A Terra E A Humanidade

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ECOLOGIA-EAMB 025 PROF. ROBERTO CAFFARO TEXTO: A TERRA E A HUMANIDADE A Terra é um sistema vivo, com sua dinâmica evolutiva própria. Montanhas e oceanos nascem, crescem e desaparecem, num processo cíclico. Enquanto os vulcões e os processos orogênicos trazem novas rochas à superfície, os materiais são intemperizados e mobilizados pela ação dos ventos, das águas, das geladeiras. Os rios mudam constantemente seus cursos e fenômenos climáticos alteram periodicamente as condições de vida e o balanço entre as espécies. A Terra graças À sua evolução ao longo de alguns bilhões de anos propiciou condições para a existência de vida, vindo a se, hoje, a casa da humanidade. É sobre elas que vivemos, construímos nossas edificações, e dela extraímos tudo que é necessário para manutenção da espécie, tal como água, alimentos e matérias primas para produção de energia e fabricação de todos os produtos que usamos e consumimos. Entretanto, é nela que depositamos nossos resíduos, tanto industriais como domésticos. As primeiras intervenções da humanidade processos naturais coincidem com o domínio do fogo. A partir daí os seres humanos começam a modificar as condições naturais superfície do planeta. Estima-se que a exploração mineral iniciou-se há 40.000 anos, quando a hematita era minerada na África para ser utilizada como tinta para decoração. No entanto, com o inicio da chamada revolução agrícola. Desde então a humanidade explora os recursos naturais do planeta e modifica a superfície terrestre para atender às suas necessidades que crescem continuamente com o desenvolvimento das civilizações. Por outro lado, as constantes e crescentes explorações dos recursos naturais têm ocasionado intensas pressões sobre o ambiente em determinadas regiões, prejudicando a própria vida. A Historia fornece exemplos de diversas civilizações antigas que perderam sua importância por terem degradado o ambiente em que viviam. Vários séculos atrás, a civilização da mesopotâmia utilizava intenso sistema de irrigação que, pelo manejo intenso e impróprio, levou à salinização dos solos e sua conseqüente degradação para agricultura. Também a civilização Maia, na America central, entrou em decadência pela má utilização do solo, o que provocou intensa erosão e escassez de água.

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ECOLOGIA-EAMB 025

PROF. ROBERTO CAFFARO

TEXTO: A TERRA E A HUMANIDADE

A Terra é um sistema vivo, com sua dinâmica evolutiva própria.

Montanhas e oceanos nascem, crescem e desaparecem, num processo

cíclico. Enquanto os vulcões e os processos orogênicos trazem novas

rochas à superfície, os materiais são intemperizados e mobilizados pela ação

dos ventos, das águas, das geladeiras. Os rios mudam constantemente seus

cursos e fenômenos climáticos alteram periodicamente as condições de vida e

o balanço entre as espécies.

A Terra graças À sua evolução ao longo de alguns bilhões de anos

propiciou condições para a existência de vida, vindo a se, hoje, a casa da

humanidade. É sobre elas que vivemos, construímos nossas edificações, e

dela extraímos tudo que é necessário para manutenção da espécie, tal como

água, alimentos e matérias primas para produção de energia e fabricação

de todos os produtos que usamos e consumimos. Entretanto, é nela que

depositamos nossos resíduos, tanto industriais como domésticos.

As primeiras intervenções da humanidade processos naturais coincidem

com o domínio do fogo. A partir daí os seres humanos começam a modificar as

condições naturais superfície do planeta. Estima-se que a exploração mineral

iniciou-se há 40.000 anos, quando a hematita era minerada na África para ser

utilizada como tinta para decoração. No entanto, com o inicio da chamada

revolução agrícola. Desde então a humanidade explora os recursos naturais do

planeta e modifica a superfície terrestre para atender às suas necessidades

que crescem continuamente com o desenvolvimento das civilizações. Por outro

lado, as constantes e crescentes explorações dos recursos naturais têm

ocasionado intensas pressões sobre o ambiente em determinadas regiões,

prejudicando a própria vida.

A Historia fornece exemplos de diversas civilizações antigas que

perderam sua importância por terem degradado o ambiente em que viviam.

Vários séculos atrás, a civilização da mesopotâmia utilizava intenso sistema

de irrigação que, pelo manejo intenso e impróprio, levou à salinização dos

solos e sua conseqüente degradação para agricultura. Também a civilização

Maia, na America central, entrou em decadência pela má utilização do solo, o

que provocou intensa erosão e escassez de água.

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Por outro lado, se Analisarmos o histórico da ocupação da terra pela

humanidade, a população global era da ordem de 5 milhões de habitantes há

10.000 anos atrás, cresceu para 250 milhões no inicio da era cristã, e atingiu 1

bilhão em torno do ano 1850. Segundo estimativas da Organização das

Nações Unidas (ONU) atingimos cerca de 6 bilhões de pessoas no ano 2.000,

o que caracteriza um crescimento populacional segundo uma curva

exponencial.

É interessante lembrar que por volta de 1800, Thomas Malthus (1766-

1834) sugeriu que a taxa crescimento populacional era muito maior do que a

capacidade do nosso planeta de produzir subsistência para a humanidade. Se

os limites de subsistência ainda não foram superados. Isto se deve

basicamente a duas razões:

1) a ocupação e exploração de novas áreas. Para se ter uma idéia,

durante o século xix a área de terras aradas, ou seja, destinadas a agricultura,

cresceu 74% em relação às terras aradas no século anterior. Tal crescimento

deu-se através do desflorestamento de enormes áreas, observando-se, no fim

do século xx, taxas anuais da ordem de 1,7% na África 1,4%na Ásia e 0,9%nas

Américas Central e do Sul;

2) os enormes progressos tecnológicos, em todas as áreas do

conhecimento, levam a uma maior produção de alimentos por área cultivada

graças ao uso intenso de fertilizantes, agrotóxicos e sementes desenvolvidas

em laboratório, o que, em contrapartida, impõe a implementação de complexos

sistemas produtivos, de transporte e de abastecimento.

As características de desenvolvimento acima descritas exigem um

consumo cada vez maior de matérias-primas, tanto minerais, como

energéticas. Estima-se que o consumo de matérias-primas minerais varia entre

8 ton./ao por pessoa nas regiões menos desenvolvidas e de 15 ou ate 20

ton./ano por pessoa nas mais desenvolvidas.

Para possibilitar o conforto da população atual da terra, o volume de

matérias mobilizados pela humanidade (matérias para construção, minerais e

minérios) é maior do que aquele mobilizados pelos processos geológicos

característicos da dinâmica externa da terra. Tal constatação coloca a

humanidade não só como o mais efetivo “agente geológico”, mas como o mais

importante modificador da superfície do planeta na atualidade.

Paralelamente, o processo de ocupação de novas áreas para garantia

de suprimentos das necessidades da humanidade leva a domesticação e

criação de algumas espécies animais, protegidas e utilizadas como alimento,

em quanto outras, consideradas daninhas, são extintas provocando perdas

irreversíveis à biodiversidade do planeta e causando desequilíbrios ecológicos.

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Com a revolução agrícola, as civilizações que povoaram a Europa, no

mediterrâneo, Ásia Menor, a Índia e o Leste asiático modificaram por completo

os territórios ocupados, explorando seus bosques e florestas e transformando-

os em campos agrícolas. De maneira coerente o modelo de colonização

adotado pelos europeus nas Américas e África, e particularmente no Brasil a

partir do século XVIII, baseia-se no desmatamento de extensas áreas

florestadas para exploração da madeira. A área desmatada pode ser

abandonada ou, eventualmente, ocupada por pastos e por uma pecuária

extensiva que, à medida que são disponibilizados melhores meios de

comunicação, progride para uma agricultura extensiva. A extração da floresta e

sua substituição por uma vegetação rasteira, freqüentemente manipulada de

forma inadequada, leva à maior exposição do solo que passa a ser mais

suscetível aos agentes erosivos, com sua conseqüente desestruturação a

perda da capacidade de absorção de água. O que provoca maior escoamento

superficial que, por sua vez, intensifica a erosão. Perda de solo causara, de

modo complementar, assoreamento dos rios, dos lagos e finalmente a

deposição de material sedimentar nas plataformas continentais dos oceanos.

Com a exaustão do solo, as populações procurarão novas áreas que

sofrerão o mesmo processo de ocupação e degradação. Nas áreas em que a

agricultura intensiva é implantada, quase sempre em associação com técnicas

de irrigação, o desequilíbrio ecológico se faz presente, obrigando o uso

excessivo de fertilizantes e agrotóxicos - Tais práticas são extremamente

agressivas ao solo; podendo levar sua salinização. Além disso, podem

provocar contaminação tanto das águas superficiais como da subterrânea,

inviabilizando o aproveitamento da região por um longo período de tempo, ou

mesmo permanentemente, visto que as águas subterrâneas deslocam-se a

velocidades extremamente baixas, e não se renovam facilmente.

A necessidade de maior produtividade da área cultivada obriga a uma

modernização e progressiva mecanização da agricultura, o que cria um grave

problema social na medida em que alija os trabalhadores rurais de seu

mercado de trabalho tradicional, fazendo com que grandes contingentes se

mudem para as áreas urbanas à procura de novas oportunidades. Nos países

menos desenvolvidos, esses trabalhadores chegam às metrópoles sem

condições financeiras e instrução, adequadas para competir no mercado de

trabalho. Em muitos casos, estabelecem – se em áreas periféricas geralmente

inadequadas para a ocupação, onde a vegetação é retirada e cortes e aterros

são construídos sem o mínimo controle técnico. Tais alterações do meio físico

aumentam vulnerabilidade das populações, como é o caso de construções em

áreas de risco coloca em permanente evidência as desigualdades sociais e

econômicas e cria um estado de contínua tensão social.

A taxa de crescimento populacional nos países menos desenvolvidos é

muito maior do que aquela dos países desenvolvidos, onde na maioria dos

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casos há uma população estável e, devido às melhores condições de vida,

expectativas de vida mais elevadas. Essa distribuição populacional leva a crer

que, mesmo que as taxas de natalidade nos países menos desenvolvidos

decresçam, um patamar de relativa estabilidade populacional na terra só será

atingido depois de 2050 quando, estima-se, a população mundial será em torno

de 10 a 11 bilhões de pessoas.

Os países mais desenvolvidos caracterizam-se por um perfil de consumo

exagerado tanto de matérias-primas como de energia. Conseqüentemente,

produzem enormes quantidades de resíduos como nos Estados Unido da

América, onde cada habitante gera cerca de uma tonelada de resíduos por

ano, que tem cerca de ser dispostos em áreas apropriadas para essa

finalidade.

Na busca de uma melhor qualidade de vida, a tendência seguida pelos

países menos desenvolvidos é atingir os padrões de consumo dos países

industrializados do Hemisfério Norte. Entretanto, fique evidente que isso levaria

em níveis insustentáveis de consumo de matérias primas e combustíveis, de

maneira em que as nações em desenvolvimento deverão buscar caminhos

diferentes, evitando o mesmo nível de consumo e desperdício praticados

naqueles países, uma vez que os recursos globais são limitados.

Texto retirado de:

CORDANI, U.G & TAIOLI, F. A Terra, a humanidade e o desenvolvimento

sustentável. In: TEIXEIRA, W. ET Al., (ORGS) Decifrando a terra. São Paulo:

Oficina de textos, 2001. 518-521.