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A SENHORA DAS MONTANHAS

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A Senhora das Montanhas

Josiane Veiga 2012

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Dedicatória

Luciane Rangel,

Autora de Guardians, mãe da Live. Uma grande amiga, uma

eterna companheira. Lucy, espero de coração que essa história

seja uma boa homenagem a alguém que tanto admiro.

Obrigada pelo apoio e parabéns pelo sucesso. Você merece.

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Agradecimentos

Deus, porque é ele que dá a força depois de um dia difícil de

trabalho para que a gente pare com tudo e vá escrever.

Ana Claudia Coelho, ilustradora oficial de Guardians que me deu a capa de aniversário e que me autorizou a usá-la agora para SDM.

Fabiana Moraes, amiga que fez a revisão e que me deu bons conselhos em relação ao roteiro.

Minhas leitoras da saga Jishu, que compreenderam a pausa durante os capítulos (leia-se atrasos) para que eu pudesse me dedicar a essa obra.

Minha mãe, porque sem ela – literalmente – nada seria escrito.

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Prefácio

Acredito que poucos autores brasileiros têm o

privilégio e a felicidade que eu tenho, de ser agraciada

com tantos leitores tão talentosos e carinhosos com

meus livros. E Josiane Veiga não apenas é um deles,

como também foi a autora do primeiro presente

dedicado a Guardians.

O ano era 2008 e, na época, minha história era

apenas uma “fic original” publicada em fóruns e sites da

internet. Lembro com emoção do dia em que a Josy me

deixou um scrap com o pedido:

“Você me autoriza a escrever um spin-of sobre sua

personagem Live?”

Eu, mais do que fã do trabalho da Josy, nem

precisei pensar duas vezes antes de não só autorizar,

como também agradecer, expressar minha alegria e,

claro, começar a imaginar a história que estava para

nascer.

E nem em minha mais empolgada imaginação eu

poderia prever algo tão perfeito.

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Graças a Josiane, pude ver minha pequena Live já

crescida, como uma mulher lutadora, determinada e

apaixonada. Pude me encantar com uma nova visão de

minha própria criação.

Agora, A Senhora Das Montanhas ganha forma

física, vira livro, alcançará um novo público e fará mais

pessoas conhecerem e se encantarem pela versão adulta

de nossa doce e brava aquariana. Além de inaugurar o

selo Guardians Universe, do qual faz parte um talentoso

grupo de escritores com seus spin-ofs de Guardians.

Obrigada a querida Josy Veiga, por presentear a

mim e aos leitores de Guardians com essa joia que é A

Senhora Das Montanhas.

Sucesso sempre!

Luciane Rangel

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Capítulo 1

relógio badalava seu pêndulo, fazendo um

barulho tão forte que mesmo ao longe se ouvia

o "tic tac" seco e triste. E aquele era o único

som. Nenhum riso, nenhuma voz. Apenas o isolamento.

Nada mudara! As paredes continuavam com aquela cor

indefinida, entre o branco e o bege. Os móveis, velhos e

antiquados, estavam tapados por um lençol grosso de linho, e o

ar, estagnado pelas janelas fechadas, era insuportável.

Foi isso que ela encontrou quando entrou na casa. O

ambiente era tão triste que mesmo Live, uma pessoa racional,

sentiu aversão pelos fantasmas imaginários que povoavam a

solidão daquelas paredes.

Por alguns segundos observou o lugar, pousando a mala

no chão.

O avô que a criara, morrera de infarto um ano antes,

quando ela estava na Europa morando com a mãe adotiva,

Maire. Quando finalizou os estudos, percebeu que já estava na

hora de voltar à Índia. Precisava estar em casa! Uma

necessidade única de pertencer a algum lugar, mesmo que esse

lugar fosse uma casa melancólica.

Sentiu-se culpada pelos sentimentos. Maire e Micaela a

acolheram com um amor incondicional, dando-lhe toda a

atenção que dariam aos filhos que não teriam e ela retribuiu

com a devoção que teria pela mãe, se essa fosse viva.

No começo, a estranha relação a surpreendeu. Duas

lindas mulheres assumirem uma paixão mexia com a libido

masculina e com a antipatia feminina. Não foram poucas as

vezes em que ela se irritou com os comentários preconceituosos

dos amigos. Mas com o tempo, as pessoas mais próximas

aceitaram a fato de que a família que acolheu a menina indiana

mestiça não era comum. O caráter do casal de homossexuais

conquistou o respeito dos mais duros e Live pôde enfim parar

de sentir-se ameaçada pelo fato de não haver um homem em

sua casa.

Casa...

O

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Não! Live não era nenhuma menina para se enganar. O

apartamento enorme em que vivia com as duas mulheres nunca

fora seu lar. Era este lugar em que ela se encontrava agora,

gelado e úmido, seu ninho.

Correu até as janelas e as abriu. O ar entrou na

residência, substituindo o cheio de mofo pelo das flores do

jardim. Há quanto tempo o ar puro não fazia parte da sua vida?

Pareciam décadas, mas na verdade, foram apenas alguns anos

que se passaram.

Sentando-se no sofá, ela sorriu ao se lembrar do motivo

que a tirara da Índia. O selamento do portal, onde os doze

guardiões se reuniram para fechar o túnel que unia o mundo dos

homens ao mundo dos Youkais. Na época, ela era a menor entre

eles, e a mais fraca.

- Nada como o passar dos anos – murmurou.

Os anos realmente passaram e com eles vieram os

treinamentos e uma maturidade surpreendente! Live hoje era

uma mulher de 23 anos, adulta, linda e independente. Todavia,

sozinha.

Havia um vácuo dentro de si, um vazio que não foi

substituído nem pelo amor dos amigos, nem pela afetividade

dos ex-namorados.

Faltava algo...

Durante toda a sua vida, imaginou que o vazio era a

irresponsabilidade do pai, que não lhe dera o direito de um

convívio familiar normal ou a ausência da mãe, que não pôde

vê-la crescer. Sendo o que fosse, ter uma família junto com

Maire e Micaela não supriu sua maior necessidade. E era uma

necessidade desconhecida, uma busca que até agora se

mostrava em vã.

- Dane-se... – murmurou, zangada consigo mesmo.

Live sempre foi uma pessoa naturalmente irritada. Mas

nada a tirava mais do sério do que a autopiedade. Pessoas que

viviam eternamente com pena de si mesmas a angustiava. E não

iria se tornar exatamente como aqueles que ela tanto

desprezava.

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Levantando-se do sofá ela foi até a mala, pegou-a e

subiu ao quarto. Meia hora depois voltava à sala pronta para

tornar aquele lugar um local habitável.

A noite chegara às montanhas indianas com a calma de

sempre. Lá fora, os únicos sons que Live ouvia eram os da

floresta que cercavam a mansão. Seu avô foi um homem um

tanto reservado – para não dizer isolado – mas Live sempre

amou aquele lugar mesmo não tendo a companhia de outras

crianças.

Adulta, ela notava uma magia lá que antes passava

despercebida. O ar puro da mata, a segurança de um local entre

as montanhas, os alimentos limpos que o pomar dava... Tudo

era reconfortante. Claro que modernidades como a luz elétrica e

a água encanada ajudavam. Sabia que por mais lindo que fosse

o lugar, não conseguiria dispensar um banho quente. O telefone

era outro luxo que o avô se permitira. E ela dava graças, afinal

não seriam poucas as noites que ligaria para os amigos,

buscando conforto e calor.

Segurando uma xícara de café nas mãos, ela

aproximou-se de uma das enormes janelas de vidro. Estava

escuro lá fora, portanto não havia muito a que se admirar.

Suspirou, mas animou-se ao pensar que ao amanhecer,

teria um local inteiro para explorar. Ao virar-se de costas para a

janela foi surpreendida por um som na porta. Alguém batia com

força!

O coração tremeu no peito. Sua casa era muito afastada

para receber visitas noturnas. Quem poderia ser? Baixou a

xícara em uma mesa e foi até a porta dizendo a si mesma que,

fosse quem fosse, ela era uma Guardiã treinada e nada temia.

Quando abriu a porta, surpreendeu-se com a figura

parada do lado de fora. Um rapaz que aparentava uns vinte e

cinco anos se postava numa postura ereta, encarando-a.

- Namastê... – ele balbuciou com sotaque.

- Boa noite – respondeu em espanhol.

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- Fala a minha língua?

-Vivi muitos anos na Espanha. Percebi pelo seu sotaque

que você era de lá.

Ele arqueou as sobrancelhas. Tinha intensos olhos

verdes, os cabelos castanhos chegavam à nuca.

- Só pela maneira de eu falar?

- Os espanhóis têm uma forma meio arrastada de

pronunciar as palavras.

- Ah – ele surpreendeu-se. – Você é muito observadora.

Ela sorriu. O rapaz a sua frente realmente era muito

bonito. Magro, mas com músculos nos braços e o pescoço

firme. Um típico exemplo de macho predador que ela achava

incrivelmente atraente. Ele vestia uma calça jeans, camisa e

casaco aberto no peito. Jovial e descontraído parecia ser o estilo

dele. Mas, de alguma forma, as roupas não refletiam o rosto

sério que não se permitia demonstrar nenhum tipo de reação ou

sentimento.

- O que deseja? – ela perguntou, de repente incomodada

pelo fato de ter um homem na sua porta, à noite, estando

completamente sozinha.

- Vim porque vi a fumaça saindo da chaminé e também

luzes na casa. Ninguém aparecia por aqui desde que o Sr. Kabir

Kamadeva faleceu.

A resposta a tranquilizou. Ele mantinha as mãos nos

bolsos da calça e pareceu estar apenas defendendo uma

propriedade privada.

- O Sr. Kamadeva era meu avô – explicou num sorriso

triste.

- É mesmo? Não a vi no enterro. – A voz era carregada

de sarcasmo.

- Não pude vir. Estava chovendo muito em Madri e os

Aeroportos foram fechados para voos. Depois, já era tarde

demais...

Live então se irritou. Quem era aquele rapaz para ficar

recriminando-a por não ter estado no enterro do avô? Ele não a

conhecia para julgá-la daquela forma arrogante. Sentiu vontade

de bater a porta na cara dele, mas se conteve.

- Afinal de contas, quem é você?

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- Me chamo Nicolas Velaz. Seu avô alugou uma casa

ao leste daqui para mim.

- Você está morando na choupana? – ela se

surpreendeu.

O casebre feito de madeira era grande e confortável. O

avô de Live, um homem rico, sempre amara coisas simples.

Construíra a casa para servir-lhe de abrigo, para escondê-lo do

mundo que ele considerava um tanto hipócrita. Live nunca

pensou que ele fosse permitir outra pessoa a ocupar um local

tão especial.

- Muito estranho... – as palavras saíram sem ela

perceber.

- O quê?

Os pensamentos da guardiã de Aquário mudaram de

sentido ao vê-lo reagir tão assustado ao comentário casual dela.

- O que um homem jovem faz isolado nas montanhas

indianas?

- O que uma mulher jovem faz isolada nas montanhas

indianas?

Live enrubesceu de raiva. Ponto pra ele!

- Sou a única herdeira destas terras e acredito que tenho

o direito de viver onde eu bem entendo, não é, Sr. Nicolas?

Ele não pareceu se ofender, ao contrário, pela primeira

vez sorriu. E que sorriso! Os lábios eram finos, mas os dentes

eram brancos e ao sorrir, duas covinhas apareciam em suas

bochechas.

- E eu tenho um contrato de aluguel assinado por seu

avô. Como pago em dia, acredito ter o direito de também

manter a minha privacidade.

As palavras dele eram felinas.

- Concordo, e boa noite! – ela quase gritou. – Espero

que saiba se manter do lado de lá da choupana!

- Eu saberei. Boa noite!

Ele virou-se e Live bateu a porta. Que homem atrevido!

Como se acha no direito de vir agredi-la com palavras sem nem

ao menos conhecê-la?

Agredi-la com palavras? Na verdade, ele não dissera

nada de mais, e no fundo ela deveria agradecê-lo por ser tão