

Na Century 21 Portugal senti-mos a necessidade de se criaremmais soluções de habitação para osegmento médio e médio/baixo dapopulação, tendo em contaaevolu-çãodaprocuranacionalqueestamosaregistar.

Acredita que as regras para oalojamento local deviam ser maisrígidas, com um limite para licen-ciamento?

Consideroqueéimportantequeexistamcritériosbemdefinidosparauma evolução sustentada do aloja-mento local nacidade.�

O director-geral da Century 21 em Portugal defendeque é preciso equilibrar investimento, turismo e avida dos locais. Ricardo Sousa pede soluções. Lisboaresponde-lhe com um plano de habitação acessível.

Inês Gomes Lourenço

RICARDO SOUSA DIRECTOR-GERAL DA CENTURY 21

“Há necessidade de se criaremmais soluções de habitação”

“Portugal tem um mercadoextremamente equilibrado.Em algumas áreas de Lisboaexiste uma maior pressão.”

LUÍS LIMAPresidente da APEMIP

Lisboa e Porto éuma coisa. O restodo país não é bemassim. E vai-se criarum novo impostosobre o imobiliário?Não acredito que vápara a frente. Isto éuma tragédia paranós. Até para ocomércio e serviços.

MANUEL PUERTADA COSTAAdministrador do BPI Gestãode Activos

O crédito bancárionão se vai fazer nadimensão, escala evelocidade que sefez no passado, emque se acreditounum retornodemasiado rápidodos investimentos.

JORGE FIGUEIREDOSócio da PwC

Tudo o queé discutidoaqui, sabe-selá fora.Os estrangeirossó não sabemse estiveremmuitodistraídos.

EDUARDOMIRANDAPresidente da ALEP

Sobre o agravamentodo imposto sobreo alojamento local,o que mais ressenteo mercado é nãoentender asmotivações equal pode ser aevolução futura.

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EMPRESAS|

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NEGÓCIOS EM ANTENA

Horários das intervenções do Negócios na Antena 1: 8h45m, 12h15m e 16h45m

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FÁTIMA BARROSPresidente da Anacom

Um dos impactospositivos desta lei foisem dúvida a reduçãodos custos da rescisãode contrato.Acabaram-se asrefidelizaçõesencapotadas.

BREVES

AVIAÇÃOLUFTHANSA TEM NOVODIRECTOR EM PORTUGALALufthansatemumnovodirectorem Portugal. Patrick Hedley foi oescolhidoparalideraraáreadeven-das e actividades de marketing damaior unidade de negócio do gru-po alemão, a Lufthansa PassageAirlines, no país. Aos 41 anos subs-titui,apartirde1deNovembro,Mi-chael Hutzelmann. A29 de Outu-bro,aLufthansaregressouàMadei-ra, com umaligação aFrankfurt.�

DESPORTOCHINESES INTERESSADOSNO SOUTHAMPTONO Southampton poderáser o maisrecente alvo de um grupo chinês.SegundofontescitadaspelaBloom-berg, o grupo LanderSports Deve-lopment, cujaprincipal actividaderecainosectorimobiliário,estáemconversaçõescomKhatarinaLieb-herr, a cidadã suíça dona doSouthampton, para a aquisição doclube do sul de Inglaterra onde jo-gamosinternacionaisportuguesesJosé Fonte e Cédric Soares. O ne-gócio poderá ser fechado por 200milhões de libras (222 milhões deeuros),adiantaramasmesmasfon-tes.�

AUTOMÓVELVENDAS DE AUTOMÓVEISDESACELERAMEM OUTUBROAs vendas automóveis subiram6,9%emOutubro,quandocompa-radas com o mesmo mês de 2015,para as 18.121 viaturas. Contudo, ovalor mantém-se abaixo da médiadosprimeiros10mesesdoano,pe-ríodoemquehouveumasubidade14,3%.DeJaneiroaOutubroforamvendidos205.203veículos.“Esteéjá o sétimo mês em que o númerodeveículosvendidosemPortugaléinferior à média anual”, lembra aassociaçãoautomóvelestaquarta-feira, 2 de Novembro.�

AVIAÇÃOTRANSAVIA AUMENTAVOOS EM PORTUGALATransavia,companhia“lowcost”do grupo Air France KLM, anun-ciouestaquarta-feira,2deNovem-bro, um aumento do número devoos e de lugares disponíveis esteInverno. Aempresa sublinha que,em termos homólogos, há um re-forçode39%donúmerodevoosdeeparaPortugal,de1.468para2.037– mais 569. Também há um refor-ço no número de lugares disponí-veis.�

Empresasjá receberam330 milhõesde fundos

Os pagamentos de apoios comunitários feitos às empresasem 2016 jáatingiram 330 milhões de euros, quando em De-zembro de 2015 apenas tinham sido pagos quatro milhões.O número foi avançado porJoão Vasconcelos, secretário deEstado da Indústria, no encerramento da sessão da manhãda Conferência Beyond Portugal Digital Acceleration.

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