A tradição indígena como forma de conviver com o semiárido bras

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A tradição indígena como forma de conviver com o semiárido brasileiro Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº2010 Agosto/2014 Monsenhor Tabosa A arte de produzir artesanatos com palhas faz parte da cultura indígena. Primeiros moradores do território que hoje chamamos de Brasil, o conhecimento deles foi passando de geração em geração e sendo adaptado e aperfeiçoado para os dias atuais. No município de Monsenhor Tabosa, localizado na Região do Sertão dos Inhamuns, no Ceará, três mulheres da etnia Potyguara utilizam a produção manual como forma de adquirir renda extra e “se divertir”, destaca a cacique Maria de Fátima Pereira da Silva, 54 anos. Joelma Barbosa Matos, 43 anos, ministrou um projeto de artesanato para indígenas do município, então após o fim do curso, ela, a cacique Maria de Fátima e Maria de Jesus de Sousa Torres, de 47 anos, resolveram se unir. Alugaram um local e passaram a produzir bolsas, saias, cestas, entre outras peças. A renda com a produção que iniciou neste ano de 2014, é utilizada para pagar o aluguel, comprar eventuais matérias que precisam e o restante é dividido entre a cacique e Maria de Jesus, pois Joelma Matos que trabalha durante a manhã como merendeira em um anexo da Escola Indígena Povo Caceteiro optou por repassar o conhecimento de forma voluntária. “Fico feliz em poder dividir o que sei e possibilitar uma renda extra para elas. Além do que nos divertimos muito”, relata Joelma Matos. O bem estar que o trabalho artesanal faz, pode ser confirmado por meio das palavras de Maria de Fátima, que afirma ficar contando “o tempo para chegar a tarde e poder ir conversar, trabalhar e aprender cada vez mais. Ainda ganhamos uns trocadinhos (risos)”. Maria de Jesus acrescenta que não falta um único dia. “Aqui é bom demais!” enfatiza. Índias do município de Monsenhor Tabosa, no Sertão dos Inhamuns, no Ceará, se utilizam de palha de taboa para produção artesanal Maria de Jesus, Joelma Matos e a cacique Maria de Fátima

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A arte de produzir artesanatos com palhas faz parte da cultura indígena. Primeiros moradores do território que hoje chamamos de Brasil, o conhecimento deles foi passando de geração em geração e sendo adaptado e aperfeiçoado para os dias atuais. No município de Monsenhor Tabosa, localizado na Região do Sertão dos Inhamuns, no Ceará, três mulheres da etnia Potyguara utilizam a produção manual como forma de adquirir renda extra.

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A tradição indígena como forma de conviver com o semiárido brasileiro

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº2010

Agosto/2014

Monsenhor Tabosa

A arte de produzir artesanatos com palhas faz parte da cultura indígena. Primeiros moradores do território que hoje chamamos de Brasil, o conhecimento deles foi passando de geração em geração e sendo adaptado e aperfeiçoado para os dias atuais. No município de Monsenhor Tabosa, localizado na Região do Sertão dos Inhamuns, no Ceará, três mulheres da etnia Potyguara utilizam a produção manual como forma de adquirir renda extra e “se divertir”, destaca a cacique Maria de Fátima Pereira da Silva, 54 anos. Joelma Barbosa Matos, 43 anos, ministrou um projeto de artesanato para indígenas do município, então após o fim do curso, ela, a cacique Maria de Fátima e Maria de Jesus de Sousa Torres, de 47 anos, resolveram se unir. Alugaram um local e passaram a produzir bolsas, saias, cestas, entre outras peças. A renda com a produção que iniciou neste ano de 2014, é utilizada para pagar o aluguel, comprar eventuais matérias que precisam e o restante é dividido entre a cacique e Maria de Jesus, pois Joelma Matos que trabalha durante a manhã como merendeira em um anexo da Escola Indígena Povo Caceteiro optou por repassar o conhecimento de forma voluntária. “Fico feliz em poder dividir o que sei e possibilitar uma renda extra para elas. Além do que nos divertimos muito”, relata Joelma Matos. O bem estar que o trabalho artesanal faz, pode ser confirmado por meio das palavras de Maria de Fátima, que afirma ficar contando “o tempo para chegar a tarde e poder ir conversar, trabalhar e aprender cada vez mais. Ainda ganhamos uns trocadinhos (risos)”. Maria de Jesus acrescenta que não falta um único dia. “Aqui é bom demais!” enfatiza.

Índias do município de Monsenhor Tabosa, no Sertão dos Inhamuns, no Ceará, se utilizam de palha de taboa para produção artesanal

Maria de Jesus, Joelma Matos e a cacique Maria de Fátima

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

Realização

Todas as peças são feitas com palha de taboa (Typha domingensis Pers), planta de origem aquática e em terrenos pantanosos, que muitas vezes é tratada como praga por cobrir grande quantidade de área do espelho d'água e possibilitar a proliferação de insetos. Mas devido isso, elas conseguem as palhas praticamente sem custo. Resistentes, as plantas possibilitam a criação das mais diversas peças, como a cobertura de cadeiras, cestas e bolsas. Os produtos são vendidos no próprio prédio onde são fabricados no bairro Alto da Boa Vista, em Monsenhor Tabosa, assim como a responsável pelo museu da história da cidade, a índia Socorro

Potyguara, passou a disponibilizar o local para exposição e venda das peças criadas pelo trio.

Escola Indígena

A união, dedicação e apreço pelo fortalecimento cultural das três mulheres, também pode ser visto na Escola Indígena Povo Caceteiro (Anexo Cultura Viva), no bairro Alto da Boa Vista, na sede do município de Monsenhor Tabosa, mesmo bairro do prédio onde trabalha o trio mencionado anteriormente e local onde Joelma Matos é merendeira pela manhã. O anexo Cultura Viva, assim como o projeto de artesanato que resultou no trio Maria Fátima, Maria de Jesus e Joelma Matos, foi idealizado pela Associação Renascer da Sede Potigatapuia. O Potigatapuia é a junção das iniciais das quatro etnias existentes na região: Potyguara,

Gavião, Tabajara e Tupibatapuia. O movimento foi criado para fortalecer a cultura. O local de ensino é mantido com o salário dos oito professores que recebem do Governo do Estado do Ceará e que para ampliar a atuação da escola indígena que tem sede na Aldeia Mundo Novo, alugaram um local que pagam com o próprio salário, assim como dividem o ganho com merendeira e outras pessoas para lecionarem. Além de todos atuarem no trabalho especificado, realizam ações voluntárias. Joelma Matos, por exemplo, além de preparar a alimentação das crianças, trabalha de forma voluntária ensinando para elas a produção de artesanatos da cultura indígena. Jailson Lima aprende na escola a importância da cultura

Socorro Potyguara (vermelho) disponibilizou o museu da cidade para o trio expor e vender as peças

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