A urdidura da tramA
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Victor Del Franco
urdidura da tramA A
Copyright 2011 - Victor Del Franco
Este livro, integral ou em partes,pode ser usado para fins não comerciais
desde que sejam citados o nome do autor,o nome do livro e o link correspondente.
p
Capa, projeto gráfico e revisão:Victor Del Franco
a1 edição: Giordano, 1998a2 edição: Edição do Autor, 2011
2011Publicado na Internet
Franco, Victor Del, 1969 -
A urdidura da tramA / Victor Del Franco. -a2 edição - São Paulo: Edição do autor, 2011.
1. Poesia brasileira I. Título.
Victor Del Franco
urdidura da tramA A
SUMÁRIO
ALPHAOrigem...............................................................................11
O MEIO DIVERSOTecendo o instrumento de trabalho..............................15Orvalho .............................................................................16Passageiro ..........................................................................17Fênix ..................................................................................18Black hole: star .................................................................19Muito além da estação.....................................................20O silêncio essencial ..........................................................21Onírico...............................................................................27Extremos ...........................................................................28Haikais ...............................................................................29Ser urbano.........................................................................30Fúria metropolitana .........................................................31Mosaico pós-moderno ....................................................32Televisão............................................................................33Terra de gigantes ..............................................................34Sociedade da informação................................................35High tech...........................................................................36O mito da caverna............................................................37Urbanoides........................................................................38O ébrio e a noite insana ..................................................41Heráclito na Paulista ........................................................45Desordem..........................................................................46Palavra................................................................................47Marisa.................................................................................48
Felina..................................................................................Leda....................................................................................50Fissão .................................................................................51Vago ...................................................................................52Reflexões ...........................................................................53Lapso..................................................................................54A árvore do Bem e do Mal .............................................55A urdidura da trama.........................................................56Substância..........................................................................57Núcleo ...............................................................................58Milky way...........................................................................59
VALORESInversão de valores ..........................................................63Conflito de valores...........................................................64Valores em questão..........................................................65
OMEGAViagem...............................................................................69
49
urdidura da tramA A
Quem sabe de onde tudo surgiu?(...)Apenas Aquele que preside no mais elevado dos céus sabe.Apenas Ele sabe, ou talvez nem Ele saiba!
Rig Veda, X
ALPHA
11
ORIGEM
Mitos de eras e origens que envolvem o mundo,quem sabe algum demiurgo aqui venha ordená-los:pela dança de Ishtar o caos é derrotadoe os poderes de Indra subjugam demônios.
Em outro plano as forças do universo atuam,quem sabe alguma ciência possa unificá-las:na dança das partículas a luz é váriae as ondas que nos chegam escondem mistérios.
Em toda esta fantástica diversidadena qual estamos desde sempre mergulhadoshá alguém que diga de onde vem? como surgiu?
Pois no correr dos anos as águas prossegueme o ciclo eternamente flui e recomeçae pelo céu a vida passa em brancos versos.
O MEIO DIVERSO
15
TECENDO O INSTRUMENTO DE TRABALHO
Observandoo eterno ir e vir do alvorecer e do alvoroço das ondasum pescador, de cócoras em alva areia,tece um meticuloso trabalho artesanal.
Sereno e lentoo azul cristalinoinvade os olhos e ele avista no horizonteum pequeno barco.
O canto do mar encantae ocasionais tormentasnão lhe calam o canto.
De cócoras em alva areia,um pescador de sonhos tece com vigoro seu instrumento de trabalhopara lançá-lo ao mar.
16
ORVALHO
Flui transparente um ciclo pequeninoum ribeirinho sob o sol, nascente.Flui repleto o cristal nessa correnteonde o giro constante dos moinhos
conduz a variedade dos destinos:um dia mais feliz outro indecente,um amor já perdido, um corpo ausente,um encanto fugaz e um desatino.
A vida flui num rito de passagem,numa condensação clara e sonora de todas substâncias que reagem
na alquimia precisa dessa aurora.Suspenso, sigo assim minha viagem:o orvalho cai – sereno – e evapora.
17
PASSAGEIRO
O tempo não passa,passo pelo tempoque me ultrapassa.
18
FÊNIX
avea minha alma inflam l
19
BLACK HOLE: STAR
Se há no céu um corpoonde a luz é concebida,necessário faz-se um outroque lhe inspire a vida.
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MUITO ALÉM DA ESTAÇÃO
Ínfimo pontoem queda constante na vastidãode outros pontos.
silêncio
Corpos interioresnavegam juntos e solitários na paz da Mir.
silêncio
Imagino as questõesque são formuladas no cernedestes corpos.
silêncioo Absoluto silêncio
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O SILÊNCIO ESSENCIAL
Há metafísica bastante em não pensar em nada.Alberto Caeiro
corpos que se envolvemna penumbra das árvores mergulham nas sombrase um véuquase que palpáveldivide em doiso espaço que nos cerca
as mãos dormentes em vãoprocuram confirmaras impressõesdo tempo intangível
sono e vigília,quais suas fronteiras?
sopra o vento suavee com as folhas soltas brinca
22
repousa na memóriaa vaga lembrança de um rio infinito e perfeitoque nunca existiu,talvez seja um pequeno indícioda existência de Deus
deve haver algum sentido em tudo isso,mas também, se não houvernão fará diferença
uma estrela no firmamentojamais questiona a própria sorte, ela simplesmente é ela simplesmente está ela simplesmente vai
no despropósito da vidaainda há lugar para a fé?
sopra o vento serenoe com as folhas soltas brinca
23
a todo instante,nuvens deslizam na imensidãoenquanto a terra voraz conspirae escava o destinosob nossos pés
o absurdo vazio das horas segue impassívele com ele, ao mesmo tempo,me aterrorizo e me conformo
resignação:seria esta a grande bênção dos Céus?
sopra o vento incertoe com as folhas soltas branco
24
25
26
a crença em algo que transcendepossivelmente já inclui em sialguma forma de salvação
mas o melhor de tudoé não pensar em nada nem especular sobre o que poderia serjá que entre um lado e outroa lápide de mármorenem ao menos suspeitao que se encerra em sua alvura
sopra o vento esparsoe com as folhas soltas ~ ~ ~ ~ ~ ~
no silêncio essencial do corpoo cemitério das almasguarda o seu mistério
27
ONÍRICO
Deus sonhou o Paraíso,acordou no pesadelo.
28
EXTREMOS
Entre a estrelae oestanho:estranho.
29
HAIKAIS
Castelo de areiana beiradinha do mar,efêmero reino.
Contra a correntezasegue sempre a piracema
no fluxo da vida.
O pássaro azulem plena gravitação,
um arco na brisa.
Delicada teiano canto escuro da casa,
oculta artimanha.
A lua despertaenquanto o sol adormecenum mesmo prelúdio.
O tempo interferena astronomia dos frutos:
gravidade e queda.
30
SER URBANO
ser humano ser urbanohumano urbano desumanourbano ser humano deshumano desurbano ser
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FÚRIA METROPOLITANA
A metrópole metropelou eme atropelou.
32
MOSAICO PÓS-MODERNO
imagensdigitaispassampelos olhos : [ ?? ]
mosaico desconexo : [ !! ]
estagnadodiante da tela : [ ?! ]
perplexo
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TELEVISÃO
[teleinformação|telecomunicação|telenotícia|telejornal teledrama|telenovela|teleteatro|telecinema|telentrevista t e l espor te|te lehumor|te lemus ica l| te le repor tagem teledocumentário|telecultura|teleducação|teleprofissão teleprofissional|teleaudiência|teleibope|telecampanha telecomercial|telefestival|telealienação|teletransmissão telesatélite|teleantena|telerecepção|telecabo|teleassinatura telelinguagem|telepadrão|telecrítica|telecensura|telediscurso telepoder|teleideias|teleideologia|telespectador|telemassificado]
34
TERRA DE GIGANTES
doses de aventuras enlatadasentorpeciam tardes adolescentes
sol e chuva chuva e sol entre primaveras
e hoje nas salas de trabalhoos dias se repetemcomo velhos seriados
agora a angústia é outra
35
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
informaçãoinformaçãoinformação
informaçãoin açãoinformação for açãoinformação
forma ação
informaçãoinformaçãoinformação
a quantidadeem detrimentoda qualidade
desinformaçãodesinformaçãodesinformação
36
HIGH TECH
modernaMente obsoleta
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O MITO DA CAVERNA
vivas imagensque iludemescorrem de umcaduco televisorno escuro profundodessa mórbida cavernaem que me confundo.
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URBANOIDES
branca manhã de outononessas vias escurasnesse mínimo asfaltomil artérias confusasque difusas se cruzamno pulso da cidaderumo incerto de muitosdescaminhos urbanosque em trancos se misturame assim também se aturamem meio à solidãocego pano de fundoda agitação insanaem troca de migalhasquem sabe algum negóciodas arábias? da china?quem sabe algum sucessoum novo emprego enfimde rotinas mal pagasonde as horas não passam
homem cartão de pontohomem cartão de créditohomem cartão de débitohomem: qual sua senha?
carros, motos e ônibusse espremem e se apertamnum trânsito caóticoonde a lei dominanteexclui todo pedestremultidões que devoramas disformes calçadas
39
correndo sempre atrásdas urgências neuróticascomuns ao dia a diahisteria dos chefesque com frequência estãotirando o pai da forca
homem cartão de débitohomem cartão de pontohomem cartão de créditohomem: qual sua sanha?
arranha-céus dementescomo hastes concretasprojetam-se no azulalmejando alcançara leveza das nuvensmilhares de escritórioscom seus ritmos frenéticoselétricos ruídosnuma vil sinfoniade aparelhos nervosose ociosos arquivossempre fora de ordempara alguém arrumarmilhões de documentose outros tantos contratospapéis indispensáveisao perfeito andamentodo organismo patrãosanguinários vampiroshipócritas e sujosnum feroz intestinoque não pode parar
40
homem cartão de créditohomem cartão de débitohomem cartão de pontohomem: qual sua sina?
nesse mínimo asfaltoeu subtraio de mima paisagem urbanae já minha alma levemuito leve nas nuvens
41
O ÉBRIO E A NOITE INSANA
possui a profundapercepção das estrelas
e das cadentes
o sexto sentidode cada obscuro absurdoem queda soturnanum berço de angústias,leito suave de suicidas
questões espiraisespalhadas pelo chãoservem apenas de transtornopara aqueles que esperampor alguma resposta
justos e devassospagam pelos mesmos crimes
santos e iníquosacendem velas num mesmo altar
anjos e demôniosdançam ao redor da mesma fogueira
um novelo de contradiçõesse desfazendo em fiapos prateadosé o que fica na lembrançae assim mesmoa cidade segue em frentesem nenhum perdão esperadoe a noite desabacomo se fosse espesso betume
42
e em cada ébrio sombrioo passo em falsode seu próprio percurso
mesmo áspero asfaltoem seus olhosdeslizam pássaros
mesmo duro concretoem seus ombrosrepousam canções
mesmo estilhaços de vidroem seu peitobrilham estrelas
mesmo metal retorcidoem sua almaflutuam versos
nos becos da madrugadanuvens vagando sem rumocomo dragões ancestraisde uma China imperialdevoram a Luapara depois defecá-laainda mais lúcida
e lúdica
esfera além da razão,além da lógica exatade todo conhecimento cabível
esfera além da física,além de toda explicação científicaque jamais nos dará paz de espírito
43
aleluia! aleluia!salve a Lua! salve a Lua!
aleluia! aleluia!luz de toda loucura!
além Lua! além Lua!não há nada para ser explicado!
na surdina das alcovasseitas e mais seitas são formadase proliferam pelo mundo,quem sabe algum avisonuma cauda de cometanos traga a Revelação, afinalos Portões do Paraísojá podem ser abertos
via internete exorcismos nos são transmitidosdiariamente pela televisão
tudo na mais perfeita normalidade
fome, guerras e sequestrosdoenças, terrorismos e torturasé o que fica por herançae assim mesmoa vida segue em frentesem nenhuma redenção alcançadae o coração resistecomo se estivesse anestesiadoe em cada corpo estranhoa órbita insólitade seu inevitável colapso
44
mesmo impuro breuem seus olhosnascem estrelas
mesmo triste infortúnioem seus ombrosdescansam pássaros
mesmo amplo desertoem seu peitoflorescem versos
mesmo amargo Estigeem sua almanavegam canções
do alto de um edifícioo céu embriagadorodopia até perder o equilíbrioe assim mesmosem mesmo nada
mesmo tudo
45
HERÁCLITO NA PAULISTA
Ninguém atravessaa mesma avenida duas vezes.
46
DESORDEM
Tenho que arrumar a camatenho que pôr os livros na estantetenho que colocar os discos em sequência.Tudo deve estar em seu devido lugar.
Girando em minha órbitavejo um pequeno fractal.
Além disso, tenho o Nada e nada tenho a fazer agora senão contemplar o Caos e os pássaros no azul.
47
PALAVRA
debate-se em mim a palavra
debate-se emtoda sua suavidadetoda sua gravidadetoda sua sonoridade
debate-se em mimcom todos os seus significados,toda sua vasta possibilidade
no silêncio dos diasdebate-se em mim a vida,
a vidaem toda sua palavridade
48
MARISA
A noite lenta e serenatransborda no azule repousa tranquilaem seus olhos castanhos.
A noite em seus olhos é castanhae a lua explodenum brilho mágicoem sua órbita.
49
FELINA
Brinca a mulher nos olhos de menina,
felina.
50
LEDA
Num átimo de luza mítica fez-se atômica;da genialidade, o eterno Cisne.
51
FISSÃO
um coração que mal chegou, partiu foi tão rápido e tão intenso que mal chegou, partiu um coração
52
VAGO
vaga por vadias várzeasvencendo vorazes vendavaisvivendo valente sem vagir
vaga veemente por vápidas viasvarando ventanias e por vezes vacilantevaga em valas vis
vaga com vagar, sem violência ou violácea, um vago vate vagante
53
REFLEXÕES
o espelho friome refleteenquanto façocaras e bocase me desfaçodas roupas
o espelho nuem silêncio reflete
54
LAPSO
no limite exíguoentre o sono e a vigíliaatravesso o arco escuroda absurda memória
os milésimos de segundoos milênios do mundo
aqui o Tempo é só desatinoe tudo se cala
apenas algumas esferas flutuam
inomináveis
55
A ÁRVORE DO BEM E DO MAL
surge a sombraque desliza suaveno solo da aurora
sobre a seivado seio da Terra, amanheço
desgalhoo gálio galhodesfolhoa fina folhadesfloroa flor da floradesfrutoo bruto frutoe sua semente
– sêmende outro frutoque semeio
some a sombraque desliza suaveno solo do crepúsculo
sobre a seivado seio da Terra, anoiteço
no ciclo dos diasa sombra nasce e esmorece
a Árvore, sempre firme,permanece
56
A URDIDURA DA TRAMA
Por trás do palcomoiras tecelãscontam suas histórias,com esmero cosem à vidatodas as cenas e percalços
cantam dançam representam
jamais perdemo fio da meada.
57
SUBSTÂNCIA
insuspeitável exatidão da fuligemnuma estrutura naturalmente perfeita
glóbulos quase que mágicosde um resíduo tão antigo
amoras geodésicas carbono ab origine
buckminsterfullereno
58
NÚCLEO
frágil Terrageografiageometriauma esfera
mas puderaoutra haviatodaviaamarela:
Sol precisoleve e crassoincisivo
pelo espaçopulso ativomeu compasso
59
MILKY WAY
vereda de estrelascadentes no infinito
qual atrajetória?
VALORES
63
INVERSÃO DE VALORES
ESTE LADOPARA CIMAÇ
64
CONFLITO DE VALORES
ÇESTE LADOPARA CIMAÇ
65
VALORES EM QUESTÃO
Ç
Ç
ÇESTE LADOPARA CIMAÇ
OMEGA
69
VIAGEM
A imaginação é mais importanteque o conhecimento.
A. Einstein
Suave cai a tarde assim serenasobre o áspero asfalto destas viase inteira então se espalha pelas ruase por essas calçadas sempre frias
suave cai a tarde mais silentesobre o duro concreto embrutecidoe lenta já desliza pelos murose pelos cantos já indefinidos
e ao nada abandonado entre paredescontemplo agora o quieto firmamento,o quieto espaço em plena trajetóriaque tênue e calmo vai escurecendo.
Suave cai a noite mais singelasobre a fachada em vidro espelhadoe agora já invade toda parteapagando o crepúsculo avermelhado
suave cai a noite assim sensívelsobre o metal em rígida estruturae leve então se expande ao horizontedelineando a sua curvatura
e absorto neste clima de levezaenquanto o céu atinge um tom discretolanço um repleto olhar ao infinitoe já adormeço o espírito inquieto.
70
Suave cai a noite inda em meu serpronto a iniciar veloz viagemque à imaginação envolto em laçosda grande imensidão já avista a imagem:
E a jornada em seu princípioem meus olhos faz-se azule suspenso pois Gagarinvem surgindo contraluze o seu “verso” inauguralem tal língua se traduz: – A TERRA É AZUL!
al zu uz la al zu uz la al zu uz la al zu uz l a al zu uz la al zu uz la
71
azulazulazul
azul o céuazul-celesteazul o marazul-marinho
azul acalmaazul a almaazul a calmaazul-anil
azul o aro fogo azulazul a águae a Terra azul
azulazulazul
prossigo viagempousando na Luaa Lua luzenteque em fases atua
a Lua minguantea nova e crescentea Lua mais cheiapasseia contente
a pálida Luaque brilha despertaé Lua sublimesublime e deserta
72
a Lua fagueiraque gira ditosaé Lua sutilsutil e formosa
meu corpo naveganavega e flutuanos mares tranquilosnos mares da Lua
circula meu corpona brisa tão brevee desce dos montese sobe mais leve
e do alto mergulhatravesso ao brincarmergulha em craterasnão pode parar
e agora portantomeus pés descalçadosdeslizam precisospor todos os lados
deslizam precisosonde a Águia pousouaqui onde Neiltambém deslizou
meu corpo naveganavega e flutuanos mares tranquilosnos mares da Lua
73
a Lua de estóriasa Lua dos homensa Lua das lendase os tais lobisomens
a Lua dançanteem simples alvuraque baila e resguardaa imagem escura
a plácida Luaem noite gentilsorrindo à serestaem noites de abril
a Lua poéticaa Lua galantea Lua dos ébriose tantos amantes
meu corpo naveganavega e flutuanos mares tranquilosnos mares da Lua
u a . .L . L .u .a .au . . . L L u a .. .
74
e varando o espaço densosigo em frente assim ligeirosigo em frente e me deparocom outro corpo por inteirooutro corpo tão formosotão brilhante e tão faceiro
na manhã Estrela d'Alvabela Vênus prateada,é porém planeta instávelde área triste e desolada,raios cortam o seu céude alquimia carbonada
bela Vésper solitáriabela estrela que abandonocorro agora pra Mercúriodanço agora em seu contornofaço a volta, volta e meia,meia volta em seu adorno
pobre corpo desprovidopois despido em sua esferanão tem ventos, não tem nuvensnessa mínima atmosfera,longos dias sempre quentesnoites frias e severas
faz trajeto perigosofaz seu giro sem bom sensogira gira planetinharente ao Sol, ao Sol intenso,giro giro e assim avançorumo ao astro tão imenso
75
astro claro e generosoastro luz e seu efeitogera a vida calorosae essa alegria em meu peito,Sol tamanho e absolutoSol supremo e quão perfeito
de seu plasma em confusãoque em fusão tudo produzfúria e força interiorforça e fibra que reluzfibra e fúria de seu úterode onde nasce a nossa luz
surge a vidasurge o Solsurge a rosae o girassol
na brancura matinalem que a luz se faz nascenteno longínquo patamarmostra a face incandescente
luz a vidaluz o Solluz a rosa e o girassol
e durante o breve ciclonos observa tão silentee depois guarda pra siseus mistérios no poente
76
dorme a vidadorme o Soldorme a rosa e o girassol
“aterrisso” agora em Martena sequência da jornadanão espero nem desistoe persisto na empreitada,não descanso e logo façouma longa caminhada
faço logo a exploraçãodessa terra que é tão fria,tem chão seco e arenosocomo duna em ventaniae um relevo depressivonuma rubra geografia
sobre um vale extenso e fundofaço um voo assim rasante,voo aqui, voo acolásempre um voo tão constantee ardoroso corto o solodesse Vallis adiante
e dominam suas noites o tal medo e o tal terror,eles são Phobos e Deimoselas são noites de horrorelas são noites sombriassó de pânico e pavor
77
pela faixa de asteroidesvou passando em disparadae aos externos vou rumandono percurso dessa estradae a viagem continua e acentua essa toada
chego a Júpiter gigantede pressão descomunalum planeta quase estrelaonde vejo um vendavale uma mancha tão vermelhatão espessa e desigual
em Calisto faço um pousode onde posso contemplá-lome aproximo mas não entrome contento em avistá-lopois que intensas turbulênciasnão me deixam abordá-lo
acelero então os passosdessa minha odisseiaessa pequena aventura essa modesta epopeiae até onde posso ir já não faço nem ideia
sem mudar a direçãomesmo em curso taciturnosempre vou por essas trilhase sempre em rumo oportunojá me encontro aos arredores das belezas de Saturno
passo pois pelos anéisnessas órbitas incríveisformam tantas aliançasde nuanças aprazíveisvão bailando em tal levezacomo valsas indizíveis
e brincando de me acharpor excêntricos instintos,em caminhos tortuosos,sinuosos e distintossem perder-me sigo em seus(meus) concêntricos labirintos
retomando a trajetóriajá diviso o tal Uranoum corpo verde-azuladocom seu giro tão estranho,traz consigo as muitas luase os anéis em belo plano
logo a frente avisto um outroquase em mesma formosura,corpo azul-esverdeadoem semelhante estatura,a Netuno me refiroque admiro em tal fulgura
e a Plutão já me dirijovou num salto rigorosoe em seu giro extravaganteme divirto curioso,no limite quase extremode um sistema primoroso
78
pelo cinturão de Kuiperfaço pois o meu percursoe pela nuvem de Oortsigo então imenso cursoque se expande ao infinitoneste claro e leve impulso
e ao cruzar essa fronteiraque se estende pelo espaçomuito ainda existe e vejonesse mesmo e tal compasso,traço agora o meu caminhojunto a Órion e seu braço
e persigo Alfa Centauromil estrelas tão distantesRigel, Sirius e Mimosacom seus brilhos variantesBellatrix, Aldebaran,tantas luzes cintilantes
quantas? quantas? quantas são?quantas tenho pra contar?em diversa magnitudenum caleidoscópio estelarquantas? quantas? quantas são?quantas tenho em meu olhar?
constelações infinitascada qual com seu primorTaurus, Gemini, Perseus,em graça, em luz e em fulgor,de Andrômeda e Cassiopeiavou ouvindo até o rumor
79
e não mais que de repentequal encanto, qual magiauma nova supernovanum instante apareciae surgiu em Magalhãesnuma nuvem reluzia
das galáxias vou no encalçopor essa trilha admirável,nos confins do conhecidoo limiar do indecifrávele um cometa me conduzde uma forma tão notável
ele passa por Rosettae por tantas nebulosas,anãs brancas e vermelhastodas elas ardorosase ele segue sem roteironuma órbita caprichosa
por pulsares ele passasinuoso sem pararvai além e me abandonabem ao lado de um quasar,bem onde a imaginaçãotão cansada foi pousar
devagar...devagar...devagar...
80
81
e durante o seu repousoela segue lentamentee ela vaga e continuanuma calma displicente,ela vai sem perceberjunto ao risco iminente
ela segue indefinidajá não pode voltar maise prossegue sempre em frentee aproxima-se demais,rompe o caos, negro buracoe não tornará jamais
divagar...divagar...divagar...
e em meu quarto não correunem sequer um breve instante,do crepúsculo avermelhadoinda resta algum rompantee o absurdo que aqui imperafaz desperto o inquietante
e a astral imaginaçãocom o espírito a vagarviajando assim profundovão buscando um só lugar– e o Universo em sua essênciaquer chegar em qual solar?
Victor Del Franco nasceu na cidade de São Paulo em 1969.
• Editor da CELUZLOSE - Revista Literária Digital( );
• Durante o ano de 1994 participou das atividadesdo Grupo Cálamo realizadas na Casa Mário de Andrade;
• Entre 1995 e 2005, produziu pequenos volumes de poesiachamados FÓTON (edição do autor);
• Participou da organização da FLAP! de 2006 a 2008;• Em 2007, fez parte da organização do Tordesilhas
Festival Ibero-americano de Poesia Contemporânea;• Colaborou com O Casulo - Jornal de Literatura
Contemporânea de 2006 a 2008.
• Livros publicados A urdidura da tramA (Giordano, 1998) O elemento subterrâneO (Demônio Negro, 2007) EsfingE (Edição do Autor, 2010).
• Participou das coletâneas de poemasOitavas (Demônio Negro, 2006)Antologia Vacamarela (Edição dos Autores, 2007).
http://celuzlose.blogspot.com
IN HOC SIGNO VINCES