A técnica e o conhecimento nos países que lideraram o sistema internacional de...

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Universidade do Vale do Itajaí Centro de Educação São José Curso de Relações Internacionais A técnica e o conhecimento nos países que lideraram o sistema internacional de estados: um estudo histórico JACKSON NEVES BARBOZA Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a banca examinadora do curso de Relações Internacionais como parte das exigências para a obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais, pela Universidade do Vale do Itajaí Professor Orientador: Paulo Jonas Grando UNIVALI- São José 2008

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Universidade do Vale do Itajaí

Centro de Educação São José

Curso de Relações Internacionais

A técnica e o conhecimento nos países que lideraram o sistema internacional de estados: um estudo histórico

JACKSON NEVES BARBOZA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a banca examinadora do curso de Relações Internacionais como parte das exigências para a obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais, pela Universidade do Vale do Itajaí

Professor Orientador: Paulo Jonas Grando

UNIVALI- São José 2008

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RESUMO

Palavras-chave: Técnica, Sistema Internacional, Hierarquia Internacional, Hegemonia RESUME:

Mots-clé: Techinique, Système Internationale, Hiérarchie Internationale, Hegemonie

Este artigo aborda, de forma resumida, como os países que lideram(ram) o Sistema Internacional se utilizaram do conhecimento e da técnica como elemento capaz de alterar o status quo ou sua posição na hierarquia do Sistema de Estados. As características sobre como os países que se tornaram as principais potências foram trabalhadas com base no enfoque histórico, o qual permite perceber como se deu sua evolução e identificar o conjunto de diferenças em relação a outros Estados. No processo, cada nação, sob o comando de um Estado produziu uma nova organização de poder na sociedade, um conjunto de tecnologias correspondente e uma ideologia que justificasse este processo de transformação. O argumento central destaca que em um ambiente internacional competitivo, geralmente, os governos tentam produzir uma série de competências e habilidades para que seus países possam, pelos menos, manter sua posição ou status na hierarquia internacional de poder. Decorrente disso, o trabalho examina como Portugal, Espanha, Holanda, Inglaterra e Estados Unidos da América produziram as condições para assumirem, cada um a seu tempo, o topo da hierarquia do sistema internacional de Estados.

Cet article aborde, de façon résumée, la façon dont les pays qui ont été leaders du Système International ont utilisé la connaissance et la technique comme éléments capables de modifier le statu quo ou leur position dans la hiérarchie du Système d’États. Les caractéristiques grâce auxquelles les pays se sont transformés en grandes puissances ont été étudiées principalement dans une perspective historique, laquelle permet de percevoir le déroulement de l’évolution et d’identifier les différences avec les autres États. Dans ce processus, chaque nation, sur le commandement d’un État, a produit une nouvelle organisation du pouvoir dans la société, ainsi qu’un ensemble de technologies correspondant à une idéologie qui puisse justifier ce processus de transformation. L’argumentation centrale met l’accent sur le fait que, dans un contexte international compétitif, le gouvernement essaie généralement de produire un éventail de compétences et de savoir-faire pour que son pays puisse maintenir au moins son rang ou statu quo dans la hiérarchie internationale du pouvoir. Le présent travail examine comment le Portugal, l’Espagne, la Hollande, l’Angleterre, les Etats-Unis d’Amérique, ont pu créer les conditions pour arriver, chacun en son temps, à la tête de la hiérarchie du système international d’Etats. international d’Etats.

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A técnica e o conhecimento nos países que lideraram o sistema

internacional de estados: um estudo histórico

Jackson Neves Barboza

Sumário: Introdução; 2. O sistema internacional de Estados: surgimento, expansão e principais características; 2.1 Os portugueses: início do domínio ocidental do mundo entre o século XV e XVII; 2.2 As inovações espanholas e a competição com Portugal; 2.3 Holanda: potência de rápida ascensão e declínio; 2.4. A Inglaterra: o último país europeu a atingir a hegemonia no SI; 2.5. Os Estados Unidos da América: o atual Hegemon do Sistema internacional de Estados. Considerações finais Introdução

Este artigo aborda o domínio e o uso do conhecimento e da técnica como elemento

capaz de alterar o status quo ou a posição dos estados no sistema internacional. A delimitação

do tema examina os principais aspectos que auxiliaram as principais potências da era moderna

(Portugal, Espanha, Holanda, Inglaterra e Estados Unidos da América) a produzir

determinadas situações que lhes permitiram obter um conjunto de diferenças em relação a

outros estados, os quais os levaram, em determinado período da história, a assumirem a

hegemonia do Sistema Internacional de Estados.

O tema foi trabalhado a partir do seguinte questionamento: quando se observa os

diferentes momentos da história moderna, um conjunto de novos conhecimentos e técnicas foi

utilizado por diferentes países e estas alternativas contribuíram para que eles pudessem

modificar sua posição hierárquica no sistema de estados. A pergunta básica questiona sobre a

possibilidade de se identificar a forma de utilização das técnicas, conhecimentos e/ou

procedimentos que contribuíram para alçar os Estados nominados à situação hegemônica no

sistema internacional.

A justificativa do trabalho decorre do seguinte argumento: no contexto histórico da

evolução do Sistema Internacional (SI) os Estados que ocuparam o papel de principal potência

foram capazes de produzir novos conhecimentos e, a partir disto, de inventar, adotar e utilizar

as respectivas técnicas, as quais foram importantes para possibilitar a modificação de seu

status na estrutura de poder do SI. No processo, cada nação, sob o comando de um Estado

produziu uma nova organização de poder na sociedade, uma tecnologia correspondente e uma

ideologia que justificasse este processo de transformação. Empiricamente, os países que

obtiveram a hegemonia em algum momento da história, produziram e/ou passaram a se

utilizar de um conjunto de conhecimentos e técnicas inovadoras que lhes possibilitava

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usufruir de um ganho diferencial em situações de competição com outros Estados. Os

aspectos destas técnicas influenciaram as características do comportamento político, social e

econômico quando seus governantes, de posse destas novas descobertas (técnicas de

navegação, armamentos, procedimentos políticos...) as utilizam para poder galgar um lugar de

maior importância na hierarquia do SI.

Em um ambiente internacional competitivo, geralmente, os governos tentam produzir

uma série de competências e habilidades para que seus países possam, pelos menos, manter

sua posição ou status na hierarquia internacional de poder. Estas ações englobam desde

alianças com outros estados para enfrentar inimigos em conflitos como também estratégias

para desenvolver novas tecnologias em vários domínios da produção, que vai desde novos

procedimentos na agropecuária, no movimento de bens e pessoas, na indústria: bélica,

farmacêutica, robótica, nanociência e em todos os setores de bens de produção e de bens de

consumo em geral, entre outros. Partindo deste argumento, a pesquisa investiga como

Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e Estados Unidos, produziram e utilizaram, cada um a

seu tempo, determinadas tecnologias que contribuíram para que os países nomeados

atingissem a posição de ator hegemônico do sistema internacional.

Dada à justificativa, o objetivo desta investigação foi o de identificar as principais

técnicas e os conhecimentos adquiridos e utilizados para alçar Portugal, Espanha, Holanda,

Inglaterra e Estados Unidos, à posição de liderança do SI. Decorrente do exposto, na primeira

seção é trabalhado as características do sistema internacional. Em seguida, busca-se

compreender o SI como estrutura que perdura há cinco séculos, pela observação de seu

surgimento e sua expansão. Na terceira seção estudam-se as principais características do SI

com foco na competição entre os Estados para estimulá-los a produzir estratégias de

autonomia, frente às restrições impostas pela estrutura competitiva. Por fim, na última parte é

identificado os principais conhecimentos e técnicas produzidas por Portugal, Espanha,

Holanda, Inglaterra e Estados Unidos, que possibilitaram mais autonomia àqueles países e

contribuíram para alçar seus Estados a posição de liderança do SI.

1. O sistema internacional de Estados: surgimento, expansão e principais

características

Nesta parte do artigo identifica-se o que vem a ser o SI e sua estrutura, seu

aparecimento e seu desenvolvimento até os dias atuais. O SI moderno é um produto da

expansão do modelo europeu de organização do poder político. Após ocorrer fragmentação do

poder territorial entre os séculos IX a XI, a Europa reverte o processo nos séculos XII e XIII e

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dá início a centralização do poder territorial e da mercantilização das trocas no âmbito da

economia. É isto que FIORI (2007) chama de pré-história do SI moderno como ponto de

partida para se compreender o início da formação do Sistema Internacional de Estados. Fiori

(op cit.) também observa que a mudança principal no quadro de estagnação monetária no

século XII foi gerada pela acumulação do poder que antecedeu às conquistas das forças

expansivas européias, cujos governos aumentaram as tributações para cobrir gastos com estas

guerras. Estas ações estimularam a produção, a mobilização do trabalho e a aquisição de

terras gerando, desta forma, maiores excedentes.

O SI moderno surgiu na metade do século XVI, no mesmo momento em que a Europa

foi testemunha de uma revolução em várias áreas da ciência. O conjunto resultante de

mudanças colaborou para transformar as relações comerciais, pessoais e políticas no velho

continente e neste diapasão os europeus as expandiram para o resto do mundo. Com as

grandes navegações o homem europeu pôde perseguir novas rotas para o comércio, utilizadas

anteriormente apenas por terra e por mares interiores. As novas alternativas produziram

aumento na quantidade e na qualidade dos produtos que os europeus passaram a transacionar.

Assim, ao produzirem mudanças na forma de negociar dentro da Europa, as novas técnicas e

novos procedimentos sociais contribuíram para criar uma nova estrutura política e econômica

que redefiniu a maneira dos países de se comportarem no SI recém formado. (TELO, 1996)

A expansão dos novos conhecimentos na Europa criou novas e inestimáveis vantagens

para o continente. Além da busca por ouro e prata, as grandes navegações abriram novas

possibilidades. Por exemplo, a de se ir até a Terra Nova onde havia abundância de pescado

cuja captura proporcionou mais fartura de alimentos para os europeus assolados por pestes,

fome e guerras. Com as novas relações comerciais abriram-se mais possibilidades de trabalho

que estimularam a economia de mercado, a expansão marítima e também o comércio terrestre

com a Rússia, de onde partiam os carregamentos de peles, sal, cereais e outras especiarias

para a Europa Ocidental. Estes aspectos também são ressaltados por, Kennedy (1989) como

uma das características importantes para o surgimento do SI moderno. Outra característica

importante foi a centralização do poder político que se deu através da influência das guerras, a

partir do final do século XV, e da centralização do poder soberano representado na figura de

um monarca, príncipe ou pela oligarquia mercantil.

Junto com as transformações nos meios de produção e de transportes, expande-se

também a diversidade ideológica dos homens da época. As novas idéias vieram a corroborar

para que houvesse maior interação entre os povos e neste ínterim, a reforma na igreja católica

criava novos grupos de indivíduos com a mesma ideologia. (HALLIDAY, 1999). Isto é o que

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Kennedy (1989) chamou de “zelo religioso e nacionalista”, quando das expedições em busca

de novas rotas, tanto para a prática de um comércio mais intenso, como na pretensão de

expandir a fé. Ao utilizarem determinados preceitos, ora da reforma e ora da contra-reforma,

os europeus buscavam vencer seus rivais para aumentar o poderio de seus países. Neste

processo, novas e velhas idéias não evitaram que os europeus pilhassem os povos por onde

passavam, principal forma de pagamentos para exércitos famintos e sem soldo fixo.

Para ser exercido, o poder político deve se reproduzir constantemente. Este movimento

de expansão é uma atitude do poder soberano para fortalecer seu poder e essa pressão

competitiva é sempre uma pressão sistêmica. Esta força não é necessariamente de coerção,

mas sim aquela que permite influir sobre decisões de outrem (LEBRUN, 1984). Então, pode-

se dizer que a rivalidade entre os próprios europeus foi um dos fatores responsáveis pelo

conhecimento adquirido através do avanço da ciência e isto permitiu o aprimoramento e o

avanço das práticas produtivas, das novas técnicas militares, agrícolas, de armazenamento de

alimentos e das técnicas extrativistas.

A maioria dos progressos desta época foram frutos de uma corrida armamentista entre

os próprios europeus. As novas técnicas de navegação tais como a bússola, os conhecimentos

adquiridos em cartografia, o telescópio, o barômetro e a metalurgia, para citar algumas

técnicas que aceleraram o conhecimento de como se navegar em águas oceânicas, a utilização

dos metais e também inovações na área da medicina e da física permitiram aos Estados que as

dominaram ampliar seu poder frente aos competidores. Com a descoberta da impressora não

apenas a bíblia era reproduzida, mas também toda uma nova gama de conhecimentos podiam

agora chegar às mãos de um maior numero de indivíduos. Tudo isso fortaleceu o poderio

tecnológico que manteve os países europeus, durante quatro séculos, no topo do SI. Como no

SI o perigo da guerra é constante, uma forte influência para o amadurecimento de um sistema

multipolar dentro da Europa acontece a partir de 1660 após as disputas entre os Habsburgos

da Espanha e Áustria, as Províncias Unidas (posteriormente Holanda), Inglaterra e França.

Neste contexto, conforme as guerras de cunho religioso foram sendo deixadas para trás, os

países apontados começam a enfatizar a Realpolitik, provocando a queda de alguns Estados e

a ascensão de outros. (KENNEDY, 1989)

Para Telo (1995), através das grandes navegações espécies nativas transitaram de um

continente a outro, povos foram dizimados por invasores como foi o caso dos Tupis no Brasil,

massacrados pelos Portugueses, e os Maias, Astecas, Toltecas e Incas pelos Espanhóis. Com

estas ações para dominar e conquistar, os europeus mudaram, gradualmente, as características

dos novos lugares no qual chegavam.

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No processo de conquista e de expansão do Sistema de Estados criado pelos Europeus,

os fluxos migratórios trouxeram a possibilidade de estender o domínio, antes limitado

territorialmente pelas fronteiras já existentes na Europa para outras partes do mundo. Todas

essas mudanças construíram uma nova relação do homem com o ambiente e produziram uma

nova maneira de convivência entre os indivíduos. Portanto, baseando-se nas idéias de Telo

(op. cit.), pode-se afirmar que nos últimos quinhentos anos, após o surgimento do SI moderno,

o capitalismo e os Estados-nação europeus foram alavancados pelas novas formas de

crescimento econômico e deixaram para trás a antiga ordem feudal.

Uma das principais características do SI é que entidades supranacionais são

importantes, mas seu principal ator continua sendo os Estados e suas relações mútuas. Na

visão de Aron (1980) o Sistema de Estados construído a partir da Europa é definido a partir do

estado de risco de guerra entre seus membros. Tal perspectiva faz parte da forma de ver as

relações internacionais por parte dos realistas. Como os conhecimentos bélicos se

transformaram no principal motor do desenvolvimento das novas tecnologias, todos os países

que conseguiram hegemonia dentro do SI foram, por sua vez, os detentores deste poderio. Isto

demonstra que a estrutura do SI mantém-se a mesma, apesar da mudança de importância e de

posição das unidades no sistema (FIORI, 2004).

Waltz escreve (1979) que o SI é anárquico. Tal característica é porque o ambiente

internacional apresenta a ausência de uma autoridade global, aspecto diferenciado da situação

vivida pelo Estado em seus assuntos internos. No plano nacional, cada governo possui o

monopólio da utilização dos métodos de coerção e da imposição das regras. A idéia de

estrutura do sistema permite identificar como principal unidade de poder aquela que detém a

hegemonia, presente naqueles atores que desempenham determinadas funções de maneira

mais eficiente que as outras unidades. Isto ocorre devido à capacidade de alguns Estados em

produzir situações que eles controlam de forma soberana, enquanto outros Estados se tornam

dependentes das decisões dos primeiros.

Ainda, é importante destacar que o poder dos Estados existentes no SI não é estático.

Alterar a posição de um Estado no SI depende de um conjunto de fatores muito amplos que

vão desde movimentos fortuitos, produzidos pela sorte e pelo acaso, até aqueles planejados e

pensados para expandir as competências técnicas e produtivas de um país. Como o SI é

hierárquico e as relações entre os Estados são condicionadas pela anarquia entre eles, esta

característica faz do Estado à principal autoridade dentro do SI. Nesta situação de anarquia

não há diferenciação, ao menos no plano jurídico, entre as unidades. Apesar de

desempenharem os mesmos papéis, existem diferenças entre eles, pois suas relações são

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pautadas no desequilíbrio de poder das unidades. Dentro deste sistema é a estrutura que

constrange, limita e orienta a ação dos agentes, tanto em relação à socialização entre eles

como em situações de competição. (WALTZ, 1979)

Com isso, o Sistema de Estados criado pelos europeus, apresenta as seguintes

características principais: é anárquico, hierárquico e as principais relações entre os membros

do sistema são de competição. Suas unidades são caracterizadas pelo sistema de auto-ajuda

que para Nogueira & Messari (2005) significa que os Estados precisam cumprir a mesma

função essencial de preservar sua sobrevivência. As relações entre esses Estados são

horizontais e este equilíbrio de poder tem como significado a estabilidade dentro de um

sistema composto de uma variedade de forças autônomas. Para se manter o referido equilíbrio

os diferentes elementos devem normalmente seguir suas tendências conflitantes. Então, por

estes motivos que, historicamente, é possível apontar poucos Estados, que conseguiram

ascender ao topo da hierarquia no sistema internacional. É isto que se busca mostrar em

seguida.

2. Portugal e o início do domínio europeu do mundo.

Nesta parte do trabalho a formação de Portugal, o surgimento do absolutismo, o

desenvolvimento tecnológico e o lugar de destaque deste país no início do sistema

internacional são os fatores mais importantes da discussão. Portugal se tornou um país

unificado bem antes da delimitação territorial de grande parte dos países da Europa. A

Península Ibérica, localizada na parte mais ocidental da Europa, era dotada de uma posição

geográfica privilegiada, na época, devido à rota das especiarias que vinham do Oriente e que

passava por seus portos. Durante as disputas territoriais das terras ibéricas com os mouros, o

domínio da península alternou-se durante oito séculos. Esta parte da Europa estava tomada

pelos muçulmanos e a luta contra os mouros, chamados de infiéis, fez com que a nobreza da

época enxergasse a possibilidade de obter títulos e terras através de atos de heroísmo.

Entretanto, mesmo através desta relação conflituosa entre cristãos e mouros foi possível para

Portugal aprender e adquirir novas tecnologias. (RAMOS, 2004)

Na luta contra os muçulmanos, Portugal centraliza o poder na figura do rei que, ao se

utilizar das cruzadas abre caminho para se tornar um dos principais povos a possuírem o

domínio sobre as rotas de comércio. Estas lutas ocorreram com ajuda de combatentes vindos

de várias partes da França e do resto da Europa, oriundos do sistema feudal que entrava em

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crise, ajudando desta forma a criar os reinos ibéricos. Este comércio entre as regiões foi o

passo inicial para o surgimento do mercantilismo, política econômica que contribuiu para

fortalecer o poder real e o absolutismo, pois sua principal meta era a busca de ouro e prata

para atingir poder e glória. (TELO, 1996).

A reconquista das terras que estavam sobre o controle árabe aconteceu a partir do

século XI e foi viabilizada através de batalhas e de casamentos entre descendentes da nobreza

de várias partes da Europa. Com isso, a partir do século XII, uma grande parte da península

havia sido readquirida pelos portugueses. Uma das marcas do final da ocupação dos mouros

foi á derrota dos muçulmanos pelo Rei Pedro II de Aragão e, com isso, a bula papal no ano de

1179 reconheceu o reino de Portugal e Algarves como soberano. Com o fim das invasões

muçulmanas, as monarquias feudais e a igreja garantiram, de certa forma, uma paz propícia

para o crescimento comercial português. E assim, a vida urbana se intensificou e Portugal

ampliou suas relações comerciais com o norte da África e depois com o Oriente. Foi o imenso

lucro destas transações comercias que incentivou Portugal a atingir o caminho marítimo para

as índias. (ARRUDA, 1996)

A expansão das trocas comerciais foi também incentivada pela busca de metais

preciosos a fim de se cunhar moedas exerceu forte influência para a expansão marítima rumo

ao Atlântico nos séculos XV e XVI. Ainda no século XII os portos nas cidades portuguesas,

utilizadas como pontes para o comércio europeu entre os mares do norte e do mediterrâneo,

foram muito importantes para se criar um ambiente sócio-econômico favorável a Portugal.

Este aspecto fortaleceu a burguesia portuguesa e possibilitou o aumento do fluxo comercial

com negociantes genoveses e flamengos, incentivados pela criação de seguros náuticos e da

bolsa de valores de Lisboa. A subida ao trono português de D. João I impediu a subordinação

de Portugal ao reino de Castela e reafirmaria a independência portuguesa. (AQUINO, 1995)

Fiori (2004) escreve que, junto com a necessidade de se criar uma forma de Portugal se

adaptar às transformações do comércio trazidas pelas novas técnicas de transportes e da

monetarização de sua economia, era necessário descobrir novas rotas para colocar em prática

essas mudanças. Portugal parte então em busca de novas fontes de insumos e de matérias-

primas para poder viabilizar o enriquecimento de seus monarcas. Para isso foi necessário

utilizar novas tecnologias náuticas e a experiência “humana” já acumulada no país e

adquiridos nos portos e escolas de marinha. Ao viabilizar sua expansão Portugal conseguiria

se tornar um dos primeiros atores hegemônicos no sistema internacional no Século XV.

A navegação oceânica foi possível com o surgimento de novas técnicas. As caravelas,

embarcações mais pesadas e movidas à energia eólica, permitiram que os portugueses se

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afastassem da costa a fim de buscar novas rotas de comércio. A Índia era o foco principal dos

navegadores da época. Os nobres e a nova classe burguesa ascendente almejavam vantagens

econômicas maiores das que já existiam com o comércio por via terrestre com o Oriente.

Assim, é entre o final do século XV e inicio do XVI que os governantes decidem direcionar

recursos para a política expansionista de Portugal, ação que também começou a ser feita na

Espanha a exemplo das Cidades-Estados de Veneza e Gênova.

Outra transformação técnica importante foi a de utilizar canhões mais leves nas

embarcações e que pudessem ser instalados perto da linha d’água. Este fator permitiu aos

navios portugueses estarem prontos para o combate e desafiarem seus oponentes, os turcos

otomanos ou qualquer outro povo que praticasse a pirataria no mediterrâneo ou na costa oeste

da Europa. Desta forma, como os oponentes possuíam naus mais leves e de fácil manejo,

mesmo assim, com um maior poder de fogo, os marinheiros portugueses puderam dominar os

mares. (KENNEDY, 1989, p.32)

É o que também diz Telo (1996), para quem Portugal foi o primeiro país europeu a

assumir as grandes navegações com sucesso. Sua posição geográfica, devido sua interface

direta com o Oceano Atlântico, permitia a confluência de diferentes destinos para seus portos.

Ao dominar a construção de todo tipo de embarcações e o conhecimento das rotas marítimas,

através da contratação de marinheiros de várias nações, o país acumulou um grande acervo de

conhecimentos sobre a navegação oceânica. Estas características permitiram que Portugal se

diferenciasse das outras potências marítimas da época e, com isso, o país passou e ser a

primeira potência global entre o século XV e meados do século XVI.

Portanto, pode-se destacar que as tecnologias e os conhecimentos produzidos por

Portugal permitiram ao país galgar o posto de potência hegemônica, inicialmente foi a

unificação do poder político. Para Fiori (2004), a criação dos meios para financiar as

expedições navais e o avanço nas técnicas de navegação com destaque para as caravelas e

embarcações de grande porte só puderam ser efetivados pela ação do Estado. Telo (1996)

observa que estes conhecimentos se completavam com o domínio português na produção de

cartas náuticas que definiam com precisão as correntes oceânicas e os ventos predominantes

nas diferentes épocas do ano, cuja produção científica era oriunda do apoio real à Escola de

Sagres. Estes aspectos possibilitaram que Portugal obtivesse a capacidade de desbravar os

oceanos e dominar as rotas comerciais marítimas.

Contudo, avanços posteriores foram dificultados pela opção da nobreza portuguesa. Por

estar subordinado ao poder ideológico religioso, este impôs as regras da contra reforma e a

perseguição aos estrangeiros e suas idéias. Ao evitar o surgimento e a expansão de novas

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idéias, a elite portuguesa produziu uma situação de estagnação e diante deste aspecto, a

hegemonia que Portugal tinha conquistado foi sendo questionada por outros Estados que

incorporaram novas perspectivas de conhecimentos e, por intermédio delas passaram a

produzir novas maneiras de organizar os processos produtivos e o poder político.

3. A Espanha e a competição com Portugal pelo domínio do SI

Nesta seção o foco é direcionado à Espanha. Entre os fatores abordados estão os que a

fizeram seguir os mesmos caminhos de Portugal, em sua busca para novas rotas marítimas e

adquirir conhecimentos a fim de viabilizar suas relações comerciais. No processo, a subida

dos Habsburgos no trono Espanhol e o aperfeiçoamento das técnicas de guerra como meio de

atingir um diferencial em relação a outros países competidores também merecem destaque. E

por fim, também os motivos que produziram sua decadência.

A Espanha seguiu os mesmos passos de Portugal em direção as grandes navegações

com o mesmo intuito de descobrir novas rotas marítimas para as Índias. Seguindo a orientação

da coroa espanhola para empreender excursões através do Oceano Atlântico foi possível a

chegada dos navegadores espanhóis ao continente americano. Muito dos conhecimentos sobre

navegação foram adquiridos na cidade de Genova, aliada da Espanha desde a busca da

primazia do comércio no mediterrâneo que estava em disputa com outra cidade, Veneza. Foi

um Genovês, Cristovão Colombo que chegou a América em nome da coroa Espanhola.

(AQUINO 1995)

A procura de ouro e prata continuava a ser o principal fator de motivação das nações

Européias quando empreendiam as navegações. Para se adaptar às transformações que o

sistema político e social europeu atravessava no início do século XV a descoberta destes

metais no continente americano fortalecia a monarquia dando condições para a sedimentação

dos Estados-nação em unidades políticas. Da mesma forma que Portugal, a Espanha também

adotou o mercantilismo para fortalecer o poder real e o acúmulo de riqueza transformaria país

em uma potência no recém formado SI de Estados europeu. (LANDES, 1998)

Em 1556 Carlos V abdica do trono em favor de seu filho Filipe II. Em 1580 Portugal é

anexado à Espanha e forma a União Ibérica. As marinhas e colônias portuguesas tornam-se

possessões espanholas e isto possibilita a coroa da Espanha acessar novos conhecimentos

náuticos e usufruir das riquezas vindas das colônias portuguesas. Além disso, o reino

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consegue levar adiante as guerras contra Inglaterra, contra as Províncias Unidas e contra a

França o que causa uma falsa impressão de possuir uma economia estável (KENNEDY 1989).

A Espanha, através da dinastia dos Habsburgos passou a ter grande poder militar,

religioso e político na Europa no século XVII. A causa deste advento deu-se pela sucessão de

casamentos e mortes dos sucessores dos principais reinos da Europa entre o século XVI e o

século XVII. Por exemplo, Carlos V herdou o sacro império romano, grande área de terras na

Áustria que pertencia aos Habsburgos, e as coroas da Hungria e da Boêmia: após a morte do

rei Luís da Hungria. Além de elevar os impostos em suas colônias para manter o poder

absolutista, as forças espanholas produziram um diferencial em relação aos outros países na

estratégia de se fazer a guerra: para manter estes reinos e combater as revoltas dos povos que

já residiam nestas terras e se defender das invasões de exércitos inimigos os espanhóis mudam

as formações de lanceiros para conterem a cavalaria, transformando a infantaria na peça mais

importante do exército. Para a Espanha, manter um grande exército e marinha só foi possível

devido às riquezas vindas das colônias para pagar a infra-estrutura militar necessária Assim,

as mudanças no conhecimento estratégico e bélico possibilitaram à Espanha se sobrepor a

seus adversários nas batalhas (KENNEDY, 1989).

Durante o reinado de Carlos V (1516-1556) a Espanha sofre com um dilema

estratégico. Portugal está empenhado em manter e ampliar suas expedições no Atlântico Sul e

disputa a hegemonia com a Espanha. Mas é justamente neste momento em que a Espanha

podia almejar alcançar uma posição de hegemonia na Europa, o império se vê obrigado a

desviar seus recursos para intervir contra o poder comercial francês no centro da Europa e

contra o poder Turco-Otomano no sul. Então, em função disto, a Espanha aprimora seus

conhecimentos onde era mais necessário, na navegação do mediterrâneo. (TELO 1995)

Da mesma forma ao que aconteceu a Portugal, a intolerância religiosa prejudicou os

avanços técnicos e científicos à Espanha. Os grandes inventores mulçumanos e judeus não

tinham mais nesse país um local seguro para habitar. Isso, por força da contra reforma que

ampliou a intolerância e provocou o êxodo destes povos para outros países mais tolerantes.

No momento em que os cientistas e sábios da época foram obrigados a deixar o território

espanhol, devido à perseguição religiosa, o país foi tendo dificuldades crescentes em evoluir

tecnicamente e foi dominado pelo conservadorismo de sua elite (LANDES, 1998).

Para Aquino (1995), além da perseguição religiosa os comerciantes judeus e os

artesãos muçulmanos foram expulsos em razão da concorrência que faziam a burguesia

espanhola. A transição para o capitalismo foi prejudicada por centralizar os lucros nas mãos

de gestores menos hábeis e contribuiu para a derrocada da Espanha que, além disso, não

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produziu ações eficazes para melhorar as comunicações necessárias para gerir um território

colonial tão extenso. O aumento deste problema coincidiu com a chegada dos Habsburgos no

poder. Ainda, o início do ocaso da Espanha pode ser identificado com a derrota na guerra,

travada por Felipe II da Espanha, contra a Inglaterra. A perda de sua frota de navios

conhecida como “Invencível Armada”, em 1588, ajudou a promover a ascensão do

protestantismo e do capitalismo na Grã Bretanha.

4. Holanda: potência de rápida ascensão e declínio

Nesta fase do artigo, a Holanda, outrora conhecida como Províncias Unidas dos

Países Baixos é o destaque. Sua ascensão alicerçada pela burguesia, as transformações

econômicas, o crescimento e aperfeiçoamento de sua frota naval, seu conflito com a Espanha

e a incorporação da mão-de-obra advinda dos países intolerantes às questões religiosas, a

inovação do sistema econômico com a criação de monopólios e a descentralização do poder

político, seguida de sua perda da hegemonia para Inglaterra são os assuntos deste tópico.

A Holanda era uma das regiões mais florescentes da Europa no século XVII. Devido

às transformações econômicas no século XVI foi possível à classe burguesa ascender a um

status de riqueza e de maior influência política. As imposições de Filipe II, herdeiro do trono

Espanhol, de anexar o território holandês, que na época de Carlos V possuía autonomia,

marca o início do conflito entre Espanha e Holanda. A intolerância religiosa contra os

calvinistas é ponto crucial para que o rei espanhol prossiga com sua política bélica em relação

à Holanda e, com isso, faz crescer o sentimento nacionalista e a vontade do povo Holandês de

se desvencilhar da autoridade espanhola. Vitoriosa no conflito, a independência da Holanda

foi reconhecida pela Espanha após o tratado de Westfália. (AQUINO, 1995)

Na guerra contra a Espanha, a Holanda sai vencedora de um conflito com a potência

hegemônica da época sem exaurir totalmente seus recursos. Neste conflito com a Espanha

outro fator preponderante para a Holanda alcançar a vitória foi á vantagem qualitativa. As

Províncias Unidas utilizam sua saída para o mar e redes de fortalezas mais modernas que seus

opositores e conseguem resistir à Espanha, uma força muito mais poderosa. Com a vitória, o

país reforça o espírito empreendedor de sua população e utiliza-se de sua posição geográfica

vantajosa e de sua tradição comercial para expandir ainda mais seu poderio econômico.

(TELO, 1995)

13

O poder naval da Holanda cresceu junto com a expansão do sistema comercial da

Europa e com as atividades de pesca no norte do atlântico. Como estas rotas eram feitas por

corsários, aventureiros e empreendedores privados, com recursos muito menores que as

grandes excursões portuguesas e espanholas, estas atividades proporcionaram um crescimento

gradual de conhecimentos náuticos na Holanda e produziram experiência no financiamento de

excursões posteriores. (TELO, 1995)

As navegações holandesas foram chamadas de comercialistas, pois o caráter comercial

e não territorial foi o ponto principal para diferenciar suas expedições daquelas efetuadas

pelas potências ibéricas. Segundo Landes (1998), uma das formas dos holandeses adquirirem

os conhecimentos marítimos necessários para se lançarem às conquistas em mar aberto, assim

como fizeram Portugal e Espanha foi através da espionagem nos portos portugueses. A

expansão náutica holandesa incentivou a criação de várias companhias marítimas para

expedições além mar; estas por sua vez não angariaram os lucros desejados o que forçou a

criação de uma única companhia que centralizou gastos e lucros produzindo um monopólio.

Assim, a criação da Companhia Holandesa das Índias Orientais, em 1602, propiciou a

formação da primeira frota naval privada do mundo.

Devido às perseguições religiosas, judeus e muçulmanos que residiam em Portugal e

Espanha buscaram refúgio na Holanda, onde havia mais tolerância. Mas, eles levaram os

conhecimentos científicos e comerciais produzidos nos países ibéricos e após a guerra contra

a Espanha, trabalhadores especializados, professores, artesãos e comerciantes com espírito

capitalista também fixaram residência na Holanda, fator que proporcionou uma maior

concentração de força de trabalho produtiva e de conhecimento humano. É isto que observam

Noia e Ramos1. Eles destacam os avanços no desenvolvimento do sistema financeiro, no

sistema político e das comunicações, bem como o aperfeiçoamento das novas tecnologias para

fazer a guerra. Um aspecto importante levantado pelos autores citados foi o ato de priorizar a

expansão da rede financeira e deixar em segundo plano o caráter expansionista territorial.

Paul Kennedy (1989) também observa que a Holanda se diferenciou de seus pares

europeus por ter descentralizado o poder político e militar. O estímulo para desenvolver o

capitalismo comercial, via influxo de fundos advindos de empréstimos, favoreceu a todos que

emprestavam dinheiro. Estas transações econômicas eram feitas através de vendas de apólices

e títulos negociáveis em longo prazo. Devido esta forma de negociação, foi possível ao Estado

Holandês levantar capital para poder pagar os fornecedores do exército e tudo que envolvia o

1 Disponível em http://www.seminarioicuesc.com.br/sistema/resumos/11_pag461.PDF Acesso em 23 jul. 2006

14

que pode ser chamado de “indústria bélica” da época. Este processo econômico foi tão bem

produzido que Amsterdã se tornou um centro para os países buscarem empréstimos em seus

bancos. Assim, a Holanda investiu em uma estrutura eficiente para levantar empréstimos e na

garantia de continuidade de créditos financeiros. Este aspecto foi facilitado porque os

comerciantes faziam parte do governo e este geria os negócios de Estado com a mesma

seriedade e austeridade que a aplicada em uma companhia por ações.

A cidade de Amsterdã ao se tornar um centro mundial de armazenagem de

mercadorias asiáticas, européias e da América entrelaçou de maneira inédita comércio e

finanças. Magnolli (2004) mostra a estratégia holandesa de comprar a um bom preço a vista

diretamente dos produtores e revender a preço mais elevado utilizando-se do poder de estocar

produtos. A originalidade do processo holandês estava ligada ao fato do governo e o setor

privado atuarem de forma integrada nas atividades comerciais, bélicas e administrativas.

Através de suas companhias de comércio a Holanda conseguiu, ao mesmo tempo, o

monopólio das rotas comerciais e o acesso aos produtores além-mar. O autor citado diz que

isso foi facilitado porque a bolsa de valores holandesa possuía um fluxo de capital muito

maior do que as bolsas criadas nos outros países e, com isso, drenava para Amsterdã todo tipo

de operação financeira, as quais eram usadas para financiar a expansão dos negócios.

Fiori (2004) explica que a junção do poder político com os bancos deu nascimento aos

“estados-economias nacionais”. Com a nacionalização das finanças e do crédito foi possível

criar um sistema de tributação estatal e a nacionalização do exército e da marinha, controlados

diretamente pela administração estatal. Aquino (1995) complementa e diz que com o avanço

do crescimento econômico, a Holanda dá continuidade ao processo de investimentos em

várias áreas comerciais e industriais e utiliza-se de avanços técnicos para a construção de

navios com maior capacidade de tonelagem. Assim, com os conhecimentos náuticos angariados

junto às outras nações o país consegue ter metade da frota mercantil da Europa. Mas, com as guerras

posteriores contra a Inglaterra e contra a França, a Holanda exaure seu poder econômico e deixa de

investir no crescimento da indústria, fator que causaria a estagnação do capital acumulado e da mesma

forma como ocorreu com seus predecessores foi sendo ultrapassada no posto de maior potência da

época, agora pela Inglaterra.

5. A Inglaterra: o último país europeu a atingir a hegemonia no SI

Neste momento do trabalho destaca-se a evolução da Inglaterra até atingir o topo do SI; como este país

continuou a mesma política econômica ocorrida na Holanda e sua maneira inovadora de proteger o

15

mercado interno. Em seguida aborda-se, a anexação da Inglaterra pela própria Holanda na

figura de Guilherme de Orange, a mudança ideológica na religião e como essas mudanças

refletiram na estruturação do poder político e na economia. Destaca-se, também, a Revolução

Industrial e as mudanças tecnológicas que vieram mudar a face, não só da Inglaterra, mas

também do mundo e finalmente o início do século XX com as duas guerras mundiais e a

decadência inglesa, o que abriu espaço para os Estados Unidos da América atingir o papel de

potência hegemônica do SI.

Em concordância com as idéias de Aquino (1995) e Beaud (1999) constata-se que os

avanços políticos e econômicos da Inglaterra, no século XVI e XVII, guardam estreita

correspondência com os avanços holandeses. A Inglaterra também criou, no reinado de

Elizabeth I, suas companhias privadas de comércio como a Companhia Inglesa das Índias

Orientais. Através de uma importante política mercantilista, que constantemente interveio na

economia, em apenas alguns anos após a criação desta companhia de navegação era possível

contar com mais de vinte entrepostos comerciais na Índia e com os navios ingleses chegando

a Pérsia, Bombaim e também a outras partes do mundo como o Canadá e Barbados.

A burguesia ascendente foi á classe que financiou esta expansão. Ela instigou e

promoveu um grande crescimento manufatureiro ao injetar capitais para aumentar a produção

têxtil e de papel e, na busca dos meios legais de protegê-los. Por meio da pressão sobre os

governantes os comerciantes conseguiram, por exemplo, que Jaime I e depois Carlos I

distribuíssem privilégios e monopólios para regulamentar a fabricação de lã e taxar as

importações de tecidos vindos da França e da Holanda. (BEAUD, 1999)

Mas, contudo, este processo não pode ser explicado totalmente sem colocar em

questão a contribuição da Holanda. A expansão holandesa implicou a invasão e o domínio

deste país sobre a Inglaterra por pouco mais de uma década2. Em 1672, Guilherme de Orange

2 Em 5 de novembro de 1688, o holandês Guilherme de Orange, comandando 500 navios e 20 mil soldados, preparados há muito tempo, invadiu e derrotou as tropas do Rei James II. Dois meses depois da invasão, em 6 de fevereiro de 1689, o Parlamento inglês declarou o trono vago, e proclamou Guilherme de Orange e sua mulher Mary como Rei e Rainha da Inglaterra. A história recebeu o nome de “Revolução Gloriosa”, apesar de haver uma evidência que ocorreu uma invasão e a derrota inglesa, talvez uma “gloriosa invasão”, mas nunca uma “revolução”. Embora Mary de Orange fosse filha de James II, antes da invasão holandesa um grupo de sete aristocratas ingleses enviou uma carta a Guilherme de Orange solicitando ajuda contra seu próprio governo. Mas a invasão já estava preparada, e assim o correto seria falar, num “golpe de estado”, ou numa “gloriosa traição”, porque na hora da luta os “sete nobres” tinham fugido da Inglaterra. Depois disto, os 13 anos do governo Guilherme de Orange representaram um salto de qualidade para o mundo financeiro da Inglaterra que se fundiu praticamente com as finanças holandesas dando um renovado impulso à Companhia Inglesa das Índias Orientais, e reorganizando o sistema de administração da dívida publica do governo inglês, através da criação do Banco da Inglaterra, em 1694. Talvez isto apenas aumente o mérito histórico dos holandeses, mas não chega a transformar uma invasão bem sucedida, numa revolução gloriosa. (FIORI, 2006, in http://blog.controversia.com.br/2007/06/23/o-jeito-ingles-de-contar-a-historia/acessafdo em 04/09/08)

16

assume o trono na Holanda e 17 anos depois, em 1689, o da Inglaterra ao destronar o rei

James II. Sob o seu domínio a Inglaterra teve a oportunidade de acessar reciprocamente novas

tecnologias nos setores de construção náutica e a novas formas de gerir a economia. A

Inglaterra aproveitou os novos conhecimentos, derivados de sua relação com a Holanda, para

investir na expansão de sua estrutura naval e, com isso, na expansão do mercado estrangeiro

disponível para seus produtos. (KISSINGER, 2001)

No século XVII a regularização dos impostos, reuniões parlamentares, a censura e a

votação do orçamento produziram mudanças significativas no aspecto econômico, político e

empresarial. Além do mais, estas ações corroboraram para a sedimentação da burguesia.

Agora o Rei sentaria no trono pela vontade do povo e não por vontade divina. Para os ingleses

o aumento de oportunidades nas novas terras ocupadas e também nas atividades que

envolviam os negócios relativos à colonização, juntando-se a mudança na forma de

pensamento os estimulou a buscar novos empreendimentos, aumentando, desta forma, o

número de indivíduos com possibilidade de adquirir novas mercadorias. (AQUINO, 1995).

Contudo, a Inglaterra iria mais longe que sua antecessora. Diferente da Holanda, o país

conseguiu fazer a transição do capitalismo comercial para a sua variante manufatureira e

depois industrial. Por ter suportado e principalmente absolvido as transformações dos valores

que orientariam a “nova sociedade” foi possível os ingleses viabilizarem estas mudanças, e

emergirem como a principal potência da época. Hunt & Sherman (2005) ilustram estes

aspectos ao descreverem as novas idéias sobre a economia que surgiram em meados do século

XVIII. Dentro do novo pensamento econômico as amarras impostas pelo Estado sobre a

economia eram consideradas ultrapassadas, ainda mais que na visão da elite da época a

liberdade destas relações significava uma evolução para toda sociedade.

Este período foi também de conflitos na questão religiosa. Pode-se dizer que os velhos

hábitos católicos levavam o indivíduo acreditar que a busca pela riqueza seria uma forma de

“pecado mortal”, mas com o protestantismo o indivíduo foi liberado. De certa forma o que

poderia ser chamado de “as amarras da culpabilidade” foi deixado para trás e cedeu lugar a

uma nova forma de comportamento religioso exigido para os homens. Através da diligência

nos negócios, atingir o sucesso estaria em sintonia com a idéia de que essa situação não seria

nada menos do que a concordância divina do merecimento do indivíduo. (AQUINO, 1995)

Com o avanço das transformações econômicas a Inglaterra, gradualmente, tomou o

controle das principais rotas comerciais transoceânicas que estavam sobre o domínio da

Holanda. Além do mais, ao forçar a abertura dos portos das colônias espanholas, foi possível

17

ampliar mercados para os produtos ingleses. E mais, durante o processo histórico, quando o

sistema colonial entra em declínio e a expansão mercantilista cede lugar para o capitalismo

industrial, a Inglaterra consolida-se como potência política, econômica e tecnológica. Além

disso, Londres surge como principal capital econômica substituindo Amsterdã e através de

seus bancos, é possível dizer, viabilizou o financiamento para a Primeira Revolução

Industrial. (MAGNOLLI, 2004)

No final do século XVII aconteceram importantes mudanças no sistema financeiro

inglês. A Inglaterra criou um sistema de créditos públicos através de medidas como a de

estatizar as alfândegas e copiar um imposto de consumo da Holanda conhecido como excise3.

Fiori (2004) enfatiza este aspecto ao apontar que a junção do poder do Estado com os bancos

criou uma força revolucionária, que ao se expandir para todo o mundo criou o que ficou

conhecido como Estados-economias nacionais. As mudanças são definidas pelo parlamento

que passa a decidir os créditos e impostos que o Estado requeria para fazer a gestão

governamental. Este processo foi longo e fatos como o do governo inglês assumir o controle

do Banco da Inglaterra possibilitou fazer as mudanças desejadas.

Ainda segundo a argumentação de Fiori (op. cit.), a expansão do poder da Inglaterra

repetiu a lógica competitiva da luta pela hegemonia: na mudança de status quo dentro do SI, a

potência decadente recria o seu competidor. Neste caso a Holanda teve como sucessora

antagônica a Inglaterra tal como aconteceu com Portugal em relação à Espanha e desta para a

Holanda. Pode-se também dizer que a potência sucessora assimila as principais características

de organização de sua predecessora e inova em busca de maior eficiência.

Contudo, nas relações dos ingleses com a América do Norte, entre os anos de 1763 e

1770, a Inglaterra, nos vários confrontos em que estava envolvida, não obteve aliados; os

ingleses invadiram o Canadá para preservar o seu território; perderam a disputa com as treze

colônias na Guerra de Independência dos EUA e ficaram do lado dos confederados que foram

derrotados pela União (ajudada materialmente por tropas francesas). Os EUA por sua vez

ganharam, ao mesmo tempo, uma constituição e sua emancipação como “Estado soberano”.

Por outro lado, os Ingleses sofreram ataques na América do Norte, Antilhas, África e Europa

patrocinadas pela coroa francesa. Dinamarca Prússia, Suécia e Holanda se uniram para

3 Taxação sobre um produto relacionada à quantidade e não ao valor. É uma das taxas mais antigas do mundo e servia para persuadir a diminuição do consumo.

18

preservar a liberdade dos mares. No fim, todos esses confrontos desgastaram o erário inglês,

que se manteve ao dominar as relações comerciais e financeiras. (AQUINO, 1995).

No aspecto comercial o país avançou extraordinariamente. No século XVIII, as

exportações de produtos ingleses cresceram absurdamente. As transformações técnicas da

indústria têxtil, foram decisivas para o crescimento econômico da Inglaterra, como foi no caso

da invenção da lançadeira voadora, instrumento de tecelagem que imprime uma velocidade

maior para tecer. Ainda, para Hunt & Sherman (2005) mais três invenções vão revolucionar a

indústria têxtil: a máquina de fiar feita em 1760, que permitia a uma só pessoa de fiar vários

fios ao mesmo tempo; a máquina de fiar movida a água em 1768, que conseguiu aprimorar

ainda mais as operações de fiação ao incorporar cilindros e fusos durante o processo e a

fiadeira automática em 1780, que diferente de suas antecessoras era movida a vapor. Com esta

nova energia, além de ampliar a força de trabalho possibilitou construir as fábricas longe dos

rios que eram as principais fontes de energia até o surgimento do vapor.

Com o avanço das novas técnicas industriais foi possível mudar a matriz das

máquinas, de hidráulica para vapor. Com isso foi ampliada a produtividade da força de

trabalho. Um operário na década de 1820 podia produzir vinte vezes mais que um trabalhador

manual e as mercadorias antes transportadas por tropas de mulas foram substituídas por uma

única locomotiva. No aspecto macroeconômico, o aumento constante na produtividade na

produção de riquezas expandiu o poder aquisitivo da população a um multiplicador maior do

que o crescimento populacional (KENNEDY, 1989).

A Revolução industrial também permitiu à Inglaterra suportar crises financeiras.

Assim, apesar de sofrer com o saldo negativo em sua balança comercial em grande parte do

século XIX, o país conseguiu impulsionar o desenvolvimento de sua indústria siderúrgica e da

indústria naval. Isso era conseguido através dos ganhos no comércio exterior com as

exportações de bens de capital que não paravam de aumentar. Já na balança de pagamentos a

Inglaterra obteve ganhos importantes e conseguiu manter o superávit através de fretes e

operações de seguro (MAGNOLLI, 2004)

No plano militar e estratégico a Inglaterra produziu importantes transformações

militares. Como em todo período histórico o poderio militar é imprescindível para que uma

nação possa almejar o topo do SI, assim é importante destacar que na metade do século XIX o

aprimoramento dos canhões de tiro rápido, a propulsão a vapor e os navios encouraçados

foram tecnologias que deram a vantagem de maior poder de fogo para a armada inglesa. Com

isso, a Inglaterra no final do século XIX e início do século XX, mesmo tendo que lutar em

19

várias frentes, era a maior potência militar do mundo. (KENNEDY, 1989). Também Telo

(1996) observa que as mudanças ocasionadas pela revolução industrial na indústria bélica

começaram a ocorrer de forma mais rápida. Belonaves inglesas lançadas após 1859 possuíam

um poder de fogo inimaginável se comparados com os navios de guerra utilizados em 1805,

durante as guerras napoleônicas. Antes de 1860, o poder de fogo tão desproporcional quase

não seria notado se as mesmas armadas fossem se defrontassem com uma do século XVI.

São nestes momentos em que a evolução das técnicas reflete-se em setores importantes

da economia. Nye, (2002) destacou que o império Britânico do início do século XX tinha a

perspectiva de durar muitos anos. A economia estava globalizada, a libra esterlina, moeda

inglesa que sobreviveu a União Européia nos nossos dias, era o dinheiro mais forte da época.

As economias nacionais estavam atreladas ao padrão-ouro e o comércio estava em expansão,

mas de repente duas guerras mundiais e enfermidades sociais como fascismo e nazismo

deslocaram o eixo da hegemonia da Europa para os EUA.

Tanto para Néré, (1975) como para Aquino (1995) talvez o maior desafio que a

Inglaterra enfrentou e que, ao longo do tempo, respondeu pela sua decadência está ligada aos

custos de administração de seu vasto império. Néré, (1975) explica que as mudanças no

principal combustível para as indústria fez com que a Grã-Bretanha que tinha sido

privilegiada pela sua geologia no que se diz respeito a hulha estivesse em franca desvantagem

quando comparada aos EUA em se tratando do petróleo, devido a mudança da matriz

energética. Feijó (2001) também observa que com todas essas questões, a Inglaterra acentuou

seu declínio, ainda mais, com a crise econômica que assolou diversos países a partir da crise

dos idos de 1873: o sistema bancário já não era tão eficiente e o aumento do comércio exterior

sobre o patrocínio do padrão libra-ouro criava mais competidores para a Grã-Bretanha. E

mais, naquele mesmo momento a crise na agricultura fazia com que a Inglaterra perdesse mais

ainda poder econômico.

A crise econômica de 1873 a 1895 marcou o início do declínio inglês, mas ela só se

resolveria na I Guerra Mundial. A grande depressão de 1929, que atravessou todos os anos 30,

que só foi superada com a reanimação da economia mundial com a II Guerra Mundial, foi

outro fator importante para decadência da Inglaterra. (Entrevista Carlos LESSA, Boletim

Carta Maior, acessada em 12/11/08) Desta forma, afora os elementos externos, os fatores

internos que contribuíram para a decadência da hegemonia inglesa foram a baixa dos salários,

decorrente da crise que alcançou suas principais indústrias (têxtil, metalurgia e a mudança do

combustível de hulha para petróleo); a redução na venda de navios devido a concorrência e a

queda da produção de ferro para construção de vias férreas em até 20%. Combinados, os

20

fatores apontados contribuíram para desacelerar o mercado internacional e isto afetou os

maiores parceiros comerciais da Inglaterra: Argentina, EUA e Austrália.

6. Os Estados Unidos da América: o atual ‘Hegemon’ do SI de Estados

É difícil explicitar o momento justo da mudança de hierarquia dentro do SI. Porém é

possível verificar como a Inglaterra foi perdendo suas principais possessões em todos os

continentes. A diminuição do que ficou conhecido como “o império em que o sol nunca se

põe”, como foi chamada por Fiori, (2004) acontece no mesmo contexto em que os EUA se

transformam em maior potência do SI. Entre tantos períodos importantes, tal como fez Lessa,

Magnolli (2004) situa cronologicamente o pináculo da passagem da hegemonia da Inglaterra

para os EUA entre os anos 1850 e 1914.

Ainda utilizando os escritos de Magnolli (2004) é sabido que neste período o valor dos

empréstimos contraídos pelos EUA com a Grã Bretanha atingiram os US$ 5 bilhões. Os

papéis se inverteram após a I Guerra Mundial quando a Inglaterra deixa de ser credora e passa

a ser devedora, exatamente para os EUA que se transformaram no seu principal fornecedor de

armamentos e matérias primas. Para influenciar ainda mais esta transição a Inglaterra perdeu

seu status de maior investidor nos mercados de suas ex-colônias, tanto na América do Sul

como no seu império na Ásia. A importância destes mercados é que estas fontes de matérias-

primas abasteceram o mercado inglês desde meados do século XVI e passaram a atender em

maior grau o mercado Norte-Americano, com exceção da Argentina.

É importante ressaltar que o crescimento da indústria estadunidense se deu de maneira

diferente que a antecessora inglesa. A obra de Néré, (1975) vem se somar a Magnolli, (2004)

quando destaca esta característica industrial dos EUA: a indústria americana apoiou-se na

ciência diferenciando-se da Inglesa que foi elaborada inicialmente por iniciativas individuais e

que teve como base das inovações um caráter mais empírico.

Mesmo como a guerra de independência em 1776, os EUA e a Inglaterra mantiveram

a continuidade de um comércio lucrativo, que se aprofundou e se consolidou após a

independência norte-americana. É importante destacar que a Inglaterra estava em franca

expansão quando ocorreu a independência dos EUA. Este aspecto, dentro da estrutura do SI,

diferencia a conquista da soberania dos EUA para com a dos outros Estados que já haviam

sido colônias, como o Brasil, África do Sul e Argentina para citar alguns, que só conseguiram

suas independências quando as metrópoles estavam em decadência. (FIORI, 1996)

21

Após a independência, com a “Conquista do Oeste” os EUA iniciaram a colonização

na parte mais inóspita do território. Já no século XVII estes territórios foram ficando para trás,

se alargando a cada movimento no tabuleiro geopolítico daquele país. Entre os anos de 1795 e

1815 vários tratados foram assinados, justo no momento em que a Europa enfrentava diversas

disputas entre suas principais potências. Aproveitando-se desta situação os EUA conseguiram

impor a maioria de suas reivindicações no que se diz respeito a formação de seu território.

Mesclando-se os escritos de Fiori (2004) e de Huberman (1978) é possível dizer que

para que a economia americana se desenvolvesse era necessário ocupar e transformar este

vasto espaço geográfico. A partir das treze colônias originais o território dos EUA foi

expandido até a borda do Oceano Pacífico. Com parte do território formado por terras

conquistadas juntos aos Índios, áreas tomadas do México tal como o “Novo México”, o

estado da Califórnia que nos dias de hoje seria o sexto maior PIB do mundo, além de Nevada,

Utah, Colorado, e Arizona; a Flórida comprada da Espanha em 1819, o Alaska comprado da

Rússia em 1867, a Louisiana que em 1880 tinha sido cedida pela Espanha para a França e foi

comprada pelos EUA em 1803, os EUA conformaram grande parte de suas atuais fronteiras.

Pode-se, então, dizer que os EUA souberam se aproveitar destes fatores históricos para,

através de vitórias diplomáticas, terem o poder de tomar suas principais decisões estratégicas

sem a intervenção dos países europeus.

Durante a ocupação territorial, a imigração européia foi fundamental. Os trabalhadores

que ficaram conhecidos como “ajustados”4 chegavam aos montes em navios vindos da Europa

e se transformaram em uma importante força de trabalho. Estes indivíduos tinham neste novo

continente uma possibilidade de crescimento econômico e pode-se dizer que mesmo com

todas as dificuldades, uma qualidade de vida maior que na Europa. Além do mais, devido o

território do país ter se estendido entre um oceano a outro, possuir uma variedade de climas e

uma grande malha hidrográfica, formou-se uma identidade cultural que contribuiu para que

cada região se especializasse em uma cultura agrícola ou atividades industriais diferentes.

Em meados dos anos de 1860 é possível dizer que os EUA se beneficiaram da sua

estrutura territorial para viabilizar seu desenvolvimento tecnológico. Apesar do fluxo de

imigração ter sido enorme, seu território conseguiu absorver toda esta força de trabalho e,

mesmo assim, o país sofreu com a falta de mão-de-obra. Em parte isto acontecia porque os

imigrantes que aportavam nos EUA, tinham duas opções: ser empregado urbano (fabril ou

4 Os “Ajustados” eram trabalhadores que tinham suas dívidas decorridas da viagem entre Europa e EUA. Elas eram pagas por seus futuros patrões e o tempo de trabalho para o pagamento desta dívida era variável. Após este período muitos destes trabalhadores recebiam ferramentas e grãos para tentarem prosperar em suas próprias terras. Essas terras eram exatamente as que ficavam cada vez mais ao oeste que iam sendo desbravadas á medida em que os territórios anteriores iam sendo povoados (HUBERMAN, 1978)

22

mercantil) ou ser agricultor. Como uma boa parte preferia ser proprietário rural havia falta de

braços para o trabalho industrial e comercial, daí que os salários eram elevados, fator que

possibilitaria a expansão do mercado interno. Isso fez com que os investimentos fossem

voltados para o mercado interno no intuito do aperfeiçoamento técnico dos bens de capital

para suprir o trabalho escasso. Sobre isto, é possível, então, notar que tanto Kennedy (1989)

como Fiori (2004) constatam que o país se aproveitou das liberdades sociais e da grande

extensão geográfica como um fator positivo para o crescimento de sua economia.

Por outro lado, os EUA se mantiveram relativamente afastados dos conflitos com as

potências da época. Com isso foi possível direcionar os investimentos, até meados dos anos

de 1861, para a expansão das ferrovias, máquinas a vapor e máquinas agrícolas. Estes fatores

se traduziram no fortalecimento da economia, pois as ferrovias proporcionaram o transporte

de matérias primas e das mercadorias que iam sendo elaboradas pela imensa força de trabalho

produtiva dos imigrantes europeus que foram para os EUA, além de constituírem a base de

um ciclo de investimentos que orientou novos empreendimentos comerciais, industriais e

agrícolas.

Mas em 1861, apesar do fortalecimento do sentimento nacionalista, os EUA foram

obrigados a lidar com o antagonismo existente dentro de seu próprio território entre o Norte

(capitalista e industrial) e o Sul (agrário e escravista). A guerra civil americana que eclodiu

em 1861 possuiu uma característica interessante quando observado que este confronto armado

teve entre dois oponentes em solo americano, a Inglaterra e a França, um reflexo das disputas

entre esses dois países na Europa. Existia uma grande discrepância econômica e social entre

essas duas regiões dos EUA. No norte estavam os maiores bancos do país. As maiores

lavouras estavam no sul, mas as mais lucrativas no norte. O norte tinha a liderança em todas

as outras áreas, enquanto o Sul detinha o controle político do país. A base da economia do sul

advinha da cultura de algodão e do tabaco, mas nas novas terras colonizadas pelos plantadores

do sul era impossível o plantio do algodão. A maior pujança econômica do norte desagradava

a elite sulista e juntando-se a isso, a escravidão desagradava o norte industrializado. Entre

outros, isto foi o estopim para uma guerra que durou quatro anos e como nos mostra

Huberman, (1978), foi a mais sangrenta na história das guerras dentro do território dos EUA.

Após a “Guerra da Secessão” os EUA conheceram expressivas taxas de crescimento

econômico. Impulsionado pela venda de terras a preços bastante acessíveis e através do

Homestead Act5 de Abraham Lincoln, continuou o povoamento dos territórios no oeste. A

5 A Homestead Act foi um decreto que concedia terras quase que gratuitamente aos cidadãos americanos. Porém estes indivíduos não poderiam ter lutado ao lado dos confederados na guerra da secessão e tinham como

23

continuação da onda de emigração européia contribuiu para favorecer a expansão agrícola e

ao mesmo tempo proporcionou a criação de novos mercados para as indústrias americanas

que inovarem com o surgimento dos trustes e cartéis. (NÉRÉ, 1975)

Os trustes e cartéis nasceram durante e se expandiram após a Guerra de Secessão. Esta

forma de organizar os negócios foi uma das principais inovações que permitiriam a expansão

econômica dos EUA e lhes davam um diferencial enorme de competitividade frente às

empresas e fábricas européias. Sua maneira de agir foi através de emissão de ações para

levantar os recursos necessários à expansão dos negócios. Conforme Hunt e Sherman (2005) e

também Huberman (1978) as corporações (trustes e cartéis) imprimiram um processo de

concentração de capitais, seja pela compra de empresas menores seja pela tomada de

controles acionários. Isto lhes permitiu investir na expansão dos negócios e aportar

tecnologias mais eficientes para ampliar a produtividade fabril. É neste contexto que

tecnologias como o taylorismo e o fordismo foram sendo inseridas no contexto industrial

norte-americano. Estes aspectos tornaram a economia norte-americana a mais eficiente do

mundo.

Hunt & Sherman (2005) explicam que no último quarto do século XVIII as pequenas

empresas estadunidenses estavam com problemas devido à crise econômica. Para Aquino

(1988), esta crise, além de ter sido propulsora do declínio da Inglaterra, fez com que os trustes

e cartéis norte-americanos concentrassem o capital empresarial e, com isso, as corporações se

tornaram os principais atores na paisagem industrial do país. Os grandes conglomerados

industriais, criados através das fusões e incorporações, transformaram os Estados Unidos nos

maiores produtores de aço, de carvão, de energia, de petróleo, de veículos, construtores de

ferrovias, de navios, e produtores de alimentos, como milho, trigo e carne em todo o mundo.

Michel Beaud (2004) destaca que grupos como Carnegie (aço), Rockefeller (petróleo)

e Morgan (metalurgia) compravam fábricas concorrentes a preços abaixo do mercado. A

maneira como a estrutura capitalista se afirma na formação de grandes grupos nos EUA vai

fazer a hegemonia inglesa começar a ser questionada. Em 20 anos a produção de carvão, do

ferro fundido e aço, a base da primeira revolução industrial, produzida pelos ingleses foi

superada pelos EUA.

Neste mesmo período Fichou (1990) afirma que a balança de pagamentos americana

torna-se positiva. Também as corporações passam a investir no exterior com a ajuda do

governo americano no momento em que ele intervinha nos países (Imperialismo). Além do

obrigação habitá-la e cultivá-la em até 5 anos. Estes terrenos consistiam em uma propriedade de cerca de 160 acres de terras do domínio público. (NÉRÉ, 1975)

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mais com a mudança da matriz energética surgiu a busca pela cômoda fonte do

aprovisionamento que consistia em trazer dos países que estavam sobre a influência

estadunidense as matérias primas preservando desta forma as de seu território.

Retornando aos escritos de Beaud (2004) é possível notar as diferenças entre Inglaterra

e EUA à adaptação na nova forma capitalista. A busca pela maior eficiência trouxe a ciência,

o estudo de caso para ser aplicado nas indústrias. Foi F.W Taylor que organizou a produção

das fabricas quando mediu o tempo de execução de um determinado trabalho e fez com que

cada trabalhador estivesse no local em que melhor produzia. Essas mudanças fizeram os EUA

serem mais eficientes entre seus principais oponentes, tais como Grã-Bretanha e Alemanha.

Junto com a fabricação de produtos em massa que surgiria durante e após a I Guerra Mundial

esses preceitos seriam exportados pela eficiência Norte-Americana.

Beaud (2004) destaca que o avanço norte-americano foi sendo feito com muito

protecionismo. No mesmo sentido, Hunt & Sherman (2005) mostram que os concorrentes

mais fracos foram sendo absorvidos pelos gigantes de suas respectivas áreas, que utilizando

de novas estratégias industriais (formação de sociedades por ações) tanto no processo de

fabricação como no de administração, concentraram a maior parte do capital industrial do país

nas mãos de poucas famílias e isto atravessou a I Guerra Mundial até o crash da bolsa de

Nova Iorque em 1929. O crescimento destas empresas foi tão expressivo que Hobsbawn

(1995) afirma ser este crescimento um dos arcabouços para o início da Guerra de 1914. Ao

dizer que a “Standard oil” e outros conglomerados como a da “Beers Diamond Corporation”

forçaram o conflito por não ter mais como se expandir na situação geográfica que o mundo se

encontrava este autor demonstra a envergadura política destas empresas.

Ainda seguindo a orientação de Hobsbawn (op.cit.) é possível afirmar que a Europa,

por ter sido o epicentro do confronto mundial, sofreu as maiores conseqüências. Mas, é nesse

momento que os EUA se utilizam de sua posição privilegiada de principal aliado da Europa e

peça chave para que a Alemanha fosse derrotada no conflito, para explorar as principais

inovações tecnológicas da época e até o final da II Guerra Mundial se firmar no cenário

internacional definitivamente.

Para Kennedy (1989), da forma como foi visto no crescimento econômico do país do

século XIX para o século XX, se não fosse a Primeira Guerra Mundial os EUA teriam

ultrapassado as economias de toda Europa já em 1925. Mas, 20 anos depois em 1945, os

grandes vencedores da II Guerra são os EUA. Além do mais com o bombardeio das cidades

japonesas de Hiroshima e Nagasaki consolidou-se a supremacia militar americana, pois,

através do avanço tecnológico demonstrado pela primeira bomba atômica do mundo, os EUA

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puderam ter seu poderio comprovado. Para Wight (2002), o aspecto da importância militar

pode ser analisado em uma analogia com o surgimento do poderio náutico português no

século XVI que ao levar e adaptar os pesados canhões terrestres para os navios possibilitou

conquistar e demonstrar este poder aos povos menos desenvolvidos belicamente.

O avanço bélico não é a prerrogativa principal para se alcançar o posto mais alto no

tabuleiro do SI. No caso da II Guerra Mundial, os EUA foram privilegiados. Hobsbawn

(1994) afirma que a indústria de armamentos trouxe consigo inovações tecnológicas surgidas

com o que ficou conhecido como “II Revolução Industrial”. Estes processos científicos foram,

após o conflito, aplicados em tempos de paz e contribuíram para o crescimento econômico

dos EUA e, desta forma, corroboraram para que o país alcançasse o posto de Hegemon no SI

O controle da energia atômica, pelos EUA, consolidou sua posição atual.

Paradoxalmente essa forma de energia foi também fator importante na mudança ideológica no

século XX: seu poder de destruição e o alto custo de utilização, principalmente na indústria

bélica, são vistas com reticências pela maioria das nações. Num mundo em que a busca pelo

prazer ultrapassou a luta pela glória, a guerra é nos dias de hoje menos aceitável que há

cinqüenta anos. Os exemplos de prosperidade, o comando dos meios eletrônicos e a alta

tecnologia são situações que fazem os EUA serem admirados e imitados em todo mundo. Esta

fonte de dominação é conhecida como o poder brando, expressão que denomina a força de

atração que um país exerce sobre os outros através de sua imagem e apesar de provir de uma

força de influência é na verdade uma força de persuasão. (NYE, 2002)

Após a II Guerra Mundial, as potências européias estavam falidas e a Alemanha,

devastada. A União Soviética apesar de ter sido significativa para a vitória dos aliados e

depois de uma guerra-fria com os EUA que durou 45 anos, desmantelou-se em 1991. As

estratégias utilizadas pelos EUA, após o término da guerra na Europa consistiram em manter a

influência sobre as nações vencidas através da criação de planos econômicos de recuperação.

A idéia de reestruturar as economias, principalmente Alemã e Japonesa, através do Plano

Marshall e do Plano Colombo, transforma estas duas potências regionais em “milagres

econômicos”. Fiori (2004) chamou estes dois países de “tipos híbridos de estados nacionais”

por não terem sido absorvidos como colônias e que, entretanto foram desarmados e

transformados pelos EUA em linha de defesa contra o império soviético que também

começou ser formado após a guerra. Com isso o poder americano se fortaleceu e criou

representantes de sua política e economia na Ásia e na Europa.

O poder que os EUA passaram a exercer após a II Guerra pode ser visto na criação das

Instituições Multilaterais no âmbito das Nações Unidas. Em 1944 foram criados o FMI

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(Fundo Monetário Internacional), e BIRD (Banco Mundial/Banco Internacional para

Reconstrução e Desenvolvimento). Estas duas instituições foram “tacitamente” subordinadas

aos EUA devido a importância da sua economia e o peso de sua moeda, o dólar.

(HOBSBAWN, 1994). Também naquele contexto, os EUA passaram a exportar capitais na

forma de fábricas à países que seguiam suas orientações políticas, ideológicas e estratégicas.

Outro aspecto importante é que os EUA utilizaram de expedientes como a ajuda internacional

para difundir sua tecnologia e cultura, fatores que ampliaram mercados para seus técnicos,

engenheiros, indústrias e produtores de alimentos.

Assim, no pós-guerra, os EUA se firmaram como principal potência seguindo a

estrutura que deu início ao Sistema Internacional: ou seja, a potência vencedora novamente se

origina da criação e da expansão da potência perdedora.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, foi possível observar que os países ao atingirem a hegemonia do SI o fizeram

após adquirir um determinado diferencial que lhes permitiu avançar em um contexto de

competição com outros Estados do SI. Para se sobressair em relação às outras unidades

Portugal, Espanha, Holanda, Grã-Bretanha e Estados Unidos, em algum momento de sua

história, colocaram em prática novos aprendizados e novas maneiras de atuar. Nesses

momentos, a alternância de poder, devido ao caráter competitivo do SI, produziu

imediatamente um oponente direto que ascendeu ao topo ao topo do SI.

Neste processo, outros Estados que competiram pela hegemonia foram superados e por

isso o texto tratou apenas dos vencedores. Contudo, França, Alemanha, Japão e URSS

competiram muito ferozmente a ponto de serem reconhecidos como potências, mas não

reuniram todas as condições para liderarem o SI. Disto resulta que o trabalho se concentrou

apenas nos países que tiveram a primazia de liderar o SI, mesmo que seja apenas por algum

tempo. A indústria bélica, as comunicações, a diplomacia e o deslocamento humano foram

alguns dos fatores propulsores que levaram o sistema a se constranger e elevar este ou aquele

país que conseguiu manejar estes aspectos com maior perícia à posição de líder hegemônico.

Certas características se repetiram e são elas as principais causas dos diferenciais para um

Estado atingir a hegemonia no SI.

No início da era moderna, Portugal foi o primeiro país a criar e dominar diferenciais

para atingir e liderar este sistema. Suas descobertas nos setores da navegação, na produção de

conhecimentos sobre o comportamento das correntes marítimas e dos ventos oceânicos

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predominantes, fazer a guerra nos mares, reintroduzir o mercantilismo com base na oferta de

produtos de outras terras e de organizar a gestão do poder de forma mais centralizada... foram

fatores que permitiram ampliar o domínio sobre terras e gentes e, desta forma, dar o passo

inicial para as grandes conquistas marítimas e com isso viabilizar sua ascensão ao topo do SI.

A Espanha soube se apoiar nas inovações portuguesas e aprimorando-as conseguiu

dominar o SI nos séculos XVI e XVI. Para isso, contou com a absorção dos conhecimentos

desenvolvidos pelos portugueses após a União Ibérica. Além do mais, seus líderes também

aprenderam com as Cidades-estado de Veneza e Gênova que dominavam o comércio no

mediterrâneo. Este país utilizou estes conhecimentos para produzir novos descobrimentos e

passou a dominar um território muito extenso tendo por base uma marinha de guerra muito

forte: a invencível armada. Em terra, a Espanha também inovou a forma de guerrear e através

da mudança da estratégia militar alterou o ponto forte de seus exércitos. Ao colocar ênfase na

infantaria, com seus lanceiros, pôde conter os avanços da cavalaria durante as batalhas contra

seus adversários. Infelizmente, os espanhóis, repetiram os mesmos erros que os portugueses,

quando expulsaram de suas terras os estrangeiros perseguidos principalmente pela questão

religiosa, pois desprezaram uma gama de conhecimentos e força de trabalho e não avançaram

no desenvolvimento de novas idéias como as que a Holanda liberaria, as quais estimulariam o

desabrochar do capitalismo.

A Holanda conseguiu destacar-se pelas suas transformações na área financeira.

Descentralizou o poder e com isso possibilitou a expansão da iniciativa privada que passou

atuar nas companhias de navegação. A gestão estatal com foco no comércio e o controle de

territórios sendo colocado apenas como segunda opção foi mais eficiente, pois para o pequeno

país, era muito difícil dispor de gente para ocupar e gerir grandes extensões de terra. Na

questão bélica, suas fortalezas se transformaram em muros inexoráveis para as pretensões de

conquistas dos outros povos (principalmente da Espanha) e devido à solidez do seu sistema

financeiro proporcionou a criação de um exército regular, um grande feito para a época. O

poder naval Holandês cresceu impulsionado pelas ações de comerciantes, corsários e piratas

que angariaram os conhecimentos náuticos necessários. Mas, talvez o ponto mais importante é

que a Holanda acolheu os estrangeiros expulsos da Espanha e de outros países onde eles

sofriam perseguições religiosas. Com isso, o país absorveu conhecimentos comerciais e

científicos que contribuiriam para a transformação daquele país.

A Inglaterra repetiu a criação das companhias de navegação (privadas) fortalecendo o

mercantilismo. Além disso, o país seguiria as mesmas diretrizes que regeram o sistema

financeiro holandês, o aperfeiçoou e criou um sistema de crédito público. Para que estas

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transformações acontecessem, a classe emergente, a burguesia, fomentou a manufatura e a

indústria sendo a base da Primeira Revolução Industrial. Com o fim do absolutismo e a

introdução do parlamentarismo o país adotaria medidas protecionistas para estimular e

proteger os investimentos a fim de incrementar a expansão industrial. Diferentemente da

Holanda, a Inglaterra conseguiu fazer a transição do capitalismo comercial para o Industrial e

neste processo passou a dominar o comercio internacional. Na arte militar, o domínio da

tecnologia do ferro e do vapor permitiu ao país construir uma marinha de guerra muito

superior aos de outros países e, com isso, dominar os oceanos.

E finalmente os EUA, país que mudou o eixo de principal potência do SI, da Europa

para a América do Norte. Esta ex-colônia da Inglaterra se beneficiou das disputas fora de seu

continente para impor aos países europeus suas principais exigências, quando das ocasiões em

que precisou negociar Tratados para definir seus limites territoriais. Através disso os EUA

conseguiram ampliar seu vasto território, que com auxílio de uma vasta corrente de imigração,

no processo de ocupação destas terras, gradualmente, foi se estabelecendo um mercado

interno, cuja expansão viabilizava o processo de acumulação e permitia a instalação de novos

empreendimentos. Junto com a expansão da produção primária (agricultura, extrativismo e

mineração), a criação das grandes corporações é outra característica importante para explicar

a expansão econômica norte-americana. A maneira de organizar o sistema produtivo, tendo

como base conglomerados industriais, permitiu que o país fosse mais eficiente e quando as

guerras do século XX destruíam seus competidores diretos, o país surgisse como o principal

vencedor. Isso lhes permitiu consolidar o posto de Hegemon do atual SI, amparado na enorme

influência sobre as organizações internacionais e no poder da tecnologia militar convencional

e nuclear.

É possível, então, concluir que todos os fatores identificados corroboraram para idéia

de um SI anárquico, competitivo que se constrangeu formando uma estrutura. Esses países

conseguiram chegar ao topo do SI ao se utilizarem das respectivas transformações nos

conhecimentos e nas novas técnicas que iam surgindo, cada qual ao seu tempo, em um

determinado país. Contudo, o poder exercido por cada um desses países não os eximiram de

evitarem ter sua posição ameaçada continuamente por outros competidores que buscaram e

ainda buscam mudar sua posição relativa na hierarquia de poder do SI. Mesmo assim,

observa-se que, em que pese á competição entre os Estados, em cerca de cinco séculos apenas

cinco países atingiram o topo do sistema enquanto que seus competidores diretos também não

são em número muito grande: menos de uma dezena de Estados.

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4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGELL, Norman. A grande ilusão: Brasília, Editora Universidade de Brasília, 2002 AQUINO, Rubim Santos leão de... [et al]. Histórias da sociedade: Das sociedades modernas as sociedades atuais. Rio de Janeiro: Ao livro técnico 32ª ed, 1995 ARON, Raymond. Estudos Políticos. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1980 ARRUDA, José Jobson de. História: Antiga e Medieval. São Paulo: Ática 18ª ed, 1996 BEAUD, Michel. História do capitalismo: de 1500 até os nossos dias. São Paulo: Brasiliense, 1999 FEIJÓ, Ricardo. História do Pensamento Econômico: De Lao Tse a Robert Lucas. São Paulo:Editora Atlas S.A, 2001 FICHOU, Jean Pierre. A civilização Americana. Campinas/SP: Papirus, 1990 FIORI, José Luis (org). Hegemonia e Império. in. FIORI, José Luis. O poder americano. Petrópolis/RJ: Vozes, 2004 HALLIDAY, Fred. Repensando as relações internacionais. Porto Alegre: ed. da Universidade/UFRGS, 1999 HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: O breve século XX; 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras. 1995 HUBERMAN, Leo. História da Riqueza dos E.U.A: (Nós, o Povo). São Paulo: Brasiliense, 12° ed, 1978 HUNT, E. K e SHERMAN, Howard J. História do pensamento econômico. Petrópolis/RJ: Vozes, 23° ed, 2005 JACKSON, Robert e SORENSEN, George. Introdução as relações internacionais: teorias e abordagens. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2007 KENNEDY, Paul. Ascensão e queda das grandes potências: transformação econômica e conflito militar de 1500 á 2000. Rio de Janeiro: Campus 10ª ed, 1989 KISSINGER, Henry A. Diplomacia. Rio de janeiro: Francisco Alves, 3° ed, 2001 LANDES, David S. Riqueza e a pobreza das nações: por que algumas são tão ricas e outras tão pobres. Rio de Janeiro: campus, 1998 LEBRUN, Gérard. O que é poder: ed. São Paulo: Brasiliense, 1984 MAGNOLLI, Demétrio. Relações internacionais: teoria e história. São Paulo: Saraiva, 2004. NÉRÉ, Jacques. História Contemporânea. São Paulo: Difel, 1975 NOGUEIRA, João Pontes e MESSARI, Nilzar. Teoria das relações internacionais: correntes e debates. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005 NYE, Joseph S. O paradoxo do poder americano: por que a única superpotência do mundo não pode prosseguir isolada. São Paulo: UNESP, 2002 RAMOS, Fabio Pestana. No tempo das especiarias: no tempo da pimenta e do açúcar. São Paulo: Contexto. 2004 TELO, Antônio José. Do Tratado de Tordesilhas à guerra fria: reflexões sobre o sistema mundial. Blumenau: ed. da FURB, 1996

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