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Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 Volume 4 Número 12 maio 2014 Edição Especial Homenageado F E R N A N D O T A R A L L O Web-Revista SOCIODIALETO: Bach., Linc., Mestrado Letras UEMS/Campo Grande, v. 4, nº 12, mai. 2014 134 A SÍNCOPE DAS PROPAROXÍTONAS NO ATLAS LINGUÍSTICO DA PARAÍBA: UM OLHAR VARIACIONISTA 1 Aluiza Alves de Araújo (UECE) 2 [email protected] Brenda Kathellen Melo de Almeida (UECE) 3 [email protected] RESUMO: Com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista, investigamos a síncope das proparoxítonas que consiste na perda de segmento fônico em sílabas átonas das palavras, como em relâmpago > relampo, útero > uto e estômago > estombo. O objetivo deste trabalho é analisar os fatores linguísticos (contexto fonológico precedente, contexto fonológico subsequente, extensão da palavra e classificação lexical) e sociais (sexo, escolaridade e localidade) que favorecem a realização do fenômeno em pauta. Conhecer os fatores que atuam sobre a síncope das palavras proparoxítonas é útil para a elaboração de políticas linguísticas a favor da não discriminação das variantes socialmente estigmatizadas que estão presentes na fala dos indivíduos, uma vez que o falante precisa ser respeitado frente aos seus falares que são patrimônio linguístico-cultural. O corpus desta pesquisa é constituído dos itens lexicais proparoxítonos extraídos do Atlas Linguístico da Paraíba (ALP). Os dados da pesquisa foram submetidos à análise estatística do programa computacional GoldVarb X. Foram selecionadas, como relevantes para a redução das palavras proparoxítonas, por ordem de relevância, as seguintes variáveis: o contexto fonético subsequente, o contexto fonético precedente e a classificação lexical. PALAVRAS-CHAVE: Síncope das proparoxítonas. Sociolinguística Variacionista. Atlas Linguístico da Paraíba. ABSTRACT: Based on the theoretical and methodological assumptions of Sociolinguistics Variationist, we investigate syncope in antepenultimate stressed words of which is to reduce the phonic body of words, as in relâmpago > relampo, útero > uto and estômago > estombo. The objective of this work is to analyze the linguistic factors (preceding phonological context following phonological context, word length and lexical classification) and social (gender, education and location) that favor the phenomenon in question. Knowing the factors that influence the syncope in antepenultimate stressed words is useful for the development of language policies in favor of non-discrimination against stigmatized variants that are present in the speech of individuals, since the speaker must be respected across its dialects that are the 1 Este trabalho é um resultado do projeto de pesquisa “A síncope das proparoxítonas nos atlas linguísticos estaduais do Brasil: uma abordagem variacionista”, desenvolvido na Universidade Estadual do Ceará (UECE), sob a coordenação da professora Aluiza Alves de Araújo. A aluna Brenda Kathellen Melo de Almeida participa deste projeto como bolsista de iniciação científica da Fundação Cearense de Apoio à Pesquisa - FUNCAP. 2 Professora da Graduação do Curso de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada (PosLA) da Universidade Estadual do Ceará (UECE). 3 Graduanda do Curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará e Bolsista de Iniciação Científica da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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A SÍNCOPE DAS PROPAROXÍTONAS NO ATLAS LINGUÍSTICO

DA PARAÍBA: UM OLHAR VARIACIONISTA1

Aluiza Alves de Araújo (UECE)2

[email protected]

Brenda Kathellen Melo de Almeida (UECE)3

[email protected]

RESUMO: Com base nos pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista,

investigamos a síncope das proparoxítonas que consiste na perda de segmento fônico em sílabas átonas

das palavras, como em relâmpago > relampo, útero > uto e estômago > estombo. O objetivo deste

trabalho é analisar os fatores linguísticos (contexto fonológico precedente, contexto fonológico

subsequente, extensão da palavra e classificação lexical) e sociais (sexo, escolaridade e localidade) que

favorecem a realização do fenômeno em pauta. Conhecer os fatores que atuam sobre a síncope das

palavras proparoxítonas é útil para a elaboração de políticas linguísticas a favor da não discriminação das

variantes socialmente estigmatizadas que estão presentes na fala dos indivíduos, uma vez que o falante

precisa ser respeitado frente aos seus falares que são patrimônio linguístico-cultural. O corpus desta

pesquisa é constituído dos itens lexicais proparoxítonos extraídos do Atlas Linguístico da Paraíba (ALP).

Os dados da pesquisa foram submetidos à análise estatística do programa computacional GoldVarb X.

Foram selecionadas, como relevantes para a redução das palavras proparoxítonas, por ordem de

relevância, as seguintes variáveis: o contexto fonético subsequente, o contexto fonético precedente e a

classificação lexical.

PALAVRAS-CHAVE: Síncope das proparoxítonas. Sociolinguística Variacionista. Atlas Linguístico da

Paraíba.

ABSTRACT: Based on the theoretical and methodological assumptions of Sociolinguistics Variationist,

we investigate syncope in antepenultimate stressed words of which is to reduce the phonic body of words,

as in relâmpago > relampo, útero > uto and estômago > estombo. The objective of this work is to analyze

the linguistic factors (preceding phonological context following phonological context, word length and

lexical classification) and social (gender, education and location) that favor the phenomenon in question.

Knowing the factors that influence the syncope in antepenultimate stressed words is useful for the

development of language policies in favor of non-discrimination against stigmatized variants that are

present in the speech of individuals, since the speaker must be respected across its dialects that are the

1 Este trabalho é um resultado do projeto de pesquisa “A síncope das proparoxítonas nos atlas linguísticos

estaduais do Brasil: uma abordagem variacionista”, desenvolvido na Universidade Estadual do Ceará

(UECE), sob a coordenação da professora Aluiza Alves de Araújo. A aluna Brenda Kathellen Melo de

Almeida participa deste projeto como bolsista de iniciação científica da Fundação Cearense de Apoio à

Pesquisa - FUNCAP. 2 Professora da Graduação do Curso de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada

(PosLA) da Universidade Estadual do Ceará (UECE). 3 Graduanda do Curso de Letras da Universidade Estadual do Ceará e Bolsista de Iniciação Científica da

Universidade Estadual do Ceará (UECE).

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heritage - language cultural. The corpus of this study consists of lexical items taken from the Linguistic

Atlas of Paraíba (ALP). Data were statistically analyzed by the computer program GoldVarb X.

Subsequent phonetic context, the preceding phonetic context and lexical classification: The following

variables were selected as relevant to the reduction of antepenultimate stressed words, in order of

relevance.

KEYWORDS: Syncope of antepenultimate stressed words; Variationist Sociolinguistics; Linguistics

Atlas of Paraíba.

Introdução

As palavras proparoxítonas são aquelas em que o acento recai sobre a

antepenúltima sílaba e constituem a menor classe de palavras da língua portuguesa. No

nosso idioma, predominam as palavras paroxítonas. Por serem tão escassas em língua

portuguesa, as proparoxítonas estão sujeitas a um fenômeno que ocorre desde o latim

vulgar: a síncope (AMARAL, 2000). Este processo consiste na redução do corpo fônico

das palavras, originando formas, como bêbado > bebo, útero > utu, estômago >

estombo, cérebro > cebru, que podem ser encontradas no nosso corpus.

Compreender as razões pelas quais a síncope ocorre é útil para a elaboração de

políticas linguísticas a favor da não discriminação das variantes estigmatizadas que

estão presentes na fala dos indivíduos, uma vez que o falante precisa ser respeitado

frente aos seus falares que são patrimônio linguístico-cultural. Estudá-la é importante

também para que tenhamos uma fotografia sociolinguística desse fenômeno linguístico,

que vem a ser um dos mais produtivos na língua portuguesa, para que possamos

acompanhar os processos lingüísticos e/ou sociais que com o decorrer do tempo podem

gerar mudanças lexicais na língua.

O objetivo deste estudo é analisar os fatores linguísticos (contexto fonético

precedente, contexto fonético subsequente, classificação lexical, item lexical e extensão

da palavra) e extralinguísticos (gênero, escolaridade e localidade) que favorecem a

realização da síncope, à luz da Sociolinguística Variacionista, defendida por Weinreich,

Labov e Herzog (2006) e Labov (2008 e 1994). Tal proposta teórica tem por objetivo

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analisar e sistematizar a variação existente na fala de uma comunidade linguística

(LABOV, 1972).

A síncope das proparoxítonas no português brasileiro: estudos variacionistas

Apresentamos, a seguir, alguns dos mais recentes trabalhos que têm a síncope

das proparoxítonas como objeto de estudo, sendo que todos foram realizados sob o

prisma da Sociolinguística Variacionista.

Lima (2008) estudou o apagamento da postônica medial em palavras

proparoxítonas, nas localidades de Rio Verde e Santa Helena, ambas situadas na Região

Sudoeste de Goiás. Foram selecionados para compor o corpus da pesquisa 18

informantes de Rio Verde e 18 de Santa Helena, num total de 36 informantes,

distribuídos entre as três faixas etárias de 15 a 25 anos, 26 a 49 anos e de 50 anos em

diante. Os informantes possuíam escolaridade variando entre os seguintes grupos: de 0 a

4 anos, 5 a 11 anos e de 12 anos em diante. Os resultados revelaram que: a) no grupo

contexto fonológico seguinte, o fator de maior destaque, para a síncope, foi a vibrante

(0,745) e, no contexto precedente, a consoante velar (0,766); b) no grupo traço de

articulação da vogal, as labiais (0,595) foram as que mais contribuíram com a regra; c)

em relação ao grupo peso da silaba tônica, as sílabas pesadas (0,558) favorecem o

fenômeno; d) os informantes com escolaridade entre 0 a 4 anos (0,776) são aliados da

síncope; e) os informantes residentes em Santa Helena (0,533) tendem a favorecer a

regra; e f) o fator sexo evidenciou que os homens (0,534) favorecem mais o fenômeno

do que as mulheres.

França (2009) examinou a redução das proparoxítonas, partindo de uma amostra

constituída por 36 informantes das áreas urbanas e rurais de Jaru, em Rondônia. O autor

verificou que o fator mais relevante para a realização da síncope foi a faixa etária,

seguido do tipo de entrevista e da escolaridade. Os resultados obtidos indicam que os

informantes com mais idade, acima de 40 anos (0,55), se destacam na aplicação da

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regra, diferentemente dos mais jovens, abaixo de 40 anos (0,45). Com relação ao tipo de

entrevista, o autor assevera que “tanto o peso relativo da entrevista dirigida (0,48)

quanto o da entrevista livre (0,50) não favorecem nem inibem muito o processo de

apagamento da vogal postônica não-final, pois se aproximam do ponto neutro”

(FRANÇA, 2009, p. 175). Quanto ao fator escolaridade, os informantes menos

escolarizados (de 0 a 5 anos de estudo) foram os únicos aliados da regra (0,80), ao

contrário dos mais escolarizados (de 5 a 11 anos de estudo) (0,20), comprovando a

hipótese de que os menos escolarizados favorecem mais as formas não-padrão.

Chaves (2011) estudou a síncope em 112 entrevistas provenientes do banco de

dados do Projeto Variação Linguística da Região Sul do Brasil – VARSUL, que é um

Banco de dados sociolinguístico que abrange os três estados da Região Sul do Brasil e

foi idealizado pela professora Leda Bisol na década de 1980. O critério de seleção dos

informantes foi baseado nos seguintes aspectos: serem falantes de português; terem

morado por pelo menos 2/3 de suas vidas na cidade de coleta dos dados; serem filhos de

pais naturais do município e que não tenham se ausentado da região por mais de 1/3 de

suas vidas. Os informantes possuem baixa escolaridade (até a 4ª série) e pertencem aos

três estados da região sul do Brasil, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. O

corpus é estratificado em função das seguintes variáveis sociais: sexo (homens e

mulheres) e faixa etária (de 23 a 43, de 44 a 59 e de 60 anos em diante). Os grupos de

fatores selecionados como os mais relevantes foram: contexto fonológico seguinte,

líquida lateral (0,920) e líquida vibrante (0,958); contexto fonológico precedente, velar

(0,709) e labial (0,685); extensão da palavra, palavras com mais de três sílabas (0,773);

classe gramatical, substantivo (0,604); e traço de articulação da vogal, dorsal (0,676) e

labial (0,636). Nenhum fator social foi selecionado como relevante para a aplicação da

síncope, porém as mulheres com mais de 60 anos são as que mais aplicam a regra.

Araújo (2012) investigou a síncope das proparoxítonas nos dados das capitais

brasileiras do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), com base em uma amostra

constituída por duzentos informantes. De cada cidade, foram extraídos oito informantes,

que é o número máximo de entrevistados por capital no ALiB. Nesta investigação, são

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controladas as seguintes variáveis: faixa etária (18 a 30 anos e 45 a 65 anos),

escolaridade (até a 8ª série e ensino superior), sexo (homens e mulheres) e localidade

(Manaus, Belém, Macapá, Boa Vista, Porto Velho, Rio Branco, Salvador, Aracaju,

Maceió, Recife, João Pessoa, Teresina, São Luís, Natal, Fortaleza, Cuiabá, Campo

Grande, Goiânia, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Vitória, Curitiba,

Florianópolis e Porto Alegre). O fator que mais influenciou o processo da síncope foi a

escolaridade, pois os informantes que estudaram até a 8ª série (0, 71) favoreceram a

regra, diferentemente daqueles com nível superior (0,28). Em seguida, veio a faixa

etária que apontou o grupo dos idosos como os maiores favorecedores das formas

sincopadas (0,60), enquanto que os mais jovens se mostraram inibidores (0,38). Outro

fator também relevante foi a localidade, revelando, como aliadas do fenômeno, as

seguintes cidades: Florianópolis (0,77), Boa Vista (0,76), Teresina (0,70), Porto Alegre

(0,64), Cuiabá (0,64), Vitória (0,64), Aracaju (0,61), Goiânia (0,58), Rio Branco (0,57),

Maceió (0,56) e Campo Grande (0,52). Sobre a seleção destas cidades, Araújo (2012,

p.16) explica que “as capitais aliadas do apagamento apresentem tal comportamento por

possuírem traços de ruralidade, já que a síncope ocorre mais fortemente em áreas

rurais.”

Santana (2012) estudou o fenômeno da síncope em proparoxítonas no falar

maranhense, com dados extraídos do banco de dados do projeto ALiMA (Atlas

Linguístico do Maranhão). Para tanto, foram selecionados 44 indivíduos, entre homens

e mulheres, provenientes de 10 municípios do Maranhão (São Luís, Pinheiro, Turiaçu,

Imperatriz, Brejo, São João dos Patos, Bacabal, Tuntum, Balsas e Alto Parnaíba), com

escolaridade até a 4ª série e apenas quatro informantes de São Luiz com nível superior

completo, a fim de comparar os resultados desses com os resultados dos informantes de

baixa escolaridade. Foram selecionadas as seguintes variáveis como favorecedoras da

variante sincopada: traço de articulação da vogal, com as labiais (0,624) em destaque;

contexto fonológico precedente, com destaque para as alveolares (0,703); contexto

fonológico seguinte, com a líquida vibrante (0,650) se sobressaindo entre as demais. O

grupo escolaridade apresentou nocaute e, por isso, não pode ser analisado

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estatisticamente. Entretanto, viu-se que os informantes com escolaridade de nível

superior completo não sincopavam as palavras, daí o nocaute.

Metodologia

No ano de 1954, durante o II Colóquio de Estudos Luso-Brasileiros, Serafim da

Silva Neto enfatizava a urgência de um estudo sobre os falares brasileiros com a ideia

de elaboração do Atlas Linguístico do Brasil. Entretanto, a palestra do professor Silva

Neto não surtiu os efeitos desejados. Anos mais tarde, em 1957, durante o III Colóquio

Internacional de Estudos Luso-Brasileiros, Silva Neto, juntamente com o professor

Celso Ferreira da Cunha, apresentava a sugestão de um Atlas Linguístico-Etnográfico

do Brasil, doravante ALiB. Nessa altura, portanto, já estava descartado o projeto de um

atlas nacional, por conta das dificuldades dessa tarefa, como o alto custo e a escassez de

mão-de-obra. O ideal, então, seria que o projeto fosse realizado regionalmente e por

etapas. (ARAGÃO; MENEZES, 1984)

A falta de uma comissão nacional com o objetivo de elaborar as bases do futuro

ALiB, por regiões, fez com que os dialetólogos abrissem caminho pela iniciativa

própria, isto é, os pesquisadores elaboraram seus projetos sem o apoio das entidades

governamentais. Foi nesse contexto, então, que teve início o projeto do Atlas

Linguístico da Paraíba (doravante ALP), organizado por Maria do Socorro Silva Aragão

e Cleusa Palmeira Bezerra de Menezes. A publicação do ALP ocorreu em 1980.

O ALP engloba dados da fala de 25 municípios base do estado da Paraíba,

contando com mais três municípios satélites para cada base, totalizando 100 municípios,

cobrindo todo o estado. Os municípios satélites serviram para controle e convalidação

dos dados obtidos e, portanto, não aparecem nas cartas.

No ALP, foram entrevistados, no mínimo, três e, no máximo, dez informantes de

cada município. Esses informantes possuíam entre 30 e 75 anos. O nível de instrução

variava entre analfabeto e primário completo. Eram selecionados apenas informantes

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que não tivessem se ausentado da localidade por mais de um ano e que fossem filhos de

pais nascidos na região, possuíssem boas condições de saúde e fonação. Foram

selecionados informantes de ambos os sexos e profissões variadas.

O questionário do ALP é dividido em duas partes: uma geral, com 289 questões

e uma específica, com 588 questões. A parte geral compreende os seguintes campos

semânticos: a terra, o homem, a família, habitação e utensílios domésticos, aves e

animais, plantação e atividades sociais. A parte específica aborda os principais produtos

agrícolas da Paraíba: mandioca, cana-de-açúcar, agave, algodão, e abacaxi. A pesquisa

foi direta, in loco, utilizando-se conversação dirigida através do questionário.

Consultando o questionário do ALP, encontramos os seguintes itens

proparoxítonos: árvore, bêbado, cérebro, córrego, espírito, estômago, fígado, rótula, e

útero. Com a identificação das palavras proparoxítonas, fizemos um levantamento de

todas as cartas fonéticas do ALP que continham tais itens. Em seguida, coletamos todas

as transcrições fonéticas das cartas selecionadas, de maneira que fossem identificadas as

seguintes informações de cada ocorrência: Atlas de origem, número da carta, ponto,

perfil do informante (sexo, escolaridade e área geográfica).

Neste estudo, tomamos como variável dependente a realização das

proparoxítonas. Assim, foram analisadas as seguintes variantes: a forma proparoxítona,

como em útero (carta 58), e a síncope, isto é a perda de um ou mais fonemas, como em

úto/útro (carta 58). Com base na revisão da literatura e considerando o perfil dos

informantes do ALP, controlamos oito variáveis independentes. Destas, cinco são

fatores estruturais: o contexto fonológico precedente, o contexto fonológico

subsequente, a classificação lexical, a extensão da palavra e o item lexical, e três são

fatores extralinguísticos, a saber: o sexo, a escolaridade e a área geográfica.

Apresentamos as variáveis selecionadas e ilustramos cada um de seus fatores com

realizações encontradas na nossa amostra.

a) Contexto fonológico precedente

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Como as líquidas e nasais têm menor força consonantal e maior sonoridade,

acredita-se que esses segmentos favoreçam mais à redução do que qualquer outro. Por

isso, em nossa amostra, fizemos o controle dos seguintes contextos:

-avri (árvore) carta 131;

-bebu (bêbado) carta 88;

-rotu (rótula) carta 67;

-uhtu (útero) carta 58;

-ispiwtu (espírito) carta 140;

-istambu (estômago) carta 60;

-figadu (fígado) carta 63;

-selebru (cérebro) carta 45;

-sewbu (cérebro) carta 45;

-figu (fígado) carta 63.

b) Contexto fonológico subsequente

Defende-se que as líquidas r e l, por possuírem menor força consonantal e maior

sonoridade, favorecem a síncope. Assim, verificamos se este processo é influenciado

pelo fonema da sílaba final. Os subfatores analisados são:

- sebu (cérebro) carta 45;

-figadu (fígado) carta 63;

-istombo (estômago) carta 60;

-figu (fígado) carta 63;

-rotula (rótula) carta 67;

-avi (árvore) carta 131;

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-utu (útero) carta 58;

-ahvi (árvore) carta 131;

-aris (árvore) carta 131;

-istomu (estômago) carta 60;

-hota (rótula) carta 67.

c) Classificação lexical

Hipotetizamos que os termos usuais favoreçam a síncope, ao contrário dos

termos poucos usuais. Daí a motivação para avaliarmos o papel de cada fator abaixo:

- termo usual: árvore (carta 131);

- termo pouco usual: rótula (carta 67).

d) Extensão da palavra

As palavras com mais de três sílabas favorecem a redução das proparoxítonas,

ao contrário das que apresentam apenas três sílabas. Para testar esta hipótese,

controlamos os fatores abaixo:

- três sílabas: útero (carta 58);

- mais de três sílabas: estômago (carta 60).

e) Item Lexical

Controlamos a variável item lexical, como o propósito de descobrir quais itens

favorecem o fenômeno analisado. Assim, cada um dos itens encontrados nas cartas

fonéticas do ALP constituem um fator, como é apresentado abaixo:

- árvore (carta 131);

- bêbado (carta 88);

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- cérebro (carta 45);

- córrego (carta 02);

- espírito (carta 140);

- estômago (carta 60);

- fígado (carta 63);

- rótula (carta 67);

- útero (carta 58).

f) Gênero

Com base na literatura da área, as mulheres utilizam mais as formas prestigiadas

da língua. Por essa razão, acredita-se que elas evitem a síncope, ao contrário dos

homens. Daí a necessidade de controlarmos os dois gêneros:

- masculino;

- feminino.

g) Escolaridade

A revisão da literatura mostra que os indivíduos sem escolaridade aplicam

menos as formas prestigiadas pela escola, diferentemente daqueles que possuem alguma

escolaridade. Daí, surgiu o interesse em controlarmos os fatores:

- nenhum ano de escolaridade formal;

- até o 4º ano do ensino básico.

h) Área geográfica

Na literatura sociolinguística, sabe-se que a região geográfica onde vive o

falante é muito importante na realização de um fenômeno linguístico, por isso surgiu a

motivação para averiguarmos, na realização da síncope, o efeito de cada uma das 25

localidades onde foi aplicado o questionário do ALP: João Pessoa, Mamanguape,

Belém, Guarabira, Itabaiana, Esperança, Campina Grande, Umbuzeiro, Barra da Santa

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Rosa, Picuí, Soledade, Cabaceiras, Taperoá, Serra Branca, Congo, Monteiro, Patos,

Catingueira, Catolé do Rocha, Pombal, Princesa Isabel, Sousa, Itaporanga, Cajazeiras e

Conceição.

Depois de elencarmos as variáveis, codificamos os subfatores pertencentes aos

grupos de fatores. Cada fator de cada um dos grupos de fatores, foi identificado por um

símbolo existente no teclado do computador. Esses símbolos foram utilizados na

codificação das ocorrências do fenômeno em análise. Para explicarmos o processo de

codificação, tomou-se o item cérebro , que foi codificado do seguinte

modo:1rb+3FAq. Esta cadeia de codificação é lida da seguinte forma: 1corresponde à

variante preservada (variável dependente); r corresponde ao contexto fonológico

precedente, a vibrante; b corresponde ao contexto fonológico subsequente, a bilabial; +

corresponde à classificação lexical, termo usual; 3 corresponde à extensão da palavra,

até três (03) sílabas; F corresponde ao gênero do informante, feminino; A corresponde à

escolaridade do informante, com passagem pela escola; q corresponde à área geográfica

do informante, Mamanguape, Paraíba. Nesta sequência, o mesmo processo foi repetido

com todas as outras ocorrências de proparoxítonas.

Após a codificação, submetemos os dados digitados à análise estatística, com o

auxílio do programa computacional GoldVarb X que é um conjunto de programas

computacionais desenvolvido para analisar dados de variação sociolinguística (GUY;

ZILLES, 2007).

Na análise estatística, promovida pelo GoldVarb X, valores acima de 0,5

favorecem a aplicação da regra, enquanto valores abaixo disso inibem sua ocorrência. Já

resultados iguais a 0.5 são neutros, ou seja, não favorecem e nem inibem o fenômeno.

Algumas variáveis apresentaram nocaute na primeira análise em alguns de seus

subfatores. O nocaute ocorre quando um fator, num dado momento da análise,

corresponde a uma frequência de 0 (zero) ou 100% para um dos valores da variável

dependente. Isso significa que, nas circunstâncias descritas, a regra é categórica e,

portanto, não há variação. Quando ocorre a presença de um nocaute, excluímos o fator

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ou o grupo de fatores que apresentou o nocaute e fazer uma segunda rodada de análise

com o GoldVarb X. Nesta pesquisa excluímos os fatores nocauteados, mas mantemos a

cadeia de codificação devido a escassez de dados.

Resultados e análise dos dados

Na primeira rodada, o GoldVarb X revelou que foram obtidos 166 (75,8%)

ocorrências da forma sincopada frente a 53 (24,2%) realizações da variante

proparoxítona, totalizando, assim, 219 ocorrências. Dessa forma, os números indicam

que a frequência de uso da regra é altíssima nos dados do ALP.

Ainda na primeira análise, observamos a ocorrência de nocautes que serão

detalhados a seguir: no grupo contexto fonético precedente, surgiram 04 nocautes,

diante dos contextos: respectivamente:

; no grupo contexto fonético subsequente,

foram registrados 6 nocautes nos contextos:

erespectivamente:

e; no grupo item lexical, ocorreu 01 nocaute com o item (fígado); e

no grupo localidade, foram encontrados 09 nocautes diante dos subfatores Guarabira,

Itabaiana, Catingueira, Umbuzeiro, Cabaceiras, Taperoá, Monteiro, Princesa Isabel e

Conceição. Todas as cidades mencionadas tiveram 100% de aplicação da síncope e,

para cada uma delas, tivemos a ocorrência das seguintes formas, respectivamente:

e

Os fatores com nocaute foram retirados da análise, já que o GoldVarb X só

efetua o cálculo dos pesos relativos, bem como faz a seleção dos fatores relevantes, se a

regra for variável. Por isso, fizemos a exclusão dos nocautes na segunda análise, mas a

cadeia de codificação, em virtude da escassez de ocorrências em nosso corpus, foi

mantida para os outros fatores na segunda rodada.

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Após a exclusão dos fatores supracitados na segunda análise, prosseguimos com

a rodada e o programa GoldVarb X selecionou, no step up 23 (input 0,980, significância

0,007), como aliados na aplicação da síncope, por ordem de relevância, os seguintes

grupos de fatores: o contexto fonético subsequente, o contexto fonético precedente e a

classificação lexical. A seguir, descreveremos os resultados obtidos para cada uma

destas variáveis.

a) Contexto fonético subsequente

A tabela 1 mostra que a bilabial [(0.985) e a alveolar [(0,973) são os únicos

contextos subsequentes que favorecem a síncope, diferentemente da velar (0,019),

da vibrante (0,012) e da lateral (0,200) que inibem a ocorrência do fenômeno. No

contexto da lateral, tivemos apenas 05 ocorrências e, dentre estas, apenas 01 aplicou a

síncope, a forma (cérebro).

Tabela 1 – Atuação da variável contexto fonético subsequente sobre a síncope

Fatores Aplica/Total % Peso Relativo

49/54 90,7 0,985

36/43 83,7 0,012

1/5 20,0 0,200

32/38 84,2 0,973

28/42 66,7 0,019

Os resultados obtidos contrariam nossas hipóteses anteriores de que as líquidas

e , por possuírem menor força consonantal e maior sonoridade, favoreciam a

síncope.

b) Contexto fonético precedente

De acordo com os resultados da tabela 2, os únicos contextos precedentes que

favorecem a realização da síncope são a labiodental (0,997) e a alveolar (0,800).

A vibrante(0,001), a bilabial (0,005), a aspirada (0,114) e a fricativa vozeada

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(0,234) desfavorecem o fenômeno. Dentre as 07 ocorrências de no contexto

precedente, 04, todas com a forma (cérebro), não sofreram síncope. Com a

aspirada a forma que não sofreu redução foi Diante de o único item

que não sofreu síncope foi Taisresultados contradizem a nossa hipótese de

que as líquidas e nasais influenciariam a redução do gerúndio.

Tabela 2 – Atuação da variável contexto fonético precedente sobre a síncope

Fatores Aplica/Total % Peso Relativo

3/7 42,9 0,001

21/29 72,4 0,005

66/85 77,6 0,800

11/13 84,6 0,114

25/26 96,2 0,997

10/13 76,9 0,234

28/34 82,4 0,286

O contexto fonológico precedente tem influência no processo de síncope, pois,

após a queda da vogal, o fonema que sobra (quando consoante) forma uma nova sílaba

com o fonema da sílaba seguinte, como podemos exemplificar com árvore

>espírito >e útero

Com o intuito de sabermos qual a relação entre os grupos de fatores contexto

fonético precedente e contexto fonético subsequente, fizemos a interação entre os dois

grupos. A tabela 3 mostra os resultados desta interação.

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Tabela 3 – Interação entre o contexto fonético precedente e do contexto subsequente

Contexto fonético subsequente

Contexto fonético

precedente Total

geral %

Síncope

Manutenção

Total

0

4

4

14

0

14

34

0

34

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

48

4

52

92

8

Síncope

Manutenção

Total

0

0

0

5

0

5

23

4

27

0

0

0

0

0

0

8

3

11

0

0

0

36

7

43

84

16

Síncope

Manutenção

Total

0

0

0

1

0

1

0

4

4

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

0

1

4

5

20

80

Síncope

Manutenção

Total

1

0

1

0

0

0

0

0

0

3

0

3

0

0

0

0

0

0

28

6

34

32

6

38

84

16

Síncope

Manutenção

Total

1

0

1

0

0

0

0

11

11

1

2

3

25

1

26

0

0

0

0

0

0

27

14

31

66

34

Síncope

Manutenção

Total

Total geral 2

4

6

20

0

20

59

19

76

4

2

6

25

1

26

8

3

11

28

6

34

144

35

179

Na tabela 3, observamos que, quando o contexto subsequente é o e o contexto

precedente é a oclusiva , temos 23 casos de síncope contra 04 manutenções. Isso se

deve à presença do item lexical útero, que apresenta os dois contextos. No caso de o

ambiente precedente ser e o subsequente ser temos 25 ocorrências de síncope e

apenas uma manutenção, referente ao item lexical fígado. E, quando há, no contexto

precedente e, no subsequente, ocorreram 8 realizações de síncope contra 3

manutenções, que dizem respeito ao item lexical árvore.

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É preciso ter bastante cautela ao analisarmos o efeito destes dois contextos sobre

a síncope, porque nossa amostra, embora seja constituída por todos os itens lexicais

proparoxítonos encontrados no ALP, é composta apenas por nove palavras. Assim, pode

estar acontecendo uma interferência de natureza lexical sobre os contextos fonéticos

examinados. Isso explicaria o fato de, neste estudo, os segmentos favorecedores da

síncope serem diferentes dos de outros estudos.

c) Classificação lexical

De acordo com a tabela 4, os itens muito usuais favorecem a redução das

proparoxítonas (0,795), ao contrário dos pouco usuais (0,004). Nesta pesquisa, os itens

considerados pouco usuais foram: rótula e útero. Já os mais usuais, foram: árvore,

bêbado, cérebro, espírito, estômago e fígado.

A classificação lexical da palavra interfere na sua realização, pois palavras que o

informante tem pouca familiaridade tendem a manter sua forma original, enquanto as

que já são conhecidas e bastante usadas tendem a se desgastar, tornando-se mais

propensas à síncope, como bêbado >e estômago >ao contrário de

itens lexicais, tais como rótula que não é muito frequente na fala das pessoas.

Tabela 4 – Atuação da variável classificação lexical sobre a síncope

Fatores Aplica/Total % Peso Relativo

Muito usual

(árvore)

136/181 75,1 0,795

Pouco usual

(rótula)

30/38 79,1 0,004

Nossa hipótese preliminar era a de que as palavras mais usuais estariam mais

propensas ao fenômeno e isto foi confirmado em nossos resultados, posto que os itens

mais usuais favorecem a redução das proparoxítonas, enquanto os itens pouco usuais se

mostraram inibidores. A explicação para este resultado deve-se ao fato de que os

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falantes tendem a conservar a forma das palavras menos usuais por conta da pouca

familiaridade com estas. Já os itens mais usuais sofrem desgaste, fazendo com que as

formas sincopadas se tornem tão comuns a ponto de muitas pessoas estranharem ouvir

as variantes cócegas (e não cósca), fígado (e não figo), árvore (e não ave), porque a

frequência de uso da síncope é muito alta, como comprova este trabalho.

Os trabalhos de Lima (2008), França (2009), Chaves (2011), Araújo (2012) e

Santana (2012) não testaram a variável “classificação lexical”, portanto não é possível

estabelecermos uma comparação entre os nossos resultados e os destes estudos quanto a

este grupo de fatores.

Considerações Finais

Nesta pesquisa, constatou-se que a síncope das proparoxítonas tem altíssima

possibilidade de ocorrer nos dados do ALP (75,8% e input 0,980) e três grupos de

fatores favorecem o fenômeno, a saber: o contexto fonético subsequente (a bilabial e

a alveolar ), o contexto fonético precedente (alabiodental e a alveolar ) e a

classificação lexical (os itens lexicais mais usuais). Acredita-se que haja interferência

lexical em ambos os contextos fonéticos selecionados pelo programa, por isso seus

resultados devem ser vistos com restrição. Em nossa pesquisa, o fenômeno mostrou-se

motivado exclusivamente por fatores linguísticos, pois nenhum fator social foi

selecionado.

A importância de compreender os processos que influenciam o uso de formas

não-padrão, neste caso, palavras sincopadas, deve-se à necessidade de conhecermos a

realidade linguística dos falantes da nossa língua. As gramáticas e manuais não

abordam, em geral, de maneira adequada os fenômenos que corriqueiramente ocorrem

na língua em contexto real de uso. Isso impossibilita seus usuários adquirir consciência

de que tais fenômenos são mais comuns do que se imagina e que a ocorrência destes

processos possui justificativa prevista no sistema da língua. O que acontece é que as

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gramáticas têm necessidade prioritária de mostrar a norma padrão e dão pouco espaço

para as demais variedades, levando o falante a estigmatizar as formas que se afastam da

norma padrão e, mais grave ainda, a estigmatizar o próprio falante. Então, defendemos

aqui que o aluno deve aprenderas formas de prestígio, sem extirpar, de sua fala, as

formas que ele já traz para a escola, muitas vezes, consideradas erradas e feias, mas que

são produzidas no seio de sua família.

Referências

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Recebido Para Publicação em 31 de janeiro de 2014.

Aprovado Para Publicação em 28 de março de 2014.