A Vista Do Morador
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"A Vista do Morador" sobre exposio de fotografias feitas pelos moradores do Beco do
Chafariz, So Benedito, Vitria, Esprito Santo. Organizado por Letcia Pimentel
Carvalho.
Este conjunto de fotografias, feitas pelos moradores do Beco do Chafariz, mostra seu
ponto de vista a paisagem e as pessoas do lugar e no lugar.
A palavra vista tanto ao ou resultado da ao de ver, quanto paisagem, panorama.
Mas o que ver? olhar para tomar conhecimento. O olhar desatento torna-se
cognoscente diz Marilena Chaui, que examina as razes de termos ligados ao olhar:
video ver, olhar perceber; viso visar, ir olhar, ir ver, examinar, observar.
Diz Marilena Chaui que quem olha, olha de algum lugar. Skpos aquele que observa
do alto e de longe, vigilante, protetor, informante e mensageiro. Sua prtica no
significa apenas espionar, vigiar mas tambm refletir, ponderar. Dessa raiz vir spek
(indoeuropeu) e specio (latim) ver, olhar, observar, perceber. Desses sentidos specio-
specto vem o espectador, aquele que v. As vezes o olhar admira e se admira, outras
vezes por ser cotidiano apenas cuida, guarda, evidencia. um olhar perspecto, pois
conhece perfeitamente, v atraves. Desse olhar se diz que perpicaz (engenhoso).
O Skpos nos ensina diz Marilena Chaui, pois, se fala em ponto de vista, e se aceita que
ideias e opinies dependem do lugar de onde se v o real e se trata de uma viso feita
nas alturas.
Por sua vez Roland Barthes coloca que a fotografia um convite olhe, olhem. Mas
porque escolher fotografar tal objeto tal instante em vez de outro? Se pergunta Barthes.
Observando algumas fotos, o que se v? Se v o beco se transformando, pessoas em
ao, mas tambm em estado de contemplao olhar no infinito. Se v o menino que
percorre o beco, pequenos grupos que conversam; muitas fotos despercebidas no
posadas, uns instantes roubados, algumas contingncias, outros testemunhos. Recortes
de construes, recortes de vistas. E ainda, um mar de casas ou uma topografia de
edificaes l embaixo. Barthes com razo, diz que no vemos a fotografia vemos o
olhar do fotgrafo.
Este olhar do outro da cidade, que outro se comparado ao arquiteto e urbanista,
com seu ponto de vista frequentemente tcnico, planificador, ordenador e seus
diagnsticos baseados em dados estatsticos, objetivos e genricos, como aponta Paola
Jacques.
Ver pelo olhar do outro aproxima a experincia urbana, a vivncia, a prtica da cidade.
Este o olhar daqueles que vivenciam a cidade de dentro, ou embaixo, bem diferente
da viso area dos urbanistas mediante seus mapas (Certeau citado por Jacques). Porm,
estes fotgrafos, que so espectadores cotidianos de belas vistas da cidade, ainda tem a
sorte de v-la no apenas em seus meandros, mas tambm do alto e de cima.
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Examinar este conjunto de fotos uma espcie de ouvir o ver dos outros, quer dizer:
prestar ateno neles, no que tem a mostrar: Eis aqui o que eles viram - alcanaram
com a vista; avistaram, enxergaram testemunhem!
Bem vindos vista dos moradores do Beco do Chafariz!
Clara Luiza Miranda
Referncias
BARTHES, Roland. A cmara clara. Ed. Nova Fronteira, 1984
CHAUI, Marilena. Janela da Alma, espelho do mundo. In NOVAES, Adauto. O
OLHAR. Companhia das Letras, 1989
JACQUES, Paola B.. Elogio aos errantes In Corpos e cenrios urbanos. EDUFBA, 2006