A sociologia e o senso comum - Sexo e Gênero

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Sociologia 1º ano Prof. José Amaral. As diferenças entre homens e mulheres. Para o senso comum, homens e mulheres são diferentes devido aos sexos. Há uma diferença biológica, orgânica, entre esses dois grupos. No dia-a-dia, esperamos desses dois sexos comportamentos também diferentes, geralmente complementares. Ao homem, geralmente atribuímos a força física e a frieza. Por outro lado, à mulher, a fragilidade e o afeto. Não é raro, portanto, que, em uma família, os homens sejam mais distantes dos filhos e que se responsabilizem pela maior parte do orçamento doméstico. As mulheres, por sua vez, são mais próximas das crianças e, embora trabalhem fora, recebem salários menores e se responsabilizem pela maior parte dos afazeres de casa. Podemos resumir assim os diferentes papeis que atribuímos aos dois sexos: Homem Mulher Força física Fragilidade Frieza/Racionalidade Afeto/Carinho Trabalho (Rua) Lar (Casa) Atualmente, essas associações são questionadas. Sem receio de errarmos, podemos dizer que estes papéis são muito mais “maleáveis”, admitindo combinações e rearranjos, do que há cinquenta anos. No entanto, eles ainda não foram descartados do nosso imaginário e há limites dentro dos quais os indivíduos podem transitar. Como é vista uma mulher que desconsidera a maternidade, abrindo mão do casamento e cuidando integralmente de sua carreira profissional? E o homem que decide tomar conta do lar e dos filhos, sendo sustentado pelo trabalho de sua esposa? Para a nossa visão mundo o nosso senso comum -, esses papeis são naturais e os indivíduos não podem simplesmente negá-los, sob pena de serem estigmatizados e afastados do convívio social. Mas será mesmo que tais papeis são naturais? Vejamos o que dizem as ciências sociais: A antropóloga estadunidense Margareth Mead (1901-1978) procurou investigar as relações entre cultura e personalidade. Mead investigou como os indivíduos recebiam os elementos de sua cultura e a maneira como isso formava sua personalidade. Suas pesquisas tinham como objeto as condições de socialização da personalidade feminina e da masculina. Ao analisar os Arapesh, os Mundugumor e os Chumbuli, três povos da Nova Guiné, na Oceania, Mead percebeu diferenças significativas. Entre os Arapesh não havia diferenciação entre homens e mulheres, pois ambos eram educados para ser dóceis e sensíveis e para servir aos outros. Também entre os Mundugumor não havia diferenciação: indivíduos de ambos os sexos eram treinados para a agressividade, caracterizando-se por relações de rivalidade, e não de afeição. Entre os Chambuli, finalmente havia diferença entre homens e mulheres, mas de modo distinto do padrão que conhecemos: a mulher era educada para ser extrovertida, empreendedora, dinâmica e solidária com os membros de seu sexo. Já os homens eram educados para ser sensíveis, preocupados com a aparência e invejosos, o que os tornava inseguros. Isso resultava em uma sociedade em que as mulheres detinham o poder econômico e garantiam o necessário para a sustentação do grupo, ao passo que os homens se dedicavam às atividades cerimoniais e estéticas. Baseada em seus achados, Mead afirmou que a diferença das personalidades não está vinculada a características biológicas, como o sexo, mas à maneira como em cada sociedade a cultura define a educação das crianças. TOMAZI, N. Sociologia para o ensino médio. 2ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2010, pp. 172-173. Por que a antropóloga não reafirmou a visão de mundo do senso comum? Porque as suas constatações foram extraídas de longos estudos, metódicos, os quais não permitiram generalizar aquilo que o senso comum afirma. O método utilizado por Mead foi aetnografia, a qual, ao fim do estudo, permitiu comparar as diferentes realidades e concluir que os comportamentos aceitáveis são definidos pela cultura em que vivemos, e não pela natureza dos nossos corpos.

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Sociologia – 1º ano – Prof. José Amaral. As diferenças entre homens e mulheres.

Para o senso comum, homens e mulheres são diferentes devido aos sexos. Há uma diferença biológica, orgânica, entre esses dois grupos. No dia-a-dia, esperamos desses dois sexos comportamentos também diferentes, geralmente complementares. Ao homem, geralmente atribuímos a força física e a frieza. Por outro lado, à mulher, a fragilidade e o afeto. Não é raro, portanto, que, em uma família, os homens sejam mais distantes dos filhos e que se responsabilizem pela maior parte do orçamento doméstico. As mulheres, por sua vez, são mais próximas das crianças e, embora trabalhem fora, recebem salários menores e se responsabilizem pela maior parte dos afazeres de casa. Podemos resumir assim os diferentes papeis que atribuímos aos dois sexos:

Homem Mulher

Força física Fragilidade

Frieza/Racionalidade Afeto/Carinho

Trabalho (Rua) Lar (Casa)

Atualmente, essas associações são questionadas. Sem receio de errarmos, podemos dizer que estes papéis são muito mais “maleáveis”, admitindo combinações e rearranjos, do que há cinquenta anos. No entanto, eles ainda não foram descartados do nosso imaginário e há limites dentro dos quais os indivíduos podem transitar. Como é vista uma mulher que desconsidera a maternidade, abrindo mão do casamento e cuidando integralmente de sua carreira profissional? E o homem que decide tomar conta do lar e dos filhos, sendo sustentado pelo trabalho de sua esposa? Para a nossa visão mundo – o nosso senso comum -, esses papeis são naturais e os indivíduos não podem simplesmente negá-los, sob pena de serem estigmatizados e afastados do convívio social. Mas será mesmo que tais papeis são naturais? Vejamos o que dizem as ciências sociais:

A antropóloga estadunidense Margareth Mead (1901-1978) procurou investigar as relações entre cultura e personalidade.

Mead investigou como os indivíduos recebiam os elementos de sua cultura e a maneira como isso formava sua personalidade. Suas pesquisas tinham como objeto as condições de socialização da personalidade feminina e da masculina. Ao analisar os Arapesh, os Mundugumor e os Chumbuli, três povos da Nova Guiné, na Oceania, Mead percebeu diferenças significativas. Entre os Arapesh não havia diferenciação entre homens e mulheres, pois ambos eram educados para ser dóceis e sensíveis e para servir aos outros. Também entre os Mundugumor não havia diferenciação: indivíduos de ambos os sexos eram treinados para a agressividade, caracterizando-se por relações de rivalidade, e não de afeição. Entre os Chambuli, finalmente havia diferença entre homens e mulheres, mas de modo distinto do padrão que conhecemos: a mulher era educada para ser extrovertida, empreendedora, dinâmica e solidária com os membros de seu sexo. Já os homens eram educados para ser sensíveis, preocupados com a aparência e invejosos, o que os tornava inseguros. Isso resultava em uma sociedade em que as mulheres detinham o poder econômico e garantiam o necessário para a sustentação do grupo, ao passo que os homens se dedicavam às atividades cerimoniais e estéticas.

Baseada em seus achados, Mead afirmou que a diferença das personalidades não está vinculada a características biológicas, como o sexo, mas à maneira como em cada sociedade a cultura define a educação das crianças. TOMAZI, N. Sociologia para o ensino médio. 2ª ed. São Paulo: Ed. Saraiva, 2010, pp. 172-173.

Por que a antropóloga não reafirmou a visão de mundo do senso comum? Porque as suas constatações foram extraídas de longos estudos, metódicos, os quais não permitiram generalizar aquilo que o senso comum afirma. O método utilizado por Mead foi aetnografia, a qual, ao fim do estudo, permitiu comparar as diferentes realidades e concluir que os comportamentos aceitáveis são definidos pela cultura em que vivemos, e não pela natureza dos nossos corpos.