A Sobrevivência Dos Judeus Na Visão de Baruch Spinoza - o Exemplo Da Paraíba

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  • 8/14/2019 A Sobrevivncia Dos Judeus Na Viso de Baruch Spinoza - o Exemplo Da Paraba

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    A sobrevivncia dos judeus na viso de Baruch Spinoza: o exemplo da Paraba*****

    Anita Novinsky

    *****Portugal e Espanha foram, durante trs sculos (XVI-XVIII) cenrio do mais violento anti-semitismoconhecido na histria, antes do nazismo. Em nome da religio e do nacionalismo, a Igreja e o Estado

    promoveram uma feroz perseguio uma minoria judaica, convertida ao catolicismo, e aos seusdescendentes, reduzindo-os condio de parias.Uma certa faco desses convertidos, denominada cristos-novos (ou marranos) respondeu represso comuma frrea resistncia ao catolicismo, sendo odiada por no aceitar a salvao oferecida pela Igreja, por noquerer reconhecer os maravilhosos mistrios da teologia crist, por questionar que trs equivalem a um, porno reconhecer que um homem possa ser Deus e que um filho possa nascer de uma virgem.Historiadores, antroplogos, filsofos, psicanalistas, tm refletido sobre o comportamento, e a psiqu dessesmarranos, e as razes da sua to longa sobrevivncia. Edgard Morin, Yirmiyahu Yovel, Richard Popkin,Antnio Damsio, Jean-Pierre Winter[1]buscaram no marrano a chave para a compreenso do pensamento dealguns pensadores como Spinoza, Montaigne, Santa Tereza, Tirso de Molina e outros.De Spinoza partiu a mais lcida crtica contra o fanatismo religioso, numa poca em que Portugal estavamergulhado no mais profundo obscurantismo. Sendo ele prprio descendente de judeus convertidos, Spinoza hoje compreendido pelos seus bigrafos como marrano. E so unnimes os spinozistas em afirmar quesomente possvel entender sua filosofia e sua mensagem sobre o mundo e a sociedade, se entendermos o seudestino como marrano[2].O mundo e a religio foram para Spinoza sempre um problema. Cresceu em uma comunidade judia, viveunum bairro judeu, freqentou escola judaica e teve formao talmdica. Aprendeu o hebraico, apesar de seuidioma materno ser o portugus. Conhecia a Cabala, e como viveu em um tempo embebido de fantasiasmessinicas e milenaristas, referiu-se com desprezo sua charlatanice.A questo que preocupou Spinoza foi a sobrevivncia dos judeus durante sculos, apesar de todas ashumilhaes e perseguies , a qual procurou responder em seu Tratado teolgico-poltico[3].Apesar de toda sua formao judaica, Spinoza no aceitou o judasmo que lhe transmitiram seus mestresrabinos, tanto os askhenazi como os sefaradi. Recusou a Menasseh ben Israel, sefaradi, latinista,elegantemente pintado por Rembrandt, recusou Levi Morteira, ashkenazi, de espessa barba branca, abrigadonuma longa capa preta, a moda dos judeus do leste, tambm pintado por Rembrandt.As categorias religiosas do seu tempo no satisfaziam a Spinoza, e desde muito jovem comeou a escrevercrticas ao fanatismo e s supersties de todas as religies. Essas crticas no podiam ser aceitas pelos

    ortodoxos lderes das comunidades judaicas de Amsterd, e em 27 de julho de 1656, Spinoza foiexcomungado e expulso da sinagoga. Suas idias foram apontadas como horrveis heresias. Spinoza saiu deAmsterd e foi morar sozinho em uma aldeia onde ficava o cemitrio da comunidade portuguesa.Um fato importante marca a personalidade de Spinoza: apesar de ter rompido com o judasmo e com areligio, continuou judeu, porque para o seu entendimento, ser judeu no implicava forosamente em serreligioso.

    Mas como era a Holanda onde nasceu Spinoza e onde floresceu a mais importante comunidadeportuguesa sefaradi da Europa?A Holanda foi o primeiro estado na Europa que adotou uma poltica de tolerncia religiosa, fruto de uma novaconcepo da conscincia burguesa. Foi o primeiro Estado da Europa que fez a revoluo contra a ordemfeudal da Idade Mdia. Na arte holandesa j est refletida essa mentalidade. Em vez de glorificar os smbolosdo mundo extraterreno glorificava a vida, a existncia, e cria o retrato, a paisagem e a natureza morta. AHolanda estava voltada para o mundo, empenhada na conquista do mercado e no domnio dos mares. Foi o

    nico lugar da Europa, no sculo XVII, onde se podia expressar o pensamento com relativa liberdade. Asreligies no calvinistas eram permitidas se fossem praticadas com descrio, e as prticas judaicasautorizadas se oficiadas veladamente. No era permitido defender o judasmo publicamente nem praticar o

    proselitismo.Apesar da relativa liberdade religiosa, havia temor na comunidade portuguesa, e a vida dos emigrantes judeusno era totalmente segura. Os calvinistas eram extremamente religiosos e em um falso momento os judeus

    podiam ser mal interpretados. Os Judeus eram visitas teis, mas no cidados iguais. Sempre havia o risco deperder as liberdades civis.Portugueses fugitivos, para todas as regies onde se exilavam, carregavam seu grande sonho: a liberdade. AHolanda ofereceu-lhes essa liberdade, apesar de no ser to ampla como muitas vezes supomos. Mas

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    permitia-se a livre leitura, o debate das novas idias, e tolerava-se a prtica de diferentes religies. Eprincipalmente, era possvel repensar a natureza humana. Se Spinoza tivesse nascido e crescido emPortugal,talvez a sua filosofia jamais tivesse vindo luz.Para termos um espelho do mundo contraditrio no qual viviam os cristos-novos, quero lembrar que, no ano

    em que a Amrica foi descoberta, milhares de judeus se converteram voluntariamente na Espanha, para poderficar na ptria. Em Portugal o quadro foi diferente, foram forados ao batismo e impedidos de partir. Muitos

    judeus, depois de convertidos, se tornaram leais catlicos e tudo fizeram para se integrar na sociedade crist.Seguiam obedientemente a religio oficial, casavam-se com cristos e passavam grandes donativos para asIgrejas. Com a converso forada rompeu-se o elo comunitrio, separaram-se as famlias, e teve fim a longacultura judaica que tinha florescido durante XV sculos na Espanha e em Portugal.Os judeus pensavam que como catlicos, alm de salvar suas vidas e fortuna, tambm seriam aceitos pelasociedade ampla.Esse foi seu grande engano, sua grande iluso. Como na novela de Kafka, O Castelo, omundo ibrico no estava interessado em receber judeus. E quanto mais o judeu convertido procuravaintegrar-se, mais ele afundava na sua solido. Esse foi exatamente o destino dos cristos-novos no Brasil, dosquais a Paraba oferece um dos exemplos mais significativos.O Estado portugus, estimulado pelo modelo oferecido pelos reis catlicos e continuado por Carlos V, criou o

    Tribunal do Santo Ofcio da Inquisio pela vontade expressa do rei d. Joo III, apoiado pelo Papa. Quandoda sua criao, o Tribunal tinha um nico objetivo: perseguir e punir os portugueses acusados de praticarsecretamente a religio judaica.Uma feroz propaganda anti-semita comeou a ser pregada nos plpitos, nos sermes e numerosas obras anti-

    judaicas, publicadas na Espanha e em Portugal, prepararam o genocdio de milhares de portugueses.O anti-judasmo pregado pelos membros do alto clero catlico e pelos conservadores dirigentes do Estado

    portugus assim como a legislao discriminatria, produziram resultado imprevisto: aumentou a resistnciados cristos-novos. Essa resistncia em adotar o catolicismo em Portugal no teve paralelo na histria.Cristos-novos armaram-se de estratgias clandestinas que passaram de gerao em gerao. A sociedadeibrica ficou dividida em dois mundos, um visvel e outro secreto. Esse mundo secreto criou ramificaes e

    produziu conseqncias, em nvel econmico e cultural, que apenas hoje esto sendo estudadas emprofundidade.Os descendentes dos judeus convertidos ao catolicismo em Portugal, em 1497, foram oprimidos e perseguidosdurante 3 sculos em todo imprio. Leis continuamente promulgadas proibiam os portugueses cristo-novosde deixar Portugal. Assim mesmo, em cada nau que saia do Tejo embarcavam fugitivos clandestinos. A maior

    parte dos cristos-novos que conseguiu sair de Portugal, passou para a Amrica, alem de levas inteiras teremse dirigido para o Norte da frica, Levante, Itlia, Blkans e principalmente, em fins do sculo XVI, para

    Holanda, considerada pelos portugueses a Nova Jerusalm.Spinoza foi o primeiro filsofo da poca moderna que explicou de maneira sucinta e terrena a sobrevivnciados judeus. Essa mesma explicao, essencialmente secular, foi endossada por Jean Paul SartreDe onde Spinoza derivou sua compreenso sobre a continuidade dos judeus?

    1 Dos conhecimentos que tinha da histria judaica e da experincia acumulada pelos judeus no exlio.2 - Da prxis. Do seu prprio destino marrano.

    No Tratado teolgico-poltico,Spinoza refere-se questo da continuidade do povo judeu, depois da perda doseu territrio e do incio de sua disperso. Mas no oferece nenhuma explicao sobrenatural a essefenmeno. No foi por interferncia divina, mas sim devido a fatores histricos, que os judeus se espalharam

    pelos quatro cantos do mundo.Os judeus se separaram de todas as naes, principalmente por causa de seus costumes diferentes e de seusritos. Conforme explica Yehuda Bauer, na Antigidade, foram principalmente trs princpios fundamentais do

    judasmo que diferenciavam os judeus dos outros povos:

    1 todos os homens so livres2 todos os homens so iguais3 todos os homens tm direito de criticar o PoderSe as naes da antiguidade aceitassem esses princpios, seus Imprios se desmoronariam[4]. Imaginemos aBabilnia ou o Imprio Romano sem escravos. Imaginemos um homem do povo criticar a Nero! Mas o

    profeta Natan criticou o Rei David.Alm desses princpios, os judeus criaram um valor: que todos os homens, senhores ou servos, e mesmo seusanimais, tm direito a um dia de descanso por semana. Lembremos que s no sculo XIX o mundo ocidentalreconheceu aos trabalhadores o direito ao descanso semanal. Os judeus, como diz Bauer, no eram nem

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    melhores nem piores, mas eram diferentes. E quando se dispersaram pelo mundo carregaram consigo essadiferena. Essa diferena incomodava. nesse sentido que Spinoza tambm entendeu o anti-semitismo.Para os portugueses que se refugiaram na Holanda, abriram-se novas oportunidades e muitas vidas serefizeram econmica e familiarmente. Aps um sculo de excluso reacendeu-se entre os cristos-novos oanseio de participar e pertencer. A religio judaica foi revivida e seguida apaixonada e fanaticamente poruma parte dos exilados portugueses. Para que se desse essa revivescncia os cristos-novos tiveram que

    passar por todo um aprendizado e foram os rabinos do leste europeu que deram ao judasmo um novoimpulso.Spinoza criou-se em meio a essa nova comunidade, dividida entre dois modelos diferentes do judasmo, osefaradi, de origem ibrica e o ashkenazi, de origem europia oriental. Spinoza fez sua escolha: tentousecularizar a histria judaica, assim como procurou secularizar a histria em geral. Eliminou a idia de divina

    providncia e da interferncia de Deus no destino dos homens e eliminou o sentido do transcendental dahistria, o mundo aqui e Deus alem. Introduziu uma concepo de Deus imanente no mundo, e no fora dele.Rejeitou todas as religies, tanto o judasmo como o cristianismo.Desde o sculo XVI a Paraba foi um foco de judasmo. Os cristos-novos que a viviam no eram abastadoscomo os da Bahia ou do Rio de Janeiro, mas tambm tinham algumas posses. Tiravam sua subsistncia daagricultura e possuam alguns escravos. Seu nmero cresceu aps a expulso dos holandeses, quando judeusque no quiseram deixar o Brasil penetraram fundo no serto. No sculo XVIII viviam principalmente emengenhos situados margem do rio Paraba. Constituam um grupo coeso, fechado, endogmico efreqentavam a igreja apenas para o mundo ver. Mas no mago de seus coraes, como no templo de suas

    casas faziam as cerimnias que aprenderam de seus pais e avs,e que lhes eram transmitidas h mais de 10geraes[5].O judasmo dos cristos-novos da Paraba se manifestava atravs de dois modelos: a prtica de algumascerimnias e o sentimento de pertencer.Os cristos-novos de Camaragibe (Pernambuco) tambm foramacusados de seguir alguns preceitos da religio judaica. Mas importante, uma vez para sempre, demolir omito de que a perseguio aos marranos foi eminentemente religiosa. Tanto na Paraba como em outrasregies do mundo, o que levou a perseguio dos cristo-novos foi um anti-semitismo existencial, que nodependia exclusivamente da religio, mas como explica Yirmiyahu Yovel, estava voltado contra o prprioser, o prprio existir dos judeus. Esse anti-semitismo mais profundo que o anti-semitismo religioso[6].

    Muito cedo os paraibanos aparecem como suspeitos de judasmo. O primeiro visitador que aInquisio mandou ao Brasil j teve ordem de investigar a Paraba. Joo Nunes, cristo-novo que a viveu emfins do sculo XVI, e teve importante papel na colonizao local, foi denunciado por ter dito quando me ergo

    pela manh que rezo uma Ave Maria, amarga-me a boca.

    Pesquisas mais exaustivas podero esclarecer ainda obscuros ngulos da realidade dos judeus daParaba. As suspeitas aparentes repetiam as seculares acusaes de que faziam ajuntamentos, costumavamestar na Igreja com muito pouco acato e reverncia no tempo em que se alevantava o SantssimoSacramento quando falavam uns com os outros, e no traziam livros de rezas nem de contas.

    Na quaresma de 1673, a Inquisio de Lisboa ordenou que se publicasse um edital na igreja de NossaSenhora das Neves, chamando todos fieis catlicos a vir denunciar sob pena de excomunho. Deviam contartudo que presenciaram ou ouviram contra a Santa F Catlica. O vigrio da Igreja de Nossa Senhora das

    Neves, padre Francisco Arouche e Abrantes, leu o edital no plpito. A populao se agitou e de boca em bocacorria a notcia da excomunho. Amedrontados, sussurravam que as iras do inferno iriam desabar sobre oscmplices. Acontece ento algo surpreendente: apenas oito pessoas se apresentaram perante o vigrio paracumprir as ordens da Igreja. Todos repetiram que o faziam por medo. Durante os treze meses que durou oinqurito, de 26 de fevereiro de 1673 a 20 de maro de 1674, o vigrio ouviu apenas as denncias desses oito

    paraibanos.

    A maioria dos denunciantes pertencia governana. A populao que ouviu a chamada da Igreja nocompareceu para denunciar. Esse fenmeno j se havia passado na Bahia, durante a grande inquirio de1646[7]. Os oito denunciantes repetiram que ouviram dizer sobre feitiarias e supersties, mas

    principalmente sobre judasmo[8].Na Paraba, a heresia judaica se entende durante sculos. Na investida inquisitorial do sculo XVIII,

    quando so presos em poucos anos cerca de cinqenta paraibanos, as evidncias sobre as sinagogas e asreunies secretas aumentaram. O Santo Ofcio obteve vantagens econmicas com sua prises, cujo montanteainda no foi avaliado.

    O estigma, a excluso, a perseguio, revitalizaram o judasmo na Paraba. Parte dos judeus e cristos-novos que viviam em Pernambuco, quando foi ordenada a expulso dos judeus holandeses, no optou pelo

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    exlio e vamos encontrar seus descendentes, ainda praticando o judasmo, nos sertes da Paraba, do Piau,Cear e Rio grande do Norte. Entre os paraibanos que foram presos entre os anos 1729 e 1735, diversostinham nascido em Pernambuco. Conta-se que no engenho de So Bento, os cristos-novos trabalhavam aosdomingos e dias santos, e com afrontas tentavam ridicularizar o catolicismo, chamando Jesus de feiticeiro.

    Uma das maiores resistncias que os cristos-novos apresentaram frente Igreja, foi o culto dasimagens santas que consideravam pau e barro cozido. Essas e mais acusaes acirravam o dio aodiferente, que preservava o sbado em vez do domingo, que comia carne nos dias proibidos e seguiarestries alimentares estranhas da maioria da populao. Clara Henriques, mulher simples e sem instruo,costumava dizer que na hstia e no vinho do clice, depois da consagrao, apenas ficava um pouco de vinhoe farinha[9].

    Os inquisidores viam com suspeita a comunicao entre os cristos-novos, pois mesmos aqueles queno praticavam as cerimnias e rituais judaicos, mantinham ntimos contatos comerciais e familiares. Nassecretas reunies, nos distantes engenhos, Poxim, Engenho do Meio, Engenho Novo, cristos-novos seencontravam e mantinham viva a memria de sua histria, o xodo do Egito, a histria dos patriarcas e a

    promessa de redeno.Mesmo que muitos portugueses cristos-novos tenham conseguido diluir-se em meio sociedade

    ampla, infiltrando-se entre as elites da Igreja e comprando cartas de limpeza, individualmente foram sempreparias.

    Os cristos-novos da Paraba resistiram durante trs sculos s presses da Igreja. Na segunda metadedo sculo XVIII, com o arrefecimento das perseguies no Nordeste, as notcias sobre os marranos

    silenciaram. Parecia que haviam sido totalmente absorvidos pela sociedade ampla. Mas algumas descobertassurpreendentes nos ltimos anos revelaram a existncia de resqucios do judasmo no mais distante serto.Essas pesquisas tm sido objeto atualmente de estudo do antroplogo francs, professor do Collge de France,

    Nathan Wachtel[10]. Cineastas tambm buscaram na histria dos marranos do Nordeste, inspirao para seusdocumentrios. O marranismo brasileiro vem despertando tanto interesse que faz parte hoje de um curso noCollge de France.

    A idia de salvao dominava a mente dos cristos-novos portugueses, porm era centrada emMoiss, no em Cristo. Para os cristos-novos, assim como para os judeus, a salvao no era metafsica mas

    poltica. O salvador no Deus, mas um homem, Moiss, e uma lei, a Lei que desceu do Sinai.Para Spinoza, a salvao no passa pela religio, nada tem a ver com a f, nem com Jesus, nem com

    Moiss. O homem s se salva pelo conhecimento e pela razo. Quanto mais o homem tiver conhecimento decomo funciona o mundo e o universo, mais prximo est da salvao. No catolicismo se salva o homem. No

    judasmo se salva toda a humanidade, porque a salvao coletiva.

    Spinoza escolheu os marranos como o paradigma da histria judaica. Marranos no eram s os judaizantes,mas toda nao conversa, incluindo aqueles que, sem sucesso, tentaram assimilar-se ao cristianismo. Asobrevivncia dos marranos como a dos judeus se deve ao anti-semitismo. O dio que os cristos tinham

    pelos judeus foi a principal razo que impediu o seu desaparecimento. Trata-se de um mesmo fenmeno quese repete desde a Antigidade.

    A preocupao central de Spinoza foi o destino peculiar dos judeus. Conheceu bem as vicissitudes queseu povo de origem estava passando em Portugal. Sabia dos martrios,das torturas, dos autos de f. E quisentender essa histria luz de causas naturais e no transcendentais.

    O que interessava para o filsofo marrano era o presente, e a explicao da histria. Preocupava-o noa religio, mas o povo, o povo que foi capaz de sobreviver durante sculos sem perder sua identidade, semprealimentando um sonho de redeno. Queria entender essa sobrevivncia e essa obstinncia. Como foi e

    porque o povo judeu sobreviveu? E os cristos-novos portugueses? Como foi que se mantiveram, guardandosegredo durante tantos sculos? Procurou dar a essa questo uma resposta natural, baseada em causas

    histricas, sociais e psicolgicas.Spinoza, foi um dos grandes mestres da humanidade. Segundo Edgar Morin, foi uma das mximasexpresses da criatividade marrana, e na filosofia comparado a Plato e Kant. A sua teoria sobre os efeitos considerada hoje um conceito fundamental da psicanlise. O conceito do inconsciente, a relao do

    pensamento e da linguagem, a ambivalncia de todos os afetos, a anlise do sentimento crtico, o conceito derepresso, esto todos j pronunciados no pensamento e na filosofia de Spinoza. Criou um conceito ticomoderno de liberdade. S com o conhecimento o homem supera as paixes e consegue ser livre.

    Foram as idias de Spinoza que ajudaram a moldar o debate intelectual do sculo XVIII. Goethe,Freud, Lacan, Einstein, sofreram influncia de sua filosofia.

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    Muitas vezes historiadores tm se perguntado: eram os cristos-novos realmente judaizantes? Ou ser que aInquisio quis extermin-los por motivos raciais, por judeofobia, como afirma Antnio Jos Saraiva, eBenzion Netanyahu[11]?A resposta est na dialtica da histria. Ambos fenmenos so verdadeiros. Os cristos-novos eram judeus eno eram ao mesmo tempo. Queriam pertencer ao mundo catlico e no queriam deixar de ser judeus.Amavam e odiavam ao mesmo tempo. Muitas vezes, cristos-novos no Brasil, como os judeus durante onazismo, perderam a vida simplesmente porque eram judeus, porque tinham algum antepassado judeu, comoexpressou o padre Antnio Vieira. Mas havia os que realmente praticavam algumas cerimnias judaicas,apesar de confusas, quase inconscientes. Havia ainda os que seguiam as duas religies a judaica e a catlica,confusa e sincrticamente.Mas, como escreveu Spinoza, em um conceito mais largo e profundo, eram judeus tanto os cristos-novos,

    como eram judeus os assimilados, aculturados ou laicos. Todos os cristos-novos faziam parte de um povo s,pela sua histria, pelo sofrimento e pelo seu destino.Na Espanha e em Portugal, na poca moderna, reuniram-se Estado e Igreja para destruir o judasmo. Nosculo XX repetiu-se o modelo e milhares de judeus foram assassinados. E hoje o anti-semitismo recrudesceem todo o mundo e adquire cada vez novas faces. A histria no nos preparou para o sculo XX e no estamos

    preparados para o sculo XXI. George Steiner, um dos maiores pensadores de nosso tempo, professor nauniversidade de Cambridge, pergunta em uma de suas obras porque a humanidade no sentido mais largo da

    palavra, porque a f na cultura e na cincia no nos deram nenhuma proteo diante da desumanidade, aocontrrio, at encorajaram a barbrie[12]?

    Porque os grandes humanistas da Renascena, porque a tradio de convivncia tnica na PennsulaIbrica no conseguiu impedir o estabelecimento de um tribunal, que durante sculos funcionou na base daextorso e custa de vidas humanas?

    Nem os grandes filsofos, nem a msica, nem a arte, no puderam impedir a destruio de milhares dejudeus?

    A civilizao ocidental presenciou a falncia do homem. Ns no podemos imaginar do que o homemainda capaz. Spinoza explicou o dio aos judeus, mas no podia ter imaginado Auschwitz. Como dizSteiner, Bosh pintou o Apocalipse, mas no podia ter imaginado as cmaras de gs. A barbrie de que capazo homem ultrapassa o limite da imaginao.E qual a lio que aprendemos com a histria? O qu pretendemos com nossos cursos de histria? E qual amensagem que queremos passar s novas geraes?Vou responder com uma carta que um jovem escreveu ao seu professor:Caro Professor,

    Eu sou um sobrevivente de um campo de concentrao. Meus olhos viram o que nenhum ser humanodeve testemunhar.Cmaras de gs construdas por engenheiros brilhantes.Crianas envenenadas por mdicos graduados.Recm nascidos mortos por enfermeiras diplomadas.Mulheres e bebs assassinados e queimados por gente formada em Ginsio, Colgio e Universidade.Por isso, caro Professor eu duvido da educao.Eu lhe formulo um pedido:Ajude seus estudantes a se tornarem humanos, Seu esforo, caro professor, nunca deve produzir

    monstros cultos, eruditos, psicopatas e Eichmans educados. Ler, escrever e aritmtica so importantessomente se servirem para tornar nossas crianas mais humanas.

    [1] Edgard Morin, Mes dmons, Paris, Stock, 1994, pp. 151-152; Yirmiyahu Yovel, Spinoza and otherheretics, Princeton, Princeton University Press, 1988 (2 vols.); Richard Popkin, The Third Force inSeventeenth century, Leiden, Brill, 1992, pp. 149-171; Antnio Damsio,Em busca de Espinosa: prazer e dorna cincia dos sentimentos, So Paulo, Companhia das Letras, 2003 e Jean-Pierre Winter, Os Errantes daCarne, Estudos sobre a histeria masculina, Rio de Janeiro, Companhia de Freud, 2001.[2] Carlos Gebhard, Spinoza, Buenos Aires, Ed. Losada, 1940.[3] Baruch de Spinoza, Tratado teolgico-poltico (intr. e notas, D. P. Aurlio), Lisboa, Ed. Imprensa

    Nacional/ Casa da Moeda, 1988.

    http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftn11http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftn12http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref1http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref2http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref3http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftn11http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftn12http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref1http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref2http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref3
  • 8/14/2019 A Sobrevivncia Dos Judeus Na Viso de Baruch Spinoza - o Exemplo Da Paraba

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    [4] Yehuda Bauer, Anti-Semitism as European and World Problem in Patterns of Prejudice vol.27 n1,London, Institute of Jewish Affairs,1993, pp. 15-24.[5] Sobre a Paraba veja: Bruno Feitler,Inquisition, juifs et nouveaux-chrtiens au Brsil. Le Nordeste,

    XVIIe-XVIIIe sicles, Lovaina, Leuven University Press, 2003; Anita Novinsky,Inquisio-Prisioneiros doBrasil, Rio de Janeiro, ed. Expresso e Cultura, 2002 e Fernanda Meyer Lustosa, Razes Judaicas na Paraba(XVI-XVIII), tese de mestrado, manuscrito, Universidade de So Paulo, 2001.

    [6] Yirmiyahu Yovel, Spinoza and other heretics, op. cit.[7] Anita Novinsky, Cristos novos na Bahia, So Paulo, Perspectiva, 1992 (2 ed.), p. 131; veja no apndice3 a carta do governador da Bahia obrigando a populao a ir denunciar. Manuscrito original nos Arquivos

    Nacionais da Torre do Tombo (ANTT), Lisboa.[8] ANTT, Inquisio de Lisboa (IL), Cadernos do promotor n 57, pp. 277-281.[9] ANTT, IL, processo n 8479 (processo de Clara Henriques).[10] Nathan Wachtel,La foi du souvenir labyrinthes marranes, Paris, Seuil, 2001.[11] Antnio Jos Saraiva,Inquisio e Cristos-Novos, Lisboa, Estampa, 1985 (1a ed.1969); Benzion Netanyahu, The Marranos of Spain,New York, 1966 e id. The Origins ofthe Inquisition in Fifteenth Century Spain, New York, Random House, 1995.[12] George Steiner,Langage et Silence, Paris, Seuil, 1969 e id.,Barbarie de lIgnorance, Paris, Ed. delAube, 2000.

    http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref4http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref5http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref6http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref7http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref8http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref9http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref10http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref11http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref12http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref4http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref5http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref6http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref7http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref8http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref9http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref10http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref11http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/modules/fckeditor/fckeditor/editor/fckeditor.html?InstanceName=edit-field_publicao-0-value&Toolbar=Default#_ftnref12