A Viagem das Palavras

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Pai — [...]As armas e padrões portugueses, póstos em África e em Ásia, e em tantas mil ilhas fóra da repartiçám das três pártes da térra, materiáes sãm,

e póde-âs o tempo gastár, peró nam gastará doutrina, costumes, linguágem, que os Portugueses néstas térras leixárem.

Filho — Nam sei, lógo, quál será o português de tam errádo juizo, pois é çérto que máis póde durár um bom costume e vocábulo que um padrám,

porque se nam préza máis leixár na India este nome, mercadoria, que trazer de lá beniága, cá é sinál de ser vençedor e nam vençido.

JOÃO DE BARROS, Diálogo em louvor da nossa linguagem, 1540.

No Portugal de Seiscentos, João de Barros enuncia clara e veementemente 2

uma das contribuições mais duradouras da expansão portuguesa – a marcaque a língua lusa iria deixar no mundo, cumprido o Império, caídos ospadrões e esquecidos os homens.

A intensa circulação de homens, bens e ideias nos mares de todas as partesda Terra foi acompanhada de uma igualmente intensa circulação de palavrasque, passados séculos, ainda perduram, sob as mais variadas formas, na car-tografia linguística do presente.

O Português é hoje falado, como língua materna e/ou como língua oficial,em Portugal, no Brasil, nos países africanos de língua oficial portuguesa, emTimor e em Macau. Línguas crioulas de base lexical portuguesa foram (e sãoainda hoje para algumas) a língua materna de comunidades diversas, emÁfrica, na América do Sul e na Ásia. Dezenas e, nalguns casos mesmo, cen-tenas de palavras de origem portuguesa, consequência do contacto directode falantes seus com as mais variegadas gentes, são ainda de uso corrente emlínguas tão distintas como o Japonês, o Quicongo, o Bahasa indonésio, oSuaíli, o Tetum, o Tupi, o Concani, o Malaio, o Singalês e muitas outras lín-guas, cuja enumeração exaustiva cansaria certamente o leitor.

Mas a circulação das palavras teve outros destinos involuntários. Se, comoafirma um dos grandes estudiosos dos crioulos portugueses dos finais do século XIX, o austríaco Hugo Schuchardt, a história das descobertas e das con quistas portuguesas é simultaneamente a história da difusão da

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língua portuguesa, não menos importante do que a influência directa sobre outras línguas foi o papel de mediação que o Português desempe-nhou, numa polinização cruzada das línguas e culturas regionais asiáticas e das línguas europeias. A presença portuguesa enraizou, no Índico, umalingua franca, utilizada pelas populações costeiras e pelos poderes colo-niais europeus como língua de contacto, numa antecipação precoce ao papel de língua global que o Inglês ocupa nos nossos dias. Através da linguafranca, e não por contacto directo, os étimos portugueses entraram em línguas europeias – o Inglês, o Francês, o Holandês –, numa viagem de rotascruzadas e recruzadas de palavras que, de línguas orientais as levou para alingua franca e para os crioulos, e destes para a Europa e para outras línguasda Ásia. No Atlântico, onde a es cravatura foi, nesses séculos, o motor da difusão linguística, terá sido um outro tipo de língua de contacto, umpidgin de base portuguesa, a veicular vocábulos de origem portuguesa e pala-vras de línguas africanas para crioulos de base inglesa, francesa, espanhola eholandesa.

Mas as palavras, nos séculos da expansão e do Império, foram, tal como ovinho, de torna viagem. As línguas das «três partes da terra» deixaram a suamarca no Português que hoje falamos, num processo normal de enriqueci-mento vocabular, o empréstimo, de que as línguas do mundo sempre se ser-viram e servirão, inevitável consequência do contacto de falantes, e que só ospuristas rejeitam, numa «patriótica» defesa da língua contra os «estrangeiris-mos». Os empréstimos linguísticos, que preencheram reais necessidadesexpressivas dos falantes, foram «nativizados» e interiorizados – monção, chá-vena, andor, tufão, chita, capanga, banana, canja, por exemplo –, qualquerdeles escaparia ao rótulo de «estrangeirismo» e poucos verão reconhecida asua origem etimológica pelo falante comum.

«Navegar é preciso» 3, o dito atribuído ao romano Pompeu e alegada divisada Liga Hanseática na época da expansão, é a metáfora adequada para a pers-pectiva assumida neste capítulo. Interessam-nos as viagens e não o seu des-tino. Para aqueles para quem os destinos e as chegadas forem importantes,inclui-se em anexo deste capítulo uma bibliografia (de modo algum exaus-tiva) de obras em que se trata a influência do Português e se enumeram aspalavras portuguesas que entraram nas línguas de Além-Mar. Para os outros,procuraremos descrever os actores, os processos e contextos históricos esociolinguísticos em que se deu esse fenómeno espantoso.

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O «Português» língua franca

A existência de uma vasta rede de núcleos populacionais ao longo das costasde África e do Oriente, núcleos onde os crioulos de base portuguesa forama língua materna de parte da população e em cuja periferia se utilizava umpidgin português como língua de contacto, tornou o Português (nas suasmetamorfoses crioulas ou nas versões pidginizadas), do século XV ao séculoXVIII, a língua veicular do comércio e do contacto interétnico em vastaszonas do Globo. Mercadores e missionários europeus tinham assim ao seudis por uma língua «simplificada», com um léxico onde eram facilmente re-conhe cíveis as palavras de uma língua europeia, facilitando o contacto ime-diato e dispensando a aprendizagem das línguas locais.

No Índico, durante os séculos XVII e XVIII, em grande parte dos domíniosingleses e holandeses, funcionaram como línguas francas versões mais oumenos crioulizadas de um «corrupted Portuguese» 4, utilizadas por adminis-tradores coloniais, por visitantes ocasionais e por missionários das Igrejasanglicanas, no seu trato com os habitantes locais.

Em nenhum outro lugar a sobrevivência desta língua veicular foi tão fortecomo no Ceilão. Durante a primeira metade do século XIX, atestando asobre vivência da língua franca até à época, foram impressos vários glossáriose gra máticas do Ceylon Portuguese, com reedições sucessivas, para uso dosadmi nistradores coloniais ingleses, mais ainda do que para o simples viajante.

Berrenger (1811), autor de uma dessas gramáticas, dedica-a «to the EnglishGentlemen in the Civil and Military Service on Ceylon». E, no prefácio, ondecomenta as vantagens e as características da língua, afirma:

Few of the natives of this Island talk English with sufficient fluency and correctnessto convey their meaning in that Language, but most of them speak and understandthis corrupted Portuguese 5.

Charles Lockyer, um viajante inglês, refere, no início do século XVIII, a exis-tência de uma língua de contacto, espalhada pelos Portugueses, nos portosda Índia:

This they may justly boast, they have established a kind of Lingua Franca in all theSea Ports in India, of great use to other Europeans, who would find it difficult inmany places to be well understood without it 6.

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Um outro inglês, Alexander Hamilton, que viajou pelas Índias Orientais emfins do século XVII, menciona a necessidade da aprendizagem desta linguafranca para a comunicação entre europeus e os autóctones:

Along the Sea-coasts the Portuguese have left a Vestige of their Language, tho’ muchcorrupted, yet it is the Language that most Europeans learn first to qualify them fora general Converse with one another, as well as with the different inhabitants of India 7.

O prestígio do Português transforma-o na língua da moda nas esferas dopoder local: «It came so naturally to Dona Catherina that, according to Baldeus,she spoke Portuguese on her death-bed. It was in Portuguese that her son,Rájasinha, conversed with foreigners and corresponded with the Dutch» 8. O holandês Valentyn (1724) relata a explosão de Vimala Dharma Suriya,senhor do reino de Candy, irritado pelo comportamento de Sebalt de Wert,ordenando aos seus homens: «Mara isto can» («Amarrem este cão»).

Em pleno século XIX, os relatos dos viajantes britânicos atestavam a sobrevi-vência do «Português corrupto» ainda em uso por toda a franja costeira da ilha:

D. Catarina, Imperatriz do Ceilão, recebendo o português Pedro Lopes. Gravura inglesa de 1602. Washington State University Libraries

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Already the language of the Dutch, which they thought to extend by penal enact-ments, has ceased to be spoken by their direct descendents, whilst a corruptPortuguese is to the present day the vernacular of the middle classes in every town ofimportance 9.

O uso alargado do crioulo forçou os missionários ingleses a utilizá-lo na cate-quização dos nativos. As tipografias da Missão Wesleyana imprimiram cen-tenas de livros de orações, sermões, catecismos, traduções do Antigo e doNovo Testamento, todos em crioulo português do Ceilão. Tal como otinham feito os missionários holandeses um século antes, na província daBatávia, os Ingleses fizeram do «Português» a língua da missionação emterras asiáticas.

Na área de influência holandesa, a utilização generalizada deste «Português»re vela-se numa obra publicada em Dresden, em 1692 10, onde se inclui umdiálogo entre dois soldados, Orenpare, recém-chegado da Holanda, e Orlam,um veterano de longa data das Índias Orientais, de naturalidade sueca. Nãopodendo comunicar nas respectivas línguas, o diálogo é travado num jargãoonde, à mistura com palavras latinas, francesas, portuguesas, surgem frasesno crioulo malaio-português:

Orenpare: Dabetjes, Camrad.

Orlam: Mutemersi, Camrad, bene vene aqui Supra Java Major au Batavia.

Ore.: Este Terre muto cinte.

Orl.: Causa Sole cum ille mute cima.

[...]

Orl: Milior vvams, Camrad, nous lo ande tenter un Casa chinesa lomande Aracaum bom Salat cum Linguise fresca.

Ore: De Volunte de sihr, Camrade. Eeo doeng fome agora, osie nocke Cume nada 11.

Quase um século mais tarde, em 1780, publica-se em Batávia um glossárioem holandês, malaio e «português» 12, com léxico, frases e notas gramaticais,em cujo título novamente se salienta a utilidade para os recém-chegados:«zeer gemakkelyk voor die eerst op Batavia komen».

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A missionação da Reforma holandesa, tal como acontecera com a missiona-ção wesleyana no Ceilão, vê-se obrigada a utilizar o «Português» nas práticaslitúrgicas, sobretudo nas duas igrejas «portuguesas» da cidade de Batávia 13. Aproposta feita ao Governador-Geral, em 1708, para que o serviço religiosofosse feito alternadamente em português e em malaio, provoca por parte dospastores holandeses uma reacção veemente e uma resposta por escrito aoCon selho, onde salientam, entre outros argumentos, a existência de gruposnumerosos de falantes do «Português»:

Des nombreuses familles qui appartiennent à l’Église portugaise, qui sont presquestoutes occidentales, ou descendantes de familles occidentales; [...]. Toutes les personnesd’origine orientale [...] ne parlent pas le malais mais le portugais [...] celles qui sontnées ici parlent le portugais comme leur langue maternelle, dès leur première enfance.

A extensão do uso da língua é descrita também pelos mesmos pastores:

[parlée] universellement par les propriétaires d’esclaves et leurs enfants dans les rela-tions journalières avec les esclaves et les Chrétiens indigènes; par les fa milles et lespersonnes qui viennent du Siam, de Malaca, de Bengale, de la côte de Coromandel,de l’Île de Ceylan, de la côte de Malabar, de Surate [ ...].

Esta frase testemunha claramente o facto de a circulação de pessoas ser tam -bém particularmente intensa nos territórios controlados pela CompanhiaHolandesa das Índias Orientais 14.

Um outro contingente parece ter tido expressão relevante nesta difusão doléxico português entre os falantes de línguas orientais – o grupo constituídopor soldados nativos, recrutados pelos Holandeses nas costas do Sul doÍndico (Malabar, Coromandel, Malaca), nas viagens da Europa para asÍndias Orientais. Eram cristãos, não falavam holandês, acabavam por cons-tituir família localmente e eram, apesar de não terem gota de sangue portu-guês, conhecidos como os «Portugueses pretos», os Zwarte Portugueesen dasdescrições holandesas. De estatuto social baixo, mas muito numerosos,foram a partir de certa altura isentados do pagamento de taxas e, por essefacto, conhecidos por mardijkers ou mardikas, com o sentido de «homensisentos de impostos». A maior parte destes mardikas vinha das Molucas, deMa cassar, de Ternate e de Larantuka, na ilha das Flores, mas também deTimor, locais onde muitos dos casados portugueses, que tinham saído deMalaca, se instalaram e onde já existiam estabelecimentos privados de mer-cadores portugueses 15.

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Também os escravos de origem africana, oscafres ou kaffirs (na designação inglesa), derecrutamento forçado para a construção ereparação de fortalezas e para as tripulaçõesdos navios, quando a falta de homens assim oexigia, eram em grande número e iriam ter umpapel a desempenhar na difusão do léxico por-tuguês. Ganhavam, com a concessão da liber-dade, o estatuto de mardikas de segunda classe(o termo mardika acaba aliás por assumir, nadocumentação holandesa, e mesmo portu-guesa – no que se refere às feitorias privadasdo Arquipélago – a acepção genérica de «cris-tãos estrangeiros»).

Os escravos no Índico

O comércio de escravos foi o veículo para o léxico de origem africana queen contramos, quer nos crioulos das Índias Ocidentais, no Atlântico, quernos crioulos asiáticos de base lexical portuguesa.

No entanto, se o comércio negreiro para as Américas se fornecia ao longoda costa ocidental de África, a população escrava africana do Estado daÍndia veio, desde o início, quase exclusivamente da África Oriental 16. O ho -landês John Huyghen Van Linschotten, que visitou Moçambique nos finaisdo século XVI, escreveu:

[...] from Mozambique they carry into India Gold, Ambergris, Eben wood, andIvorie, and many slaves, both men and women which are carried thither, becausethey are the strongest in all the East countries, to doe the filthiest and hardest labour,wherein they only use them 17.

A riqueza e estatuto dos Portugueses estabelecidos no Estado da Índia eracal culada em função do número de escravos que possuíam:

The Portingals, Mesticos, and Christians, keep worshipful and bountiful houses,having commonly (as it is said [before]) five, six, ten, twenty, some more, some lessslaves, both men and women, in their houses every men according to his estate andquality 18.

Um Topaz ou Mardika com a mulher, 1676.

Washington State University Libraries

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António Bocarro escreve no século XVII, que o número de escravos dosPortugueses estabelecidos em Goa, em 1635, se estimava em 10 por família.Em 1695, um viajante italiano, Gemeli Careri, calcula que pelo menos umquarto da população da cidade de Goa seja constituída por mulatos, descen-dentes de portugueses e de escravos africanos 19. Teotónio de Souza (1979,125) analisa a demografia urbana da Goa do século XVII, e discute a popu-lação escrava, a sua origem e número:

The slave traffic then concentrated on East Africa. There is no way of checking the number of slaves that arrived from there every year. One single frigate forinstance, that came from Mozambique to Goa in 1683 had brought 207 negroslaves.

O mesmo se poderá dizer para outras possessões portuguesas na Índia.Bocarro (1634, 99) afirma, em relação a Diu:

Os casados portuguezes, que vivem oje nesta cidade de fora da fortaleza, são cin-coenta e nove, avendo já sido muitos mais: são pobres, pelas ditas causas, mas aindaassy tem huns por outros cincoenta e nove escravos que possão tomar armas, asquaes tem alguns de cabides de lanças muy bastantes pera brigarem.

A proveniência africana oriental dos escravos encontra-se claramente evi-denciada na etiqueta étnica que lhes é atribuída – os «cafres». Um viajanteho landês, que no século XVIII visitou Goa, menciona os escravos dos por-tugueses: «[...] Caffres or Negroes, clothed in red coats, and they [the Por tu -guese] were accompanied by other Caffres who bore long swords and acted asbravoes for their masters» 20.

A palavra cafre tinha sido trazida do árabe Ka–fir 21, com o significado de«infiel», os nativos que não praticavam a religião do Profeta. O seu sentidorestringiu-se, em português, e passou a significar os pagãos nativos da ÁfricaOriental, os gentios, que em breve se tornariam a fonte do mercado de escra-vos para o Estado da Índia. Pyrard de Laval, que visitou a Índia Portuguesano início do século XVII, faz uma distinção clara entre «negro» e «cafre»:«Negro or negresse of Guiné are those from the western side of Africa, those ofthe eastern side are in India generally known by the name of Cafres» 22.

Esta designação é levada também até Macau. Em 1622, durante o cerco ho -landês e a batalha que se lhe seguiu, «uma cafra matou muitos inimigos comum grande pau» 23.

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Nos crioulos portugueses do Oriente, a figura do Cafrinho esteve presentena tradição oral de quase todas as comunidades. As recolhas publicadas nosé culo XIX e no início do século XX são disso testemunho, em crioulosvários (alguns dos quais hoje extintos):

Crioulo indo-português de Mangalore (Schuchardt, 1883b, 889)Pai Jose ja mata cavallo, Secco secco manda bata sal, Cafrinha, ja repica sino Meia noite, ja nasce menino.

Crioulo do Sri Lanka (Jackson, 1990, 144)Passa bossa ruga Ovie ravokiyoe Sassa Sarumbaca Baila Caffaryoe

Lingu maquista (crioulo de Macau) (Marques Pereira, 1899-1901, 190)Unga rê são português Otro môro, tem turbante; Otro cafre beço grosso, Corpo inchido diamante.

Mulher Portuguesa na Índia e seus criados. Itinerario de Linschote. Fondos Digitalizados de la Universidad de Sevilla

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Crioulo malaio-português de Tugu (Java, Indonésia) (Schuchardt, 1890, 26)Kaferinjo teeng kansadoe Kie nompodie maio bala Pedie eskoeja sinjoor die kajoeToedoe moor kere anda 24.

Em Damão, o cafre sobrevive até hoje na tradição popular da comunidadecrioula. As canções de Cafrinho, originalmente cantadas no dia de S. Bento,o dia em que os senhores brancos concediam aos escravos cafres o lugar dehonra na igreja (Moniz, 1925), são ainda cantadas pelos crioulos de Damãodurante o Natal, em frente ao presépio, e fazem parte do repertório doGrupo Folclórico Damanense.

Uma delas é particularmente interessante pelas referências aos locais de pro-veniência dos cafres, trazidos para a Índia:

Cabelo torcido1. Cabelo torcido

Cafarinho despido Toda gente fala Tem cafre de Sufala.

Huê huê huê, balhá com igual huê Huê huê huê, cabelos torcidos huê Huê huê huê, festa de Natal huê.

2. Cafarinho bem preto Torcido e bem feito Balhando na rua Como cafre de Macuá.

3. Seus beiços compridos Seus olhos torcidos Rosto de rabana Tem cafre de Inhabane.

4. Beicinhos furados Seus dentes limados Cafarinho pangaio Pinchando na praia.

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5. Todos assim dizem Chapado nariz Cabeça pequena Tem cafarinho de Sena.

Embora os cafres fossem, na Índia, utilizados principalmente como criadose carregadores de palanquim, em breve, o exército os utilizaria como merce-nários. Com um território demasiado vasto, sujeitos a ataques constantespelos principados locais e pelos outros poderes coloniais europeus, os mili-tares começaram a usar escravos cafres para reforçar as guarnições. Esta tra-dição sobreviveu em Macau até ao início do século passado; muitos anosdepois da escravatura ter sido abolida, a guarnição local incluía um regi-mento de negros de Moçambique.

A mesma utilização lhes iria ser dada pelos poderes coloniais que substituemos Portugueses no Índico. Admirados pelos Holandeses, pela sua bravura elealdade aos amos durante o cerco de Macau de 1622, os cafres deixados emCeilão, aquando da retirada portuguesa, foram utilizados pelos seus novossenhores na construção do forte de Colombo. E a importação de escravosda zona de Moçambique 25 irá continuar com ingleses e holandeses. Os In -gle ses utilizaram-nos no exército, pelo menos desde 1807, altura em que umregimento Kaffir em Colombo tinha cerca de 700 Kaffirs (Cordiner, 1807).Este regimento transformou-se, mais tarde, no 3rd Ceylon Riffle Regiment(Brohier, 1973, 22), estacionado em Puttalam. Os seus descendentes torna-ram-se conhecidos como os Kaffirs de Puttalam, uma comunidade que man-teve, até hoje, «a distinct way of leisury life, blending old time national traits withnew occupations and scenes» 26. As suas músicas e danças, de clara in fluênciaafricana, tornaram-se parte do folclore do Sri Lanka contemporâneo: Baila,Chikoti e Kaferinhoe 27.

Foram estes Kaffirs, falantes do «Português corrupto» ou de crioulos de base portuguesa, que participaram como actores na difusão lexical que estamos a analisar. Por um lado, contribuindo com palavras de origem africana (oriental) para a língua franca e para os crioulos, e influenciando,por outro, se gundo alguns estudiosos 28 – através da exportação pelos Ho -landeses de escravos da Indonésia para a cidade do Cabo –, a formação doAfricânder.

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As línguas crioulas de base lexical portuguesa

Os crioulos do Atlântico

A formação das línguas crioulas de base portuguesa vai, nesta região, terlugar em contextos sócio-históricos em que participam actores de tipo di -verso. Línguas, tangomas, lançados, entrepostos e fortalezas, comerciantes emissionários, escravos e mulheres, senhores de engenho e capatazes dasroças e plantações, portugueses e nativos, irão de modos diferentes contri-buir para o aparecimento de novas línguas de contacto – os pidgins e denovas línguas maternas – os crioulos.

Os línguas

A exploração e o comércio ao longo do litoral africano colocaram aos Por -tugueses do século XV problemas linguísticos novos. Ultrapassada a Áfricade influência árabe, a extraordinária multiplicidade de línguas, com carac-terísticas estruturais diferentes das das línguas europeias, impedia a comuni-cação e a indispensável recolha de informação sobre terras e gentes.

Em 1456, no encontro que Cadamosto relatou nas Navigazzione, a rudi-mentar comunicação por gestos mais não conseguiu do que pequenas trocas:«Vendo que estávamos num país novo e não podíamos ser entendidos, con-cluí mos que era escusado ir mais adiante, porque julgávamos que teríamosencontrado continuamente novos modos de falar e que, posto que não po -de ríamos compreender estas linguagens, se não podia fazer coisa boa.»

Urgia, assim, encontrar um instrumento de contacto mais eficaz: a capturade nativos a quem se ensinasse o Português e que «depois de aprenderem alín gua, costumes e tenção d’El Rei e do Reino de Portugal, tornariam emsuas terras, e por seu meio as coisas de uma parte e da outra se poderiambem comunicar: porque de outra maneira, segundo a diversidade de Linguanão era possível». Em 1453, no período inicial da expansão, Zurara enuncianestes termos, na Crónica dos Feitos da Guiné, uma linha programática quese tornaria central para o avanço da expansão – permitindo a recolha deinformações, os contactos diplomáticos, militares e comerciais. O sucesso daempresa dos descobrimentos assentou pois, parcialmente, na aprendizagemdo Português por falantes estrangeiros – os escravos-intérpretes – os turgi-

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mões e, mais tarde, os línguas africanos livres e os jurubassas do Oriente 29.Do Português que falavam não temos notícia, mas encontrar-se-ia provavel-mente muito próximo do Português falado pela população negra emPortugal, nos séculos XV e XVI 30.

Fortalezas, entrepostos e feitorias

Ao longo das costas de África, do Brasil e da Ásia, os Portugueses foram esta-belecendo núcleos populacionais estáveis, a cujo carácter militar se sobrepôs,com o desenvolvimento do comércio, uma componente urbana e social decarácter civil.

Dentro das fortalezas e cidades muradas, em redor de feitorias e entrepostos,cresceram povoações de tipo diverso e com uma população mista de portu-gueses e nativos. Muitas delas, sobretudo as maiores, reproduziam no seuplaneamento físico os espaços seculares e religiosos do Portugal europeu: aspraças, o hospital, a Misericórdia, a catedral, as igrejas e capelas, os cemité-rios, o edifício da Câmara.

Em termos linguísticos, a realidade era bem menos parecida com a do Reino. Ocontacto quotidiano entre falantes de línguas muito diversas – portu gue ses, es - cravos e habitantes nativos – levou à criação de um pidgin, permitindo a comu-nicação mínima que a coabitação e o comércio exigiam. A prá tica linguística dobazar invadiu também o espaço doméstico dos Por tu gueses. A presença rarís-sima de mulheres europeias na emigração para o Im pé rio forçou os ho mens acasamentos interétnicos ou ao concubinato com mulheres nativas. Ao apren-derem a falar, os filhos destas uniões ouviam à sua volta uma comple xidade demodelos linguísticos, nem sempre claros e por vezes reduzidos – o Português dopai, a língua nativa da mãe, o Pidgin em que ambos comunicavam, a fala dosescravos, as línguas nativas de vizinhos e conhecidos, a fala igualmente diferentedas outras crianças. De tudo isto, as novas gerações construíram uma línguamaterna diversa da dos pais, um crioulo doméstico que, com o tempo e as gera-ções seguintes, se tornou mais complexo e se alargou à comunidade.

Lançados, tangomas e grumetes

A existência de portugueses que viviam ao longo das costas e rios da Guinée Senegâmbia é atestada a partir de 1500. Aventureiros, desertores, degreda-

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dos, fugidos à justiça, comercian-tes contrabandistas, cristãos-novose ju deus, os lançados ou tangomasconsti tuem uma presença signifi-cativa como agentes económicosno comércio português da expan-são. «Metidos pelos matos.... tra-tando com os negros», os lançadosportugueses nativizam-se, afri cani-zam-se, para desprazer da Co roa eescândalo de missionários:

Uma sorte de gente que ainda que nana ção são portugueses e na religião ouBap tis mo cristãos, de tal maneira po -rém vi vem, como se nem uma cou sanem outra foram: porque muitosdeles andam nus e para mais se aco-mo darem e com o natural usaremcomo os gentios da terra onde tra tam,riscam o corpo todo com um ferro,ferindo-o até tirarem sangue e fazendoneles muitos lavores... como de lagos-tas, serpentes ou outras [figuras] quemais querem. E desta maneira andampor toda aquela Guiné tratando ecomprando escravos, ...andando tãoesquecidos de Deus e da sua salvação

como se foram os próprios negros e gentios da terra, porque andam nesta vidaos vinte anos sem se confessarem nem se lembrarem d’outra vida nem mundo,mais que disto cá 31.

Vivendo em relações poligâmicas com mulheres nativas – as tangomas,gerando nelas uma prole numerosa – os filhos da terra, rodeados de auxilia-res nativos – os grumetes ou grumetos negros –, os lançados constituíram, àmar gem dos fortes e feitorias sob jurisdição portuguesa, uma rede de comu-nidades em que a assimilação cultural dos brancos teve como contrapartidaa assimilação linguística das aldeias e povoações que os seus núcleos domés-ticos formavam. Do Português simplificado que falariam com grumetos e

Saleiro com figuras de Portugueses. século XV- XVI. Benim.

The Metropolitan Museum of Art.

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tangomas terá surgido um pidgin – um dos componentes possíveis na forma-ção da nova língua materna que a sua descendência falava.

Os escravos

Transformados em mercadoria apetecível pelas economias europeias, que sedesenvolveram com a expansão, os escravos africanos foram desde cedo um dosfactores determinantes no estabelecimento português no continente africano.

Em Portugal, onde «pululam por toda a parte» (Clenardo, 1553), e noOriente, foram sobretudo utilizados nos serviços agrícolas e nas tarefasdomésticas. Em África (em Cabo Verde e São Tomé e Príncipe) e nasAméricas, eles constituíram o suporte de uma economia de plantação, carac-terizada em geral por um regime de monocultura e de mão-de-obra inten-siva. A deslocação forçada de milhões de africanos, iniciada no século XVpelos europeus, assumiu traços de extrema violência física e social. O PadreFernando de Oliveira, na Arte da Guerra do Mar (1555), denuncia apaixo-nadamente o tráfico negreiro:

Não se achará nem razão humana consente que jamais ouvesse no mundo tratopú blico de comprar e vender homens livres e pacíficos, como quem compra evende alimárias, bois ou cavalos e semelhantes. Assim os tangem, assim os cons-trangem, trazem e levam e provam, e escolhem com tanto desprezo e ímpeto,como o faz o magarefe ao gado no curral.

Arrebanhados como animais, amontoados durante meses nos cercados dasfeitorias africanas, transportados em condições desumanas, separados dasfamílias, os escravos foram em norma sujeitos a uma outra violência ainda –a do isolamento linguístico:

– nos entrepostos e feitorias, onde esperavam pelos navios e se misturavamescravos das mais diversas origens e línguas;

– nos navios negreiros, cuja carga apresentava a mesma composição aleatóriade falantes;

– nas plantações de destino, por estratégia intencional dos donos das fazen-das e plantações, para quem a possibilidade de comunicação fácil entre os

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es cravos aumentava o risco de revolta, risco que tentavam minimizaradquirindo preferencialmente escravos de origens diferentes.

Encontravam-se assim criadas as condições para a criação de pidgins que asgerações seguintes, nascidas em cativeiro, desenvolveriam como línguamaterna, no cenário de economia de plantação que dominava no Atlântico.

Fazendas, roças e engenhos

A imensa maioria dos escravos africanos, trazidos dos entrepostos da ÁfricaOcidental, destinava-se às fazendas, roças e engenhos das possessões colo-niais europeias, onde asseguravam todos os trabalhos agrícolas exigidos pelamonocultura – a limpeza e amanho da terra, o cultivo e a transformação dacana do açúcar, do café ou do algodão, além da agricultura de subsistência edas tarefas domésticas na casa dos senhores e dos capatazes brancos. De mer-ca doria, arrolado como «peça» nos manifestos dos navios negreiros, o escravopassava a instrumento de trabalho, readquiria um nome, um espaço físico eum espaço de sociabilidade. Perdia, no entanto, o seu nome original, a suasociabilidade de origem, a sua religião, pela imposição do Baptismo e, alémdo mais, a sua língua materna.

O trabalho na fazenda (1816 a 1831). Aguarela de Jean Baptiste Debret

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Forçado a costumes e hábitos diferentes, a aculturação fazia-se segundo omo delo europeu. A diversidade de línguas africanas presente nas plantaçõesobrigou-os a criar um instrumento de comunicação, uma língua de contactointeligível também, ainda que rudimentarmente, para os brancos. O modelolinguístico imposto era o da língua do senhor, modelo presente quotidiana-mente (se não tivermos em conta um número significativo de proprietáriosabsenteístas) entre os escravos domésticos, mas praticamente ausente entreos escravos que trabalhavam nos campos, cuja comunicação com o brancose resumia às ordens do feitor ou do capataz e cujo convívio se circunscreviaaos outros escravos. Na fase de aquisição da língua, as crianças das geraçõesseguintes iriam ter de construir uma língua primeira funcional, a partir deum input (aquilo que ouviam à sua volta durante a infância) extremamentecomplexo – as variegadas línguas africanas dos pais e outros escravos, oPidgin trazido de África e utilizado nos longos meses de viagem, a línguaeuropeia dos senhores e capatazes, nem sempre coincidente no dialecto, jáque a diferente origem regional e estatuto social de uns e outros implicava aexistência de variedades fonética, morfológica e sintacticamente diferentes.Na paisagem das plantações, fazendas e roças, surgia algo que se afastava dossistemas linguísticos em presença, uma língua nova, com estruturas gramati-cais novas e um léxico para os quais todos, em maior ou menor grau, tinhamcontribuído – uma língua crioula.

Os escravos fugidos

A vida dos escravos africanos em muitas das plantações europeias de Áfricae das Américas era «dura, brutal e curta» estimando-se a esperança média devida de um escravo, em algumas regiões das Américas, de sete a dez anosapós a chegada à plantação.

Um relatório destinado à Companhia Holandesa das Índias Orientais des-creve as condições de trabalho nos engenhos de açúcar do Brasil, no iníciodo século XVII: «É tão grande o trabalho que se chama a um engenho destesin ferno, e somente semelhante gente como são estes negros o podematurar.»

A necessidade de controlar pelo terror a população negra da fazenda ou daroça, largamente maioritária em relação aos brancos residentes, e a tentativa

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de aumentar os lucros da exploração pelo pouco gasto em mantimentos,roupa ou habitações, explica, até certo ponto, a crueldade das condições devida impostas aos escravos. Sem alternativas, alguns deles resistiam, revol-tando-se e fugindo, acabando por formar comunidades isoladas em locaisinacessíveis, no interior do mato, onde a vida comunitária se organizava emquilombos ou mocambos, reforçados de tempos a tempos por novas vagas defugitivos. Sobreviviam da recolecção, da caça e de uma agricultura de subsis-tência, recorrendo em épocas de fome aos assaltos às fazendas. A incipienteaculturação linguística, iniciada nos entrepostos negreiros e continuada nasfazendas, ofereceu-lhes uma língua comum, que construíram a partir doPidgin aprendido antes da fuga. Mais próxima das línguas africanas no léxicoe em alguns traços fonológicos, a língua destas comunidades encontra a suaexpressão actual em dois crioulos:

– o saramacano, língua dos escravos fugidos na Guiana Holandesa (o actualSuriname), onde a base portuguesa do crioulo se explica pelas numerosasplantações de judeus portugueses vindos do Brasil, aquando da expulsãodos Holandeses;

– o angolar, em São Tomé, língua formada a partir de um lendário núcleode escravos naturais de Angola, salvos na década de 1540 de um naufrágiojunto à costa sul da ilha, núcleo que nesse século e nos seguintes foiengrossando com escravos fugidos dos cerrados negreiros e com os «negrosalevantados» das roças são-tomenses.

As línguas crioulas da Ásia

Na Ásia, o contexto social que levou à formação de línguas crioulas foi subs-tancialmente diferente. A escravatura, que nas economias de plantação doAtlântico desempenhou um papel determinante, não teve no Índico amesma relevância no processo de formação dos crioulos, ainda que os escra-vos tenham contribuído, como vimos, para a difusão da lingua franca. Ocomércio, e não a exploração agrícola, foi o motor da economia do Estadoda Índia:

Quase todos os Portugueses da Índia, na medida das suas possibilidades, se de -di cavam ao comércio: mercadores de profissão, «casados» ou fronteiros das

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nossas praças, oficiais de Sua Alteza, homens de armas, «chatins» – soldadosque haviam trocado o ofício das armas pela mercancia –, etc.32

As novas línguas nascem aqui num contexto de domesticidade, numa socie-dade de habitação, no meio das comunidades euro-asiáticas que se foramconstituindo nos centros urbanos em que os Portugueses se estabeleceram.A população escrava, utilizada aqui essencialmente nos trabalhos domésti-cos, é parte integrante, mas não exclusiva nem sequer maioritária (ao con-trário do que acontecia nas sociedades de economia de plantação do Atlân -tico), desse contexto doméstico.

Aqui irão ser as mulheres e os seus descendentes luso-asiáticos a representaro papel fundamental na subversão do Português e na criação de culturascrioulas.

As mulheres 33

Com uma população europeia calculada, para o início do século XVI, entreum milhão a um milhão e meio de habitantes, a escassez de meios humanos,em conflito com as necessidades das vastas áreas sob o seu controlo, poderia,

Família Indo-Portuguesa. Códice Casanatence

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a prazo, destruir o sonho de um Império que se estendia através dos ocea-nos. A única política exequível para obviar a tais deficiências era a de criaruma população leal, ligada aos Portugueses pela religião, pela cultura e pelosangue. Os perigos das longas e arriscadas viagens marítimas para o Oriente,o clima, hostil aos europeus em muitas áreas, as insalubres condições de vidado período inicial, quando nos territórios por eles controlados se vivia emestado de guerra semipermanente, impediram a ida em números significati-vos e, menos ainda, suficientes, de mulheres portuguesas para o Oriente. OsPortugueses teriam de recorrer a outras estratégias na formação de um «mer-cado matrimonial» onde pudessem escolher parceiras para suprir a falta demulheres portuguesas. Essas estratégias iriam resultar na formação de umapopulação portuguesa estabelecida localmente, estável e de crescimentoexponencial, os «casados», que iriam constituir o núcleo fundador das comu-nidades crioulas.

Das mulheres destes «portugueses» e destes «casados» quase nada se diz nahistoriografia da expansão. Exceptuam-se, previsivelmente, alguns «vultos fe -mininos ilustres» e as mulheres dos governantes da Índia, dos vice-reis, gover-nadores e conselheiros de governo. Cunha e Monteiro (1995) investigaram,para o período de 1505 a 1834, a caracterização social, as origens sociais e astrajectórias, os casamentos e laços de parentesco dos titulares dos mais altoscargos do Estado da Índia, detectando uma clara diferenciação entre o grupodos vice-reis e os dos governadores militares e conselheiros, todos eles vindosdo Reino e pertencentes à elite nobiliárquica portuguesa: ainda que todoseles tenham casado dentro da elite social a que pertenciam, os vice-reis casa-vam fora da Índia com filhas de Grandes, «no cume da pirâmide nobiliár-quica do Reino» 34, enquanto os governadores casavam quase sempre naÍndia e aí se fixavam, assumindo o estatuto de «casados» 35.

Com quem casavam então os súbditos de El-Rei que não pertenciam aos es -tratos hierárquicos superiores: os reinóis, tornados indiáticos, e os filhos daterra, nascidos de pais portugueses, nas Índias, ao longo destes dois séculos?

Se analisarmos a composição do mercado matrimonial à sua disposição, nocontexto social deste período, verificaremos que as parceiras disponíveis sedistribuem pelos grupos seguintes:

A) As mulheres vindas do Reino. Sabemos que, pelo menos para as élites, eradesencorajado o casamento na Índia, sancionado pelo poder real, pelo

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receio suspeitoso dos malefícios de um excessivo enraizamento nas colónias.As dificuldades da viagem para as Índias: a duração das viagens, o perigo deintempéries e naufrágios, a promiscuidade inevitável no espaço reduzido dasnaus, que também se traduzia em condições de alimentação e higiene espe-cialmente insalubres 36, desencorajavam a ida de mulheres «honestas», aindaque os relatos nos falem da existência de «clandestinas», na sua maioria de«costumes duvidosos», cuja presença a bordo foi objecto de severas e repeti-das medidas repressivas.

Na rara literatura histórica sobre a colonização feminina no Estado da Índiatem-se invocado, por vezes, a relevância do envio, patrocinado pelo poderrégio, de mulheres órfãs (as «órfãs d’El Rei»), degredadas e prostitutas (as«con vertidas»)37. Boxer (1963, 1965), e sobretudo Coates (1995, 1998), refu-tam convincentemente a relevância do papel destas mulheres na composiçãoétnica da população colonial, pelo seu número reduzido e pelo seu destinomais habitual, bem documentado, os conventos de Goa.

B) As nativas. Também aqui o imaginário popular sobre a expansão privile-giou durante muito tempo o papel de Afonso de Albuquerque na criação deuma política de casamentos inter-raciais 38, que incentivava o casamento commu lheres de casta alta, «muy alvas e de bom parecer», convertidas ao Crist ia -nismo 39. A verdade é que as ligações sexuais com nativas, numerosas semdúvida, se concentravam num contexto extramatrimonial de concubi-nato. A «licenciosidade» da libido lusitana é alvo de críticas recorrentes dosreligiosos:

Sam muitos e muitos e muitos casados que tem quatrro, outo e dez escravas edormem com todas, e se sabe isto publycamente. Há tanto isto, que se achouhum em Malaque que tinha vinte e quatro mulheres de varias castas, todas suascativas e todas husava 40.

As uniões com escravas ou nativas convertidas 41 contribuíram, sem sombrade dúvida, para a miscigenação da população colonial. Mas a preferência dosque pretendiam instalar-se nos territórios do Estado da Índia e obter o esta-tuto de «casados», e para os quais o casamento (e sobretudo o dote da noiva)era uma das estratégias para o sucesso económico, ia para as filhas dos indiá-ticos e para as eurasiáticas, fruto dos casamentos mistos dos «casados» filhos daterra, mulheres que, no dote, levavam também uma língua materna crioula.

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Não existem estudos que nos revelem dados sobre a intensidade e a direc-cionalidade dos casamentos com eurasiáticas no espaço abrangido peloEstado da Índia. A circulação de homens nas redes do Império possibilitava,sem dúvida, o contacto necessário para a criação do mercado matrimonial epara a circulação das mulheres. As genealogias das famílias «tradicionais»indo-portuguesas e macaenses, publicadas há alguns anos 42, mostram a im -por tância dessa circulação de mulheres, entre Macau e Goa, e entre Malacae Macau. Graciete Batalha (1965-1966, 1988) defende, com base na análisedo léxico e da sintaxe dos crioulos destas duas comunidades, a origem docrioulo macaense nas uniões com mulheres eurasiáticas de Malaca e commalaias, trazidas também como escravas ou servas. Ana Maria Amaro (1988)analisa as referências históricas à origem étnica dos Macaenses e conclui queas mulheres eurasiáticas da Índia e de Malaca terão constituído o elementocrucial na formação da comunidade dos «filhos de Macau».

Mulher macaísta com livro de missa. Álbum do Comandante Filipe E. de Paiva, 1903. Sociedade de Geografia de Lisboa

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Esta opção preferencial por um segmento específico nos contextos matrimo -niais disponíveis assenta em três elementos caracterizadores das eurasiáticas:têm sangue europeu (mesmo que diluído); são filhas de «casados», com oatractivo financeiro do dote e das redes de parentesco e de relacionamentossociais, políticos e comerciais dos futuros sogros; são nascidas e educadas emlares de religião cristã e de cultura portuguesa (europeia) ou, pelo menos,com um grau de aculturação significativo.

São estas eurasiáticas «viajantes», com o crioulo materno na bagagem, queirão fazer parte dos núcleos familiares «fundadores» dos crioulos de base por-tu guesa no Oriente, ao transmitirem aos filhos, na fase de aquisição, a sualíngua «portuguesa». Mas a subversão linguística por via feminina não iráapenas afectar os lares dos Portugueses estabelecidos nos territórios doEstado da Índia

A mesma estratégia matrimonial é continuada pelos Holandeses da Com pa -nhia Unida das Índias Orientais após a conquista das possessões portugue-sas do Ceilão e de Malaca. Menos inclinados ainda do que os Portugueses auniões legítimas com nativas e enfrentando as mesmas dificuldades em rela-ção à emigração de mulheres europeias, o casamento com eurasiáticas deorigem portuguesa, com uma medida de sangue e comportamentos culturaiseuropeus, e além do mais cristãs (a conversão à fé dos maridos não lhes seriadifícil), permitia-lhes alargar o seu mercado nupcial, criando também, destemodo, uma nova reserva para o casamento dos Holandeses noutros estabe-lecimentos, em Java (Batávia) e noutras ilhas do Arquipélago – as filhas dasuniões entre holandeses e mulheres luso-asiáticas.

O recurso holandês a este contexto matrimonial está abundantemente refe-rido nas fontes históricas holandesas e nas análises dessas fontes 43: «In thetowns and strongholds which the Dutch took from the Portuguese there were [...]a large number of Portuguese women, both of pure and mixed descent, withwhom many of the Dutch intermarried» 44.

Veja-se o caso específico de Colombo: «Within a couple of months of the cap-ture of Colombo, some hundred and fifty Dutchmen contracted marriages withwomen from Colombo» 45.

As fontes históricas são também abundantes para o período holandês deMalaca. O relatório do governador Schouten, após visita a Malaca recém-

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-con quistada, aponta para a activação imediata desta estratégia matrimonial,nos dias que se seguiram à tomada da cidade. A 2 de Junho de 1641, do -min go, o recém-chegado pároco Loosvelt «performed the marriages of Sa banb -dhaar Jan Jansz Menie to Dona Isabella da Mora, widow of Manuel da Rogerwho was the “Tommagon” of this city; and Roelop Manningsz Shaep, upper-mer-chant to Jeronima da Mato – widow of Juan Fernandez, a Portuguese mer-chant» 46.

Um édito holandês de 1617 decretava que os burghers holandeses (uma eti-queta equivalente, em certa medida, aos «casados» portugueses) não pode-riam casar sem o consentimento dos oficiais locais da Companhia das ÍndiasOrientais, e apenas com mulheres asiáticas ou eurasiáticas 47.

Prova da generalização de tais casamentos e dos seus efeitos linguísticosencontra-se na promulgação frequente, ao longo do tempo, de Plakats dasau toridades da Companhia, sancionando o uso do crioulo português noslares holandeses. Ryklof von Goens, governador do Ceilão, promulga umdeles em 1659, com aplicação em todos os estabelecimentos da Companhia,or denando a abolição da Portugees Spraak, pois o uso do crioulo se estendiaa muitas das famílias holandesas e as crianças não aprendiam bem a línguados seus pais. Ordenava-se igualmente que se castigassem os escravos quenão soubessem falar holandês 48. Plakats sucessivos em Batávia determinamme didas semelhantes, incluíndo a prescrição de que as mulheres asiáticas eeu rasiáticas com quem os «burghers livres» se pretendiam casar deveriam terum conhecimento razoável do Holandês e não apenas do «Português» 49.

A estratégia matrimonial acima descrita não deixou incólumes as línguaseuropeias no Oriente. No caso português, ela constitui um dos vectores de -ter minantes a ter em conta na análise da formação dos crioulos do Oriente,em que o contexto doméstico de coabitação é a norma, ao inverso dos criou-los do Atlântico, surgidos num contexto de exploração colonial de tipodiverso, baseada numa economia de plantação e numa mão-de-obra inten-siva e escrava 50. No caso holandês, a estratégia nupcial descrita não levou àformação de qualquer crioulo de base holandesa, mas sim à adopção de umcrioulo de base portuguesa, já consolidado, como língua da casa de muitasdas famílias coloniais no Ceilão e em Java. Nicolas de Graff relata o queencontrou na cidade de Batávia, durante as viagens que realizou entre 1639e 1687:

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Die Kinder der Holländer sind lieber mit den Sklaven als mit ihren Eltern zusam-men. Von jenen lernen sie Malabarisch, Bengalisch und das verdorbene Portu -giesisch; daher können sie, wenn sie grösser geworden sind, auch kaum ein Wort aufgut Holländisch sagen 51.

A cristianização

A miscigenação, no entanto, não encontrou, por razões várias, o sucesso quepermitiria a criação de uma população leal demograficamente relevante,ligada aos Portugueses por laços de sangue. Ter-se-ia que consegui-lo a partirda criação de outros laços, os laços de fraternidade numa mesma religião.Daí que o investimento na conversão das populações locais tenha sido,desde o início, muitíssimo maior no Oriente do que na zona Atlântica, ondeo comércio localizado em entrepostos fixos, as contradições da escravatura(como justificar a escravização de um irmão em Cristo?) e a economia deplantação irão determinar coordenadas de contacto cultural diversas das doÍndico e do Pacífico.

O caso do Sri Lanka é notá-vel, pela exemplaridade das e -stratégias de conversão utiliza-das, pela escala da conversão,pelos efeitos que a acultura-ção por via da conversão tevee pela persistência desses efei-tos mesmo em zonas não do -mi nadas pelos Portugueses,onde a miscigenação não po -de ser invocada, e muito paraalém da retirada do modeloportuguês, século e meio apósa sua chegada à ilha.

«Ao serviço de Deus e suaAlteza», expressão que ocorrerepetidamente nos registosmissionários da época, as or -dens religiosas missionárias

Altar cruzeiro de Damão. Foto de Maria Isabel Tomás

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chegam ao Ceilão por ordem de D. João III, em resposta a um pedido do reide Kotte, em 1542, que explicitamente menciona os Franciscanos. É a elas,mais do que aos padres seculares, que se deve o esforço de evangelização noSri Lanka.

Nesse esforço de evangelização encontraremos as estratégias várias utilizadasna conversão das populações nativas, não obstante a insistência da teologiacristã na livre aceitação do Baptismo, como condição de validade do Sa cra -mento: a intimidação pela violência, com destruição de templos e símbolosreligiosos, e medidas repressivas contra aqueles que recusem a conversão; aconcessão de favores e privilégios como isco para a conversão; o assédio reli-gioso de príncipes e notáveis, cuja conquista para o Cristianismo facilitaria aconversão das massas. O religioso e historiador do Sri Lanka, Don Peter,traça, numa obra exaustivamente documentada, Education in Sri Lankaunder the Portuguese (1978), o quadro da acção religiosa dos Portugueses nailha. Cinco anos após a expulsão dos Portugueses pelos Holandeses, um Do -mi nicano de origem ceilonesa escreve, em carta à Congregação da Pro -paganda Fide, em Roma, que «os cristãos são tão numerosos que só no reinode Jaffnapatão existem mais de oitenta mil. No resto da ilha, são mais de 150 000» 52.

Uma crónica ceilonesa da época, o Rajavaliya, aponta a cobiça dos naturaiscomo responsável pelo sucesso dos missionários: «Os notáveis da cidade deKotte, cobiçando a riqueza dos Portugueses, e muita gente de casta baixa [...],casaram com os Portugueses e converteram-se à sua fé» 53. Em particular paraas classes mais altas, a cultura ocidental, no modelo português que lhes erapro posto, permitir-lhes-ia aceder a um status social superior, numa sociedadecuja estratificação social tradicional, baseada num sistema de castas, fora pro-fundamente transtornada pela abrupta superimposição de um estrato alie-nígeno, o do poder colonial português. Uma mesma motivação de acesso auma cultura europeia, que a força das armas impunha como superior, leva ospríncipes, mesmo os que pelas armas também resistiam aos Portugueses, aentregarem o ensino dos seus filhos a padres e missionários portugueses.

A religião agressivamente espalhada é uma religião de rosto europeu, oumelhor, de rosto português, cujos preceitos doutrinários, sobretudo na esti-pul ação dos comportamentos sociais e culturais, surgem no Sri Lanka naforma cristalizada no reino português. É uma religião que fala português,

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não obstante a atenção dada pelos missionários às línguas nativas (são eles osau to res dos primeiros dicionários). O ensino formal acompanha o ensinodou trinário, catequético, e nos vários níveis, da educação infantil ao ensinosuperior, procura-se transmitir uma competência na leitura e escrita doPortuguês. Se atentarmos nos dados que Don Peter apresenta para as escolasparoquiais e colégios ligados às ordens religiosas, o Ceilão da época apre-sentava uma cobertura geográfica e quantitativa notável.

O Ceilão tinha assim, ao tempo da conquista holandesa (1658), uma popu-lação nativa que nas zonas litorais se convertera ao catolicismo em númerossignificativo. Em 1681, Robert Knox escreve: «The sea-coast round about theIsland was formerly under their Power and government, and so held for manyyears, in which time many of the natives became Christians, and learned thePortuguese tongue» 54. A persistência desta língua «portuguesa» an corava-senum sentimento de lealdade linguística, de pertença a uma identidade por-tuguesa simbólica e mítica, reforçada pelas etiquetas étnicas que Ingleses eHolandeses persistiram em usar. Uma das Cantiega de Purtugiese, recolhidasno Ceilão nas décadas de 1870 e 1880, por Hugh Nevill, um oficial da admi-nistração colonial inglesa, dá voz a esse sentimento:

Sie kere cantaCanta dratoe purtugiesNumiste cantaMallaye landes.

Se queres cantarCanta direito português Não deves cantarMalaio ou holandês 55.

Em 1890, ainda se publica em Colombo um periódico em crioulo doCeilão, O Bruffador 56, onde, no exemplar de 5 de Março de 1898, se escreve:«Nos ta publica iste novo papela de novas em lingua Portuguez pera satisfazermuito pesans quem te usa iste lingua.» E em 1914, publicam-se em Colomboas Cantigas ne o lingua de Portuguez 57, revelando um reconhecimento conti-nuado da existência de falantes da língua.

Esta continuação, séculos após a saída dos Portugueses do Ceilão, de marcasda língua e da cultura portuguesa, aquilo a que poderíamos chamar a pre-

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sença oculta 58 de Portugal, só pode ser explicada pela intensidade de umaaculturação que se enraíza no período português, através do contacto íntimocom a cultura e a língua, próprio das relações de coabitação, nas situaçõesdo mésticas em que se encontravam esposas, concubinas, criados e escravos;do recrutamento intensivo dos naturais para o exército português, e da rela-ção de poder em que a burocracia administrativa portuguesa se encontravaface às populações locais, justificando, por si só, a persistência de uma cul-tura e língua crioulas durante o período de contacto com outras línguas eculturas europeias – a holandesa e a inglesa, resistindo hoje em bolsas redu-zidas e concentradas geograficamente (Trincomalee e Batticaloa). Tambémsó uma aculturação generalizada poderá explicar a sobrevivência nas línguase culturas do Sri Lanka moderno de elementos culturais e linguísticos comorigem no Português.

A polinização cultural e linguística

Os diferentes contextos socioeconómicos da expansão no Atlântico e noÍndico (e Pacífico) determinariam, por sua vez, características diferentes naslínguas crioulas de base lexical portuguesa a que deram origem.

No caso português e, em especial, no Brasil, em São Tomé e na ilha de San tia go, a colonização assentou numa economia agrícola, de latifúndio e mo nocultura, com a consequente estabilização da população o que, a longo prazo, permitiu a especiação de cada uma das línguas crioulas, um processo em que a diversa composição linguística a nível de substratos e adstratos, os contactos linguísticos posteriores e a composição social eétnica específica de cada uma delas, contribuíram para uma maior dife-renciação entre si, pesem embora as similitudes evidentes, que terão de ser assacadas à presença em todas elas do lexificador europeu comum – oPortuguês.

Na zona atlântica, um proto-pidgin português, originado nas feitorias e entre-postos do litoral africano, viajou a bordo dos navios negreiros, explicando aexistência de palavras de origem portuguesa nos crioulos com base lexicalnoutras línguas europeias (espanhola, francesa e inglesa) nas Caraíbas e aAmérica do Norte 59 (em particular no Gullah, no litoral da Carolina do Sule da Geórgia).

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No Oriente, onde o comércio foi o empreendimento económico determi-nante na sociedade portuguesa asiática, esta era tendencialmente menosestável, deslocando a sua residência para onde quer que as oportunidadescomerciais fossem mais prometedoras.

A empresa comercial portuguesa apresenta ainda uma outra caracterís-tica que a diferencia dos seus concorrentes europeus no Índico – uma inte-racção ass ídua com os naturais. Um viajante francês do início do século XVII,Pierre de Laval, reconhece essa sociabilidade pragmática dos Por tugueses,com consequências na intensa troca linguística que aqui tentamos descrever:

Os Portugueses tiram um espantoso lucro em toda a parte da Índia, onde têmentrada. Associam-se com os naturais, que os acompanham em suas navegações,e até todos os seus marinheiros e pilotos são índios, gentios ou mouros 60.

À existência de uma população flutuante de soldados, missionários, clérigose comerciantes que, de uma possessão portuguesa migravam para outra embusca de fortuna, acrescia um outro factor responsável pela migração intra-continental: as viagens por mar estavam condicionadas pelo regime de mon-ções, o que obrigava as nausa esperarem pelos ventos fa -vo ráveis num qualquer por-to de origem ou de escala,forçando sazonalmente cen-tenas de por tugueses dasÍndias a uma residência tem-porária, mais ou menos alar-gada, numa outra cidade,num outro porto. A circula-ção de bens e pessoas que aCarreira da Índia instauroucontribuiu assim para umacirculação de ideias e de for -mas linguísticas e culturais,de Goa para Malaca, de Ma -la ca para as Molucas, do Cei -lão para Cochim, de Macaupara Goa. A emigração for- Janela de Goa, com «carepas», lâminas de madrepérola.

Foto de Maria Isabel Tomás

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çada de numerosas famílias, de Malaca para outras possessões portugue-sas, após a ocupação holandesa, e a circulação de mulheres de famílias luso--asiáticas, a quem as vantagens do sangue e da cultura portuguesa acrescen-tavam mais-valia no sempre escasso mercado matrimonial, constituíram factores adicionais de polinização entre as línguas crioulas no Oriente. As semelhanças lexicais e estruturais dos crioulos do Índico e do Pacíficodevem-se, assim, não a um putativo proto-pidgin trazido de África, que teria estado na origem de todos os crioulos de base portuguesa, mas sobre-tudo a uma recíproca transfusão parcial, nas palavras de Sebastião Dalgado(1917):

Tais similitudes não se podem justificar, na sua totalidade, pela identidade depro cessos evolutivos, determinados pelas mesmas leis psicológicas e fisiológicas,nem pela afinidade das línguas do solo onde germinaram. É necessário, alémdisso, admitir frequente contacto dum com outros e recíproca transfusão par-cial, proveniente da constante migração da grande parte dos indivíduos que osfalavam (in Dialecto Indo-Português de Negapatão, 1917).

Mas a polinização linguística não se deu apenas de um crioulo portuguêspara outro. O contacto linguístico neste período atingiu também as outraslínguas europeias, quer por coincidirem num mesmo espaço, utilizandocomo língua de contacto a lingua franca «portuguesa», o que inevitavelmentelevou à transferência de alguns vocábulos para o uso local do Inglês, do Fran -cês ou do Holandês, de onde passaram para a Europa, quer através do em -préstimo directo, fruto do comércio português com os países europeus, ondea importação dos novos produtos ou conceitos eram acompanhada da im -portação dos vocábulos que os nomeavam.

A consulta breve de um qualquer bom dicionário etimológico de inglês oude francês revela esse papel de mediação que o Português teve no períodoque se seguiu à expansão:

Português banana, francês banane, inglês banana (presumivelmente deorigem africana ou árabe); port. carambola, fr. carambole, ingl. carambola (doconcani-marata karambal); port. palanquim, fr. palanquin (do sânscrito par-yank ou palyanka); port. cairo, fr. caire, (do malaiala-tamul kayuru, «corda»);port. caixa, ingl. cash (do dravídico k su, «moeda oriental»); port. mandarim,fr. mandarin, (do malaio m nt ri, «conselheiro, ministro»); port. bambu, fr.bambou, ingl. bamboo (do marata b mb ).

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Frutos como o caju, a manga, especiarias como a canela e o caril, produtoscomo o betel, a areca e a copra, madeiras preciosas, tecidos, animais exóticos,partiam de Lisboa para a Europa, etiquetados em português. As descrições dosnovos povos e costumes, das drogas e simples, das desconhecidas configura-ções sociais, os nomes e títulos de dignatários, templos e palácios, aci dentesgeográficos e topónimos espalham-se pelo Velho Mundo, im pondo noutraslínguas as designações que os Portugueses lhes tinham dado, na sua maioriaem «segunda mão», apropriadas de línguas africanas, orientais e americanas.

A influência das línguas de Além-Mar no Português

Lisboa, em meados do século XVI, transformara-se num enorme empório, aque os produtos trazidos de África e da Ásia davam um ar de bazar orientalà beira Tejo. Exibiam-se animais exóticos que, para os europeus, duranteséculos, não tinham passado de monstros míticos do bestiário medieval. Ostecidos e tapetes do Oriente, porcelanas da China e do Japão, madeiras exó-ticas, jóias, objectos de ouro, prata e marfim estavam à venda nas lojas daRua Nova dos Mercadores.

Um espanto maravilhado pela riqueza do Oriente, as artes sumptuosas daChina e da Índia, os objectos exóticos da Ásia e a miscelânea de estranhezasque enchiam as lojas e ruas de Lisboa ecoa num poema do século XVI, deDiogo Velho 61:

Ouro, aljôfar, pedraria,gomas e especiaria,toda outra pedrariase recolhe em Portugal.Onças, liões, alifantes,monstros e aves falantes,porcelanas, diamantes,é já tudo mui geral.Gentes novas escondidas,são a nós tão conhecidascomo qualquer natural.

Um Romance Indiático, incluído num manuscrito 62 do início do séculoXVII, espelha no humor do sem-sentido dos seus versos a abundância, a

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variedade e a acessibilidade dos produtos da indústria e da arte orientais navida dos habitantes de Lisboa:

Tenho três pardaus 63

e mais quatro tangastenho cinco mangase quatro cajus;tenho dous baúslavrados de ouro;tenho um singidoiroque passa das marcas;tenho umas alparcasque ajustam nos pés,tenho uns sintonés tudo em bazarucos 64;tenho uns pantufoslavrados de tela,tenho uma sovelade tirar ouções.Tenho dois capõeslá no meu quintal;tenho um didalfeito em Mangalor,tenho um furadorde boa feição,tenho um quimão 65

de branco e vermelho;tenho um espelhofeito em Portugal.Tenho de cristaluma rica peça,tenho de cabeçaum prego galante,tenho um diamantelavrado nas pontas.Tenho duas contasde peixe-mulher 66,tenho uma colherfeita em Angola,tenho uma violade tanger suave.

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Tenho uma chaveque abre e não fechatenho uma flechapara os passarinhos;tenho cachorrinhosbrancos de Manilha;tenho beatilha fina de Chaúl,tenho um baúlde rico feitio;tenho um assobioque outro não há.Tenho um alvá 67

que vem de Mascate,Tenho um chiricate 68

de coser arecas,tenho de marrecasredes e armilhastenho umas pastilhas de suave cheiro;tenho um tabuleirode China dourado;tenho um cadeadoque abre de pancada,tenho marmelada que vem de Ormuz;tenho um arcabuzde matar pardais,tenho uns coraisde rica valia;tenho uma baciade assar pastéis.Tenho uns anéisde ouro Stambaca;tenho de Malacamui ricas atacas 69,tenho três patacasna minha gaveta,tenho uma bocetacheia de brinquinhos.Tudo para vósse quereis bem para mim!

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O Romance Indiático revela-nos, paradigmaticamente, a outra face do contac -to linguístico. O empréstimo nunca é, em situações de contacto prolongadoe intenso, unidireccional. As línguas em contacto influenciam-se reciproca-mente. E a necessidade de nomear foi particularmente intensa durante todaa expansão: povos, costumes, religiões, flora, fauna, embarcações, teci-dos novos, medidas, pesos e moedas, tinham de ser registados nos roteiros erelatórios.

Se em muitas situações se optou pela analogia como estratégia de nomeação:uma vaga parecença na forma ou na cor com um fruto ou animal conhecidona Europa ou encontrado em terras de Africa ou América iria sugerir umnome – peixe-mulher; coco, açafrão da terra, figos da Índia 70 –; as proprieda-des de determinada planta, o seu sabor ou cheiro característicos – amargo-seira, fruta estrelada, pau-rosa –; o lugar de origem de um produto iria encon-trar um lugar no novo nome – ouro de Stambaca, beatilha de Chaúl, na maiorparte dos casos, no entanto, adoptar-se-ia simplesmente o nome local:

Chamamos-lhe betre, porque a primeira terra dos Portuguezes conhecida foi oMalavar... Todos os nomes que virdes, que nam sam portuguezes, sam malava-res; assi como betre, chuna, que he cal, maynato, que he lavador de roupa, pata-mar, que he caminheiro, e outros muytos 71.

Deste modo, os vocábulos estrangeiros e estranhos tornavam-se parte da lin-guagem comum, assimilados no cerne lexical do Português.

E o sinal desta verdade, é que nam sómente temos vitória destas partes, masainda tomamos muito vocábulos: como podemos ver em todolos que começamem al, e em xá, e os que acabam em z, os quais sam mouriscos. E agora da con-quista de Ásia, tomamos, chatinar, por mercadejar, Beniaga, por mercadoria,Lascarim, por homem de guerra, cumbaya, por mesura e cortesia: e outros vocá-bulos que sam já tão naturais na boca dos homens, que naquelas partes anda-ram, como o seu próprio português 72.

A importação maciça de vocábulos orientais pelos que voltavam das Índiastornou-se tão óbvia que os Portugueses do reino, confrontados não só comnovos objectos e conceitos, mas também com um dilúvio de novas palavras,contra-atacam, disfarçando o desconforto com o sarcasmo. Em 1619, Fra n -cisco Rodrigues Lobo critica acutilantemente a «indianização» linguística dosindiáticos, homens fixados há longo tempo na Índia e muitas vezes aí casa-

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dos, num ataque revelador da tensão social que, no reino e no Estado daÍndia, se instalara subterraneamente entre reinóis e indiáticos 73:

Há alguns que colhendo na prática Ormuz, Malaca ou Sofala, não sabem darum passo sem palanquins, bajús, catanas, bois, larins e bazarucos; e outras pala-vras, que deixam em jejum o entendimento dos ouvintes, sem os seus por issoficarem melhor acreditados 74.

O ridículo e o sarcasmo não evitaram a invasão de palavras. Centenas de pa -la vras sobreviveram à erosão do tempo e fazem ainda parte do uso quoti-diano 75: andor, pires, biombo, chá, bengala, bule, boião, catre, chita, quimono,corja, pagode 76, para lembrar apenas algumas das muitas que do Oriente che-garam; cacimba, missanga, banzé, tanga, cachimbo, samba, banana, carimbo,capanga, de origem africana; capim, jibóia, piaçaba, ananás, amendoim, jacaré,goiaba, arara, pipoca, jacarandá, das línguas ameríndias do Brasil; batata,cacau, tomate, vindas das Antilhas, através do espanhol.

Hoje, a viagem das palavras faz-se noutros sentidos, com outros actores, nou-tros contextos. É o Inglês que, no século XXI, parece vir a impor-se comonova lingua franca, transportada no bojo de caravelas invisíveis – o cinema,a música, os media, as novas tecnologias, a expansão do comércio das gran-des multinacionais, os avanços científicos. Os falantes de português comuni -cam agora, nos contextos de contacto linguístico com falantes de outras lín-guas, em inglês, com maior ou menor competência (e, neste caso, poder-se-iadizer, reinventando individualmente um pidgin). São o turismo e a emigra-ção que motivam a circulação de falantes, em contextos sociais em que o Por -tu guês não tem um papel dominante. Apesar disto, a língua portuguesa temainda fronteiras imensas que extravasam o território de onde saíu no pe -ríodo da expansão e é património de centenas de milhões de falantes. O seudestino, as viagens que fará no futuro, dependerão dos seus falantes, do queeles fizerem com ela. Já não João de Barros, mas um outro gramático portu-guês do século XVI, Fernão de Oliveira, devolve-nos, em epílogo, o conselhodo autor das Décadas:

Não façamos assi; mas tornemos sobre nós, porque milhor é que ensinemos aGuiné ca que sejamos ensinados de Roma, ainda que ella agora tevera toda suavalia e preço. E não desconfiemos da nossa lingua porque os homens fazem a lingua,e não a lingua os homens 77.

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Notas

1 Com a vénia devida a Nuno Júdice, cuja obra de 2005, A Viagem das Palavras. Estudo sobrepoesia, coincide no título.2 Barros (1540, 1971, 120). Na mesma obra, Barros enaltece a supremacia do Português sobrea língua latina: «Pai — Çérto é que nam {h}á i glória que se póssa comparár a quando os mini-nos etíopas, persianos, indos, d’aquém e d’além do Gange, em suas próprias térras, na forçade seus templos e pagódes, onde nunca se ouviu o nome romano, per ésta nóssa árte apren-derem a nóssa linguágem, com que póssam ser doutrinádos em os preçeitos da nóssa fé, quenéla vam escritos» (Ibidem, 119).3 A frase, atribuída a Pompeu – Vivere non necesse, navigare necesse est –, aparece pela primei -ra vez nas traduções latinas de Plutarco, na Idade Média.4 O exame dos textos publicados, e são abundantes, permite afirmar que não se tratava deum pidgin, mais ou menos reduzido. As características estruturais e lexicais deste «corruptedPortuguese» apontam senão para um crioulo, pelo menos para um pidgin expandido, mode-lado nos crioulos portugueses, um pidgin cujos domínios de uso se tornaram mais alargados(com a subsequente complexificação estrutural), sobretudo com a obra de missionação dosHo landeses e Britânicos, que a ele recorreram e que foram responsáveis por grande parte daspublicações neste «Português corrupto».5 Berrenger, 1811, 11.6 Charles LOCKYER, 1711, An Account of the Trade in India, cit. em Yule & Burnell, p. xviii.7 Alexander HAMILTON, 1727, A New Account of the East Indies, Edimburgo; C. Hitch & A.Miller, p. xii.8 S. G. PERERA, 1922, «Portuguese Influence on Sinhalese Speech», in Ceylon Antiquary andLiterary Register, vol. 8 (1), 47.9 Sir James Emerson TENNENT, 1859, Ceylon: An Account of the Island, Physical, Historicaland Topographical, Londres; citado na edição de 1977, Colombo, Tisara Prakasakayo Ltd., p. 61-62.10 Der Orientalisch-Indianische Kunst- und Lust-Gärtner ...; o diálogo referido foi transcritoem Schuchardt, 1890, 11-14.11 A ortografia arcaica utilizada neste diálogo obscurece a relação próxima com o Malaio-por-tu guês, mais propriamente com um sistema crioulo que de Malaca se terá espalhado para sule sudeste até Macau, passando pelas Molucas e pelas Flores (Tomás, 2005). Algumas dasformas presentes neste excerto apontam para tal: a negativa nogke (nungka em PapiáKristang); a forma de futuro com a partícula lo – lo ande, equivalente à forma lo anda emPapiá Kristang.

Tradução: Ore. — Boa sorte, camarada/ Orl. — Muito obrigado, camarada. Bem vindo aquia Java Maior ou Batávia / Ore. — Esta terra (é) muito quente / Orl. — Por causa do Sol quemuito queima […] Orl. — Melhor ainda, camarada. Vamos a uma casa (de comidas) chinesae mandamos (vir) arraca, uma boa salada com linguiça fresca./ Ore. — Como o senhorquiser, Camarada. Eu tenho fome agora, hoje não comi muito.

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12 Lodewyck DOMENICUS, 1780, Nieuwe Woordenshat. Uyt het Nederduitsch in het gemeeneMaleidsch en Portugeesch; citado em Schuchardt, 1890, 18.13 Schuchardt, 1890, e Huet, 1909. Huet traduz para francês a fonte que Schuchardt tambémutiliza, Oud en Nieuw Oost-Indië de Valentyn, 1724.14 Essa circulação explicará também, segundo alguns autores (Hesseling, 1897; Kok, 1953;Valkoff, 1966, 1967, 1970, 1975; Dias & Velozo, 1967-70], a formação do Afrikânder, atravésde forte influência do Malaio-português.15 Veja-se Daus, 1989.16 A proveniência quase exclusiva da África Oriental dos escravos no Índico, durante os sé -culos XVI, XVII e XVIII, parece desmentir convincentemente a teoria monogenética daorigem dos crioulos, nas suas várias versões. Esta teoria reclama um antepassado «genético»comum para os vários pidgins e crioulos: um proto-pidgin de base europeia (para muitos, por-tuguesa) que, no/e do Atlântico, se teria difundido para outros contextos geográficos daexpansão europeia. Assumindo que este proto-pidgin, nascido no Atlântico, teria sido levadopelos Portugueses para a costa oriental de África e para as Índias, a influência das línguas daÁfrica Ocidental teria de ser muito mais marcante nos léxicos da lingua franca, dos crioulosdo Oriente e nas transferências lexicais mediadas por essa lingua franca para outras línguas.E esse não é o caso. Os vocábulos de origem africana nestes sistemas linguísticos são raros evindos sobretudo da África Oriental.17 Jan Huygen van Linschoten, (1596), 1988, p. 193.18 Ibidem.19 SEN (ed.), Indian Travels of Thevenot and Careri, p. 187.20 Letter from Malabar by Jacob Canter Visscher, translated from the original by Major HerbertDurm, Madras, 1862, p. 32.21 Introduzida provavelmente no Português pelo contacto com marinheiros e pilotos árabesda costa oriental de África.22 François Pyrard de LAVAL, 1615-16, Discours du Voyage des Français aux Indes Orientales,Paris; citado a partir da tradução de 1858 de J. H. da Cunha RIVARA, Viagem, Nova Goa.23 Boletim do Governo de Macau, n.º 30, 28 de Abril de 1862.24 A ortografia holandesa, utilizada pelo correspondente de Schuchardt, dificulta a leiturados textos provenientes de possessões holandesas: oe deve ler-se u, nj, corresponde ao somgrafado nh em português.25 Veja-se, para o contexto da importação de escravos africanos para a Ásia e as suas conse-quências culturais: Jayasurya & Pankhurst, 2001; Jayasurya & Angenot, 2008.26 BROHIER, Ibidem, 23. Veja-se também Hettiaratchi, 1969; Goonatilekka, 1974, 1983;Jayasuriya, 2000.27 Canções dos Kaffir do Sri Lanka encontram-se registadas no CD VSO2 Cantigas do Ceilão,recolhidas e anotadas por Kenneth David Jackson, CD esse que faz parte da colecção «AViagem dos Sons», editada em 1998 pela CNCDP/Tradisom. A sua popularidade entre apo pulação mais geral do Sri Lanka, com letras em singalês ou em tamíl, é confirmada pelonú mero de vídeos que uma pesquisa no You Tube (pesquisando, por exemplo, Sri Lanka

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Baila) permite encontrar. Veja-se, para uma análise académica do fenómeno, AnneSHERERAN, 1997, White Noise: European Modernity, Sinhala Musical Nationalism, and ThePractice of a Creole Popular Music in Modern Sri Lanka, Ph. D. dissertation, University ofWashington.28 Entre eles, Hesseling (1897) e Valkhof (1996), e seguintes.29 Sobre o papel dos línguas e jurubassas, veja-se Dejanirah COUTO, 2003, «The Role ofInterpreters, or Linguas, in the Portuguese Empire During the 16th Century», in e-JPH, vol. 1, n. 1 (Winter 2003), URL: http://www.brown.edu/Departments/Portuguese_Brazilian_Studies/ejph/.30 A literatura portuguesa do século XVI, dos poetas do Cancioneiro Geral ao teatro vicen-tino e aos autos de António Ribeiro Chiado, reproduz em abundância a maneira de falar dapo pulação negra em Portugal. Personagens pícaras por excelência, numa tradição literáriaem que a diferença linguística era introduzida por razões estéticas e para conseguir efeitosdr amáticos, a língua dos pretos, patente ainda nos entremezes de cordel do século XVIII,reflectia a sua marginalização social e os estereótipos étnicos de comportamento e carácteroperantes na população branca em relação ao escravo africano. Reinterpretação estereoti-pada de uma prática linguística, a regularidade dos traços linguísticos que evidencia, de obrapara obra, aponta no entanto para uma aproximação a uma linguagem real – a dos escravose dos negros livres. As suas características fonológicas e morfossintácticas coincidem pertur-bantemente com alguns traços linguísticos que encontramos em vários estádios da evoluçãodos crioulos portugueses.31 Padre Fernão GUERREIRO, 1605, Relação Anual das Coisas Que Fizeram os Padres daCompanhia de Jesus nas Suas Missões.32 Thomaz, 1994, 296.33 A análise das condições de formação dos crioulos do Oriente segue de perto Tomás, 2005(cap. III).34 Cunha & Monteiro, 1995, 110.35 Ibidem, 102.36 Veja-se o artigo de Domingues e Guerreiro, 1989.37 Veja-se Correia, 1960.38 Política invocada vezes sem conta pela propaganda política do Estado Novo, como provairrefutável do caracter não racista dos Portugueses, esquecendo que Albuquerque, na famosaCarta a D. Manuel, refere expressamente que não quer que os seus homens casem com «mu -lheres negras» do Malabar.39 Veja-se a refutação em Boxer, 1963, 77-78.40 Comentário do jesuíta Nicolas Lanciloto (1550), citado em Boxer, 1963, 63.41 Uniões legítimas, sobretudo no caso das noivas pertencentes à nobreza nativa, incentiva-das, a partir de certa altura, como estratégia de reforço das alianças políticas e comerciaiscom os potentados locais. Veja-se o caso exemplar de Emanuel de Eredia, autor da De cla -raçam de Malaca, filho do casamento entre uma princesa de Macassar e um fidalgo portu-guês. Nos estratos sociais mais baixos, a união legítima tinha como condição necessária a

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con versão das cônjuges. De notar que a conversão implicou também, a partir de certa época,o aforramento das escravas e da sua prole.42 Forjaz, 1996, e Forjaz e Noronha, 2000.43 Veja-se, em particular, McGilvray, 1982, e Roberts et al., 1989.44 Anthonisz, 1908, 30.45 Gowanardena, 1959, 226.46 Transcrito em Leupe, 1859, 65. De notar também a referência «Many Netherlanders mar-ried Portuguese widows» (em itálico no original), p. 73.47 Boxer, 1965b, 242.48 Schuchardt, 1890, 2-4.49 Boxer, 1965b, 243.50 De salientar que a escravatura no Estado da Índia, ainda que envolvendo um número con-siderável de escravos, foi utilizada, quase sem excepções, no serviço doméstico e como mão--de-obra auxiliar nos mesteres e no pequeno comércio.51 Citado em Schuchardt, 1890, 8.52 Citado em Don Peter, 1978, 64.53 Ibidem, 71.54 Robert Knox (1681), citado na edição de 1981, 257.55 Jackson, 1996 (tradução portuguesa da obra em inglês de 1990), 138.56 Publicado em 1883-1899 (?), Colombo, Wesleyan Mission Press.57 Jackson, 2005, 101-121.58 Tomás, 1992, e Jackson, 1995.59 Sobre o proto-pidgin e a influência lexical do Português nos crioulos de base europeia nãopor tuguesa, veja-se Keith WHINNOM, «The Origin of the European-Based Creoles andPidgins», in Orbis, XIV (1965), 509-527; J. L. DILLARD, «Creole English and Creole Por tu -guese: The early records», in HANCOCK, Ian F. (ed.), Readings in Creole Studies, Ghent, 1979,261-268; Morris GOODMAN, «The Portuguese Element in the American Creoles», in GILBERT,Glenn G. (ed.), Pidgin and Creole Languages: Essays in Honour of John E. Reinecke, Honululu,1987, 361-405; Ian F. HANCOCK, «The Domestic Hypothesis, Diffusion, and Com po nen -tiality: “An Account of Atlantic Anglophone Creole Origins”», in MYUSKEN, Pieter-SMITH,Norval (eds.), Substrata versus Universals in Creole Genesis, Papers from the Amsterdam CreoleWorkshop, April 1985, Amesterdão, Filadélfia, 1986, 71-102; Frederick G. CASSIDY, «ThePlace of Gullah», in American Speech, IV (1980), 3-1; Anthony NARO, «The Origin of WestAfri can Pidgin», in CORUM, Claudia et al. (eds.), Papers from the Ninth Regional Meeting of theChicago Linguistic Society, Chicago, 1973, 442-449.60 François Pyrard de Laval (1615-1616); citado a partir da tradução de 1858, de J. H. daCunha Rivara, p. 363.61 Cancioneiro Geral de Garcia de Resende (1516), Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda,1990, p. 464.

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62 Biblioteca Nacional da Ajuda, Colecção Pombalina, N.º 133 Fl 125 v., transcrito em JoãoM. Pacheco de FIGUEIREDO (Filho), 1958, «“Romances Velhos” Indo-Portugueses», in Boletimda Sociedade de Geografia de Lisboa, Separata (Out.-Dez.), pp. 323-36.63 Pardao, tanga, bazaruco e pataca eram moedas em circulação no Oriente nos séculos XVIe XVII. A pataca é, ainda hoje, a unidade monetária de Macau.64 Antiga moeda da Índia portuguesa, pequena, feita de metais como cobre, estanho e chum -bo, de valor variável e de etimologia incerta. Sinónimo do termo popular pataco.65 Quimono, do japonês kimono.66 Peixe-mulher – manatim, mamífero marinho das regiões tropicais, habitando no Atlânticoas zonas costeiras da Geórgia (EUA) até ao Estado brasileiro de Alagoas. 67 Alvá ou aluá – um doce que encontramos hoje, com variações locais, nas comunidadescrio las do Oriente. Do árabe al-halu ou al-hal uâ («doce açucarado»), através das línguasindianas (alwa). Em português, o mesmo étimo deu origem a alféloa.68 Chiricate ou chilicate – «tesouras para noz de betel». Do tamul siri-katti. No Papiá Kristangde Malaca encontramos chircati – «tesouras para partir areca», do malaio chelekati, tambémele derivado do tamul.69 Rendas.70 Primeira designação da banana.71 Garcia da ORTA, 1563, Colóquio de Betre; citado em Dalgado, 1919-1920, p. xxii (ff). 72 João de BARROS, Op. cit., pp. 401-02.73 Ao nível das elites, e são as elites que demonstram e dão voz a uma consciência purista emrelação ao empréstimo linguístico, esta tensão tem raízes mais fundas do que uma simplesde fesa da língua: «A fixação de fidalgos no Oriente – os indiáticos, “casados”, e até mesmo“os fidalgos antigos da Índia” – suscitava desconfiança no Reino (para não o referir mesmocomo sinal de desqualificação social), sendo sempre acusados de servir menos o rei que a sipróprios», Cunha e Monteiro, 1995, 102.74 Rodrigues Lobo, (1619), 1945, 184.75 No caso dos países africanos de expressão oficial portuguesa e do Brasil, o léxico incluiobviamente uma percentagem muito maior de empréstimos de línguas africanas e, no casobrasileiro, uma componente relevante das línguas ameríndias, sobretudo do Tupi-guarani,tanto ao nível da toponímia como nas palavras comuns.76 Derivação, de acordo com Dalgado: andor < malaiala andola; pires < malaio piring; biombo< japonês byóbu ou bióbu; chá < mandarim; bengala < do bengali; bule < malay búli; boião <malaio búyong; catre < malaiala kattil; chita < sânscrito chitra; quimono < japonês kimomo;corja < malaialam kórchchu; pagode < sânscrito bhagavat (cf. malaiala pagôdi).77 Fernão de OLIVEIRA, (1536), 2000, Gramática da Língua Portuguesa, Lisboa, Academia dasCiências de Lisboa, p. 86 (itálico da autora).

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