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A TUPPERWARE ESTÁ DE VOLTA E A MODA DA MARMITA AJUDOU ANA RUTE SILVA TEXTO MIGUEL MANSO FOTOGRAFIA

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A TUPPERWARE ESTÁ DE VOLTA E

A MODA DA MARMITA AJUDOUANA RUTE SILVA TEXTO MIGUEL MANSO FOTOGRAFIA

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Agora chamam-se parties, festas em casa paraconhecer e comprar as caixas de plástico queem 1946 revolucionaram a forma de conser-var alimentos. A gigante norte-americanajátem nove mil demonstradoras em Portugal eé em Montalvo, concelho de Constância, queestá a fábrica mais produtiva da Europa

noite fria nas Laranjeiras, em Lis-

boa, e na casa de Patrícia Silva afesta está prestes a começar. A me-sa da sala de jantar está posta comuma toalha branca e dezenas de

tupperwares coloridos, de todasas formas e feitios, a ocupar cadamilímetro do espaço disponível.Carla Veloso, 37 anos, contabilistade Almada, fala com descontrac-

ção enquanto espera pela chegada das con-vidadas. É demonstradora da Tupperware, a

empresa norte-americana fundada por EarlSilas Tupper em 1938, um ano depois de terexplodido a II Guerra Mundial.

Está bem vestida. Calças e casaco preto,camisa branca a contrastar e um colar com-prido prateado. Tem o cabelo arranjado, vozassertiva e confiante. A campainha toca. Asirmãs Ana e Sandra Couto vêm animadas. San-dra segura Estêvão ao colo, cinco meses devida e um ar tranquilo que só o abandonaráno fim da party. A party é uma festa, comoagora a Tupperware chama às reuniões quenos últimos 47 anos foram acontecendo umpouco por todo o país, em casa das mães,avós, vizinhas, amigas, tias e primas. Este é

um mundo de mulheres.Nos últimos dados anuais divulgados ao

regulador do mercado dos Estados Unidos(a Securities and Exchange Commission), a

empresa dava conta da sua dimensão. Cer-ca de 1700 distribuidores, 81 mil gestores e

2,7 milhões de vendedores independentesem todo o mundo. Em 2011, realizaram-se 21

milhões de eventos de vendas ou reuniõese a Tupperware empregava 13.600 pessoas,mil nos Estados Unidos e cerca de 400 só emPortugal. É na fábrica em Montalvo, conce-lho de Constância, que está o maior númerode quadros portugueses (cerca de 370), en-quanto em Lisboa se concentram os serviçosadministrativos e comerciais. Mas na rua es-

tão nove mil demonstradoras. Mulheres quedinamizam as vendas por conta própria e são

responsáveis pelo crescimento de "dois dígi-tos" que a empresa tem registado desde Maiode 2011, revela António Gil, director-geral paraa Península Ibérica. Em 2012, realizaram-se155 mil festas Tupperware em Portugal e o

objectivo é ter uma demonstradora para cadamil habitantes.

Na casa de Patrícia, as cadeiras vazias são

preenchidas rapidamente. Depois de Ana e

Sandra, chegam Isabel e as outras convidadas,seis no total, que depois de um dia de trabalho

querem ouvir Carla a explicar as vantagensdos produtos.

A sua aventura como vendedora começouhá dois anos, a mãe já fazia reuniões em casa,e o rendimento que consegue obter ajuda acontornar dificuldades financeiras. Há mesesem que consegue dobrar o ordenado fixo querecebe como contabilista. Em média chegam500 a 600 euros extra à sua conta bancária."É muito importante financeiramente, mas só

depende da nossa vontade. Não depende deo patrão gostar ou não de nós", diz.

O trabalho de Carla é demonstrar. Mas, pri-meiro, o "mimo". Com a plateia compostae as mulheres de catálogo em punho, a de-monstradora começa por oferecer pequenospresentes. "Tenho sempre um mimo paraoferecer às convidadas", diz, enquanto vaimostrando um pequeno copo que pode servir

para transportar vinagreta, uma colher paradar de comer a uma criança, uma pinça paravirar a carne na frigideira ou um separadorde gemas e claras. Todas, incluindo Patrícia,a anfitriã, tiram um objecto.

"A Patrícia é a minha parceira e eu tenhosempre um mimo para a hospedeira", con-tinua Carla, mostrando um frasco que pode"servir para fazer um azeite personalizado"."Uma salva de palmas para a Patrícia", pede,arrancando a primeira ovação da noite. Patrí-cia tem direito a mais um brinde, uma caixa

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da linha básica, como sinal de agradecimentopor abrir as portas de casa. Toca um telemó-vel, o som é desligado, aparty prossegue. Nãohá margem para grandes interrupções.

Carla é metódica, tem o discurso prepa-rado e, depois da saladeira Crystal, mostraa Lanchonete, um tupperware pensado nacomida que se leva para o trabalho, com facae garfo incorporados. "Vai ao encontro dasnecessidades das clientes", começa por dizer,passando depois à descrição dos acessórios."Por dentro é brilhante, para não ganhar corcom os alimentos." A moda da marmita foi"óptima" para o negócio. "O nosso conceito é

muito virado para a linha de microondas e as

caixas de transporte para o trabalho são dasmais vendidas", conta, mais tarde, à 2.

António Gil admite que a tendência teveinfluência nos resultados financeiros em Por-

tugal, que prefere não revelar. "A Tupperwareestava muito associada a produtos de armaze-namento de alimentos quando na realidade

pesam um terço nas vendas. Os outros dois

terços são utensílios de cozinha e produtosde transporte, o que encaixa perfeitamenteno contexto actual", diz o líder ibérico, quecomeçou na empresa há ano e meio comodirector comercial e ascendeu a director-geralem Junho. Cita ainda o estudo do laboratóriode investigação Consumer Intelligence Lab re-lativo ao primeiro trimestre de 2012, segundoo qual 35% das pessoas que habitualmenteiam a um restaurante almoçar passaram alevar comida de casa.

As caixas para guardar alimentos pesam40% no total das vendas. Mas o aumento dasvendas não se deve apenas à moda da marmi-ta. A crise tem sido uma oportunidade paraa Tupperware. "Temos actualmente quase16% de desempregados e mais de 30% são

jovens. O que temos vindo a fazer é aumen-tar a nossa força de vendas e focar-nos cadamais vez na atracação de novas pessoas para o

negócio, desenvolver planos de carreira. Esteano [2012] o crescimento da força de vendasfoi de dois dígitos."

O recrutamento é parte essencial do mode-lo de negócio. Tem de ser uma prática diária"tão natural como comer, dormir e respirar",diz António Gil. Pode ser feito directamentepelas demonstradoras nas festas ou atravésda sua rede de contactos mas, mais recen-temente, o director-geral tem apostado emacções de rua e abordagem ao público. "A

primeira pessoa que me mostrou as vantagensde um iPhone foi um colega de trabalho. Háum grupo de pessoas que influenciam outrasa adquirir um bem", detalha. É uma espéciede rede social offline, com "gostos" e "tweets"

que se materializam em reuniões, vendas e

recrutamento de novas vendedoras. Quantomaior for a rede de demonstradoras, maiora facturação.

A fórmula é um pilar da Tupperwa-/\ re desde que Brownie Wise en-/\ trou para o negócio nos anos/ \ 1950. A história de Brownie está/ \ resumida num parágrafo na pági-/ \ na oficial da empresa americana,/ \ que além das caixas de plástico/ \ também comercializa produtos/ \ de beleza ede cuidados pessoais/ \ através de outras oito marcas. Foi

remetida para os conteúdos sobre sustentabi-lidade e na secção sobre a herança históricada companhia não há uma única referênciaà mulher que trouxe o sistema de vendas di-rectas para a Tupperware e a transformounum gigante em solo americano. Mas se EarlTupper inventou o produto, Brownie conse-

guiu vendê-10.

Tupper era um empreendedor ambiciosodo estado de Nova Hampshire e vinha de umafamília modesta. Desde cedo que inventavacoisas, mecanismos, soluções para os proble-mas do dia-a-dia, que anotava em cadernos,hoje confiados ao Museu Nacional de HistóriaAmericana, do Instituto Smithsonian. Queriaganhar o primeiro milhão aos 30, lê-se numanota biográfica publicada no site oficial domuseu. Criou a primeira empresa em 1928

depois de um curso de arboricultor (culturae tratamento de árvores) e apesar da Gran-de Depressão conseguiu manter o negócioaté 1936. Depois da falência da Tupper TreeDoctors, arranjou emprego numa fábrica de

plásticos da DuPont e, um ano depois, deunovamente o salto. Criou a Earl S. TupperCompany, que fabricava produtos de plásticoe prosperou nos anos da guerra, produzindo,por exemplo, componentes de máscaras de

gás. O conflito mundial terminou e a produ-ção virou-se para objectos como caixas paraguardar cigarros.

Foi ele que tornou o plástico leve, maisflexível e criou o "selo Tupper", uma tampapara as caixas de plástico inspirada em latasde tinta. Os tupperwares foram para as pra-teleiras das lojas em 1946 mas ninguém os

comprava.Nessa altura, Brownie Wise era uma mãe

solteira que encontrou forma de ter rendi-mento extra a demonstrar os produtos de

limpeza da Stanley Home Products em casados clientes. A venda directa nasceu com esta

empresa e Wise rapidamente se tornou numadas melhores vendedoras. No final dos anos1940, viu os produtos da Tupperware e deci-diu vendê-los da mesma forma: em reuniões.

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Era preciso demonstrar a inovação das caixas

plásticas com tampa hermética, numa altu-ra em que o uso de plástico na cozinha paraguardar e conservar alimentos não era umhábito essencial.

Wise teve sucesso. E pedia encomendas su-cessivas à fábrica de Tupper em Nova Hamp-shire. O seu bom desempenho chamou a aten-

ção do empreendedor, que decidiu apostar nomodelo pioneiro das reuniões em casa criadopela Stanley Home Products. Nasceu a Tu-pperware Home Parties e Brownie assumiua vice-presidência.

O departamento de vendas era gerido a par-tir da Florida, onde a nova vice-presidenteconstruiu um complexo para organizar even-tos anuais de motivação dedicados às cente-nas de mulheres que se tornaram fãs da marcae a vendiam pelo país fora. Foi ela quem criouo Jubileu da Tupperware, reuniões de quatrodias temáticos onde as melhores comerciaisrecebiam prémios. Em 1954, foi a primeiramulher a fazer capa da Businessweek e deixouclaro o seu mote: "Se deixarmos as pessoascrescer, a empresa também cresce."

As reuniões eram um escape à vida confi-nada em casa das mulheres americanas. Asdemonstradoras estavam sempre bem vesti-das, algumas de chapéu e luvas brancas, con-fiantes, independentes. Mas Brownie ocupa-va a ribalta, ofuscando o inventor. Em 1958e depois de vários conflitos, Earl Tupper foi

pessoalmente à Florida e despediu a sua vice-

presidente, que não tinha qualquer participa-ção accionista na empresa. Brownie perdeu as

vendedoras, que continuaram a comercializar

tupperwares sem a sua influência. Ainda se

virou para a venda directa de produtos debeleza, sem sucesso.

Um ano depois, o inventor ambicioso ven-deu a empresa por 16 milhões de dólares,cerca de 12,2 milhões de euros, à Rexall. Di-vorciou-se, comprou uma ilha e mudou-se pa-ra a Costa Rica, abdicando da nacionalidadeamericana para fugir aos impostos. Morreuem 1983. Brownie viveu modestamente naFlorida até morrer em 1992.

Dentro da casa de milhares de americanos,as parties prosseguiram. Depois dos EstadosUnidos, a empresa virou-se para o mundo,chegou à Europa e à Ásia. Está em 100 paí-ses diferentes, usando o mesmo sistema devenda directa impulsionado por Brownie eimitado por outros operadores deste merca-do, avaliado em 114 mil milhões de dólares emvendas no mundo inteiro (86,8 mil milhõesde euros).

Em 2011, a Tupperware Brands Corporationteve receitas líquidas de 2,8 mil milhões de

dólares, o valor mais alto dos últimos quatroanos. Em 2007, a facturação era 30% inferior.Contudo, até Setembro de 2012, as vendascaíram 2% para 1,9 mil milhões de dólares,mas devido aos impactos cambiais (de outraforma, teriam aumentado 5%). As vendas nosmercados emergentes valem 62% e é aqui queRick Goings, presidente executivo, tambémquer apostar, sempre com o radar ligado emdirecção às mulheres. São elas que compram80% dos produtos, 99% da força comercial é

do sexo feminino, ainda que não seja vedadoacesso aos homens. "Em muitos mercadosemergentes há poucas oportunidades derendimento para as mulheres. Nós damos a

hipótese de começarem o seu próprio negó-cio", disse, numa entrevista à revista Forbes.Elas impulsionam as vendas. Mas são eles queocupam os lugares cimeiros na gestão. Dos16 directores executivos da multinacional,apenas dois são mulheres.

\afábrica da Tupperware em Mon-

talvo o poder feminino está logo naentrada. Um cartaz resume o "ca-minho em frente" que a empresadefiniu como estratégico. São vários

pontos. Um deles diz: "Continuar a

transformar vidas, especialmenteas das mulheres, dando-lhes pos-

sibilidade de uma plena realização das suas

capacidades."Gerardo Gómez, director fabril, conta a his-

tória da unidade desde que foi inauguradaem 1980, com oito máquinas e 100 trabalha-dores. A produção na Península Ibérica con-centrou-se em Portugal em 1999 e hoje são 32

máquinas e uma média de 370 funcionários,60% mulheres. É a mais produtiva da Europa:um milhão de caixas de cartão recheadas de

tupperwares, comparadas com as 600 mil a

800 mil que saem das unidades da Grécia e

França. Cerca de 95% da produção é expor-tada para a Europa e é aqui que se organizamtodas as encomendas das demonstradorasportuguesas e espanholas.

Há barulho intenso dentro da unidade ondegrandes máquinas prateadas fazem sair as cé-

lebres caixas coloridas. A matéria-prima che-

ga em pequenos grãos (denominados pellets),que são misturados com corante. 0 plástico é

fundido até ficar líquido e, depois, é injectadono molde, o tesouro da Tupperware. Paracada produto há um molde diferente, que as

várias fábricas da empresa partilham - há16 em todo o mundo. "A qualidade da peçavem do molde. Na área de moldes e manu-tenção trabalham cerca de 30 trabalhadoresespecializados e certificados", conta GerardoGómez.

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Cada fábrica tem uma "especialidade", ou

seja, produz produtos diferentes e específi-cos, que são enviados para grandes centros de

distribuição localizados em França e na Bélgi-ca. Daqui, seguem para os vários destinos. Em

Portugal produz-se peças de polipropileno,copoliéster, itens de dois componentes, de

plasma ou com recurso a tampografia (comimpressão). Plástico que se transforma em cai-

xas das linhas de frigorífico, para microondas,para servir à mesa ou guardar e armazenar.

Em Montalvo preparam-se cerca de 3500encomendas semanais. É nestes tapetes ro-lantes que seguem os tupperwares que CarlaVeloso encomenda frequentemente. São es-colhidos um a um por trabalhadoras vestidasde camisola polar, que tiram os recipientes de

prateleiras organizadas, compõem as caixas,colocam etiquetas.

De produto em produto, a festa em casa daPatrícia, nas Laranjeiras, corre rápida. "Este é

o fantasminha, que serve para limpar as mãos

quando estamos na cozinha, em vez de gastarpanos e mais panos que ficam logo molha-dos", descreve Carla Veloso. Isabel, sentadana ponta da fila, fica de olho no artigo, feitoem microfibra.

Chega o momento de cozinhar. Ali mesmo,na sala, a demonstradora faz rapidamenteuma bola de carne usando sempre utensíliosvendidos pela empresa, da colher com quemistura os ovos e o óleo, ao recipiente que vailevar a comida ao forno. As reuniões já nãosão meras descrições de produto. Há comidaconfeccionada ao vivo e na ementa da noiteconsta ainda uma morcela feita em minutosno microondas, que se tornou no grande alia-do da Tupperware nos últimos anos.

A caixa com tampa hermética que EarlTupper inventou em 1946 era a gran-

de inovação do momento, mas nos 60 anos

seguintes os produtos foram respondendoàs necessidades de cada época: primeiro a

conservação, depois as caixas a pensar noschurrascos da classe média alta dos subúr-bios - boas para transportar saladas da co-zinha para o quintal -, mais tarde foram os

organizadores de gavetas ou malas para asmulheres que começavam a entrar no mer-cado de trabalho, depois os brinquedos paraa geração baby boomer que nasceu no pós-guerra. A bola vermelha e azul com peçasgeométricas de encaixe amarelas ainda é umaestrela nas vendas.

"Estou de olho na bola", confessava SandraCouto no início da reunião, olhando para o

brinquedo ícone da Tupperware. Aos histó-ricos, juntam-se novos objectos a pensar nascaracterísticas da sociedade apressada, demulheres que há muito invadiram o mercado

de trabalho e equilibram filhos, casa, carreira.Nasceu o Micro Arroz para cozinhar arroz nomicroondas em 12 minutos, a Ecogarrafa queé campeã de vendas em Portugal e é apre-sentada como uma "solução ecológica" paratransportar água ou o UltraPro, um recipienteque serve para ir ao forno e que Carla se pre-para para usar na sua bola de carnes.

"O design é feito internamente nos depar-tamentos da Tupperware na Bélgica e nosEstados Unidos. Este gabinete ganhou maisde 130 prémios internacionais, incluindo o

prestigiado red hot para a equipa de designdo ano, em 2009", descreve António Gil, di-rector ibérico.

Na casa de Patrícia, que se assume fã damarca, a reunião ganha novo ritmo. A de-monstradora sai da sala para colocar a bolano forno e Isabel aproveita para mexer no"fantasminha", a tal esponja de microfibras

que promete secar as mãos sem ensopar. Car-la regressa e sorteia um prémio, as mulheresentusiasmam-se. A vencedora recebe outromimo de motivação. Palmas.

"Está uma coisa de plástico a derreter noforno", diz de repente um homem alto queentra na sala bem-disposto. Carla sai dispa-rada, mas ri-se com a piada. Era o marido dePatrícia que chega quase no final do encon-tro. A bola está intacta. Chega à mesa com amorcela e uma garrafa de vinho. Distribuem-se os copos, prova-se a comida, as convida-das circulam pela sala e recebem as notas eencomenda.

A na e Sandra revêem o catálogo/\ e Patrícia Graça, que também/\ assistiu à festa, dá uma ajuda. É/ \ candidata a demonstradora, veio/ \ assistir para aprender. "Estou/ \ na faculdade e andava há algum/ \ tempo à procura de um empre-j \ go que me desse dinheiro extra/ \ e disponibilidade para estudar",/ \ conta. Tem 19 anos e está a tirar o

curso de Serviço Social. Não conhecia a marcae nunca pensou que, com a crise, ainda hou-vesse gente disposta a comprar tupperwaresa 10 ou 20 euros. "O que as pessoas me dizemé que há muito tempo que não ouviam falarda marca. Ainda têm caixas de há 20 ou 30anos intactas e não preciso de as convencerda qualidade do produto", conta.

O director regional de vendas para o Sul,Paulo Branca, repete a ideia concebida porBrownie Wise de que é nas festas que se con-

segue o primeiro contacto para recrutar. É ocentro de tudo. O negócio está ali, entre asmulheres que se juntam aos fins-de-semana

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ou no final do dia para falar sobre tudo e nada,entre caixas de plástico que duram uma vida."É preciso desmitificar a ideia estereotipadasobre a party. Já não são os chás Tupperwa-re. A reunião é parte de uma experiência",sublinha o gestor, que entrou na empresa em1991 depois de ter respondido a um anúnciode emprego para a área de marketing. Não

começou como demonstrador.0 sistema de vendas está organizado ao de-

talhe. Há o director nacional de vendas, dois

regionais (um para o Norte, outro para o Sul),coordenadoras distritais, chefes de grupo e

demonstradoras. Os directores pertencemaos quadros da empresa.

Micaela Pereira, 31 anos, é coordenadoradistrital na zona da Maia e Vila Nova de Gaia ededica-se à função a tempo inteiro depois de aconcessionária de automóveis onde trabalhavater encerrado. "Até essa altura era chefe de

grupo e conciliava as duas actividades. O meumotivo era ganhar dinheiro extra e todos osfactores vão motivando. Temos retorno, pré-mios e promoções", revela. Micaela preferenão revelar quanto ganha por mês, diz que

o importante é gostar. "Entramos como de-monstradoras e, querendo, podemos evoluir.É uma oportunidade que eu e muitas outrasmulheres estão a agarrar", diz, ao telefone.

A percepção de Paulo Branca é que o inte-resse pelas caixas de plástico está a crescer."Estamos a aumentar o número de parties,muito mais do que em 2011 e penso que em2013 vai ser uma evidência", antecipa.

De volta às Laranjeiras, a festa está a ter-minar e Sandra, a mãe de Estêvão, anda às

voltas com as encomendas. A Tupperware é

uma espécie de tradição familiar. Ela e a irmãAna guardam na memória os brinquedos e as

caixas que a mãe comprava nas demonstra-ções. "Compro quase sempre mais do queum produto", confessa Ana. A reunião é ummomento de convívio, com crianças à mistu-ra. Estêvão dá finalmente sinais de cansaço.Resistiu quase duas horas tranquilo ao desen-rolar da cena, aos gestos enérgicos de Carla,às palmas e concursos improvisados. Agora,é hora de ir para casa.

Entre a fábricaem Montalvo,inaugurada em1980, e a sede emLisboa, há cerca de400 trabalhadores.No ano passado,Portugal registou155 mil festasTupperware.Carla Velosoéuma das nove mildemonstradorase, para asconvidadas paraa party em casade Patrícia Silva,houve "mimos"e encomendasdo catálogo. Noplano anterior,demonstração dosvários produtosque a marcacomercializa

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