A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A Vocação das Ciências Sociais

no Brasil

Um estudo da sua produção em livros

no acervo da Biblioteca Nacional

1945-1966

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Coleção Rodolfo GarciaVol. 32

REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Presidente da República / Luiz Inácio Lula da Silva • Ministro da Cultura / Gilberto Gil Moreira

FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL

Presidente / Muniz Sodré de Araújo Cabral • Diretoria-Executiva / Célia Portella • Gerência do Gabinete / Cilon Silvestre de Barros • Diretoria do Centro de Processamentos Técnicos / Liana Gomes Amadeo • Diretoria do Centro de Referência e Difusão / Carmen Tereza Moreno • Coordenação-Geral de Planejamento e Administração / Tânia Mara Barreto Pacheco • Coordenação-Geral de Pesquisa e Editoração / Oscar Manoel da Costa Gonçalves • Coordenação-Geral do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas / Ilce Gonçalves Cavalcanti

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A Vocação das Ciências Sociais

no Brasil

Um estudo da sua produção em livros

no acervo da Biblioteca Nacional

1945-1966

Rio de Janeiro

2007

Glaucia Villas Bôas

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FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL

Av. Rio Branco, 219 – Centro

20040-008 – Rio de Janeiro – RJ

Tels: (21) 2220 1994 e 2220 1997

EditorMarcus Venicio Ribeiro

RevisãoFrancisco Madureira

Projeto Gráfico e DiagramaçãoMemvavmem

Capa Rodrigo de Mello Alves

Reproduções Fotográficas Claudio Carvalho Xavier e leonardo da Costa

Estagiária Lara Spíndola

Villas Bôas, Glaucia. A vocação das ciências sociais no Brasil : um estudo da sua produção em livros no acervo da Biblioteca Nacional, 1945-1966 / Glaucia Villas Bôas. – Rio de Janeiro : Funda- ção Biblioteca Nacional, 2007. 304p. ; 16 cm x 23 cm. Originalmente apresentado como tese (doutorado – Universidade de São Paulo) ISBN 978-85-333-0537-3

1. Biblioteca NacionaI (Brasil) – Catálogos. 2. Ciências sociais – Brasil – História. 3. Pesquisa social – Brasil – His- tória. 4. Ciências sociais – Bibliografia – Catálogos. I. Biblio- teca Nacional (Brasil). II. Título. CDD 300.981

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À memória de minha mãe, Veleyda A meus filhos Luciana e Pedro

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Sumário

AGRADECIMENTO 11

PREFÁCIOJosé Murilo de Carvalho 13

APRESENTAÇÃO 19

I. A PRODUÇÃO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS EM LIVRO 231. A escolha do período - 1945 a 1966 272. O livro como recurso empírico-metodológico

e as técnicas utilizadas na pesquisa 303. O acervo estudado 37

II. DISCIPLINAS E TEMAS 491. O crescimento da produção das ciências sociais 492. Duas linhas de trabalho dos cientistas sociais 513. O interesse desigual pelas disciplinas 534. O horizonte temático das ciências sociais 585. Os temas da história do Brasil 595.1 História política 645.1.1 História dos eventos políticos 675.1.2 História das instituições políticas 725.1.3 História das cidades, estados e regiões 755.2 História Econômica 795.3 História Social 835.4 História das Idéias 855.5 Conclusão 876. Os temas da economia política 886.1 Obras sobre a disciplina 916.2 Obras sobre temas específicos 93

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6.3 Conclusão 967. Os temas da antropologia 977.1 Obras sobre a disciplina 997.2 Obrassobretemasespecíficos 1007.3 Conclusão 1098. Os temas da sociologia 1108.1 Obras sobre a disciplina 1128.2 Obrassobretemasespecíficos 1138.3 Conclusão 1209. Os temas da ciência política 1219.1 Obras sobre a diciplina 1259.2 Obrassobretemasespecíficos 1259.3 Conclusão 12910. Ostemasdageografiahumana 13010.1 Obrassobreadisciplina 13210.2 Obrassobretemasespecíficos 13210.3 Conclusão 13511. Ostemasdademografia 13511.1 Obras sobre a disciplina 13711.2 Obrassobretemasespecíficos 13811.3 Conclusão 139

III. OS ANOS DE 1945 A 1966 1411. Características gerais 1422. Mudanças na vida cultural 1562.1 Empreendimentos no campo da difusão da cultura 1562.2 Movimentos de renovação da produção cultural 1653. Mudanças na vida intelectual 1713.1 A expansão das universidades 1713.2 As lutas estudantis 1743.3 Aparticipaçãodacomunidadeacadêmico-científica 176

IV. CONTINUIDADE E MUDANÇA 1811. O desenvolvimento das ciências sociais 1852. A relevância dos problemas brasileiros 1873. O processo de diferenciação dos estudos em ciências sociais 1893.1 Os estudos teórico-metodológicos 189

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3.2 Os estudos sobre a sociedade brasileira 1913.2.1 A abordagem de novos problemas e o crescimento de obras 1923.2.1.1 Os temas de maior divulgação em livro 1923.2.1.2 Os temas de menor divulgação em livro 1983.2.2 A persistência na adoção de enfoque e cultivo de temas 2013.2.2.1Oexamedosfatospolíticosdopassado 2013.2.2.2Ascaracterísticasdosestudossobreasquestõesétnicoculturais 2034. Conclusão 206

V. CONSIDERAÇÕES FINAIS 211

VI. LIVROS DE CIÊNCIAS SOCIAIS NO ACERVO DA BIBLIOTECA NACIONAL 217

VII. BIBLIOGRAFIA 293

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Este livro registra dois momentos de trabalho. O primeiro foi dedicado à pesquisa no acervo da Biblioteca Nacional e à escrita e defesa de minha tese de doutoramento. Muitas pessoas e instituições ajudaram e apoiaram meu projeto realizado entre as décadas de 1980 e 1990. Cerca de 15 anos depois, o segundo momento, incluiu a decisão de publicar o livro, uma leitura crítica do texto e a revisão e organização dos 872 títulos analisados para apresen-tação ao leitor. Gostaria de agradecer a José Murilo de Carvalho, por ter me incentivado à publicação do livro pela Biblioteca Nacional e aceito escrever o prefácio, e a Marcus Venicio Ribeiro pelas sugestões, interesse e empenho na edição do livro. Foi inestimável também o apoio de Verônica Eloi de Almeida e João Antonio da Costa, que digitalizaram os originais datilografados. Ive de Santana Cunha fez uma revisão cuidadosa dos títulos da mostra dos livros.

AgrAdecimento

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José Murilo de Carvalho.

Glaucia Villas Bôas transforma agora em livro sua tese de doutoramento defendida na Universidade de São Paulo em 1992. Trata-se de um estudo sociológico da produção de livros de ciências sociais no Brasil, entre 1945 e 1966. Ao árduo e cuidadoso trabalho de levantamento da bibliografia no acervo da Biblioteca Nacional, a autora acrescenta uma análise sociológica do contexto em que os livros foram escritos e publicados.

O período selecionado deve-se à preocupação de avaliar os primeiros re-sultados da implantação no país, durante a década de 1930, das primeiras instituições de ensino e pesquisa voltadas para as ciências sociais, sobretudo em São Paulo e no Rio de Janeiro. As principais delas foram a Escola Livre de Sociologia e Política, de 1933, em São Paulo, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em 1934, a Universidade do Distrito Federal, de 1935, e a Faculdade de Filosofia da Universidade do Bra-sil, em 1939, também no Rio de Janeiro.

A primeira metade da década de 30 testemunhara uma verdadeira explosão de idéias e de interpretações do Brasil. Foi nesse período que surgiram alguns dos principais clássicos de nosso pensamento. Todos eles foram escritos por pessoas em geral de formação jurídica, ou mesmo em medicina e engenharia, sem treinamento específico em ciências sociais. Eram o que Guerreiro Ramos chamou mais tarde de sociólogos anônimos. Apesar da criatividade dos au-tores, a produção era numericamente pequena por falta de base institucional adequada em quantidade e qualidade e pelo acanhamento da indústria edito-rial. Levantamento feito por Wanderley Guilherme dos Santos mostrou que, de 1931 a 1945, foram publicados apenas 11 artigos por ano no campo que depois se convencionou chamar de ciências sociais.

Outra era a fisionomia dos anos posteriores à democratização de 1945. Ex-alunos das novas escolas criadas na década anterior, muitos deles treina-

Prefácio

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dos por professores estrangeiros, começaram a publicar trabalhos que vieram somar-se ao da geração anterior. O ambiente pós-guerra e pós-Estado Novo também favorecia o debate e a indústria editorial se ampliava. Quanto a essa última, a autora nos informa, citando Laurence Hallewell, que em 1940 foram publicados 1.678 livros e folhetos. Em 1950, o número subiu para 3.965, em 1960 para 5.377. O número de artigos, segundo a contagem de Wanderley Guilherme dos Santos, subiu, entre 1945 e 1965, a 36 por ano. Esses números constituem boas justificativas para a escolha do período de estudo.

Para realizar seu estudo, Gláucia Villas Bôas escolheu só incluir livros, excluindo artigos, e se concentrou nas obras que constam do catálogo da Biblioteca Nacional. A primeira limitação pode ser facilmente compensada pelo levantamento já mencionado feito por Wanderley Guilherme dos Santos e publicado em 2002, após a defesa da tese da autora. Segundo esse levanta-mento, entre 1945 e 1965, foram publicados, em 20 revistas, 724 artigos de análises política e social do Brasil.

A segunda é de menor importância, embora tenha sido devidamente regis-trada. Como se sabe, todos os livros editados no país devem, por lei de 1907, ter um exemplar depositado na Biblioteca Nacional. Em tese, portanto, ao consultar o catálogo dessa instituição o pesquisador teria diante de si o uni-verso dos livros publicados. Mas estamos no Brasil e a lei tem sido apenas par-cialmente cumprida. Apesar desse percalço, o acervo da Biblioteca Nacional era e continua sendo o mais completo do país. Ao trabalhar com ele, a autora cobriu uma parcela muito grande da bibliografia produzida, não se podendo saber exatamente o que ficou de fora. Foram levantados 978 títulos, tendo a autora trabalhado com 872, sobre os quais existiam informações suficientes para classificação por tema.

Esse levantamento bibliográfico já é por si uma contribuição relevante à história do pensamento brasileiro em geral e das ciências sociais em particular na medida em que facilita o trabalho de outros pesquisadores e abre para eles um amplo leque de investigação. É conhecido o fenômeno da formação de cânones explicativos. Surgem espontaneamente, ou por esforço deliberado, seleções de autores e obras que aos poucos são transformadas em clássicos de determinada área de conhecimento. Tais autores e obras se tornam referên-cia obrigatória, com a exclusão de centenas de outros que podem ter coisas importantes a dizer. A formação de cânones é quase inevitável, inclusive por razões práticas, pela impossibilidade de se cobrir toda a bibliografia existente, mas é indispensável que os cânones sejam flexíveis e que sejam periodica-mente alterados. O levantamento bibliográfico apresentado neste livro, quase

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exaustivo, facilita a tarefa de desafiar os cânones. De posse de informação tão ampla, o pesquisador ignorará autores não canônicos por sua própria conta e risco.

Mas Gláucia Villas Bôas foi além de simples levantamento bibliográfico, adicionando valor especial a seu trabalho. Ela enfrentou a penosa tarefa de mapear os livros por área de conhecimento e por temas. No que diz respeito às áreas de conhecimento, adotou uma definição ampla, posto que algo po-lêmica, de ciências sociais, incluindo nelas a história, a geografia humana e a demografia, além das tradicionais antropologia, sociologia, ciência política, e da economia política. O lado polêmico diz respeito, sobretudo, à inclusão da história no campo das ciências sociais. Mas, como a análise mantém a distin-ção entre as várias sub-áreas, é sempre possível ao leitor detectar as diferenças entre elas. Ele pode verificar, por exemplo, que, como era de esperar, a história foi responsável pela maioria (35%) dos livros recenseados, número próximo à soma dos de sociologia, antropologia e ciência política (40%). Tal resultado era de esperar na medida em que a escrita da história é muito mais antiga no país, antecede em mais de um século a formação especializada que teve início na década de 1930.

Um dos achados importantes da autora é o que se refere ao número res-peitável de obras de ciências sociais no sentido estrito, sobretudo de antro-pologia (16%) e de sociologia (14%). Esse número é sem dúvida decorrência, pelo menos em parte, da produção de pessoas treinadas nos novos cursos. A menor representação da ciência política (9%) pode ser devida ao processo mais lento de sua separação de outros campos mais tradicionais de conheci-mento, como o direito e a filosofia.

Outra contribuição relevante deste livro é a análise do local de publicação e dos editores. O Rio de Janeiro ainda era, na época, o centro cultural indis-cutível do país, responsável por 58% das edições, seguido à distância por São Paulo com 24%. Não por acaso, é em sociologia que São Paulo mais se apro-ximava do Rio de Janeiro, com 39% da produção, em comparação com 45% da capital. Rio de Janeiro e São Paulo, juntos, cobriam 82% das publicações. Mesmo que se leve em conta a probabilidade de que o descumprimento da lei de envio dos livros à Biblioteca Nacional fosse muito maior nos outros estados, a concentração é muito grande.

A presença de um mercado editorial emergente é demonstrada quando a autora classifica as publicações em comerciais e não comerciais, essas últimas publicadas por órgãos públicos, aí incluídas as universidades federais e esta-duais. A maioria dos livros (63%) foi publicada com fins lucrativos. Mas aqui

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também se evidencia a diferença entre São Paulo e Rio de Janeiro. No Rio de Janeiro, sede do governo, as publicações oficiais são responsáveis por 36% do total ali editado, enquanto em São Paulo não passam de 17%. O peso do Estado é ainda maior em áreas fora do eixo Rio - São Paulo, onde também a indústria editorial era menos desenvolvida. Somando-se os livros publicados em Salvador, Belo Horizonte e Recife, verifica-se que 61% deles foram publi-cações oficiais.

A análise diacrônica da produção de livros é outra contribuição relevante feita pela autora. Dividindo o período em dois segmentos de 11 anos cada um, ela mostra que o desenvolvimento das sub-áreas foi muito desigual. Os novos campos, com a exceção notável da antropologia, que sofreu um desacelera-mento da produção após grande expansão inicial, cresceram exponencialmen-te. A sociologia mais do que duplicou o número de livros no segundo período, passando sua contribuição de 10% para 16%, a ciência política triplicou a produção, de 6% para 11%. Juntamente com a expansão das instituições de ensino e pesquisa, é possível supor que o crescimento dos estudos socioló-gicos e, sobretudo, políticos teve a ver com a retomada da vida política e da mobilização social ao longo do período.

Esse ponto nos leva ao coração da tese e do livro: uma análise sociológica da produção bibliográfica em ciências sociais. A socióloga Gláucia Villas Boas é ela mesma uma representante legítima da consolidação acadêmica das ciên-cias sociais no Brasil, iniciada na década e 1930 e completada após o início da moderna pós-graduação ao final da década de 1960. A produção bibliográfica em ciências sociais é interpretada dentro do contexto social em que se verifi-cou e que lhe dá inteligibilidade. Ela responde a injunções desse contexto, ao mesmo tempo em que faz parte da própria constituição dele.

O impacto do contexto aparece com clareza, sobretudo da análise dos temas abordados pelos autores nos diferentes campos de especialização. O caso mais óbvio é, como se podia esperar, o da ciência política. Se entre 1945 e 1955 apenas 1,5% dos livros se dedicavam ao estudo de ideologias políticas, entre 1956 e 1966 a porcentagem sobe para 22%. Inversamente, o estudo das instituições políticas cai de 60% para 43%. As mudanças são coerentes com os diferentes momentos históricos. Se depois da ditadura tratava-se, sobretu-do, de consolidar as instituições democráticas, a partir do segundo governo Vargas a radicalização política tomou a frente, reduzindo-se o interesse na institucionalização.

Em outros pontos a relação entre produção e contexto revela-se mais complexa, como nos informa o gráfico que mapeia o número de livros pu-

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blicados ano a ano entre 1945 e 1966. Há uma queda acentuada de produção entre 1945 e 1953, quando se passa de 37 livros (1945) para 18 (1953), numa média de 27 por ano. Segue-se, entre 1954 e 1959, um aumento rápido de produção, com um pico em 1958, com 63 livros. Nesse segundo momento, a média anual sobe para 50 livros/ano, ou 53, se levarmos em conta apenas o qüinqüênio de JK. No terceiro momento, entre 1960 e 1966, há uma queda em relação ao período anterior, mantendo-se, no entanto, a produção bem acima da verificada na primeira fase, com média de 46 livros por ano até o golpe e de 47 entre 1964 e 1966.

De acordo com a expectativa, vemos que o período JK representou na produção de livros de ciências sociais o mesmo que significou em outros cam-pos, isto é, um momento de explosão de criatividade. Contra a expectativa, o momento seguinte, apesar de toda a radicalização política que o marcou, presenciou um recuo na produção intelectual. Ou talvez devamos dizer que a radicalização favoreceu a produção de textos de ciência política e de sociolo-gia, mas, em contrapartida, desfavoreceu a de história e antropologia.

São alguns exemplos que aponto apenas para indicar ao leitor a grande contribuição do estudo de Glaucia Villas Bôas, fruto da maturidade de nossas ciências sociais, capazes já de interrogar sua própria historia. A contribuição consiste tanto nas respostas que o livro traz como nas perguntas que suscita dentro do campo da sociologia do conhecimento, das profissões e da pro-dução intelectual. Não sei melhor maneira para classificar um bom trabalho intelectual.

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Esse estudo dos livros de ciências sociais do acervo da Biblioteca Nacio-nal do Rio de Janeiro, publicados no período de 1945 a 1966, é resultado de pesquisa exaustiva feita nessa instituição nos últimos dois anos da década de 1980. O acervo da Biblioteca Nacional ainda não estava informatizado, e tra-balhando no fichário da seção de livros terminei reunindo 978 títulos. A pes-quisa resultou em minha tese de doutorado "A Vocação das Ciências Sociais no Brasil (1945/1964): Um estudo sobre sua produção em livro", defendida na Universidade de São Paulo, sob a orientação de Maria Isaura Pereira de Queiroz, em 1992. Nela classifiquei e analisei as publicações por temas e dis-ciplinas, o que permitiu oferecer um panorama de como o Brasil era pensado em livro pelos cientistas sociais naquele importante período da vida nacional.

Não era objetivo da tese apresentar uma lista de 872 obras, número da amostra analisada. Durante muito tempo ouvi colegas e alunos perguntarem por que não fazia uma publicação com os títulos dos livros com os quais havia trabalhado, uma vez que poderia facilitar o trabalho de busca de outros pesquisadores. Embora a vida acadêmica nos roube tempo e leve muitas ve-zes a outros projetos, mantive durante esses anos o desejo de publicar a tese com os títulos que se dividem em sete disciplinas: História do Brasil, Econo-mia Política, Antropologia, Sociologia, Ciência Política, Geografia Humana e Demografia. Eis que foi possível agora publicá-la justamente pela Biblioteca Nacional, o que muito me alegra.

As bibliografias constituem um instrumento de trabalho indispensável para os pesquisadores, mas não há muitas no campo das ciências sociais bra-sileiras. O que se deve ler para conhecer o Brasil, de Nelson Werneck Sodré, publicado em 1945, tornou-se obra de referência de algumas gerações de cien-tistas sociais, com suas primeiras reedições cuidadosamente atualizadas sob a supervisão do autor. Os Cadernos do Instituto de Estudos Brasileiros, da Universidade de São Paulo, de 1971, trazem um precioso conjunto de livros e artigos de revistas no campo da história, organizados por Sergio Buarque de Holanda, Alice Piffer Canabrava e Nícia Vilela Luz; o tema sociologia foi

APreSentAção

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coordenado por Maria Isaura Pereira de Queiroz; e a área de antropologia teve a orientação de Egon Schaden. Resultado de um seminário promovido pelo IEB - Instituto de Estudos Brasileiros, os Cadernos registram ainda os deba-tes críticos que focalizam os temas estudados e suas diferentes abordagens nas disciplinas escolhidas. Contudo, não foram publicados em livro, ficando seu conhecimento e uso restritos a um pequeníssimo número de pesquisadores. Além disso, a seleção feita por Lucia Lippi Oliveira em Elite intelectual e debate político nos anos 30 – uma bibliografia comentada da Revolução de 1930 (1980) tem sido de grande valia para a pesquisa histórica e política da década citada. O título reúne 143 livros e documentos sobre a Revolução de 1930, os quais têm a política como questão central. Em 1999, veio a público O que ler na ciência social brasileira (1970-1995), coordenado por Sergio Miceli, três volumes sobre sociologia, antropologia e ciência política que tiveram grande recepti-vidade entre os cientistas sociais. Em 2002, o Roteiro bibliográfico do pensamento político-social brasileiro (1870-1965), de Wanderley Guilherme dos Santos, veio preencher o “vazio” de bibliografias.

Finalmente, não se pode deixar de mencionar o BIB – Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, da ANPOCS/Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais, que vem prestando, desde a década de 1970, enorme apoio aos estudos nesse campo, mantendo a boa qualidade de seus artigos e a regularidade indispensável a um periódico. Diga-se também que, nos últimos anos, os meios virtuais têm proporcionado cada vez mais possibilidades de acesso a livros e textos, comentários e interpreta-ções.

As bibliografias do acervo da Biblioteca Nacional para o período em foco são escassas, destacando-se a Brasiliana da Biblioteca Nacional, organizada por Paulo Roberto Pereira e editada pela própria Biblioteca em 2001. O traba-lho integra artigos de mais de 50 especialistas sobre a documentação e livros do acervo da instituição.

Somadas as iniciativas, percebe-se que ainda há o que fazer tanto no que concerne à produção de bibliografias comentadas na área das ciências so-ciais, quanto no que diz respeito ao conhecimento do importante patrimônio da entidade. Apesar do avanço da pesquisa científica no Brasil, do sistema nacional de pós-graduação e da formação de pesquisadores, parece que o entendimento da importância das bibliografias é acanhado, sendo necessário ensinar aos jovens que se iniciam na pesquisa o uso desses meios insubstituí-veis de trabalho. As conseqüências do descaso pelas bibliografias são muitas. Primeiro, a falta de informação sobre livros e revistas constantes em acervos

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de bibliotecas e arquivos contribui para o desconhecimento e a ausência de diálogo com a tradição de intérpretes e conhecedores do Brasil. Segundo, o fato de não se recorrer às bibliografias concorre para que a produção do saber, sobretudo na área das ciências sociais, corra o risco da repetição dos problemas ao invés de seu avanço.

Ao circunscrever-se à Biblioteca Nacional, a pesquisa torna visível seu valioso conjunto no período de 1945 a 1966, facilitando a busca dos estudio-sos interessados nas publicações daquela época. A preservação da memória das ciências sociais pela instituição permite que informações e conhecimento sejam acessíveis aos pesquisadores sem passar pelo crivo dos intérpretes que, muito embora importantes, fatalmente consagram temas, autores e disciplinas com suas escolhas e autoridade.

No Brasil, muito cedo a camada intelectual buscou esclarecer fatos da vida social, chamando-lhe a atenção, particularmente, os aspectos da sociedade em que vivia. A partir de meados do século XIX, começaram a ser publicadas narrativas sobre a história do país que privilegiavam, de modo geral, as ações e os eventos políticos considerados relevantes para a construção da nação; vieram a público também estudos sobre as peculiaridades étnicas e culturais da população brasileira. Foi-se reunindo uma vasta documentação, a exem-plo, entre outros, dos artigos da Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, fundado em 1838, que testemunha o modo pelo qual se concebia a reflexão e a pesquisa daqueles problemas.

A década de 1930 veio marcar decisivamente a evolução dos estudos sobre os fatos sociais, uma vez que nela se iniciou a formação do cientista social no país. Dentro do quadro de reformas políticas e educacionais daqueles anos, foram criadas na cidade de São Paulo a Escola Livre de Sociologia e Política, em 1933; e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, em 1934. No Rio de Janeiro, disciplinas das ciências sociais começaram a ser ministradas na Universidade do Distrito Federal, em 1935. Interrompidas as atividades da UDF em 1939, a formação de cientistas sociais foi retomada no mesmo ano na Faculdade de Filosofia da antiga Universidade do Brasil.

Os anos de 1945 a 1966 delimitaram um importante período da vida na-cional, marcado por profundas mudanças econômicas, sociais e políticas. Nos setores culturais e intelectuais, a expansão dos meios de difusão da cultura, de um lado, e os movimentos a favor da renovação da produção cultural, de outro, se associaram ao crescimento das universidades, às lutas estudantis, às iniciativas da comunidade acadêmico-científica para consolidar suas institui-ções. Configurou-se naqueles meios um clima de debates e polêmicas efer-

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vescentes, que se voltavam duplamente para a questão do desenvolvimento do país e também do compromisso social e político da produção cultural. No campo das ciências sociais, começaram a surgir no início daquele período os primeiros resultados das atividades das instituições de pesquisa e formação de cientistas sociais. Que rumo teriam tomado os estudos elaborados e publica-dos em livro naquelas circunstâncias histórico-sociais?

Nas últimas décadas, o interesse em conhecer as atividades e características da camada intelectual erudita do país tem levado a um expressivo desenvolvi-mento das pesquisas nas áreas do pensamento social brasileiro, da história das idéias e da sociologia do conhecimento. As primeiras avaliações sociológicas da produção do conhecimento voltado para os fatos sociais datam de finais da década de 1940. Contudo, somente tomam vulto nos anos 1970, quando são publicados com maior freqüência textos focalizando especificamente as ciências sociais, ou o pensamento social no Brasil.

De modo geral, esses trabalhos têm realçado duas perspectivas de análise no exame da produção intelectual brasileira: ora questionam-se as caracterís-ticas dos estudos de autores brasileiros à luz do padrão da produção científica de países econômica, política e culturalmente mais desenvolvidos, atribuindo, portanto, relevância à posição do Brasil no sistema mundial de dominação; ora o foco de análise converge para as instituições voltadas para as ciências sociais, como também para grupos de cientistas com finalidade de averiguar o grau de autonomia do campo da produção científica frente ao campo dos ideais e das ações políticas.

O estudo que apresentamos a seguir, entretanto, submete à analise os en-foques, os temas e os problemas que distinguiram a produção científica em livro, questionando de que maneira a experiência social e histórica marcante daqueles anos se teria deixado traduzir na elaboração e divulgação do conhe-cimento no campo das ciências sociais.

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Duas questões se impõem quando se escolhem as ciências sociais como objeto de pesquisa sociológica: dizem respeito à identidade e à diferença das formas de conhecer e à relação que guardam com a sociedade onde são ela-boradas e recebidas. As ciências sociais são um conhecimento específico tanto pela sua constituição intrínseca, quanto pelo fato de que a possibilidade de elaborá-las está definitivamente associada à existência de um grupo social e a um tipo de sociedade.

Pode-se distingui-las, inicialmente, por integrarem o que se denomina co-nhecimento erudito,1 saber tradicionalmente constituído por estudos apro-fundados e sistemáticos de um determinado assunto. O conhecimento eru-dito pressupõe a formação e o treinamento de um corpo de estudiosos, cujas condições específicas de existência – no sentido de que está afastado das ativi-dades do trabalho manual – surgem com o advento do excedente econômico e variam de acordo com a organização da produção material e o aumento da riqueza social.

Os apreciadores do conhecimento erudito formam assim um grupo pri-vilegiado, pois elaboram e possuem um saber prestigiado que não é acessí-vel a todos. E podem buscar orientar – através do saber que produzem – a conduta de outros grupos sociais.2 Ao considerar as ciências sociais como parte integrante do conhecimento erudito, diferenciamo-las de imediato do

1. Seguimos a distinção entre conhecimento erudito e conhecimento vulgar adotada por Maria Isau-ra Pereira de Queiroz em Balanço da tradição do pensamento sobre cultura e sociedade a partir d o século XIX, publicado em QUEIROZ, Maria I. P. de; SIMSON, Olga R. M. von; MICELI, Sergio; ORTIZ, Renato. Esboço de um projeto de investigação da produção cultural no Brasil, São Paulo, n. 17, 1ª série, set. 1982. Cadernos CERU.

2. A relação entre conhecimento erudito, particularmente o científico, e a orientação de práticas sociais é discutida em ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Temas básicos da sociolo-gia. São Paulo: Cultrix/USP, 1973; FREYER, Hans. Teoria da época atual. Rio de Janeiro: Zahar, 1965. p. 41-70; WEBER, Max. Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1970. p. 45-52. No contexto brasileiro, na década de 1950 o tema foi questionado e debatido em FER-NANDES, Florestan. A sociologia numa era de revolução social. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1963. p. 77-144, 229-234 e 253-299; RAMOS, Alberto Guerreiro. Cartilha de aprendiz de sociólogo: por uma sociologia nacional. Rio de Janeiro: Estúdio de Artes Gráficas C. Mendes Júnior, 1954.

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conhecimento “vulgar” que pode ser comum a todos os membros de uma sociedade.

Porém, essas distinções não são suficientes para caracterizar as ciências sociais. No conjunto da tradição do conhecimento erudito, elas convivem com outros saberes de qualidade também elitista como a experiência religiosa, a filosofia e o conhecimento das ciências naturais e exatas. As ciências sociais adquirem identidade dentro daquele quadro enquanto idéia que trata da ex-plicação dos fenômenos da vida social, a partir da sistematização e classificação de materiais empíricos, submetidos à análise com instrumental teórico cuja elaboração provém de um processo de generalização. A exatidão, a objetivi-dade e a possibilidade de verificação dos resultados obtidos, características gerais do conhecimento científico, qualificam, portanto, também as ciências sociais.3

Tal modo de conhecer, a organização de sua prática e o sentido que lhe é atribuído são forjados ao longo das transformações sociais decorrentes da Revolução Industrial, com a consolidação da sociedade moderna de base téc-nico-industrial. Somente nesta configuração social concebe-se como possível o domínio e o controle da vida social através do saber científico. O caráter instrumental atribuído à disciplina está relacionado com a possibilidade de “civilizar o homem” e “consumar a história”, que surge na época moderna.4 As ciências sociais são compreendidas como um programa, sugerido pela teoria do desenvolvimento da sociedade.5 Assim, de um lado o desenvolvimento histórico, de outro lado a possibilidade de controle e domínio da vida social marcam a sua identidade.

Observando o princípio sociológico das relações entre conhecimento e corpo social, é possível conhecer as características das ciências sociais a partir do estudo das condições econômicas, sociais, políticas e históricas da sociedade onde são elaboradas; da criação, organização e objetivos de institui-ções voltadas para a sua transmissão e produção; da origem social, trajetória profissional e projetos político-ideológicos de grupos de estudos; também é possível conhecê-las através de sua constituição interna, onde se inscrevem aquelas mesmas condições sociais e institucionais, reapresentadas no plano do pensamento por meio do procedimento cognitivo específico das disciplinas.

3. Cf. Institut für Sozialforchung Frankfurt (M). Empirische Sozialforchung. In: HANDWÖRTER-BUCH der Sozialwissenschaft. Göttingen: Gesamtherstellung Rupert & Co., 1956-1964. v. 9.

4. Cf. FREYER, Hans. Op. cit. 5. Cf. KEMPSKI, Juergen V. Sozialwissenschaft. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissens-

chaft. Göttingen: Gesamtherstellung Rupert & Co., 1956-1964. v. 9. p. 617-626.

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A análise da constituição interna informa ainda sobre os limites diante dos quais os cientistas sociais fizeram suas escolhas e traçaram o percurso de sua história.

As ciências sociais se configuram através da conjugação de elementos constitutivos, tais como pressupostos epistemológicos, paradigmas teóricos, métodos e técnicas de investigação. Cada um deles – ou tomados em seu con-junto – pode ser utilizado para o exame das relações entre o conhecimento e a sociedade na qual é elaborado, quando se trata de conhecê-las a partir de elementos intrínsecos ao seu procedimento cognitivo.

Todavia, um dos traços marcantes da configuração das ciências sociais é a diversidade de disciplinas e temas que conformam sua unidade. A repartição em diferentes disciplinas retrata tanto a divisão do trabalho intelectual e os grupos de várias profissões, como a existência de diversos pontos de vista de conhecimento e análise das relações sociais.

A divisão em disciplinas tem sido observada na prática, apesar das con-trovérsias que suscita. Desde finais do século XIX, verifica-se um movimento para estabelecer graus cada vez maiores de especialização, postura justificada, no mais das vezes, pelo princípio necessário de verificação e comprovação do conhecimento produzido. Recortar e isolar uma “fatia” do vasto quadro da existência humana são fundamentos da divisão disciplinar:

Todos os campos e disciplinas têm a vantagem e a desvan-tagem de recortar alguma coisa do grande quadro da existên-cia – na maioria das vezes apenas uma pequena fatia, a qual se põe debaixo da lupa. O princípio é isolar; tudo depende daquilo que é isolado do acordo com uma finalidade. Cada ciência tem, portanto, suas questões básicas próprias, as quais a diferenciam de outras.6

Ao mesmo tempo, observa-se o esforço pela reflexão sobre a unidade das ciências sociais, movido por diferentes interesses. De um lado, considera-se que cada “fatia” isolada contém o todo do qual faz parte, podendo-se, desse modo, reconhecê-lo; de outro lado, reclama-se da indispensabilidade de uma teoria geral da sociedade que explique os diferentes fenômenos individuais es-

6. Cf. WIESE, Leopold von. Soziologie. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft. Göt-tingen: Gesamtherstellung Rupert & Co., 1956-1964. v. 9. p. 626.

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tudados por cada disciplina.7 De outra perspectiva, proclama-se ainda a exis-tência de um “mercado comum” entre os campos das ciências sociais:

Mas, ainda sem o querer explicitamente, as Ciências So-ciais se impõem umas às outras, cada uma tende a compreen-der o social no seu todo, na sua totalidade; cada uma invade o domínio de suas vizinhas crendo permanecer em casa. A Economia descobre a Sociologia que a rodeia, a História – talvez a menos estruturada das Ciências do Homem – aceita todas as lições de sua múltipla vizinhança e se esforça por repercuti-las. Assim, malgrado as reticências, as oposições, as ignorâncias tranqüilas, a instalação de um “mercado co-mum” se “esboça”.8

O debate sobre as vantagens e desvantagens da especialização, da unifica-ção das ciências sociais ou de conveniência disciplinar é vasto e reúne espe-cialistas de diferentes campos do conhecimento. Para o propósito do trabalho, importante é assinalar que o conjunto de disciplinas e subdisciplinas revela, sobretudo, um complexo de relações sociais, a tomada de consciência dessas relações e o interesse em problematizá-las e conhecê-las.9

Outra questão relativa à divisão disciplinar diz respeito aos campos de conhecimento que integram o grupo das ciências sociais. A Enciclopédia Bri-tânica10 inclui economia, ciência política, sociologia, antropologia, psicologia social, estatísti ca social e geografia social, excluindo a história por não haver consenso entre os historiadores quanto à sua pertinência às ciências sociais.

7. Na década de 1920, por meio da noção de “fato social total” Marcel Mauss demonstrava como um fato social compreende dimensões diversas da sociedade global na qual se insere; MAUSS, Marcel. Essai sur le Don. Forme et raison de l’échange dans les societés archaiques. In: ___. Sociologie et anthropologie. Paris: PUF, 1968; LÉVI-STRAUSS, Claude. Introduction à l’oeuvre de Marcel Mauss. In: MAUSS, Marcel. Op. cit.; em ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Op. cit., os autores reivindicam a necessidade de uma teoria geral da sociedade que permitiria explicar os diversos setores em que a sociedade está dividida. Embora se refiram no mais das vezes à sociologia e suas subdisciplinas, seus argumentos seriam válidos para as disciplinas que compõem as ciências sociais.

8. Cf. BRAUDEL, Fernando. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1978. p. 42. 9. Nesse sentido, cf. ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Op. cit. cap. VIII; REDFIELD,

Robert. Relations of Anthropology to Social Sciences and Humanities. In: ANTHROPOLOGY Today (An Encyclopedic Inventory), A. L. Kroeber (Org.). Chicago/London: The University Chi-cago Press, 1965, p. 728-738. Na p. 728 o autor afirma que “uma disciplina acadêmica é de imediato um grupo de homens perseguindo relações sociais e um método de investigação”.

10. Cf. History of Social Sciences. In: ENCYCLOPAEDIA Britannica, 1972. v. 16. p. 980.

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A definição enciclopédica é tão importante quanto problemática. Impor-tante porque representa um momento de síntese de uma teia de relações entre os cientistas sociais, o contexto de suas atividades e o saber que elaboram; problemática, porque aquelas relações variam ao longo do tempo e no espaço. Ao excluir a história do conjunto de disciplinas, aquela definição deixa de con-siderar particularmente historiadores franceses,11 que insistem em conceber a matéria como parte integrante das ciências sociais.

Ao lado das disciplinas, os temas tratados em cada uma delas e os temas omitidos ou pouco estudados constituem um indicativo valioso para a com-preensão do “retrato” de uma sociedade, seja no sentido mais amplo desse conceito, seja quando restrito aos limites de uma sociedade nacional. Os te-mas expressam duplamente condições e situações sociais estudadas, e as es-colhas possíveis dos pesquisadores. Mostram os problemas valorizados num determinado período, como foram conhecidos e avaliados na perspectiva dos cientistas sociais.

O exame das ciências sociais permite, portanto, caracterizar esse campo do conhecimento erudito, distinguindo-o de outros ramos do saber e revelan-do as relações que mantém com a sociedade na qual surge e se desenvolve.

1. A escolha do período - 1945 a 1966

Não seria possível apontar o crescimento das ciências sociais no Brasil, nos anos de 1945 a 1966, sem antes fazer referência às transformações eco-nômicas, sociais e políticas que, tendo início na década de 1930, marcaram a emergência de uma sociedade urbano-industrial de molde capitalista no país. A partir daqueles anos, expandiu-se a indústria modificando o sistema de estratificação social e imprimindo nova feição às cidades, ainda que de forma desigual pelas regiões brasileiras; o Estado fortaleceu o poder central e assumiu o controle de instrumentos indispensáveis para a execução de um “programa” nacional de mudanças e reformas, favorecendo, entre elas, as ins-titucionais de caráter político-administrativo e as educacionais.

Nesse contexto de transformações, se inicia no Brasil a formação do cien-tista social, cujos marcos são a criação da Escola Livre de Sociologia e Política, em 1933, e a da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de

11. Cf. CARDOSO, Ciro Flamarion S. Uma introdução à história. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 34-39.

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São Paulo, em 1934, na capital paulista. No Rio de Janeiro, após ser criada a Universidade do Distrito Federal, em 1935, que interrompeu suas atividades em 1939, a Faculdade Nacional de Filosofia da antiga Universidade do Brasil inicia seus cursos, inclusive o de Ciências Sociais, em 1939.

Outras entidades voltadas para o ensino ou pesquisa nesse campo foram fundadas ainda nas décadas de 1930 e 1940. Juntamente com as instituições pioneiras de São Paulo e do Rio de Janeiro, elas mostram investimentos feitos no sentido da organização de cursos e de centros, cuja finalidade é a qualifi-cação de especialistas, a obtenção de dados e a elaboração de estudos siste-máticos sobre a sociedade brasileira. Um exemplo desses estabelecimentos é o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, órgão do Ministério da Educação e Cultura, criado em 1949, na cidade do Recife.12

Considerando o tempo indispensável para a qualificação de especialistas, além do prazo necessário para a elaboração de estudos e pesquisas, pode-se pressupor que em finais da década de 1940 tenham surgido os primeiros re-sultados das atividades dessas instituições. Àqueles trabalhos pioneiros se te-riam acrescentado outros, realizados ao longo da década de 1950 e início dos anos 1960, período no qual, vale dizer, continuaram sendo criadas entidades direcionadas para as ciências sociais.13 Tais estudos formariam um quadro, por

12. Em Belo Horizonte, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Minas Gerais inaugura curso de Ciências Sociais em 1941, fechando-o a seguir, e reabrindo-o em 1947; porém, cursos de Sociologia e Política são ministrados naquela cidade, na Faculdade de Ciências Econômicas, em 1945; em Salvador, o curso de Ciências Sociais aberto em 1945 na Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahia não se mantém, mas disciplinas como Antropologia são ministradas nos cursos de Geografia e História. O desenvolvimento das pesquisas sobre o tema é estimulado pelo convênio entre a Secretaria de Educação do Estado e a Universidade norte-americana de Columbia, em 1949. Muito embora não estivessem estritamente voltadas para a pesquisa ou o ensino no campo das ciências sociais, devem ser lembradas instituições que con-tribuíram para o seu desenvolvimento como o Conselho Nacional de Geografia, formado em 1937 no Rio de Janeiro e incorporado, juntamente com o Departamento Nacional de Estatística, de 1934, ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, fundado em 1938; em 1937, foi criado o Institituto Nacional de Estudos Pedagógicos, órgão do Ministério da Educação e Cultura. A Fundação Getulio Vargas é de 1944 e abriga o Instituto Brasileiro de Economia; regulamentado o ensino nas Faculdades de Ciências Econômicas em decreto-lei de 1945, é fundada no mesmo ano a Faculdade Nacional de Ciências Econômicas na Universidade do Brasil; em 1964, inaugu-ra-se a Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo.

13. São exemplos de instituições criadas ao longo dos anos 1950 e início dos anos 1960: o Instituto de Direito Público e Ciência Política da FGV, criado em 1950; a Fundação para Desenvolvi-mento da Ciência, em Salvador, 1951; o Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política, de 1953, transformado em 1955 no Instituto Superior de Estudos Brasileiros; as Faculdades de Ciências Sociais e Política, em Fortaleza, 1954; o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1955; o Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais, 1957; a Campanha de De-fesa do Folclore e o Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Brasil, 1958; o Instituto de Ciências Sociais da Universidade da Bahia e a Universidade de Brasília em 1961.

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meio do qual seria possível conhecer características de um primeiro conjunto da produção sistemática das ciências sociais, conjunto que teria reatualizado a identidade daquele campo do conhecimento no país, diferenciando-o mais claramente de outros ramos do saber erudito e renovando a tradição14 de es-tudos sobre a sociedade brasileira.

Junte-se àquela suposição, o fato de que os anos de 1945 a 1966 impri-mem uma qualidade nova às mudanças que vinham ocorrendo no país desde 1930. O período se caracteriza por um regime democrático de governo, o qual presume a existência de condições favoráveis para a divulgação mais ampla de idéias. Nele, consolida-se a indústria capitalista e acelera-se o processo de urbanização. A inserção do Brasil no sistema capitalista mundial moderno é crescente. Na esfera da administração pública, o Estado dá prosseguimento à criação de novos órgãos e instituições, iniciando sua atuação no planejamen-to da economia. As idéias e os ideais nacionalistas buscam fundamentos no desenvolvimento econômico e social do país; enquanto isso, novos estratos sociais participam de movimentos políticos, principalmente nas cidades. As características das décadas de 1945 a 1966 teriam favorecido assim a expan-são das ciências sociais, cuja origem, como se mencionou, está vinculada aos problemas sociais decorrentes das transformações que marcaram o advento da sociedade burguesa.

Entre as características do período em questão, sublinhem-se aqui a con-solidação, o crescimento e a diferenciação da indústria e do mercado editoriais no Brasil. A divulgação das idéias, através do meio específico que é o livro, passa a ser feita em larga escala. Aqueles anos talvez tenham marcado uma modalidade da difusão das idéias em geral, e da divulgação do conhecimento erudito em particular, à medida que o livro “feito no Brasil” foi sendo cada vez mais utilizado para aqueles fins. O conhecimento produzido teria então alcançado um público mais amplo e mais diferenciado do que aquele de con-textos históricos anteriores, quando a indústria do livro era incipiente no país, ou apenas começava a se esboçar.

Pode-se argumentar que as oportunidades de acesso aos livros são me-didas por diversas condições sociais, econômicas e políticas. De um lado, as desigualdades econômicas, sociais e de nível de escolaridade restringem as possibilidades de acesso aos textos; de outro, a produção de títulos pode ser beneficiada ou limitada por políticas econômicas, editoriais ou culturais ado-

14. Empregamos o termo tradição no sentido utilizado em QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op.cit.

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tadas, como também por características ou conjunturas da economia nacional e internacional. Especialmente quanto à publicação em livro das pesquisas so-bre a sociedade brasileira, pode-se argumentar ainda que se destinava, naquele período, a um mercado consumidor reduzido e especializado, que se forjava ao longo das mudanças implementadas na área da educação no país, desde a criação das universidades, das faculdades de filosofia e das reformas do ensino secundário nas décadas de 1920, 1930 e 1940. Todos esses argumentos são válidos e mereceriam um exame minucioso que não nos cabe fazer aqui. Eles não impedem, contudo, a observação de que no período em que se expandi-ram os estudos das ciências sociais, foram oferecidas condições indispensá-veis para o desenvolvimento da indústria editorial no Brasil, por meio do que ampliaram-se as possibilidades de veicular as idéias através dos livros.

Finalmente, levando em conta o término do regime democrático de gover-no em 1964, supõe-se que as condições institucionais, políticas e econômicas, bem como aquelas específicas do mercado editorial, tenham sofrido influ-ências desse fato e possivelmente alterado as características das publicações sobre o tema.

Os motivos que levaram a indagações sobre o perfil das ciências sociais nos anos de 1945 a 1966 são, portanto, os seguintes: a emergência de um conjunto de estudos no campo da disciplina, fruto da institucionalização do ensino e da pesquisa voltados para aquela área do conhecimento, nas décadas de 1930 e 1940, assim como o trabalho de instituições criadas até o início dos anos 1960; as condições propícias à elaboração do conhecimento das ciências sociais que teriam sido oferecidas tanto pelo regime democrático de governo, como pelas transformações econômicas e sociais que nele ocorreram; e a implementação efetiva da indústria do livro no país, que possibilitou em larga escala a divulga-ção das idéias através daquele meio. Essa modalidade da difusão do saber teria caracterizado um primeiro conjunto da produção das ciências sociais, o qual presume-se ter delineado a diferenciação daquele ramo do conhecimento den-tro do quadro da tradição de estudos sobre a sociedade brasileira.

2. O livro como recurso empírico-metodológico e as técnicas utilizadas na pesquisa

Para conhecer o perfil da produção dos cientistas sociais no Brasil, no contexto social e histórico de 1945 a 1966, utilizou-se nessa pesquisa o

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livro como recurso empírico-metodológico. O livro define-se como meio de comunicação e difusão da cultura, como produto e mercadoria, como objeto de arte. Em definição corrente, o termo significa “mensagem escri-ta de extensão considerável feita para a circulação pública, e registrada em materiais leves, mas duradouros o suficiente para ser carregada, compara-tivamente, com maior facilidade”.15 Acrescente-se que o livro é em geral uma publicação não-periódica. Diferencia-se do folheto pelo número de páginas e tipo de capa.16

A escolha do livro como material empírico dessa pesquisa foi precedida de algumas considerações. O registro escrito é, sem dúvida, um elo indis-pensável entre a produção e a recepção das idéias. Ao materializar o saber adquirido, a publicação completa uma etapa do saber, evidenciando interes-se em divulgá-lo para um público mais amplo. Os livros conjugam, ao me-nos, duas ordens de interesse: conhecimento de determinados problemas, debate de tais problemas.

Em segundo lugar, o uso do livro delimita um tipo específico de proce-dimento. Com o decorrer do tempo, não só guarda e acumula idéias, como registra a memória de ações e maneira de pensar de seus autores. É uma fonte vantajosa para a reconstrução histórica porque nela os estudiosos expõem tanto o seu trabalho, quanto a avaliação que dele fazem no mo-mento de sua atualidade.

A memória assim preservada permite que informações e conheci-mentos sejam reatualizados sem passar pelo crivo das condições e re-ferências do presente daquele que as transmite – como ocorre com a memória oral. Jorge Luis Borges dizia que “o mais importante de um livro é a voz do autor.” Como fonte de investigação, o livro garante a continuidade de um diálogo.17

Finalmente, a escolha das obras de ciências sociais possibilita redimensio-nar critérios utilizados nas avaliações da produção intelectual. Um desses cri-térios restringe a produção científica a um grupo de estudiosos que se define

15. Book. In: ENCYCLOPAEDIA Britannica, 1972. v. 3. p. 919.16. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas, órgão filiado à Federation Interna-

tionale de Documentation, o folheto tem no mínimo cinco e no máximo 49 páginas, revestidas de papel ou cartolina. Cf. Normas ABNT sobre informação e documentação, NBR 6029, set. 2002.

17. O comentário está em BORGES, Jorge Luis. O livro. Humanidades, v. I, n. 1, p. 18, out.-dez. 1982.

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pela sua formação especializada, carreira profissional e inserção em institui-ção estritamente voltada para a produção científico-acadêmica. Outro cri-tério busca observar características de estudos e pesquisas, vinculando sua qualidade à qualidade da entidade que propicia condições para sua realiza-ção; neste caso, são avaliados os valores que norteiam as atividades daquela instituição, seus objetivos, a qualificação de seus profissionais, normas que regulamentam sua prática, o grau de autonomia que possui para preservar seus interesses frente àqueles de instituições voltadas para outros fins.

Tanto um como outro dos critérios apontados tendem a limitar o exame de produção científica ao exame de um grupo ou uma instituição “típicos”. Parte-se do pressuposto de que o conhecimento científico se elabora nos limites de um grupo ou de uma entidade que apresenta um conjunto de características e aproxima-se assim de um padrão ideal. Tal perspectiva de análise da produção científica leva ao risco de excluir da investigação tanto o que produziram os estudiosos, quanto o que foi produzido pelas insti-tuições que não tenham as qualidades consideradas indispensáveis para a elaboração de estudos de caráter científico. Aliás, é o que ocorre no perí-odo observado, os autores nem sempre têm uma qualificação específica, havendo entre eles não apenas cientistas sociais, mas também diplomatas, militares, juristas, filósofos.

Diga-se ainda que esse procedimento não privilegia o conhecimento da produção científica, mas a experiência de grupos e instituições voltados para o desenvolvimento das ciências sociais. É certo que as instâncias da produção científica, dos grupos de estudiosos das instituições científicas, estão interligadas e são condicionadas pelas características econômicas, po-líticas, culturais e históricas da sociedade que as abriga, podendo contribuir para a modificação ou manutenção de tais particularidades. Contudo, de-finida a instância que se pretende conhecer, entre os múltiplos planos que envolvem a elaboração do conhecimento científico, segue-se a escolha e o uso de instrumento analítico que permita estudá-la na sua especificidade.

Quanto ao livro, diga-se que o surgimento dos meios audiovisuais de comunicação provocou um amplo debate sobre sua validade como instru-mento de difusão da cultura. O rádio, o cinema, a televisão, as fitas magnéti-cas de gravação, pela velocidade com que informam e atualizam a ocorrên-cia de um fato para grandes audiências, teriam desafiado o lugar longamente privilegiado do livro na transmissão de conhecimentos.

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Todavia, aos argumentos que insistem na permanência do livro somam-se as pesquisas18 que assinalam em toda a parte o crescimento do índice de produção anual de novos títulos. No Brasil, o desenvolvimento da produção editorial – da fundação da Imprensa Régia, em 1808, à década de 1920 – foi considerado um dos mais lentos. Nos anos 1930, esboçam-se a indústria e o mercado editoriais, os quais a partir da década de 1940 apresentam índices crescentes. Estima-se que, entre livros e folhetos, o número de títulos publicados em 1940 tenha sido de 1.678, elevando-se para 3.965 em 1950; 5.377 em 1960; 9.950 em 1971; e 13.267 em 1980, excluídas as publicações oficiais. Em 1980, o Brasil passa a ocupar o 11º lugar na produção mundial de livros. A União Soviética, à frente de todos os outros países, naquele ano publica 80.676.19

Os números são um indicativo importante da permanência do livro ao lado de outros meios de comunicação. Não revelam, entretanto, as numerosas atividades que envolvem sua fabricação. As obras condensam múltiplas rela-ções sociais e históricas, e diversos processos de trabalho. Constituem uma expressão sintética de aspectos da vida social e nacional, tão diferentes quanto interligados, como os aspectos econômicos, políticos e da efervescência da prática intelectual.

Utilizar o livro como fonte de pesquisa pressupõe, portanto, compreender que o conhecimento, além das já referidas relações que mantém com a socie-dade e grupos de estudiosos, está sujeito a mais uma rede de relações sociais, no que respeita à sua divulgação e recepção através da escrita. Trata-se de uma teia de relações exteriores ao processo de produção intelectual stricto sensu. Ainda que não sejam investigadas nesse trabalho, é preciso reconhecê-las, pois indicam limites do material pesquisado.

Nesse sentido, cabe dizer que a produção do conhecimento das ciências sociais e sua transmissão através da escrita são, mesmo no Brasil, evidente-mente, mais amplas do que aquelas que se inscrevem nos livros. As revistas especializadas, as teses e os relatórios de trabalho não publicados constituem outras fontes de análise que, ao lado do livro, conformam o quadro da pro-dução escrita.

A par disso, saliente-se que, no período de 1945 a 1966, as condições institucionais do trabalho científico se encontram em processo de reconhe-

18. Referimo-nos a ANDRADE, Olímpio de Souza. O livro brasileiro desde 1920. 2 ed. Rio de Janei-ro: Cátedra; Brasília: INL 1978; e a HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: T. A. Queiroz/USP, 1985.

19. HALLEWELL, Laurence. Op. cit. p. 406, 426-427, 472 e 615.

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cimento e consolidação no Brasil. Há exemplos de estudiosos que desenvol-veram suas pesquisas em campo de conhecimento distinto daquele de sua formação acadêmica, ou interromperam sua trajetória profissional; há exemplos também de instituições de vida efêmera, ou que mantiveram atividades científicas sem ter logrado estabelecer meios adequados para a consecução de seus objetivos. O estudo da produção científica naquele período exigiria, portanto, duplamente, um procedimento metodológico que privilegiasse a instância da produção cientifica e também observasse suas condições históricas específicas.

A utilização das publicações de ciências sociais em livro, como recurso empírico-metodológico, se mostra então apropriada para a avaliação da pro-dução da disciplina, porquanto põe em evidência a produção propriamente dita e evita a seleção a priori de estudos sobre a sociedade brasileira com base em julgamentos de excelência, ou em requisitos da trajetória acadêmica e pro-fissional de seus autores, ou no funcionamento de instituições. Apresenta-se assim como critério mais adequado às particularidades do período histórico abordado, de condições socioeconômicas tão efervescentes.

Note-se que as características de um conjunto de estudos e pesquisas ins-crevem traços do percurso de seus cultores, das práticas institucionais e da sociedade global; ao descrever e analisar em primeiro plano a produção cien-tífica, o trajeto metodológico dessa pesquisa favorece a observação daqueles traços, sem entretanto limitar o horizonte de investigação dos mesmos.

Esse estudo do perfil das ciências sociais se baseia em uma amostra de 872 livros, constantes do acervo da Biblioteca Nacional, situada no Rio de Janeiro. A Lei do Depósito Legal nº 10.994, de 14 de dezembro de 2004, que determina seja entregue à instituição um exemplar de cada um dos livros publicados no país, justifica a escolha desta Biblioteca. A entidade reúne, ca-taloga e conserva a maior parte da produção intelectual brasileira, embora aquela Lei não venha sendo cumprida com regularidade, como foi possível verificar durante a pesquisa. No entanto, é o acervo mais completo dos livros de ciências sociais.

Foram buscados de início os livros classificados nas disciplinas que em de-finições correntes integram as ciências sociais: sociologia, antropologia, ciência política, geografia humana, história, economia política e psicologia social.20

20. A reunião do material foi feita em duas etapas que cobrem os períodos agosto/outubro de 1985 e março/junho de 1986.

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A seleção das obras se estendeu às publicações datadas de 1945 a 1966. Considerou-se que esta faixa permitiria: 1) incluir na amostra um número significativo de estudos elaborados no contexto social e político focalizado pela pesquisa; sabe-se que o término de um estudo não determina de imediato sua publicação em livro, havendo um tempo, cujo cálculo médio costuma ser de dois anos, entre o final do trabalho e a divulgação de seus resultados em livro; 2) examinar se as crises políticas que marcaram o início dos anos 1960 teriam provocado alterações na produção científica, seja de ordem quantitativa, seja de ordem qualitativa.

No sistema classificatório da Biblioteca Nacional a grande maioria dos livros se encontra definida pela categoria “Brasil”, que se desdobra em nu-merosos subitens como Brasil – história, Brasil – condições sociais, Brasil – religiões. A série Brasil – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística mostra condições demográficas, natalidade, padrão de vida, custo e nível de vida, ci-dades, crescimento, mortalidade, causas, e assim por diante até que se esgotem as possibilidades temáticas.

A partir da categoria-chave “Brasil” formam-se, portanto, conjuntos e sub-conjuntos que terminam por configurar uma espécie de “mapa”, onde estão clas-sificadas as obras de ciências sociais referentes a uma, duas, ou mais daquelas cate-gorias. Os grupos disciplinares “sociologia”, “antropologia”, e outros, com raras exceções, incluem somente obras, manuais e introduções de autores estrangeiros. Durante a coleta, foram analisados todos os conjuntos e subconjuntos indicados, e selecionados os títulos que formam a amostra desse trabalho.

Essa disposição dos títulos nos catálogos fez com que, obrigatoriamente, se lidasse com um amplo universo de obras sobre a sociedade brasileira, para selecionar, entre elas, aquelas cujas fichas catalográficas indicavam sua perti-nência ao campo das ciências sociais. No decorrer da seleção, verificou-se que aos estudos sobre a sociedade brasileira acrescentavam-se obras de autores nacionais dedicadas a questões teóricas e metodológicas sobre o tema. À me-dida que registravam características do pensamento dos especialistas sobre seu campo de trabalho intelectual, no período em estudo, essas obras foram incluídas na amostra.

Depois da coleta dos títulos, as primeiras observações do material leva-ram a um questionamento sobre a constituição das ciências sociais pela sociolo-gia, antropologia e ciência política, como costumam ser reconhecidas no Brasil, com base na organização de departamentos, faculdades e institutos universitários. Notou-se que o conjunto de estudos sobre a sociedade brasileira era formado por

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diferentes enfoques disciplinares, que se complementavam e se interpenetravam, enquanto cada disciplina delimitava sua fisionomia. De tal modo, que optar exclu-sivamente pela pesquisa da produção científica da sociologia, da antropologia e da ciência política seria limitar, às perspectivas desses três campos do conhecimento, o exame dos textos sobre as ações e relações sociais características da sociedade brasileira no período aqui abordado. Manteve-se então o leque disciplinar que se apresentava no acervo da Biblioteca Nacional.

Resta dizer que, para a classificação das obras selecionadas em disciplinas e temas, foram utilizadas as informações contidas nas fichas catalográficas, sobretudo o título do livro, considerado uma síntese de seu conteúdo, dada pelo autor. Ao título foram relacionadas as noções-chave nas quais a obra fora classificada pela Biblioteca, além de outras informações quanto ao conteúdo, quando existentes (algumas raras fichas trazem o índice do livro). A essas indicações somaram-se aquelas relativas ao órgão interessado na publicação, muitas vezes institutos ou centros de pesquisa e ensino em ciências sociais, no caso de publicações sem fins lucrativos.

Durante o processo de classificação foram verificados os seguintes pro-blemas: 1) fichas que não registravam o ano de publicação da primeira edição do livro; 2) informações incompletas devido à má feitura ou à falta de preser-vação das fichas da Biblioteca; 3) informações insuficientes para classificação. Nesse caso, as fichas não apresentavam qualquer outra indicação, exceto o título do livro, seu autor, ano e local de publicação. Tais dados encontravam-se isolados das informações contidas nas noções-chave da classificação da obra. Para resolver essas dificuldades, consultou-se o seguinte material: Introdução ao estudo da Sociologia no Brasil, coordenação de Maria Isaura Pereira de Queiroz, Introdução ao estudo da História do Brasil, coordenação de Sergio Buarque de Holanda, Alice Piffer Canabrava e Nícia Vilela Luz, e Introdução ao estudo da Antropologia no Brasil, coordenação de Egon Schaden, trabalhos apresentados em seminário realizado em São Paulo, em 1971. Utilizou-se também a terceira edição, de 1969, de Teoria da História do Brasil: introdução metodológica, de José Honório Rodrigues, e a quarta edição de O que se deve ler para conhecer o Brasil, de Nelson Werneck Sodré, publicada em 1973. Evitou-se a consulta aos livros coletados na Biblioteca Nacional, senão quando aquele material não registrava o título procurado. Além disso, vale dizer que o acervo guarda alguns livros na sua segunda, terceira ou quarta edições, mas que foram publicados em primeira

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edição no período abordado neste trabalho. Quando foi possível reconhecer esse fato, a obra ficou no conjunto de livros estudados e buscou-se informar ao leitor a data de sua primeira edição.

3. O acervo estudado

Indicamos a seguir, com base nos livros de ciências sociais constantes do acervo da Biblioteca Nacional, características da produção daquele campo do conhecimen-to que se referem à autoria dos estudos, à formação das ciências sociais por diferen-tes disciplinas, e à publicação e divulgação, em livro, de trabalhos realizados.

Pela autoria das 872 obras são responsáveis 585 autores, dos quais 3,8% são mulheres e 4% são estrangeiros (entre homens e mulheres). A julgar pelos títulos existentes na instituição, a autoria da maioria dos livros sobre a ciência, no período referido, é nitidamente masculina e nacional.

Os textos dividem-se nas seguintes disciplinas:

Tabela IDistribuição das obras de ciências sociais por disciplina

Disciplina Número de obra

História do Brasil 303

Economia Política 158

Antropologia 141

Sociologia 121

Ciência Política 83

Geografia Humana 43

Demografia 23

Total 872

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O lugar de destaque da história do Brasil no conjunto das publicações evidencia interesse marcante no estudo da historiografia.21 Os livros que definem esse campo de trabalho correspondem a 34,7% do total de obras distribuídas em sete disciplinas. A história do Brasil, note-se, foi a primeira a ter uma prática organizada de investigação, criada em 1838 pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no contexto das necessidades político-ideológicas da Independência.

Durante quase cem anos, de 1838 a 1934, quando foram iniciadas a for-mação do historiador e as atividades de pesquisa nos meios universitários – a começar pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo –, o IHGB, sediado no Rio de Janeiro, e seus congêneres em outras cidades brasileiras centralizaram a produção historiográfica.

A tradição de estudos do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro tem sido objeto de exame, debate e crítica.22 No mais das vezes, argumenta-se que aqueles textos limitaram-se ao registro de eventos oficiais e ao destaque de vultos históricos, contribuindo no seu conjunto para a exaltação da na-cionalidade. Não caberia aqui discutir a qualidade da historiografia vinculada ao Instituto, mas tão-somente assinalar que a história, uma das mais antigas disciplinas voltadas para as relações travadas entre os homens, foi também no Brasil uma das primeiras a merecer a atenção dos estudiosos, de modo regular e de acordo com normas e valores. A antigüidade do conhecimento da história, no Brasil, poderia explicar a alta percentagem das publicações indicadas na tabela I.

Contudo, assinale-se que o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, dedicando-se de fato ao conhecimento da história do Brasil e não à geo-grafia, foi responsável pelas primeiras pesquisas etnográficas realizadas no país a partir de 1840, cujo foco principal de interesse eram os costumes

21. A propósito da definição dos termos História e historiografia, ver IGLESIAS, Francisco. In-trodução à historiografia econômica. Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, 1959. p. 11-12; CARDOSO, Ciro Flamarion S. Op. cit. p. 25-27; utiliza-se neste trabalho o termo historiografia para denominar o conhecimento produzido no campo da história, o qual se constitui de teorias, métodos e técnicas próprios; emprega-se História para a disciplina.

22. Cf. CANABRAVA, Alice Piffer. Roteiro sucinto do desenvolvimento da historiografia, publicado em HOLANDA, Sergio Buarque; CANABRAVA, Alice Piffer; LUZ, Nícia Vilela (Coord.). Introdução ao estudo da história do Brasil, São Paulo, 1971. Cadernos do Instituto de Estudos Brasileiros; GUIMA-RÃES, Manoel Luiz Salgado. Nação e civilização nos trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história nacional. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 1, 1988.

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de tribos indígenas,23 o que revela a importância conferida à antropologia desde aquela data.

Nesse sentido, convém lembrar que as disciplinas integrantes do elenco das ciências sociais nessa pesquisa, de modo geral começaram a esboçar seus-campos de trabalho no século XIX, seja por meio do ensino, seja pelas pes-quisas e levantamentos feitos em órgãos governamentais, institutos e museus, ou com a publicação de obras precursoras em livro, que demonstram interesse em um campo do saber.24 Ressalte-se o desenvolvimento específico da histó-ria do Brasil, porque entre as disciplinas essa área foi possivelmente a que mais estimulou os pesquisadores, levando ao seu estudo de modo sistemático após a Independência. Tal fato, como já se mencionou, poderia explicar o elevado número de publicações sobre o tema, constante da amostra.

Essas observações iniciais sugerem apenas que o estudo razoavelmente intenso de uma disciplina, em determinado período histórico, não parece es-tar condicionado pelas características específicas de um instrumental teórico e metodológico que se mostre valioso para a compreensão de fenômenos significativos em um momento histórico específico. Poder-se-ia supor que, nos anos de 1945 a 1966, a economia política e a sociologia, devido a caracte-rísticas da identidade cognitiva de cada uma dessas disciplinas, voltadas para o desenvolvimento econômico e as transformações sociais, teriam correspondi-do mais do que outras áreas do saber à demanda de conhecimentos sobre os problemas sociais peculiares àquele período histórico no Brasil; conseqüen-

23. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Brésil, XIXe siècle: les précurseurs des sciences sociales – cul-ture, science et développement. Paris: Privat, 1979; e da mesma autora: Desenvolvimento das ciências sociais na América Latina e contribuição européia: o caso brasileiro. Ciência e Cultura, v. 41, n. 4, p. 378-388. abr. 1989.

24. A respeito da constituição dos campos disciplinares das ciências sociais no Brasil, a partir do século XIX, ver QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Brésil, XIXe siècle: les précurseurs des sciences sociales – culture, science et développement. Paris: Privat, 1979; e da mesma autora: Desenvolvimento das ciências sociais na América Latina e contribuição européia: o caso brasileiro. Ciência e Cultura, v. 41, n. 4, p. 378-388, abr. 1989; AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira, São Paulo: Melho-ramentos, 1956. tomo II, cap. II e IV; AZEVEDO, Fernando de. A antropologia e a sociologia no Brasil. In: ___ (Org.). As ciências no Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1956; PEREIRA, José Verissimo da Costa. A geografia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de. (Org.). As ciências no Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1956. Sobre geografia ver também PRADO JR., Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos. 4 ed. São Paulo: Brasiliense, 1963. p. 165-186; HUGON, Paul. A economia política no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de. (Org.). As ciências no Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1956. Sobre economia política ver também LIMA, Heitor Ferreira. História do pensamento econômico no Brasil. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1976; RODRIGUES, José Honório. Teoria da história do Brasil: introduçao metodológica. 3 ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1969.

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temente, teriam se posicionado de modo mais marcante, relativamente a ou-tros campos disciplinares no quadro de suas publicações em livro. Os dados obtidos indicam, entretanto, que embora figurem sem dúvida em lugar de destaque, o número de publicações em cada uma delas está longe de superar aquele da história do Brasil; ao mesmo tempo, a tabela I mostra que ao lado da economia política e da sociologia, o interesse dos estudiosos pela antropo-logia foi relevante naqueles anos.

Depreende-se, portanto, dessas observações preliminares, ser indispen-sável examinar em seu conjunto os fatores que possivelmente interferem na produção de conhecimento de uma disciplina em um contexto social e histó-rico específico.

Quanto aos dados da tabela I, é necessário destacar ainda algumas observações. Durante o processo de classificação das obras, verificou-se a existência de numerosos estudos sobre o folclore brasileiro. Tais pesquisas não alcançaram o prestígio de uma disciplina científica, mas tangenciam de tal modo os limites da história social, da sociologia e da antropologia, que ainda hoje sua identidade constitui objeto de debates e controvérsias.25 Particular-mente no contexto histórico analisado nesse estudo, quando a diferenciação dos campos de trabalho intelectual se torna foco de interesse dos especia-listas, houve uma ampla discussão sobre o projeto e as “fronteiras” do co-nhecimento sobre o assunto. De modo geral, encontrava-se o folclore como um ramo da antropologia; como disciplina humanística; como fenômeno a ser estudado por disciplinas tais como a sociologia, a psicologia, a lingüísti-ca, a antropologia etc. Ao mesmo tempo, reivindicava-se para o folclore um domínio de conhecimento próprio, científico e autônomo.26Observou-se que os trabalhos sobre o tema, freqüentemente denominados etnográficos em tí-tulos constantes da amostra, tratavam a cultura brasileira do ponto de vista de suas tradições populares. Aproximavam-se assim do objeto característico da antropologia – a cultura –, como também do quadro temático específico

25. Cf. ORTIZ, Renato. Românticos e folcloristas: cultura popular. Texto 3. São Paulo: PUC, 1985.26. Sobre as controvérsias suscitadas pelos estudos de folclore cf. FERNANDES, Florestan. A

etnologia e a sociologia no Brasil. São Paulo: Anhambi, 1958. p. 247-327; CARNEIRO, Edison. Evo-lução dos estudos de folclore no Brasil. Revista Brasileira de Folclore, Rio de Janeiro, p. 159-180, 1962; RAMOS, Arthur. Estudos de folclore. Rio de Janeiro: Casa do Estudante do Brasil, 1958; CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro; VILHENA, Luis Rodolfo da Paixão. Traçando fronteiras: o folclore na década de 1950. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPOCS, XIII, 1989.

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dos estudos antropológicos naquele período, interessados especialmente nos traços constitutivos da cultura brasileira, como veremos mais adiante. A par disso, foram aproveitados apontamentos sobre a história da antropologia no Brasil,27 que mostram como essa disciplina ao institucionalizar-se e estabele-cer seus fundamentos científicos, recebeu e buscou reelaborar o legado de um conjunto de trabalhos sobre aspectos da cultura brasileira, entre os quais o folclore, que vinham sendo realizados desde o século XIX. As pesquisas sobre o assunto figuram então nesses textos no campo da antropologia, ex-cetuando-se aqueles, em número menor, que trataram do tema das tradições populares de uma perspectiva sociológica.

A ciência política consta da tabela com número de obras limitado, se compa-rado aos das quatro primeiras disciplinas expostas, sobretudo história do Brasil. Ele representa, entretanto, quase o dobro do número de estudos da geografia humana, e em muito excede o da demografia. Ao mesmo tempo, a quantidade de estudos apresentada pela ciência política poderia tornar-se significativa, se levássemos em conta que o objeto de conhecimento da disciplina é alvo de con-trovérsias, e os limites entre ciência política, ciência do direito, sociologia política e história política provocam discordância entre os estudiosos.28

Relativamente às outras disciplinas, a geografia humana apresenta um nú-mero restrito de obras. Com base na amostra da Biblioteca Nacional, restaria averiguar as características da constituição desse campo de estudos no Brasil, a fim de compreender os limites de sua produção científica, em comparação a outros temas.

Os trabalhos sobre demografia são os mais reduzidos. A inexistência de um campo próprio para a formação profissional do demógrafo na universi-dade, além do papel de disciplina “auxiliar” que muitas vezes lhe é atribuído seriam fatores, entre outros, a serem investigados no estudo da produção da disciplina dentro do quadro das ciências sociais, pelo menos quanto à amostra da Biblioteca Nacional.

No que respeita aos campos disciplinares que conformam as ciências sociais, cabe dizer ainda que a psicologia social não se esboça enquanto área de estudos

27. Cf. MELATTI, Julio Cezar. A antropologia no Brasil: um roteiro. BIB – Revista Brasileira de Infor-mação Bibliográfica em Ciências Sociais, n. 17, 1984.

28. Cf. EASTON, David. Political Science. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Scien-ces. New York: Macmillan, 1968. v. 12. p. 282.

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sobre a sociedade no conjunto dos livros selecionados. Tampouco evidencia-se uma linha de trabalho específico sobre questões teóricas e metodológicas da disciplina, como ocorre no campo de todas as outras na tabela I.

Duas outras características da produção das ciências sociais, tal como se apresenta na amostra de livros, dizem respeito a sua publicação e divulgação. A cidade do Rio de Janeiro sobressai no conjunto como o grande centro de publicação e divulgação do tema, sendo ali publicadas 58% das obras. O fato de ter sido a capital do país até 1960 concorre para que a produção de editoras comerciais e de órgãos do governo federal concentrem na cidade o maior nú-mero de publicações. São Paulo vem logo em seguida com 24,5% do total de livros. A comparação entre a produção editorial desses dois centros urbanos (82,5%) e aquela das outras cidades brasileiras indicadas na amostra (17,5%) demonstra que a publicação das ciências sociais em livro parece se concentrar no Sudeste do país.

O elevado percentual de livros publicados no Rio de Janeiro e em São Paulo corresponde ao crescimento da indústria editorial e de público leitor especializado, também concentrados naquelas cidades. É preciso observar, entretanto, que aquele percentual não traduz necessariamente uma concen-tração das atividades intelectuais relativas às ciências sociais naqueles centros; portanto, diversos autores de estudos publicados no Rio de Janeiro e em São Paulo não exerceram suas atividades nessas localidades.

Poder-se-ia supor que a distribuição dos livros do Rio de Janeiro e de São Paulo para o restante do país, reduzindo os efeitos da concentração da produ-ção editorial, favorecesse a difusão das ciências sociais em outras localidades. Mas a distribuição dos livros, insuficiente até hoje, deparava-se naquele perío-do com obstáculos ainda mais graves.29 Assim, também obras publicadas em outras cidades brasileiras provavelmente não alcançaram os mercados carioca e paulista. Entretanto, ainda que sejam considerados os problemas relativos à distribuição de livros no país, o destacado número de trabalhos publicados no Rio de Janeiro e em São Paulo, que se evidencia na amostra estudada, é indicativo de que a divulgação das ciências sociais, em livro, ocorreu em larga escala nos dois centros urbanos do Sudeste do país, no período focalizado nessa pesquisa.

29. Problemas relativos à distribuição de livros no Brasil são discutidos em HALLEWELL, Lau-rence. Op. cit. p. 516-519.

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Tabela IIDistribuição das obras de ciências

sociais por disciplina e local de publicação

Disciplina RJ SP SAL BH RE PA Outras Total

História do Brasil 191 66 9 10 3 3 21 303

Economia Política 86 40 5 15 8 3 1 158

Antropologia 83 31 8 1 8 - 10 141

Sociologia 55 47 6 3 4 - 6 121

Ciência Política 55 15 4 6 1 - 2 83

Geografia Humana 20 14 1 1 6 - 1 43

Demografia 15 1 4 - 3 - - 23

Total 505 214 37 36 33 6 41 872

Obs.: São doze as cidades incluídas na categoria “outras”, e apresentam um número de publicações que varia de um a seis.30

Nota-se que há uma variação entre disciplinas e o local de publicação: as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo se distinguem pela maior quantidade de publicações em todas as disciplinas, com exceção da demografia, área em que São Paulo surpreendentemente só apresenta um livro. Nas demais cida-des, o surgimento de publicações é muito mais baixo. Destacam-se, todavia, as publicações de história do Brasil e de economia política em Belo Horizonte. Quanto às cidades restantes, apresentam cada uma menos de dez livros. Essas observações, no entanto, não são concludentes, porque se referem somente às obras que foram remetidas à Biblioteca Nacional. Quantas não o foram?

A publicação de obras com fins lucrativos constitui a maioria de 63%, o que pressupõe a existência de um mercado satisfatório. O Estado, por meio de órgão do governo federal, estadual ou municipal, as universidades e as associações civis são responsáveis por 34% das publicações sem fins lucrativos. Da amos-tra, 1,5% são co-edições e 1,5% publicações sem indicação de editora.

30. Na categoria “outras” estão incluídas as seguintes cidades: Manaus, Fortaleza, Crato, João Pes-soa, Aracaju, Maceió, São João del Rei, Pitangui, Ribeirão Preto, Curitiba, Florianópolis e Brus-que.

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A relação entre interesse com ou sem fins lucrativos e a divulgação das disciplinas se apresenta do seguinte modo:

Tabela IIIDistribuição das obras de ciências sociais pelo tipo de publicação

Disciplina L S/L COE S/ED Total

História do Brasil 225 70 2 6 303

Economia Política 86 65 3 4 158

Antropologia 72 68 1 - 141

Sociologia 82 35 4 - 121

Ciência Política 56 26 - 1 83

Geografia Humana 17 24 - 2 43

Demografia 8 12 3 - 23

Total 546 300 13 13 872

Obs.: L – publicações com fins lucrativos; S/L – publicações sem fins lucra-tivos; COE – co-edições; S/ED – publicações sem indicação de editora.

Observa-se na tabela III que a publicação de estudos das diferentes disci-plinas das ciências sociais se diferencia no que se refere ao tipo de interesse nela envolvido, seja lucrativo ou não. A história do Brasil, a sociologia e a ciência política, ainda que com diferentes percentuais de obras publicadas com fins lucrativos, teriam assegurado ou estariam assegurando sua divul-gação através de editoras comerciais. Distinguem-se delas a antropologia e a economia política por apresentarem boa parte de suas obras financiadas por órgãos do Estado, universidades ou associações civis. Mais diversa, entretanto, é a situação da geografia humana e da demografia, cujos estudos na sua maio-ria são publicados sem fins lucrativos. A história do Brasil com a maioria de publicações com fins lucrativos tem assegurado um lugar no mercado edito-

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rial à frente de todas as outras disciplinas do quadro; relativamente aos outros campos disciplinares apresenta o mais reduzido percentual de obras sem fins lucrativos. Aliás, em todas as disciplinas, com exceção da geografia humana e da demografia, aumenta o número de obras publicadas com fins lucrativos, o que revela a existência de um público interessado em todas elas. A par dis-so, as co-edições − livros publicados em conjunto por editoras comerciais e órgãos do governo −, embora em número reduzido, mostram também o interesse do mercado nas publicações em ciências sociais.

Na tabela abaixo são apresentadas as cidades nas quais os livros com e sem fins lucrativos ocupam um lugar de destaque:

Tabela IV

Distribuição das obras de ciências sociais por local e tipo de publicação

RJ 312 184 5 4 505

SP 174 36 2 2 214

SAL 16 14 6 1 37

BH 10 23 - 3 36

RE 5 28 - - 33

PA 5 - - 1 6

Outros 24 15 - - 39

Total 546 300 13 11 870

Publicações com fins lucrativos

Publicações sem indicações

de editora

Publicações sem fins lucrativos

Co-edições TotalLocal de Publicação

No Rio de Janeiro e em São Paulo existem em grande quantidade publica-ções com fins lucrativos; em proporções muito menores, os títulos de Porto Alegre pertencem também àquela categoria. Em Belo Horizonte e Recife, a quantidade se inverte, aumentando o número das edições não lucrativas,

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enquanto em Salvador elas se equiparam. Há indicação, portanto, de que o mercado livreiro é menor em Belo Horizonte e Recife, e mesmo em Salva-dor, apesar das co-edições de órgãos públicos e editoras comerciais, que se destacam naquela cidade. A quantidade de livros publicados nessas capitais é comparativamente pequena, o que também revela a existência de um mercado reduzido. Ainda que textos nelas publicados não tenham sido enviados à Bi-blioteca Nacional – e, nesse caso, a soma seria maior –, esse total dificilmente superaria o número de obras publicadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Verificou-se também que a Universidade da Bahia e a Universidade de Minas Gerais financiaram grande parte dos livros editados nas capitais mineira e baiana; em Recife, diversas publicações ficaram sob a responsabilidade do Ins-tituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, órgão do Ministério da Educação e Cultura. Na tabela, é notável o pequeníssimo número de livros publicados em Porto Alegre nas categorias examinadas.

As características observadas na amostra de livros selecionada na Bibliote-ca Nacional revelam que a produção de conhecimento no campo das ciências sociais, no contexto histórico dos anos de 1945 a 1966, se apresenta como um conjunto diferenciado.

O conjunto se distingue pelos diversos enfoques disciplinares que dele fazem parte e pela variedade de estudos publicados em livro, em cada uma das disciplinas. Os dados da amostra indicam que os cientistas sociais formavam um grupo heterogêneo, constituído de especialistas em diferentes áreas do co-nhecimento; ao mesmo tempo, a grande quantidade de trabalhos registrados e divulgados em livro, elaborados em cada disciplina, sugere a existência de interesses distintos pelo estudo de temas diversos nesse âmbito.

A difusão das ciências sociais teria sido mais intensa nos dois grandes cen-tros do Sudeste, enquanto a indústria e o mercado editoriais, nessas cidades, teriam favorecido a divulgação das Ciências Sociais. Já em locais como Sal-vador, Belo Horizonte e Recife, além de número comparativamente reduzido de publicações, aparecem quantidades maiores de obras publicadas sem fins lucrativos, financiadas por órgãos de Estado, universidades ou associações ci-vis. Se a quantidade de livros editados revela a demanda por eles, Porto Alegre figura como um dos menores mercados no período estudado.

Há maior interesse de editores comerciais na publicação de estudos de história do Brasil, de sociologia e de ciência política, seguindo-se então o in-

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teresse pela economia política, enquanto órgãos oficiais, principalmente, se responsabilizaram por quase metade das publicações de antropologia e pela maioria dos estudos de geografia humana e demografia.

Notou-se também haver uma variação entre o número de obras publicadas em uma disciplina e o local de sua publicação, sugerindo que a formação de grupos especialistas e a produção em determinados campos disciplinares não ocorrem de modo idêntico nas cidades que editaram textos de ciências sociais.

Tais observações, em seu conjunto, sugerem que no Brasil, durante o pe-ríodo estudado, as ciências sociais apresentam um quadro de trabalhos quali-tativa e quantitativamente diferenciado, cuja publicação e divulgação em livro também apresentam desigualdades.

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O conjunto de livros em ciências sociais constante do acervo da Bi-blioteca Nacional revela um crescimento notável do número dessas publi-cações, podendo-se afirmar com base nos dados analisados que as disci-plinas se expandiram ao longo dos anos de 1945 a 1966.

Entretanto, o florescimento dos estudos não ocorreu do mesmo modo nas duas grandes linhas de trabalho às quais se dedicaram os cien-tistas sociais, interessados ora em questões teórico-metodológicas, ora em problemas concretos da sociedade brasileira. O aumento dos estudos em livro variou também de disciplina para disciplina entre aquelas focali-zadas nessa pesquisa, indicativo de que houve um interesse desigual pelo enfoque das diferentes áreas das ciências sociais. O mesmo se verifica quanto aos temas escolhidos pelos especialistas. Os diversos assuntos tratados não foram completados uniforme e regularmente, chamando uns mais atenção do que outros.

Esse capítulo apresenta, inicialmente, características da expansão do conjunto da produção em livro das ciências sociais. Em seguida, oferece uma descrição do seu universo temático, no período histórico abordado, com base nas obras publicadas em cada tema e disciplina integrantes do acervo estudado.

1. O crescimento da produção das ciências sociais

O exame do gráfico I mostra o aumento dos estudos em ciências sociais, publicados em livro, nos anos que se estendem de 1945 a 1966:

IIDIscIplInas e Temas

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Gráfico 1Livros publicados em Ciências Sociais (1945 - 1966)

1948

1945

10 20 30 40 50 60 70

1946

1947

1952

1949

1950

1951

1956

1953

1954

1955

1960

1957

1958

1959

1964

1961

1962

1963

1965

1966

As cifras revelam que o número de estudos em ciências sociais, publicados em livro, amplia-se no período de 1945 a 1966, porém de modo irregular. De 1945 a 1955, a quantidade de publicações diminui em sua metade (36 livros em 1945 para 18 em 1953), mas em 1954 começa a se elevar, du-

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plicando e triplicando o número de obras sobre o tema a partir daquela data e comparativamente com os anos anteriores, para então atingir seus maiores índices em 1958 (64 obras) e 1959 (62 obras), de acordo com a amostra estudada. Apesar da irregularidade observada no crescimento anual de publicações, no período verificado, é evidente o aumento do conjunto de livros que veio a público a partir da segunda metade da década de 1950. Os dados são sugestivos e mostram que a expansão dos estudos em ciências sociais ocorre justamente quando as mudanças econômicas e sociais tomam vulto, e não apenas quando repercutem nos debates e iniciativas dos meios culturais e científicos, como na consolidação da indústria e crescimento do mercado do livro no país.

Observando, então, que o aumento da produção das ciências sociais se associava às transformações e ao clima de efervescência que distinguem o Brasil de meados da década de 1950, dividiu-se o conjunto dos textos estudados em dois subgrupos correspondentes respectivamente às obras publicadas nos anos 1945–1955 e 1956–1966, de tal modo que se pudesse apreciar a permanência ou não de relações entre as mudanças que ocorriam e os estudos em ciências sociais, no que respeita às preferências por enfo-ques disciplinares e à escolha de temas por parte dos especialistas.

2. Duas linhas de trabalho dos cientistas sociais

No período analisado, a produção em livro das ciências sociais, inscrita na amostra observada nesse estudo, evidencia duas linhas de trabalho cultivadas pelos cientistas sociais. A primeira delas, repre-sentada no conjunto obras sobre a disciplina, tem como interesse o corpo conceitual e teórico de um tema, tratando de problemas relativos à elaboração de estudos e pesquisas, bem como ao ensino da disciplina no país. Essa vertente está, portanto, voltada para a de-limitação, o aprimoramento e o controle das atividades de um campo específico de trabalho intelectual. Por meio desse grupo, seria possí-vel avaliar o interesse dos estudiosos no autoconhecimento de suas atividades e o papel que atribuíam à produção do saber no âmbito de uma área específica.

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A segunda linha de trabalho, inscrita no conjunto obras sobre temas específicos, tem como alvo o conhecimento de múltiplos aspectos da so-ciedade brasileira. Recordando uma das características das ciências sociais, referida no capítulo I, a qual define o “sentido” das disciplinas como o de esclarecer cientificamente problemas sociais, com a finalidade de oferecer informações que possam orientar práticas de grupos sociais, poder-se-ia di-zer que esse conjunto de textos expõe os problemas da sociedade brasileira que os estudiosos julgaram relevante esclarecer, no contexto dos anos de 1945 a 1966, e que, paralelamente, interessavam ao público leitor.

Observe-se no quadro I o crescimento dessas duas linhas de estudos e reflexão:

Quadro I

Obras em ciências sociais publicadas

nos anos 1945 - 1955 e 1956 - 1966

Tipo de obra Total 1945 -1955 1956–1966

Obras em ciências sociais 872 321 551

no seu conjunto

Obras sobre a disciplina 145 53 92

Obras sobre temas específicos 727 268 459

É notável o aumento das obras em ciências sociais no contexto histórico em foco: de 1945 a 1955 são publicadas 321 obras, corres-pondendo a 36,81% do total de livros da amostra, enquanto de 1956 a 1966 publicam-se 551 obras, ou seja, 63,19%. Quanto às duas li-nhas básicas de estudo, às quais se dedicaram os especialistas naque-les anos, nota-se que o número de obras sobre a disciplina aumenta de 53 para 92; já a quantidade de obras sobre temas específicos se eleva de 268 para 459. Porém, a despeito do aumento, o peso desses

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diferentes estudos não se altera nas duas fases focalizadas. O conjun-to das obras sobre a disciplina soma aproximadamente 16,50%, e as obras sobre temas específicos cerca de 83,50% dos livros publicados, em cada um daqueles períodos (321 e 551 obras).

Os números mostram o peso das publicações sobre temas específi-cos e concretos ultrapassando em muito o das obras sobre as disciplinas. Maria Isaura Pereira de Queiroz havia notado em seu trabalho sobre o desenvolvimento das ciências sociais no Brasil, de 1850 até a década de 1930, que os estudiosos brasileiros sobre o assunto foram muito mais pesquisadores que pensadores – o esclarecimento de problemas concre-tos da sociedade brasileira os atraía mais do que as reflexões teóricas.1 Esse fato parece se repetir no período examinado, assim como o expres-sivo crescimento das obras em ciências sociais. As posições dos estudos nas categorias obras sobre a disciplina e obras sobre temas específicos não se alteram no conjunto dos livros publicados, em nenhuma das fa-ses apontadas no quadro I.

3. O interesse desigual pelas disciplinas

O interesse pelo estudo das diferentes disciplinas das ciências sociais foi desigual e variável no contexto dos anos de 1945 a 1966, de acordo com a amostra de livros analisada. Poder-se-ia indagar que motivos levam a conferir maior ou menor importância a uma disciplina científica em um contexto social e histórico específico? Por que a identidade cognitiva de uma disciplina é mais valorizada do que outras em determinado país e pe-ríodo histórico?

A fim de compreender esse interesse desigual e variável no contexto histórico em foco, deve-se observar o quadro II, com o número de obras publicadas pelas diferentes disciplinas constantes da amostra dessa pesquisa nos anos 1945 - 1955 e 1956 - 1966.

1. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Desenvolvimento das ciências sociais na América Latina e contribuição européia: o caso brasileiro. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 41, n. 4, p. 378-388, abr. 1989.

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Quadro IIObras publicadas por disciplina

nos anos 1945 - 1955 e 1956 - 1966

Disciplinas 1945–1955 1956–1966

História do Brasil 123 180 T = 303

Economia política 46 112 T = 158

Antropologia 70 71 T = 141

Sociologia 34 87 T = 121

Ciência política 20 63 T = 83

Geografia humana 18 25 T = 43

Demografia 10 13 T = 23

Ao longo do período entre 1945 e 1966, a quantidade de obras pu-blicadas aumentou em todas as disciplinas, exceção feita à antropolo-gia, cujo número de livros se mantém praticamente igual nas duas fa-ses analisadas. Ao mesmo tempo, os dados evidenciam uma acentuada desigualdade no “ritmo” de crescimento das publicações em cada um dos campos do saber. Enquanto as publicações na área da ciência polí-tica crescem 238,88% e as da sociologia 155,88%, no campo da história do Brasil seu aumento é de 46,34%, e na antropologia a diferença no número de livros entre um e outro período é de apenas uma obra. Tal desigualdade é muito significativa, uma vez que sugere uma variação profunda ao longo daqueles anos, tanto da procura pelo estudo de certas disciplinas por parte de grupos de pesquisadores, quanto da demanda por conhecimentos específicos proveniente de um público letrado. O crescente interesse por determinadas áreas do saber, em detrimento de outras, demonstra que a experiência das mudanças ocorridas na socie-dade brasileira naquele período, trazendo à tona novos problemas para a camada intelectual, concorreram para o desenvolvimento desigual das disciplinas das ciências sociais.

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Nos anos de 1945 a 1955, marcados pela redemocratização do país e pelo surgimento no mercado livreiro de um primeiro conjunto significativo de pes-quisas no campo das ciências sociais, a história do Brasil se destaca das demais disciplinas com 123 livros, de acordo com a amostra estudada. Segue-se a antropologia, cujo número de estudos também supera em muito o das demais áreas; sem dúvida, a produção nesses dois campos de trabalho sobressai nessa primeira fase no conjunto das publicações. Veja-se que, comparativamente, a economia política (46 obras), a sociologia (34 obras) e a ciência política (20 obras) desfrutam de um lugar mais discreto; a geografia humana (18 obras) e a demografia (10 obras) oferecem número limitado de textos.

Já os anos de 1956 a 1966 destacam-se pela consolidação da etapa do processo de industrialização e pela efervescência dos debates voltados para o desenvolvimento nacional, mas também pelas crises de caráter econômico e político que ocorrem em seguida ao acelerado crescimento econômico, culminando com o término do regime democrático de governo em 1964. Nessa fase, a história do Brasil permanece oferecendo o maior número de obras (180 livros), porém o baixo índice de aumento de seus estudos em livro (46,34%) mostra uma modificação da posição privilegiada que ocupara em anos anteriores. A economia política, no entanto, eleva em 143,47% as suas obras, apresentando 112 livros, enquanto as publicações da sociologia crescem 155,88%, com a soma de 87 textos. As duas disciplinas superam então a antropologia e passam a disputar as primeiras posições no conjunto das publicações em ciências sociais. Chama a atenção, nessa segunda fase, o número inalterado de livros na área da antropologia relativamente aos anos anteriores, perdendo esses estudos sua posição de relevo. Ao mesmo tempo, sobressai o interesse pela ciência política, que triplica o número de seus li-vros, aumentando a quantidade de suas obras em 238,88% naqueles anos. A par disso, percebe-se que a geografia humana e a demografia praticamente não modificam sua posição no rol das publicações em ciências sociais.

Cabe observar que a variação do “ritmo” de crescimento das publicações em cada uma das disciplinas, correspondendo a uma mudança da procura por conhecimentos específicos do campo das ciências sociais – indicativo da consciência de novos problemas por parte da camada intelectual – vai alterar, como mostram os dados do quadro III, abaixo, a contribuição de cada uma das áreas do saber, dentro do conjunto da produção das ciências sociais.

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Quadro IIIObras em ciências sociais publicadas por disciplina (%): 1945 - 55 e 1956 - 66

Disciplinas 1945–1955* 1956–1966**

História do Brasil 38,19 32,72 T= 303

Economia política 14,28 20,36 T= 158

Antropologia 21,73 12,90 T= 141

Sociologia 10,55 15,81 T= 121

Ciência política 6,21 11,43 T= 83

Geografia humana 5,59 4,54 T= 43

Demografia 3,10 2,35 T= 23

* Total de obras 321 ** Total de obras 551

Comparando a contribuição das diversas disciplinas ao longo das duas fases mostradas pelo quadro III, observa-se que a liderança da história do Brasil é posta em xeque naqueles anos, ainda que os historiadores mantenham sua posição de destaque. O mesmo não ocorre com a antropologia, que tem consideravelmente diminuída a oferta de seus estudos no conjunto dos livros, caindo sua contribuição a partir de meados de 1950. Sem dúvida, a julgar pela amostra analisada, são a economia política, a sociologia e a ciência política que, aumentando muito a quantidade de seus livros, têm modificadas suas po-sições, de modo significativo, no conjunto dos textos. Nos casos da geografia humana e da demografia, o crescimento do número de obras de um período para outro não foi suficiente para que alcançassem melhor posição; ao contrá-rio, a posição desses estudos se torna ainda menos relevante.

O aumento da produção em cada uma das disciplinas, assim como a po-sição que ocupam no conjunto das publicações nas duas fases apresentadas, mostra que as mudanças ocorridas levaram na realidade a uma oferta mais equilibrada, sempre sob a liderança da história do Brasil, dos conhecimentos de economia política, da antropologia e da sociologia, campos preferenciais das ciências sociais ao longo de todo aquele período. A ciência política passou a figurar numa melhor posição no conjunto devido ao grande estímulo pelo seu estudo, e os campos da geografia humana e da demografia distinguiram ainda mais seu lugar pouco privilegiado entre as obras sobre o tema.

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Contudo, os dados sobre o interesse desigual e variável pelas disciplinas das ciências sociais evidenciam também que, ao longo dos anos de 1945 a 1966, ocorreram mudanças quanto ao valor atribuído às diferentes áreas daque-le conhecimento, tanto pelos especialistas, quanto pelo público leitor. A prefe-rência crescente pela economia política, pela sociologia e pela ciência política sem dúvida contrastou com o interesse pelo estudo das demais disciplinas que se manteve igual ou, comparativamente, cresceu de modo irrelevante durante aquele período. Poder-se-ia dizer que o contexto histórico em foco – favo-recendo a consciência dos fatos e das relações sociais e econômicas, bem como de suas implicações políticas – motivou sobremaneira o crescimento daquelas três disciplinas, cujos instrumentos teórico-conceituais e pesquisas se mostraram mais apropriados para a elucidação dos problemas relativos ao desenvolvimento econômico e social do país.

As áreas da história do Brasil e da antropologia foram as primeiras a in-teressar os pesquisadores brasileiros. No capítulo I, vimos que a criação do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1838, assinala o início de uma longa tradição nacional de estudo no campo da história do Brasil. Ao lado desses trabalhos, a partir de 1840, o Instituto começou a divulgar em sua revista as primeiras pesquisas etnográficas de estudiosos brasileiros, cujo foco principal de interesse eram os costumes indígenas, indicativos da importância conferida à antropologia desde aquela data. Se as influências das transforma-ções sociais e econômicas pesaram nos critérios de seleção e valorização das disciplinas das ciências sociais, as peculiaridades inerentes às condições histó-ricas daqueles anos não impediram a continuidade dos estudos nos campos tradicionais da história do Brasil e da antropologia. Sua persistência no tempo, sobretudo no contexto histórico em que a atenção de grupos da camada inte-lectual se voltou notadamente para os problemas de ordem socioeconômica, mostra que os temas e as questões próprias daquelas duas disciplinas perma-neceram no horizonte de interesse de especialistas e continuaram repercutin-do positivamente junto ao público leitor.

A julgar pelos dados disponíveis, a geografia humana e a demografia não estabeleceram um “diálogo” com um público mais amplo, através do livro, recebendo dele incentivo para a intensificação de seus estudos. Consideran-do que a seleção e a valorização das disciplinas das ciências sociais, naquele momento histórico, resultaram, de um lado, das possibilidades que elas ofe-reciam – por meio de seus instrumentos teórico-metodológicos e de suas pesquisas – para a compreensão de problemas socioeconômicos candentes daquela atualidade, e de outro, do fato de integrarem uma tradição de estu-dos nacionais, poder-se-ia dizer que a geografia humana e a demografia não

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atenderam a esses critérios seletivos tão satisfatoriamente como as demais disciplinas, conservando-se numa posição pouco privilegiada no conjunto das ciências sociais.

4. O horizonte temático das ciências sociais

As condições para o surgimento ou para a continuação de um estudo são diversas e variáveis. O aparecimento de novos temas, a permanência de tantos outros, a estagnação no processo de investigação de um assunto, sua retoma-da sob outro enfoque são fatos que podem, portanto, ser apreciados a partir de diferentes pontos de vista.

As ideologias políticas, as filiações partidárias dos pesquisadores e ainda os impactos de certos problemas sociais em determinado momento podem concorrer para legitimar o exame de certo assunto. Ao analisar as comunica-ções de pesquisa no campo das ciências do homem, apresentadas na Socie-dade Brasileira para o Progresso da Ciência, em 1982, Maria Isaura Pereira de Queiroz mostra a notável quantidade do que chama de pesquisas de denúncia, “concebidas para forçar a atenção do público para determinado problema considerado implícita ou explicitamente ‘insuportável’, diferenciando-as das pesquisas fundamentais, das descritivas e das especulativas”.2

A par disso, as instituições voltadas para a produção de conhecimento estabelecendo regras e normas para a formação de pesquisadores, para seu percurso profissional e sua carreira, e estimulando a competitividade entre eles seriam um fator a mais entre outros a influenciar as escolhas temáti-cas. Somam-se a isso os recursos materiais indispensáveis para a pesquisa, os critérios e os interesses dos órgãos governamentais ou privados que a financiam, e as disputas pela obtenção dos recursos. O intercâmbio entre pesquisadores de diferentes países e as influências recebidas atuariam tam-bém sobre as opções temáticas.

Em que pese a influência dos mais diversos fatores na escolha de um tema, é certo que não se elaboram estudos sobre qualquer assunto em qualquer contexto social e histórico. Se a escolha de um tema varia de acordo com tan-tos incentivos, ela está definitivamente vinculada também à efetiva existência de problemas dentro de uma sociedade, num momento histórico específico. Tanto assim, dizia Herbert Baldus, que “os fatos que principalmente chamam a atenção do observador dizem respeito a si próprio e a seu povo em deter-minada época. Em outras palavras: a escolha de fatos feita pelo observador

2. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. SBPC, 1982: caracterização das comunicações de pes-quisa nas ciências do homem. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 35, n. 4, p. 463-465, abr. 1983.

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representa certa informação sobre o ambiente social e cultural em que ele se criou e costumava viver”.3

Entretanto, para que seja possível questionar os diferentes fatores que inter-ferem na escolha de temas no campo das ciências sociais, torna-se indispensável conhecer os assuntos tratados. Para tanto, será delineado a seguir um quadro dos temas focalizados em livro no contexto dos anos de 1945 a 1966, com base na quantidade de obras publicadas e na variação do número de livros sobre cada um daqueles temas ao longo do período, de acordo com os dados da amostra.

5. Os temas da história do Brasil

Para Henri Berr e Lucien Febvre, a “história é o estudo da mudança na huma-nidade”. Se grupos e sociedades fossem sujeitos a leis imutáveis não existiria histó-ria. Mas também não existiria história se estivessem em perpétua mudança, pois só haveria caos e anarquia. A história é para os autores “alguma coisa que muda em oposição ou conexão com aquilo que permanece constante ou se repete”.4

Empregamos aqui o termo historiografia para o conjunto de pesquisas, estudos e relatos sobre fatos históricos produzidos no campo da história, re-servando este termo para a disciplina, que incluiria, ao lado da historiografia, um corpo de conhecimentos de caráter exclusivamente teórico-metodológico, além do ensino ou a transmissão desses conhecimentos.

A história do Brasil, na amostra estudada, revelaria – de acordo com o ponto de vista citado acima – o que os historiadores de 1945 a 1966 registram enquanto mudança e como a analisam. Essa disciplina conta com o maior número de publi-cações no período pesquisado, representando 34,7% dos livros, e a qualidade das linhas de estudo em que se subdivide evidencia uma configuração temática pecu-liar, que não se apresenta nos demais campos examinados das ciências sociais.

Numa primeira observação do quadro IV, exposto a seguir, o estudo da história do Brasil se traduz nas seguintes linhas de trabalho: obras cujo objeto é a própria disciplina; obras que buscam traçar as características gerais de determinada duração de tempo, reunindo relatos sobre a história do Brasil e textos que enfocam um de seus períodos; obras que versam sobre um setor específico das atividades humanas – político, econômico, social e intelectual; e estudos biográficos. Note-se, no conjunto de 303 livros, o peso das publica-ções em cada uma dessas áreas, e como variou o interesse por seu estudo ao longo dos anos em foco.

3. Cf. BALDUS, Herbert. Bibliografia crítica da etnologia brasileira. São Paulo: Comissão do IV Cente-nário da Cidade de São Paulo, 1954.

4. Cf. BERR, Henri; FEBVRE, Lucien. History. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences, New York: Macmillan, 1948. v. VII, p. 358.

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Quadro IVObras por tema em história do

Brasil, nos anos 1945-1955 e 1956-1966

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Obras sobre a disciplina

Avaliação da produção historiográfica 7 3 4

Problemas teórico-metodológicos 4 1 3

Avaliação do ensino da disciplina 1 - 1

Subtotal 12 4 8

Obras sobre temas históricos gerais

História do Brasil 7 2 5

História da Colônia 3 3 -

História do Império 9 3 6

História da República 5 3 2

Subtotal 24 11 13

Obras sobre temas específicos

História Política 188 78 110

História Econômica 27 7 20

História Social 18 8 10

História das Idéias 11 3 8

Subtotal 244 96 148

Obras biográficas 23 12 11

Total 303 123 180

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O conjunto obras sobre a disciplina apresenta trabalhos de análise de seu campo de conhecimento, diferentemente de outras disciplinas que não de-monstram interesse nesse exercício de auto-avaliação, discussão e controle do trabalho. Na categoria avaliação da produção historiográfica encontram-se sete estudos que apreciam a qualidade do conhecimento produzido no Bra-sil, no campo da história, sobre fatos históricos que ocorreram no país. De acordo com os títulos, tratar-se-ia de textos de caráter geral, havendo também trabalhos que buscam examinar os relatos feitos sobre a história do estado de Minas Gerais, o domínio holandês e a instituição militar no país. Com menos obras, a categoria problemas teórico-metodológicos reúne trabalhos sobre os fundamentos de distintas concepções de história e livros que expõem teorias e métodos próprios da disciplina. A publicação que analisa o ensino da his-tória trata da transmissão dos conhecimentos desse ramo do saber na escola secundária com base nos programas e livros nela utilizados.

Ainda que se destaquem de outros especialistas quanto ao interesse nessa linha de trabalho, os historiadores a ela se dedicam limitadamente (12 em 303 obras). Se forem levados em conta os numerosos textos publicados nos outros temas e o fato de que a produção historiográfica no Brasil inicia-se, formal e institucionalmente, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, em 1838, muito já poderia ter sido feito sobre esse assunto. José Roberto do Amaral Lapa comenta esta lacuna, indicando haver-se estimulado aquele exer-cício somente nas décadas de 1960 e 1970.5

Apesar do restrito número de obras sobre a disciplina, em quaisquer dos períodos apresentados no quadro IV, verifica-se um aumento da quantidade de estudos nessa linha. Entre os historiadores, a busca pela reflexão crítica da produção historiográfica fica registrada em livros publicados no período 1945–1955 e em número semelhante de obras divulgadas nos anos seguintes. A discussão sobre os problemas teórico-metodológicos da disciplina apenas começou a se esboçar, figurando uma obra sobre o assunto publicada na pri-meira fase do período e três na segunda. As tentativas de modificar a feição tradicional da produção historiográfica, por meio de avaliações e debate de problemas teóricos, embora possam ter sido relevantes, foram sobretudo es-cassas e, aparentemente, não repercutiram, àquela época, junto à grande maio-ria dos historiadores, que teria se mantido fiel aos estudos mais tradicionais da história do Brasil, como veremos adiante.

5. LAPA, José Roberto do Amaral. Historiografia brasileira contemporânea. Petrópolis: Vozes, 1981. p. 207 e 218.

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O quadro IV mostra reduzido número de obras sobre temas históricos gerais (24 em 303). A reconstrução de um período da matéria histórica é o que identifica essas publicações. Os ramos especificados da disciplina acen-tuam, em contrapartida, a diversidade dos setores do real que constituem a história. É comum questionar-se duplamente o conhecimento histórico: quanto à sua generalidade e quanto à sua especificidade. Os trabalhos es-pecializados, embora indispensáveis, mutilariam a unidade do conjunto da história; também se discute a validade dos critérios que fundamentam as sínteses das histórias gerais.6

O pequeno interesse na elaboração das obras gerais sugere problemas, seja de ordem teórica – dificuldades na escolha de critérios para a elaboração de uma síntese da história do Brasil –, seja de ordem prática, já que a qualidade do trabalho exige levantamento e análise de material exaustivo, nem sempre realizáveis pelo pesquisador individual. Dos livros que abarcam o continuum da história do Brasil, apenas três constituem trabalhos de larga exposição de fatos históricos.

O Império é o período mais estudado entre as obras que tratam de uma duração específica daquele continuum. De nove textos, quatro abrangem o perí-odo como um todo, dois focalizam o Primeiro Reinado e três o segundo. Com relação à República, os cinco livros versam sobre dois assuntos: a consolida-ção do regime republicano e as características da República Velha. O período colonial merece pouca atenção no período estudado e é possível que a dificul-dade em encontrar fontes tenha sido um fator a desanimar os pesquisadores.

Quanto aos temas históricos gerais, salienta-se o aumento de obras sobre o conjunto da história do Brasil e sobre o Império, que têm praticamente du-plicado o número de livros de um período para outro. A história da Colônia, na amostra estudada, não parece ter sido objeto de maior atenção dos histo-riadores ao longo daqueles anos, figurando com apenas três obras publicadas entre 1945 e 1955. Mais adiante, veremos que os estudos sobre a Colônia sobressaem no ramo da história econômica. Quanto à história da República, a quantidade de livros se mostra semelhante nas duas fases apresentadas no quadro IV.

Seguindo a relação de itens examinados surgem as obras sobre temas es-pecíficos. Elas relatam características de uma prática social, numa duração

6. Comentários críticos sobre a especialização dos estudos históricos encontram-se em RODRI-GUES, José Honório. Teoria da História do Brasil: introdução metodológica. 3 ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1969. p. 145; sobre a dificuldade das sínteses, cf. BERR, Henri; FEBVRE, Lucien. Op. cit., p. 359-362.

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de tempo determinada, revelando a especialização de trabalho intelectual no campo da história.

A escolha de uma só prática social para registro e análise suscita questões relativas ao “corte” ou “deformação” da unidade do processo histórico. Por isso, Francisco Iglésias,7 ao discutir problemas inerentes às histórias especiais, afirma que é uma conquista sempre que seu estudo leva em conta o processo geral de desenvolvimento histórico, fugindo assim àquela deformação.

Na amostra, as obras sobre temas específicos se apresentam em quantida-des muito desequilibradas no que respeita ao número de publicações em cada tema. A história política supera nitidamente todas as demais, pois os proble-mas políticos chamaram a atenção dos estudiosos mais do que qualquer outro. Note-se que os livros sobre história econômica, história social e história das idéias apresentam-se, em quantidade, relativamente nivelados, sempre muito abaixo da história política.

Entretanto, é no conjunto das obras sobre temas específicos que se obser-va maior intensificação dos estudos. Possivelmente, no contexto histórico dos anos de 1945 a 1966 se desenvolveu o interesse pelos textos especializados no âmbito da historiografia brasileira. Note-se no quadro referido, que há um crescimento da quantidade de obras em todos os ramos assinalados: história política, história econômica, história social e história das idéias.

No que se refere à história política, saliente-se sua continuidade e aumento substantivo do número de suas obras – 78 publicadas nos anos 1945–1955 e 110 na fase 1956–1966.

Segue-se, no quadro IV, a variação da quantidade de livros nos campos da história econômica, história social e história das idéias nos anos 1945–1955 e 1956–1966. Fica evidente a intensificação dos estudos em história econômica com o número de livros se elevando de sete para 20. Igual interesse parece não ter ocorrido com a história social, que permanece publicando quase o mesmo número de obras nos dois períodos. A história das idéias, entretanto, logrou mais atenção dos historiadores a partir de meados dos anos 1960, au-mentando de três para oito o número de suas publicações.

Comparativamente, os estudos biográficos aparecem com destaque. Dis-tinguem-se das obras gerais e específicas ao trazerem à tona as característi-cas pessoais e a atuação pública de uma personalidade. Considera-se nesses trabalhos que a ação individual, singular contribui de modo predominante

7. Cf. IGLÉSIAS, Francisco. Introdução à historiografia econômica. Belo Horizonte: Faculdade de Ciên-cias Econômicas/UFMG, 1959. p. 11-26.

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para a constituição de fatos relevantes que identificam uma fase ou período histórico. É o caso das biografias de Pedro I e de presidentes da República Ve-lha. A atuação individual é, por vezes, claramente considerada indispensável para a construção histórica: as biografias de Tiradentes fazem o elo entre sua trajetória e a emancipação da Colônia; o percurso do Duque de Caxias serve de referência para a participação militar na edificação da nação; ao Barão do Rio Branco associam-se acertos da história diplomática; a Mauá, a iniciativa econômica.

Apesar dos diversos problemas suscitados por esse tipo de estudo, que pode distorcer a história ao enfatizar personalidades individuais,8 as biografias se fazem representar significativamente no quadro da produção historiográ-fica: quatro recuperam do período colonial as figuras do Marquês de Pombal e de Tiradentes; entre políticos e militares, oito biografias estudam figuras do Império; seis livros rastreiam o trajeto de diplomatas e estadistas que transi-tam entre o Império e a República; e cinco contam a vida de políticos repu-blicanos. As biografias são publicadas nas duas fases focalizadas, sem sofrer alterações.

Depreende-se dos dados, que a grande maioria dos temas pesquisados pe-los historiadores permaneceu sendo focalizada ao longo do período aborda-do, havendo mesmo, de modo geral, uma intensificação das diferentes linhas de trabalho dos estudiosos.

5.1 História política

A história política, como se viu, destaca-se de forma notória pela quanti-dade de obras publicadas colhidas na amostra. Já se observou que a atividade política vista como extraordinária foi, por longo tempo, considerada o motor da história. Ações e feitos políticos rompem a rotina cotidiana, ordinária, for-mando uma cadeia que registra, no mais das vezes, o surgimento, a formação e o declínio de nações. Hannah Arendt9 faz distinções entre a tradicional e a moderna concepções de história, caracterizando a primeira como a tentativa de imortalizar, através da memória, façanhas de povos inscritas nas ações de seus líderes, condutores e heróis – entre outros traços apontados pela autora.

8. Cf. RODRIGUES, José Honório. Op. cit., p. 146 e 147. 9. ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1979. p. 69-127.

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“Na época moderna”, adverte ela, “a História emergiu como algo que jamais fora antes. Ela não mais se compôs dos feitos e sofrimentos dos homens, e não contou mais a história dos eventos que afetaram a vida dos homens; tornou-se um processo feito pelo homem, o único processo global cuja exis-tência se deveu exclusivamente à raça humana.”10

Faz-se alusão a essas distinções sem pretender discuti-las ou desenvolvê-las, pois não é propósito desse trabalho analisar os fundamentos epistemoló-gicos ou as características metodológicas de produção das ciências sociais no Brasil no período de 1945 a 1966, mas buscar conhecer sua constituição disci-plinar e temática. Ainda assim, cumpre situar as discussões que habitualmente envolvem a historiografia política: sua antigüidade lhe confere as marcas de uma concepção tradicional de história, embora não se possa afirmar que to-dos os estudos nesse ramo de conhecimento, na amostra analisada, registrem essa herança na sua elaboração. O apreço dos historiadores brasileiros pelo conhecimento da atividade política de seu país é ainda mais notável quando se considera que as biografias, exceto uma, descrevem a ação singular de figuras proeminentes na política. Além disso, a periodização da história do Brasil em Colônia, Império e República está fundamentada em eventos de ordem po-lítica. O Descobrimento, a Independência e a Proclamação da República são eleitos “divisores de águas” de períodos característicos da história ou, como dizem Henri Berr e Lucien Febvre, acontecimentos promovidos à “dignidade de limites”.11

O período colonial, inaugurado pelo ato do Descobrimento, esteia-se em uma relação de dependência das novas terras à metrópole portuguesa, cujo caráter é político-administrativo, jurídico, socioeconômico, intelectual; poder-se-ia argumentar que o ato do Descobrimento, descortinando o período colo-nial, não basta para demonstrar o critério político da periodização. Mas, sem dúvida, a Proclamação da Independência e da República são atos políticos que delimitam sistemas de governo.

Tratando-se de livros, tudo indica que entre os círculos letrados consumi-dores das obras em história do Brasil, predominava também uma visão “tra-dicional” do tema. Tal visão certamente teria repercutido no ensino daquela disciplina obrigatória na escola primária e secundária, marcando em gerações de brasileiros um modo específico de conceber a história do Brasil, o qual pouca ênfase dava às mudanças históricas de ordem econômica e social.

10. Ibidem, p. 89.11. BERR, Henri; FEBVRE, Lucien. Op.cit., p. 365-366.

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O conjunto de obras que integram, nesse trabalho, a categoria história po-lítica consta de três tipos de estudo: livros sobre eventos históricos ocorridos entre 1500 e 1945, aproximadamente, e reconhecidos como os móveis prin-cipais da formação do país; textos sobre as instituições militar, diplomática, político-jurídica, administrativa e eclesiástica; obras que relatam a fundação de cidades, a história de estados da Federação e a conquista de regiões; ou regis-tram o suceder particular de fatos “indispensáveis” para a história do país, no âmbito daquelas localidades.

Quadro VNúmero de obras por tema em história política:

1945-55 e 1956-66

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

História dos eventos políticos 99 42 57

História das instituições políticas 47 20 27

História de cidades, estados da 42 14 28

Federação e regiões

Total 188 76 112

Os livros sobre os eventos que marcaram a vida do país são visivelmente mais estudados do que os textos circunscritos à história das instituições ou de localidades. O primeiro conjunto reúne narrativas sobre acontecimentos e esboça os traços de uma prática de dominação de grupos humanos sobre outros, sempre referenciada aos limites geográficos onde o exercício daquela atividade se desenvolve. No segundo conjunto, descrevem-se práticas políti-cas sistematizadas, reconhecidas legítima e legalmente, ou sua criação e seu desenvolvimento. Finalmente, as obras do terceiro grupo dizem respeito à conquista de regiões ou a fundação de cidades; outra vertente desses estudos retoma fatos de importância política geral para mostrar como ocorreram em algumas localidades.

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O quadro V mostra um crescimento das publicações nas três grandes linhas temáticas focalizadas pelos historiadores políticos. Contudo, destaca-se no conjun-to, comparativamente, o aumento em dobro dos livros sobre história de cidades, estados da Federação e regiões.

5.1.1 História dos eventos políticos

Vale observar como se articulam os relatos que se inscrevem em cada uma das partes diferenciadas da história política e a relação entre elas, para que se aponte de que maneira essa linha da historiografia reatualiza uma tradição de estudos sobre a formação da nação. As obras sobre os eventos políticos se distribuem da seguinte forma, de acordo com a seqüência cronológica dos assuntos tratados:

Quadro VINúmero de obras por tema em história dos eventos:

1945-55 e 1956-66

Temas Obras

1945 1955

1956 1966

Descobrimento 5 2 3

Ocupação territorial 7 2 5 (capitanias e sistemas de sesmarias)

Invasões estrangeiras 16 7 9

Ocupação territorial 12 4 8(entradas e bandeiras)

Independência 12 3 9

Movimentos de “quebra” e manutenção 17 12 5 da unidade política no Império

Movimentos de “quebra” e manutenção 30 12 18da unidade política na República

Total 99 42 57

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Os acontecimentos mais distantes no tempo, como o Descobrimento e as primeiras medidas de ocupação territorial, apresentam número menor de pu-blicações. Os movimentos e conflitos a que chamamos quebra e manutenção da unidade política, no período republicano – portanto mais próximos dos historiadores que escrevem entre 1945 e 1966 –, despertam sensivelmente mais interesse, a julgar pela quantidade de obras. A preferência por eventos mais recentes seria uma prática criticável, se aceita a postura dos pesquisado-res que postulam o recuo no tempo como uma das condições indispensáveis de seu trabalho. Por exemplo, diz José Maria Belo, citado por José Roberto do Amaral Lapa:

É um tanto temerário escrever a história de um regime que mal completa meio século de existência. Falta-nos perspectiva; a pátina do tempo ainda não pode dar aos fatos este vago tom de poesia, que melancoliza e embeleza as cousas e figuras, até as cousas banais e figuras medíocres, dos passados distantes.12

Para José Roberto do Amaral Lapa esta é uma convicção conservadora, que preserva da crítica histórica as instituições políticas contemporâneas do historiador, e teria caracterizado a mentalidade dos especialistas até a forma-ção dos cientistas sociais pelas universidades.13 Os dados quantitativos reve-lam que no período estudado, quando são publicados trabalhos de historiado-res formados em Faculdades de Filosofia, a República corresponde, de fato, à maior área de interesse dos especialistas. Contudo, não se deve esquecer, utiliza-se aqui um indicador quantitativo, não estando em jogo a qualidade intrínseca das obras; somente a análise de seu conteúdo poderá indicar se os estudos justificariam o primeiro ou o segundo comentário.

No conjunto das narrativas históricas, o Descobrimento, fato que instaura a história da conquista, defesa e domínio de um território, atraiu pouco a atenção dos pesquisadores. A história da conquista e da ocupação, por sua vez, é narrada a partir de dois pontos de vista distantes: o primeiro é o da Coroa Portuguesa (capitanias e sesmarias); o segundo, o da atividade dos colonos com suas en-tradas e bandeiras. Note-se que este segundo tema – a ocupação territorial do ponto de vista das entradas e bandeiras – apresenta quase o dobro de obras, o que revela um interesse de cunho nacionalista por parte dos pesquisadores.

Tal interesse explicaria ainda a quantidade de textos sobre as invasões estran-geiras. No conjunto de 16 livros que definem a categoria, 11 deles historiam a ocu-

12. LAPA, José Roberto do Amaral. Op. cit., p. 39.13. Ibidem, p. 40-41.

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pação, o domínio holandês e as lutas pelo seu término no século XVII. É possível que o estabelecimento do domínio flamengo no Nordeste, pelo período de trinta anos, tenha marcado os tempos coloniais de modo a influenciar a escolha dos historiadores; ou as diferenças culturais e políticas entre a colonização holandesa e portuguesa os haja estimulado à análise. Julga-se ainda que as lutas pela expulsão dos holandeses promoveram a coesão interna, forjando um embrião dos movi-mentos nativistas, sendo relacionadas portanto com a formação da nacionalidade brasileira.14 Seja qual for o motivo, o fato é que esse capítulo da história merece proporcionalmente, no conjunto dos livros sobre a história do Brasil, e no ramo da historiografia política em particular, um registro amplo que vai além do mero relato de um conflito pela posse e ocupação das terras.

O conjunto de estudos agrupados na categoria Independência reúne tra-balhos sobre movimentos nativistas e fatos que precederam a emancipação política da Colônia, como a vinda da família real portuguesa, a abertura dos portos e as relações entre a maçonaria e a independência do país. Esses tex-tos foram agrupados no tema abrangente Independência, devido às relações que mantêm com esse evento: de um lado, encontram-se movimentos que almejavam a emancipação do país, e de outro, fatos estreitamente vinculados à Independência. Mostram, em primeiro lugar, o deslocamento do centro da narrativa do Estado português para o Estado brasileiro. Entre os movimen-tos nativistas, destacaram-se a Inconfidência Mineira e a Revolução Pernam-bucana, de 1817. Percebe-se, ao menos, nessa amostra a ausência de estudo específico sobre a Conjuração Baiana, de 1788, da qual, diferentemente dos conflitos em Minas Gerais e Pernambuco, participaram com maior destaque e número indivíduos das camadas inferiores da hierarquia colonial.15

Os textos definidos como movimentos de ‘quebra’ e manutenção da uni-dade política no Império e na República, em número de 17 e 30 respectiva-mente, descrevem conflitos, movimentos e revoltas ocorridos no Império, no mais das vezes em diferentes províncias, transformadas na República em estados da Federação, e também no período republicano. Sugerem o interesse dos historiadores tanto em registrar movimentos de centralização e descentralização do poder, quanto em examinar e avaliar o exercício po-lítico e jurídico do Estado; o foco de atenção se encontra, portanto, no co-nhecimento da capacidade da classe política dirigente em manter a unidade entre aqueles dois pólos, distendendo tensões através de medidas políticas ou reprimindo revoltas. O quadro na página seguinte mostra os conflitos registrados nesses estudos:

14. Cf. SODRÉ, Nelson Werneck. História militar do Brasil. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasilei-ra, 1968. p. 33-34.

15. Cf. COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república. 4 ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 31.

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Quadro VIIObras sobre movimentos, conflitos e revoltas registrados na categoria

“movimentos de ‘quebra’ e manutenção da unidade política”Império / República

Império Total de obras

1945-1955 1956-1966

Cabanagem 3 1 2

Guerra dos Farrapos 6 5 1

Balaiada 1 1 -

Revolução Praieira 4 3 1

Conflitos religiosos 2 2 -

Abolição 1 - 1

Total 17 12 5

República

Revolta da Armada 1 - 1

Revolução Federalista 2 2 -

Levantes da Escola Militar 1 1 -

Campanha de Canudos 7 1 6

Revolta da Esquadra 1 1 -

Revolução de 1924 2 1 1

Coluna Prestes 1 1 -

Revolução de 1930 6 1 5

Revolução de 1932 5 2 3

Estado Novo 2 2 -

Crises políticas após 1945 2 - 2(sucessão presidencial)

Total 30 12 18

Total Geral 47 24 23

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Os textos que abordam os movimentos ocorridos durante o Império re-velam interesse sobretudo nas agitações revolucionárias que, no período re-gencial, mobilizaram camadas populares e repercutiram no país de norte a sul. Espelham a oposição ao sistema fortemente centralizado, imposto pelas elites político-econômicas que tomaram o poder em 1822.16 Apesar do interesse na reconstrução histórica desses movimentos, não se registram estudos sobre a Confederação do Equador, de 1824, ocorrida em Pernambuco, e a Sabinada, na Bahia, entre 1837 e 1838. Digna de nota é a atenção dada à Revolução Praieira, objeto de quatro estudos no conjunto de 17 livros.

Contudo, mais notável ainda é que acontecimento de tamanha envergadura como a Abolição da Escravatura não tenha rastreado, no plano da política, movimentos que a precederam, suas causas e repercussões, sendo objeto de apenas um trabalho. Da mesma forma, surpreende a ausência, no rol dos estudos selecionados, de relatos so-bre a Guerra do Paraguai (1864-1870). Esse último episódio constitui um evento típico dos que fazem parte das historiografias políticas em geral. Entretanto, nem a longa duração do conflito, nem sua relação com a formação do exército brasileiro, nem a consciência que trouxe dos problemas advindos da escravidão parecem ter estimulado os historiadores, como não os motivou a criticar as conseqüências nefastas da guerra para a República do Paraguai.17 É possível que a atitude de omissão dos historiadores com relação à Abolição e à Guerra do Paraguai se explique pelo fato de que a primeira, trazendo à memória um sistema de dominação reprovável, e a segunda, com suas conseqüências trágicas, não sejam vistas como fatos que prestigiem os feitos de uma classe política e exemplifiquem positivamente a construção da nação.

Quanto à República, os eventos mais visados são a Campanha de Canudos, a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista de 1932. A participação de militares em movimentos, revoltas e revoluções evidencia-se neste período.

Quando são observados os acontecimentos políticos escolhidos pelos his-toriadores e sua seqüência cronológica (quadro VI), verifica-se haver entre eles uma relação cujo sentido é a construção política e geográfica do país. A escolha de tais eventos mostraria existir um interesse implícito por parte dos historiadores em registrar a história da conquista e da ocupação de terras, cuja condução fica sob a responsabilidade do Estado português e, em seguida, do Estado brasileiro. Este parece ser apreciado pelos especialistas do ponto de vista de sua habilidade em resolver problemas e obstáculos relativos à con-

16. Ibidem, p. 8, 119-138. 17. Sobre a Guerra do Paraguai cf. PRADO JR., Caio. História econômica do Brasil. 7 ed. São Paulo:

Brasiliense, 1962. p. 182-183; SODRÉ, Nelson Werneck. Op. cit., p. 143-146; VIANNA, Hélio. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1961. t. II, p. 197-199.

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quista e à manutenção da unidade nacional. A importância dos fatos apresen-tados nas narrativas sugere que, para os historiadores, a unidade nacional tem como fundamento o exercício do poder político em um espaço geográfico determinado.

Quanto à variação do número de obras no ramo da história dos eventos políticos, nas duas fases apresentadas no quadro VI, observa-se que houve um aumento do número de estudos em todos os temas abordados, exceção feita à categoria movimentos de ‘quebra’ e manutenção da unidade política no Império, que tem diminuído pela metade o número de seus textos integrantes da amostra. Os fatos históricos que registram a ocupação territorial, a Inde-pendência e os movimentos de ‘quebra’ e manutenção da unidade política na República suscitaram, aparentemente, maior interesse a partir de meados de 1950, justamente quando as crises políticas e as questões ligadas ao nacionalis-mo ocupam um lugar relevante na pauta das discussões dos meios políticos.

Ainda que o crescimento do número de obras sobre a história dos eventos polí-ticos não seja extraordinário, no período examinado ele é bastante significativo, pois demonstra que essa linha “tradicional” de estudos permaneceu no horizonte de interesse do grupo de historiadores, havendo, portanto, uma demanda para ela.

5.1.2 História das instituições políticas

Chamamos história das instituições políticas os estudos que dentro do qua-dro da história política delimitam e registram ações e relações sujeitas a normas e regulamentos. Tais trabalhos reconstroem a ordem política com base no exa-me e registro de competência peculiar atribuída a diversas categorias de atores, fazendo parte da narrativa uma descrição específica de sua atuação. Militares, diplomatas, funcionários públicos, sacerdotes, representantes políticos se dis-tinguem pela posse de um conhecimento particular, pelo sentido que atribuem e que é atribuído também, em geral, às ações de sua responsabilidade. Entre si, diferenciam-se pelo lugar hierárquico que ocupam na instituição à qual perten-cem. Além disso, sua autoridade para exercer funções e cumprir tarefas defini-das é socialmente reconhecida e aceita. Pode-se dizer que as práticas descritas nos estudos da história das instituições políticas são legais e legítimas.18

18. Sobre o conceito de instituição ver MÜHLMANN, Wilhelm Emil. Institution. In: WÖRTER-BUCH der Soziologie. W. Bernsdorf (Org.). Frankfurt a/M: Fischer Taschenbuch Verlag, 1976. t. II, p. 371-373; CUVILLIER, Armand. Manuel de Sociologie. Paris: PUF, 1963. t. II, p. 494-496.

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Tais trabalhos constituem assim o conhecimento histórico daquilo que é institucional, no sentido de que tem uma continuidade e se repete, apesar das mudanças, em oposição a acontecimentos que se apresentam como únicos. A persistência no tempo é o traço que identifica as instituições e marca as obras encontradas, embora sua elaboração siga linhas diferentes: umas des-crevem intervenções institucionais em determinados eventos, sem registrar o surgimento e a evolução da instituição a que se referem; outras tratam da formação, do funcionamento e da transformação de uma instituição ao longo do tempo; há ainda aqueles que destacam e analisam os frutos de uma tarefa institucional regularmente cumprida, como a catequese ou a aplicação das leis do Direito.

Quadro VIIINúmero de obras por tema em história das

instituições políticas, nos anos 1945-1955 e 1956-1966

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

História militar 16 6 10

História diplomática 11 4 7

História administrativa 7 4 3

História constitucional 7 3 4

História eclesiástica 4 2 2

História dos partidos políticos 2 1 1

Total 47 20 27

A apresentação desse quadro em ordem quantitativa ressalta a importância atribuída à história militar na amostra estudada e, logo a seguir, a da história diplomática, já que ambas ultrapassam a dezena e as demais ficam abaixo des-se número. Observe-se que a história militar e a diplomática registram com maior ênfase a formação e a ação de instituições do Estado encarregadas da expansão territorial, do traçado de fronteiras externas e internas, e do equilí-brio da tensão entre centralização e descentralização.

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No entanto, são os trabalhos de história administrativa que particularmen-te mostram os percursos da centralização e descentralização do poder, ao descrever relações entre poder local, regional e central.

A história constitucional apresenta características de práticas que asseguram a unidade e a soberania da nação através de normas e leis. O conjunto inclui estudos gerais sobre a história do direito político no Brasil e trabalhos que se referem a leis constitucionais, relacionando-as com “crises” ou “problemas” das instituições polí-ticas no país. Nesse caso, não foi possível saber, através dos títulos, nem o aspecto jurídico específico, nem o teor dos “problemas” tra-tados pelos historiadores.

A história eclesiástica, por sua vez, enfoca a organização e o processo de transmissão de conhecimentos, valores e credo religioso que orientam e dominam o comportamento humano, interferindo desse modo na domi-nação exercida pelo Estado. A Igreja Católica pertencia ao sistema político brasileiro durante o Império, dele se separando com a República. A vin-culação da Igreja ao Estado monárquico português e brasileiro explicita a dimensão política da prática clerical. Essa vinculação explícita foi rompida com a República. No entanto, a interferência do poder eclesiástico, ainda que sub-reptício, continuou existindo com relação ao poder estatal, pro-vocando tensões e conflitos. As obras relativas a esse tema não figuram com destaque na amostra.

A história dos partidos políticos apresenta a menor quantidade de trabalhos. Seu pequeno número pode resultar do fato de que, duran-te muito tempo, eles não significaram diferenças reais de composição socioeconômica e pareciam similares: era comum durante o Império, por exemplo, dizer que nada era tão parecido com um ministério liberal quanto um ministério conservador. A estrutura semelhante apresentada pelos partidos políticos parece não ter despertado a curiosidade pelo seu estudo. É possível também que a orientação da historiografia política, voltada para a unidade política da nação, torne compreensível o pequeno número de textos sobre os partidos – instância que permitiria reconhe-cer diferenças, traduzidas em posições ideológicas de cada agrupamento partidário, e que representam interesses muitas vezes conflitantes de ca-

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madas e classes sociais. O enfoque de tais diferenças e conflitos fugiria aos objetivos dos historiadores voltados naquele período para a constru-ção política e geográfica do país.

No conjunto, as obras sobre a história das instituições políticas crescem em número, como mostra o quadro VIII, embora o aumento da quantidade de publicações não seja notável. Observe-se também que o interesse pelo estudo dos diversos temas abordados não variou ao longo daquele período. A história militar e a história diplomática permaneceram sendo o foco mais importante desses trabalhos.

5.1.3 História de cidades, estados e regiões

Ao lado da história dos eventos e das instituições políticas, a histó-ria de cidades, estados da Federação e regiões também dá continuidade a orientações básicas da história política: o assenhoreamento de terras, a fixação de populações, a demarcação de fronteiras. “O povoamento é e sempre foi o capítulo mais importante de nossa vida coletiva. Afi-nal de contas”, diz Caio Prado Junior, “toda a História do Brasil não é senão a história do povoamento e ocupação de um grande território semideserto.”19

Os 42 livros que configuram a história das regiões, estados e cidades não são uma exceção, contribuindo para o conhecimento dos percursos e percalços do povoamento. Mas, certamente, não o narram à luz das ati-vidades econômicas, como faz Caio Prado Junior em sua conferência de 1946. Cidades, estados e regiões, apesar das diferenças inerentes a cada uma dessas categorias, têm sua história reconhecida e registrada na his-toriografia dentro dos marcos do conjunto das ações que estabeleceram fronteiras políticas e geográficas do país.

19 Cf. PRADO JR., Caio. Evolução política do Brasil e outros estudos. 4 ed. São Paulo: Brasiliense, 1963. p. 217.

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Quadro IXObras por tema em história de cidades, estados e regiões

1945 - 55 e 1956 - 66

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

História de cidades 20 7 13

História de estados da Federação 13 4 9

História de regiões 9 3 6

Total 42 14 28

A história de cidades apresenta o maior número de obras. No con-junto, percebe-se uma concentração de trabalhos sobre o Rio de Janeiro, em número de oito, e a distribuição relativamente proporcional de estu-dos sobre cidades mineiras – antigas vilas do século XVIII –, Salvador, Recife e São Paulo. A importância atribuída a esses centros, principal-mente o Rio de Janeiro, contrasta com o reduzido número de estudos sobre outras localidades. Excetuando-se as cidades mineiras, cujo de-senvolvimento desigual, caracterizado pelo rápido apogeu e declínio, não acompanha as mudanças sociais e históricas, pode-se dizer que os historiadores restringem sua área de interesse aos centros urbanos mais antigos que, ao longo do tempo e ainda no período de pesquisa e publi-cação desses trabalhos, desempenharam função de destaque na política de integração nacional.

Na história de cidades nota-se também que o ato de fundação é o evento mais evidenciado. Dos 20 livros, seis tratam exclusivamente daquele aconteci-mento. A importância das cidades no processo de colonização e povoamento é acentuada, já que por meio do registro das adversidades superadas pelos fundadores e primeiros habitantes, tal relato reafirma os laços de solidarieda-de locais e a contribuição das comunidades à história nacional.

Por fim, é preciso dizer que o uso da categoria “cidades” corresponde ao termo utilizado pelos historiadores para designar uma aglomeração, por vezes

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extremamente pequena, 20 ou 30 moradores, nos primórdios da colonização,20 cuja atividade era principalmente política, administrativa, militar e religiosa. O sentido político da cidade faz lembrar as considerações de Max Weber quando aponta a necessidade de separar os traços econômicos dos político-administrativos na elaboração do conceito de cidade, pois algumas localida-des só poderiam valer como cidades se apenas fosse reconhecido seu papel político-administrativo.21

São outras as características dos 13 estudos sobre os estados da Federa-ção. Com exceção de quatro livros, os demais tratam da história de estados do Nordeste. Compreendem dois tipos de relatos: narra-se a história políti-ca daqueles territórios no seu conjunto, ou definindo um de seus períodos, relacionando o relato com a história geral do país; numa outra orientação, investiga-se a ocorrência de acontecimentos de importância nacional em nível estadual. De uma forma ou de outra, ficam salientadas as particularidades da inserção dos estados na história nacional.

O peso dado aos estados do Nordeste e a escassez de trabalhos sobre estados de outras regiões é notável. Mais adiante voltaremos a mostrar a tendência das ci-ências sociais a dirigir o olhar para o Nordeste, mostrando que na época de elabo-ração desses estudos aquela região mereceu atenção especial dos pesquisadores.

A escolha de um estado da Federação para estudo não está, em princípio, exposta à discussão e controvérsias como no caso da complexa categoria de “cidade”. O estado é uma unidade territorial, administrativa e política de um Estado federalista.22 A definição, de caráter geopolítico, implica a noção de partes, autônomas no que diz respeito a seus negócios próprios, mas ao mes-mo tempo reunidas em torno de interesses comuns. A orientação da historio-grafia guarda essa idéia quando integra a história estadual à do país, ressaltan-do particularidades dos elos entre as partes e o todo. Ademais, esses estudos condizem com um dos alvos dos historiadores políticos, já registrados, que pretende caracterizar o movimento de centralização e descentralização, e sua função no processo de integração nacional.

20. Cf. OMEGNA, Nelson. A cidade colonial. Rio de Janeiro: José Olympio, 1961. p. 13 21. Cf. WEBER, Max. Wirtschaft und Gesellschaft. Tübingen: J. C. B. Mohr (Paul Siebeck), 1985. p.

727-814. 22. Cf. LEVI, Lúcio. Federalismo. In: DICIONÁRIO de Ciência Política. Brasília: Editora Universi-

dade de Brasília, 1986. p. 480-483.

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Convém chamar a atenção para o número restrito de publicações sobre a história de estados da Federação, se comparado com a incidência de estudos sobre eventos de repercussão nacional. A historiografia política parece adotar preferencialmente uma perspectiva central, a partir da qual alcança uma visão global do processo de dominação diferentemente de uma perspectiva estadu-al, que permite apenas uma visão fragmentada.

No conjunto história de regiões destacam-se as publicações sobre a região amazônica. Dos nove livros que compõem a categoria, sete retratam o norte amazônico. Versam sobre a formação histórica da região, o traçado de seus limi-tes e a demarcação de suas fronteiras. Sobre o Nordeste há dois livros apenas.

Por que o norte amazônico merece, no período abordado, uma posição destacada na história política? O reconhecimento político da Amazônia e a consolidação de suas fronteiras internas e externas se fizeram paulati-namente durante o Império, em meio às lutas que se seguiram à Indepen-dência e ao embate da Cabanagem. Ao explicar o desinteresse da política imperial no tocante à Amazônia, Arthur Cezar Ferreira Reis afirma que “a Amazônia era o extremo-norte. E os estadistas do Império eram homens do Nordeste e do Sul”.23

Serviria o comentário do autor também para a compreensão do in-teresse restrito dos cientistas sociais no que respeita aos estudos sobre a região amazônica? De acordo com a amostra estudada, somente no campo da história do Brasil, e especificamente na historiografia política, encontra-se um grupo de livros que trata com exclusividade dessa região. O interesse dos historiadores no registro da história da demarcação das fronteiras políticas e geográficas do país poderia explicitar a existência de tal conjunto. Na realidade, pesquisadores de outras disciplinas e mes-mo de outros ramos da história do Brasil, privilegiaram em seus estudos problemas do Nordeste e do Sul. É possível que os especialistas tenham julgado estar nessas regiões as questões mais relevantes da sociedade brasileira naquele período: de um lado, o Sul que se industrializava e modernizava, de outro, o Nordeste que mantinha as tradições de uma sociedade “antiga” de base agrária. Tanto uma quanto outra, aquelas regiões serviram de quadro de referência para muitas pesquisas, sendo o

23. Cf. REIS, Arthur Cezar Ferreira. A Amazônia que os portugueses revelaram. Rio de Janeiro: Ministé-rio da Educação e Cultura, 1956. p. 61.

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Nordeste visto, de modo geral, como uma região “problemática”. Poder-se-ia supor ainda que, tendo o estudo das ciências sociais ocorrido pre-dominantemente nos centros urbanos do Sul e do Nordeste, a possibili-dade de pesquisa em região mais distante, como a Amazônia, tenha sido desestimulada pela falta de recursos a ela indispensáveis. De qualquer modo, mostra-se aqui a atenção diferenciada dada às regiões brasileiras no estudo das ciências sociais no período abordado.

Embora limitados, pois favorecem a história dos centros urbanos mais antigos, dos estados do Nordeste e da região amazônica, os trabalhos apre-sentados trazem à tona novamente a questão dos limites e das fronteiras, man-tendo viva a discussão sobre os interesses em jogo na política de colonização, assunto característico da história política naquele período.

Quanto ao crescimento do número de obras nesse ramo da história po-lítica, destaca-se no conjunto, comparativamente, o aumento em dobro dos estudos sobre história de cidades, dos anos 1945–1955 para 1956–1966. Poder-se-ia supor que o acelerado processo de urbanização, característico daquele contexto histórico, teria motivado o interesse crescente por essa área temática da história do Brasil. Contudo, deve ser lembrado quanto à história de cidades que o ato de fundação dos principais centros urbanos brasileiros foi o fato que mereceu maior atenção dos estudiosos. Dos 13 livros publicados na categoria, no período 1956–1966, seis dentre eles são dedicados à história da cidade do Rio de Janeiro, cuja fundação se come-morou em 1965. A escolha dos historiadores não teria resultado, portanto, de seu interesse pela elucidação de problemas mais amplos da sociedade brasileira naquele momento, e sim de motivo específico, peculiar à história política naqueles anos – o de registrar e narrar a história dos eventos que teriam contribuído para a formação do país.

5.2 História Econômica

A história econômica registra a memória do conjunto de atividades hu-manas cuja finalidade é a satisfação de necessidades materiais. Abrange em seu campo disciplinar um complexo de instituições e medidas24 voltadas

24. Cf. BEUTIN, Ludwig; KELLENBENZ, Hermann. Wirtschaftsgeschichte. Köln: Böhlau Verlag, 1973. p. 1.

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para a produção material. Sua formação corresponde a um processo que se inaugura no século XVIII, com o reconhecimento, no plano do pensamento, de outras práticas humanas diferentes das práticas política e religiosa. No sé-culo XIX, a história econômica se configura como uma área de estudo com teoria e métodos próprios. Assim como a historiografia política carrega a mar-ca da antigüidade, o conhecimento histórico da economia está vinculado à época moderna. Dele, resultam novas maneiras de conhecer e interpretar a história, que consideram o processo produtivo uma instância indispensável para a compreensão das mudanças históricas, ou mesmo uma instância fun-damental.

Os contornos da visão histórica da economia estão inscritos em 27 pu-blicações da amostra, que se distribuem em diferentes temas como se vê no quadro abaixo:

Quadro XObras por tema em história econômica

1945 - 55 e 1956 - 66

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Formação econômica

Características gerais 7 1 6

Características no período colonial 4 - 4

Subtotal 11 1 10

Atividades produtivas 6 2 4(açúcar, mineração, café e pesca)

Política econômica 5 2 3

Industrialização 3 2 1

Sistema bancário 2 1 1

Total 27 8 19

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O interesse pelos estudos de formação econômica supera os demais, ex-pressando-se em onze livros que analisam traços fundamentais da economia no passado. Como mostra o quadro, esses estudos apresentam dois focos: sete obras examinam o processo de formação da economia do país, sem que seus títulos distingam um período histórico específico; outros quatro abor-dam a formação histórica da economia no período colonial.

Em seguida, seis obras tratam de aspectos específicos de atividades pro-dutivas que compreendem: o comércio e a cultura do açúcar na Colônia; a produção açucareira em Minas Gerais; a atividade pesqueira; o abastecimento das áreas mineradoras no século XVIII; especificidades e características da economia cafeeira, restringindo-se um dos estudos às áreas paulistanas e ou-tro ao Vale do Paraíba. Com exceção das pesquisas sobre a produção cafeeira, as demais têm como quadro de referência a Colônia.

Sobre a política econômica encontram-se estudos cujo foco de interesse são as características gerais da administração política da economia no passado; as medidas do Estado português que impediram o surgimento da indústria na Colônia; a política econômica do governo provincial de Minas Gerais (1835 – 1889); as medidas favoráveis à industrialização do país entre 1808 e 1930; e também aspectos da economia internacional, a partir do final do século XIX, vinculando-os às condições financeiras do país.

No tocante à industrialização, as obras abordam a formação industrial do Brasil nos seus primórdios, o surgimento e crescimento das indústrias no estado de São Paulo, as vias de acesso e o transporte na região Nordeste, relacionando-os às possibilidades de industrialização daquela região. Quanto ao sistema bancário, narram-se as tentativas de organizá-lo no Brasil e em Portugal até 1808, além da história do Banco do Brasil de 1808 a 1835.

No conjunto sobre temas específicos, ao lado das quatro obras gerais sobre a economia colonial, há seis estudos que têm como horizonte de ob-servação o período da Colônia. Na amostra, quatro livros tratam de ativida-des econômicas durante a monarquia, dos quais um se refere aos períodos monárquico e republicano e outro apenas ao período republicano. Com dez obras, esse período aparece como privilegiado pelos historiadores dos temas econômicos.

Cabe assinalar o lugar que a história econômica ocupa dentro do quadro geral dos estudos da história do Brasil. O número de suas publicações perfaz 8,9% da amostra de livros da disciplina, enquanto a história política se apre-senta com 62,04%.

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O conjunto de obras sobre história econômica, integrante da amostra estu-dada, cresce em dobro, de uma fase para outra daquelas apontadas no quadro X, fato que não é observado em nenhuma das categorias nas quais se dividem os estudos da história política, e que demonstra a atenção crescente pelo as-sunto. Porém, apesar do aumento sensível do número de estudos publicados em livro, as obras da historiografia econômica não figuram em posição de relevo no conjunto das publicações no campo da história do Brasil.

O tratamento dos temas econômicos pelos historiadores foi, portanto, reduzido no contexto histórico dos anos de 1945 a 1966. A tradição da his-toriografia política cultivada desde o século XIX no Brasil parece presente de modo predominante no que respeita à quantidade de livros, em um período histórico cujas transformações econômicas e sociais poderiam, mais do que outros problemas, despertar o interesse da camada intelectual.

É possível que o campo da história do Brasil tenha começado a se diferen-ciar (isto é, distinguindo-se os historiadores segundo suas especialidades) por meio de uma abordagem econômica do tema, no mesmo momento em que as ciências sociais como um todo se desenvolveram e se destacaram como um ramo do conhecimento específico. Essa diferenciação interna do campo da história do Brasil teria ocorrido, seja pelas condições sociais e econômicas es-pecíficas da sociedade brasileira, em acelerada mudança principalmente a par-tir de 1955, seja pela influência de outras disciplinas como a economia política e a sociologia, seja pela formação de historiadores nas faculdades de Filoso-fia.25 Cabe aqui, tão somente, chamar a atenção para a composição temática peculiar da história do Brasil, que se evidencia na distribuição nitidamente desigual das publicações no que se refere aos fatos políticos e econômicos.

Quanto ao interesse da história econômica pelos estudos de caráter ge-ral, particularmente o período colonial, evidenciado em publicações datadas a partir de 1956, poder-se-ia aqui apenas sugerir que talvez se deva a uma orien-tação metodológica, peculiar a esse campo da história naqueles anos, cujo ob-jetivo era conhecer as características comuns de formas diferentes e variadas da produção econômica de um determinado período. Tais características de-finiriam então a estrutura econômica do período histórico estudado.26 A ado-ção de tal procedimento metodológico levaria tanto à realização de estudos

25. Cf. CANABRAVA, Alice Piffer. Roteiro sucinto do desenvolvimento da historiografia, publica-do em HOLANDA, Sergio Buarque; CANABRAVA, Alice Piffer; LUZ, Nícia Vilela (Coord.). Introdução ao estudo da história do Brasil, São Paulo, 1971. Cadernos do Instituto de Estudos Brasileiros. p. 23 e 31.

26. Ibidem, p. 27-35.

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interpretativos de caráter geral, como também ao conhecimento do processo mais profundo de mudança da economia, à medida que fossem observadas, no decorrer do tempo histórico, estruturas econômicas diferenciadas.

Em 1961, Nícia Vilela Luz afirmava que o conhecimento do desenvolvi-mento industrial no Brasil exigia pesquisas demoradas, entre outros proble-mas, porque tal desenvolvimento deitava suas “raízes” na época colonial.27 Possivelmente motivados pelas transformações econômicas que ocorriam no país e com o intento de compreendê-las, os pesquisadores da história econô-mica fizeram uso daquela metodologia e se voltaram para o estudo da estru-tura econômica do passado mais remoto, focalizando sobretudo o período colonial.

Desse modo, a história econômica embora apresente um número reduzi-do de estudos dentro do quadro das publicações da história do Brasil, con-tribuiu para a diferenciação desse campo disciplinar, tanto no que concerne a sua temática quanto a suas orientações metodológicas.

5.3 História Social

As inúmeras definições de história social trouxeram mais problemas do que permitiram esclarecer os contornos desse campo de estudo. Jean Hecht reconhece três tendências no conjunto das definições: a primeira considera história social o estudo da vida e da cultura existentes em sociedades que desenvolveram-se no passado; outra insiste em limitá-la ao conhecimento de um residuum proveniente da política, da economia e de amplas áreas culturais, tais como crenças religiosas e tecnologia; e finalmente, uma terceira corrente a restringe ao estudo de “um conjunto heterogêneo de instituições domésticas e comunitárias, costumes, atitudes e artefatos”.28

Comentários de José Honório Rodrigues também sugerem dificuldades de definição e mostram como a história social pôs em xeque a extremada valorização da atividade política e de personalidades influentes na história. “A teoria do medalhão da história” diz o autor, “seria substituída pela teoria do povo: estudar a conduta do povo, substituídos os personagens pelos grupos estruturados em formas sociais e econômicas.”29 Revela ainda o escritor a

27. LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do Brasil. São Paulo: DIFEL, 1961. p. 9-10.28. HECHT, J. Jean. Social History. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences.

New York: Macmillan, 1968. v. VI, p. 455.29. RODRIGUES, José Honório. Op. cit., p. 212.

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proximidade entre história social e história econômica, o que permite a alguns historiadores considerar o estudo histórico da economia dentro do quadro da história social. Finalmente, ele recomenda aos estudiosos da disciplina fa-zer uso do enfoque antropológico para conhecer a evolução e as mudanças culturais. Embora tecendo esses comentários, o autor não define o objeto da história social.

Compreendemos aqui a história social como um ramo que trata das ca-racterísticas e das mudanças de sociedades ou de fatos sociais no passado, com base na apreciação de um conjunto de obras constantes da amostra, cujo alvo é a análise de características gerais da formação da sociedade brasileira ou de um de seus aspectos, além do registro da ocorrência de fatos sociais. O quadro de publicações a seguir mostra as linhas de trabalho que definem a história social.

Quadro XINúmero de obras por tema em história social

1945-55 e 1956-66

Temas Obras

1945 1955

1956 1966

Escravidão 6 4 2

Classes e estratos sociais 5 1 4

Formação da sociedade 2 - 2

Outros 5 3 2

Total 18 8 10

Os estudos sobre a escravidão dividem-se em dois tipos de enfoque. Um deles, traduzido em duas publicações apenas, analisa a escravidão desde suas origens até a desagregação do sistema, com os problemas da integração dos negros no trabalho livre; o outro registra lutas dos escravos, concentrando-se no Quilombo dos Palmares. Dão prioridade à descrição de eventos históricos e relegam a segundo plano a análise das relações sociais.

A ênfase dada aqui às obras sobre os escravos e o sistema escravocrata visa sublinhar o contraste entre a relevância do tema para a história do Brasil

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e o tratamento limitado que a ele deram os historiadores, comparativa-mente com outros temas focalizados. No conjunto de livros da história social, o tema da escravidão apresenta um número de obras semelhante ao das classes sociais. Embora não tenham posição de destaque na his-tória social, é somente neste ramo que adquirem um lugar específico e delineado. A história política, com 188 obras, apresenta um estudo sobre a escravidão; no conjunto de 27 livros da história econômica não figura nenhum texto específico sobre o tema. Do quadro geral da história do Brasil (303 obras) constam sete estudos específicos sobre a escravidão, o que significa apenas 2,3% das publicações nesse campo disciplinar, constantes da amostra estudada.

Os trabalhos sobre classes e estratos sociais investigam a constituição his-tórica das diversas camadas da população. No conjunto, há dois registros de lutas operárias no Brasil. Dele fazem parte duas obras sobre a formação da sociedade brasileira, elaboradas a partir da análise de suas condições econômi-cas, políticas e intelectuais ao longo da história.

O quadro apresenta também cinco estudos que se diferenciam dos demais ao tratar de assuntos bastante específicos como a relação entre a atividade es-tudantil e a vida nacional, a história social do estado do Amazonas, a história da imprensa e a história da medicina no Brasil.

De acordo com a amostra estudada, a história social é um ramo pouco pesquisado no contexto dos anos que vão de 1945 a 1966 (28 em 303 obras). A par disso, o quadro XI mostra que seu estudo não sofreu alterações, cons-tando da amostra oito livros publicados no período de 1945 a 1955, e dez nos anos de 1956 a 1966. Entretanto, apesar da quantidade reduzida de publica-ções, sua posição no campo da história do Brasil foi possivelmente relevante, na medida em que, ao lado da história econômica, ofereceu um novo hori-zonte temático e metodológico aos historiadores, renovando a tradição de estudos da história do Brasil, voltada para os fatos políticos.

5.4 História das Idéias

História das idéias é a denominação sugerida para os trabalhos que têm o objetivo de registrar, analisar e historiar resultados da atividade intelectual, realizada de forma sistemática por camadas ou grupos sociais que se habilitam especificamente para seu exercício; são utilizados também os termos história

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do pensamento e história intelectual.30 Os textos tratam, em geral, da análise da constituição das idéias, do surgimento e recepção das mesmas em deter-minado contexto histórico e da relação entre intelectuais, suas idéias e sua trajetória política e social.

No quadro adiante está a configuração temática da história das idéias no período estudado:

Quadro XIINúmero de obras por tema em história das idéias :

1945-55 e 1956-66

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Estudos de caráter geral 4 1 3

Positivismo 3 - 3

Idéias “progressistas” 2 1 1

Idéias socialistas 1 - 1

Idéias políticas 1 1 -

Total 11 3 8

A história das idéias é uma área de interesse restrito. Poder-se-ia atribuir essa característica da historiografia aos percalços da formação de uma camada intelectual no Brasil e, conseqüentemente, ao seu papel pouco destacado no passado. Somente no século XIX, a formação daquela camada se emancipa de Portugal e, paulatinamente, se desvincula das influências das ordens religiosas. Com a criação das Escolas médico-cirúrgicas (1808), da Academia Real Militar (1910) e das Faculdades de Direito (1827) iniciou-se no século XIX a forma-ção voltada para a preparação profissional de militares, médicos, advogados e engenheiros. Fernando de Azevedo comenta31 que apesar da criação de es-

30. BRINTON, Crane. Intellectual History. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sci-ences. New York: Macmillan, 1968. v. VI, p. 462-467.

31. Cf. AZEVEDO, Fernando de. A cultura brasileira. 3 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1958. t. II, cap. 2, p. 49-52.

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tabelecimentos de ensino superior, a posse de conhecimentos permaneceu durante longo tempo sendo um distintivo de classe e se apresentava “intelec-tualista e literária” como havia sido tradicionalmente na Colônia. Poder-se-ia supor também que, no contexto histórico aqui abordado, entre os temas que teriam renovado os tradicionais estudos dos fatos políticos, a formação da economia e a formação da sociedade no passado foram consideradas pelos historiadores mais relevantes para a compreensão das transformações que ocorriam no país, do que o conhecimento da formação da camada intelectual e de suas idéias.

Os estudos de caráter geral tratam da história das idéias no Brasil. Um deles destaca a representação da sociedade brasileira no plano do pensamento brasileiro, outro aponta com especificidade as relações entre a constituição das idéias e características do contexto social e histórico de finais do século XIX e início do século XX. Entre os trabalhos específicos, três focalizam o positivismo durante o período republicano, dois referem-se às idéias progres-sistas, um trata das idéias socialistas e outro das idéias políticas no Brasil.

O quadro mostra que os textos abordaram em sua maioria as ver-tentes do pensamento do final do século XIX e início do século XX. Através dos títulos, pode-se observar também haver mais interesse pelas vertentes do pensamento, assim como pelas relações entre as idéias e o contexto social e histórico, do que pela obra de um autor, representativo de uma corrente de pensamento e sua trajetória em um contexto histórico determinado; apenas dois livros no conjunto têm esse tipo de abordagem.

Embora não haja dúvida quanto ao interesse limitado pelo estudo da história das idéias, considerando a amostra pesquisada, não deixa de ser sugestivo o crescimento do número de livros nessa área, a partir de meados da década de 1950.

5.5 Conclusão

A julgar pela amostra analisada, a produção no campo da história do Brasil concentra-se no conhecimento dos fatos políticos do passado. Tal conheci-mento focaliza a conquista territorial, o traçado de fronteiras internas e ex-ternas e o povoamento, relacionando esses fatos à formação e à atuação do poder político no país; o conjunto dos trabalhos sugere que os historiadores tiveram interesse em ressaltar – por meio dos relatos históricos – ações cuja

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conseqüência foi a manutenção da unidade política e geográfica do país. Além disso, observou-se que a historiografia apresenta estudos nos ramos da histó-ria econômica e da história social, que teriam marcado o início de uma dife-renciação temática e disciplinar daquele campo do conhecimento, no período de 1945 a 1966.

A análise da configuração temática da história do Brasil demonstra que no seu conjunto a disciplina manteve-se fiel à concepção tradicional de história referida anteriormente, voltando o foco de sua atenção para a continuidade e repetição de atividades políticas que deram origem à nação brasileira e logra-ram manter sua unidade. Nesse sentido, poder-se-ia dizer que entre os histo-riadores, no período examinado, poucos se interessaram efetivamente pelas mudanças ocorridas no passado, figurando esse problema característico da concepção moderna de história, como foi possível observar, apenas em obras da história econômica e da história social.

Certamente, o que mais chama a atenção é a continuidade e a permanência da história do Brasil no horizonte temático. Enquanto ocorriam mudanças socioeconômicas profundas na sociedade brasileira, além de modificações nos seus setores político e institucional, os historiadores lograram manter um es-paço temático que, como já foi assinalado, voltava-se sobretudo para o estudo dos fatos políticos que teriam dado origem e mantido a unidade da nação. Dedicando-se a essa questão, teriam reatualizado uma tradição de estudos que se iniciara no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e seus congêneres em 1838.

6. Os temas da economia política

As definições de economia política expõem, como se verifica também em outras disciplinas, um rol de motivos explicativos da dificuldade de definir.

A identidade da economia política está marcada tanto por sua aspiração a ser disciplina científica, cujo objeto é um complexo de relações sociais próprio da esfera da produção de bens materiais, quanto pelo fato de constituir-se fundamento para a explicação da sociedade e da história do homem, numa das vertentes do pensamento moderno.

Os limites desse campo de conhecimento adquirem maior amplitude se con-siderarmos o pensamento de Karl Marx, para quem o conhecimento da econo-mia política explica a “anatomia” da sociedade civil (bürgeliche Gesellschaft):

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Minhas pesquisas chegaram ao resultado de que as relações ju-rídicas – assim como as formas de Estado – não podem ser com-preendidas nem por elas mesmas, nem pela pretendida evolução geral do espírito humano, mas que ao contrário, têm suas raízes nas condições de existência material, as quais Hegel, a exemplo dos ingleses e dos franceses do século XVIII, compreende sob o nome de “sociedade civil” e que a anatomia da sociedade civil deve ser procurada por sua vez na economia política.32

O uso dos termos economia política e economia varia de acordo com a trajetória disciplinar em distintos contextos históricos, institucionais e teóri-cos. No final do século XIX, questionou-se a estreiteza do termo economia política para uma disciplina que tratava das relações e da mudança da socieda-de. O termo “economia” foi consagrado por Alfred Marshall, em 1890, com a publicação de Principles of Economics. Argumentou-se que a disciplina havia deixado de debater-se com problemas da política econômica e estabelecido um corpo de princípios e métodos, os quais levaram à nítida separação entre teoria e prática.33 Edwin Seligman diz que a economia “vem sendo e talvez continue a ser o campo de batalha de racionalizações de interesses de gru-pos e classes (...) Sofreu mais do que qualquer disciplina da enfermidade das polêmicas sobre definição e método”.34 Segundo o autor, mais apropriado é definir-se economia – ele utiliza somente esse termo – como uma “disciplina científica que trata dos fenômenos sociais relativos ao atendimento de neces-sidades materiais para o indivíduo e grupos organizados”.

As obras sobre a economia do país, constantes da amostra, como se verá a seguir, estão particularmente voltadas para as relações entre economia e polí-tica econômica, motivo pelo qual nos pareceu mais adequado utilizar o termo economia política para designar o campo disciplinar que integram.

Quando se observam os estudos realizados naquele período, nota-se que polêmicas sobre objeto e método suscitadas pelas diferentes correntes do pensamento econômico – que aliás distinguem, especialmente, os economis-tas latino-americanos naquele momento – não modificam o grau de interesse no conhecimento e no debate do desenvolvimento da economia nacional. Para essa

32. O texto de Marx é de 1859. Cf. MARX, Karl. Contribution à la critique de l’économie politique. Paris: Éditions Sociales, 1957. p. 4.

33. Cf. SELIGMAN, Edwin R. A. Economics. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences. New York: Macmillan, 1948. v. V e VI, p. 345.

34. Ibidem, p. 344-345.

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questão convergem os temas escolhidos pelos especialistas, por maiores que tenham sido suas discordâncias metodológicas.35

A economia política apresenta nesse período 158 obras que se dividem nas seguintes áreas de interesse:

Quadro XIIINúmero de obras por tema em economia política

1945-55 e 1956-66

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Obras sobre a disciplina

Problemas teórico-metodológicos 27 7 20

Manuais e introduções 18 10 8

Avaliação da produção do conhecimento 1 - 1da disciplina no Brasil

Subtotal 46 17 29

Obras sobre temas específicos

Desenvolvimento e Política Econômica 59 12 47

Condições históricas da economia 14 6 8

Finanças 9 3 6

Comércio exterior 9 1 8

Indústria 8 4 4

Agricultura 6 1 5

Investimentos estrangeiros 6 1 5

Repartição da renda 1 1 -

Subtotal 112 29 83

Total 158 46 112

35. Cf. MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. A controvérsia brasileira sobre o desenvolvimento econômico. Rio de Janeiro: Record, 1966. p. 11-33; LIMA, Heitor Ferreira. História do pensamento econômico. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1976. p. 170-187.

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Os problemas concretos relativos à economia nacional atraíram muito mais a atenção dos estudiosos do que os problemas sobre a disciplina, e atin-giram 70,88% do total. No entanto, as obras sobre a disciplina não tiveram quantidade desprezível. Seu número cresceu na maioria dos temas abordados pelos economistas de um período para outro daqueles analisados no quadro XIII. Porém, o índice de aumento dos livros em cada um deles é variável e evidencia o interesse marcante dos especialistas por certos assuntos.

6.1 Obras sobre a disciplina

Ao refletirem sobre seu campo de trabalho, os economistas privilegiaram a exposição e a discussão de problemas teóricos e metodológicos, o que leva a supor que no período estudado houve grande interesse em esclarecer e de-limitar diferentes pontos de vista relativos aos problemas econômicos. Os autores dedicaram-se também à elaboração de manuais e introduções,36 cujo número poderia ser explicado pela criação das Faculdades de Ciências Eco-nômicas, em 1945.

Ao lado disso, note-se no quadro XIII que um livro avalia a produção científica da disciplina no Brasil. Essa linha de trabalho – indispensável para a continuidade das investigações e instauração de novas questões – está presen-te no campo da história do Brasil e, como veremos adiante, de modo acentu-ado na sociologia.

Tudo indica que o interesse pela disciplina não motivou os economis-tas ao balanço de suas próprias atividades enquanto produtores de conhe-cimento sobre a economia brasileira (uma em 158 obras); ao contrário, eles concentraram-se em problemas de ordem teórica. Analisando as “obras sobre a disciplina”, destaca-se a quantidade de trabalhos sobre problemas teórico-metodológicos, ainda que a quantidade de manuais e introduções revele um interesse bastante desenvolvido pela matéria e por sua divulgação.

Nos anos de 1945 a 1955 e 1956 a 1966, o crescimento do número de textos sobre “problemas teórico-metodológicos” é de sete para 20, de um período para outro. Menos prestigiados, os “manuais e introduções” mantêm número semelhante de estudos. O quadro XIII mostra ainda que somente no período 1956–1966 se publica obra de avaliação da produção do conhe-

36. Indicamos aqui em conjunto os manuais e as introduções, considerando que essas obras, em definição corrente, tratam das noções essenciais de uma disciplina (os manuais) e também da preparação para o estudo de um ramo do saber, ocupando-se seus autores, portanto, tanto num quanto noutro caso, especialmente da divulgação do corpo teórico-conceitual de uma disciplina.

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cimento da disciplina no Brasil. A julgar pelos dados, os economistas não se interessaram pela reflexão sobre seu campo intelectual, senão depois de meados dos anos 1950.

Sem dúvida, o que deve ser observado é o rumo tomado pelos estudos sobre “problemas teórico-metodológicos”.

Quadro XIV

Obras por tema na categoria “problemas

teórico-metodológicos”: 1945-55 e 1956-66

(economia política / obras sobre a disciplina)

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Capital e trabalho 7 4 3

Repartição da renda 6 - 6

Desenvolvimento econômico 4 - 4

Cooperativismo 4 1 3

Relações econômicas internacionais 4 1 3

Economia agrária 2 1 1

Total 27 7 20

Nota-se que os estudos se dividem de maneira relativamente equilibrada pelos diversos tópicos, com uma única exceção: a “economia agrária”, que parece ter suscitado menor interesse. A relação entre capital e trabalho e, logo a seguir, a repartição da renda foram os assuntos que mereceram mais aten-ção dos economistas. Os temas “desenvolvimento econômico”, “cooperati-vismo” e “relações econômicas internacionais” apresentam o mesmo número de obras.

É interessante ver que o tópico “capital e trabalho” foi aparentemente o mais pesquisado. Se for levado em conta que essas obras foram publicadas quando se buscava consolidar a economia industrial-capitalista no país, per-cebe-se que justamente um problema central da economia naquele momento

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figurou entre as preocupações teóricas dos especialistas. Porém, de acordo com os dados da amostra, os temas “repartição da renda” e “desenvolvimen-to econômico” passam a ser privilegiados em livros publicados no período 1956–1966, indicativo de que os problemas teóricos vinculados àqueles as-suntos passaram a merecer atenção à medida que se acelerou o processo de industrialização no país.

6.2 Obras sobre temas específicos

O conjunto “obras sobre temas específicos” engloba a maioria dos títu-los da amostra (ver quadro XIII) que se acumulam predominantemente em “desenvolvimento e política econômica”, perfazendo 52,67% dos livros. A categoria enfoca quatro assuntos, expostos no quadro abaixo:

Quadro XV

Obras por tema na categoria “desenvolvimento e política econômica”:

1945-55 e 1956-66

(economia política / obras sobre temas específicos)

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Política e expansão econômica 32 4 28

Planejamento econômico 11 4 7

Conjunturas econômicas 10 3 7

Estado e ordem econômica 6 1 5

Total 59 12 47

O interesse pelos temas abordados é desigual, havendo maior número de trabalhos de caráter geral sobre o desenvolvimento e a política econômica registrados no grupo “política e expansão econômica”. Tratam de questões sobre o desenvolvimento econômico do país e a política econômica, por meio de análises de tendências históricas da economia, da revisão de políticas go-

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vernamentais ou de sugestões para a formulação de ações adequadas para o desenvolvimento. A predominância dessas obras sobre as demais é notória, pois elas somam mais da metade. Essa observação reforça o que já se men-cionou anteriormente a respeito da provável influência dos problemas eco-nômicos do país sobre os estudos do período examinado; novamente aqui as publicações parecem tomar igual direção.

Nos textos sobre planejamento econômico destacam-se trabalhos sobre o planejamento de países subdesenvolvidos, além de obras sobre programas regio-nais (principalmente para o Nordeste), municipais, industriais e agropecuários. Os livros sobre conjunturas econômicas analisam planos econômicos de governos específicos. Já o papel do Estado no processo de desenvolvimento do país é dis-cutido nos estudos que figuram no conjunto “Estado e ordem econômica”.

Esses trabalhos expressam interess e na conjugação do conhecimento científico com a prática política, considerando a economia política como um instrumento para a realização do desenvolvimento do país. Embora os pro-jetos dos cientistas não sejam idênticos, pois divergem quanto às teorias que informam suas análises e sua concepção de desenvolvimento,37 estão próxi-mos quanto à necessidade de uma política econômica que seja adequada às condições do país.

No sentido restrito da necessidade de intervenção de base científica, por-tanto racional, corrigindo a “espontaneidade” da vida econômica, a postura dos especialistas é característica da sociedade moderna, a qual exige aquele tipo de ação para controle e domínio do rumo dos fatos. A tendência da eco-nomia política é sobretudo examinar os passos da ação do Estado com base em estudos científicos.

Nos anos de 1945 a 1955, a quantidade de obras em “política e ex-pansão econômica”, “planejamento econômico” e “conjunturas econô-micas” se apresenta mais ou menos nivelada; no período subseqüente, porém, verifica-se enorme discrepância entre elas, devido ao aumento do número de livros sobre “política e expansão econômica” de quatro para 28 obras. O interesse dos economistas se voltou primordialmente para a análise da política responsável pelo crescimento e expansão da economia do país. A produção da economia política, naquele contexto

37. MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. Op. cit.; SUNKEL, Oswaldo; PAZ, Pedro. Os conceitos de desenvolvimento e subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Fórum, 1974. p. 33-46.

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histórico, se deixou marcar não só pelas influências do notável cresci-mento econômico, como pelo propósito de influir na condução política daquele processo.

Quanto ao segundo tema exposto no quadro XIII, “condições históricas da economia” (14 obras), tudo indica que seus pesquisadores acreditam que o pla-nejamento da economia depende da observação das características que o país apresentou no passado. A noção de um desenvolvimento planejado se une à visão histórica dos economistas: voltam-se para o futuro, mas apoiados no passado.

Embora tratem de assunto semelhante, os trabalhos sobre as “condições históricas da economia” se diferenciam daqueles da história econômica. Ao contrário dessa, nenhum livro trata com exclusividade de um fato ou evento econômico do passado, nem da reconstrução de um setor específico da pro-dução, ciclo econômico ou política especial de um período histórico. Os estu-dos buscam esboçar, à luz das categorias da economia política, as tendências da “formação”, “evolução” ou “emancipação” da economia nacional.

Outro item, as finanças, ocupa parte destacada no rol dos interesses dos economistas e é objeto de controvérsias. Os estudos focalizam principalmen-te o problema da inflação: causas, política de combate, sua relação com o desenvolvimento. Algumas obras se ocupam de análises ou da história do sistema bancário e de caixas econômicas.

Os trabalhos sobre comércio exterior, indústria e agricultura dividem-se claramente em duas linhas: ou são históricos, ou analisam a política econômica da época relativa àqueles setores, com vista ao problema do desenvolvimento. O processo de industrialização, a reforma agrária (é importante lembrar que no período de 1945 a 1964 essa questão foi posta na ordem do dia dos debates políticos) e problemas relativos à produção e exportação do café constituem o foco de interesse desses estudos.

Uma outra dimensão do conhecimento da economia encontra-se nos es-tudos sobre investimentos estrangeiros, mostrando o tipo de relação econô-mica e política que foi estabelecida com países desenvolvidos, resultante da escassez de capitais no país. Parte dos estudos indica a necessidade de tais investimentos, sem os quais o desenvolvimento econômico não seria viável, mas acentuam paralelamente a necessidade de uma política econômica que os controle e administre. Questões sobre a dívida externa são também abordadas. De outra perspectiva, na qual o eixo da discussão concentra-se nos interesses dos países desenvolvidos, apontam-se os problemas das nações “subdesen-

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volvidas” diante do quadro da estrutura mundial de dominação imperialista.Do conjunto “obras sobre temas específicos” (112 obras) faz parte um

livro sobre a repartição da renda, a mostrar que não houve interesse marcante em tratar desse assunto no que respeita à economia do país, embora ele figure entre os “problemas teórico-metodológicos” com seis obras.

Nenhum desses estudos teve crescimento comparável ao conjunto “de-senvolvimento e política econômica”, tampouco à categoria “problemas teó-rico-metodológicos”, ainda que as obras sobre “comércio exterior”, “agricul-tura”, “investimentos estrangeiros” e “finanças” tenham elevado seu número da primeira para a segunda fase.

6.3 Conclusão

Quanto aos temas da economia brasileira inscritos nos estudos do campo da economia política, poder-se-ia dizer que a falta de capitais para empreender as tarefas do desenvolvimento é o ponto de partida de numerosas obras. A busca de solução para esse problema não só aparece nos estudos sobre a po-lítica econômica e no registro das tendências históricas da economia, mas se traduz especificamente nas análises sobre investimentos estrangeiros, finanças públicas, crédito e comércio exterior.

De tal modo o interesse pela questão da falta de capitais segue uma linha definida de trabalho, que temas como “repartição da renda” ficam em segun-do plano. A ênfase dada pelo pensamento econômico à diferença entre nações ricas e pobres, atrasadas ou desenvolvidas, industrializadas ou não, contrasta com o tratamento omisso dado às diferenças de condições de existência da população do país, provocadas pela repartição desigual da renda. Os estudos revelam o constrangimento no que se refere ao estudo da repartição de renda, constrangimento de tal ordem que relembra o comentário de Fábio Lucas na introdução de um de seus livros sobre a igualdade e desigualdade da renda; o assunto não deve ser considerado “tema proibido” ou “tabu”...38

É possível que teses sobre o desenvolvimento assinalem o problema, pos-tergando sua solução para o momento posterior ao aumento da renda na-cional.39 O fato é que nesse sentido, o pensamento econômico no contexto

38. LUCAS, Fábio. Igualdade e desigualdade das rendas. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econô-micas/UFMG, 1963. p. 12.

39. SINGER, Paul. Curso de introdução à economia política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1975.p. 47-48.

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brasileiro reedita características do pensamento econômico geral, que dedica capítulos estanques e restritos aos problemas concretos da repartição de ren-da, discutindo-os preferencialmente no plano teórico.

Há nas obras sobre economia política o que se chamaria de coerência disciplinar: os temas escolhidos ou o tratamento que lhes é dado convergem para uma questão – a do desenvolvimento da economia nacional. Os econo-mistas buscam solucioná-la por meio da revisão do passado ou da formulação e controle das ações políticas do presente, sobretudo para que visassem à obtenção de capitais e sua aplicação adequada, a fim de que o atraso do país fosse superado. É possível que distinguindo-se das demais áreas das ciências sociais naquele período, a economia política tenha se ocupado da produção de conhecimento com a finalidade clara de intervir no processo político-econô-mico que levaria ao desenvolvimento do capitalismo industrial no Brasil.

7. Os temas da antropologia

Ao distinguir a antropologia de outros ramos do conhecimento, François Laplantine se refere à disciplina como “um enfoque que consiste no estudo do homem inteiro; no estudo do homem em todas as sociedades, sob todas as latitudes, em todos os seus estados e em todas as épocas”. Abarcando tudo que constitui uma sociedade, desde seus modos de produção econômica e suas técnicas até suas crenças religiosas e criações artísticas, a antropologia, segundo o autor, estuda “as culturas da humanidade como um todo em suas diversidades históricas e geográficas”.40

O surgimento da antropologia está vinculado à busca de espaços e ao confronto entre europeus e outros povos no que se refere a modos de viver, produzir e reproduzir, que durante o Renascimento podem ser vistos como ponto de partida, dentro da tradição européia, para o desenvolvimento dos es-tudos antropológicos. Os documentos e os relatos da experiência desse con-fronto registram uma visão etnocêntrica peculiar aos europeus que durante longo tempo caracterizou o conhecimento antropológico.

Quando no século XIX se constituiu de fato como disciplina autônoma, a antropologia concentrou o foco de suas análises e reflexões nos “povos primitivos”, preocupando-se em diferenciar os estágios superiores e inferiores

40. Cf. LAPLANTINE, François. Aprender antropologia. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 16, 19 e 20.

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da história da humanidade, e mantendo a visão etnocêntrica que já se inscre-vera nas primeiras descrições dos povos “não familiares” aos europeus. Com raras exceções somente neste século, especialmente por volta dos anos 1950, desponta no campo da antropologia uma crítica sistemática ao etnocentrismo característico da disciplina, passando os antropólogos então a refletir sobre o significado da diversidade cultural.

Até hoje perduram as discussões relativas à “herança etnocêntrica” da antropologia,41 e também dificuldades quanto ao uso dos termos etnografia, et-nologia e antropologia. De modo geral, aceita-se que o termo etnografia designe a coleta direta e minuciosa dos fenômenos observados pelo pesquisador, procedi-mento que passa a ser adotado, segundo François Laplantine, no início do século XX, quando especialistas conferem importância à observação direta efetuada por eles próprios. Já a utilização dos termos etnologia e antropologia corresponde a diferentes tradições dessa área de estudo, sendo etnologia mais usada pelos france-ses para o exame das diversas culturas humanas e antropologia pelos especialistas de países anglo-saxônicos, significando o estudo de gênero humano.42

No Brasil, os estudos antropológicos se iniciam em meados do século XIX com as pesquisas que focalizam sobretudo os hábitos e costumes indígenas. No final daquele século novos temas foram abordados, entre eles as tradições popu-lares e a cultura africana, a exemplo dos estudos europeus, onde era notável o pre-conceito racial e cultural dos estudiosos. Maria Isaura Pereira de Queiroz comenta que naquela época tal preconceito “se voltava principalmente contra o africano cuja presença no cotidiano da sociedade brasileira era muito mais forte do que a do indígena”.43 Contudo, uma das características desses estudos no Brasil parece ter sido também a preocupação com a existência ou não de uma “cultura brasilei-ra”, unidade cultural que teria se forjado ao longo da história do país, através da contribuição dos diferentes grupos étnicos integrantes da sociedade.

Tudo indica que os estudos antropológicos relativos ao período que vai de 1945 a 1966, examinados nesse trabalho, em sua maioria reatualizaram os tra-dicionais temas e problemas desse ramo do saber no Brasil. O quadro abaixo revela os temas escolhidos pelos especialistas e o número de obras publicadas sobre cada um deles:

41. A respeito da história da antropologia e da visâo etnocêntrica da disciplina, consultar LA-PLANTINE, François. Op. cit., p. 37-62; VELHO, Gilberto; CASTRO, E. B. Viveiros de. O conceito de cultura e o estudo de sociedades complexas: uma perspectiva antropológica. Artefato, Rio de Janeiro, v. 1, n. 1. jan. 1978.

42. Cf. LAPLANTINE, François. Op. cit., p. 25.43. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit., p. 380.

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Quadro XVIObras por tema em antropologia: 1945-55 e 1956-66

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Obras sobre a disciplina

Problemas teórico-metodológicos 6 2 4

Manuais e introduções 4 1 3

Avaliação da produção de 4 3 1conhecimento da disciplina

Subtotal 14 6 8

Obras sobre temas específicos

Tradições populares 48 21 27

Grupos étnicos específicos 47 27 20

Formação étnico-cultural 14 7 7

Religiões afro-brasileiras 11 5 6

Cultura rural 7 4 3

Subtotal 127 64 63

Total 141 70 71

7.1 Obras sobre a disciplina

As “obras sobre a disciplina” apresentam uma linha diversificada de traba-lhos que incluem manuais e introduções, ensaios sobre problemas de ordem teórico-metodológica e trabalhos de avaliação da produção de conhecimentos sobre antropologia no Brasil. O número de textos publicados nesse setor não é expressivo de grande interesse pelo auto-conhecimento do trabalho realiza-do, nem pelo papel da antropologia no contexto de mudanças peculiar àquele período histórico; somente 9% da produção se encontra nessa rubrica. Além de escassos, esses estudos sofrem poucas alterações ao longo das décadas fo-

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calizadas. Os livros sobre “problemas teórico-metodológicos” e os “manuais e introduções” mostram um aumento, enquanto as obras de “avaliação da produção de conhecimento da disciplina” sofrem uma redução.

7.2 Obras sobre temas específicos

No período analisado, a antropologia recebe e reelabora uma já longa tra-dição nacional de estudos sobre as tradições populares e indígenas que, como mencionamos, se inicia em meados do século XIX.44 No conjunto das “obras sobre temas específicos”, a contribuição dos trabalhos sobre “tradições po-pulares” congrega 34,04% dos títulos. Em seguida, as pesquisas sobre os in-dígenas chegam a 24,82%. Os temas “formação étnico-cultural” e “religiões afro-brasileiras” têm alguma expressão, porém bem menor.

Em 1952, Manuel Diégues Jr. já chamava a atenção para a necessidade de diversificação das áreas de estudo, referindo-se especialmente à predominân-cia dos estudos sobre os indígenas:

O estudo etnográfico no Brasil andou sempre ligado ao indígena. Até quase nossos dias, o que se entendia como matéria de etnografia era o indígena. Isto sucedeu como decorrência das próprias condições em que surgiu a etnografia, dedicando-se ao estudo dos povos ou grupos chamados de primitivos ou natu-rais. (...) É certo que, já em 1913 Roquette Pinto mostrava, em memorável discurso no Instituto Histórico, que a “etnografia no Brasil, hoje, não se pode mais prender somente ao aboríge-ne”. Certo: etnografia não é só indígena; é também o estudo do negro, dos mestiços, dos grupos imigrados; etnografia é, e deve ser o estudo das populações brasileiras através dos elementos culturais que as caracterizam.45

A configuração dos estudos da amostra parece indicar, em primeiro lugar, que a afirmação do autor já não corresponderia à produção antropológica do período de 1945 a 1966, se for julgado representativo o conjunto de livros do acervo da Biblioteca Nacional.

44. Cf. MELATTI, Julio Cezar. A antropologia no Brasil: um roteiro. BIB – Boletim Informativo e Bibliográfico de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, n. 17, 1984.

45. DIÉGUES JR., Manuel. Etnias e culturas no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1956. p. 9-10.

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Na realidade, juntam-se nos estudos sobre temas específicos as duas pri-meiras questões da antropologia abordadas no Brasil. Efetivamente, a discipli-na começa a esboçar seu campo de trabalho com as pesquisas sobre os indíge-nas publicadas na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e, em seguida, se amplia com os estudos sobre as tradições nacionais efetuados por Sílvio Romero. Esses dois temas mais antigos são justamente os que alcançam maior número de publicações na amostra analisada.

A categoria “tradições populares” (englobando o folclore) apresenta o mais elevado número de estudos (48 obras). Utilizamos o termo “tradições populares” para designar o conjunto de pesquisas que registra e descreve mo-dos de pensar, crenças, costumes e folguedos que, mantendo suas caracterís-ticas principais e seus significados para uma comunidade específica, teriam permanecido ao longo do tempo. A diferença das “tradições populares” para outras expressões culturais existentes na mesma sociedade estaria marcada, não apenas pela sua continuidade no tempo, como também pela sua transmis-são oral e pelo seu caráter não elitista, sendo geralmente atribuídas às camadas inferiores da hierarquia social. A par disso, no Brasil essas tradições costumam ser vistas como uma instância que caracterizaria aquilo que é “brasileiro”, servindo assim para delinear os traços da cultura brasileira e diferenciá-la de outras culturas.46

Cabe assinalar que os estudos sobre as tradições populares – assim como aqueles que se ocupam da formação étnico-cultural da sociedade brasileira – sugerem que os antropólogos se voltam para o passado à procura de traços culturais que teriam permanecido ao longo do tempo. Essa característica dos estudos antropológicos aparece também em outros conjuntos temáticos tra-tados nesse campo disciplinar no período abordado.

Os estudos sobre as “tradições populares” foram reatualizados e esti-mulados no decorrer da década de 1950. Segundo Edison Carneiro, ao final da Segunda Guerra Mundial “os estudos de folclore haviam chegado a uma encruzilhada”47 e o primeiro passo no sentido da sua retomada foi dado com a criação, em 1947, da Comissão de Folclore vinculada à Unesco, que organizou subcomissões em todos os estados brasileiros. Àquela Comissão sucedeu, por sugestão feita no I Congresso Nacional do Folclore, em 1951, a campanha

46. Cf. CHAUÍ, Marilena. Seminários: o nacional e o popular na cultura brasileira. São Paulo: Bra-siliense, 1984; MORAES, Eduardo Jardim de. A construção da idéia de modernidade no Modernismo brasileiro. Tese de doutoramento, UFRJ, Rio de Janeiro, 1983.

47. CARNEIRO, Edison. Evolução dos estudos de folclore no Brasil. Revista Brasileira de Folclore, Rio de Janeiro, 1962.

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Defesa do Folclore, cujas atividades tiveram início em 1958. Um dos objetivos da Comissão e, posteriormente, da campanha foi registrar as tradições popu-lares em todo o território nacional, o que poderia explicar não só a quantidade de estudos sobre o tema, como a predominância de obras sobre as tradições populares de localidades ou regiões.

Na realidade, o interesse pela cultura popular era então crescente, sendo observado não só na criação de instituições voltadas para a pesquisa do folclore, mas também em manifestações, movimentos e organizações de setores estudantis, artísticos e literários, principalmente no final da década de 1950 e início dos anos 1960. Os Centros Populares de Cultura, criados em 1961, são um exemplo disso. Seja no sentido de conhecer as “origens” das tradições populares brasileiras e buscar preservá-las, ou no sentido de “conscientizar” ou “politizar” as camadas populares, discutindo-se então o papel dos intelectuais frente a elas, fato é que a cultura das camadas popu-lares foi se destacando cada vez mais no rol das discussões dos intelectuais ao longo daqueles anos. Na realidade, as transformações socioeconômicas não só modificavam as condições de vida das populações de baixa renda no Brasil, como permitiam que despontassem no horizonte intelectual pro-blemas relativos à participação daquelas camadas no processo econômico, social e político.

No período aqui analisado, esse conjunto de estudos costumava ser denomi-nado no mais das vezes “folclore” e, com menos freqüência, “cultura popular”. Julgamos mais adequado o termo “tradições populares” porque abrange diversas manifestações registradas nos estudos da amostra dessa pesquisa, já que os estu-diosos nem sempre concordaram com a qualidade das manifestações definidas pelo termo folclore, que para alguns nomeava tão somente as lendas, os contos e os mitos. Além disso, a identidade do folclore – ora objeto de estudo, ora ramo da antropologia, ora da história social, ora campo específico de estudos – é ponto de controvérsias, o mesmo ocorrendo com o termo “cultura popular” que adquiriu mais recentemente um caráter político, vindo representar a expressão da contesta-ção ou resistência de grupos socialmente desprivilegiados.48

O quadro XVII revela a diversidade e quantidade dos estudos referentes a "tradições populares" realizados no período.

48. Sobre o conceito de cultura popular, ver ORTIZ, Renato. A consciência fragmentada. In:___; QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de; SIMSON, Olga R. M. von; MICELI, Sergio. Esboço de um projeto de investigação da produção cultural no Brasil, São Paulo, n. 17, 1ª série, set. 1982. Cadernos CERU.

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Quadro XVIIObras por tema na categoria “tradições populares”:

1945-55 e 1956-66(antropologia / obras sobre temas específicos)

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Estudos de caráter geral 8 4 4

Mitos, contos e provérbios 9 5 4

Usos e costumes 8 1 7

Folguedos 8 4 4

Tradições populares de regiões, 15 7 8

estados e cidades

Total 48 21 27

Como se vê, os estudos de caráter geral, os trabalhos sobre mitos, contos e provérbios, os textos sobre usos e costumes e folguedos populares apresen-tam aproximadamente o mesmo número de publicações, destacando-se no quadro as obras sobre as tradições populares de diferentes regiões, estados ou cidades brasileiras. A região Nordeste é a mais focalizada, sendo objeto de três estudos; entre os estados, os mais pesquisados são Alagoas e Santa Catarina, havendo obras também sobre São Paulo, Bahia, Goiás e Rio Grande do Sul. A cidade do Rio de Janeiro é foco de interesse de apenas um texto. Em que medida estados da Federação mais abordados apresentariam peculiaridades mais marcantes da chamada “cultura popular”? Ou que fatores levariam a tais trabalhos em determinados locais? Tais perguntas poderiam motivar pesqui-sas mais aprofundadas sobre o assunto.

As linhas de estudo sobre as tradições populares se mantiveram ao longo do período analisado. De acordo com a amostra analisada, foi dada preferência às pesquisas sobre usos e costumes das camadas populares, estudos que tratam das atividades mais concretas da vida cotidiana daquelas populações. Os pesquisado-res das “tradições populares” parecem pouco motivados pela atmosfera de de-bates voltados para os problemas da cultura popular; a abordagem que adotam

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não se modifica em profundidade, assim como a temática de seus estudos, mas a quantidade maior de trabalhos indica um aumento de interesse da parte deles e dos leitores.

O quadro XVI apresenta um grande conjunto de textos sobre “grupos étnicos específicos”, entre os quais destacam-se os indígenas, os negros e os imigrantes. O conhecimento elaborado sobre os grupos indígenas evidencia as seguintes linhas de trabalho:

Quadro XVIIIObras por tema na categoria “grupos étnicos específicos – indígenas”:

1945-55 e 1956-66(antropologia / obras sobre temas específicos)

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Grupos indígenas no seu conjunto 5 5 -

Grupos indígenas específicos 9 6 3

Cultura indígena (religião, mitos, lendas) 13 9 4

Integração indígena 8 2 6

Total 35 22 13

A quantidade desses estudos no conjunto das obras antropológicas per-manece fiel ao início da antropologia no Brasil, que realiza as primeiras pes-quisas sobre os indígenas por volta de 1850.

O interesse principal dos estudiosos na amostra se volta para a recons-trução de traços culturais exclusivos dos grupos indígenas. Tal interesse fica demonstrado na quantidade de obras voltadas para o estudo da cultura, dos grupos no seu conjunto e de grupos indígenas específicos – que somam 27 publicações, enquanto o conhecimento das relações entre brancos e índios é objeto de apenas oito livros.

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Essa observação sugere que entre os anos de 1945 e 1966 os especialistas teriam se ocupado, sobretudo, da construção de uma “memória” indígena. O interesse em rastrear o modo de vida de “antepassados” da sociedade brasilei-ra mostra-se coerente com a tendência histórica dos estudos antropológicos naquele período – que vimos apresentando nessa exposição – e também com características apresentadas por eles desde o século XIX.

O quadro XVIII mostra que o número de textos sobre a cultura indígena (treze obras) supera os demais. Entre as publicações, a maior parte se volta para o estudo de mitos, lendas e religiões (cinco obras), e de línguas indíge-nas (quatro obras). A valorização de aspectos simbólicos da vida social dos indígenas aproxima essa linha de trabalho daquela que registra mitos, contos e provérbios (treze obras), do conjunto “tradições populares”, e também das pesquisas sobre as religiões afro-brasileiras (onze obras), o que demonstra a atenção dos antropólogos ao plano simbólico da vida social de grupos “dife-rentes” ou “não familiares” aos pesquisadores e seu grupo social.

Freqüentes são os trabalhos sobre “grupos indígenas específicos” que buscam descrever aspectos diversos da vida social de uma tribo. Das nove obras, três tratam especialmente da organização social daqueles grupos. Sobre “integração indígena”, oito livros mostram os processos peculiares à inserção dessas populações na estrutu-ra socioeconômica e política do país, ou especificamente de uma de suas regiões, e as conseqüências desse “trajeto” para as tribos. A maior parte das pesquisas tem como foco de observação um grupo indígena específico. Ressalte-se o “lugar” das análi-ses sobre “integração indígena” na configuração temática da antropologia, naquele período, observando que constitui a única categoria de estudos a tratar nitidamente das relações entre grupos étnicos distintos. Os trabalhos sobre grupos indígenas no seu conjunto referem-se a essa população em geral, não tendo sido possível verificar outras características desses livros através de seus títulos.

Sobre os negros no Brasil, nove obras trazem pesquisas que abordam as-pectos diferenciados da vida do grupo, mas não deixam entrever uma linha clara de investigação sobre esse assunto. Seria possível assinalar apenas que os estudiosos não destacaram nesses estudos a dinâmica dos contatos e da interação entre negros e brancos; do ponto de vista antropológico, as religiões afro-brasileiras mereceram maior destaque que outros problemas concernen-tes às populações negras no país.

Os estudos sobre imigrantes (três obras) traduzem uma tentativa de di-versificação das áreas de estudo do campo da antropologia. Dois estudos cir-cunscrevem suas observações a um grupo específico de imigrantes, enquanto

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outro aborda, em seu conjunto, a contribuição cultural dos imigrantes para a urbanização e industrialização do país.

Quanto ao crescimento desses estudos, destacam-se em quantidade os livros sobre “cultura indígena” na primeira fase, entre 1945 e 1955; no pe-ríodo de 1956 a 1966, no entanto, as publicações sobre o assunto caem de nove para quatro. Há, também, evidente diminuição do número de textos sobre “grupos indígenas específicos” e nenhum trabalho apareceu sobre “grupos indígenas no seu conjunto”. O aumento das obras sobre “inte-gração indígena” se destaca duplamente: primeiro, porque é o único tema que tem aumento; segundo, porque esses trabalhos ocupam uma posição diferente no conjunto das investigações sobre esses grupos. Enquanto os demais parecem caracteristicamente descritivos, os últimos questionam e examinam as relações interétnicas e suas repercussões sobre as condições socioeconômicas e culturais daquelas populações.

Os estudos sobre o grupo negro no Brasil, assim como aqueles sobre os imigrantes, não só se apresentam em número limitado no rol das obras do campo da antropologia, como seu número não varia da primeira para a se-gunda fase. Constam da amostra quatro obras sobre “negros”, publicadas nos anos 1945–1955, e cinco no período subseqüente; sobre “imigrantes”, há um livro na primeira fase e dois na segunda.

Na categoria “formação étnico-cultural” (ver quadro XVI), os an-tropólogos buscam recompor a diversidade dos traços de uma unidade cultural que singularizaria a sociedade brasileira. É importante chamar a atenção para o fato de que essas análises se constituem de dois modos: de um lado, abordam as características de etnias regionais; de outro, in-vestigam o processo de formação cultural da sociedade como um todo, através da trajetória e da contribuição de negros, brancos e indígenas. Decerto, esse tipo de problema, que se liga a investigações ora sobre a identidade nacional, ora sobre a identidade regional, foi dos que mais cedo atraíram a atenção dos estudiosos no Brasil, figurando na tradição dos estudos desde o século XIX.

Outro campo de estudo antropológico são as religiões afro-brasileiras. No contexto histórico examinado, essa linha de investigação questiona du-plamente as sobrevivências de traços de origem e o processo de aculturação que teriam levado ao sincretismo religioso. Dos onze textos constantes da amostra, nove têm como horizonte de observação os traços das religiões afro-brasileiras na região Nordeste; os demais não especificam em seus títulos o

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local onde a pesquisa foi realizada. No tocante às crenças, evidencia-se mais uma vez no período abordado um interesse que já marcara a antropologia desde os trabalhos de Nina Rodrigues.

O conjunto de estudos sobre “cultura rural” retrata aspectos culturais peculiares ao sistema econômico que primeiro se consolidou no Brasil e assentou as bases da colonização portuguesa no Nordeste. As pesquisas focalizam o povoamento da região, a origem e as características do engenho de açúcar, e outros aspectos da vida rural, configurada pela produção da cana-de-açúcar e pelo patriarcalismo. Note-se que mais uma vez se utiliza nesse conjunto a noção de região como área específica onde se desenvolvem determinados padrões culturais.

O quadro XVI indica que os estudos sobre “formação étnico-cultural”, “religiões afro-brasileiras” e “cultura rural”, comparativamente menos pes-quisados pelos antropólogos, não sofrem alterações, mantendo uma quanti-dade semelhante de livros de uma fase para a outra.

Como se vê, houve poucas modificações no escopo temático da antropo-logia, o que indica apego por parte dos estudiosos dessa área às suas questões durante um período de 20 anos. Não foram focalizados novos assuntos, os livros se dividem entre os mesmos temas nas duas fases estudadas.

No período abordado, a necessidade de uma avaliação da produção an-tropológica foi assinalada por Florestan Fernandes, em 1953, e por Luís Aguiar Costa Pinto, em 1963. Florestan Fernandes chamava a atenção para a importância dos estudos sobre a mudança cultural, nas áreas da cultura indígena, da cultura afro-brasileira, da cultura campesina e da cultura trazida pelos imigrantes. Segundo o autor, era preciso medir as reações das diversas culturas às influências das transformações socioeconômicas em curso: “há certa urgência de intensificar os trabalhos deste gênero, porque se sabe que as oportunidades perdidas no presente são irremediáveis. A transformação do cenário é rápida e muitas situações terão que ser descritas agora ou nunca o serão, o mesmo se podendo dizer sobre a análise dos problemas que elas colocam à investigação etnológica.”49

Mas Florestan Fernandes mostrava também que a recepção de novos en-foques dos estudos etnológicos pelos círculos intelectuais era problemática. Atribuía à mentalidade “pré-científica” do público leigo dificuldades que de-sestimulavam as investigações modernas da antropologia: “embora as publi-cações etnológicas encontrem algum público, por causa da curiosidade pelo

49. Cf. FERNANDES, Florestan. A etnologia e a sociologia no Brasil. São Paulo: Anhambi, 1958. p. 38.

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‘índio’, pelo ‘folclore negro’, pelos ‘assuntos brasileiros’ etc., as tendências à reelaboração intelectual das descobertas dos etnólogos são quase nulas. Mesmo contribuições cujo sentido supra-etnológico seja evidente – para a interpretação histórica do passado ou para o conhecimento do presente – permanecem inaproveitadas ou sofrem severas restrições, o que demons-tra o apego de larga parte do público leigo pelos modos pré-científicos de concepção do mundo”.50

É interessante verificar que a crítica de Florestan Fernandes era dirigida em grande medida ao público leitor. Segundo ele, a falta desse público deses-timulava os pesquisadores. Essa observação é de grande importância porque expõe o problema da divulgação do conhecimento e seu efeito sobre a elabo-ração dos estudos.

Os comentários de Luís Aguiar Costa Pinto revelam uma crítica mais severa à antropologia. Para o autor, a abordagem culturalista dos estudos antropológicos, naqueles anos, não tinha rigor conceitual e metodoló-gico suficientes para efetuar o “estudo científico dos novos aspectos assumidos pelas relações interétnicas no interior de uma sociedade em mudança”. Na realidade, as reflexões de Costa Pinto terminam por con-ferir maior importância à sociologia pelos meios teóricos e metodológi-cos de que se dispunha para a compreensão e explicação do processo de transformações do país.51

Ambos os autores sugeriam uma revisão dos estudos da antropologia que levasse em conta as mudanças socioeconômicas do momento, mas, evi-dentemente, os comentários críticos dos dois sobre os estudos antropoló-gicos se diferenciam. Florestan Fernandes aponta os caminhos, segundo ele, necessários para uma atualização das pesquisas no campo da antropo-logia, ainda que houvesse obstáculos para uma divulgação mais ampla de seus resultados. Luís Aguiar Costa Pinto é cético quanto às possibilidades teórico-metodológicas da disciplina no que respeita à elucidação dos pro-blemas étnicos e culturais naquele momento. Os dois comentários abordam, portanto, o problema da persistência dos temas antropológicos de ângulos diferentes; porém, eles se completam e levam a compreender um conjunto

50. Ibidem, p. 34.51. Cf. Pinto, Luís Aguiar Costa. Sociologia e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,

1965.p. 78-79.

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de motivos que acarretaram a falta de renovação da configuração temática da antropologia naquele período.

7.3 Conclusão

Retomando o fio das observações feitas sobre a antropologia, poder-se-ia dizer que as escolhas temáticas e as ênfases dadas pelos antropólogos ao tratar de assuntos de sua preferência, indicam que a disciplina apresenta uma ten-dência histórica. A perspectiva antropológica de reconstrução do passado pa-rece sublinhar os traços culturais que teriam permanecido ao longo da história da sociedade brasileira. Na antropologia, o passado teria sido revisto através da descrição de modos de vida de grupos étnicos que, tendo participado dos “primeiros tempos” da formação daquela sociedade, teriam conservado nos seus hábitos, costumes e nas crenças, características culturais de outrora.

Tal interesse da antropologia estaria presente nos estudos gerais sobre a formação étnico-cultural do país, nos trabalhos sobre os traços remanes-centes da colonização portuguesa na cultura rural do Nordeste, na insis-tência em rastrear as sobrevivências das crenças africanas como mostram trabalhos sobre as religiões afro-brasileiras, e ainda nos estudos sobre a cultura indígena.

Acrescente-se àquela linha de pesquisa sobre os “antepassados” as nume-rosas investigações sobre as tradições populares, que também sublinham a permanência de crenças, hábitos e costumes, distinguindo-se entretanto dos primeiros porque não tratam de grupos étnicos específicos e sim de camadas da população brasileira.

É possível que por meio desses estudos voltados para as “origens” dos traços culturais peculiares à sociedade brasileira, os estudiosos tenham pro-curado delinear as características das culturas, seja chamando a atenção para a diversidade das culturas regionais, seja examinando as peculiaridades das tradições populares no país.

Entretanto, é preciso ressaltar que embora tal conduta possa ter predomi-nado na pesquisa antropológica no período aqui abordado, começou a haver interesse em revisitar o passado do ponto de vista das mudanças, o que os especialistas teriam feito através da análise de processos de assimilação, acul-turação ou integração de grupos étnicos específicos, análise que caracteriza alguns dos estudos elaborados.

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8. Os temas da sociologia

Ao se constituir como disciplina científica, no decorrer do século XIX, a sociologia se distingue por três aspectos: o papel que a ela é atribuído de libertar das crenças religiosas e da especulação metafísica o conhecimento da vida social; a discussão conceitual de seu objeto, a sociedade; e o fato de identificar-se por excelência como a disciplina “orientadora da sociedade in-dustrial ocidental”.52

Para Theodor Adorno e Max Horkheimer, a sociedade é o objeto da so-ciologia. Eles a definem como “uma espécie de contextura formada entre todos os homens e na qual uns dependem dos outros sem exceção, na qual o todo só pode subsistir em virtude da unidade das funções assumidas pelos co-participantes, a cada um dos quais se atribui, em princípio, uma tarefa fun-cional; e onde todos os indivíduos, por seu turno, estão condicionados, em grande parte, pela sua participação no contexto geral. Assim o conceito de sociedade define mais as relações entre os elementos componentes e as leis subjacentes nessas relações do que propriamente os elementos e suas descri-ções comuns”.53

A formulação do objeto da sociologia só foi possível com a ascensão da burguesia moderna. O surgimento da disciplina está, pois, associado ao advento de um novo tipo de sociedade: a sociedade urbano-industrial sob sua forma capitalista. A sociologia traz em sua constituição a noção (e a marca) do novo, da mudança, da transformação. Note-se, portanto, que tanto os problemas de uma estrutura social sem precedentes na his-tória, quanto o processo que gerou tal estrutura integram a composição do campo da disciplina, exigindo a elaboração de um corpo de conheci-mentos próprios.

No Brasil, de 1945 a 1966, a sociologia também é vista por seus estudio-sos como uma ciência indispensável à elucidação de problemas característicos dessa fase, que é justamente de profundas transformações sociais e econômi-cas.54 Nesse sentido, a ciência reatualiza no contexto brasileiro um dos traços

52. A expressão “disciplina orientadora da sociedade industrial ocidental” é usada por Wolf Le-penies na introdução ao livro LEPENIES, Wolf (Org.). Geschichte der Soziologie. Frankfurt a/M: Suhrkamp Verlag, 1981. v. I, p. 6.

53. Cf. ADORNO, Theodor W.; HORKHEIMER, Max. Temas básicos da sociologia. São Paulo: Cul-trix/USP, 1973. p. 25-26.

54. Cf. como exemplos: PINTO, Luís Aguiar Costa. Op. cit.; FERNANDES, Florestan. A sociologia numa era de revolução social. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1963; RAMOS, Alberto Guerreiro.

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de origem de sua identidade. É importante, no entanto, saber como aquele traço é reelaborado e como a disciplina busca “orientar as mudanças sociais de uma sociedade específica”.

Os temas escolhidos convergem, assim, para uma questão – as mudan-ças sociais. Os assuntos focalizados mostram ao mesmo tempo de que ângulo aquela questão foi tratada. Constam da amostra 121 obras de sociologia que se repartem nas seguintes linhas de investigação:

Quadro XIXObras por tema em sociologia: 1945-55 e 1956-66

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Obras sobre a disciplina problemas 24 9 15teórico-metodológicos

Manuais e introduções 11 4 7

Avaliação da produção de conhecimento 9 2 7 da disciplina no Brasil

Avaliação do ensino da disciplina 2 1 1

Subtotal 46 16 30

Obras sobre temas específicos

Mudança social, industrialização 21 1 20e desenvolvimento

Meio rural 21 9 12

Mobilidade histórica e social 19 7 12

Meio urbano 8 - 8

Religião 3 1 2

Educação 3 - 3

Subtotal 75 18 57

Total 121 34 87

Cartilha de aprendiz de sociólogo: por uma sociologia nacional. Rio de Janeiro: Estúdio de Artes Gráficas C. Mendes Júnior, 1954; VILLAS BÔAS, Glaucia. O sentido das mudanças na socio-logia dos anos 50. In: ANPOCS, XIII, 1989.

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8.1 Obras sobre a disciplina

Embora não ocupem o lugar de maior destaque (46 em 121 obras, isto é, 38,01% delas) entre as linhas de trabalho do campo da sociologia, as “obras sobre a disciplina” elaboradas pelos sociólogos têm uma particularidade no conjunto desse tipo de estudo, constante dos diversos ramos do saber que configuram o quadro geral das ciências sociais nessa pesquisa: apresentam o mais diversificado grupo dessa vertente de textos e também o mais alto percentual de obras.

Os problemas teórico-metodológicos da sociologia como fonte de conhecimento aumentam no quadro exposto; somando-se aos traba-lhos sobre os procedimentos teórico-metodológicos as introduções e os manuais, verifica-se que os sociólogos tiveram bastante interesse em divulgar seu próprio campo de conhecimento e delimitá-lo em relação a outras disciplinas.

No conjunto das 24 obras sobre as questões teórico-metodológicas, é pos-sível diferenciar uma linha de estudos que vai dos fundamentos epistemológi-cos da disciplina às teorias explicativas e técnicas de pesquisa utilizáveis, com o que os estudiosos oferecem um quadro de como “fazer sociologia”. Ao lado dessa linha, uma outra se ocupa dos limites do tema, elaborando textos sobre o campo da sociologia do direito e sobre as relações da sociologia com a antropologia e a psicanálise.

Outro interesse peculiar aos sociólogos é a importância atribuída à avalia-ção de seu próprio campo de trabalho no país. Nenhuma outra das disciplinas aqui revistas revela tal interesse. Ao ressaltar a indispensabilidade da ciência sociológica, os pesquisadores estariam acentuando a essencialidade de sua ação no processo de mudanças sociais nacionais.

Livros sobre as diversas categorias de estudo integrantes das “obras sobre a disciplina” são publicados tanto na primeira, quanto na segunda das fases apontadas. De um período para outro, aumentou o número de textos em todos os temas dessa área, com exceção das obras de avaliação do ensino da disciplina, cuja quantidade permanece inalterada. Saliente-se o aumento de publicações de “avaliação da produção sociológica”, que apresentam o maior índice de crescimento no subconjunto.

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8.2 Obras sobre temas específicos

Os temas específicos foram abordados em 61,98% das obras da amostra. A proporção é maior do que a das obras teórico-metodológicas, mas não se eleva sobremaneira em relação a essas. Mais uma vez, destaca-se o interesse dos sociólogos em discutir e divulgar a sua própria disciplina, além de efetuar pesquisas específicas.

De acordo com as obras do acervo da Biblioteca Nacional, os especialistas examinaram preferencialmente problemas concernentes à “mudança social, industrialização e desenvolvimento”, e também ao “meio rural” brasileiro, figurando cada uma dessas categorias de estudo com 21 livros na amostra.

A questão da mudança social aparece relacionada com o processo de in-dustrialização e com o desenvolvimento do país, sendo tratada a partir de uma perspectiva histórica. O conjunto das pesquisas e das reflexões sobre o assunto sugere que a passagem de uma sociedade agrária para uma coletivi-dade urbano-industrial foi o fio condutor das investigações dos sociólogos naquele período.

Entre as obras que falam sobre “mudança social, industrialização e desen-volvimento” distinguem-se quatro linhas de trabalho:

Quadro XXObras por tema na categoria “mudança social, industrialização e de-

senvolvimento”: 1945-55 e 1956-66 (sociologia / obras sobre temas específicos)

Temas Obras

1945 1955

1956 1966

Estudos de caráter geral 2 - 2

Mudanças sociais 9 - 9

Comunidades 5 1 4

Industrialização 5 - 5

Total 21 1 20

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Os estudos sobre “mudança social, industrialização e desenvolvimento” enfocam essa questão a partir das seguintes perspectivas: os estudos gerais buscam a síntese de um conjunto de características próprias da sociedade bra-sileira em mudança e comparecem com menor número de obras no quadro; ao contrário, predominam no conjunto os livros que expõem e discutem a problemática das mudanças sociais no país, vinculando-a, em alguns casos, à necessidade da pesquisa sociológica a fim de esclarecê-la. Nos estudos sobre comunidades, os sociólogos dedicaram-se à reconstrução de um complexo de relações próprias de uma comunidade, abrangendo seu setor rural e urbano e analisando em universo delimitado e restrito os efeitos das mudanças. Além disso, efetuaram pesquisas sobre peculiaridades do processo de industrializa-ção no Brasil.

As linhas de trabalho acima citadas mostram que o interesse dos so-ciólogos pela caracterização de um processo geral de transformações se expressa numa seqüência que vai da síntese à descrição minuciosa das trans-formações no plano restrito das “comunidades”. Paralelamente, mostram a importância atribuída à sociologia na elucidação de problemas decorrentes das mudanças sociais.

Da amostra de livros consta apenas um estudo sobre comunidades, publi-cado no período entre 1945 e 1955; os demais trabalhos, sem exceção, foram divulgados nos anos de 1956 a 1966. Ainda que as pesquisas sobre a questão das “mudanças, industrialização e desenvolvimento” tenham sido elaboradas alguns anos antes da data de sua publicação em livro, variando o tempo necessário para seu lançamento no mercado, não pareceu constituir objeto de interesse dos es-tudiosos num primeiro momento a elaboração de trabalhos no campo da socio-logia. A análise da amostra revela que o assunto foi sendo investigado à medida que se acelerava o crescimento da economia brasileira e se acirravam os debates sobre o desenvolvimento econômico; a questão teria permanecido como alvo de investigação sociológica ainda durante as crises econômica e política que se seguiram aos anos de mudanças efervescentes, começando a se esboçar em finais da década de 1950. As obras da sociologia teriam conquistado um público amplo, o que possivelmente estimulou o aprofundamento e a continuidade das pesquisas sobre o tema.

Os trabalhos sobre o meio rural tratam de problemas de diversas ordens desse setor no Brasil. Observe-se no quadro abaixo como se dividem esses estudos:

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Quadro XXIObras por tema na categoria “meio rural”

1945-55 e 1956-66(sociologia / obras sobre temas específicos)

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Características gerais 3 3 -

Condições e relações de trabalho 8 2 6

Relações políticas 4 2 2

Movimentos e conflitos religiosos 3 - 3

Tradições populares 1 - 1

Outros 2 2 -

Total 21 9 12

As obras que apresentam “características gerais” do meio rural revelam aspectos diferenciados que vão desde as condições e organização do trabalho agrícola, habitação rural, migração e educação, até o tipo de assistência gover-namental dada ao “homem do campo”.

As pesquisas referentes ao conjunto “condições e relações de trabalho” descrevem e analisam tanto as condições de existência, quanto as relações específicas de patriarcas, senhores de engenho, coronéis, jagunços, parceiros, arrendatários e trabalhadores rurais. Na seqüência dessas categorias focaliza-das pelos estudos, observa-se que são delineadas “velhas” e “novas” relações sociais, entrelaçando o conhecimento de relações de trabalho, da propriedade rural e de funções produtivas, com o estudo de aspectos políticos e culturais próprios do meio rural.

O exame desse meio rural leva os sociólogos a estudar especificamente as ligações políticas próprias daquele ambiente e suas influências na vida política nacional; são focalizados particularmente os elementos políticos do coronelismo, a influência política dos senhores de engenho, transfor-mados em usineiros ao longo do tempo, os vínculos entre o poder político

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e os laços familiares, e as lutas das ligas camponesas. Essas pesquisas pri-vilegiam a região Nordeste.

Outra categoria de estudos – “os movimentos e conflitos religiosos” – analisa movimentos messiânicos e averigua as causas sociais e econômicas de tais lutas no meio rural.

Completam o quadro dos estudos da sociologia sobre o meio rural uma obra sobre as tradições populares, um trabalho sobre a abertura das vias de comunicação naquela área e outro sobre o problema da seca no Nordeste.

Tanto o número de livros, quanto a diversificação temática nos levam a supor que os textos sobre o meio rural tenham sido significativos para os so-ciólogos, seja porque ali repercutiam, no período analisado, as transformações ocorridas nas cidades, seja porque daquele ambiente dependesse o sucesso do processo urbano de industrialização. Fato é que o campo parece ter sido um locus privilegiado de estudo, locus no qual o tempo passado, peculiar a uma so-ciedade em mudança, ainda poderia ser analisado, para que se avaliassem suas conseqüências no presente e no futuro.

Não esquecer também que nesse período a maior quantidade da população brasileira habitava o campo e se compunha de coletividades que ali encontra-vam suas possibilidades de subsistência; por outro lado, a riqueza brasileira era criada muito mais pelos produtos agrícolas do que pela produção de outras fontes. É curioso estabelecer esse paralelismo entre as condições específicas do período que se escolheu para a amostra e as obras específicas de sociologia que nela figuram. A observação feita anteriormente, de que os sociólogos em geral encaram a sociologia como uma ciência indispensável à elucidação dos problemas sociais, novamente encontra apoio nessa análise temática das obras então publicadas.

Seguindo o quadro XXI, é importante assinalar características da evolução das pesquisas sobre o “meio rural”. A posição desses estudos no conjunto dos livros publicados nos anos de 1945 a 1955 é notadamente relevante; a continui-dade e certa intensificação dessa linha de trabalho – traduzida em acréscimo de obras editadas nos anos subseqüentes – atestam que o tema permaneceu sendo alvo de interesse sociológico. Porém, sua posição no conjunto já não era tão destacada, devido à diversificação das linhas temáticas da disciplina.

Embora os estudos sobre o meio rural tenham tido maior importância num primeiro momento da produção sociológica, tudo indica que continu-aram sendo pesquisados de modo dinâmico, o que se torna evidente com a abertura de novas linhas de investigação. Os textos sobre as características

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gerais das condições de existência no meio rural e a categoria “outros” de-saparecem no período entre 1956 e 1966; em compensação, pesquisas sobre “movimentos e conflitos religiosos” aparecem na amostra somente em livros publicados naquela fase, o mesmo ocorrendo com o trabalho sobre “tradições populares” no meio rural. Ressalte-se, ainda, que as pesquisas sobre “condi-ções e relações de trabalho” aumentam muito o número de suas publicações de um período para o outro.

Outra categoria de estudos quantitativamente relevante (19 em 75 obras sobre temas específicos) é representativa do interesse sociológico pelo tema da “mobilidade histórica e social”:

Quadro XXIIObras por tema na categoria “mobilidade histórica e social”

1945-55 e 1956-66(sociologia / obras sobre temas específicos)

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Negros 8 4 4

Migrantes 7 3 4

Imigrantes 4 - 4

Total 19 7 12

Esse conjunto descreve e analisa as mudanças ou as possibilidades, em uma duração de tempo, de mudança de posição de grupos sociais no sistema de estratificação social, adquirindo assim um caráter histórico. Observa-se que os sociólogos examinaram sobretudo a inserção e a posição dos grupos estu-dados no conjunto das atividades produtivas, mas incluíram no horizonte de observação de suas pesquisas características raciais, culturais e nacionais dos mesmos. No período aqui analisado, colocaram em foco os seguintes grupos sociais: os negros, os migrantes e os imigrantes. Embora o elo que interliga es-ses estudos seja, como apontamos, a questão da mobilidade histórica e social, o conhecimento de cada um dos grupos apresenta traços específicos.

As pesquisas sociológicas sobre os negros investigam a mobilidade social e histórica desse grupo, ressaltando as diferenças raciais, as relações raciais entre

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negros e brancos e o passado dos negros enquanto força escrava de trabalho. Percebe-se que alguns estudos buscam analisar com maior ênfase a qualidade dos contatos raciais e o preconceito de cor, relacionando-os com as possibili-dades de ascensão social do grupo negro no Brasil; outros averiguam destaca-damente a modalidade de inserção dos negros – ex-escravos – no sistema de trabalho livre, característico da sociedade brasileira depois da Abolição.

Os trabalhos sobre os migrantes pretendem registrar e avaliar as causas e os efeitos sociais e econômicos do deslocamento espacial de populações do meio rural. Note-se que quatro dos sete textos da amostra expõem o progres-sivo movimento das populações rurais em direção aos centros urbanos, sendo as cidades de São Paulo e Recife focalizadas especificamente. Dois outros livros analisam o deslocamento de grupos no espaço social compreendido pelas zonas agropastoris, e apenas um aborda a migração interna em seu con-junto. Em algumas dessas obras, ressalta-se a atenção especial aos migrantes nas grandes cidades e coloca-se ênfase na necessidade de medidas políticas governamentais que visem à solução do problema.

Ao determinar as condições de vida de populações rurais, os motivos de seu movimento migratório e os problemas que enfrentam tanto no campo quanto nas cidades, esses estudos, tudo indica, trouxeram à tona diferenças sociais e culturais existentes entre as populações brasileiras do meio rural e do meio urbano. Levando em consideração o interesse sociológico no estudo dos processos de urbanização e industrialização, poder-se-ia supor também que tenham contribuído para caracterizar e apontar os problemas de grupos sociais que vieram integrar a força de trabalho urbano-industrial no momento de sua formação.

Os sociólogos estenderam o exame da mobilidade social a grupos de imi-grantes de diferentes nacionalidades. Os textos constantes da amostra enfo-cam aspectos da trajetória histórica e espacial, das condições de existência e do processo de “assimilação” cultural e política de japoneses, alemães, sírio-libaneses e italianos fixados no Brasil.

Ao buscar conhecer o processo de mudanças sociais, característico do pe-ríodo a que se refere a amostra, a sociologia destaca três atores – os negros, os migrantes e os imigrantes – como agentes sociais que histórica, social e es-pacialmente transitam. A história da inserção social desses atores como força de trabalho, as características de sua mobilidade e fixação, e a diversificação de

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suas atividades produtivas tornam-se objeto de pesquisa. Contudo, importa ressaltar ainda uma vez que nesses trabalhos surgem questões de ordem racial, cultural e nacional.

Os estudos sobre “mobilidade histórica e social” se destacam no primeiro conjunto da produção sociológica, de 1945 a 1955. Os sociólogos mantiveram seu interesse pela análise das mudanças ou possibilidades de mudança de posição de grupos sociais no sistema de estratificação social. Os livros sobre a mobilidade social dos imigrantes, que aparecem na amostra publicados nos anos entre 1956 e 1966, evidenciam tal interesse. Porém, a posição desses textos se torna mais dis-creta à medida que se diversificam os temas abordados pela sociologia.

O quadro XIX dos temas da sociologia mostra que os trabalhos específi-cos sobre o meio urbano (oito obras), quando comparados àqueles do meio rural (21 títulos), são sem dúvida limitados; também o são se levarmos em conta o interesse prioritário dos sociólogos em conhecer o processo de trans-formações de caráter industrial e urbano.

As pesquisas sobre o meio urbano tratam da formação do operariado, do surgimento de sindicatos e sua organização, e de conflitos e greves, mostran-do dessa forma aspectos das condições e das relações de trabalho na cidade. Ao lado desses estudos encontram-se trabalhos sobre as condições de mora-dia nos centros urbanos, cujo interesse específico são as favelas, os mocambos e os alagados; consta também da relação um texto sobre hábitos e costumes populares na cidade de São Paulo.

Na amostra, os livros sobre “meio urbano” datam do período 1956–1966. Esse dado é significativo, pois mostra que os sociólogos voltaram sua atenção para os problemas das condições e relações de trabalho na cidade, principalmente o operariado, e para as difíceis condições de moradia nos centros urbanos, numa “segunda fase” da produção sociológica no contexto histórico abordado.

Dos três estudos específicos sobre religião, dois abordam aspectos do catolicismo no Brasil e mostram a necessidade de estimular esse campo de análises; outro trabalho trata de crenças religiosas sem que tenha sido possível nele distinguir outras características. Não houve maior interesse pelo exame da “religião” naquele período, sendo es-cassas as publicações sobre o assunto tanto numa, quanto noutra das fases apontadas.

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Finalmente, as obras sobre educação vinculam essa questão ao proble-ma das mudanças sociais brasileiras. São textos de caráter geral, exceto um deles que analisa as relações entre estudantes e as transformações do país. Diversificando suas opções temáticas, os sociólogos teriam dado preferência às pesquisas sobre as características da educação no país. Note-se que os estu-dos sobre educação se fazem representar na amostra por meio de três livros datados do período de 1956 a 1966.

8.3 Conclusão

A configuração temática da sociologia leva a repensar seus traços pe-culiares nos anos de 1945 a 1966. Já se observou que os sociólogos, mais do que os demais especialistas no campo das ciências sociais, destacaram em suas linhas de trabalho a reflexão sobre seu próprio métier. Enquanto isso, dedicaram-se a temas diversos, vinculando a maioria deles à questão das mudanças sociais.

É possível que a tentativa dos sociólogos de estabelecer os limites de sua disciplina, diferenciando-a da história do Brasil e dos estudos antropo-lógicos, os tenha levado a privilegiar a estrutura e a dinâmica das relações de trabalho como fator relevante para o conhecimento dos processos his-tóricos e sociais. As diversas categorias de estudo acima descritas revelam que os sociólogos buscaram elucidar a questão das mudanças sociais ado-tando como fundamento de suas investigações as atividades produtivas do trabalho.

No entanto, a disciplina ressalta diversidades de ordens variadas: di-ferenças históricas (entre o passado e o presente da sociedade brasileira); diferenças raciais, culturais, nacionais e regionais; e diferenças entre meio urbano e meio rural. O conjunto temático sugere que os sociólogos, na-quele período, diagnosticam a sociedade brasileira em fase de transição. Ela se moderniza e destaca-se do passado à medida que industrialização e urbanização modificam seu sistema de estratificação social, dentro do quadro de suas particularidades históricas, raciais e culturais.

Seria válido indagar se o interesse constante e regular dos sociólogos pela reflexão sobre seu campo de trabalho, além do fato de conceberem a sociologia como parte integrante do processo de mudanças, teriam influ-

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ído na vitalidade que a disciplina apresentou naquele período, buscando e iniciando novas linhas de estudo. Como se observou, num primeiro mo-mento, as pesquisas sobre “meio rural” e “mobilidade histórica e social” foram privilegiadas, mas logo a seguir os sociólogos se dedicaram com maior interesse à investigação dos problemas relativos às “mudanças so-ciais, industrialização e desenvolvimento”, e também ao “meio urbano”, destacando desse modo o processo de transformação das condições de existência da população brasileira, que marcava a passagem de uma so-ciedade agrária para uma sociedade industrial no Brasil. Por outro lado, caberia perguntar também em que medida os meios teóricos e metodoló-gicos da disciplina concorreram, realmente, para o seu desenvolvimento naquele período.

É possível que o crescimento da sociologia naquele contexto histórico tenha sido estimulado pela conjugação de dois fatores: de um lado o apreço dos pesquisadores pela disciplina, de outro as características dos meios teó-ricos e metodológicos de que dispunham para o diagnóstico de peculiarida-des históricas daquele momento. Essa conjugação teria então favorecido a sociologia na disputa pela conquista de um público para suas obras.

9. Os temas da ciência política

A caracterização do campo da ciência política enfrenta dificuldades maiores do que as observadas em outras disciplinas. Em um primeiro mo-mento, essas dificuldades parecem resultar da grande proximidade entre os estudos da ciência política, da ciência do direito e da história política. Logo se verifica, entretanto, que suas raízes se encontram na construção histórica da identidade disciplinar.

Hermann Heller acredita que desde a Antigüidade clássica se vem produ-zindo conhecimento sobre o que hoje se entende por ciência política. Mas para ele é impossível formular uma definição devido à qualidade eminente-mente compreensiva do conhecimento da disciplina, que não se presta a ex-plicações fundamentadas em lei.55

55. Cf. HELLER, Hermann. Political Science. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences, New York: Macmillan, 1948. v. VI e VII, p. 207-224.

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Ao buscar compreender os motivos que geram a tardia definição de ciên-cia política, os alemães Ferdinand Hermens e Rudolf Wildemann concordam com Carl J. Friedrich, para quem a ciência política só poderia se configurar como campo de estudo em um contexto social e histórico no qual houvesse um Estado de essência “livre” (freien Staatswesen), já que a disciplina ques-tiona justamente aquilo que os agentes condutores do sistema de dominação prefeririam manter em sigilo. Para os autores, a ciência política é uma expres-são das liberdades democráticas no plano do conhecimento, tendo florescido tanto nas cidades-estado da Antigüidade, quanto em países de regime demo-crático nos séculos XIX e XX.56

Essa maneira de pensar se prende ao fato de que desde a Antigüidade clás-sica, os escritores políticos, a exemplo de Platão, se preocuparam em descre-ver o que deve ser a melhor organização política de uma sociedade. O ponto de vista normativo era dominante. Ainda no século XVIII, embora os econo-mistas já admitissem que a sociedade também era regida por “leis físicas” que precisavam ser descobertas, o que existia era uma filosofia política assentada numa filosofia da história, largamente pesquisada por muitos pensadores. So-mente no século XIX a noção criada no domínio econômico é transportada para domínio político.

A partir dessa época se admite então que também no domínio político há relações constantes que se impõem aos homens. Além disso, as estruturas de poder não derivam exclusivamente da vontade de líderes ou da inteligência de pensadores e filósofos; estão também dominadas por maneiras de ser que a eles se impõem e provêm da própria sociedade. No entanto, as dúvidas a respeito ainda permanecem.

Hermann Heller, por exemplo, afirma que o “campo político”, no sentido mais amplo, não é passível de abordagem empírica. O cientista político está fada-do a limitar-se ao exame, em termos descritivos, de atividades políticas e formas institucionais de atividades que pressupõem o exercício independente do poder, não definido ou predeterminado por rígido e normativo conjunto de leis.57

Apesar das ambigüidades e imprecisões que reconhecem, Hermens e Wil-demann buscam definir o objeto da ciência política. Ela estudaria a “função

56. Cf. HERMENS, Ferdinand A.; WILDEMANN, Rudolf. Politische Wissenschaft. In: HAND-WÖRTERBUCH der Sozialwissenschaften. Göttingen: Rupert & Co., 1956-1964. v. 8, p. 388.

57. Vf. HELLER, Hermann. Op. cit., p. 209.

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ordenadora das formas políticas” e estaria assim intimamente ligada aos pro-blemas de poder e ao que modernamente se chama Estado. O poder formado socialmente desempenha tal papel na ciência política, que os norte-america-nos a denominam “ciência do poder”.58

David Easton comenta que o “longo fracasso” da ciência política em es-tabelecer coerentemente o conteúdo de sua matéria levou pesquisadores a negar-lhe mesmo a possibilidade de tornar-se uma disciplina científica como a sociologia e a antropologia. Entretanto, diz ele, tais estudiosos não perce-beram a “grande revolução” que tomou conta da disciplina, especificamente depois da Segunda Guerra: “nas últimas décadas a ciência política deu pas-sos firmes e bem articulados na direção de sua reconstrução como disciplina teórica”.59 Ele é, pois, menos cético do que Hermann Heller, e tenta respon-der ao desafio da definição de ciência política afirmando que para isso pode-se utilizar, mesmo que inicial e precariamente, a noção de sistema político. Define o sistema político como conjunto de interações que, primordialmente, fornecem meios estáveis e regulares para a manutenção do establishment e a ordem em uma sociedade. O sistema político compreende então um conjunto de procedimentos para a tomada de decisões e a realização de ações, às quais os membros de uma sociedade atribuem um caráter de autoridade. Para o au-tor, o sistema político busca em última instância manter determinados valores que não correspondem necessariamente aos valores de todos os membros de uma sociedade.

Os comentários de David Easton sobre as mudanças ocorridas no campo da ciência política após 1945 coincidem, em certa medida, com os de Fernan-do Henrique Cardoso e Bolívar Lamounier sobre a bibliografia da disciplina no Brasil no período de 1949 a 1974:

À primeira vista, a bibliografia sobre política brasileira nos últimos vinte e cinco anos imediatamente posteriores ao fim da Segunda Guerra Mundial é abrumadora. Análi-se cuidadosa mostra que nem tanto. Os principais temas organizaram-se em torno do fato novo fundamental: a re-

58. Vf. HERMENS, Ferdinand A.; WILDEMANN, Rudolf. Op. cit., p. 390-391. 59. EASTON, David. Political Science. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences.

New York: Macmillan, 1968. v. XII, p. 282, 285-288.

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democratização que ocorreu de 1945 em diante. Discute-se sobretudo se existiam bases sociais para sustentá-la. Derru-bando o Estado Novo, a questão dos partidos e das eleições empolgou a muitos. A Ciência Política respondeu ainda que timidamente, a esta temática.60

O quadro abaixo indica os temas tratados no campo da ciência política, constantes da amostra estudada:

Quadro XXIIIObras por tema em ciência política: 1945-55 e 1956-66

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Obras sobre a disciplina

Problemas teórico-metodológicos 12 3 9

Subtotal 12 3 9

Obras sobre temas específicos

Instituições políticas 39 12 27

Ideologias políticas 17 3 14

Formação social e 6 1 5histórica do poder político

Análise de crises políticas 6 1 5

Perfis presidenciais 3 - 3

Subtotal 71 17 54

Total 83 20 63

60. LAMOUNIER, Bolívar; CARDOSO, Fernando Henrique. A bibliografia de ciência política sobre o Brasil (1949-1974). Dados, Rio de Janeiro, n. 18, p. 3, 1978.

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9.1 Obras sobre a disciplinaEm um conjunto de 83 obras, os doze livros dedicados à disciplina

concentram-se em problemas de ordem teórico-metodológica. Os títu-los estão na sua maioria voltados para as questões do pensamento polí-tico que se desenvolve desde a Antigüidade clássica até a emergência do Estado moderno; tratam, sobretudo, da história do pensamento político, embora alguns deles focalizem o campo da ciência política propriamen-te dita. Não há na amostra estudada manuais e introduções nem obra que examine o papel da disciplina ou da produção do conhecimento nessa área, assim como não se verifica nenhum estudo sobre o ensino da ciência política, da mesma forma que ocorre em outras disciplinas como a sociologia. Poder-se-ia dizer que não houve, no período analisa-do, interesse marcante em delimitar o campo da ciência política ao lado de outros, nem controlar e avaliar suas atividades dentro do grupo das ciências sociais.

O conjunto de “obras sobre a disciplina” mostra, portanto, que o campo da ciência política não atraiu grande atenção por parte de seus estudiosos. A variação do número de publicações numa e noutra das fases apontadas pelo quadro XXIII revela que os cientistas políticos insistiram nas pesquisas sobre problemas teórico-metodológicos da disciplina, mas não diversificaram essa linha de trabalho.

9.2 Obras sobre temas específicos

O conjunto de “obras sobre temas específicos” (85,54% do total) mostra que os estudiosos cultivaram a disciplina e se dedicaram a dife-rentes problemas relativos ao poder político no Brasil. A maior parte dos textos da ciência política aborda procedimentos legais e legítimos que fazem parte do sistema político brasileiro, isto é, suas instituições.61 No seu conjunto, essa linha de trabalho se caracteriza por entrelaçar uma perspectiva jurídica de investigação das práticas políticas institu-cionalizadas com os fundamentos sociais e históricos das mesmas. Es-ses trabalhos constituem 54,92% do total, o que mostra a importância conferida ao tema pelos pesquisadores. Nesse tópico, destacam-se os

61. Sobre os conceitos de legitimidade e legalidade ver LANDSHUT, Siegfried. Legitimät und Legalität. In: WÖRTERBUCH der Soziologie. W. Bernsdorf (org.). Frankfurt a/M: Fischer Taschenbuch Verlag, 1976. p. 494-496.

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estudos referentes à escolha dos governantes, sendo que as eleições tiveram aí o maior relevo.

O quadro a seguir aponta os assuntos que integram a categoria “institui-ções políticas” e a quantidade de publicações sobre cada um deles:

Quadro XXIVObras por tema na categoria “instituições políticas”:

1945-55 e 1956-66(ciência política / obras sobre temas específicos)

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Escolha de governantes

Eleições 9 2 7

Partidos políticos 5 3 2

Subtotal 14 5 9

Diplomacia e política externa 8 3 5

Formas de governo parlamentarista 7 - 7

e presidencialista

Constituição jurídica e social das 5 3 2

instituições políticas

Forças Armadas 4 1 3

Administração político-burocrática 1 - 1

Subtotal 25 7 18

Total 39 12 27

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O conjunto de estudos “escolha de governantes” focaliza características das eleições e dos partidos políticos no país. Quanto às “eleições”, os especia-listas apreciam notadamente seus aspectos jurídico-legais, examinando nesse plano questões relativas ao sistema de representação. Alguns estudos tomam como exemplo pleitos ocorridos no país no período observado. Paralelamen-te, foram elaborados, em menor número (duas em nove obras), estudos que analisam o comportamento eleitoral de grupos sociais. Dos cinco títulos so-bre partidos políticos, dois tratam de suas características no Brasil e os demais delineiam a formação e a atuação de partidos políticos nacionais específicos. A instituição diplomática é focalizada em oito trabalhos que se dividem em duas linhas de investigação: há os que abordam características da política ex-terna brasileira no passado, e os que fazem uma análise das relações exteriores no presente, questionando a qualidade da política externa adotada pelo país. Esses textos revelam a importância atribuída à inserção da unidade política nacional na ordem política internacional. Observa-se que na história política, especialmente no conjunto de obras sobre a história diplomática, e em estu-dos de economia política sobre as relações econômicas do Brasil com países estrangeiros também foi encontrada esta linha de trabalho.

Apresentando característica analítica, a tônica das obras sobre as formas de governo parlamentarista e presidencialista, além de descrever e comparar os dois sistemas, mostra suas raízes no Brasil, com vistas a definir as vanta-gens e as desvantagens de um ou outro sistema de governo para o país. Al-guns estudos fazem referência à adoção daqueles sistemas em outros países, comparando-os com o Brasil. O assunto esteve em voga no início dos anos 1960, quando em 1961, o Ato Adicional à Carta de 1946 instaurou sistema parlamentarista de governo, porém sem maior duração.

Nas pesquisas sobre a “constituição jurídica e social das instituições políti-cas”, a perspectiva de análise jurídica se faz notar de modo nítido. O conjunto contém trabalhos sobre o Estado brasileiro e sobre o regime democrático; um deles enfatiza especialmente a participação do trabalhador nesse regime, e outro examina o sistema federalista do governo.

Quanto às Forças Armadas, os especialistas abordam principalmente o pa-pel dessa instituição a partir de diferentes ângulos de análise: um livro enfoca o papel conferido às armas pela constituição do país, os demais investigam sua atuação seja na manutenção da segurança nacional, seja na solução de crises políticas e consolidação do regime democrático.

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Da amostra consta um texto sobre as mudanças dos meios administrativo-burocráticos do Estado brasileiro, que demonstra terem os governantes bus-cado adequá-los às características do processo de industrialização dos anos de 1930 a 1950.

A categoria “ideologias políticas” agrupa trabalhos que “discutem um conjunto de idéias e valores a respeito da ordem política, cuja função é orien-tar comportamentos coletivos”.62 O tema preferencial dessas obras é o nacio-nalismo, seus valores e ideais; esses estudos o associam no mais das vezes ao desenvolvimento econômico do país. A ciência política se aproxima aqui da economia política, distanciando-se da história política que busca no direito e na geopolítica as bases da construção da nação. Embora integre o campo da ciência política, a geopolítica o faz de modo discreto.

Nos textos que definem a categoria “formação social e histórica do poder político” encontram-se pesquisas que analisam as bases históricas e sociais de formação do sistema de poder no Brasil. Esses estudos, nitidamente his-tóricos, discutem problemas que dizem respeito ao comportamento político tradicional existente no país, seja rastreando características do legado político português, seja examinando as bases agrárias do sistema político; ao lado des-tes, outras obras investigam as mudanças ocorridas no comportamento políti-co de classes e grupos sociais motivadas pelo desenvolvimento econômico.

O quadro temático da ciência política apresenta também trabalhos que analisam as crises políticas que teriam culminado na tomada do poder pelos militares em 1964. De um conjunto de seis obras, quatro focalizam esse tema, delineando características do regime democrático no país; dois dos estudos, entretanto, estão voltados para uma análise do conjunto dos problemas da política brasileira após os anos 1930. Em uma outra linha de investigação o exame da política é feito através de textos sobre a atuação de presidentes da República que ocuparam o cargo durante o período entre 1945 e 1964, tra-çando os seus perfis.

O estudo dos temas abordados pela ciência política se intensificou naque-les anos como mostram os quadros XXIII e XXIV. Sem dúvida, destaca-se o interesse crescente pela análise das “ideologias políticas”, porém o tema das instituições políticas mereceu maior atenção dos especialistas, a julgar pelo notável aumento de suas publicações. No que respeita às instituições políticas,

62. STOPPINO, Mário. Ideologia. In: DICIONÁRIO de Ciência Política. Norberto Bobbio (Org.). Brasília: Ed. UNB, 1986. p. 385.

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o crescimento na maioria dos tópicos focalizados não é espetacular, com uma exceção: “formas de governo parlamentarista e presidencialista” que não apa-rece na primeira fase e surge com sete obras na segunda, isto é, com a maior quantidade de publicações nesse período. Tal quantidade somente é igualada pelos estudos sobre “eleições”, que, no entanto, já alcançavam duas publi-cações na fase anterior. Percebe-se que os assuntos privilegiados no campo da ciência política atenderam em larga medida a problemas peculiares àquele contexto histórico.

9.3 Conclusão

A configuração temática da ciência política não deixa entrever uma questão básica que tenha norteado os estudos de sua preferência no pe-ríodo de 1945 a 1966, como ocorre com nitidez no campo da sociologia, cujos temas estão vinculados à questão das mudanças sociais, e da econo-mia política, voltada para a elucidação do problema do desenvolvimento econômico nacional.

Vista no seu conjunto, a configuração temática da disciplina mostra que os estudiosos se ocuparam basicamente de duas ordens de problemas. A primeira trata das características específicas das relações entre gover-nantes e governados no Brasil. Para examiná-las, os cientistas políticos fizeram dois percursos: de um lado, voltaram-se para o passado a fim de compreender traços do comportamento político tradicional e assim ques-tionar suas possíveis modificações frente às mudanças que ocorriam no país; de outro, registraram e analisaram a atuação de instituições políticas, focalizando nesses estudos tanto seu aspecto legal como suas bases sociais e históricas. A segunda delas, diz respeito às ideologias políticas. Nessa linha de trabalho eles ressaltaram a importância do nacionalismo, sobretu-do o nacionalismo fundamentado no desenvolvimento econômico, como um valor que justificaria medidas, decisões e comportamentos políticos no período aqui abordado.

Muito embora não seja possível por meio da observação das escolhas te-máticas dos cientistas políticos perceber uma problemática central da discipli-na, tais escolhas revelam alguns indícios de que os especialistas buscaram ave-riguar as possibilidades de adequação das ideologias e das instituições políticas às mudanças socioeconômicas daquele momento. Nesse sentido, são exem-plares os trabalhos que buscam rever os ideais nacionalistas, atribuindo-lhes

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um fundamento socioeconômico, e também aqueles que têm por finalidade reatualizar o nacionalismo de base geopolítica. Da mesma forma, são igual-mente importantes os estudos que indagam sobre os aspectos legais e sociais do sistema eleitoral, os trabalhos que sugerem a revisão da política externa, os textos que questionam o papel das Forças armadas, as obras que focalizam as modificações dos meios político-burocráticos ou as vantagens e desvantagens de formas de governo. Ao mesmo tempo, há as pesquisas de caráter histórico que procuram compreender as tradições políticas brasileiras.

É possível que a ciência política não se tenha atribuído a tarefa de observar fatos de uma “nova” ordem política – de fato, a redemocratização do país após 1945 estabeleceu um regime político que já havia existido –, mas teria buscado acompanhar e refletir sobre as modificações possíveis das institui-ções políticas sob o prisma das transformações socioeconômicas que ocor-riam naquele período histórico.

10. Os temas da geografia humana

No que se refere a sua definição, a geografia humana tem sido objeto de polêmicas como as demais disciplinas, sendo, portanto, controvertida. Uma das tônicas das discussões é a cisão entre geografia física e geografia humana, que, segundo Camille Vallaux,63 não teria ocorrido nos primórdios do conhe-cimento geográfico, quando havia uma só geografia descritiva da superfície terrestre e da atividade humana nessa mesma superfície. Embora considera-das partes interligadas da unidade que é o conhecimento geográfico, a dife-renciação entre a geografia física e a geografia humana é bastante definida no campo da pesquisa.

Não menos discutidas foram as relações entre a geografia humana e outras disciplinas que compõem as ciências sociais, como a história e a sociologia, e algumas questões duram até hoje. No período examinado por esse trabalho ainda se discutia uma geografia cujos fenômenos eram regidos por um forte determinismo geográfico, uma geografia em que o espaço, sua configuração e sua paisagem eram constantemente trabalhados pelas coletividades, de tal modo que para compreender como se apresentavam era necessário recorrer

63. Cf. VALLAUX, Camille. Human Geography. In: ENCYCLOPAEDIA of Social Sciences. New York: Macmillan, 1948. p. 624.

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também à história, à economia, à sociologia. A primeira vertente se originara na Alemanha, a segunda nascera na França.

A partir do fato de que se buscam nesse trabalho diversas visões, por meio das quais as relações sociais foram conhecidas no Brasil, foram selecionados somente os trabalhos de geografia humana. Ernst Winkler define a disciplina como o estudo de um complexo de relações recíprocas entre sociedade e meio físico (a paisagem, a superfície terrestre). Outras definições de geografia eco-nômica, geografia social, geografia cultural não contrariam o conceito mais amplo de Winkler, apenas acentuam um aspecto daquelas relações.64

A produção da geografia humana registrada em livros nacionais no perío-do abordado é limitada. Apresenta um total de 43 obras, assim distribuídas:

Quadro XXVObras por tema em geografia humana

1945-55 e 1956-66

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Obras sobre a disciplinaProblemas teórico-metodológicos 5 3 2Manuais e introduções 5 2 3Avaliação do ensino da disciplina 2 - 2Subtotal 12 5 7

Obras sobre temas específicosRegiões brasileiras 13 9 4Meio rural 10 1 9Condições socioeconômicas 6 3 3 Meio urbano 2 - 2 Subtotal 31 13 18

Total 43 18 25

64. Cf. WINKLER, Ernst. Sozialgeographie. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft. Göttingen: Rupert & Co., 1956-1964. v. 9, p. 435; SAUER, Carl. Cultural Geography; SAPPER, Karl. Economic Geography; VALLAUX, Camille. Human Geography. In: ENCYCLOPAE-DIA of Social Sciences. New York: Macmillan, 1948. p. 621-629.

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10.1 Obras sobre a disciplina

No quadro temático é destacado o número de “obras sobre a disciplina”. Os geógrafos brasileiros que se dedicam, no período, ao conhecimento de sua própria atividade se interessam pela divulgação das noções básicas da geogra-fia humana, sobretudo por seu aspecto econômico. Os problemas teóricos e metodológicos discutem a utilização prática do conhecimento geográfico, a problemática das cidades na paisagem e aspectos do desenvolvimento da ciência ao longo do tempo. Dois estudos tratam da especificidade do ensaio da geografia, mas não se encontra na amostra livro que avalie a produção da disciplina no Brasil.

10.2 Obras sobre temas específicos

O estudo das regiões brasileiras é, sem dúvida, o mais representativo. Região é uma categoria consagrada pela geografia. Trata da fixação e conformação de fenômenos sociais em um espaço físico que se carac-teriza por uma certa unidade interna. Nesse sentido, o conhecimento das regiões brasileiras define uma das orientações da geografia humana no período aqui abordado. Alguns trabalhos fazem referência acentua-da às características do povoamento de regiões brasileiras específicas, voltando-se para o passado com vistas a compreender, no presente, as características da região estudada. Outros textos enfatizam as atividades agrícolas e industriais ocorridas em determinadas regiões no período em análise. Contudo, não se observa trabalho que questione particularmente o aspecto da diversidade regional no Brasil. O Sudeste e o Nordeste são as regiões privilegiadas nos livros.

Outras pesquisas realizadas tratam de condições gerais do meio rural e parte delas aborda especificamente a região Nordeste. De modo geral, tratam do sistema de propriedade, do nível de vida, da habitação e do transporte no meio rural, referindo-se a maioria delas às repercussões da industrializa-ção naquele ambiente. Nos limites do quadro temático, chama a atenção a preocupação dos geógrafos com a questão do meio rural, o que relembra as escolhas dos sociólogos no mesmo período. A categoria “condições socio-econômicas” privilegia obras de caráter geral que registram as relações das atividades humanas com a terra, o meio físico. Nota-se nesse conjunto que a

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região Nordeste merece um lugar de destaque e que os aspectos econômicos são os mais abordados.

A diferença entre os estudos sobre o meio rural (dez em 43 livros) e sobre o meio urbano (duas em 43 obras) é marcante. Um dos textos sobre o meio urbano destaca a cidade do Recife, enquanto o outro faz uma retrospectiva das vilas e cidades brasileiras no período colonial. Reflexão já efetuada sobre os trabalhos de sociologia cabe também aqui: o Brasil era, naquele período, um país rural demográfica e economicamente, e esta circunstância parece refletir-se nos conjuntos de trabalhos das duas disciplinas.

A julgar pelos temas registrados nas publicações constantes da amostra, os geógrafos se dedicaram com maior freqüência aos estudos sobre as regiões brasileiras e sobre o meio rural. No conjunto, destaca-se também seu inte-resse na divulgação das noções básicas e dos problemas teóricos da própria disciplina.

É curioso que a produção da geografia humana se tenha voltado de modo proporcionalmente acentuado (12 em 43 obras) para a reflexão sobre a pró-pria disciplina, sugerindo com isso uma preocupação desse campo de conhe-cimento junto aos demais, embora, no entanto, apresente um número compa-rativamente restrito de trabalhos de pesquisa.

Em artigo que data de 1945, Caio Prado Junior reclama do descuido quan-to aos estudos geográficos:

Aliás o interesse pela matéria sempre foi aqui muito pequeno.

Entre outros sintomas estão aí o Instituto Histórico e Geográfico

Brasileiro e seus congêneres provinciais, que apesar do nome e de

terem sido quase até este século os únicos institutos nominalmente

voltados para a Geografia, nunca se ocuparam seriamente do as-

sunto. Os estudos geográficos no Brasil não foram assim felizes.

Submetidos a influências pouco progressistas, eles marcaram passo

durante quase um século. E é por isso que ainda hoje o que de me-

lhor existe sobre a geografia brasileira nos vem de fora.65

Realmente, a fundação, no Rio de Janeiro, do Instituto Histórico e Ge-ográfico Brasileiro data de 1838, e sua revista surge um ano depois. Em di-

65. PRADO JR., Caio. Op. cit. 1963. p. 185.

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versas províncias, institutos semelhantes não tardaram a ser fundados, com suas respectivas revistas. Parecia haver então certo interesse pela matéria. Na verdade, quando se analisam os artigos dessas revistas verifica-se a pre-dominância dos temas de história, antropologia e outras disciplinas, ficando a geografia (embora figure no título) relegada a segundo plano. A observa-ção de Caio Prado Junior é inteiramente justa.

Acresce que somente cem anos depois, em 1938, foi criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, demonstrando que o interesse teria en-tão sido despertado. Porém, a pouca quantidade de publicações encontrada na Biblioteca Nacional revela uma limitação da curiosidade pela disciplina e coincide com a observação de Caio Prado Junior.

O Conselho Nacional de Geografia – órgão criado em 1937 e incorpo-rado ao IBGE em 1938, que desenvolveu importantes atividades nos anos 1950 – tinha como objetivo “reunir, coordenar e promover a articulação de Serviços Oficiais, Instituições Particulares e dos profissionais que se ocu-pem da Geografia do Brasil”, com a finalidade precípua de atender às de-mandas da administração pública, ainda que promovesse também estudos de base, desvinculados de interesses práticos imediatos.66

As escolhas temáticas mostram a tendência da geografia humana em focalizar as condições socioeconômicas em geral, o que a aproxima da so-ciologia e da economia política, mostrando a influência da vertente francesa de estudos. Poder-se-ia ainda indagar em que medida o ponto de vista geo-gráfico teria podido atender às demandas de explicação e compreensão das mudanças sociais que ocorriam naquele momento e que tanto chamaram a atenção, porém não há dados para uma resposta.

O crescimento do número de obras no campo da geografia humana não é destacado. Embora os geógrafos tenham se dedicado ao estudo sobre sua dis-ciplina, essa linha de investigação não foi intensificada. Note-se, todavia, que aparecem na segunda fase trabalhos sobre o ensino da disciplina no Brasil.

No que respeita aos problemas brasileiros abordados, foram privilegiados os estudos sobre as regiões do país nos anos de 1945 a 1955, mas nos anos subseqüentes o número desses trabalhos decresceu, elevando-se em compen-sação o total de textos sobre o meio rural. As pesquisas de caráter mais geral, como aquelas sobre as condições socioeconômicas do país, na perspectiva da

66. Ver PEREIRA, José Veríssimo da Costa. A Geografia no Brasil. In: AZEVEDO, Fernando de (Org.). As ciências no Brasil. 2 ed. São Paulo: Melhoramentos, 1956. cap. VII, p. 402-405.

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geografia, não sofreram alterações. Somente no conjunto de obras publicadas no período entre 1956 e 1966 figuram livros sobre o meio urbano.

Ainda que a produção da geografia humana não tenha aumentado como a de outras áreas das ciências sociais, no período abordado, a análise dos dados sugere que nesse campo do saber houve alguma modificação das linhas temáti-cas. O empenho em investigar problemas relativos ao meio rural e também, ain-da que discretamente, ao meio urbano parece fazer surgir novas orientações.

10.3 Conclusão

As observações de Caio Prado Junior, formuladas em 1945, e a pequena quantidade de pesquisas sobre o meio geográfico nacional, observada nos trabalhos da amostra, revelam que a disciplina permanecera, no país, ligada à sua antiga feição descritiva e enumerativa. Com efeito, a presença na Uni-versidade de São Paulo dos geógrafos Pierre Deffontaines, primeiramente, e Pierre Monbeig, em seguida, desencadeou verdadeiras expedições de geogra-fia humana, implantando profundamente a pesquisa na disciplina. No Rio de Janeiro, o mesmo ocorria sob a influência de Francis Ruellan e Leo Waibel, no âmbito do IBGE.67 Mas os resultados ainda não aparecem com freqüência na amostra. Que obstáculos editoriais estariam dificultando publicações que incluiriam forçosamente quantidade de mapas e gráficos?

11. Os temas da demografia

A demografia é o estudo quantitativo das populações humanas. Busca medir e conhecer certas uniformidades nos processos humanos básicos do crescimento populacional, dos movimentos da população, do nascimento e da morte. Segundo Kirk Dudley, a demografia faz uma ponte entre as ciências sociais e as biológicas ao tratar das configurações biológicas das populações do ponto de vista socioeconômico.68

67. Cf. relatório de pesquisa de Jorge Morrot Hemerly Os geógrafos, o Estado e a Universidade; aspectos da produção da Geografia no Rio de Janeiro (1945-1964), agosto de 1991. Núcleo de Pesquisa em Sociologia da Cultura/LPS, UFRJ.

68. DUDLEY, Kirk. Population. In: INTERNATIONAL Encyclopaedia of Social Sciences. New York: Macmillan, 1968.

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O trabalho do inglês Jonh Graunt, Natural and political observations upon the bills of mortality, de 1662, e o tratado sobre “aritméticas políticas”, de 1670, de Graunt e William Petty, são considerados marcos iniciais dos estudos demo-gráficos, na medida em que observam acontecimentos constantes da vida das populações e relacionam fatos biológicos e sociais. A obra de Thomas Robert Malthus, principalmente o seu polêmico Essay on the Principle of Population, publicado em 1798, estabelece as bases da disciplina no campo científico ao tentar formular as leis das condições de existência da população. No entanto, foi realmente o belga Quételet quem, em 1836, deu forma à demografia, efe-tuando pesquisas sobre nupcialidade, criminalidade, suicídio, além de natalida-de e mortalidade que já vinham sendo estudadas antes dele.

O campo específico da demografia, portanto, surge, expande-se e cresce no contexto histórico das mudanças socioeconômicas que levam à consti-tuição da sociedade moderna. Ela enfrenta particularmente problemas de-correntes da explosão demográfica como causas do aumento e diminuição de população nos países desenvolvidos e não desenvolvidos, planejamento familiar e controle da natalidade.

Característica importante da demografia é seu entrelaçamento com outras disciplinas, sobretudo com a sociologia e a economia política. Esse traço é ressaltado por Karl Martin Bolk e Gehardt Mackenroth69 quando mostram que as relações quantitativas entre mortalidade, natalidade, casamento e fa-mília, por exemplo, só são compreendidas dentro de um contexto histórico e social. Diga-se, entretanto, que a ligação da demografia com outras disciplinas é objeto de numerosas controvérsias e, como se verifica no artigo de Fernand Braudel, “A demografia e as dimensões da ciência do homem”, pode se tornar motivo para que se lhe atribua o papel de simples disciplina auxiliar.70

Segundo Maria Isaura Pereira de Queiroz,71 logo após a criação da Fa-culdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo e da Escola de Sociologia e Política, nos anos 1930, houve naquela cidade um aumento notável de pesquisas de abordagem demográfica sobre populações brasileiras que, num primeiro momento, estavam voltadas eminentemente para a solução de problemas práticos. Nas décadas de 1940 e 1950, segundo

69. BOLK, Karl Martin; MACKENROTH, Gehardt. Bevölkerung. In: HANDWÖRTERBUCH der Sozialwissenschaft. Göttingen: Rupert & Co., 1956-1964. v. 2. p. 153-154.

70. BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. São Paulo: Perspectiva, 1978. p. 177-215. (Deba-tes).

71. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Sociologia demográfica no Brasil. In: ___ (Coord.). Intro-dução ao estudo da sociologia no Brasil. São Paulo: IEB/USP, 1971. p. 34-37.

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a autora, as pesquisas adquirem um caráter mais desinteressado, e nos anos 1960 voltam a ser norteadas por objetivos práticos. No Rio de Janeiro, a partir dos anos 1940, destacou-se a contribuição do demógrafo de origem italiana Giorgio Mortara.

Na amostra, são 23 os livros que definem a demografia:

Quadro XXVIObras por tema em demografia: 1945-55 e 1956-66

Temas Obras 1945 1955

1956 1966

Obras sobre a disciplina

Problemas teórico-metodológicos 3 2 1

Subtotal 3 2 1

Obras sobre temas específicos

Condições socioeconômicas da 10 3 7população

Mortalidade 4 4 -

Crescimento da população urbana 3 - 3

Padrão de vida no meio rural 3 1 2

Subtotal 20 8 12

Total 23 10 13

11.1 Obras sobre a disciplina

Os três livros sobre demografia explicitam questões teóricas relevantes, referindo-se dois deles a elementos constitutivos da análise da população, como distribuição da população, crescimento, migração, natalidade, equilíbrio dos sexos; uma outra obra discute os instrumentos teóricos e metodológicos próprios da disciplina para a análise do crescimento urbano.

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11.2 Obras sobre temas específicos

O quadro XXVI mostra que a demografia priorizou a pesquisa das con-dições socioeconômicas da população brasileira, integrando-se dessa forma ao rol das disciplinas que, naquele período, voltaram sua atenção para essa ordem de problemas. No conjunto das pesquisas demográficas sobre as con-dições socioeconômicas da população distinguem-se as seguintes maneiras de abordar o problema: dos dez estudos, cinco procuram relacionar as condições de crescimento, a distribuição de contingentes populacionais e as condições socioeconômicas; duas obras têm como horizonte de observação o estado da Bahia e um livro trata da região amazônica. Os outros cinco textos focalizam o mesmo problema, mas nota-se neles ênfase especial às características do po-voamento e da colonização das regiões examinadas, bem como às correntes de migração externa.

A mortalidade chamou a atenção dos demógrafos. Talvez os problemas de saúde que desde cedo preocuparam médicos e cientistas do país estejam na base dessas pesquisas, enquanto se nota que os trabalhos sobre natalidade são inexistentes.

Observa-se ainda que as preocupações com o meio urbano e o meio rural levaram à publicação de três obras em cada caso, mas os temas são diversos. O crescimento da população urbana motivou três estudos. Um dos textos regis-tra características da população concentrada nas capitais brasileiras no início dos anos 1950, os demais examinam aspectos da população das cidades do Recife e do Rio de Janeiro. É bom lembrar que, naquele período, registrava-se tanto um aumento da população, quanto um movimento progressivo das po-pulações rurais para os centros urbanos – em 1950, dos 51.944.000 habitan-tes, 63,81% viviam no campo, enquanto em 1960 aquele percentual diminui para 55,23% dos 70.090.000 habitantes.

Com relação aos estudos sobre o meio rural, o padrão de vida foi o seu foco e as condições penosas de existência dos habitantes motivaram, sem dúvida, as pesquisas. Dos três trabalhos constantes da amostra, um examina o padrão de vida da população do estado da Bahia, um segundo tem como finalidade conhecer exclusivamente o padrão de vida do trabalhador rural da Zona da Mata, e o tercei-ro, além de discutir as metodologias utilizadas em pesquisas de padrão de vida no Brasil, enumera as análises feitas em municípios rurais.

Como se vê no quadro XXVI, o reduzido grau de interesse pelas “obras sobre a disciplina” não se alterou ao longo daqueles anos. Porém, o conjunto de “obras sobre temas específicos” revela algumas modificações nesse campo

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do saber. Os estudos sobre as “condições socioeconômicas” de populações brasileiras se elevam; as pesquisas sobre “mortalidade” figuram apenas no primeiro período, desaparecendo em seguida. O “crescimento da população urbana” passou a figurar na segunda fase.

A julgar pelos livros publicados e constantes da amostra examinada, a pro-dução de conhecimento nessa área manteve sem grandes alterações sua posi-ção discreta. Entretanto, a demografia mostra, por meio de modificações nas suas linhas temáticas, que o grupo de seus especialistas apresentou vitalidade suficiente para intensificar o estudo de certos assuntos e formular problemas que resultaram no surgimento de novas linhas de pesquisa.

11.3 Conclusão

O número de publicações sobre demografia constantes da amostra é re-duzido, comparativamente às demais disciplinas analisadas (23 em 872 obras, isto é, 2,63% delas). Quanto ao interesse pelos estudos demográficos no Brasil naquele período, leve-se em conta, no seu conjunto, duas características dessa disciplina: a inexistência de cursos específicos de formação de demógrafos nas universidades, o que exigia dos interessados um esforço duplo para a aqui-sição de conhecimentos específicos da matéria, após formação em campo de conhecimento próximo à demografia; e a controvertida identidade cognitiva da disciplina, vinculada com freqüência à matemática e à estatística, às ciências médicas e biológicas, ou à sociologia e à economia política. Se admitirmos que esses fatores possam ter ocasionado dificuldades para o desenvolvimento desse campo do conhecimento, as obras selecionadas na Biblioteca Nacional, embora em número limitado, sem dúvida traduzem certo interesse pelo co-nhecimento sistemático da população brasileira.

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As características da produção das ciências sociais em livros publicados no período de 1945 a 1966, apresentadas no capítulo anterior, podem ser agora apreciadas em seus vínculos com o contexto histórico e social dos anos de 1945 a 1966, cujas especificidades delineiam-se a seguir.

Os anos que vão de 1945 a 1966 assinalam na história política do país o regime democrático de governo que se seguiu ao término do Estado Novo, após a deposição do presidente Getulio Dornelles Vargas, em 29 de outubro de 1945, e se manteve entre crises e tensões até o golpe de estado que, em primeiro de abril de 1964, estabeleceu o governo militar, sob a chefia do Ma-rechal Humberto de Alencar Castello Branco.

Se as datas delimitam importante período de ordem democrática, in-tercalado entre dois regimes autoritários de governo, os decênios trans-corridos entre elas se caracterizam, sobretudo, pelas mudanças econômi-cas associadas à implantação definitiva do capitalismo industrial no país. O processo de modificação da estrutura da economia nacional vinha ocorrendo desde 1930. Porém, há um alto grau de consenso entre os estudiosos1 de que, a partir do período que vai de 1955 a 1966, as estra-tégias de financiamento da industrialização adotadas pelos governantes, privilegiando em larga medida o capital estrangeiro e incentivando par-ticularmente o setor de bens de consumo duráveis, levaram à consolida-ção do capitalismo industrial.

1. A esse respeito ver COHN, Gabriel. Problemas da industrialização no século XX. In: MOTA, Carlos Guilherme (Org.). Brasil em perspectiva. São Paulo: Difel, 1969; MENDONÇA, Sônia Regina de. Estado e economia no Brasil: opções de desenvolvimento. Rio de Janeiro: Graal, 1986. p. 39-59; OLIVEI-RA, Francisco de; MAZZUCCHELLI, Frederico. Padrões de acumulação, oligopólios e Estado no Brasil: 1950-1976. In: MARTINS, Carlos Estevam (Org.). Estado e capitalismo no Brasil. São Paulo: Hucitec / CEBRAP, 1977.

IIIOs AnOs de 1945 A 1966

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Na realidade, os rumos tomados pela industrialização no Brasil, naqueles anos, estiveram estreitamente relacionados com os planos e as medidas polí-ticas dos diferentes governos democráticos. Dessa forma, também sofreram as influências da “política de massas” aplicada pelos governantes, que ora se sensibilizavam com as pressões populares, ora buscavam controlar os movi-mentos reivindicatórios de diversos setores e grupos sociais. As transforma-ções econômicas daquele período e suas repercussões na sociedade brasileira estiveram de tal modo ligadas à política levada a cabo pelas autoridades, que não seria possível, senão para efeito de análise, distinguir as características entre a industrialização e a intervenção governamental no setor econômico, que se estabeleceu e tomou vulto naquela época.

O desenvolvimento industrial em ritmo acelerado repercutiu em diversos setores da sociedade. A industrialização se constituiu, naquele período, em um núcleo dinâmico que possibilitava uma constelação de mudanças, seja no perfil demográfico, seja na estratificação social, seja nas instituições políticas, ou nos hábitos e modos de pensar de grupos sociais.

Particularmente, junto aos meios culturais e intelectuais, as mudanças gera-ram expectativas relativas às possibilidades efetivas de modernização do país, o que levou grupos daqueles setores não só a debates e polêmicas, como a iniciativas relevantes que vieram realmente modificar a feição da vida cultural e intelectual brasileira, no tocante a suas instituições, produção e divulgação de bens culturais e intelectuais.

Este capítulo tem como objetivo, portanto, delinear aspectos característi-cos daqueles anos nos quais, como já se viu, houve um aumento da produção de estudos em ciências sociais. Inicialmente, são destacados traços gerais do período entre 1945 e 1966; posteriormente, as modificações ocorridas nos meios culturais relativas aos investimentos feitos na área de divulgação da produção cultural; há referência também à efervescência que tomou conta de grupos vinculados à produção artística e literária; e, finalmente, são res-saltados o desenvolvimento do sistema universitário, as lutas estudantis e as iniciativas da comunidade acadêmico-científica.

1. Características gerais

De 1945 a 1966 a população brasileira cresceu de 46.177.000 para 79.837.000 habitantes. Se forem observados os censos demográficos de 1940 a 1960, vê-se que o aumento da população foi mais acentuado na década de 1950:

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Quadro IBrasil: população residente (1940-1960)

Temas População

1940 41.236.3151950 51.944.3971960 70.090.457

Fonte: Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográcas e sociais, 1550 – 1988. 2ª ed., Rio de Janeiro: IBGE, 1990.

No decênio de 1940 a 1950, o número de habitantes aumentou 25,96%, mas no período seguinte o acréscimo foi de 34,90%. O significativo aumento da população ocorreu na época em que o crescimento econômico alcançava suas taxas mais elevadas, chegando à média anual de 7% entre 1957 e 1961.2

Entretanto, o crescimento da população se intensificou e concentrou-se nas regiões Nordeste e Sudeste do país, acentuando as desigualdades já existentes en-tre as áreas de maior e menor densidade demográfica, como mostra o quadro II.

Quadro II Brasil: população residente por região (1940 – 1960)

Região 1940 1950 1960

Norte 1.462.420 1.844.655 2.561.782Nordeste 14.434.080 17.973.413 22.181.880Sudeste 18.345.831 22.548.494 30.630.728Sul 5.735.305 7.840.870 11.753.075Centro-Oeste 1.258.679 1.736.965 2.942.922

Fonte: Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais, 1550 – 1988. 2ª ed., Rio de Janeiro: IBGE, 1990.

2. Ver FURTADO, Celso. Dialética do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1964. p.102.

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As regiões rarefeitas do Norte e do Centro-Oeste contrastam com as re-giões Nordeste e Sudeste, que concentram a maior parte da população bra-sileira. O número de habitantes do Sul corresponde a menos da metade das regiões mais povoadas e, no entanto, supera em muito o das regiões Norte e Centro-Oeste. No Sudeste, área em que se localizavam os “pólos” mais im-portantes da industrialização, a taxa de crescimento é a mais destacada entre os anos de 1950 e 1960.

Contudo, os dados disponíveis, no quadro III mostram que até os anos 1960, a maior parte da população ainda habitava o meio rural.

Quadro IIIDistribuição da população

(1940 – 1960)

Ano População rural População urbana

1940 28.356.133 12.880.183

1950 33.161.506 18.782.891

1960 38.767. 423 31.302.934

Fonte: Estatísticas históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e so-ciais, 1550 – 1988. 2ª ed., Rio de Janeiro: IBGE, 1990.

Com efeito, ambos os contingentes da população urbana e rural cresceram naqueles anos. Porém, o aumento das coletividades que se estabeleceram no meio urbano aconteceu de forma mais rápida do que no meio rural, princi-palmente a partir dos anos 1950, modificando assim o perfil da população brasileira, ao constituir um numeroso agrupamento urbano, concentrado em áreas que ofereciam maiores atrativos para a força de trabalho.

O caso da cidade de Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro, ilustra bem a concentração da população em localidades mais prósperas. Segundo Regina Lúcia de Moraes Morel,3 “na década de 50, Volta Redonda se converte

3. Cf. MOREL, Regina Lúcia de Moraes. A ferro e fogo: construção e crise na família siderúrgica (1941 – 1968). Tese de doutoramento em sociologia. Universidade de São Paulo, São Paulo,

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num pólo de atração do fluxo migratório para o Estado do Rio de Janeiro, devido não só à criação da CSN, mas também devido à expansão de outras indústrias e do setor de serviços. Em 1940, pouco antes da chegada da Com-panhia Siderúrgica Nacional, a população da localidade era de 2.782 habitan-tes; já na década seguinte esta cifra chegava a 35.964 e, em 1960, a 88.740.” De acordo com a autora, a migração foi o principal fator responsável pelo crescimento de 146% da população da cidade entre os anos 1950 e 1960 – taxa três vezes mais elevada do que aquela correspondente ao crescimento da população em nível nacional no mesmo período.

Convém lembrar, entretanto, que cidades não industrializadas, como Re-cife no Nordeste, também receberam levas de migrantes que, com mais fre-qüência, vinham de pequenas cidades da região e jamais haviam se dedicado a atividades agrícolas, como revela Levy Cruz em pesquisa sobre os problemas migratórios naquela região.4 A par disso, referindo-se ao período entre 1950 e 1960, Maria Isaura Pereira de Queiroz comenta que “o êxodo das camadas inferiores da população tem sido freqüentemente estudado; porém a mobili-dade espacial das camadas médias e superiores, que também não é para des-denhar, não mereceu até hoje atenção”.5

O aumento da população urbana se fazia realmente de modo bastante desequilibrado. Em 1960, na região Sudeste, por exemplo, uma população urbana estimada em 17.460.897 habitantes já superava aquela do meio rural, de apenas 13.169.831 pessoas, enquanto as demais regiões permaneciam com a maioria de seus moradores no meio rural. Entre os estados da Federação, o que mais chama a atenção é o Rio de Janeiro – possivelmente porque nele se localizasse a capital do país até 1960 –, pelo fato de que em 1940 sua popula-ção urbana, em torno de 2.212.211 habitantes, representava quase o dobro de sua população rural, que contava então com 1.399.687 residentes. Em 1960, a população urbana do estado do Rio de Janeiro atingia a cifra de 5.214.809 moradores, enquanto o contingente que residia no meio rural diminuíra para 1.395.939 habitantes. No estado de São Paulo, em 1960, a população ur-bana de 8.019.743 pessoas supera em muito a população rural que somava 4.789.488 habitantes. Ao invés disso, um estado como Minas Gerais, sujeito

1989. p. 241-242.4 Cf. CRUZ, Levy. As migrações para o Recife – IV (Caracterização Social). Recife: Instituto Joaquim

Nabuco de Pesquisas Sociais / Ministério da Educação e Cultura, 1961. p. 58-69.5 Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Classes sociais no Brasil: 1950 – 1960. In: ___. Cultura,

sociedade rural, sociedade urbana no Brasil. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: EDUSP, 1978. p. 98.

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a constante êxodo de seus habitantes, sobretudo para as frentes pioneiras de expansão agrícola, apresenta uma população urbana estimada em 3.847.601 pessoas, em 1960, que correspondia quase à metade de sua população rural de 6.064.906 residentes. Esses exemplos6 demonstram que o crescimento total da população, com suas particularidades nos meios rural e urbano, se dava de modo extremamente desigual, entre as cidades, os estados da Federação e as regiões do país.

Os dados relativos à ocupação da população economicamente ativa em atividades agrícolas e não-agrícolas confirmam, ao lado das cifras sobre as populações rural e urbana, a predominância do meio rural até os anos 1960; ao mesmo tempo, demonstram que as mudanças se operavam no sentido do crescimento e da expansão do meio urbano, sobretudo a partir dos anos 1950. Observe-se o quadro IV, a seguir:

Quadro IVBrasil: população economicamente ativa (1000 pessoas)

(1940/1960)

Ano Atividades agrícolas Atividades não-agrícolas

1940 9.844.2 4.914.3

1950 10.369.9 6.747.5

1960 12.408.3 10.341.8

Fonte: Estatísticas Históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e so-ciais, 1550 – 1988. 2ª ed., Rio de Janeiro: IBGE, 1990.

Nos dados do IBGE, a categoria atividades agrícolas inclui as atividades voltadas para a agricultura, pecuária, extração vegetal, caça e pesca; a categoria atividades não-agrícolas compreende ocupações ligadas às indústrias de trans-formação, construção, comércio, bancos e finanças. As cifras indicam que a

6 As cifras mencionadas se encontram nas seguintes fontes: ESTATíSTICAS históricas do Brasil: séries econômicas, demográficas e sociais, de 1550 a 1988. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1990; CENSO Demográfico 1960. Rio de Janeiro: IBGE, 1965.

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maior parte da força de trabalho ocupava-se de atividades agrícolas até os anos 1960. No entanto, deixam claro também que o contingente da população ativa responsável pelas atividades agrícolas pouco se altera em comparação com o número cada vez mais elevado de indivíduos ocupados com atividades não-agrícolas.

Outro fato importante relativo à população brasileira, naquele período, foram as migrações internas. Mencionando os casos específicos de Volta Re-donda e Recife, vimos como muitos indivíduos deixaram seu local de origem na esperança de melhorar suas condições de vida, interferindo decisivamente no crescimento e na concentração da população das localidades para as quais se dirigiram.

A mobilidade espacial de grupos humanos no Brasil vinha apresentando sinais de intensificação desde os anos 1930, mas o movimento aumentou de-pois da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Analisando os fluxos migratórios nos anos 1950, Juarez Brandão Lopes diz que “o mais volumoso origina-se de Minas Gerais, da Bahia e dos Estados Nordestinos para São Paulo, Rio de Janeiro (inclusive a Capital Federal) e Paraná. Outros fluxos menores consti-tuem-se de populações em demanda do Maranhão, provindos do Piauí e do Ceará, e do Rio Grande do Sul para Santa Catarina e Paraná”.7

Segundo o autor, as zonas pioneiras de expansão agrícola que mais se destacaram foram o nordeste do Paraná, incluindo o sul do Mato Grosso e de Goiás, para onde se estima tenham se dirigido dois milhões de pessoas, entre 1950 e 1960, devido à expansão do café; o sudoeste do Paraná e pequenas áreas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, onde predominava a pequena agricultura diversificada, que atraiu cerca de meio milhão; e a região central do Maranhão, que teria mobilizado cerca de 600 mil pessoas.8

O deslocamento de grupos humanos ocorria, portanto, naquela época, dentro do próprio meio rural, ou dele em direção às cidades, sendo este o flu-xo mais volumoso; verificava-se também o êxodo de habitantes de pequenas cidades para os centros urbanos. Os fatores que provocaram a mobilidade espacial de tantos indivíduos são de ordem diversa. Certamente, o desenvol-vimento industrial atraiu contingentes da população, principalmente para as áreas do Sudeste, que concentravam seus núcleos mais dinâmicos. Contudo,

7. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Desenvolvimento e mudança social. 5 ed. São Paulo: Nacional, 1980. p. 50.

8. Ibidem, p. 52.

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o movimento de populações foi motivado também pelas más condições de trabalho no campo, pelos baixos salários dos trabalhadores rurais, pelas secas, pela falta de terras etc. E também pelo desejo de indivíduos de camadas mé-dias, que viviam em cidades de pequeno porte, de melhorar suas condições de existência. Some-se a isso o fato de que, sobretudo nos anos 1950, foram criadas melhores condições para esses fluxos migratórios, quando se cons-truiu uma importante rede de rodovias e transportes, diminuindo as distâncias entre as longínquas regiões do país.

Os dados e exemplos mencionados acima indicam que no período de 1945 a 1966 o perfil demográfico da população brasileira se modificava. O núme-ro de habitantes crescia de modo significativo. Até os anos 1960 (a maior parte do período focalizado nesse trabalho), a maioria da população ainda habitava o meio rural e grande parte dos indivíduos economicamente ativos se dedicava a atividades agrícolas. No entanto, uma importante mudança se operava, especialmente a partir dos anos 1950, no sentido do crescimento da população urbana e aumento das ocupações não-agrícolas. Diversos grupos humanos que habitavam o meio rural deixaram seu local de origem e partiram para outras localidades, principalmente para o Sudeste do país, à procura de melhores condições de vida. As mudanças, como já se analisou, aconteciam de modo bastante desigual entre as cidades, os estados da Federação e as regi-ões brasileiras, sendo esta talvez uma de suas características mais relevantes.

As migrações e o crescimento da população urbana se intensificaram nas décadas de 1950 e 1960, justamente quando as transformações econômicas tomaram maior vulto, havendo portanto uma correspondência entre as modi-ficações que ocorreram nesses dois setores. No decorrer daqueles anos, mais precisamente a partir de 1955, a tomada de novas medidas governamentais, visando a fortalecer a economia, levarão a um grande incremento do processo de industrialização.

Estudiosos da história econômica desse período costumam distinguir duas “fases” do processo de implantação do capitalismo industrial no país. A pri-meira delas se estende de 1930 a 1954; a segunda começa em 1955 e, apesar das crises que se iniciam em 1961, suas características básicas teriam permane-cido ao menos até 1976, o que extrapola o intervalo abordado nesse estudo.

No período entre 1930 e 1954 (que inclui o governo de Getulio Vargas, de 1930 a 1945, o governo democrático do Mal. Eurico Gaspar Dutra, de 1946 a 1950, e o segundo de Getulio Vargas, de 1951 a 1954), os esforços gover-

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namentais estiveram voltados para a acumulação de capitais indispensáveis para a industrialização do país, ainda que, de acordo com Sônia Mendonça,9 não mostrassem um propósito nitidamente “industrialista”. A crise de 1929 e, logo a seguir, a Segunda Guerra Mundial restringiram as importações bra-sileiras e favoreceram uma política econômica que, em linhas gerais, buscava repassar o excedente do setor agroexportador para o setor industrial, através de mecanismos cambiais, a fim de obter financiamento externo. Prevalecia, então, o interesse em manter sob o controle do Estado os setores básicos da indústria. Daí, surgem os projetos e a criação de grandes empresas estatais como a Cia. Siderúrgica Nacional, a Petrobras, a Cia. Vale do Rio Doce, a Cia. Nacional de Álcalis etc. Outra característica das medidas governamentais, segundo Francisco de Oliveira e Frederico Mazzucchelli, “residia numa con-tenção relativa do salário real dos trabalhadores, atenuada pela função que se assinava às empresas do Estado: produzir certos bens e, sobretudo, serviços abaixo do custo, transferindo em parte, por essa forma, poder de compra para os assalariados”.10

A segunda fase do processo de industrialização inicia-se sob a presidência de João Café Filho (1954/1955), e atinge seu ápice durante o governo de Jus-celino Kubitschek de Oliveira (1956/1960), entrando em crise logo a seguir, durante os governos de Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961/1964). Nesse período, os centros capitalistas, refeitos dos planos de reconstrução do pós-guerra, adquiriram um grau de estabilidade econômica que os levava a buscar novas oportunidades lucrativas de exportação de capitais. Entre outros fatores, o novo contexto econômico internacional veio a influir na política econômica brasileira. A partir de 1955, o Estado redefine suas regras com vistas à industrialização. Em primeiro lugar, a nova política permite que se recorra abertamente ao capital estrangeiro, sob forma de investimento direto, de capital de risco. Naquele ano, ficou famosa a “instrução 113” da SUMOC – Superintendência da Moeda e do Crédito, que liberou os investimentos di-retos de empresas estrangeiras. Ao mesmo tempo, a inflação passou a ser, por excelência, a forma de financiamento interno do crescimento econômico, não havendo nenhum interesse dos diversos governos em tomar medidas fiscais ou cambiais redistributivas que atingissem as classes proprietárias e seus lu-cros. A segunda característica importante da política econômica, levada a cabo a partir de 1955, foi o incentivo dado ao setor de bens de consumo duráveis,

9. Cf. MENDONÇA, Sônia Regina de. Op. cit., p. 23-24.10. Cf. OLIVEIRA, Francisco de; MAZZUCCHELLI, Frederico. Op. cit., p. 113-114.

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cuja expansão foi surpreendente. Entre 1955 e 1961, a produção física da in-dústria de transportes (inclusive automóveis) cresceu 550%, e a indústria de material elétrico e de comunicação (inclusive eletrodomésticos) cresceu 368%. Os segmentos do setor industrial mais voltados para o consumo popular tive-ram aumento menor. A indústria alimentícia, por exemplo, cresceu 47% e a têxtil 29%, o que evidencia a relevância atribuída aos segmentos que permitiam maior acumulação de capital e satisfaziam necessidades de grupos de renda mais elevada.11 Em terceiro lugar, os salários reais permaneceram constantes, vin-do mesmo a diminuir em alguns setores. Enquanto a economia se expandia, ampliavam-se as oportunidades de emprego, o que compensava, ao menos tem-porariamente, os efeitos negativos da inflação sobre o custo de vida.

Todavia, ao término do governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira, co-meçaram a surgir sinais da primeira crise gerada pelas decisões governamen-tais relativas ao desenvolvimento industrial do país. Embora fomentassem o crescimento econômico, elas levavam à concentração de renda e redução drástica do poder aquisitivo dos salários. Os governos seguintes, especialmen-te o de João Goulart, durante o qual se elaborou o Plano Trienal, cujo objetivo era corrigir as elevadas pressões inflacionárias e restabelecer o processo de acumulação, não obtiveram o resultado esperado, intensificando-se as crises econômica e política que marcaram o início dos anos 1960 e culminaram no golpe de estado de 1964.

Os rumos da industrialização no Brasil foram marcados definitivamente pela política econômica adotada em meados da década de 1950. O acelerado crescimento da economia brasileira baseou-se então na consolidação e for-te expansão do setor industrial, liderada particularmente pela produção de bens de consumo duráveis, dirigidos às camadas com mais altos rendimen-tos. A modalidade, por meio da qual se implantou o capitalismo industrial no país, trouxe poucos frutos para a maioria de sua população, acentuando as desigualdades socioeconômicas. Além disso, agravou os desequilíbrios re-gionais, favorecendo a região Sudeste, onde somente o estado de São Paulo concentrou 70% do capital investido, através dos benefícios da “instrução 113” da SUMOC.12 As disparidades se fizeram sentir também no que respeita aos meios rural e urbano: a taxa de crescimento da produção agrícola entre

11. Cf. SINGER, Paul. A crise do milagre: interpretação crítica da economia brasileira. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. p. 102. apud CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1983. p. 38.

12. Cf. IANNI, Octavio. Estado e capitalismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. p. 90. apud CUNHA, Luiz Antônio. Op. cit., p. 42.

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os anos de 1947 e 1961 foi de 4,6%, aumentando para 4,8% entre os anos de 1957 a 1961; no mesmo período a taxa de crescimento da produção industrial foi de 9,6% entre 1947 e 1961, elevando-se para 12,7% de 1957 a 1961.13

Embora tomasse uma “via” concentradora e excludente, a industrialização resultou no surgimento de um leque de novas profissões e oportunidades de emprego, que possibilitaram a redistribuição dos indivíduos na escala social, imprimindo outra feição à estratificação social do país. No meio urbano, o empresariado industrial, as camadas médias e o operariado não só cresceram, mas, principalmente, passaram a ocupar uma posição de maior importância na ordem social, na vida econômica e política. Questiona-se, entretanto, se o notável crescimento econômico levou de fato a uma mudança de vulto na de-mocratização das oportunidades de vida relativas aos diversos estratos sociais. Nesse sentido, aparentemente as mudanças não foram profundas.

Estudos sobre esse problema, que abordem o período em foco e apre-sentem uma visão de conjunto, são escassos, o que dificulta sua apreciação. Convém lembrar, entretanto, as observações feitas por Maria Isaura Pereira de Queiroz14 a respeito dos estratos sociais nos anos 1950 e 1960. Segundo a autora, a industrialização se inscreveu numa sociedade diversificada em múl-tiplos estratos superpostos e não numa sociedade dividida em duas partes, uma moderna e outra tradicional, correspondendo cada uma delas a um tipo de estratificação social. Na realidade, diferentes tipos de estratificação social entrelaçavam-se, quer fosse nas “regiões modernas”, quer fosse nas “regiões arcaicas”. Baseando-se em dados censitários, a autora mostra que nas grandes cidades e no interior das regiões de monocultura de exportação havia uma es-tratificação socioeconômica “ortodoxa”. As classes sociais menos numerosas e mais privilegiadas se situavam no topo, enquanto as mais desfavorecidas e numerosas situavam-se na base, havendo entre elas camadas intermediárias que cresciam naquele período; já nas cidades de pequeno porte e nas áreas em que conviviam fazendeiros e sitiantes, a estratificação social se apresentava bem distinta, com pequenas camadas no topo e uma grande camada interme-diária de trabalhadores independentes auxiliados pela mão-de-obra familiar, que coexistia com uma pequena camada inferior de trabalhadores subordina-dos, assalariados ou não.

Maria Isaura Pereira de Queiroz ressalta que o Brasil se aproximava, na-queles anos, do modelo de uma “sociedade de classes”, à medida que, cada

13. Cf. FURTADO, Celso. Op. cit., p. 102.14. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit.

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vez mais, cresciam em importância o nível de renda, o nível de instrução e o prestígio das profissões para a classificação dos indivíduos na hierarquia social; ao mesmo tempo, a mobilidade vertical e horizontal (sendo esta a mais freqüente), e a hereditariedade da classe social eram traços que revelavam a emergência daquele tipo de sociedade no país. Ela, entretanto, argumenta que uma sociedade de classes se define também pelo conflito de interesses e pe-las tensões existentes entre seus diferentes estratos socioeconômicos e, nesse sentido, as evidências eram raras:

Os indivíduos não chegavam a pôr em questão a estrutura so-cial na qual estavam integrados e a avaliavam de maneira muito otimista. Se a existência se tornava difícil, não era devido às injus-tiças da estrutura social global, mas à ineficiência ou à malícia dos governantes, não preparados para dirigir a barca do Estado. Tentar por mudanças sucessivas, instalar um “bom governo”, mobilidade de superfície que não implicava nenhuma mudança profunda da estratificação social, seria uma solução mais correta para as dificul-dades administrativas, políticas e econômicas. Este raciocínio era compreendido por todas as classes sociais.15

De modo geral, os motivos que levaram a depositar nos “bons governan-tes” a solução para os graves problemas sociais, naqueles anos, são atribuídos ora à melhoria relativa das condições de vida das camadas médias urbanas e do operariado, ora às alianças feitas entre a classe empresarial burguesa e o operariado, ora à política “populista” que procurava, em parte, atender às reivindicações ou prometia atendê-las em um futuro mais próspero, ora a uma “cultura” autoritária (própria dos diferentes estratos sociais), cujos valores privilegiavam o consenso em detrimento dos conflitos e das diferenças.

Caberia esmiuçar em outros estudos os motivos da quase ausência de con-flitos provocados pelos interesses divergentes dos diferentes estratos sociais. Pode-se dizer, entretanto, que não resultaram diretamente, naqueles anos, de medidas repres-sivas tomadas por um regime autoritário. Ao contrário, as mudanças transcorriam dentro de uma ordem político-democrática que tornara possível, depois de quinze anos de governo autoritário, a participação popular no sistema de representação po-lítica. A Constituição de 1946 restituiu ao cidadão brasileiro o direito de eleger seus representantes, legalizou a existência dos partidos políticos e aboliu a censura.

15. Ibidem, p. 126.

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Os partidos políticos, de acordo com a Constituição de 1946, deveriam ser nacionais, com o que se evitavam os particularismos e regionalismos políticos e se fortalecia o governo federal. Surgiram então diversas organi-zações partidárias, destacando-se o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democrática Nacional (UDN). Note-se, contudo, que já em 1947 o Partido Comunista do Brasil foi decla-rado ilegal, embora continuasse atuando na clandestinidade ao longo da-queles anos. Somaram-se a ele outras organizações como a Ação Popular, a Política Operária etc.

Por outro lado, o direito de voto que assegurava a participação popular no processo democrático ficou restrito à população alfabetizada (medida incluí-da no Código Eleitoral de 1945 e mantida pela Constituição de 1946), o que se levantava, claramente, como uma barreira impeditiva daquela participação, pois o índice de analfabetismo era extremamente alto no país, como mostra o quadro a seguir:

Quadro VBrasil: população alfabetizada, população analfabeta

(1940 – 1960)

Ano Total Acima de cinco anos Alfabetizados Analfabetos Não

declarantes

1940 41.236.315 34.796.665 13.292.605 21.295.490 208.570

1950 51.944.397 43.573.517 18.588.722 24.907.596 77.199

1960 70.070.457 58.997.981 31.362.783 27.578.971 56.227

Fonte: Censo Demográfico 1940, 1950 e 1960. IBGE.

Nos anos de 1940 e 1950, mais da metade da população acima de cinco anos era analfabeta; a situação se inverte nos anos 1960, com o aumento do número de pessoas que sabiam ler e escrever. Ainda assim, a taxa de analfabe-tismo permanece alta. No meio rural, nem mesmo nos anos 1960 o número de alfabetizados ultrapassou a quantidade de indivíduos que não sabiam ler e escrever: de um total de 27.578.971 habitantes com mais de cinco anos, apenas 12.472.269 eram alfabetizados, enquanto os demais 19.804.055 eram analfabetos; já no meio urbano, entre 31.362.783 habitantes maiores de cinco anos, 19.215.514 entre homens e mulheres sabiam ler e escrever, e 7.774.916

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eram analfabetos. A restrição de voto ao analfabeto penalizou, portanto, prin-cipalmente a população rural, impedindo-a de maior participação no processo democrático.

A despeito das evidentes restrições à participação política popular, por meio do voto, dados do IBGE16 mostram que o eleitorado brasileiro cresceu durante aquele período.

Nas eleições de 1945, foram habilitadas a votar 7.459.849 pessoas e, em 1962, o total de eleitores foi de 18.528.847. A queda gradativa da taxa de analfabetos nas cidades e a inclusão de um contingente de votos femininos (direito instituído no Código Eleitoral de 1932 e mantido pela Constituição de 1946) são fatores que podem ter influído no crescimento do número de eleitores. A par disso, os debates sobre as questões políticas nacionais foram tomando espaço nas cidades, promovidos freqüentemente por associações não-partidárias que assumiam a condução de lutas político-reivindicatórias, como a União Nacional dos Estudantes, o Comando Geral dos Trabalha-dores, a Ação Católica e outros. Referindo-se aos anos que vão de 1955 a 1966, Octavio Ianni diz que “todos os grandes acontecimentos políticos da última década, particularmente dos últimos anos, desenvolveram-se com ativa e muitas vezes decisiva participação das uniões de estudantes universitários, sindicatos do proletariado, grupos parlamentares extra-partido”.17 O clima de discussão sobre os destinos do país, que se configurou naquela época, possi-velmente também contribuiu para uma maior participação através do voto.

Entretanto, o aumento do eleitorado é explicado pela intensificação de mecanismos utilizados pelas lideranças políticas para estabelecer contato com grupos urbanos, sobretudo os de baixa renda, através dos “cabos eleitorais”. Esses intermediários entre os representantes políticos e seus eleitores bus-cavam conseguir os votos indispensáveis para a eleição de “seu” candidato, atendendo ou prometendo atender a reivindicações e pedidos (de empregos, vagas em escolas etc.) de pessoas com quem mantinham contato próximo. Segundo Juarez Brandão Lopes, esta prática permitia que representantes de grupos econômicos pudessem “comprar diretamente ou indiretamente os ca-bos eleitorais, e se elegerem”.18

16. A respeito do crescimento do eleitorado ver LAMOUNIER, Bolívar; MUSZyNSKI, Judith. Resultados eleitorais. In: ESTATíSTICAS históricas do Brasil: séries econômicas, demográfi-cas e sociais, de 1550 a 1988. 2 ed. Rio de Janeiro: IBGE, 1990. p. 631-632.

17. Cf. IANNI, Octavio. Processo político e desenvolvimento econômico. In: ___ et al. Política e revolução social no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. p. 44.

18. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Op. cit., p. 89.

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Em que pesem as influências dos fatores que atuavam positiva ou negati-vamente no perfil do eleitorado brasileiro, não se pode ignorar que no período entre 1945 e 1964 foi possível a participação popular por meio do voto. Além disso, foram criadas e mobilizadas organizações não-partidárias para reivin-dicar a solução de problemas graves, notadamente nas cidades, como já men-cionado, e também no meio rural. As ligas camponesas criadas no Nordeste, em 1955, são um exemplo disso.

Outro aspecto, porém, viria marcar o quadro político daqueles anos: a intensificação do processo de burocratização civil e militar do Estado. Di-versos órgãos foram criados e postos em funcionamento: no setor de econo-mia e finanças, entre outros, o Conselho Nacional de Economia, instituído pela Constituição de 1946 e regulamentado em 1949, o Banco Nacional de Desenvolvimento da Economia e o Banco do Nordeste, criados em 1952, a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia, em 1953 etc. Durante o segundo governo Getulio Vargas, a Lei nº 1920, de 25 de julho de 1953, criava o Ministério da Saúde; na área da Educação, assistia-se à federalização das universidades, entre outras medidas, como veremos mais adiante. Em 1947, foram criados a Escola Superior de Guerra e o Instituto Tecnológico da Aeronáutica. A criação dessas instituições revela as mudanças por que passavam os meios militares. Finalmente, a transferência da capital federal para Brasília, em 1960, atesta, entre outros motivos, o interesse em ampliar o controle político do Estado sobre o território nacional.

Ao concentrar os meios administrativos indispensáveis ao desenvolvimen-to, o Estado adquiria mais poder, sobretudo o Executivo, que mais facilmen-te podia fazer uso daqueles meios em nome dos interesses gerais da nação, justificada, notadamente naquela época, pelo projeto de desenvolvimento nacional. Além disso, a burocratização dos setores civil e militar foi criando uma classe de funcionários “técnicos”, qualificados especificamente para o exercício de novas funções voltadas para a modernização (engenheiros, eco-nomistas, agrônomos, geógrafos etc.), que adquiria nova posição nos proces-sos decisórios dos meios político-administrativos. Desse modo, o Estado não só passava a intervir devidamente na vida econômica do país, colocando em funcionamento um programa administrativo que julgava indispensável à mo-dernização e industrialização, como criava uma infra-estrutura que fortalecia seus meios de dominação.

É preciso frisar, então, que ao lado das possibilidades de maior participa-ção popular no processo político e democrático, assistia-se à expansão dos

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meios de dominação tecnocrática do Estado. Esses dois processos, em si conflitantes, pois o Estado buscava defender os interesses “gerais” do de-senvolvimento nacional, ao passo que a participação política popular trazia à tona reivindicações nem sempre convergentes com aqueles interesses, pos-sivelmente levaram à estratégia populista dos governantes naquele período. Como não podiam ignorar as reivindicações populares e, de outro lado, não tinham interesse em atendê-las, procuraram estabelecer um contato direto com os indivíduos indiferenciados na “massa”, levando-os, na interpretação de Francisco Weffort,19 a um fascínio pelo poder do Estado, que se tradu-zia na figura de suas lideranças. Em um de seus aspectos, o quadro político das décadas focalizadas mostrava – no estilo populista de seus governantes – os limites possíveis entre a participação popular democrática e a dominação política e tecnocrática dos meios administrativos do Estado, voltados para a modernização e a industrialização do país, que, na realidade, atendia aos in-teresses de poucas classes e camadas sociais elevadas da população brasileira, beneficiando-as.

Não resta dúvida de que os anos de 1945 a 1966 delimitam um período de grande efervescência na vida política, social e econômica brasileira; uma época que se destaca pelas expectativas que gerou quanto às possibilidades efetivas de melhoria de vida da população em decorrência da industrialização.

2. Mudanças na vida cultural

Os anos de 1945 a 1964 modificaram em diversos aspectos a vida cultural do país. Destacamos dois fatos significativos dessas mudanças: os empreen-dimentos no campo da difusão da cultura e os movimentos de renovação da produção cultural.

2.1 Empreendimentos no campo da difusão da cultura

No contexto histórico examinado, houve um crescimento sensível de seg-mento industrial voltado para a produção de bens estreitamente relacionados com atividades culturais, tais como a imprensa periódica, a edição de livros e

19. Cf. WEFFORT, Francisco C. Política de massas. In: IANNI, Octavio et al. Op. cit., p. 171 e 176.

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folhetos, a indústria cinematográfica, a indústria fonográfica, a radiodifusão, a produção de instrumentos musicais e a produção de espetáculos de artes cênicas e de música. Os dados disponíveis sobre o crescimento desse setor ainda são bastante raros, segundo pesquisa realizada pela Fundação João Pi-nheiro.20 Entretanto, a despeito das dificuldades enfrentadas, o levantamento revela que o setor manufatureiro da indústria cultural atingiu uma taxa média de crescimento de 5,49% entre 1949 e 1959, expandindo-se ainda no período que vai de 1959 a 1970, com um percentual de 14,07%.

Paralelamente, o crescimento das camadas médias urbanas aumentava a possibilidade de acesso aos bens culturais por parte de um grupo quantitati-vamente mais significativo, e, sobretudo, mais diferenciado de indivíduos, no que respeita ao grau de instrução, à profissão e aos níveis de renda, criando-se assim condições para a formação de um público mais diversificado quanto ao interesse pelos bens culturais.

São mencionados a seguir exemplos que indicam características da forma-ção da indústria e do mercado cultural naqueles anos. A imprensa periódica é um deles. Instituída oficialmente pelo ato real de 31 de maio de 1808, de-sempenhou um papel político e doutrinário de relevância durante o regime monárquico e nos primeiros tempos da República, circunscrevendo-se, entre-tanto, às camadas letradas. A fundação da Associação Brasileira de Impren-sa, em 1908, confirma a importância dessa atividade, que, naquela época, já apresentava sinais de diversificação, fazendo circular periódicos literários para mulheres, semanários e gazetas voltadas para problemas operários etc.

Não obstante, a imprensa periódica adquire um caráter empresarial capita-lista, passando a significar um investimento em si mesma, e vincula-se com os demais setores da produção através da publicidade, notadamente de empresas estrangeiras, no período abordado nesse estudo. Em A história da imprensa no Brasil, Nelson Werneck Sodré chama a atenção para esse fato. Segundo ele, o artigo 160 da Constituição de 1946 “determinava que as empresas jornalísti-cas deviam ser nacionais, ficando os estrangeiros proibidos de mantê-las”.21 No entanto, ele argumenta que o artigo não era cumprido, porque, na reali-dade, o crescimento dos jornais resultava das vultosas somas investidas por empresas norte-americanas, através de agências de publicidade. Referindo-se

20. Cf. FUNDAÇãO JOãO PINHEIRO. Centro de Economia Aplicada. Economia da cultura: reflexões sobre as indústrias culturais no Brasil. Brasília: Instituto de Promoção Cultural, 1988. p. 45-46.

21. Cf. SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasi-leira, 1966. p. 455.

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a relatórios de Comissão Parlamentar de Inquérito acerca do controle estran-geiro exercido sobre a imprensa brasileira, levada ao Congresso em 1957, diz que somente no ano de 1953 empresas como a Coca-Cola, Esso Standard do Brasil, The Jonhson & Jonhson, Colgate-Palmolive etc. investiram um bilhão e 197 milhões de cruzeiros em jornais brasileiros. Mais de 50% das matérias publicadas em jornais eram dedicadas a elas, enquanto dados da UNESCO mostravam uma média de 21,8% do espaço concedido pela imprensa pari-siense à propaganda.22

A par disso, o Estado favoreceu o crescimento da indústria jornalística através de empréstimos feitos pelo Banco do Brasil, Caixa Econômica e ins-titutos previdenciários, além de subsídio à importação do papel, através do disposto na Lei nº 1.386, de 1951. Dez anos depois, em 1961, esse subsídio foi cortado, provocando a falência de vários periódicos que não podiam se man-ter devido ao alto custo do papel importado. Quanto a isso, são sugestivos os dados do IBGE: em 1944, circulavam nas capitais brasileiras 192 jornais diários; a cifra se eleva para 261, em 1954, porém, em 1962, ela cai para 245 e, em 1964, para 227.23

Analisando a penetração da imprensa nas diversas regiões do país, Juarez Brandão Lopes aponta outros obstáculos relativos à divulgação das notícias. A tiragem média dos diários e gazetas nas capitais e zonas do interior apre-sentava índices bastante desiguais. Em 1960, a relação de exemplares por cem habitantes revelava esses desníveis: “mesmo nas áreas mais urbanizadas, no Centro-sul e no Sul, onde a taxa para o Rio e São Paulo é quatorze e dezoito vezes a das zonas do interior; no caso das outras capitais essa razão é de seis a sete vezes”.24 O analfabetismo, segundo o autor, era responsável em boa medida pelas diferenças, mas não as explicava inteiramente. Possivelmente, resultavam também do pouco interesse das empresas em investir em áreas cujo retorno lucrativo era duvidoso ou limitado.

Ao adquirir caráter empresarial nos moldes capitalistas, sob forte influên-cia das empresas estrangeiras, a partir de meados da década de 1950 a impren-sa começou a renovar a forma de divulgar a notícia, modificando-se a técnica de redação das matérias. O estilo mais informativo e direto aproximava-se então daquele dos jornais norte-americanos. Surgia nos meios jornalísticos o

22. Cf. Ibidem. A respeito da publicidade e dos investimentos estrangeiros na imprensa brasileira ver p. 463-467.

23. Os dados do IBGE se encontram nos Anuários Estatísticos de 1945, 1955, 1964 e 1966.24. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Op. cit., p. 171-173.

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interesse pela formação da “opinião pública”, e ao mesmo tempo reformava-se o padrão gráfico dos periódicos.25

A expansão da imprensa periódica não se restringiu aos jornais diários, incluindo semanários e revistas como O Cruzeiro, cujo número de exem-plares – 300 mil em 1948 e 550 mil em 1952 – superava, em muito, índices atingidos até então por jornais e revistas.26 Outro periódico de grande cir-culação foi a Seleções do Reader´s Digest, de empresa norte-americana e, por isso, alvo de constantes denúncias de penetração estrangeira na imprensa brasileira naqueles anos.

A indústria do livro também cresceu e se expandiu. Sua implantação, po-rém, apresenta especificidades que não são observadas nos empreendimentos voltados para a imprensa periódica. A impressão de livros, desde que foi per-mitida oficialmente em 1808, se desenvolveu muito lentamente até os anos 1930. Somente nessa década, as restrições à importação de livros portugueses e franceses, devido à crise de 1929, e, logo depois, à Segunda Guerra Mundial, favoreceram um surto editorial que levou a um conjunto de transformações nas atividades de produção do livro – compra de maquinaria, emprego de pessoal qualificado, projetos editoriais etc. A cidade de São Paulo que con-centrava, em boa medida, a produção livreira editou 117 títulos, entre livros e folhetos, em 1931, e 338 livros em 1941. A edição de novos títulos, sobretudo autores brasileiros da área da literatura, tomou vulto naqueles anos, mas a produção livreira ainda era bastante limitada.27

Nos anos que se seguiram ao fim da Segunda Guerra Mundial, a política econômica não beneficiou a atividade editorial emergente no país, provocan-do o aumento rápido da importação de obras estrangeiras. Tornava-se nova-mente mais barato importar livros do que comprar papel para imprimi-los. Um longo memorial de editores e livreiros, datado de 1944, já chamava a atenção para as dificuldades, sugerindo o barateamento do papel nacional ou facilidades para a sua importação, apoio para aquisição de equipamentos e melhoria do serviço de distribuição. O documento estimava como “irrisória a

25. Um dos primeiros jornais a renovar o estilo da redação do noticiário foi o Diário Carioca, em 1951. Ver a propósito da renovação da linguagem jornalística e das reformas gráficas SODRÉ, Nelson Werneck. Op. cit., p. 452-454; depoimento de TINHORãO, José Ramos. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, 03 abr. 1991. 1º Caderno, p. 9.

26. Cf. ORTIZ, Renato. A moderna tradição brasileira. São Paulo: Brasiliense, 1988. p. 43.27. A respeito do surto editorial na década de 1930, ver MICELI, Sergio. Intelectuais e classe dirigente

no Brasil (1920 – 1945). São Paulo: Difel, 1979. p. 75-88; em HALLEWELL, Laurence. O livro no Brasil: sua história. São Paulo: T. A. Queiroz / EDUSP, 1985, p. 238-239, encontram-se os dados sobre a edição de livros na cidade de São Paulo.

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produção anual de oito milhões de exemplares, ameaçada por publicações em língua portuguesa impressas no exterior”.28

A despeito dos obstáculos, a indústria editorial se manteve e retomou sua curva de crescimento. Sua sobrevivência é atribuída, em relatório do Grupo Executivo da Indústria do Livro (GEIL), datado de 1967, a um programa internacional do governo norte-americano, criado em 1950, que tinha como propósito orientar a seleção de textos, encarregar-se da obtenção de direitos de tradução, custeá-los se houvesse interesse, e mesmo, em alguns casos, fi-nanciar os custos da edição e a propaganda do livro. As obras editadas através desse programa abordavam, em geral, assuntos políticos que variavam das denúncias ao regime comunista, até os debates sobre o subdesenvolvimento. Em pesquisa sobre a história do livro no Brasil, Laurence Hallewell comenta que o Grupo Executivo da Indústria do Livro (GEIL),29 ao apreciar as con-dições do mercado livreiro daqueles anos, julgou as obras financiadas pelo programa norte-americano de pouco interesse para o leitor brasileiro, mas o considerou útil “para provar que existia, afinal, um mercado brasileiro para obras sérias sobre assuntos como economia, sociologia, crítica literária, mate-mática e psicologia”. Muitas editoras foram financiadas para produzir manu-ais indispensáveis a estudantes universitários.

Para Laurence Hallewell, contudo, os interesses norte-americanos não se-riam suficientes para explicar a permanência e retomada do crescimento da indústria editorial ainda naqueles anos. Em O livro no Brasil: sua história, ele mostra que as editoras que ocupavam posições destacadas, nas décadas de 1930 e 1940, mantiveram a sua liderança, além do que novos grupos empresa-riais surgiram no mercado com diferentes estratégias de expansão. As enciclo-pédias começaram a ser produzidas no país, assim como os livros de coletâne-as de textos. Entre as alternativas para enfrentar as dificuldades, destacou-se, naquela época, a venda de livros a prestação, que se tornou extremamente vantajosa para os editores.

Não resta dúvida, entretanto, que o crescimento real do mercado do livro se deu a partir de meados da década de 1950. Diversas medidas favoreceram

28. Cf. ANDRADE, Olímpio de Souza. O livro brasileiro desde 1920. 2. ed. Rio de Janeiro: Cátedra; Brasília: INL, 1978. p. 23.

29. O Grupo Executivo da Indústria do Livro (GEIL) foi criado em 9 de junho de 1959, no âmbi-to do Ministério da Educação. Em 1967, apresentou relatório sobre características da produção de livros no país, o qual é comentado por Laurence Hallewell. Em 1971, o GEIL foi absorvido pelo Instituto Nacional do Livro. O comentário encontra-se em HALLEWELL, Laurence. Op. cit., p. 435; dados sobre o GEIL estão na p. 444.

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a produção do livro brasileiro, entre elas a isenção do pagamento de imposto para o setor livreiro (exceto o imposto de renda), a extinção, em 1959, da taxa de câmbio favorável à importação de livros e a redução do preço do papel. Nesses anos, vale notar, criaram-se condições efetivas para a publicação de traduções a preços competitivos com os originais estrangeiros, aumentando-se assim, notadamente, a quantidade de obras em Português. A par disso, os projetos editoriais se diversificaram, incluindo obras de autores nacionais de diferentes ramos do conhecimento. As reformas gráficas acompanhavam es-sas mudanças. As capas dos livros tornaram-se mais atraentes (com desenhos a cores) e as páginas refiladas permitiam que as obras fossem folheadas nas livrarias. Os editores passaram a investir na publicidade, setor que até então pouco integrara seus orçamentos. O número de títulos, entre livros e folhetos, publicados no país é indicativo do crescimento da indústria livreira: em 1943, o total é de 2.105; em 1953, 2.985; dez anos depois, em 1963, 4.010.30

O notável progresso editorial, todavia, não se fez acompanhar de uma me-lhoria efetiva na distribuição dos livros, tampouco de um aumento proporcional da tiragem média das edições. A distribuição permaneceu sendo um dos pontos críticos do processo de produção. A maioria das obras não chegava aos consu-midores da maior parte das cidades brasileiras. Para os editores, concentrados no Rio de Janeiro e em São Paulo, era mais lucrativo promover “queimas” e “feiras” de livros para liquidar os estoques, do que enfrentar os custos e proble-mas da distribuição. Por outro lado, o aumento da tiragem média das edições, que levaria potencialmente à diminuição dos preços, foi bem limitado, compa-rativamente ao crescimento do número de títulos. Nesse caso, era preferível dis-tribuir o risco dos investimentos pela edição de uma maior e mais diversificada quantidade de textos. Esses problemas, apontados tanto por Olímpio de Souza Andrade, como por Laurence Hallewell,31 ao estudar a produção de livros no Brasil, sugerem que a expansão da indústria livreira, ao menos naqueles anos, não foi proporcional ao aumento do mercado consumidor das obras, concen-trando-se nos centros como Rio de Janeiro e São Paulo.

Naqueles anos, o rádio tornou-se o meio de comunicação mais popular no Brasil. Implantado em 1922, organiza-se inicialmente em bases não co-merciais. As emissoras eram sociedades e clubes, cujas programações tinham, sobretudo, um caráter erudito e lítero-musical.32 Na década de 1930, a produ-

30. Cf. HALLEWELL, Laurence. Op. cit., p. 426.31. Cf. Ibidem. p. 478-479 e 515-534; ANDRADE, Olímpio de Souza. Op. cit., p. 65-77.32. Cf. ORTIZ, Renato. Op. cit., p. 39-41.

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ção de rádios com válvulas, barateando o custo do aparelho, possibilitou sua difusão junto a um público mais amplo. Porém, o grande impulso da radio-difusão no país se deu através da publicidade, quando uma regulamentação federal, em 1952, liberou cota de 20% da programação diária das emissoras para a publicidade, duplicando o percentual permitido, em 1932, que era de 10% apenas. As empresas norte-americanas como Coca-Cola, Esso Standard do Brasil, Colgate-Palmolive e outras, que investiam na imprensa periódica, foram responsáveis pelas maiores inversões na publicidade radiofônica.

A partir dos anos 1950, a publicidade fomentou um crescimento surpre-endente do número de emissoras. Em 1945, elas eram 111, em 1953, 447 e, em 1964, 944. A programação das rádios era bastante variada, incluindo música erudita e popular, programas humorísticos, infanto-juvenis, femini-nos, instrutivos, cursos, programas políticos e também os de auditório. Os programas de música popular eram os preferidos. Dados do IBGE para o ano de 1953 mostram que um total de 391 empresas transmitiu, naquele ano, 1.488.753 horas; mais da metade (794.636 horas) foi dedicada à música, ca-bendo 707.027 horas à música popular e ligeira, e 87.609 horas à música “de classe”. Das restantes 694.117 horas de transmissão, os “programas falados” ocuparam 307.816 horas e os textos de propaganda comercial foram ouvidos durante outras 386.301 horas. Entre os “programas falados”, o maior número de transmissões era sobre esporte (50.748 horas), notícias e comentários jor-nalísticos (51.524 horas). Logo em seguida, vinham as representações teatrais (25.888 horas) e os programas de auditório (38.153 horas).

Estudando a expansão radiofônica no país, João Baptista Borges Pereira33 diz que a música popular não só ocupou uma posição de enorme destaque nas programações de época, como, em grande medida, o rádio foi responsá-vel pelo processo, por meio do qual a música negra “clandestina e mal vista na vida urbana incipiente do começo do século” se espraiou, segundo ele, pelo país e pelo exterior com o rótulo de música popular brasileira, ainda que com ela coexistissem a música popular estrangeira e as composições de cunho nitidamente rural. Comentários de Nelson Werneck Sodré34 também confir-mam o sucesso da música popular, que, ao lado do futebol e dos comentários políticos, tomaram cada vez mais a preferência do público ouvinte a partir de 1945. A par disso, cabe lembrar que as “representações teatrais” incluíam as

33. Cf. PEREIRA, João Baptista Borges. Cor, profissão e mobilidade: o negro e o rádio de São Paulo. São Paulo: Pioneira / EDUSP, 1967. p. 194-200.

34. Cf. SODRÉ, Nelson Werneck. Síntese da cultura brasileira. 3 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasi-leira, 1974. p. 92-97.

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radionovelas, produto cultural introduzido em 1941, que mereceu a atenção crescente dos ouvintes do rádio na década de 1950.

No contexto de expansão da indústria cultural naqueles anos, Juarez Bran-dão Lopes ressalta35 que a “influência do rádio é, bem possivelmente, a que mais se faz sentir entre as populações interioranas. Entre nossos índices, o número de estações de rádio foi o único a exibir sensível desconcentração territorial. Ele é pouco limitado pela difusão desigual da educação, embora mesmo neste caso esta deva também ter o seu efeito, pela transformação de idéias, valores e de mundo mental que acarreta”.

Com efeito, a implantação e expansão da indústria e do mercado cultu-ral se fizeram de modo desigual, variando de acordo com as especificidades de cada área da produção. A criação da indústria cinematográfica no Brasil, por exemplo, apresenta características bem peculiares. A despeito de outros problemas (alto custo dos investimentos, tecnologia e pessoal qualificado), a indústria cinematográfica não enfrentava diretamente as barreiras decorrentes dos altos índices de analfabetismo da população brasileira para fazer circular e exibir seus produtos, mas, decerto, teve como grande obstáculo a poderosa concorrência das grandes produtoras norte-americanas que aqui exibiram ma-ciçamente seus filmes naqueles anos.

A nacionalização do serviço de Censura Cinematográfica para Educa-ção Popular pelo Decreto-Lei nº 21.240, de 4 de maio de 1932, e a criação do Conselho Nacional de Cinematografia, no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), pelo Decreto-Lei nº 4.064, de 29 de janeiro de 1942, demonstram que o alcance do cinema já era relevante naquelas décadas. Os empreendimentos para fundar e desenvolver a indústria cinematográfica re-sultaram na criação das empresas Atlântida, em 1941, e Vera Cruz, em 1949. Mais adiante, em 1952, a copiagem obrigatória de filmes estrangeiros por la-boratórios brasileiros serviu de forte impulso à implantação de infra-estrutura indispensável ao desenvolvimento do cinema, ainda que, em 1954, a SUMOC tenha reduzido pela metade aquela obrigatoriedade.

Na realidade, o volume de “negócios” relativo ao cinema cresceu no setor da exibição de filmes. É surpreendente o aumento do número das telas de exibição (cineteatro ou cinema), não havendo àquela época nenhuma capital brasileira que não possuísse um daqueles estabelecimentos. Sua quantidade elevou-se de 1.317 em 1944, para 2.932 em 1954, chegando a 3.234 em 1964,

35. Cf. LOPES, Juarez Rubens Brandão. Op. cit., p. 175.

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o que mostra a existência de um público crescente.36 A maioria dos filmes exibidos era de origem norte-americana.

Produtores e profissionais ligados à cinematografia, reunidos em con-gressos e através da imprensa, buscaram defender os interesses da indústria cinematográfica nacional. No II Congresso Nacional do Cinema Brasileiro, reunido na cidade de São Paulo, em 1953, reivindicou-se a fixação de cotas máximas de importação de filmes estrangeiros e a revisão periódica da lei de proporcionalidade, que era de um filme brasileiro para oito estrangeiros, de acordo com o desenvolvimento da indústria nacional. A remessa dos lucros das distribuidoras estrangeiras era alvo de várias discussões divulgadas pela imprensa. Ainda assim, em 1958, a lei permitia remeter 70% desses lucros ao câmbio livre e 30% ao câmbio oficial.

Nos áureos tempos dos filmes hollywoodianos, os obstáculos à implantação da indústria cinematográfica no país foram de grande monta. Contudo, no iní-cio dos anos 1960, as propostas de um grupo de jovens cineastas, traduzidas no movimento do “Cinema Novo”, que examinaremos mais adiante, reper-cutiam em festivais internacionais, onde a qualidade dos filmes brasileiros era reconhecida e premiada, como foi o caso de Vidas Secas, de Nelson Pereira dos Santos, no XVIII Festival de Cannes, em 1964.

Vale notar, entretanto, que na época em que se buscavam alternativas para a produção de cinema no Brasil, uma quantidade notável de filmes norte-ame-ricanos para a televisão entrava no país. Em 1963, foram submetidos à censu-ra 581 filmes brasileiros e 1966 norte-americanos, de curta e longa-metragem; no mesmo ano, foram examinados 1.876 filmes norte-americanos para a tele-visão, não constando nenhum filme brasileiro deste gênero.37 A televisão fora implantada no Brasil na década de 1950, sendo a primeira transmissão realiza-da pela TV Tupi do Rio de Janeiro, em 1951. Apresentava programas humo-rísticos precários, programas de calouros e filmes norte-americanos. Não se tornou um meio de comunicação relevante naquele período, embora a evolução do número de aparelhos em uso seja indicativa de seu paulatino estabelecimento: 3.500 aparelhos em 1951, 141.000 em 1955 e 593.000 em 1959.38

A partir dos dados expostos, depreende-se que os anos 1950 e o início dos anos 1960 marcam o surgimento da indústria e do mercado brasileiro de bens

36. Os dados sobre o número de salas de exibição de filmes se encontram nos Anuários Estatísti-cos do IBGE de 1945, 1955 e 1966.

37. Cf. Anuário Estatístico do IBGE de 1964.38. Cf. ORTIZ, Renato. Op. cit., p. 46.

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culturais. É relevante assinalar, ainda uma vez, que as transformações não se deram do mesmo modo, diferenciando-se de acordo com as especificidades de cada setor cultural, as quais não poderíamos examinar detalhadamente nos limites desse trabalho.

De todo modo, observa-se que houve interesse de empresários brasilei-ros em investir na indústria cultural, buscando, provavelmente, novo espaço de valorização de seus investimentos. As inversões de capitais estrangeiros não foram nada desprezíveis, intensificando-se ora na comercialização, ora na industrialização, ora na publicidade, variando segundo objetivos políticos ou econômicos. Aparentemente, o setor público se ocupou com mais destaque do controle da propriedade dos capitais investidos, da censura e do estabe-lecimento de normas relativas ao funcionamento dos meios de comunicação no país.

Uma segunda observação diz respeito à grande influência que o estilo de vida, os valores e os padrões culturais norte-americanos exerceram sobre os modos de vida e de pensar de camadas da população brasileira, através de livros, revistas, filmes e canções que aqui eram então consumidos. Essa influência se fazia sentir também na forma de produzir noticiários de jornais, programas radiofônicos etc. Certamente, não impediu que expressões cultu-rais brasileiras tomassem vulto e se destacassem naquele período, porém não se pode ignorar o seu peso no setor cultural nos anos analisados.

Finalmente, o surgimento de um mercado de bens culturais, ainda que de modo geral limitado às grandes cidades e às faixas de população com maior grau de instrução e nível de renda, possivelmente levou a uma nova relação entre os integrantes dos setores artísticos e intelectuais e o público, ao qual se destinavam suas criações. A “conquista” de um público se tornou cada vez mais relevante. A acolhida e reconhecimento das obras produzidas passou a depender de modo mais decisivo da atitude favorável ou desfavorável do pú-blico, o que, por sua vez, influía mais diretamente nas escolhas e orientações adotadas no âmbito da produção.

2.2 Movimentos de renovação da produção cultural

Ao lado da implantação da indústria e do mercado cultural, o contexto histórico dos anos que vão de 1945 a 1966 se caracterizou por uma atmosfera de debates efervescentes nos meios culturais. A experiência histórica daqueles anos motivou indivíduos de diferentes áreas da cultura a se reunirem na busca

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de alternativas para renovar a linguagem artística, literária, cinematográfica. O propósito renovador desses grupos colocava em xeque, sob diferentes aspectos, o papel social da produção dos setores artísticos e literários e se deixou traduzir em eventos, grupos de vanguarda, manifestos, organização de instituições.

Em janeiro de 1945, a Associação Brasileira de Escritores promovia na ci-dade de São Paulo o I Congresso Brasileiro de Escritores. O evento reuniu di-versas figuras proeminentes do mundo literário e intelectual dos vários estados brasileiros.39 Dele, participaram tanto pessoas dedicadas à produção literária, stricto sensu, como especialistas em direito, antropologia, sociologia, história. Na reunião, foram discutidos assuntos tão variados como a relação do rádio com a literatura, os direitos autorais de escritores e jornalistas, a necessidade de refor-ma agrária no país, a renovação da literatura infantil, a edição de livros “instruti-vos”, a criação de bibliotecas ambulantes etc. Apesar da diversidade dos assun-tos abordados, percebe-se que os escritores estavam voltados para a questão da democratização da cultura, através do que avaliavam, sobretudo, as condições de divulgação de seu trabalho; mas buscavam também se posicionar frente a problemas sociais e políticos, discutindo temas como a reforma agrária.

A questão do papel social e político do escritor se evidencia, claramente, em um dos itens do manifesto entregue por um grupo de congressistas à As-sociação Brasileira de Escritores:

[...] que embora não se deva confundir agitação, propagan-da e literatura com a obra de arte e não seja possível atingir o escritor o máximo de sua força, na língua e no estilo, senão entregando-se na plenitude da liberdade, à sua própria inspi-ração, tenham presente os escritores a idéia de que somente a literatura e a arte que desempenham um papel social, servem à coletividade de seu tempo e se alimentam e se renovam em contato com todas as camadas sociais, podem realizar a comu-nhão fecunda entre o povo e os criadores da cultura.40

As discussões que ocorreram no I Congresso Brasileiro de Escritores dei-xam entrever o interesse pelo exame e pela redefinição do valor atribuído à produção cultural, a partir da perspectiva de sua inserção na sociedade. Re-

39. Cf. MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). São Paulo: Ática, 1978.p. 137-140.

40. Ibidem, p. 146.

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alizado no contexto histórico e político que marca o término do regime do Estado Novo, o evento antecipa a “linha” dos debates e das discussões que vão distinguir os movimentos liderados por grupos jovens a partir de meados dos anos 1950.

Naqueles anos, o concretismo marcou sua presença nos campos da lite-ratura e das artes plásticas, exprimindo o caminho tomado pelas vanguardas naquelas áreas da cultura. A poesia concreta fez sua estréia nas antologias Noigrandes, publicadas em 1955, 1956 e 1958. Nessa última, apresentava-se um plano piloto para a poesia concreta. Diz Alfredo Bosi41 que os poetas concretos buscavam “abandonar polemicamente o verso” por uma linha de sintaxe espacial. O grupo “concretista” concebia a arte como uma atividade produtora, um “objeto de linguagem”, por meio do qual se opunha às verten-tes intimistas da poesia.

Um dos objetivos do movimento era provocar uma crise nos hábitos cog-nitivos do leitor, através de uma estrutura estética inspirada na imagem. O “tema” não era tido como relevante, mas os poemas concretos expunham, no mais das vezes, aspectos da sociedade capitalista, focalizando mercadorias, anúncios publicitários, o comércio dos sentimentos. Na realidade, a proposta de renovação da linguagem poética deixava transparecer o despertar para as mudanças que então ocorriam: de um lado, valia-se da imagem e de seus efeitos sobre o leitor, recurso cada vez mais usado para a comunicação nos meios industriais capitalistas, de outro, privilegiava nas suas referências fatos que começavam a se tornar corriqueiros na vida cotidiana dos grandes centros urbanos do país naquela época.

O movimento concretista evidenciou-se também nas artes plásticas. O pro-jeto de um grupo de artistas plásticos – que se consideravam então “produtores da forma” – se aproximava daquele dos poetas, à medida que visava a manipular a forma de tal modo que ela produzisse uma nova organização visual, a qual atuaria sobre os hábitos tradicionais do espectador. A reprodução das criações deixou de ser censurada; afinal, buscava-se inserir a arte na sociedade, para que deixasse de ser um mero objeto de fruição. Nos anos 1950, o concretismo le-vava “a arte brasileira a ingressar no campo daqueles movimentos que mais radicalizaram as possibilidades abertas pela ‘arte moderna’ ”.42

41. Cf. BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 2 ed. São Paulo: Cultrix, 1980. p. 528. Os comentários feitos sobre o movimento concretista na literatura se encontram nas p. 528-536.

42. Cf. ZILIO, Carlos. Da antropologia à tropicália. In: ZILIO, Carlos; TAFETÁ, João Luiz; LEITE, Lígia Chiappine Moraes. Artes plásticas e literatura. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1983. p. 22-23.

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A mesma busca de uma linguagem artística que atuasse sobre o público, provocando a modificação de seus hábitos e despertando-o para problemas ou mudanças de ordem social, ocorreu no teatro, ainda que este guardasse suas especificidades. As experiências feitas por grupos como o Arena e o Oficina, em São Paulo, o Opinião, no Rio de Janeiro, o Teatro Popular do Nordeste, em Recife, e o Teatro de Equipe, em Porto Alegre, confirmam o empenho da classe teatral em pesquisar e modificar a escrita cênica. O Oficina, criado por um grupo de estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Pau-lo, exemplifica bem o interesse em romper com o estilo do teatro tradicional a partir da experiência vivida num contexto histórico específico.

Uma das características da tentativa de renovação dos grupos ligados ao teatro foi a escolha de temas que chamassem a atenção para problemas de ordem social e política, especialmente característicos da sociedade brasileira, típicos de países “subdesenvolvidos” ou comuns à sociedade burguesa e capi-talista de modo geral. Em 1960, o Oficina encenava duas peças. Uma de autor brasileiro inédito, tratava de problemas dos trabalhadores rurais do Paraná; a outra de autor estrangeiro tematizava a questão da libertação dos países latino-americanos, sempre ameaçados por regimes políticos autoritários. O propósito de mudança não se limitava, entretanto, aos temas, mas incluía a procura de no-vas modalidades de comunicação com o público, o que exigia intensa pesquisa de interpretação, feita em laboratório, com exercícios especiais.

Em 1962, o Oficina já se manifestava sobre as mudanças que vinham sendo postas em prática. Para o grupo a renovação no campo do teatro havia dado um grande passo, “com o aparecimento do autor nacional, a desofisticação do estilo de interpretação, e com a introdução dos temas políticos e sociais”.43 Porém, era preciso dar continuidade às inovações. Identificando-se como o grupo mais jovem a perceber que uma etapa do movimento havia se esgotado, o Oficina clamava pela necessidade de dar andamento a novos experimentos, o que o levou não só a encenar temas problematizados em diferentes épocas e lugares, como também às pesquisas que resultaram na proposta de uma nova relação palco/platéia. Almejava-se uma linguagem cênica que deixasse o público dividido e em “crise”, impedindo que se identificasse com aquilo que via, atitude mais costumeira na sua relação com o teatro.

O clima dos meios culturais estimulava e propiciava as mudanças e renova-ções. O comentário de Glauber Rocha, transcrito a seguir, é bem sugestivo: “em

43. Cf. PEIXOTO, Fernando. Teatro Oficina (1958 – 1982): trajetória de uma rebeldia cultural. São Paulo: Brasiliense, 1982. p. 30-31.

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1957-58, eu, Miguel Borges, Cacá Diegues, David Neves, Mário Carneiro, Paulo César Sarraceni, Leon Hirszman, Marcos Farias e Joaquim Pedro (todos mal saídos da casa dos vinte) nos reuníamos em bares de Copacabana e do Catete para discutir os problemas do cinema brasileiro. Havia uma revolução no teatro, o concretismo agitava a literatura e as artes plásticas, em arquitetura a cidade de Brasília evidenciava que a inteligência do país não encalhara. E o cinema?”44

A resposta dos cineastas brasileiros se fez sentir através do movimento co-nhecido como “Cinema Novo”. A I Convenção da Crítica Cinematográfica, realizada em São Paulo, em 1960, representou mais um passo na definição das alternativas que já vinham sendo buscadas pelo jovem grupo. Suas propostas para a produção de um cinema nacional independente, de bases não empre-sariais, ficam mais claras. O cinema de “autor” tornou-se um meio efetivo para enfrentar os problemas da grande produção. Os cineastas engajados no movimento passaram a valorizar na estrutura estética de suas criações a po-breza das técnicas que utilizavam, seja como uma escolha de estilo, seja como um meio para manter a independência do cinema nacional;45 os temas de sua preferência focalizavam prioritariamente problemas de ordem social. No início dos anos 1960, o “Cinema Novo” ganhava decididamente um lugar de destaque no plano da produção cultural brasileira.

Os movimentos de “renovação” nos campos da literatura, das artes plás-ticas, do teatro e do cinema espelham a efervescência que caracterizou os meios culturais de meados da década de 1950 até o início dos anos 1960. Em sua maioria, eclodiram no Rio de Janeiro e em São Paulo, sendo liderados por grupos jovens. As “soluções” que encontraram para romper com expressões artísticas tradicionais nos seus diferentes campos de atuação tinham em co-mum a relevância atribuída à inserção da produção cultural na sociedade. Fos-se ela sublinhada numa temática específica que retratasse problemas sociais, fosse enfatizada na busca de uma estrutura estética que atingisse os costumes e hábitos do público – despertando-o para as mudanças, de um modo ou de outro –, questionava-se uma faceta da produção cultural que dizia respeito a seu papel social.

Ao lado da crescente efervescência dos jovens grupos atuantes no campo da cultura, o início dos anos 1960 assistiu ao recrudescimento das lutas dos estudantes universitários, voltadas para a solução dos problemas educacionais

44. Cf. HOLLANDA, Heloisa Buarque de; GONÇALVES, Marcos Augusto. Cultura e participação nos anos 60. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. p. 35.

45. Cf. GALANO, Ana Maria. Die Revolutionäre Illusion des Cinema Novo. Filstudio, n. 56, Aa-chen, s/d., p. 26-27.

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e nacionais, como veremos mais adiante. Os Centros Populares de Cultura (CPCs) surgem, justamente, num contexto em que muitos dos jovens – que tinham acesso a bens privilegiados de educação e cultura – irrompiam no cenário cultural e político à procura de alternativas para os graves problemas que assolavam a grande maioria da população brasileira. O primeiro CPC foi organizado no Rio de Janeiro por um grupo, também jovem, de intelectuais e artistas e filiou-se em 1961 à União Nacional dos Estudantes, ganhando logo relevância. A UNE encarregou-se de criar outros centros semelhantes ao do Rio de Janeiro vinculando-se às Uniões Estaduais dos Estudantes (UEEs) em diversos estados brasileiros. Os integrantes dos CPCs pretendiam atuar junto às camadas populares da população brasileira – trabalhadores de baixa renda, operários, camponeses –, no sentido de lhes possibilitar a compreensão polí-tica da origem social de seus problemas imediatos (baixos salários, exploração, fome, miséria), por meio da divulgação de filmes, livros, cadernos de poesia, música etc., cujo conteúdo estivesse estreitamente relacionado ao esclareci-mento político daqueles problemas. Os CPCs desenvolveram uma atividade intensa no início dos anos 1960, encenando peças em porta de fábricas, fave-las, sindicatos, publicando livros, financiando filmes, gravando discos.

Além dessas atividades, o movimento dos CPCs difundiu e aprofundou a dis-cussão sobre o compromisso político e social dos setores artísticos e intelectuais com os problemas das desigualdades de classe e da independência nacional frente à dominação imperialista liderada pelos Estados Unidos. A experiência dos CPCs, baseada na prática, motivou, inicialmente, a reflexão sobre os limites de uma pro-dução cultural e artística comprometida politicamente, e de modo posterior, sobre a eficiência e também a validade da utilização daquela produção como meio de levar as camadas populares ao esclarecimento político de seus problemas.

Como ocorre com freqüência nos movimentos liderados por jovens, a posição transitória que antecede seu ingresso no mundo adulto e do trabalho lhes permite atitudes despojadas, aspirações ousadas, às vezes controvertidas e nem sempre realizáveis. É possível que o mesmo tenha ocorrido com os CPCs. Ainda assim, eles “marcaram época”, senão junto às camadas popu-lares, certamente nos meios intelectuais e artísticos, ao abordar uma de suas questões mais caras e polêmicas – o sentido social e político de suas obras.

Sem dúvida, a atmosfera de inquietação, debates e polêmicas que se apode-ra de grupos atuantes no campo da cultura mostra seu empenho na definição do sentido social e político da produção daquele setor. Tal inquietação ocorre justamente em um contexto histórico complexo, no qual a industrialização e

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o desenvolvimento do país não só se tornam as justificativas mais relevantes do projeto de dominação política das camadas dirigentes, como efetivamente passam a influir nas condições de vida de parcelas da população, trazendo à tona tanto as desigualdades sociais existentes, quanto a posição, privilegiada ou des-privilegiada, dos grupos na hierarquia social. Nessa configuração específica, os artistas e intelectuais questionam os meios utilizados para a elaboração de suas obras e os efeitos de sua divulgação junto ao público, exprimindo dessa forma seu despertar para o problema da inserção social da produção cultural.

3. Mudanças na vida intelectual

Ao lado das mudanças que ocorriam nos meios culturais, a expansão das universidades, as lutas estudantis e a participação da comunidade acadêmico-científica vão marcar definitivamente a vida intelectual do país no contexto dos anos que vão de 1945 a 1966.

3.1 A expansão das universidades

No período analisado, verifica-se uma expansão notável da rede de ensino superior no país. Basta dizer que o número de alunos matriculados em escolas de ensino superior se eleva de 27.253 em 1945, para 142.386 em 1964.46 Hou-ve, portanto, uma demanda crescente pelos títulos universitários de cunho profissional. O desenvolvimento dos setores burocráticos das empresas e a modernização dos meios políticos e administrativos do Estado criavam novas oportunidades de emprego, exigindo profissionais em áreas especializadas. O crescimento desse setor do mercado de trabalho repercutia, por sua vez, na definição dos campos de formação profissional oferecidos pelos estabe-lecimentos de ensino superior. Áreas do conhecimento que tradicionalmente eram ministradas no país, como a engenharia, ampliaram seus ramos de es-pecialização; outras adquiriam independência, como é o caso da economia. A disciplina foi ministrada primeiro nas Faculdades de Direito e nas Escolas de Engenharia, depois nos cursos de Ciências Sociais de Faculdades de Filosofia, e a partir de 1945 tornou-se uma área de formação específica com a criação das Faculdades de Economia.

46. Cf. CUNHA, Luiz Antônio. A universidade crítica. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1983. p. 93.

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A procura pela educação universitária costuma ser atribuída também às oportunidades que as camadas médias urbanas tiveram, naquela época, de realizar seus anseios de ascensão social por meio da conquista de um grau mais elevado de instrução. No Brasil, desde o século XIX, a instrução era valorizada como símbolo de prestígio social e um fator de ascensão social. O grau universitário não só assegurava maiores possibilidades de prestígio social, como um nível de renda superior àquele oferecido pelos demais graus de en-sino. A par disso, os diplomados em escolas superiores possuíam privilégios legais relativos ao exercício profissional, ocupação de cargos e outros.

No período em foco, as camadas médias urbanas foram sendo favore-cidas pela política econômica que lhes assegurava, comparativamente a ou-tras parcelas da população, um nível de renda mais elevado. Assim, famílias pertencentes àquelas camadas puderam retardar o ingresso de seus filhos no mundo profissional; ao mesmo tempo, as novas oportunidades de emprego na burocracia pública e privada, exigindo grau universitário, justificavam suas expectativas. Em tais condições, tornou-se ainda mais significativo o valor atribuído à instrução como um importante fator de diferenciação e distinção de classe, visto então como um meio para as camadas médias se aproximarem dos contingentes mais ricos no meio urbano. Analisando as classes sociais no Brasil, nos anos 1950 e 1960, Maria Isaura Pereira de Queiroz ressalta que a “instrução constituía ao mesmo tempo uma das vias de ascensão social, quan-to uma das barreiras que a impediam, e das mais importantes do país”.47

Diversas medidas governamentais foram tomadas para atender à demanda que provinha, de um lado, da expansão do mercado de trabalho nos setores da burocracia pública e privada, e de outro, das expectativas de ascensão social das camadas médias urbanas. A aglutinação de escolas isoladas e a organização de novas universidades foi facilitada por dois Decretos-Lei: o primeiro deles, nº 8.457, de dezembro de 1945, promulgado pelo presidente provisório, José Linhares, modificou as exigências estabelecidas pelo Estatuto das Universi-dades Brasileiras, de 1931, facilitando em grande medida a organização de novas universidades. O decreto permitia que uma universidade se organizasse com base em três faculdades, duas das quais deveriam ser escolhidas dentro das áreas da Filosofia, Direito, Medicina e Engenharia, diferentemente do Estatuto de 1931, que exigia a inclusão de três dentre aquelas áreas de forma-ção profissional. Desse modo, tornava-se possível fundar uma universidade sem que fosse preciso investir nas custosas áreas de Medicina e Engenharia.

47. Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit., p. 124.

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O segundo Decreto-Lei, nº 1.254, de 1950, federalizava estabelecimentos de ensino superior mantidos pelos estados, por municípios ou por particulares, efetivando os professores como funcionários públicos, com remuneração e privilégios iguais ao da antiga Universidade do Brasil.

Ao lado das medidas governamentais que facilitavam a criação das universida-des no país, outras foram tomadas para facilitar o acesso dos estudantes àquelas instituições. Conhecidas como “leis de equivalência”, os Decretos-Lei nº 1.076, de 1950, nº 1.821, de 1953 e nº 34.330, de 1953, visavam a fazer a equivalência dos cursos profissionais, comercial, industrial, normal ou agrícola ao antigo curso se-cundário, para efeito de progressão no sistema escolar. Outra medida diz respeito à gratuidade do ensino. A Constituição de 1946 estabelecia que o ensino superior oficial deveria ser pago pelos estudantes, exceto aqueles que, demonstrando suas habilidades, fossem carentes de recursos financeiros. Porém, embora as taxas de pagamento nunca tivessem sido abolidas, elas foram mantidas em seu valor nomi-nal, de tal modo que a inflação as desvalorizou, não valia a pena cobrá-las.

As medidas governamentais que fomentaram a expansão da rede de ensino su-perior foram adotadas, em sua maioria, durante o período no qual tramitou no Con-gresso a famosa Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O anteprojeto de lei dava cumprimento à determinação da Constituição de 1946 de regulamentar, em nível nacional, todos os níveis de ensino, inclusive as universidades. O estudo foi formulado na gestão do Ministro da Educação, Clemente Mariani, e entregue ao Congresso em 1948. Durante treze anos, o anteprojeto suscitou profundos debates e opiniões de tal modo divergentes, oriundas de grupos atuantes no campo da educação, que somente em 1961 foi aprovado pelo Congresso. O fato é bastante sugestivo. Mostra, de um lado, que a demanda pela educação universitária foi notável a ponto de pressionar a adoção de medidas governamentais, sem que houvesse uma diretriz consensual para o conjunto das atividades educacionais no país; por outro lado, indica que o crescimento das universidades se fez à revelia de um projeto para essas instituições, e de um plano que abrangesse e integrasse os diferentes graus de ensino.

O resultado das demandas pela educação universitária e das medidas to-madas pelo governo federal se fizeram sentir, principalmente, a partir de me-ados da década de 1950.

Segundo Luiz Antônio Cunha, no período de 1954 a 1964 o ensino superior no Brasil organizou-se de forma predominantemente universitária, contribuindo as universidades com cerca de 63% do total de matrículas.48 O processo de fede-ralização, iniciado em 1950, concorreu para que escolas isoladas mantidas pela

48. Cf. CUNHA, Luiz Antônio. Op. cit., p. 97.

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União, em diversas capitais brasileiras, se reunissem e se transformassem em uni-versidades. No período em estudo, somente a Universidade de Brasília escapou desse processo de aglutinação. Criada em 1961, em regime de fundação de direito público, pretendia ser um modelo para o ensino superior no Brasil, capaz de in-fluir na estrutura de outras universidades e escolas superiores.

Em 1954, havia 16 universidades no país, com cinco delas mantidas por instituições confessionais e 11 pelo Estado, através do governo federal e de governos estaduais. De 1955 a 1964, foram criadas 21 universidades, sendo cinco mantidas por instituições religiosas e as demais pelo Estado. Em 1964, havia 30 universidades no Brasil. Entretanto, esse crescimento surpreendente não foi suficiente para equilibrar a oferta e a demanda do ensino superior. Em 1964, o número de candidatos ao vestibular era 2,5 vezes maior do que em 1946, e o número de vagas 2,1. A relação de candidatos por vagas continuava a crescer, mas variava muito de acordo com os cursos: “enquanto a relação candidato/vagas dos cursos de Direito se mantinha no nível de 1,7, a dos cursos de Engenharia aumentava de 2,9 para 3,6 e de Medicina de 5,4 para 7,6”, diz Luiz Antônio Cunha.49 A par disso, crescia o número de candidatos aprovados no vestibular que não podiam matricular-se devido à limitação das vagas, surgindo nesse contexto a figura do “excedente”.

3.2 As lutas estudantis

Enquanto o Estado tomava medidas no sentido de ampliar o número de universidades e abrir os canais de acesso ao ensino superior, a partir da se-gunda metade da década de 1950, irromperam lutas contínuas dos estudantes universitários que reivindicavam melhores condições de estudo nas universi-dades e, tomando posições políticas com relação a graves problemas sociais, terminaram questionando a ordem social do país.

Criada em 1938, a União Nacional dos Estudantes (UNE) reuniu univer-sitários de diversos estados brasileiros através das Uniões Estaduais de Estu-dantes (UEES). Sua influência na condução das lutas estudantis foi decisiva. Durante a década de 1940, fizeram parte da UNE estudantes que apoiavam o movimento socialista, ou pertenciam ao Partido Socialista Brasileiro. No entanto, o peso político dos jovens filiados à União Democrática Nacional (UDN) foi, certamente, responsável pelas decisões tomadas pela entidade em

49. Ibidem, p. 97.

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seus primeiros anos. Somente a partir de 1955, a atuação de grupos de estu-dantes socialistas e comunistas se destacou, vindo então a marcar os rumos políticos do movimento estudantil. A UNE empreendeu campanhas contra a inflação e contra as influências norte-americanas nos “negócios” políticos do país. Paralelamente, empenhou-se na organização de seminários cujo ob-jetivo era discutir questões relativas à democratização do ensino, tema central do I Seminário Latino-Americano de Reforma e Democratização do Ensino Superior, realizado em 1960 na cidade de Salvador. Além disso, a entidade tratou também da reforma universitária, cujos debates se iniciaram em 1961, no I Seminário Nacional de Reforma Universitária, reunido em Salvador. O temário dessa reunião incluiu tópicos como exame vestibular, administração da universidade e participação do corpo discente, autonomia universitária, cátedra vitalícia, tempo integral para o corpo docente, mercado de trabalho e função da universidade.

Contudo, foram os debates e as resoluções do II Seminário Nacional de Reforma Universitária, reunido em Curitiba em março de 1962, que levaram os estudantes a direcionar os rumos de seu movimento com base em posições tomadas frente a problemas políticos de maior amplitude. Durante o seminário, foram discutidas questões como a divisão do mundo em dois blocos políticos, as desigualdades socioeconômicas das populações dos países subdesenvolvidos e o papel da universidade nessas sociedades. A partir do encontro, os estudantes, sob a liderança da UNE, passaram a defender a realização de reformas imedia-tas que, efetivamente, conduzissem o país ao desenvolvimento, posicionando-se então a favor das classes sociais desprivilegiadas e questionando a posição “alie-nada” da universidade diante dos problemas reais do país.

A definição de novas perspectivas e alvos políticos resultou, de um lado, em um maior empenho do movimento estudantil pela reforma universitária, e de outro, na intensificação das ações voltadas para o esclarecimento político das camadas populares.

As lutas pela reforma universitária influíram nas decisões que vieram a ser tomadas pelos órgãos governamentais responsáveis pelas mudanças no ensi-no superior, seja no período de foco, seja nos anos seguintes, quando se com-pletou o plano da reforma universitária em 1968. Porém, as reivindicações dos estudantes, entre elas a participação estudantil no processo decisório relativo à vida universitária, não foram atendidas de acordo com suas expectativas.

Entretanto, a atuação dos estudantes junto às camadas populares tomou grande vulto e repercutiu em diferentes setores da sociedade, vindo a marcar,

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definitivamente, a polêmica sobre o papel político da camada intelectual e ar-tística. Essa observação já havia sido feita em item anterior, quando tratamos dos Centros Populares de Cultura filiados à UNE. Note-se, contudo, que os estudantes não se limitaram a fazer uso de meios culturais em seu propó-sito de levar as classes populares à consciência política de seus problemas. Ocuparam-se também, intensamente, da educação de adolescentes e adultos, visando sobretudo alfabetizá-los. A partir de março de 1961, muitos jovens se integraram em programas de alfabetização, organizados pelo Movimento de Educação de Base (MEB), instituído pelo governo federal através do De-creto-Lei nº 50.370. A UNE criou uma Comissão de Alfabetização em outu-bro do mesmo ano. Após o II Seminário Nacional de Reforma Universitária, reunido em 1962, a entidade dispôs-se a promover uma ampla campanha de alfabetização de adultos, definindo assim a educação popular como uma de suas principais metas. Para a consecução de seus objetivos utilizou os Centros Populares de Cultura que havia criado em diversos estados brasileiros.50

No início dos anos 1960, os estudantes universitários questionaram a es-trutura social do país e tomaram o partido das classes subalternas, sujeitas à exploração contínua de sua força de trabalho. O despertar para esse problema provocou enorme efervescência nos meios estudantis, levando seus integran-tes a intensas atividades em diversos pontos do país.

3.3 Aparticipaçãodacomunidadeacadêmico-científica

A expansão das universidades e as lutas estudantis se fizeram acompanhar de grande mobilização de cientistas e professores universitários brasileiros. Como ocorria em outros setores dos meios intelectuais e artísticos, a redemo-cratização do país e a experiência das mudanças sociais e econômicas estimu-laram muitos deles à participação ativa, quer na organização de instituições de pesquisa, criação de órgãos de apoio à ciência ou associações voltadas para a divulgação do conhecimento científico, quer em movimentos cujo objetivo era a reforma do ensino superior.

Os esforços e as iniciativas de grupos dos meios acadêmicos e científicos, no contexto que vai de 1945 a 1964, mostram a importância e o valor que passou a ser atribuído à cultura e formação técnico-científica em detrimento

50. Sobre os movimentos voltados para a educação popular ver MANFREDI, Silvia Maria. Política: educação popular. São Paulo: Símbolo, 1978. p. 43-59.

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da formação letrada clássica, baseada em estudos humanísticos tradicionais, que, predominante nos meios intelectuais brasileiros, vai de fato assumir uma posição de menor destaque e prestígio, justamente naquele período. Por outro lado, a importância da produção e formação científica era justificada pelos be-nefícios que a ciência poderia trazer ao desenvolvimento social e econômico do país. Ao analisar a formação da comunidade científica no Brasil, Simon Schwartzman comenta que “a noção de que a ciência e o ensino deveriam vol-tar-se mais decisivamente para problemas econômicos e sociais da realidade brasileira era, evidentemente, bastante difundida entre cientistas e professores universitários brasileiros do pós-guerra o que levava a um contínuo debate sobre a melhor forma de organizar e estimular o sistema de educação superior e a pesquisa científica no país”.51

O empenho em fazer reconhecer o valor da ciência como um instrumen-to indispensável para o desenvolvimento socioeconômico de base industrial se traduz em diversas iniciativas tomadas por integrantes da comunidade acadêmico-científica. Uma delas, foi a criação da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em 1948, na cidade de São Paulo.52 A SBPC foi um dos marcos mais importantes da formação da comunidade acadêmica no Brasil, promovendo desde sua criação reuniões anuais em diferentes cidades do país e publicando a revista Ciência e Cultura, desde 1949.

No decorrer daqueles anos, foram criados também institutos e centros de pesquisa. Em 1949, organizava-se o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), como um órgão autônomo que, inicialmente, recebeu subvenções votadas pelas Câmaras Federal e Municipal, além de contribuições da Con-federação Nacional da Indústria. O CBPF foi a alternativa encontrada para

51. Ver SCHWARTZMAN, Simon. Formação da comunidade científica no Brasil. São Paulo: Nacional; Rio de Janeiro: Financiadora de Estudos e Projetos, 1979. p. 287.

52. A SBPC tinha por objetivos: “a) a justificação da ciência, mostrando ao público seus progres-sos, seus métodos de trabalho, suas aplicações e até mesmo suas limitações buscando criar em todas as classes, e conseqüentemente na administração pública, atitude de compreensão, apoio e respeito para as atividades de pesquisa; b) robustecimento da organização científica nacional, pela melhor articulação dos cientistas, pelo seu mais íntimo conhecimento mútuo, numa tentativa de unir as diversas especialidades e dissipar eventuais incompreensões por meio de ações conjuntas, pelo incentivo à formação de novos pesquisadores e ainda pela remoção de entraves que se oponham ao progresso da ciência; c) pela manutenção de elevados padrões de conduta científica, e ao mesmo tempo, combate à pseudo e à meia ciência, que tantas vezes tomam posições que deveriam pertencer à verdadeira ciência; d) assumir atitude definida e ativa de combate, no sentido de assegurar, contra possíveis incompreensões, a liberdade de pesquisa, o direito do pesquisador aos meios indispensáveis de trabalho, a estabilidade para a realização de seus programas de investigação, ao ambiente favorável à pesquisa desinteressada”. Cf. Ciência e Cultura , v. 1, n. 1, São Paulo: SBPC, 1949. p. 1-2. apud: MOREL, Regina Lúcia de Moraes. Ciência e estado: a política científica no Brasil. São Paulo: T. A. Queiroz, 1979. p. 42.

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superar as dificuldades de ordem administrativa e financeira existentes na an-tiga Universidade do Brasil, que impediam o desenvolvimento da pesquisa naquela instituição. Na área da física, foram criados também o Instituto de Pesquisas Radioativas, em 1953, em Minas Gerais, e o Instituto de Energia Atômica, junto à Universidade de São Paulo, em 1956.

Iniciativas semelhantes ocorriam em outros ramos do conhecimento cien-tífico, demonstrando que o interesse e o esforço despendido para a implan-tação de condições indispensáveis para a produção científica não constituí-ram, naquele contexto, um fato isolado. No campo das ciências sociais, por exemplo, surgiram naquela época diversas instituições, entre elas o Instituto Joaquim Nabuco, em 1949, em Recife, o Instituto Brasileiro de Estudos Políti-cos, em 1953, que se transforma em Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), em 1955, e o Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais (CLAPS), em 1957, no Rio de Janeiro.

Quer se constituíssem como órgãos autônomos como o CBPF, quer fossem vinculados ao governo federal como o ISEB, a organismos interna-cionais como o CLAPS, ligado à UNESCO ou a uma universidade, como o Instituto de Energia Atômica, multiplicaram-se as instituições voltadas para a pesquisa e com elas, conseqüentemente, o número de congressos, semi-nários, reuniões científicas e revistas especializadas. As ações empreendidas por professores universitários e cientistas deram nova feição às atividades voltadas para a produção de conhecimento científico, que no decorrer da-queles anos deixavam de ser fruto de esforços individuais isolados e pas-savam a ser vistas como resultado de empreendimentos coletivos e custo-sos. As medidas que levaram, em 1951, à criação do Conselho Nacional de Pesquisa, cujo nome mudou para Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e da Campanha de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior, atualmente denominada Coordenação de Aper-feiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), institucionalizando no país uma política científica,53 atestam, ainda uma vez, o teor das mudanças que se efetuavam nos meios científicos. Enquanto o CNPq tinha por fina-lidade estimular o desenvolvimento da investigação científica e tecnológi-ca em qualquer domínio do conhecimento, a CAPES pretendia promover “uma campanha para a melhoria do ensino superior no país e a realização de medidas destinadas a assegurar a existência de um quadro de técnicos, cientistas e humanistas suficientes para atender às necessidades dos empre-

53. Ver MOREL, Regina Lúcia de Moraes. Op. cit., p. 43-50.

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endimentos públicos e privados que visam ao desenvolvimento econômico e cultural do Brasil”.54

A obtenção de apoio e recursos financeiros para a formação de pesquisa-dores e produção de conhecimento resultaram, também, de acordos assinados entre o Ministério da Educação e Cultura e o governo norte-americano, ou instituições privadas como a Fundação Ford e a Fundação Rockfeller. Entre as áreas mais beneficiadas por esses recursos destaca-se o Instituto Tecnoló-gico da Aeronáutica, que deu início às suas atividades em 1947, e ocupou as instalações em São José dos Campos em 1950, com o propósito de dinami-zar o ensino superior, vinculando-se à pesquisa e à investigação tecnológica. Contudo, os maiores investimentos foram feitos no campo da agronomia na antiga Universidade Federal do Estado de Minas Gerais, na Universidade de São Paulo e na Universidade do Rio Grande do Sul, em programas que pre-tendiam conjugar o ensino e a pesquisa com o intuito de favorecer o cresci-mento da produção agrícola.55

Ao lado dessas iniciativas e medidas, grupos da comunidade acadêmico-científica participaram de movimentos voltados para a melhoria do ensino no país, como mostra sua atuação na Campanha de Defesa da Escola Pública que eclodiu em São Paulo, em 1959. Manifestos, artigos e editoriais veicula-dos por jornais de grande circulação, comícios e convenções fizeram parte da campanha, cujo objetivo era a expansão e consolidação do ensino público em todos os níveis, visto então como uma condição necessária à democracia e ao desenvolvimento industrial no país.

Sem dúvida, as mudanças socioeconômicas fomentadas pela industriali-zação possibilitaram o conjunto das ações empreendidas nos meios univer-sitários e científicos, que visavam a edificar as bases indispensáveis para a produção científica e a formação de profissionais qualificados.

54. Ibidem, p. 46.55. Ver CUNHA, Luiz Antônio. Op. cit., p. 191.

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Em que medida o contexto histórico do período que vai de 1945 a 1966 possibilitou à produção das ciências sociais expandir-se e modificar seu hori-zonte temático, assim como suas abordagens? O objetivo desse capítulo é, ini-cialmente, confrontar as características das pesquisas no campo das ciências sociais, observadas no conjunto de livros constante do acervo da Biblioteca Nacional, com as especificidades históricas e sociais daquele período; e, poste-riormente, com base no resultado desse confronto, apontar questões relativas ao processo de desenvolvimento das ciências sociais no Brasil.

As relações entre o conhecimento e as condições histórico-sociais desper-taram a atenção de estudiosos europeus no decorrer do século XIX, levando-os a expor os problemas concernentes à constituição social e histórica de diferentes modalidades do saber. Na realidade, as transformações provenien-tes da revolução industrial-capitalista, atingindo as relações entre indivíduos e grupos, como também as verdades secularmente estabelecidas, criaram, na-quele período, possibilidades para um duplo questionamento: da formação e organização da vida social, da constituição e validade do conhecimento. Por isso, ao examinar as origens e o desenvolvimento da sociologia do conheci-mento, Georges Gurvitch diz que, de certo modo, ela é “tão antiga quanto a própria Sociologia”1 mostrando que sua problemática específica estava pre-sente nas obras dos fundadores da sociologia, Augusto Comte e Karl Marx, entre outros.

Nas primeiras décadas desse século, a sociologia do conhecimento ganhou novo impulso e passou a ser vista como uma área de especialização, desta-cando-se entre os esforços feitos nesse sentido a obra de Karl Mannheim. Referindo-se particularmente ao desenvolvimento das disciplinas das ciências

1 Cf. GURVITCH, Georges. Traité de Sociologie. Paris: PUF, 1960. t. II. p. 103.

IVContInuIdade e Mudança

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sociais, afirmava o sociólogo, em 1929, que uma das tarefas da sociologia do conhecimento era a de nos capacitar para ver porque a Sociologia e a Econo-mia se formaram mais recentemente, e porque progrediram em um país e foram acossadas por tantos obstáculos em outros. Igualmente possibilitaria resolver um problema que sempre permaneceu sem resposta, ou seja, porque não presencia-mos ainda o desenvolvimento da Ciência Política.2

Às preocupações de Karl Mannheim foram acrescentadas mais recen-temente as de Wolf Lepenies.3 Na década de 1980, ao questionar a história da sociologia, ele retoma o mesmo problema, observando, porém, que o diagnóstico de uma disciplina não deve prescindir da observação, primei-ro, do estudo preferencial de um grupo de disciplinas em certos países, sendo indispensável, portanto, levar em conta o significado do caráter nacional (expressão usada pelo autor) na análise dos diferentes campos disciplinares; segundo, das relações que as disciplinas estabelecem entre si, ora de vizinhança, ora de concorrência, sendo algumas “modelo”, enquan-to outras são reconhecidas como “auxiliares”. Segundo o autor, somente a análise dessas relações em um contexto histórico nacional poderia for-necer a base para o exame do desenvolvimento do trabalho intelectual no âmbito das ciências sociais.

Voltando-se para a mesma questão em épocas distintas, o exemplo desses sociólogos revela aqui apenas que a sociologia não só deu continuidade ao estudo das relações entre conhecimento e condições histórico-sociais, como vem se ocupando particularmente com as características do desenvolvimento das ciências sociais. Com efeito, outros especialistas como Florian Znaniecki, Robert Merton, Anthony Giddens e Pierre Bourdieu apresentaram contribui-ções relevantes para ampliar o acervo das pesquisas nessa área.4

No Brasil, o interesse dos cientistas sociais em avaliar a produção de seu campo intelectual vem se esboçando desde finais da década de 1940. Já foi visto que no período entre 1945 e 1966 há livros sobre o assunto, a maioria no campo da sociologia, o que demonstra a atenção para esse tema, muito embo-ra as obras sejam pouco numerosas. A partir da década de 1970, começam a

2 Cf. MANNHEIM, Karl. Ideologia y Utopia. 2 ed. Madrid: Aguilar, 1966. p. 166-167.3 Ver a introdução de Wolf Lepenies, Estudos sobre a identidade cognitiva, social e histórica da

sociologia. In: LEPENIES, Wolf (Org.). Geschichte der Soziologie. Frankfurt a/Main: Suhrkamp Verlag, 1981, v. I. p. 1-35.

4 ZNANIECK, Florian. Social role of the man of knowledge. New York: Columbia University Press, 1940; MERTON, Robert K. Sociologia, teoria e estrutura. São Paulo: Mestre Jou, 1968; GIDDENS, Anthony. Capitalism and modern social theory. Cambridge: Cambridge University Press, 1971; BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1974.

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aparecer com mais freqüência pesquisas visando ao exame seja do pensamen-to social, seja especificamente da produção das ciências sociais.5

Observando as questões tratadas nesses trabalhos, em artigo intitulado “Desenvolvimento das Ciências Sociais na América Latina e contribuição eu-ropéia: o caso brasileiro”, Maria Isaura Pereira de Queiroz diz que as investi-gações sobre as ciências sociais feitas no Brasil e em outros países da América Latina, de modo geral, seguiram o ponto de vista da “história das idéias” ou fundamentaram suas análises na diferença entre os países desenvolvidos e os países subdesenvolvidos. Segundo a autora,

Deixam-se assim completamente de lado as peculiaridades das Ciências Sociais em diversos países latino-americanos e também as condições internas do país cuja produção científica se analisa. O pendor mais forte dos estudiosos é para descobrir as corren-tes do pensamento oriundas do exterior e sua influência sobre os pesquisadores nacionais. Mesmo que se reconheça ser necessário analisar a situação interna do país, não se leva adiante uma investi-gação que esclareça qual é ela e se pode ou não exercer uma função determinante.6

Outra linha de investigação sobre a produção intelectual brasileira privile-gia o exame de seus “conteúdos” ideológicos. Para esses autores, os estudos

5 Ver entre outros estudos publicados a partir da década de 1970: QUEIROZ, Maria Isaura Perei-ra de (Coord.). Introdução ao estudo da sociologia. São Paulo: IEB/USP, 1971; da mesma autora: De-senvolvimento das ciências sociais na América Latina e contribuição européia: o caso brasileiro. Ciência e Cultura, v. 41, n. 4, abr. 1989; FERNANDES, Florestan. A sociologia no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1977; IANNI, Octavio. Sociologia da sociologia latino-americana. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971; do mesmo autor: Sociologia e sociedade no Brasil. São Paulo: Alfa-Omega, 1975; LAMOUNIER, Bolívar; CARDOSO, Fernando Henrique. Bibliografia de ciência política sobre o Brasil (1949-1974). Dados, Rio de Janeiro, n. 18, 1978; MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). São Paulo: Ática, 1978; PEIRANO, Mariza. Anthropology of anthropology: the brazilian case. 1980. Tese de doutoramento. Harvard University; MORAES, Eduardo Jardim de. A construção da idéia de modernidade no modernismo. 1983. Tese de doutoramen-to. Universidade Federal do Rio de Janeiro; MACIEL, Maria Lúcia. La recherche en Sciences Sociales et son contexte politique – Brésil 1968-1982. 1985. Tese de doutoramento. Université de Paris VII; OLIVEIRA, Lúcia Lippi. A questão nacional na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1990; MELATTI, Julio Cezar. A antropologia no Brasil: um roteiro. BIB – Revista Brasileira de Informa-ção Bibliográfica em Ciências Sociais, n. 17, 1984; MICELI, Sergio (Org.). A história das ciências sociais no Brasil. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1989.

6 Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. 1989. Op. cit., p. 378-379.

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ideológicos se distinguem dos estudos científicos, uma vez que, carentes de evidências empíricas, apresentam na sua formulação um comprometimento com idéias e ideais políticos voltados para a construção e desenvolvimento da nação. De acordo com essa linha de investigação, a intenção de justificar pro-jetos ideais para a sociedade brasileira precedera e acompanhara o processo de realização de diversos trabalhos, e impedira o distanciamento necessário para o cumprimento das regras do labor científico. Em Ideologia da Cultura Brasileira (1933-1974), por exemplo, Carlos Guilherme Mota focaliza aspectos ideoló-gicos da produção intelectual no Brasil num importante período da vida po-lítica e cultural; Caio Navarro de Toledo aprofunda a discussão sobre o tema, analisando estudos elaborados por integrantes do antigo Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB).7

Constituem com freqüência o foco de análise de pesquisas que procu-ram medir a evolução das ciências sociais no Brasil instituições voltadas tanto para a produção de estudos e pesquisas, quanto para a formação de cientis-tas sociais, averiguando-se sua autonomia com relação ao campo das ações, idéias e ideais políticos. Consideram esses estudos que no Brasil a formação da camada intelectual esteve estreitamente vinculada aos anseios e ideais de ordem política, e questionam, na realidade, as possibilidades de formação e consolidação de instituições adequadamente voltadas para a produção de co-nhecimento científico existente no país. Textos que integram o livro História das ciências sociais no Brasil,8 organizado por Sergio Miceli, oferecem uma visão dessa perspectiva que dá prioridade ao conhecimento de características de instituições brasileiras voltadas para as ciências sociais.

Reconsiderando esses problemas, sob outro ângulo, Mariza Peirano anali-sa a trajetória e as obras de cientistas sociais brasileiros, e mostra em Anthro-pology of anthropology: the brazilian case,9 como em um contexto social e histórico particular os conteúdos ideológicos podem estar presentes e caracterizar es-pecificidades de estudos em ciências sociais, sem prejuízo do valor científico desses trabalhos.

De modo geral, entretanto, a contribuição da maioria dos estudos tem sido relevante para medir os avanços da institucionalização das ciências sociais no país. Porém, ao avaliar em que medida os projetos ideais para a sociedade

7 Cf. MOTA, Carlos Guilherme. Op. cit.; TOLEDO, Caio Navarro de. ISEB: Fábrica de ideologias. São Paulo: Ática, 1977.

8 Cf. MICELI, Sergio. Op. cit9 Cf. PEIRANO, Mariza. Op. cit.

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brasileira estiveram presentes seja na organização de instituições, seja na men-talidade de grupos de cientistas sociais, interferindo no processo de conhe-cimento científico da sociedade, esses estudos deixam entrever que a análise das questões abordadas se faz em grande medida sob o prisma de um “padrão ideal” para a ciência.10

Como se vê, no contexto brasileiro, a análise da produção de conhecimento no campo das ciências sociais parece tomar duas direções básicas. A primeira delas tem como ponto de partida a posição do país no sistema mundial de domi-nação política e termina por questionar as características dos estudos de autores brasileiros à luz do padrão da produção científica de países econômica, política e culturalmente mais desenvolvidos; a segunda faz convergir o foco da análise para as instituições brasileiras voltadas para as ciências sociais ou para grupos de cien-tistas, com o propósito de averiguar o grau de autonomia do campo da produção científica frente ao campo dos ideais e das ações políticas.

O presente estudo faz parte, assim, de um conjunto de pesquisas e inda-gações sobre as peculiaridades e o desenvolvimento das ciências sociais no Brasil. Nele, entretanto, buscou-se examinar a evolução desse campo do saber contemplando sua produção efetiva nos anos de 1945 a 1966. Para tanto, delineia-se de início o perfil dos estudos em ciências sociais do ponto de vista de seus temas e disciplinas; em seguida, são apresentados os traços específicos do contexto histórico e social das décadas em foco. Nesse capítulo, passa-se a examinar em que medida as circunstâncias histórico-sociais constituíram um fator relevante para a compreensão das características que as ciências sociais apresentaram no período abordado.

1. O desenvolvimento das ciências sociais

Ao ser examinada a produção das ciências sociais, do ponto de vista de sua divulgação em livro no período entre 1945 e 1966, vê-se que os meados da década de 1950 constituíram um marco significativo no processo de de-senvolvimento daquele campo do saber no Brasil. A partir daquela data, veio a público um conjunto quantitativamente relevante de obras, apresentando

10 A respeito desse problema, Norbert Elias comenta que as teorias sociológicas da ciência que para ele postulam um ideal, relegam a um segundo plano a pesquisa efetiva de seu processo social de desenvolvimento e acabam correndo o risco de retirar de seu foco de análise as profundas diferenças inerentes àquele processo. Ver ELIAS, Norbert. Was ist Soziologie? 5 ed. Weinheim/Muenchen: Juventa Verlag, 1986. p. 51-74.

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um leque de assuntos bem mais diversificado se comparado àquele publicado na década anterior. As ciências sociais asseguraram naquela ocasião, a julgar pelos dados analisados, uma forma de difusão acessível a um público mais amplo e diferenciado, garantindo e ampliando o diálogo entre gerações inte-ressadas no conhecimento da vida social.

A produção das ciências sociais se expande, portanto, no período histórico em que a industrialização toma seu rumo definitivo no país. Viu-se que, a partir de meados da década de 1950, as mudanças na infra-estrutura socioeconômica relativas à consolidação e integração do setor industrial levaram à modificação de outros setores da vida nacional que vinham esboçando sinais de transformação, mas somente naqueles anos apresentaram mudanças efetivas. Tais modificações se evidenciaram no aumento da população, na expansão das camadas médias, na importância da classe operária no cenário econômico e social, nas modificações havidas na estrutura burocrática do Estado, nos movimentos políticos no campo e na cidade, na radiodifusão, no cinema, na publicidade. A experiência dessas mu-danças gerava um novo horizonte de expectativas com relação aos destinos do país, que decerto favorecia duplamente a produção e recepção do conhecimento, criando assim um terreno fértil para a expansão das ciências sociais.

Sem dúvida, esse quadro de mudanças criou possibilidades materiais para a ampliação de um mercado para as ciências sociais. O número de universidades e estudantes cresceu notadamente, intensificando-se a participação dos cien-tistas na construção da comunidade científica. Tal crescimento incrementava o aparecimento de maior quantidade de editoras e a expansão das livrarias. Pa-ralelamente, cresciam também as chances intelectuais propícias, provenientes da vivência das transformações que marcavam aquela época. A transformação econômica e, principalmente, industrial do país era concomitante com uma ampliação de produção cultural no campo das ciências sociais.

A situação histórica e social emergente naqueles anos, criando uma de-manda comum de conhecimentos que explicassem os fatos observados e vi-venciados, aproximava cientistas sociais e leitores. Nessas circunstâncias, as chances de abordar assuntos voltados para a elucidação das mudanças especí-ficas e profundas da vida nacional ultrapassavam a escolha de temas relativos ao desenvolvimento do conhecimento científico em si mesmo.

A par disso, outro fator vantajoso para a expansão das ciências sociais na-quela época foi o caloroso debate sobre o papel social e político da produção cultural, incentivado por setores atuantes nos meios culturais e intelectuais. Na realidade, a partir de meados da década de 1950, as discussões sobre os

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compromissos da camada intelectual com os problemas do desenvolvimento e das desigualdades sociais ganharam tal relevância que chegaram a influir em iniciativas e empreendimentos, como a criação dos Centros Populares de Cul-tura, dos movimentos de alfabetização, no aparecimento do Cinema Novo, que não só trouxeram novas perspectivas culturais, educacionais e intelectuais, como marcaram definitivamente os seus rumos. Os debates que se traduziam em seguida em ações efetivas davam vantagens às ciências sociais sobre outras formas de conhecimento, uma vez que, de certo modo, realçavam o caráter instrumental de seus estudos. Pois não se destinavam eles a ser um meio es-pecífico de compreensão dos fatos sociais, cujos resultados poderiam vir a ser utilizados na reformulação de idéias e na orientação da ação de grupos sociais? O sentido social que caracteriza a identidade das ciências sociais ia ao encontro de um novo modo de encarar o sentido e a utilidade da produção cultural que se expandia naqueles anos, por mais distintas que tenham sido as direções tomadas pelos debates.

A partir de meados da década de 1950, conjugaram-se, pois, quatro fatores favoráveis ao desenvolvimento das ciências sociais: a ampliação do público universitário e letrado do país; a consolidação da indústria do livro; uma de-manda de conhecimentos oriunda das mudanças que imprimiam uma nova feição à sociedade brasileira; e a consciência de que a produção cultural, nos seus mais diversos aspectos, poderia exercer um papel atuante na solução de problemas de ordem social e política.

As circunstâncias histórico-sociais emergentes nos meados dos anos 1950 permitiram que as ciências sociais tivessem um lugar de maior relevo no con-junto da produção intelectual do país, do que na fase anterior. Tal posição re-sultava de um longo processo iniciado quando surgiram os primeiros estudos de autores brasileiros neste campo do saber e, a partir da década de 1930, o impulso dado pela formação de cientistas sociais nas Faculdades de Filosofia foi um passo decisivo para que, na década de 1950, a expansão das ciências sociais permitisse que elas aparecessem já com relevo no sistema de produção de bens culturais no Brasil, vindo a fazer parte importante dos debates intelectuais.

2. A relevância dos problemas brasileiros

Um dos traços que sobressai no conjunto da produção das ciências sociais, tal como analisada no segundo capítulo, é a importância dada pelos cientis-tas sociais e seus leitores a questões concretas da sociedade brasileira. Os

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estudos de caráter teórico/abstrato ou teórico/metodológico ficam relega-dos a segundo plano. Ao distinguir as “obras sobre a disciplina” das “obras sobre temas específicos” (quadro I, cap. 2), se pode ver que a grande maioria dos estudos da amostra converge para a investigação de problemas existentes dentro dos limites da sociedade nacional, quer seja no primeiro conjunto de livros publicados nos anos 1945–1955, quer seja nas obras datadas dos anos 1956–1966.

Este dado é importante uma vez que, com base em material de análise, confirma observações feitas por pesquisadores das ciências sociais a partir de outras informações. Abordando essa questão, Maria Isaura Pereira de Queiroz mostra que as investigações feitas por autores brasileiros, desde meados do sé-culo XIX até os anos 1930, formaram um acervo já importante; evidenciava-se que “o Brasil fora e continuava sendo o grande enigma a ser decifrado em seus aspectos sócio-antropológicos, étnicos e culturais”,11 sugerindo a autora que a busca de identidade fora um móvel importante para a evolução das ciências sociais.

Retomando o assunto, Mariza Peirano sublinha que a produção das ciên-cias sociais, após os anos 1930, ter-se-ia deixado marcar pelos ideais de “cons-trução da nação”, de que estavam imbuídos seus especialistas; a pesquisa an-tropológica se circunscrevera predominantemente aos problemas nacionais, não fazendo parte de seu foco de interesse as questões mais gerais e abstratas, cultivadas habitualmente por cientistas europeus.12

Os motivos que tornam compreensível a relevância conferida pelas ci-ências sociais aos problemas concretos do país, de acordo com esses dois trabalhos, costumam ser atribuídos ora ao desejo de conhecer a identidade brasileira, ora às idéias de “construção da nação”.

A análise efetuada aqui partiu de outro ponto de vista: primeiramente, co-nhecer as características da produção científica expressa nos livros publicados em determinado período; em seguida, delinear as condições socioeconômicas, culturais e históricas em que se desenvolveram e foram publicados os traba-lhos. Verifica-se que no que respeita à produção das ciências sociais, a julgar pelos dados analisados, não se modificou a posição dos estudos de caráter mais abstrato que questionassem os fundamentos daquela área do saber, seus preceitos e valores. A importância atribuída aos problemas concretos da so-ciedade brasileira permaneceu inalterada; ela parece, pois, uma constante no

11 Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Op. cit. 1989. p. 383. 12 PEIRANO, Mariza. Op. cit. p. 6-10.

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processo de desenvolvimento das ciências sociais no país, parte integrante de suas características, que se reatualiza e renova de acordo com as diferentes condições históricas, sociais e econômicas.

3. O processo de diferenciação dos estudos em ciências sociais

Muito embora as circunstâncias históricas relativas aos anos que vão de 1945 a 1966 não tenham alterado o valor primordial atribuído aos estudos sobre a sociedade brasileira, elas influíram na escolha de enfoques e temas, nas pesquisas sobre aspectos da experiência social e histórica do país, como se ob-serva na análise efetuada. No conjunto de trabalhos sobre questões teórico-metodológicas, embora sua quantidade fosse bem menor, a mesma influência é observada.

3.1 Os estudos teórico-metodológicos

Todas as disciplinas das ciências sociais abordadas nesse trabalho – his-tória do Brasil, economia política, antropologia, sociologia, ciência política, geografia humana e demografia – elaboraram estudos de caráter teórico-me-todológico no decorrer do período entre 1945 e 1966. Uma visão de conjunto desses textos evidencia, no entanto, que as diferentes áreas do saber contribu-íram de modo bastante desigual para a investigação e divulgação dos recursos científicos para a pesquisa. Naquela época, o interesse da economia e da so-ciologia pelo assunto foi sem dúvida o mais destacado. Na amostra analisada, essas duas disciplinas apresentaram praticamente o mesmo número de livros e juntas concorrem com mais da metade dos estudos sobre o tema, tanto na primeira como na segunda fase do período examinado.

Dos 53 livros publicados de 1945 a 1955, a economia política se apresenta com 17 e a sociologia com 16 obras (quadro XIV e XIX, cap. 2). Com res-peito à visível demanda de perspectivas teóricas e metodológicas nesses dois ramos do conhecimento, convém lembrar as modificações que transcorriam nos setores socioeconômico, político e educacional, naquela fase. No período de 1945 a 1955, os governantes deram continuidade a medidas que vinham sendo tomadas desde os anos 1930, visando à solução de problemas sociais e econômicos do país, agravados profunda e sucessivamente pela crise de 1929 e pela Segunda Guerra Mundial. O setor modificava-se em função da política

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voltada para a acumulação de capitais e expansão das indústrias de base; pa-ralelamente, ampliavam-se os órgãos burocráticos do Estado incumbidos do maior controle da economia nacional. A consciência da importância dos fatos socioeconômicos e a necessidade de especialistas produziram efeitos no qua-dro do ensino superior, levando à criação dos cursos de Ciências Sociais nos anos 1930, e, pouco depois, à reorganização do ensino da Economia Política e fundação da primeira Faculdade de Ciências Econômicas, em 1945, no Rio de Janeiro. Se, de um lado, os anos de 1945 a 1955 assistiam à continuidade de medidas voltadas para a superação de problemas de ordem socioeconômica, de outro lado, neles surgiam os primeiros resultados de iniciativas tomadas com o mesmo propósito nos anos anteriores. Assim como no setor industrial, em que a Companhia Siderúrgica Nacional, já instalada desde 1946, só entrou em pleno funcionamento em 1952, na área educacional e científica os recém-formados cientistas sociais começaram a exercer suas atividades profissionais no final da década de 1930 e início dos anos 1940; muito jovens ainda, irão, no entanto, realizar suas pesquisas, publicadas somente ao longo das décadas de 1940 e 1950. É compreensível que, nessas circunstâncias, os recursos científicos para o estudo e entendimento dos fatos socioeconômicos no Brasil tenham se tornado não apenas relevantes, mas indispensáveis, apresentando-se já em meados dos anos 1940 possibilidades para a publicação de livros sobre o assunto.

Na fase seguinte, o conjunto dos textos em foco cresceu de 53 para 92, per-manecendo a posição de liderança com a economia política e a sociologia. O rá-pido crescimento industrial, que levou às mudanças socioeconômicas entre 1956 e 1966, criou condições ainda mais propícias do que as da década anterior para a divulgação de perspectivas de trabalho daquelas duas disciplinas.

A economia política e a sociologia, apresentando um aumento na produ-ção de estudos de caráter teórico-metodológico, respondiam a uma demanda específica resultante de mudanças socioeconômicas que se operavam tanto na primeira, quanto na segunda fase. Embora a quantidade ainda seja moderada nas publicações sobre aqueles assuntos, as demais disciplinas aqui examinadas não apresentaram a mesma expansão e não demonstraram uma correspon-dência tão nítida entre os estudos efetuados e as circunstâncias socioeconô-micas específicas daquela época.

As modificações ocorridas na vida política decorrentes da reinstalação do sistema democrático de governo em 1945 não despertaram interesse da ciência política no conjunto dos estudos teórico-metodológicos. Embora a quantidade desses trabalhos tenha se elevado um pouco a partir de meados dos anos 1950, sua temática permaneceu voltada para aspectos do pensa-

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mento político clássico. Ao longo dos vinte anos focalizados, nenhuma obra constante da amostra abordou, à luz das mudanças que ocorriam, o problema das fronteiras da ciência política, de um lado com a ciência do direito, de outro lado com a história política, área que se ocupava tradicionalmente com o estudo dos fatos políticos do país, a partir de perspectivas de análise bem delimitadas.

No campo da história do Brasil, porém, houve certo interesse em questio-nar as concepções, teorias e métodos característicos da produção historiográ-fica brasileira em ambos os períodos aqui abordados. Seu número, entretanto, foi muito restrito e permaneceu inalterado de uma fase para outra.

Em ambas as décadas, poucas obras foram publicadas na área da antropo-logia sobre questões teórico-metodológicas. O número desses textos não se alterou de um período para o outro. A par disso, não se observa, entre eles, uma orientação clara dos especialistas no tocante a uma revisão de seus instru-mentos de pesquisa naquele contexto de mudanças históricas e sociais.

Também escassos no campo da geografia humana, os estudos indicam, contudo, que os geógrafos se interessaram pelo desenvolvimento de enfoques que contemplassem principalmente os aspectos socioeconômicos dos fatos abordados pela sua disciplina. As obras sobre as questões teórico-metodo-lógicas elaboradas pelos demógrafos também são limitadas em números em ambas as fases, mas sugerem interesse pela discussão de problemas analíticos específicos daquele ramo do saber.

Observa-se assim que o efeito das circunstâncias histórico-sociais do pe-ríodo que vai de 1945 a 1966 variou de acordo com cada uma das disciplinas abordadas, sobressaindo a relação entre as mudanças socioeconômicas e a ela-boração e publicação destacada das obras em economia política e em socio-logia naquelas duas décadas, bem como o seu crescimento a partir de meados dos anos 1950. Pode-se dizer que o conjunto da produção das ciências sociais, voltado para problemas teórico-metodológicos, ficou marcado pela difusão dos instrumentais dessas duas disciplinas. Valeria indagar, se ao lado das cir-cunstâncias históricas, a divulgação daqueles instrumentos de análise levou ao crescimento de pesquisas no campo da sociologia e da economia política, motivando também perspectivas novas de trabalho em outras áreas.

3.2 Os estudos sobre a sociedade brasileira

A seguir, observa-se a produção de estudos sobre a sociedade brasileira nas duas décadas entre 1945 e 1966, ressaltando: primeiro, as mudanças ha-

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vidas nas pesquisas e sua relação com o crescimento das obras; segundo, a persistência no cultivo de enfoques e temas, e seus efeitos sobre a difusão das pesquisas em livro.

3.2.1 A abordagem de novos problemas e o crescimento de obras

Nessa vertente de pesquisas distinguem-se dois conjuntos: o primeiro apresenta os estudos cujas modificações corresponderam a um crescimento do número de obras; o segundo mostra as pesquisas que não aumentaram em quantidade, muito embora tenham tido alteradas as suas perspectivas de trabalho nos anos em foco.

3.2.1.1 Os temas de maior divulgação em livro

a. Política econômica e desenvolvimento

O desenvolvimento da economia nacional constituiu o alvo principal dos trabalhos sobre a sociedade brasileira efetuados sob o enfoque da economia política no decorrer dos anos de 1945 a 1966. O crescimento notável dessas obras a partir de meados dos anos 1950, muito provavelmente, assinalou uma etapa significativa da evolução daquela disciplina no Brasil, no que respeita à produção e divulgação de seu conhecimento.

Ao apreciar os temas abordados pelos economistas com o propósito de elucidar aquela questão, observa-se que entre os múltiplos aspectos da rea-lidade que se transformavam naquela época os especialistas se interessaram particularmente pelas relações entre o desenvolvimento e política econômica.

Na primeira fase do período abordado, entre 1945 e 1955, a relação entre o desenvolvimento e a política econômica figurou com certa importância no conjunto dos estudos da economia política. O “comprometimento” da dis-ciplina já se esboçava em livros que contemplavam, de modo relativamente equilibrado, assuntos como política e expansão econômica, conjunturas eco-nômicas, planejamento, Estado e ordem econômica. Contudo, a análise das condições econômicas do passado sobressaía entre os estudos, que se volta-vam, também, embora em menor escala, para aspectos do comércio exterior, da indústria, da agricultura (quadro XIII, cap. 2). Os temas escolhidos eram apreciados ora do ponto de vista histórico, ora do ponto de vista das medidas governamentais, porém o objetivo principal dos economistas era elucidar os fatos no seu presente.

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Na década seguinte, o aumento expressivo do número de livros se fez acompanhar de uma visível concentração das pesquisas sobre desenvolvimen-to e política econômica. Basta lembrar que esses estudos passaram a perfazer mais da metade das publicações, devido em grande parte ao intenso cultivo de estudos sobre política e expansão econômica, que se elevaram de 4 para 28. Tor-nando-se o assunto de maior interesse dos economistas e do público leitor, os demais aspectos daquela questão, focalizados no decênio anterior, mereceram menor destaque. Assim, também os estudos sobre os demais temas apresen-taram um crescimento comparativamente irrelevante. De uma década para outra, não há novos temas no campo da economia política, caracterizando-se seu crescimento, portanto, pela convergência notória dos estudos para o exa-me das ações e medidas políticas concernentes à expansão econômica.

Como foi assinalado anteriormente, o crescimento industrial, resultando de planos e medidas governamentais, tornara-se o núcleo dinâmico das trans-formações socioeconômicas que repercutiram nos mais diversos setores da sociedade brasileira. Não surpreende, pois, que acontecimento de tamanha importância para a vida social do país tenha provocado efeitos sobre a pro-dução da economia política. Porém, chama a atenção a ênfase dada pelos economistas à atuação governamental em detrimento de outros aspectos da industrialização, como a distribuição da renda, por exemplo. Na realidade, à medida que a intervenção governamental se estabelecia e suas conseqüências se tornavam visíveis, os estudos da economia política foram utilizados cada vez mais para a formulação de políticas e planos econômicos, assim como para a avaliação crítica do resultado dessas medidas. Adquirindo uma feição essencialmente pragmática, a importância da disciplina crescia juntamente com o mercado para suas obras. Seu saber específico foi visto então como um instrumento indispensável para o desenvolvimento econômico do país.

Em Perspectivas da economia brasileira, Celso Furtado afirmava que era preciso analisar as principais tendências da economia brasileira, projetá-las e buscar conhecer fatores que impediam um ritmo adequado de desenvolvimento. Para o autor, a finalidade do conhecimento de um “modelo” espontâneo da eco-nomia era traçar uma política de controle dos elementos que retardavam o desenvolvimento:

... desse esboço de “modelo” de crescimento espontâneo par-tiremos paradeterminar os elementos de uma política sistemática de desenvolvimento. Política de tal natureza toma corpo num pro-

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grama e pressupõe um conhecimento pormenorizado do sistema econômico (...), a identificação clara das tendências, a definição de objetivos claros a alcançar nos setores estratégicos da produção, a mobilização de meios adequados de defesa contra os desequilí-brios internos ou externos demasiadamente acentuados, a capaci-dade política e administrativa para alcançar ao mesmo tempo todos estes objetivos.13

O comentário deixa pouca dúvida quanto aos fins políticos e pragmáticos da disciplina àquela época. Distinguindo-se por essa característica, a produção da economia política não só focalizou a ação governamental com vistas ao desenvolvimento econômico, como serviu de base para ela. A análise desses estudos mostra assim seus estreitos vínculos com as circunstâncias específi-cas, que levaram à implantação do capitalismo industrial no Brasil.

b. Desigualdades socioeconômicas e mudanças sociais, temas preferênciais da sociologia

As mudanças ocorridas entre 1945 e 1966 trouxeram à tona problemas da sociedade brasileira, as diferenças socioeconômicas de seus estratos e as caracte-rísticas das relações travadas entre eles, suas crenças e expectativas, movimentos e conflitos. A sociologia examinou aspectos da realidade brasileira que emergiam com aquelas transformações, registrando e analisando em suas obras as peculiari-dades do advento da sociedade industrial capitalista no Brasil.

Duas questões se impuseram aos sociólogos na primeira década do pe-ríodo aqui examinado. A primeira delas dizia respeito às características do meio rural brasileiro e foi então a mais estudada. Em um contexto no qual as mudanças começavam paulatinamente a modificar a feição do meio rural, onde habitava a maioria da população brasileira e dos indivíduos economica-mente ativos, os sociólogos focalizaram em suas pesquisas, principalmente, os aspectos “novos” e “tradicionais” das condições e relações de trabalho no campo, e, em menor quantidade, as peculiaridades de sua vida política. O peso do meio rural nos setores político, social e econômico do país naquela época explica a escolha dos estudiosos. Tanto mais, que o meio urbano viera se modificando anteriormente ao período aqui estudado, e acentuava-se um

13 Cf. FURTADO, Celso. Perspectivas da economia brasileira. Rio de Janeiro: ISEB, 1958. p. 9-10.

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descompasso entre as grandes cidades modernas e um meio rural que não parecia seguir essas modificações.

Outro problema que motivou a pesquisa sociológica nessa primeira fase se inscreve nos textos que averiguaram, no passado e no presente, a inser-ção dos negros em um sistema de trabalho livre. Questionando o passado escravocrata e as relações raciais no Brasil, esses estudos atingiam grande parte da população constituída por negros, justamente numa fase em que a industrialização começara a acenar com novas oportunidades de emprego e melhoria da posição dos indivíduos na escala socioeconômica. Num outro enfoque, as chances de elevação do padrão de vida foram avaliadas com base na trajetória dos migrantes na direção do Sudeste e das cidades, assunto cuja escolha se vincula à intensificação dos fluxos migratórios em 1945. Em que pesem as diferenças específicas dos grupos sociais submetidos à análise pelos sociólogos, o problema característico dessas pesquisas permanecia o mesmo: constituía uma indagação sobre as oportunidades efetivas de melhoria de vida da população.

Observando os temas e questões dessa primeira fase, percebe-se o in-teresse da sociologia em examinar características de uma sociedade de base agrária, que começava lentamente a se modificar. Em 1954, Alberto Guerreiro Ramos14 reclamava da falta de estudos sobre a industrialização do ponto de vista sociológico. Realmente, a análise efetuada leva a concordar que o assunto não fora alvo de estudos específicos até aquela data. Contudo, indaga-se aqui se os efeitos das mudanças nas atividades produtivas, que pouco a pouco se faziam notar, não teriam influído desde aquela época na importância que, em suas pesquisas, os sociólogos atribuíram às especificidades do trabalho que lhes servia de fundamento para apontar as diferenças socioeconômicas dos indivíduos e grupos, assim como para compará-las com aquelas existentes no passado.

Essa problemática, aliás, aparece de modo bem mais claro nos textos da década seguinte, fase em que a disciplina abordou novos assuntos, ampliando seu quadro temático. Os estudos se nortearam para as mudanças sociais, cujo número se elevou surpreendentemente de um para vinte. Pesquisas sobre o processo de industrialização e urbanização no contexto brasileiro aparecem somente a partir de 1956, o mesmo ocorrendo com as investigações sobre o meio urbano, voltadas, sobretudo, para a formação e características do ope-

14 RAMOS, Alberto Guerreiro. Cartilha de aprendiz de sociólogo: por uma sociologia nacional. Rio de Janeiro: Estúdio de Artes Gráficas C. Mendes Júnior, 1954.

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rariado brasileiro. Tratava-se de problemas que vinham se formando desde antes do período estudado, amadureceram ao longo do tempo e puderam então despertar a curiosidade dos pesquisadores.15

A vitalidade da disciplina evidencia-se na abordagem desses novos assun-tos, bem como na intensificação e renovação dos temas que foram dominan-tes na primeira fase. O desenvolvimento da pesquisa sobre o meio rural se evidenciou no aprofundamento das pesquisas sobre as condições e relações de trabalho, e também no aparecimento de investigações sobre movimentos e conflitos religiosos. Igual estímulo para o estudo de novos assuntos em áreas que já vinham sendo objeto de atenção é percebido nas publicações sobre a mobilidade social de imigrantes de diferentes nacionalidades.

Não resta dúvida de que as modificações ocorridas no setor industrial entre 1956 e 1964, afetando a vida das coletividades que habitavam os meios rural e urbano, realçaram suas diferentes condições de vida, hábitos, costumes e expectativas. As possibilidades de “sucesso” nas cidades, onde oportunida-des de instrução e emprego contrastavam então com as precárias condições de existência no campo, intensificavam as migrações para a cidade. Nessas circunstâncias, foi sob o prisma das mudanças sociais em curso que a sociolo-gia expandiu o acervo dos conhecimentos sobre o meio rural e ofereceu a um público interessado em pesquisas sobre o meio urbano.

A experiência social vivenciada pelos sociólogos se expressou em sua pro-dução intelectual, tanto na escolha quanto no enfoque dos assuntos tratados. À medida que o crescimento industrial provocava uma diferenciação cada vez maior das funções e atividades produtivas entre campo e cidade, salientando as posições socioeconômicas de indivíduos e grupos, ressaltava, também, suas diferenças no passado e no presente. Comparando os fatos entre passado e presente, a sociologia questionou as desigualdades socioeconômicas da popu-lação brasileira numa perspectiva que enfatizava o exame das descontinuida-des sociais possíveis através do tempo.

c. As instituições políticas em foco

A produção da ciência política, no período estudado, se distingue pela abordagem de fatos que atingiam a opinião do grande público, como eleições,

15 Cf. QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Cultura, sociedade rural, sociedade urbana no Brasil. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos; São Paulo: EDUSP, 1978.

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discussão de formas de governo presidencialista e parlamentarista etc. Essa característica muito possivelmente concorreu para que seu crescimento em livros fosse dos mais destacados, entre as diversas disciplinas, muito embora no conjunto da produção das ciências sociais não tenha sido tão notável. A quantidade de obras encontradas triplica de uma década para outra.

No decênio de 1945 a 1955, a restauração do regime democrático repercutiu naquele ramo do saber, levando seus especialistas a questionar o “processo de escolha dos governantes” em obras sobre eleições e partidos políticos. Após 15 anos de governo autoritário, tratava-se certamente de assunto de grande inte-resse. A possibilidade de participação no processo democrático gerava expecta-tivas, motivando grupos de diferentes matizes políticos a calcular suas chances de permanecer ou alcançar maior poder dentro das novas circunstâncias. Outro tema de relevância abordado pelos especialistas, relacionava-se com as leis cons-titucionais promulgadas em 1946, e dizia respeito às características jurídicas e sociais das instituições políticas brasileiras. A atualidade da disciplina nesta fase mostrou-se ainda nos estudos sobre diplomacia e política externa, elaborados e publicados quando o país se inseria em uma nova ordem internacional ao térmi-no da Segunda Guerra Mundial. Esses foram os temas da primeira década.

O paralelismo desses estudos com os fatos se mostra ainda mais nas obras pu-blicadas a partir de meados dos anos 1950, em que a ciência política continuou dan-do prioridade à análise das instituições políticas nacionais. Entretanto, o exame do “processo de escolha dos governantes” não se destacou tanto; a atenção se voltou para o estudo de formas de governo parlamentarista e presidencialista. Os debates provocados pela renúncia do presidente Jânio Quadros, em 1961, que resultou no Ato Institucional à Carta de 1946, instaurando o sistema parlamentarista de gover-no, liga-se a tais publicações. A par disso, as investigações sobre a diplomacia brasi-leira e a política externa cresciam também; o país dava então os primeiros passos no sentido da distensão da “guerra fria” e o governo brasileiro se aproximava do “bloco comunista”. Esta circunstância dava lugar a discussões sobre as possibilidades de uma política externa independente, o que é registrado nos livros.

Esse mesmo interesse pelos fatos políticos na sua atualidade levou os es-tudiosos a focalizar o problema das “ideologias políticas” a partir de meados de 1950. A propagação do ideal nacionalista se associava às iniciativas voltadas para o desenvolvimento econômico, e a quantidade de livros sobre esse assun-to quintuplicou, embora sua quantidade não fosse das mais importantes no conjunto das publicações. Aumentaram também, embora em menor escala, as pesquisas sobre a formação social e econômica do poder político.

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A produção da ciência política cresceu, portanto, e se diversificou a partir de meados dos anos 1950, voltando-se para os fatos políticos de maior importân-cia naquele período. Houve uma ligação imediata entre as ocorrências políticas e o crescimento do número de obras com elas relacionadas. No entanto, do-minavam os estudos sobre a atuação da classe política dirigente e sobre a fun-cionalidade das instituições. Procuravam os pesquisadores conhecê-los na sua atualidade, relacionando-os com as condições sociais e econômicas, numa com-preensão dos fatos que associava a ciência política à economia e à sociologia.

Essa característica da abordagem dos fatos políticos ocorria quando a ação dos governantes e a atuação dos órgãos burocráticos do Estado tornavam-se cada vez mais intensas e decisivas na condução dos meios institucionais volta-dos para o desenvolvimento. Quando, em meados dos anos 1950, as transfor-mações no setor industrial se aceleraram graças à intervenção dos dirigentes po-líticos, as relações entre a ação política e as atividades econômicas se tornaram muito mais evidentes. Seu entrelaçamento cada vez maior, muito possivelmente, motivou a ampliação da abordagem dos fatos políticos naquela época; eles dei-xaram de ser encarados isoladamente, ou apenas em seus aspectos jurídicos, e foram sendo relacionados com a ordem social e econômica vigente.

Porém, se coube à ciência política reatualizar o enfoque dado aos fatos políticos, inserindo-os em seu contexto sociopolítico, os trabalhos se volta-ram preferencialmente para o conhecimento da atuação e do papel da classe política dirigente, como se somente esta atuação fosse digna de atenção. Con-vém lembrar que outros fatos como a importância crescente das cidades na vida política nacional, a participação de novos grupos e camadas sociais nas atividades políticas, a organização de associações e sindicatos e a reivindicação pela ampliação das camadas populares no processo democrático compunham uma face das mudanças em curso nessa época. Contudo, a julgar pelos dados dessa pesquisa, os temas não foram objeto de preferência dos especialistas.

3.2.1.2 Os temas de menor divulgação em livro

a. Os fatores socioeconômicos e a modificação da paisagem brasileira

A configuração temática da geografia humana indica que de 1945 a 1966 o interesse primordial da disciplina foi investigar as modificações da paisagem brasileira, o que deu lugar a um conjunto restrito de livros, menor do que o

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da maioria das disciplinas aqui abordadas como já se viu. Aventou-se ante-riormente a hipótese de que os altos custos de edição desses estudos, com muitos mapas e gráficos, poderiam ter influído na menor publicação de obras dessa área. Contudo, caberia investigar em estudos mais específicos se foram esses os motivos que influenciaram a produção da disciplina naquela época, ou se não teria sido ela causada por pequena quantidade de pesquisadores trabalhando.

Na temática dos estudos geográficos entre 1945 e 1955 sobressai a im-portância conferida às características das regiões brasileiras, principalmente o Nordeste e o Sudeste do país. As pesquisas focalizando traços específicos do povoamento e das atividades agrícolas e industriais superaram em número, nessa primeira fase, aquelas que se voltavam para as condições socioeconômi-cas gerais. No entanto, qualquer que fosse a direção tomada na investigação dos problemas regionais, pode-se dizer que os geógrafos lançaram seu olhar para as mudanças que começavam a surgir nos setores socioeconômicos, po-rém se mantiveram ainda ligados à feição descritiva da disciplina, que prevale-cera em períodos anteriores àquele aqui focalizado.

É sugestivo que na década seguinte os estudiosos tenham sublinhado a ação dos fatores socioeconômicos sobre o meio físico, demonstrando com isso as influências que as transformações aceleradas exerceram sobre sua pro-dução intelectual. A mudança na prioridade dada a esses fatores, se torna evidente quando observamos que o maior número de publicações tratou de problemas do meio rural brasileiro, havendo em contrapartida uma diminui-ção sensível das pesquisas sobre a questão regional. Os geógrafos buscaram avaliar os efeitos da industrialização sobre o meio rural, orientação que, sem dúvida, revela uma alteração na abordagem dos fatos pela disciplina. Além disso, essas pesquisas sobressaíram no conjunto das ciências sociais, pois, excetuando-se as pesquisas sociológicas, poucos textos em outras disciplinas focalizaram as profundas conseqüências das migrações e da industrialização sobre o meio rural brasileiro naqueles anos. Diversificando o enfoque de seus estudos, a geografia humana se voltou também para novo assunto, apresen-tando trabalhos sobre o meio urbano. Em que pesem as dificuldades para transmitir seus conhecimentos através dos livros naqueles anos, é inegável que a disciplina apresentou um dinamismo capaz de modificar sua abordagem dos fatos, iniciando o estudo de novos temas.

A produção da geografia humana examinou, portanto, as modificações que ocorriam na paisagem brasileira, averiguando a ação dos fatores socioe-

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conômicos sobre ela. Desse modo, contribuiu para formar uma nova vertente das ciências sociais, que parecia responder assim a demandas de conhecimen-tos específicos que eram simultâneas às transformações características do pe-ríodo que vai de 1945 a 1966.

b. A população e as transformações socioeconômicas

O crescimento da população brasileira, as migrações internas, o notável aumento dos contingentes urbanos aparecem nos estudos efetuados no cam-po da demografia nos anos de 1945 a 1966. Os obstáculos inerentes à cons-tituição desse ramo do saber, muitas vezes considerado mero “auxiliar” de outros trabalhos em ciências sociais, podem ter diminuído a difusão de seus conhecimentos, mas não impediram que a disciplina diversificasse sua produ-ção em livros no período estudado.

Na primeira das duas fases, as investigações examinaram as condições de existência de populações brasileiras, relacionando-as com o problema da mortalidade. Foi este o assunto de maior destaque, embora nos livros sejam encontrados também estudos que analisam as influências de fatores socio-econômicos no crescimento e distribuição dos contingentes populacionais. Uma única pesquisa dessa fase chama a atenção para o padrão de vida no meio rural.

As obras que vieram a público a partir de meados dos anos 1950 mostram que foi tomada outra direção, pois da amostra analisada não constam mais estudos sobre a mortalidade. Elevou-se o número de trabalhos sobre as con-dições socioeconômicas da população, ampliando-se o leque dos assuntos re-lativos ao crescimento e distribuição da população, tratados na primeira fase. Textos sobre o meio rural foram publicados também.

Note-se que a elaboração e publicação desses estudos correspondem a uma fase em que a industrialização em ritmo acelerado influiu no crescimen-to, na distribuição e no padrão de vida da população brasileira. A migração rural-urbana se expandiu concomitante com a abertura do leque das ocupa-ções citadinas. Nos anos 1960, o contingente da população urbana superou o da população rural, alterando profundamente o perfil demográfico do país. Apreciando as pesquisas demográficas, observa-se que seu quadro temático se modificou em estreita relação com as mudanças ocorridas nessa fase.

A análise da produção da demografia, entre 1945 e 1966, sugere, portanto, que as pesquisas efetuadas registraram e analisaram fatos de importância para

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a compreensão dos efeitos das transformações sociais e econômicas sobre a população brasileira naquela época.

3.2.2 A persistência na adoção de enfoque e cultivo de temas

Durante os anos de 1945 a 1966, quantidade considerável de estudos, cujo peso no conjunto da produção das ciências sociais se faz notar tanto na primeira, quanto na segunda fase daquele período, não apresentou modificações que alte-rassem efetivamente sua perspectiva dominante de trabalho e cultivo prioritário de certos temas.

3.2.2.1 O exame dos fatos políticos do passado

A história do Brasil, com diferentes orientações, foi o campo do saber que apresentou maior número de livros sobre a sociedade brasileira, atingindo 40,02% da amostra estudada. As publicações cresceram e a disciplina manteve sua lide-rança sobre as demais nas duas décadas do período que vai de 1945 a 1966, ainda que sua contribuição no conjunto da produção das ciências sociais tenha sido um pouco menor a partir de meados dos anos 1950, quando comparada ao aumento expressivo de pesquisas realizadas em outras áreas.

Os estudos convergiram majoritariamente para a investigação dos fatos políti-cos do passado, fossem obras de caráter geral, específico ou biográfico. Os livros que versavam sobre assuntos políticos (235 em 291) mostravam ter um mercado seguro nas duas décadas em foco. Somente numa escala numericamente bem menos significativa (56 em 291), a produção historiográfica se voltou para fatos econômicos, fatos sociais ou aspectos da vida intelectual brasileira.

Observando os assuntos políticos de interesse dos historiadores vimos que de 1945 a 1955 os estudos se repartiam nas três amplas linhas que compunham a his-tória política: a história dos eventos políticos, a história das instituições políticas e a história das cidades, estados da Federação e regiões. Esses trabalhos tinham como alvo registrar a história da conquista do território brasileiro. Assim, descreviam e analisavam a ação dos governantes e a atuação das instituições políticas no processo de construção e manutenção da unidade política do país. Como já se ressaltou no segundo capítulo, a orientação que os historiadores davam a seus estudos tinha como base uma concepção tradicional da história, que via nos eventos e ações po-líticas fatos “extraordinários” que moviam a história de povos e nações. O enfoque

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fora utilizado em períodos anteriores ao aqui abordado e se manteve nesta primeira fase, correspondente aos anos de 1945 a 1955. É interessante ver também que no leque dos temas focalizados, nenhum deles demonstra, particularmente, a curio-sidade dos especialistas em perscrutar no passado as origens ou características de acontecimentos políticos que distinguiam aquele período – da amostra estudada não consta estudo que aborde, por exemplo, o regime democrático que vigorara na Primeira República. Naqueles anos, não houve, portanto, interesse dos trabalhado-res em reavaliar fosse o enfoque, fosse a temática de sua preferência.

Esse distanciamento dos historiadores em relação aos acontecimentos e mu-danças em curso aparece com maior clareza ainda na década seguinte. A partir de meados dos anos 1950, a produção da história política em livro cresceu, embora não muito. O crescimento mais significativo se observa no campo da história dos eventos, em que aparecem mais livros do que na década anterior sobre os conflitos relativos à quebra e manutenção da unidade política na República, so-bressaindo, entre eles, os estudos sobre a Campanha de Canudos. As obras sobre a Independência também aumentaram um pouco. Poder-se-ia dizer que as crises políticas e os ideais nacionalistas que marcaram a pauta de debates políticos a partir de meados dos anos 1950 tenham incentivado a elaboração de alguns des-ses trabalhos. Na maioria das obras da história política, porém, não se percebe no crescimento das obras uma renovação efetiva da perspectiva de trabalho que prevalecera na primeira década.

Na realidade, no campo da história do Brasil, somente nas áreas da história econômica, história social e história das idéias, verificam-se mudanças temáticas que se associam às condições histórico-sociais específicas do período de 1945 a 1966. Entre elas, a história econômica foi privilegiada, ampliando seus estudos da primeira para a segunda fase. A crescente demanda pelo conhecimento dos fatos econômi-cos se fez sentir principalmente no notável aumento dos textos sobre a formação econômica do país, cujas publicações se elevam de uma para dez. A relevância desse tema em detrimento daqueles que focalizavam apenas um setor das atividades pro-dutivas no passado, a exemplo do açúcar e do café, deixa evidente que o desenvol-vimento do capitalismo industrial, a partir de meados dos anos 1950, criava não só uma demanda de saber específico sobre os fatos socioeconômicos, como motivava especialmente estudos interpretativos de caráter geral que indicassem as caracterís-ticas mais profundas do processo de mudanças da economia brasileira.

O interesse pelo exame dos fatos no seu passado e no seu presente, com vistas a averiguar as continuidades e descontinuidades existentes entre eles, é percebido também no campo da história social, embora em menor escala. O número de

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obras não se eleva muito, porém sua configuração temática muda expressivamen-te, deixando os historiadores de abordar episódios da vida de grupos sociais e passando a investigar a formação histórica da sociedade brasileira com suas clas-ses e estratos sociais.

Ao lado disso, é sugestivo que a partir de meados dos anos 1950 as pesquisas na área da história das idéias tenham crescido em número, além de apresentar novos temas. A maior divulgação das idéias através da imprensa periódica e dos livros conjugava-se a um clima de debates sobre o país, que naquela fase punha em relevo o papel da camada intelectual brasileira. Muito provavelmente, estas circunstâncias estimularam os historiadores a averiguar as características e a evo-lução das idéias elaboradas no passado.

Com relação à história do Brasil, é a partir de meados dos anos 1950, com as mudanças socioeconômicas em curso, que se observa um aumento do número de obras, bem como um desenvolvimento da pesquisa nas áreas que investigavam as atividades econômicas, sociais e intelectuais do passado da sociedade brasileira. Em que pesem as modificações que se fazem notar na produção da história do Brasil em livro, nessa segunda fase, as linhas de estudo próprias da disciplina que possibilitavam abordar diferentes aspectos da realidade social, não foram con-templadas de modo equilibrado. Os historiadores privilegiaram no estudo dos fatos políticos um enfoque que destacava a continuidade dos meios de dominação política ao longo do tempo. Desse modo, em um contexto socioeconômico de mudanças, fizeram figurar na sua produção um conjunto expressivo de textos que enfatizava a permanência e a continuidade das ações dos governantes, e também da atuação das instituições políticas, considerando-as o móvel principal da cons-trução do país. É muito interessante verificar que, enquanto se processavam gran-des modificações socioeconômicas no país, era observado um aumento de obras sobre história do Brasil, de um modo geral; mas as características dos enfoques dos historiadores não parecem diretamente afetadas pelas mudanças do mundo em que viviam. Pelo contrário, há como que um “distanciamento” de tais mudan-ças, que se inscreve no interesse predominante por temas ligados ao continuísmo social e à manutenção das estruturas de poder existentes.

3.2.2.2 As características dos estudos sobre as questões étnico- culturais

As peculiaridades étnicas e culturais do país chamaram, muito cedo, a atenção dos pesquisadores brasileiros. Sendo tão notáveis e complexas, es-

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sas características levaram à ênfase da questão da “identidade brasileira”. Elas adquiriram enorme relevância, sendo vistas, no entanto, ora como obstáculo ao processo do país, ora como elemento constitutivo essencial de sua identi-dade, dependendo as opiniões das circunstâncias histórico-sociais da época. O conjunto de estudos sobre fatos e questões étnico-culturais, descritos anterior-mente, não deixa dúvidas quanto à continuidade daquelas questões, que decerto permaneciam também no horizonte de expectativas do público leitor. A maior parte das obras concentrou-se em trabalhos sobre as tradições populares e sobre os diferentes grupos étnico-culturais, focalizando estes últimos, principalmente, os indígenas e em menor escala os grupos negros e imigrantes.

A dificuldade em ampliar o alcance dos estudos sobre os fatos culturais se faz notar, mais claramente, no crescente número de pesquisas sobre as tradições populares, que se elevam de 21 para 27 de uma década para outra. Aparentemente, tanto na primeira quanto na segunda fase, esses trabalhos foram incentivados pelo movimento a favor do registro e documentação do folclore brasileiro, que, como já foi visto, levou a reuniões como o I Congres-so Nacional do Folclore, em 1951, e à Campanha de Defesa do Folclore, em 1958. Acreditava-se então que a cultura popular era a “fonte da brasilidade”.16 A partir dos anos 1960, ampliou-se muito a discussão sobre assunto com a criação dos Centros Populares de Cultura, que propunham a utilização das manifestações culturais das camadas populares como meio de conscientizar politicamente aqueles grupos, a fim de que pudessem lutar por melhores con-dições de vida. É interessante observar que na segunda fase aqui abordada, muito embora o tema da cultura popular sobressaísse cada vez mais nas dis-cussões da camada intelectual, acentuando-se seu valor político, nenhuma das pesquisas em foco apresenta traço indicando interesse em estudar aquelas manifestações sob o prisma de seu valor político; como na primeira fase, as pesquisas se orientaram primordialmente pela investigação das origens das tradições populares.

Outra observação, diz respeito ao habitual privilégio conferido aos estudos sobre as populações indígenas, ao contrário do que acontecia com os estudos sobre as populações negras no Brasil. Ainda que o número de pesquisas sobre os grupos indígenas tenha diminuído a partir de 1955, de 22 para 13, data em

16 Cf. CARNEIRO, Edison. Evolução dos estudos de folclore no Brasil. Revista Brasileira de Folclore, Rio de Janeiro, 1962.

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que também começam a apresentar sinais de renovação voltando-se para a questão da integração daquelas populações na sociedade nacional, continu-aram tendo uma importância notável no conjunto dos livros. O mesmo não ocorreu no tocante aos estudos sobre os negros, escassos tanto na primeira quanto na segunda das fases abordadas, assim como em todo o leque da pro-dução das ciências sociais, aqui analisado, muito embora a população negra enfrentasse conflitos e tensões de caráter racista, denunciados em associações, reuniões e congressos já anteriormente aos anos pesquisados. Não faltaram considerações críticas a respeito desse assunto. Assim, em 1954, reavaliando as pesquisas sobre o negro no Brasil, Guerreiro Ramos dizia que

O negro tem sido estudado entre nós como palha ou múmia. A quase totali-dade dos estudos sobre o tema implica a idéia de que a Abolição tenha sido uma resolução definitiva do problema das massas de cor. Depois daquele cometimento espetacular nada haveria que fazer senão estudar o negro do ponto de vista es-tático. E assim os especialistas entraram na pista dos trabalhos de reconstrução histórica, do folclore, e de certa Antropologia descritiva por excelência.17

O conhecimento da experiência vivida pelos negros no Brasil atraiu muito pouco, naquela época, a camada intelectual, e Guerreiro Ramos tinha razão na sua observação. O número notadamente restrito desses estudos, justamente na vertente do saber que trata dos problemas de ordem étnica e cultural, im-prime uma dimensão ainda mais significativa a tal lacuna. Caberia aprofundar o exame dos motivos que levaram a este visível desinteresse no país.

Dentro dos limites de um quadro histórico voltado para o desenvolvimen-to socioeconômico, o número de estudos sobre as questões étnicas e culturais permaneceu inalterado de uma década para outra nos anos entre 1945 e 1966. O contato com uma herança tão relevante não levou os pesquisadores à rea-valiação daquele acervo sob o impacto da força transformadora das situações novas. Os estudos continuaram sendo realizados e divulgados em livro, como se fizessem parte de uma herança cultural que se transmite de geração para geração sem grandes alterações. A continuidade parece assim ter sido a marca característica dessa vertente das ciências sociais. O interesse pela historiogra-fia dos primeiros tempos da sociedade brasileira como um meio para a com-preensão de seu caráter peculiar continuou atraindo pesquisadores e leitores das ciências sociais.

17 RAMOS, Alberto Guerreiro. Op. cit. p. 165.

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Em larga medida, os estudos dessa vertente se voltaram, pois, para o pas-sado, à procura das origens étnico-culturais da sociedade brasileira, através do registro dos modos de vida e das crenças dos “antepassados” e da perma-nência de traços culturais ao longo do tempo. Aparentemente, mantinham uma abordagem comum aos estudos antropológicos que vigoraram, sobretudo, do final do século XIX até os anos vinte nos países anglo-saxões, e que registravam a memória das culturas indígenas “não modificadas” (unmodified), como se não houvesse nenhum contato dos grupos estudados com a cultura européia.18 Todavia, no Brasil, o registro minucioso da memória dos diferentes grupos ét-nico-culturais adquiriu uma dimensão específica. Os pesquisadores brasileiros faziam suas investigações dentro de seu próprio país e o relato resultava de um acervo sobre grupos humanos que não tinham sofrido o impacto da cultura eu-ropéia. Desses estudos dependia, justamente, a compreensão de uma formação cultural que, à influência predominante de elementos da cultura européia, não se enquadrava nos padrões normativos exclusivamente europeus.

4 Conclusão

O confronto da produção científica com o contexto dos anos de 1945 a 1966 mostra que a dinâmica das mudanças ocorridas, acarretando um pro-cesso de diferenciação socioeconômica, política e cultural nas estruturas da época, se traduzia no campo das ciências sociais, permitindo nele a convi-vência de diferentes demandas de conhecimento, fossem aquelas que davam continuidade a problemas há tempos considerados relevantes para a camada intelectual, fossem as que se voltavam para questões suscitadas pelas circuns-tâncias peculiares daqueles anos.

A análise minuciosa das características dos textos de caráter teórico-metodológico, assim como dos estudos que se voltaram para problemas concretos da sociedade brasileira, efetuados nos campos da história do Bra-sil, economia política, antropologia, sociologia, ciência política, geografia humana e demografia evidenciou que, naqueles anos, o crescimento ou a diminuição do número de obras, assim como a persistência e a modificação na orientação do trabalho de pesquisa, ocorreram de modo desigual, fosse

18 Vf. BEALS, Ralph. Acculturation. In: ANTHROPOLOGY Today, A. L. Kroeber (Org.). 7 ed. Chicago/London: The University of Chicago Press, 1965. p. 622.

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nos dois amplos conjuntos em que se repartem os trabalhos, fosse no que respeita à contribuição das diferentes disciplinas para a produção de inves-tigações em cada um deles.

No período de 1945 a 1955, a redemocratização e o aparecimento dos pri-meiros resultados das iniciativas governamentais voltadas para a industrializa-ção marcaram o cenário histórico e social. A experiência histórica dos anos de 1945 a 1955 não causou grande impacto na produção das ciências sociais. As pesquisas mais interessadas nos fatos daquela atualidade apresentaram um nú-mero bem reduzido, comparadas às obras dos historiadores e dos antropólo-gos sobre a sociedade brasileira, que se mantiveram, principalmente, voltadas para a construção da unidade política do país, assim como para a investigação de suas complexas características étnico-culturais. A concomitância entre a ocorrência de modificações políticas e econômicas e a permanência de obras cuja temática principal, ao que parece, vinha sendo examinada regularmente em períodos anteriores ao aqui abordado, demonstra que a repercussão dessas modificações sobre o público leitor não foi imediata.

O crescimento do número de livros na década de 1956 a 1966 aconteceu, em larga medida, com obras sobre a sociedade brasileira que se voltaram para os fatos da atualidade, a exemplo da economia política, sociologia e ciência política, cujo aumento foi notável naqueles anos. As pesquisas sobre o país, nas áreas da geografia humana e da demografia se renovaram, sem, todavia, aumentarem em quantidade. Paralelamente, observa-se o crescimento das obras teórico-metodológicas correspondendo a uma diversificação das inves-tigações sobre questões sociais e econômicas. De um modo geral, o cresci-mento dos livros associava-se às mudanças no rumo das investigações. Dessa forma, a produção das ciências sociais ampliou o acervo de suas pesquisas e, o que é mais importante, modificou muito as características apresentadas na década anterior. As mudanças ocorridas na produção dos diversos estudos apresentavam um traço comum: o interesse em aprofundar o conhecimento dos fatos e das relações sociais e econômicas, fosse através da escolha de temas, fosse por meio da adoção de perspectivas analíticas.

Contudo, naquele contexto de mudanças, as pesquisas na área da história do Brasil, voltadas para os fatos políticos do passado, e os estudos antropológicos sobre as origens dos traços étnico-culturais do país mantiveram praticamente inalterada tanto a quantidade de obras, quanto sua temática e enfoques pre-ferenciais. É bem verdade que nos anos que vão de 1956 a 1966, as pesquisas

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sobre as atividades econômicas, sobre a formação da sociedade brasileira e so-bre aspectos da vida intelectual no passado se diversificaram e cresceram em número; porém, as modificações não alteraram o peso predominante das obras características da produção da história do Brasil nas duas décadas analisadas. As pesquisas antropológicas, por sua vez, mantiveram o enfoque e os temas que vigoraram na década anterior, como também o número de suas obras. A falta de renovação desses estudos, ao lado da concorrência com as demais disciplinas que multiplicaram o número de seus livros, os levou a perder o papel de relevo que os distinguia na primeira década, embora continuassem sendo os mais apre-ciados, ao lado dos estudos da economia política e da sociologia.

Este segundo período aqui examinado coincidia com grandes modifica-ções socioculturais do país, além do incremento da industrialização que am-pliava enormemente a urbanização e a migração rural-urbana, já iniciadas na década anterior. Nos anos de 1956 a 1966, os investimentos no setor da difu-são cultural foram sensíveis, ampliando-se as atividades ligadas ao rádio, cine-ma, imprensa periódica etc. O progresso editorial foi notável e a indústria do livro consolidou-se no país. A expansão deu-se ao mesmo tempo em que se ampliava o número de universidades e de estudantes, aumentando rapidamen-te um público jovem, cuja inserção nos cursos superiores era muitas vezes re-alizada com sacrifícios. O interesse pelos estudos de problemas sociopolíticos e econômicos é concomitante com a ampliação de uma coletividade estudantil que estava profundamente envolvida com iniciativas que resultavam não só de sua atenção para os problemas do presente, mas, principalmente, do futuro. As disciplinas que podiam satisfazer tal curiosidade foram as mais atingidas pelo aumento de pesquisas e sua publicação.

Note-se que as possibilidades de expansão da produção científica encon-travam-se apoiadas na formação de professores universitários ligados a novas disciplinas, que tiveram tempo de amadurecer. Fundadas as primeiras univer-sidades na década de 1930, elas acolheram em seus postos, nos anos 1940, jo-vens por elas formados. Todo o efeito dessa mudança profunda na obtenção de conhecimentos vai repercutir somente a partir de meados dos anos 1950 na produção livreira. A força transformadora das situações emergentes não concorreu, contudo, para que fossem reavaliados os enfoques e os temas em todas as áreas das ciências sociais. Os meados dos anos 1950 delimitam uma maior diferenciação da produção das ciências sociais, que se caracterizou pela elaboração de um conjunto de pesquisas voltadas para as questões sociais e

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econômicas. Tais estudos foram os que mais impulsionaram a divulgação em livro da produção científica a partir daquela data.

A expansão e o desenvolvimento dos estudos ocorreram, portanto, con-juntamente na fase em que, ao lado do notável crescimento do público letrado e da indústria do livro, setores dos meios culturais e intelectuais debatiam os problemas das mudanças sociais e econômicas no país, o que os levava a novas iniciativas e empreendimentos. A crescente difusão das ciências sociais acompanhou, portanto, a sua renovação, e esteve vincula-da a acontecimentos marcantes daquela época, destacando-se a influência do desenvolvimento das universidades na formação e no crescimento do número de pesquisadores, assim como a ampliação de um público interes-sado em problemas da atualidade.

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O objetivo de averiguar as características das ciências sociais no contexto brasileiro dos anos de 1945 a 1966 nos levou a escolher o livro como objeto que privilegiaria mais apropriadamente a instância da produção de conheci-mento. Retomamos aqui esta proposição básica que norteou a pesquisa a fim de avaliar o percurso feito.

No início desse trabalho, ressaltou-se que o grande desenvolvimento que as ciências sociais conheceram no mundo, a partir do século XIX, devia-se ao fato de terem sido compreendidas como um programa para ampliar a pos-sibilidade de melhorar as condições de vida humana, tanto material quanto mentalmente, dando-lhe formas de intervir no curso da história. Duas de suas características observadas como fundamento da configuração das ciências so-ciais foram a diversidade das disciplinas que encerra – produto da divisão do trabalho intelectual – e a existência de diferentes pontos de vista de conheci-mento e de análise das relações sociais entre os indivíduos e as coletividades.

O exame aqui realizado permite ver mais de perto como a partilha se opera. Ela não se deu ao acaso no Brasil, nem foi fruto de mentalidades privi-legiadas. A expansão diferenciada que as disciplinas sofreram no decorrer dos anos de 1945 a 1966, cotejada com as modificações que a sociedade nacional apresentou, mostrou a convergência entre ambas. Isso permite dizer que a expansão da economia política e da sociologia se relacionava intimamente com o desenvolvimento social e industrial na primeira década estudada, e com o avanço sociocultural no segundo período. O aumento dos estudos se tornou possível devido à ampliação universitária que, num primeiro momento, deu for-mação sistemática a um maior número de futuros pesquisadores e professores e numa fase seguinte mostrou, de um lado, sua atuação na difusão das pesquisas registradas em livros e, de outro, a existência de um público maior para consumir esses textos, representado pelo crescimento da quantidade de universitários.

VConsiderações Finais

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Essas observações encontram também um reforço quando se analisa no-vamente a tabela IV do primeiro capítulo: as duas cidades em que a criação de universidades teve lugar na década de 1930 – São Paulo e Rio de Janeiro – apresentaram uma quantidade muito maior de obras publicadas do que as demais capitais estaduais. Além disso, quando é destacada a publicação com fins lucrativos, a produção em ambas é extraordinária, dominando completa-mente a publicação sem fins lucrativos (isto é, edição de órgãos do governo federal, institutos, universidades etc.). A influência do meio universitário para o incremento da produção de livros parece irrecusável.

Poder-se-ia perguntar: uma vez que a fundação das universidades foi pra-ticamente concomitante no Rio de Janeiro e em São Paulo, sendo que nesta última cidade foi ela efetuada com alguma precedência e com grande ênfase, representada pela contratação de grande elenco de professores europeus nas mais diversas matérias, por que razão o número de publicações no Rio de Janeiro, tanto com fins lucrativos, quanto sem eles, superou bastante o de São Paulo – ambos sobrepujando muitíssimo a publicação nas outras capitais? A condição dessas duas cidades nas décadas estudadas provavelmente explica a diferença: o Rio de Janeiro era então não apenas a capital do país, mas também uma cidade cosmopolita e muito intelectualizada, enquanto São Paulo, menor em vulto, constituía, comparativamente, uma cidade ainda provinciana. Uma comparação entre a produção de textos em ciências sociais, após a passagem da capital do Rio para Brasília, confrontando novamente Rio de Janeiro e São Paulo, pode revelar em que condições a segunda cidade foi adquirindo maior prestígio intelectual, exemplificado pelo aumento do número de livros.

Afirmou-se também no início do trabalho que as oportunidades de acesso às publicações são avaliadas pelas condições sociais, econômicas e políticas existentes. A influência do Rio de Janeiro, demonstrada acima, se encontra novamente encarecida por essas circunstâncias. Sem dúvida, era esta cidade que apresentava as melhores condições econômicas, sociais e de nível de es-colaridade para aumentar o público de leitores e, por outro lado, permitir a expansão da indústria do livro. São Paulo aparece em segundo lugar e ambas se distanciam muito das demais capitais.

Um aspecto que merece destaque, relacionado agora com as diversas dis-ciplinas que compõem as ciências sociais, diz respeito ao peso que a idade da disciplina e seu reconhecimento, como um valor cultural, podem ter na importância que ela adquire no conjunto das demais. Nas décadas estudadas, a história do Brasil sobressaiu a todas as outras, contando com a maior quan-tidade de livros. Poder-se-ia atribuir essa característica ao fato de que a criação

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do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, no Rio de Janeiro, logo seguido pela criação de outras instituições semelhantes nas demais regiões do país, datou de 1838. No entanto, a geografia humana, que também era marcada por essa origem, não teve o mesmo desenvolvimento, ocupando o penúltimo lu-gar na publicação de obras. Essa diferença não encontra sugestões no material estudado que permitam achar uma explicação, e o problema fica em aberto. Pode-se supor que a história tem sido desde largo tempo apontada como o princípio explicativo fundamental da existência e do desenvolvimento das so-ciedades humanas, o que determinaria sua importância maior entre nós desde tempos antigos. Todavia, trata-se apenas de uma sugestão para pesquisas futu-ras em relação à própria disciplina e seu desenvolvimento no país.

Um outro dado que chama atenção é a permanência da geografia humana e da demografia em lugar sem nenhum destaque no conjunto das obras. No entanto, durante esse período a transformação demográfica que leva à dimi-nuição da população rural brasileira e a descida de correntes de migrantes para o Sudeste do país constituem fatos da maior importância que não parecem atrair o interesse de estudiosos. A geografia humana, uma das primeiras disci-plinas das ciências sociais a merecer no país um tratamento específico, pois fi-gura nos Institutos criados em 1838, continua, juntamente com a demografia, em situação de inferioridade nas duas décadas estudadas. A maior exigência de formação matemática e de um instrumental sofisticado, tanto na realização de trabalhos de pesquisa, quanto na publicação de livros (exigência a que o país dificilmente faria face), poderiam explicar esse comportamento específico das duas disciplinas? É também indagação que necessitaria ser investigada.

É interessante ver que o confronto das obras com as circunstâncias his-tórico-sociais mostra justamente que na segunda década do período que vai de 1945 a 1966, uma vertente de estudos modificou seus enfoques e temas, orientando sua perspectiva de trabalho para o maior conhecimento dos fa-tos e das relações socioeconômicas. Foram esses, de modo geral, os estudos que mais cresceram em livro naquela fase. Percebeu-se assim que a expansão das ciências sociais correspondeu a uma renovação dos textos que em larga medida traduziam em seus temas e análises problemas específicos daquela época. Os pesquisadores questionavam o desenvolvimento econômico do país, as chances de melhoria de vida da população, as precárias condições de existência no meio rural, as desigualdades socioeconômicas. Essas questões eram discutidas nos meios literários, artísticos e também no meio estudantil. A renovação das ciências sociais vinculava-se assim a uma demanda de conhe-cimento proveniente dos problemas enfrentados naqueles anos.

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Observando os vínculos das pesquisas com o contexto histórico, verificou-se, entretanto, que um considerável número de trabalhos persistiu na investi-gação de seus temas preferenciais de uma década para outra. Eram pesquisas voltadas para a continuidade dos fatos políticos no passado, ou para as origens étnico-culturais da população brasileira, que prevaleceram na produção das ciências sociais nos anos de 1945 a 1955, mas que a partir de meados dos anos 1950 não reatualizaram suas perspectivas de trabalho à luz das situações e dos fatos novos que emergiam no contexto brasileiro. A falta de renovação dessas pesquisas correspondeu a um crescimento inexpressivo de seu conjunto.

Considera-se que os meados dos anos 1950 foram um marco importan-te para as ciências sociais no Brasil. Ao apontar tanto a mudança, quanto a continuidade em um amplo conjunto de pesquisas, a data delimita uma maior diferenciação da produção científica, que resultava de estudos cujo interesse era atender a uma demanda específica de conhecimentos proveniente das mudan-ças sociais, econômicas, culturais e intelectuais características daquela época.

Uma observação realizada de outro ângulo também é interessante. Conside-rou-se desde o início do trabalho, com base em pesquisa de outros especialistas, que a grande massa de estudos históricos no acervo analisado, em que é secun-dada, em terceiro lugar, pela antropologia, corresponderia à busca de identidade nacional que, pelo menos desde a Independência, parece marcar os estudiosos do país. Se tal for o caso, então a busca de identidade passaria pelo passado e pelos componentes não europeus, não entrando a geografia humana em linha de conta. Em que medida uma sondagem em épocas anteriores à escolhida teria resultados semelhantes? A vastidão e a falta de conhecimento das diversas regiões deveriam ser incentivos para indagações, suscitando tanta curiosidade da parte dos pesquisadores, quanto os aspectos ignorados da história. As exi-gências de investigações custosas e longas, com inúmeros percalços de toda ordem, poderiam constituir obstáculos para trabalhos nessa disciplina (a famosa expedição de que foi promotor D. Pedro II e que se reduziu à parte mínima do que fora programado, devido à indignação levantada nas Câmaras e nos jornais pelo desperdício que representava, é disso um exemplo).

Mas por que razão vem a economia política em segundo lugar nas publi-cações da Biblioteca Nacional, logo após a história do Brasil? Teria sido sem-pre assim? Ou as crises consecutivas que a economia do país veio sofrendo através do tempo, nas várias regiões, teriam muito cedo despertado a atenção dos pesquisadores? Nessa disciplina também, um prolongamento da pesquisa para o passado permitiria verificar em que medida esses trabalhos se ligariam a momentos difíceis da nação.

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Verifica-se, pois, que haveria interesse em prolongar para o passado o tipo de pesquisa aqui inaugurado, para esclarecer diversos pontos obscuros. Tam-bém seria muito gratificante uma extensão para o presente, que mostrasse como a intensificação de vários problemas nacionais e o aparecimento de outros poderiam influir em trabalhos das ciências sociais.

Se o estudo leva a maior compreensão dos vínculos da produção cientí-fica com o contexto histórico dos anos de 1945 a 1966, não esclarece, como se vê, todas as questões suscitadas ao longo de sua elaboração. Dentre elas, destacamos aqui a continuidade de pesquisas que se voltaram notadamente para o problema da identidade do país, fosse ela vista sob o prisma político-geográfico, fosse apreciada do ponto de vista étnico-cultural. Certamente, a maior diferenciação dos diversos setores da sociedade brasileira, provocada pelas mudanças ocorridas naquela época, justificava em parte a existência de “antigas” e “novas” demandas de conhecimento nas ciências sociais. Ainda assim, parece-nos relevante em outras pesquisas aprofundar os motivos que levaram à continuidade daqueles problemas.

Revendo o percurso feito, vemos que a análise da produção das ciências sociais em livro possibilitou o conhecimento de um amplo e diversificado conjunto de estudos peculiares ao período de 1945 a 1966, e concorreu para a análise daquela produção sob a óptica de seu contexto histórico. Com base nas obras, evidenciou-se a importância que as circunstâncias econômicas, sociais, políticas e culturais tiveram para o desenvolvimento e transmissão daquela área do saber naquela época; paralelamente, pôde-se demonstrar que aquelas condições específicas não pareceram constituir instâncias “condicionadoras” ou “determinantes” da totalidade de um conjunto da produção intelectual.

Finalmente, observou-se no início desse trabalho que os apreciadores do conhecimento erudito habitualmente compõem um grupo privilegiado, cujo saber prestigiado não costuma ser posto à disposição da maioria da coletivi-dade. Essa consideração, válida de maneira geral, não impede porém que o conhecimento tenda também a se expandir, isto é, a se alargar por camadas e grupos mais diversos da população.

Não era possível nessa pesquisa distinguir quais os grupos que foram sen-do abarcados pela publicação de obras de ciências sociais, as quais foram se ampliando em número nas duas décadas estudadas. Fica patente, no entanto, que sua restrição a uma pequena quantidade de pessoas foi sendo modificada pela emergência de variados fatores que favoreceram a difusão do conhe-cimento. Se por um lado, a preocupação com o desenvolvimento industrial e político amplia a curiosidade do público restrito já existente, levando-o a

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consumir mais livros, não é menos verdade que a expansão universitária e o desenvolvimento citado acima constituem formas de influir para que os limi-tes à difusão se alarguem. Desse modo, o crescimento da produção livreira mostra que as fronteiras da coletividade que tinham acesso ao conhecimento erudito foram sendo claramente alargadas.

Além dos problemas que estão a merecer atenção dos estudiosos, cumpre não esquecer que as ciências sociais são apenas parte do conhecimento huma-no, e que um desvendamento do que ocorre com a difusão do saber no Brasil, através do tempo, demandaria uma indagação aos campos das ciências natu-rais e exatas, da filosofia e da literatura. Ela poderia seguir rumos semelhantes ao dessa pesquisa, o que permitiria um confronto. Ademais, os conjuntos de saber citados são sempre analisados em função de seu desenvolvimento em si mesmo, e não em correlação com a ampliação de seu público (por meio da publicação de livros), além das circunstâncias sociopolíticas e culturais vigen-tes no país no momento específico em que se situava o material estudado.

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A listagem subseqüente dos livros em ciências sociais do acervo da Biblioteca Nacional está ordenada de acordo com a classificação apresentada no capítulo sobre temas e disciplinas.

Chamo a atenção para o fato de que, em alguns poucos ca-sos, as fichas de referência indicavam que o livro estava na sua segunda ou terceira edição, alguns reeditados no período de 1945 a 1966 e outros depois de 1966. Tive o cuidado de procu-rar a data da primeira edição dos títulos reeditados sempre que eu dispunha da informação, obtida em outras fontes, de que a primeira edição de uma obra havia sido publicada no período considerado neste estudo.

Certamente, alguns livros não foram arrolados porque eu não obtive aquela informação. Procurar a primeira edição de um livro não é tarefa fácil. Ao menos naquela época, eram ex-ceções as obras que registravam a primeira edição. No entanto, para o estudioso das idéias e dos livros é essencial saber o ano exato da primeira edição e de todas as suas reedições. Isto porque, entre tantos outros motivos, é comum haver mudan-ças nos textos, retiradas ou acréscimos de capítulos e imagens, mudanças nas introduções e prefácios, alterações, enfim, que revelam novas orientações de seus autores ou mudança nas suas redes de relação.

Fica aqui, pois, não somente uma advertência aos leitores, que poderão encontrar imprecisões em algumas referências, quanto um apelo aos editores para que registrem os anos das

VILIVros de CIênCIas soCIaIs no aCerVo

da BIBLIoteCa naCIonaL

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edições anteriores da obra que estão republicando. Finalmen-te, vale dizer que foram feitas diversas revisões nas referências dos livros, mas é possível encontrar aqui e ali algum equívoco ou erro, o qual, espero, não prejudique a contribuição que este estudo pode oferecer aos pesquisadores das ciências sociais.

História do Brasil

Obras sObre a disciplina

Avaliação da produção historiográfica

SODRÉ, Nelson Werneck. O que se deve ler para conhecer o Brasil. Coleção Co-nhecimento do Brasil. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Leitura, 1945. 262 p.

RODRIGUES, José Honório. Historiografia e bibliografia do domínio holandês no Brasil. Coleção do Instituto Nacional do Livro. Rio de Janeiro: Departa-mento de Imprensa Nacional, 1949. 489 p. il.

RODRIGUES, José Honório. A pesquisa histórica no Brasil: sua evolução e pro-blemas atuais. Biblioteca Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Na-cional do Livro, Departamento de Imprensa Oficial, 1952. 286 p.

MORAES, Rubens Borba de. Bibliografia brasiliana: a bibliographical essay on rare books about Brazil published from 1504 to 1900 and works of brazil-ian authors published abroad before the Independence of Brazil in 1822. Rio de Janeiro: Colibris, 1958.

JOSÉ, Oiliam. Historiografia mineira - esboço. Coleção Estudos Brasileiros. Belo Horizonte: Itatiaia, 1959. 216 p.

CIDADE, Francisco de Paula. Síntese de três séculos de literatura militar brasileira. Rio de Janeiro: Ed. do Batalhão Gal. Caetano de Farias, 1959. 607 p.

RODRIGUES, José Honório. História e historiadores do Brasil. São Paulo: Ful-gor, 1965. 183 p.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

Problemas teórico-metodológicos

PRADO JR., Caio. Dialética do conhecimento. São Paulo: Brasiliense, 1952.

RODRIGUES, José Honório. Teoria da história do Brasil: introdução metodo-lógica. 2ª ed. revisada, documentada e ilustrada. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1957. 2 v. il.Primeira edição: São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1949.

MENEZES, Djacir. O sentido antropógeno da história. Rio de Janeiro: Organiza-ção Simões, 1958. 284 p.

IGLÉSIAS, Francisco. Introdução à historiografia econômica. Belo Horizonte: Im-prensa da Universidade de Minas Gerais, 1959. 97 p.

Avaliação do ensino da disciplina

HOLANDA, Guy de. Um quarto de século de programas e compêndios de história para o ensino secundário. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacio-nais, 1957. 292 p.

Obras sObre temas históricOs gerais

História do Brasil

RIBEIRO, Joaquim. Capítulos inéditos na história do Brasil. Coleção Rex. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1954. 184 p. il.

TAPAJÓS, Vicente. História do Brasil. Biblioteca do Espírito Moderno. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 532 p. il. Primeira edição: São Paulo: CEN, 1944.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. História da civilização brasileira. Organização de Sérgio Buarque de Holanda com a colaboração de Pedro Moacyr Cam-pos. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1960.

VIANNA, Hélio. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1961. il.

MACEDO, Sérgio Diogo Teixeira de. A história do Brasil. Rio de Janeiro: Tec-noprint, 1963. 390 p.

TOURINHO, Eduardo. Esse continente chamado Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964. 267 p.

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LACOMBE, Américo Jacobina. Resumo de história do Brasil. 3a ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1977. 148 p. Primeira edição: Um passeio pela História do Brasil, 1943; revisada com novo título em segunda edição de 1966.

História da Colônia

ENNES, Ernesto José Bizano. Estudos sobre história do Brasil. Coleção Brasilia-na. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1947. 266 p. il.

VIANNA, Hélio. Estudos de história colonial. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1948. 318 p.

CORREIA, C. Cunha. Serra da saudade. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1948. 296 p. il.

História do império

VIANNA, Hélio. Estudos de história imperial. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1950. 328 p.

SANT’ANA, Nuto. Documentário histórico. São Paulo: Departamento de Cultu-ra, 1950. 3 v.

SAN MARTIN, Olyntho. Imagens da história. Porto Alegre: Ed. A Nação, 1951. 219 p.

MAGALHÃES JUNIOR, Raimundo. O Império em chinelos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1957. 314 p. il.

TORRES, João Camilo de Oliveira. A democracia coroada: teoria política do Império do Brasil. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957. 589 p. il.

SOUSA, Octávio Tarquínio de. História dos fundadores do Império do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957-1958. 10 v. il.

TORRES, João Camilo de Oliveira. Do governo régio. Biblioteca de Cultura Ca-tólica. Petrópolis: Vozes, 1958. 156 p.

TORRES, João Camilo de Oliveira. História do Império. Rio de Janeiro: Record, 1963. 91 p. il.

LYRA, Heitor. História da queda do Império. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1964. 2v.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

História da república

SODRÉ, Fábio de Azevedo. A luta pelo ‘‘Poder do Estado’’ na República: ensaios de psicologia social. Rio de Janeiro: Tipografia Baptista de Souza, 1946. 170 p.

DANTAS, Manuel. Um político da ‘‘reação republicana’’. Coleção Estudos Sergi-panos. Aracaju: Livraria Regina, 1946. 120 p.

MOREIRA, Antônio Ilha. Proclamação e fundação da República. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1947. 175 p. il.

MELO, Olbiano de. A marcha da revolução social no Brasil: ensaio histórico-socioló-gico do período 1922 a 1954. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1957. 222 p.

MACEDO, Sérgio Diogo Teixeira de. A queda do Império: história da proclama-ção e consolidação da República. Rio de Janeiro: Record, 1963. 92 p.

Obras sObre temas históricOs específicOs

História Política

História dos eventos políticos

Descobrimento

CORTESÃO, Jaime. Cabral e as origens do Brasil: ensaio de topografia histórica. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1944. 167 p. il.

SOUSA, Tomás Oscar Marcondes de. O descobrimento do Brasil: estudo crítico de acordo com a documentação histórica, cartográfica e náutica. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1946. 381 p. il.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso: os motivos edênicos no des-cobrimento e colonização do Brasil. 3ª ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1977. 360 p. Primeira edição: Rio de Janeiro: José Olympio, 1959.

SOUSA, Tomás Oscar Marcondes de. Algumas achegas à história dos descobrimen-tos marítimos: críticas e controvérsias. São Paulo: Ed. Herder, 1958. 280 p.

SILVA, Maria Beatriz Nizza da (Org.). A carta de Pero Vaz de Caminha: estudo crítico de J. F. de Almeida Prado. Rio de Janeiro: Agir, 1965. 120 p.

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Ocupação territorial: capitanias e sistema de sesmarias

PRADO, João Fernando de Almeida. A Bahia e as capitanias do centro do Brasil (1530 – 1626): história da formação da sociedade brasileira. Coleção Bra-siliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1945.

CORDEIRO, José Pedro Leite. Braz Cubas e a capitania de São Vicente. São Paulo: s/e, 1951. 238 p. il.

DIAS, Demóstenes de Oliveira. Formação territorial do Brasil: origem e evolução. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica, 1956. 137 p. il.

STUDART FILHO, Carlos. Fundamentos geográficos e históricos do estado do Maranhão e Grão-Pará: com breve estudo sobre a origem e evolução das capitanias feudais do norte e meio norte. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1959. 359 p.

PRADO, João Fernando de Almeida. São Vicente e as capitanias do sul do Brasil: as origens (1501 – 1531). Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1961. 513 p.

PORTO, José da Costa. Duarte Coelho. Cadernos de Cultura. Rio de Janeiro: Mi-nistério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1961. 104 p.

PORTO, José da Costa. Estudos sobre sistema sesmarial. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Imprensa Universitária, 1965. 197 p.

Invasões estrangeiras

MELO NETO, José Antônio Gonçalves de. Tempo dos flamengos: influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do norte do Brasil. Prefácio de Gilberto Freyre. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1947. 335 p.

ANDRADA, Laércio Caldeira de. A “Igreja dos fiéis”: Coligny no feudo de Ville-gaignon. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Publicidade, 1947. 149 p. il.

VAN DER DUSSEN, Adrien. Relatório sobre as capitanias conquistadas no Brasil pelos holandeses (1639): suas condições econômicas e sociais. Tradução, in-trodução e notas de José Antônio Gonçalves de Melo Neto. Rio de Janei-ro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1947. 168 p.

CASTRO, Américo Mendes de Oliveira. Maurício de Nassau contra a integridade do Brasil. Rio de Janeiro: A Noite, 1948. 260 p. il.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

CORDEIRO, José Pedro Leite. São Paulo e a invasão holandesa no Brasil. São Paulo: Gráfica Bentivegna, 1949. 244 p. il.

PORTO, José da Costa. História popular da restauração. Recife: Prefeitura Muni-cipal, Departamento de Documentação e Cultura, 1954. 70 p.

RODRIGUES, Lysias Augusto. Formação da nacionalidade brasileira: história re-sumida das guerras holandesas ao norte do Brasil. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Laemmert, 1954. 472 p. il.

CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia do Brasil holandês: documentação e gra-vuras flamengas. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956. 303 p. il.

MENDONÇA, Renato de. Fronteira em marcha: ensaio de geopolítica brasileira. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Americana, 1956. 273 p.

NUÑEZ, Aron P. Os três Felipes da Espanha que foram reis do Brasil: um capítulo esquecido da história do Brasil. Reivindicação histórica dos 60 anos de período filipino. São Paulo: Edigraf., 1957. 302 p. il.

SALEMA, Sílvio. Um bárbaro cruel na história do Brasil. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1960. 63 p.

MACEDO, Sérgio Diogo Teixeira de. As lutas contra o invasor. Rio de Janeiro: Record, 1963. 92 p. il.

PRADO, João Fernando de Almeida. A conquista da Paraíba (séculos XVI e XVIII). Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1964. 364 p. il.

SANTOS, Francisco Ruas. Memórias de um mosqueteiro francês: os holandeses na Bahia em 1624 e 1625. Rio de Janeiro: Record, 1964. 98 p. il.

GUERRA, Flávio. A guerra da restauração. Rio de Janeiro: Record, 1964. 91 p. il.

QUINTILIANO, Aílton. A guerra dos tamoios. Rio de Janeiro: Reper, 1965. 247 p. il.

Ocupação territorial: entradas e bandeiras

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Monções. Coleção Estudos Brasileiros. Rio de Janeiro: Ed. da Casa do Estudante do Brasil, 1945. 255 p. il.

MIRANDA, Salm de. Expansão para o norte. Biblioteca Militar. Rio de Janeiro: Bedeschi, 1946. 152 p.

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SAN MARTIN, Olyntho. Bandeirantes no sul do Brasil. Porto Alegre: Ed. A Nação, 1949. 232 p. il.

TAUNAY, Afonso d’Escragnolle. História das bandeiras paulistas. 3ª ed. São Pau-lo: Melhoramentos; Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1975. 3 v. il. Primeira edição: História geral das bandeiras paulistas, 1924-1950. 11 v.

MAGALHÃES, João Batista de. A compreensão da unidade do Brasil. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1956. 185 p.

GOLGHER, Isaías. Guerra dos emboabas: a primeira guerra civil nas Américas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1956. 257 p.

BRITO, Lasinha Luís Carlos de Caldas. Heróis da sombra: os que não viram a vitória. São Paulo: Livraria Martins, 1957. 242 p. il.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Caminhos e fronteiras. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1957. 334 p. il.

CORTESÃO, Jaime. Raposo Tavares e a formação territorial do Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1958. 454 p.

LEITE, Aureliano. O cabo maior dos paulistas na guerra com os emboabas. 2ª ed. São Pau-lo: Saraiva, 1962. 230 p. il. Primeira edição: São Paulo: Livraria Martins, 1942.

GOULART, José Alípio. Tropas e tropeiros na formação do Brasil. Rio de Janeiro: Conquista, 1961. 267 p. il.

LEITE, Mario. Paulistas e mineiros, plantadores de cidades. Prefácio do Embaixa-dor José Carlos de Macedo Soares. São Paulo: Ed. Art, 1961. 292 p.

Independência

SILVA, Joaquim Norberto dos Santos. História da conjuração mineira. Prefácio de Oswaldo Melo Braga. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, Imprensa Nacional, 1948. 2v.

OLIVEIRA, Almir de. Gonzaga e a inconfidência mineira. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1948. 274 p.

CAÚ, Sílvio de Melo. A revolução nativista pernambucana de 1817. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Laemmert, 1951. 156 p.

PRADO, João Fernando de Almeida. Tomas Ender, pintor austríaco na corte de D. João VI no Rio de Janeiro: um episódio da formação da classe dirigente brasileira, 1817-1818. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1955.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

LIMA JÚNIOR, Augusto de. Pequena história da inconfidência de Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1955. 339 p. il.

DORES, Manuel Moreira da Paixão. Diário da Armada da Independência. Cole-ção Estudos Brasileiros. Salvador: Câmara Municipal da Cidade de Salva-dor, Livraria Progresso, 1957. 130 p.

ALBUQUERQUE, Arci Tenório d’. A maçonaria e a independência do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Espiritualista, 1958. 302 p. il.

GERSON, Brasil. Pequena história da inconfidência. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1959. 74 p.

AGUIAR, Manuel Pinto de. A abertura dos portos: Cairu e os ingleses. Coleção Estudos Brasileiros. Salvador: Livraria Progresso, 1960. 180 p. il.

PINTO, Teixeira. A maçonaria na independência do Brasil 1812 – 1823. Rio de Janeiro: Ed. Salogan, 1961. 114 p.

REIS, Paulo Pereira dos. O colonialismo português e a conjuração mineira: esboço de uma perspectiva histórica dos fatores econômicos que determinaram a conjuração mineira. Prefácio de T. O. Marcondes de Souza, apresentação de J. F. de Almeida Prado. Coleção Brasiliana. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Nacional, 1964. 140 p.

SODRÉ, Nelson Werneck. As razões da independência. Coleção Retratos do Bra-sil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 274 p.

Movimentos de «quebra» e manutenção da unidade política / Império

BOITEUX, Lucas Alexandre. Marinha imperial versus cabanagem. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1945. 409 p. il.

SOUSA, José Conceição Pereira Coelho de. O sentido e o espírito da revolução farroupilha. Porto Alegre: Ed. Globo, 1945. 100 p.

QUINTAS, Amaro Soares. O sentido social da revolução praieira. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. 166 p.Primeira edi-ção: Recife: Imprensa Universitária do Recife, 1961.

SERRA, Astolfo. A balaiada. Biblioteca Militar. Rio de Janeiro: Bedeschi, 1946. 308 p.

SEGISMUNDO, Fernando. História popular da revolução praieira. Rio de Janeiro: Vitória, 1949. 106 p.

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PERETTI, João de Medeiros. O movimento praieiro: ensaio sobre a revolta de 1848. Recife: Imprensa Oficial, 1950. 90 p.

BRITO, Francisco de Sá. Memória da guerra dos farrapos. Prefácio, introdução biográfica e notas explicativas de Paulino Jacques. Rio de Janeiro: Gráfica Ed. Souza, 1950. 252 p. il.

THIOLLIER, René de Castro. A república rio grandense e a guerra paulista de 1932. São Paulo, Ed. Alarico, 1952. 205 p.

OLIVEIRA, Ramos de. O conflito maçônico religioso de 1872. Petropólis: Vozes, 1952. 238 p.

GUERRA, Flávio. A questão religiosa do segundo Império brasileiro: fundamentos históricos. Prefácio de Barbosa Lima Sobrinho. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1952. 265 p.

VARELA, Alfredo. O solar brasílico, remate nos muros austríacos. Rio de Janeiro: Ed. Instituto América, 1953. 2 v.

VARELA, Alfredo. Índice alfabético e remissivo da história da grande revolução. Rio de Janeiro: AGUS, 1955. 209 p.

CARNEIRO, Edison de Sousa. A insurreição praieira (1848–1849). Rio de Janeiro: Conquista, 1960. 253 p. il.

SPALDING, Walter. A epopéia farroupilha. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exér-cito, 1963. 319 p.

PALHA, Américo. Os precursores da abolição. Prefácio de Pedro Calmon. Rio de Janeiro: Record, 1965. 90 p. il.

ANDRADE, Manuel Correia de. A guerra dos cabanos. Coleção Temas Brasilei-ros. Rio de Janeiro: Conquista, 1965. 273 p. il.

REIS, Gustavo Morais Rêgo. A cabanagem: um episódio histórico de guerra in-surrecional na Amazônia (1835–1839). Prefácio de Arthur César Ferreira Reis. Manaus: Governo do Estado do Amazonas, 1965. 119 p. il.

Movimentos de «quebra» e manutenção da unidade política / República

VALADÃO, Alfredo. Campanha da Princeza. Rio de Janeiro: Ed. Leuzinger, 1937-1945. 4 v. il.

BERFORD, Álvaro Bittencourt. O estado nacional e a constituição de novembro de 1937. Rio de Janeiro: Ed. do Departamento de Imprensa e Propaganda, 1944. 239 p.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

ALMEIDA, Júlio Barbosa de. A revolução paulista e a polícia espírito-san-tense: dados e documentos para a história. Vitória: Escola Graphica, 1945. 160 p.

MAGALHÃES, João Batista de. A consolidação da República: ensaio para a filo-sofia da história do Brasil. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Laem-mert, 1947. 264 p.

DUARTE, Paulo. Palmares pelo avesso. Coleção Iguassu. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1947. 422 p.

LANDUCCI, Ítalo. Cenas e episódios da coluna Prestes: com 24 fotografias inédi-tas. São Paulo: Brasilense, 1947. 119 p. il.

LOBATO FILHO, João Bernardo. A última noite da Escola Militar da Praia Vermelha: contribuição para a história. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1948. 127 p.

OLIVEIRA, Benedito Fernandes de. Revolução paulista de 1932. São Paulo: Re-vista dos Tribunais, 1950. 132 p. il.

FRANÇA, Antônio. Anos de resistência. Rio de Janeiro: Ed. da Casa do Estu-dante do Brasil, 1950. 163 p. il.

JOBIM, Rubens Maio Caggiano. Vento leste nos campos gerais: o cerco da Lapa. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Laemmert, 1952. 167 p. il.

CUNHA, Heitor Xavier Pereira da. A revolta na esquadra brasileira em novembro e dezembro de 1910. Rio de Janeiro: Imprensa Naval, 1953. 108 p. il.

MARINS, Francisco. A aldeia sagrada. São Paulo: Melhoramentos, 1953. 100 p. il.

OLIVEIRA, Clóvis. A indústria e o movimento constitucionalista de 1932. São Pau-lo: Centro e Federação das Indústrias do estado de São Paulo, Serviço de Publicações, 1956. 320 p. il.

OLIVEIRA, Nelson Tabajara de. 1924: a revolução de Isidoro. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 200 p.

PEREGRINO, Umberto. Os “Sertões” como história militar. Coleção Taunay. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1956. 75 p.

ARAÚJO, Lourenço. A coluna Gwyer no túnel: a revolução de 1932. Niterói: Tipografia J. Gonçalves, 1958. 53 p. il.

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NOGUEIRA FILHO, Paulo. O partido democrático e a revolução de 1930. São Paulo: Ed. Anhembi, 1958. 2 v.

MELO, Dante de. A verdade sobre “Os Sertões”: análise reivindicatória da cam-panha de Canudos. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Instituto Brasi-leiro de Geografia e Estatística, 1958. 257 p.

LAFAYETTE, Pedro. Saldanha da Gama. Rio de Janeiro: Gráfica Ed. Souza, 1959. 2v. il.

CALASANS, José. No tempo de Antônio Conselheiro: figuras e fatos da campanha de Canudos. Salvador, Universidade da Bahia, 1959. 121 p.

ROCHA NETO, Bento Munhoz da. Radiografia de novembro. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960. 158 p.

ARARIPE, Tristão de Alencar. Expedições militares contra Canudos: seu aspecto marcial. Rio de Janeiro, Imprensa do Exército, 1960. 286 p. il.

RODRIGUES, José Honório. Aspirações nacionais: interpretação histórico-po-lítica. São Paulo: Fulgor, 1963. 162 p.

FONTOURA, João das Neves da. A aliança liberal e a revolução de 30. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1963. 500 p.

MACEDO, Nertan. Memorial de Vilanova. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1964. 162 p.

CARONE, Edgard. Revoluções do Brasil contemporâneo 1922-1938. Coleção Buri-ti. São Paulo: Desa, 1965. 174 p. il.

GARCIA, Manuel Funchal. Do litoral ao sertão: viagens pelo interior do Brasil, inclusive na região de Canudos. Coleção Gal. Benício. Rio de Janeiro: Bi-blioteca do Exército, 1965. 365 p.

NOGUEIRA FILHO, Paulo. A guerra cívica – 1932. Rio de Janeiro: José Olym-pio, 1965.

SILVA, Hélio. 1926: A grande marcha. Coleção Documentos da História Con-temporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 972 p. il.

SILVA, Hélio. 1930 – A revolução traída. Coleção Documentos da História Contemporânea. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 505 p. il.

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Page 229: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

História Militar

FERREIRA, Aurélio Alves de Souza. História militar do Brasil: regime colonial. Rio de Janeiro: Imprensa Militar, 1945. 354 p. il.

SOUZA, Pedro Luís Pereira de. Militarismo e República (crítica e história): subsí-dios para a preservação do exército e manutenção da ordem no Brasil. São Paulo: Nova Jurisprudência, 1945. 184 p.

LORETO, Aliatar. Capítulos de história militar do Brasil: colônia-reino. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Biblioteca Militar, 1946. 189 p. il.

LOPES, Teodorico Francisco. Ministros da guerra do Brasil 1808-1945. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1946. 392 p. il.

CIDADE, Francisco de Paula. Lutas ao sul do Brasil, com os espanhóis e seus descen-dentes (1680-1828): notas de história militar brasileira, reexame de questões políticas e militares. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Biblioteca Mi-litar, 1948. 324 p. il.

SOUZA JÚNIOR, Antonio de. Caminhos históricos da invasão. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1950. 142 p. il.

BARRETO, Aníbal. Fortificações do Brasil: resumo histórico. Biblioteca do Exér-cito. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1958. 337 p. il.

MAGALHÃES, João Batista. A evolução militar do Brasil: anotações para a his-tória. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1958. 408 p.

OLIVEIRA, João Pereira. Vultos e fatos de nossa história. Rio de Janeiro: Impren-sa do Exército, 1959. 187. p. il.

SOUZA JÚNIOR, Antonio de. O Brasil e a terceira guerra mundial: ensaio de interpretação da história das guerras no século XX. Rio de Janeiro: Biblio-teca do Exército, 1959. 341 p.

SODRÉ, Nelson Werneck. Narrativas militares: seleção, organização e notas biográficas. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1959. 283 p. il.

LIMA JÚNIOR, Augusto de. Crônica militar. Belo Horizonte: s/e, 1960. 235 p. il.

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Page 230: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

MAIA, João do Prado. D.N.O.G. (Divisão Naval em Operação de Guerra) 1914-1918: uma página esquecida da história da Marinha brasileira. Rio de Janei-ro: Ministério da Marinha, Serviço de Documentação, 1961. 253 p. il.

MAIA, João do Prado. A marinha de guerra do Brasil na colônia e no Império: ten-tativa de reconstituição histórica. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Ed. Cátedra, 1975. 340 p. il. Primeira edição: Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1965.

TAVARES, Aurélio de Lira. A engenharia militar portuguesa na construção do Brasil. Rio de Janeiro: Estado Maior do Exército, 1965. 188 p. il.

SODRÉ, Nelson Werneck. História militar do Brasil. Coleção Retratos do Bra-sil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 439 p.

História diplomática

JORGE, Artur Guimarães de Araújo. Introdução às obras do Barão do Rio Branco. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1945. 233 p.

VIANNA, Hélio. História das fronteiras do Brasil. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Laemmert, 1948. 333 p.

ALMEIDA, Mário Monteiro de. Episódios históricos da formação geográfica do Bra-sil: fixação das raias com o Uruguai e o Paraguai. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1951. 636 p.

SOARES, Álvaro Teixeira. Diplomacia do Império no Rio da Prata (até 1865). Rio de Janeiro: Ed. Brand, 1955. 293 p.

PRADO, João Fernando de Almeida. O Brasil e o colonialismo europeu. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 484 p.

SOARES, Álvaro Teixeira. O gigante e o rio: ação de Mauá no Uruguai e Argentina (1851-1878). Rio de Janeiro: Cia. Brasileira de Artes Gráficas, 1957. 335 p.

VIANNA, Hélio. História diplomática do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1958. 211 p. il.

CARVALHO, Carlos Delgado de. História diplomática do Brasil. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1959. 409 p. il.

VALADÃO, Alfredo. Brasil e Chile na época do Império: amizade sem exemplo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959. 321 p. il.

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Page 231: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

RODRIGUES, José Honório. Brasil e África, outro horizonte: relações e política brasileiro-africana. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1961. 359 p.

RODRIGUES, José Honório. Interesse nacional e política externa. Coleção Retra-tos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 232 p.

História administrativa

ANDRADE, Almir. Contribuição à história administrativa do Brasil na República até o ano de 1945. Rio de Janeiro: José Olympio, 1950. 2 v.

GURGEL, Heitor. O governo Amaral Peixoto 1937-1945: subsídios para a his-tória político-administrativa do estado do Rio. Niterói: s/e, 1950. 158 p.

JESUS, Jupira S. Palhano de. Viação e Obras Públicas: elementos para a história do ministério. Coleção Mauá. Rio de Janeiro: Ministério da Viação e Obras Públicas, Serviço de Documentação, 1955. 260 p.

SOUZA, Antônio Manuel Braga de. História do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio - MTIC. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação, 1955.

TAPAJÓS, Vicente et al. História administrativa do Brasil. Rio de Janeiro: Depar-tamento Administrativo do Serviço Público, Serviço de Documentação, 1956. 8 v.

BESOUCHET, Lídia. História da criação do Ministério do Trabalho: ensaio de inter-pretação do MTIC. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Serviço de Documentação, 1957. 76 p.

LOBO, Eulália Maria Lahmeyer. Processo administrativo ibero-americano: aspectos socioeconômicos do período colonial. Coleção Gal. Benício. Rio de Janei-ro: Biblioteca do Exército, 1962. 570 p. il.

História constitucional

ALECRIM, Otacílio. Idéias e instituições no Império: influências francesas. Rio de Janeiro, Jornal do Commercio, 1952. 240 p.

CÂMARA, José. Subsídios para a história do direito pátrio. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1954. 3 v.

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Page 232: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

SOUZA, José Pedro Galvão de. Introdução à história do direito político brasileiro. São Paulo: Reconquista, 1954. 134 p.

MOIRA, Augusto. Tirania dos erros, questões constitucionais. Rio de Janeiro: Ir-mãos Pongetti, 1960. 367 p.

LEAL, Hamilton. História das instituições políticas do Brasil. Rio de Janeiro: s/e, 1962. 599 p.

RODRIGUES, José Honório. Conciliação e reforma no Brasil: um desafio histó-rico-cultural. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Bra-sileira, 1965. 246 p.

SOUZA, José Pedro Galvão de. Raízes históricas da crise política brasileira. Petró-polis: Vozes, 1965. 148 p.

História eclesiástica

PIRES, Heliodoro de Souza. Temas de história eclesiástica do Brasil. São Paulo: São Paulo Ed., 1946. 518 p. il.

CAMARGO, Paulo Florêncio da Silveira. História eclesiástica do Brasil. Petrópo-lis: Vozes, 1965. 414 p.

VERISSIMO, Inácio José. Pombal, os jesuítas e o Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa do Exército, 1961. 440 p.

TERRA, Pedro. A catequese: seus feitos notáveis, seus heróis eternos. Rio de Janeiro: Record, 1963. 92 p. il.

História dos partidos políticos

BOEHRER, George C. Da monarquia à república: história do Partido Republica-no do Brasil (1870–1899). Tradução de Berenice Xavier. Rio de Janeiro: Mi-nistério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1954. 300 p. il.

SANTOS, José Maria dos. Bernardino de Campos e o Partido Republicano Paulista: subsídios para a história da República. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960. 285 p. il.

História de cidades, estados da Federação e regiões

História de cidades

SETE, Mário. Arruar, história pitoresca do Recife antigo. Rio de Janeiro: Ed. da Casa do Estudante do Brasil, 1948. 407 p. il.

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Page 233: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

FALCÃO, Edgar de Cerqueira. A fundação da cidade de Salvador em 1549. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1949. 102 p.

CRULS, Gastão. Aparência do Rio de Janeiro: notícia histórica e descritiva da ci-dade. Prefácio de Gilberto Freyre, 2a ed. revisada pelo autor. Coleção Do-cumentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952. 2 v. il. Primeira edição: Rio de Janeiro: José Olympio, 1949.

BRUNO, Ernani Silva. História e tradições da cidade de São Paulo. Prefácio de Gilberto Freyre. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1953-1954. 3 v. il.

FERREIRA, Augusto Maurício de Queiroz. O que ficou do passado. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Americana, 1954. 167 p. il.

CORTESÃO, Jaime. A fundação de São Paulo, capital geográfica do Brasil. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1955. 275 p. il.

COSTA, Osmani Emboaba. História da fundação de Ribeirão Preto. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, 1955. 112 p. il.

SILVA, ALBERTO. A cidade de Salvador: aspectos seculares. Coleção de Estu-dos Brasileiros, Série Marajoara. Salvador: Prefeitura Municipal, Livraria Progresso, 1957. 226 p. il.

VIANA, Hermógenes. A fundação do Recife. Recife: Imprensa Industrial, 1959. 62 p.

GUIMARÃES, Fábio Nelson. Fundação histórica de São João del-Rei: com sub-sídios para a história da cidade de Tiradentes em suas origens. São João del-Rei: São João del-Rei Artes Gráficas, 1961. 100 p. il.

OMEGNA, Nelson. A cidade colonial. Ilustrações de Percy Lau. Coleção Do-cumentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1961. 344 p. il.

LIMA JÚNIOR, Augusto de. As primeiras vilas de ouro. Belo Horizonte: Santa Maria, 1962. 137 p.

FIGUEIREDO FILHO, José de. História do Cariri. Crato: Instituto de Estudo Superior do Cariri, Faculdade de Filosofia do Crato, 1964.

ANTUNES, Deoclécio de Paranhos. Estudos de história carioca. Rio de Janeiro: Prefeitura do Distrito Federal, Secretaria Geral de Educação e Cultura, 1965. 186 p. il.

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Page 234: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

BELCHIOR, Elísio de Oliveira. Conquistadores e povoadores do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Ed. Brasiliana, 1965. 528 p.

DINIZ, Sílvio Gabriel. Pesquisando a história de Pitangui. Belo Horizonte: Im-prensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1965. 292 p.

GERSON, Brasil. História das ruas do Rio. 4ª ed. revisada, ampliada e ilustrada. Rio de Janeiro: Ed. Brasiliana, 1965. 580 p. il. Primeira edição: Rio de Janei-ro: Prefeitura do Distrito Federal, Secretaria da Educação e Cultura, 1954.

PINHEIRO, Maciel. O Rio de Janeiro através da revista. Revista do Instituto Histó-rico e Geográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. Brasiliana, 1965. 307 p.

RHEINGANTZ, Carlos G. Primeiras famílias do Rio de Janeiro (séculos XVI e XVIII). Rio de Janeiro: Ed. Brasiliana, 1965.

TROTA, Frederico. A fundação da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Prefeitu-ra do Distrito Federal, Secretaria Geral de Educação e Cultura, 1965. 158 p.

História de estados da Federação

MARIZ, Celso. Cidades e homens. João Pessoa: A União, 1945. 284 p. il.

ANDRADE, Delmiro Pereira de. Evolução histórica da Paraíba do Norte. Rio de Janeiro: Minerva, 1946. 313 p. il.

LIMA JÚNIOR, Félix. Mapirunga. Maceió: Casa Ramalho Ed., 1954. 221 p. il

PORTO, Carlos Eugênio. Roteiro do Piauí. Rio de Janeiro: Ministério da Edu-cação e Cultura, Serviço de Documentação, 1955. 186 p. il.

CARVALHO, Daniel Serapião. A formação histórica das Minas Gerais. Cadernos de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1956. 60 p.

COSTA, Luiz Monteiro da. Na Bahia colonial: apontamentos para a história militar da cidade do Salvador. Coleção de Estudos Brasileiros, Série Mara-joara. Salvador: Livraria Progresso, 1958. 168 p. il.

STUDART FILHO, Carlos. Estudos de história seiscentista. Fortaleza: Tipografia Minerva, 1959. 194 p. il.

JOSÉ, Oiliam. A propaganda republicana em Minas. Belo Horizonte: Universida-de de Minas Gerais, Faculdade de Direito, 1960. 180 p.

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Page 235: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

STUDART FILHO, Carlos. A revolução de 1817 no Ceará e outros estudos. Forta-leza: Tipografia Minerva, 1961. 258 p.

TOCANTINS, Leandro. Formação histórica do Acre. Prefácio de Arthur César Ferreira Reis. Rio de Janeiro: Conquista, 1961. 3 v. il.

JOSÉ, Oiliam. A abolição em Minas. Belo Horizonte: Itatiaia, 1962. 169 p.

CRUZ, Ernesto. História do Pará. Belém: Universidade do Pará, 1963. 2 v.

NOVAIS, Maria Estela. A escravidão e a abolição no Espírito Santo: história e folclore. Vitória: Assembléia Legislativa do Estado do Espírito Santo, 1963. 166 p.

História de regiões

REIS, Arthur César Ferreira. Estadistas portugueses na Amazônia. Rio de Janeiro: Ed. Dois Mundos, 1948. 202 p.

REIS, Arthur César Ferreira. Limites e demarcações na Amazônia brasileira. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1947. 2 v. il.

IGLÉSIAS, Francisco de Assis. Caatingas e chapadões: notas, impressões e re-miniscências do meio-norte brasileiro 1912-1919. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1951. 638 p.

CARNEIRO, Edison de Sousa. A conquista da Amazônia. Coleção Mauá. Rio de Janeiro: Ministério da Viação e Obras Públicas, Serviço de Documen-tação, 1956. 114 p.

REIS, Arthur César Ferreira. A Amazônia que os portugueses revelaram. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1956. 128 p.

TOCANTINS, Leandro. Amazônia, natureza, homem e tempo. Coleção Temas Brasileiros. Rio de Janeiro: Conquista, 1960. 245 p. il.

GUERRA, Flávio. História colonial do Nordeste. Rio de Janeiro: Record, 1963. 89 p. il.

MENDONÇA, Marcos Carneiro de. A Amazônia na era pombalina. São Paulo: Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1963. 3v. il.

REIS, Arthur César Ferreira. Aspectos da experiência portuguesa na Amazônia. Ma-naus: Governo do Estado da Amazonas, 1966. 321 p.

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Glaucia Villas Bôas

História Econômica

Formação econômica

Características gerais

PRADO JR., Caio. História econômica do Brasil. 2ª ed. Coleção Grandes Estudos Brasileiros. São Paulo: Brasiliense, 1949. 332 p. Primeira edição: São Paulo: Brasiliense, 1945.

FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Síntese da história econômica do Brasil. Salva-dor: Universidade da Bahia, Livraria Progresso, 1958. 95 p.

VIANNA, Francisco José de Oliveira. Introdução à história social da economia pré-capitalista no Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958. 192 p. il.

LOBO, Roberto Haddock. Pequena história da economia. 2ª ed. São Paulo: Livra-ria Martins, 1959. 376 p. il.

AGUIAR, Manuel Pinto de. Ensaios de história e economia. Salvador: Livraria Progresso, 1960.

TOURINHO, Eduardo. Breve história da formação econômica do Brasil. Rio de Ja-neiro: Irmãos Pongetti, 1962. 154 p.

GUIMARÃES, Alberto Passos. Quatro séculos de latifúndio. 3ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975. 255 p. Primeira edição: São Paulo: Fulgor, 1964.

Características no período colonial

DORNAS FILHO, João. Aspectos da economia colonial. 2ª ed. Coleção Estudos Brasileiros. Belo Horizonte: Itatiaia, 1959. 272 p. il. Primeira edição: Belo Horizonte: Itatiaia, 1956.

BRUNO, Ernani Silva. Viagem ao país dos paulistas: ensaio sobre ocupação da área vicentina e a formação de sua economia e de sua sociedade nos tempos coloniais. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966. 151 p. il.

MARÇAL, Heitor. Marinha e sertão: fundamentos da economia colonial. 2ª ed. Rio de Janeiro: Ed. GRD, 1966. 169 p.

BOXER, Charles Ralph. A idade de ouro do Brasil: dores de crescimento de uma sociedade colonial. Tradução de Nair de Lacerda. Prefácio de Carlos Rizzi-

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Page 237: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

ni. 2ª ed. revisada. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1969. 390 p. il. Primeira edição: Rio de Janeiro: Sociedade de Estudos Históricos Dom Pedro II, 1963.

Atividades produtivas: açúcar, mineração, café e pesca

ELLIS JÚNIOR, Alfredo. O café e a paulistânia. São Paulo: Faculdade de Filo-sofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, 1951. 699 p. il.

MAGALHÃES, Basílio de. O açúcar nos primórdios do Brasil colonial. Rio de Janei-ro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1953. 204 p.

ELLIS, Myriam. Aspectos da pesca da baleia no Brasil colonial. São Paulo: S.C.P., 1958. 126 p. il.

STEIN, Stanley J. Grandeza e decadência do café no Vale do Paraíba com referência especial ao município de Vassouras. Tradução de Edgar Magalhães. Capa de Luis Ventura. Rio de Janeiro: Brasiliense, 1961. 372 p. il.

ELLIS, Myriam. Contribuição ao estudo do abastecimento das áreas mineradoras do Brasil no século XVIII. Cadernos de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, 1962. 68 p.

COSTA FILHO, Miguel. A cana-de-açúcar em Minas Gerais. Rio de Janeiro: Ins-tituto do Açúcar e do Álcool, 1963. 415 p. il.

Política econômica

TAUNAY, Alfredo d’Escragnolle. História administrativa e econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1955. 101 p.

SODRÉ, Nelson Werneck. O tratado de Methuen. Rio de Janeiro: Instituto Su-perior de Estudos Brasileiros, 1957. 50 p.

IGLÉSIAS, Francisco. Política econômica do governo provincial mineiro (1835-1889). Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1958. 231 p.

LUZ, Nícia Vilela. A luta pela industrialização do Brasil (1808-1930). Prefácio de João Cruz Costa. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1961. 216 p.

LIMA, Heitor Ferreira. Do imperialismo à libertação colonial: análise da economia mundial de 1890 a 1960. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1965. 168 p.

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Page 238: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

Industrialização

PINTO, Estevão. História de uma estrada de ferro do Nordeste. Coleção Documen-tos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1949. 310 p. il.

LIMA, Heitor Ferreira. Evolução industrial de São Paulo: esboço histórico. São Paulo: Livraria Martins, 1954. 196 p. il.

LIMA, Heitor Ferreira. Formação industrial do Brasil: período colonial. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1961. 327 p.

Sistema bancário

AGUIAR, Manuel Pinto de. Bancos no Brasil colonial: tentativas de organização bancária em Portugal e no Brasil até 1808. Coleção de Estudos Brasileiros, Série Marajoara. Salvador: Livraria Progresso, 1960. 120 p. il.

FRANCO, Afonso Arinos de Melo; PACHECO, Cláudio. História do Banco do Brasil: primeira fase 1808 – 1835. São Paulo: Instituto de Economia da Associação Comercial, 1947. 350 p.

História social

Escravidão

CARNEIRO, Edison de Sousa. O quilombo dos Palmares, 1630-1695. São Paulo: Bra-siliense, 1947. 246 p. Primeira edição: Guerra de los Palmares. Tradução do original inédito por Tomás Muñoz Molina. México: Fondo de Cultura Economica, 1946.

GOULART, Maurício. Escravidão africana no Brasil: das origens à extinção do tráfico. São Paulo: Livraria Martins, 1949. 300 p.

MOREL, Edmar. O dragão do mar, o jangadeiro da abolição. Rio de Janeiro: Edi-ções do Povo, 1949. 222 p. il.

FREITAS, Mário Martins de. Reino negro de Palmares. Biblioteca do Exército. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Americana, 1954.

COSTA, Emília Viotti da. Escravidão nas áreas cafeeiras: aspectos econômicos e ideológicos da desagregação do sistema escravista. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo, 1964. 3 v.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. Coleção Corpo e Alma do Bra-sil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1966. 497 p. il.

Classes e estratos sociais

LINHARES, Hermínio. Contribuição à história das lutas operárias no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Batista de Souza, 1955. 130 p.

SODRÉ, Nelson Werneck. As classes sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1957. 51 p.

DIAS, Everardo. História das lutas sociais no Brasil. São Paulo: Edaglit, 1962. 330 p.

SODRÉ, Nelson Werneck. História da burguesia brasileira. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. 318 p.

TORRES, João Camilo de Oliveira. Estratificação social no Brasil: suas origens históricas e suas relações com a organização política do país. Coleção Cor-po e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1965. 222 p.

Formação da sociedade

SODRÉ, Nelson Werneck. Introdução à revolução brasileira. Coleção Documen-tos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958. 257 p.

SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Brasi-

liense, 1963. 417 p. Primeira edição: São Paulo, Brasiliense, 1962.

Outros

VIANNA, Hélio. Contribuição à história da imprensa brasileira (1812-1862). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1945. 664 p. il.

PASSOS, Alexandre. A imprensa no período colonial. Cadernos de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saúde, Serviço de Documentação, 1952. 72 p.

BAHIA, Renato. O estudante na história nacional. Salvador: Livraria Progresso, 1954. 217 p.

MONTEIRO, Mário Ypiranga. O regatão (noticia histórica): subsídios para a história social do Amazonas. Coleção Muiraquitã. Manaus: Ed. Planície, 1958. 158 p. il.

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Glaucia Villas Bôas

SANTOS FILHO, Licurgo de Castro. Pequena história da medicina brasileira. Co-leção Buriti. São Paulo: São Paulo Ed., 1966. 150 p. il.

História das idéias

Estudos de caráter geral

SODRÉ, Nelson Werneck. Orientações do pensamento brasileiro: Azevedo Amaral, Gilberto Freyre, Oliveira Viana, Fernando de Azevedo, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado, Lúcio Cardoso. Rio de Janeiro: Casa Ed. Vecchi, 1952. 190 p.

MENEZES, Djacir. O Brasil no pensamento brasileiro. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, 1957. 276 p.

SODRÉ, Nelson Werneck. A ideologia do colonialismo: seus reflexos no pensa-mento brasileiro. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Insti-tuto Superior de Estudos Brasileiros, 1961. 275 p.

COSTA, João Cruz. Esbozo de una historia de las ideas en el Brasil. Tradução de Jorge López Pérez. Coleccion Tierra Firme. México: Fondo de Cultura Económica, 1957. 175 p. Edição em português: Esboço de uma história das idéias no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966.

Positivismo

COSTA, João Cruz. O positivismo na República: notas sobre a história do posi-tivismo no Brasil. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 203 p.

MENEZES, Djacir. Evolucionismo e positivismo na crítica de Farias Brito. Fortaleza: Imprensa Universitária do Ceará, 1962. 98 p.

BASTOS, Tocari Assis. O positivismo e a realidade brasileira. Belo Horizonte: Re-vista Brasileira de Estudos Políticos, Universidade Federal de Minas Ge-rais, 1965. 171 p.

Idéias “progressistas”

BRANDÃO, Otávio. Os intelectuais progressistas: Tavares Bastos, Tobias Barreto, Sílvio Romero, Euclides da Cunha, Lima Barreto. Coleção Rex. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1956. 164 p.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

PINHO, Luís. Idéias e pensamentos de Tavares Bastos. Rio de Janeiro: Minerva, 1946. 191 p. il.

Idéias socialistas

CHACON, Vamireh. História das idéias socialistas no Brasil. Coleção Re-tratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 416 p.

Idéias Políticas

CALMON, Pedro. História das idéias políticas. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1952. 480 p.

Obras Biográficas

BESOUCHET, Lídia. José Maria Paranhos, Vizconde do Rio Branco: ensayo histórico-bio-gráfico. Tradução de Luis M. Bandizzone. Collection Estudios Brasileños. Buenos Aires: Viau, 1944. 269 p. il. Edição em português: Rio de Janeiro: Z. Valverde, 1945.

BESOUCHET, Lídia. O pensamento vivo de Mauá. São Paulo: Livraria Martins, 1945. 195 p. il.

DELGADO, Luís. Rui Barbosa: tentativas de compreensão e de síntese. Co-leção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. 276 p.

LINS, Álvaro. Rio-Branco (O Barão do Rio-Branco) 1845-1912. Coleção Docu-mentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. 2v. il.

SOUSA, Octávio Tarquínio de. José Bonifácio 1763-1838. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. 320 p. il.

CARNEIRO, Davi. Tiradentes. Curitiba: Gerpa, 1946. 141 p. il.

MAGALHÃES, João Batista de. Osório: símbolos de um povo, síntese de uma época. Rio de Janeiro: Agir, 1946. 527 p. il.

QUEIROZ, Maurício Vinhas de. Uma garganta e alguns níqueis: história de Silva Jardim, o herói da publicidade republicana. Rio de Janeiro: Ed. Aurora, 1947. 178 p. il.

VIANA FILHO, Luís. Rui e Nabuco: ensaios. Coleção Documentos Brasilei-ros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1949. 230 p. il.

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Page 242: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

GABAGLIA, Laurita Pessoa Raja. Epitácio Pessoa (1865 -1942). Coleção Docu-mentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1951. 2 v. il.

SOUSA, Octávio Tarquínio de. A vida de dom Pedro I. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952. 3 v. il.

FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Um estadista da República: Afrânio de Melo Franco e seu tempo. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1955. 3 v. il.

TINOCO, Brígido Fernandes. As duas paixões de Caxias. Biblioteca do Exérci-to. Rio de Janeiro: Laemmert, 1956. 253 p. il.

SILVA, Paulo Lopes da. Caxias e o Brasil: estudo quase biográfico. São Paulo: s/e, 1958. 81 p.

GREGORY, Francisca Rodrigues. Joaquim José da Silva Xavier “o tiradentes”. Rio de Janeiro: Minerva, 1959. 112 p. il.

VIANA FILHO, Luís. A vida do Barão do Rio Branco. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959. 458 p. il.

PEIXOTO, Alzira Vargas do Amaral. Getúlio Vargas, meu pai. Porto Alegre: Ed. Globo, 1960. 429 p.

MASCARENHAS, Nelson Laje. Um jornalista do Império: Firmino Rodrigues Silva. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1961. 469 p. il.

SOARES, Álvaro Teixeira. O Marquês de Pombal: a lição do passado e a lição do presente. Rio de Janeiro: Ed. Alba, 1961. 270 p.

TINOCO, Brígido Fernandes. A vida de Nilo Peçanha. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1962. 291 p. il.

AZEVEDO, Aroldo de. Cochranes do Brasil: a vida e a obra de Thomas Co-chrane e Ignácio Cochrane. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacio-nal, 1965. 343 p. il.

VITA, Luís Washington. Alberto Sales, ideólogo da República. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1965. 201 p.

OLIVEIRA, José Feliciano de. Tiradentes, o herói da independência brasileira. São Paulo: Livraria Martins, 1966.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

EConoMia PolítiCa

Obras sObre a disciplina

Problemas teórico-metodológicos

Capital e trabalho

MENEZES, Djacir. Das leis econômicas: sua estrutura lógica analisada particu-larmente nas relações da oferta e da procura, sua “naturalidade” e “histori-cidade”, outros aspectos. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1945.

SCIOTTI, José. A capitalização no Brasil. São Paulo: Edigraf, 1948. 155 p.

BARROS, Alamiro Bica Buys de. O trabalho, o capital e seus conflitos: breve estu-do. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1951. 218 p.

FONSECA, Geraldo. Evolução da conjuntura econômica: inversões, renda, econo-mia. São Paulo: Saraiva, 1954. 207 p. il.

FENELON, João Pessoa Ribeiro. O aumento do capital nominal da empresa. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1959. 122 p.

CHACON, Vamireh. O fato econômico no marxismo: alienação e libertação. Re-cife: Faculdade de Direito da Universidade do Recife, Imprensa Nery da Fonseca, 1960. 95 p.

ANTUNES, José Pinto. A produção sob o regime da empresa: as razões da iniciati-va privada, economia e direito. São Paulo: Saraiva, 1964. 260 p.

Repartição da renda

LOBO, Lúcio Gusmão. Histórico das participações nos lucros. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Ser-viço de Documentação, 1958. 79 p.

PEDRÃO, Fernando Cardoso. A distribuição da renda e o desenvolvimento econômi-co. Salvador: Livraria Progresso, 1958. 101 p.

LUCAS, Fábio. A remuneração do trabalhador. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1959. 97 p.

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Page 244: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

LUCAS, Fábio. Introdução ao estudo da repartição da renda. Belo Horizonte: Faculda-de de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1959. 102 p.

VILELA, Aníbal. Renda nacional e contabilidade social. Salvador: Universidade da Bahia, 1959. 88 p. il.

LUCAS, Fábio. Igualdade e desigualdade das rendas. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1963. 129 p.

Desenvolvimento econômico

PEDRÃO, Fernando Cardoso. Breve curso de desenvolvimento econômico. Salvador: Imprensa Vitória, 1959. 137 p.

CHACON, Vamireh. Utilitarismo e desenvolvimento econômico: influência do utilitarismo no classicismo econômico, neoliberalismo e marxismo. Recife: Faculdade de Di-reito da Universidade do Recife, Imprensa Nery da Fonseca, 1961. 250 p.

FURTADO, Celso Monteiro. Desenvolvimento e subdesenvolvimento. Biblioteca Fun-do Nacional de Cultura. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1961. 268 p.

FURTADO, Celso Monteiro. Dialética do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1964. 173 p.

Cooperativismo

CÂMARA, Nilo Vieira. Cooperativismo e política econômica. Rio de Janeiro: Centro Nacional de Estudos Cooperativos, 1953.

SILVA, Pedro Ferreira da. Cooperativa sem lucros: uma experiência anarquista dentro da sociedade capitalista. Série Doutrina e Filosofia. Rio de Janeiro: Ed. Germinal, 1958. 147 p.

CAMARGO, Lenita Correa. O cooperativismo e a formação dos preços. São Paulo: Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo, 1959. 200 p. il.

CHACON, Vamireh. Cooperativismo e comunitarismo: estudo de organização socio-econômica. Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, 1959. 111 p.

Relações econômicas internacionais

HABELER, Gottfried. Problemas de conjuntura e de política econômica. Rio de Ja-neiro: Fundação Getulio Vargas, 1948. 222 p.

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Page 245: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

CARNEIRO, Otávio Augusto Dias. Movimentos internacionais do capital e desen-volvimento econômico. Recife: Comissão de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, 1961. 148 p.

MONTEIRO, Sílvio. Como atua o imperialismo ianque? Cadernos do Povo Brasi-leiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 199 p.

BAHIANA, Henrique Paulo. Política alemã de auxílio ao desenvolvimento. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica, 1966. 163 p.

Economia agrária

RAMOS, Júlio Barroso. Economia rural. Rio de Janeiro: Serviço de Informação Agrícola, 1948. 144 p. il.

LUIZ FILHO, Fábio. Crédito agrícola e problema agrário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1958. 305 p. il.

Manuais e introduções

MEDEIROS, Tarquínio de. Elementos de economia política: noções gerais. Nite-rói: Oficina Gráfica do Diário Oficial, 1946. 162 p.

MENEZES, Djacir. Curso de economia política. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1947. 367 p. il.

GRAÇA, Arnóbio de Sousa. Princípios de economia política. São Paulo: Saraiva, 1949. 238 p.

GOMES, Luís Sousa. O que devemos conhecer da economia política e das finanças. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1950.

GRAÇA, Arnóbio de Sousa. Ciências econômicas e sociais. São Paulo: Saraiva, 1953. 349 p.

MENEZES, Djacir. ABC da economia. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1953. 199 p.

PEREIRA, Armando Temperani. Introdução à economia política. 2ª ed. Porto Alegre: Livraria Sulina, 1954. 312 p. il. Primeira edição: Porto Alegre: Ed. Globo, 1946.

ALVIM, Décio Ferraz. História das doutrinas econômicas. São Paulo: Saraiva, 1955. 111 p.

ANDRADE, Sudá de. Lições de economia política. Rio de Janeiro: Haddad, 1955. 121 p.

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Page 246: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

BARROS, Alamiro Bica Buys de. Instituições de economia política. Rio de Janeiro: José Konfino, 1955. 2 v.

CORRÊA, Oscar Dias. Introdução crítica à economia política. Belo Horizonte: Es-tabelecimentos Gráficos Santa Maria, 1957. 273 p.

GOMES, Alfredo. Introdução à economia: subsídios históricos e doutrinários. Rio de Janeiro: Agir, 1958. 217 p.

BULHÕES, Octávio Gouvêa de. Economia e política econômica. Rio de Janeiro: Agir, 1960. 183 p. il.

VIEIRA, Dorival Teixeira. Economia e sociedade: panorama da ciência econômi-ca contemporânea. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1960. 421 p.

GRAÇA, Arnóbio de Sousa. Economia política e economia brasileira. São Paulo: Saraiva, 1962. 339 p.

ALVIM, Décio Ferraz. Economia política. São Paulo: Saraiva, 1962. 114 p.

MELO, Olbiano de. Economia política: fundamentos básicos, doutrinas econô-micas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1963. 181 p.

MENEZES, Djacir. Iniciação à economia. 2ª ed. revisada e atualizada. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1965. 212 p. Primeira edição: São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1953.

Avaliação da produção do conhecimento da disciplina no Brasil

MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. A controvérsia brasileira sobre o desenvolvimen-to econômico: uma reformulação teórica. Rio de Janeiro: Record, 1966. 240 p. il.

Obras sObre temas específicOs

Desenvolvimento e Política Econômica

Política e expansão econômica

RIO, José Pires do. Realidades econômicas do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. 395 p.

LEVY, Herbert. O Brasil e os novos tempos: considerações sobre o problema de reestruturação política, econômica e social do Brasil. São Paulo: Livraria Martins, 1946. 88 p.

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Page 247: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

LEVY, Herbert. A batalha de produção e outros problemas nacionais. São Paulo: Livraria Martins, 1948. 145 p.

TEJO, Aurélio de Limeira. Retrato sincero do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1950. 285 p.

MACIEL, Paulo Frederico. Um informe sobre alguns problemas do Nordeste. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1956. 70 p.

TEIXEIRA, Aníbal. Ideologia e economia: uma introdução ao nacionalismo eco-nômico. Belo Horizonte: Itatiaia, 1956. 90 p.

CAMPOS, Roberto de Oliveira. Três falácias do momento brasileiro. Coleção Fó-rum Roberto Simonsen. São Paulo: Centro e Federação das Indústrias do estado de São Paulo, Serviço de Publicações, 1957. 59 p.

RANGEL, Inácio. Introdução ao estudo do desenvolvimento econômico brasileiro. Salva-dor: Universidade da Bahia, Livraria Progresso, 1957. 125 p.

ALENCASTRE, Amílcar. Interpretação realista de problemas econômicos. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Co-mércio, Serviço de Documentação, 1958. 90 p.

COSTA, Vasco Ribeiro da. Considerações e idéias sobre o problema econômico nacio-nal. Rio de Janeiro: Departamento de Administração do Serviço Público, Serviço de Documentação, 1958. 191 p. il.

FURTADO, Celso Monteiro. Perspectivas da economia brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1958. 80 p.

RIBEIRO, Carlos José de Assis. Introdução ao estudo das estruturas econômicas na-cionais. Rio de Janeiro: Edições Financeiras, 1958. 182 p.

SOUSA, Roberto Pinto de. Economia brasileira: problemas de estrutura, con-juntura e desenvolvimento. São Paulo: Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo, 1958. 297 p.

FISCHLOWITZ, Estanislau. O mercado de trabalho e o comércio. Rio de Janeiro: Serviço Social do Comércio, 1959. 101 p.

FURTADO, Celso Monteiro. A operação nordeste. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1959. 78 p.

GUIMARÃES, Barreto. O sentido nacional dos problemas do Nordeste brasileiro. Rio de Janeiro: Departamento de Administração do Serviço Público, Instituto Brasileiro de Ciências Administrativas, 1959. 154 p.

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Page 248: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

248

Glaucia Villas Bôas

RIOS, José de Almeida. Análise e crítica da renda nacional frente a um desenvolvimento har-mônico agropecuário e industrial. Rio de Janeiro: Livraria São José, 1959. 99 p. il.

BASBAUM, Leôncio. Caminhos brasileiros do desenvolvimento: análise e perspecti-vas da situação brasileira. São Paulo: Fulgor, 1960. 296 p.

BASTOS, Humberto. Experiência ou imprevidência. Rio de Janeiro: Centro de Cultura Econômica, 1960. 224 p. il.

PAULA, Luís Nogueira de. Problemas fundamentais da economia brasileira: soluções da técnica econômica e objetivos da política nacionalista. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1960. 106 p.

RANGEL, Inácio. Recursos ociosos na economia rural. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1960. 62 p.

SÁ, Antonio Lopes de. Aspectos do desenvolvimento econômico do Brasil. Belo Hori-zonte: Gráfica Santa Maria, 1960. 99 p.

CAMARGO, José Francisco de. Níveis de desenvolvimento de uma economia e sua abordagem política: considerações sobre alguns elementos relevantes para a formulação de uma política de desenvolvimento econômico. São Paulo: Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo, 1962. 350 p.

FURTADO, Celso Monteiro. A pré-revolução brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Fun-do de Cultura, 1962. 116 p.

CAMPOS, Roberto de Oliveira. Ensaios de história econômica e sociologia. Rio de Janeiro: APEC Ed., 1963. 198 p.

MENEZES, Adolfo Justo Bezerra de. Subdesenvolvimento e política internacional. Rio de Janeiro: GRD, 1963. 223 p.

NERI, Adalgisa. Retrato sem retoque. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 167 p.

BARROS, Manuel de Sousa. Matolão de pau-de-arara. Prefácio de Manuel Ban-deira. Rio de Janeiro: Ed. Quipapa, 1964. 193 p. il.

CAMPOS, Roberto de Oliveira. A moeda, o governo e o tempo. Prefácio de Gil-berto Amado. Rio de Janeiro: APEC Ed., 1964. 232 p.

MELO, Francisco das Chagas. Desenvolvimento econômico e realidade nacional. Rio de Janeiro: Departamento Administrativo do Serviço Público, 1964. 83 p.

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Page 249: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

FURTADO, Celso Monteiro. Subdesenvolvimento e estagnação na América Latina. Coleção Nossa América. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 127 p.

FURTADO, Celso Monteiro. Um projeto para o Brasil. 2a ed. Rio de Janeiro: Saga, 1968. 132 p. Primeira edição: Rio de Janeiro, 1966.

Planejamento econômico

SIMONSEN, Roberto Cochrane. O planejamento da economia brasileira. São Pau-lo: 1945. 99 p.

OLIVEIRA, Américo Leonides Barbosa. O desenvolvimento planificado na econo-mia brasileira. Rio de Janeiro: Livraria Kosmos, 1946. 123 p. il.

AVILINE, Nelson. Planejamento industrial do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Aurora, 1947. 202 p.

CAMPOS, Roberto de Oliveira. Planejamento do desenvolvimento econômico de países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Escola Brasileira de Administração Pública, Fundação Getulio Vargas, 1952. 79 p.

AGUIAR, Manuel Pinto de; FRIEDMANN, John. Conceito de região de planeja-mento. Salvador: Imprensa Vitória, 1958. 77 p.

AGUIAR, Manuel Pinto de. Brasil, integração e desenvolvimento econômico. Prefácio de Aliomar Baleeiro. Salvador: Livraria Progresso, 1958. 119 p. il.

CAVALCANTI, José Maria dos Santos Araújo. Desenvolvimento econômico e social dos municípios. Rio de Janeiro: Departamento Administrativo do Serviço Público, Serviço de Documentação, 1959. 701 p.

MURTA, Domício de Figueiredo. Política de colonização e plano de colonização. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1959. 99 p. il.

CAMPOS, Roberto de Oliveira. Economia, planejamento e nacionalismo. Rio de Janeiro: APEC Ed., 1963. 324 p.

HOFFMANN, Helga. Como planejar nosso desenvolvimento? Cadernos do Povo Brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 123 p.

DELFIM NETTO, Antonio. Planejamento para o desenvolvimento econômico. São Paulo: Livraria Pioneira, 1966. 127 p. il.

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Page 250: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

Conjunturas econômicas

BASTOS, Humberto. Produção ou pauperismo: crítica e sugestões sobre a atu-al crise brasileira. Prefácio de Dante Costa. São Paulo: Livraria Martins, 1946. 215 p.

LOURENÇO, João de. Educação sobre a política econômico-financeira em situação de conjuntura. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação do Ministério da Educação e Saúde, 1946. 86 p.

BOUÇAS, Valentim Fernandes. Estudos econômicos e financeiros: meio século de trabalho. Rio de Janeiro: Edições Financeiras, 1953-1955.

PEIXOTO, João Batista; PEIXOTO, Walter. Produção, transporte e energia no Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1957. 464 p. il.

RANGEL, Inácio. Apontamentos para o 2º programa de metas. Recife: Comissão de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, 1961. 66 p.

MATOS, Paulo da Cruz. Reformas de base. Belo Horizonte: Livraria Minas Ge-rais, 1963. 265 p.

SINGER, Paulo Israel; ALVES, Mário. Análise do Plano Trienal. Rio de Janeiro: Ed. Universitária UNE, 1963. 90 p.

CAMPOS, Roberto de Oliveira. Política econômica e mitos políticos. Rio de Janeiro: APEC Ed., 1965. 56 p.

GUDIN, Eugênio. Análise de problemas brasileiros: coletânea de artigos 1958-1964. Rio de Janeiro: Agir, 1965. 512 p.

GASPARIAN, Fernando. Em defesa da economia nacional. Rio de Janeiro: Ed. Saga, 1966. 266 p.

Estado e ordem econômica

ANDRADE, Dercy Bessone de Oliveira. O papel do estado no domínio da economia capitalista. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial, 1944. 173 p.

VIEIRA, Oldegar Franco. O estado e a ordem econômica. Salvador: Universidade da Bahia, 1958. 92 p.

LUCAS, Fábio. Conteúdo social nas constituições brasileiras. Belo Horizonte: Facul-dade de Ciências Econômicas, Imprensa da Universidade de Minas Gerais, 1959. 82 p.

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Page 251: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

SOUZA, Ruy de. Abuso de poder econômico. Belo Horizonte: Faculdade de Ciên-cias Econômicas da Universidade de Minas Gerais, 1959. 93 p.

SOUZA, Washington Peluso Albino de. Do econômico nas constituições vigentes. Belo Horizonte: Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1961. 2v.

FURTADO, Celso Monteiro. Subdesenvolvimento e estado democrático. Recife: Co-missão de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, 1962. 52 p.

Condições históricas da economia

BASTOS, Humberto. A economia brasileira e o mundo moderno: ensaio geopolítico sobre a estruturação do capitalismo brasileiro. São Paulo: Livraria Martins, 1948. 290 p.

ROLLEMBERG, Luis Dias. Emancipação econômica do Brasil. São Paulo: Livraria Martins, 1948. 151 p.

BASTOS, Humberto. Posição econômica do Brasil. São Paulo: Livraria Martins, 1951. 142 p. il.

LEVY, Herbert. Curso de economia brasileira. São Paulo: Livraria Freitas Bastos, 1951. 304 p.

LYRA FILHO, João. Angústia social: problemas brasileiros de reconstrução econômica e financeira. Rio de Janeiro, Irmãos Pongetti, 1951. 256 p.

FURTADO, Celso Monteiro. A economia brasileira: contribuição à analise do seu desenvolvimento. Rio de Janeiro: A Noite, 1954. 246 p.

RANGEL, Inácio. Dualidade básica da economia brasileira. Rio de Janeiro:

Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1957. 109 p.

SALADINI, Mário. Presença econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Gráfica Tupy, 1958. 215 p. il.

FURTADO, Celso Monteiro. Formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1959. 291 p.

FREIRE, J. Salgado. Para onde vai o Brasil? Grandezas e misérias do nosso desenvolvi-mento. Rio de Janeiro: Conquista, 1959. 319 p.

MAGALHÃES, Sérgio. Problemas de desenvolvimento econômico. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1960. 284 p.

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Page 252: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

MELO, Mario Lacerda de (et alli) As migrações para o Recife. Prefácio de Gilberto Freyre. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1961. 4 v. il.

MARTINS, Ivan Pedro. Introdução à economia brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1961. 257 p.

BASTOS, Humberto. Desenvolvimento ou escravidão: aspectos de influências ex-ternas na formação econômica do Brasil. 2a ed. São Paulo: s/e, 1964. Pri-meira edição: 1962

Finanças

BRITO, José do Nascimento. Economia e finanças do Brasil 1822-1940. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1945. 195 p.

CARVALHO, Daniel Serapião. Estudo de economia e finanças. Prefácio de Eugê-nio Gudin. Rio de Janeiro: Agir, 1946. 358 p.

LYRA FILHO, João. O estado monetário: introdução à história das caixas econô-micas brasileiras. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1948. 282 p.

LAFER, Horácio. O crédito e o sistema bancário no Brasil. Rio de Janeiro: Impren-sa Nacional, 1948. 228 p.

MACHADO NETO, Brasílio. Inflação e outros estudos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956. 410 p.

CARNEIRO, Otavio Augusto Dias. Estudos de educação econômico-social do Brasil. São Paulo: Instituto de Sociologia, 1957. 187 p.

SAMPAIO, Alde Feijó. Temas econômicos da atualidade brasileira: processo de combate à inflação, conjuntura atual do Brasil, produto nacional bruto, quadros estatísticos. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1966.

GUIMARÃES, Alberto Passos. Inflação e monopólio no Brasil: por que sobem os preços? Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 181 p.

MAGALHÃES, João Paulo de Almeida. Inflação e desenvolvimento. Rio de Janei-ro: Ed. GRD, 1964. 106 p. il.

Comércio exterior

VILLAS BOAS, Abelardo. Efeitos das desvalorizações cambiais. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1950. 305 p. il.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

ALENCASTRE, Amílcar. Comércio exterior de pré e pós-guerra. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Ser-viço de Documentação, 1957. 64 p.

ANDRADE, Olímpio de Souza. Pequena introdução ao estudo do comércio exterior do Brasil. Rio de Janeiro: Departamento de Administração do Serviço Pú-blico, Imprensa Nacional, 1957. 87 p.

ALENCASTRE, Amílcar. Novas áreas de comércio. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, Serviço de Do-cumentação, 1959. 105 p.

DELFIM NETTO, Antonio. O problema do café no Brasil. São Paulo: Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo, Departamento de Publicação, 1959. 349 p. il.

PEREIRA, Alceu Martins. Uma geração entre duas crises do café. Santos: Revista dos Tribunais, 1959. 179 p.

MELO, Francisco Chagas. O comércio exterior e a inflação brasileira. Rio de Janeiro: Departamento Administrativo do Serviço Público, Serviço de Documen-tação, 1960. 88 p.

MARTINS, Araguaia Feitosa. Mutirão Cafeeiro. 2a ed. São Paulo: Brasiliense, 1962. 150 p. Primeira edição: Instituto Brasileiro do Café, 1961.

SILVEIRA, Cid. Café, um drama na economia nacional: análise do mercado exportador. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962. 98 p.

Indústria

LODI, Euvaldo. A indústria e a economia nacional. Rio de Janeiro: Irmãos Pon-getti, 1949. 121 p.

STREET, Ernesto Jorge. A indústria têxtil no Brasil. Rio de Janeiro: Departamen-to Econômico da Confederação Nacional da Indústria, 1950. 135 p. il.

CUNHA, Mario Wagner Vieira da. A burocratização das empresas industriais. São Paulo: Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universi-dade de São Paulo, 1951. 161 p.

SCHLESINGER, Hugo. O Brasil não pode parar: panorama e desenvolvimento da indústria nacional. Rio de Janeiro: Ed. Andes, 1954. 170 p.

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Glaucia Villas Bôas

GUIMARÃES NETO, Luiz. Indústrias rurais caseiras. Rio de Janeiro: Universi-dade Rural do Rio de Janeiro, 1956. 146 p.

PAIM, Gilberto. Industrialização e economia natural. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Instituto Superior de Estudos Brasileiros,1957. 119 p.

PIERRO, Mário Francisco di. A indústria, o estado e a economia nacional. São Pau-lo: Centro e Federação das Indústrias do estado de São Paulo, Serviço de Publicação, 1962. 62 p.

BAER, Werner. A industrialização e o desenvolvimento econômico no Brasil. Tradução de Paulo de Almeida Rodrigues. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, Serviço de Publicações, 1966. 315 p.

Agricultura

CLEOPHAS, João. A mecanização agrícola no Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1954. 70 p.

AZEVEDO, Newton Pires de. Características agrárias da Amazônia. Rio de Ja-neiro: Superintendência do Plano de Valorização da Amazônia, 1958.

CAVALCANTI, Joaquim Nunes Coutinho. Um projeto de reforma agrária. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1959. 208 p.

COUTINHO, Antônio Rodrigues. Contribuição ao estudo da estrutura da economia agrária brasileira segundo o censo de 1960. Rio de Janeiro: Ministério da Agri-cultura, Serviço de Economia Rural, 1960. 63 p.

TOURINHO, Eduardo. Agricultura na formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1961. 56 p.

RANGEL, Inácio. A questão agrária brasileira. Recife: Comissão de Desenvolvi-mento Econômico de Pernambuco, 1962. 106 p.

Investimentos estrangeiros

MOURA, Aristóteles. Capitais estrangeiros no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1959. 382 p.

FERREIRA, Luiz Pinto. Capitais estrangeiros e dívida externa do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1965. 230 p.

SANTOS, Manoel da Costa. Os investimentos estrangeiros no Brasil. Coleção Fó-rum Roberto Simonsen. São Paulo: Saraiva, 1958. 68 p.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

MONTEIRO, João dos Santos. O despertar do gigante. Porto Alegre: 1963. 157 p.

GOMES, Luis Souza. Livre empresa, capital estrangeiro, desenvolvimento. São Paulo: Livraria Martins, 1964. 96 p.

LIMA SOBRINHO, Alexandre José Barbosa. Máquinas para transformar cruzei-ros em dólares. São Paulo: Fulgor, 1963. 63 p.

Repartição da renda

LEITE, Manoel Marques. Distribuição da renda nacional: a satisfação dos aspectos sociais e as limitações econômicas. Porto Alegre: Universidade do Rio Gran-de do Sul, Faculdade de Ciências Econômicas, Tipografia do Centro, 1955.

antroPologia

Obras sObre a disciplina

Problemas teórico-metodológicos

CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Cultura e folclore: bases científicas do folclore. Prefácio de Roger Bastide. Florianópolis: Comissão Catarinense de Fol-clore, 1954. 302 p.

RUBINGER, Marcos Magalhães. Antropologia e ciência política: a utilidade da an-tropologia na solução dos problemas políticos. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1958. 51 p.

AZEVEDO, Thales de. Ensaios de antropologia social. Salvador: Universidade da Bahia, 1959. 182 p.

AZEVEDO, Thales de. Antecedentes do homem. Salvador: Universidade da Bahia, 1961. 76 p.

WILLEMS, Emílio. Antropologia social. Tradução de Yolanda Leite. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1962. 158 p.

ALMEIDA, Renato. Manual de coleta folclórica. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpi-ca, 1965. 216 p. il.

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Glaucia Villas Bôas

Manuais e introduções

MACHADO FILHO, Aires da Mata. Curso de folclore. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1951. 167 p.

RAMOS, Arthur. Estudos de folk-lore: definição e limites, teorias de interpreta-ção. Prefácio de Roger Bastide. Coleção Gaivota. Rio de Janeiro: Ed. da Casa do Estudante do Brasil, 1952. 191 p.

ÁVILA, José Bastos. Antropologia física: introdução. Prefácio de A. Fróes da Fonseca. Rio de Janeiro: Agir, 1958. 324 p.

CARVALHO, Geraldo A. de. Notas de aula relativas aos dez primeiros pontos do programa da cadeira de etnografia (1ª série). Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 1959. 120 p. il.

Avaliação da produção do conhecimento da disciplina

RONDON, Cândido Mariano da Silva. A etnografia e a etnologia do Brasil em revista. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1946. 60 p.

PINTO, Estevão. A antropologia brasileira. Recife: Ed. Nordeste, 1952. 45 p.

BALDUS, Herbert. Bibliografia crítica da etnologia brasileira. São Paulo: Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, Serviço de Comemorações Culturais, 1954. 859 p.

RIBEIRO, Darcy. O indigenista Rondon. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1969. 75 p.

Obras sObre temas específicOs

Tradições populares

Estudos de caráter geral

LIRA, Mariza. Migalhas folclóricas. Rio de Janeiro: Laemmert, 1951. 200 p.

BETTENCOURT, Gastão de. O folclore no Brasil. Prefácio de João de Castro Osório. Salvador: Universidade da Bahia, 1952. 342 p.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. Rio de Janeiro: Ins-tituto Nacional do Livro, 1954. 660 p.

LIRA, Mariza. Estudos do folclore luso-brasileiro. Rio de Janeiro: Laemmert, 1954. 230 p.

CASCUDO, Luís da Câmara. Antologia do folclore brasileiro, séculos XVI, XVII, XVIII, XIX, XX: os cronistas coloniais, os viajantes estrangei-ros, os estudiosos do Brasil, bibliografia e notas. São Paulo: Livraria Martins, 1956. 628 p.

CARNEIRO, Edison de Souza. A sabedoria popular. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1957. 230 p.

ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore nacional: com fotografias do autor, dese-nhos de Oswaldo Storni, Osny Azevedo, do autor e de outras fontes. São Paulo: Melhoramentos, 1964. 3 v. il. mus.

CARNEIRO, Edison de Souza. Dinâmica do folclore. Coleção Perspectivas do Homem. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 187 p. il.

Mitos, contos e provérbios

CASCUDO, Luís da Câmara. Contos tradicionais do Brasil: confrontos e notas. Coleção Joaquim Nabuco. Rio de Janeiro: Américo Ed., 1946. 405 p.

CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. Coleção Documen-tos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1947. 467 p.

CASCUDO, Luís da Câmara. Anubis e outros ensaios: mitologia e folclore. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1951. 281 p.

CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura oral. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952. 465 p.

CASCUDO, Luís da Câmara. Cinco livros do povo: introdução ao estudo da no-velística no Brasil. Pesquisas e notas, textos das cinco tradicionais novelas populares: Donzela Teodora, Roberto do Diabo, Princesa Magalona, Im-peratriz Porcina, João de Calais. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1953. 443 p.

ALMEIDA, Renato. Inteligência do folclore. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1957. 310 p. il.

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Glaucia Villas Bôas

CASCUDO, Luís da Câmara. Superstições e costumes: pesquisas e notas de etno-grafia brasileira. Rio de Janeiro: Ed. Antunes, 1958. 260 p. il.

SILVA, Raimundo Nonato da. Estórias de lobisomem: regionalismo e folclore. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1959. 155 p.

CASCUDO, Luís da Câmara. Coisas que o povo diz. Rio de Janeiro: Bloch Ed., 1963. 206 p.

Usos e costumes

CALASANS, José. Cachaça, moça branca: um estudo de folclore. Salvador: S/A Artes Gráficas, Museu da Bahia, 1951. 112 p.

CASCUDO, Luís da Câmara. Jangada: uma pesquisa etnográfica. Rio de Janei-ro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1957. 161 p. il.

CASCUDO, Luís da Câmara. Jangadeiros: documentário da vida rural. Rio de Janeiro: Serviço de Informação Agrícola, 1957. 60 p. il.

CABRAL, Oswaldo Rodrigues. A medicina teológica e as benzedeiras: suas raízes na história e sua persistência no folclore. São Paulo: Departamento de Cultura, 1958. 204 p.

SANTOS, Luiz Cristóvão dos. Brasil de chapéu-de-couro (folclore). Coleção Vera Cruz. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1958. 176 p. il.

CASCUDO, Luís da Câmara. Rede de dormir: uma pesquisa etnográfica. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1959. 242 p.

CASCUDO, Luís da Câmara. Made in Africa: pesquisas e notas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 193 p.

MONTEIRO, Mário Ipiranga. Antropologia do guaraná. Manaus: Instituto Na-cional de Pesquisas da Amazônia, 1965. 84 p.

Folguedos

BETTENCOURT, Gastão de. Os três santos de junho no folclore brasílico. Rio de Janeiro: Agir, 1947. 163 p. il.

ARAÚJO, Alceu Maynard; FRANCESCHINI, Manuel Antônio. Danças e ritos populares de Taubaté. São Paulo: s/e, 1947. 52 p. il.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

CALASANS, José. O ciclo folclórico do Bom Jesus Conselheiro: contribuição ao estudo da Campanha de Canudos. Salvador: Tipografia Beneditina, 1950. 97 p.

LAYTANO, Dante de. Festa de Nossa Senhora dos Navegantes. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura, Comissão Nacional de Folclore, Comissão Estadual de Folclore do Rio Grande do Sul, 1955. 128 p. il.

ARAÚJO, Alceu Maynard. Festas. São Paulo: Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 1957. 187 p. il.

BRANDÃO, Théo. Autos e folguedos populares de Alagoas: o fandango. Maceió: Comissão Alagoana de Folclore, 1957. 91 p. il.

ALMEIDA, Renato. Tablado folclórico. São Paulo: Record, 1961. 176 p. il.

BRANDÃO, Théo. Folguedos natalinos de Alagoas: estudo introdutório e descrição. Maceió: Divulgação do Departamento Estadual de Cultura, 1961. 209 p. il.

Tradições populares de regiões, estados e cidades

RIBEIRO, Joaquim. Folklore dos bandeirantes. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1946. 212 p.

BRANDÃO, Théo. Folclore de Alagoas. Coleção Autores Alagoanos. Maceió: Casa Ramalho, 1949. 191 p. il.

BRASILEIRO, Francisco. Monografia folclórica sobre o Rio das Garças. São Paulo: Departamento de Cultura, 1951. 393 p.

MELO, Manuel Rodrigues de. Cavalo de pau. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1953. 157 p.

PIAZZA, Walter Fernando. Aspectos folclóricos catarinenses. Coleção Folclore. Florianópolis: Comissão Catarinense de Folclore, 1953. 138 p. il.

LIRA, Mariza. Calendário folclórico do Distrito Federal. Rio de Janeiro: Prefeitura do Distrito Federal, Secretaria Geral de Educação e Cultura, 1954. 431 p.

SPALDING, Walter. Tradições e superstições do Brasil-Sul: ensaios de folclore. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1955. 223 p.

CASCUDO, Luís da Câmara. Tradições populares da pecuária nordestina. Rio de Janei-ro: Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1956. 78 p. il.

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Glaucia Villas Bôas

RIBEIRO, Joaquim. Folclore baiano. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1956. 59 p. il.

BOITEUX, Lucas Alexandre. Poranduba catarinense. Florianópolis: Comissão Catarinense de Folclore, 1957. 196 p.

LACERDA, Regina. Vila Boa: folclore. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1957. 159 p. il.

CAMPOS, Eduardo. Folclore do Nordeste. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1960. 183 p.

PIAZZA, Walter Fernando. Folclore de Brusque: estudo de uma comunidade. Brusque: Ed. da Sociedade Amigos de Brusque, 1960. 223 p. il.

ARAÚJO, Alceu Maynard. Escorço do folclore de uma comunidade. São Paulo: Secre-taria de Educação e Cultura, Divisão do Arquivo Histórico, 1962. 472 p. il.

MONTEIRO, Mário Ipiranga. Roteiro do folclore amazônico. Manaus: Ed. Sérgio Cardoso, 1964. il.

Grupos étnicos específicos

Grupos indígenas no seu conjunto

RAMOS, Arthur. A organização dual entre os índios brasileiros. Rio de Janeiro: Mendes Júnior, 1945. 67 p.

RONDON, Cândido Mariano da Silva. Índios do Brasil. Rio de Janeiro: Conse-lho de Proteção dos Índios, 1946. 3 v.

FERREIRA, Manuel Rodrigues. Cenas da vida indígena: álbum dos índios do Xingu. Apresentação de Herbert Baldus. São Paulo: Melhoramentos, 1952. 51 p. il.

SAMPAIO, Teodoro; TESCHAUER, Carlos. Os naturalistas viajantes dos séculos XVIII e XIX e a etnografia indígena. Coleção Estudos Brasileiros. Salvador: Livraria Progresso, 1955. 305 p. il.

RIBEIRO, Darcy. Culturas e línguas indígenas do Brasil. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1957. 102 p.

Grupos indígenas específicos

BOGGIANI, Guido. Os caduveos: um estudo histórico e antropológico. Pre-fácio de Herbert Baldus e tradução de Amadeu Amaral Júnior. São Paulo: Livraria Martins, 1945. 310 p.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

MACHADO, Othon Xavier de Brito. Os carajás (inan-sou-uéra): contribuição ao estudo dos indígenas brasileiros. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Proteção aos Índios, Imprensa Nacional, 1947. 128 p. il.

FERNANDES, Florestan. Organização social dos tupinambá. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1949. 325 p. il.

PEREIRA, Manuel Nunes. Os índios maué. Rio de Janeiro: Organização Si-mões, 1954. 171 p. il.

PINTO, Estevão. Etnologia brasileira: fulniô - os últimos tapuia. Coleção Brasi-liana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 305 p. il.

FRANCIS, Huxley. Selvagens amáveis: um antropologista entre os índios uru-bus. Tradução de Japi Freire. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Na-cional, 1963. 321 p. il.

BALDUS, Herbert. Tapirapé, tribo tupi no Brasil central. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1970. 510 p. il. Primeira edição: São Paulo: Re-vista do Arquivo Municipal, vol. XCVI, 1944.

FERNANDES, Florestan. A função social da guerra na sociedade tupinambá. 2a ed. São Paulo: Livraria Pioneira, 1970. 425 p. Primeira edição: São Paulo: Museu Paulista, 1952.

MUSSOLINI, Gioconda. Ensaios de antropologia indígena e caiçara. Organização de Edgard Carone e prefácio de Antônio Cândido. Coleção Estudos Brasi-leiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980. 289 p. Primeira edição: 1955.

Cultura indígena: religião, mitos e lendas

BALDUS, Herbert. Lendas dos índios do Brasil: selecionadas e comentadas. São Paulo: Brasiliense, 1946. 121 p.

CARNEIRO, José Fernando Domingues. A antropofagia entre os indígenas do Bra-sil. Coleção Brasileira de Divulgação. Rio de Janeiro: Ministério da Educa-ção e Saúde, Serviço de Documentação, 1946. 50 p.

MUSSOLINI, Gioconda. Os meios de defesa contra a moléstia e a morte em duas tri-bos brasileiras: Kaingang de Duque de Caxias e Bororo oriental. São Paulo: Departamento de Cultura, 1946. 152 p.

RONDON, Cândido Mariano da Silva. Esboço gramatical e vocabulário da língua bororo: algumas lendas e notas etnográficas da mesma tribo. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1948. 209 p. il.

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Page 262: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

RONDON, Cândido Mariano da Silva. Esboço gramatical e vocabulário: lendas e cân-ticos dos índios Ariti (Pareci). Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, Conselho Nacional de Proteção aos Índios, Ministério da Agricultura, 1948. 110 p.

RONDON, Cândido Mariano da Silva. Glossário geral das tribos silvícolas de Mato Grosso e outras da Amazônia e do norte do Brasil. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, Conselho Nacional de Proteção aos Índios, Ministério da Agri-cultura, 1948. 255 p. il.

CARVALHO, José Cândido de Melo. Observações zoológicas e antropológicas na região dos formadores do Xingu. Por José C. M. Carvalho, Pedro E. de Lima, Eduardo Galvão. Introdução de Heloísa Alberto Torres. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1949. 48 p. il.

MÉTRAUX, Alfred. A religião dos tupinambás e suas relações com as demais tribos tupi-guaranis. Prefácio, tradução e notas de Estevão Pinto. Coleção Brasilia-na. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1950. 421 p. il.

RIBEIRO, Darcy. Religião e mitologia kadiweu. Rio de Janeiro: Serviço de Prote-ção aos Índios, 1950. 222 p. il.

SCHADEN, Egon. Aspectos fundamentais da cultura guarani. São Paulo: Facul-dade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, 1954. 216 p. il.

PINTO, Odorico Pires. Arte primitiva brasileira. São Paulo: Revista do Arquivo Municipal, 1955. 246 p. il.

SCHADEN, Egon. A mitologia heróica de tribos indígenas do Brasil: ensaio etno-sociológico. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1959. 183 p.

CÂMARA JÚNIOR, Joaquim Matoso. Introdução às línguas indígenas brasileiras. 3a ed. Rio de Janeiro: Instituto Nacional do Livro, 1977. 228 p. Primeira edição: 1958.

Integração indígena

SOUZA, Lincoln. Os xavantes e a civilização: ensaio histórico. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1953. 58 p.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso. O processo de assimilação dos terena. Rio de Janei-ro: Museu Nacional, 1960. 160 p.

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Page 263: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

WAGLEY, Charles; GALVÃO, Eduardo. Os índios tenetehara: uma cultura em transição. Coleção Vida Brasileira. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1961. 235 p.

SCHADEN, Egon. Índios, caboclos e colonos: páginas de etnografia, sociologia e folclore. São Paulo: Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universi-dade de São Paulo, 1963. 101 p.

MALCHER, José Maria da Gama. Índios: grau de integração na comunidade nacional, grupo lingüístico, localização. Rio de Janeiro: Ministério da Agri-cultura, Conselho Nacional de Proteção aos Índios, Imprensa Nacional , 1964. 264 p. il.

OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O índio e o mundo dos brancos: a situação dos turuna do Alto Solimões. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964. 143 p. il.

LIMA, Luís. Resistência do índio à dominação do Brasil. Rio de Janeiro: Leitura, 1965. 151 p.

GALVÃO, Eduardo Enéas. Encontro de sociedades: índios e brancos no Brasil. Prefácio de Darcy Ribeiro. Coleção Estudos Brasileiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979. 300 p. il. Primeira edição: Santos e visagens. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1955.

Negros no Brasil

VIANA FILHO, Luís. O negro na Bahia. Prefácio de Gilberto Freyre. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1946. 167 p.

RODRIGUES FILHO, Mário. O negro no futebol brasileiro. Prefácio de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1947. 295 p.

CARNEIRO, Edison de Souza. Antologia do negro brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1950. 432 p.

SOUZA, Ivanildo de. Posição do negro no direito brasileiro: contribuição ao estudo sociológico do negro nas Américas. Recife: Ed. Nordeste, 1954. 62 p.

AZEVEDO, Thales de. As elites de cor: um estudo de ascensão social. Prefácio de Charles Wagley. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1955. 203 p.

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Page 264: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

RAMOS, Arthur. O negro na civilização brasileira. Rio de Janeiro: Ed. da Casa do Estudante do Brasil, 1956. 246 p.

MELO, Antônio da Silva. Estudos sobre o negro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1958. 231 p.

FREYRE, Gilberto. O escravo nos anúncios de jornais brasileiros do século XIX: ten-tativa de interpretação antropológica através de anúncios de jornais. Prefá-cio de A. da Silva Melo. Recife: Imprensa Universitária, 1963. 224 p.

CARNEIRO, Edison de Souza. Ladinos e crioulos: estudos sobre o negro no Brasil. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964. 240 p.

Imigrantes

WILLEMS, Emílio. A aculturação dos alemães no Brasil: estudo antropológico dos imigrantes alemães e seus descendentes no Brasil. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1946. 609 p. il.

ALBERSHEIN, Úrsula. Uma comunidade teuto-brasileira (Jarim). Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1962. 228 p. il.

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Imigração, urbanização e industrialização: estudo sobre alguns aspectos da contribuição cultural do imigrante no Brasil. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1964. 385 p.

Formação étnico-cultural

LEÃO, Antônio Carneiro. O sentido da evolução cultural do Brasil. Prefácio de M. B. Lourenço Filho. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1946. 217 p. il.

FREYRE, Gilberto. Interpretação do Brasil: aspectos da formação social bra-sileira como processo de amalgamento de raças e culturas. Introdução e tradução de Olívio Montenegro. Coleção Documentos Brasileiros, 56. Rio de Janeiro: José Olympio, 1947. 323 p. Primeira edição: Brazil: an interpreta-tion. New York: Alfred A. Knopf, 1945.

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Page 265: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

ORNELAS, Manoelito de. Gaúchos e beduínos: a origem étnica e a formação social do Rio Grande do Sul. Coleção Documentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1948. 188 p.

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. O banguê nas Alagoas: traços da influência do sistema econômico do engenho de açúcar na vida e na cultura regional. Prefácio de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Ál-cool, 1949. 288 p. il.

BEZERRA, Felte. Etnias sergipanas: contribuição ao seu estudo. Prefácio de Emílio Willems. Coleção Estudos Sergipanos. Aracaju: Livraria Regina, 1950. 269 p.

BRASILIANO, Rúbio. Conceitos sobre a formação brasileira: panorama étnico-social. Rio de Janeiro: Erechim Tipografia Modelo, 1952. 251 p.

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Estudos das relações de cultura no Brasil. Cadernos de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1955. 67 p.

OTT, Carlos B. Formação e evolução étnica da cidade de Salvador: o folclore bahiano. Salvador: Tipografia Manú, 1955-1957. 2v. il.

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Etnias e culturas no Brasil. Coleção Vida Bra-sileira, 5. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação. 1956. 120 p.

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Regiões culturais do Brasil. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1960. 535 p.

FREYRE, Gilberto. Homem, cultura e trópico. Recife: Faculdade de Medicina, Instituto de Antropologia Tropical, Imprensa Universitária, 1962. 234 p.

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. O Brasil e os brasileiros: ensaio sobre alguns as-pectos das características humanas das populações brasileiras. São Paulo: Livraria Martins, 1964. 103 p.

FREYRE, Gilberto. Brasis, Brasil e Brasília: sugestões em torno de problemas brasileiros de unidade e diversidade e das relações de alguns deles com

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Page 266: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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problemas gerais de pluralismo étnico e cultural. Coleção Presença Brasi-leira. Rio de Janeiro: Record, 1968. 271 p. Primeira edição: Lisboa: Livros do Brasil, 1960.

AZEVEDO, Thales de. Cultura e situação racial no Brasil. Coleção Retratos do Brasil, 42. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 199 p.

Religiões afro-brasileiras

BASTIDE, Roger. Imagens do Nordeste místico em branco e preto. Rio de Janeiro: O Cruzeiro, 1945. 247 p.

PEREIRA, Manuel Nunes. A casa das minas: contribuição ao estudo das so-brevivências daomeanas no Brasil. Introdução de Arthur Ramos. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Antropologia e Etnologia, 1947. 45 p.

CARNEIRO, Edison de Souza. Candomblés da Bahia: com ilustrações fotográ-ficas, desenhos de Paulo Flores e transcrições musicais de Marshall Levins. Salvador: Secretaria de Educação e Saúde, Museu da Bahia, 1948. 140 p. il.

VALENTE, Waldemar de Figueiredo. Sincretismo religioso afro-brasileiro. Prefá-cio de Amaro Quintas. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1955. 173 p. il.

RIBEIRO, René. Religião e relações sociais. Prefácio de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1956. 241 p.

BASTIDE, Roger. Sociologia do folclore brasileiro. São Paulo: Ed. Anhembi, 1959. 321 p.

BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia: rito nagô. Tradução de Maria Isau-ra Pereira de Queiroz. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1961. 370 p.

VALENTE, Waldemar de Figueiredo. Misticismo e região: aspectos de sebastianismo nordestino. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1963. 120 p.

VALENTE, Waldemar de Figueiredo. Sobrevivências daomeanas nos grupos de culto afro-nordestinos. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Mi-nistério da Educação e Cultura, 1964. 46 p. il.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

LANDES, Ruth. A cidade das mulheres. Tradução de Maria Lúcia do Eirado Sil-va. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967. 316 p. Primeira edição em inglês: The city of women. New York: Macmilliam, 1947. 248 p.

RIBEIRO, René. Cultos afro-brasileiros do Recife: um estudo de ajustamento so-cial. Prefácio de Roberto Motta. 2ª ed. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1978. 160 p. Primeira edição: Recife: Instituto Joa-quim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1952.

Cultura rural

RAMOS, Arthur. Introdução à antropologia brasileira. Coleção Estudos Brasileiros. Rio de Janeiro: Ed. da Casa do Estudante do Brasil, 1943-1947. 2 v. il.

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. O engenho de açúcar no Nordeste. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, Serviço de Informação Agrícola, 1952. 68 p. il.

DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. População e açúcar no Nordeste do Brasil. Rio de Janeiro: Comissão Nacional de Alimentação, 1954. 236 p.

MELO, Manuel Rodrigues de. Patriarcas e carreiros: influências do coronel e do carro de boi na sociedade rural do Nordeste. 2a ed. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1954. 272 p. il.

SILVA, Raimundo Nonato da. Figuras e tradições do Nordeste. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1958. 170 p.

FREYRE, Gilberto. Açúcar: em torno da etnografia, da história e da sociologia do doce no Nordeste canavieiro do Brasil. Com numerosas receitas raras de doces e bolos da região e, para efeitos de comparação, com algumas de outras áreas brasileiras e outras tantas de Goa (Índia Portuguesa) reunidas e selecionadas pelo autor. 2a ed. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1969. 286 p. Primeira edição: Açúcar: algumas receitas de doces e bolos dos engenhos do Nordeste. Com ilustrações de Manuel Bandeira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1939.

FREYRE, Gilberto (et alli). Cana e reforma agrária. 2a ed. Recife: Instituto Joa-quim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1970. 369 p.

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Glaucia Villas Bôas

soCiologia

Obras sObre a disciplina

Problemas teórico-metodológicos

LINS, Mário. A transformação da lógica conceitual da sociologia: bases para uma reestruturação da sistemática sociológica. Rio de Janeiro: Jornal do Com-mercio, 1947. 127 p.

PIERSON, Donald. Leituras de sociologia e antropologia social. São Paulo: Livraria Martins, 1948. 672 p.

LINS, Mario. A evolução lógico-conceitual da ciência. Rio de Janeiro: Jornal do Commercio, 1954. 73p.

PAGLIARINI, Mauro Fernandes. O fato social e sua influência coercitiva na realida-de: conceituação dinâmica. São Paulo: J. A. Pereira, 1956. 119 p.

SANTOS, Mário Ferreira dos. Sociologia fundamental e ética fundamental. São Pau-lo: Livraria Ed. Logos, 1957. 246 p.

MÜLLER, Antônio Rubbo. Teoria da organização humana. São Paulo: Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 1958.

MARINHO, Sérgio. Aspectos de sociologia. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exér-cito, 1958. 166 p.

RAMOS, Alberto Guerreiro. A redução sociológica: introdução ao estudo da ra-zão sociológica. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1958. 169 p.

AZEVEDO, Thales de (et alli). Atualidade de Durkheim. Salvador: Universida-de da Bahia Imprensa Vitória, 1959. 112 p.

FERNANDES, Florestan. Fundamentos empíricos da explicação sociológica. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1959. 378 p.

FERNANDES, Florestan. Ensaios de sociologia geral e aplicada. Biblioteca Pionei-ra de Ciências Sociais. São Paulo: Livraria Pioneira, 1960. 423 p.

PIMENTA, Joaquim. Sociologia jurídica do trabalho. 3a ed. Rio de Janeiro: Ed. Nacio-nal de Direito, 1948. 300 p. Primeira edição: Rio de Janeiro: Forense, 1944.

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Page 269: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

BASTIDE, Roger. Sociologia e psicanálise. Coleção Minerva. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1948. 277 p.

MORAES FILHO, Evaristo de. O problema de uma sociologia do direito. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1950. 264 p.

RAMOS, Alberto Guerreiro. Sociologia do orçamento familiar. Rio de Janeiro: De-partamento de Imprensa Nacional, 1950. 89 p.

MORAES FILHO, Evaristo de. Relações humanas na indústria: lições de socio-logia industrial. Rio de Janeiro: Departamento Administrativo do Serviço Público, Serviço de Documentação, 1955. 115 p.

MORAES FILHO, Evaristo de. Do delito ao direito de greve, um quarto de século na vida italiana. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Ministério do Traba-lho, Indústria e Comércio, Serviço de Documentação, 1956. 61 p.

MACHADO NETO, Antônio Luís. Sociedade e direito na perspectiva da razão vital. Salvador: Livraria Progresso, 1957. 290 p.

DONATO, Messias Pereira. O movimento sindical operário no regime capitalista. Belo Horizonte: UMG, 1959. 134 p.

CHACON, Vamireh. Introdução ao problema da sociologia do direito. Recife: Uni-versidade do Recife, Faculdade de Direito, 1959. 118 p.

MACHADO NETO, Antônio Luís; MACHADO NETO, Zahidé. O direito e a vida social: leituras básicas de sociologia jurídica. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1966. 210 p.

FERREIRA, Francisco de Paula. As técnicas da pesquisa social. Petrópolis: Vozes, 1947. 160 p.

CRUZ, José. Pesquisa social: suas técnicas. Aracaju: Livraria Regina, 1960. 183 p.

NOGUEIRA, Oracy. Pesquisa social: introdução às suas técnicas. 3a ed. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1975. 195 p. Primeira edição: Comissão Paulista de Folclore, 1951. São Paulo.

Manuais e introduções

FONTOURA, Afro Amaral. Sociologia educacional. Rio de Janeiro: Gráfica Ed. Aurora, 1951. 273 p.

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Glaucia Villas Bôas

GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução à sociologia. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação do Departamento Administrativo do Serviço Público, 1959. 241 p.

BARCELLOS, Fernanda Augusta Vieira Ferreira (et alli). Pequena antologia so-ciológica. Rio de Janeiro: Gráfica Ed. Aurora, 1955. 202 p.

BRANDÃO, Geraldo. Noções de sociologia geral: para as cadeiras do curso pedagógico dos institutos de educação do Brasil. São Paulo: Ed. do Brasil, 1955. 180 p.

PIMENTA, Joaquim. Enciclopédia de cultura: sociologia e ciências correlatas. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1955. 412 p.

CORRÊA, Carlos Pinto (et alli). Estudos de sociologia. Belo Horizonte: Univer-sidade de Minas Gerais, Faculdade de Ciências Econômicas, Imprensa da Universidade, 1957. 170 p. il.

BARCELLOS, Fernanda Augusta Vieira Ferreira. Pequeno tratado de relações hu-manas. Niterói: J. Gonçalves, 1957. 215 p.

GUSMÃO, Paulo Dourado de. Teorias sociológicas. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1962. 306 p.

ALVIM, Décio Ferraz. Sociologia. Petrópolis: Vozes, 1963. 216 p.

GUSMÃO, Paulo Dourado de. Manual de sociologia. Rio de Janeiro: Ed. Fundo de Cultura, 1963. 255 p.

NÓBREGA, J. Flóscolo da. Introdução à sociologia. Rio de Janeiro: J. Konfino, 1965. 125 p.

Avaliação da produção de conhecimento da disciplina no Brasil

RAMOS, Alberto Guerreiro Ramos; GARCIA, Evaldo da Silva. Notícias sobre as pesquisas e os estudos sociológicos no Brasil (1940-1949): com especial referên-cia a migrações, contatos de raça, colonização e assuntos correlatos. Rio de Janeiro: Conselho de imigração e colonização, 1950.

PINTO, Luís Aguiar Costa; CARNEIRO, Edison. As ciências sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Comissão de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior - CAPES, 1955. 111 p.

BAZZANELLA, Waldemiro. Estratificação e mobilidade social no Brasil: fontes bibliográfi-cas. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1956. 116 p.

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Page 271: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

RAMOS, Alberto Guerreiro. Introdução crítica à sociologia brasileira. Rio de Janei-ro: Ed. Andes, 1957. 216 p.

LEÃO, Antônio Carneiro. Panorama sociológico do Brasil (curso realizado em francês na Sorbonne, no ano letivo de 1950-1951 e reescrito em portu-guês). Prefácio de George Davy. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pes-quisas Educacionais, 1958. 204 p.

FERNANDES, Florestan. A etnologia e a sociologia no Brasil. São Paulo: Ed. Anhembi, 1958. 327 p. il.

BAZZANELLA, Waldemiro. Problemas de urbanização na América Latina: fontes bibliográficas. Rio de Janeiro: Centro Latino-Americano de Pesquisas em Ciências Sociais, 1960. 123 p.

FERNANDES, Florestan. A sociologia numa era de revolução social. Ciências So-ciais, 12. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1963. 378 p.

AZEVEDO, Thales de. As ciências sociais na Bahia: notas para sua história. Sal-vador: Universidade da Bahia, Instituto de Ciências Sociais, 1964. 81 p.

Avaliação do ensino da disciplina

CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. Didática das ciências sociais: obser-vações críticas acerca do ensino de Sociologia por Emílio Willems. Belo Horizonte: Secretaria de Educação, Imprensa Oficial, 1949.

FRIEDMANN, John. Esquema de um curso de leituras de ciências sociais. Tradução de Rubens Doval. Salvador: Livraria Progresso, 1957. 62 p.

Obras sObre temas específicOs

Mudança social, industrialização e desenvolvimento

Estudos de caráter geral

BASTIDE, Roger. Brasil, terra de contrastes. Tradução de Maria Isaura Pereira de Queiroz. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1959. 253 p.

LAMBERT, Jacques. Os dois Brasis. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Estudos Pe-dagógicos – INEP, Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1959. 288 p.

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Page 272: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

Mudanças sociais

FREYRE, Gilberto. Ordem e progresso. Rio de Janeiro: José Olympio, 1959. 2 v. il.

WAGLEY, Charles. A revolução brasileira: uma análise da mudança social desde 1930. Tradução de Archimedes P. Guimarães. Salvador: Fundação para o Desenvolvimento da Ciência na Bahia, Livraria Progresso, 1959. 78 p.

FERNANDES, Florestan. Mudanças sociais no Brasil: aspectos do desenvol-vimento da sociedade brasileira. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1960. 401 p. il.

PINTO, Luís de Aguiar Costa. Sociologia e desenvolvimento, temas e problemas de nosso tempo. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 314 p.

BELTRÃO, Pedro Caldeira. Sociologia do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1965. 159 p. il.

MORAIS, José Xavier Pessoa de. Sociologia da revolução brasileira, análise e interpretação do Brasil hoje. Prefácio de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: Ed. Leitura, 1965. 343 p.

PEREIRA, Luís. Trabalho e desenvolvimento no Brasil. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1965. 302 p.

RAMOS, Alberto Guerreiro. Administração e estratégia do desenvolvimento: elemen-tos de uma sociologia da administração. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1966. 453 p.

FERNANDES, Florestan. Folclore e mudança social na cidade de São Paulo. 2a ed. Revisada pelo autor. Petrópolis: Vozes, 1979. 410 p. Primeira edição: São Paulo: Ed. Anhembi, 1961. 475 p.

Comunidades

WAGLEY, Charles. Uma comunidade amazônica: estudo do homem nos trópi-cos. Tradução de Clotilde da Silva Costa. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1957. 312 p. il.

SILVA, Fernando Altenfelder. Análise comparativa de alguns aspectos da estrutura social de duas comunidades do Vale do São Francisco. Curitiba: Universidade do Paraná, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1954. 219 p. il.

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Page 273: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

WILLEMS, Emílio. Uma vila brasileira, tradição e transição. Prefácio de Nelson Werneck Sodré. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1961. 222 p. Primeira edição: Cunha. Tradição e transição em uma cultura rural do Brasil. São Paulo: Secretaria de Agricultura, Diretoria de Publicidade Agrícola, 1947.

NOGUEIRA, Oracy. Família e comunidade: um estudo sociológico de Itapetininga. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1962. 541 p. il.

PIERSON, Donald. Cruz das almas. Com a colaboração de Carlos Borges Teixeira e ou-tros. Coleção Documentos Brasileiros, Rio de Janeiro: José Olympio, 1966. 458 p. il.

Industrialização

AZEVEDO, Fernando de. A cidade e o campo na civilização industrial e outros estudos. São Paulo: Melhoramentos, 1962. 267 p.

IANNI, Octávio. Industrialização e desenvolvimento social no Brasil. Coleção Retra-tos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 269 p.

LOPES, Juarez Rubens Brandão. Sociedade industrial no Brasil. Prefácio de Má-rio Wagner Vieira da Cunha. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964. 186 p.

CARDOSO, Fernando Henrique. Empresário industrial e desenvolvimento econômico no Brasil. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964. 196 p.

IANNI, Octávio. Estado e capitalismo, estrutura social e industrialização no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 270 p.

Meio rural

Características gerais

SCHIMIDT, Carlos Borges. O meio rural: investigações e estudos das suas condições sociais e econômicas. São Paulo: Secretaria de Agricultura, Indústria e Comércio do estado de São Paulo, Diretoria de Publicidade Agrícola, 1946. 182 p. il.

CARVALHO, Hernani. Sociologia da vida rural brasileira: subsídios para o seu estudo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1951. 396 p. il.

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Page 274: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

LEÃO, Antônio Carneiro. A sociedade rural, seus problemas e sua educação. Rio de Janeiro: Ed. A Noite, 1953. 368 p. il.

Condições e relações de trabalho

TORRES, João Batista de Vasconcelos. Condições de vida do trabalhador na agroindústria do açúcar. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1945. 277 p. il.

CALDEIRA, Clóvis. Arrendamento e parceria no Brasil. Rio de Janeiro: Comissão Nacional de Política Agrária, 1955. 54 p.

SANTOS FILHO, Licurgo de Castro. Uma comunidade rural do Brasil Antigo: aspectos da vida patriarcal no sertão da Bahia nos séculos XVIII e XIX. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 447 p. il.

CALDEIRA, Clóvis. Mutirão, formas de ajuda mútua no meio rural. Coleção Bra-siliana, São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1956. 222 p. il.

GALVÃO, Hélio. O mutirão no Nordeste. Rio de Janeiro: Ministério da Agricul-tura, Serviço de Informação Agrícola, 1959. 75 p. il.

CALDEIRA, Clóvis. Menores no meio rural: trabalho e escolarização. Rio de Janeiro: INEP, Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1960. 190 p.

MORAIS, Valfrido. Jagunços e heróis: a civilização do diamante nas lavras da Bahia. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 212 p.

CÂNDIDO, Antônio. Os parceiros do rio Bonito: estudo sobre o caipira paulista e a transformação dos seus meios de vida. Coleção Documentos Históricos. Rio de Janeiro: José Olympio, 1964. 239 p. il.

Relações políticas

AZEVEDO, Fernando. Canaviais e engenhos na vida política do Brasil: ensaio so-ciológico sobre o elemento político na civilização do açúcar e do álcool. Rio de Janeiro: Instituto do Açúcar e do Álcool, 1948. 243 p.

PINTO, Luís de Aguiar Costa. Lutas de famílias no Brasil: introdução ao seu estudo. Coleção Brasiliana. São Paulo: Ed. Nacional, 1949. 194 p.

BARRETO, Leda. Julião, nordeste, revolução. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 145 p.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

VILAÇA, Marcos Vinícios; ALBUQUERQUE, Roberto Cavalcanti de. Coro-nel, coronéis. Rio de Janeiro: Ed. Tempo Brasileiro, 1965. 222 p. il.

Movimentos e conflitos religiosos

FACÓ, Rui. Cangaceiros e fanáticos, gênese e lutas. 2a ed. Coleção Retratos do Bra-sil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 226 p. il. Primeira edição: Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. O messianismo no Brasil e no mundo. São Paulo: Dominus, 1965. 373 p.

QUEIROZ, Maurício Vinhas de. Messianismo e conflito social (a guerra sertaneja do Contestado: 1912-1916). Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civili-zação Brasileira, 1966. 353 p.

Tradicões populares

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. Sociologia e folclore, a dança de São Gonçalo num povoado baiano. Salvador: Fundação para o Desenvolvimento da Ciên-cia; Livraria Progresso, 1958. 121 p. il.

Outros

ANDRADE, Lopes de. Introdução à sociologia das secas. Prefácio de Gilberto Freyre. Rio de Janeiro: Ed. A Noite, 1948. 189 p. il.

AZEVEDO, Fernando de. Um trem corre para o oeste: estudo sobre o noroeste e seu papel no sistema de viação nacional. São Paulo: Livraria Martins, 1950. 375 p. il.

Mobilidade histórica e social

Negros

PIERSON, Donald. Brancos e pretos na Bahia: estudo de contato racial. Com introduções de Arthur Ramos e Robert E. Park. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1945. 486 p.

PINTO, Luís de Aguiar Costa. O negro no Rio de Janeiro: relações de raças numa socieda-de em mudança. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1953. 355 p.

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Page 276: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

AZEVEDO, Thales de. As elites de cor: um estudo de ascensão social. Prefácio de Charles Wagley. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1955.

BASTIDE, Roger; FERNANDES, Florestan. Relações raciais entre negros e bran-cos em São Paulo: ensaio sociológico sobre as origens, as manifestações e os efeitos do preconceito de cor no município de SP. São Paulo: Ed. Anhem-bi, UNESCO, 1955. 554 p.

CARDOSO, Fernando Henrique; IANNI, Octávio. Cor e mobilidade social em Florianópolis: aspectos das relações entre negros e brancos numa comuni-dade do Brasil meridional. Prefácio de Florestan Fernandes. Coleção Bra-siliana, 307. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1960. 286 p. il.

CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. 2a ed. Coleção Estudos Brasileiros, 19. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977. 303 p. Primeira edição: São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1962.

IANNI, Octávio. As metamorfoses do escravo: apogeu e crise da escravatura no Brasil meridional. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1962. 312 p.

FERNANDES, Florestan. A integração do negro na sociedade de classes. 3a ed. São Pau-lo: Ática, 1978. 2 v. Primeira edição: São Paulo: Dominus, Edusp, 1965. 2 v.

Migrantes

TORRES, João Batista de Vasconcelos. A mobilidade rural brasileira. Rio de Janeiro: Livraria Clássica Brasileira, 1950. 144 p. il.

ALMEIDA, Vicente Unzer de; SOBRINHO, Otávio Teixeira Mendes. Mi-gração rural-urbana: aspectos da convergência de população do interior e outras localidades para a capital do estado de São Paulo (com um estudo sobre zonas de colonização do estado de São Paulo). São Paulo: Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo, Diretoria de Publicidade Agrícola, 1951. 147 p. il.

BORGES, Thomas Pompeu Accioly. Migrações internas no Brasil. Rio de Janeiro: Comissão Nacional de Política Agrária, 1955. 42 p.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

TORRES, João Batista de Vasconcelos. Movimentos migratórios das populações ru-rais brasileiras. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1957. 180 p.

CAMARGO, José Francisco de. Êxodo rural no Brasil: formas, causas e conse-qüências econômicas principais. Prefácio de Paul Hugon. Rio de Janeiro: Ed. Conquista, 1960. 253 p. il.

CRUZ, Levy. As migrações para o Recife: caracterização social. Prefácio de Gilberto Freyre. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1961. 1 v. il.

LACERDA DE MELO, M. As migrações para o Recife. Prefácio de Gilberto Freyre. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1961. 2 v.

FISCHLOWITZ, Estanislau. Principais problemas da migração nordestina. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1965. 181 p.

Imigrantes

RIOS, Arthur. Aspectos políticos da assimilação de italianos no Brasil. São Paulo: Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 1959.

AULER, Guilherme Martinez. A companhia de operários 1839-1843: subsídios para o estudo da emigração germânica no Brasil. Prefácio de Gilberto Freyre. Recife: Arquivo Público Estadual, Imprensa Oficial, 1959. 109 p.

KNOWLTON, Clark S. Sírios e libaneses: mobilidade social e espacial. Tradução de Yolanda Leite. São Paulo: Ed. Anhembi, 1960. 202 p. il.

SAITO, Hiroshi. O japonês no Brasil: estudo de mobilidade e fixação. São Paulo: Fundação Escola de Sociologia e Política, 1961. 238 p. il.

Meio urbano

REIS, Nélio. Problemas sociológicos do trabalho. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1964. 272 p.

HUTCHINSON, Bertram A. Mobilidade e trabalho: um estudo na cidade de São Paulo. Colaboradores Juarez Brandão Lopes, Carolina Martuscelli e Carlo Castaldi. Rio de Janeiro: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais, 1960. 451p. il.

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Page 278: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

278

Glaucia Villas Bôas

MEDINA, Carlos Alberto de. A favela e o demagogo. São Paulo: Ed. Martins, 1964. 101 p.

BEZERRA, Daniel Uchôa Cavalcanti. Alagados, mocambos e mocambeiros. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1965. 115 p.

RODRIGUES, Leôncio Martins. Conflito social e sindicalismo no Brasil. Coleção Corpo e Alma do Brasil. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1966. 222 p.

SIMÃO, Azis. Sindicato e Estado: suas relações na formação do proletariado de São Paulo. São Paulo: Dominus, 1966. 245 p.

MORAES FILHO, Evaristo de. O problema do sindicato único no Brasil: seus fun-damentos sociológicos. Prefácio de Paulo Sergio Pinheiro. 2a ed. São Paulo: Alfa Ômega, 1978. Primeira edição: Rio de Janeiro: Ed. A Noite, 1952.

Religião

BOER, Nicolas. Introdução à sociologia religiosa: pequeno esboço para os estudos sociológicos sobre as religiões. São Paulo: Ed. Herder, 1955. 286 p.

AZEVEDO, Thales de. O catolicismo no Brasil, um campo para a pesquisa social. Cadernos de Cultura. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1956. 70 p.

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de (et alli). Estudos de sociologia e história. São Paulo: Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP, Ed. Anhembi, 1957. 301 p.

Educação

PEREIRA, Luís; FORACCHI, Marialice Mencarini. Educação e sociedade (Leitu-ras de sociologia da educação). São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1964. 449 p. il.

FORACCHI, Marialice Mencarini. O estudante e a transformação da sociedade bra-sileira. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1965. 318 p.

FERNANDES, Florestan. Educação e sociedade no Brasil. São Paulo: Dominus, 1966. 614 p.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

CiênCia PolítiCa

Obras sObre a disciplina

Problemas teórico-metodológicos

SAMPAIO, Nélson de Souza. A desumanização da política. Salvador: Livraria Progresso, 1951. 155 p.

SAMPAIO, Nelson de Souza. Ideologia e ciência política. Salvador: Livraria Pro-gresso, 1953. 336 p.

CAVALCANTI, Themístocles Brandão. Quatro estudos. A ciência política. O sistema constitucional. O poder político. O sistema federal. Rio de Janeiro: Instituto de Direito Público e Ciências Políticas, Fundação Getulio Vargas, 1954. 109 p.

CAVALCANTI, Themístocles Brandão. Teoria do Estado. Rio de Janeiro: Ed. Borsoi, 1958. 532 p.

JAGUARIBE, Hélio. Condições institucionais do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1958. 53 p.

CAVALCANTI, Themístocles Brandão. Introdução à ciência política: a ciência política, a evolução do pensamento político, o Estado, problemas de es-trutura. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, Instituto de Direito Pú-blico e Ciência Política,1958. 126 p.

CASTRO, José Olegário Ribeiro de. Introdução ao estudo das instituições políticas gregas. Belo Horizonte: Faculdade de Ciências Econômicas da Universida-de de Minas Gerais, 1959. 102 p.

DEBRUN, Michel. Ideologia e realidade. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1959. 284 p.

SALDANHA, Nelson Nogueira. As formas de governo e o ponto de vista histórico. Belo Horizonte: Universidade de Minas Gerais, 1960. 94 p.

SAMPAIO, Nelson de Souza. Prólogo à teoria do Estado: ideologia e ciência po-lítica. 2ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1960. 359 p.

CAVALCANTI, Themístocles Brandão (et alli). Estudos em homenagem a Jean Jac-ques Rousseau / 200 anos do «Contrato Social», 1762-1962. Rio de Janeiro: Fun-dação Getulio Vargas, Instituto de Direito Público e Ciência Política, 1962.

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Glaucia Villas Bôas

OLIVEIRA, Ives Orlando Tito de. Atualidades das ciências políticas no Brasil. Bi-blioteca de Sociologia e Política. Salvador: Fundação DACO, 1965. 102 p.

Obras sObre temas específicOs

Instituições políticas

Escolha de governantes

Eleições

FARIA, Hermínio Augusto. Três pesquisas: o voto do analfabeto, a lei de di-retrizes de bases, a divisão da Guanabara em municípios. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, Serviço de Publicações, 1964. 159 p.

CAVALCANTI, Themístocles Brandão; DUBNIC, Reisky. Comportamento elei-toral no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, Serviço de Publi-cações, 1964. 277 p.

VASCONCELOS, José Lobo. Política, eleição e fraude. Belo Horizonte: B. Alva-res, 1962. 224 p. il.

GOMES NETO, Francisco Antônio. A realidade democrática. São Paulo: Ed. Fulgor, 1962. 207 p.

TORRES, João Camilo de Oliveira. Harmonia política. Belo Horizonte: Itatiaia, 1961. 290 p.

LIMA SOBRINHO, Alexandre José Barbosa. Estudos constitucionais, sistemas eleitorais e partidos políticos. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, Institu-to de Direito Público e Ciência Política, 1956. 110 p.

MARTINS, Rui Nogueira. Tentativas para organizar o Brasil. São Paulo: Instituto de Sociologia e Política da Federação do Comércio do Estado, 1956. 81 p.

BLOEM, Rui. A crise da democracia e a reforma eleitoral. São Paulo: Livraria Mar-tins, 1955. 196 p.

GOMES NETO, Francisco Antônio. O direito eleitoral e a realidade democrática. Rio de Janeiro: J. Konfino, 1953. 148 p.

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Page 281: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

Partidos políticos

FRANCO, Virgílio Alvim de Melo. A campanha da UDN (1944-1945). Rio de Janeiro: Z. Valverde, 1946. 445 p.

CARMO, José Arimatéia Pinto do. Diretrizes partidárias (UDN, PRD PSD, PTB, PRP, PL, PR, PSP, POC, POT, PST, PTN, PCB). Rio de Janeiro: Pon-getti Ed., 1948. 329 p.

CARVALHO, Orlando Magalhães. A crise dos partidos nacionais. Belo Horizon-te: Ed. Kriterion, 1950. 50 p.

PEREIRA, Astrogildo. Formação do PCB, 1922/1928: notas e documentos. Rio de Janeiro: Ed. Vitória, 1962. 145 p. il.

CASCUDO, Luís da Câmara. História da República no Rio Grande do Norte: da propaganda à primeira eleição direta para governador. Rio de Janeiro: Ed. Val, 1965. 306 p.

Diplomacia e política externa

BRAGA, Pedro de Souza. O Brasil e o mundo ibérico. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, Instituto Rio Branco - IRB, 1951. 104 p.

ANDRADE, Rodrigo Melo Franco. Rio Branco e Gastão da Cunha. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, Instituto Rio Branco, 1953. 281 p. il.

RICARDO, Cassiano. O tratado de Petrópolis. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1954. 2 v.

FREYRE, Gilberto. Sugestões em torno de uma nova orientação para as relações inter-nacionais no Brasil. Coleção Fórum Roberto Simonsen. São Paulo: Centro e Federação das Indústrias do estado de São Paulo, Serviço de Publicações, 1958. 88 p.

FREYRE, Gilberto. Uma política transnacional de cultura para o Brasil de hoje. Belo Ho-rizonte: Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, 1960. 117 p.

ALENCASTRE, Amílcar. Oswaldo Aranha, o mundo afro-asiático e a paz. Coleção Lindolfo Collor. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação do Ministério do Trabalho e Previdência Social, 1961. 163 p.

DANTAS, Francisco Clementino de San Thiago. Política externa independente. Co-leção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962. 258 p.

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Page 282: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

CHACON, Vamireh. Qual a política externa conveniente ao Brasil? Cadernos do Povo Brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 92 p.

Formas de governo parlamentarista e presidencialista

LUCENA, Humberto. Política e problemas: programa de metas, parlamentaris-mo, Nordeste. Rio de Janeiro: Ministério do Trabalho, Indústria e Comér-cio, Departamento Administrativo do Serviço Público - DASP, Serviço de Documentação, 1960. 54 p.

FREITAS, Byron Torres de. O Estado moderno e o parlamentarismo no Brasil. Rio de Janeiro: Gráfica Ed. Amora, 1961. 89 p.

LOUREIRO JÚNIOR, José. Parlamentarismo e presidencialismo. São Paulo: Re-vista dos Tribunais, 1962. 201 p.

REALE, Miguel. Parlamentarismo brasileiro. São Paulo: Ed. Saraiva, 1962. 144 p.

TORRES, João Camilo de Oliveira. O presidencialismo no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. O Cruzeiro, 1962. 284 p.

TORRES, João Camilo de Oliveira. Cartilha do parlamentarismo. Belo Horizon-te: Ed. Itatiaia, 1962. 95 p.

CARNEIRO, Levi Fernandes. Uma experiência de parlamentarismo. São Paulo: Ed. Martins, 1965. 312 p.

Constituição jurídica e social das instituições políticas

VIANNA, Francisco José de Oliveira. Instituições políticas brasileiras: os proble-mas brasileiros da ciência política. Rio de Janeiro, José Olympio, 1949. 2 v.

VIANNA, Francisco José de Oliveira. Direito do trabalho e democracia social: o problema da incorporação do trabalhador no estado. Rio de Janeiro: José Olympio, 1951. 179 p.

VIANNA, Francisco José de Oliveira. Problemas de organização e problemas de direção: o povo e o governo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1952. 181 p.

HORTA, Raul Machado (et alli). Perspectivas do federalismo brasileiro. Belo Hori-zonte: Universidade de Minas Gerais, 1958. 171 p.

TORRES, J. Camilo de Oliveira. A formação do federalismo no Brasil. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1961. 301 p.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

Forças Armadas

FAGUNDES, Miguel Seabra. As Forças Armadas na constituição. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1955. 85 p.

RAMOS, Alberto Guerreiro. Ideologia e segurança nacional. Rio de Janeiro: Insti-tuto Superior de Estudos Brasileiros, 1957. 50 p.

TAVARES, Aurélio de Lyra. Segurança nacional, antagonismos e vulnerabilidades. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1958. 247 p. il.

FERREIRA, Oliveiros S. As Forças Armadas e o desafio da revolução. Rio de Janei-ro: Ed. GRD, 1964. 152 p.

Administração político-burocrática

CUNHA, Mário Wagner Vieira da. O sistema administrativo brasileiro, 1930-1950. Rio de Janeiro: Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais - CBPE, 1963. 179 p.

Ideologias políticas

JAGUARIBE, Hélio. O problema do desenvolvimento econômico e a burguesia nacional. Coleção Fórum Roberto Simonsen. São Paulo: Centro e Federação das Indústrias do estado de São Paulo, 1956. 68 p.

JAGUARIBE, Hélio. O nacionalismo na atualidade brasileira. Rio de Janeiro: Ins-tituto Superior de Estudos Brasileiros, 1958. 305 p.

CORBISIER, Roland. Brasília e o desenvolvimento nacional. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Instituto Superior de Estudos Brasileiros, 1960. 74 p.

MARQUES, Aguinaldo Nepomuceno. Fundamentos do nacionalismo. Prefácio de Oswaldo Costa. São Paulo: Fulgor, 1960. 236 p.

PEREIRA, Osni Duarte. Estudos nacionalistas: considerações à margem do Brasil contemporâneo. São Paulo: Fulgor, 1960. 2 v. il.

PASSOS, Gabriel de Rezende. Temas nacionalistas. São Paulo: Fulgor, 1961. 215 p.

RAMOS, Alberto Guerreiro. A crise do poder no Brasil: problemas da revolução nacional brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 1961. 197 p.

CHACON, Vamireh. A revolução no trópico: nacionalismo, marxismo e desen-volvimento. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos, 1962. 134 p.

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Page 284: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

JAGUARIBE, Hélio. Desenvolvimento econômico e desenvolvimento político. Rio de Ja-neiro: Ed. Fundo de Cultura, 1962. 224 p.

ALMEIDA, Cândido Antônio Mendes de. Nacionalismo e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos, 1963. 398 p.

LIMA SOBRINHO, Alexandre José Barbosa. Desde quando somos nacionalistas? Ca-dernos do povo brasileiro. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1963. 126 p.

RODRIGUES, Lisias Augusto. Geopolítica do Brasil. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1947. 140 p. il.

SILVA, Golberi do Couto e. Planejamento estratégico. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Americana, Biblioteca do Exército, 1955.

TAVARES, Aurélio de Lyra. Território nacional, soberania e domínio de Estado. Rio de Janeiro: Cia. Ed. Americana, Biblioteca do Exército, 1955. 262 p. il.

SILVA, Golberi do Couto e. Aspectos geopolíticos do Brasil. Rio de Janeiro: Biblio-teca do Exército, 1957. 81 p. il.

CARTAXO, Otacílio Dantas. O problema geopolítico brasileiro: teoria e prática de uma revolução nacionalista. Rio de Janeiro: Gráfica Ouvidor, 1965. 341 p. il.

BARROS, Manuel de Souza. Subdesenvolvimento, Nordeste e nacionalismo. Prefácio de Heitor Ferreira Lima. São Paulo: Fulgor, 1966. 118 p.

Formação social e histórica do poder político

LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime repre-sentativo no Brasil. Com nota do professor Basílio de Magalhães. Rio de Janeiro: Revista Forense, 1948. 311 p.

BLONDEL, Jean. As condições da vida política no estado da Paraíba. Tradução e no-tas de Alcântara Nogueira. Prefácio de Orlando Carvalho. Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, Instituto de Direito Público e Ciência Política, 1957. 168 p. il.

RAMOS, Alberto Guerreiro. Condições sociais do poder nacional. Rio de Janeiro: Instituto Superior de Estudos Brasileiros - ISEB, 1957. 38 p.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

FAORO, Raimundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasilei-ro. Rio de Janeiro: Ed. Globo, 1958. 271 p.

MOTA, Albérico. Classes sociais e poder político: hipóteses sobre o caso brasileiro. Salva-dor: Universidade Federal da Bahia, Instituto de Ciências Sociais, 1966. 107 p.

MERCADANTE, Paulo. A consciência conservadora no Brasil: contribuição ao estudo da formação brasileira. Coleção Retratos do Brasil. 2a ed. Rio de Janeiro: Civili-zação Brasileira, 1972. 235 p. Primeira edição: Rio de Janeiro: Ed. Saga, 1965.

Análise de crises políticas

BASTOS, Aguiar. Prestes e a revolução social: fatos políticos, condições sociais e causas econômicas de uma fase revolucionária do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Calvino, 1946. 366 p.

BANDEIRA, Luís Alberto Moniz. O caminho da revolução brasileira. Rio de Ja-neiro: Ed. Melso, 1962. 187 p.

TORRES, João Camilo de Oliveira. Razão e destino da revolução. Petrópolis: Vo-zes, 1964. 329 p.

FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Evolução da crise brasileira. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1965. 265 p.

MOREL, Edmar. O golpe começou em Washington. Coleção Retratos do Brasil, v. 34. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1965. 276 p.

PEDROSA, Mário. A opção brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966. 311 p.

Perfis presidenciais

LIMA, Cláudio de Araújo. Mito e realidade de Vargas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1955. 130 p.

BARBOSA, Francisco de Assis. Juscelino Kubitschek: uma revisão na política brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1960. il.

CABRAL, Carlos Castilho. Tempos de Jânio e outros tempos. Coleção Retratos do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1962. 319 p.

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Glaucia Villas Bôas

gEograFia HuMana

Obras sObre a disciplina

Problemas teórico-metodológicos

CASTRO, Josué de. Geopolítica da fome: ensaio sobre os problemas de alimen-tação e de população do mundo. Prefácio de Lord John Boyd Orr. Rio de Janeiro: Ed. da Casa do Estudante do Brasil, 1951. 288 p.

ZARUR, Jorge. Precisão e aplicabilidade na geografia. Rio de Janeiro: Colégio Pe-dro II, 1955. 153 p. il.

MOREIRA, Eidorfe. Idéias para uma concepção geográfica da vida. Belém: Barrah, 1960. 148 p.

AZEVEDO, Aroldo de. O mundo antigo, expansão geográfica e evolução da Geografia. Coleção Buriti. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1965. 173 p. il.

SANTOS, Milton. A cidade nos países subdesenvolvidos. Rio de Janeiro: Civiliza-ção Brasileira, 1965. 175 p.

Manuais e introduções

CARVALHO, Carlos Miguel Delgado de. A excursão geográfica (guia do professor). Notas do professor Pierre Monbeig. Rio de Janeiro: Conselho Nacional de Geografia, 1945. 84 p.

GICOVATE, Moisés. Manual de geografia humana (para uso em cursos de faculdades de filosofia). São Paulo: Melhoramentos, 1947. 174 p. il.

NUNES, Alberto R. Geografia humana do Brasil. Rio de Janeiro: Livraria Fran-cisco Alves, 1950. 138 p. il.

LOBO, Roberto Haddock. Geografia econômica. São Paulo: Ed. Atlas, 1988. 321 p. il.

CARDOSO, Lamartine. Geografia econômica do Brasil. São Paulo: Ed. Crédito Brasileiro do Livro, 1972. 231 p. il.

Avaliação do ensino da disciplina

FONSECA, James Braga Vieira da. O ensino da geografia no Brasil. Rio de Janei-ro: Instituto Pan-americano de Geografia e História, 1956. 160 p.

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Page 287: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

CAMPOS, Antônio Pedro de Souza; DOTTORI, Clóvis Bittencourt. Roteiro de geografia do Brasil. Para os cursos de orientação da Campanha de Aper-feiçoamento e Difusão do Ensino Secundário. Rio de Janeiro: CADES, 1961. 2v. il.

Obras sObre temas específicOs

Regiões brasileiras

LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e o brejo. Biblioteca Geográfica Brasilei-ra. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1945. 204 p. il.

BENCHIMOL, Samuel. O cearense na Amazônia. Rio de Janeiro: Imprensa Na-cional, 1946. 89 p.

CORREA FILHO, Virgílio. Pantanais mato-grossenses (devassamento e ocupação). Biblioteca Geográfica Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Ge-ografia e Estatística, 1946. 170 p. il.

LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e a restinga. Biblioteca Geográfica Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1946. 227 p. il.

ZARUR, Jorge. A bacia do médio São Francisco: uma análise regional. Biblioteca Geográfica Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1947. 187 p.

LAMEGO, Alberto Ribeiro. O homem e a serra. Biblioteca Geográfica Brasilei-ra. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 1950. 350 p. il.

AZEVEDO, Aroldo de. Regiões e paisagens do Brasil. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1952. 271 p. il.

LINHARES, Temístocles. Paraná vivo, um retrato sem retoques. Coleção Docu-mentos Brasileiros. Rio de Janeiro: José Olympio, 1953. 360 p. il.

MOTA, Mauro. Paisagem das secas. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pes-quisas Sociais, 1958. 145 p. il.

ABREU, Sílvio Fróis. O Distrito Federal e seus recursos naturais. Biblioteca Geo-gráfica Brasileira. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1957. 318 p. il.

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Page 288: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

MOREIRA, Eidorfe. Amazônia o conceito e a paisagem. Rio de Janeiro: Superin-tendência do Plano de Valorização da Amazônia - SPVEA, 1960. 90 p.

ANDRADE, Manuel Correia de. A terra e o homem no Nordeste. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1963. 249 p. il.

CASTRO, Josué de. Sete palmos de terra e um caixão: ensaios sobre o Nordeste, área explosiva. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1965. 222 p.

Meio rural

CARNEIRO, José Fernando Domingues. Imigração e colonização no Brasil. Rio de Janeiro: Universidade do Brasil, Faculdade Nacional de Filosofia, 1950.

GEIGER, Pedro Pinchas; MESQUITA, Myriam Gomes Coelho. Estudos rurais da Baixada Fluminense (1951-1953). Biblioteca Geográfica Brasileira. Rio de Janeiro: Serviço Gráfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1956. 208 p. il.

ANDRADE, Gilberto Osório de. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental I: o rio Ceará-Mirim. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Imprensa Oficial, 1957. 59 p. il.

ANDRADE, Gilberto Osório de. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental III: o rio Paraíba do Norte. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Imprensa Oficial, 1957. 154 p. il.

ANDRADE, Manuel Correia de. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental II: o rio Mamanguape. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Mi-nistério da Educação e Cultura - MEC, 1957. 71 p. il.

WAIBEL, Leo. Capítulos de geografia tropical e do Brasil. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 1958. 307 p. il.

ANDRADE, Manuel Correia de. Os rios do açúcar do Nordeste Oriental IV: os rios Coruripe, Jiquiá, e São Miguel. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, Imprensa Oficial, 1959. 96 p. il.

LACERDA DE MELO, Mário. As migrações para o Recife: I Estudo Geográfico. Recife: Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, 1961.

VALVERDE, Orlando. Geografia agrária do Brasil. Rio de Janeiro: Centro Bra-sileiro de Pesquisas Educacionais - CBPE, 1964. 2 v. il.

ANDRADE, Manuel Correia de. Paisagens e problemas do Brasil: aspectos da vida rural brasileira frente à industrialização e o crescimento econômico. 4ª ed. revisada e atualizada. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1973. 277 p.

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Page 289: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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A vocação das ciências sociais no Brasil

Condições socioeconômicas

CASTRO, Josué de. Geografia da fome, a fome no Brasil. Rio de Janeiro: Gráfica O Cruzeiro, 1946. 354 p. il.

MARQUES, Antônio Nonato. Geografia do fumo na Bahia. Salvador: Centro de Estudos Ruralistas Nonato Marques, 1954. 85 p.

MONBEIG, Pierre. O Brasil. Tradução de Dirceu Lino de Mattos. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1954. 159 p. il.

MONBEIG, Pierre. Novos estudos de geografia humana brasileira. São Paulo: Difu-são Européia do Livro, 1957. 236 p. il.

WANDERLEY, Alberto. Estudos de geografia econômica. Belo Horizonte: Univer-sidade de Minas Gerais, Faculdade de Ciências Econômicas, 1959. 85 p.

AZEVEDO, Aroldo de (Org.). Brasil, a terra e o homem. Coleção Brasiliana. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1968. il.

Meio urbano

AZEVEDO, Aroldo de. Vilas e cidades do Brasil colonial: ensaio de geografia urbana retrospectiva. São Paulo: Universidade de São Paulo, Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, 1956. 96 p. il.

CASTRO, Josué de. Ensaios de geografia humana. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1957.

dEMograFia

Obras sObre a disciplina

Problemas teórico-metodológicos

LAMBERT, Jacques; PINTO, Luís Aguiar Costa. Problèmes démographiques con-temporains. Rio de Janeiro: Atlântica Ed., 1944. il.

SMITH, Thomas Lynn. Introdução à análise das populações. Rio de Janeiro: Uni-versidade do Brasil, Faculdade Nacional de Filosofia, 1950. 100 p. il.

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Page 290: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

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Glaucia Villas Bôas

PEREIRA, Jorge dos Santos. A previsão do crescimento das populações urbanas. Sal-vador: Universidade da Bahia, Imprensa Vitória, 1958. 100 p. il.

Obras sObre temas específicOs

Condições socioeconômicas da população

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MORTARA, Giorgio. Pesquisa sobre populações americanas. Rio de Janeiro: Kos-mos, 1947. 227 p.

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FRIEDMANN, John R.; LEAL, José. População e mão-de-obra na Bahia. Salva-dor: Livraria Progresso, 1957. 70 p. il.

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BATISTA FILHO, Olavo. População e desenvolvimento: interpretação da dinâmi-ca demográfica. São Paulo: Livraria Pioneira, 1965. 137 p.

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A vocação das ciências sociais no Brasil

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Padrão de vida no meio rural

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VIIBIBlIografIa

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Page 304: A Vocação das Ciências Sociais no Brasil

Este livro foi composto com Garamond 10,5/14 pt e impresso em papel Off-set 90g/m2

na gráfica Imprinta Express.

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