A voz por detrás do espelho · 2012-02-06 · mais de vinte anos, digo na família, porque depois...
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A voz por detrás do espelho
Lucas de Arcanjo
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Prólogo
E novamente eu insisto, muitos querem saber
os segredos da magia, mas o que deveriam saber
antes é a diferença entre o mago e o bruxo. Esta
diferença reside na sabedoria ao usar o poder, pois
todo poder traz uma responsabilidade e só
conhecemos um homem quando damos poder a ele.
È necessário pureza de pensamentos para que
a magia se torne benéfica, pois quaisquer resquícios
de rancor podem transformá-la em magia negra ou
bruxaria. Rituais mágicos da ordem secreta dos
iluminattis, são usados tanto para o bem quanto
para o mal, desde tempos imemoriais. Alguns
símbolos são usados, ainda hoje pela cabala
hebraica.
Na noite de minha iniciação na maçonaria,
estava sendo esperado pelo meu mestre, o Abade
A.C.J. Que me convidara, dentre os outros iniciantes,
que ali estavam para um breve passeio. Entramos
em seu carro e nos dirigimos a uma enorme casa em
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um dos bairros mais nobres e tradicionais de Belo
Horizonte, lá A.C.J. apresentou-me a um “Grupo de
Outros Maçons”, que permaneceram sentados em
uma enorme mesa redonda, todos de capuzes
negros sobre suas cabeças. Convidado a me sentar,
recebi dois envelopes negros, num deles estava
escrito três palavras secretas, no outro, instruções...
Logo em seguida fui apresentado à ordem dos
“Magus” ou “Iluminattis”, assim fui iniciado como
“Magus Minor” ou “Illuminatus dirigens”, uma longa
jornada de aprendizado foi iniciada a caminho da luz
e as origens daquela ordem me foram reveladas... “A
ordem dos Iluminatis Bávaros”...
O livro da morte de Astragão da Baviera é um
livro mítico, que dizem vir de um profeta e mago das
estepes russas, cujos rituais de morte eram muito
usados antes das batalhas pelos Bárbaros Vikings e
Bretões. Os rituais se estendem à sacrifícios e
ressuscitações.
O ritual de ressuscitação a que esta história se
remete nos traz o poder da magia em seu efeito
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atemporal. A ressucitação de Nefertiti e a maldição a
ela relacionada podem ser devastadores por várias
gerações. Poucos, mas muito poucos conhecem ou
já ouviram falar neste livro mágico, mas o fato é que
ele existe e já foi manipulado por mim como “Magus
Minor”.
Alguns irmãos já se sucumbiram na tentação
de levar adiante alguns rituais. Certos rituais servem
como meio de iluminação, outros como meio de
sublimação e por fim, aqueles que levam a profunda
escuridão. Aquele que conhece o poder evita possuí-
lo.
Sabemos, porém que os iluminatis também
deram origem à maçonaria cabalística, hoje a
maçonaria dos USA. Alguns livros de magia, ainda
hoje permanecem um mistério para a ciência, entre
eles, a “Septuaginta”, uma obra mítica pelos seus
poderes, mas real para nossa história, o “Códice
Giga”, livro do Demônio e o “Malleus Maleficarum”, o
famoso “Martelo das bruxas”.
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Illuminati, (plural do latim illuminatus,
"aquele que é iluminado"), é o nome dado a diversos
grupos, alguns históricos outros modernos, reais ou
fictícios.
Durante a ditadura militar, até pouco depois
de 1985, os membros brasileiros dos Illuminati
supostamente se organizaram em dois grupos
inimigos e teoricamente independentes dos Illuminati
da Baviera. Estes capítulos isolados passaram ambos
a reivindicar o antigo nome do grupo como sendo os
únicos e verdadeiros Aquisitores. Os teóricos da
conspiração se esforçam para ligar todos os
escândalos políticos que ocorreram no pais desde a
ditadura militar a estes dois grupos e seus jogos de
poder.
Os Aquisitores não são reconhecidos por
nenhum historiador, não existe sequer um trabalho
acadêmico que confirme sua existência. Um exemplo
típico deste tipo de elocubração está na investigação
feita nos anos 90 sobre a morte do presidente
Juscelino Kubitschek ou a investigação iniciada em
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2007 no Rio Grande do Sul sobre a morte de João
Goulart, que oficialmente morreu de doença
cardíaca, mas teria sido assassinado pela Operação
Condor arquitetada pelos Aquisitores. A coincidência
alimenta a curiosidade dos teóricos da conspiração:
Jango, JK e Lacerda, os três grandes nomes da
oposição ao regime militar morreram todos em
espaço de meses entre o fim de 1976 e início de
1977. Mas diante de tantas coicidências, o Leitor
decidirá no que acredita. Cuidado...
Uma Nova Ordem Mundial está para acontecer e
talvez você não faça parte dela. O mundo poderá ser
dos Magos ou dos Bruxos na eterna luta entre o bem
e o mal previstas pelo “Livro da Morte de Astragão
da Baviera- O Mago e Profeta das estepes Russas”.
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dia todo fora de festa. Um
casamento cheio de pequenas
surpresas, numa tarde linda de sol.
Era mês de janeiro e o verão estava em seu ápice. O
calor era de 28 graus, marcava o termômetro na
parede da sala, ao lado do retrato de casamento de
mamãe e papai. No retrato, dava para notar que
papai estava muito preocupado. Um estranho
arranhão estava nítido na face direita de seu rosto.
Mamãe, pelo contrário, parecia estar em êxtase de
felicidade. Seu sorriso simples e singelo evidenciava
seu temperamento sempre despreocupado ou
desinteressado com as peripécias de seu, agora,
esposo oficial. Tio Joviano sempre brincava ao ver
aquele retrato, dizendo que ele tentara fugir da
igreja, mas que mamãe lhe trouxera de volta “à
unha”.
Papai, por várias vezes tentou retirá-lo da
parede, mas mamãe por algum motivo não o
deixava -- o céu estava límpido e as crianças
brincavam no terreiro. Thor, o cão belga de
O
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Alexandre, se divertia pegando a bolinha de tênis
que as crianças atiravam dentro da piscina. A
piscina ficava no centro do quintal, cercada de um
gramado bem aparado e cuidado -- muito bem
cuidado, diga-se de passagem, por Jonas, o
jardineiro fiel de papai, que já estava na família a
mais de vinte anos, digo na família, porque depois
de tanto tempo convivendo nas dependências da
propriedade, cumprimentando e conversando, seria
impossível não ter criado certa intimidade. Mesmo
por que, sempre quando desabrochava um botão de
rosa, ele a podava e a colocava na beirada de minha
janela. Façanha esta, que realizava com o cabo do
limpador de piscina.
Uma triste história acompanhava a vida
daquele jardineiro fiel. Jonas saíra de casa para
conseguir um emprego e cuidar de sua família. Tinha
cinco filhos no sertão do Ceará. Viera para São Paulo
tentar a sorte, onde, por coincidência, trabalhou
como continuo, numa das empresas de papai. Papai
se agradou de sua forte espiritualidade e o trouxera
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para morar em Belo horizonte, lhe pagando um bom
salário. Assim Jonas mantinha o jardim maravilhoso
e a casa protegida dos maus espíritos. Ele fizera para
mim e Alexandre, um pequeno colar como amuleto
de proteção, em couro, coco e ouro, com um
símbolo de uma jovem nua, em estilo egípcio,
segurando um sol sobre sua cabeça.
Era estranho usar aquilo, todos reparavam. Eu
sempre o escondia com uma blusa de gola alta.
Porém com o tempo fui me acostumando e não mais
me importei com a curiosidade das pessoas. Dizia
sempre que era um colar que comprara em uma
feira hippie. Papai nunca nos deixava tirá-los -- já
até me acostumei tanto que, às vezes, esqueço-o no
banheiro, tenho a sensação que estou nua -- a única
vez que vi papai nervoso foi quando Alexandre jogou
fora seu amuleto no caminho de volta da escola.
Papai colocou-o no carro e procurou por toda
à tarde até encontrá-lo. Além da “dura” que levou,
Alexandre ficara uma semana de castigo no quarto.
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Jonas era colombiano, que de alguma
maneira, fora parar no Ceará. Ele contava uma
história meio confusa que nunca consegui entender
bem. Na realidade ele contava várias histórias
confusas. Não sabia se não entendia por causa do
sotaque carregado ou se era por que as histórias não
tinham muito sentido. Porem era uma pessoa muito
amorosa com os animais e comigo. Lembro-me, a
mais ou menos dez anos atrás, acho que no mês de
agosto, um grande alvoroço se formou dentro de
casa. Jonas ficara transtornado. Chorou por horas,
sentado no banco do jardim. Fui até ele e ele me
abraçou forte e continuou chorando.
Fiquei muito comovida, mas era criança, não
me atinei muito bem aos pormenores do sofrimento
daquele homem, naquele momento. Ele perdera sua
família em um acidente de ônibus, quase chegando a
Belo Horizonte -- uma carreta perdera o controle e
se chocara no lugar exato onde toda a sua família
estava sentada. O motorista da carreta alegou que
tentara desviar de uma linda mulher que estava no
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meio da estrada, perdendo totalmente o controle do
veículo, indo de encontro ao ônibus. Estavam vindo
morar de vez, na casa nova.
-Por que será que ele não fez um amuleto para sua
mulher e filhos? Pensei comigo.
Papai e mamãe também ficaram arrasados.
Após este dia, Jonas passara a viver praticamente
em nossa casa. Tratava-nos, a mim e a Alexandre,
como filhos. Estava sempre a nos vigiar, na piscina
na ida e na volta da escola, por todo lugar em que
íamos. Não se casou novamente, nem mesmo o vi
namorar alguém.
Ao lado da piscina havia uma grande área
coberta, com sauna e churrasqueira --era o lugar
predileto de tio Joviano, passava o dia inteiro
preparando seus drinks e temperando carnes e
peixes que assava como se fosse um cozinheiro
famoso. O cheiro de seus temperos deixava a todos
com água na boca, além disso, o sabor de seus
experimentos mirabolantes da culinária tradicional
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mineira encantava a todos os paladares -- havia
também muitas árvores ao redor, deixando uma
gostosa sombra circundando a piscina.
A casa era de dois andares com um grande
telhado colonial italiano que rodeava toda ela. Era no
alto Belvedere, no topo das montanhas que
circundam o miolo da cidade de Belo Horizonte. Da
janela de meu quarto dava para ver todo o centro da
cidade e a nuvem de poluição que pairava sobre ela
nas manhãs mais frias do ano. Era possível até
mesmo, mensurar as mudanças que aquele
emaranhado de prédios e casas sofria com o passar
dos anos. A cada dia, por entre os galhos de árvores
de meu quintal, notava-se a construção de mais um
novo edifício ou de um novo shopping. Era muito
gostoso ver como tudo evoluía, pela janela do meu
quarto.
A piscina era nos fundos, meu quarto ficava
de frente para as árvores frondosas e antigas -- o pé
de Ipê amarelo tinha praticamente a minha idade e
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era a mais nova das árvores. Quando floria criava
um lindo espetáculo da natureza. Como um cacho de
lindas flores amarelas ao amanhecer, formava um
quadro emoldurado pelas laterais de minha janela. O
quarto era no segundo andar, enorme e confortável.
Éramos apenas eu e Alexandre, mas papai me
tratava como filha única, era mimada como se
princesa fosse.
Chamava-me de sua pequena Nefertiti. Ele
era um profundo conhecedor da história egípcia, já
havia passado anos nos desertos com os “tuaregs” e
“beduínos”, procurando relíquias antigas. Trouxera
vários livros e artefatos que guardava a sete chaves
em seu cofre da biblioteca. Sempre me contava
alguma história da rainha Nefertiti. Dizia ser a
mulher mais bela que já existira.
Mamãe não me mimava muito, dava mais
atenção a Alexandre. Dois meses antes de meu
casamento, a história modificou-se completamente e
papai mostrou o quanto amava e preocupava-se com