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A "SEROCICLINA" NA LEPRA OBSERVAÇÃO EM 32 CASOS DILTOR V. A. OPROMOLLA* R. QUAGLIATO** 1) O advento das sulfonas determinou, sem dúvida, tal avanço em leprologia, que se tornou lugar comum dividir-se o estudo dessa matéria nos períodos "pré-sulfônico", lúgubre cortejo de desânimo e frustrações, e "sulfônico", com seu quadro de risonhas esperanças. Se bem estejamos muito distanciados da "era chaulmúgrica", com os lepromatosos inexorávelmentc condenados à confinacão perpétua, a terapêutica sulfônica, todavia, apresenta ainda ângulos bastante desfavoráveis. Assim teríamos em primeiro lugar sua ação tremendamente lenta, só medida em anos, e a necessidade de sua manutenção indefinida nos lepromatosos, fatos que por si sós invalidariam a prática de qualquer medicação. Isso sem considerarmos outros aspectos não menos importantes, tais como a questão da "sulfo-resistência" e a sua inoperência com referência à prevenção do acometimento nervosa. Dai não ser de se estranhar o ensaio na lepra, de novas drogas, principalmente daquelas utilizadas com êxito na tuberculose, dadas naturalmente as afinidades entre os bacilos de Koch e o de Hansen. Recomendada particularmente para o tratamento da tuberculose pulmonar, foi preparada pelo Lab. Lilly a Serociclina com INH, que é uma associação de cicloserina (nome genérico do antibiótico) com a hidrazida do ácido nicotinico. Na lepra experimentaram-se separadamente a cicloserina 1 a 11 e a hidrazida 12 a 25 e assim julgou-se de interêsse tentar-se o emprêgo da associação de ambos os medicamentos para a avaliação da possível ação sinérgica. Com a droga fornecida pelo então Diretor do D.P.L., Dr. Luis Baptista, o trabalho teve início em 1959 e foi realizado principalmente no Sanatório "Aimorés" (Bauru), graças à cooperação integral do Dr. Mario Pernambuco, D.D. Diretor daquele leprocômio, bem como do Dr. Oswaldo Cruz, que colaborou na parte clínica, e dos demais médicos do hospital. Como membros da Comissão de Terapêutica instituída na ocasião pela Diretoria do D.P.L. participaram ativamente do planejamento, seleção dos casos, bem como nas primeiras revisões, os Drs. Antônio Carlos Ribeiro Marques e Heitor de Camargo Barros, leprologistas dos Sanatórios "Padre Bento" e "Pirapitingui'', com grande tirocínio no campo experimental e cuja orientação nos foi de grande valia. * Leprologista do Sanatório "Aimorés" (Bauru, SP). ** Médico Chefe do Dispensário de Campinas (SP).

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A "SEROCICLINA" NA LEPRA

OBSERVAÇÃO EM 32 CASOS

DILTOR V. A. OPROMOLLA*R. QUAGLIATO**

1) O advento das sulfonas determinou, sem dúvida, tal avanço em leprologia, que setornou lugar comum dividir-se o estudo dessa matéria nos períodos "pré-sulfônico",lúgubre cortejo de desânimo e frustrações, e "sulfônico", com seu quadro de risonhasesperanças.

Se bem estejamos muito distanciados da "era chaulmúgrica", com os lepromatososinexorávelmentc condenados à confinacão perpétua, a terapêutica sulfônica, todavia,apresenta ainda ângulos bastante desfavoráveis.

Assim teríamos em primeiro lugar sua ação tremendamente lenta, só medida emanos, e a necessidade de sua manutenção indefinida nos lepromatosos, fatos que por si sósinvalidariam a prática de qualquer medicação. Isso sem considerarmos outros aspectosnão menos importantes, tais como a questão da "sulfo-resistência" e a sua inoperênciacom referência à prevenção do acometimento nervosa.

Dai não ser de se estranhar o ensaio na lepra, de novas drogas, principalmentedaquelas utilizadas com êxito na tuberculose, dadas naturalmente as afinidades entre osbacilos de Koch e o de Hansen.

Recomendada particularmente para o tratamento da tuberculose pulmonar, foipreparada pelo Lab. Lilly a Serociclina com INH, que é uma associação de cicloserina(nome genérico do antibiótico) com a hidrazida do ácido nicotinico.

Na lepra experimentaram-se separadamente a cicloserina1 a 11 e a hidrazida12 a 25 eassim julgou-se de interêsse tentar-se o emprêgo da associação de ambos osmedicamentos para a avaliação da possível ação sinérgica.

Com a droga fornecida pelo então Diretor do D.P.L., Dr. Luis Baptista, o trabalhoteve início em 1959 e foi realizado principalmente no Sanatório "Aimorés" (Bauru),graças à cooperação integral do Dr. Mario Pernambuco, D.D. Diretor daquele leprocômio,bem como do Dr. Oswaldo Cruz, que colaborou na parte clínica, e dos demais médicos dohospital.

Como membros da Comissão de Terapêutica instituída na ocasião pela Diretoria doD.P.L. participaram ativamente do planejamento, seleção dos casos, bem como nasprimeiras revisões, os Drs. Antônio Carlos Ribeiro Marques e Heitor de Camargo Barros,leprologistas dos Sanatórios "Padre Bento" e "Pirapitingui'', com grande tirocínio nocampo experimental e cuja orientação nos foi de grande valia.

* Leprologista do Sanatório "Aimorés" (Bauru, SP).** Médico Chefe do Dispensário de Campinas (SP).

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2) Química — A Serociclina simples (cicloserina) é um antibiótico produzido peloStreptomyces orchidaceus, apresentando-se como um pó branco, solúvel na água, componto de fusão a 1550°C e pêso molecular igual a 102, sendo a seguinte sua fórmulaestrutural

A isoniazida é um pé branco, cristalino, hidrossolúvel, produzida sintéticamente, coma seguinte fórmula geral C6H7N30 e estrutural:

3) Posologia e apresentação — Para a tuberculose recomenda-se uma dose de 500mg ao dia, isto é, uma cápsula (250 mg de cicloserina e 150 mg INH), cada 12 horas, paraum adulto.

4) Complicações — Os estudos preliminares referentes à tuberculose chamam aatenção para o fato de uma dose de 1 g diária de Serociclina poder determinar, comrelativa freqüência, sonolência, tontura, dermatite, hiperreflexia, confusão mental ouconvulsões.

5) Material de estudo e técnica — Nosso estudo teve início a partir de fevereiro de1959 com a seleção dos pacientes que vieram a constituir a turma de terapêuticaexperimental do Sanatório "Aimorés", sob a responsabilidade de um de nós (Opromolla).

Posteriormente foram agregados os casos do Dispensário de Campinas.

A orientação primordial para a escolha do material, seria no sentido do emprêgo danova medicação, nos casos de "sulfono-resistência", mas apresentando-se a oportunidade,procuramos também selecionar alguns pacientes lepromatosos, recém-internados evirgens de qualquer medicação para a apreciação dos resultados nesses individuos.

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Feito o levantamento de todos os internados, foram separados os doentes paraconstituir a "turma da Serociclina" e assim divididos :

1.°) Pacientes "sulfono-resistentes", ou melhor, já com mais de 1 ano de sulfonaanterior;

2.°) Lepromatosos recém-internados, ou com mínima quantidade de sulfona.

Exames preliminares — Exame dermatológico, biopsia, bacterioscopia, contagem dehemácias e dosagem de hemoglobina, levantamento detalhado da observação pregressaquando se tratava de pacientes já tratados com sulfona.

Dosagem — 1 cápsula diária na 1ª semana, 2 na 2 semana e 3 cápsulas por dia a partirda 3ª semana. Seria tentada a dose de 4 cápsulas.

O esquema (1 cápsula por dia na 1ª semana, 2 na 2ª e 3 da 3ª em diante) deveria serseguido durante 1 ano, sem períodos de repouso.

A turma do Sanatório está constituída por 26 doentes, estando 2 dêles já em uso daterapêutica, desde 1958, antes do trabalho planejado. A partir de agôsto de 1959, foramacrescentados os casos do Dispensário de Campinas.

Os exames andtomo-patológicos foram praticados no Instituto "Conde Lara", pelosDrs. H. Cerruti, P. Rath de Souza, Homem de Mello e Michalany.

A documentação fotográfica dos casos mais interessantes foi conseguida graças àgentileza do Dr. Paulo Amarante de Araujo, abalizado cirurgião-dentista em Bauru.

CASUÍSTICA

O grupo A foi constituido por 14 pacientes, quase na totalidade com muitos anos desulfonoterapia anterior; apenas um deles fizera uso dessa terapêutica no prazo limitado de18 meses.

O grupo B apresentava 18 doentes praticamente virgens de qualquer tratamento,incluindo todavia alguns poucos casos que haviam tomado uma quantidade mínima desulfona.

Grupo A

Casos com largo emprêgo das sulfonas anteriormente.1º) D.G.C., pront. 12004 — Lepromatizado de 1942 a 1946, com exames positivos.Sulfonoterapia intensiva de 1947 até outubro de 1958.

Exame em 28-10-1958 — lepromas de vá-riostamanhos com muco e lesão +++.

Serociclina.Quatro dias depois — eritemas nos leprol mas e

entre os lepromas. Sonolência.Janeiro de 1959 — tubérculos já em re-gressão.

Tontura e confusão mental (4 cápsulas). Fenômenosparestésicos nas extremidades.

Fevereiro e abril de 1959 — continua a involuçãodas lesões e de alguns tubérculos eritematosos esupurantes.

Marco de 1959 — nódulos reacionais.Maio de 1959 — continuam fenômenos

parestésicos. Refere tontura, zoeira e afasia durante 10minutos no comêço do mês.

De agôsto de 1959 a abril de 1960 em franca involução, com nódulos reacionais esparsos.

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Maio de 1960.Junho e julho de 1960 — novos tubérculos nas plantas dos pés, dorso do pé esquerdo e nódulos

subcutâneos nas pernas.Bacterioscopia — muco negativo de 9-59 a 4-60. Em maio de 60, muco ++, lesão sempre

positiva +++.

Biopsia — maio 59: L+++ ; outubro de 59: lepromatosa em regressão, corn bacilos ++ egranulosos.

Julho de 1960 (45.949) — no córion esclerose e hialinização do tecido conjuntivo, de grau poucointensivo e lesão lepromatosa em regressão, BAAR raros, em parte de aspecto granuloso.

Tratamento: 19 meses.Conclusão: Mora clínica. Tolerância boa.

2.º) S.C., pront. 13421 — lepromatoso em 27-10-37, muco e lesão positivos. Sulfonoterapia de1945 a 1959.

2-4-59 — tubérculos e nódulos generalizados; muco +++; lesão ++.

Serociclina.Seis dias após refere queimação, com eritemas e supuração de alguns tubérculos, "reação" que se

acentuou, apresentando hiperestesia nos tubérculos.Maio 59 — estado reacional em regressão.Junho 59 — início da involução dos tubérculos.Julho 59 — reação discreta semelhante à anterior.Até maio de 1960 continua a regressão das lesões, apresentando ainda nódulos duros em vários

locais.Bacterioscopia — muco negativo a partir de junho de 1959.Lesão atual francamente positiva.Biopsia 2 meses antes do tratamento — L BAAR +++.

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Novembro 59 — Lr BAAR raros e granulosos.Julho de 1960 (45.958) — leproma dermo-hipodérmico em regressão e com tendência a fibrosar.

BAAR raríssimos e de aspecto granuloso.Tempo de tratamento: 14 meses.Conclusão: melhorado.

3º) A.S., pront 3335 — lepromatoso em 12-45 com exames positivos.Sulfonoterapia intensiva de 1946 a 1958.Exame em 28-10-58 — infiltração difusa generalizada, com lepromas. Muco e lesão +++.Serociclina.Três dias após refere febre, eritemas generalizados, bôlhas nas mãos e supuração de algumas

lesões.Sonolência com 1 comprimido.Marco e julho de 1959 — reação E.N., febre. Acamado em julho. Agôsto, setembro, outubro —

4 cápsulas. Regressão das lesões.Novembro e dezembro — voltou para 3 cápsulas. Estacionado. Abandonou o tratamento.Bacterioscopia — muco negativo a partir de fevereiro de 1959.Biopsia (38.447) em 30-7-57 — leproma, BAAR +++.Tempo de tratamento: 14 meses. Boa tolerância.

4º) A.P.S., pront. 6374 — lepromatoso em 22-8-34; muco e lesão ++ e +++. Sulfonoterapia de1948 a 1959.

22-6-59 — infiltração cotovêlo direito e espessamento cubital; lepromas. Serociclina.8-59 — abaixamento nítido dos tubérculos do abdome e atrofia dos outros lepromas.10-59 — "Reação focal" nos tubérculos já em regressão e lesões eritêmato-papulosas nas

nádegas.1-60 — lesões em regressão.7-60 — idem.Bacterioscopia — sempre negativa, com positividade na lesão em agôsto de 1959 e abril de

1960.Biopsia inicial — "Processo granulomatoso, sem estrutura tuberculóide, com BAAR em número

inferior ao habitual das lesões lepromatosas. Nota — lesão de aspecto insólito, de difícilclassificação. Solicito verificar se se trata de R. de Mitsuda. (a) P. R. Souza".

Biopsia (12-59) — TR, BAAR |—| (Homem de Mello).Julho de 1960 (45.951) — leproma em regressão: BAAR raríssimos e granulosos.Tempo de tratamento: 12 meses. Tolerância ótima.Conclusão: melhorado.Observação — já em transformação para TR no início do tratamento? Biopsia de 1956:

lepromatosa BAAR +++.

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5) J. P. B., pront. 19561 — lepromatoso cm 27-10-41, muco e lesão ++.Sulfonoterapia 1946 a 1951 no Sanatório. Depois tratamento irregular e reinternado em junho de

1959.22-6-59 — lepromas generalizados, muco + ; lesão +++.

Cinco dias depois — "reação focal".8-59 — Edemas dos membros e parestesias; lesões descamantes e impressão planificação.1-60 — continua em regressão.5-4-60 — reação discreta.Bacterioscopia — muco negativo logo após o início do tratamento; lesão fracamente positiva.Biopsia inicial — L. BAAR +++.1-7-59 — I, BAAR+++; 10-59 — L regressão BAAR +++ (granulosos); julhoBiopsia inicial — L BAAR +++.de 1960 (45.957) — o quadro histopatológico corresponde ao das lesões de lepra transicional,

dimorfo. ou BL; BAAR raros, muitos de aspecto granuloso.

Tempo de tratamento: 12 meses. Tolerância ótima.Conclusão: melhorado.

6º) M.H.V., pront. 18725 — lepromatoso em 18-3-41; muco e lesão positivos. Sulfonoterapiaintensiva de 1947 a 1951.

Sulfonoterapia (irregular?) ate 1959.28-7-59 — infiltração e tubérculos. Muco |—|, lesão +++.

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Serociclina.Quinto dia — eritema dos tubérculos e febre.Continuou com a "reação" ate agôsto de 1959.Novembro de 59 — lesão em regressão.Janeiro de 60 — 3 cápsulas que manteve até o final.Abril de 60 — bem melhorado e nódulos EN., que continuaram até junho de 1960.Bacterioscopia — muco positivo em 6-60. Lesão sempre +++.Biopsias — inicial L BAAR +++, novembro 59 — L ulcerado +++ (granulosos).

Julho de 1960 (45.945) — leproma em regressão; bacilos +++ na grande maioria de aspectogranuloso.

Tempo de tratamento: 12 meses. Tolerância ótima.Conclusão: melhorado.

7º) J.H., pront. 46356 — lepromatoso em 19-7-57; muco e lesão positivos. Sulfonterapia até1959.

3-4-59 — tubérculos, tórax e abdome; infiltração e tubérculos em regressão.Muco |—|; lesão positiva.Serociclina.Junho de 1959 — continuam nódulos de E.N. e tubérculos em involução. Janeiro de 1960 —

estacionado.Bacterioscopia — muco sempre negativo e lesão fracamente positiva.Biopsia 6-59 — Lr +++ (granulosos); 12-59 — Lr ++ (granulosos).Tempo de tratamento: 9 meses. Tolerância ótima.Conclusão: pouco melhorado.

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8º) S.I.J., pront. 46758 — lepromatoso em 28-2-58: muco e lesão +++.Sulfonoterapia até 3-59.3-4-59 — tubérculos no rosto e ombro direito; infiltrações em regressão; muco e lesão positivos.Serociclina.Junho de 59 — nódulos de E.N.Seis dias após — eritema nos tubérculos, com supuração de um dêles.Nódulos de EN.Surtos reacionais desde o tratamento ate o final da observação, sendo a dose de Serociclina

diminuída de 4 para 3 cápsulas nessas ocasiões.Dezembro de 59 — intenso surto reacional obrigando a suspender a medicação.Tempo de tratamento: 8 meses. Boa tolerância até dezembro de 1959.Bacterioscopia — muco negativo dêsde o início e a lesão atualmente positiva fraca.Biopsias — agôsto 59 — lepromatosa em regressão com BAAR raros e granulosos. Dezembro

de 59 — L em regressão e reação; BAAR + (granulosos).Conclusão: estacionado.

9º) M.S., pront. 46559 — lepromatoso ern 1-58 com muco |—| e lesão ++.Tratamento intensivo pelas sulfonas ate 7-59.Exame em 30-7-59 — elementos nodulares, a maioria dêles planificados.Infiltrações difusas; muco |—| e lesão ++.Serociclina.Exame em dezembro de 1959 — esmaecimento das lesões. Reação paptilóide dolorosa nos

braços. Boa tolerância; muco |—|; lesão ++.Exame em julho de 1960 — intensa reação febril. Doente acamado.Piora do quadro dermatológico com nódulos e emplastamentos fulvos; muco |—|; lesão ++.Biopsia 43.523 em julho de 1959 — leproma em regressão; BAAR +++ (granulosos).Em agôsto de 1960 — lepromatosa em regressão. Bacilos ++ (46.236).Conclusão (11 meses de tratamento): piorado (aguardando biopsia). Má tolerância aos 11 meses

com 3 cápsulas.

10º) A.F.R., pront. 26693 — lepromatoso em 11-46 com muco e lesão +++.Sulfonoterapia intensiva até 8-59.Exame em 6-8-59 — eritemas difusos e pigmentados generalizados; muco |—|; lesão +.Serociclina — esquema habitual.16-11-59 — elementos reacionais (E.N.), alguns pustulosos; muco |—|; lesão +.Junho-julho de 1960 — elementos papulóides disseminados e eritemas difusos. Muco |—|; lesão

++.Biopsia (45.965 de julho de 1960) — lesão lepromatosa; BAAR +++.Conclusão (12 meses de tratamento): estacionado. Boa tolerância com 1 cápsula. Tontura, etc.,

com mais de 1 cápsula.

11º) P.F., pront. 25585 — lepromatoso em 12-45 com muco |—|; lesão +. Sulfonoterapiaintensiva de 1949 ate 9-1959.

Sulfonemia em julho de 1956 igual a 0,6 mg/100 ml.Biopsias anteriores — lepromatosa em regressão com raros BAAR.Exame em 17-10-59 — lesões eritematosas difusas. Muco |—|; lesão |—|.Duas cápsulas de Serociclina diárias e mais 4 ml de sulfona mãe (DDS a 10%) por semana.Maio de 1960 — mesmas lesões; muco e lesão |—|.Julho de 1960 — mesmas lesões; muco e lesão |—|.Biopsia de maio de 60 — lepromatosa em regressão, raros bacilos.Biopsia de agôsto de 1960 — lepromatosa em regressão, raros bacilos.Conclusão: estacionado com 10 meses de tratamento. Boa tolerância com 2 cápsulas.

12º) E.C., pront. 14886 — lepromatoso em 6-47 com muco e lesão positivos.Sulfonoterapia Intensiva ate 7-59.Exame em 3-8-59 — lepromas nos membros; lesões fulvas generalizadas; muco |—|; lesão ++.Serociclina.12-59 — Elementos reacionals (E.N.). Agitação e confusão mental à noite; muco |—|; lesão ++.Biopsia em 8-59 — leproma em regressão; BAAR ++ (granulosos). Conclusão: estacionado com

5 meses de tramento. Má tolerância com 3 cápsulas.

192 REVISTA BRASILEIRA DE LEPROLOGIA

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13º) pront. 11790 — lepromatoso em 11-39 com muco |—| e lesão positiva.Sulfonoterapia intensiva de 1949 a 1959.Exame em 1-60 — eritemas difusos generalizados; muco |—|; lesão +.Serocielina — esquema habitual.Julho de 1960 — mesmas lesões. Pêso 85 kg. Boa tolerância com 2 cápsulas (tontura com 3); muco

|—| ; lesão +. +.Biopsia 1959 — inca com bacilos (biópsia anterior, L).Biopsias julho de 1960 (45.907) — lepromatosa em regressão, raros BAAR granulosos.Conclusão: estacionado aos 7 meses. Boa tolerância com 2 cápsulas.

14º) J.P., pront. 18810 — lepromatoso em 5-41 com muco e lesão +++.Sulfonoterapia intensiva de 1949 a 1959.Exame em 5-8-59 — infiltração fulva, muco |—|, lesão +.Serociclina.Outubro de 1959 — mesmo estado dermatológico e bacterioscópico. Muita tontura com 1 cápsula.Conclusão: estacionado aos 2 meses. Má tolerância com 1 cápsula.

Grupo BCasos virgens de tratamento ou com mínima quantidade de sulfona anterior.

1º) A.E.S., pront. 48694 — ficha de lepromatoso em 24-2-59; muco + e lesão ++.Sulfona "Lafi" — 30 drágeas.2-4-59 — iniciou Serociclina, apresentando o seguinte quadro: lesões eritematosas infiltradas mais

ou menos delimitadas no supercílio esquerdo e mento; elementos papulóides cianóticos, delimitados notórax e abdome.

Lesões eritêmato-pigmentares circinadas nas regiões tóraco-axilares.Lesões papulosas e eritematosas na região lombar. Outras eritêmato-pigmentares figuradas nas

nádegas e membros.Nódulos nos punhos e perna direita.Em 16-4 — sensação de queimação (3 cápsulas).Junho de 1959 — melhora evidente, com planificação das lesões.Primeiro nódulo reacional.Outubro de 1959 — nódulos reacionais, com pigmentação da borda de certas lesões e aparecimento

de novos elementos numulares e pigmentares.Maio de 1960 — continua lesão E.N. e as manchas das nádegas estão pigmentadas e sem eritema.

Pêlos do supercílio esquerdo reaparecendo.Junho de 1960 — melhorado. Boa tolerância.Bacterioscopia — muco sempre negativo; lesão esporadicamente positiva.Biopsia 41.952 (março de 1959) — inf. lepromatoso, BAAR + + +. 44.121, dezembro de 1959 —

discreta inf. lepromatosa em regressão; BAAR + + +, maioria granulosos.Biopsia (julho de 1960) — lepromatosa em regressão.Tempo de tratamento: 17 meses, com boa tolerância.

2º) pront. 48645 — fichamento 8-3-59 como lepromatoso muco + e lesão ++.Iniciou Serociclina em 20-3-59 com infiltração, tubérculos e nódulos generalizados.De 27 a 30 de março começou a sentir febre e sensação de queimação na pele, com lepromas

aumentados em seu volume. Muitos supurararn (2 cápsulas).Abril de 59 — 3 e 4 cápsulas, com aumento de reação, obrigando-o a guardar o leito por alguns

dias.Maio de 1959 — voltou para 3 cápsulas por apresentar tonturas e sintomas parestésicos, com

diminuição do processo reacional e descamação fina.Sensação parestésica até o mês de agôsto.Suspendeu a medicação em março de 60, com seu estado inalterado.Bacterioscopia — muco negativo a partir de agôsto e lesão sempre positiva.Biopsias 42.459 (inicial) — leproma BAAR + + +, intensa inflamação lepromatosa de aspecto

regressivo na periferia. 42.460 (na reação) — leproma ulcerado riquíssimo em bacilos, com sinais deinflamação aguda. 44.134 de novembro de 1959 — leproma em regressão; BAAR, + + +, maioriagranulosos.

Tolerância boa. Conclusão: estacionado. Tempo de tratamento: 1 ano.

3º) T.G.G., pront. 48781 — lepromatoso em 18-3-59 com M + e L ++.24-3-59 — Eritema e infiltração difusas generalizadas, nadulo eritêmato-cianótico na perna direita.Serociclina por 10 meses com ótima tolerância e sem melhoras visíveis do aspecto dermatológico.

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Referiu na primeira semana, queimação no tegumento, com insônia, anorexia e cefaléia.Baciloscopia — muco negativo a partir de abril e as lesões se negativaram em agôsto de 1959.Biopsias (42.533 de abril de 1959) — Infiltração lepromatosa com BAAR ++. 44.131 (de

novembro de 1959) — moderada infiltração lepromatosa de aspecto regressivo. BAAR ++granulosos.

Tempo de tratamento: 10 meses e ótima tolerância.Conclusão: clinicamente inalterado. Melhora baciloscópica.

4º) Z.M.R., pront. 47936 — caso BL em 3-11-58, muco + e lesão +. Tomou 72 ml de Sulfenonae 80 drágeas de Sulfona "Lafi".

2-4-59 — máculas eritematosas elevadas na fronte e lesões eritemato-hipocrômicas nas regiõesmalares e ângulo do maxilar inferior; lesões idênticas no resto do tegumento. Placas infiltradaspardacentas, com pequenos nódulos na periferia, na face externa do braço esquerdo. Todos êsseselementos apresentavam-se com alterações regressivas.

Durante os 10 meses de tratamento pela Serociclina, houve boa tolerância com apenassonolência no início.

Apresentou reativação das lesões no dia do início da terapêutica, com nova exacerbação emmaio, que depois de 2 dias reiniciou a regressão.

Em junho lesões ainda eritematosas mas em involução.Em agôsto lesões planas, cianóticas e ligeiramente pregueadas.Voltou para 2 cápsulas diárias em Janeiro e deixou o Sanatório em fevereiro de 1960, bem

melhorado.Bacterioscopia — muco sempre negativo, com lesão esporàdicamente positiva (placa infiltrada

do braço esquerdo).Biopsias 3-12-58 (41.387 e 41.388) — BL BAAR ++; 43.989 de outubro de 1959 — fala a favor

de lepra tuberculóide reacional. BAAR raros e alguns granulosos.Tempo de tratamento: 10 meses; boa tolerância.Conclusão: melhorado.

5º) M.A.M., pront. 50034 — exame em 5-9-59, lepromatosa, muco + e lesão +++, cominfiltração e tubérculos generalizados e ulcerados nos membros inferiores.

Serociclina — até 2 capsulas (1 na primeira semana).Tratamento por 10 meses, com cicatrização das ulcerações dos membros inferiores e parada do

processo evolutivo. Nódulo reacional no antebraço esquerdo, em Janeiro de 1960. Maio de 1960,início de regressão.

Bacterioscopia — muco negativo a partir do 3º mês, continuando positivo nas lesões.Biopsia inicial (43.692) — leproma, parte em regressão, BAAR +++, em parte granulosos;

45.216 de abril de 1960 — leproma em regressão, BAAR +, granulosos. Nota: curioso observar ocontraste entre o aspecto histológico e baciloscópico. Granuloma lepromatoso grande e relativamentebem conservado, bacilos escassos com profundas modificações tintoriais e morfológicas (Homem deMello).

Nova biopsia em julho de 1960 (45.952) — leproma; BAAR +++ em parte de aspecto granuloso.Tempo de tratamento: 10 meses. Tolerância ótima.Conclusão: melhorado.

6º) ABS., pront. 48342 — registrada em 6-12-58 como lepra lepromatosa, muco e lesão +++(positiva).

Tomou 241 drágeas de DX até 2-4-59, quando iniciou a Serociclina, apresentando as seguinteslesões: inf. e eritema difuso generalizados; lepromas nas pernas. Tratamento ate 7-1-60, revelandoboa tolerância à medicação.

Quinze dias após iniciada a terapêutica refere febre e sensação de queimação nos braços etronco, que voltou a aparecer 2 meses após, durante 2 dias. Prurido generalizado.

Junho — mesmo estado dermatológico.Julho — subicterícia logo regredida. Temporariamente 3 capsulas.Setembro — nódulo de E.N.Bacterioscopia — muco negativo a partir do 6º mês e a lesão a começar do 7º.Biopsia inicial 42.434 — inf. infl. crônica moderada, com tendência a formação de estrutura

nodular, BAAR |—|; 43.986 de setembro de 1959 — corresponde as lesões do grupo "borderline",BAAR +++, muito granulosos; 44.722 de dezembro (perna esquerda) — mesmo quadro histológico,BAAR ++ na maioria granulosos. 44.721, mesma ocasião (perna direita) — intensa esclerose noconjuntivo e intensa inflamação lepromatosa de aspecto regressivo; BAAR +++ granulosos.

194 REVISTA BRASILEIRA DE LEPROLOGIA

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Tempo de tratamento: 10 meses. Tolerância boa.Conclusão: estacionado. Melhora bacterioscópica.

7º) F.P.R., pront. 48718 — exame em 6-3-59, lepromatoso, muco e lesão +++, com infiltraçãodifusa generalizada, com tubérculos e nódulos.

Serociclina durante 10 meses, com boa tolerância.Quatorze dias do início da medicação, os maiores tubérculos apresentaram-se eritematosos e em

vias de supuração, com queimação, quadro que durou cêrca de 10 dias.Junho de 1959 — inalterado.Evoluiu bem até outubro de 1959, quando apresentou dores abdominais, anorexia e icterícia.Tentou ainda a medicação até novembro, quando internou-se por persistir a icterícia; usou

posteriormente 10 ampolas de Promanid, quando surgiu um surto de EN que o obrigou a voltar para ohospital.

Bacterioscopia — muco negativo logo no início do tratamento e lesão sempre positiva.Biopsia — 43.435 de junho de 1959 — pequeno leproma com BAAR +++; 44.135 de novembro

de 1959 — leproma em regressão, BAAR +++, maioria granulosos.Tempo de tratamento: 10 meses, com boa tolerância até essa época.Conclusão: melhorada.

8º) P.A.G., pront. 48249 — lepromatoso em 3-12-58 com muco + e lesão +++. 50 cm³ de Promine 150 cm³ de Sulfenona.

2-4-59 — eritema e infiltração difusos generalizados, máculas eritemato-pigmentares elevadascom centro hipocrômico.

Nove meses de Serociclina com boa tolerância, sendo que em maio as lesões apresentavam-semais eritematosas e o paciente referia febre, cefaléia e tonturas, chegando a cair da bicicleta, comperda da consciência. Alguns dias depois continuou o tratamento com 3 cápsulas, apesar depersistência das tonturas, se bem que discretas.

Julho de 1959 — anorexia, constipação e icterícia intensa, suspendo o medicamento durante todoo mês de julho.

Agôsto de 1959 — recomeçou a terapêutica com 3 capsulas que foi mantida até dezembro,quando o paciente recebeu alta, com suas lesões parcialmente regredidas.

Bacterioscopia — muco sempre negativo e lesão permanentemente positiva até novembro.Biopsia — 41.743 de fevereiro 1959 — infiltração lepromatosa. BAAR +++; 44.133 de

novembro de 1959 — moderada infiltração lepromatosa de aspecto regressivo. BAAR ++ granuloso.Tempo de tratamento: 9 meses. Boa tolerância.Conclusão: melhorado.

9º) L.T., pront. 48026 — lepromatoso em 14-10-58, M + e L +++ .Tomou 160 drágeas de DX e 40 de Sultana "Lafi".2-4-59 — infiltração generalizada, lepromatização discreta da fronte, membros e escroto, lesões

já em involução, permanecendo porém tubérculos evidentes nos antebraços. Muco |—|, lesão ++.Quinze dies após o início da Serociclina, referiu sensação de queimação no corpo.Maio de 1959 — E.N. e processo erisipelatóide nas pernas, que persistiu até o final oa

observação. Tratamento por 9 meses, com boa tolerância e planificação dos tubérculos a partir dejulho. Edema e dor dos maléolos e joelhos.

Bacterioscopia — muco negativo desde o início e lesão sempre positiva.Biopsia de 13 de maio de 1959 — 42.668 — lepromatosa em regressão, BAAR +++ granulosos;

44.129 de novembro de 1959 — lepromatosa em regressão, BAAR + + granulosos.Tempo de tratamento: 9 meses. Boa tolerância.Conclusão: melhorado.

10º) J.G.V., pront. 48629 — Fichado como lepromatoso em 27-3-59, com M + e L ++.Iniciou Serociclina em 4-4-59 com as seguintes lesões: eritema e infiltração difusos discretos e

generalizados. Continuou o tratamento durante 9 meses, com boa tolerância, apresentando às vezestontura que desaparecia com a diminuição para 3 capsulas diárias,

Biopsia — 43.001 em junho de 1959 — infiltrado inflamatório crônico de pequeno grau, semcaráter específico, de aspecto involutivo e bastante hialinizado. BAAR raros e granulosos; 44.119 denovembro de 1959 — mesmo aspecto, com evidente esclerose da derme, com BAAR + não todosgranulosos.

A "SEROCICLINA" NA LEPRA 195

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Bacterioseopia — negativa no muco desde o início do tratamento e lesão esporàdicamentepositiva fraca.

Tempo de tratamento: 9 meses. Boa tolerância com 3 cápsulas.Conclusão: estacionado dermatològicamente.

11º) A.J.C., pront. 48360 — fichado em 2-2-59 como lepromatoso, muco |—| e lesão +.Tomou 158 ml de Sulfenona. Iniciou Serociclina em 2-4-59 com as seguintes lesões: eritema e

infiltração difusa generalizada; tubérculos no abdome e tubérculos e nódulos nos membros.Boa tolerância medicamentosa até dezembro de 1959 (9 meses).Agôsto de 1959 — tontura e crise de chôro. As lesões apresentavam-se em regressão, com

diminuição da infiltração e da tensão dos tubérculos que se mostravam pregueados.Bacterioscopia — muco negativo desde o início e lesão sempre positiva (+).Biopsia — 44.438 de 11-7-59 — inf. lepromatosa de aspecto regressivo, BAAR +++, grande

parte granulosa.Tempo de tratamento: 9 meses, com boa tolerância.Conclusão: melhorada.

12º) D.B., pront. 48256 — lepromatoso em 27-12-58, muco e lesão +++.Fêz uso de sulfonas por 4 meses (394 ml de Sulfenona e 72 drágeas de DX).3-4-59 — infiltrações difusas generalizadas, pequenas máculas sépias, tubérculos nos membros

inferiores, parcialmente regredidos; muco |—| e lesão positiva.Serociclina — tratamento por 9 meses com boa tolerância, apenas referindo sonolência

pouco pronunciada. As lesões continuaram em regressão, persistindo eritema difuso.Baterioscopia — muco sempre negativo e a lesão deixou de apresentar bacilos a partir do 2º mês

de tratamento.Biopsia inicial — 42.458 — inf. lepromatosa moderada; BAAR ++; 44.125 de dezembro de

1959 — inf. lenromatosa perivascular e periglandular de aspecto regressivo, BAAR + granulosos.Observação — não tomou 4 cápsulas regularmente.Tempo de tratamento: 9 meses.Conclusão: melhorada.

13º) S.F. — pront. 48700.20-2-59 — eritemas difusos no tronco e nádegas, lepromatosa incipiente, muco |—| lesão +.Fêz 108 ml de Promanid até 2-4-59, quando iniciou Serociclina; muco |—| lesão ++.Seis dias após refere ter sentido ardor na pele, anorexia e insônia.Tratou-se durante 9 meses sem alteração notável do quadro dermatológico, apresentando

contudo EP que o obrigou a acamar durante um mês.Em Julho de 1960 queixou-se de tremores e sensação de choque nos membros (sic).Passou de 4 para 3 cápsulas diárias.Bacterioseopia — muco e lesão negativos no final da observação.Biopsia — 43.440 de 11-8-59 — inca com raros BAAR granulosos; 44.123 de 7-12-59 — no

córion, com certo grau de edema e vasodilatação, infiltração inflamatória, sem caráter específico,raríssimos BAAR granulosos.

Tempo de tratamento: 9 meses. Boa tolerância com 3 cápsulas.Conclusão: estacionado clìnicamente. Bacterioscopia melhorada.

14º) A.A.L., profit. 48475 — Fichado como lepromatoso em 3-2-59, muco |—| e lesão +.Tomou 192 ml de Sulfenona.3-4-59 — maculas eritemato-pigmentares com hipocromia central em várias localizações.Tratamento com Serocielina até novembro (8 meses) e boa tolerância, apresentando contudo

fenômenos nervosos.Maio de 1959 — lesões acrômicas no tronco e abdome; lesões também de aspecto indeterminado

nas coxas e nádegas e eritérnato-vesiculosas, circinadas, nas coxas e pernas (pesquisa de cogumelosnegativa).

Junho — as lesões tricofitóides estão em regressão, bem assim as eritêmato-pigmentares doabdome.

Julho — lesões do abdome se apresentam eritêmato-hipocrômicas.23-11-59 — removido para Pirapitingui, por distúrbio mental (agressividade, tentativa de

suicídio).

196 REVISTA BRASILEIRA DE LEPEOLOGIA

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Biopsia 41.792 de fevereiro de 1959 — infiltração lepromatosa, BAAR ++;43.694 de 16-7-59 — lepromatosa em regressão, com raros BAAR granulosos.Bacterioscopia — muco sempre negativo, com alternativa de positividade fraca.Tempo de tratamento: 8 meses.Conclusão: melhorado.

15º) M.M., pront. 48037 — lepromatoso em 17-10-58, muco + e lesão +++. Fêz uso irregular desulfona (116 drágeas de DX) devido a surtos reacionais cutâneos e nervosos. Eritema e infiltração com rarostubérculos no rosto e membros.

3-4-59 — Serociclina.Maio de 1959 — nódulos reacionais esparsos.Boa tolerância com fenômenos de neurite em julho, nódulos reacionais em novembro, cessando a

terapêutica em dezembro de 1959.Bacterioscopia — muco negativo e lesão +++ no final da observação.Biopsia inicial 42.429 — leproma em regressão com bacilos +++ granulosos; 44.126 de novembro de

1959 — leproma em regressão com bacilos +++ granulosos.Tempo de tratamento: 8 meses.Tolerância boa.Conclusão: estacionado.

16º) A.M.R.O., MOM. 49366 — Exame 22-6-59, como lepromatosa, muco ++ e lesão +++, comeritema e infiltração bem evidentes no rosto e tronco; tubérculos e nódulos nas orelhas e membros, algunsulcerados.

Serociclina.Tratamento por 6 meses, com convulsões aos 16 dias do início, sialorréia e relaxamento dos esfincteres.

No exame aos 30-7, observou-se nítida melhora e início de planificação dos tubérculos, com cicatrizaçãodas ulcerações.

Outubro de 1959 — edemas das mãos e pés, dores no pé direito e eritema nos tubérculos. Novostubérculos, infiltração e máculas eritemato-pigmentares nos braços, ombros e coxas.

21-11-59 — suspensa a medicação pela piora apresentada.Bacterioscopia — sempre positiva no muco e lesão.

Biopsia inicial 43.197 —lepromatosa parcialmente em regressão,BAAR +++ (em parte granulosos);43.984 de outubro de 1959 — lepromaem regressão, BAAR +++ (muitosgranulosos).

Tolerância — perturbaçõesnervosas que cessaram não obstante acontinuação do medicamento (3cápsulas).

Tempo de tratamento: 6 meses.Conclusão: piorada.

17º) J.D.R., pront. 48499 —Fichado em 3-1-59 como lepromatoso,

muco e lesão +++.Começou o tratamento com Serociclina em 24-1-59, apresentando infiltração e tubérculos

generalizados.Cinco dias após, pavilhões auriculares edemaciados, túrgidos e hipertérmicos que se ulceraram em

alguns pontos; sonolência.Vinte dias depois apareceram novos lepromas nos braços e a orelha direita se encontrava mais murcha.

Tonturas, sialorréia e convulsões que duraram cêrca de 15 minutos. Suspensa a medicação, que foireiniciada 4 dias depois com 1 cápsula e aumentada progressivamente.

No mesmo mês, zoada no ouvido, tontura, não chegando a se repetir o ataque anterior. Suspensa amedicação e em seguida reiniciada até 3 capsulas (diárias durante 1 mês, apesar de referir tonturasesporadicamente. Abandonou o tratamento em março com alguns tubérculos pregueando-se no braçoesquerdo.

Bacterioscopia — sempre positiva. Tolerância má.Tempo de tratamento: 3 meses.Conclusão: estacionado.

18º) H.M., pront. 49098 — Fichado como lepromatoso em 16-4-59, muco |—| e lesão +++.

A "SEROCICLINA" NA LEPRA 197

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Com Serociclina em 24-4-59 — eritema e infiltração difusa generalizada, com tubérculos na facee placas infiltradas no tronco e membros. Nos primeiros dias apresentou eritrodermia generalizada,com fenômenos gerais que continuaram até junho, acamando-se e suspendendo o tratamento. Naenfermaria, depois disso, sofre nova exarcebação da eritrodermia.

Biopsia 42.535 — inicial — inf. Lepromatosa em parte em regressão, BAAR +++, rarosgranulosos; 42.457 mesma ocasião — leproma, BAAR +++; 43.002 em junho de 1959 —lepromatosa em regressão, BAAR ++, muitos granulosos; 44.128 em novembro de 1959 (semtratamento) — quadro semelhante ao da lepra TR; BAAR 1 bacilo; 44.724 de janeiro de 1960 —quadro correspondente ao da lepra TR, BAAR |—|; 44.724 mesma época — lepra TR, BAARraríssimos e granulosos.

Baciloscopia — muco sempre negativo, lesão positiva até a suspensão dos medicamentos.Posteriormente negativo.

Tempo de tratamento: 2-3 meses.Conclusão: melhorado.

198 REVISTA BRASILEIRA DE LEPEOLOGIA

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CONCLUSÕES

1. A Serociclina com INH pode ser considerada como dotada de atividadeterapêutica na lepra.

2. Na maioria dos casos foram notadas, precocemente, as chamadas "reações focais",semelhantes às observadas por Estevam de Almeida e col. em seus doentes tratados pelaCicloserina.

3. Essa reação, em linhas gerais, se caracterizava por:

a) aparecimento precoce (em média 5 dias); b) fenômenos gerais (febre,anorexia, mal-estar, etc.); c) reativação das lesões pré-existentes (eritema e atésupuração).

4. Na maior parte tinha-se a impressão da melhora clínica, após o surto reacional.

5. A baciloscopia foi influenciada de modo mais evidente no muco nasal.

6. De 14 pacientes com muito tempo de sulfonoterapia anterior, 6 dêles (44%)obtiveram nítida melhora, depois de 9 e mais meses de Serociclina.

7. De 18 casos práticamente virgens de tratamento, obtivemos 55% de melhoras emprazos variáveis.

8. Do total de 32 doentes tratados durante alguns meses, até mais de 1 ano, em 78%dêles observou-se boa tolerância medicamentosa com 4 cápsulas diárias de Serociclina.

9. Os fenômenos rotulados como de intolerância foram: ataques epilepticóides (2pacientes), tonturas, sonolência, parestesias e dermatite (1 caso).

10. As alterações histológicas parecem confirmar a ação terapêutica da Serociclinacom INH.

11. Em algumas observações foi notada a diminuição do número de bacilos, semmodificação da intensidade do infiltrado inflamatório.

12. Em outros a melhora clínica correspondia a uma modificação histopatológica(viragem para forma de resistência).

13. Não se observou nenhum caso de acometimento nervoso no decorrer dotratamento (amiotrofias, reação cubital, etc.).

14. As reações tipo EN e EP foram encontradas em número relativamente pequeno depacientes e os surtos eram no geral de fraca intensidade.

CONCLUSIONS

1. Serocicline with INH may be considered as having therapeutic activity in thetreatment of leprosy.

2. In most cases, the so-called "focal reactions" were soon noted, similar to thoseobserved by Estevam de Almeida et col., in patients treated with Cicloserine.

200 REVISTA BRASILEIRA DE LEPROLOGIA

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3. That reaction, in short had the following characteristics:

a) early appearance (average of 5 days); b) high temperature, anorexia, malaise,etc.; c) reactivation of the pre-existent lesions ( erythema and suppuration).

4. After the onset of the eruption, most of the patients appeared as having clinicalimprovement.

5. In a more evident way, bacilloscopy was influenced, in the nasal mucus.

6. Six (44%) out of 14 patients previously treated with sulfonotherapy showedmarked improvement after 9 months or more of therapy with Sera-cicline with INH.

7. In 18 patients who had received no previous treatment, we noticed improvementin 55% of the cases.

8. In 32 (total) patients treated from some months to more than 1 year, 78%manifested good tolerance to the drug, with 4 tablets daily of Serocicline with INH.

9. As symptoms of intolerance we include: epileptiform attacks (2 patients)dizziness, drowsiness, paresthesia and dermatitis (1 patient).

10. Histological changes seem to confirm the therapeutic activity of Serociclinewith INH.

11. Reduction in the number of bacilli, without intensive changes in the inflammatoryinfiltrate, was seen in some of the observations.

12. In other cases clinical improvement corresponded to an histopa-thological change(development of resistant forms).

13. No patients presented nervous onsets (amyotrophy, cubital re-actions, etc.).

14. EN and EP reactions were found in a few patients and the eruptions were of alow intensity.

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202 REVISTA BRASILEIRA DE LEPROLOGIA