A Utilizacao Das Fontes Na Pesquisa Historica

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A UTILIZAÇÃO DAS FONTES NA PESQUISA HISTÓRICA: PROBLEMAS E METODOLOGIAS* Thalita da Silva Gonçalves e Lays Matias Mazoti Mas afinal, qual o traço comum que permite chamar de fonte para o conhecimento histórico coisas tão díspares como uma estátua grega do século V A.c, uma máscara maia, uma carta do marques de pombal, um concerto de Mozart, uma película cinematográfica, um artigo de jornal sobre os perigos do desmatamento, uma entrevista gravada de um trabalhador em greve, uma fotografia e uma telenovela? A resposta está no interesse no historiador em o inquirir o que essas coisas revelam sobre as sociedades às quais elas pertencem e na criação de uma narrativa explicativa sobre o resultado de suas análises. Por essa razão, denominamos de história uma série de acontecimentos e de historiografia a narração desses acontecimentos (PINSKY, 2005, p. 10). INTRODUÇÃO: A AMPLIAÇÃO DA NOÇÃO DE FONTE O movimento da Escola dos Annales propiciou a ampliação da noção de fonte, bem como a evolução da pesquisa histórica. Para tanto, nota-se que foi preciso mudanças metodológicas significativas e um certo aprofundamento teórico, uma vez que se pôde observar que tudo era passível de se tornar fato histórico, ilustrando a dinamicidade da história ao entrar em contato com outras disciplinas. Este artigo busca demonstrar, brevemente, como os historiadores trabalham com as fontes, assim como explicitar quais são os meios que eles utilizam para abordar o uso das mesmas, além de propiciar uma análise acerca dos métodos e as técnicas empregadas nas fontes, essas que são muito variadas. Além disso, o presente trabalho pretende demonstrar o ponto de vista dos filósofos sobre as fontes, visando uma breve abordagem teórica e metodológica acerca de todo o assunto. AS FONTES HISTÓRICAS E SEU TRATAMENTO A variedade de fontes é enorme e as suas possibilidades de pesquisas são amplas, revelando-se como parte essencial no desenvolvimento de um projeto, uma vez que sem a investigação das fontes fica inviável para um historiador conduzir seu trabalho. Para tanto, as fontes são documentos que falam para o historiador quais são os meios a serem seguidos para um melhor desenvolvimento de uma pesquisa, desde que o pesquisador saiba utilizá-las, ou seja, indagá-las corretamente. São vários os tipos de fontes que podem ser usados para o desenvolvimento de uma pesquisa, tais como: fontes documentais, arqueológicas, impressas, orais, biográficas e audiovisuais, dependendo do conteúdo do que será pesquisado. Mas a problemática que envolve a questão das fontes refere-se ao seu tratamento, assim como a necessidade de se empregar as técnicas para o uso das mesmas. Para responder a algumas indagações como essas, utilizaremos como aporte teórico de nosso estudo Certeau (1979), já que

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A UTILIZAÇÃO DAS FONTES NA PESQUISA HISTÓRICA: PROBLEMAS E METODOLOGIAS*

Thalita da Silva Gonçalves e Lays Matias Mazoti

Mas afinal, qual o traço comum que permite chamar de fonte para o conhecimento histórico coisas tão díspares como uma estátua grega do século V A.c, uma máscara maia, uma carta do marques de pombal, um concerto de Mozart, uma película cinematográfica, um artigo de jornal sobre os perigos do desmatamento, uma entrevista gravada de um trabalhador em greve, uma fotografia e uma telenovela? A resposta está no interesse no historiador em o inquirir o que essas coisas revelam sobre as sociedades às quais elas pertencem e na criação de uma narrativa explicativa sobre o resultado de suas análises. Por essa razão, denominamos de história uma série de acontecimentos e de historiografia a narração desses acontecimentos (PINSKY, 2005, p. 10).

INTRODUÇÃO: A AMPLIAÇÃO DA NOÇÃO DE FONTE

O movimento da Escola dos Annales propiciou a ampliação da noção de fonte, bem como

a evolução da pesquisa histórica. Para tanto, nota-se que foi preciso mudanças metodológicas

significativas e um certo aprofundamento teórico, uma vez que se pôde observar que tudo era

passível de se tornar fato histórico, ilustrando a dinamicidade da história ao entrar em contato

com outras disciplinas.

Este artigo busca demonstrar, brevemente, como os historiadores trabalham com as fontes,

assim como explicitar quais são os meios que eles utilizam para abordar o uso das mesmas, além

de propiciar uma análise acerca dos métodos e as técnicas empregadas nas fontes, essas que são

muito variadas. Além disso, o presente trabalho pretende demonstrar o ponto de vista dos

filósofos sobre as fontes, visando uma breve abordagem teórica e metodológica acerca de todo o

assunto.

AS FONTES HISTÓRICAS E SEU TRATAMENTO A variedade de fontes é enorme e as suas possibilidades de pesquisas são amplas,

revelando-se como parte essencial no desenvolvimento de um projeto, uma vez que sem a

investigação das fontes fica inviável para um historiador conduzir seu trabalho. Para tanto, as

fontes são documentos que falam para o historiador quais são os meios a serem seguidos para um

melhor desenvolvimento de uma pesquisa, desde que o pesquisador saiba utilizá-las, ou seja,

indagá-las corretamente.

São vários os tipos de fontes que podem ser usados para o desenvolvimento de uma

pesquisa, tais como: fontes documentais, arqueológicas, impressas, orais, biográficas e

audiovisuais, dependendo do conteúdo do que será pesquisado.

Mas a problemática que envolve a questão das fontes refere-se ao seu tratamento, assim

como a necessidade de se empregar as técnicas para o uso das mesmas. Para responder a algumas

indagações como essas, utilizaremos como aporte teórico de nosso estudo Certeau (1979), já que

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ele aponta a necessidade em criar uma linguagem simplificada para facilitar a compreensão da

História, sempre, é claro, por meio da utilização das fontes.

Não é somente fazer falar esses imensos setores adormecidos da documentação: e dar a voz a um silêncio, ou sua efetividade a um possível. É transformar alguma coisa que possua seu estatuto e seu papel numa outra coisa que funcione de forma diferente (CERTEAU, 1979, p. 32).

Em relação aos dados contidos nas fontes, esses não podem ser simplesmente aceitos, eles

têm que ser construídos para que seu destino tenha um reemprego coerente, indagando-os e

problematizando-os corretamente, por isso a necessidade de se empregar técnicas

“transformadoras” para a construção das fontes.

Um dos métodos usados é o da pesquisa em arquivo, principalmente para os jovens que

estão dando início a uma pesquisa. Este método auxilia o aluno na tomada de decisões e no

entendimento do processo de construção do saber histórico.

A pesquisa em arquivo auxilia no conhecimento dos métodos de pesquisa, e também nas

formas de se trabalhar com arquivos, nos meios de se mexer com documento e, por fim, como

entendê-los. “Em história, tudo começa com o gesto de selecionar, reunir, e, dessa forma,

transformar em ‘documentos’ determinados objetos distribuídos de outra forma. Essa repartição

cultural é o primeiro trabalho” (CERTEAU, 1979, p.30). Ainda segundo Certeau (1979), o grande

objetivo de um historiador é trabalhar sobre um material – as fontes – para que ele acabe se

transformando em história.

Para um historiador conseguir entender e transformar todo seu material em história é muito

importante ter o conhecimento do que ele vai se referir. Dessa forma, é relevante que um

historiador saiba as maneiras de conhecer o que vai pesquisar, o objetivo das fontes e

proporcionar diferentes maneiras de se abordar o assunto.

O interesse cientifico desse trabalho [a pesquisa] prende-se à relação que estabelecem com as totalidades apresentadas ou supostas – ‘uma coerência no espaço’, ‘uma permanência do tempo’ – e aos corretivos que permitem que lhe sejam feito. [...] A pesquisa dá a si objeto que tem a forma de sua prática: fornecem-lhe o meio de fazer aparecer as diferenças relativas ás continuidades ou as unidades de onde parte a análise (CERTEAU, 1979, p.35-6).

A VISÃO DOS FILÓSOFOS Além de Certeau, Thompson (1981) trata da relação ou visão dos filósofos com a história,

uma vez que em sua obra A miséria da teoria ou um planetário de erros o autor estabelece uma

crítica aos filósofos, apontando que eles possuem a noção teórica acerca da história, mas falham

na noção sobre as “fontes” históricas, as quais Thompson aborda como “evidências” históricas.

Os filósofos tratam das fontes como algo interessante que fora registrado ou algo que foi

produzido por outro não dado. Dessa forma, Thompson segue exemplificando que tais dados

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sobreviveram sobre alguma intenção em transformá-los em “evidências” históricas, mas que os

historiadores tratam das evidências de acordo com o seu interesse, de acordo com o que

procuram. “[...] Essas fontes são interrogadas pelos historiadores repetidamente, não só em busca

de novas evidências como também num diálogo no qual propõe novas questões” (THOMPSON,

1981, p.37).

Além disso, o autor aponta que a fonte não dirá por si mesma o que o historiador procura,

mas responderão de acordo com a metodologia em que serão tratadas, as fazendo mais no âmbito

de metodologia que da teoria. “A evidência histórica existe, em sua forma primária, não para

revelar seu próprio significado, mas para ser interrogada por mentes treinadas numa disciplina de

desconfiança atenta” (THOMPSON, 1981, p.38). Aqui, Thompson se refere ao peso ideológico que

as fontes podem carregar, já que os fatos, por si só, não se apresentam em sua neutralidade.

Seguindo tais preceitos, Thompson aponta que a História poderá ser contada “tal como

realmente aconteceu”, mas nunca poderá ser plenamente conhecida, por mais claro que seja a

fonte que o pesquisador optar por usar em suas pesquisas, já que o material coletado pode

apresentar lacunas.

Por outro lado, Ginzburg (1999) assinala que a constituição epistemológica da história

fundamenta-se em um paradigma indiciário ou semiótico, este em que por meio de sinais ou

indícios – as evidências históricas – se faz possível a (re)construção de trocas e das

transformações culturais de uma determinada sociedade, ou seja, para ele, deve se dar

importância aquilo que, prematuramente, aparece de forma irrelevante, sem perder de vista a

idéia de totalidade de um processo histórico.

OS DOCUMENTOS OFICIAIS

Neste contexto, abordaremos a questão que envolve a utilização de documentos oficiais,

por meio do historiador Marc Bloch, já que em sua obra A apologia da historia ou ofício do

historiador, percebemos os primeiros sinais da tentativa de transformar a historiografia

tradicional – a história exclusivamente política e militar – por meio da escola dos Annales,

propiciando uma nova abordagem histórica.

Bloch e Febvre tornam-se editores da revista dos Annales, publicação essa que daria origem a todo um movimento de renovação na historiografia francesa e que está na base do que hoje chamamos de “Nova História” [...] combatiam uma história narrativa e do acontecimento, exaltavam uma historiografia do problema, a importância de uma produção voltada a todas atividades humanas e não só á dimensão política e, por fim, a necessária colaboração interdisciplinar (BLOCH apud SCHWARCZ, 2001, p.10).

Bloch critica a utilização dos documentos oficiais, esses que deixam a impressão de que

essas fontes expressam a verdade por si só. Para tanto, o autor trata de reflexões sobre o método,

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objeto e documentação histórica, defendendo a história total e inaugurando a noção de história-

problema.

Segundo Bloch, mesmo o mais claro complacente dos documentos não fala senão quando

se sabe interrogá-lo. “[...] A consciência do fato histórico não é um fato ‘positivo’, mas o produto

de uma construção ativa de sua parte para transformar a fonte em documentos e, em seguida,

constituir esses documentos, esses fatos históricos, em problema” (BLOCH, 2001, p.19).

Sobre este ponto, Duby aponta em sua experiência de pesquisa que a verdade perseguida

pelo historiador nas fontes, apresenta-se de forma errônea segundo os próprios documentos,

formando uma barreira entre o pesquisador e o próprio material utilizado, ou seja, os documentos

oficiais, por vezes, apresentam um peso ideológico de seu redator, que faz transparecer no

trabalho do historiador, dificultando, por sua vez, a compreensão dos fatos.

Com a Nova História tornou-se possível indagar um testemunho a fim de contestar os

documentos oficiais, de acordo com as novas metodologias utilizadas para se trabalhar as fontes,

ampliando o horizonte de como ensinar e aprender história.

E aliás, mal havia eu empreendido o trabalho e já avaliava a distância existente entre a verdade perseguida pelo historiador, sempre esquiva, e aquilo que lhe oferecem as testemunhas que ele consegue interrogar. Dei-me conta de que entre esta verdade e mim se interpunha uma tela, formada pelas próprias fontes as quais extraía minha informação, por mais límpidas e atentamente filtradas que fossem. Os escritos que eu começava a explorar, aquela massa de cartas, notícias, peças de processos, inventários, estão entre os documentos menos suspeitos, mais neutros e factuais. Raramente são poluídos pela fantasia de seu redator, por sua paixão ou sua vontade de convencer. São ferramentas, das quais têm a sobriedade e a franqueza (DUBY, 1993, p. 34-5).

Nessa perspectiva, podemos concluir que os documentos têm o objetivo de esclarecer o

que se passou em certa época, mas a compreensão das fontes não pode ser feita levianamente,

sem que os documentos sejam estudados e entendidos, a fim de que a história não acabe sendo

distorcida e, como conseqüência, fragmentada.

Duby aponta a dificuldade em se tratar com as fontes que não possuíam a credibilidade

‘histórica’, ou seja, apresentavam-se em sua escassez, deixando lacunas entre as mesmas, mas

que aos poucos, com a habilidade dos métodos utilizados por este autor, as lacunas foram

vagarosamente preenchidas.

[...] mal dá para reconstituir genealogias e fortunas. Escassos sinais de vida. Mas de repente, ao aproximar-se do ano mil, ela se manifesta. (...) Nesses escritos, revelam-se comportamentos e relações sociais a respeito dos quais as frias fórmulas de outrora nada mostravam, e isto durante mais de um século. Mais adiante, a fonte vai se esgotando lentamente. A partir de 1120, os arquivistas tornam-se menos cuidadosos, escasseiam os documentos. No final do século XII, começam a aumentar em número, mas novamente se ressecam: o Estado, o direito público, os aparelhos de justiça foram reconstruídos, formaram-se equipes de especialistas, e estes profissionais, como seus antecessores da alta Idade

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Média, trabalham com formulários; tratarão de alongar o quanto podem os atos que redigem, pois são pagos por linha, e esses atos são mais cuidadosamente conservados; é assim que a escrita ganha amplitude, mas ao mesmo tempo se enrijece; a substância que pode ser útil ao historiador diminui e acaba por reduzir–se, como no século X, ao que vem a ser inscrito nos espaços vazios dos formulários (DUBY, 1993, p. 24-5).

Foram as características da documentação, tais como Duby encontrava nos documentos,

que propuseram os limites dos mesmos. “Ao mesmo tempo, eu reconhecia qual espaço melhor se

prestaria à observação, aquele no qual as fontes se mostrariam particularmente densas. Era um

território bastante restrito” (DUBY,1993, p.25) .

A CRÍTICA DOCUMENTAL

O trabalho dos historiadores, bem como a importância desses para a construção da história,

nunca poderá se limitar pelas dificuldades que as fontes podem apresentar, por isso o trabalho do

historiador é baseado em pesquisas densas em que o resultado final apresenta-se na compreensão

de como se passou a história em certa época ou ocasião.

Segundo Certeau (1979), um historiador deve estar atento para descobrir a heterogeneidade

ou a discordância das fontes, a fim de explorá-las, estabelecendo um diálogo entre elas. Para

isso, um dos pontos importantes que tem de ser usado no desenvolver do trabalho com as fontes

é a análise dos documentos, procurando sempre manter uma ligação de um documento com

outro, desenvolvendo assim um contato com o historiador e suas pesquisas e estabelecendo um

diálogo com as fontes históricas.

Um método que é preciso ser adotado pelo historiador com o tratamento das fontes envolve

o desenvolvimento de uma crítica interna e externa sobre as mesmas. Com isso, o pesquisador

desenvolve o interesse de conhecer os documentos, estudando os originais com cuidado para

avaliar ‘a história’ contida nos mesmos.

Dessa forma, um historiador tem que fazer trabalhos minuciosos, quando seu estudo se

baseia na reconstrução de documentos muito antigos, uma vez que a apreensão dos documentos

não é fácil. O trabalho terá que ser extremamente minucioso para que não aconteça uma história

que foi reconstruída sem atenção para com as fontes, ou seja, ter o cuidado de não fragmentar a

análise histórica. Pois, tudo tem uma história como escreveu certa ocasião o cientista J.B.S.

Haldane (BURKE, 1992), ou seja, tudo tem um passado que pode, em princípio, ser reconstruído e

relacionado ao restante de sua história, partindo de indagações do presente.

O trabalho do historiador é baseado no estudo de fatos que ocorreram no passado próximo

ou distante, tendo a grande preocupação com os mesmos. As dificuldades encontradas pelos

historiadores são com as maneiras de se identificar as fontes históricas – as metodologias – pois,

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tudo tem um passado, por isso o receio parte de como identificar este passado, sem, no entanto,

fundamentar-se somente nos documentos oficiais.

A história deveria ser baseada em documentos. Uma das grandes contribuições de Ranke foi sua exposição das limitações das fontes narrativas – vamos chamá-las de crônicas – e sua ênfase na necessidade de basear a história escrita em registros oficiais, emanados do governo e preservados em arquivos. Os registros oficiais em geral expressam o ponto de vista oficial. Para reconstruir as atitudes dos hereges e dos rebeldes, tais registros necessitam ser suplementados por outros tipos de fontes. (SHARPE, 1992, p.13).

Dessa forma, podemos perceber o caráter de subjetividade da história, sendo que o trabalho

do historiador fundamenta-se em apresentar aos leitores não os fatos como realmente

aconteceram na história. Por mais que lutemos contra o preconceito nos dias atuais, não se pode

deixar de olhar o ponto de vista de uma época, pois o olhar que eles tinham na sua época não

pode ser esquecido, ou seja, devemos partir de indagações do presente, mas com um olhar no

passado, mesmo que este olhar não seja idêntico aos olhares dos personagens da história

‘verdadeira’.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: RESISTÊNCIAS ÀS NOVAS FONTES (AS FONTES ORAIS)

Pretendemos, com este trabalho, estudar as metodologias empregadas nas fontes históricas,

bem como apresentar algumas dificuldades encontradas pelos historiadores ao se tratar com a

fonte. Percebemos que após a introdução de novas abordagens, métodos e objetos com o

movimento dos Annales, houve uma expansão na concepção de fonte e em seu modo de

tratamento.

Nem todos os historiadores adotaram as inovações propostas pela Nova História com todo

ardor, pelo contrário, vemos muitos pesquisadores receosos quanto ao emprego de novas

metodologias. Como exemplo disso, temos as fontes orais, já que este tipo de documento não

teve muita credibilidade no início, pois muitos historiadores desconfiavam da segurança das

fontes orais na reconstrução do passado. “A fragilidade implícita das fontes orais é considerado

universal é irreparável; por isso, para as sociedades sem registros escritos, o alcance

convencional do discernimento é desanimador” (PRINS, 1993, p. 163).

A história baseada exclusivamente em fontes não documentadas – as fontes orais – não

teve, pelo olhar da historiografia tradicional, a mesma credibilidade dos documentos escritos,

pois, segundo alguns historiadores, esta podia apresentar uma história imprecisa e menos

satisfatória.

Apesar disso, vemos constantemente a adesão de muitos historiadores às fontes orais,

possibilitando a compreensão dos fatos por meio do ponto de vista do sujeito, ou seja, utilizando-

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se da análise da memória coletiva e/ou individual. Paul Thompson, segundo Prins, é um dos que

defende a importância e a confiança que as fontes orais podem trazer para história.

A oposição á evidência oral é muito mais fundamentada no sentido do que no princípio. A geração mais velha dos historiadores que ocupam as cátedras e detém as rédeas é instintivamente apreensiva em relação ao advento de um novo método. Isso implica que eles não mais comandem todas as técnicas de suas profissão. Daí os comentários depreciativos sobre os jovens que percorrem as ruas com gravadores e fitas. (PRINS apud THOMPSON, 1978, p. 63).

Acredita-se que haja uma razão mais profunda para a renegação das fontes orais, pois

numa sociedade alfabetizada, inconscientemente é comum que desprezemos a palavra falada, já

que é muito apreciada a escrita, havendo o orgulho de se escrever, e por isso o respeito pela

palavra escrita. Entretanto, cabe pensar no número de analfabetos e de sociedades em que a

escrita não é tão valorizada quanto a palavra falada, justificando a tradição dos mais velhos em

contar lendas e histórias para os mais novos, transmitindo um conhecimento por meio da fala,

valorizando a palavra falada.

Dessa forma, as fontes orais mesmo que com toda a descrebilidade encarada no início de

seu emprego, evidenciam-se como um meio de informação que, sabendo usar corretamente, pode

ser muito útil no desenvolver de pesquisas, em locais que a única maneira de coletar dados é por

meio de um gravador. Por isso, concluímos que esse trabalho é em defesa das fontes, já que

qualquer que sejam as fontes históricas, essas são a forma mais eficaz para que um historiador ás

andamento às pesquisas, estabelecendo uma função de comunicação com o passado, esse

representado pelos documentos em sua diversidade, e o presente, a exemplo do uso da história

oral, ilustrado por meio do próprio historiador e suas indagações pertinentes à pesquisa.

* Trabalho apresentado na X Semana de História: História em Movimento: Caminhos, culturas e fronteiras. Campo Grande, MS: UFMS. 2007. Pp. 236-245

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLOCH, Marc. Apologia da História ou o Ofício do Historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. BURKE, Peter. Abertura: a nova história, seu passado e seu futuro. In: BURKE, Peter (org). A escrita da

História: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992. CERTEAU, Michel de. A operação historiográfica. In: História: novos problemas. LE GOFF, J & NORA, P.

(Orgs.). 2º ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979. DUBY, Georges. A História Continua. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1993. GINZBURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas, sinais. São Paulo:

Companhia das Letras, 1999, p. 143 - 179. PINSKY, Carla B. (org.). Fontes Históricas. São Paulo: Contexto, 2005. PRINS, G. História oral. In: BURKE, Peter (org). A escrita da História: novas perspectivas. São Paulo:

UNESP, 1992. SHARPE, Jim. A história vista de baixo. In: BURKE, Peter (org). A escrita da História: novas

perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992. THOMPSON, E. P. A miséria da teoria ou um planetário de erros. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.