A Tradução Na Contemporaneidade a Retextualização Em Contextos Ead - Andressa Da Costa Farias

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  • Dissertao apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Estudos da Traduo,

    Departamento de Lngua e Literatura Estrangeiras,

    do Centro de Comunicao e Expresso da

    Universidade Federal de Santa Catarina, como

    requisito para obteno do Ttulo de Mestre em

    Estudos da Traduo.

    Orientador: Ana Cludia de Souza

    Florianpolis, 2013

    A traduo na

    contemporaneidade:

    a retextualizao em

    contextos EaD

    Andressa da Costa Farias

    Aborda a traduo para

    alm do conceito

    cannico. A traduo

    analisada por meio dos

    processos de

    retextualizao

    possveis em textos que

    originam livros e

    mdulos didticos

    dentro de ambientes

    virtuais de

    aprendizagem em

    contextos de Educao

    a Distncia.

    Orientadora:

    Ana Cludia de Souza

    Universidade Federal de

    Santa Catarina

    Programa de Ps-

    Graduao em Estudos

    da Traduo

    www.pget.ufsc.br

    Campus Universitrio

    Trindade

    Florianpolis- SC

    20

    13

    Dissertao de Mestrado

    Universidade Federal de Santa Catarina

    Programa de Ps-Graduao em

    Estudos da TraduaoA

    tra

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  • Andressa da Costa Farias

    A TRADUO NA CONTEMPORANEIDADE:

    A RETEXTUALIZAO EM CONTEXTOS EaD

    Dissertao submetida ao Programa de

    Ps-Graduao em Estudos da

    Traduo PGET da Universidade Federal de Santa Catarina para a

    obteno do Grau de Mestre em

    Estudos da Traduo.

    Orientadora: Prof. Dr. Ana Cludia

    de Souza

    Florianpolis

    Abril de 2013

  • Ficha de identificao da obra elaborada pelo autor, atravs do Programa de Gerao Automtica da Biblioteca Universitria da UFSC.

    FARIAS, Andressa da Costa

    A traduo na contemporaneidade : a retextualizao em contextos EaD / Andressa da Costa FARIAS ; orientadora, Ana Cludia de Souza - Florianpolis, SC, 2013.

    116 p.

    Dissertao (mestrado) - Universidade Federal de Santa

    Catarina, Centro de Comunicao e Expresso. Programa de Ps-

    Graduao em Estudos da Traduo.

    Inclui referncias

    1. Estudos da Traduo. 2. Traduo. 3. Retextualizao.

    4. Educao a Distncia. 5. Letras. I. Souza, Ana Cludia de . II. Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Ps-Graduao em Estudos da Traduo. III. Ttulo.

  • Andressa da Costa Farias

    A TRADUO NA CONTEMPORANEIDADE:

    A RETEXTUALIZAO EM CONTEXTOS EaD

    Esta Dissertao foi julgada adequada para obteno do Ttulo de

    Mestre, e aprovada em sua forma final pelo Programa de Ps-Graduao em Estudos da Traduo.

    Florianpolis, 30 de abril de 2013.

    ________________________

    Prof. Andria Guerini, Dr.

    Coordenadora do Curso

    Banca Examinadora:

    ________________________

    Prof. Ana Cludia de Souza, Dr.

    Orientadora

    Universidade Federal de Santa Catarina

    ________________________

    Prof. Rejane Crohar Dania, Dr.

    Universidade do Estado de Santa Catarina

    ________________________

    Prof.Marcos Antnio Rocha Baltar, Dr.

    Universidade Federal de Santa Catarina

    ________________________

    Prof. Maria Jos Damiani Costa, Dr.

    Universidade Federal de Santa Catarina

  • minha filha Gisella, que soube

    entender algumas ausncias devido

    pesquisa. Desejo que os bons

    exemplos da academia a guiem para a

    vida.

  • AGRADECIMENTOS

    sempre difcil citar pessoas, instituies e entidades na parte

    dos agradecimentos, pelo risco de esquecer-se de algum ou de alguma

    coisa. No entanto, vou me esforar para que isso no ocorra. E, se

    ocorrer, j peo perdo antecipadamente.

    Agradeo, primeiramente, a vontade incansvel de continuar

    estudando que s permanece firme pela f em Deus e na vida;

    experincia acumulada no Ensino na modalidade a distncia,

    atravs da Universidade Aberta do Brasil (UAB) pela Universidade

    Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal de Santa

    Catarina (UFSC) e Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).

    A todos os colegas docentes, professores, tutores, equipe tcnica,

    que se envolveram comigo no decorrer do curso de Educao Integral e

    Integrada pela UAB-UFSC entre o perodo de 2009 e 2010, em especial

    aos professores autores dos mdulos analisados na pesquisa;

    CAPES pela bolsa de mestrado;

    Ao grupo de pesquisa TRAC (Traduo e Cultura) da UFSC, pelo

    convite para participao de alguns encontros e seminrios, o que me

    possibilitou conhecer melhor as teorias importantes na Traduo;

    Aos professores convidados para a banca: prof. Rejane, prof.

    Maria Jos e prof. Marcos por aceitarem ler com ateno a pesquisa e

    fazer parte deste processo. E, carinhosamente, prof. Meta E. Zipser,

    por ter apresentado a teoria funcionalista nas aulas do mestrado e nas

    suas publicaes cientficas;

    prof. Ana Cludia, pelo incentivo realizao da ps-

    graduao, pela crena de que a pesquisa era relevante para o meio

    acadmico, por sua amizade, pacincia comigo e dedicao nas

    inmeras revises realizadas;

    s amigas Nair Rodrigues Resende e Maria Helena Fvaro pelas

    contribuies dadas na reviso final do texto e no Abstrat,

    respectivamente;

    Pela existncia de minha famlia, que fonte de amor que me faz

    firme e feliz. Agradeo principalmente minha av Nercy (in memorian), meus irmos Juliano e Thomaz, meus pais Selvanir e Gilceu Roque, e,

    em especial, minha filha Gisella.

    A todos que direta ou indiretamente contriburam com conselho,

    amizade e troca de experincia.

  • O Mestrado em Traduo me fez refletir

    sobre estarmos sempre traduzindo algo. A

    traduo vai alm da palavra verbal escrita.

    Pode ser uma ideia, um gesto, um

    comportamento e at os silncios. O tradutor

    , antes de tudo, um desbravador de mundos.

    Andressa da Costa Farias

  • RESUMO

    Esta pesquisa aborda a traduo para alm do conceito cannico. Neste

    estudo, a traduo analisada por meio dos processos de retextualizao

    possveis em textos que originaram livros e mdulos didticos dentro de

    ambientes virtuais de aprendizagem acessados pela internet. O corpus de pesquisa consistiu em dois mdulos didticos que fizeram parte do

    eixo programtico do Curso de Aperfeioamento em Educao Integral

    e Integrada, oferecido pela Universidade Aberta do Brasil (UAB) e

    implementadopela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

    entre os anos de 2009 e 2010. Embasou teoricamente a anlise tradutria

    a corrente funcionalista proposta por Christiane Nord (1999) e a

    considerao da retextualizao como traduo trazida por Travaglia

    (2003), bem como a lingustica textual a partir dos conceitos de texto e

    hipertexto no que concerne anlise textual. Constatou-se atravs da

    anlise dos dados que a retextualizao necessria no que tange s

    publicaes em contexto de Educao a Distncia tanto para livro digital

    quanto para mdulo no AVEA. Na maioria das vezes, os autores de

    materiais didticos para EaD no esto familiarizados com a linguagem

    verbal-escrita e visual utilizadas em tais sistemticas, j que se trata de

    material com vistas aprendizagem para um pblico que no est

    presente fisicamente. A tendncia, ao produzir material didtico,

    ancorar a experincia no ensino presencial. Pretendeu-se demonstrar que

    contemporaneamente a traduo pode ser vislumbrada para alm do

    conceito tradicional de que s h traduo a partir de uma lngua X para

    uma lngua Y. A pesquisa mostra outras possibilidades de

    traduo,como os processos de retextualizao que ocorrem em

    publicaes digitais para que textos didticos circulem em contextos de

    EaD.

    Palavras-chave: traduo, retextualizao, educao a distncia

  • ABSTRACT

    This research approaches the translation beyond the canonical concept.

    In this survey, the translation is analyzed through possible

    retextualization processes in texts that originated didactics books and

    modules inside virtual learning environments (VLE) accessed through

    the online network. The research corpus consisted of two didactic

    modules that made part of the programmatic axis of the Curso de

    Aperfeioamento em Educao Integral e Integrada offered by

    Universidade Aberta do Brasil (UAB) and implemented by

    Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) between 2009 and

    2010. The translational analysis was theoretically based on the

    functionalist flow proposed by Christiane Nord (1999) and on

    Travaglias (2003), as well as text linguistics consideration of retextualization as translation, as well as the texts and hypertexts

    concepts that concern the textual analysis. Throughout the analyzed

    data, it was verified that retextualization is necessary in case of

    publications in distance learning (DL) context, both in digital books and

    in virtual learning platforms (VLP). In most cases, the authors of

    didactic materials for this learning modality arenot familiar with the

    verbal-written and visuallanguage commonly used in this systematics,

    once these materials are aimed for the learning process of a non-

    physically present public. Didactic materials production tends to be

    based on presential education experience. This research intended to

    demonstrate that, contemporane ously, the translation could go beyond

    the traditional concept that there is only translation from an X language

    to a Y language. Research shows other possibilities of translation, as

    there textualization processes that occur in digital publications so that

    teaching texts circulate in the context ofdistance learning (DL).

    Key-words: translation, retextualization, distance learning.

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    EaD- Educao a Distncia

    FDNE- Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao

    IES- Instituio de Ensino Superior

    IFPA- Instituto Federal do Par

    UAB-Universidade Aberta do Brasil

    UEMS- Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul

    UFSC- Universidade Federal de Santa Catarina

    UFG- Universidade Federal de Gois

    UFPR- Universidade Federal do Paran

    UNIMONTES- Universidade Estadual de Montes Claros

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1- Parte da visualizao do texto-fonte A .............................................. 57 Figura 2- Parte da visualizao do texto-meta A disponvel atravs de acesso a

    links no AVEA .................................................................................................. 57 Figura 3- Retextualizao no texto-fonte A em relao insero dos Objetivos

    do Mdulo ........................................................................................................ 63 Figura 4- Publicao e insero dos Objetivos do Mdulo no texto-meta A livro digital A.................................................................................................... 64 Figura 5- Indicao do Glossrio para no texto-fonte A ................................... 64 Figura 6- Indicao do Glossrio no texto meta A ........................................... 64 Figura 7- A indicao de retextualizao para o SAIBA MAIS no texto fonte A

    .......................................................................................................................... 65 Figura 8- Indicao de SAIBA MAIS no texto-meta A .................................... 65 Figura 9-Texto-fonte A em relao a atividades de aprendizagem

    .......................................................................................................................... 67 Figura 10- O texto-meta A como um todo no AVEA ....................................... 69 Figura 11- Texto fonte-A exemplo de retextualizao inicial para a parte de

    Glossrio.

    .......................................................................................................................... 70 Figura 12- Texto Meta-A exemplo de retextualizao para Glossrio no AVEA

    .......................................................................................................................... 71 Figura 13- Indicao de retextualizao para Saiba Mais no texto-fonte A Publicaes para a Webteca .............................................................................. 71 Figura 14- Indicao da retextualizao para Webteca- publicao do texto

    meta-A no AVEA ............................................................................................. 72 Figura 15- Link para acesso do texto Mapas Conceituais indicado na retextualizao do texto-fonte e publicao no texto-meta ............................... 72 Figura 16- Retextualizao aplicada para a parte das Atividades de

    aprendizagem no texto-fonte A ......................................................................... 73 Figura 17- Retextualizao aplicada para a parte das Atividades de

    aprendizagem no texto-meta A ......................................................................... 74 Figura 18- Publicao do texto-meta A referente ao restante das Atividades de Aprendizagem no AVEA ................................................................................ 75 Figura 19- Parte do texto-meta A no Cybercaf anlogo a funo frum de discusso ........................................................................................................... 76 Figura 20- Parte do texto-meta A relacionado a atividades de aprendizagem-

    frum de discusso do mdulo I ....................................................................... 77 Figura 21- Publicao texto-meta A relacionado parte das contribuies

    verbais escritas do frum de discusso do mdulo I ......................................... 78 Figura 22- Texto meta-A como publicao das orientaes para respostas no

    questionrio ..................................................................................................... 78 Figura 23- Texto meta-A como publicao das opes de respostas no

    questionrio ...................................................................................................... 79

  • Figura 24- Texto meta-A publicao do chat do mdulo I ............................... 80 Figura 25- O texto-meta A na parte em que a publicao toma forma de

    videoconferncia ............................................................................................ 82 Figura 26- Texto fonte B para Apresentao ................................................... 82 Figura 27- Texto-meta B para a Apresentao ........................................... 84 Figura 28- Texto-fonte B para Saiba Mais ....................................................... 84 Figura 29-Texto meta-B para Saiba mais .................................................... 85 Figura 30- Texto-fonte B para Ilustrao ......................................................... 86 Figura 31- Texto-meta B para Ilustrao .......................................................... 87 Figura 32- Texto-fonte B para citao .............................................................. 87

    Figura 33- Texto-meta B para Ilustrao .......................................................... 95

    Figura 34- Retextualizao do texto-fonte B para Frum ............................... 101

    Figura 35- Retextualizao do texto-meta B para FRUM............................ 102

    Figura 36-Interao verbal escrita no FRUM .............................................. 103

    Figura 37- A retextualizao do texto-fonte B para atividade no AVEA ....... 103

    Figura 38- Texto-fonte B para atividade no AVEA ........................................ 104

    Figura 39- Texto-meta B envio de tarefa .................................................... 105 Figura 40- O acesso s videoaulas no texto-meta B ...................................... 105

  • LISTA DE TABELA

    Tabela 1- Modelo de Christiane Nord .............................................................. 31 Tabela 2- Distribuio da elaborao dos Mdulos .......................................... 47 Tabela 3- Distribuio da elaborao dos Mdulos no curso EII-UAB-UFSC 49

    Tabela 4- Aplicao tabela Nord para texto-fonte e texto-meta livro didtico

    .......................................................................................................................... 58 Tabela 5- Aplicao tabela NORD para texto-fonte B e texto-meta B como

    mdulo didtico no AVEA ............................................................................... 96

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ................................................................................. 23 2 REVISO DA LITERATURA .......................................................... 29

    2.1 A Traduo a partir da Teoria Funcionalista ............................... 29 2.2 Traduo como Retextualizao ................................................. 33 2.3 Texto e Hipertexto ...................................................................... 37

    3 O CURSO EII-EAD-UFSC ................................................................ 43 4 MTODO ........................................................................................... 55 5 ANLISE E DISCUSSO DOS DADOS......................................... 55

    5.1 A retextualizao do texto fonte A para texto-meta A enquanto

    publicao de livro didtico de acesso digital ................................... 56

    5.2 Mdulo A- a retextualizao do texto fonte A para o texto-meta A

    publicado atravs de mdulo no AVEA............................................ 69

    5.3 Mdulo B- a retextualizao do texto fonte B para o texto-meta B

    enquanto publicao de livro didtico de acesso digital ................... 81 5.4 Anlise e discusso do texto-fonte para o texto-meta livro digital-

    mdulos A e B .................................................................................. 91 5.5 A retextualizao do texto-fonte B para texto-meta B como

    mdulo didtico no AVEA ............................................................... 94

    5.6 Anlise e discusso do texto-fonte para o texto-meta mdulo

    didtico no AVEA- mdulos A e B ................................................ 106 6 CONSIDERAES FINAIS ........................................................... 109

    REFERNCIAS .................................................................................. 109

  • 1 INTRODUO

    A presente pesquisa surgiu do questionamento acerca do que

    traduo e de quais processos comumente so aceitos como tradutrios.

    Estaria a traduo contempornea inscrita somente na noo que se tem

    de que traduo a passagem de um texto,seja ele oral ou escrito, de

    uma lngua de partida para outra (de chegada)?

    Percebeu-se que oconceito cannico de traduo muito forte,

    inclusive na academia, restringindo a traduo muitas vezes ao sentido

    mais estrito do termo, ou seja, entendendo-a somente como passagem ou

    transferncia de uma mensagem verbal (seja oral ou escrita) de uma

    lngua outra, tal como explicitam as passagens abaixo:

    Traduo um processo de substituio de um

    texto em uma lngua por um texto em outra

    lngua. (HOUSE,2004, p.4)1

    [...] uma traduo deve se apoiar em conjecturas e

    s depois de ter elaborado uma conjectura que

    parea plausvel o tradutor pode proceder verso

    do texto de uma lngua outra. (ECO, 2007,

    p.50).

    Porm, havia uma intuio da pesquisadora de que traduo

    poderia ser muito mais do que essa simples transferncia. Isso, de fato,

    acabou se confirmando em duas disciplinas cursadas na PGET, em

    2011: Tpicos Especiais - a Traduo e suas Prticas Sociais e Texto, Contexto e Traduo.

    Por meio de leituras, seminrios eaulas expositivas, notou-se que

    a atividade tradutria est cada vez mais permeando as diversas reas do

    saber humano. Uma das abordagens dentro dos Estudos da Traduo

    que contribui para essa anlise a teoria funcionalista proposta por

    Christiane Nord (1991), que salienta a importncia da tipologia textual

    para a atividade tradutria. A autora tem como influncia acontribuio

    de Hans Vermeer (1986), que prope a considerao do Skopos (palavra que, em grego, significa propsito) no exerccio tradutrio, sem o qual

    1O excerto citado foi traduzido para a lngua portuguesa pela autora desta

    pesquisa.

  • 24

    os caminhos a serem tomados pelo tradutor se apresentam infinitos e

    sem muita perspectiva.

    Nord (1991) analisa prospectivamente a traduo, focando o

    receptor da mensagem, ou seja, ela entende que o texto traduzido deve

    ser adequado para a cultura de chegada, a fim de cumprir a funo a ele

    atribuda, que a de atingir pblico leitor. A traduo deve estar voltada

    a um leitor em prospeco.

    Considerando a perspectiva funcionalista para a realizao de

    traduo, procuramos investigar se h traduo na produo de material

    didtico num contexto de ensino realizado a distncia. Assim, norteou a

    investigao a seguinte indagao: Os textos produzidos para material

    didticos em EaD passam por algum processo tradutrio? Em caso

    positivo, como acontece tal processo e qual o resultado obtido?

    Assumindo tal abordagem prospectiva, a pesquisa tem por objeto

    de investigao os processos e produtos da retextualizao de textos

    didticos para Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVEA) no contexto

    de educaoa distncia, sendo essa retextualizao aqui entendida como

    atividade tradutria. Especificamente, prope-se analisar os textos-meta,

    disponibilizados on-line, luz dos textos-fonte off-line, produzidos para dois mdulos do Curso de Aperfeioamento em Educao Integral e

    Integrada a distncia da Universidade Federal de Santa Catarina

    (UFSC), atravs da Universidade Aberta do Brasil (UAB), entre 2009 e

    2010.

    Os processos de retextualizao podem ser definidos como a

    traduo do texto-fonte, que verbal digital off-line, para o texto-meta,

    que o verbal digital on-line um hipertexto. Ou seja, considera-se, para

    fins de anlise, toda modificao realizada para que o texto-fonte se

    transforme no texto-meta, um texto coerente com os propsitos de

    publicao em AVEA considerando o pblico leitor a ser atingido.

    Segundo o MEC, os referenciais para material web e AVEA tm

    como objetivo trabalhar a transposio e complementao do contedo

    do material impresso para um ambiente virtual, reorganizando estruturas

    e significados ao integrar diferentes mdias e possibilitar a interao do

    aprendiz com o contedo. Os ambientes virtuais permitem o

    armazenamento, administrao e disponibilizao de contedos no

    formato Web, tais como aulas virtuais, objetos de aprendizagem,

    simuladores, fruns, salas de bate-papo, conexes a materiais externos,

    atividades interativas, tarefas virtuais, animaes, textos colaborativos

    (wiki), etc.

    A realizao desta investigao foi baseada na anlise de dois

    mdulos curriculares (mdulo A e mdulo B) aos quais ainda se possua

  • 25

    acesso, embora restrito2. As reas de conhecimento em que se

    inscrevem tais mdulos so: A) introduo educao a distncia e B)

    pedagogia cultural vinculada a temas e questes das cincias naturais. A escolha desse corpus levou em considerao a experincia de

    atuao desta pesquisadora no curso, exercendo a funo de designer

    instrucional. Esta funo promove a integrao e o dilogo dos agentes

    envolvidos no processo (professores autores, designers, diagramadores,

    tcnicos) e, entre tantas outras tarefas, conhece e sabe tratar das

    especificidades na elaborao de materiais didticos para tal modalidade

    de educao.

    A publicao digital off-line consiste no texto ainda no

    publicado em Ambiente Virtual de Aprendizagem do EaD, ou seja, nos

    textos que serviram como base para a configurao dos mdulos

    publicados na rede AVEA. Mesmo sendo off-line, so denominados digitais, pois so textos apresentados por meio de editor de texto, como

    Microsoft Word, enviados por e-mail pelos autores ao designer instrucional do curso, que os l na tela do computador antes de comear

    o processo de retextualizao para a criao do texto verbal digital on-

    line. A publicao digital on-line consiste no texto j publicado em

    Ambiente Virtual de Aprendizagem do EaD, ou seja, no material j

    retextualizado para o acesso dos estudantes. A partir do texto-meta, que

    se configura em pdf, so gerados outros textos, denominados hipertextos

    que so multimodais, constitudos tambm por links de vdeos, animaes, e fazem parte do o material didtico do mdulo publicado

    emambiente virtual.

    Constatou-se que o material didtico publicado no AVEA passou

    por dois processos de retextualizao. O primeiro consistiu na

    retextualizao do texto fonte para texto meta enquanto publicao em

    livro didtico (pdf), cujo acesso se deu por um link no AVEA. O outro

    partiu tambm do texto-fonte para o texto-meta no formato do prprio

    2Acesso restrito no que concerne entrada no curso por meio do AVEA, visto

    que s alunos, professores, tutores, gerenciadores de rede, devidamente

    identificados via matrcula, conseguem participar e interagir no curso. Isso

    tambm ocorre em curso regular presencial, j que as instituies recebem os

    alunos para participarem de aulas atravs de uma matrcula previamente

    realizada. Tanto nos cursos a distncia, quanto nos presenciais, saber a

    quantidade de alunos e sua procedncia de extrema importncia para

    organizao didtica e curricular.

  • 26

    mdulo didtico no AVEA. Ento, os textos-meta se materializam como

    (1) livro didtico e (2) mdulo didtico, respectivamente.

    A traduo, dentro dessa perspectiva, deve resultar em um texto

    coerente com o propsito a ele atribudo. Acredita-se que o processo de

    retextualizao, no contexto de Educao a Distncia, objetiva que, a

    partir do texto-fonte, o texto-meta seja adequado ao propsito principal,

    didtico e/ou instrucional para o pblico-alvo que deve atingir.

    Dessa forma, considerando esse processo, para embasamento

    terico desta pesquisa, assume-se a teoria funcionalista proposta por

    Nord (1991), a retextualizao como traduo (TRAVAGLIA, 2003) e a

    lingustica textual no que tange ao conceito de texto e hipertexto. Estas

    teorias permitiram pensar o processo pelo qual passou o texto na

    dualidade da publicao digital off-line e publicao digital on-line.

    A escolha deste tema considerou o crescimento da demanda de

    cursos de formao acadmica em nvel de extenso, graduao e ps-

    graduao EaD pela UAB, que est presente na UFSC. E a crescente

    demanda de produo de material didtico, que constantemente passa

    por processos de retextualizao.

    Por meio desta investigao, objetiva-se contribuir com o

    desenvolvimento de pesquisas cientficas que foquem a anlise

    interpretativa e funcionalista da traduo tendo como objetivos

    especficos: (1) analisar o processo de retextualizao pelo qual

    passaram os textos para publicao em EaD dentro de uma perspectiva

    de traduo; e (2) definir as caractersticas e especificidades do processo

    tradutrio dentro da dualidade texto-fonte texto-meta considerando: autor, contexto de produo e pblico leitor.

    Para a apresentao da pesquisa, este texto foi organizado da

    seguinte maneira: o captulo I apresenta a introduo. No captulo II,

    discute-se a reviso da literatura na apresentao dos conceitos da teoria

    funcionalista a partir de Nord (1991), da traduo como retextualizao

    proposta por Travaglia (2003) e da lingustica textual no em relao aos

    conceitos de texto e hipertexto.

    O captulo III apresenta o desenvolvimento do contexto de oferta

    e funcionamento do Curso de Extenso em Educao Integral e

    Integrada na modalidade EaD entre o perodo compreendido aos anos

    de 2009 e 2010.

    No captulo IV, discute-se o mtodo empregado na pesquisa.

    Nesse captulo, so elencadas as justificativas de escolha de dois dos dez

    mdulos presentes no Curso EII-UAB-UFSC e os critrios para a

    anlise do processo de retextualizao no que concerne ao texto digital

    off-line (fonte) e ao texto digital on-line (meta).

  • 27

    O captulo V apresenta a anlise do processo de retextualizao

    dos mdulos A e B, relacionando-os com as contribuies da teoria

    funcionalista, com a noo de texto e hipertexto, e com a atribuio da

    retextualizao como processo de traduo. E, por fim, no captulo VI,

    expe as consideraes finais.

  • 28

  • 2 REVISO DA LITERATURA

    Este captulo aborda trs perspectivas tericas que do suporte

    retextualizao como um processo tradutrio: a teoria funcionalista

    proposta por Nord (1991), a traduo como retextualizao de Travaglia

    (2003) e a lingustica textual em relao aos conceitos de texto e

    hipertexto segundo Schmidt (1978), Xavier (2003), Bentes (2008),

    Marcuschi (2008), Koch (2009) e Gomes (2011). Tais perspectivas so

    fundamentais ao entendimento do processo tradutrio do texto-fonte

    para o texto-meta, objetos de pesquisa nesta dissertao.

    2.1 A traduo segundo a teoria funcionalista

    A teoria funcionalista proposta por Nord (1991) tem como foco

    do processo tradutrio o leitor final. ele quem definir as estratgias

    que so adotadas na traduo, ou seja, o pblico alvo o eixo norteador

    da prtica tradutria.

    Nordentendea atividade dinmica da traduo como processo e

    produto. A traduo vista como ao, eoreceptor-destinatrio,comoo

    elemento-chave da traduo. para ele que as atenes devem se voltar.

    O resultado do texto traduzido se direciona para o contexto do receptor,

    destinatrio.

    Essa perspectiva de anlise da traduo coloca os trabalhos de

    Nord em sintonia com as teorias que interagem com a lingustica do

    texto (lingustica textual) e com os modelos funcionalistas da

    linguagem, para os quais a funo da forma lingustica desempenha, no

    ato comunicativo, papel relevante.

    Desde a dcada de 1980, a autora trabalha um modelo lingustico-

    textual voltado traduo a partir de um processo de comunicao

    intercultural, no qual o tradutor deve levar em considerao aspectos

    registrados nos textos de partida e nos textos de chegada. Essa uma

    perspectiva em que o tradutor deve buscar perceber a inteno do autor

    no texto-fonte para adequar a traduo do texto-meta, fazendo com que

    o propsito do autor chegue ao leitor final do texto traduzido. E, para

    tanto, muitas vezes, o texto-meta retextualizado completamente.

    Termos e expresses so substitudos por outros de equivalncia

    parecida, para que sejam mais bem compreendidos pelo receptor.

    Dentro dessa concepo de traduo, importante o

    reconhecimento da existncia de uma situao comunicativa para a

    identificao da funo de um texto, ou seja, de uma traduo. Para

    Nord (1991), necessrio reconhecer que os textos so instrumentos de

  • 30

    comunicao que se inserem em uma situao ou jogo comunicativo. O

    emissor tem sempre uma inteno comunicativa ao realizar a ao de

    elaborar/redigir um texto, porm o objetivo da comunicao s se

    completar se atingir o receptor do escrito.

    Refora-se o papel fundamental que exerce o destinatrio na

    perspectiva de anlise do texto voltado para a traduo. O funcionalismo

    nordiano considera a traduo como um processo eminentemente

    prospectivo (NORD, 1991), ou seja, voltado para o destinatrio que quer

    atingir. um processo dinmico de lealdade com o destinatrio que se

    distancia da noo da traduo como um processo de fidelidade ao

    texto-fonte.

    O produto da traduo, ou seja, o texto traduzido, no precisa

    necessariamente se dar em idioma distinto. A teoria funcionalista

    engloba o trabalho de traduo tanto a partir de textos escritos em

    lnguas/idiomas diferentes, ou seja, interlingustico, quanto de textos

    escritos na mesma lngua, intralingustico.

    A autora da teoria funcionalista aplicada traduo aqui citada

    recebeu grande influncia dos trabalhos de Veermer (1995), que

    postulou, sobretudo, que a traduo deve ser sempre um ato em que a

    inteno de comunicar esteja presente no texto de chegada. E para tal,

    mister que a traduo se volte ao objetivo, inteno, ao destino que

    se d ao texto e aos movimentos de seu leitor. Neste sentido, vai de

    encontro s teorias mais tradicionais de traduo, que postulam a

    fidelidade ao texto de partida. Para Veemer (1985), a ateno deve

    voltar-se produo do texto de chegada e no reproduo do texto de

    partida.

    A partir de tal influncia terica, o modelo de Nord visa

    categorizar os elementos presentes no texto e nortear as estratgias

    tradutrias adotadas durante o processo de traduo, tendo como

    principal objetivo que os tradutores entendam a funo dos elementos

    ou caractersticas observadas no contedo e na estrutura do texto-fonte

    para escolher as estratgias mais adequadas ao propsito pretendido de

    traduo.

    Ento, Nord (1991) elabora um modelo didtico que tem como

    propsito servir de eixo norteador para o acesso funo dos textos

    fonte e meta, alm de servir como guia para as escolhas tradutrias e

    para a resoluo de dvidas que possam surgir no decorrer do processo

    de traduo.

    Mostra-se a seguir o modelo de Nord, a partir da tese de

    doutorado de Zipser (2002), onde se apresentam os fatores extra e

    intratextuais (traduzidos para o portugus) (Tab. 1).

  • 31

    Tabela 1- Modelo de ChistianeNord (ZIPSER, 2002)

    MODELO DE CHRISTIANE NORD

    TEXTO-FONTE

    TEXTO-META

    TEXTO-

    FONTE

    QUESTES DE

    TRADUO

    TEXTO-

    ALVO3

    FATORES EXTERNOS AO TEXTO

    Emissor

    Inteno

    Receptor

    Meio

    Lugar

    Tempo

    Propsito (motivo)

    Funo textual

    FATORES INTERNOS AO TEXTO

    Tema

    Contedo

    Pressuposies

    Estruturao

    Elementos no-

    verbais

    Lxico

    Sintaxe

    Elementos supra-

    segmentais

    Efeito do texto

    Nord prope um modelo que contempla a anlise dos fatores

    internos e externos do texto, a fim de ajudar, no processo de traduo, a

    identificar no texto a ser traduzido a sua funo textual e os elementos

    especficos contidos nele. Como fatores externos ao texto, ela prope

    verificar: propsito comunicativo, meio, lugar, tempo, emissor e papel

    do emissor. Quanto aos fatores internos, a autora aponta: tema,

    contedo, estrutura textual, pressuposio, lxico e sintaxe, marcas

    suprassegmentais e marcas no verbais.

    Todos ou a maioria dos itens devem ser considerados. A

    identificao da totalidade ou ao menos de alguns destes elementos

    3Nord (1991) apresenta como texto-alvo o que chamamos de texto meta

    nesta pesquisa em especfico.

  • 32

    fornece subsdios aos quais o tradutor pode se reportar para basear suas

    escolhas tradutrias. O modelo serve de guia ao realizar a traduo do

    texto-fonte para o texto-meta.

    Conforme Zipser (2002), interessante que a tabela seja aplicada

    tanto ao texto-fonte quanto ao texto-meta para que sirva de modelo de

    comparao e orientao na traduo. Sugere ainda que a anlise do

    texto a ser traduzido comece pelos elementos externos e,

    posteriormente, chegue aos elementos internos, mais pontuais. Assim,

    os elementos externos daro a moldura necessria para as escolhas dos elementos internos. A juno dos elementos externos e internos ao

    texto oferecem subsdios para definio do propsito do texto traduzido,

    da funo do texto (skopos).

    Dessa forma, brevemente, procuro esboar a contribuio

    funcionalista para anlise do processo de retextualizao com a

    apresentao da tabela proposta por Nord (1991), pois considero

    tambm o leitor final como o elemento norteador para as escolhas

    realizadas no ato tradutrio. Para isso, a anlise dos elementos internos e

    externos do texto fundamental para o processo ser realizado com xito.

    Essa teoria considera que todo texto possui uma inteno

    comunicativa, e para atingir esta inteno geralmente ele precisa antes

    ser retextualizado. o que ocorre com textos apresentados em

    ambientes digitais em contexto de EaD, conforme mostraremos na

    sequncia desta pesquisa. O idioma no muda, mas a dinmica de

    publicao sim (o texto passa de off-line para on-line), fazendo com que seu estilo e sua materialidade se alterem para que atinja os propsitos

    almejados.

    A partir disso, o funcionalismo nordiano uma teoria que vai ao

    encontro do propsito de anlise do processo de retextualizao

    focalizado nesta pesquisa. O leitor, ou seja, o cursista o fator-chave

    para que se justifique todo processo tradutrio presente na dinmica de

    retextualizao do texto verbal digital off-line para o on-line. Para

    melhor entendimento desta dinmica importante definirmos como a

    perspectiva da traduo como retextualizao.

  • 33

    2.2 Traduo como retextualizao

    Travaglia (2003) prope, em perspectiva textual, a traduo

    compreendida e analisada como um processo de retextualizao,

    argumentando que abordagens mais modernas da traduo consideram

    que no se traduzem lnguas, mas textos (MOSCOWITZ,1972;

    MESCHONNIC,1973). Embora a abordagem assumida pela

    pesquisadora citada parea considerar apenas a retextualizao

    interlingustica, os fundamentos por ela apresentados parecem se aplicar

    tambm traduo intralingustica.

    Outro argumento em favor da abordagem da retextualizao

    remete considerao de que a traduo deve ter como foco principal a

    transposio de ideias, a busca de equivalncias, a captao e expresso

    da mensagem alheia. Assim, o tradutor deve aciona os elementos de

    textualidade para produo do texto-meta, que foram antes acionados

    pelo autor na produo do texto-fonte. A textualidade envolve a

    inteno comunicativa, as operaes predicativas, as enunciativas e a

    reviso crtica.

    Para que haja satisfatoriedade no processo tradutrio, importam

    os seguintes aspectos ou etapas indissociveis: a busca pela inteno

    comunicativa do autor do texto original, a leitura do texto-fonte, a

    reconstruo do sentido do texto pelo leitor-tradutor e a sua

    (re)construo para a escrita do texto-meta. Conforme sugere a citao a

    seguir, tais aspectos no exigem linearidade, podendo operar

    concomitantemente:

    Muitas vezes nem mesmo fsica e temporalmente

    o tradutor separa estas etapas: enquanto vai lendo

    o texto e sua compreenso vai invadindo o estgio

    da traduo ele j vai tomando suas notas,

    traduzindo, compondo seu texto e quando est na

    etapa tradutria propriamente dita, suas releituras

    e sua volta ao texto como um todo vo

    modificando, traado a retextualizao na lngua

    de chegada. (TRAVAGLIA, 2003, p.73)

    A retextualizao envolve tambm fatores de coerncia na produo do texto, os quais permitem o estabelecimento de um sentido

    em um determinado tempo e espao para o leitor. Assim, a autora afirma

    que a retextualizao depende diretamente das condies de produo

  • 34

    do discurso e dos fatores de coerncia do texto lido e produzido, ou seja,

    dos critrios de textualidade.

    Alguns dos critrios explorados por Travaglia (2003) para a

    definio de textualidade so: conhecimento lingustico, conhecimento

    de mundo, inferncia e focalizao, conhecimento partilhado,

    relevncia, informatividade, intertextualidade, intencionalidade e

    aceitabilidade do texto pelo receptor, e situacionalidade. Segundo a

    pesquisadora, o que acontece no processo de retextualizao para

    traduo equivalente ao processo de produo de qualquer texto em

    que o tradutor constri o sentido a partir de um texto original; dessa

    forma o sentido construdo por ele transforma-se na sua inteno

    comunicativa para, enfim, planejar a traduo do texto em sua

    totalidade. Para tal, busca elementos que constituem a textualidade do

    original, bem como procura estabelecer coerncia entre o original e a

    traduo para realizar a parte palpvel da traduo a retextualizao. O ato tradutrio como retextualizao indica que o tradutor

    precisa reconstruir o sentido do texto para elaborar uma nova sequncia

    lingustica que permita, na lngua de chegada, efeitos de sentido

    coerentes com os sentidos presentes no texto original.

    Parte-se do pressuposto de que o tradutor tem um objeto palpvel,

    um material concreto, constitudo por um corpus delimitado, com incio

    e fim delineados, o texto em si. Da realidade lingustica concreta na qual

    o texto se apresenta, se acionam outros mecanismos necessrios para a

    textualizao. O tradutor comea o seu trabalho pela reconstruo dos

    sentidos, por meio dos elementos lingusticos de que dispe.

    importante salientar que no vamos nesta pesquisa desenvolver

    longamente o que seria cada elemento, mas vamos apresentar

    brevemente o que prope a autora sobre o processo.

    importante, por exemplo, para melhor compreenso e

    interpretao do texto a ser traduzido,o conhecimento de mundo que o

    tradutor possui. Esse conhecimento relevante para elaborao de

    inferncias, para a identificao do grau de informatividade do texto em

    relao ao contexto histrico, cultural e social, e tambm para a forma

    como se relaciona com outros textos j existentes. O conhecimento de

    mundo o resultado das vivncias, leituras epesquisas j realizadas pelo

    tradutor.

    Segundo Travaglia (2003), a inferncia consiste nas relaes

    entre os componentes que fazem parte da reconstruo do sentido de um

    texto, ocorrendo tanto de maneira explcita quanto implcita

    (pressupostos e subentendidos) entre os elementos expressos no

    texto.Assim, as inferncias que o leitor-tradutor fizer no permanecero

  • 35

    apenas para si, provavelmente, sero repassadas, retextualizadas. Logo,

    tanto os pressupostos quanto os subentendidos realizados pelo tradutor

    vo passar de um texto para outro (do texto-fonte para o texto-meta).

    A focalizao, que est relacionada com conhecimento partilhado

    e com conhecimento de mundo, a rea do conhecimento em que os sujeitos da comunicao se concentram, considerando-a sob uma

    determinada perspectiva[...] (TRAVAGLIA, 2003, p.87). Faz com que um mesmo texto possa ser explorado de diversas maneiras, a partir das

    mais diferentes abordagens sobre um mesmo assunto, sob foco poltico,

    filosfico, social, etc. Assim, o texto traduzido reflete o que o tradutor

    focalizou.

    O conhecimento partilhado o item por meio do qual se julga se

    o leitor/tradutor tem condies de compreender o texto a ser

    retextualizado. O leitor deve conseguir se situar no circuito de

    conhecimentos partilhados com o produtor do texto, para interpret-lo

    adequadamente.

    Outro fator elencado de textualidade a relevncia do texto. A

    relevncia discursiva um elemento primordial, pois permite que se

    reconstitua o sentido. Na traduo, esse item est ligado, sobretudo, aos

    conhecimentos partilhados entre as duas culturas em questo. Outro

    fator a se considerar a informatividade textual. As informaes

    contidas em um texto so captadas pelos receptores de maneiras

    diferentes; para alguns leitores, a informao pode ser nova, ou

    inesperada; por vezes, pode ser previsvel.

    O grau de previsibilidade importante na traduo uma vez que

    permite ao tradutor, estando entre dois textos, ter condies de saber e

    prever o que constar como esperado e como no esperado no texto que

    ir traduzir.

    A intertextualidade consiste na relao que se faz presente entre

    textos a partir de um determinado texto. Geralmente, depende do

    conhecimento dos leitores a respeito do uso de outros textos no texto

    traduzido. Travaglia (2003) define a intertextualidade como a relao

    presente entre um texto com outros textos j existentes, referncia ao

    conjunto de outros textos possveis numa dada condio de produo

    textual, ou ainda, no isolamento textual, uma vez que um texto

    originrio de outros aos quais ele remete. A partir desse pressuposto

    terico, entende-se que os textos fonte e meta so intertextuais entre si.

    A autora estabelece para esta relao que:

  • 36

    Pensamos que a relao entre original e traduo

    a forma de intertextualidade por excelncia, uma

    vez que na traduo no se repete o original, e o

    que est em jogo no so citaes, inseres de

    trechos dentro de outro texto, ou colagens; a

    traduo uma forma de retextualizao de uma

    forma-sentido que d como resultado um mesmo/outro texto, isto , uma mesma/outra

    forma-sentido. (TRAVAGLIA, 2003, p.105)

    Desse modo, a intertextualidade na traduo tem de representar

    uma forma de concretizao de um texto em outro, em que um texto

    absorvido, ocupado, inserido em outro texto e isso possibilita um

    intercmbio entre dois mundos textuais.

    A aceitabilidade e a intencionalidade esto presentes no cerne da

    atividade tradutria por meio do reconhecimento e aceitao do texto

    original pelo leitor-tradutor, sendo um instrumento coerente, que serve

    de partida para produzir a traduo de forma adequada no texto-meta

    com o que se objetivou expressar no texto-fonte.

    Para Travaglia (2003), toda traduo argumentativa por conter

    as marcas do tradutor percebidas pelas escolhas textuais realizadas na

    traduo e sua inteno de expressar algo que reconstruiu pela sua

    leitura. Ento, h dois fatores humanos envolvidos na intencionalidade e

    aceitabilidade no ato tradutrio: o tradutor a partir da retextualizao de

    um texto em outro; e o leitor que aceita a traduo como traduo e

    como texto em si. Por fim, outro critrio a observao da situacionalidade, que

    compreende todos os fatores que tornam um texto adequado a uma

    situao atual ou recupervel. Na traduo, a situacionalidade deve ser

    considerada tanto no plano do texto-fonte, quanto no plano do texto-

    meta. E esse item est intimamente relacionado equivalncia textual

    entre fonte e meta. Esse fator preponderante na produo e recepo.

    importante ressaltar, no entanto, que a traduo de um texto para outro

    pode estar distanciada pelo tempo, espao, condio scio-histrica, etc.

    E todos esses fatores tambm influenciam na situacionalidade do texto

    traduzido.

    Considera-se que os fatores apresentados por Travagliaso

    importantes como parte do processo de retextualizao, entretanto, nesta

    anlise em especfico, vamos atentar, sobretudo, focalizao aplicada a

    partir do texto-fonte para o texto-meta.

  • 37

    Apesar de a autora abordar tais caractersticas a partir de um

    sistema de traduo interlingual, na nossa pesquisa tanto o texto-fonte

    quanto o texto-meta compartilham a mesma lngua. O texto traduzido

    ter um novo suporte de publicao e uma contextualizao especfica, a

    digital, hipertextual. Para discutirmos tais processos preciso que antes

    fiquem claros os conceitos de texto e hipertexto. sobre tal abordagem

    que se discorre a seguir.

    2.3 Texto e Hipertexto

    Refletir sobre o conceito de texto e hipertexto foi fundamental

    investigao voltada anlise do processo de retextualizao que no

    implica necessariamente mudana ou transferncia de uma lngua

    outra. O que texto passa a ser hipertexto, aps a retextualizao, em

    razo dos objetivos, do pblico e do suporte de publicao, o

    AVEA.Ento, vamos apresentar algumas consideraes sobre o texto

    que nosso objeto de partida.

    Foi com base no texto verbal escrito, considerado aqui como

    texto-fonte, que comearam os movimentos de retextualizao que

    culminaram no hipertexto, o texto-meta. E esse foi o movimento

    tradutrio.

    Abordamos o conceito de texto com base nas contribuies da

    lingustica textual. Vamos nos remeter a ela para apresentar algumas das

    especificidades sobre texto. Consideramos primordial na anlise a

    textualidade materializada atravs da coeso, coerncia,

    intencionalidade, informatividade, aceitabilidade, situacionalidade e

    intertextualidade. Porm, vamos demonstrar a retextualizao realizada

    do texto-fonte para o texto-meta a partir da focalizao dos itens textuais

    a serem traduzidos e publicados no AVEA.

    O conceito de texto j passou por algumas fases dentro da

    lingustica textual. Segundo Bentes & Rezende (2008), em uma fase

    inicial, a nfase do conceito recaa sobre o aspecto material ou formal do

    texto: seus constituintes e sua extenso. Determinado por um incio e

    um final explcito, o texto, nessa fase, entendido como um produto

    acabado, unidade formal e que apresenta determinado conjunto de

    contedos, sendo assim visto como elemento primeiro de pesquisa.

    J em uma segunda fase, o conceito abrange a elaborao de uma

    teoria do texto; a definio passa a levar em conta a produo textual,

    como uma atividade verbal consciente e interacional,ou seja, essa

    atividade se volta anlise de que, ao materializarem um texto, os

  • 38

    falantes esto praticando aes que iro produzir, no interlocutor, um

    determinado efeito.

    A partir da dcada de 1980, a lingustica textual considerou,

    como parte relevante para o estudo do texto, o contexto de publicao e

    de evento comunicativo. Ainda que o texto tenha diversas funes, na

    funo comunicativa que nos deteremos, dada a sua relevncia ao

    contexto de circulao e uso do material escrito produzido. Essa

    perspectiva fundamental para a pesquisa, pois vai ao encontro do que

    tambm enfatiza a teoria funcionalista proposta por Nord (1991) para

    anlise da traduo. Assim, entendemos a funo comunicativa do texto

    como aquela que consegue atingir o propsito de comunicar algo a um

    pblico pr-definido. O texto verbal escrito, como evento comunicativo, pode ser

    entendido como aquele em que o contexto de publicao, o meio, a

    forma de publicao e o pblico-alvo so extremamente importantes,

    pois vo definir estratgias para a configurao e caracterizao textual

    que influenciaro o processo de retextualizao. E a esse processo

    interativo e comunicacional, atribudo como caracterstica fundamental

    presente no texto, que vamos nos ater na investigao. Alguns autores,

    ao considerarem o texto como objeto de estudo, destacaram tais

    caractersticas.

    Schmidt (1978) considera um pressuposto para a teoria do texto o

    jogo de atuao comunicativa. Os textos verbais orais e verbais escritos s existem a partir de um sistema social de interao verbal que

    pode tambm ser definido como a comunidade comunicativa. Logo,

    condio efetiva do homem sua capacidade de se perceber e conhecer a

    sua existncia como falante de uma lngua natural. E, de posse dessa

    aprendizagem da lngua no s como sistema de regras, mas tambm

    como normas de interao social dentro da comunidade lingustica a que

    pertence ou a que consegue interagir, o sujeito pode fazer uso dos textos.

    Os aspectos comunicativos e interacionais, na definio do texto,

    tambm foram abordados por Marcuschi (2008). Ele define o texto

    como parte essencial da comunicao lingustica, ou seja, da produo

    discursiva em geral. Afinal, sabido que a comunicao no se d por

    unidades isoladas como fonemas, morfemas ou palavras soltas. A

    comunicao se d por uma unidade de sentido maior que vai alm da

    frase: d-se por meio de textos. Dessa maneira, a definio de texto, em

    relao com o mundo, exemplificada abaixo:

  • 39

    O texto pode ser tido como um tecido estruturado,

    uma entidade significativa, uma entidade de

    comunicao e um artefato scio-histrico. De

    certo modo, pode-se afirmar que o texto uma

    (re)construo do mundo e no uma simples

    refrao ou reflexo. Como Bakhtin dizia da

    linguagem que ela refrata o mundo e no reflete, tambm podemos afirmar do texto que ele refrata

    o mundo na medida em que reordena e reconstri.

    (MARCUSCHI, 2008, p.76)

    Nessa perspectiva, em nossa anlise, consideramos apenas o texto

    verbal escrito; todavia, seguimos apresentando caractersticas gerais que

    envolvem o conceito de texto.

    Segundo Marcushi (2008), o texto a unidade mxima de

    funcionamento da lngua. O sentido no se relaciona ao tamanho da

    unidade texto, e sim sua unidade funcional de natureza discursiva. H

    textos de uma s palavra e que comunicam algo importante. Cita-se o

    exemplo das placas de trnsito. A extenso fsica no interfere na noo

    de texto em si, e sim sua discursividade, inteligibilidade e articulao.

    A textualidade pode ser explicada a partir da definio do texto como

    evento (acontecimento), cuja existncia depende de algum que o

    processe a partir de um contexto. um fato discursivo que se d na

    atividade enunciativa,situa-se em um contexto sociointerativo que o

    conduz produo de sentidos e deve oferecer acesso interpretativo a

    um indivduo que tenha experincia sociocomunicativa para a sua

    compreenso.

    Marcuschi expe, alm disso, que o texto no pode ser tomado

    como uma simples sequncia de palavras escritas ou faladas, pois

    antes de tudo um evento. E como tal, essencialmente, pode ser definido

    como um sistema de conexes entre vrios elementos como sons,

    palavras, enunciados, significaes, participantes, contextos, aes, etc.

    Tem uma orientao de multissistemas que envolve tanto aspectos

    lingusticos como no lingusticos (imagem, msica), o que o torna em

    geral um texto multimodal. um evento interativo, logo, no se d

    como um artefato monolgico e solitrio, sendo sempre um processo e

    uma coproduo de coautorias em vrios nveis. Compe-se de

    elementos como: som, palavras, instruo, etc., e deve ser processado

    com essas multifunes.

    A interatividade uma caracterstica textual observada por

    Marcuschi (1998) e Koch (2009). Para tais autores, o texto forma um

    todo significativo cuja produo constitui uma atividade interacional, e

  • 40

    o sentido est tanto no texto, quanto fora dele, evidenciando assim a

    importncia da participao do leitor na construo dos sentidos. Com

    esse fundamento terico, o texto definido como um tecido que forma

    uma rede de interconexes, representando um movimento de interaes

    realizadas pelo sujeito nas relaes sociais.O texto pode ser um

    hipertexto, para isso antes deve satisfazer algumas especificidades das

    quais alguns autores podem expor como melhor propriedade.

    Koch (2009) define hipertexto como um suporte lingustico-

    semitico, hoje intensamente utilizado para estabelecer interaes

    virtuais desterritorializadas. Segundo ela,

    [...]o termo hipertexto designa uma escritura no-sequencial e no-linear, que se ramifica e permite

    ao leitor virtual o acessamento praticamente

    ilimitado de outros textos, a partir de escolhas

    locais e sucessivas em tempo real [...] (KOCH, 2009, p.63).

    A autora refora, porm, que hipertexto um texto, sobretudo.

    Enfatiza que a novidade estaria na tecnologia que permite integrar

    elementos que, no texto impresso, apresentar-se-iam sob a forma de

    notas, citaes, imagens, fotos etc. Logo, o hipertexto estaria agora

    subvertendo os movimentos e redefinindo as funes dos constituintes

    textuais clssicos. Com base nisso, o texto eletrnico no estvel, os

    leitores de hipertexto eletrnico, ainda segundo a autora, podem

    interferir no contedo publicado se houver recursos que requeiram ou

    permitam isso digitalmente.

    Para Xavier (2003, pg. 2), o hipertexto definido como um construto multi-enunciativo produzido e processado sobre a tela do

    computador. O autor expe mais claramente o conceito como dispositivo digital multimodal e semi-lingustico on-line, , que gera para o leitor a possibilidade de acessar e absorver informaes. Todos os

    modos enunciativos que preveem texto verbal, som e imagem

    funcionam de modo cooperativo para a efetivao da leitura

    hipertextual. Assim, essa definio est atrelada ao uso da Internet, ao

    texto veiculado atravs desse ambiente virtual. Da mesma forma, Gomes (2011) enfatiza o conceito de hipertexto

    como o texto exclusivamente virtual que possui como elemento central a

    presena de links que podem ser palavras, imagens, cones, etc. O texto se atualiza quando clicado ou percorrido atravs da seleo de links.

  • 41

    J em Coscarelli (2012) encontra-se a definio de hipertexto por

    outro foco. A autora define hipertexto a partir da leitura, considerando

    que a caracterstica do hipertexto como texto no linear tambm pode

    ser aplicada a qualquer texto sob o ponto de vista da leitura. Defende

    que nenhuma leitura linear, nem mesmo a do texto impresso,

    argumentando assim, que todo texto um hipertexto, e que todo

    processo de leitura essencialmente hipertextual.

    Apesar de expor diversos fatores que aproximam o texto

    impresso do hipertexto em relao leitura, a autora considera algumas

    especificidades do hipertexto, que j haviam sido citadas por autores

    como Marcuschi (2008), Koch (2009), Xavier (2003) e Gomes (2011).

    Exemplos destas especificidades a presena de links no hipertexto,

    bem como a possibilidade de atualizao constante do texto. Isso

    evidenciado conforme citao abaixo:

    [...] acesso mais rpido e direto informao dos

    links, o que, no caso do impresso, requer que um

    outro livro seja encontrado e aberto, ao passo que,

    no hipertexto, bastaria um clique. A disperso e a

    abertura do texto, ou seja, a possibilidade de

    modific-lo, tambm parecem ser uma inovao

    do hipertexto, uma vez que ele permite que

    alteraes sejam feitas e disponibilizadas com

    muito mais facilidade do que se pode fazer no

    texto impresso, que exigiria novas edies do

    material, o que no alteraria os exemplares j

    impressos. (COSCARELLI, 2012, p.156)

    Alm disso, outra caracterstica do hipertexto considerada aque

    permite a juno de muitas mdias em um mesmo suporte.

    Nesse sentido, as especificidades expostas aqui sobre hipertexto

    ligaram-se intimamente ao que definimos como texto verbal digital on-line, nosso texto-meta. O texto verbal digital off-line est fora do

    contexto de publicao web, ou seja, um texto visualizado pela tela do computador, mas que no pode mais ser acessado novamente atravs da

    internet. E por isso, no carrega as opes de estar em rede e de possuir

    links ativos como no texto-meta. Para hipertexto, cabem, de forma sucinta, as seguintes definies:

    texto que possui caractersticas de interatividade, publicado em um

    suporte semitico, que pode estar em rede digital para ser acessado,

    permite o entrelaamento de diversos links que, ao serem clicados,

    remetem ou abrem outros textos. caracterstica do hipertexto a

  • 42

    multimodalidade, que engloba em sua composio som, imagem,

    animao, desenhos, etc.

    Os conceitos de texto e hipertexto so importantes, porque o

    processo de retextualizao analisado implica a passagem de texto para

    hipertexto em um suporte de publicao como o ambiente virtual de

    aprendizagem, processo este considerado aqui como traduo. Para que

    isso fique claro, preciso, antes, explicitar o contexto da pesquisa a

    partir do contexto maior em que os mdulos analisados foram inseridos:

    o Curso de Extenso em Educao Integral e Integrada da UAB-UFSC.

    Resumidamente, podemos elencar como caractersticas

    conceituais de texto: a considerao da produo textual consciente que

    leva a um propsito comunicacional, ou seja, vai produzir algum efeito

    nos interlocutores; a materializao na forma verbal oral e tambm na

    forma verbal escrita; o aspecto comunicativo e interacional presente no

    texto. Alm disso, o texto tem tambm sido caracterizado como evento

    comunicativo que abarca o contexto de publicao, o meio, a forma de

    publicao e o pblico-alvo. Por fim, e conforme observa Marcuschi

    (2008), o texto a unidade mxima de funcionamento da lngua.

    Diante de tudo que foi exposto teoricamente, a teoria

    funcionalista proposta por Nord (1991) considera que todo texto possui

    uma inteno comunicativa e que para atingir tal inteno ele precisa

    antes ser retextualizado. Para tal, procuramos buscar o conceito de

    retextualizao aplicado a traduo. E o conceito que vai ao encontro do

    que o funcionalismo nordiano prope explicitado por Travaglia (2003)

    da retextualizao como traduo a partir da transposio de ideias e

    buscas de equivalncias para expressar e captar a mensagem alheia. A

    traduo aplicada na pesquisa vai focar o texto em si dentro de um

    sistema intralingustico. A dualidade do texto-fonte e texto-meta ser

    materializada em relao ao texto e hipertexto aps o processo de

    retextualizao e publicao no Ambiente Virtual de Aprendizagem na

    Educao a Distncia.

  • 3 O CURSO EII-EAD-UFSC

    Como j mencionado, o corpus usado para anlise de

    retextualizao nesta pesquisa foram dois mdulos do Curso em

    Extenso em Educao Integral e Integrada a distncia da Universidade

    Federal de Santa Catarina (UFSC), atravs da Universidade Aberta do

    Brasil (UAB), entre 2009 e 2010. Por isso, antes de entrarmos na

    investigao propriamente dita importante apresentarmos aqui o

    surgimento deste curso de extenso, bem como as especificidades da

    modalidade de Educao a Distncia (EaD).

    A Educao a Distncia, que oferece cursos de graduao,

    extenso e ps-graduao por meio da UAB, j est consolidada como

    poltica pblica educacional e cresce a cada ano. Segundo Dias e Leite

    (2010), verificou-se que, entre os anos 2004 e 2006, houve um aumento

    de 150% no nmero de alunos matriculados nesta modalidade. A

    tendncia de que o crescimento continue expressivo com o passar do

    tempo. Considerando essa publicao no to recente, acredita-se que a

    EaD tenha crescido bastante desde ento.

    Muitas vezes, o ensino e a aprendizagem a distncia so

    associados imediatamente ao uso da internet e das tecnologias de

    informao e comunicao (TICs). No entanto, preciso deixar claro

    que a educao a distncia comeou muito antes do uso das TICs.

    Iniciou-se com o ensino por correspondncia no Brasil, por volta de

    1904. Os cursos oferecidos na poca eram voltados para o estudo em

    casa e tinham como opo caligrafia, bordado, corte e costura,

    mecnica, etc.

    Em 1939, houve a criao do Instituto Monitor e, em 1941, a do

    Instituto Universal Brasileiro. Nas dcadas de 40 e 50, ocorreu a

    transmisso da rdio-educao e, em 1971, surgiu a tele-educao, que

    se consagrou a partir de 1978 com os Telecursos da Fundao Roberto

    Marinho.

    Na legislao brasileira a EAD amparada pela Lei de Diretrizes

    e Bases da Educao Nacional (LDB), Lei n 9.394/96, Artigo 80,

    conforme indicado abaixo:

    Art. 80. O Poder Pblico incentivar o

    desenvolvimento e a veiculao de programas de

    ensino a distncia, em todos os nveis e

    modalidades de ensino, e de educao continuada.

    (Regulamento)

  • 44

    1 A educao a distncia, organizada com

    abertura e regime especiais, ser oferecida por

    instituies especificamente credenciadas pela

    Unio.

    2 A Unio regulamentar os requisitos para a

    realizao de exames e registro de diploma

    relativos a cursos de educao a distncia.

    3 As normas para produo, controle e

    avaliao de programas de educao a distncia e

    a autorizao para sua implementao, cabero

    aos respectivos sistemas de ensino, podendo haver

    cooperao e integrao entre os diferentes

    sistemas. (Regulamento)

    4 A educao a distncia gozar de tratamento

    diferenciado, que incluir:

    I - custos de transmisso reduzidos em canais

    comerciais de radiodifuso sonora e de sons e

    imagens e em outros meios de comunicao que

    sejam explorados mediante autorizao,

    concesso ou permisso do poder pblico;

    (Redao dada pela Lei n 12.603, de 2012)

    II - concesso de canais com finalidades

    exclusivamente educativas;

    III - reserva de tempo mnimo, sem nus para o

    Poder Pblico, pelos concessionrios de canais

    comerciais.

    (BRASIL, Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996)

    Percebe-se, na lei apresentada acima, a nfase a educao a

    distncia atravs dos meios de telecomunicao como televiso e rdio

    (canais de difuso de sons e imagens). Embora a EaD, com o uso das

    TICs, internet e ambientes virtuais exista de 1994 e 1996 nas

    Universidades Federais do Mato Grosso e de Santa Catarina,

    respectivamente, essa modalidade s veio a se desenvolver plenamente

    no Brasil a partir do ano 2000, com o surgimento das graduaes

    telepresenciais.

    Desde ento, a EaD comea a se mostrar como uma opo de

    maior oferta de educao superior no pas com o advento e a

    disseminao da rede internet pelo interior. A extenso do pas, as srias

    carncias educacionais existentes, a disseminao tardia do ensino

    superior (dcada de 30 do sc.XX), so outros fatores que contriburam

    para a expanso da modalidade.

  • 45

    Para viabilizar a proposta, aproveitaram-se as condies de

    infraestrutura fsica das universidades j existentes, bem como a

    ampliao dos meios de comunicao e informao das unidades para

    investir no ensino nessa modalidade e expandi-lo. Se compararmos a

    EaD no Brasil, atrelada s TICs, em relao a outros pases, podemos

    concluir que uma modalidade de ensino ainda bem recente, em

    desenvolvimento e em expanso. Em muitos lugares do mundo, a EaD

    j realidade h bastante tempo. Para citar alguns exemplos: University of London (Inglaterra) desde 1858, University of Queensland (Austrlia)

    desde 1891, Pennsilvania State College (Estados Unidos) desde 1892,

    Universidad Particular Tecnolgica de Loja (Equador) deste 1976, FED

    DE LA Univ. de La Habana (Cuba) desde 1980, entre tantas outras.

    Somente em 2005, foi criada oficialmente a Secretaria de Educao a

    Distncia (SEED) vinculada ao Ministrio da Educao (MEC), com

    programas voltados utilizao das tecnologias educacionais, em uma

    perspectiva de formao de professores a distncia. A partir de diversos

    mecanismos, como: TV Escola, ProInfo (Programa Nacional de

    Informtica na Educao), Proformao, Rdio Escola, etc. A partir de

    tal ano, EaD passou a ser considerada instrumento estratgico,

    equiparado ao ensino presencial, para promover aumento de vagas nas

    universidades pblicas e possibilitar a formao sobretudo de

    professores, dada a carncia de profissionais com formao superior em

    atuao profissional.

    Em 2006, o Ministrio da Educao lanou o edital do programa

    Universidade Aberta do Brasil (UAB), com chamadas pblicas para

    universidades federais ofertarem cursos superiores na modalidade EaD

    em parcerias com estados e municpios. A UFSC entrou como uma das

    universidades parceiras da UAB, utilizando-se dos recursos de rede para

    pr em funcionamento os cursos. Posteriormente, alm dos cursos de

    graduao, as universidades tambm comearam a oferecer cursos de

    ps- graduao dentro dessa modalidade.

    Assim, a UAB-UFSC ofertou o curso de Extenso em Educao

    Integral e Integrada a professores e gestores da Educao Bsica das

    redes de Ensino Municipal e Estadual de Santa Catarina, em oito

    cidades-polo: Ararangu, Blumenau, Cricima, Florianpolis, Indaial,

    Itapema, Joinville e Tubaro, entre 2009 e 2010.

    O curso foi oferecido dentro do projeto chamado ProgramaMais

    Educao, que objetivou qualificar, sobretudo, professores da Rede

    Bsica de Educao para atuar em escolas que oferecem ou vm a

    oferecer educao em tempo integral. O Programa Mais Educao faz

    parte do Plano de Desenvolvimento da Educao- PDE.

  • 46

    Segundo Moll (2008), a Educao Integral visa diminuir as

    discrepncias e desigualdades nas condies de acesso, permanncia e

    aprendizagem na educao escolar pblica, propondo mais tempo na

    escola. No entanto, esse deve ser um tempo que vise a uma

    diversificao curricular, sendo isso possvel por meio de uma rede de

    parceiros tanto em nvel governamental, quanto na sociedade civil.

    Conforme a autora, para discorrer sobre a Educao Integral,

    necessrio considerar as variveis tempo e espao: tempo em relao

    ampliao da jornada escolar e espao em relao aos territrios em que

    cada escola se situa. A nfase da Educao Integral e Integrada seria o

    desenvolvimento de capacidades de compreenso, aplicao e domnio

    dos contedos estudados em virtude da oferta de atividades

    complementares artsticas, culturais, sociais, esportivas e de

    acompanhamento individualizado do educando a partir de uma

    perspectiva interdisciplinar. Em relao a documentos oficiais, tanto a

    Constituio Federal de 1988, quanto a Lei 10.172 de 09 de janeiro de

    2001, que institui o Plano Nacional de Educao (PNE), retomam e

    valorizam a Educao integral como possibilidade de formao integral

    da pessoa.

    Apesar de j haver no pas experincias de educao integral, tais

    como os Centros Integrados de Educao Pblica (CIEPs) no RJ, na

    dcada 80, e os Centros Educacionais Unificados (CEUs), em So Paulo

    (2000), entre outros, a proposta discutida aqui nasceu em 2006-2007

    quando houve a constatao, atravs de organismos oficiais, como

    Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP),

    Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE) e Instituto de

    Pesquisa Econmica e Aplicada (IPEA), entre outros, de que era

    necessrio o enfrentamento da situao de vulnerabilidade e risco

    social, na qual se encontram muitas crianas, adolescentes e jovens em

    idade escolar. Tais fatores foram constatados como contribuintes para o

    baixo rendimento, defasagem idade/srie, reprovao e evaso escolar.

    Dessa forma, a proposta de Educao Integral e Integrada

    pretendeu fazer com que esse pblico ocupasse maior parte do tempo na

    escola com atividades pedaggicas, entre outras, para mudar essa

    realidade.

    A criao do Plano de Desenvolvimento da Educao (2007)

    contribuiu para dar base ao projeto de lei do novo Plano Nacional de

    Educao, o qual prev como meta que 50% das escolas pblicas

    funcionem em horrio integral, de modo a atender ao menos 25% dos

    alunos da Educao Bsica. Uma das necessidades neste sentido a

  • 47

    capacitao de docentes, sobretudo professores e gestores da Escola

    pblica para atuarem na nova realidade.

    A partir da parceria da UAB com outras seis instituies de

    ensino superior, entre as quais podemos citar: Universidade Federal de

    Santa Catarina- UFSC, Instituto Federal do Par- IFPA, Universidade

    Estadual de Mato Grosso do Sul- UEMS, Universidade Federal de

    Gois- UFG, Universidade Federal do Paran-UFPR, Universidade

    Estadual de Montes Claros-UNIMONTES, pde-se ofertar o curso de

    aperfeioamento em Educao Integral e Integrada, conforme Edital

    n.01, de abril de 2008, da Secretaria de Educao Continuada,

    Alfabetizao e Diversidade do Ministrio da Educao

    (SECAD/MEC), objetivando dar aos cursistas inscritos suporte,

    conhecimento e base para propor projetos de implantao da escola

    integral e integrada.

    A UFSC contou com algumas especificidades, como mudanas

    na proposta originalmente proveniente da SECAD. A equipe

    pedaggica decidiu programar um curso que contemplasse, alm das

    discusses acerca da educao integral e integrada, tambm a discusso

    e aprofundamento das reas de conhecimento atuantes na educao

    bsica, tais como: Lngua Portuguesa e Alfabetizao, Matemtica,

    Histria e Geografia, Cincias da Natureza e Artes. Tais modificaes

    foram devidamente autorizadas pela SECAD.

    O curso teve a colaborao de diversas instituies de ensino

    superior no que concerne elaborao dos mdulos que configuraram

    as unidades curriculares. Para uma melhor visualizao dos mdulos,

    vejamos a tabela a seguir:

    Tabela 2 Distribuio da elaborao dos Mdulos no curso EII-UAB-UFSC.

    Mdulo Ttulo IES

    I Introduo Educao a Distncia: da oralidade

    informtica

    UFSC

    II Desenvolvimento da Educao Integral no Brasil e o

    estudo das artes

    IFPA

    UFSC

    III Reflexes e Apontamentos sobre Educao Integral

    e Integrada e o estudo das Linguagens Verbal e

    Matemtica I

    UEMS

    UFSC

    IV Polticas Pedaggicas e o Estudo das Linguagens

    Verbal e Matemtica II

    UFG

    UFSC

    V Polticas Pblicas e o estudo das Linguagens Verbal

    e Matemtica III

    UEMS

    UFSC

    VI A escola, a cidade e a pedagogia cultural com visitas IFPA

  • 48

    Educao Integral e Integrada UFSC

    VII Memria e Patrimnio com vistas Educao

    Integral eIntegrada como Arranjo Educativo Local

    UFG

    UFSC

    VIII Projetos de Interveno Pedaggica

    Psicologia do Desenvolvimento - Cognio, Ensino

    e Aprendizagem

    UFPR

    UFSC

    IX Projeto de Interveno Pedaggica: Reflexes acerca

    da educao integral, com vistas prtica de

    pesquisa voltada ao ensino. Parte I

    UNI-

    MONTES

    UFSC

    X Prticas pedaggicas como prticas sociais dialogando com teorias, reas de conhecimento e

    abordagens de ensino.

    UFSC

    IX Projeto de Interveno Pedaggica: Reflexes acerca

    da educao integral, com vistas prtica de

    pesquisa voltada ao ensino. Parte II

    UFSC

    Para o desenvolvimento das atividades, havia um local virtual de

    encontro entre cursistas e formadores: o endereo eletrnico

    http://www.ead.ufsc.br/eii/. Foi a partir dele que o curso foi

    apresentado, e que o cursista contou com o suporte de videoaulas,

    glossrios, pastas virtuais com textos extras em cada unidade curricular

    que comps o eixo programtico dos mdulos. O acesso ao AVEA do

    curso foi restrito s pessoas envolvidas nele (professores, tutores,

    alunos, gerenciadores de rede, designer, designer instrucional, etc.).

    Refora-se que a verso do Projeto desenvolvido na UFSC teve a

    especificidade de contemplar, de modo integrado, em todos os Mdulos

    de ensino, as reas de conhecimento fundamentais aos professores da

    educao bsica: Alfabetizao e Letramento, Matemtica, Artes,

    Cincias Naturais, Histria, Geografia.

    Embora nesta pesquisa detalhadamente sejam consideradas

    apenas dois dos dez mdulos, todos sero brevemente descritos de sorte

    a caracterizar a organizao geral do Curso em relao s publicaes

    off-line e on-line. O primeiro mdulo intitulou-se Introduo Educao a

    Distncia: da oralidade informtica. Esse mdulo era de responsabilidade total de cada instituio que ofertou o curso. A partir do segundo mdulo, o material didtico foi desenvolvido por uma

    universidade ou instituto federal no que compete educao integral e

    integrada (conforme tabela j mostrada inicialmente) e pela UFSC no

    que concerne sreas de conhecimento j citadas. Assim, o segundo

    mdulo versou sobre O desenvolvimento da educao integral no

  • 49

    Brasil: arte e educao. A parte relativa ao contedo do desenvolvimento da educao integral no Brasil foi desenvolvida pelo

    IFPA e parte relativa arte e educao, pela UFSC. Nas unidades

    curriculares de cada mdulo em execuo no Curso EII-UAB-UFSC,

    havia um professor da UFSC responsvel pelo gerenciamento do

    mdulo, em parceria com tutores presenciais e tutores a distncia, no

    que se refere ao atendimento aos cursistas matriculados.

    Para um melhor entendimento de como ficaram organizadas os

    mdulos no AVEA, segue tabela:

    Tabela 3 Distribuio da elaborao dos Mdulos (Fonte: OTTO; SOUZA, 2012)

    Mdulo Ttulo

    I Conceitual EaD e Ferramenta Moodle

    II Desenvolvimento da Educao Integral Integrada e no Brasil

    III Educao Integral e Integrada Reflexes e Apontamentos

    IV Polticas Pedaggicas

    V Polticas Pblicas

    VI A Escola e a Cidade

    VII Educao Integral como Arranjo Educativo Local

    VIII Projetos de Interveno Pedaggica

    IX Fundamentos da Educao Integral e Integrada

    X Prticas Pedaggicas enquanto Prticas Sociais

    Conforme mostrado, o projeto do curso na UFSC ganhou

    contornos diferenciados e foi complementado, se tomarmos como base o

    projeto geral do curso para as diversas universidades que o ofertaram.

    Esta autonomia didtica prpria e necessria no ensino superior.

    De modo geral, conforme Otto e Souza (2012), a abordagem do

    curso visou, sobretudo, aos seguintes objetivos didticos: promover a

    discusso sobre educao integral e integrada nos ambientes escolares,

    incorporar contedos de educao integral e integrada nos currculos

    universitrios, estimular as escolas e demais profissionais da educao a

    participar da construo de estratgias pedaggicas e de gesto

    intersetorial para a implementao da educao integral e integrada,

    promover e estimular pesquisas e produo de novas tecnologias e materiais didticos para a implementao da educao integral e

    integrada, retomar e revisitar a formao bsica e essencial em

    alfabetizao para o letramento, matemtica, cincias naturais, cincias

  • 50

    sociais (histria e geografia) e artes com vistas educao integral e

    integrada.

    Alm disso, segundo dados do Curso coletados em Otto e Souza

    (2012), contou-se com 12 professores doutores, provenientes de quatro

    centros de ensino da UFSC: Centro de Cincias da Educao (CED),

    Centro de Filosofia e Cincias Humanas (CFH), Centro de Fsica e

    Matemtica (CFM) e Centro de Comunicao e Expresso (CCE).

    Ainda se somam 31 tutores, entre presenciais e a distncia, e a equipe

    tcnica formada por dez profissionais.

    Quanto aos cursistas, houve um total de 255 inscritos, dos quais

    apenas 78 receberam o certificado de concluso. Uma das razes para o

    baixo nmero de certificaes, ainda segundo Otto e Souza (2012), foi o

    oferecimento de modo simultneo, de dois outros cursos de

    aperfeioamento, na modalidade a distncia, semestrais, enquanto o EII

    foi oferecido no formato anual. Muitos dos cursistas se inscreveram em

    mais de um curso e acabaram por optar pelo de menor durao. Alm

    disso, utilizou-se como critrio para obteno de certificado no apenas

    a participao e o desempenho nas atividades propostas nos mdulos,

    mas tambm a elaborao do trabalho final do curso, o que levou muitos

    cursistas a perderem o direito certificao.

    A descrio de todo processo de criao, funcionamento e

    operacionalizao do curso de extenso em Educao Integral e

    Integrada foi relevante para situarmos o contexto de nossa pesquisa em

    relao escolha dos mdulos que foram objetos de investigao a

    partir da retextualizao. Cabe agora focarmos como se deu o processo

    da nossa investigao.

    Como j dito, foram escolhidos como corpora para anlise dois mdulos desenvolvidos no decorrer da operacionalizao prtica do

    aperfeioamento docente por meio dessa modalidade de extenso

    universitria. pertinente colocar que a possibilidade de existncia de

    outras problemticas, outros fatores relacionados ao curso EII no so

    foco de ateno, ao menos neste momento e nesta abordagem, para a

    pesquisa desenvolvida. A descrio dos mdulos bem como a

    abordagem da perspectiva de investigao ser inserida nos prximos

    captulos desta dissertao.

  • 4 MTODO

    Esta parte da dissertao descreve o mtodo aplicado no

    desenvolvimento da pesquisa cujo objetivo constituiu responder a

    indagao: os textos produzidos para material didtico em EaD passam

    por algum processo tradutrio? Em caso positivo, como acontece tal

    processo e qual o resultado obtido? A indagao implica a discusso da

    traduo como retextualizao dentro de um mesmo sistema lingustico,

    e visa justificar a escolha do referencial terico edo corpusa partir dos textos escolhidos.

    Descrevem-se aqui: a justificativa do corpus para a anlise, a

    escolha das bases tericas, apresentao dos textos-fonte e

    caractersticas gerais de cada um, os procedimentos de retextualizao

    aplicados, considerando principalmente a focalizao; a apresentao

    dos textos-meta e caractersticas gerais de cada um, levando em conta as

    teorias propostas.

    O corpus da pesquisa foi constitudo por dois mdulos do Curso de Extenso em Educao Integral e Integrada- UAB-UFSC. Esses

    mdulos so identificados com letra A, para o intitulado Introduo Educao a Distncia: da oralidade informtica, e, com a letra B, para o mdulo intitulado Mdulo VI- A escola, a cidade e a pedagogia cultural com vistas educao integral e integrada.

    Para anlise do processo de retextualizao, quaisquer mdulos

    presentes no curso serviriam; no entanto, optou-se por esses, porque um

    deles de instrumentalizao em relao a prpria EaD e desenvolvido

    exclusivamente por docentes UFSC, e outro de fundamentao temtica

    e terica especficas proposta do curso, alm de ser um mdulo

    intermedirio no que concerne ao desenvolvimento do curso.

    Acreditamos que a anlise do processo de retextualizao dos

    mdulos A e de B so suficientes para o que queremos expor da

    traduo como processo de retextualizao, no precisando

    necessariamente demonstrar esse processo para os demais mdulos

    constituintes do curso.

    Os textos do mdulo A, por terem sido integralmente elaborados

    por autores vinculados ao EII-UFSC, foram analisados em sua

    totalidade. Os textos do mdulo B, por sua vez, foram analisados apenas

    no que diz respeito parte relativa rea de especialidade cincias da

    natureza, posto que a outra parte do material no foi elaborada por autor

    vinculado ao EII-UFSC, tendo sido de responsabilidade de docente de

    outra universidade, conforme j esclarecido anteriormente (captulo III).

    Apesar de a poro textual dedicada educao integral e integrada ter

  • 52

    sido textualizada na UFSC, no houve negociao com o autor do texto;

    por isso, a retextualizao no foi discutida nesta pesquisa. Assim, a

    anlise ficou restrita aos textos de autores com os quais houve

    negociao e que atuaram diretamente no curso EII-UAB-UFSC. O

    objetivo desenvolver a anlise do processo de retextualizao do

    material, produzido pelos professores autores de cada mdulo, para o

    material digital (publicao no AVEA). No se trata, porm, de analisar

    ou avaliar contedos ou prticas pedaggicas. Trata-se exclusivamente

    de discutir o processo de retextualizao pelo qual os textos passaram,

    com base na perspectiva da traduo como retextualizao, na teoria

    nordiana e na lingustica textual.

    Os textos-fonte, por se constiturem de material com texto escrito

    verbal em sua totalidade, foram analisados em um primeiro momento a

    partir da lingustica textual. Posteriormente, foram discutidos tendo em

    vista as teorias da traduo como retextualizao e do funcionalismo. A

    anlise conta tambm com a aplicao da tabela proposta por Nord para

    traduo.

    A parte textual dos textos-fonte A e B foi analisada a partir do

    conceito de textualidade, no em relao ao contedo especificamente,

    mas em relao ao todo do material, como foi apresentado, o que o

    diferenciar do texto-meta, contexto de publicao, objetivos do texto,

    etc. A discusso parte do material textual dos textos-fonte, da

    textualidade com todas suas caractersticas, da configurao e da

    caracterizao textual de cada texto-fonte, j que isso influencia no

    processo de retextualizao realizado. Da mesma forma, interessam

    discusso os aspectos comunicativos e interacionais presentes no texto,

    o tamanho da unidade textual, os sistemas de conexo presente entre

    palavras, figuras, imagens, cones.

    Fundamenta a anlise a perspectiva da retextualizao como

    traduo, j que os textos-fonte constituem material textual conciso e

    que, a partir do processo de retextualizao pelo qual passaram,

    configuraram um texto-meta com os mesmos propsitos, mas em

    contextos de publicao e tempos diferenciados. Afinal, conforme exps

    Travaglia (2003, p.165), traduzir no simplesmente passar um texto de uma lngua para a outra, nem proceder a uma decodificao, mas

    retextualizar, ou seja, produzir um mesmo/novo texto. Este foi o eixo da anlise e discusso, uma vez que um dos parmetros da

    retextualizao como traduo o de que no se traduzem lnguas, mas

    textos. Conforme defende Nord (1991), o principal a ser considerado a

    transposio de ideias, a busca de equivalncias para que a mensagem

    seja alcanada.

  • 53

    Assim, observam-se, na anlise do texto-fonte, sobretudo, os

    seguintes aspectos diante desta perspectiva: (a) busca da inteno

    comunicativa do autor do texto original, (b) leitura do texto-fonte e (c)

    reconstruo do sentido pelo leitor-tradutor (d) escrita do texto-meta.

    Tanto a teoria funcionalista, quanto o que prope Travaglia (2003)

    permitem e/ou propem analisar o processo tradutrio com foco no

    leitor final; dessa forma, o parmetro da traduo o receptor da

    mensagem.

    Para os textos-fonte, aplica-se o que prope a tabela Nord (1991),

    como propsito de orientao para anlise da retextualizao. A autora

    defende que o tradutor deve perceber qual f