A Variação Universal

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Nome: Marcony Lopes AlvesMatrcula: 2012061979

TARDE, Gabriel. A Variao Universal; A Ao dos Fatos Futuros; Os Possveis. In: Monadologia e sociologia e outros ensaios. So Paulo, Cosac Naify, 2007.

A variao universalEste artigo inicia-se com a decomposio do eu em crena e desejo. A primeira age se distinguindo dos outros e cirando uma nova distino, enquanto que o segundo age modificando as coisas e modificando ao prprio desejo. Aps uma argumentao obscura, o autor apresenta a seguinte mxima: Durar mudar: a durao, o tempo, s existe por e para os acontecimentos; e o eu, a durao da pessoa, s existe por e para a srie de seus estados interiores.(p.136). O autor apresenta um argumento contra a associao do desejo a felicidade, comumente feita pelos utilitaristas. Em sequncia Tarde discute como a teologia da felicidade acabaria por excluir os ser das plantas da realidade, uma vez que elas no desejariam, apenas necessitariam como a necessidade se resume ao desejo da felicidade, as plantas no existiriam. Partindo de uma premissa oposta o socilogo francs diz que as plantas tendem. A harmonia aparece na argumentao como um elemento resultante da diferena. Essa colocao serve para o autor construir questes sobre a harmonia e a diferena. No final, Tarde aponta que a diferena consegue explicar mais elementos do mundo. Afirma que todos os indivduos, por mais que possam ser comparados numa mirade de aspectos, no possvel julgar um ser absolutamente. Um indivduo (tanto humano quanto animal) sempre nico e no h finalidade para o seu ser. Em uma frase quase conclusiva afirma Tarde: No fundo, a nica verdadeira realizao da harmonia no a sociedade, nem mesmo o indivduo que tem igualmente necessidades mltiplas e fins heterogneos, nem sempre agrupados e conciliados; o rgo, o aparelho adaptado a uma necessidade determinada.(pp. 146). A harmonia uma forma de excluir as diferenas, por isso s existe em poucos casos, como no dos rgos. A heterogeneidade, a diferena so empecilhos a harmonia. Tarde critica a associao da noo de dever a ideia de til. Para ele a noo de dever supe tornar um desejo superior (de forma imperativa), enquanto que o til governando pelo condicional. H uma passagem em que o autor fala que a noo de sistema uma ferramenta, mas no existe enquanto realidade. O que existe so fragmentos e aspectos diversos. Voltando ao tema da harmonia, o autor argumenta que a diferena, o caos, o que nos atrai; o que nos chama ateno, estimula-nos. A harmonia no a finalidade das coisas por que toda vez que esse estado seria alcanado, ele acabaria destrudo. Tarde termina o artigo dizendo abertamente que o texto uma resposta as propostas de Spencer. H uma frase que resume tudo o que foi apresentado no artigo: Por toda a parte vimos a natureza das coisas, essencialmente heterognea, a resistir a essas harmonias diversas, igualmente heterogneas, que a dominam por um momento para chegar a heterogeneidades novas e mais radicais que elas no explicam. (p. 163).A ao dos fatos futurosTarde inicia este artigo argumentando sobre a limitao das leis e seu aspecto puramente condicional e, portanto, incapaz de explicar todo o real e todo o possvel. Seguindo em sua argumentao carregada de exemplos, chega ao ponto do uso de fatos posteriores para firmar a explicao de fatos posteriores e se questiona sobre a legitimidade dessa estratgia. O autor crtica a noo de colocao primitiva de Mill porque esta colocaria todo o peso dos fatos explicativos num passado remoto. Tarde mostra-se contrrio a esta posio e afirma que os fatos futuros so to legtimos para explicar os fenmenos quanto os fatos do passado (sou da opinio que no h motivos de pedir mais ao passado do que ao futuro a chave do enigma fornecido ao esprito pela estranheza do real , e que o caso de completar um pelo outro estes dois extremos, a colocao primitiva das causas e a destinao das coisas [p.169]). O socilogo francs aponta a ligao do preconceito que privilegia o passado no que ele chama de determinismo e aponta na obra do zologo Littr esse tipo de argumentao. O evolucionismo tambm compartilharia desse mesmo preconceito, de uma forma ainda mais clara, uma vez que suporia um desenvolvimento unilinear. A explicao para a existncia de tal preconceito se encontra na preciso das lembranas (os fatos passados) e a na incerteza das previses (os fatos futuros). Outro motivo para o surgimento desse preconceito em nosso esprito seria o hbito de pensar o passado e sua ao no presente conjuntamente. Isso levaria a pensar o passado como realidade.Tarde argumenta que a ordem dos fatos tambm importante. A inverso da histria de vida de uma pessoa no inteligvel. O ser no independente de sua ao. O que ele ser depende do que ele faz. Alm disso, a vida marcada por acasos, por acidentes e abortos. O autor tambm critica a noo de desenvolvimento normal. Primeiro por que ela nega a diferena. Segundo porque pressupe uma repetio idntica o que no positivo, que no traz mudana. A ao dos fatos futuros, para Tarde, no age sempre da mesma maneira e est associada lei da diferena. Os fatos futuros agem de maneiras e intensidades distintas sobre os diferentes fenmenos. Os fenmenos fsico-qumicos, por exemplo, praticamente no sofrem o efeito deles enquanto que os fatos da vida so fortemente influenciados por eles (exemplo do arqueopitrix, de novo).Os possveis Tarde inicia o artigo constatando o abandono da questo dos possveis em seu tempo, o que contrasta com a Antiguidade e a Idade Mdia. Em seguida, ele aponta a importncia da questo e discute as acepes do se, das possibilidades. Apresenta, a a noo de lei associada tanto ao real quanto ao condicional, tanto a realidade quanto ao possvel. A cincia trata de fatos que podem ocorrer sobre condio. Uma determinada causa levar a algum efeito. O que no garante que essa causa surgir. O socilogo francs diz algo muito importante para as cincias: Dizer se no apenas lcito; til, necessrio; nenhuma lei teria sido descoberta e formulada pelo homem se ele no fosse dotado da faculdade de dizer se. Dizer se o no-existente concebido, o audacioso passo do esprito, sua emancipao fora do real, do presente, do passado, do futuro, no racional e no inteligvel. (pp.195-196).O autor tambm define cincia como afirmao das relaes certas que unem termos reais ou no. A cincia, em ltima anlise, trata de virtualidades. A realidade composta da abundancia da potncia (os possveis) sobre o ato (o realizado). Cientistas, como fsicos, qumicos e bilogos, tentaram mostrar que os fatos so apenas fatos e abandonado a virtualidade. Contra essas argumentaes Tarde apresenta argumentos complexos que apontam para o poder da virtualidade. A virtualidade se encontra no movimento na fsica, nas possibilidades das combinaes, na virtualidade das caractersticas inatas do germe, em biologia. O autor critica a noo de finalidade, presente em algumas teorias, porque esta mutilaria a virtualidade. Quanto psicologia e as cincias sociais, o autor acredita que so menos resistentes a virtualidade cita o caso da virtualidade econmica. Pensando em ns mesmos antes dos objetos das cincias, j fica bvio que ns nos definimos pelos outros passados que poderamos ter tudo, mas que optamos por no ter. O desenvolvimento do ser obtido ao preo do seu aborto parcial ou o aborto de alguma coisa da qual ele toma lugar, ou dos dois ao mesmo tempo.(p.215). Ns s podemos nos constituir enquanto pessoas quando escolhemos e no outro cominho; quando realizamos centenas de abortos. Da, o autor chega ao ponto que o real apenas um dispndio do possvel. A realidade existe em apenas em um momento muito localizado e no pode ser repetida. A realizao de todos os possveis no pode acontecer por causa da finitude do mundo, o que esbarra na infinidade de possveis. Tarde afirma nesse ponto, que existe uma gradao entre os possveis. H alguns que so de 1 e, dessa forma, apresenta uma realizao mais fcil. Outros apresentariam graus maiores de dificuldade de se realizarem e, em ltimo nvel, o impossvel um possvel de infinitsimo grau. As descobertas de cientistas, como Kepler e Newton, permitiram que outras descobertas se tornassem de 1 e pudessem acorrer. Os possveis tambm se ligam a imaginao. Na construo das leis, os cientistas valem-se da sua imaginao para poder construir seus esquemas explicativos. A imaginao faz parte da inteligncia (no real), assim como a memria (real). Por outro lado, a imaginao tambm realiza mundos no realizado (Tudo que imaginvel quer ser imaginado.)O autor termina o artigo afirmando que no acredita que as leis no abarcam todo o possvel. Negar esse desconhecimento da cincia, para Tarde, uma dupla ignorncia. ( Se afirmar o desconhecido afirmar nossa ignorncia, negar o desconhecido ignorar duas vezes.)