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LUANA RAFAELA FERREIRA DE ALCÂNTARA A REVOLUÇÃO DOS BICHOS E A SÁTIRA POLÍTICA DA REVOLUÇÃO RUSSA MARINGÁ - PARANÁ 2013 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA - CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E HUMANIDADES

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LUANA RAFAELA FERREIRA DE ALCÂNTARA

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS E A SÁTIRA POLÍTICA

DA REVOLUÇÃO RUSSA

MARINGÁ - PARANÁ

2013

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA - CURSO DE

ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E HUMANIDADES

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LUANA RAFAELA FERREIRA DE ALCÂNTARA

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS E A SÁTIRA POLÍTICA

DA REVOLUÇÃO RUSSA

Trabalho de conclusão do Curso de Especialização em História e Humanidades – EAD, apresentado a Universidade Estadual de Maringá, como requisito para a obtenção do título de ESPECIALISTA EM HISTÓRIA E HUMANIDADES. Orientador: Prof. Dr. Marco Cícero Cavallini

MARINGÁ – PARANÁ 2013

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LUANA RAFAELA FERREIRA DE ALCÂNTARA

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS E A SÁTIRA POLÍTICA

DA REVOLUÇÃO RUSSA

Trabalho de conclusão do Curso de Especialização em História e Humanidades – EAD, apresentado a Universidade Estadual de Maringá, como requisito para a obtenção do título de ESPECIALISTA EM HISTÓRIA E HUMANIDADES. Orientador: Prof. Dr. Marco Cícero Cavallini

COMISSÃO EXAMINADORA

_______________________________________

Prof. Dr. Marco Cícero Cavallini (Orientador)

____________________________________

Prof. Dr. Vladimir Chaves dos Santos DFL/UEM (Banca)

____________________________________

Prof. Ms. José Francisco dos Santos DHI/UEM (Banca)

Maringá, _____de ___________de _____.

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Alguns animais são mais

iguais do que outros

Geroge Orwell

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ALCÂNTARA, Luana R. F. A Revolução dos Bichos e a Sátira Polítca da Revolução Russa: 2013. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em História e Humanidades – EAD - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2013.

RESUMO O presente trabalho tem por objetivo demonstrar discussões existentes entre a realidade da Revolução Russa e suas representações literárias. Neste caso o romance de George Orwell, A Revolução dos Bichos. Examinando os traços ideológicos presentes na obra. Observando-se ao final do estudo de que o autor estava movido por preceitos ideológicos arraigados, por suas experiências pessoais nos conflitos que permearam a primeira metáde do século XX.

Palavras-chave: Revolução, literatura, idelogia.

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ALCÂNTARA, Luana R. F. Animal Farm and the Russian Revolution Satire Polítca. 2013. Work completion of the Specialization Course in History and Humanities. State University de Maringá, Maringá, 2013.

ABSTRACT

The present work aims to demonstrate discussions between the reality of the Russian Revolution and literary representation, in this case the novel by George Orwell, Animal Farm. Examining the ideological traits present in the work. Observing the end of the study that the author was moved by entrenched ideological precepts, by their personal experiences in the conflicts that permeated the first half of the twentieth century.

Key words: Revolution, literature, ideology.

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SUMÁRIO

1.INTRODUÇÃO..........................................................................................................7

2.O AUTOR – GEORGE ORWELL............................................................................11

3.CONTEXTO HISTÓRICO DE “A REVOLUÇÃO DOS BICHOS”...........................14

3.1. A REVOLUÇÃO DOS BICHOS..........................................................................18

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................25

REFERÊNCIAS..........................................................................................................26

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1.Introdução

O processo revolucionário que gerou a extinta União Soviética, ao longo do

século XX, foi alvo de inúmeras expeculações e discussões à cerca de sua

estruturação política e social. A obra de George Orwell, A Revolução dos Bichos,

enquadra-se nesta perspectiva, pois demonstra de forma satírica, o processo

revolucionário russo. Utilizando-se da fábula como meio para criticar sua

instauração, bem como sua converção em um governo despótico e totalitário.

Hannah Arendt define o totalitarismo como um “conjunto de experiências e

condições que possibilitou o surgimento de uma forma de opressão política que, em

sua essência, difere de todas as outras”, essa perspectiva oferece-nos o campo de

análise onde podemos encontrar a atmosfera na qual o autor estava inserido quando

da produção da obra, sua percepção à cerca da forma de governo aqui discutida, e a

imagem “construída” no ocidente à cerca do autoritarismo soviético (ARENDT, 2000

apud ALCÂNTARA, 2012, p. 113).

O livro, A Revolução dos Bichos, demonstra de forma lúdica a construção de

um estado totálitario, pós – revolucionário, que em sua base de formação contou

com a participação massiva da sociedade, e que como viés, viu-se oprimida. Sobre

este aspecto Hannah Arendt escreveu:

É muito perturbador o fato de o regime totalitário, malgrado o seu caráter evidentemente criminoso, contar com o apoio das massas. Embora muitos especialistas neguem-se a aceitar essa situação, preferindo ver nela o resultado da força da máquina de propaganda e de lavagem cerebral (ARENDT, 2000, p. 339).

A obra procura demosntrar o “desenvlvimento” da sociedade soviética sob a

égide do regime stalinista. George Orwell expõe, na ótica dos controlados, o efeito

crescente de instrumentos e técnicas de controle social nas sociedades

contemporâneas.

As dimensões epistemológica e ideológica, correspondendo a primeira ao desejo do escritor de registrar e dar a conhecer eventos como eles são, e a segunda, a necessidade de o autor assumir uma determinada atitude política que inevitavelmente implica um posicionamento ideológico, perante o conteúdo do que escreve e a forma como escreve (MARTINS, 2004, p. 1).

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Com base na análise de Antoine Compagnon, apesar do termo história dentro

da análise literária apresentar o inconveniente de orientar a reflexão em outro

sentido, ele ainda sim, nos oferece a opção de verificar outros pontos de vista. Não

apenas sobre a relação dos textos entre si no tempo, mas também a relação dos

textos com seus contextos históricos. Sendo menos contraditórios, e mais

complementares, pois de acordo com o autor a invocação do contexto histórico

serve geralmente para explicar o movimento literário. “A literatura muda porque a

história muda em torno dela” (COMPAGNON, 2010, p. 196).

Vale aqui ressaltar que o gênero fábula, tem como princípio narrativo a

utilização de animais representando tipos humanos, e via de regra, possui alto teor

moralizante, chamando nossa atenção para as falhas dos homens e suas injustiças.

De acordo com Adriana Alves de Paula Martins (2004), Orwell, em uma era

definitivamente política, encontrou na fábula um subgenêro literário ideal para

discutir temas polêmicos e incomodos como a injustiça, a desigualdade social e a

perseguição política, em uma época de francos constrangimentos ideológicos.

Uma vez que Orwell aborda em sua obra não somente o proceso

revolucionário russo, mas as classes sociais, os valores e desejos, medos e

angustias, a falta de prespectiva com o presente, este trabalho terá como

fundamentação metodológica a história cultural, optando assim pela metodologia

proposta por Roger Chartie, para quem:

As técnicas mudam e, com ela, os protagonistas da fabricação do livro, mas permanece o fato de que o texto do autor não pode chegar a seu leitor senão quando as muitas decisões e operações lhe deram forma de livro. Não dá pra esquecer isto ao lê-lo (CHARTIER, 2001: X).

Chartier leva em consideração as diversas maneiras de se praticar à leitura.

Algumas diferenças se mostram pertinentes às discussões propostas neste trabalho,

pois compreendem três modalidades que regulamentam as variantes da utilização,

compreensão e apropriação dos textos e contribuem na análise das leituras e

leitores em suas diferenças (CHARTIER, 2001, p. X apud ALCÂNTARA, 2012, p.

114).

O autor em seus estudos, pesquisa sociedades e culturas a partir das práticas

da escrita e da leitura. Em Práticas de Leitura, revela sua linha de investigação a

partir do pressuposto universal de que a leitura é uma prática cultural, “mas que

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naturalmente é de (quase) todos e para todos idêntica”. Contudo, “cada leitor, a

partir de suas próprias referências, individuais ou sociais, históricas ou existenciais,

dá um sentido mais ou menos singular, mais ou menos partilhado, aos textos de que

se apropria” (CHARTIER, 1991, p.10 apud BARROS, 2005, p.139).

Essa abordagem metodológica tem por objetivo averiguar as impressões, e as

possíveis concepções criadas pela fonte literária em questão, o livro A Revolução

dos Bichos, servindo como instrumento de apoio a análise e suas problematizações.

O grau de ruína, o enfoque, por vezes, subjetivo, observados por Orwell,

possibilitarão traçar analogias que apontem para uma total falta de preocupação

com o outro, leia-se nesta perspectiva, as massas operárias.

Vieira e Silva (2005) lembram-nos de que, embora se tenha assumido como

um escritor político apenas após a sua participação na Guerra Civil Espanhola, a

simpatia pela causa dos oprimidos fez-se sentir nos primeiros romances de Orwell,

em A Revolução dos Bichos (1945), lê-se:

Nenhum animal, na Inglaterra, sabe o que é felicidade ou lazer, após completar um ano de vida. Nenhum animal, na Inglaterra, é livre. A vida de um animal é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade nua e crua (ORWELL, 2007, p. 12).

A obsessão e a instabilidade estão, por sua vez, na estreita dependência da

indiferença em relação à realidade. A indiferença permite que as maiores

atrocidades sejam cometidas em nome da causa nacionalista. Orwell tirou partido do

registro alegórico da fábula para conciliar o seu engajamento político (enquanto

cidadão preocupado com os destinos do bem-estar da humanidade) com a

necessidade de desmascarar o autoritarismo totalitário soviético, encarado por

muitos intelectuais, de forma mítica e equivocada, como a solução redentora da

esquerda para o caos de um mundo em ebulição (MARTINS, 2004, p. 2).

“Animal Farm não seria para os formalistas uma alegoria do Stalinismo; pelo contrário, o Stalinismo simplesmente oferecia uma oportunidade propícia à criação de uma alegoria” (EAGLETON, 1983, p. 3).

O escritor de A Revolução dos Bichos tornou-se ícone dos que combateram o

stalinismo e todas as outras ideologias totalitárias. É seguindo esse viés que o autor

procura denunciar, através de uma história de fácil entendimento, a influência

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negativa do mito soviético sobre o operariado dos países do Ocidente. Nesse

sentido asseverou: “convenci-me de que a destruição do mito soviético era essencial

para conseguirmos reviver o movimento socialista” (SILVA, 2003, p. 2).

George Orwell simboliza os dilemas vivenciados pelo intelectual que se engaja nas lutas sociais adotando uma perspectiva ideológica de esquerda: silenciar ou correr o risco de ser utilizado enquanto arma teórica contra as idéias igualitárias de esquerda (SILVA, 2003, p. 2).

Marco Scott Teixeira (2004) descreve George Orwell como um escritor de

uma sinceridade incontestável, que testemunhou e viveu pessoalmente tudo que

retratou em sua obra. Morreu em 1950, aos 46 anos. Crítico violento do totalitarismo

de todos os tipos, da exploração das massas trabalhadoras, do imperialismo e do

colonialismo, pretendeu manter, sobretudo um espírito independente e

profundamente ligado à realidade vivida, com o qual foi coerente até a morte.

Seguindo as diferenças de opinião entre alguns críticos de Orwell, pretende-

se neste projeto recuperar leituras e questionamentos sobre o livro e seu autor.

Avaliando sua recepção enquanto literatura e crítica política, no intuito de ampliar as

perspectivas que nortearam a produção da obra e as influências que ela causaria

posteriormente.

Analisando os principais momentos da fábula política e visando compreender

a relação existente entre a Revolução Russa e a Revolução dos Bichos. Este

trabalho propõe-se enfim a encontrar os pontos que ajudaram a consolidar a

imagem do processo revolucionário ocorrido na antiga União Soviética, bem como

sua influência no mundo ocidental.

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2.O Autor - George Orwell

George Orwell, de acordo com Vieira e Silva (2009), é um autor bem

contemporâneo. Embora seja perceptível em sua vastíssima obra a influência de

contextos históricos definidos e datáveis, a saber: Revolução Civil Espanhola,

Nazismo na Alemanha, Fascismo na Itália, Stalinismo na Rússia e, sobretudo, a

Segunda Guerra Mundial. Ainda sim, permanece atual o seu olhar crítico sobre o

cinismo da cena política e a forma inteligente que utilizou para falar de liberdade.

Expondo a estupidez de todo o tipo de submissão. É esse olhar crítico e

denunciador que caracteriza a perspectiva que hoje apelidamos de “orwelliana”.

Era terrivelmente perigoso deixar os pensamentos vaguearem num lugar público, ou no campo de visão duma tele-tela. A menor coisa poderia denunciá-lo. Um tique nervoso, um olhar inconsciente de ansiedade, o hábito de falar sozinho – tudo que sugerisse anormalidade, ou algo de oculto (ORWELL, 2003, p. 61).

Seguindo ainda as considerações de Vieira e Silva, observamos que a crítica

feita a uma sociedade oprimida e fortemente vigiada pelo poder instituído, e que é

tida como solução única para a implantação e a manutenção da ordem social,

tornar-se-á pertinente para a reflexão e a relevância do pensamento Orwelliano.

“Todos os hábitos do Homem são maus. E principalmente, jamais um animal deverá tiranizar outros animais. Fortes ou fracos, espertos ou simplórios, somos todos irmãos. Todos os animais são iguais” (ORWELL, 2007, p. 15).

George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, nasceu em Motihari, na Índia

inglesa, em 25 de junho de 1903. Poucas pessoas, mesmo entre aquelas que eram

mais próximas, conheciam o seu verdadeiro nome. Era, conforme auto se definiu, de

uma família de baixa alta classe média inglesa. Seu pai era funcionário da

administração do Império Britânico. Ainda criança, retorna à Inglaterra. Estudou na

mais cara, esnobe e aristocrática das Public Schools da Inglaterra: a de Eton, no

entanto não chegou a cursar Universidade.

Em 1922, Orwell regressou à Birmânia, trabalhando durante cinco anos para

a Polícia Imperial Indiana. Pediu demissão de seu emprego de policial, conforme

relatou em A Caminho de Wigan Pier, um de seus livros autobiográficos, por odiar o

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imperialismo ao qual estava servindo1. De regresso à Europa, decidiu tornar-se

escritor. Juntando-se aos trabalhadores e mendigos dos bairros pobres de Londres e

de Paris, experiência que foi contada na obra: Na Pior em Paris e Londres (1933),

um relato concreto sobre a pobreza, falta de liberdade e sobre a profunda

desigualdade social.

Quando me sento para escrever um livro, não digo para mim ‘vou produzir uma obra de arte’. Escrevo porque existe alguma mentira para ser denunciada, algum fato para o qual quero chamar a atenção. E penso sempre que vou encontrar quem me ouça (ORWELL, 2003, Contra capa).

No entanto, a partir de 1934, Orwell passou a viver com o dinheiro que

ganhava dos seus escritos. Na Inglaterra, escreveu na imprensa socialista e

trabalhou em diversas funções, como livreiro, professor e jornalista. Foi então que

publicou Dias na Birmânia, um romance antiimperialista, de onde tirou proveito de

suas experiências vividas no Oriente.

Em 1936, já socialista confesso, participaria da Guerra Civil Espanhola (1936-

1939), como já foi citado anteriormente, transferindo-se então para a Espanha, no

intuito de defender o governo republicano de esquerda da Frente Popular. Na

Guerra foi ferido na garganta, sofrendo assim, danos em suas cordas vocais, o que

deixou sua voz ligeiramente alterada. Mais tarde escreveria Lutando na Espanha

(1938), relato de sua experiência frustrante na Guerra Civil Espanhola. Esta Guerra

não só fortaleceu suas convicções de socialista revolucionário como também o

tornou um anti-stalinista convicto.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Orwell trabalhou como correspondente

de guerra para a BBC. Em 1945, publicou A Revolução dos Bichos, até hoje sua

obra mais popular, e o romance 1984, publicado em 1949, no qual, satiriza de

maneira pessimista as ameaças que a tirania política poderia vir a causar no futuro.

Sofia Sampaio (2005), em sua análise sobre as obras de George Orwell, diz

que a crítica tem sido unânime em considerar os livros A Revolução dos Bichos e

1984, expoentes máximos da obra do autor inglês. A versão fabulada da Revolução

1 “Durante cinco anos, eu tinha feito parte de um sistema opressivo, que me fez ficar com a consciência pesada. (...) Eu tinha consciência da imensa carga de culpa que eu tinha de expiar. Isso pode parecer um exagero, admito; mas qualquer pessoa sentiria o mesmo se, durante cinco anos, fizesse um trabalho o qual desaprovasse totalmente. (...) Eu pensava ser preciso livrar-me, não apenas do imperialismo, mas também de qualquer forma de dominação do homem pelo homem.” (ORWELL, 1986, p. 145-46 apud VOGOT, 2007, p. 247).

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Russa, bem como a história do sofrimento atroz de Winston Smith2 sob o braço de

ferro do Big Brother, cedo ultrapassa a língua do seu autor, e adquirem

reconhecimento internacional. Na medida em que retratam sociedades projetadas,

possibilitam a compreensão das idéias de Orwell sobre utopia.

“Tornei-me pró-socialista mais por desgosto com a maneira como os setores mais pobres dos trabalhadores industriais eram oprimidos e negligenciados do que devido a qualquer admiração teórica por uma sociedade planificada” (ORWELL, 2007, p. 142).

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Iliane Tecchio (2010) compreende que as obras de Orwell, mais do que

apenas relatos ficcionais, tratam-se, com efeito, de “representação”, isto é, relatos

históricos de eventos vividos pelo escritor que, de forma paralela, parecia filosofar

sobre as mazelas que afligiam a sociedade: acontecimentos circunstanciais

contemporâneos ao período da produção de seus textos.

George Orwell morreu de tuberculose em 21 de Janeiro de 1950, aos 46

anos, em um hospital em Londres.

2 Winston Smith é o protagonista do livro 1984. (ORWELL, 2003). 3 Cf. Prefácio do autor à edição ucraniana de “A Revolução dos Bichos”, de 1947. Este prefácio está incluso na obra (p. 140-147) na edição com a qual trabalhamos.

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3.Contexto Histórico de “A Revolução dos Bichos”

Orwell relata em seus romances suas várias experiências pessoais. Como

policial na Birmânia, participante da Guerra Civil Espanhola e correspondente da

BBC durante a Segunda Guerra Mundial, respectivamente. Acontecimentos que

contribuíram para o desenvolvimento das críticas que seriam feitas posteriormente

em suas obras, enfatizando o caráter ideológico e antiimperialista de seus

posicionamentos.

A obra publicada em 1945, portanto, após o término da Segunda Guerra

Mundial, trata do período entre ambos os conflitos mundiais, marcado pela crise

econômica de 1929, o crash da bolsa de Nova York, que afetou as grandes nações

capitalistas. Bem como a mudança do paradigma político mundial, com a queda de

diversos governos imperialistas.

Depois da Revolução Francesa, surgiu na Europa uma Revolução Russa, e isso mais uma vez ensinou ao mundo que mesmo o mais fortes dos invasores podem ser repelidos, assim que o destino da Pátria é realmente confiado ao povo, aos humildes, aos proletários, à gente trabalhadora (PAVONE, 1991, p. 406 apud HOBSBAWN, 2004, p. 61).

No começo do século XX, a Rússia era um país de economia relativamente

atrasada e de base agrícola. Os trabalhadores rurais viviam em extrema pobreza, as

custas dos altos impostos, que eram utilizados para manter o sistema czarista-

absolutista de Nicolau II4, ou seja, concentrando em suas mãos todos os poderes do

Estado.

Em 22 de janeiro de 1905, Nicolau II, em uma demonstração violenta e

repressiva, mandou seu exército fuzilar milhares de manifestantes desarmados que

exigiam uma Assembléia Constituinte e melhores condições de trabalho. O episódio

ficou conhecido como Domingo Sangrento, e acabou por desencadear uma onda de

protestos que culminaram em uma greve geral e em levantes militares. Esses

eventos estimularam a formação dos sovietes – conselho de trabalhadores – em

várias regiões da Rússia, ativando assim a participação popular.

4 Czar Nicolau II, foi o último Imperador da Rússia, rei da Polônia e grão-duque da Finlândia. Filho do czar Alexandre III, governou desde a morte do pai, em 1 de novembro de 1894, até a sua abdicação em 15 de fevereiro de 1917.

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Com a entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial, o empobrecimento da

nação e os altos gastos com o exército, só aumentaram a insatisfação popular,

criando uma zona fértil para motins e greves em diversos setores da sociedade,

inclusive, dentro do próprio exército. Em fevereiro de 1917, Nicolau II é retirado do

poder, e Kerenski – Menchevique5 - estabelece um governo provisório. Entretanto os

Bolcheviques6, liderados por Lênin, organizaram uma nova revolução em outubro do

mesmo ano. Com Lênin assumindo o governo e implantando o socialismo, as terras

passaram a ser redistribuídas para os trabalhadores rurais, e as fábricas passaram

para as mãos dos operários. Após a revolução, foi criada a URSS (União das

Repúblicas Socialistas Soviéticas). Seguindo-se a isso um período de grande

crescimento econômico, principalmente após a criação da NEP (Nova Política

Econômica) que tinha por objetivo desenvolver o país industrialmente. A URSS

tornou-se uma grande potência econômica e militar. Mais tarde rivalizaria com os

Estados Unidos no período que ficou conhecido como Guerra Fria.

Devemos nos lembrar de que muitos dos princípios da Revolução Russa

eram baseados nos escritos de Karl Marx (1818 – 1883), filósofo e economista

alemão, que acreditava que as sociedades apresentavam dois seguimentos bem

definidos - a classe dos proprietários e a trabalhadora. Sendo que, a segunda

fornecia todos os produtos enquanto a primeira desfrutava dos benefícios. Isso, de

acordo com Marx, criava um nível de desigualdade e opressão entre as classes

operárias. Sua proposta era criar uma sociedade sem classes, onde o trabalho seria

dividido entre todos, em benefício do bem comum, e isso só poderia ocorrer através

de processos revolucionários.

Esta divisão de classes proposta por Karl Marx entre operariado e burguesia,

não serviam apenas para demonstrar as relações de trabalho, mas toda a divisão

social existente por conta dela. De acordo com ele, o relacionamento só existe

porque o empresário necessita da força de trabalho do operário e este por sua vez

precisa do salário. E neste caso as condições que permitem esse relacionamento

são definidas pela luta que se estabelece entre as classes, com a intervenção do

5 Menchevique (minoria): pertenciam a uma facção do movimento revolucionário russo que surgiu em 1903 depois da disputa entre Vladimir Lênin e Julius Martov, ambos membros do Partido Operário Social-Democrata Russo – POSDR. (BOBBIO, 1998, p. 115 - 16). 6Bolchevique (maioria): indicava os seguidores da linha política e organizativa imposta por Lênin ao Partido Operário Social-

Democrático da Rússia (P.O.S.D.R.) no congresso de 1903 (BOBBIO, 1998, p. 115).

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Estado, por meio das leis, dos tribunais ou da polícia, com o intuito de ser “benéfica”

para ambas.

O desenvolvimento da produção e seus excedentes deram lugar a uma nova

divisão entre quem administrava – o diretor ou gerente - e quem executava – o

operário. Sendo, portanto, a divisão social do trabalho em uma sociedade a principal

geradora da divisão de classes.

Lênin, entretanto, fez sua própria interpretação dos conceitos de Marx, ao que

chamamos hoje de marxismo-lenista ou simplesmente Leninismo. Norberto Bobbio

(1998) define o Leninismo, como a interpretação teórico-prática do marxismo, em

clave revolucionária, elaborada por Lênin num e para um país atrasado

industrialmente como a Rússia, onde os camponeses representavam a enorme

maioria da população. Com base nesta realidade haviam surgido ideologias

específicas - o populismo7 - de cuja influência nem mesmo a ala da intelligentsia,

que introduziu o marxismo na Rússia, conseguiu jamais libertar-se de todo.

Ainda de acordo com o autor, diante do dilema de, ou trair o espírito científico

do marxismo, inserindo nele a antiga idéia populista do salto da fase capitalista, ou

aceitar o marxismo até as últimas conseqüências, sacrificando a impaciência pela

revolução socialista, Lênin não teve dúvidas, e foi marxista ortodoxo. As tarefas

primordiais e indiscutíveis do partido social-democrático russo eram, para Lênin, o

desenvolvimento do capitalismo ao nível das estruturas e o desenvolvimento da

democracia parlamentar ao nível das superestruturas.

Nossa missão principal e fundamental consiste em promover o desenvolvimento político e a organização política da classe operária. Quem relega esta incumbência á segundo plano e a ela não subordina todas as tarefas parciais e as diferentes formas de luta tomam um caminho errado e inflige grave dano ao movimento (LÊNIN, 1979, p. 11).

Com a morte de Lênin em 1924, Trotski, chefe do exército, que defendia a

revolução permanente, com objetivo de difundir o socialismo pelo mundo e Josef

Stalin, o secretário geral do Partido Comunista, que pregava a consolidação interna

da revolução, disputaram o poder do Estado soviético. Stalin venceu, e passou a

marginalizar seu principal oponente, bem como aos seus seguidores, até eliminá-los.

7 Populismo – Termo utilizado para designar um conjunto de práticas políticas que consiste no estabelecimento de uma relação direta entre as massas e o líder carismático, sem a intermediação de partidos políticos.

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Mergulhando a URSS em uma situação política, social e econômica, igual ou em

alguns aspectos, mais crítica, do que esta se encontrava antes da revolução.

O capitalismo e a sociedade burguesa transformaram e dominaram o mundo, e ofereceram o modelo – até 1917 o único modelo – para os que não queriam ser devorados ou deixados para trás pela máquina mortífera da história. Depois de 1917, o comunismo soviético ofereceu um modelo alternativo, mas essencialmente do mesmo tipo, exceto por dispensar a empresa privada e as instituições liberais (HOBSBAWN, 2004, p. 199).

Sobre este período, Bobbio (1998), diz que, por definição histórica, o governo

stalinista foi o período em que o poder se consolida na União Soviética, cuja à frente

encontrava-se, como secretário, Josef Stálin. Esta fase da história soviética

apresenta características particulares, tanto na política interna como na externa,

características que podem ser resumidas na expressão “socialismo num só país”.

Sob o ponto de vista da política interna, o aspecto saliente do stalinismo é a luta sem

tréguas contra os reais ou supostos inimigos do socialismo, o anti-partido.

O autor ainda ressalta que, com o exílio de seus principais líderes a partir de

1936 (estes, presentes na revolução de 1917, como Trotski, Kamenev, Zinoviev,

Bucharin e outros), a velha guarda bolchevique foi sendo gradativamente eliminada.

Assim, o partido comunista passou a enfraquecer e a perder sua função central na

estrutura estatal da União Soviética, uma vez que os expurgos lhe minaram

profundamente a estrutura. Conseqüentemente, como o autor ainda enfatiza, a

obediência primária foi prestada de forma jamais vista a Stálin, cujas ações e

escritos foram considerados novos fundamentos e continuação original da práxis

marxista (BOBBIO, 1998, p. 1221).

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3.1 A Revolução dos Bichos

“Pensei em denunciar o mito soviético numa história que fosse fácil de compreender por qualquer pessoa e fácil de traduzir para outras línguas”

8.

A edição utilizada neste trabalho é a primeira edição (1ª Ed.) de 2007,

publicada pela Companhia das Letras, São Paulo, que adquiriu os direitos da obra e

a relançou com nova tradução9.

O livro “A Revolução dos Bichos”, foi escrito originalmente por George Orwell

em meados de 1943, tornando-se célebre como umas das primeiras críticas ao

regime soviético, entretanto, teve sua publicação prorrogada, tendo em vista que,

durante este período a URSS era ainda aliada dos EUA e da Inglaterra em razão da

Segunda Guerra Mundial. Segue abaixo um trecho retirado de umas das

correspondências recebidas por Orwell do Ministério da Informação da Inglaterra:

[...] Agora vejo o quanto a publicação do livro no momento atual pode ser considerada de extrema inconveniência. [...] corresponde tão completamente aos fatos ocorridos na Rússia soviética e a seus dois ditadores. [...]. Outra coisa: seria menos ofensivo se a casta predominante na fábula não fosse à dos porcos. Creio que a escolha dos porcos para a casta governante ira certamente ofender muita gente [...] (ORWELL, 2007, p. 126)

10.

Ainda que o livro trate de elementos e personagens que contribuíram para o

processo revolucionário russo, Orwell concentrou seu enredo nos arredores de

Londres, mais especificamente na zona rural. Narrando de forma fabulada a revolta

dos animais da fazenda Granja do Solar, que após a revolução passou a ser

chamada de Granja dos Bichos.

Jaqueline Peixoto Barbosa (2001) define o gênero fábula, como o recurso

narrativo que tem por objetivo registrar as experiências e o modo de vida dos povos.

Salienta que, é por meio dessas histórias que ouvimos por meio de tradição oral ou

registradas nos livros, que aprendemos lições importantes para o convívio em

sociedade. Entretanto, apesar de parecerem historinhas para criança, onde

encontramos animais que falam e agem como seres humanos, as fábulas,

8 Cf. Pos-fácio de Christopher Hitches. Ibidem, 2007, p. 113 – 121. 9 Tradução de Heitor Aquino Ferreira. 10

Cf. Prefácio do autor à primeira edição inglesa de “A Revolução dos Bichos”, de 1945. Este prefácio está incluso na obra (p. 125 -139) na edição com a qual trabalhamos.

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inicialmente, foram criadas para serem contadas para adultos, como forma de

aconselhá-los e distraí-los. Sendo que, através dos tempos, muitos autores

renomados se dedicaram a contar e escrever fábulas (BARBOSA, 2001, p. 10 apud

MAIA, 2007, p. 7).

Ao analisarmos a fábula política de Orwell sobre o ponto de vista histórico no

que tange a Revolução Russa, encontramos os elementos da revolução dispostos

entre personagens e fatos. Um destes elementos, à monarquia, seguida pela classe

burguesa, estariam representadas na figura do Sr. Jones, dono da Granja do Solar.

Servindo de exemplo aos sistemas absolutista e capitalista respectivamente, que

sob a ótica do autor visavam apenas à exploração do proletariado.

O homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não pões ovos, é fraco demais para puxar o arado, não corre o que dê para pegar uma lebre. Mesmo assim, é o senhor de todos os animais. Põe-nos a mourejar, dá-nos de volta o mínimo para evitar a inanição e fica com o restante (p. 12).

Christopher Hitches (2007) faz uma analise das demais personagens da obra

e traça os paralelos com os elementos reais e ou subliminares existentes no texto de

Orwell. Um deles, o velho Major, porco ancião, que antes de morrer, profere de

forma solene suas palavras proféticas, arrebatando os porcos mais cultos, a

intelligentsia do mundo animal, que sob a ótica de Hitches seria uma figura inspirada

em Karl Marx.

De acordo com o autor os outros elementos estariam presentes nos demais

animais. Como os cavalos Sansão e Quitéria, que representariam o proletariado.

Nas ovelhas, vacas, galinhas e outras forças dos pastos e do quintal, que

simbolizariam os elementos disparatados do campo, bem como a classe média. E

neste caso as exceções seriam a égua branca Mimosa – um tipo pequeno-burguês –

que teria sido alvo dos mimos do Sr. Jones – e Moisés, o corvo – ave de uma

eloqüência crocitante e vocação de pregador que fala de um mundo além do céu,

estes, de acordo com Hitches, estariam totalmente indiferentes à mudança no status

quo na Granja.11

11 Cf. Pos-fácio de Christopher Hitches. Ibidem, 2007, p. 113 – 121.

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No último instante, Mimosa, a égua branca, vaidosa e fútil, que puxava a charrete do Sr. Jones, entrou, requebrando-se graciosamente e mastigando um torrão de açúcar. Tomou lugar bem à frente e ficou meneando a crina branca, na esperança de chamar atenção para as fitas vermelhas que lhe adornavam (p. 11).

As personagens mais emblemáticas, no entanto, são os porcos Napoleão e

Bola de Neve, e Garganta, os dois primeiros personificando as figuras de Stalin e

Trotski respectivamente. Estes tomaram para si, o “fardo” de compreender e

compilar os ensinamentos do Major e assim aplicá-los a vida dos animais.

Estes três haviam organizado os ensinamentos do Major num sistema de pensamento a que deram o nome de Animalismo. Várias noites por semana, depois que Jones dormia, faziam reuniões secretas no celeiro e expunham aos outros os princípios do Animalismo (p. 19).

Os princípios do Animalismo consistiam em sete mandamentos, aos quais

todos os animais deveriam obedecer. São eles:

1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo.

2. O que andar sobre quatro pernas, ou tiver asas, é amigo.

3. Nenhum animal usará roupa.

4. Nenhum animal dormirá em cama.

5. Nenhum animal beberá álcool.

6. Nenhum animal matará outro animal.

7. Todos os animais são iguais.

Sobre o porco, Garganta, entretanto não existe ainda unanimidade, de qual

figura ou setor da sociedade representa exatamente. Iliane Tecchio (2010) diz que

sendo este porco o responsável por proferir as decisões dos líderes, e tendo em

vista sua habilidade retórica e persuasiva, nos leva a traçar um paralelo com a

máquina de propaganda stalinista e ou até mesmo com as lideranças sociais

apoiadoras submissas à Stalin. Segue abaixo discurso da personagem Garganta

justificando o fato dos líderes, guardarem para eles todo o leite e a colheita de

maçãs:

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“Camaradas! conclamou. “Não imaginais, suponho, que nós, os porcos, fazemos isso por espírito de egoísmo e privilégio. Muitos de nós até nem gostamos de leite e de maça. Eu, por exemplo, não gosto. Nosso objetivo ao ingerir essas coisas é preservar a saúde. O leite e a maçã (está provado pela ciência, camaradas) contêm substâncias absolutamente necessárias à saúde dos porcos. Nós porcos somos trabalhadores intelectuais. A organização e a direção desta granja dependem nós. Dia e noite velamos pelo vosso bem estar. [...] Sabeis o que sucederia se os porcos falhassem em sua missão? Jones voltaria! Com toda certeza, camaradas!”[...] não há dentre voz quem queira Jones de volta (p.33).

Ao analisarmos esta passagem do ponto de vista da autora, notamos o grau

de envolvimento em que os animais estavam sendo inseridos dentro da trama

ideológica traçada pelos dominadores, que de acordo com ela, faz alusão a um

sentimento de proveito comum e de segurança, criado por Stalin durante os anos de

seu governo, para justificar suas ações frente à sociedade.

Em outro parágrafo encontramos nova situação na qual, o porco, Garganta,

procura justificar as atitudes dos líderes, frente a uma “mínima” alteração nos

mandamentos:

[...] “Diz que ‘Nenhum animal dormirá em cama com lençóis’.” Curioso, Quitéria não se recordava dessa menção a lençóis no Quarto Mandamento. Mas se estava escrito na parede, devia haver (p.58).

E Garganta assim justifica:

[...] A cama é meramente o lugar onde se dorme. Vendo bem, um monte de palha no estábulo é uma cama. A lei era contra os lençóis, que é uma invenção humana. [...] Porém são mais do que necessitamos, posso afirmar camaradas, com todo o trabalho intelectual que atualmente recai sobre nós. Vocês não seriam capazes de negar-nos o repouso, camaradas, seriam? (p.58).

Hannah Arendt ao analisar os governos totalitários no livro Origens do

Totalitarismo, estudou amplamente os discursos de seus líderes e a máquina de

propaganda desses governos. Sobre este aspecto, escreveu:

A sociedade tende a aceitar uma pessoa pelo que ela pretende ser, de sorte que um louco que finja ser um gênio sempre tem certa possibilidade de merecer crédito, pelo menos no início. Na sociedade moderna, com a sua falta de discernimento, essa tendência é ainda maior, de modo que uma pessoa que não apenas tem certas opiniões, mas as apresenta num tom de inabalável convicção, não perde facilmente o prestígio, não importa quantas vezes tenha sido demonstrado o seu erro (ARENDT, 2000, p. 354).

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A necessidade de Orwell deflagrar, o que ele entendia como a “mentira do

mito soviético” se faz perceber em todo o livro. Ao analisarmos o caso de Trotski em

particular, podemos perceber a necessidade de Orwell de demonstrar a manipulação

dos fatos, que pareciam ocorrer ao bel prazer, dos interessados. O trecho a seguir

faz menção à expulsão de Bola de Neve, colocando em xeque sua real participação

nos eventos:

“Ele foi valente na Batalha do Estábulo”, disse alguém. “Valentia não basta”, respondeu Garganta. “A lealdade e a obediência são mais importantes. [...] acredito, tempo virá em que verificaremos que o papel de Bola de Neve foi muito exagerado (p. 49).

Em outro trecho, a confirmação de que Bola de Neve, em “nada contribuiu”

para a revolução, tampouco fez parte dos processos de transformação da Granja,

além de procurar minar os planos de Napoleão de manter a paz e promover o

progresso. O excerto a seguir faz menção à queda do moinho. Projeto que consumiu

fisicamente os animais, e teria sido malevolamente destruído por Bola de Neve:

“Camaradas”, disse com toda a calma, “sabem quem é o responsável por isto? Sabem quem foi o inimigo que, na calada da noite destruiu nosso moinho de vento? Bola de Neve!”, [...] esse traidor insinuou-se até aqui, sob o manto da escuridão, e destruiu nosso labor de quase um ano. Camaradas, neste local e neste momento, pronuncio a sentença de morte para Bola de Neve (p. 60).

Ao analisarmos está passagem em particular percebemos de acordo com

Norberto Bobbio (1998) que a luta chegou ao auge com os processos de Moscou e

com a eliminação física de toda a velha guarda bolchevique, de muitos líderes

militares e, por fim, de Trotski (1940), no exílio havia mais de dez anos.

Bobbio sobre isto ainda assevera que, embora o Stalinismo seja amiúde

considerado como a encarnação do poder totalitário, tornado possível graças à

presença de uma ideologia dogmática, à capilaridade da propaganda e à

onipresença do controle policiesco, nele o papel tradicionalmente atribuído a uma

organização burocrática como o partido é desempenhado por um líder "carismático"

que soube manipular habilmente o Politburo12 e o Comitê Central.

12

Politburo é um acrônimo derivado do russo Politítcheskoe Byurô, contraído para Politbyurô, dando origem a palavra alemã Politbüro. Trata-se de um comitê executivo de numerosos partidos políticos, designadamente os antigos partidos comunistas do Leste Europeu e o Partido Comunista de Cuba.

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[...] Nenhuma das camadas sociais liquidadas era hostil ao regime, nem era provável que se tornasse hostil num futuro previsível. A oposição ativa e organizada havia cessado de existir por volta de 1930 quando Stálin, em seu discurso no Décimo Sexto Congresso do Partido, declarou ilegais as divergências ideológicas dentro do partido, sendo que mesmo essa frouxa oposição mal pudera basear-se em alguma classe existente (ARENDT, 2000, p. 371).

A autora Sofia Sampaio (2005) em sua analise, ressalta a importância da

ironia que prevalece em toda obra, entretanto de acordo com ela, há quem veja a

obra como uma denúncia a todas as revoluções, ao comunismo em particular,

tomando-a como expressão evidente de um ponto de vista conservador. De acordo

com a autora, alguns teóricos acreditam que Orwell nada mais fez do que “atolar na

areia movediça todas as aspirações utópicas da natureza humana”. Sobre isto

argumentam que, sem quaisquer reservas, a idéia de organização hierárquica da

sociedade está enraizada na natureza humana, tornando a obra uma representação,

na realidade do anti-utopismo e do crescente derrotismo com o qual Orwell observa

o desenvolvimento social.

Entretanto, a autora, constata que existem outros autores que insistem na

mensagem positiva da obra, argumentando que longe de pretender declarar que

todas as revoluções são uma fraude, o objetivo de Orwell seria na realidade

revitalizar o movimento socialista através da exposição da mentira soviética.

Elisabete do Rosário Mendes Silva (2005), analisa um pouco mais a fundo a

proposta social de Orwell, que em seu entendimento, era mais do que apenas o de

deflagrar os males dos governos totalitários. De acordo com ela, o objetivo seria o

de curar muitas das feridas provocadas pela Segunda Guerra Mundial, e tendo como

premissa eliminar os vícios arraigados também na sociedade e políticas britânicas

durante séculos. Um mal-estar causado pelo sistema político da Grã-Bretanha, com

sua política imperialista de cunho colonizador-exploratório. Encontrado no socialismo

a solução para “libertar” seu país do capitalismo privado e do poder coercitivo dos

regimes totalitários.

“As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco” (p. 112).

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O desenrolar do enredo é propositalmente desenvolvido pelo autor no intuito

não somente de criticar os regimes totalitários existentes, mas de eviscerar toda e

qualquer forma de exploração imposta por sistemas dominantes, comunista-

socialista, capitalistas ou não, mas que tenham por objetivo, sua auto-preservação e

detrimento da sociedade.

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4. Considerações Finais

A Revolução dos Bichos abrange um espaço inesgotável de questões, que

exigem do leitor certo conhecimento histórico e cultural. Entretanto, ao se utilizar da

fábula, Orwell teve como objetivo alcançar os leitores mais “simplórios”, e expor seu

entendimento à cerca das falácias as quais acreditava que os mesmo estariam

sendo sujeitados.

George Orwell foi um escritor emblemático, que manteve até o fim de sua

vida, seu posicionamento ideológico, proporcionando-nos através de seus escritos, a

compreensão de sua noção sobre a situação de vulnerabilidade do homem durante

a primeira metade do século XX.

A utilização de Roger Chartier, como base metodológica, fez-se necessária

para analisar o livro de acordo com a leitura que cada leitor faz de uma determinada

obra, levando-se em consideração o lugar atemporal da obra e os referencias de

tempo e lugar de cada leitor. Chartier (1991) nos lembra que, os “paradigmas

dominantes” que formaram, durante certo tempo, o estruturalismo ou o marxismo,

tinham na rejeição proclamada das ideologias a garantia de sucesso (ou seja, a

adesão a um modelo de transformação radical, socialista, diferente das sociedades

ocidentais capitalistas e liberais).

Esta perspectiva nos possibilita questionar as formas de governo adotadas

em determinados regimes, neste caso, os ditos totalitários, partindo da apropriação

literária e compreendendo que cada leitor faz uma interpretação diferente da obra a

sua disposição. Essas leituras contribuíram para justificar o ponto de vista adotado

neste trabalho.

A obra chama a atenção, não apenas como contributo artístico, mas como

testemunho consciente de um período em que a iniqüidade se fez presente na vida

cotidiana, pressionando a sociedade entre conflitos ideológicos e poder estatal.

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