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Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 Volume 5 Número 14 novembro 2014 Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 5, nº 14, nov. 2014 71 A VARIAÇÃO SINTÁTICA NA CONSTRUÇÃO DAS FALAS NO MUNICÍPIO DE JANAÚBA EM RELAÇÃO À CONCORDÂNCIA VERBAL: UMA ABORDAGEM SOCIOLINGUÍSTICA Kamila Karoline Silva Carvalho (UNIMONTES) 1 [email protected] Patrícia Goulart Tondineli (UNIMONTES) 2 patrí[email protected] RESUMO: O presente estudo está vinculado ao projeto de pesquisa A produção e a percepção das vogais médias no Norte de Minas: nível intradialetal, interdialetal e individual. Partindo das hipóteses de que as falas variam no nível sintático conforme a classe social, o sexo e a idade e de que os indivíduos variam suas falas no nível sintático, principalmente no que concerne à concordância verbal, o presente trabalho teve como objetivo investigar a variação em relação à concordância verbal no município de Janaúba, Minas Gerais. Para que tal objetivo fosse alcançado, foram realizadas entrevistas com falantes nativos e residentes na cidade investigada. Os indivíduos foram escolhidos previamente para preencherem categorias específicas, como escolaridade, idade, classe social e sexo. A partir da metodologia variacionista proposta por Labov (1972), verificamos, por meio das entrevistas, a importância das variáveis extralinguísticas sexo, escolaridade e idade no fenômeno variável da concordância verbal na oralidade do município de Janaúba. Além disso, analisamos os diversos contextos linguísticos que favorecem e que desfavorecem o fenômeno da concordância verbal, tendo como base autores como Perini (1996), Quevedo (2006) e Oliveira (2010), entre outros. Em nossos resultados, encontramos que os fatores favorecedores da concordância verbal foram: o sujeito elíptico; as pessoas do singular; os verbos com apenas uma sílaba; o sexo masculino e os sujeitos com menor idade. PALAVRAS-CHAVE: Concordância verbal; Variação linguística; Sociolinguística. ABSTRACT: The present study is part of a research project named The production and the perception of mid vowels in the North of Minas Gerais: intradialetal, interdialetal and individual level. Starting from the hypothesis that the utterances vary in syntactic level according to social class, gender and age and that individuals vary their speeches at syntactic level, mainly in what concerns to the verbal concordance, the purpose of this work was to investigate the variation in relation to verbal concordance in the municipality of Janaúba, Minas Gerais State. In order to have the objective achieved, interviews were carried out with native speakers and residents in the city investigated. The individuals were previously chosen to fulfill specific categories, such as education, age, social class and gender. From the variation methodology proposed by Labov (1972), it was possible to verify through interviews, the importance of extralinguistic variables such as gender, schooling and age in the variable phenomenon of verbal concordance in orality in the municipality of Janaúba. Besides, we also analysed the various linguistic contexts that advantage or disadvantage the phenomenon of verbal concordance, taking as basis authors such as Perini (1996), Quevedo (2006) and Oliveira (2010), among others. The results showed that the factors which facilitate verbal concordance are: the elliptical subject; the singular persons; the one syllable-verb; the male sex and the youngers. 1 Graduada em Letras Português pela Universidade Estadual de Montes Claros. e-mail:[email protected] 2 Professora da Universidade Estadual de Montes Claros. Doutoranda em Linguística pela Pontifícia Universidade Católica. e-mail: [email protected]

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A VARIAÇÃO SINTÁTICA NA CONSTRUÇÃO DAS FALAS NO

MUNICÍPIO DE JANAÚBA EM RELAÇÃO À CONCORDÂNCIA

VERBAL: UMA ABORDAGEM SOCIOLINGUÍSTICA

Kamila Karoline Silva Carvalho (UNIMONTES)1

[email protected]

Patrícia Goulart Tondineli (UNIMONTES)2

patrí[email protected]

RESUMO: O presente estudo está vinculado ao projeto de pesquisa A produção e a percepção das

vogais médias no Norte de Minas: nível intradialetal, interdialetal e individual. Partindo das hipóteses de

que as falas variam no nível sintático conforme a classe social, o sexo e a idade e de que os indivíduos

variam suas falas no nível sintático, principalmente no que concerne à concordância verbal, o presente

trabalho teve como objetivo investigar a variação em relação à concordância verbal no município de

Janaúba, Minas Gerais. Para que tal objetivo fosse alcançado, foram realizadas entrevistas com falantes

nativos e residentes na cidade investigada. Os indivíduos foram escolhidos previamente para preencherem

categorias específicas, como escolaridade, idade, classe social e sexo. A partir da metodologia

variacionista proposta por Labov (1972), verificamos, por meio das entrevistas, a importância das

variáveis extralinguísticas sexo, escolaridade e idade no fenômeno variável da concordância verbal na

oralidade do município de Janaúba. Além disso, analisamos os diversos contextos linguísticos que

favorecem e que desfavorecem o fenômeno da concordância verbal, tendo como base autores como Perini

(1996), Quevedo (2006) e Oliveira (2010), entre outros. Em nossos resultados, encontramos que os

fatores favorecedores da concordância verbal foram: o sujeito elíptico; as pessoas do singular; os verbos

com apenas uma sílaba; o sexo masculino e os sujeitos com menor idade.

PALAVRAS-CHAVE: Concordância verbal; Variação linguística; Sociolinguística.

ABSTRACT: The present study is part of a research project named The production and the perception of

mid vowels in the North of Minas Gerais: intradialetal, interdialetal and individual level. Starting from

the hypothesis that the utterances vary in syntactic level according to social class, gender and age and that

individuals vary their speeches at syntactic level, mainly in what concerns to the verbal concordance, the

purpose of this work was to investigate the variation in relation to verbal concordance in the municipality

of Janaúba, Minas Gerais State. In order to have the objective achieved, interviews were carried out with

native speakers and residents in the city investigated. The individuals were previously chosen to fulfill

specific categories, such as education, age, social class and gender. From the variation methodology

proposed by Labov (1972), it was possible to verify through interviews, the importance of extralinguistic

variables such as gender, schooling and age in the variable phenomenon of verbal concordance in orality

in the municipality of Janaúba. Besides, we also analysed the various linguistic contexts that advantage or

disadvantage the phenomenon of verbal concordance, taking as basis authors such as Perini (1996),

Quevedo (2006) and Oliveira (2010), among others. The results showed that the factors which facilitate

verbal concordance are: the elliptical subject; the singular persons; the one syllable-verb; the male sex and

the youngers.

1 Graduada em Letras Português pela Universidade Estadual de Montes Claros.

e-mail:[email protected] 2 Professora da Universidade Estadual de Montes Claros. Doutoranda em Linguística pela Pontifícia

Universidade Católica. e-mail: [email protected]

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KEYWORDS: Verbal Concordance; Linguistic Variation; Sociolinguistics.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho investiga o uso da concordância entre o sujeito e o verbo nas falas

dos indivíduos de Janaúba, Minas Gerais. O banco de dados pesquisado faz parte do

projeto A produção e a percepção das vogais médias no Norte de Minas: nível

intradialetal, interdialetal e individual3.

Para realizarmos o nosso trabalho, embasamo-nos na Sociolínguistica, uma das

áreas da Linguística que estuda a variação em uso, que volta a sua atenção para os

aspectos linguísticos e sociais. O objetivo da Sociolinguística é a língua falada, levando

em consideração o seu caráter individual e social, pois cada indivíduo possui o seu

modo particular e pessoal ao usá-la.

Neste trabalho, o nosso foco é trabalhar a língua falada em uso por diversos

falantes. Escolhemos tal fator por ser perceptível no nosso convívio que há indivíduos

que possuem dificuldades para concordar o sujeito com o verbo. Em todos os trabalhos

estudados, pudemos perceber as formas como a concordância e a não concordância

verbal ocorrem.

Sabemos que a língua pode tomar diversas formas, dependendo do falante e do

contexto no qual se encontra. A língua falada é um instrumento de uso que está em

constante variação; nenhuma língua representa uma realidade estática, pronta e acabada,

pois está sempre em processo de mudança. Com o passar do tempo, as línguas sofrem

mudanças; alguns dialetos desaparecem, enquanto outros ganham espaço nas falas dos

indivíduos, fato que nos leva a concluir que são as línguas heterogêneas.

Sendo assim, objetivamos, com esta pesquisa, investigar as ocorrências de

presença e de ausência de concordância verbal. Para isso, fizemos uso de algumas

3 Tondineli (2010).

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variáveis linguísticas e extralinguísticas que foram utilizadas em outros trabalhos sobre

o mesmo tema, as quais foram selecionadas ou não, posteriormente, pelo VARBRUL.

Tomaremos por base alguns gramáticos que discorrem sobre a concordância

verbal, como Bechara (2001; 2004), Cunha e Cintra (2007), Cegalla (2008) e Perini

(1996). Embasamos-nos também em trabalhos de pesquisadores que já trataram sobre o

assunto: Oliveira (2010), Faria (2008) e Quevedo (2006).

Após transcrevermos as entrevistas, selecionamos as ocorrências de todos os

verbos encontrados. Essas foram codificadas e analisadas pelo programa

GOLDVARB/VARBRUL, software de análise computacional estatística. A partir dos

resultados, passamos para a interpretação dos dados, pela qual pudemos confirmar ou

não as nossas hipóteses.

Este trabalho confirma ou não confirma a viabilidade das nossas hipóteses: no

município de Janaúba, as falas variam no nível sintático conforme a classe social, o sexo

e a idade; e os indivíduos variam suas falas no nível sintático, principalmente no que

concerne à concordância verbal.

2 CONCORDÂNCIA VERBAL

Na Língua Portuguesa, entendemos por concordância a adaptação feita entre os

sintagmas ou parte deles. Temos dois tipos de concordância: a concordância nominal e a

concordância verbal. A primeira pode ser realizada dentro ou fora do sintagma nominal,

e se faz através do emprego entre o gênero e o número: “Diz-se concordância nominal a

que se verifica em gênero e número entre o adjetivo e o pronome (adjetivo), o artigo, o

numeral ou o particípio (palavras determinantes) e o substantivo ou pronome (palavras

determinados).” (BECHARA, 2001, p. 543).

A concordância verbal, nosso objeto de estudo, é realizada entre o sujeito e o

verbo da oração, em número e pessoa. Para haver concordância verbal, o verbo deverá

concordar com o sujeito, sendo que concordar significa que o termo subordinado (o

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verbo) ajusta suas flexões de número e de pessoa ao número e à pessoa do termo

subordinante (o sujeito). Para Bechara (2004): “Em português a concordância consiste

em se adaptar a palavra determinante ao gênero, número e pessoa da palavra

determinada.” (BECHARA, 2004, p. 253).

Entre os autores da GT4, encontramos várias definições, como a de Cunha e

Cintra (2007): “a solidariedade entre o verbo e o sujeito, que ele faz viver no tempo,

exterioriza-se na CONCORDÂNCIA, isto é, na variabilidade do verbo para conformar-

se ao número e à pessoa do sujeito.” (CUNHA; CINTRA, 2007, p. 510).

Segundo a GT, a concordância entre o sujeito e o verbo é uma regra obrigatória,

que é utilizada para a formação da língua culta do português brasileiro. A GT tem por

objetivo estabelecer a norma padrão, a forma “correta” do uso da língua. Entretanto,

sabemos que a forma culta da língua portuguesa vem sendo cada vez menos usada pelos

falantes; a forma padrão, que coloca a língua como “correta”, acaba alocando a

variedade linguística como uma forma incorreta do uso do português brasileiro.

Em Novíssima Gramática do Português, Cegalla (2008) considera que, na

variação da concordância verbal, “as normas postuladas têm, muitas vezes, valor

relativo, porquanto a escolha desta ou daquela concordância depende, frequentemente,

do contexto, da situação e do clima emocional que envolve o falante ou o escrevente.”

(CEGALLA, 2008, p. 451).

Nas GTs encontramos a concordância verbal referente ao sujeito simples e ao

sujeito composto. No que diz respeito ao sujeito simples, Bechara (2001) estabelece

que, “se o sujeito for simples e singular, o verbo irá para o singular, ainda que seja um

coletivo.” (BECHARA, 2001, p. 554). Para sujeito composto, o autor estabelece a

seguinte regra: “se o sujeito for composto o verbo irá, normalmente, para o plural,

qualquer que seja a sua posição em relação ao verbo.” (BECHARA, 2001, p. 554).

A concordância verbal, contudo, não pode ser trabalhada apenas sob a

perspectiva da GT; devemos estudá-la através das análises das falas dos indivíduos para

4 Gramática Tradicional.

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que possamos verificar as variações e/ou mudanças ocorridas em relação a esse

fenômeno linguístico.

Perini (1996), em sua Gramática descritiva do português, descreve a

concordância verbal como “um sistema de harmonização” entre o sujeito e o núcleo do

predicado das orações, e expõe: “A solução tradicional se baseia na noção de

concordância verbal como regra: a forma do verbo é modificada para se harmonizar

com os traços de número e pessoa do sujeito.” (PERINI, 1996, p. 191).

Perini (1996) apresenta visões diferentes da GT, as quais são mais coerentes e

permitem uma descrição mais adequada dos fatos da língua. Esse gramático entende a

concordância como um sistema de filtros que suprime certas estruturas, por

apresentarem algum tipo de má formação. O “erro de concordância”, para Perini (1996)

não é uma decorrência direta do mecanismo da concordância, mas de outros fatores

gramaticais – em outras palavras, “o erro de concordância” em si não existe.

Para Perini (1996), não existe propriamente o fenômeno da violação da

concordância verbal, mas sim a violação de certos filtros e de certas restrições

independentes do mecanismo de concordância, de forma que a aceitação de algumas

frases não se deve ao fato da desarmonia de pessoa e/ou de número.

A diferença que se nota em suas rotulações é a definição dos vários tipos de

objeto direto, sendo eles: (1) topicalizados, quando o objeto vem antes do núcleo do

predicado, e não contém um elemento Q5; (2) não topicalizado, quando vem depois do

núcleo do predicado; (3) clítico (o, com suas variantes, me, nos, te e vos) ou não; (4) Q

ou não, se vier antes do núcleo do predicado e contiver ou não um elemento Q.

Conforme Perini (1996), para que um SN seja sujeito em uma oração, ele precisa

estar em relação de concordância com o núcleo do predicado; o SN que não estiver em

concordância com o núcleo do predicado deverá ser analisado como objeto direto.

Vejamos o exemplo “Nós adormeci na banheira”.

5 Conforme Perini (1996), a propriedade de poder ser retomado pelos elementos que, o que ou quem.

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Perini (1996) analisa-o da seguinte forma: rotula-se nós como OD topicalizado,

de forma que o sintagma nominal na banheira não será rotulado porque não é de nível

oracional, sendo esse parte de um sintagma maior. Não há sujeito na oração, uma vez

que não há nenhum sintagma nominal em relação de concordância com o núcleo do

predicado. Percebemos que, sendo nós um OD topicalizado, há outra violação, pois o

verbo adormecer não aceita OD, marcado por; e, mesmo que o aceitasse, a forma nós

não poderia ser um OD, por se tratar de uma forma reta (nominativa); sendo assim, a

oração acima não é aceitável. Se o verbo fosse um que aceita OD, mesmo assim a

oração não seria bem formada, porque basta haver uma forma nominativa em função de

OD para que a estrutura seja rejeitada. Veja o exemplo: “Nós encontraram no cinema.”.

Como já havia dito no início deste capítulo, Perini (1996) entende a

concordância como um sistema de filtros que suprime certas estruturas por

apresentarem má formação de algum tipo. Percebemos, pois, que as violações descritas

por Perini (1996) podem ser explicadas através de restrições que atuam como filtros que

“não deixam passar” certas frases que contêm algum tipo de má formação. Assim

sendo, a concordância é reflexo de algo maior do que apenas as regras simplificadas que

descrevem a GT.

3 CONCORDÂNCIA VERBAL NO PB

A língua falada é um instrumento de uso que está em constante variação.

Nenhuma língua representa uma realidade estática, pronta e acabada, pois está sempre

em processo de mudança, fato que nos leva à conclusão de que elas são heterogêneas e

de que variam de indivíduo para indivíduo.

A variação contempla diversos níveis, sendo eles associados aos níveis

fonológicos, morfológicos, semânticos e sintáticos, sendo este o foco da nossa pesquisa.

Em relação às variáveis que influenciam ou não na variação e na mudança linguística,

podem ser estruturais (linguísticas) e/ou não estruturais (extralinguísticas).

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As variáveis estruturais correspondem àquelas pertencentes, no nosso caso, à

variação gramatical. As não estruturais, propostas pela teoria variacionista de Labov

(1972), são compostas de variáveis como sexo, escolaridade e idade. Sobre as variáveis

linguísticas e extraliguísticas, Mollica (2003) afirma:

[...] as variáveis, tanto linguísticas quanto não-linguísticas, não agem

isoladamente, mas operam num conjunto complexo de correlações que

inibem ou favorecem o emprego de formas variantes semanticamente

equivalentes. Por exemplo, agentes como escolaridade alta, contato com a

escrita, com os meios de comunicação em massa, nível socioeconômico alto

e origem social alta concorrem para o aumento na fala e na escrita das

variedades prestigiadas, admitindo-se que existam pelo menos o padrão

popular e o culto. (MOLLICA, 2003, p. 27).

É certo que, ao estudar a língua em uso numa comunidade de fala,

encontraremos variação na fala dos seus falantes. Na perspectiva aqui adotada, a teoria

variacionista de Labov (1972), tal variação ocorre por serem os falantes de sexo, idade,

escolaridade e classe social diferentes.

Podemos descartar ainda o contexto no qual as falas ocorrem, podendo a fala

variar conforme o grau de formalidade e informalidade, sendo esse uma variável externa

capaz de influenciar a produção linguística do falante, já que cada indivíduo possui um

repertório linguístico que varia dependendo de onde se encontra e da pessoa com quem

fala. Por exemplo, em relação ao objeto do nosso estudo, situações mais informais de

interação sugerem menor preocupação com a aplicação de concordância (MOLLICA,

2003).

Conforme mostram os resultados dos primeiros estudos de Labov (1972), que

comparava a fala dos indivíduos em contextos diferentes, diferenças de contexto formal

e informal levariam os falantes a empregar, respectivamente, estilos também formais e

informais. A variação ocorre, pois, por ser a língua usada em vários contextos e por

comunidades diferentes: “a língua enquanto um sistema evolutivo e heterogêneo, com

seus aspectos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos deve ser analisada,

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sem ser desvinculada do contexto social de uma certa comunidade de fala.” (LABOV,

1972, apud SEVERO, 2008, p. 5).

No tocante à determinação dos contextos de variação, Naro (2003, apud RUBIO,

2010, p. 2) adverte que, em um modelo quantitativo de análise, devem ser selecionados

os fatores linguísticos e extralinguísticos que podem favorecer ou refrear o uso de uma

ou de outra variante. Nos estudos sociolinguísticos brasileiros, vários fatores

linguísticos e sociais já se mostraram relevantes para o estudo da concordância verbal,

doravante CV.

Verifica-se que, no Brasil, vários estudos têm sido realizados no que diz respeito

à concordância verbal, tendo a língua falada como corpus de análise, conforme

exemplificaremos a seguir.

4 ESTUDOS DE VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NA ORALIDADE DO

PORTUGUÊS BRASILEIRO.

Em estudos realizados no Mato Grosso do Sul, Quevedo (2006) realizou

entrevistas com o menor monitoramento possível da fala, com o intuito de o trabalho

desenvolver com eficiência o modelo teórico-metodólogico da Sociolinguística. Diante

do corpus constituído por entrevistas, Quevedo (2006), para a realização do seu

trabalho, fez a escolha de questões abertas, os discursos semidirigidos; ou seja, as

narrativas de experiência pessoal, uma vez que entendeu serem essas narrativas que

revelariam com maior expressividade a fala espontânea dos informantes.

Nas narrativas escolhidas por Quevedo (2006), os falantes contavam, em sua

maioria, as histórias ocorridas em sua infância, os medos, as alegrias e o que ocorria no

seu dia a dia:

A decisão em escolher as narrativas acima descritas para compor o corpus de

nossa investigação foi tomada em função, também, do objetivo que

pretendemos atingir, descrever e analisar o fenômeno da variação da

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concordância verbal de terceira pessoa do plural presente na fala popular de

informantes sul-mato-grossenses, com a intenção de definir uma possível

sistematicidade das relações entre ambiente sociocultural e uso linguístico.

(QUEVEDO, 2006, p. 76).

O trabalho de Quevedo (2006) contou com 144 informantes com a seguinte

distribuição: 82 homens e 62 mulheres, com intervalo de idade entre 12 e 50 anos a

mais e com tempo de escolaridade entre zero e oito anos de estudos (atual Ensino

Fundamental completo). Houve 832 ocorrências de terceira pessoa do plural oriundas de

amostras de 30 dos 77 municípios que compõem o estado do Mato Grosso do Sul.

Dos 832 dados colhidos para a pesquisa, 393 apresentaram a concordância

verbal na terceira pessoa do plural, e 439 apresentaram a falta de concordância. Sendo o

resultado apresentado em porcentagem, o primeiro grupo alcançou uma porcentagem de

47%, e o segundo, de 53%.

Nos resultados analisados pelo programa VARBRUL e apresentados pela

pesquisa de Quevedo (2006), “os fatores linguísticos, e não os sociais, é que tendem a

se mostrar mais relevantes, influenciando com maior força na concordância verbal, ou,

pelo menos, há uma intercalação entre fatores linguísticos e sociais.” (QUEVEDO,

2006, p. 196).

Em relação aos fatores linguísticos, entre os que mais proporcionaram a

ocorrência de concordância verbal está o sujeito pronominal, uma vez que foi o primeiro

a ser selecionado pelo programa estatístico, principalmente o sujeito pronominal não

explícito, o que comprovou a hipótese de que o falante popular, ao utilizar o sujeito

oculto, tende a realizar mais concordância. O fator distância entre o sujeito e o verbo foi

outro fator que favoreceu a concordância verbal, assim, quanto mais próximo o sujeito

se encontrasse do verbo, o falante faria mais uso da CV. Quanto ao fator saliência

fônica, Quevedo (2006) afirma:

[...] baseando-nos no princípio da saliência, estabelecemos a hipótese

de que quanto maior ou mais saliente a diferença material entre as

formas verbais do singular e plural, maior a probabilidade de

aplicação da concordância, assim como, quanto menor ou menos

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saliente essa diferença, menor a chance de realização da regra.

(QUEVEDO, 2006, p. 129).

Os fatores linguísticos que não favoreceram a concordância verbal e não foram

considerados pelo VARBRUL no trabalho de Quevedo (2006) foram: posição do

sujeito, valor semântico do sujeito, categorização semântica do sujeito e constituição

morfossintática do sujeito.

Além dos fatores estruturais, algumas variáveis sociais foram também analisadas

por Quevedo (2006), como procedência, sexo e escolaridade. No que diz respeito à

procedência, o que se encontrou foi que os falantes da zona rural tendem a usar menos a

CV do que os falantes da zona urbana, sendo que os falantes da zona rural alcançaram

27% da frequência da CV, e os falantes da zona urbana alcançaram 77%.

Em resumo, observamos que os falantes que mais desempenham a realização da

CV no Estado do Mato Grosso do Sul são do gênero feminino, de procedência urbana, e

que possuem maior grau de escolaridade (QUEVEDO, 2006).

Passaremos, agora, a analisar os resultados apresentados por Oliveira (2010),

cujo trabalho foi realizado na região Noroeste do estado de São Paulo, com mais

abrangência na cidade de São José do Rio Preto. Este é um município brasileiro do

estado de São Paulo; a maior cidade do Noroeste do estado, cuja economia está baseada

no comércio, na prestação de serviços, nas indústrias diversas e na agricultura.

Para que os informantes pudessem participar do corpus, era necessário que

residissem nas cidades abrangidas pelo projeto desde, pelo menos, os seus cinco anos de

idade, ou, ainda, que houvesse nascido na cidade. Participaram das entrevistas 152

informantes, cada um com uma gravação de aproximadamente 40 minutos, e foram

encontradas 1.397 ocorrências de concordância verbal.

Em um total geral apresentado por Oliveira (2010), 85% do corpus apresentaram

a presença da concordância verbal; e 15% apresentaram ausência da CV. Conforme

Oliveira (2010), os dados apresentados demonstraram que ocorre variação nas falas dos

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indivíduos da região Noroeste do estado de São Paulo, e que há predominância do uso

da regra padrão.

Oliveira (2010) afirma que não somente em seu trabalho os resultados foram

favorecedores para a realização da CV. O trabalho de Naro (2003), por exemplo,

conforme o pesquisador, que apresentou resultados de um estudo da concordância

verbo/sujeito em uma amostra constituída pela fala de 64 falantes residentes no Rio de

Janeiro, os resultados também foram favorecedores para a realização da CV. Os

resultados obtidos por Naro (2003) apresentam 65% de presença de concordância verbal

e 35% de ausência da concordância verbal (apud OLIVEIRA, 2010).

Ao comparar os dados encontrados por Oliveira (2010) com os de Quevedo

(2006), encontramos uma significante diferença nos resultados. No trabalho de Quevedo

(2006), predomina, mesmo que de forma ponderada, a ausência da CV, com uma

porcentagem de 53% (47% apresentaram a presença da CV). No trabalho de Oliveira

(2010) o que se verifica é a predominância da presença da CV.

Retomando os estudos feitos por Oliveira (2010), em relação à variável faixa

etária, verificou-se que a idade de 7 a 15 anos é a que mais favoreceu a ocorrência do

uso da CV, com uma porcentagem de 95%; os indivíduos de 16 a 25 anos obtiveram

uma porcentagem de 90%; os de 26 a 35 anos obtiveram 85%; de 35 a 55, alcançaram

82%; e, por fim, a faixa etária dos falantes acima de 55 anos teve um total de 75%.

Outros estudos também comprovam que a fala dos indivíduos mais jovens

tendem a ser a forma mais prestigiada, como demonstram os estudos de Gameiro (2005,

apud OLIVEIRA, 2010, p.120), o qual estudou a concordância verbal na modalidade

falada de indivíduos da região central do estado de São Paulo. Foram utilizadas, como

corpus, 25 entrevistas e 15 diálogos entre dois ou mais informantes, totalizando 40

gravações; e analisadas 1.399 ocorrências de 3ª pessoa do plural. Gameiro (2005)

observou que as faixas etárias mais jovens apresentam um percentual mais alto de

presença de CV do que as faixas etárias mais velhas.

Na variável escolaridade, mais uma vez, os resultados mostraram que os

informantes mais escolarizados preservam mais as marcas da CV (GAMEIRO, 2005,

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apud OLIVEIRA, 2010). Os falantes que possuem Ensino Médio obtiveram 83%; e os

que possuem ensino superior alcançaram 93%.

Na variável sexo, assim como no trabalho de Quevedo (2006), o que Oliveira

(2010) encontrou foi uma maior preocupação das mulheres com o uso da CV; são, pois,

as mulheres que fazem mais uso da norma de prestígio. A pesquisa sobre a variável

sexo apresentou o resultado de 87% nas falas das mulheres e de 85% nas falas dos

homens. Podemos observar, entretanto, que há uma pequena diferença nos resultados

apresentados por Oliveira (2010), pelos quais tanto os homens quanto as mulheres

fazem uso da CV.

O que notamos, mais uma vez, é que a diferença em seus resultados foi muito

pequena. Para os linguistas Naro e Lemle (1976, apud OLIVEIRA, 2010, p.144), a

regra de concordância verbal mostra-se, ainda, categórica nas classes média e alta, mas,

na classe socioeconômica mais baixa, essa regra estaria seguindo um curso evolutivo,

em direção a um sistema sem marcas.

Entre as variáveis linguísticas na pesquisa de Oliveira (2010), as que se

mostraram significantes foram: paralelismo formal, distância e posição do sujeito,

saliência fônica e estrutura do sujeito.

O trabalho de Oliveira (2010), realizado na região Noroeste de São Paulo, foi o

que apresentou um maior percentual de presença da CV.

O trabalho de Quevedo (2006) mostra que os falantes, de forma geral, tendem a

não fazerem uso das regras da CV.

5 METODOLOGIA, LÓCUS DA PESQUISA E RESULTADOS

Este trabalho teve por objetivo investigar a variação em relação à concordância

verbal no município de Janaúba/MG, com os objetivos específicos de: verificar a

importância das variáveis extralinguísticas sexo, idade e escolaridade no fenômeno

variacionista da concordância verbal nas falas do município de Janaúba/MG; e analisar,

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entre os diversos contextos linguísticos, os que favorecem e os que desfavorecem a

variação existente na concordância verbal nas falas dos habitantes de Janaúba/MG.

Para tal, tivemos por base as seguintes hipóteses: no município de Janaúba, as

falas variam no nível sintático conforme a classe social, o sexo e a idade; e os

indivíduos variam suas falas no nível sintático, principalmente no que concerne à

concordância verbal.

Para corroborar ou não essas hipóteses, utilizamo-nos do banco de dados do

projeto A produção e a percepção das vogais médias no Norte de Minas: nível

intradialetal, interdialetal e individual, contendo sete informantes distribuídos

conforme a tabela 1.

Tabela 1 – Variáveis extralinguísticas6

SEXO IDADE ESCOLAR

IDADE

CLASSE

SOCIAL

Feminino

(4)

Masculino

(5)

Até 15 anos

(1)

15 a 30 anos

(2)

30,1 a 50

anos (2)

Acima de 50

anos (2)

1º grau (3)

2º grau (4)

Baixa (3)

Média (4)

Fonte: Tondineli (2010)

Para darmos conta dos fatores linguísticos, analisamos as ocorrências conforme

as variáveis: posição do sujeito em relação ao verbo, pessoa verbal, sujeito pronominal,

número de sílabas do verbo e verbo composto.

6 Na tabela, entre parênteses, encontra-se o número de falantes para cada fator extralinguístico.

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Após a transcrição das entrevistas, selecionamos as ocorrências de concordância

verbal, as quais foram codificadas para a análise do VARBRUL. Dados os resultados

percentuais e probabilísticos, os mesmos foram, então, interpretados qualitativamente,

tendo por base os teóricos e pesquisadores apresentados no primeiro e no segundo

capítulos deste trabalho.

5.1 A CIDADE DE JANAÚBA

Conforme dados disponíveis na Biblioteca da cidade, a cidade de Janaúba surgiu

de uma simples Gameleira que existia à margem esquerda do Gorutuba. Foi fundada em

27 de dezembro de 1948, e o principal objetivo da sua fundação era se emancipar

politicamente do município de Francisco Sá.

O município de Janaúba encontra-se na microrregião do Norte de Minas; é

considerada espaço semiárido e é a segunda maior região do Norte de Minas Gerais.

Essa cidade constituiu-se da mistura do povo Cafuso, ou Caboré, mescla de índios

Tapuias, e também de negros que, fugindo do cativeiro, se estabeleceram no vale do Rio

Gorutuba, tornando-se conhecidos como Gorutubanos.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas)7, atualmente, a

cidade de Janaúba possui uma população com 66.803 habitantes. A maioria dos

habitantes é alfabetizada; e grande parte da população jovem frequenta creches e

escolas. O IDH - Índice de Desenvolvimento Humano - é de 0,696.

5.2 ANÁLISE DE DADOS

As ocorrências encontradas foram codificadas e lançadas no VARBRUL a fim

de que se fosse possível verificar as variáveis que mais favorecem ou desfavorecem o

uso da CV.

7 CENSO 2010.

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Analisamos um total de 3.661 ocorrências de concordância verbal, sendo 3.346

ocorrências de aplicação da regra, o que resultou em 91%; e 315, de ausência da regra

da CV, o que resultou em 8%.

As ocorrências foram analisadas tendo por base os seguintes critérios:

a) Linguísticos: posição do sujeito em relação ao verbo, pessoa verbal, sujeito

pronominal, número de sílabas do verbo e verbo composto. Fatores estes que, conforme

exposto no capítulo anterior, foram favoráveis ao fenômeno em análise nas pesquisas

aqui apresentadas.

b) Extralinguísticos: sexo, escolaridade, faixa etária e classe social.

Gráfico 1: Porcentagem geral da aplicação da CV no município de Janaúba

Fonte: Dados da pesquisa

Os resultados encontrados pelo programa VARBRUL, apresentados no Gráfico

1, mostram que, no município de Janaúba, há, nas falas dos indivíduos, a predominância

do uso da concordância verbal. No trabalho de Oliveira (2010), desenvolvido na cidade

de São José do Rio Preto, também se encontrou o favorecimento da regra da CV; em

seus resultados, 85% das ocorrências encontradas concordam o verbo com o sujeito.

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No nosso trabalho, algumas mudanças foram feitas devido aos nocautes

apresentados pelo programa VARBRUL. Assim, no grupo de fatores pessoa verbal, tu e

vós passaram a ser considerados como ele e eles, respectivamente. No grupo de fatores

sujeito pronominal, o fator sem sujeito passou a ser considerado sujeito oculto.

Os grupos de fatores selecionados pelo programa VARBRUL, em ordem de

significância foram:

1) posição do sujeito em relação ao verbo;

2) pessoa verbal;

3) número de sílabas do verbo;

4) sexo do informante; e

5) faixa etária do informante.

Os grupos de fatores excluídos foram: sujeito pronominal; verbo composto;

distância entre o sujeito e o verbo; escolaridade e classe social.

As tabelas apresentadas a seguir mostram os resultados da aplicação da regra de

concordância verbal de acordo com os grupos de fatores selecionados pelo VARBRUL.

Tabela 2 – Grupo posição do sujeito em relação ao verbo

Fator Número de

ocorrências

Peso relativo

Antes 2169 0,505

Depois 173 0,298

Elíptico 1319 0,520

Fonte: Dados da pesquisa

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No grupo de fatores posição do sujeito em relação ao verbo, selecionamos três

fatores: o sujeito anteposto, o sujeito posposto e o sujeito elíptico. Vale ressaltar que as

orações sem sujeito foram tratadas nesse último caso.

A variável posição do sujeito foi o primeiro grupo selecionado pelo VARBRUL,

portanto, é o grupo de fatores linguísticos que mais favorece a CV. Verificamos que o

sujeito elíptico obteve 1.319 ocorrências, e um peso relativo de 0,520, sendo o que mais

favoreceu a CV. Tal resultado explica-se pelo fato de que o sujeito pronominal não

explícito seria favorecedor da CV.

Sabemos que a língua portuguesa classifica-se como uma língua SVO (sujeito –

verbo – objeto), portanto, é esperado que os falantes concordassem as falas quando o

sujeito estiver anteposto ao verbo. No nosso trabalho, o sujeito anteposto ao verbo

apresentou-se como fator neutro para a CV: foram encontradas 2.169 ocorrências e um

peso relativo de 0,505.

Como esperado, o sujeito posposto ao verbo é desfavorecedor da CV e não

aparece com muita frequência nas falas analisadas; foram encontradas apenas 173

ocorrências, alcançando o peso relativo de 0,298, o que desfavorece a CV.

Assim como no nosso trabalho, Oliveira (2010) mostra que, quando o sujeito é

posposto, os falantes tendem a não fazer o uso da CV, e que os falantes do Mato Grosso

do Sul tendem a concordar o verbo com o sujeito quando vier anteposto. Os exemplos

que seguem mostram como os tipos de sujeitos elencados na tabela 2 aparecem nas falas

dos indivíduos entrevistados.

a) “[...] essis problemas ocorrem mesmu [...]”8 – sujeito anteposto.

b) “[...] não tiveram um pai uma mãe di verdadi [...]”– sujeito

elíptico.

c) “[...] aí vei meu irmão mais minha irmã [...]”– sujeito posposto.

8 Os exemplos dados neste capítulo são extraídos das falas dos moradores de Janaúba/MG, as quais

compõem o corpus da nossa pesquisa.

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Tabela 3 – Grupo pessoa verbal

Fator Número de

ocorrências

Peso relativo

Eu 1206 0.900

Ele 1714 0.512

Nós 111 0.016

Eles 573 0.031

A gente 57 0.483

Fonte: Dados da pesquisa

Pessoa verbal foi o segundo grupo selecionado pelo VARBRUL, portanto, é o

segundo grupo de fatores linguísticos mais importante para a nossa pesquisa.

A tabela 3 mostra que o maior número de ocorrências aconteceu com o sujeito

na terceira pessoa do singular: ele. Foram encontradas 1.714 ocorrências e um peso

relativo de 0.512. O segundo fator que mais aparece nas falas é a primeira pessoa do

singular – eu –, que obteve 1.206 ocorrências, alcançando o maior peso relativo sobre

pessoa verbal: 0.900. Depois, encontramos a segunda pessoa do plural, eles, com 573

ocorrências e um peso relativo de 0,031.

A pessoa verbal nós apareceu 111 vezes, e alcançou o peso relativo de 0.016.

Por último, a pessoa verbal que menos apareceu nas falas: a gente. É necessário frisar

que, ao fazer as rodadas de análise, o programa utilizado descartou as pessoas tu e vós,

uma vez que ambas aparecem com pouca frequência, assim, passamos a utilizá-las

como ele e eles, respectivamente.

O que podemos perceber é que as duas pessoas verbais do singular, eu e ele, são

as que mais favorecem a CV, e que os indivíduos possuem dificuldade para

concordarem o verbo com o sujeito quando este está no plural, uma vez que as pessoas

do plural (nós e eles) apresentaram resultados que desfavorecem o uso da CV. Tal fato

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envereda pelo mesmo caminho de Quevedo (2006), que realizou trabalho sobre a

terceira pessoa do plural e encontrou que a mesma desfavorece o uso da CV.

A seguir, observaremos alguns exemplos das pessoas verbais utilizadas pelos

falantes:

a) “[...] eu procuru u maximu pussivel aquelas amizadis [...]”.

b) “[...] eli mi agradeceu muintu depois [...]”.

c) “[...] igual nós tá falando a maioria não [...]”.

d) “[...] si elis investissi mais nessi tipu di coisa [...]”.

e) “[...] a gente aprendi as coisas desdu cumeçu [...]”.

Tabela 4 – Grupo número de sílabas do verbo

Fator Número de

ocorrências

Peso relativo

Uma sílaba 1239 0,597

Duas sílabas 1084 0,414

Três ou mais

sílabas

1338 0,479

Fonte: Dados da pesquisa

Em relação ao número de sílabas do sujeito, o verbo, quando contém uma única

sílaba, é favorecedor da CV. Os verbos que contêm duas, três ou mais sílabas não

favorecem o uso da CV.

O que podemos perceber é que os indivíduos tendem a concordarem o verbo

quando este for formado pelo número mínimo de sílabas, e que, quanto mais sílabas o

verbo contiver, menor será o uso da CV.

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Este grupo de fatores, selecionado pelo VARBRUL, na cidade de Janaúba, não

foi selecionado em nenhum trabalho citado anteriormente.

Exemplos:

a) “[...] certu casus qui elis não vão [...]” – uma sílaba.

b) “[...] nessi tempu qui eu casei mermu [...]” – duas sílabas.

c) “[...] sobri as religiões qui existem [...]” – três sílabas.

Tabela 5 – Grupo sexo do informante

Fator Número de

ocorrências

Peso relativo

Feminino 1416 0,403

Masculino 2033 0,578

Fontes: Dados da pesquisa

No grupo sexo do informante, o resultado que encontramos é que o indivíduo do

sexo masculino mais favorece a CV, e os falantes do sexo feminino são

desfavorecedores da CV, mesmo que moderadamente.

Os resultados apresentados na tabela 5 divergem dos encontrados em estudos

realizados pelos sociolinguistas, os quais demonstram que são as mulheres que fazem

mais uso da norma padrão.

Divergem também dos resultados apresentados por Oliveira (2010), que destaca

ser o sexo feminino o fator favorecedor da CV, e o sexo masculino, desfavorecedor da

CV. O trabalho de Quevedo (2006) também diverge dos nossos resultados; nesse

trabalho, os informantes do sexo feminino são favorecedores da CV.

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Tabela 6 – Grupo faixa etária do informante

Fator Ocorrências Peso relativo

Até 15 anos 201 0,785

15 a 30 anos 1109 0,604

30,1 a 50 anos 955 0,640

Acima de 50 anos 1396 0,286

Fonte: Dados da pesquisa

Na análise dos dados do grupo de fatores faixa etária do informante,

encontramos o que era esperado: os informantes mais jovens tendem a fazer maior uso

da CV, e os informantes mais velhos usam com menos frequência a concordância entre

o sujeito e o verbo.

Consoante os resultados do nosso trabalho, Oliveira (2010) mostra que o uso da

CV se comportou da mesma forma: os indivíduos de 7 a 25 anos fizeram maior uso, e o

os indivíduos acima de 50 anos tendem a usar menos a CV. Desta ainda Oliveira (2010)

que o fenômeno da concordância se apresenta dessa forma tendo em vista o nível de

escolarização dos falantes, uma vez que os falantes mais novos frequentam a escola

mais que os falantes mais velhos.

Por outro lado, nossos resultados divergem dos de Faria (2008), os quais

mostraram que a CV ocorre com mais frequência nas falas dos indivíduos de meia

idade, e, com menos frequência, nas falas dos indivíduos mais novos.

Conforme os dados apresentados, o que encontramos em Janaúba em relação à

concordância verbal é que, em geral, há um favorecimento da CV nas falas dos

indivíduos. Em relação às variáveis linguísticas, percebemos que a variável posição do

sujeito é a mais significante, sendo que o sujeito elíptico foi o que mais favoreceu a CV,

e o sujeito posposto o que desfavoreceu o uso da regra variável de CV.

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A variável pessoa verbal foi a segunda em ordem de significância, e

encontramos que as pessoas do plural são desfavorecedoras da CV, bem como quando o

sujeito é a palavra a gente. Logo após, a variável que apareceu foi o número de sílabas

do verbo; sendo que apenas os verbos que possuem uma sílaba foram os favorecedores

da CV.

Em seguida, nas variáveis extralinguísticas sexo e idade do informante, vemos

que, os sujeitos masculinos favorecem a CV, assim como os indivíduos com menor

idade.

A seguir, apresentamos as nossas considerações finais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através desta pesquisa, investigamos a variação em relação à concordância

verbal na fala de indivíduos da cidade de Janaúba, localizada no Norte de Minas Gerais.

Além disso, verificamos a importância das variáveis extralinguísticas e os

diversos contextos linguísticos que favorecem e desfavorecem a variação existente na

concordância verbal nas falas dos indivíduos de Janaúba.

Percebemos que a regra da concordância verbal nas falas desses indivíduos está

sujeita à variação, e que há um predomínio do uso da CV, atingindo um percentual de

91%. Além disso, por meio das análises feitas pelo programa VARBRUL, que algumas

variáveis extralinguísticas e linguísticas possuem peso significativo para a variação da

CV, e outras, não. Por exemplo, verificamos que as variáveis escolaridade e classe

social não possuem importância para a análise do fenômeno, e que apenas as variáveis

sexo e idade do informante foram importantes para a nossa pesquisa.

Já em relação às variáveis linguísticas, verificamos que posição do sujeito,

pessoa verbal e número de sílabas do verbo foram as que se mostraram importantes para

a realização da pesquisa; as demais foram descartadas.

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O que podemos constatar é que tanto os fatores linguísticos como

extralinguísticos são importantes para a variação da concordância verbal nas falas dos

moradores de Janaúba. Dessa forma, a nossa hipótese de que as falas variam no nível

sintático, mais especificamente, na concordância verbal, conforme a classe social, o

sexo e a idade, mostra-se verdadeira, mesmo que o VARBRUL tenha descartado classe

social.

Verificamos que os indivíduos tendem a variar a sua fala conforme o sexo e

idade que possuem. Além disso, percebemos que os indivíduos do sexo masculino e os

indivíduos com menor idade são os favorecedores da CV.

Em relação aos fatores linguísticos, pelos dados referentes à Janaúba, vemos que

a concordância verbal é favorecida quando o sujeito for elíptico, quando o verbo estiver

na primeira e na terceira pessoas do singular, e quando o verbo possuir o menor número

de sílabas.

Enfim, podemos perceber que a variação das falas dos indivíduos em relação à

concordância verbal não é um evento aleatório, mas determinada através de fatores

linguísticos e extralinguísticos. Devido à complexidade do assunto, sabemos que é

necessário que mais pesquisas sejam feitas nessa comunidade para que se possa

observar o fenômeno da concordância verbal com mais exatidão.

REFERÊNCIAS

BECHARA, Evanildo Bechara. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. São Paulo:

Companhia Editora Nacional, 2001.

_________________. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. rev. amp. Rio de

Janeiro: Lucerna, 2004.

BRAGA, Maria Luiza; MOLLICA, Maria Cecília (Orgs.). Introdução à

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Recebido Para Publicação em 29 de outubro de 2014.

Aprovado Para Publicação em 24 de novembro de 2014.