A Urbanização na Vila de Tamoios (Cabo Frio) e sua...

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO Pedro de Moraes Calvente A Urbanização na Vila de Tamoios (Cabo Frio) e sua inserção na Região dos Lagos (RJ): caracterização, implicações e conseqüências físico-ambientais e culturais Orientadora: Prof a Dr a Maria de Lourdes Pinto Machado Costa Niterói – Rio de Janeiro Janeiro de 2008

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

Pedro de Moraes Calvente

A Urbanização na Vila de Tamoios (Cabo Frio) e sua inserção na

Região dos Lagos (RJ): caracterização, implicações e

conseqüências físico-ambientais e culturais

Orientadora: Profa Dra Maria de Lourdes Pinto Machado Costa

Niterói – Rio de Janeiro

Janeiro de 2008

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PEDRO DE MORAES CALVENTE

A Urbanização na Vila de Tamoios (Cabo Frio) e sua inserção na

Região dos Lagos (RJ): caracterização, implicações e

conseqüências físico-ambientais e culturais

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-

Graduação em Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal Fluminense, como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Mestre. Área de Concentração: Urbanismo

Orientadora: PROFA DRA MARIA DE LOURDES PINTO MACHADO COSTA

Niterói

Janeiro de 2008

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C 167 Calvente, Pedro de Moraes

A urbanização na Vila de Tamoios (Cabo Frio) e a suainserção na Região dos Lagos (RJ): caracterização, implicações econseqüências físico-ambientais e culturais / Pedro de MoraesCalvente. – Niterói: UFF, 2008.

124f.: il.

Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) –

Universidade Federal Fluminense, 2008.

Orientadora: Profª. Maria de Lourdes Pinto Machado Costa.

1.Urbanização – Cabo Frio (RJ). 2. Vila de Tamoios (Cabo

Frio, RJ). 3. Planejamento regional. I. Costa, Maria de LoudesPinto Machado. II. . Título.

CDD 711.40981537

Ficha elaborada pela Biblioteca da Escola de Arquitetura e Urbanismo – UFF/NDC/BAU

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PEDRO DE MORAES CALVENTE

A Urbanização na Vila de Tamoios (Cabo Frio) e sua inserção na

Região dos Lagos (RJ): caracterização, implicações e

conseqüências físico-ambientais e culturais

Dissertação apresentada ao Curso de Pós-

Graduação em Arquitetura e Urbanismo da

Universidade Federal Fluminense, como

requisito parcial para obtenção do Grau de

Mestre. Área de Concentração: Urbanismo

Aprovado em janeiro de 2008.

BANCA EXAMINADORA

Profa Dra Maria de Lourdes Pinto Machado Costa – Orientadora

Universidade Federal Fluminense – UFF

Profa Dra Fernanda Furtado de Oliveira Silva

Universidade Federal Fluminense – UFF

Dr. Luiz Firmino Pereira

Superintendência Estadual de Rios e Lagoas - SERLA

Niterói

Janeiro de 2008

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Agradecimentos:

Este trabalho foi modificado ao passo que me modificou. Devo agradecer a todos que

estimularam meu aprendizado e conhecimentos, seja geral, no campo intelectual, ou mais

específico, antropológico. Dentre esses, destaco sobremaneira minha família, meu pai Eurico,

minha mãe Alexandra, minhas irmãs Alice, Martha e Carolina. Cada um com sua

contribuição, todos estruturantes e tão importantes que posso afirmar que, sem esse apoio o

caminho teria sido outro. Ao mestre e amigo Hamilton Fonseca que me forneceu subsídios

para enfrentar os obstáculos do processo de aperfeiçoamento pessoal, obrigado.

Remonto às épocas do último estágio antes de me formar, quando no Centro

Internacional de Desenvolvimento Sustentável da Fundação Getúlio Vargas encontrei abertura

à captação dos conhecimentos de meu interesse, naquele momento. Agradeço a toda a equipe

de ilustres com os quais pude aprender, dentre eles Dra. Aspásia Camargo, Dr. Mario Moraes,

Dra.Claudia Dutra, Dra. Marilene Ramos, Dra. Nanci Valadares, e Marina Xavier. Através

dessa experiência pude vislumbrar a associação entre o meu descontentamento sobre a

realidade de Tamoios com as possibilidades de soluções integrantes do universo da

Sustentabilidade.

Um agradecimento especial à Profa Dra Maria de Lourdes Costa, orientadora deste

trabalho que com experiência, sensibilidade e sabedoria me conduziu com segurança do inicio

ao término do processo.

À minha querida amiga Raquel Valadares e sua mãe Nanci Valadares (aqui como

amiga) pelas conversas, conselhos, esclarecimentos e, sobretudo apoio, vai o meu muito

obrigado.

Em Tamoios, é imperativo agradecer à Mãe Natureza que foi responsável pelo prazer

que pude ter durante toda minha experiência ao longo de minha vida. São suas manifestações

que, guardadas na memória fazem não perder o objetivo. Dentre elas destaco o pôr-do-sol, o

arco-íris, as ondas de “taputera”, “da laje”, “da pedra”, da “boca da barra”, do “coleginho”, do

“campinho”, “das cabras”, da “casa branca”, da “prainha” e do “praião”, o vento nordeste, a

Lua, o Rio São João, a Ponte quebrada, a Prainha, e a Maria Farinha.

Os amigos Álvaro (Russo) e a lendária “Triper”, Bocão, Isaque, Boneco, Fabio

(bundinha), Jorge (boquinha), Cristiano, Gustavo, “Vaguinho”, “Foot-loose”, os irmãos

Leonardo e Lee, ao primo Felipe e mais toda “a galera” do surfe de Barra presentes de 1986

até 1992, obrigado pelo compartilhar de momentos marcantes.

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Mais recentemente agradeço ao Sr.“Bigode” pela sempre prestativa ajuda nas

pesquisas dentro da subprefeitura local e ao Sr. Ernesto Galiotto por fornecer as fotos aéreas

de Tamoios e pelo trabalho ambiental na região como o Parque da Preguiça. À Nadia do

Núcleo de Pesca de Santo Antônio, obrigado pelas entrevistas. Ao Fotógrafo e Ambientalista

Sr. Armando Rosário pelo apoio, ajuda e pelos agradáveis momentos de conversa.

Em Armação dos Búzios, agradeço a toda a equipe dos funcionários da Secretaria de

Planejamento, pelo apoio e ambiente de trabalho único.

Um agradecimento especial ao Sr. Secretário de Planejamento de 2005-2007,

Arquiteto Octavio Raja Gabaglia por permitir que acompanhasse as aulas do Mestrado na

UFF, trabalhando em sua equipe em Búzios, mas também pelos ensinamentos de Arquitetura.

À Sra. Alice Passeri, grato pela contribuição à minha formação, nutrindo-me de força e garra

para vencer os desafios constantes. À Dra. Marlene Ettrich que incentivou o estudo

aprofundado e o apoiou como caminho sensato a ser seguido, muito obrigado. Agradeço a

Sra. Cláudia Morgado pela ajuda com as pesquisas de campo.

Ao amigo Humberto Alves pelos longos e divertidos momentos em sua companhia, de

conversas esclarecedoras, agradeço muito. Ao parceiro das viagens de ida e vinda de Búzios

ao Rio, pelas caronas, pelas conversas, pelos ensinamentos, obrigado Arquiteto Alexandre

Alvariz. Ao companheiro de estudos e amigo Arquiteto Alberto Bloch, grato pelas lições e

exemplos além do privilégio do compartilhar de uma idéia ou de várias, desejo boa sorte em

seu Doutorado na UFRJ. Ao arquiteto Roberto Campolina muito obrigado pelos ensinamentos

e esclarecimentos ante uma realidade nova. Agradeço muito a colaboração do Sr. Sedemir, da

Prefeitura de Cabo Frio.

Ao Dr. Luiz Firmino Pereira, Secretário Executivo do Consórcio Intermunicipal Lagos

São João, à sua equipe, seu conselho e conselheiros das câmaras técnicas, um agradecimento

de destaque pela disponibilidade em ceder todo material existente em sua biblioteca sobre a

região de estudo e por me incluir em sua agenda de discussões.

Ao Sr. Rodrigo Bacellar Mello, presidente do CONAPA São João, obrigado pela

contribuição ao trabalho e convite para conviver com as Câmaras temáticas do mesmo.

No Rio, um especial agradecimento ao craque Fernando Paiva que sem precedentes

forneceu ajuda indispensável na elaboração de mapas através do Arqvew, além de auxílio na

interpretação e manipulação dos dados censitários do IBGE que, apesar de básicos para a

comprovação feita no trabalho, são às vezes de relativa complexidade, sobretudo aqueles

anteriores a 2000. Ao Geógrafo Ricardo Voivodik, conhecido de longa data, técnico e

parceiro nos interesses acadêmicos, obrigado pelas conversas e indicações bibliográficas.

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Aos professores do Mestrado da UFF, que contribuem para a formação desse curso,

elucidando com maestria, paciência e interesse o caminho acadêmico, muito obrigado.

Especial agradecimento ao Prof. Dr. Werther Holzer, por suas pesquisa e abordagem

elucidativa passada ao longo de suas aulas.

Grato aos colegas estudantes que compartilharam da ansiedade e dos ensinamentos ao

longo do curso e com os quais pude aprender bastante.

E por último, mas nem por isso menos importante, aos meus amigos Ada Camargo e

João Favoretto, pelo apoio, crença e suporte, o meu muito obrigado.

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SUMÁRIO

RESUMO Capítulo 1 – INTRODUÇÃO 1.1. Quadro teórico conceitual 1.2. Hipóteses 1.3. Objetivos gerais e específicos 1.4. Procedimentos metodológicos 1.5. Condicionamentos do trabalho Capítulo 2 – DO MICRORREGIONAL AO LOCAL - TAMOIOS 2.1. O Desenvolvimento Urbano 2.1.1. Fenômenos urbanos referentes a Tamoios e áreas adjacentes 2.1.2. Uma realidade de ocupação dispersa? 2.1.3. Caracterização e espacialização de processos vivenciados pela Vila de Tamoios 2.2. As implicações físico-ambientais 2.2.1. Conceitos voltados para o meio ambiente, aplicáveis à região de estudo 2.2.2. Localização e impactos sofridos 2.3. As implicações de natureza cultural 2.3.1. As origens do desenvolvimento agro-rural 2.3.2. Da Cana-de-Açúcar ao Petróleo - desenvolvimento microrregional 2.3.3. O turismo e a sua inclusão na Vila de Tamoios e o seu entorno Capítulo 3 – A VILA DE TAMOIOS 3.1. Dados censitários comparativos de 1991 e 2000 3.2. Evolução da ocupação. Leitura de gráficos, tabelas e mapas 3.3. A Rodovia Amaral Peixoto e os vetores de crescimento na Vila de Tamoios CONCLUSÃO Referências Bibliográficas Anexos

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A Urbanização na Vila de Tamoios (Cabo Frio) e sua inserção na

Região dos Lagos (RJ): caracterização, implicações e

conseqüências físico-ambientais e culturais

Apresentação O tema da dissertação nasceu da vontade deste autor de entender os processos pelos

quais vem passando a área da qual guarda nítidas lembranças desde a infância, imaginário que

da convivência se produziu, e testemunho de mudanças em seu território e entorno.

Constatadas as novas formas de ocupação urbana na Vila de Tamoios, do segundo distrito do

Município de Cabo Frio, logo se evidenciaram as relações da Vila com a microrregião em que

se insere. Visando melhor traduzir o entendimento dessas questões, o exercício acadêmico foi

conduzido de acordo com abordagem que abrange escalas macro e micro, complementares.

Essa decisão pautou tanto a metodologia adotada quanto a grande divisão do corpo do

trabalho também em duas grandes partes, quais sejam: no Capítulo 1, destinado à Introdução,

esta comportou o quadro teórico-conceitual utilizado e os elementos adequados à

compreensão dos procedimentos metodológicos que respondessem às inquietações reveladas.

A segunda parte tratou de explicitar, no Capítulo 2 - a passagem entre a escala

microrregional e a escala local. Para tanto, evidenciou-se um quadro geral dos fenômenos

comuns na área de estudo. O desenvolvimento urbano desse conjunto abriu discussões sobre

as implicações e conseqüências das ações, intervenções, políticas urbanas, e mesmo a falta

delas, além de pontuar impactos sobre a mesma. Implicações estas que se ampliaram segundo

vertentes físico-territoriais, ambientais e culturais, para então desembocar na escala da Vila de

Tamoios. Este movimento, indo do geral para o particular, do teórico ao empírico, foi

viabilizado por análise de dados oficiais, assimilação de normativas, entrevistas com agentes

que, de uma forma ou de outra, presenciaram os fatos, além das observações e registros de

campo de longa data, que se fizeram acompanhar de debates, depoimentos, presença em

audiências públicas, entre muitos outros expedientes.

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Discutiu-se a formação de uma identidade sócio-cultural-ambiental na Vila de

Tamoios capaz de a diferenciar daquelas das comunidades vizinhas. Debatemos a importância

de se chegar à ordenação do espaço urbano, e de se repensar a mobilidade microrregional

sustentada pela Rodovia Amaral Peixoto (RJ 106). Salientamos a urgência de adotar o

planejamento do espaço remanescente, para que se dê conta das características naturais

existentes, considerando o processo tradicional de agenciamento da paisagem local, de base

agro-rural, e o desenvolvimento microrregional composto pelas características de exploração

do petróleo ao norte e pelo crescimento do turismo ao sul.

Por último, a Conclusão, trazendo uma leitura integrada das abordagens e eixos de

análise, tendo em vista a complexidade do contexto existente. São sugeridas analogias entre

os ecossistemas biológicos e urbanos, numa síntese associativa das abordagens ambiental,

cultural e territorial, apresentando-os como inerentes a um só sistema.

O estudo abriga a interdisciplinaridade necessária aos propósitos da dissertação, com

tudo que ela encerra de respeito e apego aos recursos da boa preservação histórica, sócio-

espacial e cultural, no que concerne à sua população, respectivas atividades, ambiente natural,

ambiente construído.

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RESUMO

O trabalho procurou revelar as bases do processo de ocupação urbana desordenada na

Vila de Tamoios, no segundo distrito do município de Cabo Frio, Região dos Lagos, Estado

do Rio de Janeiro. Para tanto, foram investigadas três hipóteses: (a) verificação desse processo

nos termos da urbanização dispersa estudada pelo Prof. Dr. Nestor Goulart Reis Filho em

relação ao Estado de São Paulo, em 2006; (b) investigação sobre a (in)adequação de ações do

poder público em resposta ao processo em curso, com acentuados impactos observados sob os

eixos físico-territoriais, ambientais e culturais; (c) viabilidade de aplicação da proposta

referente ao corredor ecológico, apresentada pelo Centro de Informações e Dados do Estado

do Rio de Janeiro - CIDE - importante instrumento para minimizar os efeitos e impactos

sobre o meio ambiente da microrregião, em particular.

Objetivando melhor compreensão do processo em curso, as implicações e impactos

foram avaliados sob o ponto de vista metodológico, referido segundo duas escalas: a

microrregional, predominantemente concernente à Região dos Lagos, e a local, com foco no

Distrito de Tamoios. Desta forma, a área de estudo, na escala mais abrangente, comporta os

municípios que possuem relações mais diretas com a Vila. Por outro lado, na escala local,

foram incluídos também os fatores de adensamento formados ao longo da Rodovia Amaral

Peixoto (RJ106), que são associados espacialmente à vila.

A pesquisa adotou vertentes teórica e empírica. Na utilização das fontes secundárias

de informação, destacou-se o trabalho realizado sobre os dados dos Censos Demográficos do

IBGE (1991 e 2000), com matrizes comparativas, além do uso de um conjunto de

documentos, de conteúdos teórico, metodológico e temático. Somam-se os procedimentos

relativos ao conhecimento de campo, construído ao longo de duas décadas, bem como o

material extraído de entrevistas e aqueles provenientes de reuniões de trabalho, com

representantes de entidades e de comunidades, envolvidos com a área e seu entorno.

Por fim, os eixos citados foram reunidos em uma análise integrada, produzindo uma

leitura análoga aos ecossistemas biológicos, visando atingir uma compreensão global do

complexo processo que ocorre na área, como exemplo de um “ecossistema humano”.

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ABSTRACT

This work aims to reveal the bases of the unordered urban occupation process in the

Tamoios Village which is the second district of the Cabo Frio municipality located at Região

dos Lagos in the Rio de Janeiro State. Therefore, three hypothesis were investigated: (a)

verification of the occupation process as the dispersal urbanization, as defined by Reis Filho

(2006) for the State of São Paulo; (b) The non-adequacy of the actions of the government in

response to the occupation process resulting in strong impacts observed in physical-territorial,

environmental and cultural aspects; (c) viability of the application of a proposal associated

with the ecological corridor in the sense presented by the Centro de Informações e Dados do

Estado do Rio de Janeiro - CIDE – which is an important instrument to minimize the effects

and impacts over the environment of the micro region.

With the purpose of a better comprehension of the process in course at this region, the

implications and impacts were evaluated under a methodological point of view which divided

the analysis according to two scales: The micro regional which considers mainly the area

around the Região dos Lagos and the local which focuses in the Tamoios district. Therefore,

the area of study in the more broadened scale comprises the municipalities that have direct

relations with the Village. In the other hand, in the local scale were also included the factors

of denseness formed along the Rodovia Amaral Peixoto (RJ106), which are spatially

associated with the village.

The research included both theoretical and empirical methods including the analysis of

a set of documents with theoretical, methodological and specific contents. Additionally,

information was also obtained using secondary information sources, among them is

highlighted the study using data from the demographic census of IBGE (1991 e 2000), which

comprises comparative matrices. Nevertheless, a great contribution was obtained with the

knowledge of the area of study built along two decades, as well as with the material extracted

from local interviews and the participation in work meetings and events with local community

representatives and institutions.

Conclusively, the physical-territorial, environmental and cultural aspects of the area

studied were associated in an integrated analysis, producing a view which is analogous to

biological environments. This approach aims to reach an overall comprehension of the very

complex processes involved in this area, as an example of a “human ecosystem”.

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1 Localização e contexto regional 21

2 Situação da Vila de Tamoios 22

3 Localização de Tamoios 23

4 Figura do Google Earth trabalhada 32

5 Figura do Google Earth trabalhada 32

6A floresta (verde) ocorre primariamente em três áreas: Eixo Central, Serra do Mar e Município do Rio de Janeiro. Nuvens obscurecem parcialmente o Município do Rio de Janeiro

50

7 Distribuição da floresta, por elevação, no Estado do Rio de Janeiro. 51

8 REBIO União, REBIO Poço das Antas, Morro de São João e a rodovia BR-101 51

9 Delimitação do Cordão de Mata 52

10 Cobertura florestal no Cordão de Mata, segundo a altitude 52

11 Cinco ‘mini-corredores’ 53

12 Corredor linear projetado entre a Reserva Biológica de Poço das Antas e a Fazenda do Rio Vermelho 53

13 Região de atuação do Consírcio Intermunicipal Lagos São João 57

14 Região Ambiental Específica 57

15 Campo inundável 58

16 Restinga Arbórea 58

17 Arbórea Inundável 58

18 Mangue Arbóreo 58

19 Restinga Arbustiva 58

20 Restinga Herbácea 58

21 Uso e cobertura do solo em Cabo Frio - 1966/1969 - 2001 59

22Variação da Cobertura Arbórea e de Secundárias em Diferentes Estágios de Regeneração Natural entre 1956/1975 e 2001

60

23 Perfil Esquemático da Restinga 61

24 Localização do Município de Quissamã 68

25 Sede da Fazenda Campos Novos 68

26 Vista aérea do complexo rural 6927 Fachada da Fazenda Machadinha em Quissamã 69

28 Fachada da Fazenda Mandiquera em Quissamã 69

29 Fachada da Fazenda São Manuel em Quissamã 69

30 Lagoas 82

31 Lagoas e construção 82

32 Comemoração de Nossa Senhora dos Navegantes 82

33Gcp01. Gráfico comparativo do crescimento populacional entre a microrregião lagos, município de Cabo Frio e Distrito de Tamoios nos anos 1991, 1996 e 2000 de acordo com tabela cp01.

91

34Gd01. Gráfico comparativo do crescimento imobiliário (domicílios) entre a Microrregião Lagos, município de Cabo Frio e distrito de Tamoios nos anos 1991, 1996 e 2000 de acordo com tabela d01.

92

35 População residente segundo Setor Censitário - Censo Demográfico 2000 93

36 Residencias particulares segundo setor censitário - Censo Demográfico 2000 94

NO. TÍTULO PÁGINA

RELAÇÃO DE FIGURAS

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37 Densidades 95

38Gi01. Gráfico comparativo dos níveis de instrução determinados na tabela i01, segundo responsáveis permanentes por residência na Microrregião Lagos -RJ em 2000

96

39Gi02. Gráfico comparativo dos níveis de instrução determinados na tebela i02. Segundo responsáveis permanentes por residência no Município de Cabo Frio em 2000

96

40Gi03. Gráfico comparativo dos níveis de instrução determinados na tabela i03. Segundo responsáveis permanentes por residência no distrito de Tamoios em 2000

96

41Gr01. Gráfico comparativo do rendimento mensal segundo responsável permanente por residência na Microrregião Lagos de acordo com tabela R01.

97

42Gr02. Gráfico comparativo do rendimento mensal segundo responsável permanente por residência no município de Cabo Frio de acordo com tabela r02.

97

43Gr03. Gráfico comparativo do rendimento mensal segundo responsável permanente por residência em Tamoios de acordo com tabela R03.

97

44 Gp01. Gráfico demonstrativo da pirâmide etária para a Microrregião Lagos do RJ, de acordo com tabela P01. 98

45 Gp02. Gráfico demonstrativo da pirâmide etária para o município de Cabo Frio-RJ, de acordo com tabela P02. 99

46 Gp03. Gráfico demonstrativo da pirâmide etária para o Distrito de Tamoios, de acordo com tabela P03 100

47Ge01. Gráfico comparativo do sistema de esgotamento sanitário existente nos domicílios particulares permanentes para a Microrregião Lagos do RJ nos anos de 1991 e 2001

101

48Ge02. Gráfico comparativo do sistema de esgotamento sanitário existente nos domicílios particulares permanentes para o município de Cabo Frio-RJ, nos anos de 1991 e 2002

101

49Ge03. Gráfico comparativo do sistema de esgotamento sanitário existente nos domicílios particulares permanentes para o Distrito de Tamoios, nos anos de 1991 e 2003

101

50Gl01. Gráfico representativo do lixo coletado nas residências particulares permanentes em 1991 e 2000 de acordo com tabela L01

102

51Ga01. Gráfico comparativo do sistema de abastecimento de água nas residências permanentes na microrregião Lagos nos anos 1991 e 2000

103

52Ga01. Gráfico comparativo do sistema de abastecimento de água nas residências permanentes no município de Cabo Frio, nos anos 1991 e 2001

103

53Ga01. Gráfico comparativo do sistema de abastecimento de água nas residências permanentes no distrito de Tamoios, nos anos 1991 e 2002

103

54 Espacialização dos processos Urbanos- Ambientais na Vila de Tamoios 113

55 Foto aérea Recente de Tamoios - APA do Rio São João e ocupação urbana. 114

56 Foto aérea Recente de Tamoios - RPPN Parque da Preguiça 114

57 Espacialização dos processos Urbanos com as lagoas artificiais da Vila de Tamoios 115

RELAÇÃO DE FIGURAS

NO. TÍTULO PÁGINA

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1 Tabela comparativa 01 27

2Cp01. Tabela comparativa do crescimento populacional na microrregião lagos, município de Cabo Frio e Distrito de Tamoios entre os anos 1991 e 1996, e os anos 1996 e 2000

91

3D01. Tabela comparativa do crescimento imobiliário (domicílios) na microrregião lagos, município de Cabo Frio e Distrito de Tamoios entre os anos 1991 e 1996, e os anos 1996 e 2000

92

4 I1. Tabelacomparativa dos níveis de instrução determinados abaixo segundo responsáveis permanentes por residência em 2000

96

5R01. Tabela do rendimento mensal segundo responsáveis permanentes por residência em 2000 (salario referência= r$151,00) 97

6P01. Tabela comparativa da população da Microrregião Lagos segundo gênero e faixa etária em 2000 98

7P02. Tabela comparativa da população do município de Cabo Frio segundo gênero e faixa etária em 2000 99

8P03. Tabela comparativa da população do Distrito de Tamoios segundo gênero e faixa etária em 2000 100

9E01. Quadro comparativo do sistema de esgotamento sanitário existente nos domicílios particulares permanentes da microrregião Lagos, município de Cabo Frio e no distrito de Tamoios, nos anos 1991 e 2000

101

10L01. Tabela comparativa da coleta de lixo nas residências particulares permanentes em 1991 e 2000 na microrregião Lagos, município de Cabo Frio e no distrito de Tamoios.

102

11A01. Tabela comparativa do sistema de abastecimento de água nas residências particulares permanentes na microrregião Lagos, município de Cabo Frio e distrito de Tamoios nos anos 1991 e 2000.

103

12Tabela de loteamentos do segundo distrito de Cabo Frio – Tamoios (prefeituramunicipal de cabo frio, 2007). 104

RELAÇÃO DE TABELAS

NO. TÍTULO PÁGINA

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1

Capítulo 1 – INTRODUÇÃO A Região dos Lagos no Estado do Rio de Janeiro vem passando, desde a segunda

metade do século XX, por processo intenso de ocupação, em função de vários fenômenos,

entre eles: o de metropolização, que tem seu núcleo principal na cidade do Rio de Janeiro, o

da procura por residências secundárias, ampliada desde a construção da Ponte Rio Niterói na

década de 1970 e, mais recentemente, pela exploração do Petróleo, abrangendo municípios da

Costa do Sol.

A atividade agrícola, de produção açucareira, e de engenhos, na região de Macaé,

Quissamã e Campos dos Goytacazes tem perdurado por três séculos, conferindo liderança

econômica e política à região no estado do Rio de Janeiro. Investimentos do programa Pró-

álcool entre 1975 e 1986 iniciam a região na produção do etanol para fins de combustível

(PORTAL BIO-DISEL, 2007). Em função da desvalorização da produção agro-industrial

após 1986, certa instabilidade de empregos naquela região foi gerada (Fundação CIDE, IQM

Verde, 2001). Paralelamente, novas fronteiras econômico-extrativistas são desvendadas, com

a exploração petrolífera acentuada, quando desde 1978 foi iniciada essa atividade na costa de

Macaé (idem, 2007).

“Toda região norte e litorânea do estado vem sendo afetada pelos efeitos da exploração petrolífera, traduzidos, inicialmente, numa “febre emancipacionista” alicerçada pela possibilidade de obtenção dos “royalties” pagos pela PETROBRAS”. (RUA, 2000, p.16)

Percebemos a existência de um vínculo direto entre o contexto regional apresentado e

a área de investigação. Com base nessa percepção conduziremos o objeto de estudo através de

duas escalas distintas que se complementam, a microrregional e a local.

No âmbito microrregional são observadas crescente industrialização, tendo em vista,

sobretudo, a produção do álcool e do petróleo, e o desenvolvimento intenso urbano, com

conseqüências a serem estudadas, com rebatimentos urbano, ambiental e cultural.

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Na esfera local, Tamoios, segundo distrito do Município de Cabo Frio sofre processo

de ocupação urbana desordenada, agravado em virtude de invasão de lotes ao longo da

Rodovia Amaral Peixoto (RJ 106), que lhe dá acesso (figura 1(p.21)(p.22), p.21). Nesse

processo destacam-se os impactos de natureza fisico-ambiental e cultural representados por

áreas de restinga, com lagoas, rios e vegetação típica local. A área de investigação deste

trabalho – Tamoios - enfrenta com esse adensamento uma diversidade de conflitos como

desmatamento, extração ilegal de recursos minerais, poluição e perda de identidade com

intensa transformação cultural.

1.1. Quadro teórico-conceitual

Nessa perspectiva, o quadro teórico-conceitual é amplo e passa por definições e

conceitos que tratam da intervenção e impacto no ambiente urbano, do meio construído e

natural, da preservação de bens e de valores, entre outros.

Sobre o ponto de vista da relação do meio ambiente físico com o homem, os

ecossistemas trazem as referências das comunidades, populações e espécies, na tentativa de

gerar um equilíbrio biológico, apesar da ação de fatores abióticos. Ao contrariar os limites de

crescimento populacional e os fatores biótico e abiótico, o homem quer encontrar na

racionalidade soluções plausíveis de sobrevivência, tentando adaptar a natureza às suas

necessidades.

É nesse processo que surgem desigualdades quanto ao equilíbrio biológico presente

nos ecossistemas naturais e naquele presente nos ecossistemas em que o homem se insere, os

ecossistemas urbanos. Percebe-se que no primeiro os limites de crescimento vegetativo são

reais, isto é, as leis da natureza controlam o crescimento e equilíbrio das espécies; no

segundo, observa-se a interferência do homem de forma que a natureza não configura mais

um grande limite de crescimento, mas uma fase de adaptação na qual o homem modifica o seu

ambiente para adequá-lo a seu gosto e necessidade.

Na seqüência, destacam-se conceitos e visões atinentes ao nosso universo de trabalho:

Segundo Lucrecia D’Alessio Ferrara (1999), a ecologia urbana analisa o esforço que o

homem faz para encontrar as condições adequadas para sua sobrevivência física, social,

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cultural, econômica e política. Para a autora “nesta interação a natureza apresenta-se como

realidade ambiental transformada e adaptada às necessidades humanas”. FERRARA afirma

que “os ecossistemas urbanos se caracterizam pelo processo intenso de transformação e

completa instabilidade”.

Segundo BARROS (2007) as zonas costeiras são espaços geográficos que

acumularam, ao longo do tempo, em seu processo histórico, usos (territórios usados) e inter-

relações, conflitantes e complementares, gerando um elenco de técnicas e objetos

correspondentes aos seus usos. É nesse espaço que está marcada a intencionalidade ou a ação

da sociedade, sendo a infra-estrutura organizacional, onde ocorrerá segundo Santos (2002), a

união indissociável entre os sistemas de ações e os sistemas objetos.

BARROS (2007) coloca ainda que as relações atuais da sociedade na zona costeira

estabeleceram um conceito de valor crematístico, ou seja, o valor desses espaços é formado

por um mercado imobiliário, em face da escassez e da disponibilidade para usos futuros. Seus

espaços são qualificados como raros, de localização privilegiada, finitos e relativamente

escassos, dotados de especificidades e vantagens locacionais (MORAES, 1999, apud

BARROS, 2007). Dessa forma, são marcados atualmente por uma apropriação sócio-cultural

que os identifica como local de veraneio e lazer por excelência, quando bem preservados. As

dimensões das áreas utilizadas pelos empreendimentos na zona costeira estarão diretamente

relacionadas ao seu retorno, vide exemplo, os complexos portuários e turísticos. Submetidos a

uma lógica mercantil, o valor dos espaços costeiros é bem mais elevado do que os da

hinterlândia, o que acaba por condicionar a sua apropriação e os seus usos (Moraes, 1999,

apud BARROS, 2007).

BARROS (2007) afirma que para gerenciar as novas ações sobre os espaços costeiros,

deve ser construída uma nova racionalidade ambiental para este sistema. O gerenciamento da

zona costeira deverá ser articulado em um corpo complexo (Morin, 2003a), integrando e

interrelacionando os diversos saberes: ecológico, social, cultural, econômico, psicológico,

popular etc., de modo a criar, como sugere Leff (2000), para as questões ambientais, uma

metalinguagem interdisciplinar.

Para Yi-Fu Tuan (1980), a ação do homem junto ao seu meio é dependente do seu elo

de afeição entre este e o lugar. A Topofilia, termo criado pelo autor para explicar este elo

afetivo é determinada por outros conceitos:

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“Percepção: é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos como a atividade proposital, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para sombra ou são bloqueados; Atitude: é uma posição que se toma frente ao mundo, formada de uma longa sucessão de percepções; Valor: as atitudes implicam experiência e uma certa firmeza de interesse e valor. A visão do mundo é a experiência conceitualizada, é parcialmente pessoal e em grande parte social.” (p.04 e 05).

Para Ítalo Campofiorito (1985) os conjuntos urbanos triviais e vulgares são

significativos ainda que de valor não excepcional (paisagem residual). Para este autor, o

pensamento contemporâneo de Patrimônio vem se consolidando como prioridade urbanística

para a reabilitação de centros tradicionais e bairros antigos, como estruturas urbanas vivas, em

constante e desejável mutação física e social. A representação dessa mudança por marcas e

sinais que se multiplicam na imagem, nos comportamentos, nos hábitos, nas expectativas e

nos valores urbanos constitui para FERRARA (1999) a área de investigação da percepção

ambiental urbana.

Denis Cosgrove (1998) entende por cultura um conjunto de práticas compartilhadas

comuns a um grupo humano em particular, práticas que foram aprendidas e transmitidas

através de gerações. E afirma que “a paisagem sempre esteve intimamente ligada, na

geografia humana, com a cultura, com a idéia de formas visíveis sobre a superfície da terra e

com a sua composição” (COSGROVE, 1998, apud CORREA, Roberto Lobato e

ROSENDAHL, Zeny (orgs), p.98).

A compreensão de cultura é de fundamental importância para a análise dos impactos

sofridos pelo meio ambiente em relação à ocupação urbana, pois segundo o autor, a cultura é,

ao mesmo tempo, “determinada e determinante da consciência e das práticas humanas” (Idem,

1998, p.102).

Continua COSGROVE (1998) ao defender a idéia de que “qualquer intervenção

humana na natureza envolve sua transformação em cultura”. Ao analisar as interações com o

meio ambiente ao longo do tempo em uma determinada região pode-se perceber neste

processo uma sucessão de sobreposições culturais que causam impactos, exemplificadas pela

formação de paisagens específicas.1

Ele considera cultura dominante como a de um grupo com poder sobre os outros

baseado no controle dos meios de vida: terra, capital, matérias-primas e força de trabalho. 1 A paisagem também pode ser entendida como quer SAUER(1998), como uma área composta por uma associação distinta de formas, ao mesmo tempo físicas e culturais

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Para ele, são estes que determinam, de acordo com seus próprios valores, a alocação do

excedente social produzido por toda a comunidade. Através da sua capacidade de projetar e de

se comunicar - por quaisquer meios disponíveis e através de todos os outros níveis e divisões

sociais - uma imagem do mundo consoante com sua própria experiência, e ter essa imagem

aceita como reflexo verdadeiro da realidade de cada um; seu poder é mantido e reproduzido.

Como cultura residual, segundo COSGROVE (1998), entende-se um sistema

historicamente consagrado cuja influência ainda existe. O autor coloca que sua importância

está na interpretação destas formas para a reconstrução de antigas geografias e para o

entendimento de suposições culturais quanto ao seu significado original.

Quanto à cultura emergente, COSGROVE (1998) a define como podendo ser de

muitos tipos, algumas muito transitórias e com impacto permanente relativamente pequeno

sobre a paisagem. O autor diz que está na natureza de uma cultura emergente oferecer um

desafio à cultura dominante existente, uma visão de futuros alternativos possíveis. Neste

aspecto, suas paisagens muitas vezes possuem característica futurista e utópica, com geografia

e sistemas simbólicos próprios. Para COSGROVE (1998), o estudo desse tipo de geografia

(cultura emergente), revela as ligações entre sociedades e ambientes, além de mostrar visões

utópicas de harmonias humanas possíveis.

Como cultura excluída, COSGROVE (1998) mostra que se refere aos assuntos

excluídos da investigação geográfica. Os grupos produtores de paisagens emergentes que não

foram incluídos em algum estudo de seu processo de interação com o meio ambiente, não

significa que são carentes de relevância, ou de ocorrência. Segundo o autor, são peças

importantes da geografia humana, repleta de símbolos e de significados.

Destaca-se na interseção desse conceito o interesse sobre a Paisagem Cultural de

Tamoios. A procura por representar essa paisagem para que seus significados possam ser

expostos e refletidos traduz parte de nossa preocupação com este trabalho. De acordo com o

autor “revelar os significados na paisagem cultural exige a habilidade imaginativa de entrar no

mundo dos outros de maneira auto-consciente...” (Idem,1998, p.103)

Nessa linha, alguns conceitos ganham relevância, quais sejam:

SAUER (1998) explica que a paisagem cultural é a área geográfica em seu último

significado. As marcas do homem na paisagem, como as formas de população, fenômenos de

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massa ou densidade em geral e deslocamento constante como migração sazonal, constituem

para o geógrafo acima preocupação da geografia cultural.

“A paisagem cultural é modelada a partir de uma paisagem natural por um grupo cultural. A cultura é o

agente, a área natural é o meio, a paisagem cultural o resultado. Sob a influência de uma determinada

cultura ela própria mudando através do tempo, a paisagem apresenta um desenvolvimento, passando por

fases e provavelmente atingindo no final o término do seu ciclo de desenvolvimento. Com a introdução de

uma cultura diferente, isto é, estranha, estabelece-se um rejuvenescimento da paisagem cultural ou uma se

sobrepõe sobre o que sobrou da antiga.” (SAUER, 1998, p.59)

O fundamental é compreender que por mais que a paisagem natural seja de

importância básica, a força que a modela está na cultura. (Idem, 1998)

Já os impactos no meio ambiente são entendidos como qualquer alteração das

propriedades físicas, químicas ou biológicas, causadas de forma direta ou indireta por ações

(públicas ou privadas) e atividades humanas. (DELPHIM, 1997)

Nesse sentido, o Turismo aparece como um importante fator modulador da atividade

humana. Um dos trabalhos que contribui para o entendimento do significado do turismo é o

explicitado por NERY (1998). Sua importância está em entender as disparidades culturais,

pela qual a região passa, imbuídas pelo grande choque de classes e extratos sociais observado

na realidade microrregional que envolve a Vila de Tamoios, ocasionando rebatimentos

consistentes para aquela comunidade.

Amparado numa concepção que qualifica o homem como ser simbólico, o autor não

vê no caráter do acontecimento o interesse fundamental do sujeito que se desloca. É “o efeito

de espelho que essa experiência devolve para seu auto-reconhecimento como pessoa” (NERY,

1998, p.22), o qual motiva o sujeito a fazer as escolhas dos destinos de suas viagens ou

deslocamentos. Para chegar à compreensão de como estes deslocamentos contribuem para um

projeto de desenvolvimento do indivíduo moderno ocidental, o mesmo autor, apoiado em

DUARTE (1986) e no modelo hierárquico de DUMOND (1992), utiliza a hipótese de

existência de dois pólos-tipo de um modelo de pessoa. (ALCÂNTARA, 2005)

Um pólo seria o holista ou particularista, que é percebido como “hierárquico, não

individualista, relacional, complementar, restrito, fechado, esterióptico, e relation-oriented”.

(Idem, 2005, p.68)

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Mais freqüentemente encontrado entre as classes populares, neste modelo o prazer de

viajar, dispositivo que impulsiona os deslocamentos, funciona como um ritual de inversão,

significando a saída da rotina cotidiana, do profano, rumo a um estado sagrado, de busca do

prazer fora do espaço cotidiano (NERY, 1998, apud ALCANTARA, 2005).

O pólo oposto compreende um modelo individualista de pessoa, comum nas elites e

classes médias denominadas cultas. Nesta perspectiva, o prazer de viajar está associado à

constituição de projetos (VELHO, 1994) e às possibilidades de desenvolvimento individual a

partir do deslocamento. Ao formular projetos, o indivíduo se faz atuante na construção de seu

destino. Aqui, o sentido sagrado do modelo holista se constitui o próprio indivíduo. Este pólo

tem, por conseguinte, uma feição “individualista, interiorizada, autonomizada, ampliada,

aberta, reflexiva e person-oiented” (NERY, 1998.p.4-5, apud ALCANTARA, 2005, p.68).

Aproximam-se desse pólo as viagens individuais para os mais diversos destinos, que

apresentam uma perspectiva de “auto-aperfeiçoamento”. (ALCANTARA, 2005, p.67)

Nas discussões sobre a transformação do meio urbano, aparecem com freqüência o

papel dos grandes projetos urbanos - os GPUs. De acordo com Arantxa Rodriguez (2004)

estes têm se transformado em um dos instrumentos-chave para a transformação das cidades

em todo o mundo. Para a autora, tal processo carrega em si mudanças profundas na

formulação e gestão da política urbana envolvendo orientação, objetivos, instrumentos e

instituições.

Um outro autor tem se destacado neste campo. Mario Lungo (2004) entende que os

GPUs não são somente grandes obras emblemáticas, mas também grandes operações urbanas,

desenvolvidas pelo governo ou por parceria público privada (PPP) que, por sua integração,

causam um profundo impacto no desenvolvimento de uma cidade.

Arantxa Rodriguez (2004) relata ainda, que as iniciativas de caráter exclusivamente

privado, como por exemplo, grandes empreendimentos imobiliários de tipo residencial, não se

incluem na denominação de GPU, pelo fato de não estarem vinculados a um projeto

estratégico, compreensivo ou de transformação urbana.

Dentro do universo latino-americano atual, segundo LUNGO (2004), a visão de GPU

inclui entre os grandes projetos urbanos, intervenções de diferentes tipos. Para o autor, um dos

maiores desafios é dar continuidade permanentemente ao processo, modificando a concepção

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dos grandes projetos ou operações, de forma que se possa construir uma visão de

desenvolvimento da cidade, transformando-se em parte integrante do imaginário coletivo

construído por atores múltiplos. O fato de que estejam marcados pela incerteza, em virtude do

largo prazo de sua execução deve, segundo o mesmo, ser aproveitado em sentido positivo

para discutir a aplicação simultânea de projeto urbano e construção, em lugar da tradicional

hierarquia de se começar o projeto urbano para depois se construir a cidade.

Por outro lado, segundo HARVEY (1989), os grandes projetos urbanos atuais devem

ser analisados de acordo com o processo atual de globalização, mudanças na economia,

relação Sociedade e Estado, considerando as profundas mutações que estão ocorrendo nas

principais cidades e as transformações na cultura urbana, na arquitetura e no desenho urbano,

nas quais as visões pós-modernistas promovem a construção de “artefatos urbanos” em

oposição aos planos urbanos embasados pelo pensamento modernista.

Uma outra consideração emerge com os impactos ao planejamento urbano com

relação à inovação dos procedimentos e instrumentos de intervenção e gestão vis-à-vis a

cultura do planejamento tradicional. Entre eles estão: os novos instrumentos urbanísticos

(planos estratégicos, novas normativas), fiscais (multiplicação de instrumentos de capturas de

mais-valias fundiárias, incentivos fiscais) e financeiros (emissão de títulos de dívida/ações

etc): as novas formas de gestão e governo urbano, sobretudo com os planos estratégicos,

gestão estratégica de cidades, parcerias público-privadas, inovadoras formas de organização

da administração pública e consórcios. Também com os agentes usuais do urbanismo

(promotores imobiliários, instituições financeiras, entre outras) aparecem novos agente-chave

para o desenvolvimento dos GPUs: a figura ampliada do arquiteto frente ao urbanista, gestor

do projeto, consultorias urbanísticas, associações locais. Finalmente, diversas formas de

participação social e cidadã, nos fóruns de discussões.

Em relação aos efeitos sobre a estrutura urbana na forma de impactos sobre a oferta e

demanda, tem-se: novos produtos imobiliários, mudanças nos vetores de atuação (onde se

localiza a oferta), mudança nos nichos de mercado imobiliário, mudança nas estratégias de

fixação de preços, mudança nas formas de financiamento; mudança no gradiente do preço

absoluto e relativo do solo e imobiliário; impactos sobre formas de consumo imobiliário

emergentes: mudanças no tamanho médio dos imóveis, nos equipamentos dos edifícios.

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Nesse rol, enquadram-se as novas centralidades: mudança nos pólos de serviços e

comércio; os impactos em relação a tendências e modelos urbanos de re-centralização e

compactação da cidade e dispersão urbana (americanização da cidade latino americana), os

efeitos sobre o mercado do solo, além de diversas mudanças, seja nos usos funcionais do solo

(residencial, comercial, produtivo), na localização e características dos equipamentos e

serviços urbanos, na hierarquia de acessibilidade, além dos efeitos sobre a estrutura social

urbana e modificações na estrutura sócio-espacial (setor urbano, escala da cidade e da

metrópole) de usos residenciais, com efeitos de gentrificação, exclusão, elitização e pobreza.

Teoria inovadora relativa à constatação da urbanização dispersa encontra em Nestor

Goulart Reis o estudo de duas escalas ou âmbitos distintos e interligados. “A primeira diz

respeito às áreas metropolitanas, que vêm mostrando uma dispersão crescente de núcleos ou

pólos, entremeados de vazios, com redução de densidades de ocupação, formando o que

muitos autores chamam de nebulosa urbana” (MUNARIN e TOSI, apud REIS 2006 p. 13). A

segunda escala refere-se ao tecido urbano, “onde se definem as relações físicas e jurídicas

entre espaços públicos e espaços privados em que são definidos ruas, praças, quadras e lotes,

a propriedade (ou posse) do espaço urbano e sua produção material, bem como sua

apropriação, uso e transformação” (REIS, 2006 p.13).

Para este estudioso, de uma forma geral, a dispersão urbana pode ser caracterizada:

• pelo esgarçamento crescente do tecido dos principais núcleos urbanos, em suas áreas

periféricas;

• pela formação de constelações ou nebulosas de núcleos urbanos e bairros isolados em

meio ao campo, de diferentes dimensões, integrados em uma área metropolitana ou em

um conjunto ou sistema de áreas metropolitanas;

• pelas mudanças no transporte diário intrametropolitano de passageiros, que

transformaram as vias de transporte inter-regional, de tal modo que estas se tornaram

grandes vias expressas inter e intrametropolitanas;

• pela difusão ampla de modos metropolitanos de vida e de consumo, também estes

dispersos pela área metropolitana ou pelo sistema de áreas metropolitanas, como já

ocorre em São Paulo.

Ainda sobre o processo de urbanização, cabe lembrar que, em 1968, Melvin Weber,

em um artigo denominado “The Post-City Age”, referindo-se à situação nos Estados Unidos,

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constatou que o país estava passando por uma revolução que promovia uma separação dos

processos sociais de urbanização da cidade e da região, fixadas territorialmente (REIS, 2006).

Isto é, constatava que as áreas de urbanização superavam os limites das cidades e das regiões,

como eram conhecidas.

O autor observou que “a comodidade crescente do transporte e das comunicações está

dissolvendo as barreiras espaciais em direção às relações sociais; e os norte-americanos estão

formando comunidades sociais compostas por membros localizados espacialmente de forma

dispersa. Está surgindo um novo tipo de sociedade urbana em grande escala, cada vez menos

dependente da cidade” (WEBER, 1968). De acordo com Robert Fishman (1987), o processo

de urbanização que descrevia se distanciava da suburbanização, sendo mesmo seu oposto.

Para este autor, o subúrbio era sempre funcionalmente dependente do núcleo urbano central.

“Com a descentralização quase que simultânea de residências, indústrias, serviços

especializados e escritórios ocorre a separação da periferia urbana em relação à cidade

central” (FISHMAN, 1987).

O distanciamento dos processos mais conhecido na cidade tradicional vem ocorrendo

similarmente na Europa. Em 1994, através da exposição “La Ville, Art e Architecture en

Europe, 1870-1993, seu catálogo evidenciava o texto de Françoise Choay: “O Reino do

Urbano e a Morte da Cidade” (CHOAY, 1999). A autora questiona “se não seria a hora de

admitir, sem culpas, o desaparecimento da cidade tradicional, e interrogar sobre aquilo que a

substituiu”. Ela observa que “o processo continua e tende a eliminar em benefício de uma

entidade que não é mais cidade nem campo, esses dois termos, que fenomenologicamente

existiam um no outro” (CHOAY, 1999, apud REIS, 2006, p.19) . Segundo a autora

(CHOAY, 1999) o que está ocorrendo não é uma trivial evolução, mas uma mutação.

É ainda Nestor Goulart Reis (2006) quem constata que o processo de dispersão urbana

é a passagem de um estado para outro, no qual as formas se subdividem rapidamente sobre o

território. As formas de regência dos processos, segundo o autor, já não são as mesmas.

Salienta que as mudanças não decorrem de processos físicos, mas de processos sociais; não

decorrem de relações físicas, mas de relações sociais2.

2 Como histórico desse estudo no Brasil, expõe que “as mudanças começaram a ser evidentes ao longo da década 1980-1990. Foram registrados de início de modo esquemático, em comunicação à reunião anual da SBPC realizada em Porto Alegre (REIS, 1989). A seguir, em um seminário realizado em São Paulo pela Associação Viva o Centro, em 1994 (REIS, 2001), em uma conferência realizada na Estação Ciência no dia 25 de janeiro de

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O processo de urbanização infere uma discussão presente ao contexto de

desenvolvimento econômico microrregional, que é a da modernização de áreas rurais.

Encontramos este debate nos estudos de João Rua (2000) que ao apresentar o processo

de desenvolvimento de Quissamã vê a “modernização como um processo de mudança social

resultante da difusão e da adoção de características de sociedades mais avançadas por

sociedades aparentemente menos avançadas”. (JOHNSTON et al. 1995, p.392, apud RUA,

2000, p.18) Segundo o autor, o processo envolveria mobilização social, o crescimento de um

aparato de controle político e social mais efetivo e centralizado, a aceitação de normas

cientificamente racionais e a transformação das relações sociais e das formas estéticas. (Idem,

2000)

É HAESBAERT (1995 e 1997, apud RUA, 2000) que identifica pelo menos dois

sentidos para a leitura da modernização: o primeiro envolvido no caráter conservador do

capitalismo e o segundo de natureza progressista ou mesmo revolucionária, em que as

mudanças sociais desencadeadas pela modernização poderiam levar a uma sociedade mais

democrática e igualitária.

RUA (2000) explica que a visão do processo de modernização é qualificada por

diversos outros autores, a chamada modernização conservadora (BECKER & EGLER 1993,

p.138. Apud RUA, 2000, p.19), “traduz-se pela alta rotatividade no emprego e alta mobilidade

espacial, principalmente no que se refere aos trabalhadores rurais, trazendo como

conseqüência um intenso deslocamento de mão-de-obra e exploração dos camponeses,

associados à concentração de terra”. Continua RUA (2000) constatando que a chamada

modernização progressista, no dizer de CHAUI (1992, p.30 apud RUA, 2000, p.19) “seria

um processo em que se organizaria de modo funcional e eficaz o capital, para que, através de

seu crescimento e da distribuição dos seus resultados, se desse a emancipação do ser

humano”. Seria uma modernização democrática, como apresenta RUA (2000), que incluiria a

população como consumidora, enquanto a modernização conservadora seria excludente e

segregadora.

1994 e na abertura das comemorações dos 440 anos da cidade de São Paulo. As pesquisas começaram a ser sistematizadas a partir de 2000, pela equipe do LAP – Laboratório de Estudos sobre Urbanização, Arquitetura e Preservação, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, com o apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo - FAPESP” (Ver REIS, Nestor Goulart. Notas sobre urbanização dispersa e novas formas de tecido urbano. São Paulo: Via das Artes, 2006).

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Uma outra análise pertinente do processo de modernização que coloca o autor é

desenvolvida por LASH (1997, p.135 apud RUA, 2000, p.19). Em sua visão, “a passagem

para a modernidade envolve três estágios da mudança social, da tradição para a simples

modernidade a modernidade reflexiva”. Para esse autor “as sociedades modernas simples não

são plenamente modernas. A individualização, característica da modernidade, quebrou as

antigas estruturas tradicionais, o processo de individualização é parcial e um novo conjunto de

estruturas assumiu o lugar das estruturas tradicionais. Seria a passagem do “eu” para o “nós”,

como sinônimo de conjunto de indivíduos abstratos e atomizados”. De acordo com LASH

(1997, p.135 apud RUA, 2000, p.19) “a modernização plena só acontece quando uma maior

individualização também liberta a ação até dessas estruturas sociais, simplesmente

modernas”.

Na contramão da fragmentação dos tecidos urbanos estão os Corredores Biológicos. A

Fundação CIDE (2001), através do Índice de Qualidade dos Municípios (IQM) - Verde, o

apresenta como: “um conceito relativamente novo na área da Biologia de Conservação, criado

em resposta à fragmentação inexorável dos habitats naturais que ocorre no mundo inteiro.”

Em verdade, a fragmentação de grandes áreas de floresta isola as populações de

plantas e animais, que outrora eram contínuas, em áreas segregadas. Com suas populações

reduzidas e restritas, devido à separação dos fragmentos do habitat original, tais organismos

são mais susceptíveis à extinção, devido a fatores como erosão genética e alterações no meio

ambiente.

Os corredores biológicos, conforme os especialistas colocam (também conhecidos

como corredores ecológicos ou de biodiversidade) são implantados para impedir a

fragmentação, aumentando a conectividade entre os habitats e os ecossistemas em várias

escalas. Os corredores chamam a atenção de técnicos, proprietários de terras e cientistas

porque eles mantêm ou restauram a conectividade entre os habitats, minada pela

fragmentação.

De acordo com os pesquisadores da Fundação CIDE, os corredores são mais do que

meras áreas lineares protegidas, ligando freqüentemente o habitat semi-natural através de

paisagens dominadas pelas atividades humanas. Segundo os mesmos, os corredores

biológicos, fornecem uma ferramenta essencial para a conservação de grande dimensão, como

estratégia prática para restaurar a conectividade de paisagens.

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Como conseqüência benéfica à aplicação dos corredores, os estudiosos do tema

enumeram:

1. Em relação à diversidade biológica, os corredores ressaltam a dispersão entre as

populações isoladas, facilitam as migrações de longa distância, dão refúgio às

populações em ambientes adversos e permitem a colonização de habitats novos e

secundários.

2. Com relação aos recursos hídricos, os corredores contribuem para amenizar as

enchentes e melhorar a qualidade da água.

3. No setor agrícola e florestal, servem como quebra-ventos para as culturas, pastos e

animais; ajudam a reduzir a erosão do solo pelo vento e pela água; contribuem para a

manutenção dos níveis e qualidade da água no solo; e fornecem fontes para produtos

tanto madeireiros quanto não-madeireiros.

4. Os corredores visam aos aspectos relacionados ao lazer e à estética, delimitando áreas

apropriadas para caça, pesca, caminhadas e acampamentos, educação ambiental,

observação da vida selvagem e da natureza.

5. Finalmente, com relação às mudanças climáticas, os corredores poderiam fornecer

caminhos para a redistribuição das populações de espécies com limitada habilidade de

dispersão.

Dependendo da escala, os corredores têm objetivos, configurações e estratégias de

implementação distintas. Uma tendência crescente é planejar corredores sobre áreas imensas,

quase continentais, tais como o Corredor Mesoamericano e o Corredor Yellowstone/Yukon.

Embora corredores nesta escala possam ser úteis para o planejamento de longo prazo, eles têm

pouca utilidade na definição de objetivos alcançáveis no curto e médio prazo, ou no

planejamento de estratégias práticas de implantação para alcançar esses objetivos. Planejar e

implantar corredores de paisagem em escala menor, com base em critérios claros e

prioridades realizáveis, aumenta as chances de sucesso.

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1.2. Hipóteses

Algumas hipóteses são destacadas no âmbito de nossas preocupações. São elas:

- A primeira se refere ao processo de ocupação urbana de Tamoios. Nesse sentido,

investiga-se tanto a possibilidade quanto ao grau de analogia do processo vivido em Tamoios

com o processo de urbanização dispersa investigado por REIS (2006) em São Paulo, razão

pela qual insere-se também o respectivo respaldo teórico-conceitual.

- A segunda hipótese do trabalho aponta para a verificação da inadequação de ações do

poder público em resposta ao processo em curso, em face de acentuados impactos físico-

ambientais e culturais. Essa prática, poderia de um lado agravar os problemas no lugar de

mitigá-los e, de outro, a obedecer a padrões de uma classe dominante em um processo que

confunde interesses econômicos e políticos.

- A terceira hipótese busca averiguar a viabilidade do recurso representado pela

proposta do corredor ecológico como importante instrumento para minimizar os efeitos e

impactos, em especial sobre o meio ambiente da microrregião em questão.

1.3. Objetivos Geral e Específicos O objetivo geral é a analise do processo de urbanização em Tamoios e sua inserção na

região destacada, no trecho Cabo Frio, Macaé, Rio das Ostras, Armação dos Búzios, Casimiro

de Abreu, Silva Jardim, Araruama, Iguaba Grande São Pedro da Aldeia e Arraial do Cabo.

(figura 1(p.21)(p.22))

O objetivo específico é o estudo do processo, identificando intervenções e aspectos

nele presentes, abordando os eixos físico, ambiental e cultural dentro de uma perspectiva

ecológica urbana. De maneira que o estudo possa servir como contribuição as ações do poder

público local e extra local.

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1.4. Procedimentos Metodológicos

Os procedimentos metodológicos visaram identificar os fenômenos e processos

vigentes em Tamoios e áreas vizinhas e fizeram compreender as ações de agentes públicos e

de intervenção autônoma nesse território e suas conseqüências. Assim, para responder ao

quadro de objetivos desenvolvem-se as seguintes etapas:

- Levantamento e leitura da bibliografia básica, concernente à temática e à micro-

região de estudo;

- Levantamento documental – iconográfico;

- Seleção do quadro teórico conceitual;

- Constatação de problemas e potencialidades da área, em função de sua história e

aspectos sócio-econômicos;

- Registro da aglomeração urbana sem planejamento, uso e ocupação do solo, questão

fundiária e condições de acessibilidade nos períodos da alta e baixa temporada, deficiência

e/ou precariedade de infra-estrutura em função dessa demanda;

- Caracterização da espacialização dos fenômenos urbanos em Tamoios e região

vizinha;

- Identificação dos impactos de naturezas física, ambiental e cultural;

- Acompanhamento das apresentações relativas ao Plano Diretor de Cabo Frio (pela

Fundação Getúlio Vargas) e participação de audiências públicas no curso desse processo de

elaboração;

- Realização de contatos e entrevistas qualitativas, a saber:

• Junto a Instituições públicas e contratadas: Prefeitura, sub-Prefeitura, Escritório

Técnico de Desenvolvimento do Plano Diretor de Cabo Frio, FGV.

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• Junto a entidades de representação da Comunidade de Tamoios: Associação dos

Pescadores do Rio São João, Associação de Moradores de Aquários, ONG SOS

Tamoios.

• Junto a moradores com mais de 20 anos de residência permanente ou secundária em

Tamoios.

• O estudo permitiu a inserção de pequenos ajustes metodológicos, na medida em que o

material ia sendo recolhido e analisado, em função de tratar-se de pesquisas de bases

teórica e empírica.

• Os trabalhos elaborados para as disciplinas do Mestrado contribuíram propositalmente

para o avanço dos assuntos tratados na Dissertação, razão pela qual serviram de

subsídio para a elaboração de partes do exercício acadêmico.

1.5. Condicionamentos do trabalho

Alguns antecedentes motivaram a realização desse estudo:

A: observação ocorrida ao longo de vinte cinco anos por esse autor, usuário de

residência secundária (casa de veraneio da família) e principal (alguns períodos residindo em

Tamoios).

B: constatação da perda da qualidade de vida anteriormente vivenciada na região, o

que nos estimulou a buscar as causas desse processo, principalmente devido à formação de

arquiteto urbanista, e por ter interagido tantos anos com aquela paisagem natural e construída.

Consideramo-nos como tal um observador participante e um amante da região.

Portanto, a primeira dificuldade que se revelou neste trabalho foi tentar distinguir o

olhar advindo dessa topofilia, nos moldes revelados por TUAN (1980) e o cumprimento do

exercício técnico-científico, acadêmico.

Também contribuiu no curso da investigação, o fato de termos tido uma recente

experiência como Superintendente na Prefeitura de Armação de Búzios, na Secretaria de

Planejamento, o que possibilitou maior compreensão dos mecanismos de gestão/gerência

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municipal, visto que este Município se emancipou em 1997, do município de Cabo Frio. (Ver

Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos Búzios, 2003).

Sendo residente sazonal da Vila de Tamoios e permanente desta última cidade, perto

do local de estudo, essas condições facilitaram bastante o acompanhamento no recente

processo de elaboração do Plano Diretor de Cabo Frio, através da freqüência em audiências

públicas e reuniões das associações de moradores de comunidades envolvidas.

Um aspecto a ser ressaltado foi a dificuldade de acesso às informações sobre o Plano

Diretor, além de se constatar, nas apresentações públicas, uma carência de informações no

diagnóstico atual do Plano Diretor quanto aos aspectos históricos e culturais do processo de

ocupação da região.

Finalmente, foi constatada uma enorme dificuldade de se obter qualquer informação

ou subsídio cartográfico qualquer sobre a região estudada. O material foi apresentado,

conforme demonstrado nas audiências públicas, não somente em meio digital, fotos aéreas de

satélite, mas também como a análise físico-territorial de onde se concentra a população,

desenvolvida pela Fundação Getúlio Vargas no diagnóstico do Plano Diretor. O fato é que

este documento não se encontrava disponível para consulta, apesar de solicitado inúmeras

vezes pelo autor.

Destaca-se, no final da construção do trabalho, a contribuição do Consórcio

Intermunicipal Lagos São João, o qual na figura de seus membros sempre que solicitados

foram receptivos à discussão, somando, contudo, ao trabalho sempre que possível. Cabe ainda

colocar que a presença nas reuniões do Comitê de Bacia do Rio São João e nas Câmaras

Temáticas da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio São João, em função do contato

junto ao CILSJ, ainda que estudioso e não participante como conselheiro, nem membro de

qualquer instituição local. Essas reuniões e fóruns de discussão permitiram complementar o

objetivo desse trabalho, pois tornou possível a aplicação e divulgação de todo material

desenvolvido sobre a Região, além de propiciar uma continuação da pesquisa mesmo depois

do término desta etapa do mestrado.

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Capítulo 2 – DO MICRORREGIONAL AO LOCAL - TAMOIOS

No capítulo dois procura-se estabelecer uma análise nos âmbitos urbano, ambiental e

cultural, que se inicia no contexto microrregional e se estende até a escala da Vila de

Tamoios. A região estudada está destacada nas figuras 1(p.21) e 5(p.38) no final da seção.

Tamoios é o segundo distrito do município de Cabo Frio. A região neste trabalho,

denominada Vila de Tamoios corresponde à aglomeração urbana ao longo da rodovia Amaral

Peixoto no trecho entre o final da reserva da Marinha, depois da entrada de Armação dos

Búzios até o Rio São João. Essa denominação foi dada pelo autor e classifica a urbanização

em andamento como de dimensão maior do que a de um povoado e menor que uma cidade.

Ela é demonstrada na figura 2(p.22).

O objetivo deste capítulo está em identificar as problemáticas na Vila de Tamoios e

avaliá-las em seu contexto regional entendendo que dessa forma é possível visualizar que as

origens de muitos problemas que concernem à Vila hoje, não nasceram ali. Para uma

compreensão mais adequada das questões aqui indicadas, optou-se pelo desenvolvimento das

temáticas urbana, ambiental e cultural, partindo-se de uma visão mais geral.

A região de estudo, apresentada na figura 1(p.21), foi delimitada pelo autor em função

de seu conhecimento sobre ela e em função de documentos de trato ambiental existentes e

sobre áreas específicas de Mata Atlântica no Estado do Rio de Janeiro. A união dos

municípios de Macaé, Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Araruama, São Pedro

da Aldeia, Arraial do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios completam uma região que se

une pelas características ambientais e culturais, a serem demonstradas, e também econômica,

devido à presença de indústrias diversificadas ao longo deste trecho que têm como única

ligação a Rodovia Amaral Peixoto (RJ 106). O turismo e/ou veraneio aparecem como

atividades importantes na área.

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Observando a figura 1(p.21), destacamos na região de estudo os municípios Silva

Jardim, Araruama, São Pedro da Aldeia, Arraial do Cabo, Cabo Frio e Armação dos Búzios

da microrregião Lagos; Casimiro de Abreu e Rio das Ostras da microrregião Bacia do Rio

São João e Macaé da microrregião Macaé. Nesta figura é possível perceber a linha magenta

indicando a RJ 106 como a rodovia mais provável de ligação desta região. Em vermelho a BR

101, outra opção de circulação viária, possui interseção com a Via Lagos no município de Rio

Bonito, bem distante do foco. A incorporação do Município de Silva Jardim na região de

estudo se dá devido as suas características ambientais, em razão da sua proximidade com a

Serra do Mar, melhor explicadas na seção 2.23.

BRANDÃO, T. em artigo de 17/06/2007 revela que a Fundação CIDE propõe novo

mapa para o Rio. Segundo o especialista a mudança, que aproxima cidades com o mesmo

perfil, pode ajudar no planejamento estratégico, discutindo a criação de um novo mapa4 para o

estado do Rio de Janeiro, abordando algumas questões explanadas pelo presente trabalho.

Debatemos que as atuais divisões de fronteiras dos municípios da Costa do Sol e do Norte

Fluminense, não traduzem uma real divisão das afinidades sociais e econômicas, o que será

apresentado mais adiante.

A relação de ocupação da Vila de Tamoios com as cidades sedes dos municípios

citados foi impulsionada pelo crescimento da população local (ver tabela GCP em anexo) e

pelo desenvolvimento da microrregião dos Lagos (ver tabela D01 em anexo), desde 1991 até

2001, evidenciando uma relação de migração diurna em busca de trabalho, não só ao sul da

Vila em direção ao município sede e Armação dos Búzios, mas também ao norte,

principalmente com o desenvolvimento de Macaé e Rio das Ostras.

A figura 2(p.22) destaca na foto de satélite do Google de 2007, com “layers” sobre o

levantamento de campo, o panorama complexo que se apresenta na realidade urbano-

ambiental local. Uma ocupação urbana em processo de crescimento, sem planejamento, tendo

como entorno imediato, áreas de interesse ambiental. Veremos no capítulo 3 essa interação

em escala ampliada, o que comprovará intensa modificação na paisagem cultural e

3 De acordo com o IQM Verde (CIDE, 2000), a necessidade de recuperação de alguns cordões de mata, para a formação de corredores ecológicos se estende ao longo da BR 101, em direção ao Morro São João passando pela mata ciliar do Rio São João, até a sua barra. O objetivo dos corredores ecológicos, segundo o IQM Verde está na manutenção e sobrevivência de determinadas espécies e seus habitats como a do Mico Leão Dourado, espécie nativa em extinção. 4 O mapa proposto encontra-se no anexo.

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condicionantes que denotam impacto relevante quanto à circulação viária intermunicipal

representada pela rodovia Amaral Peixoto (RJ 106) ao longo do trecho destacado. 5

5 Os loteamentos legalizados indicados serão apresentados em tabela exposta no capítulo 3. Não foi possível apresentar a organização espacial desses, conforme o desejado, já que a base cartográfica existente não foi disponibilizada pela Prefeitura Municipal de Cabo Frio.

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Figura 1

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Figura 2

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2.1. O Desenvolvimento Urbano Nesta parte, procura-se apresentar a problemática do crescimento urbano na região de

estudo, ao longo de um período de aproximadamente vinte e cinco anos.

Os conceitos apresentados anteriormente, incluindo-se aquele sobre urbanização

dispersa de Nestor Goulart Reis, ajudam a embasar teoricamente o processo em Tamoios.

Uma abordagem metodológica comparativa a partir de fatos envolvendo o caso paulista,

averigua da referência o estudo da região, objetivando semelhanças e diferenças entre os dos

dois exemplos constatados.

2.1.1. Fenômenos urbanos referentes a Tamoios e áreas adjacentes

O Município de Cabo Frio foi fundado em 1615 e localiza-se a sudeste da zona

costeira do Estado do Rio de Janeiro, na Microrregião Lagos. Atualmente tal município tem

como limites o Oceano Atlântico e os Municípios de São Pedro da Aldeia, Araruama, Arraial

do Cabo, Armação dos Búzios e Casimiro de Abreu.(Ver figura 3 a seguir)

Localização de Tamoios

Figura 3, fonte: Mapa desenvolvido de acordo com ferramenta de Geoprocessamento Arc. Gis. Com base nos mapas disponíveis no IBGE e informações obtidas pelo CD Agregados por Setor Censitário Rural, de 2000 do IBGE

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O município hoje tem uma área total de 410,6 km² 6 (IBGE/Censo Demográfico 2000)

correspondentes a 8,1% da área da Região das Baixadas Litorâneas (segundo Projeto Orla,

2002).

De acordo com o Censo de 2000, Cabo Frio tem uma população de 126.828

habitantes, correspondentes a 22,6% do contingente da Região das Baixadas Litorâneas.

Entretanto, nos períodos de veraneio e feriados, essa população sofre um acréscimo

significativo, chegando a 700 mil habitantes. Com isso, agrava-se uma série de problemas

decorrentes da insuficiência de equipamentos urbanos e da infra-estrutura deficiente (escassez

de água, incapacidade da rede de esgoto, excesso de lixo, deterioração das praias). (Dados da

Secretaria Estadual de Desenvolvimento Econômico e Turismo – SEDET, 2002)

A densidade demográfica é de 308,9 habitantes por km2 em Cabo Frio e de 110,6

habitantes por km2 na região. O município apresentou uma taxa média geométrica de

crescimento, no período de 1991 a 2000, de 5,81% ao ano, ao passo que na região é

demonstrado 4,12% e 1,28% no Estado. Sua taxa de urbanização corresponde a 83,8% da

população, enquanto na Região das Baixadas Litorâneas tal taxa corresponde a 85,9% (Ver

Projeto Orla, 2002).

O crescimento populacional de Cabo Frio de 1991 até 2000, foi de 49% (valor

absoluto de 84.915 hab. em 1991 e 126.826 hab. em 2000) comparado ao crescimento de

264% em Tamoios (valor absoluto de 5.835 hab. em 1991 e 21.237 hab. em 2000) e 51,7% na

Microrregião dos Lagos (valor absoluto de 252.167 hab. em 1991 e 382.498 hab. em 2000)

(IBGE/Censo Demográfico 2000, ver tabela CP01 e gráfico GCP01, p.91).

O crescimento Imobiliário de Cabo Frio de 1991 até 2000, foi de 63,4% (valor

absoluto de 22.520 domicílios em 1991 e 36.794 domicílios em 2000, denotando um aumento

de 14.274 domicílios), comparado ao crescimento de 312,7% em Tamoios (valor absoluto de

1.454 domicílios em 1991 e 6.000 domicílios em 2000 significando que dos 14.274 novos

domicílios no Município de Cabo Frio, 4.546 unidades domiciliares são de Tamoios) e 69,4%

na Microrregião dos Lagos (valor absoluto de 65.463 domicílios em 1991 e 110.868

domicílios em 2000, o que representa 45.405 novos domicílios na microrregião).

6 Deste total 295,48 km² pertencem ao distrito de Tamoios (IBGE- Censo 2000)

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Os dados do Censo Demográfico de 2000 do IBGE comprovam que o crescimento

Imobiliário de Cabo Frio se aproxima de 31,43% (14.274 de 45.405 domicílios) do

crescimento da Microrregião dos Lagos. Demonstram ainda que o crescimento de Tamoios

contribui com quase 31,85% (4.546 de 14.274 domicílios) para o crescimento de Cabo Frio e

aproximadamente 10% ao crescimento de Microrregião Lagos (4.546 de 45.405 domicílios).

(Ver tabela D01 e gráfico GD01, p.92).

Os principais acessos são a rodovia BR101, Via Lagos (trecho sob concessão), e a RJ

106, Rodovia Amaral Peixoto. A mesma RJ-106 chega ao território de Cabo Frio na altura de

Tamoios e segue rumo norte para Barra de São João, distrito de Casimiro de Abreu. Há

estradas no sentido norte-sul, que acessam Armação dos Búzios e Arraial do Cabo.

O distrito de Tamoios, identificado na figura 3(p.23), tem fronteira com os municípios

de Casimiro de Abreu, Silva Jardim, Araruama, São Pedro da Aldeia e Armação dos Búzios.

Possui uma aldeia de pescadores na foz do rio São João denominada Santo Antônio. Vem

sofrendo, tal como Rio das Ostras e Búzios, ação intensa de ocupação com intuito turístico e

de veraneio, que vem se agravando em virtude de invasão e ocupação de lotes na área ao

longo da Rodovia Amaral Peixoto (RJ 106).

O processo de ocupação urbana da Vila de Tamoios, conforme poderemos observar

mais detalhadamente no capítulo 3, se apresenta como uma conformação de caráter urbano

relativamente afastada do núcleo urbano central da cidade de Cabo Frio, e se desenvolveu em

meio a solo rural7. Desta forma se integra a sistemas urbanos complexos, representados pelas

cidades de Cabo Frio, Barra de São João, Rio das Ostras e Macaé, sempre através da rodovia

Amaral Peixoto (RJ 106).

Nesse processo, é observada a transformação de uma área outrora rural, representada

pelas práticas agrícolas tradicionais locais, mais adiante demonstrada na seção 2.2.2., em uma

área com crescente potencial de adensamento urbano. A adoção de novos modos

metropolitanos de vida e de consumo pode ser identificada basicamente com a evolução do

sistema informal de comércio, serviços e equipamentos urbanos, como bares, supermercados,

farmácias, acentuado número de igrejas, alem de vida noturna ativa em períodos de final de

semana e férias.

7 Sua delimitação foi somente adequada recentemente (final de 2006), pelo zoneamento do Plano Diretor deste Município.

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Observa-se um crescimento do núcleo urbano linear, expandido ao longo da Rodovia

Amaral Peixoto (ver figura 2 p.22), e não tentacular que seria um crescimento irradiado de um

núcleo original com base histórica de ocupação8. Constatamos que a Vila se desenvolveu de

uma forma “orgânica”, pois seu crescimento não foi previsto através de planejamento urbano.

Neste núcleo encontra-se visível a dispersão de uma demanda de serviços comum em

cidades de grande porte, e que pode ser explicada pela expansão Metropolitana do Rio de

Janeiro e das cidades circunvizinhas, razão pela qual o novo contingente populacional veio a

se instalar ali. Promoveu a adoção de novas práticas culturais, o que tem gerado intensa

modificação da paisagem cultural.

Os fatores econômicos, cruciais nesse desenvolvimento, têm atuado não somente em

função do turismo, mas também devido ao crescimento do processo de exploração do Petróleo

em todo Norte-Fluminense. Tal questão ajuda a compreender as interações municipais e

problemas na circulação viária existente.

Recorrendo-se novamente a REIS (2006) o qual demonstra que as mudanças urbanas

observadas na área de seu estudo se concentram na região metropolitana de São Paulo,

Campinas, Baixada Santista e Vale do Paraíba, foi elaborada tabela comparativa abaixo para

se estabelecer uma evidente conexão em relação aos dois processos:

8 Estes são tradicionalmente encontrados no processo de crescimento das cidades coloniais brasileiras, através das suas importantes praças onde ocorriam todas as possibilidades de trocas sejam elas culturais, econômicas, religiosas e políticas (SANTOS, Carlos Nelson Ferreira dos. A cidade como um Jogo de Cartas. Niterói:Ed. Projeto;São Paulo:EDUFF,1988.)

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TABELA COMPARATIVA 01

CARACTERÍSTICAS DESCRITAS POR REIS, (2006, p12) NO PROCESSO DE DISPERSÃO URBANA EM SP

REALIDAE DO PROCESSO DESCRITO NA VILA DE TAMOIOS

A.

Formação de áreas de urbanização dispersa que se estendem por esse vasto território, separadas no espaço, mas mantendo estreitos vínculos entre si, como partes de um (único) sistema urbano.

Observa-se ao longo de toda a Rodovia Amaral Peixoto, no referido trecho, características de dispersão urbana que mantém estreitos vínculos com as cidades circunvizinhas, a saber: Cabo Frio, Armação dos Búzios, Barra de São João, Rio das Ostras e Macaé.

B.

A adoção de novos modos de vida pela população, que adquire maior mobilidade, organizando seu cotidiano em escala metropolitana e inter-metropolitana e envolvendo diversos municípios, no que podemos chamar de regionalização do cotidiano.

Identifica-se a adoção de novos modos de vida, comparando a população remanescente pesqueira e a rural, com a população atual, que não participa da tradicional atividade primária, melhor descrita como herança cultural da referida Vila na seção 2.3..

C.

Condomínios horizontais para residências ou fábricas e nos projetos de desenvolvimento urbano de maior porte, como ocorre em Alphaville ou Riviera de São Lourenço, em São Paulo.

Ocorrem nos diversos projetos de condomínios residenciais em Macaé, Rio das Ostras, Armação dos Búzios e na Região do Peró, em Cabo Frio, mas não na Vila de Tamoios.

D. Alterações nas relações entre espaços públicos e privados, com o surgimento de espaços públicos, mas de propriedade privada, como nos shoppings.

Não é constatada a existência de shoppings na realidade da Vila de Tamoios; no entanto, assim como no item acima, é constatada a sua existência nas cidades do entorno imediato (ver item A).

E.

Novas formas de organização do mercado imobiliário, com o surgimento de empreendimentos de usos múltiplos, que reúnem residências, comércio, lazer, ensino, indústrias e escritórios.

A produção desse tipo de organização é inexistente. Vale colocar que essa demanda é encontrada vastamente nas cidades do entorno imediato à Vila (ver ítem A). Esse fato aumenta a relação de dependência e vínculo entre os referidos espaços

F.

A adoção de novos padrões de projeto, com novas formas de conjuntos urbanísticos, que pretendem dar conta das mudanças acima indicadas, no caso para as áreas mais afeitas ao núcleo metropolitano.

De acordo com a realidade encontrada na Vila, identifica-se em geral uma tipologia construtiva de padrões de baixa renda, com investimento nas áreas públicas muito recentes, e como objetivos sanar as necessidades existentes, a valer pela construção de praças, pavimentação de ruas e equipamentos urbanos, como escolas, hospitais, entre outros. Não correspondem, portanto, a novas fórmulas de conjuntos urbanísticos planejados. Entretanto, podemos constatar essa prática em Macaé, Rio das Ostras e Cabo Frio.

Ao compararmos o crescimento da Vila de Tamoios com a descrição do processo

paulista, podemos identificar algumas semelhanças e diferenças entre os dois processos.

Interpretando essas variações, é viável supor uma altercação do tipo de uso do espaço em

níveis econômicos distintos entre essas duas regiões. Na Vila de Tamoios, por exemplo, a

concentração de renda predominante, entre os responsáveis permanentes por residência, é da

faixa compreendida entre um e dois salários mínimos (20,8%, ver Gráfico GR02 na seção 3).

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A realidade econômica relativa à predominância de renda na Vila de Tamoios não

promove uma compreensão sobre a formação de áreas de urbanização dispersa que se

estendem por esse território, pois o natural seria ocorrer uma de maior renda que

impulsionaria uma atividade construtiva intensa.

Tal incompreensão é passível de ser justificada sob três constatações: primeiro,

quando é observada a enorme problemática fundiária existente neste adensamento, por

motivos de invasão de lotes, segundo pela baixa valorização dos mesmos, e em terceiro

quando percebemos que o dado do Censo de referência registra a população residente. Sendo

a Vila objeto de atividade turística, é fato que existem muitas residências secundárias que

entram na contagem, mas que não correspondem ao cômputo da correspondente.

Vale lembrar que, como veremos melhor na seção 2.1.3, o baixo valor de troca dos

lotes não corresponde à viabilização estratégica relativa à localização dessa região em termos

microrregionais.

Voltando à tabela comparativa 01(p.27), os itens C, D, E e F são fenômenos

identificados nas cidades vizinhas à Vila de Tamoios, que são Cabo Frio, Armação dos

Búzios, Barra de São João, Rio das Ostras e Macaé. É observado que esse fato aumenta o

vínculo da comunidade da Vila com as mesmas, crescendo então a relação evidenciada no

item B.

Uma explicação possível para a constatação de não se encontrarem atividades

compatíveis (itens C, D, E, F) ao longo da Vila de Tamoios, seria a diferença de tempo de

urbanização entre os dois processos. Caso essa hipótese se verifique, parece correto prever

que o estágio de desenvolvimento urbano na referida Vila é inicial, e que se prosseguirem as

características de ocupação urbana na área, podem vir a ser concretizados em um futuro

próximo.

É provável, portanto, que o processo de dispersão urbana ocorra em níveis diversos, e

que o caráter identificador desses dois casos possa se dar no nível da morfologia urbana

criada e no do estilo de vida vivenciado, representados pelos itens A e B.

Dessa forma, como foi colocado anteriormente, segundo REIS (2006) a urbanização

dispersa é um processo de passagem de um estado para outro. Entendemos que este fenômeno

caracterizado pelo estudioso, constitui reflexo do processo de modernização, e que a sua

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evolução pode conduzir a Vila de Tamoios à descrita modernização plena, como quer LASH

(1997, p.135 apud RUA, 2000, p.19).

Segundo REIS (2006), processos semelhantes estão ocorrendo em muitos países mais

industrializados, que apresentam índices elevados de urbanização. Com base em seu estudo,

esse autor afirma que “o enfrentamento das novas situações envolva sempre a elaboração de

diagnósticos mais específicos e um trabalho de projeto urbanístico e arquitetônico, para

alcançar respostas adequadas que atendam às necessidades das faixas mais amplas da

população” (Idem, 2006, p. 13).

2.1.2. Uma realidade de ocupação dispersa?

Como observado anteriormente, o aumento populacional na região, sem previsão pelo

Município, promoveu a ocupação dispersa constatada, com suas características próprias.

O declínio da atividade mista na Região Norte Fluminense (agrária e industrial) de

produção de etanol (Pró-alcool) para fins de combustível, acarretou uma debandada de mão

de obra da sua região de produção, mais precisamente em Quissamã e Campos dos

Goytacazes. Esse contingente trabalhista foi em parte absorvido pela crescente exploração do

Petróleo em meados da década de 1980, por essa indústria que concentrava sua base de ação

em Macaé (PORTAL BIODISEL, 2007). A outra parte desses trabalhadores foi atraída

duplamente para a Vila de Tamoios. Em primeiro lugar, por causa das terras que não se

submetiam à legislação urbanística e edilícia, fiscalização, a prática de posse ilegal instalada

e, em segundo lugar como promessa de trabalho no terceiro setor, o Turismo, que se

desenvolvia ano após ano, na região da Costa do Sol.

Contribuiu para o fenômeno, posteriormente, o desenvolvimento da cidade de Rio das

Ostras em decorrência aos royalties do petróleo recebidos e aplicados no desenvolvimento da

região.

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O quadro se conforma num cenário ideal para que a mão de obra necessária ao

crescimento das cidades adjacentes se instalasse ali. É de fácil verificação a oferta de trabalho,

distando da Vila de Tamoios poucos quilômetros (aproximadamente 42 km de Macaé e 16 km

de Rio das Ostras), o que proporcionou seu aumento populacional.

A relação com a cidade de Barra de São João sempre existiu, e a Vila de Tamoios pela

proximidade, recorre a essa cidade, mesmo esta pertencendo ao Município de Casimiro de

Abreu. Este é um exemplo de que as divisões territoriais nem sempre conferem delimitações

de natureza histórico-culturais, entre outros. Entretenimentos noturnos, passeios, restaurantes,

sempre abrigaram todos que freqüentavam Tamoios. Nos últimos cinco a oito anos, dado o

crescimento exacerbado, Cabo Frio passou a investir na área, conforme revela o Projeto Orla.

Foram esforços que objetivavam oferecer entretenimento àquela nova população, que havia se

instalado recentemente, e que promovia nos verões um novo tipo de Turismo.

É possível constatar que quando Tamoios começou a apresentar esse fenômeno, foi

observado um êxodo relativo da população de veranistas antigos que freqüentavam aquelas

praias, pois o impacto nos hábitos e na cultura foram considerados enormes.

Em Barra de São João também se fez marcante a pressão para que Cabo Frio

“cuidasse” de prover entretenimento compatível para a população da Vila de Tamoios. Por

alguns anos B.S.J. tentou acompanhar a crescente demanda de seus novos tipos de serviços e

equipamentos, sem resultado eficaz. Primeiro porque a cidade possuía moradores antigos, e

identidade definida. Em segundo lugar porque as novas práticas humanas trazidas pelos novos

habitantes da Vila de Tamoios se manifestavam segundo uma cultura diferenciada.

Nesse sentido, o choque cultural se deu fortemente. Pode-se entender que, em

Tamoios, como a cultura existente fluía com maior interatividade com a natureza,

economicamente primária e de relação pacata, não houve resistência inicial em relação à

chegada do grande contingente que se fez e se faz marcante, sobrepondo-se à cultura residual.

Em Barra de São João o processo diferiu, tendo havido reações de cobrança por parte da

população citadina para com o Município de Cabo Frio, a fim de controlar o avanço da

população.

Se em Barra de São João o crescimento da Vila de Tamoios não foi bem aceito,

principalmente por ser mais próximo, em Armação dos Búzios o fato não foi diferente. Essa

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cidade se emancipou rapidamente para tentar se “salvar” do processo de invasões que atingia

não só Tamoios, mas toda a Costa do Sol.

De certa forma, a política preservacionista de Búzios tenta até hoje dialogar com os

contrastes sociais iminentes, mas por certo se trata de uma circunstância comum na

problemática brasileira, conforme diz Sérgio de Azevedo (2002), ao identificar no Brasil

desigualdades sociais profundas (um dos países com pior distribuição de renda, segundo

dados oficiais do Banco Mundial, 2002). Se observarmos o mapa da região, não se entende

facilmente porque Armação dos Búzios se emancipou sem o Segundo Distrito. Seria,

aparentemente, mais coerente, dadas às características geográfico-territoriais, culturais e

históricas, a incorporação de Tamoios ao novo município de Armação dos Búzios.

A população da Vila de Tamoios também fornece mão de obra para Armação dos

Búzios (do qual dista aproximadamente 30 km). A centralidade dessa cidade é reconhecida

em toda a região por apresentar o padrão de entretenimento de melhor qualidade na Costa do

Sol.

A relação do distrito sede com a Vila de Tamoios é curiosamente pouco significativa.

Por muitos anos ela era quase desconsiderada. Como ilustração, por exemplo, basta

mencionar que a Vila não encontra referência nos sites da cidade, como uma área turística.

Não merece comentários sobre suas praias, processo histórico, cultural e atividades

econômicas, como é feito em relação ao distrito sede. A mão de obra disponível em Tamoios,

também serve a Cabo Frio (que dista em média 39 km).

Ao fornecer mão de obra para todas as cidades adjacentes, a Vila de Tamoios passa a

ocupar um estratégico ponto de localização.

Configura-se, contudo, em primeira análise, uma “Cidade-dormitório” sendo esse, o

elo com o sistema urbano microrregional composto por Cabo Frio, Armação dos Búzios,

Barra de São João, Rio das Ostras e Macaé.

Esta articulação apresenta uma fragilidade importante - a Rodovia Amaral Peixoto (RJ

106). A ligação mais viável de comunicação (ver figura 3(p.31)), transporte de mercadorias,

turismo, circulação viária, passa a ser afetada pelo crescimento urbano disperso ao longo de

suas “margens”, posto que a referida Vila alcança crescimento vertiginoso horizontal,

afetando sensivelmente o tráfego, principalmente durante os meses de verão.

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São apresentadas as figuras 3 e 4 a seguir que visam apresentar graficamente a

situação evidenciada nessa sessão.

Figura 4,Mapa Rodoviário Cabo Frio e Tamoios fonte: foto selecionada no Google Earth em março de 2007 e trabalhada em Corel Draw pelo autor.

Figura 5 Hexagrama eqüidistâncias. De Tamoios a demais cidades da microrregião, fonte: foto selecionada no Google Earth em março de 2007 e trabalhada em Corel Draw pelo autor

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2.1.3. Caracterização e espacialização de processos vivenciados pela Vila de Tamoios

A Vila de Tamoios está situada a 42°0’19’’W e à 22º38’26’’S, encontra-se na

Microrregião dos Lagos do Estado do Rio de Janeiro e, como já foi dito, pertence ao Segundo

Distrito do Município de Cabo Frio (ver figuras 1 e 2, págs. 21 e 22).

Faz-se necessário uma explicação: neste trabalho, a atenção se volta para os

fenômenos ocorridos envolvendo a ocupação dispersa, isto é, de maior adensamento

populacional e de investimento imobiliário na região e na Vila de Tamoios, em razão do

acentuado crescimento urbano. O recorte, como foi observado anteriormente, não se apresenta

destacado do restante do território do Segundo Distrito. Portanto, sempre que for mencionada

a Vila de Tamoios esta designação referir-se-á à aglomeração urbana dispersa ao longo da

Rodovia Amaral Peixoto, e não à toda extensão do Segundo Distrito, que engloba as áreas

rurais.

O Segundo Distrito de Cabo Frio possui histórico de ocupação agrário, configurado,

no zoneamento municipal como solo rural até outubro de 2006, ratificado com a recente

aprovação da lei de zoneamento produzida pelo atual Plano Diretor desenvolvido pela

Fundação Getúlio Vargas, segundo a Sub-Prefeitura do Segundo Distrito de Cabo Frio.

Tamoios possui 295,48 quilômetros quadrados de área (IBGE Censo Demográfico de 2000),

que começa na Praia Rasa, divisa com Búzios, com 20 quilômetros confrontantes com o mar e

mais 30 quilômetros confrontando-se com o Rio São João.

Dentro de uma perspectiva ampla, entende-se que o processo de ocupação identificado

na Vila de Tamoios (figura 2, p.22), envolve determinados agentes sociais e econômicos, que

vieram contribuir para a modificação daquela paisagem. Assim, podem ser identificados:

- O Estado, no primeiro momento em que desenvolve o trecho da Rodovia Amaral

Peixoto (RJ 106), com o objetivo de conectar Cabo Frio a Barra de São João, Rio das Ostras e

Macaé, facilitando o escoamento da produção agropecuária presente no segundo distrito e a

produção de Sal proveniente da Lagoa de Araruama.

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- Os primeiros loteadores em situação legal na região, correspondendo dentre outros, a

Samburá e Aquarium, que instalaram ali a prática do comércio de lotes no inicio dos anos

1950.

- A Marinha, também representante do Estado, na esfera federal está presente na

região de estudo, com a única área remanescente da vegetação de Mata Atlântica da orla,

funcionando como reserva ambiental.

- O Município no segundo momento de ausência por não participar do processo

iniciado pelos loteadores particulares, no sentido de criar condições para um crescimento

controlado, objetivando a preservação das qualidades naturais locais e potencial turístico, ou

mesmo fazendo parcerias com o capital corporativo, planejando a ocupação de área de acordo

com determinados fins.

- Agentes privados variados, que percebendo a ausência do poder público se

instalaram na região, criando uma prática informal imobiliária, através de posses, sem o

institutado controle do solo distrital e urbano.

- Os pescadores, que localizados na comunidade de Santo Antônio, na barra do Rio

São João, os primeiros a se organizarem mesmo que precariamente, agenciavam o espaço à

sua maneira com a prática de pesca artesanal. Foram estes os primeiros a abrir caminho para a

ocupação informal ao comercializar lotes ilegais.

- Os mineradores ilegais de areia, cuja extração foi realizada sem restrições.

- O Consórcio Intermunicipal Lagos São João, que atua no propósito de questionar o

uso dos recursos hídricos promovendo o dialogo entre entes federativos, privados e civis.

- O Ambientalista Ernesto Galiotto, proprietário de terras onde se encontra a RPPN

Parque da Preguiça.

A falta de fiscalização em relação à questão urbana e ambiental traz ao debate

constatações realizadas in loco pelo autor, segundo impactos causado pelo processo de

ocupação desordenada no Bairro de Santo Antônio e Chavão (das margens do Rio São João,

ver figura 2, p.22). São elas:

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- Observa-se no encontro do Rio São João com o Mar, na parte do bairro de Santo

Antônio (ver figura 2, p.22), a vila dos pescadores, com a presença de barracões de madeira

para fins de alimentação, dispostas lado a lado. Estas construções vieram a se sobrepor à

antiga restinga existente no Pontal. A ocupação produz, em épocas de férias prolongadas e

feriados, entretenimento à população a qual aproveita seus dias livres no leito das águas

calmas, tendo assim garantida essa alimentação, apesar de não apresentar condições sanitárias

básicas. Conferem ao lugar, nessas épocas em que existe uma grande freqüência turística -

poluição visual e ambiental.

- Em toda a extensão de Santo Antônio (vila dos pescadores) são raros os trechos em

que a ocupação desordenada atual não produz impacto descaracterizante da unidade criada

por este grupo social, nas épocas de início da ocupação urbana da região.

- A forma de ocupação do Bairro, supracitado, pode ser representada, sucintamente,

por logradouros estreitos, que fornecem acesso às casas de pescadores, de evidente escala

humana, cujo padrão é caracterizado pelo seguinte: altura de frechal baixa; paredes de tijolo

com revestimento em emboço pintado de cal e esquadrias em madeira; gabarito térreo, com

cobertura cerâmica, segundo a tipologia encontrada no grupo de casas coloniais em Barra de

São João.

- Esta tipologia residencial, na maioria dos casos se apresenta com pequena varanda

frontal, na qual são realizados, muitas vezes, os encontros sociais. Sua ocupação no lote se dá

de forma que sempre existe um quintal na parte de trás ou na frente da casa. As alterações

dessa unidade são de toda sorte possível no universo arquitetônico, mas pode-se destacar

dentre elas: esquadrias de alumínio no lugar das de madeira, a ampliação do gabarito para três

ou mais andares, a utilização de coberturas em laje e amianto, revestimentos externos de

paredes em azulejos, construção de empenas altas junto ao logradouro, extinguindo os

afastamentos frontais e laterais, com a conseqüente criação de corredores escuros sem

iluminação, e ocupação adensada de praticamente todo o lote.

- Ao longo da margem esquerda do rio, seguindo em direção contrária ao curso deste,

é possível visualizar a existência de residências de grande porte na faixa marginal de proteção,

destruindo sua vegetação e mata ciliar.

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- Na região denominada Chavão, localizada na curva do rio (ver figura 2 p.22), área de

expansão urbana inserida na APA do Rio São João, é possível observar o crescente

desmatamento e a substituição destas áreas desmatadas por edificações residenciais,

comerciais e abertura de ruas. Estas construções apresentam elevado índice de ocupação no

lote.

- Encontra-se nas margens do rio e no espaço por onde se observa a passagem do

homem, a poluição das matas ciliares com dejetos de alimentos, plásticos e garrafas PET.

O conjunto urbano de Santo Antônio, vila dos pescadores, por sua simplicidade e

vernáculo, não se constituiu num conjunto ou bem arquitetônico erudito, mas revela uma

especificidade cultural comum ao povo brasileiro e, mais precisamente, a origem das bases de

ocupação do norte fluminense. O fato amplia-se em importância, quando há conscientização

de que ao manter e incentivar a diversidade, condiciona-se o florescimento das culturas.

(TEIXEIRA, apud CAMPOFIORITO, 1985, p.)9

Quanto à ação do poder Público na Vila de Tamoios, a reforma da sua orla pode ser

considerada como a grande intervenção na área de estudo. Este projeto trouxe consigo

padrões e caracterização espacial que transformaram a paisagem original.

De uma forma sucinta, o Projeto de Gestão Integrada da Orla Marítima – Projeto Orla,

é uma iniciativa do Ministério do Meio Ambiente - MMA, em parceria com a Secretaria do

Patrimônio da União - SPU, e busca contribuir, para implantar diretrizes gerais de

disciplinamento de uso e ocupação da Orla Marítima. Segundo descrição encontrada no

próprio documento,

“O seu desenho institucional se orienta no sentido da descentralização de ações de planejamento e gestão

desse espaço, da esfera federal para a do município, e articula Órgãos Estaduais de Meio Ambiente –

OEMAs, Gerências Regionais do Patrimônio da União – GRPUs, administrações municipais e

organizações não governamentais locais, e outras entidades e instituições relacionadas ao patrimônio

9 Segundo Ítalo Campofiorito (1985) a ausência de preocupação com o produto da cultura vernácula presente na Vila de Santo Antônio, pelo município, estado e país, pode ser explicada pela política de Patrimônio expressa pelos conceitos de bens culturais brasileiros, que objetivavam a manutenção de uma identidade nacional. Desta forma, a ausência de preocupação em resguardar, proteger, e valorizar esta paisagem, com a ausência de leis e da fiscalização local pela iniciativa pública, tornou favorável a apropriação destes bens por agentes da especulação do solo, ocasionando a modificação à revelia de sua conformação espacial original.

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histórico, artístico e cultural, a questões fundiárias, a atividades econômicas específicas - como portuárias

ou relativas à exploração petrolífera, cuja atuação tenha rebatimento destacado naquele espaço” (Projeto

Orla, p.5)

Entende-se que as parcerias com o Município, agentes locais públicos e privados

devem participar da elaboração do projeto para que sua execução seja efetiva. No entanto,

com relação à sua implantação em Tamoios, constatamos que esse processo deixou a desejar.

Os critérios usados para classificação da orla, segundo o documento em anexo, foram:

“A análise e avaliação de parâmetros ambientais tais como: cobertura vegetal, integridade e

fragilidade dos ecossistemas, presença ou não de unidades de conservação, condição de balneabilidade

e saneamento básico. Em relação aos parâmetros sociais a presença ou não de comunidades

tradicionais, cobertura urbana e formas de acessos; e parâmetros econômicos tais como pressão

imobiliária.” (p.17)

Dessa forma foram classificadas as situações encontradas como do tipo (ou classe) A,

B, ou C. O quadro retirado do Projeto demonstra a afirmação acima. (p.18)

Unidade Paisagística / Trecho Classificação Unidade I - Rio São João Rio São João Classe B Unidade II – Praias Referencial X - Praias Distrito Tamoio

Trecho 1 - Samburá Trecho 2 - Orla 500 Trecho 3 - Florestinha Trecho 4 - Marinha Trecho 5 - Rasa

Classe C Classe C Classe C Classe A Classe C

Essa metodologia enquadra cada caso encontrado ao longo da Orla, e estabelece o

nível de investimento a ser dispensado nas referidas áreas diagnosticadas.

Os objetivos estratégicos descritos do Projeto Orla são: o fortalecimento da capacidade

de atuação e a articulação de diferentes atores do setor público e privado segundo uma gestão

integrada; o desenvolvimento de mecanismos institucionais de mobilização social para sua

gestão integrada; e o estímulo de atividades sócio-econômicas compatíveis com o

desenvolvimento sustentável da orla.

Como objetivos específicos aparecem a retirada das ocupações comerciais na faixa de

dunas, a reformulação urbana com o equacionamento das ocupações por invasão e/ou

construções irregulares em desacordo com a legislação pertinente, o ordenamento das ações e

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atividades turísticas impactantes. (Em anexo o extrato do Projeto Orla concernente a

Tamoios)

Com relação aos impactos observados junto à região após o projeto da Orla, foram

levantados, através de entrevistas qualitativas e observação os seguintes aspectos:

- Satisfação dos moradores em geral, apesar de existirem moradores insatisfeitos com

o desmatamento da vegetação nativa, assim como alguns veranistas;

- Condições de vida dos habitantes foram melhoradas com a pavimentação, ampliação

da pista, criação do calçadão, iluminação pública em toda a extensão e redução da violência;

- Revitalização da função turística recreativa da orla, mantendo o caráter residencial;

- Aumento da freqüência controlada dos turistas com melhor poder aquisitivo,

oferecendo infra-estrutura de quiosques padronizados;

- Aumento da desordem em épocas de feriado e férias prolongadas (caos) desrespeito

pelas casas da orla e aos moradores, musica alta no estilo funk nacional;

- Ausência de fiscalização e controle referente ao item acima;

- Valorização do solo de todos os lotes e casas próximos à orla;

- Melhores condições de trabalho, sanitárias e criação de renda para a população

residente nos novos quiosques criados;

- O desmatamento da vegetação de restinga para a duplicação da Av. Beira Mar;

- A impermeabilização do solo, quando o revestimento das ruas originais em saibro é

substituído por asfalto;

- O aumento do nível da rua com relação ao nível de soleira das casas, quando se

sobrepôs ao saibro o asfalto na pavimentação das ruas,

- A retirada da vegetação de restinga que protege naturalmente a orla contra o avanço

do mar e o nível de areia da praia, ocasionando a destruição do calçadão criado;

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A orla de Tamoios representa o vínculo da comunidade com o mar como uma grande

vocação refletida pelo processo de ocupação da região. Observar a sua recuperação e

investimentos nesse sentido é entendido como iniciativa positiva, mas requer uma

implantação mais particularizada para o lugar, no momento de sua execução.

Entendemos que a disposição em níveis A, B, ou C quer classificar o tipo de turismo e

estética ambiental apresentados em cada trecho da Orla. Compreendemos que é objetivado

identificar o nível de investimento que deverá ser realizado e que isso é uma etapa

fundamental à destinação de recursos, facilitando as futuras ações recuperativas. No entanto,

os impactos levantados demonstram que o trabalho do Projeto Orla não deve ser encarado

como um modelo base de ação. Deve ser revisto para ser aplicado, como uma orientação a ser

aprimorada pela municipalidade local, capitaneado pela Sub-prefeitura de Tamoios, conforme

se apresenta a orientação provável no desenho institucional do próprio projeto. Constata-se

então, uma dificuldade de execução quando se parte de esferas federais para as municipais.

Observamos por fim, que para o resultado de uma iniciativa positiva se concretizar

(Projeto Orla), um maior esforço deverá ocorrer, garantindo a efetiva consideração e

participação de técnicas municipais locais. Os danos encontrados conseqüentes à execução da

obra da orla em Tamoios, conferem responsabilidade às decisões políticas, que aparentemente

querem mostrar resultados mais que atentar para a qualidade e impactos positivos nos âmbitos

sociais, culturais e ambientais.

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2.2. As implicações físico-ambientais Nesta seção, serão apresentados dados relativos ao meio ambiente e à identidade

ambiental presente tanto na escala regional quanto local.

2.2.1. Conceitos voltados para o meio ambiente, aplicáveis à região de estudo

De acordo com o Índice de Qualidade dos Municípios verde, (CIDE, 2004) Cabo frio

possui a seguinte variação climática:

Em relação à temperatura média do ar, apresentou uma variabilidade temporal de 20°C

a 27,5°C, entre 1976 e 1986. A tendência temporal no período foi negativa, na ordem de

grandeza de alguns décimos de graus Celsius em 11 anos.

Quanto à precipitação, apresentou uma grande variabilidade temporal de seus totais

mensais, no período 1976-88, chegando a atingir valor superior a 250 mm no período

chuvoso. A tendência temporal observada foi de uma tênue redução de cerca de 5 mm no

valor médio em 13 anos.

O IQM Verde traz consigo a informação de que a fragilidade dos fragmentos florestais

está relacionada com a sua origem, forma, tamanho e grau de isolamento, e com o tipo de uso

no seu entorno. Revela que diversos estudos vêm sendo iniciados no Estado do Rio de Janeiro

e em outras áreas da Mata Atlântica, através de programas como o PROBIO, do Ministério do

Meio Ambiente, para investigar a estrutura e a dinâmica da paisagem, as comunidades

biológicas existentes nesses fragmentos e sua relação com os diferentes tipos de uso da terra.

Apesar de existirem poucos resultados conclusivos, fortes evidências apontam para a

importância do histórico de uso e do grau de isolamento. Tendo em vista a sua importância na

manutenção de um mínimo de área natural em diversos municípios do Estado, conserva parte

do estoque original de biodiversidade, fundamental para o sucesso de estratégias de manejo e

restauração dos ecossistemas florestais, é imprescindível um esforço integrado de pesquisa e

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conservação desses fragmentos. A Fundação CIDE apresenta ainda uma outra medida que

vem sendo discutida que é o estabelecimento de corredores ecológicos conectando esses

fragmentos, de modo a possibilitar um maior fluxo de genes e espécies, diminuindo o risco de

extinções e aumentando a sua diversidade em médio prazo. (CIDE. IQM-Verde, 2001)

Segundo informações desse documento, o estado do Rio de Janeiro representa uma

porção especial na Floresta Atlântica. Mesmo que esta floresta seja uma área bastante extensa,

de difícil conservação (mais de 1 milhão de km2), é importante salientar que a maior parte

dela já foi destruída.

No tocante aos pássaros, MANNE et al. (1999) mostram que o Estado tem, com larga

margem, mais aves ameaçadas, se comparada a qualquer outro lugar na Floresta Atlântica e,

por extensão, nas Américas. Parte da explicação é que o Rio de Janeiro tem também mais

espécies de aves, devendo-se esperar, portanto, que contenha as mais ameaçadas.

A principal razão para essa pluralidade especial de espécies está na variedade de

topografia e clima. Múltiplas cadeias de montanhas cortam a região, criando uma complexa

série de zonas bioclimáticas. Em poucas dezenas de quilômetros, pode-se viajar de uma

floresta úmida para uma floresta de neblina e campos de altitude e, depois, cruzar a montanha

para áreas secas, onde cactos pontuam a paisagem.

Dadas as condições gerais da Floresta Atlântica, o trabalho ambiental situa o Rio de

Janeiro em relativa boa posição. Cerca de 18% do estado (incluindo as matas secundárias em

estágio avançado de regeneração) permanecem florestados, em situação muito melhor do que

a maioria das outras regiões. Segundo o estudo, a maior parte desta floresta ocorre em três

áreas, indicadas na Figura 8 (p.51). Duas delas, o Eixo Central e a Serra do Mar, são

fragmentos grandes e razoavelmente contínuos. Já a do Município do Rio de Janeiro está

repartida em três fragmentos principais, cada um circundado por áreas urbanas densamente

ocupadas.

“A distribuição da floresta tende para altas elevações, usualmente áreas inacessíveis (azul e verde na Figura 7(p.50)). Não é um padrão surpreendente, pois isto acontece em áreas desflorestadas no mundo inteiro. As pessoas derrubam primeiramente a floresta, o que é fácil. Surpreendente é a quantidade

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de floresta remanescente que existe nas terras baixas (vermelho na Figura 7(p.50)), especialmente quando se considera a grande densidade demográfica na região”.(CIDE, 2000, p.)

Mas de acordo com as análises técnicas do documento, grande parte da floresta das

terras baixas estende-se por uma estreita faixa ao longo da fronteira sul do Eixo Central

(Figura 7(p.50)). Referindo-se à região de estudo deste trabalho (figura1), esta faixa de

floresta é altamente fragmentada. Algumas florestas das terras baixas (Tamoios) mantêm

conexão entre si apenas através da floresta mais elevada. Outras estão completamente

isoladas.

Segundo o mesmo estudo, isto é preocupante10, por duas razões: a primeira é que

certas aves da Floresta Atlântica são migrantes de altitude, isto é, elas passam diferentes

épocas do ano em diferentes elevações. Para essas espécies, é essencial que haja floresta nas

terras baixas e nas elevações mais altas, assim como um caminho para o deslocamento entre

elas. Outra razão é que algumas aves vivem apenas nas terras baixas, especialmente as

espécies ameaçadas. Para estas, a conexão através de elevações mais altas pode ser de

nenhuma valia. Elas vão se mover apenas através das terras baixas.

É importante salientar que estas características não são exclusivas para aves, e as

soluções conceituais para seus problemas são provavelmente similares àquelas necessárias

para a conservação de outros animais.

Segundo o documento, impedir a extinção de aves e, igualmente, a de muitos outros

organismos requer grandes áreas de floresta. Estas florestas necessitam atravessar gradientes

de altitude ao mesmo tempo em que também mantêm conexões através das terras baixas.

As informações técnicas configuram a região do entorno de Tamoios, nos municípios

de Macaé, Casimiro de Abreu e Silva Jardim (Figuras 1 e 8, págs.21 e 51), na qual se poderia

restaurar a conectividade na floresta e reduzir as possibilidades de extinção. A Reserva

Biológica (REBIO) União (Macaé) e a Reserva Biológica (REBIO) Poço das Antas (Silva

Jardim) são reservas com proteção relativamente boa. Cada uma é um fragmento florestal de

10 O segundo e mais complexo problema é o das espécies restritas às terras baixas, as mais fragmentadas e as que têm as espécies mais ameaçadas. O problema geral é o isolamento de populações em pequenos fragmentos. Quando o desflorestamento isola um fragmento do resto da floresta, a população deste fragmento fica mais vulnerável a ocorrências que conduzem à sua extinção. Podem ser incêndios, doenças, acidentes demográficos ou quaisquer ocorrências imprevisíveis. Uma regra geral é que grandes fragmentos retêm a maior parte das espécies presentes na floresta original contígua, enquanto que pequenos fragmentos podem perder quase todas as espécies. Os cientistas questionam sobre o número exato de espécies que sobreviverão em um fragmento de dado tamanho, mas eles concordam que a relação é verdadeira. Para simplificar, é bom lembrar do seguinte: pequenos fragmentos retêm um número menor de espécies do que grandes fragmentos.(CIDE, 2000)

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terra baixa, com cerca de 3.000 ha e próxima a fragmentos florestais maiores. Morro de São

João (Casimiro de Abreu), uma intrusão alcalina, tem 1.500 ha e é desprotegido, embora

alguns dos proprietários de terra estejam considerando o estabelecimento de reservas privadas

(RPPNs).

Segundo os especialistas do trabalho, A REBIO União (Macaé) possui 17 aves

oficialmente ameaçadas (BERGALLO et al., 2000), a maior concentração que este autor

conhece nas Américas. Ela não tem conexão com floresta de maior altitude. A mais próxima

está no limite de uma faixa de 20 ha de pasto, ressaltada com um círculo na Figura

1(p.21)(p.22)0. A área pertence a uma única família de fazendeiros e tem uma pequena

estrada de terra, facilmente cruzada pela maioria da fauna selvagem. Reflorestar esta área

restauraria a conectividade da mais importante reserva de aves das Américas.

Para os estudiosos, a REBIO Poço das Antas, localizada em Silva Jardim, é o caso

mais difícil. Sua conexão mais próxima com fragmentos maiores de floresta implica cruzar

uma das rodovias mais importantes do Brasil, a BR-101. Remover a rodovia não é uma opção

viável; contorná-la, também não. Reflorestar até as margens da rodovia pode propiciar o

deslocamento de algumas espécies entre Poço das Antas e a floresta ao norte. Contudo, a faixa

da rodovia pode, ainda assim, ser larga demais para algumas espécies, e o tráfego de

automóveis certamente causará mortalidade. Florestas próximas a rodovias também causam

problemas práticos de queda de árvores ou galhos na pista. Isso se não forem suspensas como

a rodovia verde em SP.

O Morro de São João, situado em Casimiro de Abreu, é outro caso difícil, segundo os

cientistas. Terras agrícolas circundam a floresta e ele é muito mais isolado do que REBIO

União ou REBIO Poço das Antas. Reconectar este fragmento de floresta vai exigir

restauração extensiva da paisagem do entorno. Uma possibilidade seria um corredor de

floresta ao longo do rio São João, ao sul. Isto restauraria a conectividade com um fragmento

de floresta a oeste, ao mesmo tempo em que melhoraria a qualidade da água do rio.

Identificadas pelos cientistas da Fundação CIDE (IQM Verde, 2000) descobriu-se que

as possíveis áreas para serem reflorestadas na Floresta Atlântica, fazem parte da microrregião

de estudo do distrito de Tamoios. Continuando seus estudos, os pesquisadores ambientais

comprovam de que forma estas áreas devem ser reflorestadas expondo um conceito de

corredor ecológico, ou de biodiversidade.

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Segundo estes, o conceito de corredor de biodiversidade já é consagrado no Brasil,

onde está sendo implantada uma série de corredores, abrangendo seus principais

ecossistemas: Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal e Amazônia. No Rio de Janeiro, o Instituto

Estadual de Florestas está empenhado na implantação de um “corredor ecológico”(ou

biológico) na Região Serrana, localizado entre os Parques Estaduais dos Três Picos e do

Desengano. O corredor biológico tratado neste capítulo, denominado “Cordão de Mata”,

procura interligar remanescentes florestais da Região Serrana e do Norte Fluminense,

envolvendo diversas iniciativas em várias escalas.

Os estudiosos constatam que a habilidade para trabalhar em diferentes escalas é uma

característica essencial dos corredores biológicos, pois orienta seus executores a direcionarem

os recursos disponíveis para áreas prioritárias, sem perder a perspectiva da visão macro da

paisagem do entorno dessas áreas. De fato, segundo os especialistas, é essa característica que

distingue a metodologia de corredores biológicos das iniciativas de conservação que a

precederam, as quais tendiam a focar áreas específicas protegidas, ignorando a paisagem

maior da qual eram partes integrantes.

Por isso se apresenta como uma solução mais viável de ser executada, pois considera a

realidade urbana que é pujante, conforme este trabalho tem demonstrado.

Os pesquisadores colocam que a viabilidade de implantação do Cordão de Mata é mais

indicada nas regiões apresentadas do que em outras áreas no Brasil e em outros países. Nesses

outros países e nas outras áreas do Brasil, as paisagens são altamente degradadas em grande

escala (maior que 50.000 km2, em alguns casos), o que exigiria a continuidade do trabalho de

conectividade dos fragmentos por muitas gerações, de modo a se obter uma restauração

significativa. O Cordão de Mata, segundo eles, é relativamente pequeno em escala (6.700

km2) e, restaurando-se uma pequena parcela do corredor, poderá ser conseguido um

significativo grau de conectividade do habitat, trazendo benefícios concretos para a

biodiversidade e, potencialmente, oportunidades de geração de novos serviços ambientais,

além do aumento da produtividade agrícola.

O que são corredores biológicos de fato?

Encontramos esta definição no documento da Fundação CIDE, o IQM Verde, que os

apresenta como: “um conceito relativamente novo na área da Biologia de Conservação, criado

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em resposta à fragmentação inexorável dos habitats naturais que ocorrem no mundo

inteiro.”11

Na verdade, a fragmentação de grandes áreas de floresta isola as populações de plantas

e animais, que outrora eram contínuas, constituindo áreas maiores. Com suas populações

reduzidas e restritas, devido à separação dos fragmentos do habitat original, tais organismos

são mais suscetíveis à extinção, devido a fatores como erosão genética e alterações no meio

ambiente.

Segundo os mecanismos de implementação de políticas públicas (municipais), o

corredor linear, promove uma abordagem intervencionista direta, como: adquirir propriedades

ou direitos de uso de propriedade (a exemplo da servidão florestal) ou fazer cumprir os

códigos de zoneamento (Fundação CIDE- IQM Verde, 2000).

Implantar um corredor de paisagem, por outro lado, é um exercício de planejamento

regional que, provavelmente, exigirá mais intervenções indiretas (por exemplo, incentivos e

zoneamento ecológico-econômico) do que diretas.

O corredor linear se torna mais adaptado à realidade de nossa administração pública

municipal uma vez que as políticas regionais se demonstram lentas e muitas vezes ineficazes.

A carência de uma visão desse tipo, somada aos empecilhos de articulação nessa escala,

promovem uma dificuldade de interesse, por parte dos municípios, para uma participação

mais efetiva.

Ainda assim, sob uma perspectiva estratégica, segundo a fundação CIDE, os

corredores de paisagem fornecem uma escala e um contexto apropriados para o planejamento

da conectividade, enquanto os corredores lineares servem como blocos de construção que

podem expandir ou manter a conectividade.

O eixo montanhoso da maior parte da Mata Atlântica do Rio de Janeiro oferece

condições naturais para a criação de um corredor de paisagem, estendendo-se do Parque

Estadual do Desengano, a nordeste deste eixo, até a Reserva Biológica de Tinguá, a sudoeste,

incluindo, entre ambos, outras áreas protegidas (Figura 6, p.50). Inspirado numa expressão

utilizada por um dos mais antigos produtores de leite de Conceição de Macabu, envolvido no

11 Para maior entendimento, ver Anexo.

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Projeto, um grupo de ONGs localizadas nas Regiões Serrana e Norte Fluminense batizou o

corredor de “Cordão de Mata” - literalmente, um cordão de floresta entre remanescentes

florestais, recriado em parceria entre proprietários rurais, ONGs locais e o poder público

municipal.

Em 2001, os autores do IQM Verde realizaram uma delimitação inicial do Cordão de

Mata, baseada em imagens de satélite de 1988 e 2001 (Figura 9, p.52).

Segundo o corpo técnico, para maximizar a diversidade das espécies e habitats

representados no corredor, foi importante incluir áreas de baixadas (abaixo de 300 metros).

Estas áreas cobrem um número maior de espécies, mas também uma proporção mais baixa de

cobertura florestal - neste caso, devido às pastagens altamente extensivas e degradadas.

Continuam os estudiosos colocando que ao longo da margem sul, remanescentes

florestais (embora freqüentemente isolados) ocorrem em terras baixas - incluindo duas

importantes reservas biológicas (a Reserva Biológica de Poço das Antas em Silva Jardim,

com 6.300 hectares, e a Reserva Biológica União em Macaé, com 3.200 hectares). Estas

reservas contêm populações remanescentes e re introduzidas, altamente ameaçadas, do Mico-

Leão-Dourado (Leontopithecus rosalia). Outras características foram também consideradas

para delimitar a margem sul do corredor, como a presença de corpos d’água e de uma intrusão

alcalina, representada pelo Morro de São João (Casimiro de Abreu). Embora muitas áreas de

baixa altitude incluídas no corredor se encontrem altamente degradadas, os remanescentes

florestais existentes foram considerados suficientemente grandes e/ou numerosos para dar

uma base para a futura restauração.

As áreas de baixa altitude entendidas como pertencentes à parte Rural do distrito de

Tamoios foram excluídas do corredor, por conterem consideravelmente menos cobertura

florestal e parecem oferecer menos perspectivas promissoras para restauração.

De acordo com o trabalho mencionado, para aumentar a conectividade no Cordão de

Mata, foram delineados cinco ‘mini-corredores’ onde a cobertura florestal seria restaurada

(Figura 11, p.53). Para minimizar a área total a ser restaurada, as rotas destes corredores

seguiriam os remanescentes florestais, sempre quando possível, evitando locais desmatados.

O corredor mais longo, o central, teria 3 km de largura e se estenderia ao longo do eixo

central do Cordão de Mata. Três corredores relativamente curtos, de 2 km de largura,

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seguiriam gradientes altitudinais dentro e na vizinhança de Unidades de Conservação. O

último corredor, de 1,5 km de largura, que se conectaria ao Morro São João, região do entorno

do distrito de Tamoios, ligaria fragmentos florestais em terras baixas. No conjunto, estes

cinco corredores aumentariam substancialmente o grau de conectividade entre uma ampla

variedade de habitats no Cordão de Mata.

Um outro trabalho foi registrado na região da Reserva Biológica de Poço das Antas,

localizada no corredor em foco - Cordão de Mata. Trata-se de uma iniciativa, atualmente em

curso, liderada pela Associação Mico-Leão-Dourado (AMLD) de estabelecer um corredor

linear para ligar populações isoladas do Mico-Leão-Dourado. Este trabalho de acordo com a

Fundação CIDE, faz parte de uma estratégia de conservação que aumentou o número de

indivíduos silvestres, de menos de 200, no final dos anos 1960, para cerca de 1.000, em 2001.

A próxima meta, a ser atingida até 2025, é proteger 2.000 animais em 25.000 hectares de

habitat da Mata Atlântica. Devido à grande fragmentação da floresta na região, a obtenção

deste objetivo exigirá o estabelecimento de corredores de vegetação nativa entre os

fragmentos florestais atualmente isolados, aumentando, assim, as oportunidades de procriação

e melhorando a saúde genética das populações de Mico-Leão12.

De acordo com o mapa, a Fundação cita que o corredor cruza terras de proprietários

particulares, muitos dos quais estão dedicados à criação extensiva de gado, originariamente

para corte, mas, hoje, também para produção de laticínios. As principais ameaças para iniciar

e manter este corredor são o gado e o fogo, pois ambos eliminam as espécies florestais e

favorecem o crescimento do persistente capim colonião. Esta tendência apresenta uma enorme

ameaça não somente à regeneração, mas, também, à manutenção dos remanescentes florestais

existentes na região. Além disto, um corredor linear pode agir como um condutor para o fogo,

apresentando uma ameaça potencial aos remanescentes de florestas ao longo de sua rota.

Finalmente, um outro obstáculo para se estabelecer e manter um corredor linear é que muitos

dos proprietários locais são visitantes de fins-de-semana, que residem na cidade do Rio de 12 Inicialmente, a AMLD definiu 13 pequenos corredores que ligariam 14 fragmentos florestais isolados. Juntos, esses corredores menores poderiam, eventualmente, se unir para formar um único e grande corredor de aproximadamente 20 km de comprimento, conectando a Reserva Biológica de Poço das Antas, a nordeste, com um bloco de floresta de 1.200 hectares, na fazenda do Rio Vermelho, ao sul (Figura 1(p.21)(p.22)1). Este bloco representa a maior área de floresta privada que contém uma população de Mico-Leão-Dourado, compreendida, aproximadamente, de 90 indivíduos. O corredor foi implantado para incluir os maiores fragmentos existentes entre dois blocos grandes e para evitar obstáculos de grande porte (como a Rodovia BR 101, um gasoduto, ferrovias e redes elétricas), acompanhando, quando possível, a vegetação das margens dos córregos locais. A AMLD estima que um corredor com largura mínima de 30 metros poderia ser suficiente para o Mico-Leão-Dourado se movimentar entre os fragmentos de florestas. A manutenção em longo prazo de um corredor propenso ao fogo, entretanto, exigiria uma faixa de floresta de, pelo menos, duas a três vezes esta largura.

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Janeiro e adotaram a pastagem extensiva como forma de uso da terra, de baixo custo e

manutenção. Tais proprietários ficariam relutantes em assumir os altos custos e o

gerenciamento exigidos por um corredor florestal13.

O planejamento e a implementação deste corredor linear são de relevância direta para

o corredor de paisagem maior do qual faz parte, o Cordão de Mata. Análises em escala de

paisagem revelaram a importância essencial para restaurar habitats em locais de baixa

altitude, protegendo e conectando os remanescentes florestais. No caso do corredor linear

descrito acima, esses esforços terão o benefício adicional de restaurar as populações do Mico-

Leão-Dourado, uma espécie altamente carismática que poderia despertar interesse público no

âmbito do Cordão de Mata como um todo.

Para que estas iniciativas ocorram ao nível da execução de uma forma mais fácil, falta

a participação do proprietário que deve se sentir convidado a incluir-se no movimento.

A título de ilustração de possibilidades para estimular a participação da propriedade

privada em projetos de interesse público, pode-se citar a iniciativa da prefeitura do Rio de

Janeiro que preocupada com a degradação dos prédios ecléticos antigos do centro, criou o

Corredor Cultural. Dentre as inúmeras dificuldades enfrentadas com o desenvolvimento desta

idéia, principalmente porque os prédios eram de propriedade privada, assim como as terras a

serem reflorestadas neste caso, criou-se um incentivo fiscal na redução do IPTU para aqueles

proprietários que decidissem restaurar as fachadas de seus bens. Desta forma foi possível que

muitos dos exemplos ecléticos de sobrados do Centro do Rio fossem preservados.

A criação de um incentivo fiscal para a preservação das florestas é uma iniciativa já

desenvolvida através do ICMS14 Ecológico, inicialmente adotado nos Estados do Paraná e

Minas Gerais, mas já em fase de implantação em outros estados no Brasil e, segundo o

13 Em vez de tentar construir um corredor inteiro, a AMLD planeja conseguir resultados rápidos, concentrando esforço inicial em poucas e relativamente curtas ligações, junto com proprietários que dão apoio ao projeto. Estes receberão mudas de espécies pioneiras de crescimento rápido e, subseqüentemente, de espécies econômicas. Para auxiliar neste esforço, a empresa Aracruz Florestal comprometeu-se a fornecer 50.000 mudas de espécies nativas para o período de plantio de 2002. A AMLD também fornecerá materiais necessários para a criação do corredor, incluindo o mais essencial, a cerca. Em troca, cada proprietário fornecerá mão-de-obra para estabelecer e gerenciar o corredor. 14 O artigo 158 da Constituição Federal define os critérios para a distribuição das verbas arrecadadas pelos estados através do ICMS - Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. Dos 25% do ICMS alocados aos municípios, 75% são determinados com base na atividade econômica geradora do próprio imposto, enquanto os 25% restantes são distribuídos segundo critérios definidos por cada estado na sua legislação complementar pertinente. Entre estes critérios, são incluídos os fatores ambientais, tais como: a conservação da biodiversidade, os investimentos em saneamento e a proteção de mananciais.

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estudo, revela resultados importantes para abordagens de corredores. Outra iniciativa de igual

importância é a crescente adesão, por proprietários particulares, à criação de Reservas

Particulares do Patrimônio Natural (RPPN), tanto através de homologação federal quanto

através da adoção de legislação estadual pertinente. No distrito de Tamoios existe uma RPPN

chamada Parque da Preguiça, que leva esta missão adiante.

O ICMS Ecológico e as RPPNs, conforme relata o trabalho, se reforçam mutuamente,

pois o primeiro serve como alicerce a iniciativas inovadoras de prefeituras municipais,

enquanto o último incentiva a conservação por parte dos proprietários rurais, através da

isenção do Imposto Territorial Rural (ITR), sobre áreas dedicadas em perpetuidade à

conservação. Ambos os instrumentos poderiam ser direcionados ao objetivo maior de

construção de corredores biológicos.

A implantação de Comitês de Gestão de Bacias Hidrográficas é também um

instrumento inovador na política pública local e regional, permitindo uma visão integradora

do uso do solo e da gestão de recursos hídricos, o que, forçosamente, levará à necessidade de

proteger os mananciais, as matas ciliares e demais florestas, interligando-as em corredores

biológicos.

Segundo os especialistas, a adoção do ICMS Ecológico pelo Estado seria um passo

importante para motivar o poder público municipal nesta direção. Para se fazer coerente com

as finanças do Estado, será essencial ter consistência com a repartição de royalties da

exploração petrolífera que, a princípio, deve destinar previamente 20% aos investimentos

ambientais. Sugere-se que ambos os mecanismos para fortalecer os esforços em curso no

âmbito municipal sejam atrelados ao indicador de qualidade de uso e da cobertura do solo –

IQUS, oriundo do IQM-Verde, elaborado pela Fundação CIDE. Outro mecanismo

crescentemente adotado pelo Governo do Estado envolve os recursos oriundos dos fundos de

compensação de empreendimentos energéticos. Finalmente, o estabelecimento de legislação

incentivando a criação de RPPNs no Estado, e prevendo a isenção de impostos territoriais

futuros, representará um importante sinal verde para a proteção e a restauração da Mata

Atlântica. Todos esses mecanismos reunidos poderão incentivar a implementação de

corredores biológicos no Estado do Rio de Janeiro.

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A importância de se colocar estes conceitos dentro de um trabalho de abordagem

Urbanística é que tais compreensões caminham lado a lado na evolução da problemática

urbana atual.

O ponto de interseção existe no momento em que o técnico de conservação no esforço

da aplicação dos corredores ambientais amplia seu foco além das áreas protegidas, isso traduz

uma necessidade de outros técnicos, de áreas complementares como o urbanismo, por

exemplo, ampliarem da mesma forma seu foco em direção às questões que afetam as decisões

sobre o uso de recursos pela sociedade. Dessa forma se aumenta as chances de se efetivarem

projetos urbanos ambientais, ainda que no âmbito técnico.

Vale lembrar que as decisões responsáveis pela efetiva execução de projetos que têm o

enfoque urbano, ambiental e cultural não são de responsabilidade técnica somente. Mas como

comenta o filósofo Michel Foucault certas propostas técnicas, segundo a conjuntura, podem

servir muito bem como base de estratégias políticas. (FOUCAULT, 1980, apud SANTOS,

C.N.F., 1988, p. 22).

Figura 6(p.49) – A floresta (verde) ocorre primariamente em três áreas: Eixo Central, Serra do Mar e Município do Rio de Janeiro. Nuvens obscurecem parcialmente o Município do Rio de Janeiro. O retângulo vermelho indica a vista ampliada mostrada na Figura 1(p.21)(p.22)0. (fonte: IQM –verde 2001)

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Figura 7(p.50) - Distribuição da floresta, por elevação, no Estado do Rio de Janeiro.( fonte: IQM –verde )

Figura 8(p.50) - REBIO União e REBIO Poço das Antas são reservas biológicas relativamente bem protegidas. Morro de São João é uma intrusão alcalina e permanece florestado devido à sua topografia rugosa. Uma faixa de 20 ha de pasto (círculo vermelho) separa a REBIO União de áreas maiores de floresta nas proximidades. A rodovia BR-101 separa Poço das Antas da floresta próxima. Terra agrícola circunda o Morro de São João. Veja Figura 8(p.50), para uma visão mais ampla da região.

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Figura 9(p.51) - Delimitação do Cordão de Mata, indicando os locais de áreas públicas protegidas. REBIO Poço das Antas e REBIO União estão circuladas em vermelho.(CIDE, 2000)

Figura 10- Cobertura florestal no Cordão de Mata, segundo a altitude. Fonte: IQM –verde 2001

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Figura 11 - Cinco ‘mini-corredores’ delineados para aumentar a conectividade entre diversos habitats no Cordão de Mata.. A elipse magenta representa a área de estudo sem precisão, para que se possa ter uma compreensão sobre o entorno imediato a Vila de Tamoios. Fonte: IQM – Verde 2001

Corredor Linear para o Mico-Leão-Dourado

Figura 12 - Corredor linear projetado entre a Reserva Biológica de Poço das Antas e a Fazenda do Rio Vermelho. fonte: IQM – Verde 2001.

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2.2.2. Localização e impactos sofridos

O distrito de Tamoios está localizado dentro da região de atuação do Consorcio

Ambiental Lagos São João que atua na Macrorregião ambiental 4 (figura 13, p.57). Sua

fronteira com o Município de Casimiro de Abreu configura-se ambientalmente como a

extremidade de uma região específica (figura 14, p.57) por apresentar espécies de flora

endêmicas dadas as condições de clima presentes ali. “O Departamento de Botânica do

Instituto Smithsonian, de Washington, elegeu a “região de Cabo Frio”, com limites

assinalados na figura 14 (p.57), como um dos centros de diversidade de plantas mais

importantes da América do Sul.” (http://www.riolagos.com.br/cilsj/)

Como características ambientais relevantes a região apresenta uma notável diversidade

climática, variando do regime tropical ao semi-árido. A distribuição das chuvas na área exibe

uma forte variação espacial e temporal. Isto ocorre devido à ação combinada das mudanças

das massas de ar que pairam sobre a região ao longo do ano com as diversificadas

características do meio ambiente das bacias e da zona costeira, em especial o relevo,

associado ao fenômeno da ressurgência marítima que ocorre nas costas de Cabo Frio e Arraial

do Cabo. Durante o verão predomina a massa de ar Continental Equatorial, enquanto no resto

do ano prevalece a massa de ar Tropical Atlântica. Frentes frias (Frentes Polares Atlânticas)

freqüentemente passam pela região, em especial durante a primavera.

Estima-se a existência de mais de seis centenas de espécies de árvores e arbustos

nativos e mais de três mil espécies de outras plantas como palmeiras, cipós, trepadeiras,

bromélias, cactus, orquídeas e uma infinidade de ervas, além de outro punhado de espécies de

algas, liquens musgos e samambaias.

Segundo Biólogos da UFRJ (ARAUJO, D.S.D. Analise florística e fitogeográfica das

restingas do Estado do Rio de Janeiro, UFRJ, 2000) a flora deste centro, que cobre parte da

Macrorregião 4, deve possuir entre 1500 e 2200 espécies. Cerca de 26 espécies de plantas são

exclusivas de nossa região, ou seja, só nela vivem e em nenhum outro local no mundo, aí

incluídas 6 árvores. (Chrysophyllum januariensis, Duguetia rhizantha, Erythroxylum glazioui,

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Marlierea schottii, Rollinia parviflora e Swartzia glazioviana).

(http://www.riolagos.com.br/cilsj/)

Conforme apresentado no capítulo anterior o trabalho da Fundação CIDE, o IQM

Verde demonstra uma série de conceitos sobre a região estudada. Com relação à evolução do

processo de adensamento urbano em face de perda da vegetação local, poderemos aproveitar

também informações pertinentes.

De acordo com o mapa comparativo do uso do solo nos anos 1966-1969 e 2001

(Fundação CIDE- IQM Verde, 2001), é possível identificar a dimensão da perda da vegetação

que é classificada como de restinga (ver esquema 1,p.61, e figuras de 15 a 20, p.58). Ao nos

concentrarmos em Tamoios, identificamos a substituição da mancha verde ao longo da costa

pela mancha rosa, demonstrando que a ocupação urbana ocorreu nesta parte do território. Da

mesma forma, ao compararmos a parte interior do distrito podemos observar que apesar da

cobertura arbórea ter sido visivelmente reduzida, em 1966/1969 é possível identificar, uma

ocupação consolidada por práticas humanas, destinada a outros usos. Esta observação

evidencia um uso do solo específico, portanto um agenciamento daquela paisagem pelas

comunidades existentes ali. Se unirmos este mapa aos relatos obtidos sobre a fazenda de

Campos Novos, descritos na seção 2.3.1., veremos uma viável conclusão de que a utilização

desse solo, conforme descrito nos relatos supracitados, remonta à época de ocupação indígena

de cunho cultural, para práticas agrícolas e de pasto.

Ao associarmos este mapa às informações dos gráficos GD01(de crescimento

imobiliário entre 1991 e 2000) e GCP01 (de crescimento populacional entre 1991 e 2000),

veremos que o crescimento urbano ocorreu acentuadamente entre os anos de 1991 e 2000.

Este fenômeno tende a continuar, dadas as características apresentadas nos processos

econômicos microrregional e local.

De acordo com a análise técnica da Fundação CIDE, considerando-se o total da área

com cobertura arbórea clímax e em diferentes estágios de regeneração, Cabo Frio apresentou

a segunda colocação dentre os municípios do estado, onde ocorreram os maiores

desmatamentos15. Os técnicos analisam que o desmatamento no período concentrou-se nas

Regiões das Baixadas Litorâneas e Norte Fluminense. Continuam afirmando que ocorreu

15 Piraí (8.803 ha), Cabo Frio, Silva Jardim, Araruama, São Fidélis, Magé, São Francisco de Itabapoana e Cardoso Moreira (4.807 ha) em ordem decrescente.(Fundação CIDE, 2001)

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também um desmatamento acentuado nos municípios localizados ao norte e a leste da Baía da

Guanabara (Niterói, São Gonçalo, Magé, Guapimirim e Itaboraí), evidenciando a expansão da

Região Metropolitana nesta direção, devido, provavelmente, à melhoria da infra-estrutura

viária, como a construção da ponte Rio-Niterói, o que pode explicar também o aumento da

área desmatada em municípios da Região dos Lagos, como Cabo Frio e Araruama.

A figura 23 (p.61) desenvolvida pela Fundação CIDE, é de fácil compreensão quanto

ao funcionamento das áreas de restinga, as quais eram abundantes em Tamoios, conforme o

mapa pode demonstrar.

Para a região de Tamoios é possível identificarmos a existência de alguns exemplos da

abundante restinga de 1968/1969. O curioso nesta área, além de todas as características

descritas, é que conforme a reserva de Marinha pode comprovar, a original conformação de

restinga possui restinga arbórea na beira da água do mar, quando, de acordo com o esquema,

deveria estar localizada após a vegetação arbustiva.

De acordo com o mapa 2, a Fundação CIDE afirma que em termos percentuais, Cabo

Frio perdeu 20,86% da sua cobertura arbórea, no período, (por ordem decrescente, Cabo Frio,

Piraí, São Gonçalo, Nilópolis, Japeri, Magé, Niterói e Maricá). Com exceção dos dois

primeiros e de Maricá, os demais pertencem à Região Metropolitana, com processo contínuo

de crescimento populacional. Em Cabo Frio, este crescimento deve-se à expansão imobiliária,

em função, principalmente, da segunda moradia, novamente evidenciando o papel da

expansão urbana na diminuição da cobertura arbórea. Constatam os técnicos desta Fundação

que a perda representou entre 11 e 20% da área total desses municípios, em apenas 35 anos, o

que realça o grande avanço da malha urbana no período.

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57

Figura 13 Area de atuação do Consorcio Intermunicipal Lagos São João (http://www.lagossaojoao.org.br/ em 09/2008)

Figura 14 Região Ambiental Específica (http://www.riolagos.com.br/cilsj/ em 8/2005)

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58

Figura 15 Campo inundável (IQM-Verde, 2001)

Figura 16 Restinga Arbórea (IQM-Verde, 2001)

Figura 17 Arbórea Inundável (IQM-Verde, 2001)

Figura 18 Mangue Arbóreo (IQM-Verde, 2001)

Figura 19 Restinga Arbustiva (Autor, 8/2002)

Figura 20 Restinga Herbácea (Autor, 8/2002)

As figuras 15, 16, 17, 18, 19 e 20 são

exemplos da restinga encontrada em

Tamoios.

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Figura 21, fonte: Fundação CIDE, IQM-Verde, 2001

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Figura 22, fonte: Fundação CIDE, IQM-Verde, 2001

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Perfil Esquemático da Restinga

Arbustiva ArbóreaArbórea

Inundável

Referência: CD IQM verde (Fundação CIDE) ,2001

Figura 23

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2.3. As implicações de natureza cultural

No processo de interação do meio em que vive, o homem desenvolve relações de

topofilia (TUAN,1980). Das formas de percepção surge no homem a necessidade de

representação daquilo que ele percebe e o ato dele produzir informações a partir da sua

percepção é para Lucrecia D’Alessio Ferrara (1999) considerado como produção cultural.

Este processo no contexto da comunidade produz um reflexo espacial específico na região em

que se insere, um padrão de ocupação e topofilia específicos, uma unidade chamada

Paisagem.

“A paisagem sempre esteve intimamente ligada, na geografia humana, com a cultura, com a idéia de

formas visíveis sobre a superfície da terra e com a sua composição” (COSGROVE, 1998).

Entendida neste contexto como o produto da ação cultural sobre o espaço, a paisagem

se transforma junto com o processo de modificação cultural. Se nessa percepção são

observados contrastes, principalmente por comparações feitas à mesma paisagem no tempo

torna-se passível seu estudo e compreensão sobre o processo.

O evento de sobreposição cultural, de acordo com COSGROVE (1998), sugere uma

relação íntima com o poder, que é expresso e mantido na reprodução da cultura. Nesse

processo, segundo o autor citado, um grupo dominante procurará impor sua própria

experiência de mundo, suas próprias suposições tomadas como verdadeiras, como cultura

objetiva para todas as pessoas.

Como evolução natural destaca-se a renovação das gerações, que em geral, promove

atualização em relação às práticas humanas. Alem desta, o fenômeno de inclusão de outras

atividades e comportamentos pela população instalada, produz transformações culturais.

Como constatado, identifica-se na Vila de Tamoios, um aumento demográfico e um

crescimento urbano, sem planejamento. O novo contingente populacional é composto em

grande parte por famílias de baixa-renda do Grande Rio e de outros lugares, conforme

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apresentamos adiante. Esse grupo tem criado novas formas de interação com o espaço,

gerando fatos passíveis de análise.

Nesta seção será apresentado o produto da ação do homem ao longo da paisagem da

Microrregião citada o que contribui para a compreensão do processo histórico de ocupação de

Tamoios.

Num primeiro momento, será apresentado o processo histórico de ocupação ocorrido

na Mesorregião Norte Fluminense16 (de Quissamã a Campos dos Goytacases) relacionando-o

ao processo exposto nas duas escalas de abordagem (microrregional e local, ver figura 1,

p.21). Considera-se também a produção agropecuária, como fator econômico cultural

importante para o desenvolvimento da região.

Em seguida, será apresentada a evolução do processo de exploração agro-industrial

existente no norte fluminense, representado pelas plantações de cana-de-açúcar e pela

produção do etanol (combustível), para o grande desenvolvimento da extração mineral do

petróleo em águas abertas, na Bacia de Campos, Macaé, Rio das Ostras, Barra de São João e

Cabo Frio, relacionando-o da mesma forma ao processo de ocupação e transformação cultural

nas duas escalas de análise.

Por último, será exposto o processo de desenvolvimento do Turismo na Costa do Sol,

ao longo da década de 1990, incluindo as relações de baixa e alta renda e os choques inerentes

a esse desenvolvimento e como esse processo tem afetado culturalmente a região de estudo

representada pela Vila de Tamoios.

16Muito embora Quissamã não esteja na figura 3(p.31), exposta como a microrregião de entorno e influencia para a Vila de Tamoios, as similaridades entre o tipo de exploração do solo faz com que o assunto cultural permita a inclusão do Norte Fluminense na escala regional, nessa parte da seção.

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2.3.1. As origens do desenvolvimento agro-rural

Um trabalho que nos esclarece bem sobre as origens das atividades de produção

açucareira em Quissamã e em Campos dos Goytacases, assim como a produção arquitetônica

das fazendas naquela região é o desenvolvido por CALVENTE, E.A. Com o título

Arquitetura e tradição familiar: um estudo das transformações de plantas de fazendas

construídas no século XIX em Quissamã, Estado do Rio de Janeiro, 2001.

De acordo com este estudioso, o Município de Quissamã integra a região do Norte do

Estado do Rio de Janeiro, conhecida desde seus primórdios, como Campos dos Goitacazes

(Figura 2(p.22)7). Localiza-se às margens do Oceano Atlântico, sendo limitado pelos

municípios de Campos, Conceição de Macabu e Carapebus. A região está marcada pelos

processos de formações geológicas e geomorfológicas do litoral e da foz do rio Paraíba do

Sul, que propiciaram condições especiais para o desenvolvimento da atividade agrícola,

especialmente voltada para a cultura da cana de açúcar, pela excelência de seu solo de

Massapés.

CALVENTE (2001) nos mostra que Quissamã integra a área da antiga Capitania de

São Tomé, dada a Pero Góes da Silveira ainda no primeiro século da colonização (Figura

2(p.22)7), reivindicada e doada mais tarde aos Sete Capitães (Miguel Aires Maldonado,

Miguel da Silva Riscado, Antônio Pinto Pereira, João de Castilho, Gonçalo Corrêa de Sá,

Manoel Corrêa e Duarte Corrêa), proprietários de engenhos na região do Rio de Janeiro, a

quem os portugueses quiseram honrar pelos serviços prestados à Coroa.

Segundo o autor, esses novos proprietários desenvolveram uma pecuária com o

objetivo de abastecer de carne e animais de tração seus engenhos situados ao redor da baía de

Guanabara. Em visita ao local, em 1634, encontraram vivendo entre os índios, um negro que

se dizia forro e originário da “nação Quissamã”. Como não tinham notícias da existência

desse local, acharam estar ele mentindo e que teria, em verdade, desertado de algum senhor.

Como não acharam mais o negro, que fugiu desconfiado, deram ao lugar o nome de Quissamã

(CALVENTE, 2001, p. 18). Coube ao capitão Miguel Aires Maldonado grande parte das

terras que deram origem ao que hoje é o Município de Quissamã, ocupadas também pelos

beneditinos e carmelitas desde 1648.

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O plantio da cana-de-açúcar, segundo CALVENTE (2001, p.20), começa na região

campista ainda em meados do século XVII. A princípio de forma incipiente; só a partir de

meados do século seguinte os números dessa produção passam a ser significativos. É

LAMEGO (1976) que nos informa:

“Em meados dos setecentos, com suas 12 000 pessoas de Sacramento, o país onde as terras são as mais deliciosas, por serem de massapés legítimos, extensas, planas, cercadas de rios e lagoas que facilitam o comércio, já exportava para o Rio de Janeiro e a Bahia, só em gado vacum 15 600 cabeças, em cavalar 3 000, em mantimentos 85 000 alqueires de farinha, e algumas centenas de caixas de açúcar, no valor de 400 000 cruzados” (Alberto Ribeiro Lamego, 1976 apud CALVENTE 2001 p.20).

Como mostra o pesquisador (CALVENTE, 2001, p.20), antes da construção do

Engenho Central em 1877, houve sete engenhos em Quissamã que faziam a moagem das

canas produzidas pelas próprias fazendas. Enorme contigente de escravos era empregado no

processo produtivo, alojados em senzalas próximas às casas-grandes, servidas igualmente por

grande número de escravos que ajudavam a tocar o dia-a-dia destes enormes complexos. “Um

engenho ou fazenda de açúcar representava, com todo seu aparato, a casa grande, a capela, as

senzalas e a unidade fabril, quase que um pequeno estado, atento às necessidades dos que o

cercavam e o serviam.” (MARIANI, 1987, apud CALVENTE, 2001 p.21).

O estudioso continua relatando o inicio de uma nova etapa no crescimento da região,

em 1864.

“Estenderam-se os canaviais por novas áreas, como as da fazenda de Santa Francisca, adquiridas aos Beneditino por Inácio Silveira da Motta, barão de Vila Franca, e intensificou-se a produção açucareira nas antigas terras da família. As novas sedes de fazendas construídas, sendo as mais importantes as casas de Santa Francisca, construída em 1852, da Machadinha, de 1867 e da Mandiqüera, de 1875, atestavam o fausto e o requinte de seus proprietários, em busca da identificação com o imaginário europeu, caracterizado pelo uso do Neoclássico, legitimado pelo status aristocrático brasileiro. Nessas novas sedes, os partidos arquitetônicos vão retratar elementos da arquitetura local, denotando uma relação estreita com a tradição familiar.” (CALVENTE 2001, p.21)

Para CALVENTE (2001, p.22), em 1877 a construção do Engenho Central, caracteriza

a consolidação da produção dos engenhos locais em um único estabelecimento, que irá

assumir, pouco a pouco, o papel mantido até hoje, de grande latifúndio local. A criação do

engenho foi decidida como resposta às necessidades de melhoria de qualidade, exigidas pelo

mercado internacional e incremento da produção, que passou de sazonal a permanente,

exigindo uma constante produção de matéria prima, viabilizada pela rotatividade das áreas

plantadas.(CALVENTE, 2001, p.22)

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De acordo com o histórico do portal do Município de São Pedro da Aldeia

(http://www.pmspa.rj.gov.br/historia01.aspx, visitado em 28/10/2007), em 1648, foi

concedida aos índios e padres da Aldeia de São Pedro uma sesmaria que viria abrigar a

fazenda de Santo Ignácio dos Campos Novos. São construídos a Igreja com a invocação ao

fundador da Companhia de Jesus e um pequeno cemitério. A dita fazenda tornou-se um

entreposto de abastecimento de gado bovino, suíno, víveres, hortaliças, mandiocas e madeira

para o colégio do Rio de Janeiro.

Comparando a atividade histórica dos engenhos de açúcar em Quissamã e Campos dos

Goytacazes com a atividade agro-rural descrita em Campos Novos, percebe-se a existência de

um padrão de desenvolvimento rural que se inicia por esses territórios ao longo do século

XVII consolidando-se como atividade econômica importante no estado.

A fazenda de Campos Novos17 é um testemunho do processo de exploração agro-rural

que ocorre também em Tamoios18 (ver figuras 28 e 29, p.69). Seu partido arquitetônico

composto pela tipologia Jesuítica, dista do padrão Neoclássico em Quissamã (figuras 30, 31 e

32, p.82) exposto por CALVENTE (2001) anteriormente. As características de exploração

agrária descritas pelos engenhos são encontradas em Campos Novos além de um sítio

arqueológico indígena anterior à época da escravidão, conforme nos mostra o Projeto de

Resgate da Memória Cultural da Missão Jesuíta de Santo Inácio de Campos Novos.

Segundo DIAS (2003) desde o início a fazenda Campos Novos foi organizada pelos

inacianos com o objetivo de criar gado e produzir farinha de mandioca para os seus demais

estabelecimentos. O pesquisador apresenta que a mão de obra usada era indígena, como era a

prática daqueles religiosos, e cresceu de importância ao longo dos anos. Eles produziam o que

os índios já sabiam muito bem fazer, aproveitando sua cultura e modificando sua crença. Era

sua missão difundir os ensinamentos cristãos por entre os escravos e os índios catequizando-

os.

17 Nome, provavelmente, relacionado ao fato de ter sido localizado pelos conquistadores em momento posterior aos campos de Santa Cruz, mais próximos da cidade do Rio de Janeiro, onde se localizara a segunda aldeia de índios dos jesuítas, no Cabuçu, a redução de São Barnabé, depois transferida para Itaboraí. 18 Ver DIAS, Ondemar: IAB Instituto de Arqueologia Brasileira, Projeto de Resgate da Memória Cultural da Missão Jesuíta de Santo Inácio de Campos Novos disponível em http://www.ateia.org.br/ver_projetos.asp?id=14

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Conforme as informações históricas contidas no portal do Município de São Pedro da

Aldeia (http://www.pmspa.rj.gov.br/historia01.aspx, visitado em 28/10/2007), em 1759, os

jesuítas são expulsos dos domínios portugueses e suas possessões.

Quando da expulsão dos, assim chamados, “soldados de Cristo”, em meados do século

XVIII, DIAS (2003) apresenta que o principal volume da sua mão de obra fora formada pelos

Tupis e Goitacazes, reunidos na vizinha aldeia de São Pedro de Cabo Frio. Conforme relata o

estudioso, na época de sua expulsão mantinham os jesuítas em Campos Novos uma boa

quantidade de escravos africanos, organizados nos mesmos moldes dos seus estabelecimentos

de Santa Cruz e Itaguaí.

DIAS conta ainda que em Campos Novos, formados pelos alagados do Corondó (ou

Fazenda Botafogo) e São Jacinto (ou Malhada), uma série dos mais importantes sítios

arqueológicos do litoral fluminense foi identificado:

“Caracterizadores de um grupo humano, formado por comunidades de caçadores coletores não especializados, domesticadores de vegetais e possuidores de uma complexa rede de conhecimentos e de manifestações culturais e que tanto quanto seus sucessores históricos souberam aproveitar a potencialidade do ambiente. Já bem estudados, tais grupos são igualmente conhecidos em toda a arqueologia brasileira e sul-americana, constituindo a Tradição Itaipu, em sua fase mais antiga.”(DIAS, Odemar Projeto de Resgate da Memória Cultural da Missão Jesuíta de Santo Inácio de Campos Novos, disponível em http://www.ateia.org.br/ver_projetos.asp?id=14 em 9/2005)

De acordo com relatos qualitativos de moradores de Tamoios, a produção de farinha

de mandioca era reconhecidamente muito boa. Tal atividade remonta das épocas indígenas

“Na agricultura, destacavam-se as plantações de anil, cochonilha, legumes, cana-de-açúcar,

mandioca, feijão e milho”. Os relatos confirmam a presença de fábricas de farinha e

sambaquis ainda não catalogados como vestígios das produções passadas.

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Figura 24, fonte: CALVENTE, 2001, p.28

Figura 25 Sede da Fazenda Campos Novos (fonte http://www.ateia.org.br/ver_projetos.asp?id=14, em 09/2005)

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Figura 26 Vista aérea do complexo rural (fonte http://www.ateia.org.br/ver_projetos.asp?id=14, em 09/2005)

Figura 27 Fachada da Fazenda Machadinha em Quissamã (CALVENTE, 2001 p. 160)

Figura 28 Fachada da Fazenda Mandiquera em Quissamã (CALVENTE, 2001 p. 160)

Figura 29

Fachada da Fazenda São Manuel em Quissamã (CALVENTE, 2001 p. 160)

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2.3.2. Da Cana-de-Açúcar ao Petróleo - desenvolvimento microrregional

A atividade agrícola, de produção açucareira, e de engenhos, na região de Macaé,

Quissamã e Campos dos Goytacazes é descrita por MARCHIORI (1987, p.26) como uma

atividade que perdura por três séculos, conferindo à região, durante esse tempo, liderança

econômica e política no Estado do Rio de Janeiro.

Investimentos do programa Pró-álcool entre 1975 e 1986, encontram especial

destaque, iniciando a região na atividade agro-industrial pela produção do etanol para fins de

combustível, a partir da cana-de-açúcar (PORTAL BIODISEL, 2007).

De acordo com os dados dos censos agropecuários realizados pelo IBGE, a área

agrícola (lavouras) do Estado permaneceu relativamente estável, entre 1970 e 1985 - com

620.000 ha, em média - caindo de modo acentuado para 337.000 ha no censo de 1996 (IBGE,

1974; 1983; 1986; 1996, apud Fundação CIDE, IQM Verde, 2001).

Após 1986, em função da desvalorização da produção agro-industrial, gerou-se uma

fase de estagnação, acarretando certa instabilidade de empregos naquela região (Fundação

CIDE, IQM Verde, 2001). Nessa mesma época o desenvolvimento da exploração petrolífera é

aumentado, desde 1978 quando foi iniciado na costa de Macaé (idem, 2007).

Segundo a Fundação CIDE (IQM Verde, 2001) a mão-de-obra empregada na

agropecuária no Estado, após um pequeno crescimento de 1970 a 1985, diminuiu em 46%, no

período 1985 a 1995. Entretanto, houve um aumento gradual do rebanho bovino, de 1970 a

1995, estabilizando-se praticamente a partir desta data.

Os dados da Fundação CIDE (IQM Verde, 2001) traduzem a realidade da produção

agropecuária do Estado do Rio de Janeiro, mas servem ao propósito desse trabalho porque

ajuda à compreensão do fenômeno de modificação cultural em Tamoios, já que a Região

Norte Fluminense, conforme descrito anteriormente, tem sua fundamentação econômica nessa

atividade com duração secular.

Sendo assim, a Fundação CIDE (IQM Verde, 2001) relata que uma diminuição da

atividade agrícola em detrimento da pecuária foi observada, ocorrendo uma expansão desta

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71

última atividade em algumas áreas previamente ocupadas pela agricultura, em áreas

desmatadas durante o período, ou através do aumento da produtividade, pela adoção de novas

tecnologias. Como a pecuária emprega pouca mão-de-obra em relação à agricultura, a

diminuição desta é provavelmente um dos principais fatores responsáveis pela diminuição do

emprego na área rural e o conseqüente êxodo para as áreas urbanas.

Entre as possíveis causas apontadas para o recuo das lavouras fluminenses, segundo a

Fundação CIDE (IQM Verde, 2001), estão a redução da rentabilidade e as dificuldades

enfrentadas pela agricultura, especialmente em áreas de alta declividade e precipitação

(Região Serrana), ou com baixa fertilidade natural dos solos. Outra possibilidade é o

surgimento de atividades alternativas, como o turismo rural e o ecoturismo, ou mesmo de

alternativas agrícolas que demandam áreas menores, como a olericultura, a criação intensiva

de suínos e caprinos, a apicultura e a aqüicultura.

Se foi em detrimento da pecuária, ou pelo surgimento de atividades mais rentáveis, o

fato é que ocorreu na época do declínio da produção açucareira, em 1986, descrita pelo

PORTAL BIODISEL (2007), e conseqüente industrialização do etanol, uma escassez de

empregos na região.

Em contrapartida, a re-valorização do combustível fóssil em 1986 tem gerado uma

progressiva e exponencial substituição da atividade econômica prioritária na Região Norte

Fluminense, de agro-industrial para extração mineral e industrial, encontrando em Macaé sua

base de crescimento (PORTAL BIODISEL, 2007).

Diante da dificuldade de empregos na área agrária e com perspectivas sólidas de

desenvolvimento nas áreas de extração mineral em águas abertas do petróleo em Macaé, além

do desenvolvimento do terceiro setor ao longo da microrregião destacada (Macaé, Rio das

Ostras, Barra de São João, Cabo Frio e Armação dos Búzios), observa-se o início do processo

de explosão demográfica identificado, com o crescente aumento populacional nas áreas

indicadas (inicialmente) pela população oriunda das produções agrícolas em Quissamã e

Campos dos Goytacazes. Vale colocar que em Tamoios é observado um aumento da

população residente a partir de dados do censo demográfico do IBGE que consta como

começo da contagem o ano de 1990. No entanto, já em 1986 é constatado um aumento

populacional gradativo por pessoas de Campos dos Goytacazes, salientado através de

entrevistas qualitativas.

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Atualmente, segundo CARMO (2007, p.4) os Municípios: Macaé (Região Norte

Fluminense), Rio das Ostras (Região das Baixadas Litorâneas) e Rio de Janeiro (Região

Metropolitana) possuem as duas maiores bacias petrolíferas e uma das mais importantes

refinarias do país (a REDUC). A cidade do Rio de Janeiro possui mais de 700 empresas do

Setor Petróleo, sendo a sede de empresas operadoras e de outras dedicadas a serviços de

grande porte, estaleiros, escritórios de engenharia, entre outras atividades. Macaé conta com

mais de 120 empresas neste segmento, essencialmente dedicadas aos serviços de apoio

marítimo, logística e apoio à operação.

O mesmo autor afirma que o estado produz 85% do petróleo brasileiro (1,6 milhão de

barris/dia) e é o maior produtor de gás do país (12,5 milhões de m³/dia), com reservas de 18

bilhões de barris de óleo equivalente. (CARMO, 2007, p.4)

A cultura da região destacada começa então a se modificar uma vez que o

desenvolvimento do progresso trouxe oxigênio para que as extensas áreas agropecuárias se

renovassem. A transformação do solo rural em urbano foi se dando progressivamente através

da ocupação das áreas de pasto e de plantio, mesmo litorâneas, como observamos em

Tamoios, e com o adensamento sem planejamento houve uma renovação também no valor de

uso e de troca dos recursos naturais. Em Cabo Frio a prática da coleta do IPTU em solo rural

pela prefeitura é observada na medida em que o solo ia se adensando. Somente no Plano

Diretor recente, datado de 2006 tem atualizado o zoneamento de suas áreas rurais como

urbanas. O IBGE apresenta dados censitários das áreas rurais, agregando-os por setores, de

1990 até 2000, sendo este o último disponível.

Se causado pela busca por trabalho ou pela procura por residências secundárias,

através do turismo, entende-se que a urbanização tida como agente modificador de áreas

rurais tem, devido a sua ausência de planejamento, importante impacto nas áreas atingidas.

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2.3.3. O turismo e a sua inclusão na Vila de Tamoios e o seu entorno

Ainda de acordo com CARMO (2007, p.6) O Rio de Janeiro é o estado mais visitado

do Brasil, recebendo 1,6 milhão de turistas estrangeiros e 4,5 milhões de brasileiros, em 2006.

Dos estrangeiros que visitam o Brasil, 40% têm como destino a cidade do Rio de Janeiro,

sendo Búzios a 9ª cidade brasileira mais visitada e Paraty a 19ª, segundo pesquisa da

Embratur. Cabe destacar os importantes projetos para a construção de resorts cinco estrelas,

com total infra-estrutura de lazer, em Cabo Frio, Búzios, Angra dos Reis e Maricá, com

investimentos superiores a R$ 1 bilhão.

Pode-se incluir como início do agenciamento na paisagem atual da Vila de Tamoios, o

começo da prática pesqueira estabelecida por pescadores oriundos da praia de Atafona em

Campos dos Goytacazes, na primeira metade do século XX. Segundo entrevista com ancião e

pescador local, os pescadores colonizaram a foz do rio São João, divisa dos Municípios de

Cabo Frio e Casimiro de Abreu, e estabeleceram uma colônia que evoluiu para o Bairro de

Santo Antônio hoje densamente povoado.

Segundo o entrevistado, uma série de eventos tem modificado a realidade da colônia.

Culturalmente os pescadores possuíam tradições de comemorações religiosas como Bumba

meu Boi, Nossa Senhora dos Navegantes, Santo Antônio e São João. E suas esposas

praticavam tradicionalmente o artesanato.

O ancião pescador nos fala que atualmente a pesca tem sido prejudicada pela falta de

fiscalização da Capitania do Porto de Cabo Frio (distrito sede), que não impede os grandes

barcos da pesca de espera (entendida como os grandes arrastões) de se aproximarem da costa

e atuarem nas áreas da pesca artesanal19, mesmo nas épocas de desova.

De acordo com o pescador, as comemorações têm diminuído drasticamente. Primeiro

pela redução da pesca e seus recursos, e em segundo lugar pelo aumento dos crentes por meio

de conversão da maioria dos pescadores e seus filhos, que não têm o costume da tradição de

festejar os dias dos santos. E com essa perda é constatada uma aniquilação cultural

19 Os barcos de pesca artesanal ficam mais perto da costa por serem de pequeno e médio porte.

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representada pela extinção de um grupo e suas práticas culturais, reflexo da atividade primária

local desenvolvida.

Após abertura da RJ 106, no trecho de Tamoios no período de 1968 a 1970,

loteamentos legalizados começaram a explorar a região ao longo de cinco quilômetros a partir

de Santo Antônio, entre eles pode-se citar Unamar, Long Beach e Orla 500. (PMCF)

“No começo, foi ponto de atração de ricos aventureiros da Cidade do Rio de Janeiro, de encontro

social de poucos priveligiados, de intelectuais, de praticantes de esportes náuticos e submarinos. Depois,

Cabo Frio passou a se constituir em local de atração turística para cariocas e mineiros, de instalações de

residências secundárias, de clubes náuticos, de diversões noturnas, de hotéis, restaurantes, serviços

comerciais e de abastecimento. A inauguração da Ponte Rio-Niterói, em 1973, deu lugar a fase atual de

turismo de massa.” (http://www.cabofrioturismo.rj.gov.br )

O Turismo, entendido como um agente impulsionador do desenvolvimento da Região

da Costa do Sol, produz acentuado impacto a partir da década de 1990, tendo como atrativo

natural sua exuberante costa e um contexto singular cultural local (Dados da Secretaria

Estadual de Desenvolvimento Econômico e Turismo – SEDET, 2002).

Entendemos que a atividade mencionada foi impulsionada em uma região sem o

devido preparo estrutural que suportasse os impactos urbanos, ambientais e culturais

referentes aos grandes deslocamentos populacionais sazonais ocorridos. Como reflexo dessa

constatação observa-se nas áreas em foco, outrora espaçosas, naturais e livres, o produto da

ação da atividade turística. Os impactos de natureza cultural, conforme mencionado, conferem

problemáticas reais tendo em vista a inclusão social para a comunidade local.

Em uma sociedade como a de Armação dos Búzios20, por exemplo, é observada uma

divisão abrupta entre moradores e veranistas. Os nativos e residentes em grande parte,

participam da realidade do turismo de alto padrão, em sua maioria, como empregados e

serventes, dentro de uma hierarquia social de extrato inferior.

Esse contraste entre realidades econômicas tão distantes, representa um obstáculo ao

desenvolvimento daquela comunidade, pois incumbe valores culturais externos. Estes são

concretizados, por exemplo, através da construção de muros altos de condomínios, da

20 Mas também observada em Rio das Ostras, Cabo Frio, Macaé

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inserção de novas técnicas construtivas, além da criação de um calendário de eventos

especifico para os visitantes temporários.

O nativo que nasceu naquela região, filho de pescador, recebeu como herança um

conjunto de valores coerentes com a simplicidade de seu nicho. Estando adaptado e

entendendo aquele lugar como “seu”, não compreende como pode ser segregado de sua

própria terra. Se afasta de suas referências, e é obrigado a aceitar um novo conjunto de

valores, onde as “regras” externas passam a valer como corretas. Fica dividido entre o desejo

pela nova realidade que se apresenta, mas não lhe é acessível, ou seguir o caminho dos pais,

que agora trabalham para aqueles que impõem um padrão de consumo extremamente adverso

ao seu e de sua realidade. O prazer não é mais oriundo do recurso natural, simples; agora é

submetido ao ter. O ter que ele não pode.

Dessa forma as perdas para aquela família constituem-se como perdas de práticas

sócio-culturais que produziram, no inicio da expansão do turismo, interesse singular para o

crescimento dessa atividade. As práticas culturais presentes desde a pesca praticada pelo avô,

ou pai, tem se misturado com novas práticas mais rentáveis, que visam atender à indústria do

turismo, tais como o trabalho de pedreiro, caseiro, motorista, arquiteto, empresário, etc.

A situação mencionada gera unidades urbanas com infra–estrutura voltada ao

atendimento do turismo global. Ao se comprometerem com uma nova dinâmica, as

comunidades se afastam das tradicionais atividades que nutrem sua individualidade, para

atender as demandas comerciais do mundo unificado. (JEUDY, 2005)

As áreas que passam pelo processo mencionado acima, ficam desprovidas das

manifestações culturais, que representam, junto com os aspectos naturais, o apelo turístico do

local. Observamos que locais que se apresentam estruturados para a atividade turística, mas

que não se dedicam simultaneamente à manutenção de seus principais atrativos naturais e

culturais não têm verificado crescimento do turismo de destaque, embora possam registrar

números expressivos em outros segmentos tais como o turismo de massa.

Acredita-se que os objetivos finais a serem alcançados com a atividade turística devam

ser identificados prioritariamente para que ela se desenvolva em harmonia com as

especificidades locais.

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Na Vila de Tamoios, o processo do turismo é verificado como ativo ao longo do ano

principalmente nas épocas de alta estação. O turismo de massa constatado é identificado como

um contraste à região de entorno imediato, onde é estruturada a freqüência de uma classe com

poder aquisitivo maior.

ALCÂNTARA (2005) produziu um importante trabalho que aponta em Cabo Frio

uma demanda para o turismo de massa. Esta acompanha o crescimento da região

metropolitana do Rio de Janeiro e apresenta características concernentes ao processo de

exclusão social inerentes ao momento em que essa cidade decide investir em programas de re-

modelação paisagística ao longo da orla e da cidade. O mesmo autor relata que é objetivo da

municipalidade de Cabo Frio melhorar sua situação frente às cidades turísticas próximas

concorrentes, como Arraial do Cabo, Armação dos Búzios e Rio das Ostras, na disputa por

investimentos e consumidores para o desenvolvimento dessa atividade.

O trabalho apresenta de que forma a prefeitura procedeu para que fossem deslocadas

práticas indesejáveis oriundas dos turistas de baixa renda. É importante entender o processo

de Cabo Frio para compreendermos como foi gerado o processo de desenvolvimento urbano

disperso na Vila de Tamoios.

Segundo ALCÂNTARA (2005, p.49) o potencial turístico do município e seu

crescimento econômico recente fortalecem o ideário de um “desenvolvimentismo turístico”,

evidente nas formulações e posturas da administração pública e no discurso corrente de parte

da população cabofriense. Conforme relata o autor, a coalizão que tem tocado a administração

pública do município nos últimos anos definiu claramente como opção acrescer sua

competitividade através do desenvolvimento turístico, centralizando neste os esforços de uma

busca de investimentos associados à potencialização do consumo.

A visão de Cabo Frio se concentra, de acordo com ALCÂNTARA (2005), para além

de uma inserção, há tempos consolidada numa rede intra-estadual de veranistas. O projeto de

desenvolvimento turístico traçado para o município tem como um dos objetivos ampliar o

perfil da demanda, buscando captar turistas que utilizem os meios de hospedagem da cidade,

diferentemente do que ocorre ao norte da Vila de Tamoios, em Macaé e Rio das Ostras.

Dentro dessa perspectiva de desenvolvimento, Cabo Frio tem que lidar com uma

importante realidade exposta pelo pesquisador. Cabo Frio aparece como um dos destinos

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turísticos mais citados, sendo um dos principais centros receptores de excursões do segmento

de baixa renda no Estado.(idem, 2005)

Estes “turistas” são vistos por muitos – e em segmentos sociais variados - como

indesejáveis. Tidos pelo senso comum como mal educados, barulhentos e arruaceiros, são

usualmente acusados de degradar o meio ambiente natural e depredar equipamentos urbanos

em geral.

ALCANTARA (2005, p.51) constata que a partir de meados da última década, deu-se

no município a deflagração de processos distintos e concorrentes. De um lado, o aumento do

fluxo de turistas de baixo poder aquisitivo, com destaque para o incremento significativo do

número de excursões. Do outro, seguindo a tendência conjuntural global, nota-se a ascensão

de uma visão empresarial de administração pública e uma participação cada vez mais ativa de

setores da iniciativa privada na determinação dos rumos traçados para o desenvolvimento do

município.

Conforme o referido trabalho relata, (idem, 2005, p.53) a prefeitura realizou uma série

de intervenções urbanas, das quais a de maior destaque se deu na Praia do Forte, a mais

conhecida e freqüentada da cidade. Ali, no trecho que vai da grande duna ao forte São

Mateus, costumava-se concentrar um grande número de ônibus de excursão, especialmente

aos domingos de verão. Após a reforma, os excursionistas foram impossibilitados de parar

seus ônibus no local, tido por boa parte deles como o mais adequado à prática - um pequeno

saco, onde as ondas são menores e mais fracas.

Seguindo com o autor (ibidem, 2005, p.54) a reforma renovou a paisagem e

reorganizou espacialmente quiosques e barracas - espalhando mesas e cadeiras por quase toda

a extensão de areia deste trecho, operação que aperfeiçoou o recurso praia como fundo de

consumo. Por meio desta disposição espacial inibiu-se a reprodução de práticas sociais não

compatíveis com os objetivos traçados para o local, impondo-se uma nova forma de

sociabilidade e forjando-se um território de "ordem e tranqüilidade", no qual a acessibilidade

se dá via disponibilidade econômica, sob a forma impositiva do consumo. Desta maneira,

foram afastadas do local as possibilidades de existência de tensões entre territorialidades

conflitantes.

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Como solução para a problemática do controle dos ônibus, ALCANTARA (2005,

p.55) apresenta um segundo mecanismo que igualmente afetou a prática das excursões no

município. Foi adotado o sistema de estacionamento obrigatório. A prefeitura disponibilizava

uma vasta área junto à principal avenida de acesso à cidade, para onde eram,

obrigatoriamente, encaminhados todos os ônibus particulares que chegassem à cidade e que

não possuíssem garagem, nem vaga pré-determinada ou própria no município. Incluíam-se,

portanto, todos os ônibus de excursão, desde as excursões de baixa-renda aos ônibus que

levavam turistas de classe média. Pela “oferta do serviço” era cobrada uma taxa que variava

de acordo com o propósito e conduta da excursão21.

O estudioso (idem, 2005) conta que o objetivo dessa variação na importância cobrada

era privilegiar através da cobrança de uma menor taxa os turistas que vão – supostamente –

gastar mais no município. Os ônibus com turistas que se hospedariam em pousadas e hotéis

locais pagavam menos. Já os que trouxeram turistas que alugavam residências pagavam um

valor intermediário. Os ônibus com turistas que não passariam mais de um dia eram os mais

penalizados. O motivo alegado pelos órgãos municipais para a implementação do sistema

recaía basicamente sobre a organização do tráfego na cidade e o ordenamento da dinâmica das

excursões. Segundo relatos, antes da construção do estacionamento as dezenas de ônibus de

excursão paravam em áreas improvisadas à beira da praia – como aquela junto às dunas

próximas à área conhecida como Braga, na extensão da praia do Forte. Muitos moradores

reclamavam da desordem generalizada que essa (des)arrumação causava.

O controle exercido pelo sistema de estacionamento, como quer ALCANTARA (2005,

p.56) removeu a imagem de desarrumação e caos, além de todo o movimento de ambulantes e

pequenos serviços que envolviam a atividade, pois essa situação não condizia com os planos

idealizados para o lugar, que para alcançar o padrão hegemônico de localidade atrativa ao

turismo deveria proporcionar a esta clientela exatamente o oposto: em certa medida, “ordem e

tranqüilidade”.

De acordo com ALCANTARA (2005, p.56) o sistema do estacionamento foi

fundamental para a implementação de um projeto mais amplo de reorganização dos espaços

de consumo da cidade de Cabo Frio - especialmente o turístico, redirecionou as excursões a

locais de lazer periféricos e contribuiu para a redução do fluxo de excursões – juntamente com

21 ALCANTARA (2005, p.54) nos mostra que no verão de 2002, a taxa cobrada dos “farofeiros”, como são reconhecidos, era de R$ 130,00.

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a construção de um pedágio na principal via de ligação entre a região e a metrópole do Rio de

Janeiro.

Complementando, ALCANTARA (2005, p.56) revela que a consumação do prazer

buscado no turismo está em boa medida relacionada à interação do turista com lugares

específicos, com locais – nascidos ou tornados - turísticos. O sentir-se bem para o turista ou

visitante pode estar relacionado à criação – mesmo que efêmera - de laços de identidade ou

afinidade com tais lugares.

Segue o autor afirmando que a reforma da praia do Forte buscava os padrões de

organização que a redefinem em essência como espaço de consumo, atuando na exclusão de

práticas que não se identificam com esse tipo de código sócio-cultural.

A sutileza de certas normatizações e da ordenação espacial descritas pelo trabalho de

ALCANTARA (2005) demonstra um padrão exercido na região que acarreta a segmentação

do espaço público através da inserção de práticas culturais externas, as quais querem, ainda

que de uma forma dissimulada, promover barreiras à mobilidade de determinado grupo social.

Desde a década de noventa observa-se um crescimento significativo da Região

metropolitana do Rio de Janeiro, com especial atenção à camada menos favorecida da

população (Fundação CIDE, IQM Verde, 2001).

Com a inserção de novas políticas administrativas nas cidades de Cabo Frio, Armação

dos Búzios e Rio das Ostras, objetivando o desenvolvimento do Turismo controlado,

conforme descrito anteriormente, ocorre uma redefinição dos destinos turísticos desse

contingente populacional crescente (de baixa renda) que identifica na Vila de Tamoios

condição ideal para o abrigo de suas atividades de turismo e lazer.

É fato que embora pertencesse ao mesmo município, a Vila de Tamoios não foi

contemplada com a citada política de regulamentação do espaço. Possuindo localização

geográfica e atrativos naturais privilegiados, a barra do Rio São João, no Bairro de Santo

Antônio, apresentava a tranqüilidade esperada pelo grupo excursionista.

Parte dos ônibus de excursão foi deslocado para aquela região (Vila de Tamoios) no

início dos anos 1990. Segundo relato de veranistas, testemunhas do processo nessa época, o

cenário encontrado pelos ônibus de excursão era o seguinte.

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• Uma praia bem longa com ondas de tombo, deserta, com água barrenta em razão à mistura com a água do Rio São João;

• Existência de muita vegetação nativa de restinga arbustiva e arbórea (ver seção 2.2) em quase a totalidade da orla até a Rodovia Amaral Peixoto;

• Construção de casas isoladas em meio a essa vegetação em caráter de posse; • Existência de condomínios de casas instalados desde a abertura da via (Amaral

Peixoto no trecho de Tamoios em 1970); • Inexistência de qualquer fiscalização municipal ou federal; • Precariedade de autoridade policial; • Aldeia de pescadores localizada na barra do Rio São João chamada Santo

Antônio com abundância de pescado de excelente qualidade (Robalo, Baiacu, Serra, Badejo,...);

• Existência de poucos moradores, e poucos veranistas, entre eles alguns intelectuais inseridos na comunidade;

• Beleza natural; • Ausência de mosquito pela localização do distrito em relação ao predominante

vento nordeste forte; • Abundância de água de poço; • Proximidade com Barra de São João, oferecendo entretenimento noturno e

infra-estrutural; • Ausência de violência, ausência de segregação social; • Proximidade de sítio histórico, e identidade cultural preservada na cidade de

Barra de São João;

Entende-se como atrativa a estrutura encontrada na Vila de Tamoios não só para a

vinda freqüente e permanente das excursões de extratos de baixa renda como também para a

inclusão de novos moradores. De fato, observa-se um aumento de residentes de acordo com

os Censos Demográficos de 2000, e de 1990 (seção 2.1).

Acredita-se que o aumento de visitas a Vila de Tamoios fez crescer a visibilidade de

uma economia em expansão e com grande potencial de emprego. Dessa forma entende-se que

o interesse pelo turismo constituiu um dos fatores que geraram um aumento da população

local.

Vale colocar que o perfil dos novos residentes foi compatível ao tipo de turismo que se

instalou a partir de 1990, na Vila de Tamoios, do ponto de vista do nível social encontrado.

Como foi observado, a modificação da paisagem na Vila de Tamoios tem seu início

entre 1986 e 1990 pelo desenvolvimento do turismo e pela migração de indivíduos de

Quissamã e Campos, em função da diminuição da produção de cana-de-açúcar e destilarias de

etanol. A partir de 1990 constata-se o aumento do turismo de massa, justificado anteriormente

por ALCANTARA (2005), mas também o começo do processo de urbanização intensa pelo

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crescimento da população residente que tem na evolução da exploração do petróleo em Macaé

e Rio das Ostras e no incremento do turismo em Armação dos Búzios, Cabo Frio e também

Rio das Ostras, os suportes importantes para oferta de emprego e renda.

Com o aumento da população, novas residências foram construídas sem fiscalização

por parte da prefeitura, que na verdade não teria possibilidade de fiscalizar solo rural. Da

mesma forma, a municipalidade não poderia cobrar IPTU em solo rural, o que foi realizado

desde o início desse adensamento. Este tema será mais bem desenvolvido no capítulo

seguinte.

A ausência de planejamento se faz marcante nesse momento onde se percebe como já

colocado, que a região não foi preparada para absorver o contingente necessário ao seu

desenvolvimento.

Se por um lado todo o desenvolvimento contido no processo de exploração do petróleo

ao norte da Vila de Tamoios tem gerado crescimento à região e ao estado do Rio de Janeiro,

por outro lado discutir o contexto cultural pelo qual ele se desenvolve parece contribuir para

que o mesmo ocorra visando a diminuição dos seus embates sócio-culturais existentes.

Para uma prospecção, espera-se que o quadro seja percebido a tempo pela

municipalidade, razão deste trabalho, para que sejam possíveis ações com o intuito de

interagir com o quadro apresentado. Desta forma, ao invés de se degradar e extinguir o

potencial econômico, que seja possível seu desenvolvimento, gerando aumento consciente do

retorno ao município, sem que sejam ignoradas as qualidades naturais descritas.

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Figura 30 Lagoas (Autor, 2006)

Figura 31 Lagoas e construção (Autor, 2006)

Figura 32 Comemoração de Nossa Senhora dos Navegantes (Autor,1982)

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Capítulo 3 – A VILA DE TAMOIOS

Após serem apresentadas as discussões nos âmbitos urbano, ambiental e cultural, no

contexto microrregional em que a Vila de Tamoios se insere mostraremos, do ponto de vista

local, como o lugar e a comunidade têm se organizado atualmente frente às diretrizes oficiais

e à realidade do desenvolvimento de seu entorno.

No curso do trabalho, passamos a acreditar ser de maior valia o entendimento prévio

do contexto desse entorno, para melhor viabilizar a compreensão dos fenômenos locais.

Defendemos a postura e demonstramos que todos os processos apresentados, sejam eles

físicos, ambientais ou culturais, mantêm inter-relações e se complementam. Relações estas

que transcendem os limites territoriais municipais. Por esta razão começamos pela escala mais

abrangente e terminamos pela escala do Distrito e sua Vila.

Apresentaremos os dados Censitários do IBGE de 1991 e 2000, que foram trabalhados

pelo autor de forma comparativa, considerando as séries segundo a Microrregião Lagos, o

Município de Cabo frio e o Distrito de Tamoios. Essas informações ajudaram a entender sobre

as edificações, infra-estrutura e nível social existentes no crescimento urbano da Vila de

Tamoios.

Demonstraremos a seguir, como a ocupação inicialmente se deu na Vila de Tamoios,

através dos loteamentos legais até a sua ocupação atual, desordenada.

Conduziremos, por fim, ao debate sobre os vetores de crescimento urbano, expondo as

problemáticas inerentes à questão da mobilidade na região, refletida em função da utilização

da Rodovia Amaral Peixoto (RJ 106). Averigua-se a realidade ambiental presente e o

desenvolvimento de uma identidade diferenciada das comunidades adjacentes, fator crucial

para o crescimento sustentado do Distrito de Tamoios.

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3.1. Dados censitários comparativos de 1991 e 2000

Os dados expostos nos Censos Demográficos de 1991 e de 2000, apresentados no final

desta seção, identificam a quantidade e predominância da população residente fixa em termos

de gênero, renda e perfil educacional. Demonstram o quadro da infra-estrutura existente, de

esgoto, abastecimento de água e recolhimento de lixo. Mostram, também, o número de

unidades domiciliares fixas e o Setor Censitário mais denso.

Os resultados revelados na comparação feita entre as unidades Microrregião Lagos e

Município de Cabo Frio, revelará relativamente o estágio de desenvolvimento do distrito de

Tamoios e o perfil da população que ali veio se instalar.

A tabela CP01(p.91) apresenta o número de residentes fixos na Microrregião Lagos

(laranja). Constatamos que o crescimento populacional da Microrregião, entre os anos de

1991 e 2000, foi de 51,7%, o que representa em valor absoluto 130.322 habitantes. A mesma

informação é mostrada para o município de Cabo Frio (azul), e para o distrito de Tamoios

(verde). O município teve um aumento de 49,4% de sua população ao longo dos mesmos

anos, correspondendo a um acréscimo de 41.913 habitantes. Já o distrito de Tamoios segue

similar, acompanhando o da Microrregião e do Município, como esperado. Entretanto,

apresentou 264% de crescimento populacional entre os residentes fixos nos anos de 1991 e

2000, correspondendo a 15.402 novos habitantes em suas terras.

O Gráfico GCP01(p.91) expõe de maneira comparativa as porcentagens relativas ao

crescimento. Mas ele pode induzir a uma compreensão falsa (ou insuficiente), por não

comparar valores e sim porcentagens. Mesmo assim, a leitura se torna interessante, uma vez

que os valores são díspares, em ordem de grandeza, o que torna impróprio uma comparação

por valores absolutos, em gráfico.

Esclarecida a questão, é correto imaginar que um crescimento de 264% em nove anos

possa corresponder a um impacto enorme se acontecesse no município ou na microrregião.

Mas estamos nos referindo a Tamoios, em que todo o distrito nessa época era de solo rural,

portanto, com muitas terras de pasto e lavoura.

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A tendência de ocupação em Tamoios, em 2000, foi representada por meio de

ferramenta de geoprocessamento, software ArcGis, com base nos mapas disponíveis no

IBGE, na figura 35 (p.93), no final da seção.

Identificamos por cores os agregados por setor censitário para demonstrar como são

organizadas as informações Rurais pelo IBGE. À esquerda da figura 3(p.31)5, foram

colocados por setor o volume de população (quanto mais escura mais densa), de forma que se

possa identificar o gradiente de habitantes nos diferentes setores. A mesma informação é

representada do lado direito da figura na forma de pontos. Sua lógica se explica: cada ponto

representa cinqüenta habitantes. Assim, podemos visualizar no espaço a maior concentração

de pontos e termos maior visibilidade do fenômeno. Ao observarmos a Rodovia Amaral

Peixoto (RJ106) (verde), que tangencia a costa, percebe-se que a maior concentração de

habitantes se situa ao longo de sua periferia. Neste setor, como veremos a seguir na próxima

seção, estão localizados os primeiros loteamentos de casas.

Ao observarmos a tabela D01 (p.92) identificamos o número de residências ao longo

dos anos de 1991 e 2000. Essa tabela segue a mesma lógica da tabela anterior, mas ao invés

de população são apresentados os números de residências.

No gráfico GD01 (em vermelho), p.92, vemos o crescimento de domicílios da

Microrregião Lagos ao longo dos anos citados que é de 69,4%. A mesma informação temos

para o Município de Cabo Frio (verde), sendo este crescimento de 63,4%, e para o distrito de

Tamoios (amarelo) atingindo 312,7%.

Interessante salientar que em 1991, havia 1454 domicílios em Tamoios, e em 2000

segundo estimativa oficial, 6000 domicílios. Um aumento de 4546 unidades de residência foi

criado ao longo de nove anos, o que representa cerca de 500 residências por ano. Utilizamos a

mesma lógica de interpretação ao identificarmos um aumento similar no crescimento de

domicílios em Tamoios, porém maior, em termos de porcentagem.

Vale retomar a discussão da seção anterior, na qual é explanada a questão cultural, e

explicado um aumento da atividade turística ao longo do tempo. Sendo portando uma região

de atividade econômica baseada no turismo, onde é correto prever um maior crescimento para

o setor imobiliário, que nesse caso, é dividido entre a presença de residentes fixos e os

residentes flutuantes, temporários.

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86

Também a avaliação da tendência de ocupação imobiliária em Tamoios, em 2000, foi

representada assim como a do crescimento populacional por meio de ferramenta de

geoprocessamento, software ArcGis, com base nos mapas disponíveis no IBGE, na figura 36

(p.94), no final da seção.

Vale ressaltar, mesmo que de lógica dedução, que o setor com maior atividade

imobiliária foi o mesmo que o de maior número populacional. Isto é, ao longo da Rodovia

Amaral Peixoto (RJ 106), no trecho entre a reserva de Marinha e o limite entre o distrito e o

município, materializado pelo Rio São João.

Ao compararmos as duas tabelas chegamos à relação entre domicílios e população ao

longo dos anos. Em 1991 a relação é de 4.01 habitantes por domicílio, já em 2001 essa

relação cai para 3.53 habitantes por domicílio. Em um contexto de ocupação imobiliária ao

longo de solo rural essa característica é também coerente, já que em áreas rurais existem mais

habitantes por domicílio que nas áreas urbanas, de acordo com os padrões brasileiros.

A figura 37 (p.95), construída também por meio de ferramenta de geoprocessamento,

software ArcGis, com base nos mapas disponíveis no IBGE, apresenta dois registros gráficos,

ambos de 2000: o primeiro, à esquerda, demonstra a densidade nas residências, por Setor

Censitário, e o segundo, à direita, reflete os dados relativos à densidade demográfica, por

Setor Censitário, em Tamoios.

Na primeira, identificarmos que as partes opostas à costa (azul) possuem maior

densidade nas residências, e uma relação “domicílio x população” maior que a de coloração

verde. Este fato mostra que ao longo dos Setores Censitários (azul), em 2000, o fenômeno de

urbanização estava menos ativo.

Na figura que trata de Densidade Demográfica por Setor Censitário, observamos no

mesmo setor em que apresentou elevada concentração populacional e alta atividade

imobiliária, uma densidade demográfica igualmente alta. Vale remarcar um pequeno setor de

coloração marrom, onde é localizada a antiga fazenda de Campos Novos, hoje um bairro

densamente povoado chamado Botafogo; já em 2000, apresentava indícios de crescimento e

densidade altos.

Através das informações contidas na tabela I1 (p.96), podemos ter a noção exata do

perfil educacional da população em 2000, na Microrregião Lagos, no Município de Cabo Frio

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87

e no Distrito de Tamoios. Estas informações são demonstradas nos gráficos GI01, GI02 e

GI03 (figuras 38, 39, 40, p.96) de barras percentuais comparativas entre as instruções

estabelecidas no referido Censo Demográfico. Ao compararmos os gráficos, percebemos que

os níveis são proporcionais entre a Microrregião e Cabo Frio. Constatamos que em 2000

existiam mais indivíduos sem instrução, e menos indivíduos com terceiro grau, na primeira

que na última. Mas esse padrão não reflete a situação em Tamoios.

Neste distrito, encontramos um percentual maciço (o maior) de indivíduos com ginásio

concluído, maior ainda que nos resultados obtidos nos outros dois gráficos que apresentam o

indicador, também mais significativo. Localizamos um percentual maior de indivíduos sem

instrução comparados com o percentual de indivíduos com segundo grau concluído, o que

ocorre de modo inverso tanto na Microrregião como no Município de Cabo Frio. Percebemos

que o valor percentual dos indivíduos com terceiro grau é menor em Tamoios que nos dois

outros gráficos, e que o valor percentual de alfabetização de adultos é maior na mesma

comparação. Finalmente observamos que o Município de Cabo Frio em 2000 já possuía um

percentual de instruídos em terceiro grau equiparado ao percentual dos sem instrução, e que

na Microrregião Lagos e em Tamoios o percentual dos sem instrução é maior que os que têm

o terceiro grau.

Na seção anterior citamos o processo de migração para Tamoios de trabalhadores

rurais de Quissamã e Campos dos Goytacazes ocorrido desde 1986 pela baixa da produção de

cana-de-açúcar. O quadro encontrado na tabela I1 (p.96) e a figura 38 (p.96) comprovam esse

fato, uma vez que em áreas rurais não é esperada uma maior predominância de indivíduos

com alto grau de escolaridade. Apresentamos, na seqüência, o fato das excursões de ônibus

terem sido em parte deslocadas da cidade de Cabo Frio para a Vila de Tamoios, acarretando o

turismo de extrato econômico-social menos favorecido na Vila de Tamoios, desde o ano de

1990. Dessa forma, os valores esperados para o próximo Censo Demográfico, no item nível

de instrução, não são para um aumento significativo da população mais instruída.

Como Nível de instrução está relacionado com o rendimento mensal, na tabela R01

(p.97), foram captados do mesmo Censo Demográfico (2000) os valores relativos ao

rendimento mensal do responsável permanente, por residência. Essas informações foram

igualmente construídas nos gráficos de barras com percentuais GR01, GR02, GR03 (figuras

41, 42, 43, p.97) apresentados na informação de níveis de instrução.

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88

Para facilitar a análise, agrupamos quatro unidades que são: 1- sem rendimento

mensal, 2- até dois salários mínimos, 3- de dois a dez salários mínimos e 4- a partir de dez

salários.

Encontramos similaridades de valores nos três gráficos. O grupo maior é o segundo,

seguido do terceiro (quase equiparado), porém menor como o primeiro. O de menor valor nos

três gráficos é o quarto grupo.

Essa característica mostra que a atividade econômica geradora de emprego e renda

principal entre essas áreas - Microrregião Lagos, Município de Cabo Frio e o Distrito de

Tamoios - produzem para sua população uma renda similar. Ao aprofundarmos mais,

retornando à seção anterior, entendemos que o Turismo é a principal atividade econômica

entre as três regiões, e que no ano de 2000 sua produção de riqueza para a população das três

áreas selecionadas era semelhante.

Para o próximo Censo Demográfico, devido ao crescimento da atividade de

exploração do Petróleo ao norte da Vila de Tamoios, conforme colocado na seção anterior, é

esperada alguma alteração neste quadro, já que a população de Tamoios cresceu visivelmente,

assim como sua relação com as cidades ao seu redor, em termos de deslocamento residência-

trabalho e vice-versa.

As tabelas P01 (p.98), P02 (p.99) e P03 (p.100) mostram a quantidade da população

em cada faixa etária, separadas por Gênero, nas regiões de análise. As figuras 44 (p.98), 45

(p.99), 46 (p.100) representam os gráficos de pirâmide etária, correspondentes às referidas

tabelas, nas quais (em amarelo) estão informações do grupo feminino e do grupo masculino

(azul). Com estes podemos ter noção se essa população é jovem ou não, denotando o tempo

de desenvolvimento das gerações do lugar.

Ao examinar os gráficos, constatamos que a população da Microrregião dos Lagos

possuía maioria feminina em 2000, assim como a população do Município de Cabo Frio. Já

no distrito de Tamoios, a maioria é masculina. Comparando as três regiões, observamos

destaque da faixa de 25 a 39 anos na Microrregião e no Município. Em Tamoios vemos uma

pirâmide mais próxima da simétrica. Essa discrepância demonstra que nas duas primeiras

regiões, como esperado, a população é mais antiga, e que na terceira região ela é mais recente.

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89

Observamos que a população de um modo geral cresceu em todas as regiões, assim

como o número de unidades residenciais. No entanto, ao averiguarmos as variações de

condições sanitárias dessas unidades ao longo de 1991 e 2000, podemos saber o grau relativo

à construção desenvolvido nas regiões estudadas.

Quanto ao sistema sanitário existente nos domicílios particulares permanentes na

Microrregião Lagos, no Município de Cabo Frio e no Distrito de Tamoios, os resultados se

encontram na tabela E01. Os gráficos de barras horizontais GE01, GE02, GE03, (figuras 47,

48, 49, na p.101) apresentam os valores em porcentagem, de 1991 (cor de abóbora) e de 2000

(verde), de forma que possamos saber, comparativamente, qual tipo de esgotamento sanitário

aumentou no curso desses anos.

Comparando os Gráficos citados, observamos que na Microrregião a rede coletora

aumentou 29% (vinte e nove por cento). No mesmo gráfico, observamos que a porcentagem

de residências contendo fossa asséptica aumentou 5% (cinco por cento), e a rudimentar

diminuiu 2% (dois por cento), o que demonstra uma evolução em termos de qualidade de

moradia e de administração municipal ao longo da Microrregião Lagos, lembrando que ainda

é expressivo o número de casas com fossa asséptica, rudimentar e vala. Características

similares em termos de proporção são percebidas para o município de Cabo Frio.

Em Tamoios, como mostra a figura 49 (gráfico GE03, p.101) como era previsto,

houve um aumento de quase 10% (dez por cento) no sistema de fossa rudimentar desde o ano

de 1991 até 2000. Para o sistema de fossa asséptica observamos que houve uma diminuição

em quase 4% (quatro por cento). Este sistema é apresentado em 2000 como o mais ocorrente

dentre os domicílios fixos. O sistema de rede coletora passa de inexistente para 1% (um por

cento) e o sistema de vala é reduzido à mesma quantidade. Constatamos que o quadro

apresentado em 2000 demonstra precariedade das novas casas construídas durante o período

citado, assim como denota um afastamento de fiscalizações municipais exercidas na região.

Voltamos a lembrar que na data de 2000, a região do Distrito de Tamoios era inteiramente

Rural, no entanto era cobrada a taxa de IPTU, o que é uma incongruência.

A informação concernente à coleta de lixo é colocada da mesma forma, isto é,

comparativamente, entre os anos de 1991 e 2000, na tabela L01 (p.102) e no gráfico de barras

horizontais GL01 (figura 50, p.102). Neste último são apresentados os valores de 1991

(amarelo) e de 2000 (verde), de forma que se possa perceber como o sistema de coleta de lixo

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90

evoluiu nesse período. Observando o gráfico vemos que o sistema de coleta de Lixo

melhorou, beirando mesmo a quase (100%) cem por cento das residências, em termos de

provimento, o que demonstra, curiosamente, que mesmo no extrato de baixa renda, sem

possuir sistema de esgotamento adequado, e nem água encanada, a coleta de Lixo melhorou

seu desempenho em 2000.

Sobre o sistema de abastecimento de água é apresentado na tabela A01(p.102) e nos

gráficos GA01, GA02, GA03 (figuras 51, 52, 53, da p.102) resultados semelhantes ao exposto

em relação ao sistema de esgotamento sanitário, com as informações referentes dos Censos

Demográficos do ano de 1991 em amarelo, e de 2000 em azul.

Observamos que tanto na Microrregião quanto no Município, o percentual de água

encanada diminuiu ao longo dos anos de 1991 a 2000, e o percentual do sistema de poço

aumentou. Em Tamoios, é observado um aumento considerável no sistema de abastecimento

de água encanada e uma conseqüente diminuição do sistema de poço. Isso mostra que nesse

caso, por mais que o poço ainda seja o sistema mais utilizado nas três regiões destacadas, em

Tamoios houve uma melhoria de infra-estrutura quanto ao abastecimento de água.

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91

MICROREGIÃO (LAGOS) 0,0 252.167 24,0 312.619 27,7 382.489 51,7MUNICÍPIO (CABO FRIO) 0,0 84.915 36,3 115.759 13,0 126.828 49,4DISTRITO (TAMOIOS) 0,0 5.835 144,0 14.236 120,0 21.237 264,0

CP01. TABELA COMPARATIVA DO CRESCIMENTO POPULACIONAL NA MICRORREGIÃO LAGOS, MUNICÍPIO DE CABO FRIO E DISTRITO DE TAMOIOS ENTRE OS ANOS 1991 E 1996, E OS ANOS 1996 E 2000

POPULAÇÃO EM 1991

% REFERENCIAL EM 1991

%DE CRESCIMENTO EM 1996

%DE CRESCIMENTO EM 2000

POPULAÇÃO EM 1996

POPULAÇÃO EM 2000

CRESCIMENTO TOTAL ENTRE 1991 E 2000

0,0 0,0 0,0

24,0

36,3

144,0

27,7

13,0

120,0

51,7 49,4

264,0

0,0

25,0

50,0

75,0

100,0

125,0

150,0

175,0

200,0

225,0

250,0

275,0

% DE CRESCIMENTO

% REFERENCIALEM 1991

%DECRESCIMENTO

EM 1996

%DECRESCIMENTO

EM 2000

CRESCIMENTOTOTAL ENTRE1991 E 2000

ANOS

GCP01. GRÁFICO COMPARATIVO DO CRESCIMENTO POPULACIONAL ENTRE A MICRORREGIÃO LAGOS, MUNICÍPIO DE CABO FRIO E

DISTRITO DE TAMOIOS NOS ANOS 1991, 1996 E 2000 DE ACORDO COM TABELA CP01.

MICROREGIÃO (LAGOS) MUNICÍPIO (CABO FRIO) DISTRITO (TAMOIOS)

Figura 33, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela.

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MICRORREGIÃO LAGOS 0 65.463 32,3 86.594 37,1 110.868 69,4MUNICÍPIO DE CABO FRIO 0 22.520 43,0 32.205 20,4 36.794 63,4DISTRITO DE TAMOIOS 0 1.454 161,2 3.798 151,4 6.000 312,7

CRESCIMENTO TOTAL ENTRE 1991 E 2000

D01. TABELA COMPARATIVA DO CRESCIMENTO IMOBILIÁRIO (DOMICÍLIOS) NA MICRORREGIÃO LAGOS, MUNICÍPIO DE CABO FRIO E DISTRITO DE TAMOIOS ENTRE OS ANOS 1991 E 1996, E OS ANOS 1996 E 2000

DOMICÍCIOS EM 1991

%DE CRESCIMENTO EM

DOMICÍLIOS EM 1996

%DE CRESCIMENTO EM 2000

DOMICÍLIOS EM 2000

% REFERENCIAL EM 1991

0 0 0

32,3

43,0

161,2

37,1

20,4

151,4

69,463,4

312,7

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

275

300

325

% DE CRESCIMENTO

% REFERENCIALEM 1991

%DECRESCIMENTO

EM 1996

%DECRESCIMENTO

EM 2000

CRESCIMENTOTOTAL ENTRE

1991 E 2000

ANOS

GD01. GRÁFICO COMPARATIVO DO CRESCIMENTO IMOBILIÁRIO (DOMICÍLIOS) ENTRE A MICRORREGIÃO LAGOS, MUNICÍPIO DE CABO

FRIO E DISTRITO DE TAMOIOS NOS ANOS 1991, 1996 E 2000 DE ACORDO COM TABELA D01.

MICRORREGIÃO LAGOS MUNICÍPIO DE CABO FRIO DISTRITO DE TAMOIOS

Figura 34, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela.

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93

Figura 35, fonte: Mapa desenvolvido de acordo com ferramenta de Geoprocessamento Arc. Gis. Com base nos mapas disponíveis no IBGE e informações obtidas pelo CD Agregados por Setor Censitário Rural, de 2000 do IBGE

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Figura 36, fonte: Mapa desenvolvido de acordo com ferramenta de Geoprocessamento Arc. Gis. Com base nos mapas disponíveis no IBGE e informações obtidas pelo CD Agregados por Setor Censitário Rural, de 2000 do IBGE

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Figura 37, fonte: Mapa desenvolvido de acordo com ferramenta de Geoprocessamento Arc. Gis. Com base nos mapas disponíveis no IBGE e informações obtidas pelo CD Agregados por Setor Censitário Rural, de 2000 do IBGE

Page 112: A Urbanização na Vila de Tamoios (Cabo Frio) e sua ...livros01.livrosgratis.com.br/cp131602.pdfplanejamento do espaço remanescente, para que se dê conta das características naturais

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INSTRUÇÃO N° DE RESPONSAVEIS % N° DE RESPONSAVEIS % N° DE RESPONSAVEIS %SEM INSTRUÇÃO 12.801 11,7 3.438 9,4 828 14,0ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS CONCLUÍDO 682 0,6 226 0,6 83 1,4ANTIGO 1°GRAU+ ANTIGO GINÁSIO+ GINASIO CONCUÍDO 68.301 62,2 22.894 62,8 3.939 66,7ANTIGO CIENTÍFICO + 2° GRAU CONCLUÍDO 19.072 17,4 6.444 17,7 794 13,43° GRAU CONCLUÍDO 8.550 7,8 3.329 9,1 245 4,1MESTRADO OU DOTOURADO CONCLUÍDO 356 0,3 130 0,4 16 0,3TOTAL DE RESPONSÁVEIS 109.762 100,0 36.461 100,0 5.905 100,0

MUNICÍPIO DE CABO FRIO DISTRITO DE TAMOIOS

I1. TABELACOMPARATIVA DOS NÍVEIS DE INSTRUÇÃO DETERMINADOS ABAIXO SEGUNDO RESPONSÁVEIS PERMANENTES POR RESIDÊNCIA EM 2000

MICRORREGIÃO LAGOS- RJ

GI01. GRÁFICO COMPARATIVO DOS NÍVEIS DE INSTRUÇÃO DETERMINADOS NA TABELA I01, SEGUNDO

RESPONSÁVEIS PERMANENTES POR RESIDÊNCIA NA MICRORREGIÃO LAGOS -RJ EM 2000

11,7

0,6

62,2

17,4

7,8

0,3

0,0 70,0

SEM INSTRUÇÃO

ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOSCONCLUÍDO

ANTIGO 1°GRAU+ ANTIGO GINÁSIO+GINASIO CONCUÍDO

ANTIGO CIENTÍFICO + 2° GRAUCONCLUÍDO

3° GRAU CONCLUÍDO

MESTRADO OU DOTOURADOCONCLUÍDO

INS

TR

ÃO

%

Figura 38, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela.

GI02. GRÁFICO COMPARATIVO DOS NÍVEIS DE INSTRUÇÃO DETERMINADOS NA TEBELA I02. SEGUNDO

RESPONSÁVEIS PERMANENTES POR RESIDÊNCIA NO MUNICÍPIO DE CABO FRIO EM 2000

9,4

0,6

62,8

17,7

9,1

0,4

0,0 70,0

SEM INSTRUÇÃO

ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOSCONCLUÍDO

ANTIGO 1°GRAU+ ANTIGO GINÁSIO+GINASIO CONCUÍDO

ANTIGO CIENTÍFICO + 2° GRAUCONCLUÍDO

3° GRAU CONCLUÍDO

MESTRADO OU DOTOURADOCONCLUÍDO

INS

TR

ÃO

%

Figura 39, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de

informações da tabela

GI03. GRÁFICO COMPARATIVO DOS NÍVEIS DE INSTRUÇÃO DETERMINADOS NA TABELA I03. SEGUNDO RESPONSÁVEIS PERMANENTES POR RESIDÊNCIA NO

DISTRITO DE TAMOIOS EM 2000

14,0

1,4

66,7

13,4

4,1

0,3

0,0 70,0

SEM INSTRUÇÃO

ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOSCONCLUÍDO

ANTIGO 1°GRAU+ ANTIGO GINÁSIO+GINASIO CONCUÍDO

ANTIGO CIENTÍFICO + 2° GRAUCONCLUÍDO

3° GRAU CONCUÍDO

MESTRADO OU DOTOURADOCONCLUÍDO

INS

TR

ÃO

%

Figura 40, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

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RENDIMENTO MENSAL N° DE RESPONSAVEIS % N° DE RESPONSAVEIS % N° DE RESPONSAVEIS %SEM RENDIMENTO MENSAL 11.365 10,4 4.031 11,1 700 11,9ATÉ 1/5 SALÁRIO MÍNIMO 871 0,8 252 0,7 67 1,1DE 1/5 A 1 SALARIO MÍNIMO 20.597 18,8 5.642 15,5 1.205 20,4DE 1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMOS 22.255 20,3 7.592 20,8 1.419 24,0DE 2 A 3 SALARIOS MÍNIMOS 13.912 12,7 4.839 13,3 736 12,5DE 3 A 5 SALARIOS MÍNIMOS 16.681 15,2 5.810 15,9 860 14,6DE 5 A 10 SALÁRIOS MÍNIMOS 15.488 14,1 5.147 14,1 678 11,5DE 10 A 15 SALÁRIOS MÍNIMOS 3.856 3,5 1.306 3,6 132 2,2DE 15 A 20 SALÁRIOS MÍNIMOS 2.344 2,1 869 2,4 59 1,0MAIS QUE 20 SALÁRIOS MÍNIMOS 2.393 2,2 973 2,7 49 0,8TOTAL DE RESPONSÁVEIS 109.762 100,0 36.461 100,0 5.905 100,0

MUNICÍPIO DE CABO FRIO DISTRITO DE TAMOIOS

R01. TABELA DO RENDIMENTO MENSAL SEGUNDO RESPONSÁVEIS PERMANENTES POR RESIDÊNCIA EM 2000 (SALARIO REFERÊNCIA= R$151,00)

MICRORREGIÃO LAGOS- RJ

GR01. GRÁFICO COMPARATIVO DO RENDIMENTO MENSAL SEGUNDO RESPONSÁVEL PERMANENTE POR RESIDÊNCIA NA MICRORREGIÃO LAGOS DE ACORDO COM TABELA R1

10,4

0,8

18,8

20,3

12,7

15,2

14,1

3,5

2,1

2,2

0,0 25,0

SEM RENDIMENTO MENSAL

ATÉ 1/5 SALÁRIO MÍNIMO

DE 1/5 A 1 SALARIO MÍNIMO

DE 1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMOS

DE 2 A 3 SALARIOS MÍNIMOS

DE 3 A 5 SALARIOS MÍNIMOS

DE 5 A 10 SALÁRIOS MÍNIMOS

DE 10 A 15 SALÁRIOS MÍNIMOS

DE 15 A 20 SALÁRIOS MÍNIMOS

MAIS QUE 20 SALÁRIOS MÍNIMOS

RE

ND

IME

NTO

ME

NS

AL

%

Figura 41, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

GR02. GRÁFICO COMPARATIVO DO RENDIMENTO MENSAL SEGUNDO RESPONSÁVEL PERMANENTE POR RESIDÊNCIA NO MUNICÍPIO DE CABO FRIO DE ACORDO COM TABELA

R02.

11,1

0,7

15,5

20,8

13,3

15,9

14,1

3,6

2,4

2,7

0,0 25,0

SEM RENDIMENTO MENSAL

ATÉ 1/5 SALÁRIO MÍNIMO

DE 1/5 A 1 SALARIO MÍNIMO

DE 1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMOS

DE 2 A 3 SALARIOS MÍNIMOS

DE 3 A 5 SALARIOS MÍNIMOS

DE 5 A 10 SALÁRIOS MÍNIMOS

DE 10 A 15 SALÁRIOS MÍNIMOS

DE 15 A 20 SALÁRIOS MÍNIMOS

MAIS QUE 20 SALÁRIOS MÍNIMOS

RE

ND

IME

NTO

ME

NS

AL

%

Figura 42, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

GR03. GRÁFICO COMPARATIVO DO RENDIMENTO MENSAL SEGUNDO RESPONSÁVEL PERMANENTE POR RESIDÊNCIA

EM TAMOIOS DE ACORDO COM TABELA R03.

11,9

1,1

20,4

24,0

12,5

14,6

11,5

2,2

1,0

0,8

0,0 25,0

SEM RENDIMENTO MENSAL

ATÉ 1/5 SALÁRIO MÍNIMO

DE 1/5 A 1 SALARIO MÍNIMO

DE 1 A 2 SALÁRIOS MÍNIMOS

DE 2 A 3 SALARIOS MÍNIMOS

DE 3 A 5 SALARIOS MÍNIMOS

DE 5 A 10 SALÁRIOS MÍNIMOS

DE 10 A 15 SALÁRIOS MÍNIMOS

DE 15 A 20 SALÁRIOS MÍNIMOS

MAIS QUE 20 SALÁRIOS MÍNIMOS

RE

ND

IME

NTO

ME

NS

AL

%

Figura 43, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

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98

FAIXA ETÁRIA MULHERES % HOMENS % TOTAL 0 a 4 anos 18.207 4,8 18.876 4,9 37.083 5 a 9 anos 18.079 4,7 18.514 4,8 36.59310 a 14 anos 17.526 4,6 18.195 4,8 35.72115 a 19 anos 18.174 4,8 18.507 4,8 36.68120 a 24 anos 16.979 4,4 17.007 4,4 33.98625 a 29 anos 15.685 4,1 15.093 3,9 30.77830 a 34 anos 15.659 4,1 15.088 3,9 30.74735 a 39 anos 15.715 4,1 14.978 3,9 30.69340 a 44 anos 13.155 3,4 12.959 3,4 26.11445 a 49 anos 10.459 2,7 10.164 2,7 20.62350 a 54 anos 8.527 2,2 8.422 2,2 16.94955 a 59 anos 6.635 1,7 6.488 1,7 13.12360 a 64 anos 5.497 1,4 5.736 1,5 11.23365 a 69 anos 4.450 1,2 4.279 1,1 8.72970 a 74 anos 3.155 0,8 2.963 0,8 6.11875 a 79 anos 1.969 0,5 1.717 0,4 3.68680 ou mais anos 2.195 0,6 1.437 0,4 3.632TOTAL 192.066 50,2 190.423 49,8 382.489

P01. TABELA COMPARATIVA DA POPULAÇÃO DA MICRORREGIÃO LAGOS SEGUNDO GÊNERO E FAIXA

ETÁRIA EM 2000

GP01. GRÁFICO DEMONSTRATIVO DA PIRÂMIDE ETÁRIA PARA A MICROREGIÃO LAGOS

DO RJ, DE ACORDO COM TABELA P01

Figura 44, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

4,9

4,8

4,8

4,8

4,4

3,9

3,9

3,9

3,4

2,7

2,2

1,7

1,5

1,1

0,8

0,4

0,4

0 1 2 3 4 5 6

0 a 4 anos

5 a 9 anos

10 a 14 anos

15 a 19 anos

20 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 34 anos

35 a 39 anos

40 a 44 anos

45 a 49 anos

50 a 54 anos

55 a 59 anos

60 a 64 anos

65 a 69 anos

70 a 74 anos

75 a 79 anos

80 ou mais anos

HOMENS EM %

4,8

4,7

4,6

4,8

4,4

4,1

4,1

4,1

3,4

2,7

2,2

1,7

1,4

1,2

0,8

0,5

0,6

0123456

0 a 4 anos

5 a 9 anos

10 a 14 anos

15 a 19 anos

20 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 34 anos

35 a 39 anos

40 a 44 anos

45 a 49 anos

50 a 54 anos

55 a 59 anos

60 a 64 anos

65 a 69 anos

70 a 74 anos

75 a 79 anos

80 ou mais anos

MULHERES EM %

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99

FAIXA ETÁRIA MULHERES % HOMENS % TOTAL 0 a 4 anos 6.332 5,0 6.404 5,0 12.736 5 a 9 anos 6.263 4,9 6.317 5,0 12.58010 a 14 anos 5.985 4,7 6.220 4,9 12.20515 a 19 anos 6.108 4,8 6.301 5,0 12.40920 a 24 anos 5.615 4,4 5.728 4,5 11.34325 a 29 anos 5.363 4,2 5.019 4,0 10.38230 a 34 anos 5.213 4,1 4.991 3,9 10.20435 a 39 anos 5.331 4,2 5.030 4,0 10.36140 a 44 anos 4.448 3,5 4.419 3,5 8.86745 a 49 anos 3.424 2,7 3.326 2,6 6.75050 a 54 anos 2.730 2,2 2.624 2,1 5.35455 a 59 anos 2.067 1,6 1.984 1,6 4.05160 a 64 anos 1.691 1,3 1.752 1,4 3.44365 a 69 anos 1.258 1,0 1.282 1,0 2.54070 a 74 anos 873 0,7 823 0,6 1.69675 a 79 anos 522 0,4 434 0,3 95680 ou mais anos 572 0,5 379 0,3 951TOTAL 63.795 50,3 63.033 49,7 126.828

P02. TABELA COMPARATIVA DA POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CABO FRIO SEGUNDO GÊNERO E FAIXA

ETÁRIA EM 2000

GP02. GRÁFICO DEMONSTRATIVO DA PIRÂMIDE ETÁRIA PARA O MUNICÍPIO DE CABO FRIO-RJ, DE ACORDO COM TABELA P02

Figura 45, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

5,0

5,0

4,9

5,0

4,5

4,0

3,9

4,0

3,5

2,6

2,1

1,6

1,4

1,0

0,6

0,3

0,3

0 1 2 3 4 5 6

0 a 4 anos

5 a 9 anos

10 a 14 anos

15 a 19 anos

20 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 34 anos

35 a 39 anos

40 a 44 anos

45 a 49 anos

50 a 54 anos

55 a 59 anos

60 a 64 anos

65 a 69 anos

70 a 74 anos

75 a 79 anos

80 ou mais anos

HOMENS EM %

5,0

4,9

4,7

4,8

4,4

4,2

4,1

4,2

3,5

2,7

2,2

1,6

1,3

1,0

0,7

0,4

0,5

0123456

0 a 4 anos

5 a 9 anos

10 a 14 anos

15 a 19 anos

20 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 34 anos

35 a 39 anos

40 a 44 anos

45 a 49 anos

50 a 54 anos

55 a 59 anos

60 a 64 anos

65 a 69 anos

70 a 74 anos

75 a 79 anos

80 ou mais anos

MULHERES EM %

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100

FAIXA ETÁRIA MULHERES % HOMENS % TOTAL 0 a 4 anos 1.127 5,3 1.196 5,6 2.323 5 a 9 anos 1.156 5,4 1.169 5,5 2.32510 a 14 anos 1.044 4,9 1.091 5,1 2.13515 a 19 anos 1.022 4,8 1.091 5,1 2.11320 a 24 anos 908 4,3 1.011 4,8 1.91925 a 29 anos 884 4,2 849 4,0 1.73330 a 34 anos 757 3,6 808 3,8 1.56535 a 39 anos 812 3,8 759 3,6 1.57140 a 44 anos 594 2,8 657 3,1 1.25145 a 49 anos 512 2,4 491 2,3 1.00350 a 54 anos 438 2,1 445 2,1 88355 a 59 anos 341 1,6 375 1,8 71660 a 64 anos 305 1,4 355 1,7 66065 a 69 anos 188 0,9 240 1,1 42870 a 74 anos 146 0,7 171 0,8 31775 a 79 anos 68 0,3 81 0,4 14980 ou mais anos 86 0,4 60 0,3 146TOTAL 10.388 48,9 10.849 51,1 21.237

P03. TABELA COMPARATIVA DA POPULAÇÃO DO DISTRITO DE TAMOIOS SEGUNDO GÊNERO E FAIXA

ETÁRIA EM 2000

GP03. GRÁFICO DEMONSTRATIVO DA PIRÂMIDE ETÁRIA PARA O DISTRITO DE TAMOIOS, DE ACORDO COM TABELA 03

Figura 46, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

5,6

5,5

5,1

5,1

4,8

4,0

3,8

3,6

3,1

2,3

2,1

1,8

1,7

1,1

0,8

0,4

0,3

0 1 2 3 4 5 6

0 a 4 anos

5 a 9 anos

10 a 14 anos

15 a 19 anos

20 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 34 anos

35 a 39 anos

40 a 44 anos

45 a 49 anos

50 a 54 anos

55 a 59 anos

60 a 64 anos

65 a 69 anos

70 a 74 anos

75 a 79 anos

80 ou mais anos

HOMENS EM %

5,3

5,4

4,9

4,8

4,3

4,2

3,6

3,8

2,8

2,4

2,1

1,6

1,4

0,9

0,7

0,3

0,4

0123456

0 a 4 anos

5 a 9 anos

10 a 14 anos

15 a 19 anos

20 a 24 anos

25 a 29 anos

30 a 34 anos

35 a 39 anos

40 a 44 anos

45 a 49 anos

50 a 54 anos

55 a 59 anos

60 a 64 anos

65 a 69 anos

70 a 74 anos

75 a 79 anos

80 ou mais anos

MULHERES EM %

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101

.

REDE COLETORA 382 0,6 25.639 29,6FOSSA ASSEPTICA 41.490 64,2 59.821 69,1FOSSA RUDIMENTAR 14.296 22,1 17.497 20,2VALA 3.123 4,8 3.285 3,8OUTROS 5318 8,2 3.520 4,1REDE COLETORA 0 0,0 9.987 27,4FOSSA ASSEPTICA 15.406 69,7 18.898 51,8FOSSA RUDIMENTAR 4.345 19,6 5.889 16,2VALA 823 3,7 554 1,5OUTROS 1.946 8,8 1.133 3,1REDE COLETORA 0 0,0 69 1,2FOSSA ASSEPTICA 740 51,1 2.797 47,4FOSSA RUDIMENTAR 491 33,9 2.582 43,7VALA 31 2,1 47 0,8OUTROS 192 13,3 410 6,9

5.905

22.118 36.461

109.762

E01. QUADRO COMPARATIVO DO SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO EXISTENTE NOS DOMICÍCIOS PARTICULARES PERMANENTES DA MICRORREGIÃO LAGOS, MUNICÍPIO DE CABO FRIO E NO DISTRITO DE TAMOIOS, NOS ANOS 1991 E 2000

MICRORREGIÃO LAGOS

TIPO DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO

NÚMERO DE DOMICÍLIOS

%

1991

64.609

LUGAR

MUNICÍPIO DE CABO FRIO

DISTRITO DE TAMOIOS

TOTAL DE DOMICILIOS PARTICULARES PERMANANTES

1.448

TOTAL DE DOMICILIOS PARTICULARES PERMANANTES

2000

NÚMERO DE DOMICÍLIOS

%

GE01. GRÁFICO COMPARATIVO DO SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITARIO EXISTENTE NOS DOMICÍLIOS PARTICULARES PERMANENTES DA MICRORREGIÃO LAGOS NOS ANOS DE 1991 E

2000

0,6

64,2

22,1

4,8

8,2

29,6

69,1

20,2

3,8

4,1

0,0 40,0 80,0

REDE COLETORA

FOSSA ASSEPTICA

FOSSA RUDIMENTAR

VALA

OUTROS

TIP

O D

E E

SG

OT

AM

EN

TO

SA

NIT

ÁR

IO

%

1991 2000

Figura 47, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

GE02. GRÁFICO COMPARATIVO DO SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITARIO EXISTENTE NOS DOMICÍLIOS PARTICULARES PERMANENTES NO MUNICÍPIO DE CABO FRIO NOS ANOS DE 1991 E

2000

0,0

69,7

19,6

3,7

8,8

27,4

51,8

16,2

1,5

3,1

0,0 40,0 80,0

REDE COLETORA

FOSSA ASSEPTICA

FOSSA RUDIMENTAR

VALA

OUTROS

TIP

O D

E E

SG

OT

AM

EN

TO

SA

NIT

ÁR

IO

%

1991 2000

Figura 48, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

GE03. GRÁFICO COMPARATIVO DO SISTEMA DE ESGOTAMENTO SANITARIO EXISTENTE NOS DOMICÍLIOS PARTICULARES PERMANENTES NO DISTRITO DE TAMOIOS NOS ANOS DE 1991 E

2000

0,0

51,1

33,9

2,1

13,3

1,2

47,4

43,7

0,8

6,9

0,0 40,0 80,0

REDE COLETORA

FOSSA ASSEPTICA

FOSSA RUDIMENTAR

VALA

OUTROS

TIP

O D

E E

SG

OT

AM

EN

TO

SA

NIT

ÁR

IO

%

1991 2000

Figura 49, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

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102

MICROREGIÃO (LAGOS) 64.609 34.683 53,7 109.762 95.797 87,3MUNICÍPIO (CABO FRIO) 22.118 15.661 70,8 36.461 34.228 93,9DISTRITO (TAMOIOS) 1.448 682 47,1 5.905 4.426 75,0

L01. TABELA COMPARATIVA DA COLETA DE LIXO NAS RESIDÊNCIAS PARTICULARES PERMANENTES EM 1991 E 2000 NA MICRORREGIÃO LAGOS, MUNICÍPIO DE CABO FRIO E NO

DISTRITO DE TAMOIOS.2000

% %

1991TOTAL DE

DOMICILIOSDOMICÍLIOS

COM COLETATOTAL DE

DOMICILIOSDOMICÍLIOS

COM COLETA

GL01. GRÁFICO REPRESENTATIVO DO LIXO COLETADO NAS RESIDÊNCIAS PARTICULARES PERMANENTES EM 1991 E 2000 DE

ACORDO COM TABELA L01

53,7

70,8

47,1

87,3

93,9

75,0

0,0 50,0 100,0

MICROREGIÃO (LAGOS)

MUNICÍPIO (CABO FRIO)

DISTRITO (TAMOIOS)

LOC

AL

%

1991 2000

Figura 50, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

Page 119: A Urbanização na Vila de Tamoios (Cabo Frio) e sua ...livros01.livrosgratis.com.br/cp131602.pdfplanejamento do espaço remanescente, para que se dê conta das características naturais

103

ÁGUA ENCANADA 44.759 69,3 66.449 60,5POÇO 14.403 22,3 26.329 24,0OUTROS 5.447 8,4 16.984 15,5ÁGUA ENCANADA 16.543 74,8 19.464 53,4POÇO 3.591 16,2 9.098 25,0OUTROS 1.984 9,0 7.899 21,7ÁGUA ENCANADA 0 0,0 1.703 28,8POÇO 1.369 94,5 3.610 61,1OUTROS 79 5,5 592 10,0

SISTEMA DE ABASTECIMENTO

MUNICÍPIO DE CABO FRIO

DISTRITO DE TAMOIOS

LUGAR

A01. TABELA COMPARATIVA DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA NAS RESIDENCIAS PARTICULARES PERMANENTES NA MICRORREGIÃO LAGOS, MUNICÍPIO DE CABO FRIO E DISTRITO DE TAMOIOS NOS ANOS 1991 E 2000

MICROREGIÃO LAGOS

1.448

36.461

5.905

64.609 109.762

22.118

2000

NÚMERO DE DOMICÍLIOS

TOTAL DE DOMICILIOS PARTICULARES PERMANANTES

%

1991

TOTAL DE DOMICILIOS PARTICULARES PERMANANTES

NÚMERO DE DOMICÍLIOS %

GA01. GRÁFICO COMPARATIVO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA NAS RESIDENCIAS PERMANENTES NA MICRORREGIÃO LAGOS NOS ANOS 1991 E 2000

69,3

22,3

8,4

60,5

24,0

15,5

0,0 50,0 100,0

ÁGUA ENCANADA

POÇO

OUTROSSIS

TEM

A D

E

AB

AS

TEC

IME

NTO

%

1991 2000

Figura 51, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

GA02. GRÁFICO COMPARATIVO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA NAS RESIDÊNCIAS PERMANENTES NO MUNICÍPIO DE CABO FRIO NOS ANOS 1991 E 2000

74,8

16,2

9,0

53,4

25,0

21,7

0,0 50,0 100,0

ÁGUA ENCANADA

POÇO

OUTROSSIS

TEM

A D

E

AB

AS

TEC

IME

NTO

%

1991 2000

Figura 52, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

GA03. GRÁFICO COMPARATIVO DO SISTEMA DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA NAS RESIDÊNCIAS PERMANENTES NO DISTRITO DE TAMOIOS NOS ANOS 1991 E 2000

0,0

94,5

5,5

28,8

61,1

10,0

0,0 50,0 100,0

ÁGUA ENCANADA

POÇO

OUTROS

SIS

TEM

A D

E

AB

AS

TEC

IME

NTO

%

1991 2000

Figura 53, fonte: IBGE, CENSO Demográfico de 2000 – gráfico desenvolvido em software Excel a partir de informações da tabela

Page 120: A Urbanização na Vila de Tamoios (Cabo Frio) e sua ...livros01.livrosgratis.com.br/cp131602.pdfplanejamento do espaço remanescente, para que se dê conta das características naturais

104

3.2. Evolução da ocupação. Leitura de gráficos, tabelas e mapas

A ocupação na Vila de Tamoios tem sua concentração ao longo da Rodovia Amaral

Peixoto (RJ 106), no trecho após a Reserva de Marinha e o Rio São João (vide figura

3(p.31)4). A figura 5(p.38)4 apresenta as informações coletadas em campo e organizadas em

foto de satélite conseguida através do Google Earth, em 2007. Ao examiná-la, percebemos o

aglomerado urbano, destacando inicialmente o contraste entre três áreas: as ambientais

protegidas (APA do Rio São João, RPPN Parque da Preguiça, Reserva da Marinha), a

composta por uma malha urbana densamente ocupada e a Rodovia Intermunicipal Amaral

Peixoto (RJ 106).

De acordo com a Tabela de loteamentos do distrito de Tamoios é possível localizar o

início da atividade imobiliária ao longo da Vila 22 , observando a data de aprovação dos

mesmos.

1 AQUARIUM 16/12/1954 18 371 3602 PARQUE VENEZA 1955/19563 SAMBURÁ 27/7/19564 CIDADE NOVA CALIFORNIA 14/8/1956 72 1056 525

6 CHACARAS DO GARGOÁ 25/10/1966 10 356 10007 CIDADE BALNEARIA SANTA MARGARIDA 25/2/1969 197 2738 7008 VERÃO VERMELHO 17/6/19729 ORLA 500 20/10/197810 FLORESTINHA 22/3/197911 VIVAMAR 25/5/197912 LONG BEACH 28/7/1983

5 UNAMAR (LOTEAMENTO CLANDESTINO)DATA DO COMEÇO DA ATIVIDADE SEM

APROVAÇÃO1955/1956

TABELA DE LOTEAMENTOS DO SEGUNDO DISTRITO DE CABO FRIO (PREFEITURA MUNICIPAL DE CABO FRIO, 2007)

NO. NOME DO LOTEAMENTO DATA APROVAÇÃO QUADRAS LOTES LOTE MÉDIO

Segundo a tabela e a figura 5(p.38)4, constatamos que os loteamentos Aquárium,

Parque Veneza, Samburá, Nova Califórnia e Unamar são da década de 1950. Os loteamentos

Chácaras do Gargoá e Santa Margarida são da década de 1960, e os loteamentos Verão

22 Não foi possível conseguir alguma base cartográfica do Distrito de Tamoios na Prefeitura Municipal de Cabo Frio e expor as informações em mapa o que era intenção do autor inicialmente. Em seu lugar, serão apresentadas fotos coletadas no Google Earth e trabalhadas pelo autor através das entrevistas qualitativas e levantamentos de campo.

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Vermelho, Orla 500, Florestinha, Vivamar e Terramar remontam à década de 1970, tendo

ainda o loteamento Long Beach da década de 1980.

A informação relativa à aprovação dos loteamentos foi complementada através de

entrevistas qualitativas com seus moradores. Estas mostram que, de fato, o início da atividade

comercial imobiliária na Vila dos Tamoios foi mais acentuada junto à barra do Rio São João,

onde se encontra o bairro de Santo Antônio, antes da década de 1950.

Segundo os relatos tomados, a Rodovia Amaral Peixoto ao longo desse trecho, nessa

época, cortava uma boa parte de floresta primária da Mata Atlântica, onde existiam árvores

altas, assim como a reserva de Marinha hoje ainda preservada. Para imaginar é só observar a

referida reserva, visualizando-a até o bairro de Santo Antônio indicado na figura 5(p.38)4, nos

dois lados da Rodovia.

A mesma fonte revela que uma atividade de construção de casas teve início onde se

situa o “loteamento Unamar”, de forma ilegal, na década de 1950. Nessa época, mais próximo

ao bairro de Santo Antônio, os loteamentos Samburá e Aquarium principiaram suas atividades

comerciais. Do lado oposto à praia da Rodovia Amaral Peixoto, os loteamentos Parque

Veneza e Nova Califórnia também começaram suas atividades, porém, em menor escala que

os demais, devido à sua localização mais afastada da orla.

Ao longo de quase vinte anos entende-se que o desenvolvimento da ocupação da Vila

de Tamoios foi separado por dois grupos distintos: o primeiro relativo ao grupo assentado

próximo à barra do rio São João, composto pelo bairro de Santo Antônio e pelos loteamentos

Samburá e Aquarium; e o segundo grupo, composto pelo loteamento clandestino Unamar.

Entre esses dois grupos existia ampla área verde nativa que se denominava “Jazidas” pelos

habitantes locais, composta de restinga herbácea, arbustiva e arbórea.

Na seqüência evolutiva da ocupação do solo na Vila de Tamoios, percebe-se que os

loteamentos Chácaras do Gargoá e Santa Margarida, que são da década de 1960, e os

loteamentos Verão Vermelho, Orla 500, Florestinha, Vivamar e Terramar, os quais remontam

à década de 1970, instalaram-se entre Unamar e a reserva de Marinha (figura 56, p.114).

Observamos que esse processo foi a princípio lento, encontrando aceleração na metade da

década de 1980, até os dias atuais.

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Constatamos que a área verde extensa chamada de “Jazidas” não mais existe. Não foi

encontrada informação sobre loteamento legal para aquela área. Acredita-se que a mesma

seguiu a diretriz de ocupação do loteamento ilegal conhecido como Unamar. O fato é que toda

a área de Santo Antônio até o loteamento Florestinha foi ocupada pela construção de casas de

formas ilegal e legal, salvo nas margens da Rodovia onde o uso é preferencialmente

comercial, principalmente entre Unamar a Santo Antônio.

Posteriormente, iniciado em meados de 1990, é observado um crescimento de

características urbanas, com lotes sem registro, com dimensão média de 400 m2 (quatrocentos

metros quadrados), e com ocupação acentuada dentro dos mesmos, na área conhecida como

“Chavão”, indicada na figura 54 (p.113). Essa extensão de terra, composta originalmente por

fazendas produtoras rurais, encontra-se dentro da APA do Rio São João. Observamos que esta

unidade tem crescido nos últimos anos de maneira acelerada, causando certa apreensão por

parte dos órgãos responsáveis pelas questões ambientais, como o conselho da APA do Rio

São João e o Comitê de Bacia deste Rio, formado recentemente.

Paralelamente à atividade imobiliária, observa-se a atividade de extração ilegal de

areia, no interior da Vila de Tamoios. Essa atividade, já citada, foi responsavel pela formação

das lagoas demonstradas nas figuras 56 (p.114) e 57 (p.115). Interessante observar que estas

se comportam como limites naturais ao avanço do crescimento urbano incipiente naquela

área. A proximidade da RPPN Parque da Preguiça que faz fronteira com as mesmas, fortalece

a característica de preservação e integra naturalmente áreas com vocações complementares,

mas contrasta com a “maré” de ocupação ilegal constatada na Vila de Tamoios.

Chama a atenção o loteamento Nova Califórnia, localizado ao centro da figura 56

(p.114). O início de suas atividades é descrito nas entrevistas e levantamento de campo, da

mesma época da ocupação do “Chavão”, muito embora a fonte Prefeitura Municipal de Cabo

Frio informe que sua aprovação se deu na década de 1950.

Sua localização traz luz à discussão sobre o avanço do processo de crescimento na

Vila de Tamoios. Dadas as características geográficas disponíveis; ao leste está o mar, ao

norte o Rio São João; ao sul e a oeste (localização do loteamento Nova Califórnia) se

encontraria a possibilidade de continuidade da urbanização.

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Se não existirem ações no sentido de planejar o espaço ocupado e remanescentes no

Distrito de Tamoios em geral, por parte da municipalidade local, e de fiscalização e controle

do crescimento urbano, por parte das organizações de tutela das regiões de rios e lagoas -

SERLA e FEEMA - o fenômeno de ocupação urbana dispersa constatado poderá persistir.

É importante dizer que, nos moldes atuais que se promove, tal fenômeno tem sido

prejudicial ao meio ambiente natural, ao processo de permanência das heranças culturais

locais e à identificação concernente à comunidade local, pois propicia violência,

desorganização e desigualdades sociais.

3.3. A Rodovia Amaral Peixoto e os vetores de crescimento na Vila de Tamoios

A Rodovia Amaral Peixoto, RJ 106, no trecho de abordagem desse trabalho,

configura-se como conexão viária mais provável entre São Pedro da Aldeia e Macaé. Por ela

desloca-se necessariamente o fluxo de bens e serviços, a mão-de-obra referente à necessidade

do setor industrial, de serviços urbanos e do terceiro setor (comércio e turismo) e nas épocas

de verão e feriados um grande número de turistas. O transporte coletivo existe na forma de

ônibus intermunicipais e de Vans, sem que exista qualquer opção para o deslocamento não

poluente de massa, por entre as regiões citadas.

Observamos o contraste existente entre a necessidade de expansão das vias de

interligação dos centros urbanos de médio porte, tais como Rio das Ostras e Macaé ao norte, e

de Armação dos Búzios e Cabo Frio ao sul da Vila, e a expansão da Vila de Tamoios, que

engloba a Rodovia RJ 106 e, ao mesmo tempo, a sufoca, impedindo sua eventual duplicação.

Vale afirmar que Rio das Ostras passou por problema semelhante. A mesma estrada,

RJ 106, corta essa cidade em seu eixo de ocupação. O anel viário 23 construído resolveu

sobremaneira a problemática de tráfego expresso, conduzindo-o para fora da mesma.

23 O termo anel viário colocado se refere ao comum exercício de ordenamento urbano em cidades com alto potencial de crescimento. Quando tal fenômeno ocorre, atrapalha a irrigação viária entre as cidades. Com objetivo se sanar esse problema, a setorização do sistema viário expresso busca a localização do mesmo para fora do núcleo central urbano facilitando e organizando a mobilidade viária.

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Por um lado, constata-se que a população da Vila de Tamoios, na sua maior parte,

possui jornada diária de trabalho, com deslocamentos para aquelas cidades de médio porte.

Tais indivíduos necessitam da Rodovia para viabilizar seus sustentos, assim como as cidades

vizinhas necessitam de seu desenvolvimento e manutenção, pois sem o suporte à mão-de-obra

correspondente todos perdem.

Por outro lado, talvez possamos afirmar que a maior parte dos seus usuários não

possuam relação com a Vila, e passem literalmente pelo aglomerado urbano de forma

expressa. Nesse momento, registra-se que os usuários da RJ 106, que precisam trafegar

diretamente entre dois centros mais complexos, como por exemplo, Macaé e Cabo Frio,

encontram dificuldade nesse tipo de circulação. Caso ocorra alguma barreira ou impedimento

de fluxo, a única alternativa é circular por Casimiro de Abreu e Silva Jardim em direção a

Araruama e São Pedro da Aldeia, pela BR 101, bem distante.

Um terceiro fator, presente em toda a região, refere-se ao turismo sazonal. Ao longo

dos meses do verão e durante os feriados, o volume da população nos municípios destacados

aumenta vertiginosamente. Os turistas circulam pelas praias da região, gerando, durante esses

períodos, um aumento no tráfego, provocando congestionamentos capazes de se configurar

como verdadeiros impedimentos, já observados inúmeras vezes, ao longo da Rodovia Amaral

Peixoto.

Outro aspecto, naturalmente, é o reflexo direto que se impõe na relação da Rodovia

com o desenvolvimento da Vila de Tamoios. A circulação por esta via fez com que o Distrito

obtivesse a visualização necessária para que existisse interesse em sua ocupação em sua área

urbana, e de forma intensa. Mesmo que essa ocupação tenha encontrado na ilegalidade seu

principal recurso, vale afirmar que hoje os esforços empreendidos pela Prefeitura significam

regularizar as situações inadimplentes, o que acabará por sanar essa questão por tempo

indeterminado.

Sendo assim, se o fenômeno de grilagem não mais for possível e, em seu lugar, o

controle das normas edilícias e do zoneamento, exercidas pela fiscalização municipal,

passarem a ser efetivos, podemos afirmar que o crescimento urbano do Distrito poderá

diminuir, deixando lugar a um desenvolvimento desejável, o que pressupõe vontade política

da parte do Poder Público Municipal.

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Entretanto, no momento em que a Vila atinge um determinado número populacional,

sabidamente atuante nos processos de desenvolvimento microrregional e local, isto será capaz

de alterar consideravelmente seu papel no conjunto, sobretudo ao passar de uma atividade

agro-rural para urbana.

Sua identidade local passa então a se fazer marcante, diferenciando-se das

comunidades vizinhas, o que responderia de forma ideal ao esforço comum de preservação

dos recursos naturais locais (suas características genuínas), sua população e a política urbana

local e extra-local, que visaria um equilíbrio coerente entre esses elementos e a atuação do

setor privado.

O loteamento Nova Califórnia é identificado como início da interiorização da

ocupação da Vila de Tamoios. É constatada uma “pressão” de crescimento correspondente à

união de dois grupos destacados: a ocupação ilegal do “Chavão” (figura 54, p.113) e o

loteamento citado.

Esse quadro, em parte ilegal, encontra impedimento em sua concretização por dois

fatores: o primeiro concernente ao fato da citada RPPN possuir ligação com a APA do Rio

São João, o que favorece sua conservação, pois uniria fragmentos de floresta nativa, além de

proporcionar a migração segura de espécies da fauna local; o segundo, seria a atuação da

RPPN e das lagoas como limites naturais ao crescimento urbano. Os dois fatores citados

somente são reais se condicionados ao cumprimento da legislação ambiental federal aplicável

à APA, da SERLA e da FEEMA, assim como em relação à legislação municipal.

A seguir, mencionamos, a título de exercício da parte do observador e autor, um dos

caminhos para potencializar as possibilidades na área, sob certas condições. Assim sendo,

tendo como premissa o respeito às legislações concernentes, aventa-se uma conformação

urbana composta de quatro fases e que poderia se desenvolver na Vila de Tamoios.

Observa-se a figura 54 (p.114), identificando-se diferentes planos:

- o primeiro, uma malha conhecida como área urbana consolidada, destacada na figura

ao longo da Rodovia Amaral Peixoto,

- o segundo, seria o destaque (verde) que traduz a APA do Rio São João, a RPPN

Parque da Preguiça e a Reserva da Marinha, uma área essencialmente verde de floresta

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de Mata Atlântica nativa. Utilizando-se os conceitos de corredor ecológico, que

considera a união de fragmentos de floresta, essas áreas poderiam formar um corredor

verde de reserva até a APA do Rio São João, e desta para o Morro São João. A união

desses fragmentos de floresta é demonstrada de forma imprecisa pela linha pontilhada

laranja, e na figura 55 (p.114), indicada pela seta assinalada,

- o terceiro, seria a região do loteamento Nova Califórnia que pode ter um caráter

controlado como uma Zona de Ocupação Controlada (ZOC), composta de lotes mais

generosos, abrindo-se para a existência de serviços, ou mesmo de indústrias não

poluentes, formando uma fronteira entre o rural e o urbano. Após o loteamento

destacado, observamos na figura 54 (p.113), a linha azul representando o canal da

Pedra. Este canal é passível de ser alargado e aprofundado, podendo ser aproveitado

para o turismo e, também como via navegável, funcionando como divisor de zonas.

- após o canal (o quarto) observamos a extensa área de pasto e plantações, para os

quais poderiam ser direcionados investimentos, oferecendo a toda aquela área urbana

nova recursos de alimentação, trabalho e renda. A manutenção da atividade agro-rural

se apóia no fato de ser uma herança cultural existente naquelas terras, desde os

primórdios de seu desenvolvimento.

Na figura 55 (p.114) é apresentado um organograma que foi realizado para permitir

melhor compreensão dos fatos abordados. As áreas envolvidas com a linha verde mostram

áreas ambientais protegidas: A primeira, localizada na face superior esquerda da figura é de

área de Marinha; a segunda, a área maior, faz parte da APA do Rio São João, e localiza-se na

margem do mesmo rio, juntando com a RPPN Parque da Preguiça, mostrada na figura 56

(p.114), em melhor ângulo.

Ainda na figura 55 (p.114) (marrom), podemos observar a Rodovia Amaral Peixoto

que, como vimos, corta toda a área urbana, comportando em seus dois lados seus limites

laterais.

Sob forma elíptica (vermelha), no primeiro plano, observa-se a área urbana dentro da

APA (marcada com um x); em segundo plano, é identificada na figura a expansão do

loteamento Nova Califórnia, que tem seu acesso passando por dentro da RPPN e das lagoas

(contornadas em azul).

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A seta preta que liga a RPPN Parque da Preguiça à reserva de Marinha representa um

esforço de aplicação do conceito apresentado na seção anterior, sobre o corredor ecológico

citado.

A outra seta na figura mostra a criação do anel viário. Que seria extremamente útil ao

unir de forma expressa, contornando o desenvolvimento urbano em meio a essa realidade

ambiental, e que seria extremamente útil ao unir de forma expressa as outras cidades que são

Rio das Ostras e Macaé.

Este esboço teria que abrigar os recursos apresentados no instrumento Estatuto da

Cidade, descrito como Participação Público-Privada, pois uma via expressa além de resolver,

em grande parte, o problema de circulação viária criado pelo adensamento urbano ao longo da

Rodovia, seria uma forma de proteger as áreas ambientais a serem consolidadas. Estas são

somente indicações a serem ventiladas na concepção de um futuro projeto, a ser mais bem

ajustado, partilhado e detalhado pela municipalidade.

A figura 57 (p.115) demonstra, numa escala menor, como o crescimento interage com

as lagoas. Vale lembrar que as últimas são o resultado da extração ilegal de areia, prática

existente há alguns anos na região, que deixou esse legado. Entende-se que a sua utilização

seja possível em um contexto urbano, mas como existe a RPPN Parque da Preguiça, em suas

extremidades inferiores (de acordo com a figura), imagina-se que a melhor utilização passasse

pela intenção de integrar o verde às lagoas. A produção de um grande parque, como um

equipamento urbano a ser usufruído por toda a região, pelo turismo nacional e internacional, e

pela produção de pesquisa, pode ser indicado aqui, dadas as condições e conjunturas

explicitadas.

Esse exercício lança mão de figuras explicativas e dos conceitos teóricos

desenvolvidos neste trabalho, para que seja possível discutir a constatação de uma identidade

para o Distrito de Tamoios, considerando o lugar, como o trabalho vem evidenciando desde o

seu inicio, pois abriga fauna e flora endêmicas, possui áreas ambientais protegidas, histórico

de desenvolvimento de pesca artesanal e atividade agro-rural.

Repensar a Rodovia Amaral Peixoto em seus moldes atuais significa alterar as bases

de um crescimento disperso e assumir uma diretriz de desenvolvimento mais embasado na

realidade do espaço físico da Vila, no substrato intelectual local disponível e no parque

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econômico privado atuante. Não somente pelo que existe, mas pelo que pode ser gerado a

médio e longo prazo.

Portanto, redefinir a situação de fluxo viário para a região, somado às possibilidades

aqui relacionadas de organização setorial, significaria assumir sua vocação natural, buscando

otimizar a respectiva inserção no contexto regional, com seu desenvolvimento local embasado

com propostas coerentes que possam gerar trabalho e renda para a população local, além de

continuar a disponibilizar a mão-de-obra local para as cidades vizinhas.

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Figura 54

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Figura 55

Figura 56

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Figura 57

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CONCLUSÕES

O processo de adensamento urbano em Tamoios apresenta impacto diverso na região.

Dentre vários aspectos, percebe-se como de relativa importância o desmatamento excessivo

pela prática de grilagem, formação de loteamentos ilegais, ocupação descontrolada do ponto

de vista de gabarito e uso dos lotes, questão estética desguarnecida devido à falta de

legislação urbanística, violência gerada pela escassa presença do poder público. Pesam no

conjunto, a substituição gradativa de marcas e traços de heranças culturais locais, como a da

vila dos pescadores de Santo Antônio, esta agravada pela falta de apoio para viabilizar a

respectiva prática econômica de subsistência - a pesca artesanal; pelo município. Esse núcleo

foi referência nos processos de ocupação da região. Sua extinção chegou em conseqüência à

ascensão da construção civil como atividade mais rentável, dado o aumento do valor de troca

absorvido pelo solo. Essa forma de ocupação e apropriação do solo de Tamoios é fruto do

não planejamento comum em toda a região.

Retomaremos o conceito de ecossistema biológico rebatido no ecossistema urbano,

exposto na primeira seção, com o objetivo de obter um nivelamento teórico desejável, tendo

em vista a discussão da temática sobre os recortes aqui considerados.

Estamos cientes que um organismo vivo necessita de substrato para produzir atividade

metabólica. Essa atividade garante sua sobrevivência, produzindo, como resultado, a energia

utilizada para desenvolver-se e reproduzir-se, a par dos dejetos não incorporáveis ao próprio

sistema. Em sua existência, além de se reproduzir, gera-se, necessariamente, elementos que

podem ser aproveitados por outros organismos. A associação entre dois ou mais organismos é

conhecida como ecossistema. Ecossistemas podem se unir a outros para garantir

sobrevivência recíproca. Nessa interação de organismos, existe uma troca de interesses onde

um incorpora o que o outro produz, e vice e versa. Tal fenômeno produz um equilíbrio capaz

de manter a sobrevivência de toda a associação, que muitas vezes é composta por uma larga

rede de organismos.

Dentro do universo de ecossistemas, observamos a associação de organismos de tal

forma que seja possível sua automanutenção. Nesse processo, os dejetos não aproveitáveis por

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um organismo podem ser aproveitados por outros (como a fixação do nitrogênio atmosférico

pela associação entre plantas leguminosas e bactérias presente em suas raízes). Quando os

dejetos de um organismo são aproveitados por outros, em que estes geram benefícios ao

primeiro, entendemos que esse ecossistema seja auto-sustentável.

Objetivamos uma análise diferenciada sobre um tema mais complexo, que é o

organismo cidade ou (no caso) a vila. Consideramos a Vila de Tamoios como um sistema

composto de, dentre outros, três principais “organismos”: o físico-territorial, o ambiental e o

cultural.

Constatamos que tais “organismos” se relacionam entre si formando um ecossistema.

Observamos que estes demandam esforços externos a eles (substrato) para sua sobrevivência,

representados pelas análises na escala microrregional, na seção 2. Evidenciamos que seu

desenvolvimento gera implicações e conseqüências locais que são impactantes ao próprio

sistema (dejetos) e por isso não são auto-sustentáveis. Contudo, os entendemos como reflexo

natural inerente ao processo de evolução ao qual estamos sujeitos.

Entendemos que a comparação com o processo biológico pode nos munir de alimento

para uma melhor abordagem dos processos descritos, já que é observada a existência de um

equilíbrio nos processos estudados pela Biologia. Ao realizarmos tal analogia, queremos crer

na possibilidade de identificar os caminhos para estabelecer uma homeóstase positiva, no

sentido de gerar crescimentos: aos sistemas interno e externos, relacionados.

Identificamos, neste trabalho, aspectos positivos e negativos gerados pelo

“ecossistema não sustentável urbano” da Vila de Tamoios, através dos “organismos” físico-

territoriais, ambientais e culturais, conjugado ao seu entorno microrregional e local.

Observamos que esse “ecossistema urbano” gera e é gerado pelos sistemas em

desenvolvimento no seu entorno, estando sua sobrevivência necessariamente relacionada a

ele. Percebemos, assim, como nos processos biológicos, que ele incorpora ações externas,

oriundas das necessidades dos sistemas lindeiros, as quais funcionam como impulsionadoras

para o seu desenvolvimento.

Como o sistema ecológico urbano abriga complexidade singular, pois trata do ser

humano em atividade, separamos os três grupos na seção 2 deste trabalho. Ao longo das

considerações finais, objetivamos uma síntese de tais organismos, de forma que fosse possível

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a visualização de suas conexões, compreendendo que fazem parte de um só “ecossistema

urbano”, e que este não é auto-sustentável. Por isso interpretamos seus dejetos, ou impactos

negativos, como passíveis de serem aproveitados por outros organismos, mas observamos que

em sua atual configuração contribuem para limitar a evolução da Vila de Tamoios, conectada

ao seu entorno imediato.

A seguir, estabelecemos uma síntese que recupera as principais características de cada

“organismo”, sejam eles via fenômenos físico–territoriais, ambientais e culturais, ao longo do

“ecossistema urbano” da Vila de Tamoios:

Físico-territoriais:

Desenvolvimento urbano desordenado, inserção no processo de crescimento urbano e

econômico microrregional, melhor infra-estrutura de serviços, não cumprimento das normas

edilícias, processo de grilagem e invasão de lotes.

Ambientais:

A APA do Rio São João, com suas características geográfico-climáticas descritas,

conferem ao local singularidade de exemplos de fauna e flora (alguns em processo de

extinção), Parque da Preguiça, área das Forças Armadas (Marinha) com mata nativa primária

preservada, o que funciona como reserva natural importante, invasão e desmatamento na

APA, poluição do Rio São João, diminuição da vida silvestre, extração de recursos minerais

criando impactos no lençol freático e gerando extensas lagoas em meio ao desordenamento

urbano.

Culturais:

Desenvolvimento agro-rural pela produção agrícola histórica de fazendas de

monocultura, pesca artesanal produzida pela comunidade de Santo Antônio, prática de

extração de areia para venda nos centros com atividade construtiva elevada (citada acima

pelos seus impactos ambientais), contrastes culturais inerentes a imigrações de indivíduos da

região Norte Fluminense, oriundos da atividade rural diminuída e do grande Rio, de camadas

de extratos sociais desfavorecidas, inserindo-se novas práticas culturais, característica de

“cidade dormitório” pela migração diária da maior parte dos atuais moradores da Vila de

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Tamoios às cidades vizinhas, aumento considerável da população local e da atividade

imobiliária.

Em cada item destacado, identificamos um elo capaz de se comportar como um

organismo. Esses em interação, pois se dão em um mesmo território, formando um tripé que

compõe o que entendemos pelo “ecossistema urbano” da Vila de Tamoios. Assim, os

fenômenos culturais afetam as características ambientais, modelando a paisagem através das

práticas físico-territoriais. Encontramos características positivas ao seu desenvolvimento,

assim como negativas, no mesmo contexto.

Como observado anteriormente, esse “ecossistema urbano” composto dos

“organismos” apresentados se relaciona com outros “ecossistemas urbanos”, os municípios

vizinhos. Da mesma forma, apresentam o mesmo “tripé” constatado, que se relaciona com o

“tripé” da Vila. Entendemos que essa ligação nutre o processo de crescimento local da Vila de

Tamoios. São fatores externos ao contexto do “ecossistema urbano” da Vila, que abaixo

relacionados impulsionam o seu desenvolvimento:

Físico-territoriais:

Demanda de emprego em (Macaé, Rio das Ostras, Armação dos Búzios e Cabo Frio),

crescimento turístico (em Armação dos Búzios e Cabo Frio), desenvolvimento urbano

acentuado (Macaé, Rio das Ostras, Armação dos Búzios e Cabo Frio), crescimento da

metrópole (Rio de Janeiro) e expansão da zona metropolitana desta, urbanização da zona

costeira pelo projeto orla, Consorcio Intermunicipal Lagos São João.

Ambientais:

Aprimoramento da gestão da APA do Rio São João como entidade organizada e

atuante, conjugando interesses das zonas de conservação União e Poço das Antas, Parque da

Preguiça e Associação Mico Leão Dourado, desenvolvimento do Comitê de Bacia do Rio São

João como fórum de discussão para a manutenção, gestão e desenvolvimento da Bacia

Hidrográfica desse rio, esforço (dos mineradores, da Associação de moradores, FEEMA e

Ministério Público Estadual) no sentido de resolver a questão da mineração ilegal de areia em

Tamoios, urbanizando as margens das lagoas e legalizando a atividade, desenvolvendo prática

sustentável de mineração, para que sejam mitigados seus impactos. O Consórcio

Intermunicipal Lagos São João promove em seus fundamentos a possibilidade de discussão de

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temáticas intermunicipais – o que se configura como fundamental para o desenvolvimento

microrregional; somam-se conceitos de Corredor Biológico propostos pela fundação CIDE

(IQM verde, 2001) e aplicados na região da APA do Rio São João.

Culturais:

Cultura de exploração do petróleo instalada ao norte da Vila de Tamoios (em

Quissamã, Campos dos Goytacazes, Macaé e Rio das Ostras) em expansão acentuada, o

turismo nos municípios ao sul da Vila (Armação dos Búzios e Cabo Frio) em grande

desenvolvimento, incentivo à produção agrícola pela retomada do programa Pró-Alcool, do

governo federal.

Constatamos que essas implicações externas promoveram de fato o crescimento da

Vila de Tamoios. Essa evolução, remarcamos, gera conseqüências provocadas pelo

desenvolvimento da Vila. Observamos que estas não têm sido bem resolvidas, gerando fatores

negativos ao funcionamento da relação de troca entre os organismos citados, e que dificulta o

equilíbrio entre o ecossistema urbano local e os ecossistemas de entorno.

Ao identificar as problemáticas abordadas na seção 3 deste trabalho, as quais dizem

respeito à Vila de Tamoios, ressaltamos determinadas características passiveis de serem

repensadas. Relacionamos abaixo o que comparamos ao produto não utilizável de um

ecossistema biológico, o que sai do sistema e não pode ser aproveitado por seus organismos

para gerar crescimento. Lembramos ainda que se o produto não aproveitável for aumentado,

pode provocar diminuição do processo de evolução do ecossistema, e em alguns casos, sua

falência:

Físico-territoriais:

Ao encontrar ambiente favorável à ilegalidade, os imigrantes provocaram prática

descontrolada / desordenada de desenvolvimento físico-territorial; nesse processo é gerada a

violência pela falta de ação do poder municipal traduzida por constantes assaltos a

residências, tanto na Vila quanto em seu entorno, descaracterização da vila de Santo Antônio,

aumento do fluxo viário na Rodovia Amaral Peixoto (via de ligação mais provável entre os

municípios citados) dificultando nas épocas de veraneio a circulação viária microrregional, a

transformação de solo rural em urbano sem critérios de planejamento, a cobrança de IPTU em

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solo rural, sem a instauração de infra-estrutura compatível e inexistência de transporte

coletivo de massa não poluente promove aumento do fluxo de emissão de gás carbônico.

Ambientais:

A expansão urbana dispersa que provoca desmatamento dentro da APA, a não

identificação e valorização de características ambientais descritas, produção de poluição local

pela inexistência de rede coletora de esgoto e precariedade do sistema de fossa asséptica, o

conceito de preservação ambiental entendido como fator contrastante ao desenvolvimento

local.

Culturais:

A falta de reconhecimento da atividade pesqueira, ainda que de forma artesanal, como

atividade cultural e econômica local tem promovido sua diminuição e substituição por outras

atividades. O choque cultural promove confusão e dificuldade de interação, pois sem critérios

para organizar atividades culturais o município se abstém desse embate; a característica de

cidade dormitório promove uma grande evasão diurna, com a falta de uma atividade

econômica local que fixe o morador da Vila dentro de suas fronteiras, gerando ausência de

unidade e promovendo diminuição da participação popular nos mecanismos de gestão

municipal, dificuldade de criação de uma identidade, que encontra na cultura local sua maior

força.

Acreditamos que os aspectos negativos citados acima afastem as possibilidades de

interesse para a instalação de empresas, além de conferir ao local uma imagem negativa frente

ao seu entorno. Para o desenvolvimento turístico microrregional, observamos impedimento de

circulação viária nas épocas de veraneio pela dimensão da RJ 106, ao longo do trecho da Vila

de Tamoios, assim como para a circulação viária de serviços, comércio e mão de obra,

necessários ao incremento das cidades em desenvolvimento urbano acentuado, destacando em

seu entorno as já citadas Macaé, Rio das Ostras, Armação dos Búzios e Cabo Frio.

Cabe citar a idéia de criação do anel viário, via expressa, que contornaria a

problemática descrita acima. Unindo de forma expressa as cidades de Rio das Ostras e Macaé.

Não defendemos a inexistência de fatores negativos, ou de impedimentos naturais.

Entendemos que estas fazem parte do processo de adaptação ao longo do tempo em que as

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relações se constroem, sejam elas ecológicas ou urbanas. Vemos que da mesma forma, um

ecossistema urbano auto-sustentável promove uma maior estabilidade e continuidade ao

processo, aumentando os ganhos para todos os setores abarcados.

Cremos que o “ecossistema urbano” da Vila de Tamoios participa do contexto

ambiental, cultural e físico-territorial do entorno, através das características naturais

existentes, das práticas culturais locais oriundas do processo histórico de desenvolvimento

local e das conseqüências do crescimento urbano acentuado de seu entorno.

Para que os aspectos negativos sejam revertidos em benefício da continuidade do

desenvolvimento local e microrregional, entende-se como necessária a consideração das

características naturais locais expostas, assim como as referências históricas do processo de

ocupação, como características espontaneamente positivas no processo de desenvolvimento

local da Vila de Tamoios. Acreditamos serem estas as bases para a criação de uma

diferenciação entre a formação de uma identidade local no processo de desenvolvimento

microrregional.

Pensamos ainda que ao se diferenciar de seu entorno, a unidade representada pelo

“ecossistema urbano” da Vila de Tamoios poderá contribuir favoravelmente, entre outros,

para o processo de desenvolvimento extrativista mineral do petróleo ao norte da região, o

processo de desenvolvimento turístico ao sul desta, o auxílio no desenvolvimento de bio-

combustíveis não poluentes, a manutenção das características ambientais únicas representadas

pela flora e fauna endêmicas, o incentivo à pesquisa, estando aí a possibilidade de descoberta

de novos medicamentos e de princípios ativos inovadores, a diminuição da desigualdade e das

injustiças sociais.

Quanto à urbanização dispersa, encontramos nos estudos de Nestor Goulart Reis

Filho, uma análise dos processos de urbanização da grande São Paulo, suporte teórico para o

trabalho, além da possibilidade de certificação. Verificamos, através da comparação realizada

que o processo de dispersão urbana pode ocorrer em níveis diversos, sendo que a Vila de

Tamoios se encontra em um estágio inicial. Tal estágio compete uma dependência das

estruturas presentes em centros urbanos mais complexos, representados pelas cidades do

entorno, como Macaé e Rio das Ostras ao norte e Armação dos Búzios e Cabo Frio ao sul.

Identificamos que a comunidade da Vila de Tamoios fornece mão de obra para tais centros e

ocupa um estratégico ponto de localização.

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Com relação à inadequação de ações do poder público em resposta ao processo em

curso, com acentuados impactos ambientais e culturais descritos, percebe-se que este se

encontra em processo de retomada de suas responsabilidades. Esperamos que este trabalho

possa ajudar no entendimento das características descritas sobre a Vila de Tamoios,

interrompendo o processo de transformação do solo rural, a par de fenômenos de ocupação

desordenada, sem que se saiba com certeza se esta prática é desejável pela referida instituição

ou não.

Por fim, quanto à verificação da viabilidade do recurso representado pela proposta do

corredor ecológico como importante instrumento para minimizar os efeitos e impactos sobre o

meio ambiente da microrregião em questão, entende-se como de aplicação viável, no caso da

Vila de Tamoios.

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ANEXOS

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A classificação que se segue corresponde à análise feita, com base em documento

do Ministério do Meio Ambiente. E que foi retirada do Projeto Orla na íntegra.

Unidade I – Rio São João

A nascente do Rio São João localiza-se no município de Cachoeiras de Macacu, na Serra do Sambê, a 800 metros de altitude; sua Bacia abrange inúmeros municípios, drenando cerca de 133 Km desaguando no Oceano Atlântico entre as localidades de Barra de São João (distrito de Casemiro de Abreu) e Santo Antônio (Cabo Frio). Divide-se em alto São João indo das nascentes até a confluência, com aproximadamente 5 Km; médio São João, deste ponto até a represa, com aproximadamente 50 Km; a represa propriamente dita, com aproximadamente 13Km, e baixo São João, com 65 Km.

Esta área possui grande riqueza de recursos naturais, como a presença de manguezais, matas ciliares, matas associadas e o ambiente estuário. O Rio São João favorece a aqüicultura através da cultura de moluscos - o bivalve Crassostrea gigas- sendo desenvolvida por pessoas da comunidade e associações locais, através de métodos tradicionais de cultivo; a pesca é outra atividade de grande destaque, cujas espécies mais valorizadas nas capturas são: a tainha (Mugil liza) e o robalo (Centropomus sp).

Unidade II – Praias.

Esta unidade tem início na Foz do Rio São João, limite ao norte do município de Cabo Frio com Casemiro de Abreu, indo até a localidade denominada Rasa, divisa de municípios de Cabo Frio e Armação de Búzios. Sua extensão é de aproximadamente 15Km, e compreende o referencial X, subdividindo-se nos diferentes trechos citados abaixo.

Referencial “X” - Praias do Distrito de Tamoios

Trecho 1 – Samburá, Trecho 2 – Orla 500, Trecho 3 – Florestinha, Trecho 4 – Marinha, Trecho 5 – Rasa

ATRIBUTOS NATURAIS/PAISAGÍSTICOS

O Município de Cabo Frio possui aproximadamente 51 quilômetros de orla, não se incluindo as ilhas costeiras, com predomínio de praias arenosas. Apresenta grande variedade de ecossistemas. Destacamos os trechos dos Rios São João e Una; além do Canal de Itajurú que liga no Município de Cabo Frio, o oceano a Laguna de Araruama.

Cabo Frio destaca-se como um dos mais importantes balneários da Região dos Lagos. A sua orla apresenta em toda extensão linear, expressiva e crescente urbanização, com características de ocupação formal (loteamentos planejados) e ocupações irregulares.

A faixa costeira do Município apresenta planícies sedimentares fluviais e marinhas, formando cordões litorâneos arenosos; maciços rochosos e planícies lacustres sob a forma de praias e dunas. As planícies fluviais correspondem à área de deposição de sedimentos dos rios São João e Una. Neste contexto podemos destacar ecossistemas típicos de restingas, dunas, manguezais, costões rochosos, falésias, lagunas de grande beleza e diversidade biótica.

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Em termos morfodinâmicos, a tendência predominante é de processos de regressão marinha, com intenso trabalho sedimentar.

Mapa de Unidades Paisagísticas e dos trechos da Orla:- Seleção dos trechos de interesse

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ATIVIDADES SOCIOECONÔMICAS

A distribuição da população economicamente ativa (PEA) de Cabo Frio pelos setores da economia reflete profundas transformações ocorridas no município nas últimas décadas, com destaque para o aumento do percentual da PEA que se dedica às atividades terciárias, expressando o crescimento das atividades comerciais e de prestação de serviços ligados ao turismo.

O setor primário vem sofrendo grandes transformações e perdendo expressão. É uma realidade o deslocamento da mão de obra agrícola e pesqueira para outras ocupações. O setor secundário representado pelas indústrias passa também por transformações, as atividades consideradas expressivas (industria química e de extração de minerais), vem reduzindo drasticamente suas atividades econômicas.

Cabo Frio representa atualmente um grande centro turístico sendo os estabelecimentos destinados à atividade com maior desempenho econômico do município. É importante destacar o crescimento da economia informal neste contexto, estimulada pelo fluxo de turistas que visitam o município e a região.

Atualmente, os royalties do petróleo constituem-se as principais fontes de recursos financeiros da administração municipal. No que se refere à infra-estrutura social, o município vem fazendo investimentos nas áreas de saúde, com a construção de hospitais e postos de saúde; na educação, vem investindo na construção e reforma de escolas, favorecendo a presença de Instituições do Ensino Superior, além de esforços na formação do corpo docente.

IMPACTOS AMBIENTAIS DO USO DA ORLA

O desenvolvimento turístico acelerado e o crescimento demográfico sem o adequado acompanhamento urbanístico, têm gerado graves questões sociais e ações de grande impacto na qualidade do meio ambiente no Município e na região como um todo.

Destaca-se a ausência de saneamento básico, com o lançamento de esgotos no Canal de Itajurú o que vem contribuindo para a poluição da Laguna de Araruama. É importante ressaltar que em parceria com a Concessionária de Serviços de Água e Esgoto, vêm sendo feito investimentos na construção de estações de tratamento.

As praias sofrem com o crescimento da economia informal, principalmente com a presença de barraqueiros, devido às demandas inerentes a sazonalidade de ocupação. O crescimento do turismo e a especulação imobiliária causam significativos impactos à orla do município, como: construções em áreas de preservação, disposição inadequada dos resíduos (lixo) derivados destes serviços; degradação da vegetação nativa; e por fim, a desvalorização das comunidades tradicionais que são expulsas do seu meio de origem.

CLASSIFICAÇÃO DA ORLA

Os critérios usados para classificação, genericamente falando, foram a análise e avaliação de parâmetros ambientais tais como: cobertura vegetal, integridade e fragilidade dos ecossistemas, presença ou não de unidades de conservação, condição de balneabilidade e saneamento básico. Em relação aos parâmetros sociais a presença ou não de comunidades

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tradicionais, cobertura urbana e formas de acessos; e parâmetros econômicos tais como pressão imobiliária.

O quadro a seguir reproduz a situação da orla da < (classe A) à > (classe C) intervenção antrópica.

Unidade Paisagística / Trecho Classificação

Unidade I - Rio São João

Rio São João Classe B

Unidade II – Praias

Referencial X - Praias Distrito Tamoios

Trecho 1 - Samburá

Trecho 2 - Orla 500

Trecho 3 - Florestinha

Trecho 4 - Marinha

Trecho 5 - Rasa

Classe C

Classe C

Classe C

Classe A

Classe C

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Trecho explicativo sobre corredor biológico, retirado do IQM Verde (Fundação

CIDE, 2001):

Segundo o estudo do IQM Verde, existem dois grandes tipos de corredores biológicos

“1- Corredores lineares - estabelecem ou mantêm conexões únicas entre blocos de habitats maiores ao longo de eixos longitudinais, estendendo-se a distâncias de até 10 km. Os corredores lineares são apropriados para realizar objetivos específicos, como facilitar o movimento de espécies alvo. São, provavelmente, eficazes em situações onde:

• uma grande parte da paisagem é modificada e inóspita às espécies nativas; • as espécies críticas são dependentes de habitats sem distúrbio; • e/ou o ecossistema desejado pode ser restaurado ou mantido em habitats lineares,

como ao longo de córregos (matas ciliares).

2- Corredores de paisagem - mantêm ou estabelecem conexões multidirecionais dentro da paisagem, que podem estender-se sobre áreas de milhares de km2. Esses corredores são essencialmente unidades de planejamento regionais implantadas para maximizar a conectividade dos habitats, e ecossistemas, bem como processos ambientais em grandes escalas (Conservation International 2000). O Corredor Biológico Mesoamericano, que tem como objetivo promover a conectividade ecológica em escala subcontinental, estabelecendo um mosaico de habitats naturais, ilustra bem esta abordagem. Os corredores de paisagem podem ser implantados para realizar um amplo conjunto de objetivos, envolvendo a biodiversidade, serviços ambientais, usos de recursos, lazer e estética, e mudanças climáticas. Sob a perspectiva da biodiversidade, os corredores de paisagem são provavelmente eficientes em situações onde

• uma porção significativa da paisagem está intacta (embora ainda forneça uma estrutura útil nas paisagens modificadas);

• e/ou espécies alvo exigem grandes áreas de habitat (Bennett 1999).”

Fragmentos Corredor Linear Corredor dePaisagem

Figura 7 - Representação esquemática dos corredores lineares e de paisagem. Um corredor linear consiste em uma ligação estreita e unidirecional entre duas grandes áreas de fragmentos de habitat, enquanto que o corredor de paisagem consiste na ligação multidirecional. Fonte: Conservation International 2000.

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Informações de natureza ambiental sobre a região de Tamoios

A quantidade de chuva cresce de sudeste para noroeste, variando de menos de 1.000 mm/ano até pouco menos de 2.500 mm/ano. Ela é maior nas partes superiores da cadeia de montanhas da Serra do Mar e menor um pouco na meia-encosta e no sopé das montanhas. Reduz um pouco na região das planícies e colinas até atingir seu valor mínimo na parte costeira que vai de Armação dos Búzios até Saquarema, onde chove menos 1.000 mm. Arraial do Cabo, por exemplo, tem clima semi-árido.( http://www.riolagos.com.br/cilsj/)

Figura 14 Mapa das Chuvas

A cobertura vegetal nativa atual compreende:

• Pequena área de campo de altitude nas cercanias da Pedra do Faraó; • Manchas de variados tamanhos de florestas do bioma da Mata Atlântica,

principalmente nas montanhas e serras de Silva Jardim, Rio Bonito, Casemiro de Abreu e Saquarema. Remanescentes de matas com pau-brasil em Armação dos Búzios e Cabo Frio. Nossa região é florestal por excelência.

• Vegetação de restinga, em especial nos arredores de Jaconé, na restinga de Massambaba e de Cabo Frio e em Itapebussus. A melhor mata de restinga encontra-se em propriedade da Base Aeronaval de São Pedro da Aldeia.

• Um tipo peculiar chamado de “savana estépica”, que ocorre nos morros costeiros de São Pedro de Aldeia, Cabo Frio, Arraial do Cabo e Armação dos Búzios, cuja característica principal é a grande quantidade de cactus que atingem até 4 m de altura;

• Manguezais na foz dos rios São João e das Ostras e ainda em alguns trechos das margens das lagoas de Araruama e Saquarema;

• Brejos espalhados por toda a região;

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Relato sobre a fazenda Campos Novos:

“Localizada nos ”campos novos”, desde o início foi organizada pelos inacianos com o objetivo de criar gado e produzir farinha de mandioca para os seus demais estabelecimentos. Usando a mão de obra indígena, como era a prática daqueles religiosos, cresceu de importância ao longo dos anos. Ainda que não constem indígenas do seu inventário, quando da expulsão dos, assim chamados, “soldados de Cristo”, em meados do século XVIII, sem dúvida nos períodos anteriores, o principal volume da sua mão de obra fora formada pelos tupis e goitacazes reunidos na vizinha aldeia de São Pedro de Cabo Frio. Na época de sua expulsão mantinham os jesuítas em Campos Novos uma boa quantidade de escravos africanos, organizados nos mesmos moldes do seu estabelecimento de Santa Cruz e Itaguaí. Disputando a terra com os colonos comuns e com a Ordem de São Bento, mais de uma vez os jesuítas armaram seus dependentes contra a pretensão destes últimos. De fato, se conhece, e ficaram registradas em documentos, pelo menos em uma oportunidade, as queixas dos beneditinos que viram seus currais destruídos e suas instalações rurais arrasadas, por índios armados e dirigidos pelos “piedosos” inacianos, nos idos dos anos seiscentos. Por outro lado, o local escolhido para ereção da sede da fazenda é um montículo suave, constituído por terra húmica, fértil, denunciando a existência de um sítio arqueológico. Confirma esta hipótese a coleta de uma cavadeira de pedra quando da visita à fazenda pela equipe do Instituto de Arqueologia Brasileira em 1965(3). Nos chamados Campos Novos, formados pelos alagados do Corondó (ou Fazenda Botafogo) e São Jacinto (ou Malhada) viríamos a descobrir nos anos seguintes, uma série dos mais importantes sítios arqueológicos do litoral fluminense, caracterizadores de um grupo humano, formado por comunidades de caçadores coletores não especializados, domesticadores de vegetais e possuidores de uma complexa rede de conhecimentos e de manifestações culturais e que tanto quanto seus sucessores históricos souberam aproveitar a potencialidade do ambiente. Já bem estudados, tais grupos são igualmente conhecidos em toda a arqueologia brasileira e sul-americana, constituindo a Tradição Itaipu, em sua fase mais antiga.

3 Naquela oportunidade não nos foi permitido fazer qualquer trabalho na propriedade, sendo que fomos levados pelo seu capataz, de nacionalidade portuguesa, para conhecer o rio Una, onde localizamos uma série de sítios cerâmicos vinculados à já internacionalmente conhecida Tradição Una.

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Nova regionalização em estudo pela Fundação CIDE:

O Globo, 17/06/2007, Fundação CIDE propõe novo mapa para o Rio.

Brandão, Túlio.

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O texto, a seguir, constado do IQM Verde (2001) foi incorporado a este anexo

pelo fato de conter um aprofundamento de conhecimentos relativos à diminuição do

efeito de poluição de gases sobre a camada de ozônio, através da recuperação de grandes

massas arbóreas e reflorestamento de florestas desmatadas. Ele pode contribuir para

pesquisadores que desenvolvam trabalhos no âmbito de abordagem feita na dissertação,

sob um ponto de vista mais disciplinar ou especializado.

Avaliação do estoque de carbono nas formações florestais e na vegetação secundária do Estado do Rio de Janeiro

Os objetivos principais deste capítulo são: esclarecer os principais aspectos científicos envolvidos na questão das Mudanças Ambientais Globais; divulgar alguns dos benefícios da conservação das florestas e dos reflorestamentos; apontar alguns de seus desdobramentos político-econômicos nacionais e internacionais e estimar o estoque de carbono nas florestas remanescentes de Mata Atlântica do Estado do Rio de Janeiro, fornecendo uma metodologia básica para esta estimativa.

As florestas tropicais, o carbono e a sociedade.

As alterações ambientais globais que estão ocorrendo, também conhecidas como Mudanças Ambientais Globais, destacam-se como um dos maiores problemas que a humanidade enfrenta atualmente e enfrentará nos próximos cem anos, devido às conseqüências que poderão causar, alterando o nível do mar, o regime das chuvas, enfim, modificando profundamente o clima da Terra (Dixon et al, 1994).

As Mudanças Ambientais Globais sempre ocorreram ao longo da história da Terra, em ciclos alternados de aquecimento e resfriamento. Porém, estudos indicam uma tendência acelerada de aquecimento global a partir do começo do século XX. Esta tendência estaria principalmente relacionada a alterações na composição dos gases atmosféricos, causadas pelas emissões das atividades antrópicas recentes. Estes gases, responsáveis pelo Efeito Estufa (GEE - Tabela 1), são compostos por dióxido de carbono (CO2), ozônio (O3), metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e vapor d’água (H2O).

Os processos envolvidos com o CO2 destacam-se em importância, porque este gás representa mais da metade do total das emissões, em termos do seu impacto no balanço de energia térmica da Terra (CFAN, 1999). Atualmente, a concentração de CO2 na atmosfera é 30% maior que no começo da Revolução Industrial, há cerca de 250 anos, sendo que a maior parte deste aumento ocorreu na segunda metade do século XX. Devido ao tempo de residência destes gases, seriam necessários séculos para retornarem aos níveis pré-industriais, mesmo se todas as emissões cessassem imediatamente (IPCC, 1996).

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Tabela 1 - Principais gases relacionados às mudanças climáticas globais

Principais Gases do Efeito Estufa Gases Importância Tendência Influência humana pelo uso da

terra Vapor d'água Baixa Estável Pouca Dióxido de Carbono

Muito alta Aumentando; +30% nos últimos 250 anos

Queima de combustíveis fósseis, desmatamentos, incêndios florestais e produção de cimento

Metano Moderada Aumentando; +145% nos últimos 250 anos

Resíduos derivados da pecuária, decomposição de matéria orgânica em áreas alagadas e queima de biomassa

Óxido Nitroso (N²O)

Moderada Aumentando; +15% nos últimos 250 anos

Desmatamento, queima de outras biomassas e aplicação de fertilizantes nitrogenados

Monóxido de Carbono

Moderada Aumentando Queima incompleta de pastos e savanas

Óxido de Nitrogênio (NOx), Ozônio, Dióxido de Enxofre, CFCs

Alta Aumentando Gases industriais não relacionados ao uso da terra

Nota: Os gases relacionados às mudanças climáticas globais são denominados Gases do Efeito Estufa (GEE), do inglês GHG - “Greenhouse gases” (IPCC, 2002).

Pode-se estruturar a questão da influência direta do homem no ciclo do carbono em três compartimentos (Figura 1a): as emissões do setor industrial, energético e de transporte; as emissões de origem do tratamento de efluentes e resíduos; e a mudança de uso da terra. Os dois primeiros setores são responsáveis por 75% das emissões. No setor de uso da terra (Figura 1b), ocorrem emissões - devido ao desmatamento e uso intensivo do solo - e incorporações, estas relacionadas à regeneração das florestas. As emissões de carbono associadas ao uso da terra, embora sejam menores que as demais fontes, ainda contribuem significativamente para a concentração deste gás na atmosfera. Através da regeneração e do estabelecimento das florestas, pode-se seqüestrar carbono atmosférico, retardando o aumento da concentração do CO2. O restabelecimento das florestas é uma das únicas opções para a redução efetiva da concentração de carbono na atmosfera, embora seja fundamental a redução das emissões de origem fóssil (derivados do petróleo).

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Figura 1a - Fluxograma das principais interações antrópicas do ciclo global do carbono

Carbono atmosférico

Indústria e transporte Uso da terra Tratamento de Efluentes e resíduos

Figura 1b - Efeitos do manejo de florestas e do uso da terra, em termos de emissões e seqüestro de carbono

Contribuições para o efeito estufa Perda de serviços ecológicos das florestas

Carbono na biomassa de florestas

Carbono no solo

Desmatamentos = Emissão de C e perda de serviços ecológicos

Regeneração = incorporação de C, recuperação e manutenção dos serviços ecológicos

Reposição de carbono no solo = recuperação da produtividade e serviços ecológicos

Cultivo implica em emissões do carbono e desgaste do solo = perda de produtividade

Reflorestamento, aumento da cobertura vegetal

Recuperação da estrutura e fertilidade do solo

Manutenção de serviços ecológicos das florestas com incorporação de carbono

Apesar de sua elevada importância, o ciclo do carbono ainda não está bem entendido, pois as estimativas de suas fontes e sumidouros ainda não estão bem quantificadas. Portanto, o ciclo não está balanceado. Neste aspecto, estudos sobre o seqüestro de carbono em florestas em regeneração e sobre a liberação de carbono, via desmatamento, têm um papel importante para a compreensão desses fluxos e contribuem para o balanço global de carbono (Tabela 2).

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Tabela 2 - Balanço global do carbono Balanço global do carbono antrópico Emissões (Gt/ano) Incorporações (Gt/ano)

Emissões de combustíveis fósseis

5,8 ± 0,5

Acumulado na atmosfera

3,6

Emissões de uso da terra

1,7 ± 1,0

Tamponados pelo oceano

2,0

Florestas do Hemisfério Norte

0,7

Outros sumidouros (incluindo regeneração das florestas)

1,2

Total

7,5 ± 1,5

Total

7,5

Nota: O balanço global do carbono evidencia o aumento do carbono

atmosférico na ordem de 3,6 Gt C/ano. Observar a incerteza associada às estimativas de incorporação terrestre representada pelo item “outros sumidouros” (Houghton, 1995).

As florestas estocam grandes quantidades de carbono na sua biomassa viva e no solo. Uma vez removida a floresta, a maior parte desta biomassa viva vai para a atmosfera na forma de dióxido de carbono, através da queima, extração de madeira e decomposição. Considera-se que a madeira utilizada para construção de imóveis e utensílios domésticos possua uma vida média de cerca de 40 anos, sendo transformada em CO2 após o término de sua vida útil. Com

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a perda da cobertura florestal, retira-se também a maior fonte de carbono para o solo - a serrapilheira e as raízes -, o que, com o uso agropecuário tradicional, leva à emissão de cerca de 25 a 30% do MOS estocado no primeiro metro de solo, em cerca de uma década (Houghton, 1995). O carbono do solo está intimamente associado à cobertura vegetal. Uma vez desmatado, o solo de uma área perde o carbono estocado ao longo dos anos, pela mineralização da matéria orgânica. Portanto, um sistema de produção, cuja cobertura do solo possua baixa biomassa (como pastagens e culturas semi-anuais), tende a emitir a maioria do carbono do solo, ao contrário de um sistema produtivo de alta biomassa (como os sistemas agroflorestais e a extração sustentável de recursos florestais), que tende a manter o carbono estocado no solo, além da parte aérea.

Grande parte das emissões relacionadas às mudanças de uso da terra deve-se à transformação das áreas de florestas em áreas de agricultura, pecuária e sistemas urbanos. Esta conversão de florestas para outros tipos de uso é um dos maiores problemas que os países em desenvolvimento enfrentam atualmente, devido à perda simultânea de serviços ecológicos e biodiversidade, além de emitir expressivas quantidades de carbono. As estimativas de desmatamento nos países em desenvolvimento, entre 1980 e 1990, estão em torno de 14 milhões de hectares anuais, equivalentes a mais do que três vezes a área do Estado do Rio de Janeiro, por ano (CFAN, 1999). Por outro lado, a regeneração das florestas é um dos únicos mecanismos disponíveis para o seqüestro do carbono atmosférico, podendo reduzir o agravamento das Mudanças Ambientais Globais. O seu restabelecimento traz diversos outros benefícios de extremo valor para o homem.

Serviços sociais das florestas

Além do importante papel que as florestas exercem sobre o ciclo do carbono - retiram o carbono atmosférico e são grandes estoques deste elemento químico -, existem, principalmente próximo às áreas de grande densidade populacional, diversos outros benefícios sociais associados à sua existência e conservação, tais como: regulação do suprimento de água; estruturação e fertilidade do solo; conservação da biodiversidade; melhoria das condições microclimáticas; recreação e turismo; dentre outros. Nas áreas rurais, existem diversos produtos florestais que acabam por suprir, através de diversos recursos madeireiros e não madeireiros, uma boa parte dos recursos necessários para a vida de uma família.

Outros aspectos associados às florestas são muito mais antigos do que a percepção atual do ciclo do carbono e suas drásticas conseqüências acerca do destino da humanidade. O desenvolvimento do homem sempre foi baseado na utilização de recursos florestais, de forma direta ou indireta, sendo a madeira, de longe, o mais importante. Atualmente, no mundo, cerca de 500 milhões de pessoas habitam dentro ou na periferia de florestas e dependem dela, de seus produtos e serviços ambientais. Ainda hoje, a lenha representa mais da metade do uso de madeira, sendo uma das poucas fontes de energia em muitas áreas rurais. É, de longe, a mais importante forma de energia para muitos países em desenvolvimento.

Além da madeira, existem diversos produtos florestais, como fibras, resinas, látex, frutas e remédios tradicionais, que complementam as populações locais. Em algumas comunidades, os produtos florestais chegam a representar de 20 a 25% das necessidades básicas de uma família, em termos de energia e alimentação. Esses recursos são geralmente usados dentro de um mercado informal e, por isto, não costumam aparecer nas estatísticas oficiais.

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As florestas influenciam o clima local e, provavelmente, também o clima global. Elas agem como moderadoras da amplitude térmica diurna e mantêm elevada a umidade do ar, provocando um microclima mais ameno e fresco. As florestas regulam o fluxo de água dos rios, por interceptar, absorver e liberar lentamente a água das chuvas, minimizando o efeito das cheias e secas severas. Por isto, a regulação do fluxo de água em mananciais hídricos pode ser destacada como uma das maiores contribuições das florestas em bacias hidrográficas importantes. Este aspecto se torna mais relevante nas áreas de maior densidade populacional, onde a falta ou a má qualidade deste recurso pode gerar problemas sociais e de saúde pública. A cobertura florestal também mantém a umidade do solo, por interceptar a energia radiante solar, reduzindo, assim, a perda da água do solo. As raízes das árvores aumentam a porosidade do solo, diminuem a sua compactação e facilitam a infiltração da água, reduzindo, então, os processos erosivos superficiais e evitando, conseqüentemente, a degradação do solo e a perda de sua fertilidade. As árvores também funcionam como quebra-ventos, diminuindo a erosão eólica – provocada pelo vento - e o ressecamento do solo. Existem também os usos recreativo, lúdico e religioso das florestas, fazendo parte do lazer de pessoas que optam por investir tempo e recursos para visitar Unidades de Conservação, parques e reservas particulares.

Outrora, havia um pensamento generalizado de que as florestas eram tão abundantes que jamais se esgotariam. Sua má utilização se deu de uma maneira sem precedente na história da humanidade, acarretando a perda bastante significativa de sua área original. Atualmente, restam apenas 60% de todas as florestas que existiam no planeta, sendo que a maioria dos desmatamentos ocorreu no século XX. Dessas florestas remanescentes, cerca de 60% localizam-se nos países em desenvolvimento, compreendendo, grande parte delas, florestas tropicais.

As florestas tropicais possuem a importante função de conservar a biodiversidade, abrigando cerca de 70% dos animais e vegetais existentes no mundo – mais de 13 milhões de espécies (Myers, 2001). A Mata Atlântica, considerada um dos ecossistemas mais importantes, do ponto de vista da conservação da biodiversidade, por abrigar espécies vegetais e animais únicas no planeta, está reduzida a apenas 17% de sua área original.

Em síntese, a conservação e a regeneração das florestas podem reverter o processo generalizado de degradação ambiental em diversas escalas (local, regional e global), contribuindo de diversas formas para a manutenção das condições ambientais necessárias à sobrevivência do homem.

O Protocolo de Quioto e a política nacional das florestas

A resposta da comunidade internacional aos problemas ambientais, ligados às mudanças climáticas globais, foi a adoção de uma Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (United Nations Framework Convention on Climate Change - UNFCCC), na reunião UNCED (United Nations Conference on Nature and Development), conhecida como “Eco 92”, realizada na cidade do Rio de Janeiro, em 1992. O objetivo desta Convenção foi estabilizar a concentração dos gases do efeito estufa em níveis que viessem a prevenir as interferências antrópicas no sistema climático do planeta (Lohmann, 1999). Na Convenção, foram estabelecidos princípios básicos e uma estrutura para subseqüentes ações, incluindo o desenvolvimento de protocolos e agendas, onde os países participantes deveriam desenvolver ações específicas relacionadas.

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A ação mais significativa foi, até então, o Protocolo de Quioto, em 1997, que estabelece que os países desenvolvidos, a Europa Oriental e o antigo bloco Soviético devem reduzir suas emissões de GEE para níveis equivalentes aos de 1990. Estas emissões são devidas, principalmente, ao consumo de carvão e petróleo. Os países desenvolvidos poderão transferir tecnologias para países em desenvolvimento, de modo a reduzir as emissões de GEE e substituir os combustíveis fósseis por fontes de energia limpa, contribuindo, assim, para o desenvolvimento sustentável destes e da Terra como um todo. Esta transferência é chamada de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e permitirá que todos os paises possam efetivamente contribuir para a redução dos efeitos deletérios das mudanças globais. O Protocolo de Quioto abre a possibilidade de negociações entre os países, baseadas nas emissões e incorporações, criando um mercado de “comodities” de carbono – no qual o Brasil poderá ter um papel bastante relevante, devido à sua grande extensão territorial e ao elevado potencial de incorporação de carbono em suas terras. As diretrizes estabelecidas no Protocolo de Quioto foram oficialmente adotadas como parte das metas do governo brasileiro, com o Decreto nº 3.515, de 20 de junho de 2000, sobre o Fórum Brasileiro sobre Mudanças Climáticas.

O MDL poderá contribuir financeiramente para o reflorestamento e a reincorporação de carbono atmosférico (Lohmann, 1999). Neste caso, propostas de conservação de florestas nativas poderão ser passiveis de contabilização no mercado de carbono, embora esta possibilidade ainda gere bastante controvérsia. Já os reflorestamentos de áreas desmatadas antes do ano de 1990 ou o aflorestamento (estabelecimento de florestas onde não havia) poderão receber financiamentos para a incorporação de carbono. Portanto, são necessários estudos de avaliação do estoque de carbono nas florestas remanescentes e das taxas de incorporação de carbono nas florestas secundárias.

O estudo e controle dos mecanismos atuais de degradação das florestas são fundamentais para a viabilidade das estratégias de conservação das florestas e regeneração das florestas secundárias, bem como de projetos de reflorestamentos. Neste aspecto, o fogo é considerado um dos principais mecanismos de degradação das florestas, sendo utilizado, inclusive, como uma ferramenta de desmatamento para a implantação de pastagens e novas áreas de cultivo. Através de queimadas aparentemente não intencionais, proprietários inescrupulosos transformam as florestas em áreas produtivas. Escapam assim da fiscalização, alegando desconhecer o causador da queimada. A manutenção da fertilidade das áreas já desmatadas e em produção, através de tecnologias mais adequadas a cada região, é uma maneira de prevenir desmatamentos futuros.

O reflorestamento também pode ser voltado para fins industriais, redimensionando a matriz energética industrial brasileira com energia renovável - o carbono reciclado na biomassa vegetal (Ab’Saber, 1990). Diversas outras iniciativas de uso dos combustíveis renováveis (como os óleos vegetais e o álcool) se encaixam nos objetivos de redução das emissões propostos para o MDL.

Sendo assim, os municípios devem ser encorajados a avançar na medição de suas emissões de carbono, quantificando e valorando seus estoques associados às formações florestais, utilizando os métodos descritos neste capítulo. Para isto, é necessária a formação de equipes capazes de fazerem inventários florestais com metodologias adaptadas aos ecossistemas que ocorrem em cada região. É possível que, em um futuro próximo, esses estoques estimados possam ser contabilizados como passivo ambiental ou, até mesmo, como bônus de carbono no mercado internacional. Da mesma forma que os países do bloco G-7

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estão sendo obrigados a contabilizar suas emissões de carbono, os países em desenvolvimento também deverão fazê-lo, de forma a participarem das medidas preconizadas pelo Protocolo de Quioto, seja através de bônus internacionais de carbono, seja pelo desenvolvimento de mecanismos de desenvolvimento limpo.

É bom relembrar os diversos motivos que devem ser levados em consideração para adoção de uma política mais arrojada de conservação das florestas, de manejo sustentável de recursos florestais e de reflorestamento pelos municípios. Conforme descrito anteriormente, estes motivos estão relacionados à proteção de mananciais hídricos, recuperação da estrutura do solo e sua fertilidade, conservação da biodiversidade, melhoria do microclima local e oferta de diversos produtos de uso doméstico, como remédios fitoterápicos, temperos, lenha, frutos e palmito, dentre outros recursos que contribuem para melhores condições de vida para suas famílias e a sociedade local e regional.

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