A TROFOLAXE DIGITAL - Caosmose – Estratégias de virtualização · 2004-10-22 · ... a forma...

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A TROFOLAXE DIGITAL Celso Candido Se o gosto pelos livros cresce com a inteligência, seus perigos, como vimos, diminuem com ela. Um espírito original sabe subordinar a leitura à sua atividade pessoal. Ela não é para ele senão a mais nobre das distrações, sobretudo a mais enobrecedora, pois somente a leitura e o saber dão as ‘belas maneiras’ do espírito. O poder de nossa sensibilidade e de nossa inteligência, não podemos desenvolvê-lo senão em nós mesmos, nas profundezas de nossa vida espiritual. Marcel Proust A comunicação é o plano e a forma pela qual uma sociedade enquanto tal se constitui. Ela é um princípio fundamental da organização gregária humana. Seria impensável o viver em comunidade, pois ela está no âmago da interação social. Seja o intercâmbio econômico, cultural ou político, esses platôs do “estar entre os homens” dependem essencialmente de um processo de interação comunicativa. É este complexo lingüístico que “estrutura”, cria e institui os modos da organicidade social e do pensamento. (1) Para Aristóteles, o humano, “animal naturalmente político”, distingue- se dos outros animais por ser o único capaz de utilizar-se de uma linguagem articulada para existir em sociedade. Diferentemente daqueles que só podem se manifestar por meio dos sons difusos o que agrada e desagrada, os humanos trocam palavras. O uso da linguagem é o que permite aos seres humanos distinguirem o certo do errado, o justo do injusto. Dessa forma, apenas os humanos possuem o sentido do que seja o “bem” e o “mal”. De acordo com Aristóteles, ...o homem é um animal cívico, mais social do que as abelhas e os outros animais que vivem juntos. A natureza, que não faz nada em vão, concedeu apenas a ele o dom da palavra, que não devemos confundir com os sons da voz. Estes são apenas a expressão de sensações agradáveis ou desagradáveis, de que os outros animais são, como nós, capazes. A natureza deu-lhes um órgão limitado a este único efeito; nós, porém,

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A TROFOLAXE DIGITAL

Celso Candido

Se o gosto pelos livros cresce com a inteligência, seus perigos, como vimos, diminuem com ela. Um espírito original sabe subordinar a leitura à sua

atividade pessoal. Ela não é para ele senão a mais nobre das distrações, sobretudo a mais enobrecedora, pois somente a leitura e o saber dão as ‘belas maneiras’ do

espírito. O poder de nossa sensibilidade e de nossa inteligência, não podemos desenvolvê-lo senão em nós mesmos, nas profundezas de nossa vida espiritual.

Marcel Proust

A comunicação é o plano e a forma pela qual uma sociedade enquanto

tal se constitui. Ela é um princípio fundamental da organização gregária

humana. Seria impensável o viver em comunidade, pois ela está no âmago da

interação social. Seja o intercâmbio econômico, cultural ou político, esses

platôs do “estar entre os homens” dependem essencialmente de um processo

de interação comunicativa. É este complexo lingüístico que “estrutura”, cria e

institui os modos da organicidade social e do pensamento.(1)

Para Aristóteles, o humano, “animal naturalmente político”, distingue-

se dos outros animais por ser o único capaz de utilizar-se de uma linguagem

articulada para existir em sociedade. Diferentemente daqueles que só podem

se manifestar por meio dos sons difusos o que agrada e desagrada, os humanos

trocam palavras. O uso da linguagem é o que permite aos seres humanos

distinguirem o certo do errado, o justo do injusto. Dessa forma, apenas os

humanos possuem o sentido do que seja o “bem” e o “mal”. De acordo com

Aristóteles,

...o homem é um animal cívico, mais social do que as abelhas e os outros animais que vivem juntos. A natureza, que não faz nada em vão, concedeu apenas a ele o dom da palavra, que não devemos confundir com os sons da voz. Estes são apenas a expressão de sensações agradáveis ou desagradáveis, de que os outros animais são, como nós, capazes. A natureza deu-lhes um órgão limitado a este único efeito; nós, porém,

temos a mais, senão o conhecimento desenvolvido, pelo menos o sentimento obscuro do bem e do mal, do útil e do nocivo, do justo e do injusto, objetos para a manifestação dos quais nos foi principalmente dado o órgão da fala.(2)

É, ainda segundo a perspectiva aristotélica, nesta trama da linguagem,

na “troca de palavras”, que se constitui “o laço de união de qualquer

sociedade”. Quer dizer, é através da linguagem que a sociedade se institui a

si mesma com suas leis e costumes e se funda politicamente.

A linguagem é, então, o “meio”, a forma através da qual os seres

humanos, em sua singularidade existencial na natureza, comunicam-se e,

conseqüentemente, relacionam-se entre si e instituem, imaginam e elaboram

seu sentido, seu pensar, sua ética e sua sociedade. Nesse processo de

comunicação, as sociedades fundam suas significações imaginárias e

organizam seus Estados e que os seres humanos transmitem e adquirem

conhecimentos e valores, objetos e mercadorias. Será, então, aí, que vai

processar-se grande parte da vida e da paidéia dos indivíduos.

Assim, esta dimensão comunicativa não pode ser considerada apenas

um aspecto derivado, secundário ou espelho do momento econômico-

estrutural, como “campo de representação” das relações humanas; antes, ao

contrário, deve ser entendida como imanente aos processos subjetivos e

objetivos, como engrenagem essencial deste processo econômico-

estruturante.

Guattari e Deleuze, analisando a linguagem, diriam que a enunciação

não “representa”; ela age diretamente. “Um agenciamento de enunciação,

não fala ‘das’ coisas, mas fala diretamente os estados de coisas ou estados de

conteúdo.”(3) Trata-se de um “ato de linguagem”, uma pragmática

lingüística.(4) Desse modo, “talvez seja a economia ou a análise financeira,

que melhor mostrem a presença e a instantaneidade desses atos decisórios em

um processo de conjunto (é por isso que os enunciados certamente não fazem

parte da ideologia, mas já operam no domínio suposto da infra-estrutura)”.(5)

A comunicação é força interna subjacente a qualquer produção

econômica e social. Em todo caso, a comunicação é considerada como uma

dimensão essencial da condição social e existencial humana, destacando o

2

papel fundamental nas relações econômicas e na produção de subjetividade

contemporâneas.

A mente compartilhada

As relações de comunicação sociais constituem, segundo Maturana e

Varela, a “trofolaxe humana” propriamente dita, na medida em que

“formata” a condição humana de um modo especial e universal. Fala-se,

conversa-se e, nessa troca lingüística substancial, se revela o ser si-mesmo no

mundo da ação humana. Segundo estes autores,

nos insetos (...) a coesão da unidade social é proporcionada por uma interação química, a trofolaxe. Entre nós, humanos, a ‘trofolaxe’ social é a linguagem, que faz com que existamos num mundo sempre aberto de interações lingüísticas recorrentes. Quando se tem uma LINGUAGEM, não há limites para o que é possível descrever, imaginar, relacionar. A LINGUAGEM permeia, de modo absoluto, toda a nossa ontogenia como indivíduos, desde o modo de andar e a postura até a política.(6)

No “linguajar” o si-mesmo revela-se, o si-mesmo autocria-se. Assim,

quando, na conversação mais banal, se diz “aquele é um homem bom”, “o dia

está bonito”, dificilmente se trata – ou só secundariamente de uma

representação exterior; é todo um falar impregnado de significação e sentido

auto-referencial. É um pôr-se a si mesmo, em primeiro lugar. Porque sempre

se está implicado no “ato de fala”. Dizer do outro, não é representar o outro

necessariamente; é antes um representar – no sentido cênico sobretudo – de

si, para si e para o mundo. É um modo de atuar. As palavras, a conversa que

se produz na troca de palavras, é um apresentar-se, um narrar-se, um revelar-

se. As palavras não representam nada de exterior àquele que fala; elas são

afirmação de si, um constituir-se como sujeito, como diferença.

No conversar, como diz Maturana, emociona-se também. Para ele, o

conversar é um linguajar emocionado que torna o indivíduo humano entre

humanos. “Sendo o amor a emoção que funda a origem do humano e sendo o

prazer do conversar nossa característica, resulta em que tanto nosso bem

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estar como nosso sofrimento dependem de nosso conversar.”(7) O “conversar”

como essência própria humana do emocionar e do linguajar é o que torna

possível o entrelaçar no mundo interpares, na ontológica relação dialogal. A

conversação, pois, torna humanos entre humanos, ao mesmo tempo, iguais

entre iguais e diferentes entre diferentes, como seres originais e singulares e

torna possível viver no mundo humano.(8)

A importância da trofolaxe lingüística na vida humana tem a ver, sem

dúvida, com o fato de que os indivíduos, para sobreviverem, precisam estar

em permanente processo de colaboração, pela fragilidade originária dos

corpos humanos. Segundo Maturana, é no compartilhar dos alimentos e em um

modo de vida cooperativo que, entre dois e três milhões de anos, teria surgido

a linguagem.(9)

Com efeito, quanto mais simples são as sociedades e as relações

humanas, mais simples o suporte lingüístico que torna possível estas mesmas

sociedades e relações. Mas, na medida em que a sociedade cresce e as

relações sociais tornam-se mais complexas, mais importante o suporte

lingüístico se faz como mediador dessas relações.(10) A palavra é uma forma

de imprimir um certo valor de referência abstrato a um fenômeno, objeto,

acontecimento, sentimento, tornando possível as mais diferentes conexões

humanas. Dessa forma, ela se torna um centro de articulação nervoso do

“coletivo social anônimo”. Essa trofolaxe humana envolve o acoplamento

estrutural e a contabilidade lógica do sistema nervoso humano, conforme

Maturana e Varela.(11)

O intercâmbio oral remete às origens hominídeas. Pode-se imaginar,

originariamente, a linguagem humana como um linguajar de gritos,

exclamações, gemidos, urros, seguido de gestos e expressões faciais que, em

sociedades simples, pouco numerosas, conseguiam coordenar as ações

coletivas. Pode-se supor que, em princípio, a linguagem humana aparece

dotada de forte/inseparável carga emocional. Mais do que nunca, nessa longa

estruturação de uma linguagem bastante diferente desta que se conhece e se

vive hoje, aí então “dizer é fazer”.(12) Segundo Maturana e Varela, “...as

palavras são ações, e não, coisas que passam daqui para ali”.(13)

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As palavras, tal como as conhecemos hoje, então, devem ter surgido e

se desenvolvido a partir do esforço de comunicação fundamental para

coordenar ações e designar “coisas” e “fatos” a distância, ausentes, virtuais,

para designar algo que não está presente e, portanto, não pode ser captado

presencialmente pelos sentidos. É preciso fazer um gesto, aludir à natureza

circundante para evocar o “acontecido ausente”, o “fantasma”, mas também

para organizar um movimento de grupo, um trabalho coletivo ou uma batalha.

“Vamos!”, “atacar!”, “fugir”, “lá”, “aqui” – enunciados performativos, na

maioria das vezes.

Para Hannah Arendt, a linguagem, a comunicação com palavras

constitui o mundo humano e o mundo do si-mesmo: “É, com palavras e atos,

que nos inserimos no mundo humano; e esta inserção é como um segundo

nascimento, no qual confirmamos e assumimos o fato original e singular de

nosso aparecimento físico original. Não nos é imposta pela necessidade, como

o labor, nem se rege pela utilidade, como o trabalho.” (14) Para Edgar Morin, a

linguagem humana não é apenas utilitária, no sentido de que ajudaria o

indivíduo a sobreviver. A linguagem é também um modo de ser/estar que em

si produz valor e agrega gosto e singularidade ao existir. Para ele, “a

linguagem humana não responde apenas a necessidades práticas e utilitárias.

Responde a necessidades de comunicação afetiva. A linguagem humana

permite dizer palavras gentis, mas permite, igualmente, falar por falar, dizer

qualquer banalidade, pelo prazer de se comunicar com o outro”.(15) Ser

humano, ser si-mesmo é, pois, ser na linguagem.

Nesse contexto, uma proposição muito interessante: aquilo que se

chama de mente, de consciência, é, para Maturana e Varela, constituído pela

linguagem ou, em outras palavras, pela “trofolaxe linguística” humana. A

psique, a consciência não seria então nada de interior ao corpo, algo material

que ocuparia “algum lugar no cérebro”, mas, essencialmente,

“exterioridade”. Logo, para essa espantosa tese que tem mais a ver com a

“antiga” ciência e a física pré-socrática do que com a “moderna” física e

lógica matemática cartesiana a que se está acostumado hoje, o fenômeno da

mente é constituído pelas interações lingüísticas humanas. Assim, a

linguagem teria feito emergir a psique como acontecimento essencialmente

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complexo, aberto, relacional, exterior, ‘interconectado’; sem este

“acoplamento lingüístico”, não haveria propriamente uma mente humana.

Para os autores, “...as características únicas da vida social humana e seu

intenso acoplamento lingüístico geraram um fenômeno novo, ao mesmo tempo

tão próximo e tão distante de nossa própria experiência: a mente e a

consciência”.(16) No mundo humano, pois, “...a linguagem faz com que essa

capacidade de reflexão seja inseparável de sua identidade”.(17)

Assim, nesse movimento comunicativo incessante, no “...qual nos

movemos, mantemos uma contínua recursão descritiva – que chamamos de

“eu” -, que nos permite conservar nossa coerência operacional lingüística

e nossa adaptação ao domínio da linguagem”.(18)(gm) Sob esse aspecto,

ainda segundo Maturana e Varela:

no domínio do acoplamento social e da comunicação (na ‘trofolaxe’ lingüística), produz-se o mesmo fenômeno. Só que a coerência e a estabilização da sociedade como unidade se produzirá, dessa vez, mediante os mecanismos tornados possíveis pelo funcionamento lingüístico e sua ampliação na linguagem. Essa nova dimensão de coerência operacional é o que experimentamos como consciência e como ‘nossa’ mente.

Dessa maneira, o aparecimento da linguagem no homem, e também no contexto social em que ela surge, gera o fenômeno inédito – até onde sabemos – do mental e da autoconsciência como a experiência mais íntima do ser humano. Sem o desenvolvimento histórico das estruturas adequadas, não é possível entrar no domínio humano – como aconteceu com a menina-lobo. Por outro lado, como fenômeno na rede de acoplamento social e lingüístico, o mental não é algo que está dentro de meu crânio. Não é um fluido do meu cérebro: a consciência e o mental pertencem ao domínio do acoplamento social, e é nele que ocorre a sua dinâmica.(19)

Desse modo, conhecer – e conhecer-se a si mesmo não menos – é

sempre um compartilhar, um conhecer junto, um tecer uma rede de

conhecimento. A consciência é um pensar-com. Conforme diz Capra: “Como

sua raiz latina – con-scire (‘conhecer juntos’) – poderia indicar, consciência é

essencialmente um fenômeno social”.(20)

6

As interfaces da trofolaxe humana

O que se é, o que se pode saber de si, o que se pode fazer de si,

portanto, se realiza, em grande parte, na medida desta dimensão

comunicativa. Assim, torna-se inevitável reconhecer o papel essencial desta

trofolaxe lingüística na produção da subjetividade e, assim, das interfaces de

comunicação constituídas historicamente. Como observa Peter Pelbart:

Há uma maneira curiosa de ler a história das tecnologias de comunicação tomando por eixo a tensão entre os selves e os corpos, suas interações, separações e fusões. Por exemplo, o surgimento dos endereços nas cidades, a crescente necessidade de amarrar cada um à sua identidade como se amarra um cachorro ao poste, e as mudanças diversas que intervêm nessa metafísica da presença, através do telefone, do computador, de todas essas tecnologias que criam espaços protovirtuais e que alteram a noção de presença, de corpo, de relação, de incorpóreo, de identidade etc. (21) (gm)

A experiência subjetiva contemporânea é inseparável das tecnologias

de comunicação como o rádio, o jornal, televisão, a Internet, com suas

diferentes interfaces e modos de manifestar idéias, opiniões; seus espaços do

dizer e fazer social, ético, estético, político, cultural; suas modalidades de

habitar, conviver com os outros, o mundo, consigo mesmo. Corpo e mente se

desterritorializam da terra nômade e dos estados territoriais. Percorre-se

espaços-de-tempo cada vez maiores e mais velozes. As distâncias, antes

enormes, tornam-se cada vez menores. O tempo de apropriação do espaço é

cada vez mais rápido.

Junto aos meios de comunicação eletrônicos, dever-se-ia somar os

meios de transporte que multiplicam as formas desse processo de

desterritorialização do tempo e do espaço vivido. Não há mais terras nem

cidades bem definidas a habitar. O indivíduo agora é cidadão do mundo,

percorrendo estradas, rotas aéreas e marítimas. Ele habita automóveis,

aviões, navios; comunica-se com o mundo todo via satélites, cabos óticos,

televisores, rádios, computadores. Aproximam-se afetos, sensações, desejos.

Doravante, os indivíduos estão interconectados em uma complexa rede de

comunicações planetárias.

7

As redes virtuais de comunicação como a Web e que estão na linha de

frente deste grande movimento de desterritorialização planetária e mutação

antropológica têm uma história. Esta história é contada mais com

sobreposições, acoplamentos, hibridizações que substituições. A fotografia

não acabou com a pintura, nem o cinema com a fotografia; a televisão não

pôs um fim ao cinema, nem ao rádio, apesar de seu tremendo poder de

penetração; e o carro não substituiu o telefone; a escrita não acabou com a

oralidade; na verdade, fizeram aumentar as conexões, as possibilidades de

comunicação entre as pessoas e suas múltiplas culturas. Esta é,

evidentemente, também uma história de substituições; o telegrama muitas

vezes é substituído pelo telefone, e este, pelo e-mail; o rádio desocupou o

lugar central da casa para cedê-lo à televisão; a eletricidade encerra o ciclo

do fogo; a novela de rádio, bem como a fotonovela diluíram-se diante da

telenovela.

Assim, as redes de computadores não vão simplesmente substituir os

meios de comunicação tradicionais; ao contrário, parece que estes estão

sendo cada vez mais incorporados ao próprio modo de ser do computador

pessoal. Hoje, um computador mediano possui os recursos, ao mesmo tempo,

de uma televisão, um rádio, um jornal, um livro. Ele estabelece não só uma

nova forma de interação entre estes meios antes separados, mas novas

possibilidades comunicativas para o radialismo, o jornalismo, a literatura, o

vídeo e o audiovisual.

Em todo caso, os meios tecno-intelectuais da trofolaxe humana são

interfaces comunicativas através das quais os indivíduos, em grande parte,

elaboram e constituem grande parte das formas éticas e políticas de suas

existências. Assim, as formas da organização da sociedade e das “práticas de

si”, o intercâmbio comercial e o aperfeiçoamento cultural estão intimamente

associados em seus processos auto-instituintes, às interfaces de comunicação

que os constituem.(22)

8

A interface da cultura oral

Assim, nas épocas em que predominou a comunicação oral, quando se

queria aprender ou ensinar algo, recorria-se à retórica, ao discurso,

encarnado em uma entidade viva: o mago, o sacerdote, o sofista, o político.

As informações e conhecimentos, mas também as crenças e os valores, então

acumulados por uma comunidade ou indivíduo, eram transmitidos pela

“interface oral” de comunicação. Com efeito, essa oralidade não apenas

pertence à maior parte da história ou experiência comunicativa humana, mas

ainda hoje constitui laço essencial da “colaboração” social e da existência

individual.

Com o “suporte oral”, os indivíduos e os povos comunicam-se entre si

em busca de entendimento e comércio, deliberação para a paz ou a guerra. A

interface comunicativa oral organiza, nas sociedades anteriores à escritura, o

campo de coexistência social e individual. Uma assembléia grega, a Ilíada e a

Odisséia, uma mensagem, uma declaração de guerra ou paz tinham, como

interface de comunicação, a oralidade.(23) Segundo Pierre Lévy, nesse tipo de

sociedade, “...quase todo o edifício cultural está fundado sobre as lembranças

dos indivíduos. A inteligência, nestas sociedades, encontra-se muitas vezes

identificada com a memória, sobretudo com a auditiva”.(24) Dessa forma,

antes da invenção e instituição da escrita, “o oral era um canal habitual de

informação”. Nas sociedades orais, as coordenadas existenciais de tempo e

espaço estão orientadas pelo uso da linguagem oral com as respectivas

limitações e potencialidades. Aí, continua Lévy, “...a produção de espaço-

tempo está quase totalmente baseada na memória humana associada ao

manejo da linguagem”.(25)

Assim, em tais sociedades toda a produção e transmissão do

conhecimento, a organização da memória e inteligência coletiva e dos valores

ancestrais dependiam quase exclusivamente da oralidade. “Nestas culturas,

qualquer proposição que não seja periodicamente retomada e repetida em

voz alta está condenada a desaparecer.”(26) Aí, quando um velho morre, é

uma “biblioteca” que, com ele, é destruída.

9

A interface da cultura escrita

A invenção da escrita dá à memória e ao pensamento humano um novo

suporte físico, além dos recursos da oralidade. Um plus, um artifício de

memória e pensamento. E, com a disseminação da impressão, durante o

século XV, essa nova interface de comunicação é instituída de modo cada vez

mais massivo e dominante. Aí, quando se desejava saber, ensinar ou aprender

algo recorria-se ao livro, às enciclopédias ou às bibliotecas.

A escritura é uma forma de comunicação mais impessoal, pois ela pode

comunicar a distância, pensamentos, idéias, ordens, sentimentos. Enquanto a

comunicação oral implica um intercâmbio “corpo a corpo” dos agentes

comunicativos – até o rádio e o telefone, que permitiram a comunicação oral

operar-se a distância dos mensageiros e os meios de registro de voz, que

permitiram uma presença da palavra oral que, até então era privilégio apenas

da palavra escrita da prensa moderna, o texto impresso representa, na cidade

moderna, o papel que os “mensageiros” e “oradores” representavam na

cidade antiga.

Desse modo, a escrita vai reinventar a apropriação de uma certa

quantidade e diversidade de saberes, impensáveis nas épocas situadas na

oralidade. Agora, uma idéia ou techne específica não precisam mais recorrer

necessariamente a uma oratória ou retórica para serem transmitidas e

conhecidas. Segundo Pierre Lévy, “a escrita permite uma situação prática de

comunicação radicalmente nova. Pela primeira vez, os discursos podem ser

separados das circunstâncias particulares em que foram produzidos”.(27) A

palavra escrita permite a apropriação de uma idéia muito distante do seu

local de origem e, com a impressão, em uma quantidade infinitamente

superior do simples recurso do discurso oral. Aqui, a memória e o pensamento

se desterritorializam; não necessitam mais se encarnar em uma entidade viva,

carnal.

Com a escrita os indivíduos tendem a “pensar por categorias”, ao passo

que, na cultura oral, a ecologia mental é ordenada por “situações”, por

contextos imaginários e políticos bem delimitados.(28) No contexto da palavra

oral, é o corpo que fala. Na linguagem escrita, o corpo torna-se, por assim

10

dizer, irrelevante. Na ecologia cognitiva da oralidade, o corpo deveria estar

presente no processo comunicativo de uma idéia, de um comando, de uma

encenação teatral.

Sem dúvida, na sua emergência, a palavra escrita precisava apoiar-se

na oralidade. Ela deveria “imitar” a linguagem oral para tornar-se inteligível,

como ilustra a retórica e as tragédias gregas antigas. A autonomia pragmática

da escrita cresceu com o tempo, mesmo se ela ainda se encontra em um certo

estado de dependência relativa da oralidade. Mas, com efeito, distanciou-se

desta tanto quanto possível. Criou seus próprios meios de expressão, tais

como a carta, o livro, o jornal, através dos quais o coletivo humano, mal ou

bem, passou a conviver, a organizar e a coordenar seu “comportamento”.

Pelas cartas de amor, é o mundo dos afetos e do poder que se coordenam a

distância. Abelardo e Heloísa, através das cartas, mantêm sua relação

amorosa proibida. Através dos livros, Maquiavel escreveu O Príncipe, a fim de

dar subsídios ao Príncipe para conquistar o poder e nele manter-se; Balzac

pode compor um genial quadro da vida francesa de sua época e assim por

diante.

Sob esse aspecto, a escrita, com o tempo, torna-se cada vez mais uma

forma independente de linguagem comunicativa. O livro fez emergir uma nova

forma de trabalho intelectual, de criação artística e de produção e aquisição

de conhecimento, de entretenimento, mas também de organização e

exercício do poder. O poder da palavra oral foi, aos poucos, sendo substituído

pelos impressos e jornais ordinários matinais. De acordo com Lévy, “através

dos anais, arquivos administrativos, leis, regulamentos e contas, o Estado

tenta, de todas as maneiras, congelar, programar, represar ou estocar seu

futuro e seu passado”.(29) A escrita vai cumprir um papel importante na

organização agrícola e no sistema de impostos do Estado. Assim, “...a escrita

serve para a gestão dos grandes domínios agrícolas e para a organização da

corvéia dos impostos”.(30) E, pode-se acrescentar, da burocracia estatal.

Quanto mais a sociedade cresce, mais ela se complexifica em termos

políticos, culturais e econômicos, mais importante torna-se o meio impresso

pela mobilidade de sua distribuição. E, em parte, também é verdade que essa

complexidade será também condicionada pela palavra impressa. A praça

11

pública agora se desterritorializa através de publicações, manifestos, cartas,

livros capitais. Antes, centro do poder, a praça pública torna-se, com o

tempo, um lugar vazio de poder. Sem dúvida, ela continua a ser um lugar de

comércio, de lazer, de diálogos de busca pela sabedoria, em torno da qual são

construídos inicialmente os prédios públicos de poder administrativo, igrejas

da religião oficial, mas onde, de fato, cada vez mais o poder está ausente.

Com a literatura escrita, a cultura pode expandir-se para lugares

distantes dos tradicionais centros de estudo e pesquisa orais. A cultura escrita

dá a impressão de sua potência universal. Sábios que nunca se encontraram ou

nunca se encontrarão, mestres e discípulos, agora, distantes uns dos outros

podem, através dos prodígios literários, se entender, se ensinar, se

compreender entre si. A escrita se torna uma arte comunicativa que pode

transcender povos, nações, raças, estamentos econômicos. Ela, pois,

universaliza a comunicação humana de um modo tal que seria impensável na

“oralidade primária”. Conforme Pierre Lévy,

A escritura fez surgir, assim, um dispositivo de comunicação, no qual as mensagens são muito freqüentemente separadas no tempo e no espaço de sua fonte de emissão e, então, recebidas fora do contexto. Do lado da leitura, foi preciso, então, refinar as práticas interpretativas. Do lado da redação, devemos imaginar sistemas de enunciados auto-suficientes, independentes do contexto.

Com a escritura e, mais ainda, com o alfabeto e a impressão, as formas de conhecimento teóricas e hermenêuticas avançaram sobre os saberes narrativos e rituais das sociedades orais. A exigência de uma verdade universal, objetiva e crítica não pôde se impor senão em uma ecologia cognitiva grandemente estruturada pela escrita.(31)

Com isso, em grande parte, a escrita vai reinstituir o mundo humano e

suas formas de transmitir informação e conhecimento, bem como sua forma

de organização da memória e da política. O texto impresso, na forma do livro

e do jornal, constituir-se-á, sobretudo desde Gutenberg, na interface

privilegiada de comunicação e subjetivação das sociedades pelo menos até a

invenção do rádio, no final do século XIX, e da televisão, na primeira metade

do século XX.

12

As interfaces telecomunicativas instantâneas

A partir do século XIX, com a invenção do telégrafo e do telefone,

associada à expansão do rádio e da televisão, durante o século XX, produziu-

se uma ecologia mental e social inteiramente nova que continuou a mudar

ainda mais as noções de tempo e espaço tradicionais. E, do ponto de vista da

economia social, as comunicações eletrônicas instantâneas tornaram-se uma

importante força produtiva, que não parou mais de evoluir. O telégrafo tornou

a informação instantânea, e o telefone aproximou as falas. O rádio

transformou profundamente o dispositivo de transmissão da informação da

cultura impressa. Enquanto um jornal impresso deveria ser entregue um a um,

ser transportado de casa em casa, de cidade em cidade, de país a país, de

mão em mão, o rádio vai permitir um deslocamento, em “tempo real”, da

informação e sua possibilidade de transmissão e consumo instantaneamente.

Dessa maneira, uma descoberta científica ou um acontecimento

político importante que, ao tempo da oralidade, levaria talvez dezenas de

anos ou talvez nem mesmo saísse do seu lugar de origem e que, na era do

texto impresso, levaria dias ou anos para chegar ao mundo inteiro, com o

rádio, ela pode ser transmitida com grande velocidade, de modo síncrono. O

rádio institui a primeira Ágora eletrônica no mundo. O rádio, suporte

comunicativo extremamente dinâmico, ultrapassa, com grandes vantagens, o

meio impresso da palavra no controle do poder político. Aos jornais caberá

uma informação mais analítica, uma vez que seu tempo não é o do

instantâneo como o é o do rádio. O rádio e a televisão se caracterizam por

este acontecimento do instantâneo, do fluxo permanente sempre renovado de

informação e entretenimento. Seu tempo é o do fugaz, do passageiro, do

fluido e do dinâmico. Por isso, em grande parte também, seu poder de

sedução – pela sua permanente capacidade de criar o novo, de descobrir

mundos possíveis para a imaginação humana em seu natural desejo de

descobrir novos horizontes, pela sua curiosidade inata.

A televisão sofisticou o rádio com os recursos da imagem em

movimento e constituiu-se, em especial, ao longo da segunda metade do

século XX, no principal meio de comunicação de massa, transformando-se em

uma engrenagem essencial do modo de produção e de ser social e cultural.

13

Sem os mass media, as sociedades de massas seriam praticamente

ingovernáveis e, talvez mesmo, impensáveis; de tal maneira que, com razão,

se chegou a falar em um certo “quarto poder” das comunicações de massa.

Os mass media só puderam tornar-se um “quarto poder” na medida em

que conseguiam atingir, pelo suporte técnico que lhes é próprio, grandes

massas de pessoas. Estes mass media condicionaram, de maneira

fundamental, a produção de sentido, dos valores e da opinião pública. As

populações acabaram “presas” àquilo que os mass media apresentavam ao

imaginário social como o “certo”, o “justo”, o “bem”, o “mal”.

Sem dúvida, o papel dos mass media foi paradoxal. Ao mesmo tempo

em que permitiam aquela velocidade na transmissão da informação e na

produção cultural, os mass media tornavam-se os “déspotas” da informação e

da comunicação. Agora, o mundo é partilhado, mediado, pelas telas coloridas,

brilhantes e cheias de movimento e ação.

Esses meios têm grande poder na determinação da opinião pública.

Mas, como se sabe, um fato jamais é simplesmente um fato. Ele é, pelo

menos metade, como diz Dostoiévski, interpretação. Desse modo, os grandes

meios de comunicação de massa acabariam por fazer, de sua interpretação

particular, a interpretação pública deste ou daquele fato. No mundo da

informação, o fato é quase nada. Como observa, de forma precisa, Lévy, não

é a verdade que visa ao “saber informático”, mas os procedimentos de

eficácia e economia de tempo.(32)

Quanto maior o poder de penetração de um dado meio de

comunicação, maior será seu poder de influir e determinar, repita-se, não

apenas a “opinião pública”, mas os gostos, os valores, apesar das recorrentes

tentativas de apresentar os mass media como “neutros”, como que “além do

bem e do mal”.(33) Doce e dura ilusão, pois, quando uma única interpretação

fala, de forma praticamente absoluta, para milhares, milhões de pessoas

reunidas na frente de um aparelho de televisão, ela tende a hegemonizar o

imaginário. Mas isso diz respeito ao modo próprio de ser da mídia eletrônica

de massas.

14

A Matrix contemporânea

Sem dúvida, contemporaneamente, os agenciamentos coletivos de

mídia assumem um papel preponderante e decisivo. Conforme Suely Rolnik,

esses equipamentos de mídia constituem “...uma imensa fábrica de

subjetividade, que funciona como indústria de base de nossas sociedades. É

exatamente nessa indústria que a mídia, tal como existe hoje em dia, com sua

cultura de massa, teria um papel de destaque”.(34) Diante de uma mídia como

a televisão, por exemplo, quase não há nem mesmo tempo para se pensar

sobre uma informação, uma imagem, um acontecimento. Eles se multiplicam

indefinidamente de forma desconexa, frenética, convocando uma

participação profunda passiva. É praticamente impossível remeter a uma

interação singular qualquer. Tudo se passa relativamente como na hipnose. O

desejo comunicativo é desencarnado, despersonalizado. As fantasias

totalitárias de Orwell, em seu romance de ficção 1984, resultam de uma

percepção adiantada, aproximada daquilo que, de fato, se constituiriam os

meios de comunicação de massa na real em 1984 e durante boa parte da

segunda metade do século XX; não o olho do déspota estatal, mas algo muito

mais sutil, uma “mão invisível”, uma espécie de “terceiro olho”. Aí, a

subjetividade é permanentemente, minuto a minuto, hora após hora, incitada

a assumir, inconsciente ou conscientemente, os valores e os desejos

capitalísticos reificados dominantes. Um outro tipo de totalitarismo, apenas

um pouco mais suave, não o totalitarismo de estado como na ficção de

Orwell, mas, veja-se só que ironia, um “totalitarismo de mercado”.

Rolnik, no entanto, observa que “...são as próprias pessoas que, em

seus investimentos de desejo, atualizam a mídia no papel de centralizadora

de sentidos e valores, dando-lhe crédito e realidade”.(35) Dessa maneira, surge

a pergunta admirada: “...como é que as pessoas aceitam investir seus afetos

desterritorializados nessa direção tão contrária à expansão de sua vida. Como

é que não percebem nada e se deixam atrair, a esse ponto, por aquela

máquina infernal”?(36)

15

É o “desejo capturado”, tornando-se, assim, ele mesmo, parte

integrante do sistema de subjetivação global dos indivíduos e das sociedades.

Perde-se, então, o sentido maquínico dos processos de subjetivação. Ainda,

segundo Rolnik, “...o desejo, aqui, pensa o cartógrafo, perde muito de seu

sentido maquínico (o dos agenciamentos se fabricando e dos afetos passando

nesses agenciamentos), em favor do sentido exclusivamente mecânico de uma

existência feita de territórios psicossociais padronizados”.(37)

Estes mass media, na época do capitalismo mundial desterritorializado,

por assim dizer, formataram, em grande parte os conteúdos das

representações de valores, a partir de uma representação do mercado de

massas e da estrutura econômica em que estão baseados, na perspectiva de

uma subjetividade capitalística. Como dizem Guattari e Rolnik, nesse

contexto “...os indivíduos são reduzidos a nada mais do que engrenagens

concentradas sobre o valor de seus atos, valor que responde ao mercado

capitalista e seus equivalentes gerais. São espécies de robôs, solitários e

angustiados, absorvendo cada vez mais as drogas que o poder lhes

proporciona”.(38)

Os meios de comunicação, naquilo que lhes é mais próprio e originário,

se dirigem sempre a massas de leitores, ouvintes e telespectadores, na linha

de uma mão única, que resulta em uma ação essencialmente de consumo,

uma intensa recepção de conteúdos, sentidos, emoções, imagens. Trata-se aí

de uma forma de agenciamento reativo. Um pouco mais ou menos como na

hipnose: o desejo está no outro, reage-se somente. Assim, por maior que seja

a participação em profundidade diante do mosaico televisivo multicolorido,

esta relação constitui uma subjetividade essencialmente heterônoma.(39)

De certa forma, tais meios de comunicação correspondem às

necessidades econômicas e materiais de reprodução da vida no horizonte da

ideologia e da sociedade industrial que visa necessariamente a uma produção

serial em massa; eles estão no centro de grande parte da atividade capitalista

de mercado; sem os mass media, o mercado não poderia expandir-se; sem

eles, não poderia talvez existir um totalitarismo staliniano ou hitleriano, nem

tampouco o “estado espetáculo”.(40)

16

Essa massificação se estenderá por toda a existência espiritual e física

dos indivíduos, na forma de uma incontida padronização do gosto e dos

sentidos, dos modos de perceber, sentir e subjetivar o mundo – ou seja, de

inserir-se existencialmente no mundo. Trabalha o tempo todo com esta

espécie de ilusão dos sentidos e hipnose do desejo. O desejo comunicativo é,

dessa forma, desinvestido de sua potência criadora plástica.

Intoxicados de informação

No mundo contemporâneo, não se está tão desinformado como

deformado pela atual intoxicação da informação. Por todos os lugares, a

preços acessíveis pode-se “consumir informação”; há informações por todos os

lados; basta ligar a televisão, o rádio, comprar um jornal que se fica

informado. Na verdade, antes, trata-se de uma guerra da informação. Cada

grupo, organizado em função de seus meios de comunicação, procura fazer

valer o seu interesse, suas causas, sejam elas nobres ou vis. Mas, é

exatamente este verdadeiro entrevero de informação que – sem deixar de

informar – sobretudo deforma as pessoas.

De certa maneira, a diversidade e multiplicidade infinita das fontes de

informação e das informações possíveis no mundo, esquizofrenizam a

subjetividade. Diante do imenso mosaico comunicativo, qual informação

agarrar? Mas só se agarra aquilo que afeta a si mesmo. As informações, tal

como se foi acostumado a consumir nos meios de comunicação de massa,

afetam apenas superficialmente a subjetividade ou, então, a afetam em uma

espécie de alienação de si, de reificação do próprio desejo, mas, sem dúvida,

sem deixar de produzir modos de ser positivos. Nessa multiplicidade infinita

de afecções informativas, aquelas, as mais essenciais, que dizem respeito à

subjetividade, estão essencialmente fora de alcance na maior parte das

vezes; pois tais informações não correspondem a uma “necessidade interior”.

Italo Calvino, analisando a linguagem no contexto das sociedades

atuais, dispara com precisão: “...a linguagem me parece sempre usada de

modo aproximativo, casual, descuidado, e isso me causa intolerável

17

repúdio...”.(41) A literatura vai aparecer, para ele, então, como uma

possibilidade de salvação.

Às vezes me parece que uma epidemia pestilenta tenha atingido a humanidade inteira em sua faculdade mais característica, ou seja, no uso da palavra, consistindo essa peste da linguagem numa perda de força cognoscitiva e de imediaticidade, como um automatismo que tendesse a nivelar a expressão em fórmulas mais genéricas, anônimas, abstratas, a diluir os significados, a embotar os pontos expressivos, a extinguir toda centelha que crepite no encontro das palavras com novas circunstâncias.(42)

Não lhe interessa, contudo, se as causas desta doença da linguagem

estejam “...na política, na ideologia, na uniformidade burocrática, na

homogeneização dos mass media ou na difusão acadêmica de uma cultura

média”.(43) O que importa “são as possibilidades de salvação” e justamente a

literatura “...(e talvez somente a literatura) pode criar os anticorpos que

coíbam a expansão desse flagelo lingüístico”.(44) Ainda, nesse contexto,

salienta:

Gostaria de acrescentar não ser apenas a linguagem que me parece atingida por essa pestilência. As imagens, por exemplo, também o foram. Vivemos sob uma chuva ininterrupta de imagens; os media todo-poderosos não fazem outra coisa senão transformar o mundo em imagens, multiplicando-o numa fantasmagoria de jogos de espelhos – imagens que em grande parte são destituídas da necessidade interna que deveria caracterizar toda imagem, como forma e como significado, como força de impor-se à atenção, como riqueza de significados possíveis. Grande parte dessa nuvem de imagens se dissolve imediatamente como os sonhos que não deixam traços na memória; o que não se dissolve é uma sensação de estranheza e mal-estar. (gm)

Mas talvez a inconsistência não esteja somente na linguagem e nas imagens: está no próprio mundo. O vírus ataca a vida das pessoas e a história das nações, torna as histórias informes, fortuitas, confusas, sem princípio nem fim. Meu mal-estar advém da perda de forma que constato na vida, à qual procuro opor a única defesa que consigo imaginar: uma idéia da literatura.(45) (gm)

Este mundo das informações destituído de um “sentido interno”, não

faz senão alienar, transformando o espírito em uma massa informe, em algo

que ele essencialmente não é. Assim, quanto mais informação, mais

deformação do espírito, no contexto de uma mídia de massas. O excesso de

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informação provoca invariavelmente a perda da capacidade de discernir e

apreciar o que realmente vale a pena.

Somente neste gosto, neste discernimento, neste “apreciar” a

informação, pode-se reconstituir uma autêntica, singular autoprodução de

sentido, pois aí há detença, duração, possibilidade de reflexão. Ao contrário,

uma torrente de imagens e informações que passam a uma velocidade

incontrolável não podem ser apreciadas; são naturalmente maldigeridas, às

vezes, como restos degradantes da imaginação.

Nesse contexto, duas dimensões fundamentais da produção de

subjetividade na era da mídia de massas devem ser destacadas. Em primeiro

lugar, o conteúdo propriamente dito das representações veiculadas pela

mídia, seu apelo ao consumo de massas, os ideais de vida, as opiniões

políticas, a focalização em determinados assuntos, valores, conceitos, que são

‘determinados’ pela lógica dominante da sociedade em questão. Em segundo,

a forma da comunicação enquanto tal, ou seja, a techne pela qual a

sociedade e os indivíduos de determinado contexto sociocultural processam

sua trofolaxe e, portanto, o modo através do qual reconhecem a si e ao seu

mundo, interagem para produzir, vender e consumir bens, valores, idéias.

Assim, o aspecto que mais interessa destacar aqui é exatamente o

modo da comunicação, a mensagem propriamente dita da mídia de massas, na

medida em que ela formata uma subjetividade comunicativa essencialmente

passiva e heterônoma.

Redes desejantes de comunicação

A instituição da World Wide Web siginifica uma importante mutação no

registro da produção, da programação e consumo comunicativo. Trata-se aí da

emergência de uma nova forma da trofolaxe humana essencialmente

intercriativa. Com a emergência da Web, as comunicações humanas ganham

possibilidades extraordinárias. De certa forma, trata-se da recomposição da

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inteligência coletiva sob uma nova base, a cibernética. É a mente eletrônica

compartilhada.

Tecnologias do desejo: autocontrole e invenção

A criação e instituição das novas tecnologias do fazer e do pensar

remetem a toda uma nova forma de relação com a comunicação que é

precisamente um dos aspectos mais importantes das mutações subjetivas se

processando contemporaneamente; quer dizer, estas novas “tecnologias da

inteligência” implicam uma relação com o ‘desejo comunicativo’

absolutamente diferente daquele que marcou o modo de ser comunicativo

fundamental dos mass media. Tais tecnologias intelectuais constituem um

novo modo de comunicação na medida em que o sujeito comunicativo não é

mais um simples agente passivo, mas um “prossumidor”, pois participa

ativamente em todo processo comunicativo; ele é, ao mesmo tempo,

produtor e consumidor de comunicação.

Aqui, é importante observar que, em alguns de seus mais importantes

protagonistas, uma compreensão teórica e uma postura ético-política, tanto

quanto tecno-científica, engajada e, mesmo utopista, e o questionamento da

forma de comunicação de massa estariam na base da criação do computador

pessoal, da Internet e da Web.

Assim, o sentido desta reapropriação do desejo comunicativo, como faz

notar Pierre Lévy, já estaria presente no magma imaginário e na economia

coletiva do desejo underground, durante os anos setenta, em Berkeley, em

especial pelo Homebrew Computer Club, do qual Steve Jobs e Steve Wozniac,

por exemplo, participavam. Nesse ambiente, a

...paixão pela bricolagem eletrônica se misturava, então, a idéias sobre o desvio da alta tecnologia em proveito da “contracultura” e a slogans tais como Computers for the people (“computadores para o povo” ou “ao serviço do povo”).(...) Foi deste ciclone, deste turbilhão de coisas, pessoas, idéias e paixões que saiu o computador pessoal. Não o objeto definido simplesmente por seu tamanho, não o pequeno computador de que os militares já dispunham há muito tempo, mas sim o complexo de circuitos eletrônicos e de utopia social que era o computador pessoal no fim dos anos setenta: a potência de cálculo arrancada do Estado, do

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exército, dos monstros burocráticos, que são as grandes empresas e restituída, enfim, aos indivíduos.(46)

O computador pessoal, assim, estaria, desde o princípio, impregnado

por este desejo emancipador. Castells, por sua vez, ressalta o fato de que,

além das forças científicas, acadêmicas, militares e comerciais, o

desenvolvimento da “comunicação global mediada por computadores”, a CMC,

teria um agente condicionante essencial, originário: o movimento

contracultural dos anos sessenta. Segundo ele,

...o que permanece das origens contraculturais da rede é a informalidade e a capacidade auto-reguladora de comunicação, a idéia de que muitos contribuem para muitos, mas cada um tem a própria voz e espera uma resposta individualizada. A multipersonalização da CMC expressa, em certa medida, a mesma tensão surgida nos anos 60 entre a “cultura do eu” e os sonhos comunais de cada indivíduo. Na verdade, há mais pontes do que os especialistas em comunicação normalmente reconhecem entre as origens contraculturais da CMC e o geral dos internautas da década de 90.(47)

Nesse sentido, a Web foi explicitamente imaginada para ser um espaço

de colaboração e intercâmbio de informações e conhecimento. Segundo as

intenções originais de seu criador, Tim Berners-Lee,

quando propus a Web em 1989, o impulso condutor que tinha em mente era a comunicação mediante o conhecimento compartilhado, e o “mercado” condutor para isso seria a colaboração entre as pessoas no trabalho e no lar. Pela construção de uma Web de hipertexto, um grupo humano de qualquer tamanho podia se expressar com facilidade, rapidamente adquirir e passar adiante o conhecimento, resolver mal-entendidos e minimizar a duplicação de esforços. Isso traria para os indivíduos de um grupo uma força nova para construírem algo juntos. (...)

A intenção era de que a Web fosse usada como um sistema de informação pessoal e uma ferramenta de grupo em todas as escalas, desde uma equipe de dois indivíduos, criando um aeromodelo para usarem na escola da localidade, até a população do mundo todo, decidindo sobre questões de ecologia.(48)

A Web, então, aparecerá como uma nova forma de poder de controle e

compartilhamento de informações e conhecimento, seja nas organizações ou

nas famílias. Assim, como destaca Berners-Lee, elas “...estão recém-

começando a enxergar o poder da Web trazido para dentro de suas paredes.

Embora seja mínimo o esforço para estabelecer o controle de acesso para uma

21

intranet familiar ou de alguma corporação, logo depois de obtido, a utilidade

da Web se incrementa, pois os participantes compartilham um certo nível de

confiança”.(49) (gm)

Originalmente, a Web teria sido imaginada para ser uma espécie de

ferramenta auxiliar para aquilo que acontece na vida real. Uma espécie de

grande espelho de todas as relações da vida cotidiana. Entretanto, pondera

Berners-Lee, a idéia de espelho parece estar cada vez mais errada, na medida

em que a interatividade tem sido a principal função da Web.(50) De acordo

com ele,

o que Ari e eu estávamos tentando fazer era criar uma máquina que pudesse fazer a administração para, por exemplo, uma corte ou um grupo de trabalho ou parlamento. (...) Agora, há uma quantidade de produtos de software para fazer algumas dessas coisas. Para se organizar, realmente, uma sala de julgamento ou um processo de votação democrático, contudo, o mecanismo necessita de muito mais desenvolvimento. Eu anseio por um progresso em relação ao argumento pela repetição de bites sonoros para uma exposição hipertextual que possa ser justificada e modificada – uma que nos permitirá identificar e comparar, lado a lado, o que os políticos ou os defensores e os acusadores estão realmente dizendo, independente do que é proclamado nos comerciais de televisão e nas entrevistas exibidas nos noticiários de todas as noites.(51)

Assim, devido ao custo relativamente baixo, máquinas e seres humanos

se aliarão para realizar coisas impossíveis de serem feitas antes. Por exemplo,

...elaborar um plebiscito nacional, cujo gasto, outrora, seria proibitivo. Esse deveria, evidentemente, como todos os benefícios trazidos por esta nova tecnologia, ser orientado na direção daqueles com acesso à Internet. Esse é apenas um exemplo para mostrar que podemos repensar o que é possível; não estou defendendo que se abandone a democracia representativa em prol da democracia direta. Nós devemos ser cuidadosos para não fazer as coisas simplesmente porque elas são possíveis.(52)

Seja como for, diante dessa nova e revolucionária forma de

comunicação contemporânea, uma distinta reapropriação do desejo é

condição essencial para o desenvolvimento do potencial intelectual e cultural,

econômico e político dos indivíduos. Sem essa reapropriação desejante, estes

novos meios de comunicação simplesmente não funcionam. Ficam como que

perdidos no ar. No contexto da WWW, o banco de dados cultural é

teoricamente "ilimitado" e a programação torna-se “autoprogramação”. Que

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filme e a que horas assistir, hoje, ou neste próximo sábado? Isso diz respeito

a uma realidade singular, pois é, a partir dela, que se estabelece a relação

com o "objeto de desejo" comunicativo. Aí, a oferta é infinitamente múltipla

e mundial, sem nenhuma limitação geopolítica; os fluxos de informação e

poder assumirão cada vez mais a forma digital, e novas formas multimídias de

comunicação e expressão estão sendo e serão inventadas conjugando os

recursos do som, da imagem, do texto, da voz, de tal modo que, um dia,

desaparecerá talvez completamente a noção de televisão ou mesmo de rádio

tal como nós os conhecemos agora.

As próprias produções terão, também, um novo sentido e um novo

modo de apresentar-se ao público para consumo. Também novas interações

inusitadas, em caráter multimídia e internacional, serão e já estão sendo

inventadas, tais como debates sobre questões internacionais, eleições,

protestos, intervenções políticas diretas, pesquisa, marketing, entre outros.

Nessa trofolaxe digital, o agenciamento comunicativo é também um

ponto de articulação, um nó da rede; ele não é apenas autoconsciente do

processo de programação cultural, mas fundamentalmente estabelece uma

relação na qual ele é também um “canal de transmissão” ativo.

Em suma, enquanto os mass media produzem uma subjetividade

comunicativa passiva, padronizada e inserida na lógica da produção e do

consumo industrial de massa, de tipo nacional, na qual há, efetivamente, uma

espécie de alienação geral do desejo, a trofolaxe humana digital prefigura

uma subjetividade comunicativa ativa de tipo internacional, como produção

desejante real. Assim, o desejo comunicativo tende a desalienar-se e passar a

trabalhar na constituição de novos territórios e processos comunicativos

singularizantes.

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Notas

(1) É por isso que os meios de comunicação podem ser chamados de um “quarto poder”. Quem os controla, controla a vida em sociedade. Literalmente, hoje em dia, compreende-se e interpreta-se o mundo a partir do que se vê, ouve-se e lê-se nos meios de comunicação.

(2) ARISTÓTELES (1998, p. 5).

(3) DELEUZE, GUATTARI (1995, p. 28).

(4) Idem (p. 27).

(5) Idem (p. 20).

(6) MATURANA; VARELA (2001, p 233/4).

(7) MATURANA (1997, p. 175).

(8) Hannah Arendt (1989) segue de perto esta elaboração, sob o enfoque da arena política. Apenas o criminoso e o altruísta procuram fugir do conversar, porque este, para eles, torna-se perigoso, ou seja, revelador de si. (p. 192/3).

(9) MATURANA (19997, p. 175).

(10) Um pouco mais ou menos como a moeda, genial invenção ocorrida, segundo WEATHERFORD (1999, p. 30), entre os lídios há cerca de três milênios que tornou possível a existência de um mercado complexo, no qual não se precisava mais simplesmente trocar certas mercadorias por outras, mas cada mercadoria era capaz de possuir um valor de troca “abstrato” mensurável diante de outras mercadorias com seus valores específicos. Cada mercadoria, com a moeda, possuía exatamente um valor ou uma parcela de valor necessária para, no mercado mediado por ela, trocar por antigos pedaços do que seria outra mercadoria. A moeda é uma forma de imprimir valores abstratos às mercadorias; o que torna possível que cada mercadoria, relativamente ao seu valor, possa ser “trocada” por qualquer outra mercadoria. A moeda torna-se, então, um meio de equivalência geral para todos os produtos. Ela favorece o intercâmbio a distância, desterritorializa as mercadorias; os produtores e suas mercadorias abstraem o valor de seus bens e produtos e, através da moeda, torna-se possível a emergência de um mercado complexo, heterogêneo no qual todas as mercadorias são virtualmente trocadas por todas as mercadorias.

(11) MATURANA; VARELA (2001).

(12) AUSTIN (1990).

(13) MATURANA; VARELA (2001, p. 255).

(14) ARENDT (1989, p. 189).

(15) MORIN (1999, p. 53).

(16) MATURANA; VARELA (2001, p. 245).

(17) Idem (p. 247).

(18) Idem (p. 254).

(19) Idem (p. 254-6).

(20) CAPRA (1999, p. 227).

(21) PELBART (2000, p. 17).

(22) LÉVY (1994, cap. II). Para Pierre Lévy seriam, sinteticamente, três formas fundamentais a partir das quais a humanidade teria organizado suas “tecnologias da inteligência”, constituindo os “três tempos do espírito”. Seriam eles, primeiro, a “oralidade primária”, o tempo da linguagem oral; segundo, aquele baseado na linguagem “escrita”; e terceiro, aquele tempo baseado na “linguagem informática” e que ele chama também de “hipertexto”.

(23) Assim, foi durante um período considerável na história de nossa formação cultural – e observe-se – o mais longo período na história da civilização humana. Outros meios também foram inventados remotamente. A pintura, os cantos, o teatro, a música. Mas o meio essencial de comunicação entre os seres humanos era a palavra oral. E grande parte das relações sociais cotidianas eram praticamente todas determinadas por tal forma de comunicação.

(24) LÉVY (1994, p. 77).

(25) Idem (p. 78).

(26) Idem (p. 83).

24

(27) Idem (p. 89).

(28) Idem (p. 93).

(29) Idem (p. 88).

(30) Idem.

(31) LÉVY (http://www1.portoweb.com.br/pierrelevy/nossomos.html, em 20.03.2000).

(32) LÉVY (1994, P. 118/9).

(33) Balzac pretendia que o governo impusesse limites aos jornais de sua época. E tão fiel à verdade quanto brilhante na literatura, assiste-se em sua obra monumental Ilusões Perdidas, à crítica e ao desmascaramento do jornais de sua época como manipuladores da opinião pública.

(34) GUATTARI, ROLNIK (1986, p. 38).

(35) ROLNIK (1989, p. 116).

(36) Idem.

(37) Idem. (1989, p. 118).

(38) GUATTARI; ROLNIK (1986, p. 40).

(39) E há meios de comunicação que trabalham ainda mais no sentido de aprofundar ou simplesmente ser espelho de tal padronização.

(40) Uma galeria de grandes escritores e pensadores se posicionaram exatamente contra a imprensa de massas de suas épocas. Por exemplo Balzac, como foi dito, pedia uma intervenção governamental para deter os abusos da imprensa de sua época. Também Nietzsche é extremamente duro e radical quando trata da imprensa de massas em suas Considerações Extemporâneas. Proust, por sua vez, dizia que as pessoas que procuram a verdade nos jornais diários estão muito longe de a encontrarem. Para ele, a verdade estava nos livros. Outro exemplo do desprezo ou descrédito do jornal de massas encontra-se em O Retrato de Dorian Gray, o belíssimo romance de Oscar Wilde.

(41) CALVINO (1990, p. 72).

(42) Idem.

(43) Idem.

(44) Idem.

(45) Idem (1990, p. 73).

(46) LÉVY (1994, p. 44-45).

(47) CASTELLS (2001, p. 381).

(48) BERNERS-LEE (2000, p. 162). No original: “When I proposed the Web in 1989, the driving force I had in mind was communication through shared knowledge, and the driving “market” for it was collaboration among people at work and at home. By building a hypertext Web, a group of people of whatever size could easily express themselves, quickly acquire and convey knowledge, overcome misunderstandings, and reduce duplication of effort. This would give people in a group a new power to build something together. (...) The intention was that the Web be used as a personal information system, and a group tool on all scales, from the team of two creating a flyer for the local elementary scholl play to the world population deciding on ecological issues.” (Tradução: AZAMBUJA, C.; LOBO, T.).

(49) Idem (p. 162/3). No original: “...are just beginning to see the power the Web can bring inside their walls. Although it takes a little work to set up the access control for a corporate or family intranet, once that has been done the Web’s usefulness is accelerated, because the participants share a level of trust.” (Tradução: AZAMBUJA, C.; LOBO, T.).

(50) Idem (p. 165).

(51) Idem (p. 173). No original: “What Ari and I were trying to do was create a machine that would do the administration for, say, a court, or working group, or parliament. (...) There are now a number of software products for doing some of these things. To actually emulate a courtroom or a democratic voting process, however, the tools need much more development. I long for a move from argument by repetition of sound bites to a hypertext exposition that can be justified and challenged – one that will allow us to look up and compare, side by side, what politicians, or defendants and accusers, actually say, regardless of what is claimed in television commercials ans nightly news interviews.” (Tradução: AZAMBUJA, C.; LOBO, T.).

(52) Idem (p. 174). No original: “For example, they will allow us to conduct a national plebiscite whose cost would otherwise be prohibitive. This would, of course, like all the benefits of this new technology, be biased toward those with Internet access. This is just an example to show that we can reassess what is possible; I am not advocating a move from representative democracy to direct democracy. We should be careful not to do things just because they are possible.” (Tradução: AZAMBUJA, C.; LOBO, T.).

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