A Subjetividade Na Psicopedagogia
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A Subjetividade na Psicopedagogia: Algumas Reflexes
Beatriz Judith Lima Scoz1
Sonia Saj Porcacchia2
RESUMO
O presente estudo tem como objetivo tecer algumas consideraes sobre a questoda subjetividade na Psicopedagogia. A partir das contribuies tericas de BeatrizScoz, Edgar Morin e Fernando Gonzlez Rey, com apoio na teoria da complexidadede Fritjof Capra, situamos a subjetividade em uma perspectiva terica histrico-cultural que implica na idia de movimento. Trata-se de compreender a subjetividade(individual e social) como algo em construo onde esto presentes uma srie deconfiguraes de sentidos. Em especial, buscamos enfatizar a importncia daconstruo da subjetividade na atuao psicopedaggica, a partir da compreensodas trajetrias de vida do sujeito que aprende e ensina, visando um posicionamentoativo desse sujeito, na direo da abertura de novos espaos de subjetivaoatravs da ao, para possveis transformaes. Logo, situamos a atuao dopsicopedagogo em uma perspectiva mais ampla em que a construo dasubjetividade no acontece num espao interno e nem num espao externo, mas nainter-relao, na intersubjetividade.
Palavras-chave: Subjetividade. Psicopedagogia. Aprendizagem. Atuao
psicopedaggica.
ABSTRACT
This study aims to make a few observations on the issue of subjectivity inPsicopedagogy. From the theoretical contributions of Beatriz Scoz, Edgar Morin andFernando Gonzalez Rey, with support in the theory of complexity of Fritjof Capra, wesituate the subjectivity in a historical and cultural perspective which implies the ideaof movement. It is to understand the subjectivity (individual and social) as somethingunder construction which are present a series of settings senses. In particular, weemphasize the importance of construction of subjectivity in performance psychology,from the understanding of life trajectories of the subject who learns and teaches,seeking an active position that subject, in the direction of opening new spaces ofsubjectivity through action for possible changes. So, we situate the performance ofpsychopedagogic in a broader perspective in which the construction of subjectivityisnt a space or a space internal and external, but in the inter-relationship andintersubjectivity.
1 Psicopedagoga, Professora Titular do Programa de Ps Graduao Stricto-sensu em Psicologia Educacional -UNIFIEO/SP. E-mail: [email protected] Psicopedagoga e Mestranda em Psicologia Educacional UNIFIEO/SP; Professora e Supervisora de estgiode ps-graduao em Psicopedagogia Clnica / Institucional na Universidade de Santo Amaro - UNISA,/SP. E-mail: [email protected].
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Key-words: Subjectivity. Psycopedagogy. Learning. Processes of therapeuticpsycopedagogy.
Introduo
Nossas respostas ao meio ambiente so, portanto,determinadas... por nossa experincia passada,nossas expectativas, nossos propsitos e ainterpelao simblica individual de nossaexperincia perceptiva. A tnue fragrncia de umperfume pode evocar alegria ou mgoa, prazer oudor, atravs de suas associaes com a
experincia passada, e nossas respostas variarode acordo com isso. Assim, o mundo interior eexterior esto sempre interligados nofuncionamento de um organismo humano; elesinteragem e evoluem juntos.
Fritjjof Capra
A Psicopedagogia, como uma rea de estudos e um campo de atuao em
Sade e Educao que lida com a aprendizagem humana, tem se preocupado com
a complexidade que envolve essa questo. Trata-se de perceb-la a partir de um
olhar multidisciplinar e interdisciplinar, a partir de conhecimentos sobre as bases
orgnicas, psicolgicas, cognitivas e sociais do sujeito.
Dessa forma, necessrio um maior aprofundamento de estudos cientficos
que fundamentem o diagnstico e o atendimento psicopedaggico, considerando-se
suas mltiplas relaes. Nessa perspectiva, a Psicopedagogia tambm considera os
processos de ensino/aprendizagem como duas instncias que no se separam, ou
seja, tais posicionamentos (aprendente-ensinante) podem ser simultneos e esto
presentes em todo vnculo (pai-filho, amigo-amigo, aluno-professor, etc).Nas relaes indissociveis ensino/aprendizagem, Fernndez (2001 c, pp. 54-
90) enfatiza a importncia do reconhecimento da autoria de pensamento do sujeito
que ensina e do sujeito que aprende. Para essa autora, o conceito de autoria de
pensamento prprio da Psicopedagogia e pode ser definido como o processo e o
ato de produo de sentidos e de reconhecimento de si mesmo como protagonista
ou participante de tal produo. Dessa maneira, aponta-se novamente na direo
de uma perspectiva complexa e abrangente que deve estar presente naPsicopedagogia.
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Ampliando esse olhar, Gonzlez Rey (2005) define epistemologicamente a
produo de sentidos relacionando-a questo da subjetividade. Para esse autor
(2005, p.IX) o sentido exprime as diferentes formas da realidade em complexas
unidades simblico-emocionais, nas quais a histria do sujeito e dos contextos
sociais produtores de sentido um momento essencial de sua constituio.
Continua o autor:
As criaes humanas so produes de sentido, que expressam deforma singular os complexos processos da realidade nos quais ohomem est envolvido, mas sem constituir um reflexo destes. [...]esses processos so uma criao humana, os quais, integrando osdiferentes aspectos do mundo em que o sujeito vive, aparecem em
cada sujeito ou espao social concreto de forma nica, organizadosem seu carter subjetivo pela histria de seus protagonistas(Gonzlez Rey, 2005, p. IX)
Essa forma de conceber o estudo da subjetividade concretiza no campo da
Psicologia a viso de complexidade defendida por Edgar Morin (GONZLEZ REY
apud SCOZ, 2004, p.11), e que segundo Scoz (2004, p.11), trata-se de considerar
as ligaes, as articulaes, expressando aquilo que tecido em conjunto,
enfatizando, ao mesmo tempo, a complexidade da organizao simultnea e
contraditria dos espaos individuais e sociais.
A partir dessas idias, este estudo pretende fazer uma reflexo sobre a
questo da subjetividade na Psicopedagogia, partindo de uma concepo de
complexidade que engloba os sentidos que os sujeitos produzem em seus
processos de aprender e de ensinar. Semelhante s concepes de Fernndez
(2001 b), anteriormente citadas, na perspectiva do pensamento complexo de Edgar
Morin, esses processos sero considerados como uma unidade indissocivel, que
pode ser definida como um sistema dialgico e dialtico, ao mesmo tempo
constituinte e constitudo. Esse autor explicita essa idia em dois dos seus princpios
do pensamento da complexidade:
[...] o princpio dialgico, unindo duas noes antagnicas queaparentemente deveriam se repelir, mas que so indissociveis eindispensveis para a compreenso de uma mesma realidade: e oprincpio da recurso organizacional, representado por um crculogerador, no qual os produtos e os efeitos so eles prprios produtorese causadores daquilo que os produz. (Morin, apud Scoz, 2004, p.11).
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Neste estudo, coerente com as idias anteriormente citadas, a
fundamentao terica sobre a questo da subjetividade ser considerada na
perspectiva scio-cultural de Fernando Gonzlez Rey, apoiada na concepo
sistmica de Fritjof Capra e na teoria da complexidade de Edgar Morin.
Algumas concepes para compreender a subjetividade
Um dos autores citados atualmente em algumas pesquisas acadmicas
Fritjof Capra. Para esse autor (1982, p.259), a subjetividade do sujeito baseia-se na
conscincia do estado de inter-relao e interdependncia essencial de todos osfenmenos - fsicos, biolgicos, psicolgicos, sociais e culturais.
Segundo Capra (1982), existe uma concepo sistmica de ver o mundo em
termos de relaes e de totalidades integradas, cujas propriedades no podem ser
reduzidas s unidades menores, princpios bsicos de organizao. Assim, para a
nova teoria dos sistemas, a evoluo uma aventura contnua e aberta que cria
ininterruptamente sua prpria finalidade num processo cujo desfecho imprevisvel.
Suas caractersticas incluem o aumento progressivo de complexidade, coordenaoe interdependncia; a integrao de indivduos em sistemas de mltiplos nveis; e o
refinamento contnuo de certas funes e tipos de comportamento.
Do ponto de vista sistmico, o que sobrevive o organismo-em-seu-meio-
ambiente (CAPRA, 1982). Um organismo que pense unicamente em termos de sua
prpria sobrevivncia destruir, invariavelmente seu meio ambiente e acabar por
destruir a si mesmo. Assim, no pensamento sistmico, a unidade de sobrevivncia
no absolutamente uma entidade, mas um modelo de organizao adotado por umorganismo em suas interaes com o meio ambiente. Logo, para entender a
natureza humana, estudamos no s suas dimenses fsicas e psicolgicas, mas
tambm suas manifestaes sociais e culturais.
Complementando as idias de Capra, Vasconcellos (2006) avana em trs
dimenses que so adotadas no novo paradigma da cincia: a complexidade, a
instabilidade no mundo e a intersubjetividade. A complexidade leva o sujeito a
ampliar o seu foco de observao sobre o fenmeno, passando a perceb-lo em
suas relaes intra-sistmicas e intersistmicas. Segundo esse autor (2006), o
dinamismo das relaes e as mudanas constantes presentes nos sistemas
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provocam evoluo, auto-organizao e, ao mesmo tempo, instabilidade, falta de
controle e irreversibilidade dos fenmenos. Vasconcellos (2006) tambm enfatiza o
reconhecimento da inexistncia de uma realidade independente de um observador,
ou seja, o conhecimento cientfico sobre o universo uma construo social em
espaos consensuais realizado por diferentes observadores a intersubjetividade.
Trata-se assim, do reconhecimento da impossibilidade de um conhecimento apenas
objetivo no mundo.
Essa nova viso transcende as atuais fronteiras disciplinares e conceituais e
ser explorada no mbito de novas instituies (CAPRA, 1982). a que situamos a
questo da subjetividade nos processos de aprender e de ensinar e suas relaes
com a Psicopedagogia.A Teoria da Complexidade de Morin tambm complementa as idias de Capra
(apud SCHNITMAN, 1996), mais especificamente quando esse autor traz
parmetros para a compreenso da subjetividade como um emaranhado de aes,
de interaes, e de retroaes e que, nessa complexidade, os processos de ensino
e aprendizagem se constituem. Morin afirma ainda que cada indivduo numa
sociedade uma parte de um todo, que a sociedade, mas esta intervm, desde o
nascimento do indivduo, com sua linguagem, suas normas, suas proibies, suacultura, seu saber, ou seja, no s uma parte est no todo, como tambm o todo
est na parte (MORIN apud SCHITMAN, 1996, p.275).
Alm disso, Morin (apud SCHNITMAN, 1996), assim como Capra, nos traz a
posio do observador que interfere no objeto, isto , existe a juno do observador
que observa e, ao mesmo tempo, est interferindo no objeto investigado,
ressaltando-se a importncia das interaes Com outras palavras nada est
realmente isolado no universo, tudo est em relao, ou seja, tudo est em tudoreciprocamente. Morin (apud SCHITMAN, 1996, p.275).
Morin (apud SCHNITMAN, 1996, p.280) afirma ainda que todo conhecimento
uma traduo e uma reconstruo, uma vez que construmos a percepo do
mundo, mas com uma considervel ajuda da sua parte. Dessa forma, o pensamento
complexo um pensamento local, isto , situa-se em um determinado tempo e
momento, mas no um pensamento completo, porque nele sempre existe a incerteza.
no contexto de pensamento complexo, anteriormente citado, que Gonzlez
Rey (2005, p.IX), situa a construo da subjetividade do sujeito. Ou seja:
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[...] em um complexo e plurideterminado sistema, afetado pelo prpriocurso da sociedade e das pessoas que a constituem dentro docontnuo movimento das complexas redes de relaes quecaracterizam o desenvolvimento social. Esta viso de subjetividadeest apoiada com particular fora no conceito de sentido subjetivo,
que representa a forma essencial dos processos de subjetivao. Osentido exprime as diferentes formas da realidade em complexasunidades simblico-emocionais, nas quais a histria do sujeito e doscontextos sociais produtores de sentido um momento essencial desua constituio, o que separa esta categoria de toda forma deapreenso racional de uma realidade externa.
Bar (apud GONZLEZ REY) tambm nos oferece uma contribuio para a
compreenso da subjetividade quando expressa a existncia de uma dialtica entre
o individual e o social. Ou seja, esse autor foi levado a pensar:
[...] em uma teoria da personalidade de base histrico-cultural e, porsua vez, a na psicologia social com base terica dialtica e complexa,na qual o individual e o social no constituram uma dicotomia, nemse excluram reciprocamente. Foi dentro desse esforo terico queapareceu a categoria de subjetividade social (BAR, apudGONZLEZ REY, 2005, p. 201).
Nessa nova perspectiva nota-se a presena da subjetividade social nos
processos sociais no como algo externo aos indivduos, com status do objetivo
diante do individual, mas como processos implicados dentro de um sistema
complexo: a subjetividade social, na qual o indivduo constituinte e,
simultaneamente, constitudo.
Para Gonzlez Rey (2005), a subjetividade social e a individual no se
dissociam, ou seja, esse autor refere-se s formas de organizao complexas da
subjetividade social como configurao e utiliza essa categoria para definir a
personalidade como forma de organizao da subjetividade individual. A categoria
configurao constitui um ncleo dinmico de organizao que se nutre de sentidos
subjetivos muito diversos, procedentes de diferentes zonas de experincia social e
individual, esclarece Gonzlez Rey (2005, p.203-204).
A articulao da subjetivao de espaos sociais e individuais um desafio
terico do conceito de subjetividade social. Para dar conta desse movimento,
necessrio buscar explicaes nos processos de subjetividade social e individual de
maneira simultnea e inter-relacionada, em dois espaos que se constituem
reciprocamente: o sujeito individual e as instncias sociais em que tem lugar suavida social. Nas concepes de Gonzlez Rey (2005), nos espaos sociais
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construdos historicamente acontece a produo da subjetividade individual. Mas, a
partir da sua entrada na vida social, a pessoa vai se transformando em sujeito e a
prpria socializao constitui-se como elemento de sentido na organizao dos
sistemas de relao social que acompanham o desenvolvimento humano. Por sua
vez, o desenvolvimento da subjetividade individual d lugar a novos processos de
subjetividade social, a novas redes de relaes sociais, que atuam como momentos
de transformao na relao com formas anteriores de funcionamento do sistema.
Desse modo, compreendemos junto com Gonzlez Rey (2005, p.206), que os
processos de subjetividade social e individual ocorrem no decorrer dos momentos
contraditrios que fazem parte da constituio complexa da subjetividade humana,
que inseparvel da condio social do homemNa definio dialtica e complexa das concepes de subjetividade de
Gonzlez Rey (2005), compreendemos ainda a subjetividade individual como um
momento da subjetividade social, algo que ocorre de uma forma recproca, sem que
uma se dilua na outra, ou seja, como uma dimenso processual permanente, que se
desenvolve numa continuidade dentro do tecido social em que o homem vive. Trata-
se assim de uma integrao complexa e contraditria entre indivduo e sociedade
(GONZLEZ REY, 2005, p.206). Como explica Cohen (apud GONZLEZ REY,2005, p.206) o sentido do si mesmo coletivo pode ser qualitativamente diferente que
o sentido do si mesmo individual. A ao dos sujeitos implicados em um espao
social, que compartilham os elementos de sentidos e significados nesse espao,
passa a ser elemento da subjetividade individual, e a partir da, passa a ter a
possibilidade de construir uma perspectiva dialgica, dialtica e complexa, integrada
na processualidade dos sistemas sociais em que o sujeito vive.
Gonzlez Rey (2005, p.206) complementa essas idias:
Essa subjetividade individual est constituda em um sujeito, cujatrajetria diferenciada geradora de sentidos e significaes quelevam ao desenvolvimento de novas configuraes subjetivasindividuais que se convertem em elementos de sentidos contraditrioscom o status quo dominante nos espaos sociais nos quais o sujeitoatua.
Assim, pode-se compreender que a subjetividade social situa-se em um
contexto de maleabilidade e flexibilidade que caracteriza os processos de produo
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de sentidos e significados gerados nas diversas reas da vida social, possibilitando
integrar as formas histricas e atuais de subjetivao produzidas nos espaos
sociais nos quais o individuo atua.
Ainda segundo Gonzlez Rey (2005, p.208):
Com o conceito de subjetividade social, os diferentes espaos sociaisse perpassam entre si na constituio subjetiva de qualquercomportamento social e individual, o que aumenta as zonas deleitura das cincias sociais sobre as formas de organizao maiscomplexas da sociedade s quais temos acesso por meio de suaexpresso indireta como elementos constitutivos de fenmenosmicrossociais, como o sentido comum, a escola, o local de trabalho,
as relaes de gnero, as representaes sobre sade e doena,etc., assim como pela expresso desses e muitos outros fenmenossociais no nvel individual.
A subjetividade nos processos de ensino e aprendizagem
A subjetividade social como uma nova forma de constituio que se configura
nos mltiplos aspectos da vida da pessoa e que se concretiza nos espaos de
relao nos quais os indivduos atuam, permite uma aproximao das inter-relaes
dos sujeitos aprendentes/ensinantes, sejam eles, pais/filhos; professores/alunos;
psicopedagogos/clientes, ou outros. Todas essas relaes inserem-se em um
contexto complexo da configurao subjetiva individual e social presente nos
processos de ensino/aprendizagem. Ou seja, trata-se de um espao onde se fazem
presentes as aes individuais dos sujeitos - as configuraes subjetivas individuais
- e, ao mesmo tempo, as diferentes configuraes da subjetividade social.
Nos processos de ensino/aprendizagem, tambm esto presentes os
pensamentos que no se dissociam das emoes do sujeito. Como diz Gonzlez
Rey (2005), o sujeito deve ser compreendido em seu sentido subjetivo, pelos
pensamentos e pelas emoes que so por ele construdos na constituio de si
mesmo e nos espaos sociais em que atua. Nessas inter-relaes, outros espaos
sociais podem ser afetados. Ou seja, na produo de sentidos e significados que
acompanham a ao do sujeito onde esto presentes pensamentos e emoes -que emerge a processualidade do ensino e da aprendizagem e, conseqentemente,
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a subjetividade como um sistema em constante desenvolvimento.
Com Gonzlez Rey (2005, p.236), tambm percebemos que na categoria de
sujeito est presente o indivduo consciente, intencional, atual e interativo, condio
permanente em sua expresso vital e social. As emoes, por sua vez, podem ser
consideradas como condio permanente do sujeito pois, como afirma Gonzlez
Rey (2005,p.236-237):
O sujeito portador de uma emoo comprometida de formasimultnea com sentidos subjetivos de procedncias diferentes, quese fazem presentes no espao social dentro do qual se situa em seumomento atual de relao e de ao. Este um dos aspectos maisdesafiantes do sujeito, assim como um dos aspectos que mais
conseqncias provoca na organizao das diferentes prticassociais e profissionais.
Nesse sentido, a condio subjetiva do sujeito fundamental nos processos
de ensino e aprendizagem e deve ser percebida em diferentes espaos de sua vida
social, como na sala de aula e nos demais espaos onde ocorrem relaes de
ensino e aprendizagem.
Subjetividade e Psicopedagogia
Nas concepes de Fernndez (2001a, p.55) a Psicopedagogia tem como
propsito abrir espaos objetivos e subjetivos de autoria de pensamento; fazer
pensvel as situaes... e, muito mais importante que os contedos pensados o
espao que possibilita fazer pensvel um determinado contedo. Para essa autora,
os espaos de autoria de pensamento no so construdos de uma vez e para
sempre, e sim necessitam ser transformados e reconstrudos permanentemente. Os
espaos que possibilitam essa constante construo e reconstruo, a autora
denomina um lugar entre que est entre a objetividade e subjetividade que
portanto, no somente intrapsquico. um espao que torna simultneas a
objetividade e a subjetividade. (FERNNDEZ 2001).
Para Fernndez (2001 a), o enfoque psicopedaggico no se dissocia do
conceito de autoria: em um entre a obra e seu autor. Scoz (2004, p.14):complementa
essas idias com a seguinte afirmao:
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[...] o conceito de autoria implica considerar o espao existente entrea obra e seu produtor, ou seja, o sujeito reconhecido como autor daobra e, ao mesmo tempo, esse autor produzido quando se
reconhece criando, ou seja, quando sua obra mostra algo novo delemesmo.
Ao definir a autoria de pensamento como o processo e o ato de produo de
sentidos, anteriormente citado e o reconhecimento de si mesmo como protagonista
ou participante de tal produo Fernndez (2001 a, p.90) aproxima-se das
concepes de subjetividade de Gonzlez Rey. Ou seja, para esse autor a
subjetividade se constri a partir da produo de sentidos subjetivos do sujeito em
suas trajetrias de vida, onde a subjetividade individual e social no se dissociam.Gonzlez Rey (2005, p.IX) afirma que o sentido exprime as diferentes formas
da realidade em complexas unidades simblico-emocionais, nas quais a histria do
sujeito e dos contextos sociais produtores de sentido um momento essencial de
sua constituio. Segundo esse autor:
As criaes humanas so produes de sentido, que expressam deforma singular os complexos processos da realidade nos quais o
homem est envolvido, mas sem constituir um reflexo destes. [...]esses processos so uma criao humana, os quais, integrando osdiferentes aspectos do mundo em que o sujeito vive, aparecem emcada sujeito ou espao social concreto de forma nica, organizadosem seu carter subjetivo pela histria de seus protagonistas.(Gonzlez Rey, 2005, p.IX)
Dessa maneira, Gonzlez Rey (2005) acrescenta s produes de sentido as
criaes do sujeito, os diferentes aspectos em que vive, seus processos e formas de
organizao, enfim sua configurao histrica e social.
Gonzlez Rey (apud SCOZ, 2004, p.13) reafirma inmeras vezes a existncia
de uma dialtica entre o momento social e o individual na construo da
subjetividade. Scoz (2004, p.13), esclarece essa idia ao afirmar que o sujeito no
a priori, nem puro reflexo do social, mas representa um momento de contradio e
de confrontao com o social e, ao mesmo tempo, com sua prpria constituio
subjetiva. Dessa maneira, o sujeito, a partir dessa confluncia entre o social e sua
prpria constituio subjetiva, gera novos sentidos que vo modificando a si mesmo
e s suas prticas (GONZLEZ REY, 2005, p.240). Ou seja, a subjetividade implica
idia de movimento - configuraes de sentido que ocorrem durante a trajetria de
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vida do sujeito - que refletem o carter de integrao do diverso: idia central da
constituio da subjetividade.
Nas configuraes de sentidos, assim como nos processos de ensino e
aprendizagem h a presena do pensamento do sujeito. Ou seja, reconhecer um
sujeito ativo reconhecer sua capacidade pensante, reflexiva (apud SCOZ, 2004,
p.14) e, ser, no exerccio de sua capacidade pensante que o sujeito constitui-se
como elemento central de carter processual da subjetividade. Assim, a reflexividade
uma caracterstica do indivduo, que mobiliza a conscincia de si e o engaja em
uma reorganizao crtica de seu conhecimento. Ela est comprometida com a
produo de sentidos subjetivos em todas as esferas da vida do sujeito, levando-o a
se questionar sobre seus pontos de vista fundamentais, possibilitando assim, novasconstrues que o levem a novas posies dentro se seu contexto social.
As emoes, anteriormente citadas, tambm representam um momento
essencial na definio do sentido subjetivo dos processos de ensino/aprendizagem
do sujeito. Uma experincia ou ao s tem sentido quando portadora de uma
carga emocional(GONZLEZ REY 2003, p.250). As emoes so uma expresso
inconsciente da sntese das histrias pessoais, constitudas nas configuraes
subjetivas do sujeito, ou seja, as emoes expressam estados que o sujeito pode ouno ter conscincia, essencialmente afetivos, e que podem ser denominados como
auto-estima, segurana, interesse, autonomia, etc. Esses estados que definem o
tipo de emoo que caracteriza o sujeito para o desenvolvimento de uma atividade -
no caso deste estudo os processos de aprender e de ensinar - e desses estados, vai
depender a qualidade da realizao do sujeito nessa atividade.
Com Scoz (2004, p.17), percebemos ainda a relao consciente/inconsciente
presentes na construo da subjetividade do sujeito em seus processos de aprendere de ensinar, onde os elementos inconscientes apresentam-se como as
configuraes de sentido, que esto na conscincia no momento da
intencionalidade, reflexividade e vivncia do sujeito em relao a seu complexo
mundo psicolgico. Desse modo, conscincia/inconsciente no formam uma
dicotomia, mas dois momentos diferentes da experincia subjetiva que se
constituem dentro de uma nova unidade, que so os sentidos subjetivos. Ainda para
a mesma autora, as relaes conscincia e inconsciente no podem ser
compreendidas como um conjunto de elementos acabados, mas em uma dimenso
de complexidade que participa da organizao da psique humana.
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Observamos, portanto que as relaes entre pensamento/emoo,
conscincia/inconsciente, sujeito/social, sentido/significado, so instncias que no
se separam, e que devem ser tomados como uma unidade. Para Gonzlez Rey
(apud SCOZ, 2004, p.20), na organizao subjetiva, integram-se o pensamento do
sujeito, as emoes, as situaes vividas por ele, as quais aparecem numa
multiplicidade de sentidos subjetivos, processos que no podem reduzir-se
linguagem nem a discursos, uma vez que, segundo Scoz (2004, p.20) a definio
de subjetividade se estabelece como um sistema complexo e dinmico em que,
simultaneamente, vrios elementos entram em contradio, gerando um caminho de
tenses mltiplas, dentro do qual um elemento nunca se reduz a outro.
A Psicopedagogia na perspectiva terica da atualidade
A Psicopedagogia tem o seu principal foco nos processos de aprender e de
ensinar e nos problemas decorrentes desse processo que, para Fernndez,
decorrem principalmente da falta de reconhecimento por parte do sujeito de sua
prpria produo, de sua autoria de pensamento.Fernndez (2001b, p.152) enfatiza que a alfabetizao comea quando os
pais e a sociedade facilitam criana o direito de pensar, de ser autnomo, de ser
autor de sua prpria histria. Portanto, para essa autora, o reconhecimento da
autoria de pensamento - possvel e necessria para que um ser humano tome
contato com a condio humana mais apreciada, que a liberdade - constitui objeto
da psicopedagogia. Idia que permeia os estudos e a atuao de inmeros
psicopedagogos no Brasil.Assim, na atuao Psicopedaggica de fundamental importncia a abertura
de espaos para que o sujeito possa reconhecer-se autor de seu pensamento e
conseqentemente, capaz de produzir sentidos, idia condizente com a definio de
autoria de pensamento de Fernndez, como anteriormente mencionado.
Embora a Psicopedagogia enfatize a importncia da produo de sentidos e a
autoria de pensamento, consequentemente, a construo da subjetividade nos
processos de aprender e de ensinar, necessria uma maior nfase na idia de
movimento e de capacidade de transformao do sujeito que ensina e aprende. Ou
seja, os processos de aprendizagem e de ensino devem ser percebidos no como
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algo que est fora do sujeito, mas como um momento constitutivo essencial,
definido pelo sentido que esses processos tm para ele, dentro de uma condio
singular em que se encontra, ou seja, inserindo-se os processos de aprendizagem e
de ensino em suas trajetrias de vida. (SCOZ, 2004, p. 24) Compreendendo-se, ao
mesmo tempo, que dentro de uma mesma configurao de sentidos aparecem
elementos de sentido gerados em tempos e espaos diferentes na vida da pessoa
(GONZLEZ REY, 2006).
Assim, trata-se de possibilitar a construo de uma perspectiva dialgica,
dialtica e complexa no decorrer do processo de atuao psicopedaggica, ou seja,
esse processo deve ocorrer em um contexto de maleabilidade e de flexibilidade que
considere os processos de produo de sentidos e significados gerados, ao mesmotempo, nas diversas reas da vida individual e social do sujeito.
Diante da idias acima mencionadas, vamos tomar as concepes de
Gonzlez Rey (2007) acerca da subjetividade a partir de uma perspectiva histrico-
cultural para, a partir da, tentar refletir sobre a atuao psicopedaggica
considerando-se os sentidos subjetivos produzidos nas trajetrias de vida do sujeito
onde entram em jogo: pensamento-emoo, sociedade-individuo, conscincia-inconsciente etc, como instncias inseparveis. Assim, como diz Scoz (2004, p.21)
talvez possamos dar um passo alm, para tentar compreender a construo da
subjetividade do sujeito que aprende e ensina.
Na atuao psicopedaggica a abertura de espaos para a produo de
sentidos subjetivos na perspectiva anteriormente citada, poder ocorrer quando o
sujeito afetado pelos sintomas, transforma-se em sujeito diante de sua situao atual
e capaz de produzir novas emoes e processos simblicos que lhe facilitem aproduo de novos sentidos subjetivos e, conseqentemente, novas produes em
seus processos de aprender e de ensinar.
Dessa maneira, na atuao psicopedaggica nasce uma nova posio do
sujeito em suas relaes e atividades possibilitando portanto, novos momentos de
produo de sentidos evidenciando-se um sujeito em constante movimento um
sujeito aprendente.
Nesse processo, essencial a qualidade do dilogo que ocorre entre o
psicopedagogo e o cliente e as opes que da derivam. A partir da perspectiva
terica de Gonzlez Rey (2007, p.160), a atuao psicopedaggica deve ocorrer
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essencialmente como um dilogo em que o psicopedagogo com base nas hipteses
sobre configuraes subjetivas do problema relatado pelo cliente, participa e induz
tpicos de conversao que, sem prejuzo para o momento dialgico, permitam ao
outro conversar sobre reas significativas produzindo sentidos subjetivos. Essa idia
reafirma-se fazendo uma analogia com o atendimento psicoteraputico:
A psicoterapia no um processo de descobrimento nem de soluescentradas na figura do terapeuta; um processo de produo denovos sistemas de subjetivao. O terapeuta facilita a emergncia denovos sentidos subjetivos, contudo, no tem controle sobre a formaque eles tomaro, tampouco dos desdobramentos que aparecero noprocesso teraputico, cujo curso uma fonte permanente de novosprocessos de subjetivao que podem favorecer ou no a mudana
(GONZLEZ REY 2007, p.161).
Na atuao psicopedaggica, trata-se tambm de possibilitar ao sujeito um
espao dialgico, com opes dele, facilitando o acesso produo de novos
espaos de subjetivao atravs de sua prpria ao. Nesse espao dialgico, como
diz Gonzlez Rey (2007,p.163): outorgo ao outro o direito de me fazer perguntas,
de querer conhecer coisas de minha prpria vida, ou seja, processos essenciais em
todo dilogo. No existe dilogo sem a emergncia do sujeito, que somente aparece
em uma reflexividade autntica, espontnea e ativa. Dessa maneira, o papel do
psicopedagogo seria reconhecer o sujeito sem psicoterapia, enxergar o outro como
pessoa reflexiva, capaz de avaliar a si mesma e ao outro (GONZLEZ REY, 2007,
p. 163). Ou seja, a possibilidade do sujeito avaliar o psicopedagogo e o prprio
processo de terapia poderia se converter em importante processo de produo de
sentido, contribuindo assim para uma mudana da atuao psicopedaggica.
Concluindo, a gerao de novos sentidos subjetivos no espao
psicopedaggico s ser possvel se existir o resgate da inteno e o
posicionamento ativo do sujeito, para que possa acontecer a mudana. Sem esse
posicionamento, o processo de atuao psicopedaggica situa-se, como muitas
vezes ocorre, em uma ao externa pessoa, no sendo favorvel gerao de
novos sentidos subjetivos, conseqentemente construo da subjetividade e a
melhoria dos processos de ensino e aprendizagem.
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