A Tradução Na Contemporaneidade a Retextualização Em Contextos Ead - Andressa Da Costa Farias
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Transcript of A Tradução Na Contemporaneidade a Retextualização Em Contextos Ead - Andressa Da Costa Farias
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Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Estudos da Traduo,
Departamento de Lngua e Literatura Estrangeiras,
do Centro de Comunicao e Expresso da
Universidade Federal de Santa Catarina, como
requisito para obteno do Ttulo de Mestre em
Estudos da Traduo.
Orientador: Ana Cludia de Souza
Florianpolis, 2013
A traduo na
contemporaneidade:
a retextualizao em
contextos EaD
Andressa da Costa Farias
Aborda a traduo para
alm do conceito
cannico. A traduo
analisada por meio dos
processos de
retextualizao
possveis em textos que
originam livros e
mdulos didticos
dentro de ambientes
virtuais de
aprendizagem em
contextos de Educao
a Distncia.
Orientadora:
Ana Cludia de Souza
Universidade Federal de
Santa Catarina
Programa de Ps-
Graduao em Estudos
da Traduo
www.pget.ufsc.br
Campus Universitrio
Trindade
Florianpolis- SC
20
13
Dissertao de Mestrado
Universidade Federal de Santa Catarina
Programa de Ps-Graduao em
Estudos da TraduaoA
tra
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Andressa da Costa Farias
A TRADUO NA CONTEMPORANEIDADE:
A RETEXTUALIZAO EM CONTEXTOS EaD
Dissertao submetida ao Programa de
Ps-Graduao em Estudos da
Traduo PGET da Universidade Federal de Santa Catarina para a
obteno do Grau de Mestre em
Estudos da Traduo.
Orientadora: Prof. Dr. Ana Cludia
de Souza
Florianpolis
Abril de 2013
-
Ficha de identificao da obra elaborada pelo autor, atravs do Programa de Gerao Automtica da Biblioteca Universitria da UFSC.
FARIAS, Andressa da Costa
A traduo na contemporaneidade : a retextualizao em contextos EaD / Andressa da Costa FARIAS ; orientadora, Ana Cludia de Souza - Florianpolis, SC, 2013.
116 p.
Dissertao (mestrado) - Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro de Comunicao e Expresso. Programa de Ps-
Graduao em Estudos da Traduo.
Inclui referncias
1. Estudos da Traduo. 2. Traduo. 3. Retextualizao.
4. Educao a Distncia. 5. Letras. I. Souza, Ana Cludia de . II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Ps-Graduao em Estudos da Traduo. III. Ttulo.
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Andressa da Costa Farias
A TRADUO NA CONTEMPORANEIDADE:
A RETEXTUALIZAO EM CONTEXTOS EaD
Esta Dissertao foi julgada adequada para obteno do Ttulo de
Mestre, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Ps-Graduao em Estudos da Traduo.
Florianpolis, 30 de abril de 2013.
________________________
Prof. Andria Guerini, Dr.
Coordenadora do Curso
Banca Examinadora:
________________________
Prof. Ana Cludia de Souza, Dr.
Orientadora
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Rejane Crohar Dania, Dr.
Universidade do Estado de Santa Catarina
________________________
Prof.Marcos Antnio Rocha Baltar, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina
________________________
Prof. Maria Jos Damiani Costa, Dr.
Universidade Federal de Santa Catarina
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minha filha Gisella, que soube
entender algumas ausncias devido
pesquisa. Desejo que os bons
exemplos da academia a guiem para a
vida.
-
AGRADECIMENTOS
sempre difcil citar pessoas, instituies e entidades na parte
dos agradecimentos, pelo risco de esquecer-se de algum ou de alguma
coisa. No entanto, vou me esforar para que isso no ocorra. E, se
ocorrer, j peo perdo antecipadamente.
Agradeo, primeiramente, a vontade incansvel de continuar
estudando que s permanece firme pela f em Deus e na vida;
experincia acumulada no Ensino na modalidade a distncia,
atravs da Universidade Aberta do Brasil (UAB) pela Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal de Santa
Catarina (UFSC) e Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).
A todos os colegas docentes, professores, tutores, equipe tcnica,
que se envolveram comigo no decorrer do curso de Educao Integral e
Integrada pela UAB-UFSC entre o perodo de 2009 e 2010, em especial
aos professores autores dos mdulos analisados na pesquisa;
CAPES pela bolsa de mestrado;
Ao grupo de pesquisa TRAC (Traduo e Cultura) da UFSC, pelo
convite para participao de alguns encontros e seminrios, o que me
possibilitou conhecer melhor as teorias importantes na Traduo;
Aos professores convidados para a banca: prof. Rejane, prof.
Maria Jos e prof. Marcos por aceitarem ler com ateno a pesquisa e
fazer parte deste processo. E, carinhosamente, prof. Meta E. Zipser,
por ter apresentado a teoria funcionalista nas aulas do mestrado e nas
suas publicaes cientficas;
prof. Ana Cludia, pelo incentivo realizao da ps-
graduao, pela crena de que a pesquisa era relevante para o meio
acadmico, por sua amizade, pacincia comigo e dedicao nas
inmeras revises realizadas;
s amigas Nair Rodrigues Resende e Maria Helena Fvaro pelas
contribuies dadas na reviso final do texto e no Abstrat,
respectivamente;
Pela existncia de minha famlia, que fonte de amor que me faz
firme e feliz. Agradeo principalmente minha av Nercy (in memorian), meus irmos Juliano e Thomaz, meus pais Selvanir e Gilceu Roque, e,
em especial, minha filha Gisella.
A todos que direta ou indiretamente contriburam com conselho,
amizade e troca de experincia.
-
O Mestrado em Traduo me fez refletir
sobre estarmos sempre traduzindo algo. A
traduo vai alm da palavra verbal escrita.
Pode ser uma ideia, um gesto, um
comportamento e at os silncios. O tradutor
, antes de tudo, um desbravador de mundos.
Andressa da Costa Farias
-
RESUMO
Esta pesquisa aborda a traduo para alm do conceito cannico. Neste
estudo, a traduo analisada por meio dos processos de retextualizao
possveis em textos que originaram livros e mdulos didticos dentro de
ambientes virtuais de aprendizagem acessados pela internet. O corpus de pesquisa consistiu em dois mdulos didticos que fizeram parte do
eixo programtico do Curso de Aperfeioamento em Educao Integral
e Integrada, oferecido pela Universidade Aberta do Brasil (UAB) e
implementadopela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
entre os anos de 2009 e 2010. Embasou teoricamente a anlise tradutria
a corrente funcionalista proposta por Christiane Nord (1999) e a
considerao da retextualizao como traduo trazida por Travaglia
(2003), bem como a lingustica textual a partir dos conceitos de texto e
hipertexto no que concerne anlise textual. Constatou-se atravs da
anlise dos dados que a retextualizao necessria no que tange s
publicaes em contexto de Educao a Distncia tanto para livro digital
quanto para mdulo no AVEA. Na maioria das vezes, os autores de
materiais didticos para EaD no esto familiarizados com a linguagem
verbal-escrita e visual utilizadas em tais sistemticas, j que se trata de
material com vistas aprendizagem para um pblico que no est
presente fisicamente. A tendncia, ao produzir material didtico,
ancorar a experincia no ensino presencial. Pretendeu-se demonstrar que
contemporaneamente a traduo pode ser vislumbrada para alm do
conceito tradicional de que s h traduo a partir de uma lngua X para
uma lngua Y. A pesquisa mostra outras possibilidades de
traduo,como os processos de retextualizao que ocorrem em
publicaes digitais para que textos didticos circulem em contextos de
EaD.
Palavras-chave: traduo, retextualizao, educao a distncia
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ABSTRACT
This research approaches the translation beyond the canonical concept.
In this survey, the translation is analyzed through possible
retextualization processes in texts that originated didactics books and
modules inside virtual learning environments (VLE) accessed through
the online network. The research corpus consisted of two didactic
modules that made part of the programmatic axis of the Curso de
Aperfeioamento em Educao Integral e Integrada offered by
Universidade Aberta do Brasil (UAB) and implemented by
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) between 2009 and
2010. The translational analysis was theoretically based on the
functionalist flow proposed by Christiane Nord (1999) and on
Travaglias (2003), as well as text linguistics consideration of retextualization as translation, as well as the texts and hypertexts
concepts that concern the textual analysis. Throughout the analyzed
data, it was verified that retextualization is necessary in case of
publications in distance learning (DL) context, both in digital books and
in virtual learning platforms (VLP). In most cases, the authors of
didactic materials for this learning modality arenot familiar with the
verbal-written and visuallanguage commonly used in this systematics,
once these materials are aimed for the learning process of a non-
physically present public. Didactic materials production tends to be
based on presential education experience. This research intended to
demonstrate that, contemporane ously, the translation could go beyond
the traditional concept that there is only translation from an X language
to a Y language. Research shows other possibilities of translation, as
there textualization processes that occur in digital publications so that
teaching texts circulate in the context ofdistance learning (DL).
Key-words: translation, retextualization, distance learning.
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LISTA DE ABREVIATURAS
EaD- Educao a Distncia
FDNE- Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao
IES- Instituio de Ensino Superior
IFPA- Instituto Federal do Par
UAB-Universidade Aberta do Brasil
UEMS- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina
UFG- Universidade Federal de Gois
UFPR- Universidade Federal do Paran
UNIMONTES- Universidade Estadual de Montes Claros
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Parte da visualizao do texto-fonte A .............................................. 57 Figura 2- Parte da visualizao do texto-meta A disponvel atravs de acesso a
links no AVEA .................................................................................................. 57 Figura 3- Retextualizao no texto-fonte A em relao insero dos Objetivos
do Mdulo ........................................................................................................ 63 Figura 4- Publicao e insero dos Objetivos do Mdulo no texto-meta A livro digital A.................................................................................................... 64 Figura 5- Indicao do Glossrio para no texto-fonte A ................................... 64 Figura 6- Indicao do Glossrio no texto meta A ........................................... 64 Figura 7- A indicao de retextualizao para o SAIBA MAIS no texto fonte A
.......................................................................................................................... 65 Figura 8- Indicao de SAIBA MAIS no texto-meta A .................................... 65 Figura 9-Texto-fonte A em relao a atividades de aprendizagem
.......................................................................................................................... 67 Figura 10- O texto-meta A como um todo no AVEA ....................................... 69 Figura 11- Texto fonte-A exemplo de retextualizao inicial para a parte de
Glossrio.
.......................................................................................................................... 70 Figura 12- Texto Meta-A exemplo de retextualizao para Glossrio no AVEA
.......................................................................................................................... 71 Figura 13- Indicao de retextualizao para Saiba Mais no texto-fonte A Publicaes para a Webteca .............................................................................. 71 Figura 14- Indicao da retextualizao para Webteca- publicao do texto
meta-A no AVEA ............................................................................................. 72 Figura 15- Link para acesso do texto Mapas Conceituais indicado na retextualizao do texto-fonte e publicao no texto-meta ............................... 72 Figura 16- Retextualizao aplicada para a parte das Atividades de
aprendizagem no texto-fonte A ......................................................................... 73 Figura 17- Retextualizao aplicada para a parte das Atividades de
aprendizagem no texto-meta A ......................................................................... 74 Figura 18- Publicao do texto-meta A referente ao restante das Atividades de Aprendizagem no AVEA ................................................................................ 75 Figura 19- Parte do texto-meta A no Cybercaf anlogo a funo frum de discusso ........................................................................................................... 76 Figura 20- Parte do texto-meta A relacionado a atividades de aprendizagem-
frum de discusso do mdulo I ....................................................................... 77 Figura 21- Publicao texto-meta A relacionado parte das contribuies
verbais escritas do frum de discusso do mdulo I ......................................... 78 Figura 22- Texto meta-A como publicao das orientaes para respostas no
questionrio ..................................................................................................... 78 Figura 23- Texto meta-A como publicao das opes de respostas no
questionrio ...................................................................................................... 79
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Figura 24- Texto meta-A publicao do chat do mdulo I ............................... 80 Figura 25- O texto-meta A na parte em que a publicao toma forma de
videoconferncia ............................................................................................ 82 Figura 26- Texto fonte B para Apresentao ................................................... 82 Figura 27- Texto-meta B para a Apresentao ........................................... 84 Figura 28- Texto-fonte B para Saiba Mais ....................................................... 84 Figura 29-Texto meta-B para Saiba mais .................................................... 85 Figura 30- Texto-fonte B para Ilustrao ......................................................... 86 Figura 31- Texto-meta B para Ilustrao .......................................................... 87 Figura 32- Texto-fonte B para citao .............................................................. 87
Figura 33- Texto-meta B para Ilustrao .......................................................... 95
Figura 34- Retextualizao do texto-fonte B para Frum ............................... 101
Figura 35- Retextualizao do texto-meta B para FRUM............................ 102
Figura 36-Interao verbal escrita no FRUM .............................................. 103
Figura 37- A retextualizao do texto-fonte B para atividade no AVEA ....... 103
Figura 38- Texto-fonte B para atividade no AVEA ........................................ 104
Figura 39- Texto-meta B envio de tarefa .................................................... 105 Figura 40- O acesso s videoaulas no texto-meta B ...................................... 105
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LISTA DE TABELA
Tabela 1- Modelo de Christiane Nord .............................................................. 31 Tabela 2- Distribuio da elaborao dos Mdulos .......................................... 47 Tabela 3- Distribuio da elaborao dos Mdulos no curso EII-UAB-UFSC 49
Tabela 4- Aplicao tabela Nord para texto-fonte e texto-meta livro didtico
.......................................................................................................................... 58 Tabela 5- Aplicao tabela NORD para texto-fonte B e texto-meta B como
mdulo didtico no AVEA ............................................................................... 96
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SUMRIO
1 INTRODUO ................................................................................. 23 2 REVISO DA LITERATURA .......................................................... 29
2.1 A Traduo a partir da Teoria Funcionalista ............................... 29 2.2 Traduo como Retextualizao ................................................. 33 2.3 Texto e Hipertexto ...................................................................... 37
3 O CURSO EII-EAD-UFSC ................................................................ 43 4 MTODO ........................................................................................... 55 5 ANLISE E DISCUSSO DOS DADOS......................................... 55
5.1 A retextualizao do texto fonte A para texto-meta A enquanto
publicao de livro didtico de acesso digital ................................... 56
5.2 Mdulo A- a retextualizao do texto fonte A para o texto-meta A
publicado atravs de mdulo no AVEA............................................ 69
5.3 Mdulo B- a retextualizao do texto fonte B para o texto-meta B
enquanto publicao de livro didtico de acesso digital ................... 81 5.4 Anlise e discusso do texto-fonte para o texto-meta livro digital-
mdulos A e B .................................................................................. 91 5.5 A retextualizao do texto-fonte B para texto-meta B como
mdulo didtico no AVEA ............................................................... 94
5.6 Anlise e discusso do texto-fonte para o texto-meta mdulo
didtico no AVEA- mdulos A e B ................................................ 106 6 CONSIDERAES FINAIS ........................................................... 109
REFERNCIAS .................................................................................. 109
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1 INTRODUO
A presente pesquisa surgiu do questionamento acerca do que
traduo e de quais processos comumente so aceitos como tradutrios.
Estaria a traduo contempornea inscrita somente na noo que se tem
de que traduo a passagem de um texto,seja ele oral ou escrito, de
uma lngua de partida para outra (de chegada)?
Percebeu-se que oconceito cannico de traduo muito forte,
inclusive na academia, restringindo a traduo muitas vezes ao sentido
mais estrito do termo, ou seja, entendendo-a somente como passagem ou
transferncia de uma mensagem verbal (seja oral ou escrita) de uma
lngua outra, tal como explicitam as passagens abaixo:
Traduo um processo de substituio de um
texto em uma lngua por um texto em outra
lngua. (HOUSE,2004, p.4)1
[...] uma traduo deve se apoiar em conjecturas e
s depois de ter elaborado uma conjectura que
parea plausvel o tradutor pode proceder verso
do texto de uma lngua outra. (ECO, 2007,
p.50).
Porm, havia uma intuio da pesquisadora de que traduo
poderia ser muito mais do que essa simples transferncia. Isso, de fato,
acabou se confirmando em duas disciplinas cursadas na PGET, em
2011: Tpicos Especiais - a Traduo e suas Prticas Sociais e Texto, Contexto e Traduo.
Por meio de leituras, seminrios eaulas expositivas, notou-se que
a atividade tradutria est cada vez mais permeando as diversas reas do
saber humano. Uma das abordagens dentro dos Estudos da Traduo
que contribui para essa anlise a teoria funcionalista proposta por
Christiane Nord (1991), que salienta a importncia da tipologia textual
para a atividade tradutria. A autora tem como influncia acontribuio
de Hans Vermeer (1986), que prope a considerao do Skopos (palavra que, em grego, significa propsito) no exerccio tradutrio, sem o qual
1O excerto citado foi traduzido para a lngua portuguesa pela autora desta
pesquisa.
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24
os caminhos a serem tomados pelo tradutor se apresentam infinitos e
sem muita perspectiva.
Nord (1991) analisa prospectivamente a traduo, focando o
receptor da mensagem, ou seja, ela entende que o texto traduzido deve
ser adequado para a cultura de chegada, a fim de cumprir a funo a ele
atribuda, que a de atingir pblico leitor. A traduo deve estar voltada
a um leitor em prospeco.
Considerando a perspectiva funcionalista para a realizao de
traduo, procuramos investigar se h traduo na produo de material
didtico num contexto de ensino realizado a distncia. Assim, norteou a
investigao a seguinte indagao: Os textos produzidos para material
didticos em EaD passam por algum processo tradutrio? Em caso
positivo, como acontece tal processo e qual o resultado obtido?
Assumindo tal abordagem prospectiva, a pesquisa tem por objeto
de investigao os processos e produtos da retextualizao de textos
didticos para Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVEA) no contexto
de educaoa distncia, sendo essa retextualizao aqui entendida como
atividade tradutria. Especificamente, prope-se analisar os textos-meta,
disponibilizados on-line, luz dos textos-fonte off-line, produzidos para dois mdulos do Curso de Aperfeioamento em Educao Integral e
Integrada a distncia da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC), atravs da Universidade Aberta do Brasil (UAB), entre 2009 e
2010.
Os processos de retextualizao podem ser definidos como a
traduo do texto-fonte, que verbal digital off-line, para o texto-meta,
que o verbal digital on-line um hipertexto. Ou seja, considera-se, para
fins de anlise, toda modificao realizada para que o texto-fonte se
transforme no texto-meta, um texto coerente com os propsitos de
publicao em AVEA considerando o pblico leitor a ser atingido.
Segundo o MEC, os referenciais para material web e AVEA tm
como objetivo trabalhar a transposio e complementao do contedo
do material impresso para um ambiente virtual, reorganizando estruturas
e significados ao integrar diferentes mdias e possibilitar a interao do
aprendiz com o contedo. Os ambientes virtuais permitem o
armazenamento, administrao e disponibilizao de contedos no
formato Web, tais como aulas virtuais, objetos de aprendizagem,
simuladores, fruns, salas de bate-papo, conexes a materiais externos,
atividades interativas, tarefas virtuais, animaes, textos colaborativos
(wiki), etc.
A realizao desta investigao foi baseada na anlise de dois
mdulos curriculares (mdulo A e mdulo B) aos quais ainda se possua
-
25
acesso, embora restrito2. As reas de conhecimento em que se
inscrevem tais mdulos so: A) introduo educao a distncia e B)
pedagogia cultural vinculada a temas e questes das cincias naturais. A escolha desse corpus levou em considerao a experincia de
atuao desta pesquisadora no curso, exercendo a funo de designer
instrucional. Esta funo promove a integrao e o dilogo dos agentes
envolvidos no processo (professores autores, designers, diagramadores,
tcnicos) e, entre tantas outras tarefas, conhece e sabe tratar das
especificidades na elaborao de materiais didticos para tal modalidade
de educao.
A publicao digital off-line consiste no texto ainda no
publicado em Ambiente Virtual de Aprendizagem do EaD, ou seja, nos
textos que serviram como base para a configurao dos mdulos
publicados na rede AVEA. Mesmo sendo off-line, so denominados digitais, pois so textos apresentados por meio de editor de texto, como
Microsoft Word, enviados por e-mail pelos autores ao designer instrucional do curso, que os l na tela do computador antes de comear
o processo de retextualizao para a criao do texto verbal digital on-
line. A publicao digital on-line consiste no texto j publicado em
Ambiente Virtual de Aprendizagem do EaD, ou seja, no material j
retextualizado para o acesso dos estudantes. A partir do texto-meta, que
se configura em pdf, so gerados outros textos, denominados hipertextos
que so multimodais, constitudos tambm por links de vdeos, animaes, e fazem parte do o material didtico do mdulo publicado
emambiente virtual.
Constatou-se que o material didtico publicado no AVEA passou
por dois processos de retextualizao. O primeiro consistiu na
retextualizao do texto fonte para texto meta enquanto publicao em
livro didtico (pdf), cujo acesso se deu por um link no AVEA. O outro
partiu tambm do texto-fonte para o texto-meta no formato do prprio
2Acesso restrito no que concerne entrada no curso por meio do AVEA, visto
que s alunos, professores, tutores, gerenciadores de rede, devidamente
identificados via matrcula, conseguem participar e interagir no curso. Isso
tambm ocorre em curso regular presencial, j que as instituies recebem os
alunos para participarem de aulas atravs de uma matrcula previamente
realizada. Tanto nos cursos a distncia, quanto nos presenciais, saber a
quantidade de alunos e sua procedncia de extrema importncia para
organizao didtica e curricular.
-
26
mdulo didtico no AVEA. Ento, os textos-meta se materializam como
(1) livro didtico e (2) mdulo didtico, respectivamente.
A traduo, dentro dessa perspectiva, deve resultar em um texto
coerente com o propsito a ele atribudo. Acredita-se que o processo de
retextualizao, no contexto de Educao a Distncia, objetiva que, a
partir do texto-fonte, o texto-meta seja adequado ao propsito principal,
didtico e/ou instrucional para o pblico-alvo que deve atingir.
Dessa forma, considerando esse processo, para embasamento
terico desta pesquisa, assume-se a teoria funcionalista proposta por
Nord (1991), a retextualizao como traduo (TRAVAGLIA, 2003) e a
lingustica textual no que tange ao conceito de texto e hipertexto. Estas
teorias permitiram pensar o processo pelo qual passou o texto na
dualidade da publicao digital off-line e publicao digital on-line.
A escolha deste tema considerou o crescimento da demanda de
cursos de formao acadmica em nvel de extenso, graduao e ps-
graduao EaD pela UAB, que est presente na UFSC. E a crescente
demanda de produo de material didtico, que constantemente passa
por processos de retextualizao.
Por meio desta investigao, objetiva-se contribuir com o
desenvolvimento de pesquisas cientficas que foquem a anlise
interpretativa e funcionalista da traduo tendo como objetivos
especficos: (1) analisar o processo de retextualizao pelo qual
passaram os textos para publicao em EaD dentro de uma perspectiva
de traduo; e (2) definir as caractersticas e especificidades do processo
tradutrio dentro da dualidade texto-fonte texto-meta considerando: autor, contexto de produo e pblico leitor.
Para a apresentao da pesquisa, este texto foi organizado da
seguinte maneira: o captulo I apresenta a introduo. No captulo II,
discute-se a reviso da literatura na apresentao dos conceitos da teoria
funcionalista a partir de Nord (1991), da traduo como retextualizao
proposta por Travaglia (2003) e da lingustica textual no em relao aos
conceitos de texto e hipertexto.
O captulo III apresenta o desenvolvimento do contexto de oferta
e funcionamento do Curso de Extenso em Educao Integral e
Integrada na modalidade EaD entre o perodo compreendido aos anos
de 2009 e 2010.
No captulo IV, discute-se o mtodo empregado na pesquisa.
Nesse captulo, so elencadas as justificativas de escolha de dois dos dez
mdulos presentes no Curso EII-UAB-UFSC e os critrios para a
anlise do processo de retextualizao no que concerne ao texto digital
off-line (fonte) e ao texto digital on-line (meta).
-
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O captulo V apresenta a anlise do processo de retextualizao
dos mdulos A e B, relacionando-os com as contribuies da teoria
funcionalista, com a noo de texto e hipertexto, e com a atribuio da
retextualizao como processo de traduo. E, por fim, no captulo VI,
expe as consideraes finais.
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28
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2 REVISO DA LITERATURA
Este captulo aborda trs perspectivas tericas que do suporte
retextualizao como um processo tradutrio: a teoria funcionalista
proposta por Nord (1991), a traduo como retextualizao de Travaglia
(2003) e a lingustica textual em relao aos conceitos de texto e
hipertexto segundo Schmidt (1978), Xavier (2003), Bentes (2008),
Marcuschi (2008), Koch (2009) e Gomes (2011). Tais perspectivas so
fundamentais ao entendimento do processo tradutrio do texto-fonte
para o texto-meta, objetos de pesquisa nesta dissertao.
2.1 A traduo segundo a teoria funcionalista
A teoria funcionalista proposta por Nord (1991) tem como foco
do processo tradutrio o leitor final. ele quem definir as estratgias
que so adotadas na traduo, ou seja, o pblico alvo o eixo norteador
da prtica tradutria.
Nordentendea atividade dinmica da traduo como processo e
produto. A traduo vista como ao, eoreceptor-destinatrio,comoo
elemento-chave da traduo. para ele que as atenes devem se voltar.
O resultado do texto traduzido se direciona para o contexto do receptor,
destinatrio.
Essa perspectiva de anlise da traduo coloca os trabalhos de
Nord em sintonia com as teorias que interagem com a lingustica do
texto (lingustica textual) e com os modelos funcionalistas da
linguagem, para os quais a funo da forma lingustica desempenha, no
ato comunicativo, papel relevante.
Desde a dcada de 1980, a autora trabalha um modelo lingustico-
textual voltado traduo a partir de um processo de comunicao
intercultural, no qual o tradutor deve levar em considerao aspectos
registrados nos textos de partida e nos textos de chegada. Essa uma
perspectiva em que o tradutor deve buscar perceber a inteno do autor
no texto-fonte para adequar a traduo do texto-meta, fazendo com que
o propsito do autor chegue ao leitor final do texto traduzido. E, para
tanto, muitas vezes, o texto-meta retextualizado completamente.
Termos e expresses so substitudos por outros de equivalncia
parecida, para que sejam mais bem compreendidos pelo receptor.
Dentro dessa concepo de traduo, importante o
reconhecimento da existncia de uma situao comunicativa para a
identificao da funo de um texto, ou seja, de uma traduo. Para
Nord (1991), necessrio reconhecer que os textos so instrumentos de
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comunicao que se inserem em uma situao ou jogo comunicativo. O
emissor tem sempre uma inteno comunicativa ao realizar a ao de
elaborar/redigir um texto, porm o objetivo da comunicao s se
completar se atingir o receptor do escrito.
Refora-se o papel fundamental que exerce o destinatrio na
perspectiva de anlise do texto voltado para a traduo. O funcionalismo
nordiano considera a traduo como um processo eminentemente
prospectivo (NORD, 1991), ou seja, voltado para o destinatrio que quer
atingir. um processo dinmico de lealdade com o destinatrio que se
distancia da noo da traduo como um processo de fidelidade ao
texto-fonte.
O produto da traduo, ou seja, o texto traduzido, no precisa
necessariamente se dar em idioma distinto. A teoria funcionalista
engloba o trabalho de traduo tanto a partir de textos escritos em
lnguas/idiomas diferentes, ou seja, interlingustico, quanto de textos
escritos na mesma lngua, intralingustico.
A autora da teoria funcionalista aplicada traduo aqui citada
recebeu grande influncia dos trabalhos de Veermer (1995), que
postulou, sobretudo, que a traduo deve ser sempre um ato em que a
inteno de comunicar esteja presente no texto de chegada. E para tal,
mister que a traduo se volte ao objetivo, inteno, ao destino que
se d ao texto e aos movimentos de seu leitor. Neste sentido, vai de
encontro s teorias mais tradicionais de traduo, que postulam a
fidelidade ao texto de partida. Para Veemer (1985), a ateno deve
voltar-se produo do texto de chegada e no reproduo do texto de
partida.
A partir de tal influncia terica, o modelo de Nord visa
categorizar os elementos presentes no texto e nortear as estratgias
tradutrias adotadas durante o processo de traduo, tendo como
principal objetivo que os tradutores entendam a funo dos elementos
ou caractersticas observadas no contedo e na estrutura do texto-fonte
para escolher as estratgias mais adequadas ao propsito pretendido de
traduo.
Ento, Nord (1991) elabora um modelo didtico que tem como
propsito servir de eixo norteador para o acesso funo dos textos
fonte e meta, alm de servir como guia para as escolhas tradutrias e
para a resoluo de dvidas que possam surgir no decorrer do processo
de traduo.
Mostra-se a seguir o modelo de Nord, a partir da tese de
doutorado de Zipser (2002), onde se apresentam os fatores extra e
intratextuais (traduzidos para o portugus) (Tab. 1).
-
31
Tabela 1- Modelo de ChistianeNord (ZIPSER, 2002)
MODELO DE CHRISTIANE NORD
TEXTO-FONTE
TEXTO-META
TEXTO-
FONTE
QUESTES DE
TRADUO
TEXTO-
ALVO3
FATORES EXTERNOS AO TEXTO
Emissor
Inteno
Receptor
Meio
Lugar
Tempo
Propsito (motivo)
Funo textual
FATORES INTERNOS AO TEXTO
Tema
Contedo
Pressuposies
Estruturao
Elementos no-
verbais
Lxico
Sintaxe
Elementos supra-
segmentais
Efeito do texto
Nord prope um modelo que contempla a anlise dos fatores
internos e externos do texto, a fim de ajudar, no processo de traduo, a
identificar no texto a ser traduzido a sua funo textual e os elementos
especficos contidos nele. Como fatores externos ao texto, ela prope
verificar: propsito comunicativo, meio, lugar, tempo, emissor e papel
do emissor. Quanto aos fatores internos, a autora aponta: tema,
contedo, estrutura textual, pressuposio, lxico e sintaxe, marcas
suprassegmentais e marcas no verbais.
Todos ou a maioria dos itens devem ser considerados. A
identificao da totalidade ou ao menos de alguns destes elementos
3Nord (1991) apresenta como texto-alvo o que chamamos de texto meta
nesta pesquisa em especfico.
-
32
fornece subsdios aos quais o tradutor pode se reportar para basear suas
escolhas tradutrias. O modelo serve de guia ao realizar a traduo do
texto-fonte para o texto-meta.
Conforme Zipser (2002), interessante que a tabela seja aplicada
tanto ao texto-fonte quanto ao texto-meta para que sirva de modelo de
comparao e orientao na traduo. Sugere ainda que a anlise do
texto a ser traduzido comece pelos elementos externos e,
posteriormente, chegue aos elementos internos, mais pontuais. Assim,
os elementos externos daro a moldura necessria para as escolhas dos elementos internos. A juno dos elementos externos e internos ao
texto oferecem subsdios para definio do propsito do texto traduzido,
da funo do texto (skopos).
Dessa forma, brevemente, procuro esboar a contribuio
funcionalista para anlise do processo de retextualizao com a
apresentao da tabela proposta por Nord (1991), pois considero
tambm o leitor final como o elemento norteador para as escolhas
realizadas no ato tradutrio. Para isso, a anlise dos elementos internos e
externos do texto fundamental para o processo ser realizado com xito.
Essa teoria considera que todo texto possui uma inteno
comunicativa, e para atingir esta inteno geralmente ele precisa antes
ser retextualizado. o que ocorre com textos apresentados em
ambientes digitais em contexto de EaD, conforme mostraremos na
sequncia desta pesquisa. O idioma no muda, mas a dinmica de
publicao sim (o texto passa de off-line para on-line), fazendo com que seu estilo e sua materialidade se alterem para que atinja os propsitos
almejados.
A partir disso, o funcionalismo nordiano uma teoria que vai ao
encontro do propsito de anlise do processo de retextualizao
focalizado nesta pesquisa. O leitor, ou seja, o cursista o fator-chave
para que se justifique todo processo tradutrio presente na dinmica de
retextualizao do texto verbal digital off-line para o on-line. Para
melhor entendimento desta dinmica importante definirmos como a
perspectiva da traduo como retextualizao.
-
33
2.2 Traduo como retextualizao
Travaglia (2003) prope, em perspectiva textual, a traduo
compreendida e analisada como um processo de retextualizao,
argumentando que abordagens mais modernas da traduo consideram
que no se traduzem lnguas, mas textos (MOSCOWITZ,1972;
MESCHONNIC,1973). Embora a abordagem assumida pela
pesquisadora citada parea considerar apenas a retextualizao
interlingustica, os fundamentos por ela apresentados parecem se aplicar
tambm traduo intralingustica.
Outro argumento em favor da abordagem da retextualizao
remete considerao de que a traduo deve ter como foco principal a
transposio de ideias, a busca de equivalncias, a captao e expresso
da mensagem alheia. Assim, o tradutor deve aciona os elementos de
textualidade para produo do texto-meta, que foram antes acionados
pelo autor na produo do texto-fonte. A textualidade envolve a
inteno comunicativa, as operaes predicativas, as enunciativas e a
reviso crtica.
Para que haja satisfatoriedade no processo tradutrio, importam
os seguintes aspectos ou etapas indissociveis: a busca pela inteno
comunicativa do autor do texto original, a leitura do texto-fonte, a
reconstruo do sentido do texto pelo leitor-tradutor e a sua
(re)construo para a escrita do texto-meta. Conforme sugere a citao a
seguir, tais aspectos no exigem linearidade, podendo operar
concomitantemente:
Muitas vezes nem mesmo fsica e temporalmente
o tradutor separa estas etapas: enquanto vai lendo
o texto e sua compreenso vai invadindo o estgio
da traduo ele j vai tomando suas notas,
traduzindo, compondo seu texto e quando est na
etapa tradutria propriamente dita, suas releituras
e sua volta ao texto como um todo vo
modificando, traado a retextualizao na lngua
de chegada. (TRAVAGLIA, 2003, p.73)
A retextualizao envolve tambm fatores de coerncia na produo do texto, os quais permitem o estabelecimento de um sentido
em um determinado tempo e espao para o leitor. Assim, a autora afirma
que a retextualizao depende diretamente das condies de produo
-
34
do discurso e dos fatores de coerncia do texto lido e produzido, ou seja,
dos critrios de textualidade.
Alguns dos critrios explorados por Travaglia (2003) para a
definio de textualidade so: conhecimento lingustico, conhecimento
de mundo, inferncia e focalizao, conhecimento partilhado,
relevncia, informatividade, intertextualidade, intencionalidade e
aceitabilidade do texto pelo receptor, e situacionalidade. Segundo a
pesquisadora, o que acontece no processo de retextualizao para
traduo equivalente ao processo de produo de qualquer texto em
que o tradutor constri o sentido a partir de um texto original; dessa
forma o sentido construdo por ele transforma-se na sua inteno
comunicativa para, enfim, planejar a traduo do texto em sua
totalidade. Para tal, busca elementos que constituem a textualidade do
original, bem como procura estabelecer coerncia entre o original e a
traduo para realizar a parte palpvel da traduo a retextualizao. O ato tradutrio como retextualizao indica que o tradutor
precisa reconstruir o sentido do texto para elaborar uma nova sequncia
lingustica que permita, na lngua de chegada, efeitos de sentido
coerentes com os sentidos presentes no texto original.
Parte-se do pressuposto de que o tradutor tem um objeto palpvel,
um material concreto, constitudo por um corpus delimitado, com incio
e fim delineados, o texto em si. Da realidade lingustica concreta na qual
o texto se apresenta, se acionam outros mecanismos necessrios para a
textualizao. O tradutor comea o seu trabalho pela reconstruo dos
sentidos, por meio dos elementos lingusticos de que dispe.
importante salientar que no vamos nesta pesquisa desenvolver
longamente o que seria cada elemento, mas vamos apresentar
brevemente o que prope a autora sobre o processo.
importante, por exemplo, para melhor compreenso e
interpretao do texto a ser traduzido,o conhecimento de mundo que o
tradutor possui. Esse conhecimento relevante para elaborao de
inferncias, para a identificao do grau de informatividade do texto em
relao ao contexto histrico, cultural e social, e tambm para a forma
como se relaciona com outros textos j existentes. O conhecimento de
mundo o resultado das vivncias, leituras epesquisas j realizadas pelo
tradutor.
Segundo Travaglia (2003), a inferncia consiste nas relaes
entre os componentes que fazem parte da reconstruo do sentido de um
texto, ocorrendo tanto de maneira explcita quanto implcita
(pressupostos e subentendidos) entre os elementos expressos no
texto.Assim, as inferncias que o leitor-tradutor fizer no permanecero
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35
apenas para si, provavelmente, sero repassadas, retextualizadas. Logo,
tanto os pressupostos quanto os subentendidos realizados pelo tradutor
vo passar de um texto para outro (do texto-fonte para o texto-meta).
A focalizao, que est relacionada com conhecimento partilhado
e com conhecimento de mundo, a rea do conhecimento em que os sujeitos da comunicao se concentram, considerando-a sob uma
determinada perspectiva[...] (TRAVAGLIA, 2003, p.87). Faz com que um mesmo texto possa ser explorado de diversas maneiras, a partir das
mais diferentes abordagens sobre um mesmo assunto, sob foco poltico,
filosfico, social, etc. Assim, o texto traduzido reflete o que o tradutor
focalizou.
O conhecimento partilhado o item por meio do qual se julga se
o leitor/tradutor tem condies de compreender o texto a ser
retextualizado. O leitor deve conseguir se situar no circuito de
conhecimentos partilhados com o produtor do texto, para interpret-lo
adequadamente.
Outro fator elencado de textualidade a relevncia do texto. A
relevncia discursiva um elemento primordial, pois permite que se
reconstitua o sentido. Na traduo, esse item est ligado, sobretudo, aos
conhecimentos partilhados entre as duas culturas em questo. Outro
fator a se considerar a informatividade textual. As informaes
contidas em um texto so captadas pelos receptores de maneiras
diferentes; para alguns leitores, a informao pode ser nova, ou
inesperada; por vezes, pode ser previsvel.
O grau de previsibilidade importante na traduo uma vez que
permite ao tradutor, estando entre dois textos, ter condies de saber e
prever o que constar como esperado e como no esperado no texto que
ir traduzir.
A intertextualidade consiste na relao que se faz presente entre
textos a partir de um determinado texto. Geralmente, depende do
conhecimento dos leitores a respeito do uso de outros textos no texto
traduzido. Travaglia (2003) define a intertextualidade como a relao
presente entre um texto com outros textos j existentes, referncia ao
conjunto de outros textos possveis numa dada condio de produo
textual, ou ainda, no isolamento textual, uma vez que um texto
originrio de outros aos quais ele remete. A partir desse pressuposto
terico, entende-se que os textos fonte e meta so intertextuais entre si.
A autora estabelece para esta relao que:
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36
Pensamos que a relao entre original e traduo
a forma de intertextualidade por excelncia, uma
vez que na traduo no se repete o original, e o
que est em jogo no so citaes, inseres de
trechos dentro de outro texto, ou colagens; a
traduo uma forma de retextualizao de uma
forma-sentido que d como resultado um mesmo/outro texto, isto , uma mesma/outra
forma-sentido. (TRAVAGLIA, 2003, p.105)
Desse modo, a intertextualidade na traduo tem de representar
uma forma de concretizao de um texto em outro, em que um texto
absorvido, ocupado, inserido em outro texto e isso possibilita um
intercmbio entre dois mundos textuais.
A aceitabilidade e a intencionalidade esto presentes no cerne da
atividade tradutria por meio do reconhecimento e aceitao do texto
original pelo leitor-tradutor, sendo um instrumento coerente, que serve
de partida para produzir a traduo de forma adequada no texto-meta
com o que se objetivou expressar no texto-fonte.
Para Travaglia (2003), toda traduo argumentativa por conter
as marcas do tradutor percebidas pelas escolhas textuais realizadas na
traduo e sua inteno de expressar algo que reconstruiu pela sua
leitura. Ento, h dois fatores humanos envolvidos na intencionalidade e
aceitabilidade no ato tradutrio: o tradutor a partir da retextualizao de
um texto em outro; e o leitor que aceita a traduo como traduo e
como texto em si. Por fim, outro critrio a observao da situacionalidade, que
compreende todos os fatores que tornam um texto adequado a uma
situao atual ou recupervel. Na traduo, a situacionalidade deve ser
considerada tanto no plano do texto-fonte, quanto no plano do texto-
meta. E esse item est intimamente relacionado equivalncia textual
entre fonte e meta. Esse fator preponderante na produo e recepo.
importante ressaltar, no entanto, que a traduo de um texto para outro
pode estar distanciada pelo tempo, espao, condio scio-histrica, etc.
E todos esses fatores tambm influenciam na situacionalidade do texto
traduzido.
Considera-se que os fatores apresentados por Travagliaso
importantes como parte do processo de retextualizao, entretanto, nesta
anlise em especfico, vamos atentar, sobretudo, focalizao aplicada a
partir do texto-fonte para o texto-meta.
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37
Apesar de a autora abordar tais caractersticas a partir de um
sistema de traduo interlingual, na nossa pesquisa tanto o texto-fonte
quanto o texto-meta compartilham a mesma lngua. O texto traduzido
ter um novo suporte de publicao e uma contextualizao especfica, a
digital, hipertextual. Para discutirmos tais processos preciso que antes
fiquem claros os conceitos de texto e hipertexto. sobre tal abordagem
que se discorre a seguir.
2.3 Texto e Hipertexto
Refletir sobre o conceito de texto e hipertexto foi fundamental
investigao voltada anlise do processo de retextualizao que no
implica necessariamente mudana ou transferncia de uma lngua
outra. O que texto passa a ser hipertexto, aps a retextualizao, em
razo dos objetivos, do pblico e do suporte de publicao, o
AVEA.Ento, vamos apresentar algumas consideraes sobre o texto
que nosso objeto de partida.
Foi com base no texto verbal escrito, considerado aqui como
texto-fonte, que comearam os movimentos de retextualizao que
culminaram no hipertexto, o texto-meta. E esse foi o movimento
tradutrio.
Abordamos o conceito de texto com base nas contribuies da
lingustica textual. Vamos nos remeter a ela para apresentar algumas das
especificidades sobre texto. Consideramos primordial na anlise a
textualidade materializada atravs da coeso, coerncia,
intencionalidade, informatividade, aceitabilidade, situacionalidade e
intertextualidade. Porm, vamos demonstrar a retextualizao realizada
do texto-fonte para o texto-meta a partir da focalizao dos itens textuais
a serem traduzidos e publicados no AVEA.
O conceito de texto j passou por algumas fases dentro da
lingustica textual. Segundo Bentes & Rezende (2008), em uma fase
inicial, a nfase do conceito recaa sobre o aspecto material ou formal do
texto: seus constituintes e sua extenso. Determinado por um incio e
um final explcito, o texto, nessa fase, entendido como um produto
acabado, unidade formal e que apresenta determinado conjunto de
contedos, sendo assim visto como elemento primeiro de pesquisa.
J em uma segunda fase, o conceito abrange a elaborao de uma
teoria do texto; a definio passa a levar em conta a produo textual,
como uma atividade verbal consciente e interacional,ou seja, essa
atividade se volta anlise de que, ao materializarem um texto, os
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38
falantes esto praticando aes que iro produzir, no interlocutor, um
determinado efeito.
A partir da dcada de 1980, a lingustica textual considerou,
como parte relevante para o estudo do texto, o contexto de publicao e
de evento comunicativo. Ainda que o texto tenha diversas funes, na
funo comunicativa que nos deteremos, dada a sua relevncia ao
contexto de circulao e uso do material escrito produzido. Essa
perspectiva fundamental para a pesquisa, pois vai ao encontro do que
tambm enfatiza a teoria funcionalista proposta por Nord (1991) para
anlise da traduo. Assim, entendemos a funo comunicativa do texto
como aquela que consegue atingir o propsito de comunicar algo a um
pblico pr-definido. O texto verbal escrito, como evento comunicativo, pode ser
entendido como aquele em que o contexto de publicao, o meio, a
forma de publicao e o pblico-alvo so extremamente importantes,
pois vo definir estratgias para a configurao e caracterizao textual
que influenciaro o processo de retextualizao. E a esse processo
interativo e comunicacional, atribudo como caracterstica fundamental
presente no texto, que vamos nos ater na investigao. Alguns autores,
ao considerarem o texto como objeto de estudo, destacaram tais
caractersticas.
Schmidt (1978) considera um pressuposto para a teoria do texto o
jogo de atuao comunicativa. Os textos verbais orais e verbais escritos s existem a partir de um sistema social de interao verbal que
pode tambm ser definido como a comunidade comunicativa. Logo,
condio efetiva do homem sua capacidade de se perceber e conhecer a
sua existncia como falante de uma lngua natural. E, de posse dessa
aprendizagem da lngua no s como sistema de regras, mas tambm
como normas de interao social dentro da comunidade lingustica a que
pertence ou a que consegue interagir, o sujeito pode fazer uso dos textos.
Os aspectos comunicativos e interacionais, na definio do texto,
tambm foram abordados por Marcuschi (2008). Ele define o texto
como parte essencial da comunicao lingustica, ou seja, da produo
discursiva em geral. Afinal, sabido que a comunicao no se d por
unidades isoladas como fonemas, morfemas ou palavras soltas. A
comunicao se d por uma unidade de sentido maior que vai alm da
frase: d-se por meio de textos. Dessa maneira, a definio de texto, em
relao com o mundo, exemplificada abaixo:
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39
O texto pode ser tido como um tecido estruturado,
uma entidade significativa, uma entidade de
comunicao e um artefato scio-histrico. De
certo modo, pode-se afirmar que o texto uma
(re)construo do mundo e no uma simples
refrao ou reflexo. Como Bakhtin dizia da
linguagem que ela refrata o mundo e no reflete, tambm podemos afirmar do texto que ele refrata
o mundo na medida em que reordena e reconstri.
(MARCUSCHI, 2008, p.76)
Nessa perspectiva, em nossa anlise, consideramos apenas o texto
verbal escrito; todavia, seguimos apresentando caractersticas gerais que
envolvem o conceito de texto.
Segundo Marcushi (2008), o texto a unidade mxima de
funcionamento da lngua. O sentido no se relaciona ao tamanho da
unidade texto, e sim sua unidade funcional de natureza discursiva. H
textos de uma s palavra e que comunicam algo importante. Cita-se o
exemplo das placas de trnsito. A extenso fsica no interfere na noo
de texto em si, e sim sua discursividade, inteligibilidade e articulao.
A textualidade pode ser explicada a partir da definio do texto como
evento (acontecimento), cuja existncia depende de algum que o
processe a partir de um contexto. um fato discursivo que se d na
atividade enunciativa,situa-se em um contexto sociointerativo que o
conduz produo de sentidos e deve oferecer acesso interpretativo a
um indivduo que tenha experincia sociocomunicativa para a sua
compreenso.
Marcuschi expe, alm disso, que o texto no pode ser tomado
como uma simples sequncia de palavras escritas ou faladas, pois
antes de tudo um evento. E como tal, essencialmente, pode ser definido
como um sistema de conexes entre vrios elementos como sons,
palavras, enunciados, significaes, participantes, contextos, aes, etc.
Tem uma orientao de multissistemas que envolve tanto aspectos
lingusticos como no lingusticos (imagem, msica), o que o torna em
geral um texto multimodal. um evento interativo, logo, no se d
como um artefato monolgico e solitrio, sendo sempre um processo e
uma coproduo de coautorias em vrios nveis. Compe-se de
elementos como: som, palavras, instruo, etc., e deve ser processado
com essas multifunes.
A interatividade uma caracterstica textual observada por
Marcuschi (1998) e Koch (2009). Para tais autores, o texto forma um
todo significativo cuja produo constitui uma atividade interacional, e
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40
o sentido est tanto no texto, quanto fora dele, evidenciando assim a
importncia da participao do leitor na construo dos sentidos. Com
esse fundamento terico, o texto definido como um tecido que forma
uma rede de interconexes, representando um movimento de interaes
realizadas pelo sujeito nas relaes sociais.O texto pode ser um
hipertexto, para isso antes deve satisfazer algumas especificidades das
quais alguns autores podem expor como melhor propriedade.
Koch (2009) define hipertexto como um suporte lingustico-
semitico, hoje intensamente utilizado para estabelecer interaes
virtuais desterritorializadas. Segundo ela,
[...]o termo hipertexto designa uma escritura no-sequencial e no-linear, que se ramifica e permite
ao leitor virtual o acessamento praticamente
ilimitado de outros textos, a partir de escolhas
locais e sucessivas em tempo real [...] (KOCH, 2009, p.63).
A autora refora, porm, que hipertexto um texto, sobretudo.
Enfatiza que a novidade estaria na tecnologia que permite integrar
elementos que, no texto impresso, apresentar-se-iam sob a forma de
notas, citaes, imagens, fotos etc. Logo, o hipertexto estaria agora
subvertendo os movimentos e redefinindo as funes dos constituintes
textuais clssicos. Com base nisso, o texto eletrnico no estvel, os
leitores de hipertexto eletrnico, ainda segundo a autora, podem
interferir no contedo publicado se houver recursos que requeiram ou
permitam isso digitalmente.
Para Xavier (2003, pg. 2), o hipertexto definido como um construto multi-enunciativo produzido e processado sobre a tela do
computador. O autor expe mais claramente o conceito como dispositivo digital multimodal e semi-lingustico on-line, , que gera para o leitor a possibilidade de acessar e absorver informaes. Todos os
modos enunciativos que preveem texto verbal, som e imagem
funcionam de modo cooperativo para a efetivao da leitura
hipertextual. Assim, essa definio est atrelada ao uso da Internet, ao
texto veiculado atravs desse ambiente virtual. Da mesma forma, Gomes (2011) enfatiza o conceito de hipertexto
como o texto exclusivamente virtual que possui como elemento central a
presena de links que podem ser palavras, imagens, cones, etc. O texto se atualiza quando clicado ou percorrido atravs da seleo de links.
-
41
J em Coscarelli (2012) encontra-se a definio de hipertexto por
outro foco. A autora define hipertexto a partir da leitura, considerando
que a caracterstica do hipertexto como texto no linear tambm pode
ser aplicada a qualquer texto sob o ponto de vista da leitura. Defende
que nenhuma leitura linear, nem mesmo a do texto impresso,
argumentando assim, que todo texto um hipertexto, e que todo
processo de leitura essencialmente hipertextual.
Apesar de expor diversos fatores que aproximam o texto
impresso do hipertexto em relao leitura, a autora considera algumas
especificidades do hipertexto, que j haviam sido citadas por autores
como Marcuschi (2008), Koch (2009), Xavier (2003) e Gomes (2011).
Exemplos destas especificidades a presena de links no hipertexto,
bem como a possibilidade de atualizao constante do texto. Isso
evidenciado conforme citao abaixo:
[...] acesso mais rpido e direto informao dos
links, o que, no caso do impresso, requer que um
outro livro seja encontrado e aberto, ao passo que,
no hipertexto, bastaria um clique. A disperso e a
abertura do texto, ou seja, a possibilidade de
modific-lo, tambm parecem ser uma inovao
do hipertexto, uma vez que ele permite que
alteraes sejam feitas e disponibilizadas com
muito mais facilidade do que se pode fazer no
texto impresso, que exigiria novas edies do
material, o que no alteraria os exemplares j
impressos. (COSCARELLI, 2012, p.156)
Alm disso, outra caracterstica do hipertexto considerada aque
permite a juno de muitas mdias em um mesmo suporte.
Nesse sentido, as especificidades expostas aqui sobre hipertexto
ligaram-se intimamente ao que definimos como texto verbal digital on-line, nosso texto-meta. O texto verbal digital off-line est fora do
contexto de publicao web, ou seja, um texto visualizado pela tela do computador, mas que no pode mais ser acessado novamente atravs da
internet. E por isso, no carrega as opes de estar em rede e de possuir
links ativos como no texto-meta. Para hipertexto, cabem, de forma sucinta, as seguintes definies:
texto que possui caractersticas de interatividade, publicado em um
suporte semitico, que pode estar em rede digital para ser acessado,
permite o entrelaamento de diversos links que, ao serem clicados,
remetem ou abrem outros textos. caracterstica do hipertexto a
-
42
multimodalidade, que engloba em sua composio som, imagem,
animao, desenhos, etc.
Os conceitos de texto e hipertexto so importantes, porque o
processo de retextualizao analisado implica a passagem de texto para
hipertexto em um suporte de publicao como o ambiente virtual de
aprendizagem, processo este considerado aqui como traduo. Para que
isso fique claro, preciso, antes, explicitar o contexto da pesquisa a
partir do contexto maior em que os mdulos analisados foram inseridos:
o Curso de Extenso em Educao Integral e Integrada da UAB-UFSC.
Resumidamente, podemos elencar como caractersticas
conceituais de texto: a considerao da produo textual consciente que
leva a um propsito comunicacional, ou seja, vai produzir algum efeito
nos interlocutores; a materializao na forma verbal oral e tambm na
forma verbal escrita; o aspecto comunicativo e interacional presente no
texto. Alm disso, o texto tem tambm sido caracterizado como evento
comunicativo que abarca o contexto de publicao, o meio, a forma de
publicao e o pblico-alvo. Por fim, e conforme observa Marcuschi
(2008), o texto a unidade mxima de funcionamento da lngua.
Diante de tudo que foi exposto teoricamente, a teoria
funcionalista proposta por Nord (1991) considera que todo texto possui
uma inteno comunicativa e que para atingir tal inteno ele precisa
antes ser retextualizado. Para tal, procuramos buscar o conceito de
retextualizao aplicado a traduo. E o conceito que vai ao encontro do
que o funcionalismo nordiano prope explicitado por Travaglia (2003)
da retextualizao como traduo a partir da transposio de ideias e
buscas de equivalncias para expressar e captar a mensagem alheia. A
traduo aplicada na pesquisa vai focar o texto em si dentro de um
sistema intralingustico. A dualidade do texto-fonte e texto-meta ser
materializada em relao ao texto e hipertexto aps o processo de
retextualizao e publicao no Ambiente Virtual de Aprendizagem na
Educao a Distncia.
-
3 O CURSO EII-EAD-UFSC
Como j mencionado, o corpus usado para anlise de
retextualizao nesta pesquisa foram dois mdulos do Curso em
Extenso em Educao Integral e Integrada a distncia da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC), atravs da Universidade Aberta do
Brasil (UAB), entre 2009 e 2010. Por isso, antes de entrarmos na
investigao propriamente dita importante apresentarmos aqui o
surgimento deste curso de extenso, bem como as especificidades da
modalidade de Educao a Distncia (EaD).
A Educao a Distncia, que oferece cursos de graduao,
extenso e ps-graduao por meio da UAB, j est consolidada como
poltica pblica educacional e cresce a cada ano. Segundo Dias e Leite
(2010), verificou-se que, entre os anos 2004 e 2006, houve um aumento
de 150% no nmero de alunos matriculados nesta modalidade. A
tendncia de que o crescimento continue expressivo com o passar do
tempo. Considerando essa publicao no to recente, acredita-se que a
EaD tenha crescido bastante desde ento.
Muitas vezes, o ensino e a aprendizagem a distncia so
associados imediatamente ao uso da internet e das tecnologias de
informao e comunicao (TICs). No entanto, preciso deixar claro
que a educao a distncia comeou muito antes do uso das TICs.
Iniciou-se com o ensino por correspondncia no Brasil, por volta de
1904. Os cursos oferecidos na poca eram voltados para o estudo em
casa e tinham como opo caligrafia, bordado, corte e costura,
mecnica, etc.
Em 1939, houve a criao do Instituto Monitor e, em 1941, a do
Instituto Universal Brasileiro. Nas dcadas de 40 e 50, ocorreu a
transmisso da rdio-educao e, em 1971, surgiu a tele-educao, que
se consagrou a partir de 1978 com os Telecursos da Fundao Roberto
Marinho.
Na legislao brasileira a EAD amparada pela Lei de Diretrizes
e Bases da Educao Nacional (LDB), Lei n 9.394/96, Artigo 80,
conforme indicado abaixo:
Art. 80. O Poder Pblico incentivar o
desenvolvimento e a veiculao de programas de
ensino a distncia, em todos os nveis e
modalidades de ensino, e de educao continuada.
(Regulamento)
-
44
1 A educao a distncia, organizada com
abertura e regime especiais, ser oferecida por
instituies especificamente credenciadas pela
Unio.
2 A Unio regulamentar os requisitos para a
realizao de exames e registro de diploma
relativos a cursos de educao a distncia.
3 As normas para produo, controle e
avaliao de programas de educao a distncia e
a autorizao para sua implementao, cabero
aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver
cooperao e integrao entre os diferentes
sistemas. (Regulamento)
4 A educao a distncia gozar de tratamento
diferenciado, que incluir:
I - custos de transmisso reduzidos em canais
comerciais de radiodifuso sonora e de sons e
imagens e em outros meios de comunicao que
sejam explorados mediante autorizao,
concesso ou permisso do poder pblico;
(Redao dada pela Lei n 12.603, de 2012)
II - concesso de canais com finalidades
exclusivamente educativas;
III - reserva de tempo mnimo, sem nus para o
Poder Pblico, pelos concessionrios de canais
comerciais.
(BRASIL, Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996)
Percebe-se, na lei apresentada acima, a nfase a educao a
distncia atravs dos meios de telecomunicao como televiso e rdio
(canais de difuso de sons e imagens). Embora a EaD, com o uso das
TICs, internet e ambientes virtuais exista de 1994 e 1996 nas
Universidades Federais do Mato Grosso e de Santa Catarina,
respectivamente, essa modalidade s veio a se desenvolver plenamente
no Brasil a partir do ano 2000, com o surgimento das graduaes
telepresenciais.
Desde ento, a EaD comea a se mostrar como uma opo de
maior oferta de educao superior no pas com o advento e a
disseminao da rede internet pelo interior. A extenso do pas, as srias
carncias educacionais existentes, a disseminao tardia do ensino
superior (dcada de 30 do sc.XX), so outros fatores que contriburam
para a expanso da modalidade.
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45
Para viabilizar a proposta, aproveitaram-se as condies de
infraestrutura fsica das universidades j existentes, bem como a
ampliao dos meios de comunicao e informao das unidades para
investir no ensino nessa modalidade e expandi-lo. Se compararmos a
EaD no Brasil, atrelada s TICs, em relao a outros pases, podemos
concluir que uma modalidade de ensino ainda bem recente, em
desenvolvimento e em expanso. Em muitos lugares do mundo, a EaD
j realidade h bastante tempo. Para citar alguns exemplos: University of London (Inglaterra) desde 1858, University of Queensland (Austrlia)
desde 1891, Pennsilvania State College (Estados Unidos) desde 1892,
Universidad Particular Tecnolgica de Loja (Equador) deste 1976, FED
DE LA Univ. de La Habana (Cuba) desde 1980, entre tantas outras.
Somente em 2005, foi criada oficialmente a Secretaria de Educao a
Distncia (SEED) vinculada ao Ministrio da Educao (MEC), com
programas voltados utilizao das tecnologias educacionais, em uma
perspectiva de formao de professores a distncia. A partir de diversos
mecanismos, como: TV Escola, ProInfo (Programa Nacional de
Informtica na Educao), Proformao, Rdio Escola, etc. A partir de
tal ano, EaD passou a ser considerada instrumento estratgico,
equiparado ao ensino presencial, para promover aumento de vagas nas
universidades pblicas e possibilitar a formao sobretudo de
professores, dada a carncia de profissionais com formao superior em
atuao profissional.
Em 2006, o Ministrio da Educao lanou o edital do programa
Universidade Aberta do Brasil (UAB), com chamadas pblicas para
universidades federais ofertarem cursos superiores na modalidade EaD
em parcerias com estados e municpios. A UFSC entrou como uma das
universidades parceiras da UAB, utilizando-se dos recursos de rede para
pr em funcionamento os cursos. Posteriormente, alm dos cursos de
graduao, as universidades tambm comearam a oferecer cursos de
ps- graduao dentro dessa modalidade.
Assim, a UAB-UFSC ofertou o curso de Extenso em Educao
Integral e Integrada a professores e gestores da Educao Bsica das
redes de Ensino Municipal e Estadual de Santa Catarina, em oito
cidades-polo: Ararangu, Blumenau, Cricima, Florianpolis, Indaial,
Itapema, Joinville e Tubaro, entre 2009 e 2010.
O curso foi oferecido dentro do projeto chamado ProgramaMais
Educao, que objetivou qualificar, sobretudo, professores da Rede
Bsica de Educao para atuar em escolas que oferecem ou vm a
oferecer educao em tempo integral. O Programa Mais Educao faz
parte do Plano de Desenvolvimento da Educao- PDE.
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Segundo Moll (2008), a Educao Integral visa diminuir as
discrepncias e desigualdades nas condies de acesso, permanncia e
aprendizagem na educao escolar pblica, propondo mais tempo na
escola. No entanto, esse deve ser um tempo que vise a uma
diversificao curricular, sendo isso possvel por meio de uma rede de
parceiros tanto em nvel governamental, quanto na sociedade civil.
Conforme a autora, para discorrer sobre a Educao Integral,
necessrio considerar as variveis tempo e espao: tempo em relao
ampliao da jornada escolar e espao em relao aos territrios em que
cada escola se situa. A nfase da Educao Integral e Integrada seria o
desenvolvimento de capacidades de compreenso, aplicao e domnio
dos contedos estudados em virtude da oferta de atividades
complementares artsticas, culturais, sociais, esportivas e de
acompanhamento individualizado do educando a partir de uma
perspectiva interdisciplinar. Em relao a documentos oficiais, tanto a
Constituio Federal de 1988, quanto a Lei 10.172 de 09 de janeiro de
2001, que institui o Plano Nacional de Educao (PNE), retomam e
valorizam a Educao integral como possibilidade de formao integral
da pessoa.
Apesar de j haver no pas experincias de educao integral, tais
como os Centros Integrados de Educao Pblica (CIEPs) no RJ, na
dcada 80, e os Centros Educacionais Unificados (CEUs), em So Paulo
(2000), entre outros, a proposta discutida aqui nasceu em 2006-2007
quando houve a constatao, atravs de organismos oficiais, como
Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP),
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e Instituto de
Pesquisa Econmica e Aplicada (IPEA), entre outros, de que era
necessrio o enfrentamento da situao de vulnerabilidade e risco
social, na qual se encontram muitas crianas, adolescentes e jovens em
idade escolar. Tais fatores foram constatados como contribuintes para o
baixo rendimento, defasagem idade/srie, reprovao e evaso escolar.
Dessa forma, a proposta de Educao Integral e Integrada
pretendeu fazer com que esse pblico ocupasse maior parte do tempo na
escola com atividades pedaggicas, entre outras, para mudar essa
realidade.
A criao do Plano de Desenvolvimento da Educao (2007)
contribuiu para dar base ao projeto de lei do novo Plano Nacional de
Educao, o qual prev como meta que 50% das escolas pblicas
funcionem em horrio integral, de modo a atender ao menos 25% dos
alunos da Educao Bsica. Uma das necessidades neste sentido a
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capacitao de docentes, sobretudo professores e gestores da Escola
pblica para atuarem na nova realidade.
A partir da parceria da UAB com outras seis instituies de
ensino superior, entre as quais podemos citar: Universidade Federal de
Santa Catarina- UFSC, Instituto Federal do Par- IFPA, Universidade
Estadual de Mato Grosso do Sul- UEMS, Universidade Federal de
Gois- UFG, Universidade Federal do Paran-UFPR, Universidade
Estadual de Montes Claros-UNIMONTES, pde-se ofertar o curso de
aperfeioamento em Educao Integral e Integrada, conforme Edital
n.01, de abril de 2008, da Secretaria de Educao Continuada,
Alfabetizao e Diversidade do Ministrio da Educao
(SECAD/MEC), objetivando dar aos cursistas inscritos suporte,
conhecimento e base para propor projetos de implantao da escola
integral e integrada.
A UFSC contou com algumas especificidades, como mudanas
na proposta originalmente proveniente da SECAD. A equipe
pedaggica decidiu programar um curso que contemplasse, alm das
discusses acerca da educao integral e integrada, tambm a discusso
e aprofundamento das reas de conhecimento atuantes na educao
bsica, tais como: Lngua Portuguesa e Alfabetizao, Matemtica,
Histria e Geografia, Cincias da Natureza e Artes. Tais modificaes
foram devidamente autorizadas pela SECAD.
O curso teve a colaborao de diversas instituies de ensino
superior no que concerne elaborao dos mdulos que configuraram
as unidades curriculares. Para uma melhor visualizao dos mdulos,
vejamos a tabela a seguir:
Tabela 2 Distribuio da elaborao dos Mdulos no curso EII-UAB-UFSC.
Mdulo Ttulo IES
I Introduo Educao a Distncia: da oralidade
informtica
UFSC
II Desenvolvimento da Educao Integral no Brasil e o
estudo das artes
IFPA
UFSC
III Reflexes e Apontamentos sobre Educao Integral
e Integrada e o estudo das Linguagens Verbal e
Matemtica I
UEMS
UFSC
IV Polticas Pedaggicas e o Estudo das Linguagens
Verbal e Matemtica II
UFG
UFSC
V Polticas Pblicas e o estudo das Linguagens Verbal
e Matemtica III
UEMS
UFSC
VI A escola, a cidade e a pedagogia cultural com visitas IFPA
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Educao Integral e Integrada UFSC
VII Memria e Patrimnio com vistas Educao
Integral eIntegrada como Arranjo Educativo Local
UFG
UFSC
VIII Projetos de Interveno Pedaggica
Psicologia do Desenvolvimento - Cognio, Ensino
e Aprendizagem
UFPR
UFSC
IX Projeto de Interveno Pedaggica: Reflexes acerca
da educao integral, com vistas prtica de
pesquisa voltada ao ensino. Parte I
UNI-
MONTES
UFSC
X Prticas pedaggicas como prticas sociais dialogando com teorias, reas de conhecimento e
abordagens de ensino.
UFSC
IX Projeto de Interveno Pedaggica: Reflexes acerca
da educao integral, com vistas prtica de
pesquisa voltada ao ensino. Parte II
UFSC
Para o desenvolvimento das atividades, havia um local virtual de
encontro entre cursistas e formadores: o endereo eletrnico
http://www.ead.ufsc.br/eii/. Foi a partir dele que o curso foi
apresentado, e que o cursista contou com o suporte de videoaulas,
glossrios, pastas virtuais com textos extras em cada unidade curricular
que comps o eixo programtico dos mdulos. O acesso ao AVEA do
curso foi restrito s pessoas envolvidas nele (professores, tutores,
alunos, gerenciadores de rede, designer, designer instrucional, etc.).
Refora-se que a verso do Projeto desenvolvido na UFSC teve a
especificidade de contemplar, de modo integrado, em todos os Mdulos
de ensino, as reas de conhecimento fundamentais aos professores da
educao bsica: Alfabetizao e Letramento, Matemtica, Artes,
Cincias Naturais, Histria, Geografia.
Embora nesta pesquisa detalhadamente sejam consideradas
apenas dois dos dez mdulos, todos sero brevemente descritos de sorte
a caracterizar a organizao geral do Curso em relao s publicaes
off-line e on-line. O primeiro mdulo intitulou-se Introduo Educao a
Distncia: da oralidade informtica. Esse mdulo era de responsabilidade total de cada instituio que ofertou o curso. A partir do segundo mdulo, o material didtico foi desenvolvido por uma
universidade ou instituto federal no que compete educao integral e
integrada (conforme tabela j mostrada inicialmente) e pela UFSC no
que concerne sreas de conhecimento j citadas. Assim, o segundo
mdulo versou sobre O desenvolvimento da educao integral no
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Brasil: arte e educao. A parte relativa ao contedo do desenvolvimento da educao integral no Brasil foi desenvolvida pelo
IFPA e parte relativa arte e educao, pela UFSC. Nas unidades
curriculares de cada mdulo em execuo no Curso EII-UAB-UFSC,
havia um professor da UFSC responsvel pelo gerenciamento do
mdulo, em parceria com tutores presenciais e tutores a distncia, no
que se refere ao atendimento aos cursistas matriculados.
Para um melhor entendimento de como ficaram organizadas os
mdulos no AVEA, segue tabela:
Tabela 3 Distribuio da elaborao dos Mdulos (Fonte: OTTO; SOUZA, 2012)
Mdulo Ttulo
I Conceitual EaD e Ferramenta Moodle
II Desenvolvimento da Educao Integral Integrada e no Brasil
III Educao Integral e Integrada Reflexes e Apontamentos
IV Polticas Pedaggicas
V Polticas Pblicas
VI A Escola e a Cidade
VII Educao Integral como Arranjo Educativo Local
VIII Projetos de Interveno Pedaggica
IX Fundamentos da Educao Integral e Integrada
X Prticas Pedaggicas enquanto Prticas Sociais
Conforme mostrado, o projeto do curso na UFSC ganhou
contornos diferenciados e foi complementado, se tomarmos como base o
projeto geral do curso para as diversas universidades que o ofertaram.
Esta autonomia didtica prpria e necessria no ensino superior.
De modo geral, conforme Otto e Souza (2012), a abordagem do
curso visou, sobretudo, aos seguintes objetivos didticos: promover a
discusso sobre educao integral e integrada nos ambientes escolares,
incorporar contedos de educao integral e integrada nos currculos
universitrios, estimular as escolas e demais profissionais da educao a
participar da construo de estratgias pedaggicas e de gesto
intersetorial para a implementao da educao integral e integrada,
promover e estimular pesquisas e produo de novas tecnologias e materiais didticos para a implementao da educao integral e
integrada, retomar e revisitar a formao bsica e essencial em
alfabetizao para o letramento, matemtica, cincias naturais, cincias
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sociais (histria e geografia) e artes com vistas educao integral e
integrada.
Alm disso, segundo dados do Curso coletados em Otto e Souza
(2012), contou-se com 12 professores doutores, provenientes de quatro
centros de ensino da UFSC: Centro de Cincias da Educao (CED),
Centro de Filosofia e Cincias Humanas (CFH), Centro de Fsica e
Matemtica (CFM) e Centro de Comunicao e Expresso (CCE).
Ainda se somam 31 tutores, entre presenciais e a distncia, e a equipe
tcnica formada por dez profissionais.
Quanto aos cursistas, houve um total de 255 inscritos, dos quais
apenas 78 receberam o certificado de concluso. Uma das razes para o
baixo nmero de certificaes, ainda segundo Otto e Souza (2012), foi o
oferecimento de modo simultneo, de dois outros cursos de
aperfeioamento, na modalidade a distncia, semestrais, enquanto o EII
foi oferecido no formato anual. Muitos dos cursistas se inscreveram em
mais de um curso e acabaram por optar pelo de menor durao. Alm
disso, utilizou-se como critrio para obteno de certificado no apenas
a participao e o desempenho nas atividades propostas nos mdulos,
mas tambm a elaborao do trabalho final do curso, o que levou muitos
cursistas a perderem o direito certificao.
A descrio de todo processo de criao, funcionamento e
operacionalizao do curso de extenso em Educao Integral e
Integrada foi relevante para situarmos o contexto de nossa pesquisa em
relao escolha dos mdulos que foram objetos de investigao a
partir da retextualizao. Cabe agora focarmos como se deu o processo
da nossa investigao.
Como j dito, foram escolhidos como corpora para anlise dois mdulos desenvolvidos no decorrer da operacionalizao prtica do
aperfeioamento docente por meio dessa modalidade de extenso
universitria. pertinente colocar que a possibilidade de existncia de
outras problemticas, outros fatores relacionados ao curso EII no so
foco de ateno, ao menos neste momento e nesta abordagem, para a
pesquisa desenvolvida. A descrio dos mdulos bem como a
abordagem da perspectiva de investigao ser inserida nos prximos
captulos desta dissertao.
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4 MTODO
Esta parte da dissertao descreve o mtodo aplicado no
desenvolvimento da pesquisa cujo objetivo constituiu responder a
indagao: os textos produzidos para material didtico em EaD passam
por algum processo tradutrio? Em caso positivo, como acontece tal
processo e qual o resultado obtido? A indagao implica a discusso da
traduo como retextualizao dentro de um mesmo sistema lingustico,
e visa justificar a escolha do referencial terico edo corpusa partir dos textos escolhidos.
Descrevem-se aqui: a justificativa do corpus para a anlise, a
escolha das bases tericas, apresentao dos textos-fonte e
caractersticas gerais de cada um, os procedimentos de retextualizao
aplicados, considerando principalmente a focalizao; a apresentao
dos textos-meta e caractersticas gerais de cada um, levando em conta as
teorias propostas.
O corpus da pesquisa foi constitudo por dois mdulos do Curso de Extenso em Educao Integral e Integrada- UAB-UFSC. Esses
mdulos so identificados com letra A, para o intitulado Introduo Educao a Distncia: da oralidade informtica, e, com a letra B, para o mdulo intitulado Mdulo VI- A escola, a cidade e a pedagogia cultural com vistas educao integral e integrada.
Para anlise do processo de retextualizao, quaisquer mdulos
presentes no curso serviriam; no entanto, optou-se por esses, porque um
deles de instrumentalizao em relao a prpria EaD e desenvolvido
exclusivamente por docentes UFSC, e outro de fundamentao temtica
e terica especficas proposta do curso, alm de ser um mdulo
intermedirio no que concerne ao desenvolvimento do curso.
Acreditamos que a anlise do processo de retextualizao dos
mdulos A e de B so suficientes para o que queremos expor da
traduo como processo de retextualizao, no precisando
necessariamente demonstrar esse processo para os demais mdulos
constituintes do curso.
Os textos do mdulo A, por terem sido integralmente elaborados
por autores vinculados ao EII-UFSC, foram analisados em sua
totalidade. Os textos do mdulo B, por sua vez, foram analisados apenas
no que diz respeito parte relativa rea de especialidade cincias da
natureza, posto que a outra parte do material no foi elaborada por autor
vinculado ao EII-UFSC, tendo sido de responsabilidade de docente de
outra universidade, conforme j esclarecido anteriormente (captulo III).
Apesar de a poro textual dedicada educao integral e integrada ter
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sido textualizada na UFSC, no houve negociao com o autor do texto;
por isso, a retextualizao no foi discutida nesta pesquisa. Assim, a
anlise ficou restrita aos textos de autores com os quais houve
negociao e que atuaram diretamente no curso EII-UAB-UFSC. O
objetivo desenvolver a anlise do processo de retextualizao do
material, produzido pelos professores autores de cada mdulo, para o
material digital (publicao no AVEA). No se trata, porm, de analisar
ou avaliar contedos ou prticas pedaggicas. Trata-se exclusivamente
de discutir o processo de retextualizao pelo qual os textos passaram,
com base na perspectiva da traduo como retextualizao, na teoria
nordiana e na lingustica textual.
Os textos-fonte, por se constiturem de material com texto escrito
verbal em sua totalidade, foram analisados em um primeiro momento a
partir da lingustica textual. Posteriormente, foram discutidos tendo em
vista as teorias da traduo como retextualizao e do funcionalismo. A
anlise conta tambm com a aplicao da tabela proposta por Nord para
traduo.
A parte textual dos textos-fonte A e B foi analisada a partir do
conceito de textualidade, no em relao ao contedo especificamente,
mas em relao ao todo do material, como foi apresentado, o que o
diferenciar do texto-meta, contexto de publicao, objetivos do texto,
etc. A discusso parte do material textual dos textos-fonte, da
textualidade com todas suas caractersticas, da configurao e da
caracterizao textual de cada texto-fonte, j que isso influencia no
processo de retextualizao realizado. Da mesma forma, interessam
discusso os aspectos comunicativos e interacionais presentes no texto,
o tamanho da unidade textual, os sistemas de conexo presente entre
palavras, figuras, imagens, cones.
Fundamenta a anlise a perspectiva da retextualizao como
traduo, j que os textos-fonte constituem material textual conciso e
que, a partir do processo de retextualizao pelo qual passaram,
configuraram um texto-meta com os mesmos propsitos, mas em
contextos de publicao e tempos diferenciados. Afinal, conforme exps
Travaglia (2003, p.165), traduzir no simplesmente passar um texto de uma lngua para a outra, nem proceder a uma decodificao, mas
retextualizar, ou seja, produzir um mesmo/novo texto. Este foi o eixo da anlise e discusso, uma vez que um dos parmetros da
retextualizao como traduo o de que no se traduzem lnguas, mas
textos. Conforme defende Nord (1991), o principal a ser considerado a
transposio de ideias, a busca de equivalncias para que a mensagem
seja alcanada.
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Assim, observam-se, na anlise do texto-fonte, sobretudo, os
seguintes aspectos diante desta perspectiva: (a) busca da inteno
comunicativa do autor do texto original, (b) leitura do texto-fonte e (c)
reconstruo do sentido pelo leitor-tradutor (d) escrita do texto-meta.
Tanto a teoria funcionalista, quanto o que prope Travaglia (2003)
permitem e/ou propem analisar o processo tradutrio com foco no
leitor final; dessa forma, o parmetro da traduo o receptor da
mensagem.
Para os textos-fonte, aplica-se o que prope a tabela Nord (1991),
como propsito de orientao para anlise da retextualizao. A autora
defende que o tradutor deve perceber qual f