A ROMÂNIA · Aspecto da história do Estado Romano Democratização progressiva do poder:...

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A ROMÂNIA: FORMAÇÃO, DIVISÃO E DECADÊNCIA DO IMPÉRIO ROMANO PROFA. DRA. LILIANE BARREIROS (PPGEL/UEFS)

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  • A ROMÂNIA: FORMAÇÃO, DIVISÃO E DECADÊNCIA

    DO IMPÉRIO ROMANOPROFA. DRA. LILIANE BARREIROS

    (PPGEL/UEFS)

  • TEXTOS:

    BASSETTO, Bruno F. Origem das Línguas Românicas. In: _______.

    Elementos de Filologia Românica: história externa das línguas. v. 1.

    São Paulo: Editora da USP, 2005, p. 87-109.

    BASSO, Renato Miguel. GONÇALVES, Rodrigo Tadeu. A România e

    a formação das línguas românicas. In: ______. História concisa da

    língua portuguesa. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014, p. 65-101.

  • Filologia Românica

  • A Filologia será ‘românica’ se tiver como objeto específico as

    línguas e os dialetos que se originaram do latim vulgar e

    suas respectivas literaturas de qualquer espécie, desde a

    origem até a sua situação atual (BASSETTO, 2005, p. 38).

  • Chamam-se línguas românicas aquelas que são

    diferenciações no tempo e no espaço de uma língua comum

    primitiva, o latim vulgar (ELIA, 1979, p. 3).

  • As Línguas Românicas

  • Formação das línguas românicas

    A formação das línguas românicas é, por um lado, resultado da

    relaxação dos laços exteriores e da debilitação da vitalidade

    cultural do Império Romano e, por outro lado, da formação de

    novas comunidades lingüísticas “nacionais” nascidas no tempo

    subseqüente, comunidades estas que restabelecem e

    vivificam, de maneira independente, a tradição cultural antiga

    (LAUSBERG, 1974, p. 26).

  • România, romano e romance

    Romania – Termo utilizado para denominar a unidade

    linguística e cultural (Séc. V).

    Romania > romanus, e este foi o termo a que naturalmente

    recorreram os povos latinizados, para distinguir-se das

    culturas barbáricas.

    A partir de romanus formou-se o advérbio romanice, “à

    maneira romana”, “segundo o costume romano”.

  • România, romano e romance

    Romanice loqui – indicava as falas vulgares de origem latina

    Barbarice loqui – indicava as línguas não românicas dos

    bárbaros

    Latine loqui – aplicava-se ao latim culto da escola.

    Do advérbio romanice, derivou o substantivo romance, que

    na origem se aplicava a qualquer composição escrita em uma

    das línguas vulgares (ILARI, 2001).

  • A România atual

    O termo România designa modernamente a área ocupada

    por línguas de origem latina.

  • A România atual

    Se compararmos a România atual com o Império Romano, em sua fase

    de maior estabilidade, notaremos que os limites de ambos não

    coincidem. Boa parte das regiões outrora dominadas pelos romanos

    falam hoje línguas germânicas (como a Britânia), gregas (como a

    Grécia), semíticas (como a Síria e grande parte da África do Norte) etc.

    Por outro lado, falam-se línguas românicas na América Latina, que está

    fora dos horizontes do mundo antigo (ILARI, 2001).

  • A România atual

    a) Romanização superficial

    b) Superioridade cultural dos vencidos

    c) Superposição maciça de populações não-romanas

  • A România atualPor outro lado, através dos movimentos colonialistas iniciados

    com as grandes navegações do século XVI ou dos

    movimentos de propagação do catolicismo patrocinados

    sobretudo por Portugal e pela Espanha, as línguas românicas

    foram levadas para os novos continentes onde se

    superpuseram às línguas autóctones como “línguas de cultura”

    e como “línguas oficiais”; a recuperação da independência

    pelas colônias tem feito às vezes com que as antigas línguas

    nacionais recuperassem seu status de línguas oficiais.

  • România, romano e romanceO Estado romano teve origem em 753 a.C. (fundação de

    Roma)

    Engrandeceu-se progressivamente até constituir em sua fase

    de maior esplendor um dos mais vastos impérios de todos os

    tempos.

  • A História de Roma Divide-se em três fases:

    Realeza (das origens a 509 a.C.);

    República (de 509 a.C. a 27 a.C.); e

    Império (de 27 a.C. a 476 d.C.)

  • Aspecto da história do Estado Romano

    Democratização progressiva do poder:

    patrícios (classe fechada e conservadora, governava a

    Urbe) e

    classes adventícia ou plebeia (instituições

    representativas).

    Capacidade de absorver outros povos e sua espantosa

    expansão territorial (séculos V a.C. a II d.C.).

  • Principais pontos da expansão: Conquista da Itália peninsular

    Conquista da Europa mediterrânea

    Três guerras púnicas

    Gália e Europa Central, Ásia Menor e África

    Conquistas tardias

    Caledônia (atual Escócia), Dácia (atual Romênia) e ArábiaPétrea.

  • O que foram as guerras púnicas?As Guerras Púnicas foram três conflitos entre Roma e

    Cartago, a grande cidade africana fundada pelos Fenícios.

    O seu nome tem origem em Punus, nome latino para os

    cartagineses.

    Estas guerras foram provocadas por rivalidades comerciais

    no Mediterrâneo.

  • Primeira Guerra PúnicaA Primeira (264-241 a.C.) deveu-se a uma questão

    relacionada com o controle da Sicília.

    Os Romanos venceram e transformaram a Sicília na sua

    primeira província.

  • Segunda Guerra PúnicaA Segunda (218-201 a.C.) surgiu pelo ressentimento Romano

    na expansão de Cartago na Espanha e com a destruição de

    Sagunto (aliada de Roma), pelo general cartaginês Aníbal. Este,

    respondeu ao desafio romano invadindo Itália, onde

    permaneceu até 204 a. C.

    Enquanto aí estava, o general romano Públio Cornélio Cipião,

    invadiu a Espanha e expulsou os cartagineses.

    A guerra teve o seu término depois da destruição do exército

    cartaginês na Batalha de Zama no Norte de África.

  • Terceira Guerra PúnicaA Terceira (149-146 a.C.) deu-se quando Cartago atacou um

    aliado de Roma, o rei Masinissa da Numídia Oriental.

    Um exército romano cercou Cartago durante dois anos. Os

    romanos acabaram por tomar a cidade e destruí-la.

  • LATINIZAÇÃO OU ROMANIZAÇÃO

  • Latinização ou RomanizaçãoÉ a assimilação cultural e linguística da civilização latina

    por parte dos povos conquistados. É considerado um

    fenômeno único na história da humanidade.

    As conquistas romanas tinham caráter político e

    econômico e o uso da língua era uma questão de honra.

  • Fatores de latinizaçãoExército romano – a base do Império e de sua expansão, pois era

    o 1º a entrar em contato com os outros povos, tanto na conquista

    como na ocupação.

    Colônias militares (veteranos) – os soldados eram

    recompensados com terras produtivas, após a aposentadoria, e

    recebiam a cidadania romana.

    Colônias civis – instaladas após a retirado do povo vencido para

    resolver às demandas de terras por parte dos plebeus, garantir a

    ordem, impedir rebeliões e produzir alimentos e outros bens.

  • Fatores de latinizaçãoAdministração romana – aristocracia romana (uso do latim

    clássico, sermo urbanus)

    “[...] o latim usado pela administração das províncias foi um

    ponderável fator de latinização, já que era veículo de comunicaçãonos contatos com a população, latina e não-latina, e a língua oficial de

    todos os documentos” (BASSETTO, 2005, p. 107).

  • Fatores de latinizaçãoObras públicas – estradas, abastecimento de água, teatros,

    edifícios públicos (fórum, templos, basílicas, monumentos e

    bibliotecas).

    Comércio – a localização geográfica de Roma transformou-a

    em grande centro comercial.

    A latinização não foi uniforme em todas as partes do Império

    Romano.

  • Com o exército, com as colônias civis e militares e a

    administração, os romanos espalhavam pelas províncias sua

    cultura, sua língua e seu estilo de vida.

  • A fragmentação do ImpérioCAUSAS INTERNAS

    Despovoamento do Império – guerras civis, invasões

    bárbaras e a peste

    Empobrecimento e Impostos – população descontente e

    corrupção generalizada

    Decadência militar – privilégios exagerados, morte, soldados

    bárbaros (“invasões pacíficas”).

  • A fragmentação do ImpérioCAUSAS EXTERNAS: AS INVASÕES

    “Invasões pacíficas” – presença, sobretudo de germanos, no

    exército e nas colônias

    Final do séc. IV – início das grandes invasões (Vândalos,

    Godos, Francos, Lombardos, Alamanos, Eslavos, Árabes

    etc.)

  • Decadência do Império RomanoA partir do século II d.C., com Trajano.

    Descentralização progressiva provocada pela própria

    extensão do Império e agravada por uma política

    inconsequente.

    Habitantes de regiões mais afastadas predominaram no

    exército e na administração.

  • Decadência do Império Romano Século V, a presença de populações bárbaras no Império

    era mais maciça.

    Durante uma incursão dos visigodos pela Itália, foi deposto o

    imperador Rômulo Augústulo (476), fato que os historiadores

    utilizam como marco cronológico do fim do Império Romano.

  • Decadência do Império RomanoRazões para a perda:

    Romanização superficial – Caledônia, Germânia, parte dos

    países danubianos e regiões montanhosas da Europa

    continental e mediterrânea.

    Superioridade cultural dos vencidos – Grécia e Mediterrâneo

    oriental

    Superposição maciça de populações não-romanas – África

    mediterrânea.

  • Decadência do Império RomanoRazões para ganho:

    Movimentos colonialistas iniciados com as grandes

    navegações;

    Movimentos de propagação do catolicismo.

  • As Línguas Românicas surgem e se desenvolvem nas

    províncias em que a latinização lançou raízes mais profundas

    e resistentes a mudanças políticas e sociais, bem como a

    intermináveis guerras e invasões (BASSETTO, 2005, p. 152).

  • A difusão do latim e a romanizaçãoDireito romano:

    Exploravam economicamente a região, mas respeitavam

    religião e permitiam o uso da língua materna em contatos

    entre si.

  • A difusão do latim e a romanizaçãoO Direito romano foi um dos maiores agentes da romanização ao conceder a

    cidadania romana, por etapas, a todos os habitantes do Império.

    O Título de “cidadão romano” conferia, juridicamente, vários direitos distintos:

    - Possuir e transmitir propriedade;

    - Proceder a uma ação judicial;

    - Contrair matrimônio legítimo;

    - Participar do sacerdócio;

    - Direito de voto nas assembleias;

    - Ser elegível para as magistraturas (e para o Senado).

  • Fontes do Direito Romano Lei das XII Tábuas (cerca de 450 a.C.), a primeira compilação de leis

    romanas.

    Éditos dos magistrados: decisões dos magistrados encarregados da

    jurisdição, que se transformaram em regras do direito.

    Édito Perpétuo de Adriano (125-138 d.C.), uma codificação dos éditos

    dos antigos magistrados.

    A obra dos Jurisconsultos: consultas jurídicas dos jurisconsultos

    romanos, consideradas fonte do direito a partir de Adriano (117-138).

  • Fontes do Direito Romano Senatus consulta - legislação que ganha importância durante

    os dois primeiros séculos do Império, após o reconhecimento

    da capacidade legislativa do Senado pelo Imperador Adriano

    (117-138).

    Constituições imperiais - éditos deliberados em Conselho

    imperial, aos quais o Senado reconhece força de lei e a partir

    do ano 13 d.C.

  • BAIXO IMPÉRIO (séc. IV-VI d.C.)

    Surge o Corpus Iuris Civilis - no contexto do Império

    Romano do Oriente, o Imperador Justiniano ordena a

    compilação de todas as fontes antigas de direito romano e a

    sua harmonização com o direito do seu tempo.

    Este código constituiu a base do direito no Império

    Bizantino e um dos principais fundamentos do Direito Comum

    no Ocidente medieval.

  • BAIXO IMPÉRIO (séc. IV-VI d.C.)

  • Etapas da progressiva extensão da cidadania (direito de cidade) a todo o Império:

    Durante a Monarquia (sécs VIII-VI a.C.) - a cidadania apenas

    era reconhecida aos homens livres, mas excluía muitos deles;

    era um privilégio dos Patrícios, excluindo os plebeus.

    As reformas de Sérvio Túlio (séc VI a.C.) reconheceu alguns

    direitos políticos aos plebeus.

  • Etapas da progressiva extensão da cidadania (direito de cidade) a todo o Império:

    Durante a República (509 a.C - 27 a.C.) - a Lei das Doze

    Tábuas (450 a.C) reconheceu uma maior participação política

    aos plebeus.

    Em 90 a.C. a Lex Iulia concedeu a cidadania aos habitantes

    do Lácio; no ano seguinte, a Lex Plautia Papiria alargou a

    cidadania a todos os habitantes da Itália; em 49 a.C., a Lex

    Roscia concedeu a cidadania aos habitantes da Gália.

  • Etapas da progressiva extensão da cidadania (direito de cidade) a todo o Império:

    Período do Império - em 212 d.C., foi promulgado o Édito de

    Caracala, que concedeu a cidadania a todos os habitantes do

    Império (homens livres, que não sendo romanos, vivessem no

    território imperial).

  • Ao contrário do conceito restrito dos gregos, os romanos

    tinham um conceito de cidadania mais aberto, liberal e

    dinâmico: a cidadania podia ser obtida não apenas pelo

    nascimento, mas também por concessão individual ou

    coletiva.

    O critério determinante da obtenção da cidadania era a

    adesão aos valores da romanidade. Foi, por isso, um dos

    fatores mais importantes da integração dos povos no Império.

  • Contato com línguas de famílias linguísticas diferentes:

    Península Itálica - encontrou o umbro e o osco (indo-europeias

    do ramo itálico); línguas indo-europeias do ramo ilírico, grego

    e celta; e línguas não indo-europeias, como o etrusco e o

    lígure.

    Ilhas italianas - encontraram um antigo substrato

    mediterrâneo, além do grego (indo-europeu) e do fenício

    (semita).

    Povos da Ibéria maioria não indo-europeias.

  • Indo-europeu predominava na França e na Panônia, na Ilíria,

    também na Trácia e na Macedônia.

    Grécia, Anatólia e no Mediterrâneo oriental era falado Grego.

    Síria e Egito, línguas semíticas e camíticas.

    Contato com línguas de famílias linguísticas diferentes:

  • O Latim não suplantou as línguas indígenas em todo território.

    Divisão política sob o comando do imperador Constantino:

    separação de um Estado de fala e cultura latinas de um grego.

    No ocidente, a fala dos vencedores conviveu por décadas e

    até séculos com os locais, sendo o bilinguismo típico.

  • O latim presente nas regiões submetidas numa variedade

    popular e numa variedade erudita ia se impondo como língua

    que exprimia uma cultura mais avançada e que abria melhores

    perspectivas de negócios e ascensão política e social.

  • Século III, absorção pelo latim das línguas indígenas da

    porção ocidental do IR era fato consumado, e essa unidade

    linguística representava para os povos latinizados o traço mais

    evidente de uma forte unidade espiritual, precisamente quando

    o Império, como instituição política, dava mostras cada vez

    mais fortes de instabilidade.