A Sabedoria do Ser e do Nada (2 volumes) (Mário Ferreira dos Santos)

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  • A SABEDORIA DO

    SER E DO NADA

  • Coleo UMA NOVA CONSCINCIA

    1) Invaso Vertical dos Brbaros 2) Erros na Filosofia da Natureza 3) Brasil, um pais sem esperana'!

    i) Brasil um pais de excepo

    TOdas essas obras so de autoria de

    i\Irlo Ferreira dos Santos

    Outras obras a sair sero oportunamente anunciadas.

    Edies

  • ENCICWPDIA DE CINCIAS FILOSFICAS E SOCIAIE de Mrio Ferreira dos Santos ; ;

    ,.

    OBRAS PUBLICADAS:

    1) Filosofia e Cosmoviso - 6.a ed. 2) Lgica e Dialctica - 5. ed. 3) Psicologia - 5. ed. 4) Teoria do Conhecimento - 5. ed. 5) Ontologia e Cosmologia - 5. ed. 6) Tratado de Simblica - 5. ed. 7) Filosofia da Crise (Temtica) - 5.a ed. 8) O Homem perante o L"1.ftnlto (Teologia) - 5. ed. 9) Neologia Geral - 4. ed.

    10) Filosofia Concreta I vol. - 4. ed. 11) Filosofia Concreta II vol. - 4. ed. 12) Filosofia Concreta m vol. - 4 . ed. 13) Filosofia Concreta dos Valres - 3. ed. 14) Sociologia Fundamental e l1:tica. Fundamental - 3. ed. 15) Pitgoras e o Tema do Nmero (Temtica) - 2. ed. 16) ~4\..ristteles e as Mutaes (Temttica) - 3. ed. 17) O Um e o Mltiplo em Plato (Temtica) - 3. ed. 18) 1\'Itodos Lgicos e Dialcticos I o!. - 5. ed. 19) Mtodos Lgicos e Dialcticos II vol. - 5. ed. 20) lVItodos Lgicos e Dialcticos ill vol. - 5. ed. 21) Filosofias da Afirmao e da Negao (Temtica Dialctica) - 2. ed. 22) Tratado de Economia I vol. - 2. ed. 23) Tratado de Economia II vol. - 2. ed. 24) Filosofia e Histria da Cultura I vol. - 2. ed. 25) Flosofia e Histria da Cultura n vol. - 2. ed. 26) Filosofia e Histtia da Cultura m vol. - 2. ed. 27) Anlise de Temas Sociais I vol. - 2. ed.

    ' 28) AnUse de Temas Socla:s II vol.- 2. ed. 29) Anlise de Temas Sociais ill vol. - 2. ed. 30) O Problema Social - 2. ed. 31) Dic. de Filosofia e Cincias Culturais I vol. - 4. ed. - vol. du.~lo 32) Dlc. de Filosofia e Cincias Cultcrais II vol. - 4. ed. -33) Dic. de Filosofia e Cincias Cultcrais m vol. - 4. ed. -34) Dic. de Filosofia e Cincias Cultcrals IV vol. - 4. ed. -35) Dicionrio de Pedagogia e Puericultura I vol. 36) Dicionrio de Pedagogia e Puericultura II vol. 37) Dicionrio de Pedagogia e Puericultura m vol. 38) Origem dos Grandes Erros Filosficos 39) Protgoras:~> , de Plato, com notas e comentrios. 40) , de Aristteles, com notas e comentrios. 42) Grandezas e :Misrias da Logistica. 43) Invaso Vertical dos Brbaros. 44) Erros na Filosofia da Na tureza. 45) A Sabedoria dos Principbs. 46) A Sabedoria da Unidade. 47) A Sabedoria do Ser e do Nada.

    A S . .UJt: _ Deus (provas a favor e contra a sua ex.!stncia). _ Os atributos de Deus:~> (controvrsia sbre os mesmos). _ As Trs Criticas de Kant. _ Tratado de Esquematologia - 2 vols. _ Problemtica da Filosofia Concreta. _ Teoria Geral das Tenses. _ Filosofia e Romantismo. - Dialctica Concreta. _ Interpretao do Apocalipse de So Joo. _Tao-te-King de Lau-Ts (comentado). = versos Aureos de Pitgoras (comentados) - 2 yols. _ Pginas Sublimes de So Boaventura (comentadas). _ o .;cDe Primo Principio, de Scot (comentado). _ Da Interpretao, de Aristteles (comentada) . _ As Enadas de Platino (comentadas) - 6 vols.

    Opsculos famosos de Toms de Aquino (comentados} . Os volumes subseqUentes sero oportunamente anunciados.

    OUTRAS OBRAS DO l'tiES:!IIO A1JTOR: Publicadas

    _ - 2. ed. (esgotada). - A Arte e a Vida - 2. ed . (esgotada). - ~tA Luta dos Contrrios:& - 2. ed. (esgotaqa). - Certas Subtilezas Hwnanas:& - 2. ed. (esgotada) . - - 5. ed. - 4Pginas Vrias> - 12. ed.

    TRADUOES:

  • I I

    MRIO FERREIRA DOS SANTOS t

    --

    A SABEDORIA do SER E DO NADA

    I VOLUME

    --

    EDITRA MA TESE Av. Irer, 382 (Planalto Paulista) - Tels. 35-6080 e 33-6823

    SO PAULO - BRASIL

  • \ . \

    L edlo

    \ .-

    -illVER'l't:~Cl:\ AO LEITOR Sem dvida, para a Filosofia, o vocabulrio de

    m!1.xima importncia e, sobretudo, o elemento etimol-gico da composio dos trmos. Como, na ortografia a ctual, so dispensadas certas consoantes (mudas, en-tretanto, na linguagem de hoje) , ns as conservamos apenas quando contribuem para apontar tiruos que facilitem a melhor compreenso da f-ormao :ustrica do trmo empregado, e apenas quando julgamos con-veniente chamar a ateno do leitor para les. Faze-mos esta observao smente para evitar a estranheza que possa causar a conservao de tal grafia.

    " Irio F erreira doa Snntos

    TODOS OS DffiEITOS RESERVADOS

    ~ste livro foi composto e unpresso para a EditOra 1\1A.TESE, na Grfica e Editra :\ITNOX Ltda., Av. Eng. Armando de Arruda Pe-

    reira. 665 - Jabaquara - SO P AULO.

    O Prof. Mrio Ferreira dos Santos ter-minava a correo das provas da presente obra,

    q11ando faleceu srlbitamente a 11 de abril de 1968. P11blicamos ste livro pstumo com

    profunda emoo. A EDITORA

  • NDICE

    Panorruna Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

    Da Analogia Universal . ... . .. . ..... .. .. . .. . .. . . .... . . . ... . .

    As Leis Eternas

    23

    29

    Do Ser a se e do ser ab alio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37

    Contextos Gama e Delta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

    Das Divises do Ser . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

    O Logos Spermatiks . . . .. : . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

    O um Supremo - As Oposies . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

    Problemtica da Filosofia Concreta - Substncia e Accidente em Esquemas da Filosofia Positiva Clssica . . . . . . . . . . 1Q5

    Argumentos dos Escol?-sticos em Defesa da sua tese . . . . . . . . 122

    Problemtica da Substncia 123

    Anlise Concreta da Substncia e ?o Accidente . . . . . . . . . .. . . 124

    Esclios .. .. ....... . .. .. .. . . . . . ........ . . . .... . .. . ... . ... . 128

    Teses da Filosofia Concreta sbre a Substncia e o Accidente 131

    E sclios . .. . ... . .... ... ..... . .. . ..... .. . . ......... .. .. . . . . . 136

    A Substncia e os Modos para Suarez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

    0 :; Modos da Quantidade e da Qualidade para Suarez . . . . . . . . 146 Slntese do Pensamento de Suarez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147

    A Problemtica do Acto e da Potncia em Esquemas da Filo-sofia Positiva Clssica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153

    Problemtica da Limitao do Acto pela Potncia . . . . . . . . . . . 156

    Da Limitao da Potncia pelo Acto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158

    Demonstrao da Sexta Sentena . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159

    Critica de Fuetscher . Doutrina Tomista de Acto e Potncia . . 164

    Critica e Fuetscher Teoria Tomista a Distino Real de Acto e Potncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171

    o PrOblema dos Universais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 178

    Da I.Jmita do Acto pela Potncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179

    Algumas Objees Apresentadas Tese Tomista .. . ....... . 180 C:.:rl tlca Escotista do Axioma da Multiplicao do Acto . . . . . . . 184

    Da Urdade do Acto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 7

    Passagem da Potncia ao Acto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1 8

    Anlise Dialctico-Concreta de Acto e Potncia ... .... .. . .. . . 1H7

    A Distino entre Acto e Potncia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203

    Slntese do. Critica dos Adversrios da Posio Escotista . . . . 2U4

    Critica Dialctico-Concreta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .206

    Da Natureza e da Limitao do Acto e da Potncia . . . . . . . . . . 2' 8

    Da Multiplicidade e da Unidade do Acto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 223

    Da Passagem da Potncia ao Acto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225

    Comentrios Finais ...... .. . . ...... .. .. ..... . ... . .... . .... . 226

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  • I

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    ; I

    PANORAMA GERAL

    Iniciamos ~gora a examinar intensistamente os temas matticos, alguns j abordados anteriormente. Surgira uma nova problem-tica, que, na parte sinttica, no nos permitiria oferecer resposta satisfatria. Principiaremos. por indicar o caminho para o exa-me, dentro de um rigor dialctico, de tudo o que nos falta para clarear o que obscuro, e, buscaremos, onde esto, necessriamente, os elementos dos quais carecemos para atingir o fim desejado: o de ter resposta satisfatria s perguntas especificadas pela nossa mente, e que nos inquietam at um certo ponto, e porisso, exigem solues, porque no nos sentiremos em pleno equilbrio, enquanto permanecermos nesse estado em que a mente interroga e no en-contra a resposta justa.

    Temos nos esforado, tanto quanto nos tem sido possvel, em afastar a presena do axioantropolgico na especulao filosfica. No que nos coloquemos ao lado daqueles que julgam que a nossa mente possui uma estructura totalmente outra daquela que constitui a estructura csmica, de que a nossa mente esteja abis-salmente separada de tudo mais, e que as suas construes sejam, conseqentemente, inadequadas realidad~ das coisas .

    Aqules que se colo:am nesta posio no a justificam seno pelas nossas deficincias, o que no bastante para afirmar que h entre ns e a verdade um abismo infJanquevel, insupervel pelas nossas fras. E no procede esta argumentao sbre a qual se fundamentam os que pem em dvida o valor da nossa r.1ente, por uma razo r.mito simples: porque no podem les,

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  • fundados apenas em alguns aspectos parciais e contingentes esta-belecer ou tirar concluses necessrias, porque estariam forando uma consequncia no contida nas premissas.

    Estariam, assim, tirando mais do menos, concluindo acima das possibilidades. De qualquer forma, seja qual fr a relao entre ns e a verdade das coisas, h de haver uma analogia, e se h uma analogia, h, necessriamente, um logos analogante, uma ralio, uma lei que analoga, ns e tudo mais, inclusive a prpria verdade de ns mesmos. Ora, se o ser humano no fsse defi-ciente, no encontrasse dificuldade em saber, no fsse animado pelo desejo de conhecer a verdade, no se espantaria ante as coisas do mundo, porque as desconhece, nem jamais construiria a Filosofia. Esta, surge porque precisamente o homem um ser que se admira das coisas do mundo, e de si mesmo, porque no capaz de responder imediatamente a tdas as perguntas qtle as coisas lhe propem, por'que no aquieta a sua mente quando ela se coloca perplexa ante os acontecimentos.

    Dois problemas se oferecem desde incio ao homem : se as coisas so, e finalmente, o que so as coisas. Chamavam os an-tigos a primeira de pergunta an sit, que quer dizer se , e chama-vam segunda pergunta quid sit, o que .

    Na verdade, tda filosofia humana gira em trno destas duas perguntas. Todo o af organizado, todo o esfro que o homem empreendeu tendem a responder a estas duas perguntas: se a coisas so, e o que so as coisas. Em suma, tda a Filosofia pode resu-mir-se a . E para saber o que elas so, o homem tem de conhec--las, no s na sua intimidade, mas, tambm, nas relaes que elas possam ter com as outras, e esta a razo porque tem de saber de onde elas principiam, o que as pe em causa, porque elas .;o, em que consiste o seu prprio ser, quais as relaes de semelhana que elas possam ter com outras, e tambm, as de diferena; o ser humano precisa, para saber o que as coisas so, saber aos pou-cos, na proporo de suas fras, tudo o que contribui para

  • No possvel fundando-se em uma posio filo.sfica, mes-mo no ficcionalismo mais extremado, derruir a tes~ fundamental da filosofia concreta. E tambm, no possvel, fundando-s~ em nenhum princpio racional, usar a razo para destruir as dedues e conseqncias que se seguem apodlticamente desta tese: as verdades que de um primeiro momento nio so suspei-tadas, mas que, no decorrer do tempo, pela anlise da mente sbre ste prprio juzo, ela capaz de alcanar e que so juzos tti-cos, os quais se tornam axiomticos para a anlise posterior.

    Mas a Filosofia Concreta no se completaria se eia apenas partisse ascendendo da nossa experina aos princpios. Ela ne-cessitava, tambm, percorrer a via inversa, partir dos princpios para a nossa experincia, para verificar, seguindo a via descen-dente, se os resultados se adequavam entre si, se no surgiam con-tradies, se no se imporia uma nova problemtica que pudesse pr em risco aquilo que j estava estabelecido de modo rigoroso. E o que se v, o que se prova, o que se tem mostrado na parte sinttica da Matese a validez, a validez irrefragvel das teses que, apod.iticamente, foram demonstradas naquela obra. Ento, para completar o trabal.ho que havia sido realizado na "Filowfia Concreta", ela prpria exigia que estudssemos os princpios. Surgiu, assim, a necessidade de construir a Matese da Filowfia Concreta. Aproveitamos ste trrr.o MaJese, dos gregos, no velho sentido que le tem, de mpl'ema instmo, de supremo conheci-mento, porque reconhecendo-se os princpios de tdas as coisas, das que so e das que no so, alcanaramos ao supremo conhe-cimento cabvel ao homem, accessvel aos iluminados apenas oela luz natural da nossa razo, de que seramos capazes de alca~ar . Conhecemos os nossos limites, e sbre les falaremos oportuna-mente; ns tambm sabemos da nossa grandeza e das possibilida-des da nossa inteligncia, e porisso no renunciamos ao que nosso ponto perfectvel superior, porque seria trairmos-nos, demitirmo--nos da prpria humanidade se negssemos a capacidade que tem a nossa mente de tanger as verdades, inclusive as verdades eter-nas, como j o mostramos.

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    \

    _ A Matese, dste modo, torna-se a sabedoria dos pnnc1p10s, enquanto princpios; dedica-se a examin-los e, necessriamente, teramos de concluir que stes princpios, sendo afirmao e posi-tividade, que ser, e outros, negatividade, no positividade, que no-ser, nos levariam fatalmente, construo de duas disci-plinas: a primeira, que trata do on, onto:, a Ontologia, que estu-dar o Jogos do ser enquanto ser; a outra estudaria o "logos" do n_o-ser, do Meon, a Meo11tologia. E no pararia a a Matese, por-que ns, no podendo nos afastar do humano, porque somos humanos, e a Filosofia uma construo nossa, temos de tratar o homem como um ser movido pela inteligncia e pela vontade, apto a. frustrar o que pode acontecer, a frustrar o que tem de fazer, preterindo e preferindo, realizando, portanto, escolhas, nas quais le revelar os seus juzos axiolgicos, e, conseqentemente, teramos de estudar aquilo que o homem tem de fazer, como uma conseqncia do seu entendimento e da sua vontade, porque sendo a sua vontade a atxis racional do bem, e sendo o seu entendi-mento a orxis racional da verdade, o homem, necessriamente, impulsionado por essas duas faculdades, estas duas potnas, sses dois poderes de buscar o bem, e de buscar o conhecimento da

    verdade, le, necessriamente, teria de realizar duas cincias a cincia que busca a verdade, aquela que se dedica apena: s realizaes do entendimento em tda a sua pureza, e construiria

    ~ Filosofia e Cincia Especulativas, e aquela qe uma realizao da sua vontade em busca do bem, e construiria a Filosofia e Cincia Prticas. /

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  • I

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    CAP. I

    DA ANALOGIA UNIVERSAl.

    O ser humano, graas ao seu entendimento, orxis racional da verdade, constri a cincia especulativa, e graas vontade, a orxis racional do bem, constri a cincia prtica.

    A primeira urna construo do seu entendimento, na buca da verdade; a segunda uma construo da vontade nas suas realizaes. A primeira tem seu incio no homem enquanto m,.ra-mente pensante, ao realizar as obras do seu entendimento, a se- .

    t!unda, do homem no seu drama, na sua actividade, nas suas reali-zaes. O homem, nas relaes com seus semelhantes, o homem nas suas relaes com o mundo, procura vencer e dominar, e adapt-lo s suas necessidades.

    As cincias especulativas foram chamadas de Clencias noti-cas; e as segundas, as prticas, foram chamadas as dianoticas.

    As cincias prticas, que so construdas sbre as realizaes humanas, fundam-se na vida do homem, incluindo o que le tem de fazer (de habeo (ter de) debeo) o seu dever, frustrvel, que vai construir a Deontologia, ou a cincia do dever-ser ( deon). A J:!tica, ao dedicar-se aos costumes e s normas prticas e hist-ricas, propriamente a Moral. E ligadas a essas disciplinas esto tdas aquelas que j estudamos.

    No h necessidade de nos prolongarmos na anlise da cincia especulativa e da prtica, porque j o fizemos muitas vzes. O que h necessidade de volver os nossos olhos agora para o

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  • que constitui prpriamente a matria da Matese, que o prm-dpio, o de que um trmo de certo modo procede, princpio gue podemos coqsider-lo desde os primeiros, desde o n:ais remoto de todos, o remotssimo, at queles princpios mais prximos do homem.

    Os primeiros princpios, os mais remotos, so os arkhai, os mais antigos, os principiais (os logoi arkhai ~e que falavam os pitagricos). A idia de princpio implica, necessriamente, a de principiado, porque, o princpio princpio de alguma coisa, e o principiado aqule que de certo modo principia, ou aqule que_ tem um princpio.

    H uma relao entre princpio e principiado de prioridade e posterioridade. O princpio sen:pre anterior ao principiado, que lhe posterior. Tm de ser ambos distintos, porque se , .rinctp!O e principiado fssem o mesmo, um no seria o prir.-cipio do outro, e o segundo nada :nais seria que o primeiro; portanto, no pode haver entre les univocidade, mas, tambm, entre o princpio e o principiado no pode haver um abismo que os separe totalmente, de modo que um fsse uma afirmao total-mente outra que o outro. Deve haver entre les uma conexo, .!ieve haver entre les um iogos naJogante, de forma que ao ratarmos do princpio, teremos, inevit.velmente, de nos cingirmo.s

    s leis da prioridade e da posterioricade, leis sbre as quais j tratamos na parte sinttica. Nas relaes entre princpio e prin-cipiado, regem, imperam, as leis da prioridade e da posteriori-dade, os mesmos logoi.

    Assim, partindo do principiado, temos, necessriamente, de chegar a um princpio; mas aqule que princpio no tem, necessriamente, de realizar um principiado; do mesmo modo que ao partir da posterioridade temos de chegar a um anterior, no encontramos, porm, a mesma necessidade de que ste anterior, _pra dar-se, exija, necessriamente, o posterior. Tal no quer dizer que haja anteriores que no sejam necessrios, porque os h. A anlise depois nos mostrar que os h; no podemos porm, estabelecer esta regra como um logos 11niversal. E ento

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    '\ .

    I

    verificamos, tambm, que se entre o prinCtpiO e o principiado no podemos estabelecer uma univocidade total, tambm no pode haver entre les equivocidade totaL Os dois trmos no podem !>Cr absolutamente unvocos, mas tambm no podem ser absolu-tamente equvocos, pois entre les deve haver uma conexo e algo que os assemelhe, algo que os analogue, um logos analogante .

    Como entre a prioridade e a posterioridade exige-se tambm, u:; logos analogante, e esta lei a lei da relao, porque sabemos que as relaes implicam, necessriamente, dois trmos positivos e um logos anaJogante, que o fundamento da relao, tambm, para falar-se em princpio e principiado, mister que ambos se-jam reais e distintos, e teriam de ser distintos para que um pudesse receber a razo, o logos de princpio, e o outro o Jogos de principiado. Contudo, no poderia entre les haver uma sepa-rao absoluta, porque, ento, o principiado estaria totalmente, absolutamente, desligado de seu princpio; porisso que a equi-vocidade absoluta impossvel. H necessidade que ambos se encontrem em algum ponto; les tm de ter entre si um trmo _comum, e ste aponta o logos analogante, o logoJ qt:e os analoga.

    Podemos, pois, d1egar idia de um princpio simpliciter, um princpio que no provenha de qualquer outro. ~ste prin-cpio simpliciter seria necessriamente um ser a se. Tal no im-pede que haja princpios que sejam o trmo a quo de outro, como o o ponto em relao linha, etc. Podemos ainda estudar os princpios enquanto les se do fora de ns, e enquanto les se do em ns. Os primeiros seriam o princpio da coisa, e os

    ~:.:gundos princpios da nossa cognio, por exemplo. -

    Se considerarmos o princpio, enquanto princpio na~ Q.J podemos v-l,a sob dois aspectos : o princpio quod, o prmcip10 \') que opera, e ainda podemos tom-lo como princpio quo, ~ v.: qual opera. E poderamos ainda idir princpio quo, o pelo '~ ... v qual le opera, como p~ncpio subs~anc a que um pnoctpJO q:: necessrio, e um~nt , que um princpio contingente, e um absoluto, que so o lo o as leis que regem as coisas. Se tomar-mOS'(; princpio substanci'll, o que necessrio, o gue \'a i cons-

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  • ' !

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    tituir a substncia de alguma coisa, vamos considerar ste prin-cpio como aqule que infunde um ser coisa, e ::. ste prin-cpio que chamamos cama.

    E esta causa poder, ser~ intrin~ cois~, como so as causas (;mergente, das quais tratamos na "Filosofia Concreta", ou exttn-secas a ela, como as causas predisponentes, como a agente,~(; a circunstancial, que actuam, tambm, sbre a coisa, as qua1s j ' examinamos. ~, ':"\\ ~~r ~; . _... ,\ .-..! , . r:.._

    c l c- J< 'J ._c r .,. 1 r I') Mas a forma de ~ioda pode ser dividida na subs-. t.1ncial, e na meramente~, que uma espcie da qualidade:

    A primeira. substncia apresenta-se de dois modos: a substncia _..:~ hentica (de hen,-11m) , que uma substncia sim pliciJer simples

    (como a do Ser Supremo) , que j analisamos, e a substncia };lica (de holos), que a de composio, secrmdum quid, que um princpio de tenso, que revela uma coerncia e realiza um imprio, que a distingue, pelos seus graus, wrias das outras, e que merece um estudo parte. ~

    Chegamos, ento, concluso de que, nas causas intrnse-cas e extrnsecas, encontramos algo que necessrio da coisa, sem a qual a coisa no o que ela .

    V imos, tambm, que h, nas coisas, algo que absoluto delas, que no constitui a sua tectnica, mas que a rege total-mente, que so as leis, os logoi, enquanto leis, s quis elas obe-decem infrustrvelmente, porque exercem imprio absoluto.

    Essas leis passam, por sua vez, a ser objecto de pesquisa 1 oattica. Elas regem tdas as coisas em tdas as esferas de realidade; so leis que no podem, de modo algum, serem frus -uadas. No podemos delas nos esquivar, nem ns, nem coisa alguma. So leis que regem, desde o incio, tdas as coisas; so leis principi~s, so logoi arkhai, cuja especulao em tmo delas, como dissemos, um desafio argcia humana.

    Encontraremos, assim, princpios que vo se manifestar nas quatro principais esferas, sbre as quais trabalha a nossa mente. Encontraremos leis que regem as coisas na sua onticidade. Dentre

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    e:;tas, frustrveis e no frustrveis, encontramos leis lgicas, e nelas includas, leis indefectveis, leis indesviveis, leis das quais no nos podemos afastar, se quisermos manter rectamente o nosso juw. Encontraremos leis ontolgicas, leis que regem o ser en-quanto ser, que so princpios vlid;s depois para o lgico e para o ntico e, .finalmente, as leis ~. leis que so a prpria glria e esplendor dos princpios, dos princpios supremos, do

    ...!?rinpio remotssimo, do principio do princpio.

    Buscar estas leis, descobr-las, ao mesmo tempo evidenciar a conexo que h entre elas. H uma ordem e subordinao das leis nticas s lgicas, destas s ontolgicas, e destas s matticas. Esse conhecimento revela-se-nos no como uma criao do nosso esprito, mas apenas como uma descoberta que se ilumina nossa mente. Chegamos a elas por uma intuio apofntica, por uma intuio iluminadora, _po.r uma . intuio que nos reveJ a verdade dessas leis, que no so arbitrrias, que no so tuna criao, nem do nosso entendimento, nem da nossa vontade, mas que ultrapassam a nossa vontade e o nosso entendimento, ao mes-mo tempo que imperam sbre les, como bem o sentiram Santo Agostinho e So Toms (5umma Theologica - I II 9 :90 e 95).

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  • CAP. II

    AS LEIS ETERNAS

    A arkh era a meta de tda a filosofia pr-socrtica grega, que buscava o princpio ou os princpios de tdas as coisas .

    Podemos falar em princpios prximos e princpios remotos, inclusive de um princpio remotssimo, e que princpio ltimo s pode ser por ns considerado, no no sentido da ulterioridade final, a ulterioridade que alcana o trmo final, mas, sim, o trmo micial, o trmo realmente e verdadeiramente primeiro.

    Verificamos que h princpios lgicos, c>ntolgicos e matti-cos, e que o princpio no diz, necessriamente, que le causa da coisa, mas apenas de onde a coisa principia, e que um princpio prximo, intermdio entre prximo, mais prximo t mai~ remoto, no pode ser o trmo de incio de alguma coisa tomada determi-nadamente.

    Ento, aproveitando-nos da terminologia mattica e dos con-ceitos matticos, j elaborados na parte sinttica, lembremo-nos da expresso Jrmo, que, em grego, horos, que significa um ndice de determinabilidade, algo que pode receber uma determinao ou ter uma determinao. Desta forma, trmo no s indica aquilo que tem positividade, presena, como o caso do ser, mas tam-bm pode referir-se, indicar o que no tem presena, nem afir-mativo, nem positivo, como o nada. l!ste tambm trmo, por-

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  • que tambm indica uma determinabilidade, algo que ?ode se r determinado por ns, como o que ou ao qual se recusa tda pre-sena, tda positividade, tda afirmao.

    Neste caso, o princpio do ser, considerado matticamente co-mo um trmo, seria ndice de uma de:erminabilidade, em que o princpio seria o de um trmo do qual procede algo, pois o pri-meiro princpio necessriamente ser causa eficiente.

    O conceito de princpio, tomado indeterminadamente, no exige que seja le causa de um principiado; que o ser do prin-cipiado seja necessriamente infundido pelo princpio prximo. Temos o exemplo do ponto, que trmo da linha, e se in i-ciante princpio da linha, no causa da linha. O ponto final trmo da linha, deixa de ser princpio para ser finaL 1':: f-cil compreender-se agora que um trmo s pode ser chamado de princpio quando dle, de certo modo, procede, e a causa, que infunde ser a alguma coisa, tambm princpio, mas apenas no seu aspecto genrico, pois a caw;a uma espcie de princpio . .

    Conseqentemente, o princpio nos apresenta uma srie de as-pectos que podemos classificar segundo os contrrios, e tambm segundo os contraditrios. Por exemplo, tomemos o prindpip que causa, e o princpio, que no causa de alguma coisa. Do primeiro, temos, ento, o princpio quo, o princpio pelo qual algo opera.

    Vimos que h o substancial e o accidenta1, o que correspon-de s chamadas causas intrnsecas e ext:insecas, ou emergentes e predisponentes, das quais j tratamos .

    Temos de estabelecer a diferena entre pnnc1p10 per se e princpio per accidens. So conceitos perfeitame:J.te claros, s6re os quais j tratamos, porque j falamos em causa5 per se e causas per accidens. Tda causa per se ou per accidens genericamente um princpio, mas espcie nas suas diferenas de ser per .re ou de ser per accidens. Mas, h outro exemplo fora das causas, C]Uando o princpio no verdadeiramer.te causa, quando o prin-cpio apenas um trmo iniciante.

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    .. I

    Tomemos alguns postulados da Ma tese j examinados, como : a afirmao princpio per se da afirmao; a negao prin-pio per se da negao. Estes dois axiom~s podem ser enufl: ciados de outros modos : a afirmao princpio per se da afir-mao, princpio per accidens da negao; ou seja, de uma afirmao s pode por accidente surgir uma negao. Da de- correriam stes dois novos postulados: a afirmao pode ser prin-c{Eio per accidem da negao; a negao pode ser princpio per uccidens da afirmao.

    Estes dois novos axiomas vo encontrar demonstraes, por-que sendo a afirmao princpio per se da afirmao, no podera ser princpio da ::J.egao, a no ser pet accidens, e em segundo lugar, porque encontramos na experincia, e tambm como . a decorrncia rigorosa das nossas investigaes especulativas, exem-plos para corroborar ste postulado. Assim, o nada priva ti\ o s pode decorrer do ser per accidem, nunca per re, como vimos ao tratar do nada.

    Pergunta-se : a presena pode ,;er princpio per accidens e uma privao? A presena pode privar uma coisa de alguma c i-

    s:~ , mas, per accidens, porque ela, como presena, d posse, mas a posse pode provocar um afastamento, urna privao.

    H um adgio dialctico, que o seguinte: q11od-libe1 de quolibet. Alguma coisa, que se diz de algunia coisa, ou se diz afirmando ou se diz negando. Ora, sabemos perfeitamente qual a distino do juzo, como uma espcie de proposio de um.>. proposio, tomada em seu sentido amplo. No juizo se d uma

    s~ntena. O trmo, que emite um juzo, sentencia, julga, o q11od lrbet, que se empresta a quolibet, algo que afirma como ade-quado a le, ou nega a sua adequao. E o juizo ser, conse-qentemente, afirmativo no primeiro caso, e negativo no segundo. Mas o que de notar, e importante, que o que se afirma ou se n:ga de alguma coisa, quando se afirma, alega-se a sua adequa-ao, e quando se nega, nega-se essa adequao. E sse juzo ser verdadeiro ou falso, se realmente essa adequao se der, ou falso em caso contrrio, como tambm ser falso se o negado como adequado no o .

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  • r

    Ao contrrio, seria adequado e ser o negativo verdadeiro, quando a inadequao postulada realmente se der. Ora,_ iro possvel que, simultneamente e sob o mesmo aspecto, aquilo que um trmo cognoscente afirme como adequado possa ser a mesma .coisa do que a afirmao da sua inadequao; e a ~az~o, muito simples, porque, ento, estaramos em face de dots JUIZOS: u~ .afirmativo e outro negativo, ambos sob o mesmo aspecto e st multneamente, em que um anularia completamente o outro, por que o que negasse negaria a afirmao, e o que afirmasse afir maria a negao.

    Conseqentemente, anular-se-iam; e eis as razes porque entre os contraditrios no pode haver formalmente um trmo, salvo quando sses contraditrios no so perfeitos; isto , quando O que afirma adequar-se a alguma coisa no se diz sob o mesmo aspecto quando se nega. Assim pode-se dizer que_ uma coisa de , .certo modo se adequa ou no se adequa. Quer dtzer, adequa-se .e.m parte, e noutra parte no se adequa, mas, neste caso, veremos -que no o mesmo aspecto. Vemos que o que afirmamos, que se adequa, um aspecto, porque em outro aspecto no __ se _adeq~. De maneira que a terceira posio, que sena esta, Ja nao sena propriamente uma contradio, porque o que se afirma como ade-quado, ou se nega como tal, no o mesmo sob o mes~o asp~c~o. De maneira que no h possibilidade de uma terceua postao, -desde que se obedeam as normas dste princpio lgico_ que se chama princpio de no-contradio, que decor-re, _como_ vunos na parte sinttica, da prpria l~i da unidade. Mats adtante tere mos oportunidade de ver que ste princpio _~ princi~i~ onto lgico, que rege a Lgica, e tambm um pnnClpto matet!Co, ou est subordi~ado a um princpio mattico, que o princpio da unidade, sbre o qual j temos tratado e ainda o faremos melhor.

    Podemos distribuir numa classificao os princpios em qua-. tro regies: princpios matticos, ontolgicos, lgicos e nticos.

    Os princpios rnatticos so aqules que correspondem aos logoi al'khai, so os primeiros princpios.

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    Os princpios ontolgicos so aqules que regem o ser, so as leis do ser. Aqui teramos, tambm, os princpios meontolgicos,

    __,. que so as leis que decorrem do no-ser, da privao, que corres-pondem tambm aos ontolgicos, e os lgicos so os princpios que regem a Lgica, como nesis humana, embora essa nesis este-ja subordinada aos princpios subordinantes superiores ontolgicos e matticos, de modo a impedir que ela se torne apenas uma l-

    - _g.lca_ meramente afectiva, como acontece com o logicizar dos ro mnticos, que se deixam arrastar pelos sentimentos, julgando que a validez afectiva mais poderosa do que a mera validez lgica. A verdadeira Lgica escorreita e purificada daquelas chamadas capas hilticas, que so afectivas, daquelas aderncias infantis do homem, que podem perturbar o bom desenvolvimento do racio-cnio, etc.

    E, finalmente, os princpios nticos, que se referem ao ente na sua singularidade, no ao ente enquanto ente, mas ao ente en quanto ste ente. Quer dizer, as . leis que regem o ser na sua singularidade, como num indivduo humano. Dentre estas leis, esto as do seu carcter, do seu temperamento e da sua personali-dade, para exemplificar. Estas leis so leis de certo modo frustr-veis, so leis que podem sofrer modificaes, e no so como as outras, imutveis, que so eternas.

    Assim, as leis matticas, as leis ontolgicas, inclusive as leis lgicas, so eternas. Entre as lgicas, inclumos, tambm, os princpios, que so criteriolgicos, e os princpios matemticos, porque a Matemtica uma Lgica tambm. Na onticidade, o ente singular, alm de ser regido pelas leis ontolgicas e matti-cas, tambm regido pelas que lhe so peculiares, que pertencem s suas condies singulares, ou leis tambm que estabelece com outros para a sua convenincia. Estas leis podem sofrer variaes, so frustr \'eis ( l ) .

    (1 ) Na obra Sabedoria. das Leis demonstraremos apoditica-mente a valiclez dessas postulaes que ora apresentamos.

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  • .!

    As leis eternas, que regem a anterioridade, no tm um co-mo, porque mesmo se no houvesse nenhum trmo q_ue tives.se anterioridade sbre outro trmo, haveria a lei que regena um ter-mo com anterioridade a outro. As leis da anterioridade e da pos-terioridade no regeriam, mas se houver trmos reais sero regidos por essas leis.

    Este ponto importante uma grande contribuio pitagrico-platnica, que ningum, a no ser com _apelos ~nsanidade _men-tal, mas refutveis pela prpria insanidade, podera lanar m~o. de argumentos contrrios, por carncia total de argumentos senos, para op-los a essas afirmaes.

    Assim tambm a lei da afirmao e da negao, da qual j tratamos na parte sinttica, so eternas desde todo sempre, coeter-nas com o Ser Supremo, com o ser primeiro, com o ser a se, co~ o ser imprincipiado, com aqule que o princpio de tdas as COI-sas, conjuntamente com le.

    Coeternamente com le esto tdas essas leis que os plat-nicos chamavam razes etemas, cujo contedo pode alcanar o !ler humano. To ms de Aquino, reiteiradamente na Suma T eq-lgica, reconhece que sse saber possvel de ser construdo e possvel de ser alcanado pelo homem.

    De maneira que, sendo a Matese a sabedoria dos princpios, ela a sabedoria tambm das razes eternas, das razes que regem, desde todo o sempre, coetemas com o Ser Supremo. Essas razes alcanamo-las com plena apoditicidade, sem o menor perigo, sem o menor risco de rro.

    ;\ssim, tambm, em trno do juzo, podemos chegar a uma lei que eterna, um JogoJ eterno. Se um trmo cogooscen~e afir: ma outro, ou nega outro, a sua afirmao ou a sua negaao sera verdadeira ou falsa, segundo a adequao ou no adequao do afirmado ou do negado. Quer dizer, estas leis independem do antropolgico, como a anterioridade e a posterior~dade no esco condicionadas pelo antropolgico. Vimos ?erfe1tamente que o antropolgico um caminho, e temos de segui-lo, mas tal no quer dizer que estejamos construindo um mundo ao sabor dos

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    nossos apetites. Estamos descobrindo um mundo que no con-traria o que constitui a estructura do nosso esprito, porque encon-tramos que, na natureza, as coisas se do ;egundo a obedincia destas mesmas leis. Tdas essas leis decorrem das primeiras leis, dos primeiros princpios, necessriamente, e no poderia ser de outro modo. ( 1 )

    Distinguido o princpio, sabemos que ste, quando causa, m'funde ser no principiado, que passa a chamar-se efeito, por-que efectuado pelas suas causas.

    Ser presena, afirma'o, positividade, posse. No--ser ausncia, negao, no-positividade, no-posse. Quando estudamos as div1ses do ser, verificamos que podamos dividir de maneira perfeita, obedecendo as regras da diviso, o ser em " Je e ser ab alio, o ser que princpio de si mesmo, e o que tem um princpio causal em outro. O primeiro um ser que tem c:m si mesmo a sua razo d~ ser; o segundo um ser que no tendo em si mesmo a sua razo de ser, no tem a razo sufidente de ser, e no tem a razo eficiente tambm de ser; necessita de um outro que o produza.

    O primeiro um ser que no participa de outro para sel, enquanto que o segundo um ser participao~e. O primeiro nm ser absolutamente necessrio, simplesmente necessano, en-quanto que o segundo um ser contingente. O primeiro um ;er improduzido, porque no wn produto de outro, enquanto que o segundo um ser produzido.

    (1) Essas leis no so criadas a priori, arbitrriamente, mas descobertas. Elas se nos desvelam e mostram que regem o pen-samento 1a nesis) verdadeiro, exacto. Por outro lao, a reali-dade tambm as obedece. A realidade fora de ns verdadeira e obedece, em suas estructuras, a essas mesmas leis, que podemos frus-trar em parte pela vontade, mas calmos no erro, na falsidade. Essa 'dequao entre as leis que regem a nesis exac:a e a realidade mos-tra a adequao que h entre ns, quando seguimos os caminhos ver-dadeiros da sabedQria, e a realidade, pois esta nunca desmente, nem refuta aquelas leis. lll o que provamos no 2.o vol. desta obra.

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    I I

    O primeiro ter de ser necessriamente um ser incondicio-nado, no dependendo de uma condio para ser, enquanto o segundo ser sempre um ser condicionado, tem uma condio para ser. O primeiro ser sempre um ser eterno, enquanto o segundo um ser que conhece sucesso, um ser que se d na su-cesso, um ser que tem temporariedade. O primeiro ser um ser necessriamente infinito, enquanto que o segundo ser necess-riamente um ser finito.

    O ser a se ser necessriamente um ser incriado, enquanto o ser ab alio ser necessriamente criado. O ser a se ser o criador e o ser ab alio a criatura. O ser a se ser um ser independente, o ser ab alio ser um ser dependente.

    Veremos ainda mais que o ser a se, que para os gregos auts, o ipsum, o prprio ser, e o ser ab alio, que o ~Jls (outro) , no tem esta ipseidade.

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    ' CAP. III

    DO SER A SE E DO SER AB AUO

    O ser a se, como princpio em si mesmo, improduzido, ser necessrio, o ipsttm esse (no grego, antos), le mesmo porque absolutamente simples, no produto de uma cooperao das causas, nem de uma causa. A sua. tectnica no constihlida de estructuras distintas, de uma estructura hiltica e de uma estruc-tura eidtica, que lhe dem consistncia.

    ~le existencialmente apenas o que essencialmente, para usarmos a linguagem aristotlica. 1! um ser que , portanto, sob todos os aspectos, le mesmo.

    Os atributos, que nle captemos ou determinemos, em n:.tda o limitam. So apenas aspectos, que adequamos aos nossos es-quemas; ou melhor, adequamos os nossos esquemas s proprieda-des, aos atributos que le deve ter, que so o testemunho de si mesmo. ~ste ser, portanto, sendo improduzido, no tem um como, um ser que sempre foi .

    Ora, distinto j o ser ab alio, porque ste produzido, um ser que recebe o seu ser de outro, um ser conseqentemente cau-sado, enquanto que o primeiro incausado. No um i pmm esse, . porque composto, pois a sua simplicidade no pode ser seno relativa a um qrlid, e no absolutamente simples, ou sim-p_liciler simples, .como o o. autos, o i ps11m esse, o ser a se.

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  • fsse ser ab alio o aLter do latim, allos do grego, outro, o ser outro, que necessita de um outro distinto dle para 9ue seja, por
  • i I

    . I

    I I

    J o mesmo no se d com o ser ab alio, que, por ser com-posto, por sofrer de privaes, de ausncias, um imperfeito. Se caso, alguma vez, podemos apontar-lhe alguma perfeio, essa ser ucundum quid, ser relativa, e jamais poder ser absoluta.

    Por sua vez, o ser a se, como simplesmente ser na sua m-xtma simplesmente, porque apenas le mesmo, , conseqc:nte-mente, o mximo absoluto, enquano que o ser ab alio s poderia receber uma atribuio mxima sob um aspecto relativo. Seria mximo Jecundum quid, porque, de qualquer forma, um ser mi-nimalizado, um ser do qual dle se ausenta alguma perfeio de ser, , portanto, piethos.

    O ser a se tem de estar na plenitude da glria de ser, j que nle no h nenhuma deficincia, e le infinitamente ser. lHe tem de ser, conseqentemente, acto em tda purez~. acto puro, testemunho de tda a sua glria, afirmando-se na sua simpli-cidade, na. sua plt:nitude actual.

    Mas j o ser ab alio um ser pelas suas deficincias. Como , pode actualizar as suas possibilidades, como um ser composto

    de actualidade e de potncia, s pode ser, quando muito, um acto hbrido, um acto com essa hibridez de acto e de potncia, no da potncia activa apenas, mas, tambm, da potncia passiva, da potncia capaz de sofrer determinaes, e no apenas a que apta para determinar que potncia activa. Mas j o ser a se no pode ter potncia passiva, no pode ter em si a capacidade de ser determinado, porque, ento, receberia novos modos perfec-tivos de ser. No seria aqule ser na simplicidade absoluta e na glria de ser, e, ademais, seria composto, porque teria uma po-tncia, uma parte ainda apta a receber determinaes formais, e no seria aquela simplicidade de que falamos .

    Conseqentemente, sendo acto puro, s pode receber uma po-tncia activa, uma cap').cidade de determinar, cuja potncia. decorre d~. sua plenitude actual. No pode ser um ser de potncia pas-siva, um ser capaz de sofrer determinaes. Como um decor-rncia tambm de tudo o que estudamos, o ser a se tem de ser um ser proficiente, e a sua proficincia absolutamente simples.

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    t a proficincia mxima, enquanto que o ser ai; alio um ser deficiente, um ser que tem uma proficincia apenas relativa, um misto de deficincia, porque nle falta, porque carece de ulte-tiores aspectos perfectivos do ser. Ora, como ser ab alio um ser que provm de outw necessriamente, e como ns j prova-mos a impossibilidade de uma srie infinita, o princpio, de onde comea a ser, aqule princpio que infundir a sse ser tudo quanto tem, s pode ser o ser a se . Este criador, enquanto o ser ab alio criatura, criado.

    Todos stes predicados, que vamos apontando num contexto c noutro, so predicados mateticamente necessrios, porque ba:;ta que partamos de uma posio mattica, seguindo o rumo inicial de uma condicional, e os nossos raciocnios levariam, apoditica-mente, a essas conseqencias. Seno, vejamos : se h um ser a se, deve le possuir os predicados que alinhamos. :Esses predicados decorrem, necessriamente, da S'.la prpria natureza. Se h um ser ab alio, o mesmo acontece. No se poderia dizer que ao ser a se faltassem tais predicados, porque chegamos a le como a um ser necessrio, em face da impossibilidade absoluta do nada

    absoluto.

    J percorremos a via que nos levou a. le, mas, aqui, h um ponto importante, porque nem todos os pre~icados poder-o ser predicados seno em determinadas situae.>. Assim, o ser ab alio,

    ~e h, ser um ser sempre produzido, contingente, finito, criado, criatura, dependente, ser um ser condicionado, ser um ser de durao sucessiva, embora possa alcanar a eviternidade.

    No podemos, porm, concluir que, necessriamente, deva haver um ser ab alio. Sabemos que h o ser ab alio, temos a ex-perincia dle. No encontramos, porm, ainda uma razo . que dt ~ necessidade do seu surgimento.

    Poderia apenas haver o ser a se, sem que ti-vesse surgido o ser ab alio. No encontramos, ainda, que o ser a se tenha de oecessriamente produzi r o ser rrb alio. Nle no encontramos ainda uma razo de necessidade; portanto, no encontramos, ain-ciJ., a razo de que le seja necessriamente criado-\, . seno EC:iador

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  • como potncia activa, porque se no surgtsse o ser ab alio no haveria criatura, r:o haveria o ser criado, e no haveria, conse-qentemente, a criao, e o ser a se seria apenas potencialmente criador. Mais esta potencialidade no uma potencialidade pas-siva e sim activa, porque a sua capacidade de criar estaria contida na eminncia do seu ser, estaria contida no absoluto de seu poder, porque le omnipotente, necessriamente. Teremos, para afir-mar que a criao necessria, de encontrar ste nexo de necess i-dade.

    A omnipotncia do ser a se leva-nos, tambm, a simultnea-mente captar o predicado da proficincia simpliter simples. T:ste proficiente, enquanto o ser ab alio, deficiente, cuja proficin-cia apenas relativa. Tambm captamos que o ser a se, alm da eminncia simpliciter, um ser que no tem gradatividadc de ser. E um ser na plenitude da st.:a intensidade mxima de ser, enqu:~.nto o ser ab alio apresenta gradatividade.

    Podemos encontrar sres ab alio sem gradatividade? De an-temo podemos responder que no. Mas cabe um esclarecimen-to. Deve-se conceber apenas como entes ab alio os entes de ra-zo, que criamos, como o gnero e a espcie? !stes no admitem gradatividade enquanto gnero e espcie, e enq"uanto tais no ;o entes meramente dependentes, porque so esguemas que captamos das coisas, os quais enquanto eide, pertencem aos arithmoi arkbai, como teremos oportunidade de ver, porque se no captssemos o gnero animal, ste, que tem fundamento real, por ser um scibile, seria captvel por outro ser inteligente. Pelo facto de serem en-tes de razo, e no se darem o gnero e a espcie aqui e agora r "ali vai a Humanidade", "ali vai a Animal idade"), tal no quer dizer que no tenham fundamento in 1e, nem validez anJe rem, validez independente da cognoscncia humana. Ontologicamente, so entes do contexto alfa. Como eide, tm uma realidade ante rem, e so eternos, e da ordem do ser a se. Foi o que j demons-tramos, e ainda demonstraremos.

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    AS QUESTOES MAL COLOCADAS

    Enquanto verificamos que o ser a se r~o pode mudar, porque tda e qualquer mudana seria para uma deficincia, para menos, ou para o nada, o que seria absurdo em face da sua infinitude, da sua omnipotn:ia, notamos que, no conrcxto beta, os sres so gradativos, apresentam escalaridades.

    ' Os entes do contexto beta so entes gradativos, porque apre-S\:ntam um grau de ser, de intensidade de ser, apresentam graus de perfectibilizao, e tambtn mutaes, porque o que caracteriza, precisamente, c ser dss:: contexto a mutabilidade, porque um :,er hbrido de acto e de potncia, no s activa, que pertence a ste acto, mas, tamcm, da passiva, capacidade de sofrer determinaes.

    Ora, o fa:to de ns, dentro do contexto beta, ao qua r-er-tcncemos, e no qual somos, sermos capazes de construir entes que uo apresentem gradatividade, entes tomados in indivisibili, como so os gneros e as espcies, entes de razo com fundamento re, &. sua no gradatividade est no esquema eidtco-notico que,~dles formamos, e que corresponde forma exemplar do contexto alfa .

    Tda predicao, que estabelecemos no contexto alfa. uma predicao necessria simpliciler, urna predicao absoluta, en quanto que a predicao que fazemos no contexto beta uma pre-c:iicao hipote~icamente necessria, e sempre contingente, como j evidenciamos nos volumes anteriores.

    As verdades eternas, as idias eternas dos platnicos, os a1ith-m.oi arkhai, os pantes togoi dos pitagricos pertencem ao contexto c.lfa,

  • , I I

    correr por natureza ( necessramente) movimento, e j estamos no contexto aJfa. O correr e o movimento j esto sendo toma-dos incomutvelmente.

    Podemos, ento, dizer ontologicamente: o correr movi-mento. Dsse modo, chegamos a uma verdade ontolgica, que

    . no tem mais gradatividade, porque o que tem gradatividade ~ h te correr, ste movimento que se d, no o correr eideticamen-te, enquanto movimento. Ento alcanamos, assim, a uma idia eterna, porque poderia no surgir o correr, poderamos admitir um estado em que no h nenhum correr, nenhum movimento, plena imutabilidade. Mas o correr um Jcibile, um intelegvel, pois poder-se-ia pensar na aco de correr, e esta seria um movi-mentar-se, um transladar-se de um trmo a outro trmo fora do primeiro, o percorrer de uma via. Estas idias seriam captveis por um ser inteligente, e ste poderia dizer: se houver um correr, necessriamente, ser um movimento, ser um transladar-se de um tnno, numa via, para outro trmo.

    Quando encontramos entidades no gradativas no contexto beta so reduzidas a esquemas do contexto alfa. O contexto alfa o contexto da imutabilidade, e o beta da mutabilidade.

    Os esquemas eidticos-noticos _imutveis, construdos no contexto beta, tornam-se tais, porque so transferidos por ns pa-ta o contexto alfa, to~nando-.se, assim, idias eternas ou participa-es noticas dos arithmi arkhai ou logoi arkhai ou panteJ logoi, segundo fr a sua classificao.

    O ser a Je tambm um ser in Je, .enquanto que o ser ab alio f.Ode ser i11 Je, e tambm in alio, em outro. ~. sobretudo, aseitaJ, um ser, portanto, que .tem perseidade, imcidade e aseitaJ, .en-l)Uanto que o ser do contexto beta pode ter perseidade, pode ter i11sidade; rio tem, ;porm, aseitas.

    Nq coutexto alfa, .. estamos em perfeita univocidade, o idem 1 eJJe; enquanto; no ro111exto beta, estamos na analogia e na equi-,.vocidade.

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    Como o ser constituinte do contexto beta um deficiente, , conseqentemente, um bem relativo, e tambm um mal relativo. O mal absoluto impossvel, po:que seria nada absoluto.

    O ser do contexto a Jer, por sua plenitude de ser, no pode, por no sofrer qualquer deficincia, ser mau. ~ um ser absolu-tamente bom, porque absolutamente ser, como o demonstramos em outras passagens. Conseqentemente, um bem absoluto . Ns aspiramos ao bem absoluto, aspiramos quele bem sem defi-cincia, o que nos revela que anelamos ao ser a se, princpio e fim de tdas as coisas.

    O ser a Je tem necessriamente em si, intrinsecamente, a prpria necessidade cle existir, sem qualquer carncia de outro, enquanto que o ser ab alio, por ser contingente, no tem a neces-sidade intrnseca de existir.

    Como o ser n se no tem necessidade de outro para extstlr, a sua positividade de ser ad.Jncia, de ad.Jum, verbo que significa o testemunho afirmativo de si mesmo por si mesmo, pois pre-.sena implica uma dualidade, uma relao de dois tnnos: pre-sena testemunhar-se a alguma coisa, enquanto que adJncia no exige esta relao.

    Os sres do contexto ab alio constituem o coJmoJ, pois stes entes esto ordenados, regidos por lei, enquanto que o contexto d se o contexto da identidade, enquanto que o contexto ab alio da alteridade.

    No contexto a se, temos o ser efectivo, a efectibiiitas, a efec-tibilidade na sua pujana eminenciai; no contexto beta, o efecti-YO, o efeito, o materiado, o formado, o ser que surge da informa-o de uma potncia, da matria.

    O contexto alfa o contexto do Jim, da mera afirmao, en-quanto, que, no contexto beta, temos a afirmao e tambm a ne-gao, temos a simultaneidade da afirmao e da negao, o sic et 11011.

    O ser a Je . um ser que no participa de outro para ser; um ser participado, enquanto que o se r ab alio um ser pa rti -(ipante.

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  • Chegamos, assim, a uma sene de predicados atribuveis ao ~n pertencente a cada contexto, e stes predicados constituem 21-go da sua essncia, porque no nos interessamos com os pred;ca-dos meramente accidentais, mas, sim, com aqules que, de certo modo, referem-se ao seu aspecto genrico ou especfico, ou s suas diferenas especficas ou s suas propriedades. No h necessi-dade de falar dos aspectos meramente accidentais, mas h neces-sidade, sim, de dizer que s podemos predicar accidentes ao ente do contexto beta, e jamais w ente do contexto alfa.

    V-se, assim, que a predicao que se fz no contexto nlfa uma predicao necessria rimplicittr, uma predicao absoluta., porque, de modo absoluto, tal ser tem de ser um ser improduzido, no pode de modo algum admitir o seu contrrio, no se poder r.tribuir-lhe predicados do contexto beta, seno analgicamente, e sempre em sentido perfectivo mximo. No podemos, por exem-plo, compreender um ser fi se que no seja simpiiciter necessrio. No pode ser um ser contingente, no podemos entend-lo a nio ser como ipsum eJse, e no como um alter, como aliud. Nio pode ser dependente de outro, no pode ser um ser principiado, mas, sim, imprincipiado; no pode ser hbrido de acto e potncia, uo pode ser imperfeito, no pode ser deficiente, tem de ter a mxima proficincia; no pode ser determinado por urna necessi-dade, porque ento esta estaria fora dle; tem de ser de liberdade absoluta e de liberdade actual, enquanto que o ser do contexto beta s pode conhecer uma liberdade relativa, uma liberdade po-tencial, porque est ameaado sempre da coaco, que de certo modo o acompanha, enquanto que o Ser Supremo, o ser do contexto alfa, no pode sofrer coaces de outros, porque no h outros que dle independam, pois os do contexto beta dle dependem, dle recebem o ser, e no :> limitam, no o constrangem, no o coagem. De forma que todos stes conceitos, como divindade, crectibilidade, afirmatividade, bem absoluto, princpio primeiro, c fim ltimo de tdas as coisas, so atributos que decorrem, ne-cessriamente, do prprio tidos do ser a re.

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    Ento, podemos concluir: se h um ser a se, le, necessria-mente, ter todos stes 1tributos; como, S(: h o ser ab alio, le, necessriamente, ter os seus atributos. Ora, h o ser ab alio, ns o sabemos pela experincia; evidente que le h.

    Chegamos necessidade do ser a Je, seguindo os caminhos que a Filosofia Concreta" nos indicou. Portanto, o ser a se ter de ter, necessriamente, sses atributos. Conseqentemente, che-b~do a ste ponto, podemos abrir o caminho para comparaes, deduc5es, quando, dialecticamente, trabalhamos apenas com sses dois contextos, alfa e bel

  • ' i I i

    . I

    nos encontraramos em face de contradies, pela inpossibilid.tde de atribuir a ste ser predicados que pert::nam apenas aos sres do contexto bet~. Inversamente o mesmo se daria se pretends-semos postular a incondicionalidade ao ser contir.gente; inevit-velmente esta questo mal colocada levaria a re!ultados apor-ticos.

    As definies, que .;e derem de tudo quanto le refere a um contexto e a ot..:tro, tm de obedecerem ao sentido dsses predi-c.ados, porque, do contrrio, elas falsearo. Ns no podemos definir um ser hipoteticamente necessrio :s um S!r do contexto beta pode ser hipoteticamente necessrio), dizendo que le um ser que pode existir e que no pode no existir. O no poder no existir s poderia ser tomado co:1dicionadamente, nunca porm, incondicionadamente. Uma questo dessa espcie S!ria desde in-cio mal colocada.

    E fcil notar quando uma questo filos:>fica estd mal colocada, e a razo pela qual no passvel de wna soluo jJsta, e porque permanece em estado aportico. A confu;o ente~ os contextos, e o que caracteriza cada um, tem sido uma das ra:es principais destas dificuldades tericas.

    Podemos encontrar no contexto beta os predi:ados comut-vds, que correspondem aos incomutveis pertencent:s ao contexto alfa, na sua infinitude, na sua pureza, que ;o aqu:es que permi-tem uma reducio-eidtic-)-mattica, como o "corre: um movi-mento", que poce ser reduzido, eideticamente. de nodo a tornar--se uma verdade eterna.

    Demos vrios exemplos de qu::stes mal colocachs, como a do mal, e em trno dste seria uma questo mal colonda se nos co-locssemos na seguinte posio : se tudo tem princpio no Ser Supremo, num ser primeiro, num ser a u , o mal, remotamentt pelo menos, ted o seu ?rincpio no Ser Supremo. esta uma questo que, colocada dste modo, levar a uma stuao apor-cica insolvel.

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    No entanto, se partirmos da distino entre princpio per se e princpio per accidens, v-se que o mal no pode ter um prin-dpio pe1 se, mas, sim, um principio per acdens, por que tudo quanto h ser, e tudo quanto h bom. O mal s pode ser produto de uma privao, s pode ser produto de uma ausncia, ou de uma oposio, uma antbase, na qual o ser positivo e bom possa, per accidem, prejudicar ou ofender a convenincia de al-guma natureza tomada esttica, ou dinmica ou cinemticamente; nestas condies, o mal pode ter um princpio per accidem, nunca um princpio per se, porque, do contrrio, sse princpio devera ser o nada absoluto, j descartado.

    Uma vez que se coloque o problema do mal em trmos dis-tintos, sse problema toma-se insolvel. As longas polmicas que se travaram e se travam, a quantidade imensa de trabalhos escritos sbre o mal, levando cada vez maior confuso sbre o tema estri-bam-se nesta m colocao do problema. A questo, sendo bem wlocada, a soluo normal, verdadeira e apod1tica, surge inevit-Yelrnente.

    Podemos dizer que se no solucionamos tdas as questes ilosficas, solucionamos a sua quase totalidade, seguindo os ru-mos da Matese e da Dialctica Concreta, bastando apenas rectificar a colocao do problema, e imediatamente transparece a soluo razovel, perfeita, apodtica.

    Se algum colocar a possibilidade de uma unidade simplici-ter simples, dentro do contexto beta, esta questo j falsa de ante-mo. Ela s levar o pensamento a estados aporticos, porque impossvel ao ser dependente, ao ser finito, ao ser contingente, ser 2bsolutamente simples. Tambm quem procurasse o valor abso-luto num ser finito, colocaria mal a sua questo. Quem pro-curasse, na magnitude transcendental, um ser ab alio, colocaria mal a sua questo, como tambm quem procurasse a identidade absoluta num ser daquele contexto.

    De maneira que, comparando sses dois contextos, traba-lhando com os dois, encontramos solues para inmeros proble-mas.

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    -------------------~~----------------

  • I,

    Tomemos alguns conceitos que so predicados, tanto de um contexto como de outro, que exijam, necessriamente, um ao outro, e aqules predicados que no exijam seu contrrio. Assim, a Identidade poderia dar-se plenamente com o Ser Supremo, sem n~cessidade de uma semelhana ou .uma diferena em sentido ntico. O bem absoluto poderia dar-se sem a necessidade do bem relativo, efectuado nticamente. A necessidade intrnseca de existir do ser ct se poderia dar-se sem a contingncia intrnseca de existir do ser c:.b alio, nticamente dado. Bastaria que no houvesse a cria~o , que no surgisse a criatura, para que uma srie dsses predicados no se desse mais in re, nticamente fundados.

    Partindo da observao do contexto beta, verificamos que sres contingentes, sres finitos, no s se apresentam como plura-lidades ; encontramos singularidades, multiplicao de singulari-dades numa espcie, encontramos monas e pollys, e vemos que o c.onceito de monas, de um singular, e de pollys de muitos, de plu-ralidade de singulares, no se excluem. Ambos podem ser po-sitivos, e ambos podem dar-se simultneamente. Assim podemos notar entes de uma mesma espcie na sua singularidade, como tam-bm tom-los numericamente no seu conjunto, na sua multiplici-dade.

    '

    Podemos verificar que, dentro do contexto beta, podemos "ornar os diversos predicados sob stes dois aspectos: sob o aspecto

    d~ monas e sob o aspecto de pollys, isto , como um s, tomado na sua singularidade, e, como muitos, o que nos vai permitir a cons-lruo de uma srie de conceitos, que so precises das classifica-es, fundadas nas semelhanas no meramente accideotais, mas nas semelhanas essenciais, necessrias dsses entes.

    Dentro do campo do ser ab alio no h nenhum problema, porque a experincia suficiente para provar que tal se d.

    Quanto s relaes que se formam entre o um e o mltiplo, Eutre a parte e o todo, estudamos na parte sinttica, e no h dificuldades na aplicao e no estudo das leis que regem a tota-

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    lidade, a sene, o sistema, o universo, tomados dentro de uma re gi.o, dentro de uma esfera, etc., como analisamos na pentadia-lctica.

    Restaria agora saber se tambm podemos encontrar no cmztex-to alfa uma dualidade analgica que se observa no contexto beta.

    ' o contexto alfa refere-se ao ser a se, e ste o idem esse, o i pmm esse, o auts, que aparece para ns como algo moodico, como algo absolutamente um, primeiro, fonte e origem de tdas ::s coisas. Mas se observarmos alguns dos predicados, como o de agente, necessriamente ste predicado implica o agir, e, necess riamente, se h uma aco, um pa: iente, porque um agir, ou me-lhor um actuar, que no realize uma aco, sendo esta uma modal de algum ser qc1e a sofre, e sem o paciente, todo sse actuar seria sustentado em nada, s.eria nada. Existindo o agir do agente exige, necessriamente, que le esteja em acto. Ora, a: idia de criao implica o agir ad extra do agente, a aco, e o pacienL

    ~endo o ser a se criador apto a realizar a criao.

    Vemos, pas, que, no acto da criao, h um agir ad extra, realizado pelo criador como agente, e esta aco vai consistir numa determinao de uma determinabilidade, exigindo um determinL-vel que seja dete~ado. Mas o notvel que qualquer aco eoquauto tal s pode dar-se ad extra. A criao uma ac ), do contrrio no se daria. Criar realizar outro distinto de si, pois vimos que todo principiado distingue-se realmente do seu principio, e a criao ser um prir:cipiado e, conseqentemente, o agente realizar uma determinao, ou determinaes, que eram possibilidades que se actualizam. Portanto, h uma seleco que

    ~e processa por preferna e preterio, porque vai preferir de-terminadas determinaes, e preterir outras determinaes, por-que se vamos admitir que o Ser Supremo s poderia determinar determinadas determinaes, sem haver o acto selectivo, sem ha-ver a preferncia e a preterio, o acto da criao seria um acto

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  • necessano, e no livre, pois no poderia escolher entre futuros contingentes, j que a criatura um futum contingente, alguma coisa que se actualiza na criao.

    Neste caso, ter-se- de admitir, no Criador, duas faculdades: a primeira, o poder criador, o poder de actuar, alm do de agir. A omnipotncia implica, necessriamente, ste poder de agir, mas, tambm, o poder de escolher, de preferir. Se procurarmos, den-tro da cooceituao que dispomos, aqul~s conceitos que mais ao-logamente se aproximam dstes dois, notamos, na omnipotncia, uma vontade, e um poder de actuar extra, e podemos, analogica-rneote, cham-lo de vontade divina, ou de vontade omnipotente, e a capacidade de preferir, por revelar a capacidade de escolher entre possibilidades, de capacidade intelect11al (Entendimento) . Teramos, ento, uma vontade omnipotente ao lado de um inte-lecto tambm omnissapiente, porque o intelecto caracteriza-se pelo Japere, pelo saber, pelo poder colhr, pelo poder captar. O seu intelecto, portanto, omnissapiente.

    Podemos notar aqui as duas faculdades do Ser Supremo, a Vontade e o Intelecto. Este pode ser tomado, tambm, no sentido clssico de Entendimento.

    Verifica-se, aqui, que se pode tomar o auts em dois senti-dos: como Hen-Prote, o um primeiro, e o segundo Hen, que j didico, que os pitagricos chamavam de Hen-Dyar, o um-dois, sem que sse do signifique uma distino real-real, de modo a se tornarem fisicamente separados, mas, sim, no sentido de uma dupJicidade de funo: escolher e preterir.

    O Hen-Dyas, que revela esta capacidade selectiva, tem de ter, necessriameote, pela prpria natureza, que se empresta a ste ser a se, uma capacidade de determinao indeterminada, no infi-nita em acto, porque Uma. determinao infinita em acto seria ab-surda (como j verificamos pela impossibilidade do finito num-rico em acto), mas uma capacida:le de determinao indetermi-

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    nada, ilimitada, sem limites, e correspondendo a ela, como vimos, uma potncia objectiva, apta a receber tambm, indeterminada-mente, ilimitadamente, determinaes. ( 1)

    E tem sse Hen-D)'as, neces.;riamente, de ser :Wristos (de /;ros, em grego que significa trmo, limite, acompanhado do alfa privativo), portanto de ser He11-Dyas aristos (Um-Dois-no-limi-ta(lo), que se caracteriza pela capacidade de determinar ilimita-damente, ao qual corresponde algo com capacidade de ser limi-tado tambm ilimitadamente, que o Meon, e que corresponde potncia objectiva, de que falam os escolsticos.

    Ao examinar os conceitos que constituem o contexto alfa c o contexto. beta, encontramos a possibilidade de dualiz-los, o pri-meiro, no Hen-Prote e no Hen-Dyas Aristos, e o segundo no aJlos (alter), o outro (mltiplo), que pertence ao contexto beta.

    Prosseguimos na conservao dos trmos gregos, aos quais damos preferncia, por no estarem to comprometidos como os trmos latinos, aos quais a Filosofia moderna deu diversas acepes, tornando-os prticamente inaproveitveis pelas representaes dis-tintas que oferecem. Os efeitos semnticos da filosofia moderna geraram um estado de confuso, que nos fora1 precipitadamente, a recol~ermo-no.> terminologia grega, como o fz tambm a Cincia, que procurou aquela terminologia para evitar os trmos confusos e comprometidos do latim, devido interferncia do pensamento dspar e desordenado da modernidade.

    (1) ~ste o aspecto dual do Entendimento. Como le escolhe le prefere e pretere, ao afirmar isto recusa a sua negao. Para actualizar o que prefere virtualiza o que pretere. O preterido po-tencial, portanto. Mas potencial tambm o preferido, porque, do contrrio, no haveria preferncia, nll.o haveria liberdade no acto criacional. l!:ste tema teolgico que analisaremos em nosso l\late-se da Filosofia Concreta.

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    CAP. IV

    CONTEXTOS GAMA E BETA

    Passemos agora a analisar o contexto gama, que corresponde ao nihi!mn, ao nada absoluto, o nada metafsico, que descartamos, mas no qual podemos tratar de uma srie de predicados, que lhe 'so 1ecusados, mas suficientes para mostrar a sua ausncia de posi~ividade, a sua no presena total, e a sua significabilidade ante a es-quemt.ica antropolgica.

    A sse nihilttm, que o naca absoluto, d-se o carcter de nihilit11de absoluta, de thilit11de total. Q1er dizer, no lhe po-demos empres~ar qualquer contedo positivo, ausncia total de qualquer contedo positivo. Tambm no pode formar uma uni-dade, nem pode ser tomado como tal, porque uma unidade impli-ca, necessriamente, ser; conseqentemente, uma no-unidade. Tambm no pode consistir em coisa alguma, porque no pode ter nenhuma estructura intrnseca e tambm nenhuma tectnica; inconsistente. No podemos dar-lhe qualquer valor, porque o valor irr.plica ser; , conseqentemente, desvalor absoluto .

    No podemos emprestar-lhe efectibilidade, a inefectibili-dade, no s per se, como, tambm, per accidenr, porque tambm no podemos permitir que o nada absoluto, pelo menos per acci-dem, pudesse efectivar qualquer coisa. :1! uma inefectibilidade total, uma ausncia total , uma indigncia total de ser, nenhuma

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    coisa, no tem nenhum sentido reico, imparticipante, no parti-cipa de nenhum ser, no participvel por nenhum ser. Conse-qentemente, imparticipado. :b de uma insubstancialidade total, algo que no nem produzido nem improduzido, porque no h. E totalmente nada, sem qualquer funo, nem mesmo a de des-truidor, porque no tem nenhuma efectibilidade. No tem limi-tes, no tem contornos, no tem perfis; a negao pura. No tem medidas, imensurvel, no o fim, nem o princpio, por-que no h. No tem nenhuma intensidade de ser, a antite-ticidade total, a eminncia negativa, a impotencialidade, a aniquilao total.

    Ora, a sse nihilmn, como vimos, no podemos emprestar--lhe nem a funo de nihilificar, a anihilatio, porque j exigiria poder que no tem por ser absolutamente negativo, por no ter nenhuma efectividade.

    O conceito do nihiimn, entretanto, pode ser construdo por ns, quando afastamos da nossa representao tdas as coisas, por uma ausncia de tdas as coisas.

    Pensar no nada no realizar o nada.

    Quando pensamos no nada absoluto, no realizamos o nada, nem tampouco a idia do nada, porque a nica que podemos construir por exclu9o das coisas conhecidas e positivas, pela f"xcluso total de tda positividade, por recusa; sem a positividade no poderamos conceber o nada. S o concebemos por oposio, ou seja, por negao do positivo, pela negao da presena, pela recusa da presena.

    Dle descartamos completamente qualquer significado posi-tivo, tanto na Matese como na Ontologia. Ento, perguntaramos: e por que tratamos dle? Por que nos interessamos por le? Tratamos dle, porque foi colocado como um objecto do filosofar e tem sido proposto at como um outro ao Ser Supremo, como algo destruidor, com capacidade de despositivizar, de aniquilar,

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    com 0 poder de anihilatio; e at como antecedente ao ser, como se fsse algo a se, algo idntico sempre a si mesmo, uma adsncia de vazio, de onde teriam surgido tdas as coisas, uma espcie de criador sem criao, de um poder sem potncia, de uma capaci-dade de fazer sem acto; em suma, uma idia absurda, mas que tem servido para muitas mentes tratar dle como se realment~ se desse.

    \ Outro referente idia do mal, ao qual alguns pensadores do-lhe um princpio per se, e ste seria o nih;Lmn. Outros co-locam o problema de um anti-ser, afirmando que o nihilm7t um opositor ao ser. Neste sentido, o ser marca presena, dura-o, perdurao; onde h ser, h um perdurar, mas o nihil11m 0 inverso, um "poder" de destruir, um "poder" de despositi-vizar, um "poder" de aniquilar, um anti-ser.

    Como no temos esquemas para alcanar sse nihilmu, somen-te podemos construi-lo negativamente, por meio . de ~ecusa de positividades. Do mesmo modo que para constru1r atnbutos do ser a se vemo-nos forados a usar negativamente os atributos que emprestamos ao ser ab ao, aos sres do contexto beta, assim se formaria uma oposio Teologia, um satanismo, uma demono-logia positiva, que corresponderia nossa negatividade, pela nega-t!vidade das nossas positividades. A pos itividade demonolgica ou satnica seria um outro modo de dar-se, qe no o modo de. dar-se do ser. O ser d-se como adsncia e como presena, o ser d-se afirmando, e o nihilmn dar-se-ia negando, anulando, extraindo, removendo, aniquilando, nihilificando.

    Ora, nesta concepo ter-se-ia, inevitvelmente, de emprestar a ste 11ihilmn um poder, por estas razes: primeiro a potncia t serem nihilificadas por parte das coisas positivas, as quais teriam de conter em si no s as deficincias, como, tambm, a possibilidade de serem totalmente destrudas at o seu ltimo hipokemenon. No se destruiria apenas est:t rvore enquanto rvore, mas tambm a sua matria lenhosa, e, finalmente, tda a composio qumica, tudo quagto possa constituir enicamente ste ser, que deixaria de ser enicamente para tornar-se aneon, algo que perde tdas as caractersticas de ser.

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  • Ento, o nihiimn seria o poder que consistiria na capacidade dt aniquilar as possibilidades contidas no ser. Neste caso, o nada seria apenas uma potncia do ser. O ser teria em si a possibilidade de deixar de ser, no isto ou aquilo na sua totali-Qade, na sua qiCidade, mas at em sua ltima positividade.

    Ns descartamos sse nada absoluto e o contexto gama , rrecisamente, o contexto dos predicados recusados do nada abso-luto, porque os trmos que usamos, na sua significao, so todos .de recusa de positividade, esta ou aquela.

    Ora, tda vez que na filosofia se pr como uma questo, que aponte como algo o nada absoluto, estamos em face de uma questo mal colocada e, conseqentemente, que s nos levara a aporias insolveis, e tanto ser assim, referente ao nada abso-luto, como absoluta negao total do ser, como tambm se toms--semos ste nihilmn apenas parcialmente, como um oceano de nada, envolvendo uma ilha de ser, o que, na "Filosofia Concreta", mos-tramos a invalidez.

    Encontramos, assim, n:> contex:o gama, tambm uma duali-dade: a dualidade do nihitum, enquanto tomado como absoluto total, e o nihHmn, enquanto tomado como parcial. Em qualquer rque se considerar-mos o que entendemos por nihil11m absoluto parcial, damos-lhe uma limitao, pois seria limitado pelo ser, e mais ainda, a. sua nihilitude abso_luta no seria total, mas apenas de uma absolutui--f!ade, porque haveria o ser, uma ilha de ser, uma ilha de posi-tividade, cercada e ameaada pelo nada aniquilador; de maneira

  • Ora, provado, como j o_ foi de modo apodtico, que o 1hil11m absoluto, total e tambm parcial, impossvel, conse-qentemente intil, falsa tda questo colocada dentro do

    , contexto gama, porque levar, inevit.velmente, a aporias insol-veis desde que se lhe empreste qualquer positividade.

    H filsofos, que concebem o rzihilum absoluto como algo que possa dar-se, como um outro que o ser, e concebem o ser, positivando-se, afirmando uma presena, e o nihilrmz automtica-nente como ausncia. A ausncia outro, assim como se ocu-pao de um espao correspondesse um esvaziamento, e ste seria o nada absoluto, emprestando-lhe uma srie de propriedades posi-tivas, como a independncia absoluta para exemplificar. No dependeria de outro, porque, no sendo ser, no depende nem de si mesmo, algo. absolutamente independente; um trmo abso-l,Itamente simples, um trmo que consiste apenas em si mesmo, que tem, conseqentemente, um ipsmn, no porm, ips11m esJe, um ipsum nihiium, puramente nada, anticosmos, oposio ao cos-rnos, oposio ordem, idntico sem? re, imutvel, porque qual-yuer mudana no nibilmn absoluto seria o ser, e le mantm, perdura dentro da sua inconsistncia, dentro da sua identidade.

    E tambm, incondicionado, n'o exige nenhuma cond'io para ser. Tem um fim, uma finalidade, a negao, a aniquil&-o, que est presente, desactuando destructiv:i.mente, mpeto para o no, negatividade. E uma eminncia negativa, , tambm, livre,

    porque no est determinado por outro, por qualquer outro trmo. E indigente de ser, mas proficiente como no-ser, cuja profi-cincia destructiva aniquiladora, a nihilitude em sua plenitude.

    E seguindo esta linha, constroem uma srie de predicados i que emprestam a sse nihil11111, e nisto h certa presena romn-. tica na Filosofia, e tem um poder sedutor, sobretudo naquelas

    _,. mentes fracas, rebeldes, desajustadas, marginalizadas, que vo encontrar, nesse pensamento, alguma coisa que ecoa dentro delas, ;; que seria como uma promessa de frutos maravilhosos.

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    Mas em tais momentos deficientes da inteligncia humana, em que, como ao crepsculo, as aves noturnas penetram na escu-rido, assim, nas nossas trevas, penetram essas ms idias, ger-deras de maior confuso e que, em vez de iluminar, em vez de libertar o esprito das suas dificuldades, e dar maior nitidez ao que le pretende examinar, :azem-n~ im~rgir em v_erdad~iros abismos, que vo perturbar amda ma1s a JUVentude, 1mpedmdo que ela tenha llffi papel positivo, como na verdade deseja ter.

    Essas idias no trazem nenhuma construo, fundamentam-se sbre possibilidades falsas, colocam-se mal, e s poderiam gerar o

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    I :1 , I

    .ste nada no um nada absoluto; porm um nada seom-rlllm quid, porque um nada relativamente a uma determinada rc::lao, a um determinado aspecto. :g uma ausncia relativa do

    ~er efectivo, algo que no ou no est relativamente. ~ de certo modo participvel tambm relativamente, porgu-

    podemos participar de deficincias, e pode ser produzido, pela ansncia, pela remoo de alguma coisa.

    ~ substituvel, porque podemos preench-lo; csmico, por-que est presente, dentro da ordem csmica; condici::mado, por-que podemos condicionar sse nada relativo. :e temporal, por

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    que o ser ab alio , de certo modo, um ser que tem a presena -do nibil, a presena do nada relativo, que ausncia de alguma positividade.

    Portanto, nle se d alguma ausncia, alguma deficincia, falta, porque , da sua prpria essncia, ser um ente limitado pelo que positivo, e ao mesmo tempo afirma a ausncia ulterior de algwna perfeio de ser, que no lhe pertence, que dle se ausen-ta, que o delimita, que lhe estabelece fronteira.

    Assim, ns podemos, perfeitamente, trabalhar com o con-texto alfa, com o contexto beta, e com o contexto delta, evitando dS contradies, evitando as incongruncias, e podendo colocar bem as diversas questes filosficas que surjam. Mas, comete-remos erros se emprestarmos ao contexto delta aquela ausncia de propriedades, que citamos ao referirmo-nos ao nihilum, como alguns fazem, como alguns se colocam, pondo o nibil como total-mente outro que o ser, como se le fsse o nihilmn, e da che-.gam a situaes insolveis, a cair naqueles estados de nusea, 11aqueles estados de nojo, naqueles estados de desesperana, que os levam a destruir tda positividade filosfica, pela impossibilida--de, que se encontram, de poder mant-la, j que, ao postular o nada absoluto, esto destruindo, dentro de si, a positividade. Mas essa destruio no se d nticamente, d-se apenas psicologicamente, apenas na mente dsses filsofos. Basta ver os existencialistas modernos, que seguem a linha atia que, ao colocar o nada, o nihil, como se o nibilmn fsse o nada relativo, como se fsse o nada absoluto, em quantas dificuldades tericas les se embre-nham e se confundem, caindo nas prprias armadilhas por les construdas, e, depois, no encontrando soluo aos seus proble-mas, tm que levar 'a sua aco destruidora aos extremos, de modo a cair nos abismos, que les mesmos cavaram.

    Ora, a Filosofia no tem outro caminho para seguir seno o caminho positivo e concreto. Porque, na verdade, s6 h uma filosofia verdadeira, a que segue o caminho adequado para atingir aos fins que ela colima, que a que demonstra apodltcamente os seus postulados.

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    Demonstramos na "Filosofia Concreta", na parte final, e no h mais necessidade de repetir, que podem haver diversos modos de filosofar, diversas vis filosficas e diversas metas, mas inevit-velmente, um fcho real, verdadeiro, s pode ser o positivo e concreto, para aqule que trabalhar com segurana, dentro dsses quatro contextos e nas suas dualidades, e que no faz confuso nos seus predicados e saiba atribu-los a quem deva atribu-los. Tudo isso no uma criao arbritrria, tudo isso no alguma

    - co~a que construmos atravs de locubraes, dentro de um gabi-nete de estudo. So verdades que se revelaram proporo que 'i nossa mente vai penetrando, fcilmente, passo a passo, nos caminhos do conhecimento especulativo, e a iluminao permite--lhe transparecerem as verdades, que se vo distinguindo nltida-mente desfazendo as trevas e as confuses, porque a luz ilumina--nos por todos os lados, pois quando a Filosofia bem guiada a luz do meio dia, a luz meridiana, e no a crepuscular que torna cada vez maiores as sombras, e que termina por project-las como entidades sotu.rnas para amedrontar o pensamento humano .

    -- 65-

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    CAP. V

    DAS DIVlSOES DO SER

    Ao estudarmos as diversas divises do ente, propostas atravs dos tempos na Filosofia, verificamos que a que melhor divide

    realmente o ente, aquela en_tre ente a se e ente ab alio, ou seja, o ente que tem em si mesmo a sua razo de ser, e o seu princpio, e o ente ab alio, que tem. a sua razo de ser e o seu princpio em outro.

    Vrias outras divises foram apresentadas, como a de ser . necessrio e a de ser contingente, do ser possvel, a do ser por essncia e do ser por participao. Outros apresentaram o acto puro e o ente potenci~, o ente hbrido, outros o simples e o .;omposto, outros o infinito e o finito, outros o criado e o incri -do, outros o completo e o incompleto, outros o absoluto simplicitttr

    ~ o relativo, que tambm pode ser absoluto apenas relativo, o eremo ao lado do temporal, o improduzido ao lado do produzido.

    Atribuem-se ao ser n se os seguintes predicados: de ser ne-CI:'ssrio, de ser por essncia, de ser acto puro, de ser simplicitc, simplex, de ser infinito, de ser incriado, de ser completo, de s ~ simpliciter absoluto, de ser eterno e de ser improduzido.

    Tambm outros oferecem outras divises, como a de incor-ruptvel e corruptvel, mas o ser absolutamente simples , ne-cessriamente, incorruptvel, porque a corrupo s pode dar-$e nos sres compostos, s os sres compostos podem dividir-se em suas partes.

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    : i I

    ' : i L

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    Conseqentemente, sses predicados, que pertencem uns ao ser a se, outros ao ser ab alio, so considerados como disj11ntos, porque no possvel que o ser seja ao mesmo tempo incriado e cnado; no possvel que le seja, simultneamente, completo e incompleto sob o mesmo aspecto.

    Tambm no possvel que le seja necessrio e ao mesmo tempo contingente, simultneamente sob o mesmo aspecto; as-sim, sses predicados so disjuntos, so alguns, que Scot cha-mou de passiones disjuncvas, quer dizer, so aspectos qualita-tivos disjuntivos. Mas, ainda na classificao dos entes bus-cou-se alcanar a outras divises, e chegaram-se a estas, que cons-tituem as quatro divises que Aristteles apresenta na sua obra, que formam as suas famosas quatro polaridades, que so: 1) acto e potncia; 2) forma e matria; 3) essncia e existncia; 4) substncia e accidente.

    Essas, tambm, por sua vez, poderiam servir para dividir, realizar a diviso do ente, mas acontece que no se excluem, co-mo sucede com as outras, porque o incriado exclui o criado, o absoluto exclui o relativo, o eterno exclui o temporal, enquanto que estas no, porque a substncia no . exclui o accidente, o acto no exclui a potncia, a forma no exclui a matria, a essncia 11o exclui a existncia. Pol:lem dar-se juntas, podem formar 11ma unidade.

    No se poderia formar um ser que fsse um misto de acto puro e ente potencial, porque um ser dessa espcie seria absurdo, pois seria um ser que conteria, intrlnsecamente, uma contradio formal; tambm o ser no poderia ser simultneamente infinito e finito, nem poderia ser criado e incriado simultneamente. Portanto, essas pasiiones disjrmctivas se excluem.

    No repugnam uma outra, mas repugnam quanto sua constituio, dentro de uma mesma unidade, enquanto que essas outras no, porque um ser composto, enquanto le , enquanto . le tem positividade; le composto de acto e potncia, wna substncia tem seus accidentes, enquanto uma substncia per-tencente ao contexto beta; e, tambm, por exemplo, acto e po-

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    tncia, enquanto constituinte do contexto beta. o ser possui sem-pre a sua actualidade e a sua potencialidade. Tambm, no con-texto alfa, o ser possui a sua actualidade pura e a sua potencia-lidade activa, que decorrem dsse acto puro, no a passiva; en-quanto que, no contexto beta, possui, alm da activa, a passiva.

    A forma e a matria s podem dar-se, contudo, no con-texto beta, porque, no contexto alfa, no podemos conceber forma com matria, porque seria um ser composto e o ser do contexto alfa no um ser composto; tambm no pode dar-se a substncia jrlto com o accidente se considerarmos o conceito de substn-cia como portador, tambm, de accidentes. Ns no partin1os, rnateticamente, dste conceito; a substncia , na Matese, ape~as um ser, que per Je e in se; isto , um ser que tem perseidade e mseidade, aqule ser que se d por si mesmo e em si mesmo; ento, neste caso, poderamos chamar o ser a se tambm de uma

    ~ubstncia, neste sentido, porque le uma perseidade e uma imeidade. Agora, a substncia do contexto beta, alm de ser uma inseidade e perseidade, ela tambm a portadora do acci-dente, cujo ser consiste num ineJJe ne$ta substncia.

    A substncia finita no pode dar-se sem accideotes, porque, precisamente, a sua finit:ude marca a sua accidentalidade. Ela tem de dar-se com accidentes e, conseqentemente, stes so-lhes de certo modo necessrios, como os accidentes quantitativos, que so nec.essrios da parte material da substncia, e os accidentes c1ualitativos, que decorrem da estructura eidtica do prprio ser; quer dizer, a estructura hiltica, que corresponde matria no sentido aristotlico, e a estructura eidtica, correspondente for-ma tambm no mesmo sentido, e a estas cabem accidentes, que lhe so necessrios, porque no possvel uma quantidade sem uma matria que, de certo modo, no se apresente quntica; ago-ra, o q11anto no quer dizer extenso apenas, porque o quanto no apenas extenso, le pode darse tambm potencialmente.

    De maneira que estas quatro polaridades aristotlicas so diferenas, que de certo modo so princpio do Jer determinado. Duas pertencem ao co111exto beta e ao contexto alfa, que acto

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  • I

    iii I

    I I I

    e potncia, e essncia e existncia, porque estas do-se juntas na-quele contexto, pois, o ser a se , simultneamente, a existncia da sua essencialidade, le le mesmo; enquanto que substncia e accidente forma e matria, do-se no contexto beta.

    Agora, a forma e a substncia podem dar-se, podem ser consideradas como conceitos do contexto alfa, desde que ns con-sideremos a forma no como informante da matria, mas como a forma persistente, subsistente, e com aseidade. I! a substncia, tcmada nesses dois sentidos, da qua.l ns exclumos a accidentali-dade e da forma a materialidade, por e a informada. Neste caso, stes conceitos podem pertencer ao contexto aJfa; quer dizer, qualquer questo filosfica, que coloque estas polaridades, sc:m respeitar as caractersticas fundamentais dos contextos, ;o questes mal colocadas, e que, inevitvelmente, levam a situaes aporticas.

    Estas diferenas ltimas no se excluem quando elas so consideradas no contexto beta, mas se excluem quando conside radas no contexto alfa, porque, neste, as duas se excluem, ao menos parcialmente, assim : acto e potncia, no contexto alfa, no se ex:cluem, mas est excluda 3. potncia passiva, sem excluir a potncia activa.

    A essncia e a existncia no se excluem, a essncia pode dar-se junto com a existncia, porque aquela a prpria exis-tncia e esta a prpria essncia em sua glria. De maneira que, ento, podemos dizer que no se excluem, tanto no contexto alfa como no contexto beta, salvo a potncia passiva.

    Mostramos que a m colocao de certos problemas, e que no so poucas, vo gerar essas terrveis aporias . Vamos dar al-guns exemplos : o conceito de eternidade implica a simultaneidade total e absoluta da sua durao. A eternidade no pode ser uma durao sucessiva, porque o ser sucessivo, o ser que passa por sucesses, o ser finito . Conseqentemente, o ser a se, no pode ser um ser sucessivo, ter de ser necessriamente, um ser eterno. Ora, a eternidade no pode ser considerada como um longo presente: temos de afastar do conceito de eternidade, para

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    apt-lo em sua maxuna preCJsao, dois aspectos: 1.0 ) a sucesso c, 2.0 ) a idia da presena temporal; em suma, temos de afastar do conceito de eternidade tdas as notas, que so essenciais ao

    t~mpo, com excepo apenas da genrica de durao. Quer di-zer: o que analoga a eternidade com o tempo a durao; poris-sv, o tempo uma imagem imperfeita da eternidade, como dizia Plato com muita propriedade, fOrque a durao apenas se pre-

    - dica incompletamente d;:. sua essncia, pois, o tempo no ape-nas durao.

    / No podemos inverter, dizendo "dwao tempo", porque h.. durao no temporal, que seria a eternidade. Neste caso, exige-se uma dferena especifica, e esta dada pela capacidade de suceder, pela quali:iade, que uma diferena especfica pela qualidade de suceder, pela capacidade de determinar-se atravs de sucesses, de ulteriores trmos, outros que os ante-1iores e separados dstes. Neste caso, vemos que se qui-sssemos, por exemplo, emprestar ao ser a se a temporalidade, estaramos, inevitvelmente, criando uma contradio, porqve, embora exista ste logos analogante entre o tempo e a eternida e,

    . h, entretanto, aquela diferena especfica do tempo, que no permite, que no se concilia com a durao do ser a se, e q1e, conseqentemente, uma contradio, pois o ser no podea ser, simultneamente, eterno e simultneamente sucessivo, pois a eternidade tem de ser tota simul, tda simultneamente, r:n-ctuanto que a sucesso dada sucessivamente, um instante aps outro instante. Haveria contradio formal intrnseca, e aqu-les que procuram dar, por exemplo, ao seu conceito de Deus, na Filosofia, essa temporalidade, como se le vivesse, se le f~se, dentro dessa temporalidade, inevitvelmente se encontraro ante aporias insolveis. Portanto, mal colocada a questo que pro-cure dar temporalidade o carcter de eternalidade.

    No possvel que um ser a se seja um ser criado, porque ste o ser que sobrevm, inevitvelmente, de outro. Ora, o ser sendo a re no pode ter recebido o ser de outro; portanto, no se pode dar a le, simultneamente, a idia de ser criado e, de ser incriado . .

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  • Quando Renan admite que Deus um final da evoluo, ponto mximo da evoluo, Deus seria no mais o criador mas a criatura, seria a ltima criatura, a criatura final de tda a evo-luo; ento, o seu ser seria um ser recebido, um ser de depen-dncia absoluta e, conseqentemente, um 5er que se finitizaria por essas consequencias. A idia de Deus, em Renan, urna t.:!ia absurda, porque eivada de contradio formal intrnseca.

    J vimos que se o acto p~ro, necessriamente s tem acto. Pode ter uma potncia activa, pode gerar, criar, pode fazer, deter-minar; at a, no h contradio nenhuma,