A Revolta

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Numero i — Ano I X \ N \ \ N \ \ \ \ N V X \ V ^ \ V \ \ \ r D'.RETOR—J. Teixeira EDITOR 1 A. Tavares J. ADMINISTRADOR —» D SILVA i Propriedade áa âllisnga»Ânarpsíi Coimbra", n dê Outubro de T 914 \ Avulso 10 réis / / / / y —• ' / / / . / f > t / J ' / / / / / / / / / r cv y y / s / COMUNISTA X A NOSSA MISSÃO REQAÇÂO E ADMINISTRAÇÃO ^ Rua Bandeira, 11-2:' fiOIMBRA —PQRTUSIH Corop. e Imp. MINERVA COMERCIAL " Ru* da Republica, 73 ( 75 p 77-eYO.íA 3 i A GUERRA Lutar ardentemente para intensificar os esforços que em todo o orbe dispen- dem lúcidos pensadores para fazer sur- gir, na noite tenebrosa que envolve o planeta, o facho luminoso da Revolução Social — única que integralmente eman- cipará os escravos do salario, tornando o homem arbitrio do seu destino, — eis em sintese, o que será a nossa obra. Queremos depôr, dos áureos plintos, amos e senhores, fazendo rolar por terra, foragidos como passaros noturnos á luz brilhante da aurora, os potentados de todas as cores, para efetivar a admi- ravel divisa de Blanqui: — Nem Deus nem Amos, — organisando a sociedade perfeita sobre bases equitativas e profundamente liber- tarias. i^ra isto vimos. íyiceaijdn J^fc^tar cèrgbralmente a necessaria minoria dos produtores; eles saberão depois, por si, dar o formidável impulso que fará ruir a sociedade capitalista. E então, nas ruinas do corrompido mundo, desfeitos os perconceitos sociaes, se edificará a sociedade livre porque lutamos. Não mais Estados ou Religiões A burla democrata, a feroz oligarquia, sangui-sedentos impérios, hipócritas re- publicas, tudo terá findado o seu poderio. Os dominadores do comercio e da industria, contribuirão ao trabalho colé- tivo sem recolher a parte de lião. O troár do canhão calar-se-ha, e os ódios internacionaes metamorfosar-se- hão num imenso amplexo que entre si os povos hão de dár. Terão desapare- cido fronteiras, estandartes, pavilhões. A vida será livre e todos os sêres gosa- rão emfim dos enumeráveis produtos da Natureza. O mundo será isento da desordem capitalista, dando logar á fraternidade universal A miséria brutal, com suas sanguino- lentas garras, haverá cessado de abater legiões inteiras de seres humanos. A Razão terá purificado o homem e então, sobre o universo em repouso, as estrêlas cintilarão intensamente. Raiará emfim a verdadeira Liberdade, a genuina Egualdade, a pura Fraterni- dade — A Anarquia. Vimos espalhar a flux a semente que, um dia sazonada, ha de fazer brotar dos sordidos tugurios, dos infectos casebres, das miseráveis cabanas, das profundezas das minas, da escuridade das oficinas, fabricas, de toda a parte emfim, a imen- sa legião dos escravos que, n'essa dáta, pela consciência adquirida pela assimila- ção da Filosofia Anarquista, saberão reclamar os direitos de que ha tantos séculos andam excluídos. Semeamos, como tantos, para vèr au- mentar, dia a dia, o numero dos que hão de formar a impetuosa correria que ha de derrubar as montanhas cie pre- conceitos desta sociedade, o ciclóne que ha de destruir toda a podridão sobre que vegetamos. E a semente ha de germinar, porque é pura e sã. Queremos ver por terra os ítrônos, terminada a infame exploração cdo ho- mem pelo homem. Queremos sêer livres e não escravos. Tentamos quebrar as algemas que nos impozeram os gover- nantes, porque queremos a Liberdade, e a liberdade não admite Amos, Se- nhores, nem Patrões. Vimos lutar pela Anarquia, porque ela é o sol que ilumina o nosso cerebro, a visão grandiosa que alenta nossos peitos. Ante ela, ruem cerces, falsas filoso- fr rios, consolidadas republicas. Amte ela, ruem, para não mais se levantarem, er- gástulos aviltantes, tétricos patíbulos, imundos lupanares. E' o raio que ha de fulminar os tira- nos, o vulcão cuja lava destruirá a casta parasitaria. Pela Anarquia lutamos, vindo espa- lhar a flux a semente da sua filosofia, explendente ideal, que alastrando pelo mundo, ha de proporcionar a todos os seres humanos, a triologia sublime, Pão, Terra e Liberdade. Avante pela Revolução Social! Viva a Anarquia! Traços de fogo " 0 Trabalho é honra e é brio Ja\er subjugados ao patrão, sem mostrar jámais o sentimento de Revolta; consentir, sem uma palavra de protesto, a mais torpe exploração; sorrir aos maiores abusos, mos- trando-nos sempre dóceis ao jugo capitalista; mostrar bôa cara ante os maiores sofri- mentos; como: permanecer no sub solo tene- broso onde o Grisúse acumula ominosamente, onde os desabamentos transformam a carne humana em farrapos; desfazer se ao calor dimanado pelas fauces hi antes dos altos fomos; aventurar se corajosamente sobre os oceanos para satisfazer a codicia dos arma- dores e aumentar os interesses dos milioná- rios; asfixiar-se nos fornos de cál, nas mi- nas de enxofre; trabalhar a terra sob a chuva e a neve, ou sob os ardentes raios do sol, sofrer passivamente tudo isto, afim de não morrer de fome, — eis o trabalho que os não — trabalhadores nos constragem a admirar e a defender. Ha muitos anos, ha séculos, que o tra- balho é santificado,—por palavras, nunca em facto,—pelos senhores, pelos burgueses. O trabalho é honra, di\em os moralistas d'esta sociedade, casta, inteligente e astuciosa. Com efeito o Trabalho é a virtude, a hon- ra. . O Trabalho é o balsamo puro que vivifica a Humanidade. JMas porque diabo os ricos não trabalham nunca? SATAN. Proibem os codigos a industria do rou- bo impondo penalidades severas aos in- divíduos ]que déla façam uso, mas permi- tem a guerra,—que é o roubo e o mor- ticínio legais — quando, afinal, entre es- tas duas industrias não existe diferença alguma de substancias. A guerra, segundo o principio que a rnforma, em substancia, é o morticínio organísado, friamente premeditado, cau- telosamente legalisado com uns vernises de civilisação. Os planos guerreiros d'ho- je em nada diferem dos das épocas pró- ximas da barbarie e semelhantemente o fim é o mesmo: em nada se diferencia das hecatombes primitivas; e apenas as armas, mais aperfeiçoadas e mais mortí- feras, são de efeitos mais rápidos e deci- sivos. ; Hoje, em pleno século XX, como nos 3S Cairlo-S Marte|, a auçrt^ é uma cftiosT3a:cre,"S~ uma prova ineiucta- vel de que o homem cedendo a persona- lidade á animalidade, se transforma uma fera sanguinaria insaciavel, que não se comove ante esse espectáculo, horrivel- mente dantesco, ante seus olhos desen- rolado ao natural, sobre uma grande téla. Membros mutilados, cabeças decepa- das, corpos esfacelados, eis os despojos da guerra em nossos dias! A peste devastando povoações, a fome assolando países, a miséria batendo a todas as portas, eis as funestas conse quencias da guerra! A orfandade, a viuvez, o luto, a deso- lação, eis os resultados da guerra! Ódios, ambições, emulações, eis o pro- cuto dessa luta furiosamente louca, em çue os povos da velha europa, como um cceano revolto de odios e ambições, se trucidam mutuamente, desapiedadamen- te. Os barbaros do norte atravessam o Rheno em quanto que os humanitaris= tas das margens do Sena e do Tamisa, erguendo ao vento as flamulas guerrei- ras, aclamam delirantemente o troar do canhão e a fusilaria das mausers. Operários dos países beligerantes que nada lucram com a guerra, quer sejam vencidos, quer sejam vencedores, que nenhum interesse teem na carnificina, que nenhum agravo receberam e que já- mais se viram, de baioneta calada, assas- sinam-se a sangae frio, como se um odio mortal, implacavel, os impelisse para o matadouro humano. A guerra, encarada sob qualquer ponto de vista, é sempre, no tempo e no espaço, altamente prejudicial ao trabalhador, que é, em geral, quem se bate por uma causa' que não é a sua, mas antes a de indiví- duos cujos interesses são diametralmente opostos aos seus. * * * Após as primeiras declarações de guerra e a invasão da Bélgica pelos exer- citos tudescos, não lhe compreendendo o alcance, muita gente bateu palmas de aplauso pelo gesto humanitario da Ingla- terra, colocando-se ao lado dos seus alia- dos. Era, porem, reservada e interesseira a intervenção oportuna da Gran Breta- nha colocando-se ao lado dos mais peque- nos e, por consequência, menos belico- sos. A Inglaterra não entrou na luta pelo simples prazer de ver respeitada a inte- gridade da Bélgica, da mesma forma que o incidente de Sarajevo serviu de pre- texto á Áustria, espicaçada pela Alema- nha, para declarar a guerra á Servia. Atribuir á Inglaterra uma participação desinteressada, é um erro crasso, páAroajr e grosseiro. O interesse da Inglaterra, está demons- trado por um diplomata que teve uma curiosa conversação com um redactor do diário The Standart publicada neste jor- jBajj. -da qual- titeracrevenios os períodos A Alemanha não tem agora, vida co- mercial. Inglaterra, depois de breve suspen- são, proseguiu na sua; e ha-de aumenta- la com a clientela da Alemanha. A Alemanha bem sabe, como o sabe toda a gente, por que o senso comum e pratico não é patrimonio exclusixo dum só pensador, a Alemanha sabe que, a vida comercial é o pão dos póvos. < O interesse da Gran-Bretanha é ani- quilar a concorrência que a Alemanha lhe faz em todos os mercados do inundo, no que concerne á industria, ao comer- cio e á navegação. A guerra actual é uma guerra de co- merciantes, de industriais e de loucos. A Inglaterra estende o seu poder naval atravez dos mares para dar caça, como pirata, á marinha mercante alemã; o Ja- pão, de acordo com a sua aliada, retoma as ilhas que a Alemanha havia roubado á China para as restituir á primitiva domi- nadora a troco de uma zona de iifluen- cia comercial; a Rússia com os seus exer- citos de ferro, a Rússia siberiana,a Rús- sia de Stolipine e dos cossacos, aRussia autocrata, despótica e czaresca, para ver- gonha do nosso século, bate-se em nome da Humanidade por uma causa sagrada!! Que interesse tem o povo trabalhador, o bode expiatorio dos detentores do po- der, o povo que geme e sofre, embater- se, em acutilar-se, em assassinar-se pot uma ficção ou por uma abstração? ' Evidentemente, nenhum ! Mas o povo,' afogado na ignorancia pela religião, entusiasma-se, electrisa-se, dinamitisa-se, ante os acordes ^marciais do hino nacional; e quando os estridules cânticos das canções guerreiras lhe ferem os timpanos, incendeia-se-lhe dentro do peito, incandescente, a sublime pira pâ- triotica. ,, A Juventude, generosa sempre^ irre- flectidamente e sem lhe compreende* !j ó alcance originário, amortalha-sé^a^ pri- meiras emoções provocadas por um sen-

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Numero i — Ano I

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rD'.RETOR—J. Teixeira

EDITOR1—A. T a v a r e s J. A D M I N I S T R A D O R —» D SILVA i Propriedade áa âl l isnga»Ânarpsí i

Coimbra", n dê Outubro de T 914

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Avulso 10 réis

/ / / / y —• ' / / / . / f > t / J '

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COMUNISTA X

A NOSSA MISSÃO

REQAÇÂO E ADMINISTRAÇÃO ^

Rua Sá Bandeira, 11-2:' fiOIMBRA —PQRTUSIH

Corop. e Imp. MINERVA COMERCIAL "

Ru* da Republica, 73( 75 p 77-eYO.íA 3

i

A G U E R R A Lutar ardentemente para intensificar

os esforços que em todo o orbe dispen-dem lúcidos pensadores para fazer sur-gir, na noite tenebrosa que envolve o planeta, o facho luminoso da Revolução Social — única que integralmente eman-cipará os escravos do salario, tornando o homem arbitrio do seu destino, — eis em sintese, o que será a nossa obra.

Queremos depôr, dos áureos plintos, amos e senhores, fazendo rolar por terra, foragidos como passaros noturnos á luz brilhante da aurora, os potentados de todas as cores, para efetivar a admi-ravel divisa de Blanqui: —

Nem Deus nem Amos, —

organisando a sociedade perfeita sobre bases equitativas e profundamente liber-tarias.

i ^ r a isto vimos. íyiceaijdn J^fc^tar cèrgbralmente a necessaria minoria dos produtores; eles saberão depois, por si, dar o formidável impulso que fará ruir a sociedade capitalista. E então, nas ruinas do corrompido mundo, desfeitos os perconceitos sociaes, se edificará a sociedade livre porque lutamos.

Não mais Estados ou Religiões

A burla democrata, a feroz oligarquia, sangui-sedentos impérios, hipócritas re-publicas, tudo terá findado o seu poderio.

Os dominadores do comercio e da industria, contribuirão ao trabalho colé-tivo sem recolher a parte de lião.

O troár do canhão calar-se-ha, e os ódios internacionaes metamorfosar-se-hão n u m imenso amplexo que entre si os povos hão de dár. Terão desapare-cido fronteiras, estandartes, pavilhões. A vida será livre e todos os sêres gosa-rão emfim dos enumeráveis produtos da Natureza.

O mundo será isento da desordem capitalista, dando logar á fraternidade universal

A miséria brutal, com suas sanguino-lentas garras, haverá cessado de abater legiões inteiras de seres humanos.

A Razão terá purificado o homem e então, sobre o universo em repouso, as estrêlas cintilarão intensamente.

Raiará emfim a verdadeira Liberdade, a genuina Egualdade, a pura Fraterni-dade — A Anarquia.

Vimos espalhar a flux a semente que, um dia sazonada, ha de fazer brotar dos sordidos tugurios, dos infectos casebres, das miseráveis cabanas, das profundezas das minas, da escuridade das oficinas, fabricas, de toda a parte emfim, a imen-sa legião dos escravos que, n'essa dáta, pela consciência adquirida pela assimila-ção da Filosofia Anarquista, saberão reclamar os direitos de que ha tantos séculos andam excluídos.

Semeamos, como tantos, para vèr au-mentar, dia a dia, o numero dos que

hão de formar a impetuosa correr ia que ha de derrubar as montanhas cie pre-conceitos desta sociedade, o ciclóne que ha de destruir toda a podridão sobre que vegetamos.

E a semente ha de germinar, porque é pura e sã.

Queremos ver por terra os ítrônos, terminada a infame exploração cdo ho-mem pelo homem. Queremos sêer livres e não escravos. Tentamos quebrar as algemas que nos impozeram os gover-nantes, porque queremos a Liberdade, e a liberdade não admite A m o s , S e -nhores, nem Patrões.

Vimos lutar pela Anarquia, porque ela é o sol que ilumina o nosso cerebro, a visão grandiosa que alenta nossos peitos.

Ante ela, ruem cerces, falsas filoso-

fr rios, consolidadas republicas. Amte ela, ruem, para não mais se levantarem, er-gástulos aviltantes, tétricos patíbulos, imundos lupanares.

E ' o raio que ha de fulminar os tira-nos, o vulcão cuja lava destruirá a casta parasitaria.

Pela Anarquia lutamos, vindo espa-lhar a flux a semente da sua filosofia, explendente ideal, que alastrando pelo mundo, ha de proporcionar a todos os seres humanos, a triologia sublime, Pão, Terra e Liberdade.

Avante pela Revolução Social! Viva a Anarquia!

Traços de fogo " 0 Trabalho é honra e é brio

Ja\er subjugados ao patrão, sem mostrar jámais o sentimento de Revolta; consentir, sem uma palavra de protesto, a mais torpe exploração; sorrir aos maiores abusos, mos-trando-nos sempre dóceis ao jugo capitalista; mostrar bôa cara ante os maiores sofri-mentos; como: permanecer no sub solo tene-broso onde o Grisúse acumula ominosamente, onde os desabamentos transformam a carne humana em farrapos; desfazer se ao calor dimanado pelas fauces hi antes dos altos fomos; aventurar se corajosamente sobre os oceanos para satisfazer a codicia dos arma-dores e aumentar os interesses dos milioná-rios; asfixiar-se nos fornos de cál, nas mi-nas de enxofre; trabalhar a terra sob a chuva e a neve, ou sob os ardentes raios do sol, sofrer passivamente tudo isto, afim de não morrer de fome, — eis o trabalho que os não — trabalhadores nos constragem a admirar e a defender.

Ha muitos anos, ha séculos, que o tra-balho é santificado,—por palavras, nunca em facto,—pelos senhores, pelos burgueses.

O trabalho é honra, di\em os moralistas d'esta sociedade, casta, inteligente e astuciosa. Com efeito o Trabalho é a virtude, a hon-ra. . O Trabalho é o balsamo puro que vivifica a Humanidade.

JMas porque diabo os ricos não trabalham nunca?

S A T A N .

Proibem os codigos a industria do rou-bo impondo penalidades severas aos in-divíduos ]que déla façam uso, mas permi-tem a guerra,—que é o roubo e o mor-ticínio legais — quando, afinal, entre es-tas duas industrias não existe diferença alguma de substancias.

A guerra, segundo o principio que a rnforma, em substancia, é o morticínio organísado, friamente premeditado, cau-telosamente legalisado com uns vernises de civilisação. Os planos guerreiros d'ho-je em nada diferem dos das épocas pró-ximas da barbarie e semelhantemente o fim é o mesmo: em nada se diferencia das hecatombes primitivas; e apenas as armas, mais aperfeiçoadas e mais mortí-feras, são de efeitos mais rápidos e deci-sivos. ;

Hoje, em pleno século XX, como nos 3S Cairlo-S Marte|, a auçrt^ é uma cftiosT3a:cre,"S~ uma prova ineiucta-

vel de que o homem cedendo a persona-lidade á animalidade, se transforma uma fera sanguinaria insaciavel, que não se comove ante esse espectáculo, horrivel-mente dantesco, ante seus olhos desen-rolado ao natural, sobre uma grande téla.

Membros mutilados, cabeças decepa-das, corpos esfacelados, eis os despojos da guerra em nossos dias!

A peste devastando povoações, a fome assolando países, a miséria batendo a todas as portas, eis as funestas conse quencias da guerra!

A orfandade, a viuvez, o luto, a deso-lação, eis os resultados da guerra!

Ódios, ambições, emulações, eis o pro-cuto dessa luta furiosamente louca, em çue os povos da velha europa, como um cceano revolto de odios e ambições, se trucidam mutuamente, desapiedadamen-te. Os barbaros do norte atravessam o Rheno em quanto que os humanitaris= tas das margens do Sena e do Tamisa, erguendo ao vento as flamulas guerrei-ras, aclamam delirantemente o troar do canhão e a fusilaria das mausers.

Operários dos países beligerantes que nada lucram com a guerra, quer sejam vencidos, quer sejam vencedores, que nenhum interesse teem na carnificina, que nenhum agravo receberam e que já-mais se viram, de baioneta calada, assas-sinam-se a sangae frio, como se um odio mortal, implacavel, os impelisse para o matadouro humano.

A guerra, encarada sob qualquer ponto de vista, é sempre, no tempo e no espaço, altamente prejudicial ao trabalhador, que é, em geral, quem se bate por uma causa ' que não é a sua, mas antes a de indiví-duos cujos interesses são diametralmente opostos aos seus.

* * *

Após as primeiras declarações de guerra e a invasão da Bélgica pelos exer-citos tudescos, não lhe compreendendo o alcance, muita gente bateu palmas de aplauso pelo gesto humanitario da Ingla-

terra, colocando-se ao lado dos seus alia-dos.

Era, porem, reservada e interesseira a intervenção oportuna da Gran Breta-nha colocando-se ao lado dos mais peque-nos e, por consequência, menos belico-sos.

A Inglaterra não entrou na luta pelo simples prazer de ver respeitada a inte-gridade da Bélgica, da mesma forma que o incidente de Sarajevo serviu de pre-texto á Áustria, espicaçada pela Alema-nha, para declarar a guerra á Servia. Atribuir á Inglaterra uma participação desinteressada, é um erro crasso, páAroajr e grosseiro.

O interesse da Inglaterra, está demons-trado por um diplomata que teve uma curiosa conversação com um redactor do diário The Standart publicada neste jor-

jBajj. -da qual- titeracrevenios os períodos

A Alemanha não tem agora, vida co-mercial.

Inglaterra, depois de breve suspen-são, proseguiu na sua; e ha-de aumenta-la com a clientela da Alemanha.

A Alemanha bem sabe, como o sabe toda a gente, por que o senso comum e pratico não é patrimonio exclusixo dum só pensador, a Alemanha sabe que, a vida comercial é o pão dos póvos. <

O interesse da Gran-Bretanha é ani-quilar a concorrência que a Alemanha lhe faz em todos os mercados do inundo, no que concerne á industria, ao comer-cio e á navegação.

A guerra actual é uma guerra de co-merciantes, de industriais e de loucos.

A Inglaterra estende o seu poder naval atravez dos mares para dar caça, como pirata, á marinha mercante alemã; o Ja-pão, de acordo com a sua aliada, retoma as ilhas que a Alemanha havia roubado á China para as restituir á primitiva domi-nadora a troco de uma zona de iifluen-cia comercial; a Rússia com os seus exer-citos de ferro, a Rússia siberiana,a Rús-sia de Stolipine e dos cossacos, aRussia autocrata, despótica e czaresca, para ver-gonha do nosso século, bate-se em nome da Humanidade por uma causa sagrada!!

Que interesse tem o povo trabalhador, o bode expiatorio dos detentores do po-der, o povo que geme e sofre, embater-se, em acutilar-se, em assassinar-se pot uma ficção ou por uma abstração?

' Evidentemente, nenhum ! Mas

o povo,' afogado na ignorancia pela religião, entusiasma-se, electrisa-se, dinamitisa-se, ante os acordes ^marciais do hino nacional; e quando os estridules cânticos das canções guerreiras lhe ferem os timpanos, incendeia-se-lhe dentro do peito, incandescente, a sublime pira pâ-triotica. ,,

A Juventude, generosa sempre^ irre-flectidamente e sem lhe compreende* !jó alcance originário, amortalha-sé^a^ pri-meiras emoções provocadas por um sen-

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A RIVOLTA

timentklismo piegas; e, bimbalhando o seu desinteressado amor pátrio, corre de braços1 abertos para a chacina cavada a seus pés pelo interesse dos seus explora-dores, representantes genuínos do deus-milhão, horda de insaciaveis crisofilos!

Maldição! Maldição! Que nesta hora de dôr e luto, sobre

as testas coroadas, que arremessaram os povos para a maior matança de que no futuro resáia a historia, caiam os anate-mas proferidos pelas mães, pelas esposas, pelas noivas, pelas filhas, pelas compa-nheiras dos soldados imolados em holo-causto aos desígnios criminosos de um caquetico idiota e de meia dúzia de dés-potas reinantes e detentores do poder!

Que sobre a cabeça de todos os dés-potas que impeliram os povos para a con-flagração europeia, a civilisação moderna, que, com' a Resolução Social vai résur-gir dos escombros da derrocada, redi-mindo a Humanidade, lance, como um anatema, sobre os tiranos, uma palavra apenas:

Maldição! Maldição!

Gulpilhares, 1914

G I O R D A N O B R U N O .

A Guerra é uma. oousequencia naturalda ambição dos capitalis-tas.

Ser partidário da Guerra é ser-vir os interesses capitalistas em detrimento dos seus.

A Evolução Social

0 que querem os anarquistas 8 10 Em mu mi l jp iei t j i

Origem da anarquia Os elementos intelectuaes do anarquismo";

ou melhor, os anarquistas que possuem uma elerada cultura, quer seja por terem perten-

ídéas, o que deve ser considerado como a base fundamental duma sociedade armonica e justa.

Queremos anarquistas abolir todo o pre-vilegio, negando o direito á propriedade pri

eido a classe previlegiada, quer pela sa?, Vada, ao capital, ás riquezas usurpadas, por grande ded.caçao ao estudo, estão em absos considerarem estas propriedade de todos os luto acordo e no campo da verdade, ao aiir- homens, já porque todos sentimos a neces-mar que a origem da Anarquia não procede sjdade de disfrutar d'élas já porque todos dos homens de ciência nem até da própria participámos na sua produção, dando cada ciência, mas tam somente das necessidades individuo o seu esforço pessoal. de ser com pletamente livre sentidas pelo homem ao ser escravisado e explorado per outros homens, em nome duma sociedade que impõe leis, que se apoiam nas Mausers dos soldados, para fazer acatar as,suas deci-sões despóticas.

Antes que alguns homens de cie'n ;ia ini-ciassem o movimento de sociologia que vei robustecerã o ideal anarquist£ cqfíi> arg

processo da evolução é do indivi-duo á federação, da cidade á nação, do direito privado ao direito das gentes. A era da;; nacionalidades está acabada ou a acabar; os Estados disputam-se os con-fins e u hegemonia politica e comercial. Kfeceaier-áé de cons^wàr ••arirtíwaMes sociaes e definir as relações das gentes; o novo direito publico encaminha-se pa-ra a abolição da propriedade.

O Estado cederá o lagar ás associa-ções de trabalhadores e ás suas federa-ções. A Comunidade primitiva reviverá, completada e integrada na comunidade da nova éra.

A erolução social chegará a essa méta. Não são, pois, o Socialismo e a Anar-

quia iívenção de espíritos inquietos ou sonhos dementes enfermiços, como a al-guns se afigura; são o resultado neces-sário da evolução social.

A luta pela existencia,diminuída pouco a pouco desde os tempos prehistoricos até hoje, deve desaparecer com um prin-cipio ético ou moral superior, com a As-sociação Livre e Universal, fundada na coletividade de bens e na igualdade de condições.

S . M E R L I N O .

Nodiaom que os trabalhadores do cada paiz compreenderem cla-ramente que seus verdadeiros inimigos são os capitalistas que os conservam ua incerteza do dia seguinte, 110 excesso do trabalho, ua miséria e 11a ignoraucia, a Re-volução Social será um facto.

Do natapaí

—Weu senhor, dá-me uma esmola ? —Não pode ser. —Dê, dê, meu rico senhor, porque tenho

minha mãe doente, e meu pai sem trabalho. —Mas porque é que teu pai não tem tra-

balho? —Foi por ficar impossibilitado na ofici-

na que jamais tornará a poder trabalhar. — Quantos anos tens? — Quinze, meu bom senhor!

. —Eniãolu com essa idade, pjdes esmola! ' —Peço, porque já fui pedir trabalho a

uma fabrica e não me deram. — Olha, á tarde vai a minha casa, que se-

rá bom para ti e para teus pais. E o burguepensativo lá foi andando...

(CASERIO.)

tos de grande valor e duma precisão mat> matica, existiram homens de escassa cultura, pertencentes ao povo, que propagavam a rebeldia aberta, contra os governo-, contra as leis e contra toda a classe de autoridade que se opoe na força, declarando a liberdade individual como ideia primordial dos homens.

E' induvidavel que a definição cientifica e filosofica da Anarquia ajudou poderosamente a abrir a clareira por onde a luz do ideal se estende, servindo de arma de combate nas discussões sustentadas em jornaes, em ate-neus, em centros de cultura, contra os pseu-do-cientificos e contra os intelectuaes que pretendiam defender a classe previlegiada com argumentos dogmáticos e anti-naturaes, ajudando também o desenvolvimento m«.ntal dos anarquistas, tidos até então por incultos, dando-se hoje, em viitude desse desenvolvi-mento, frequentes casos em que simples tra-balhadores, entusiastas do ideal, armados com os seus conhecimentos científicos, dis-cutem vantajosamente com os intelectuaes burguezes, conseguindo ruidosas vitorias so-bre os seus adversarios em matéria de so-ciologia.

A falta de conhecimentos filosoficos não pode supor de forma alguma a não assimi-lação da idéa libertaria. Um trabalhador rude, sem possuir a mais pequena instrução, pode ccxeber perfeitamente o ideal anarquista, lutar por ele e defende-lo em todps os tçr —tv._ sem- -V'- P'<-- ,w>-.'rtr.o Jjàn, conhecer os princípios fundamentaes do anarquismo cientifico.

A Anarquia não é só humana e positiva, é claro, e por ir,so adaptavel a todas as men-talidades, por representar um ideal liberta-dor que está até encarnado na mentalidade d'alguns animaes inferiores.

Para ser anarquista basta que o individuo dê o verdadeiro valor á sua personalidade, que tenha um principio de dignidade e que possua um sentimento justo e humano. E se combinarmos estas qualidades moraes no homem, com as necessidades materiaes ca vida, veremos quão fácil é para um simplis trabalhador, conceber o ideal anarquista.

Apesar disto, muitos ha que julgam qie para ser anarquista, para combater toda a classe de autorida-de e de exploração, se n:-cessita um estudo completo e consciencioso da questão social, imaginando o nosso ideil como um problema árduo 'e complicado o qual tam só podem chegar a compreend<r os chamados homens de ciência.

O que podemos dizer é que o prejuízo d'estes e a ignorancia d'outros tem feito qie a Anarquia não seja mais conhecida e difun-dida entre os homens, sendo um verdadeiro fantasma para muitos.

sforço pessoal Querem abolir as leis por representarem

estas a exploração e a autoridade, carecendo de tod2 a noção humana e dignificadora e violando os atos livres dos homens.

Querem abolir os exercitos por entender que são o apoio físico da sociedade atual, defendendo a injustiça, o roubo e a mentira,

pdo firmemente que os homens podem er armonijíame,nte com,equidade s^pi

necessidade de forças armadas, que simbo lisam a opres-ão brutal e o rebaixamento da especie humana, sendo instrumentos de am-bição e um factor da morte.

Querem abolir a moeda por entenderem que é uma das principaes causas das lutas humanas, fazendo sofrer aos homens, sem que traga nenhuma utilidade o metal em-pregado em indicar o roubo legalisado, pro-pondo a troca de produtos, sem que um te-nha mais valor que outro, considerando que tudo o que se produz na terra constitue igual necessidade para os homens.

Querem os anarquistas abolir egrejas e religiões, por entender que são um obstáculo para a justiça humana, já que os fanaticos crentes preferem ser escravisados na terra para gosar a liberdade no céu. Mas entenda-se bem : a abolição destes antros de corrupção e de mentira, fazel-a-ha a mentalidade hu-mana, isto é, serão abolidos quando ninguém tenha interesse ou julgue tel o em frequen-tal-os.

Em uma palavra: nós, os anarquistas, queremos abolir tudo o que escravisa ; tudo o que degrada; tudo o que estorva, sem dei-xar em pé nenhum pilar dos que susteem a sociedade burgueza, porque a experiencia das revoluções passadas nos ensina que a liberdade a meias é fictícia, e que ao deixar um átomo de autoridade ou de exploração isso é faulha que reacende o fogo da ambi-

pj W^suíUâfJc <s «tii fpptwfc Por isso dizemos, os anarquistas, que

queremos destruir, mudar, todo o existenté para que o campo humano fique completa-mente purificado, para que as ideias novas possam florescer louçans e formozas nos ce-rebros dos homens, para que a liberdade seja aifim completa e verdadeira.

Quando penso em todos os males que te-nho presenciado e sofrido, provenientes de ódios nacionaes, digo comigo mesmo que tudo isso repousa sobre uma grosseira men-tira—o a m ô r d a p a t r i a !

Conde Leão Tolstoi.

" « n>a3<3)S>3>3aaí)<r— .

Acción Anarquista

Bases da Anarquia A Anarquia representa a liberdade com-

pleta do individuo, sem lhe negar nenhum direito, quando este não prejudique a liber-dade dos outros indivíduos. Concebe-se as-sim a sociedade futura como um conjunto de homens inteligentes, dignos e enamora-dos da sua própria personalidade, mudando a vida tormentosa de hoje num viver de amor e armonia.

Os anarquistas querem a completa liber-dade em todas as suas manifestações. Livre

poderá aceitar-se na sociedade futura Os anarquistas querem a abolição de todo

o governo, de toda a autoridade, de toda a imposição, de toda a força opressora, para ideixar o homem completamente livre, para áar lhe oportunidade de desenvolver as suas próprias energias, para que seus atos e suas obras sejam produto da sua expontaneidade, em vez de ser o fruto da escravidão, como acontece na atual sociedade, E mais que tudo, para respeitar * liberdade do individuo, para não violar as suas intenções e as suas

Em Madrid (Espanha) acaba de se consti-tuir um grupo assim denominado que se propõe levar á pratica a publicação dum jor-nal para difundir os princípios libertários.

O primeiro numero deste periodico apa-recerá no dia i3 do corrente dedicado á se-mana sangrenta e ao trágico assassinato do anarquista Francisco Ferrer. O primeiro nu-mero será extraordinário, publicando-í.e em grande formato e ilustrado, com colabora-ção dos mais conhecidos melitantes do cam-po anarquista.

Seja bem vindo o novo campeão da Anar-quia.

Santos Pinho Cedendo ao pedido que lhe foi feito

pela Aliança-Anarquis ta , este nosso ami-go e camarada exercerá o cargo de re-

o trabalho; livre o amor; livres as riquezas na- dator principal do nosso orgão. turaes; livre a terra, tudo enfim, para gosar, Previnem-se os camaradas de Lisboa para produzir, para lutar contra os segredos t o d o s Q S a s s u n t o s r e f e r e n t e s a o n o s s o

da Natureza, a única luta dignificadora que ? , , , . . , , - - jornal devem ser tratados naquela cidade,

com o camarada Pinho, Rua da Bempos-tinha 33-i.°-Esq.°

A miséria dos trabalhadores provem d'eles serem forçados a produzir para uma multidão de parazitas, que tem sabido roubar a melhor parte, do que estes pro-duzem.

3ean eraoe.

Em 20 de Julho, fazia a Capital or-gao do Governo, as seguintes afirmações, no seu artigo de fundo :

A crise que se m a h i í e s t o u foi a crise p a r l a m e n t a r , e esta crise exis te de sde a fo rmação dos p a r i d o s . A divisão das forças p a r l a m e n t a r e s , em conseduênc ia 0a c reaçao de esses pa r t idos , e s t abe leceu - se por ial forma, que n e n h u m d 'e les ficou com maioria sobre os ou t ros nas duas casas d o Pa r l amen to . E ' d'a>i que vem todo o «gâchis» poli t ico em que a Republ ica se tem deba t ido , e que p r o d u z i u a si tuação d t fevere i -ro, a qual seria insolúvel se n á a se tivesse f o r m a d o ' o gab ine t e do sr. B e r n a r d i n o Machado , de ca r ac t e -ríst ica ex t ra -par t idar ia .

Para acabar com esse «gâchis» , para remediar essa crise, não ha senão um meio : as e leições. Só o Paiz pode resolver essa s i tuação, revelafido a sua vontade e mostrando assim qual é a c o r r e n t e mais poderosa da_ opinião publica. Para o lado q u e eia favorecer irá a fôrça necessaria pa ra g o v e r n a r , se-gundo as boas normas parlamentares.

O remedio não está nas dictaduras, o r e m e d i a , não está nos «pronunciamentos», ou nas sedições . O t emedio está na legalidade.-.E remedio .está na sòbe -tania d,o povo , expressa nas urnas do su f rág io .

ET aiáim que h» de atabífr a c»rse p.irlame ' é assim que se restabelecerá a tranquilidade p o r t u -guesa , dentro da legalidade republicana, e, por isso, o governo, c o m a nova lei ou com a antiga lei, con-for Mj as circumstancias parlamentares o permitirem, vai convocar os colégios eleitorais para que a N a ç ã o se p - anuncie, pronunciando um «veridictum» a n t e o q 1 il todos os partidos terão de se curvar.

NJ fundo, está nessas palavras a confissão da mentira parlamentar.

O primeiro parlamento republicano deu partes iguais a cada partido porque não foi feito por um partido único governante, mas por uma amalgama de facções e tendências diversas ainda indistintas.

E' preciso, pois, que novas eleições dêem 3 vitoria a um partido, isto é, ao partido que tp-nha maiores simpatias, influências e comoina-ções com o governo, que disponha de maior numero de governadores civis, administrado-res do concelho e caciques. Assim se manifes-tará a isoberania do povo, expressa nas urnas do sufrágio», bem pouco universal entre nós.

Normalmente, um parlamento deveria ser retalhado em muitas facções, pouco desi-guaes em fôrça, pois um pais, ou antes, os que nele tem ideias, poucas ou muitas, acham se divididos em muitos grupos, não só quanto ás questões gerais, mas quanto a cada questão particular.

Mas assim não seria possível governar, não poderia funcionar o parlamento, ^eiia, como diz a C a p i t a l , a icrise parla-

i-Jif"' ( "111 <r««2 tt.. Í-A-X^ofr: tem que ser ficção em todos os seus porme-nores, engrenagens e modalidades: se lhe falta um bocadinho de mentira que seja, a caranguejola range, desconjunta-se, vai a terra.

Por isso se formam os '«partidos de Go-verno», com uma disciplina ditada pelas con-veniências do mando e da Gaméla, sujei-tando indivíduos e ideias ao interesse funda-mental do partido : a conquista ou conser-vação do poder. Por isso o «poder execu-tivo», senhor da maquina administrativa, faz o «poder legislativo» á sua imagem e semelhança.

Não basta estarem os pobres, no campo eleitoral, sujeitos aos patrões e aos politico?, aos senhores do poder, da influencia e da riqueza, aos dispensadores de trabalho e de favores.

Não basta serem os eleitos membros da classe rica e dominante, ou ingressarem ett^ breve néla, ou sofrerem em breve a sua influência e corrupção.

Não basta 3 compra de eleitos efetuada pelo govêrno e pela alta burguezia indus-trial e financeira, sobretudo onde esta se acha desenvolvida.

Não basta a incompetência enciclope'd ca do parlamento, tomado em globo, sendo cada assunto (que não seja politiquice parti-dária) discutido e resolvido por uma meio-ria de incompetentes.

Não basta a impotência reformadora do parlamento em tudo que toque os interes ses das classes dominantes, que só encon-tram resistência efetiva e eficaz na acção organisada dos espoliados e oprimidos.

Não basta a influência delete'ria da ?..:ção eleitoral e parlamentar, levando as massas a confiarem numa providência legal e a aban-donarem a organisação e a Acção Diretr>.

Sobretudo nos paises de opinião pública pouco desenvolvida, o parlamento é fabri-cado por um pai tido no ministério do inte-rior; e não o sendo, não funciona.

Aí está a «vontade do pais», a «soberania do povo-», a «legalidade>—como dizem, com bem fingidas aparências de seriedade, os jornaes de govêrno. Aí está como se exprimem, nuni «veredito» inapelável, as urnas do sufrágio pouco universal.

N E N O VASCO.

A politica é um dos maiores ini» | migos dos trabalhadores.

Escravos do capitalismo, ius-trui-vos se quereis ser fortes.

Page 3: A Revolta

A RIVOLTA

A G U E R R A 0 nosso Sindicalismo

AGITA Ç/L O OPERARIA

i

Neste momento trágico e doloroso, em que quasi todos os povos da Europa se trucidam canibalescamente na maior e mais barbara carnifici.ia que a historia nos regista, arran-jaram os comerciantes, essa cafila infame de exploradores, o pretexto de aumentar os ge-ne ros que mais necessários são á vida do trabalha jor.

Que lhes importa a eles que o povo estale de misçria e de fome ?

Nos eus armazéns estão acumulados os vivêres mais necessários á vida do povo, para vender a quem mais dér em manifesto prejuizo do povo faminto e escravo, aquele que tudo produz em proveito duma burgue-zia insaciavel e feroz; que escudada nas ma users da soldadesca, ignara; e no sabre policial, pretende agora reduzir á fome a grande massa proletaria, que tudo produz e nada possue.

Já não é só a crise de trabalho que dia a dia vai avassalando a classe trabalhadora, é tamlem a paralisação das grandes industrias que vai arremessando um novo contingente de operários para o numeroso exercito dos S e m 'Frtiballio.

O povo ficará reduzido á mais negra situa-ção, se com a sua ação energica e decidida não colocar um dique á cruel ambição dos açambarcadores.

A ciasse operaria do Porto, já fez ouvir a sua voz potente e vigorosa, contra os seus exploradores, saindo á Praça publica clamar bem alto a sua revolta contra os governan-tes, que estão fazendo causa comum com os causadores da miséria do povo.

Ouve colisões com a força armada, haven-do ferimentos e mortos da parte do povo, produzidas por aqueles que tentavam esma-gar com a razão da força o grito de Justiça do povo roubado.

Os protestos do proletariado contra a ca-restia da vida, continuam por todo o paiz com mais cu menos intensidade, sendo de crer que os acontecimentos do Porto tenham a sua repercursão em todo o paiz, pondo assim em debandada os açambarcadores que aumentam os generos com o intuito mes-quinho e infame de roubar o povo, para mais rapidamente enriquecer.

Em Coimbra, embora que platonicamente, já a voz de protesto da classe operaria se fez ouvir contra a vil exploração comercial, realisando-se na sede da União Geral dos Trabalhadores, duas importantes reuniões publicas a que assistiram centenas de ope-rários.

Para fazer calar a voz do povo, afogando-a. em sangue, ordenou o governador civil, no dia das reuniões que o exercito fosse posto de prevenção, mandando cercar a União Geral dos Trabalhadores por forças de infan-teria, guarda republicana e policia. . .

E são estes cabotinos da democratica cor-dealidadc que nos andam a businar aos ou-vidos com o patriotismo!... Que a classe operaria se reveja nestes exemplos; e, oxalá que o seu despertar agitado lhe sirva de in-centivo para futuras lutas.

A um camponez E:riancipa-tc a ti mesmo; conquista com

os teus esforços, com a tua energia e com a tua inteligência tudo o que contem as tuas aspirações e serás coroádo com o bom êxito.

Quando entre ti aparecer qualquer politico a falar-te ao coração com promessas, nas quaes se encerre todos os teus desejos, es-sa- aça-o, elimi,na-o do teu seio por-vip <»l« intfúfa-te, elé simplesmente quer governar-te, quer lançar sobre ti as enormes contri-buições que sustentam essa numerosa cáfila de Militares, de Padres, de Magistrados, de Patrões, de Empregados 'Públicos e de Deputados.

Conta contigo, unicamente contigo e com os teus camaradas para conquistar a Terra, para a cultivar livremente e para distribuir as colheitas por os trabalhadores da cidade que em troca te darão calçado, fato, casa, mobiliário, emfim tudo o que necessites, sem que o expendio das tuas forças seja exorbitante.

Queres saber como o poderás fazer ? Aàsocia-te com os outros trabalhadores;

combina com eles nunca mais pagarem im-postos; nunca mais entregarem as colheitas aos vossos amos e não se sujeitarem ás ordens riranicas da autoridade.

Converte, depois em factos as combina-ções r verás como a felicidade entra no teu w i ao eífíu sb rnTk i

Reconhece-te um homem cóm direito a viver na paz tranquila d'um trabalho livre e recompensado.

Reconhece-te com o natural direito de sa-tisfazeres (odas as necessidades da vida.

E açir.js de tudo educa-te para conheceres o devei sacratíssimo de nunca seres nocivo aos teus semelhantes.

Se dormes desperta e ouve. E o c'arim da Revolta repercutindo de

vai em vai as vibrações sugestivas da Soli-darie-dadc Operaria.

Desperta! Ergue a fronte e com arreigadas convic-

ções ou por instinto natural, d'uma necessi-dade insatisfeita, conquista o teu bem-estar que con iste n'esta sublime trindade :

Pito? Terra- e Liberdade !

U M ANARQUISTA.

Extraímos d'um diário burguez espa-nhol :

«Um francez res idente em Biarritz, r e c e b e u uma carta de um irmão seu que se encontra nas fileiras militares ao Nor-te da França, em que diz que milhares de cadaveres se encontram espalhados

oocnpo da K-»trilha W -u.JiV Oli wlíU-uos não d i spõem de t empo para o s en-terrar, dá logar a que e les de i tem um cheiro horrível, chegando ás vezes a fa-zer esmorecer os combatentes . Algu-mas v e z e s — d i z — , temos que dormir sobre os corpos putrefactos. Estes en contram-se debaixo dos colxóes, entre montões de palha e dentro das casas que foram abandonadas depois do s a q u e a que se entregaram os alemães.

Nuns p e q u e n o s bosques que teem uns 120 metros quadrados, as tropas france-zas, no dia em que escreve a carta a s e u irmão, realizaram 35o enterramentos de cadaveres já em estado de decompos i -

Aos Grupos A t ><'<>!-, «s Grupos e camaradas

ti tjitM nu « iiviamos pacotes d'A R S * V O L T A para procederem A, sua v « n t i a , pedimos caso o não qnei-ram faseei de nos devolverem os resj.etÍT08 pacotes antes da saí-<3a tio p -oximo numero.

E é para estas e tantas outras barba-ridades que os assassinos agaloados arran-cam os filhos ao lár materno, e nós, os anarquistas que lutamos para que o povo educando-se extirpe esse cancro social, o Militarismo, geradôr de todas as cruéis carnificinas guerreiras, é que sôraos per-versos e criminosos.

Mães, os anarquistas querem a paz, o militarismo quer a guerra, pois essa é a sua razão de sêr. Guerra contra os de fóra e contra os de dentro, os trabalha-dores.

Os anarquistas procuram com a sua propaganda levarem os homens a ama-rem-se como irmãos, o militarismo tem por missão levar os homens a odiarem-se canibalescamente. O anarquismo quer a vida, mas a vida livre, o militarismo quer a morte e a escravidão.

Mães, para vós apelamos. Ensinae do berço vossos filhos a amal-

diçoar o militarismo e a guerra, como é vosso dever, para que eles mais tarde, quando homens e os queiram arrastar á caserna, á guerra gritem junto comnosco:

Abaixo a Guerra! Viva a Anarquia!

R E V O L T A D O .

Não ha nada mais infame

CONZOBERT.

— Amigos da guerra ! . . . Pois ha d'isto ? Ha: ha de tudo neste mundo sub-lunar.

E emquanto a instrução não alumiar o cerebro da grande maioria, o que ha de haver mais frequentemente são, ilusões e erros.

Os tres maiores flagellos, que teem asso-lado o mundo são a Fome, a Peste e a Guerra.

Qual e maior? Qual é pior? O pior pa-rece-nos sempre aquele, cujos horrores che-gam ao nosso conhecimento em ultimo logar. Mas se refletirmos, depois de lançarmos uma vista de olhos pela historia, acabaremos por convencer-nos, que se a fome é medonha, e a peste lhe não é inferior, a guerra parece o pór ; pois no cortejo fúnebre das suas vi-timas veem sempre desgraçados, que os ou-tros flagelos não mataram. A Guerra, em regra, faz se acompanhar da fome e da peste.

E depois quem são os mais feridos, os mais despedaçados, os que ela mata em maior numero? são os inocentei; isto é, são os pobres soldados que r.ão fizeram mal a ninguém !

E tem amigos a guerra, o facto bruto da guerra, a guerra simplesmente como des-truidora da Humanidade, a guerra para lim-par a arvore humana que tem folhas de-

RAVACHOL M A ' S ' Q . U E a defenda e s t e o u aquele mili-tar, por errada compreensão da sua missão, explica-se, mas que o façam de boa fé escri-tores de outras classes, parece incompreen-sível.

Os tormentos de uma pessoa só, injusta-mente condenada, podem alarmar uma ci-dade, acender a Revolução n'um paiz e até escitar o mundo inteiro: a morte violenta de tantos desgraçados, quantos caem sobas balas dos exercitos, ou sob a pata dos seus cavalos em correrias guerreiras, não só não Í ncomoda, mas c hsg&- &-Constituir motivo para glorificar os que diiigiram tão horrível atrocidade !

A perseguição de DreyfFus, considerado quasi por toda a gente um inocente, fez vi-brar de indignação quasi todos os corações. Quem não olhasse com desprezo os tribu-naes militares francezes, era incapaz de sen-tir o culto intimo da Justiça.

As vitimas da guerra contam-se por mi-lhões, por milhões as famílias atormentadas, por milhares de milhões os flagícios que á Humanidade .tem trazido tão medonho fla-gelo !

E ha-de bemdi ier-se a guerra, e ha quem a defenda sinceramente ! . . .

Porque provocou a questão DreyfFus ta-manha indignação? Porque a mentira, a per-versidade, a podridão e o crime deram-se as mãos, e envergando as vestes augustas da justiça, e invocando refalsadamente os sa-grados interesses da patria, pronunciaram contra o inocente uma sentença infamante.

Pois quando um governo, invocando fal-samente o nome da patria, obriga milhões de inocentes a por-se á frente das balas, que milhões de outros, que eles vão espingar-de^r, lhe hão de disparar, resultando d'esta ordem homicida, centenas de milhares de mortos, não constituirá isto uma das maio-res iniquidades que se podem cometer?

Não é um homem o soldado ? Não tem tanto direito á vida como os outros ? Não é tão sagrada a vida d'ele, como a de qual-quer?

O ' monstro da guerra, que te alimentas com a carne dos corpos dos nossos paes, dos nossos filhos, dos nossos irmãos; que não só vives de matar, mas matas por gosto, pois que a morte é atua vida, os tor-mentos a tua alegria, o sangue derramado o liiuido que te dessedenta; haverá horror mais profundo, que o que tu inspiras, ó

Os anarquistas individualistas reprovam e combatem o sindicalismo: nos não fa-zemos eôro com eles.

Os sindicalistas corporatistas querem ro-dear o sindicalismo por uma alta muralha da China, asfixiando o corpo social num espirito estreito fomentador de rivalidades entre as varias profissões.

Regeitando os complementos duma agita-ção integral eles amesqumham egoistica-mente o Sindicalismo ; nós nao os se-guimos tampouco.

Os individualistas, desprezando o povo e elevando o individuo, equivalem-se, pois dei-xam de reconhecer a verdadeira força revo-lucionaria das massas insurgidas.

Os corporatistas proclamam que o Sindi-calismo se basta a si proprio. Nada se basta a si proprio: tudo é solidário nos esforços dos oprimidos para se libertar da domina-ção politica e da exploração capitalista.

Os anarquistas individualistas são anti-re-volucionarios, pois que, inconscientemente, se tornam conservadores das instituições monstruosas de que o homem é a vitima. Eles declaram que, para que as instituições caduquem, é necessário, primeiramente, que os homens se transformem. Nós lhe objéta-mos que para que os homens se modifiquem, c preciso, -- paralela e simultaneamente — que eles agitem pela revolta contra as insti-tituições para que elas baqueem. Nós afir-mamos, com a historia, que a ação revolu-cionaria das multidões desempenham uma influencia de educação moral superior á que poderia fazer um século duma dolente tran-quilidade.

Os nossos austeros corporatistas são, em-bora afirmem o contrario, reformistas lega-listas, querendo avançar passo a passo, cahin-caha, rolando sobre o passeio que corre ao longo da estrada do parlamentarismo sindica-lista. Porque, com efeito, ele ha um parla-mentarismo sindicalista, como ha ' jm parla-mentarismo politico. Basta observar com atenção como se constitue uma maioria n 'um congresso.

Os ultimamente realisados são duma elo-quente revelação.

Resulta pois do que procede: 1.°— Que os anarquistas individualistas,

não admitindo a Revolução Social feita pelo povo nada teem de comum comnosco.

2.°—Que os sindicalistas corporatistas res-tringindo-se cada vez mais na estreiteza duma concepção dum ideal gasto, fazem subsistir as mesquinhezas, as rivalidadís entre as classes mais ou menos qualificadas.

Por outro lado: perdendo de vistao carater integralista que deve ter a Revolução Social e a necessidade de conformar os meios de propaganda com o fim em vista, eles, despre-zando o espirito de revolta, factor poderoso de reivindicações, encaminhando se infali-velmente á imobilisação das forças operarias, pelas enganosas ilusões de consideráveis efetivas ou de avultadas somas.

3.° — Que de todas as tendencias a dos Anarquistas-Co mti n i s ta s« Revolucionários e' a única que as-senta sobre o verdadeiro terreno da luta sindicalista, chamando a si todos os seres que sofrem moral e materialmente as insti-tuições criminosas que nos dominam e de-monstrando que a Insurreição Expropriadora é o principal factor de transformação social.

PIERRE MARTIN.

monstro da guerra!?

CEZAR DO INSO. S ' P

A. Sacristia, a Bolsa e a Caser-na, sàotrez antros associados pa-ra vomitar sobre as nações as trevas, a miséria e a morte.

BJanqui.

O militarismo é o mais perigoso inimigo da Humanidade.

A. sua disciplina é a negação completa cHa liberdade.

Aos eamapadas O nosso jornal, como sabem, para se pu-

blicar exije despezas constantes e regulares. E se o auxilio monetário não fôr por igual constante e regular, a suspensão torna-se inevitável, mais tarde ou mais cedo.

Para evitar que tal aconteça, rogamos um pouco de bôa vontade da parte dos nossos agentes,"enviando-nos ate'á próxima segun-da feira o produto da venda. A todos os ca-maradas a quem enviamos também listas de subscrição voluntaria, pedimos que. assim que arranjem donativos nos enviem na vol-ta do correio.

Page 4: A Revolta

A RIVOLTA

& Greve Geral ih em

Quando os trabalhadores com uma edu-cação perfeita e completa poderem realisar a greve geral, a revolução social será um fac-to então; nada a poderá deter. A burguezia cederá campo ao proletariado. A finança ecli-psar-se-ha perante a plebe, poderosa pela for-ça da educação que a ha-de emancipar inte-gralmente.

Os governos, forças tenebrosas e mortaes, serão dissolvidos pelo pensamento creador dos salariados. A' desordem capitalista, ao egoismo proprietário, aos malefícios ou á inutilidade da policia, á brutalidade da guar-da republicana, á crueldade inútil da magis-tratura, ás carnificinas dos exercitos terá su-cedido a verdadeira ordem social — A Anarquia.

Quando, pela educação dos que pensam, a greve geral se realisar, ela demonstrará uma coisa: a não inferioridade da classe ope-raria durante tanto tempo explorada pelo ti-rano de cima e pelo senhor de baixo. Os escravos da oficina, os explorados do atelier, os forçados da manufatura,os ilotes do cam-po, d'esta maneira livres e solidários, terão despedaçado para sempre a golilha secular, golilha presa ao seu pescoço pela ignorân-cia de uns e pelá selvajaria dos outros; san-grenta algema forjada pela Egreja e pelos Estados.

Mas a greve geral que preconizamos e queremos não estalará somente como arma de oposição contra a guerra — matadouro colonial ou açougue nacional.

A greve geral que propagamos e deseja-mos, é a gréve geral expropriadora a qual terá como finalidade consequente: o salariato abolido, a miséria suprimida, a fusão dos po-vos com a originalidade inherente a cada qual, respeitando os seus normaes instintos, incluindo a reciprocidade dos produtos, a pureza das permutas, o equilíbrio e a perfei-ção do trabalho.

Preconizamos a greve geral expropriado ra e revolucionaria. Queremos ver termina-da a autoridade-governo e presenciar em vez das contradições e dos horrores do Ca-pital, os seres humanos, tornados unidades conscientes e não imprecisas, constituir um mundo habitual. Queremos ver acabadas es-sas monstruosas carnificinas, essas dilacera-ções odiosas, esses massacres horríveis, a s g u e r r a s .

Queremos que o homem não seja mais a fera pronta a dilacerar o homem seu irmão.

Para isso, para efetivação das nossas as-pirações, vimos dar o nosso esforço para a creação da minoria que mais tarde dará á multidão o impulso supremo.

Nós queremos a greve geral não de sim-ples manifestação contra a brigandage de qualquer nação; mas uma greve geral que sendo um intenso e ardente protesto contra a folia liberticida de que os dirijentes nos fa-zem vitimas, envolva todas as suas conse-quências moraes e seciaes: Supressão das hierarquias, abolição do Estado e da Egreja, organisação do consumo e da produção, per-muta comunista, cantonal e internacional; edificação das cidades livres sobre as ruínas das monarquias, dos impérios, das republi-cas; isto é, a gréve geral expropriadora e revolucionaria, cujo ritmo prolongando-se até ás profundidades da vida coletiva, fará desabar com enorme fracasso todo o pre-sente edifício social.

Após a realisação da gréve geral que vi-mos pregando, o globo não mais rolará en-sanguentado n'esta infinita noite de horro-res. A terra não terá já o aspeto duma vas-ta necrópole onde os pobres são sepultados pelos privilegiados e os cadaveres apresen-tam os estigmas da miséria e os indícios das balas.

O mundo terá deixado de ser um vale de lagrimas para os escravos da industria e do comercio, a ter£a„a-aásis-dalguns beneficia-dos.

Divulgar A. Revolta, é prestar au-xilio á difusão do anarquismo, é semear para colher.

A'VANTE! Vemos com bastante regosijo q u e os

nossos camaradas, a despei to da guerra

de extermínio feita pela burguezia ás

doutr inas anarquistas, vão conhecendo,

emfim, a imperiosa necessidade duma

forte organisação, p rovando assftm aos

nossos detratôres, aos dir igentes dlos po-

vos escravisados que pe ran te as su?as vio-

lências os anarquistas congregam a s suas

forças, unindo-se pelos mais estreíítos la-

ços de solidariedade, aptos para a luta

no campo em que ela seja posta.

A propaganda ativa e vigorosa que os

nossos camaradas vão fazendo enitre os

t rabalhadores desta cidade, tem sicdo al-

t amente benefica para o desenvolvimen-

to do nosso querido ideal, creandio no*

seio do movimento operár io ferverosos

adeptos para a causa santa porque; luta-

mos.

Assim a Aliança- Anar quisitadia a dia vai engrossando a sua coluna com

novos camaradas, que animados cduma

g rande vontade veem dar o seu comcur-

so á nossa propaganda.

A onda vai crescendo, crescendto ca-

da vez mais, para em breve , impettuoza

arrazàr esta podre e gangrenosa ssocie-

dade em que o humanitarismo é umía pa-

lavra vã e a justiça uma ment i ra deesca-

rada .

Da perfeita organisação de todoss os

anarquis tas advirão incontestavelrmente

grandes benefícios para a semente i ra da

g r ande ideia — A Anarquia.

Q u e os anarquistas de Coimbra ain-

da hoje refrátarios á organisação, c u m -

pram pois com o seu dever , ingressan-

do na Aliança-Anarquista. Tudo pela Emancipação dos t raba-

lhadores !

T u d o pela Anarquia!

Os trabalhadores nâo te«em patria.

K A R L MAKÍX.

Aviso importante AOS QUE R E C E B E M P A C O T E S

Deves sêr um camarada, um companheiro, já traquejado na nossa luta. Por isso falamos-te com franqueza.

A vida de um jornal anarquis-ta depende da bôa ordem da s ua administração.

E esse serviço como todos os mais è feito nos nossos jornais, por trabalhadores,depois do dia passado na oficina. Tem paois que ser breve e simples. Paira isso todos devem contribuir.

E tu também. Recebes hoje iam pacote do jornal. Verefica o inú-mero de exemplares que tenss a possibilidade de vender e esc cr.e-ve-nos antes do aparecimemto do pròcimo numero. E oito ditas depois de receberes os jornates, sem esperar que te escrevàmcos, mvia-nos o seu produto.

Contribuirás assim para a wi-da do jornal. Serás um seuaimi-go e sincero cooperador.

Anarchistas: auxiliae A. R E V O L T A

A BARBARIE

Oh' vós que a proclamar andáis, patriotismo, fazendo exibição do estúpido empirismo — se quer's viver em páz, prepara-te p'rá guerra, vêde a rubra eclosão que páira sobre a Terra, O azul do céu, flamante, expõe nitidamente a tragedia sangrenta, em um laivo candente. Olhai! O Nordéste é flamivoma fornalha aeêza em oblação á luzida canalha de sceptro, manto e c'rôa, imperiaes fastígios, e á burla colossal dos de gorros frígios. De Kiel a Sidney, desde Kara a Odessa o troar do canhão alarma a turba opressa e o spraknel e o torpedo, a bomba e a granada reduzem legiões a massa informe, ao Nadal E' Atila que passa — o látego flagelo, Sucedeu ao Direito a CUrvá d'um cutelo — meia lua sinistra —, a infame guilhotina com que a sociedade os parias assassina. O gume duma espada e a bala do canhão teem mui mais valor que a burla da Razão I

Perpassam os dragões levando em riste a lança . . . A Bélgica é arrazada e invadida a França. . . O sangue vai correr nas regiões da Prússia talada p'lo caudal das legiões da Rúss ia . . . Cidades sob o f o g o . . . Ruinas e destroços, e lagrimas e sangne. . E' a obra dos colossos! Gritos de maldição e pragas formidáveis bradam por toda a parte os povos miseráveis, do Elba ao mar de Azof e d'este até Aran. Voltou a barbarie de Nero e Gengis-Khan. A Ramsés do Egipto e a Filipe de Espanha sucede o Tzar da, Rússia e o Kaizer da Alemanha.

Oh' vós que a proclamar andais, patriotismo fazendo exibição do estúpido empirismo — se quers viver em paz, prepara-te p'rá guerra, Vêde que grande crime essa doutrina encerra.

A. Santos Pinho.

F a d o L i v r e R a c i o n a l

O titulo é bas tante sugestivo e expr ime bem o nosso espirito literário que lhe imprime a qual idade de fado moderno, moralisador e educat ivo.

Este t rabalho em forma de livro, de 16 paginas, além do respetivo reposito-rio em forma de quadras de qua t ro de-cimas cada uma e a respetiva musica composta para o mesmo, contém artigos explicativos sobre a ar te poética e mu-sical, sobre a ortografia simplificada-transitoria, e sobre os hinos: — Interna-cional e o Hino Libertário.

Insere estrofes para A Internacional dedicadas á intancia, e outras estrofes para o Hino Libertário dedicadas ás mães e a todas as boas educadoras . Todos os indivíduos que teem prediléção pela mu-sica tocada e cantada com versos, devem adquirir um exemplar , pelo menos, do Fado Livre (Racional. Os camaradas que se dedicam á propaganda do Ideal E m a n -cipador por meio de venda de obras im-pressas devem-se empenhar pela venda deste folheto cu ja percentagem pode re-verter em proveito de quem vende ou para auxilio dos g rupos de p ropaganda e de instrução.

0 seu preço é de 50 réis cada exem-plar.

Para os camaradas leitores do nosso jornal, que façam aquisição de pacotes de 20 exemplares teem 40 ° / 0 de des-conto. Os pedidos podem ser feitos a esta redação ou a J. Sousa Reis, Rua do Paraizo, 39 — Lisboa.

- — N o v o s j o r n a e s

No dia i3 de Outubro inicia a sua publi-cação*em Aveiro um novo jornal que se de-dicará á difusão do sindicalismo e anarquismo]

O primeiro numero é dedicado á memo-ria do camarada Ferrer.

—Os camaradas que compõem o grupo da extinta revista A Sementeira que tão brilhantes serviços prestou á causa anar-quista em Portugal, acabam de novo de reorganisar este grupo, para novamente ini-ciar a publicação de tão util revista.

A correspondência deve ser dirigida para o Cais do Sodré, 88—Lisboa.

Alia nçan A na vq aista CONVITE

Convidam-se todos os camaradas perten-centes a esta organisação a reunir, hoje do-mingo, pelas 11 horas da manhã, na nossa redação, afim de tratar de assuntos de alta importancia para a propaganda.

A' reunião podem assistir os camaradas não agrupados.

He»

A sair brevemente

COMO NÂO SER A N A R Q U I S T A ? Publicação da Aliança-Anarquista

Belo folheto de propaganda libertaria 1

para os trabalhadores do campo e da cidade, cuja aquisição nós recomenda-mos a todos os grupos e camaradas que se dedicam á propaganda do ideal anar-quista.

Pacotes de 300 exemplares 500 réis. Não se satisfazem pedidos desde que

não venham acompanhados da impor-tancia.

jl REVOLTA CONDIÇÕES DE ASSINATURA

A V U L S O 10 réis Serie de 8 números incluindo o porte do correio 120 réis

Page 5: A Revolta

1T.° 1 - A a o I I COIMBRA, 1 DE MAIO DE 1915 P r e ç o 1 C«HÍ.—Serie de 4 números õ cent.

^ \ ^ ^ v \ \ \ \ * \ \v % l LLLLI k \ \ K Si X V * \

-63ín)

O P R I M E I R O D E M A I O O te E* uma luta de trabalhadora; contra os capitalistas

GUI

No numero das grandes lutas operarias, conta-se o 1.° de Maio de 1886, data inolvi-dável de rei vindit a e, de pro-testo, que o Congresso Socia-lista realisado em Paris no ano de 1880, na ancia de deturpar o grandioso movimento dos trabalhadores norte - america-nos, consagrou-o á Festa do Trabalho,. • g(V , .;' j

Porem, a historia dos factos tém-se vulgarisado e os ingé-nuos que festejavam esse dia, Vão caminhando para o campo

^do.,prot,est.o ã da açâo cons-. c i e n t e «te* -uxj- ,oii-jijb itèa ioq

0 1.° de Maio teve o seu preludio em 1882, quando as Organísações operarias deNow York e Filadélfia reivindica-vam o dia normal de 10 horas <ie trabalho, sendo este horário considerado legal somente pa-ra QS trabalhadores nas cons-truções da armada. Até ao ano de 1884. j á se tinham formado várias ássfaciáçõek que propa-gavam a necessidade da jorna-da normal das 8 horas de tra-balho tais como a poderosa Li£a á a ? 8 h o r a ; , de Bos-ton, fundada em 1860 e a 9?$ociação da? 8 horas, de Chicago.

Es tasduas organisaçõesin- • temeratas e potentes, prontas a entar na peleja contra os gananciosos capitalistas e a lutar até á mcrte, impulsiona-ram todas as outras associa-ções proletarias que em 1895 organisaram em Chicago uma reunião magna de delega-dos, na qual se acordou em proclamar no dia 1.° de Maio de 1886 a Greve Geral pelas 8 horas.

Chegou, emfim, o dia l .°de Maio. A Greve Geral era um facto. Mais de 50:000 traba-lhadores se reuniram num .co-mido monstro.

Então, como sempre, o go-verno, fiel servidor dos capi-talistas, ordenam aos esbirros policiais, para dissolver vio-lentamente o comicio para assim fazer abortar esse gran-diosa parada de torças.

A policia sãnguinaria e fe-

roz, pratica então a mais hor-rosa carnificina que a|historia regista cheio, de vergonhosas paginas sanguinolentas; carre-gando sobre os grevistas inde-fesos, do qual resultou a morte de desenas de trabalhadores.

Mas não finalisou aqui o instintoperverso dos governan-tes, pois que em seguida eram presos os trabalhadores que mais se salientaram no oomi-ció, Eúyél, Spies, Fischer, Ling eParsons, conhecidos pelas siias ideias anarquistas, send-o con-d e n a d o s A. m o r t e .

Esta monstruosa infamia foi consumada no dia 11 de -Novembro desse ano e prepa-rada segundo depois se de-monstrou, com o fito de afo-gar em sange a ideia liberta-dora a fhiarquia.

Todavia, ainda hoje a bur-guesia ouve, cada vez cOm mais energia, a voz cios. povos famintos, que,, prosélitos da mesma ideia que ela procurou esmagar, passando juntos dos seus palácios^á vão, entoando o cantigo de revolta, provar-lhe e demonstrar-lhe assim a locura dos que pensam aniqui-lar a ideia com o assassinato dos seus propagandistas.

Trabalhadores! Homens li-vres de todo o mundo! Lem-brai-vos que a melhor forma de comemorar o 1.° de Maio é proseguirmos com amor e abnegação na propaganda do sublime ideal pelo qual mor-reram os nossos irmãos de Chicago.'

Empreguemos os necessa-ssarios esforços para que em breve se possa ver raiar- a au-rora dum brilhante futuro, pre-parando assim a derrocada da sociedade capitalista, com o advento da Anarquia!

A n a r q u i s t a : ê por, definição, aquole que não quer ser oprimido nem quer ser opressor; aqneJe que quer o máximo bern-estar, a maxi-ma liberdade, o máximo desenvol-vimento de todos os seres humanos.

ENKÍPO MALATESTA

Á R E U O L r n Hoje que o sangue serpenteia

nos campos da batalha em holo-causto ás ambições dos, vampiros da alta finança, que piras, de cada-veres se decompõem em oblação á cubiça enfréne dos piratas do gro-so comercialismo, nós volvemóá a trazer o verbo candente da revolta contra esses sanguisedentos psico-patas e senhores por cujo capricho se veria o sangue generoso dos po-vos miseráveis ; voltamos a pregar esta revolta que é a santa, dignifi-cadora e bela:

A dos sem pão con-t r a os açambarcádô-res; a dós sem patria contra o patriotismo; a dos escravos contra os senhcres; a das vi-timas contra os car-rascos. . X i

Xte»nftwo vim o a a. digar—qnp riS.n é justo, não é digno, nem é razoá-vel que os povos esgotem as suas

-forças para forjar novas e de cada vez mais possantes cadeias que os prendam ao carro ignóbil da escra-vidão secular; que são iuhumanas e cruéis essas guerras que enlutam a Humanidade inteira para satisfa-ção única das tiranias dos autocra-tas, dos senhores.

Assim continuaremos pregando a extinção das guerras com urpa ultima : — A guerra contra o domí-nio e exploração capitalista que faz do ser livre um ilota, a revolta contra as Leis, Religião, Militaris-mo, Patrias, tudo enfim, quanto oprime e avilta os povos.

333KX

Presos por psis sodaes As associações operarias de

Lisboa e os comités pró-presos por questões sociais resolveram levar a efeito em todo o país um forte movimento de agitação em favor dos nossos camaradas, que se en-contram entre ferros da republica por delitps sociaes e que a ultima amnistia dada a confessos conspi-radoras monárquicos, não abran-geu.

Em Lisboa projéta-se à realisa-ção dum grande- comicio no qual se,resolverá o caminho a seguir em face da atitude dos governantes.

Urge que um grandioso protes-to se levante em todo o país afim de arrancar ás garras da tirania capitalista os nossos queridos ca-maradas de luta pela emancipação proletaria.

Liberdade aos presos sociaes!

S O L I D A R I E D A D E D O S P O V O S

O 1.° de Maio é, para aqueles que querem a emancipação humana um meio de afirmar a sua solidarie-dade com todos os que sofrem a exploração, cpm todos os que es-tão impacientes por sacudir o jngo politico e economico, que peza so-bre os seus hombros.

E' para lamentar que, para ser-vir ambições politicai, se tenha ti-rado desta data, que primeiro fôra considerada como uma .jiata de protesto, o seu caracter ativo de revolta.

No priucipio, porem, do século XX, em que se resuscita o espirito militarista, que parecia ag~nisar, ó conveniente afirmar, atravez de tudo e por toda a par^e, que os povos não tem senão um inimigo : — seus senhores.

O exercito, ao mes$io ,tempo queje uma escola de desmoralisa-ção é uma barreira levantada entre Os exploradores contra as recla-mações possíveis dos explorados.

A guerra é uma coisa absurda e imoral que não é reclamada se-não por aqueles cujos interesses pôde favorecer, e esses não são senão uma minaria infima de polí-ticos e financeiros de grande vôo, que fazem o seu regebófe dos de-sastres que organisa.

Hoje os povos tem todos, mais os menos, necessidade uns dos ou-tros. As suas relações comerciais, industriais, intelectuais e cientifi-cas, são as mais completas e as mais numerosas,

E' mesmo uma anomalia esse patriotismo armado que faz revol-tar os povos uns contra os outros. O inimigo daquele que é oprimido e explorado, é aquele quq o opri-me e explora.

São aqueles da sua própria pa-tria que detem a riqueza e o po-der.

Já não é em nações que a hu-manidade se divide. Os indivíduos variam segundo o seu temperamen-to, a sua educação, as suas ten-dências e seguundo meio pelo qual se desenvolveram; podem possuir qualidades e conceções diferentes, mas teem todos um direito egual á vida e ao desenvolvimento livre integral, em toda a virtualidade do seu ser.

Todo o nosso passado historico nos demonstra que o estado de luta é tão sensível ao vencedor como ao vencido. Os seus esforços devem, pois, tender para uma inteligência harmónica, para uma solidariedade internacional.

E, por isso aqueles que se fize-ram seus senhores, procuram sus-tentar o seu domínio , e eternisar entre nós as guerras. E' pelo desa-parecimento dos senhores — ou an-tes das instituições que permitem que haja senhores — que devem voltar, os esforços de todos aque-les que querem emancipar-se, qual-quer que seja o epíteto geográfico que lhes impoz o acaso do nasci-mento.

J E A N G R A V E .

Page 6: A Revolta

A RIV O L T A

05 ANARQUISTAS E A GUERRA V \ P e r a n t e a o p i n i ã o d e P e d r o X S r o p o t k i n e

Nôs, sabemos ifHiito bem que a patria portuguesa, que reinos dizer, os governos, o capitalismo e a alta fi-nança deste país, não necessitam da nossa Opinião SQbfe a GueVra nem se preocupam nunca, como nunca se preocuparam qs governos dás de-, mais nações, de consultar os povos, porque, — como disse algures um grande escritor; — beira poucas guer-ras se travariam se antes de empreen-de-las se consultasse de bôa fé aos que em elas hão de perder a vida.

Compete-nos porém, como anar-quistas, perante a carta de Pedro Kropotkine a Steffen, inserta no Free-dom, de Londres, e logo traduzida em varias línguas pára aparecer nos jor-nais de burguezes e militares como $endo doutrina que todo o povo tra-balhador e q'ne tódofe Os anarquistas devessem acatar, expôr o que enten-demos e o que é nossa opinião sobre o1 assunto que está merecendo a dis-cussão dos revolucionários' sociais de todos os paizes.

Kropotkine, dá-nos assim, em sín-tese, a sua opinião no segundo pe-ríodo da carta:

Penso que o dever de todos aqúe-leMite av^iT^ tan^o oj ideaes conto o progse&fo ,Iiúvidnojí e éspèciitiv^mte àqueles que estavhm >imcr%tos como proletários europeus na bandeira da Associação Internacional dos Traba-lhadores é Còinbater a invasão dos ateiiiãês na Europa Ocidental.

Eguàlmenté em síntese nós expô-mós, de entrada, a nossa opinião.

Perante a mostruosa guerra de ' hoje preparada como todas as outras realisada em exclusivo beneficio das castas militarista e burgueza. nós não

'dizemos âò proletário que tome a es-pingarda e corra á fronteira a fazer-se'matar e á matrir o proletário dc outro pais para horira e gloria da Pa-tria e da Burgueziá. Nòs, pelo con-trario, voltamos hoje a afirmar o que sempre mantivemos:

O s p a r i a s , o s m i à e r a -v é i s , o s e í p l o r á d o s s a o i n t e r n a c i o n a l i s t a s , n a o p o d e m s ê r i n i m i g o s .

O s e u i m i m i g o é o s e u t i r a m f o , é O s e n e i p l o r a -d o r . . w ,

Fazer a guerra entre si é pois um crime por que é mktat-se èm defc'za dos interesses de seus inimigos.

Assim, mantendo naturalmente a nossa antiga opinião livramo-nos — como disse «Volontá» —de fazer a triste figura do ateu e do anti-clerical que durante a vida -troçam dó padre a negam a existencia de Dfeus e quando se veem no extrêmo da vida, pérante o problema da morte, na an-gustia dô momento misterioso; se sentem arrependidos de tudo, e, te-merosos do ignoto, na incerteza do além se reconciliam com Deus e com o padre!

Ao contrario de Kropotkine nós crêmos que o deter de todos aqueles que amam tanto Os1 Tdècies como o pro-gresso humano é precisamente mos-trar aos, trabalhadores que não teem

'que pegítr em armas para defender a burgueziá e o capitalismo fraricez das investidas da burgueziá e do ca-pitalismo alemão; porque os miserá-veis, os que não teem nada de seu, marchando para a guerra não fazem mais que ir defender a casta milita-rista e Consolidar o previlegio écono-mico e politico da burgueziá, sacrifi-cando-se para engrossar ainda mais a cadeia da sua -ptopriá escravidão.

Kropotkine escreveu' em I ^ a G r i x e r r e i : 'São sempre" HtfcMda-des em tornei de mercad&s e do direito é explorarão das nações atYazadhx tm industria que causam as guerras modernas. 'Na Europa, já ninguém se batè pela honra dos reis lànçám-se os exércitos uns contra os outros pela integridáde dos rendimentos dós Mui-Poderosos Senhores Rothschild ou Schneider, da Mui-Respeitavel Com-

panhia de Arízin ou do Santíssimo Baiico Cátolico de Roma.

1:' esta -ainda hoje a nossa opi-nião.

E por isso perguntamos: que cul- • pa temòs nós e os trabalhadores de: qualquer pais que se estivesse arrui- -nando Schneider ou qualquer outro;; que tenham . diminuído os interesses > dos ladrões do alto comercio de uma i naçao em proveito de quaisqúar o u -tros.

A Inglaterra que com o seu p o -derio procurou sempre sustentar ai supremacia na exportação, de hai muito .que vem guerreando sucessi-vamente Os seus concorrentes.

Foi ela que, para esmagar a i n -dustria e o comercio francez, em finss do século xviii, com o aucilio daa Prússia, da Áustria e da Rússia fezz à França,, uma serie de guerras terrí-veis, durante um quarto de século;; foi ela quem, nos meados do séculos xix, para detêr o desenvolvimento doa molossorusso, lhe pôz á face a Fran--ça e a Turquia provocando a guerra a da Cri meia, vol tando ainda a reno-i-var o bóte no principio deste seculoo (1900 }; í atiçando-lhe o Japão; e té agora essn mesma potencia que, ass-sustada pela extraordmaria produtivi-i-dade industrial da Alemanha, pro->-cura na guerra a maneira de alçapre-;-

' mar o seu comercio destroçando o daa sua mortal concorrente, enquantoo que, por sua vez, a Alemanha temn

-interessado no caso a sua! Industria. Gomo podemos- pois, - nós, apeianr

essa tése; de Kropotkine? , ; <>. Não! Nós não estamos dispostoas

a esmigalhar a-cabeça para interes-s-•sar a uns quantos nossos' verdadeiroos -irtimigosr-0 ««*;»âio*> c i a i i i

Os bandidos da grande índustriáa alemã que Sc batam com o^pirafans da alta finança ingleza. Não pertem-darn uns e outros, que nos matemoos para os enriquecer, porque entendee-mos qne os trabalhadores nãodevefim fogar a vida para defender os iuteres-s-ses capitalistas.

* 4 Oil Não podemos- nós; deixar de réé-

conhecer que foi a Alemanha,. com ; a politica ferrea de Bismarck, querim inaugurou na Europa a èra dos aar-mamentos indefinidos, sendo portaan-to esse pais a fóco do miíitarismno cujo é necessrrio fazer ruir.

Mas derrotada a Alemanha nãão termina ainda o poderio da casta rtini-litar porque hão de, infélizmenbte, subsistir as razões das guerras.- i A Rússia ha de querer novamente ees-tender os tentaculos e empurrar pàara Asia a Sublime Porta, repetir 187? 6; os Estados Unidos, intranquilos pééla concorrência. dí>B amarelos hão ode

. querer esmagàl-os ; os mastins gueer-reiros da França e da Inglaterra, ssa-çiados pela avultada prêsa que essta guerra lhes trará ( ? ) adormecerrão por. espaço de tempo mas logo vcol-verao a ranger os dêntes.

E isto porque, derrotada a Ale-manha ou veneida a França não diei-xarà, por essa razão, de haver comeer-ciantes, sindicáteiros, agiotas e (ju-deu que numa parte ou noutra, miais cedo ou mais tarde, hão de infalivel-mente impelir os países á çonquista de novos mercados, à guerra.

Que interesse teem portanto os trabálhadores em semelhante luta?

Para quê pegar em armas e ir-ão centro da Europa morrer e matar trabalhadores como nós, e qde como rios nerihuma culpa teérft que os sin-dicatos burguezes alerilães prejudi-quem OS trusts inglezes ou que os a rgentaf ios franco-russos queiram alargar o raio do seu dominio?

Mas e a Civilisação que se destroe, a Liberdade que sé afoga, clamam indignados os escrivãs peniculiarios da burgueziá; pelejando contra a a Alemanha defende-se a Justiça,1 a

Civilisação, o Direito, a Liberdade! E afirma-se ai pelo mundo em /

fóra, este estupendo . paradoxo !/ . ' . / Emudêça a .voz do coração ey '

fale a razão fria"e desassombrada. / A França combate pela Justiça

porque quer reaver a Alsacia-Lorena . -diz-se. Em 1870, quem declarou a

guerra? A França. A Alemanha ven-cedora exigiu compensações.

A conquista está no direito de guerra que ambos os paízes admitem. Foi uma pesada indemnisação. Nós o temos dito.

Mas todos nós sabemos a quem pertenceriam hoje as margens do Rheno, etc. se os papeis se tivessem invertido; se em vez de vencida fos-se a França vencedora.

As duas províncias são etnica-mente francezas, pertencem de direito á França . . . De acordo. Mas por. ventura não são também étnica e ge-nuinamente italianas as províncias de Niza e Sabóia. Que se importou corri isso a França ? Ora não pode haver duas lógicas, — uma para servir a França outra para uso da- Alemá-

ílUM^Hitiá^ y p p uni:ifiiín/Si) í;8ÕT Que lute portanto na reconquista

quem nisso tiver interesses. Mas nã,o afirmem que se batem pela Justiça.

A Inglaterra pelejá pela Civifisa-ç®0 — áfirma-se: e é pela Civilisação quê nós devemos ir em seu aucilio, acrescenta-se. Í'Í .

Nós sabemos muito bem o que tem sido a decantada ação cívilisa-dora dos inglezes, mas Ouçamos o que, a seu proposito, escreveu um dos mais eminentes-filhos de Albion, ilerbejt Spencer, no, s.eu livro Tilo-joifa Âofiyflioii oâifiruí) v , ' \ 3

«Nunca, com mais propriedade, os inglezes mereceram o nome de aves de rapina com que os mtmosca-va Burke, quando cometiam toda a casta de atrocidades na índia, pois generalizam cada- vez mais o seu sis-tema de açambarcamento sem escrú-pulos. Por toda a parte empregam o mesmo proeesso de politica colonial; primeiro enviam missionários: de-pois. delegados com o encargo de propor certas j condições recíprocas aos chefes das regiões que eles cubi-çam. Quando julgam ter de seu lado as aparências do direito, não pare-cendo preocupár-se senão com iim fim ciivlisador e humanitario, susci-tam um conflito, mero pretexto para se apoderarem de mais um territorio.

<Por conseguinte: primeiro uma missão de ministro de Deus, para corivertêr as tribus selvagens ao cris-tianismo; depois uma missão de soldados cristãos, para. a tiros de pé ça, subjugar estes mesmos selva-gens. >

A politica ingleza, é poiá, sobre-maneira nitida. Primeiramente a Bi-blia: seguidamente, as granadas de artilharia.

igualmente bem conhecida a açao civilisadora das tropas france-zas no.Tonkin e em Madagascar, dos belgas no Gongos, e dos russos na China e no -Turquesthan.

E é a todos estes hefois do exer-cito. anglo-franco, russo-belga que em todas essas partes deram provas do que eram que está entregue de no-vo/ a defeza da civilisação ! . . . Nes-ta guerra as hostes do Kaiser teem praticado revoltantes crimes. E' um facto. Mas, por outrp lado, não é con-testável a afirmação que os alemães fazem atribuindo âs tropas dos alia-dos idênticas selvagerias.

Isto prova tão sómente que to-dos os soldados, quando em guerra, não são mais que uma sucia de bar-bares, sejam eles dum páls- dèrnocra-tico OU duma naçãa reacionaria.

Não é portanto (a nosso vêr) cor-rendo pela Europa de espingarda nas mãos, feitos assassinos, que os que amám os ideaes e o prog esso humano salvam a Civilisação.

Nós não podemas conceber que

os revolucionários russos venl luntariamente' ao centro da Europa, bater-se pel%Civilisação e contra» o barbarísmaMiiàgdp no seu pais há degredos éomo far' Síbérfa para os que ,-gritam. L i b e r d a d e Am senhor que manda fusilar os ho conscientes; companhias ás ordens de qtíem ós soldados espingardeam em massa os trabalhadorc-?, co em L ê n a ; ukases deroj,. ... mínimos'direi tos e cerceiam as tnais parcas liberdades.

0 da mesma forma não concebe-mos que o trabalhador português se lance, de arma na mão, a centenares de léguas de distancia para combater a tirania teutonica, deixando, mui-to tranquilos e satisfeitos os tirinos que pelo mais insignificante delito de opinião os metem durante longos mezes.em ergástulos onde se arruint a saúde, os barbaros que á menor tentativa de reivindicação ou protesto os mandam espadeirar é fúsilnr nas ruas.

Com respeito a combatei pela Liberdade e pelo Direito será bom que aos que batalham imbuídos dessa mentira não sucêda o que ac<. a muitos dos que, em 4 de O: dc 1910 lutaram pela Liberdade Re-publicana. Dai a poucos mezeá .. . vam rta cadeia J • i

Combater pela Liberdade e pelo Direi to! . . . Grosseira rnistifiçacão. Nenhumas liberdades existem neste pais que tenhamos de travar para mantel-as.

E Direitos, a nós trabalhadoras, só um nos conferem': o de ^mo» ignobilmente explorados por . ] » e l o s p a t r õ e s , p e l o s c o -m e r c i a n t e s , p e l o s a g i o -t a s , p e l o í i s c o .

Ha qué batalhar, sim. Ma-por este direito, por esta liberdade, por esta justiça, pôr esta civilisação, falsas e hipócritas.

Hemos de lutar; sim. Ma; para implantar o Direito puro a Lib< rdade de facto, a Justiça a Liberdade de facto, a Justiça sã, a Civilização per-feita, isto t i - r - A i A - n a r c p - x i a l

Promovidos p e l a An ar qu i sta-C omnn i st a , giao do Sul, realisa-se 1 de Maio, em Setúbal, nn de comício de protesto c.o i t ra a folia sanguinaria dos gover-nantes e eiri faVòr da paiz

Amanha, domingo, reaK-sar-sò-ha èm Lisboa um comi-cio contra a guerra qne 'pro-mete ser imponentissimo.

Pa ra estes comicic , féíaiÉ profusamente dístribuidi) m n manifesto, que constí túe uni gritò vibrante de protes to con-t r a a Conflagração Europeia.

Trabalhadores! Compa-recendo nos comicios que ho je se realisam, euniprirer alto dever de solidariedade interernaciorial e de rej - • chacina Europeia. A União Anarquista- Cotnuní ia

ÍXX>0<><>€>0-0<>0-0<><><>0<>CKX><>00<><XX.

2 T A Z T A Z Í Z A

Os socialistas fieis aos princípios infcemacionalistas jreafl-sam hoje, 1," de Maio, em todo o jjaie Eftanífestaç.ões e çomicios da protesto contra a guerra.

Page 7: A Revolta

A RIVOLTA

A' hora que o nosso jornal cir-culai^èncontra-se reunido em Ferrol (Espanha), ò Congresso ínternacio-xial contra a guerra, convocado pelo Ateneu Sindicalista, cujo principal fim é estreitar as relações interna-cionais entre os revolucionário so-ciais para uma ativa agitação em favor da paz.

As adesões recebidas para este Congresso são importantíssimas, tendo j á nomeado delegados dire-tor as associações operarias, anar-quistas, socialistas e sindicalistas, uãò só de todas as cidades eepa-

uolas, como de: Italia. Inglaterra, •Iolanda, Brasil, Alemanha e França cuja Confederação Geral do Tra-balho se faz representar.

Outros paises não só da Europa como da America deram a sua ade-são a este Congresso, sendo de es-perar que dele saiam resoluções pratica» para a consecussão da paz.

A N O S S A " ' " A T

-mm v p A P R E S E N T A Ç Ã O >»oN «ut nmutvv.^io

De Portugual- fazem-se repre-sentar com delegados directos as seguintes colectividades: • - Organisações anarquistas; Pinto

Quartim', • Alve»' Pereira, Ernesto Cardoso ©.Serafim G árdoso Lucena.

UniOio ..dos Siddicatos Operários de Lisboa; Joaquim Nogueira.

Juventudes Sindicalistas; Aurelio Quintanilha.

União Nacional Operaria; Mário Negueira. • -ú

N O T I C I A S P E E S F A W H A

Por toda a Espanha a corrente contra a guerra engrossa com rapi-dez.

0 brilhante manifesto em favor da paz em que se advoga a ideia

-dum movimento internaoional para impedir a continuação da carnifi-cina, publicado pelo camarada fran-cez Sebastião Faure encontrou nos revolucionários espanhoes o mais "ranço apoio, tendo sido publicado nas colunas dos jornais operários.

A'Si manifestações de Justicia Social ^. orgã.o socialista, e de Soli-dariedad Obrera, órgão. da Confede-ração Geral do 'l1ràb'aíiu> de Espa-nha, ha que juntar as duma infini-dade de sindicatos 'dporarios e cen-tros de cultura empenhados em tor-nar ostensiva a sua aversão á ma-tança. vv

Em todas as cidades mais im-. rcantes de Espanha, socialistas,

sindicalistas e átiarqtiistas, dè co-mum acordo se aprestam a •organi-

sessões e a publicar manifestos anatemizafldo a disputa criminosa entre opressores e que nós, os opri-midos pagamos com a nossa liber-dade, com ó riosso sangue e cóm a nossa vida.

Esta ativa p opaganda tem feito .-,ar uma forte corrente contra a

guerra e ela obstará certamente a que o governo do Afonso XIII venha a intervir nò conflito, permitindo-aoa) ainda supor que com, ela se podará levar a efeito um formida-ye' movimento cujo embate pode-roso seja capaz de impor a Paz ontra à vontade assassina dos go-

veínárftfes'.' ^'V". Também a agitação contra uma

das causas da guerra,a carestia da vida —se . desenvolve assombrosa-mente por todo o país, tendo-se já realisado em muitas cidades, impo-nentes oonffcfol 3ê '^ rõ t l s to r ' '" "

A quasi todos eles acorrem uma multidão cõmpaota, tendo ihavidó -pof vezes conflitos sangrentos • en-tr# ai guarda civil e o povo fa-minto. . "> — 0 grupo editor de Tiei-ra y

Libertad publicará brevemente um numero-revista, dedicado ao faleci-do companheiro Anselmo Lorenzo.

Será ornado de excelentes dese-nhos do camarada Sagristá e no texto figurarão artigos dos mais conhecidos escritores anarquistas.

milUHaiXWf''""

S O P R O S D E R E V O L T A

Dia virá em que o ideal de Deus será substituído pe{o ideal da huvianidade; o Estado com as suas tiranias pela Comuna-Anarquista com a sua liberdade; a guerra com suas indiscritiveis atrocidades pela írater-nidade entre os trabalhadores do mun-do inteiro unidas numa verdadeira e imorredoira paz.

Otto Leroy

Urge resistir contra v onda crimi-nosa do militarismo e dizer como Tols-(oi:--Recosai-vos ao ser-viço militar:—a recusa a esse

serviço deprimente e infame, è queda da sociedade capitalista que não mais se apoiará nas baionetas empunhadas pelos trabalhadores.

Bartolomeu Constantino

A greve geral ataca directamente o verdadeiro poder, sociedade\capita-lista, o fautor real das guerras — a oligarquia financeira e eeonomica, — sua virtude educativa dos esforços co-lectivos, que dispensam os meios, e atinge o alvo desejado.

Neno Vasco

O dinheiro serve ao governo para comprar Armas-, para dar educação especial e pagar depois a chefes mili-tares criminósos eferózes.

E estes chefes, por processos en-genhosos e aperfeiçoados atravez dos séculos formam com todos os homens, que lhes são fornecidos, exercitos de bandidos.

Leáo Tolstoi

O Patriotismo Ba dias falei com um moço mili-

tar que partiu na "ultima expedição a Angola. Como o vi triste!

A sua fisionomia revelava o ente" que a todas as desditas se resigna sem opôr um gesto de revolta.

Encareio de frente e pude vêr claramente que debaixo daquela farda aviltante, se encobria a blusa honrada do produtor. Pude vêr que tinha na minha frente o homem arrancado a lavoura, o filho aman-tíssimo roubado aos afétos dos seus estremósos pais.

Tive interesse em falar-lhe, gos-tava realmente de ouvir pela própria

' boca do nosso expedicionaaio se ele ia por vontade sua para os confins das africas a caminho da desespe-ração e da morte.

—Yocê. caro amigo não vai com muita vontade combater péla pa-t r i a . . . » sua fisionomia indica . . .

— Diz bem, nenhuma! Nada tenho a ganhar com estas monstruo-sas guerras. Vivia na minha aldeia com meus pais, uns velhinhos j á alquebrados pelo excessivo trabalho e era eu o único amparo deles. Amo uma rapariga lá do meu logar, em quem depositava os mais venturosos sôtihos e em brevo iria contráir a

-tmião. udò falhou ! Nada sabia, desta

iponstruosà guerra porqite fiada me interessa a não ser a vida e a feli-cidade dos meus.

O meu maior prazer era ter sempre trabalho para poder ganhar o escasso alimento para mim e para Os meus velhinhos.

Um dia recebo um aviso para me apresentar no quartel,» eis que de novo me fazem envergar a farda apesár de ha 3 anos ter j á sofrido 20 mezes esse horrível suplicio. Me-tem me n'um comboio para Lisboa e agora é que vou para a Africa.

Sem vontade a lguma. . . está claro.

—Pois que vontade pode uma pessoa ter em caminhar para o so-frimento. Nenhuma !

Depois que ganho éu com estas lutas capitalistas? Se hoje sou mi-serável, amanhã, s e n ã o arranjar a minha vida com a força do meu tra-balho, volverei a se-lò. ; !

Despedi-me e quando me voltei vi o triste expedioonario limpando justivamente algumas 1 agrirnas que não pudera evitar.

Analisei ali o coração grandioso que o Estado em breve iria transformar n'um coroçãó de ban-dido. E' i s t o o patriotismo ! Lisboa, DAXTE

Os tiranos uaem-ss O governo espanhol proíbe a

realisação do Congresso Internacional a favor da paz

A' ultima hora quando o nosso jornal estava para entrar na maquina extraímos do Século o seguinte te-legrama :

FERROL, 27.— O» anarquistas.ca-talães realisaram um comido de propa-ganda no Centro Sindicalista ao qual assistiu numeroso publico.

As autoridades resolveram proibir o proximo congresso a favor da paz, organisado pelos sindicalistas e anar-quistas. Os organisadores do referido congresso negaram-se a assinar a res-petiva notificação.

Receiam-se alterações da ordem. Teem chegado muitos anarquistas

espanhoes e extrangeiros.—S. Não sabemos se terá confirmação

semilhante atentado à liberdade de reunião.

Mas tudo ha a esperar das diploma-cias, que, cônscias das suas infamias, dos seus crimes, se atemorisam e tre-mem quandoVeem diante de si a ideia que as ha de vencer.

Pedi mós a todos os nossos camaradas encarregados da venda que satisfaçam as suas importancías caso contrario somos obrigados a' suspen-der a REVpLTA

gsqoiq 8i£c;iani «OOOOOWOOOÇOÇOOMOWMa

Fios anarquistas portugueses anu eonioj a vaio rfv iir c r"* . pnití ií ílr - ri

Camaradas:

A organisação dos anarquistas no momento gravíssimo que atra-vessámos, é uma necessidade impe-

Cremos que todos os camaradas de boa vontade colaborarão nesta obrft; de ioningáçâo de esforçós e energias.

(Em Portugal, nestes últimos anos, consoladoramente o constata-mos, o povo trabalhador vai-se com-penetrando d o sau valor, e as. ideias anarquistas desenvolvem-se dia a dia. Ocorre-nos, por consequência perguntar, porque não nos unimos para intensificar a atmosfera de hostilidade e descrença que pelos

l a w a ao -s«i© do operaria-do, formando uma forte corrente que derrubará o edifício pútrido já, do sistema capitalista-burguez.

Vamos, seriamente pezar o que tém motivado um tal enerramento e indiferentismo pela organisação das forças anarquistas. Embora iios peze dizel-o, é a verdade; e a verdade jamais se deve ocultar.

eo O m a r a s m o d e s u n i ã o entre os anarquistas, deve atribuir-se á ignorancia dos deveres de solidarie-dade que entre nós deve existir.

Camaradas!. Esqueçamos resen-timentos e agravos pessoais.

Que todos se unam para o bem 'comum, para a obra de Salvação Social!

Urge mudar de rumo, trabalhar com afinco e sem defalecimentos. concertados, unidos, ^para não ser-mos arrastados no abismo profundo que nos ameaça tragar.

A tremenda catástrofe que se desencadeou, a ' Conflagração Eu-ropea, cujas consequências não po-demos conjecturar, deve ser um in-centivo para novas lutas f devemos unir fileiras, ativar a propaganda, e não sermos preza da confusão produzida pelas ocorrências, para que, intervindo quando a ocasião se manifestar, saibamos tirar proveito desta grande e terrível lição, mar-cando-lhe um epilogo brilhante na historia do movimento social.

Não pode, nem deve dar-se uma fuga dos nossos postos, por que essa atitude seria covarde, vergo-nhosa, criminosa no momento em q.ue se joga a vida e o futuro dos povos. Devemos httar para que o facho brilhante da Revolução So-õfàl dissipe a escuridão tenebrosa em que. a vida social está mergu-lhada. - • „

Mas enquanto não se acerca o final da partida, saibamos ver cla-ro e encarar a situação, para rei-vindicar-mos a melhoria nas nossas condições eeonotnicas, tão miserá-veis já,. defendendo-as de toda a horda de ignóbeis parasitas, que em vez de encolherem as garras no

meio de tantos desastres, mais,s« incitam á rapina e á ganancia co mercial, açambarcando e agiotando com os generos de primeira neces-sidade.

Que oada um .tome a serio o papel social que lhe compete neste momento do grande responsabili-dade, trabalhando pela junção e fortificação da Familia Anarquista, para que não sejamos atropelados pela reação clerical, politica e mili-tarista.

Façamos uma barreira num amplexo fraternal nos laços da so-lidariedade, e lutemos para quo amanhã findo o poderio dos tiranos e déspotas, cesse & exploração ca-pitalista, cale o troar do canhão e caiam para. aauipre as frçinteiras malditas que se erguem, alimentan-do ódios.

Então surgirá explend«nte o Ideal Libertário, proporcionando a todos Pão, Terra o Liberdade, e sobre o Universo em repouso, far-se-ha o advento dá. Sociedade Anar-quista-Comunista.

A União Anarquista-Comunista da Região do Sul, constituiu-se neste momento e.T. que 03 anarquistas de todos os paises se estão organi-sando, preenchendo assim uma la-cuna que era, sem contestação, uma necessidade urgente; que cessem os fatores dissolventes da união, dei-xando divergeneias que só ao nos-so inimigo comum aproveitam; e que dão origem á aflitiva confusão nas fileiras anarquistas e à falta de propaganda dos ideais libertadores; que a nossa agrupação seja o tra-ço unificador de todos os que amam a Anarquia, esperamo-lo.

A nossa organisação, tomará parte em todos os movimentos cie caracter social, fomentando neles o espirito revolucionário, a ação direta anti-estadoal, anti autorita-ria e anti-pariamentar.

Propagará as doutrinas anar-quistas que serão a semente que fará brotar por toda a parte o sen-timento de revolta, despertando do torpor, da letargia, em que jáz, a imensa legião de escravisados e famintos, e que destruindo a casta parasitaria, dará logar á fraterni-dade universal.

Camaradas, lutemos num con-graçamento de ideias, para derru-bar a corrompida sociedade, prenhe de ridículos preconceitos e perni-ciosas convenções e ficando a so-ciedade livre, plena de Bem-Estar e Liberdade. j y ^ A J S S Ç

Avante pela Revolu-ção Social I

"Viva a Anarquia!

A União Comunista Anarquista da Região do Sul.

Page 8: A Revolta

A RIVOLTA

Da resignação de Cristo á lógica de Sataimz

ííJÍÍV o tívMwt ,'.iiuoaov<á urre A Ha séculos que, segundo. E.

Renam, nasceu um Hoipem; Filho de Deus, a .confiarmos nas predicas

ie leituras çatolica.s. Não existiu, segundo Bossi,, e

atraz dele os que tudo querem ver ,, pelo prima dos documentos .com-

provativo*. Homqin, I3eus ou Mito, o caso

é .que uole derivaram ensinos., dou-trinas.§ mais tarde dogmas. O certo é que se propagaram e imposeram

,a qu.asi metade d os "habitantes do planeta, e regularam a vida social, de modo direto durante muitos anos, e de modo .iiiuireto boa parte

^jdçs nossos,.tenjpoç., ; .. ••-*j.,tfBeja o, çri^tiaukmp, - i d e i a t f f i -

. giual, iioya dq m ^ j h ^ e m , .oUjjjsftja desenvolvimento lógico de anterio-res ideias, é evidente que a; sua

a influepçiau; ty^u^e,; </l • mais dattos b^u^cipa. .

Reforma puramente moral.; o cristianismo.levava já,em seu seio, o dogmatismo ,ca-fcolico.

. , . O cristianismo,© uma antinomia. . Não.dego a boa fé dos primeiros

cristãos. Admiro o valor dos seus mártires. Descubromip .anto,^ tita-

, :níca Juta que sustentaram, sós e . desarmados, com os .poderosos da

época. .suem eol ebafeio Emquanto,foram partido de opo-

sição eram seperiores aos outros mortais;, mas. ao tiinnfor. oficial-mente com Constantino, onularam de chofre toda a rebeldia e; desvia-ram o progresso, que. a .ideia, cristã podia fazer 110 decorrer dos tempos.

As ideias puriíioam-se e avançam emquanto se manteem isoladas do p.oder; mas u,Wa:,ve3 tornadas pp-der, envelhece em seguida e morre çiepressa, a parto boa,- conter possam e toma alento e vida o -íeu Jado ruap. E o cristianismo,-como

. toda a obra humana,, tinha o seu lado mau, o que podia dar vida e o qnp podia dar mqrte, .0 que tinha podido ser útil á totalidade dos so-res humanos e o que só beneficiava •a. iunsutaQjtgs.) ,t ^ aiio «biv «dtfua

O catolicismo,, que queimou mi-litares da êrejes. sem ter em conta que o primitivo cristianismo era também uma êyesia, —-. qu,e ,vergas-tou meio mundo para fazer, respei-tar ou impor a cruz, a;crua do ho-mem que se deixou arrebatar á vida para não pregar á matança, que excomungou meia humanidade),esse

Jcatalicismo i-crimiiioso, intolerante, inconsequente, fanatico e déspotice, que ensinou ele do-cristianismo aos homens? Nada mais que o que podia beneficiar a uns flpuautos, unicamente o .qufe podia perpetuar todas as velhas escravidões.e-ásaa sombra fazer medrar os directores do rebanho humano, passados e

O triunfo dos cristãos foi o triunfo da maldade humana, não do cristianismo ou do seu lado bom. . . Não triunfou a tolerancia, nem o espirito de justiça, nem a bondade, nem a fraternidade nem a egual-dade. _ . . .

Triunfou a mansidão, a humib dado e a resignação, embustes com os quais se tem vindo perpetuando a desigualdade económica, a tirania da força material, o despreso ao ao direito coletivo e o escarneo de toda a justiça.

Da . mansidão, da resignação e da humildade cristãs fez o catoli-cismo tres virtudes. . . quando ape-nas são. tres. chagas, sociaes que dizimam continuamente a humaui-

Quasi morto o catolicismo ante os ataques de reformistas e liberais, subsistem, no .entanto, estas ...£éas. virtudes trasladas;; às leis- fiivis— R e s i g - i i a ç à o ! M a n s i . d ã o ! H u m i l d a d e ! . - -

Eu; ainda não vi nado tão baixo., tão covardc, tão objecto como esta

humilhação do misero ante as corro" gancias da sob-erbia dos que íteem a ridiculo prét.enção de dirigir o rebano humano; eu ainda não pre-senciei nada tão baixo, tão cobBarde, tão objeto. como essa mansidãi,o do esbofeteado povo, que ainda e sem-pre apresenta a. outra face; eu não tenho visto úada tão embruteesedor tão estúpido, tão anti-natural como essa resignação avelhuda do des-pojado eterno que não reivmdica todos- os seus direitos á vida ma-terial, moral e iutelecttjal.

Virtudes, de morte e de imora-. lidade, elas não èleyàm o homem á

categoria de ser pensante;'polo con-trario, rebaixám-íiô aô niyel do bru-to, peor ainda ha brutos que' va-gueistifc livres e -cdntentes pelas sel-vas, e o homem não é livre nem

'"feliz destas mecrópoHs- que chamam cidades.

nos seus goso, predica o religioso," deixa-te guiar"" por meus conselhos e em justa paga de meus gerviços, oh povo submisso è" obediente! ali-

' menia-rrió e ,verte-ine«. «A autoridade é origem divina

"—diz o; irtónarca; — sou seu repre-rt v» r n r a M n rt MM. - J . » , , .. i ..

xa que .me farte»." «Respeitai a lei—diz o legislador

—parque ó a' expressão da justiça, e conformai-vos com a vossa con-dição de séívos. Mas eu devoe'stâr isento dela porque sou superio a

- v«5s». " •" f 1

! «Respeitai aá leis, trabalhai re :

signado, e o trabalho será a paga ' dos vossos deveres. Eu cobrarei o rendimentoJ). '", Eis aqui o cjue diz o própriéta-

rió a o capitalista. E o; magistrado : « O que não

obedeça a tudo isto que tem sua origem em alta esfera, lançar-lhe-ei em cima a policia e o soldado, para faze-lo entrar na! ordem, ou farei com que apodreça 110 cárcere)».

•áqíii os resultados, funestos dessas trez virtMM' traslados ás

* leis civis; Eis aqui como a sober-ba, a avaresa' e a folgazencia se apoiam monstruosamente, baseando OH' seus privilégios na educação de&tâs tres virtudes de mòrte.

- líJ Eis aqui o que forçosamelited^-via matar o cristianismo, resusci-tar todos os paganismos, todas Ss idolatrias, todos os dogmás, produ-zir os autos de fé è perpe tuar todas as misérias ántigas tióih um verniz de civilisação falsa e hipócrita. Nao podia suceder difórentementé desde o momento ém qúe o cristianismo se atrofiou no poder e déixou de pufi-ficar-ce e apreféíçOár-se com a cons-t a ' c i a .na rebeldia.:'

Hora seria já de acabarmos com còm esta lenda; de que a hrnmilda-de,se volvesse arrogante, que a mansidão tornasse a ofensiva, de que a resignação se fizesse reivin-dicadora.

Hora S6ria jâ de . que o anjo re-belde caído pela sua revolta contra a humildade e a resignaçã,o ponta peasse os intrusos da religião, mo-rada da plebe irredimida, símbolo da. humildade e da servidão e nada piais. úao! ki, etie k<i

A lógica de Satanaz, a Pebeldià contra ,a humildade e seryiçfião nos dará o bem-est ar e a felicideade que não nos tem dado o cristiamismo.

SANTOS PUXHO

3STO BRASIL A Confederação Operariia1 Bra-

sileira e o Centro EstudosSoociais'do rio de Janeiro, organisa hsioja um

comício pro-paz, em que*usaaráo da palavra ativos militantes ,dâo movi-mento operário e anarqtiisfeaa.

i : òe maio O dia de hoje não é nem pôde ser

um dia de festa como go pretendem os socialistas, mas sim um dia de pro-testo em que se recordam todos os mártires da burguesia sanguinaria. que para melhor futuro da humani-dadè verteram o seu sarigue gèneroSo.

Foi neste dia que ás ordens da burguesia capitalista foram massacra-dos nâ republica norte-americana os nossos irmãos em sofrimentos, e con-denados á morte cinco trabalhadores por praticarem o grande crime de le-vantar bem alto a sua voz de eman-cipador em pról da liberdade e das reivindicações' sociais,

Este monstruoso crime que ainda hoje está gfavàdo na memoria de todo

• o proletariado consciente, veiu mais tarde a provaír-sé ter sido cometido com o fim de apagar a labareda anar-quista que se ateava extraordinaria-mente no seio dos trabalhadores e cujos principais propagandistas eram aquélês heróicos camaradas.

Mas a semente lançada á tgr.ra e regada com o sangue dos mártires, continua germinando nos cerefcos do proletariado; e, em breve temos que lhe colher os frutos, que será a queda da sociedade capitalista com õs seus çyimes, substituindo-a pela sçciedade sem reis, nem presidente, quer, dizer sem fronteiras, em que a religião católica, coisa abstraia e misteriosa, que só embrutece o cerebro do povo, será substituída pela Religião do Amor e da fraternidade, baséada nos sãos princípios da Anarquia. ,rí,

pAVID CARVALHO lJtl«UtB

ím.uirif n i l n i ã o Anarquista . ir-. • j

da Região do S u l

Es ta organisação que ;tão bri-lhantes serviços está prestando á causa anarquista, á emanoiprçao dos traba]h»dores, epntinua espa lhando por toda a região do sul a sua esfera de ação 0 propaganda, realisando , em Lisboa, Setubal e arredores, numerosas sessões dou-trinarias e tomando parte em todas òs comícios e sessões publicas promovidas pelas organisações ope-rarias, contra a carestia da vida, etc., etc.

A União apéla para todos os grupos desta região e aos camara-das não agrupados a inscreverem-se 110 seu seio, para que resulte mais preficua e eticaz a ação que vem desenvolvendo em prol da emanci-pação humana. Lembra-se também a todos os fiLiados a necessidade de satisfazerem o pagamento das cotas voluntarias, posto que só assim podemôs fazer face ás cons-tantes despezas da propaganda..

A correspondência deve ser di-rigida para a sua sede Travessa Agua de Flor, 2õ—2.° Lisboa. COOOO.-N3QC>OC>OC>à6oOOOC<Ò

Convidam-se todçs ps anarquis-tas de Coimbra e arredores a reu-nirem hoje pelas 11 horasda manha, 11a Rua Sá d,a Bandeira, 11, afim de se t ra tar dum assunto urgente e de máxima importancia para a intensificação da propaganda liber-taria. MVÍ» irai: d e :•' <(•• .-.afie

A comjiarencia de todes os ca-maradas que amam sinceramente a ideia anarquista "é absolutamente necessaria. > .íf-»«i.

A A l i a n ç a - A n a r q u i s t a

VOCOÓÓ<X>ÓÓO<><X><X><X>C<X>;6<>C><XX><>

" A V O Z DA R A Z Ã O " Periodico anarquista

Órgão da Juventude Libertaria A p a r e c e h o j e

KKKAÇÃO

Travessa Agua da Flor, 55-1.° LISBOA

TRAÇOS DE FOGO A duplicacídade das leis

Arrojadas ás faces filantes desse Moloch insaciavel que é a guerra, tem desaparecido a florida juven-tude de todas as nações em luta Nessa carnayem horrível sido imolados os proletários qu& cegos pqr percone.eitos e atavismos se prestaram, a servir os interesses âos seus verdugos, a fortalecer o pulso

lVque os çletem? a ,<engrossar as ca-deias que os teern presos á corrente ferrea-da tirania capitalista.

Milhares, hão caido varados pelas balas. Ezercitos, uns após outros são destruçados, fornecendo aos corvos banquetes de Luculo.

Abyssum, abyssus in-VOCat. Os cadáveres clamam vin-gança, a vingança morte. E nos campos da batalha, como num quadro celebre dum emérito pintor a Morte é o general comandante de todos os ezercitos em luta.

E' preciso pòis skiprir Òs colhi-dos pela foice sinisbrç,. Paro, isso o kaiser da Alemanha, lembrou-se de òrganisàr um exercito com todo o existente nas cadeias: assassinos,

l ' ' violadores, ladrões, incendiários, (otfa ajina jffàr dq, criminalidàâe.

Todos quantos hontem -a Lei havia julgado criminosos, dignòs de cèhsura pela Sociedade inteira, vão poder hoje 'ào abrigo dessa mesma Lei, repetir idênticas faça-nhas: assassinar, violar, roubar e incendiar. j r

E, coisa extraordinar ia, a mes-

suciedade inteira, os ha de, hoje, julgar erois, e dignos de louvor por todo o povo.

Bastará, para isso, que sejam grandes assassinos, ladrões e incen-diários; segwndo a vontade do se-nhor Postadam.

Então ém vez do cárcere, terão quiçá uma estatua nalguma praça publica onde a multidão os vene-rará. o. o -f-ii.ii b uni* «i

SATAN

D O H A T U R A L

Senhor! amo a sua jilha!... —A minha filha.,.

Sim, e se fòr de sua vontade, casa-rei com ela.r

—Mas, como quer você que eu consinta se não tem meios de fortuna ?

Senhor eu lhe explico : > .. Sou operário, mas sou trabalhador, não pessuo fortuna bem sei, mas tenho outros dotes que valem rnais que o. dinheiro, sou honesto e não vicioso...

—Perdão, minha filha não poderá ser su'a esposa, porque a minha situação è mais elevada.

Sim. O Senhor é detentor da riqueza dos que produzem, e eu uma vitima dos exploradores.

—Saia imediatamente de minha casá, que aqui nunca tornará a entrar.

Saio mas fique sabendo se a casa • n é sua, foi com o produto roubado aos produtores.

CASÉRIO

Como hão ser a n a r q u i s t a ? A todos os camaradas que nos

teem dirigido pedidos deste magnifi-co folheto de propaganda somos a.di-zer que a sua publicacãa prepara-se para breve. Os pedidos podem con-tinuar a ser feitos á nossa redação.

Page 9: A Revolta

à j x p I—-Num. 30 Coimbra 3 ds sâtembro de 1918 raço 1 centavo

a s «a •o s

QUINZENÁRIO ORGÃO DA FEDERAÇÃO ANARQUISTA DA REGIÃO DO SUL

REDÁÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PROVISORIA

JEtaa SdL da Bandeira, 11, 2."

COIMBRA — PÕRTUG

PROPRIEDADE DA FEDERAÇÃO ANARQUISTA

Dirétor e administrador — AUGUSTO QUINTAS % I

Editor —José <TAzevedo

Composição e ?idi ressâo — CA âMIN Yí>- ombrt

A Revolta ao retomar o seu logar na batalha tremenda

que se fere entre a Liberdade e a opressão, saúda todas

as vitimas da tirania pulitica, religiosa, militar e capitalista,

que enchem as prisões por tentarem redimir e libertar os

povos I

A todas essas vitimas a nossa espressão de solidarie-

dade protestando ao mesmo tempo contra as violências das

suas prisões. Que o brado de todos os homens livre seja:

PELA LIBERDADE!

PEi-À RLYOLUÇÁO SOCIALI

PFLA ANARQUIA!

AO POVO

O NOSSO REAPARECIMENTO

E X P L I C A Ç Õ Ê S " N E G B S § Ã R l 3 § f (•MNP

Apóz trez mezes de descanso forçado, de novo voltamos á liça do combate em prol dos princípios que reputamos de justiça e pelos quaes pelejaremos até ao ultimo lampejo da nossa vida de escravos, vitimas d'uma sociedade mil vezes maldita.

Perante as brutalidades gover-nativas em que um Dracon de pe-chisbeque, um Pombal <ie papelão, se impõe com a sua onipotente von-tade, escudado no medo duns e na subrevencia dos outros e ainda na indiferença de quasi todos, a nós só nos restava suspender a publi-cação do jornal.

Antes porém de emudecer pu-blicámos o suplemento ao n.° 19, em que expúnhamos a nossa reso-lução; e tendo corrido quasi todas as tipografias de Lisbôa, todas se recusavam á manufatura do jornal, opondo mil e um obstáculos, o que nos deu a noção da pussilanemi-dade destes pultrõés que se maneu-munaram com o ditador, tornan-do-se cúmplices dos seus desatinos e violências.

Para reagir a este ambiente su-focante de medo dos proprietários de tipografia, creámos o grupo de defeza da Rivolta, para, por ações constituirmos uma oficina própria.

Os acontecimentos que se desen-rolaram a 10 de Junho, ímpediram-noa de levar por diante o nosso intento, porque, o Senhor de tado tstO, aproveitando-se dum aconte-cimento que ainda hoje está en-volto no mais tenebroso mistério, mandou prender todos os conhe-çidos elementos sindicalistas e

anarquistas, desmantelando ou pretendendo desmantelar as nossas organisaçóes.

A F . • A . • . na R . • . do S . • . quiz por mais duma vez fazer sair o seu orgão, porem tornava-se isso impossível, pois que os camaradas que constituíram o organismo ne-cessário ao seu funcionamento, alguns estavam presos e outros foragidos.

No entanto não desanimamos e a prova é que novos elementos se juntam para a luta provando aos mastins guardas da ordem capita-lista, aos tiranetes de opera lufa, que as ideias não morrem esma-gadas debaixo da pata de qualquer Liborio feito ministro desta Banda-lheira que inferma no culto dos grandes . . . homens 1

A Revolta reaparecendo vem ocu-par o seu logar de combatente; e se a nova infâmia a fizer emude-cer, de novo aparecerá; e isto tan-tas vezes quantas forem ncCess;i="rT*tD,ca» rias para combater os crimes da sociedade burgueza, como para arrancar a mascara aos politicos devassos e intrujões que querem impôr a sua vondade e a da clien-tela famélica pela força que repre-senta a tirania e pela calunia arma baixa e miserável própria de almas de lama e puz 1

Hontero como hoje e como sem-pre na brecha, declarando bem alto a guerra dos famintos e dos escra-vos contra a propotencia do Es-tado, contra a exploração capita-lista

£ r u £ > o R e d a t o r i a l .

Nós lutamos, primeiro que tudo, pelo conseguimento da Igualdade.

Os nossos esforços são dirigidos a estabelecer a verdadeira, a genuina igualdade, nunca aquela mentira es-crita nos cárceres das monarquias ou nas tríades emblemáticas das repu-blicas.

Nós queremos que tudo pertença a todos. Queremos que as maquinas se-jam pertence dos obreiros que as fa-zem produzir; entendemos que nin-guém tem o direito de enriquecer á custa das fadigas dos trabalhadores. Queremos que a terra, hoje em poder de viciosos senhores que vivem nas grandes cidades no meio do luxo e em plena orgia, seja entregue ao camponez que a cultiva e a faz fruti-ficar. Queremos, numa palavra, que iodos os instrumentos de trabalho se-

'dornT livremente associados, e que todos os produtos naturaes e artifi-eiaes da riqueza sejam declarados pro-priedade de todos.

Por esta razão somos comunistas. A igualdade que nós desejamos

não será porém possível sem que exista a completa Liberdade. Aquele que não possue é escravo do que possue, como aqueles que dominam politicamente até economicamente tendem a tornar-se senhores dos go-vernados. Assim como não é possível efetuar a Igualdade sem banir os pa-trões, despojando-os de tudo que in-justamente deteem, isto é, do previle-gio economico que se chama proprie-dade, tampouco é possível reivindicar a Liberdade sem suprimir os gover-nantes, abolindo to io o governo, que é o previlegio politico onde assenta a exploração do homem pelo homem.

Não queremos: Nem senhores, nem escravos.

Desejamos: Todos iguaes na li-berdade ; tôdos livres na igualdade.

Sem propriedade privada, o que equivale a dizer sem amos, e, por con-sequência, sem a exploração econo-

todos os indivíduos serão eco-nomicamente iguaes; e isto é : comu-nismo ou propriedade comum de todas as coisas.

Sem governo, sem a autoridade do homem sobre o Tiomem, sem a vio-lência moral das leis anti-naturaes, sem policia e sem borucracia, todos os homens serão politicamente livres; isto é; cada individuo terá a plena e exclusiva soberania sobre si memo, e não encontrará quem o impeça de cola-borar no bem coletivo, po iendo obrar expontaneamente, segundo o recla-mem os seus interesses individuaes, exi tindo completa harmonia nos ín-teies.-es de tudos.

Esta liberdade é a Anarquia,

Somos portanto anarquistas-comu-nistas, porque queremos ser completa' mente livres e verdadeiramente iguaes.

Nós, os anarquistas não queremos ou-tra coisa que a completa ltbe<dmiepura todos; queremos dtsinur tonos os previ-legios e superstiçõ s religiosas e politicas, proclamando a ciência mestrada vida.

Não somos patriotas, porque a di-visão do globo em faixas de terreno denominadas nações ou patrias, só serve para desarmouisar e envolver em lutas fratricidas os trabalhadores nascidos em diferentes regiões.

Onde está a pátria para os traba-lhadores pairiuticamente explorados até ao dia em que ticam inutilisados para o trabalho e lhe dão com a porta da fabrica na cara, ficando sem tra-balho e sem alimento para nutrir o seu organismo f Oude está a patria para o eampo.aez vergado pela fome, obrigado a abandonar a terra que o viu nascer para ir ao outro lado do Oceano, pensando encontrar patrões mais humanos que os seus queridos compatriotas ?

Não deve haver deveres onde não existem direitos 1 E que direitos tem o proletariado na sua patria que não seja o da honra de defender a terra cujo solo cultivou ou fez produzir para só os senhores consumirem os produtos ?

Entre Vanderbildt, multimilionário e o seu compatriota Lazaro, mendigo, existe tanio de comum e fraternal co-mo entre o camponez que morre de fome no bela jardim da sua patria e o celestial imperador da China. Mas se nada existe de comum entre estes dois compatriotas, existe muito entre o campomo poriuguez e o pobre pro-lario da Irlanda, como entre o opri-mido trabalhador da monarquia Italia e o assalariado da França republi-cana ; entre estes ha a comunidade nas aspirações, na miséria, na igno-raria, no embrutecimento e na inco-sciencia dos proprios direitos.

E os governos e os negreiros capi-talistas, para mais seguro dominio, afanam-se em suscitar odios fratici-das entre os poros, pela dita digni-dade da bandeira, ou por idênticas questões de nacionalidade. E o povo ingénuo não compreende o jogo insi-dioso que com o seu sangue fâzem todos os potentados e patrioteirosl

Queremos que os trabalhadores com-preendam que os inimigos não estão para lá desta ou daquela fronteira, mas sim em lodos os paizes, em todas as patrias, e são: governantes e pa-trões, prepotentes e parasitas que es-tendem, dum ou outro lado do mundo a ll..morra policiaca-capitalista que explora e opume a melhor e maior parte do género huraanq,

Page 10: A Revolta

9 J k . R E I O L T A

A aliança internacional dos explo-rados e dos oprimidos de todas as patrias, em aberta rebeldia contra a coligação dos governantes e do capi-talismo, derrocará toda a velha ordem social, o vetusto organismo baseado na opressão, no previlegia e na tira-nia, instaurando em toda a terra uma nova era de amor e bem estar para todos os homens iguaes e livres.

E por estas razões nós, os anar-quistas, somos inter nacionalistas.

Toda esta renovação substancial e profunda da sociedade humana só é porem possivel mercê duma violenta insurreição do povo contra a violência legal dos atuaes previlégiadus econo-raicos e políticos. E d'aqui parte a necessidade duma revolução social. E também por isto nós somos unH-lega-liímos revolucionários,

E lú, velho povo trabalhador,ajuda-nos na nossa humilde e solitaria obra, dando o rugido do leão que afia as garras para entrar na peleja; que ainda no furor da bitalha sangrenta ouvirás, como ferindo o espaço, sur-gido dos peitos dos lutadores, este grito que é um sinal de fraternidade e de amor:

YIYA A HUMANIDADE LIVRE I

| ambiosos fracassados podem enear-niçar-se contra elas e contra - v seus defensores; mas hoj>- o caminho está aberto e jamais se poderá im-pedir de continuar, de se tornar o Ideal dos deserdados, dos sem pão, o molôr das suas tentativas d"eman-cipação.

A sociedade capitalista é tão mes-quinha, tão estreita que, em vão, tenta comprimir asjargas aspira-ções, aniquilar ns boas vontades, esmagar e assassinar todas as indi-vidualidades que não podem cingir-se á sua estreiteza de vistas, Porem, essa opressão embora chegue a so~ fucar a voz dos anarquistas atuaes, ela fará swgir cutros não menos

A IS

Os mortos, os prisioneiros, os des-terrados, vitimas emoladas pela so-ciedude em holocausto á Anarquia, só teem contribuído para que o su-blime Ideal se torne cada vêz mais forte e vivificador, e o numero de seus propagandistas aumenta sem cessar.

Propagandistas conscientes dos. seus aios,'jforque teem compreendido todas as belezas da Ideia, propa-gandistas acidentaes os que lançam o seu grito d odio contra as institui-ções que lhes esmagam os senti-mentos intimus ou os instintos de justiça e verdade.

A ideia*anarquista pela sua am-plidão ucolheu e chamou a si todos os que teem o sentimento da digni-dade pessoal, a sêde de Justiça, Beleza e Verdade.

Pois qual será o Leal do homem senão vêr-se livre ae todos os entra-ves, de toda e coação ? Não tem sido esse o fim de todas as revoluções ?

Se o homem sofre ainda a auto-ridade dos seus esploradores, se o espirito humano ainaa se debate na prisãfr das vulgaridades da socie-dade capitalista, è porque as ideias predominantes, a rotina, os precon-ceitos e a ignorancia teem sido até agora, mais fortes que os seus so-nhos e desejos d'emancipação, ar-rastando-o, depois de ter espulsado os senhores primitivos, a submeter-8e a outros, quando julgam ter al-

cançuao a liberdade. ,

As ideias anarquistas vieram tra-zer luz aos cerebros, não só dos trabalhadores, mus de todos os pen-sadores, ensmando-os a analisar bem os seus proprws sentimentos e pondo a uú u veraadeiru causa da miseiia e os meios ae a destruir; mostrando o caminho a seguir e o fim a atingir; e explicando a razão porque abortaram as revoluções pas-sadas.

F esta estreita relação com o sentimento intimo dos indivíduos que esplica a sua rapida extensão, que faz a sua força e as torna com-patíveis. Osfutóres youernumentaes, as meuiUus ojjraxuórus, a ruma dos

Jean Grave.

ECOS a O P I N I Õ E S

Social i s tas

Aproveitando-se da perseguição feita pelo governo aos anarquistas e sindica-listas, os socialistas mercê duma exceção odiosa que lhes devia repugnar, andam fer-renhamente por entre as classes traba-lhadoras lançando o seu verbo emanci-pador de reformismo parlamentar.

Chama se a isto querer fazer partido sobre as suposta ruinas do anarquismo

Aproveitem emquanto é t empo. . . a benevolencia governamental.

Um b u f o . . .

Cantam vitoria os socialistas de Lis -boa, porque um Oliveira, ex-sindicalista, se filiou no seu partido. Que. lhe faça bom proveito. Depois dos Santanas . . . dos Saras . . dos Sobera is . . . só fa l ta -ria o Oliveira, membro da privada.

E ' para aparelhar com o Pereira, agente amador t

Fazem do partido socialista, o n d e b« muita gente seria, sorvedouro de t o d a a imundice. . .

Chama-se a isto socialisar pa!"

C a n a l h a . . .

A proposito dos 4 contos de reis que o nosso camarada Bartolomeu, auda gas-tando por terras de Hespanha, ainda o socialista Carmo Barão não úgiu nem mogiu.

Então emerito caluniador, quando veem as provas da infâmia vomUada apóz tal-vez dalguma patuscada no Triagem ?

Canalha!

Os s indical is tas e a s e le ições

Os Rodrigues . . biologicos

Def in i ção do Rebite ; * Bio logia » — de bios, vida e logos,

! r a l a d o — q u a r dizer ciência da vida; e Píoiogtsta^ aquele que t r a t a da vida.

Assim, o ministro do Interior, sr. dr. P i d r igo Rodrigues e respeitáveis i mãos, o u secretario Fui uno Rodrigues e o governador s r . dr. Daniel Rodrigues, vi-vendo t o d o s tres em republica na Peni-t e n c i a r i a , " nstituem uma distintíssima famí l i a b io lóg ica , por saberem - como p o u c o s — tratar da vida »

Que admiração I Pois se isto é deles ! En-so par., que aderiram á republica?

Para se anicharem e encherem a bar-riga.

E tem o dr. Sertnga a pelulancia de diz r que o nosso camarada Baitolomeu é sapateiro sem oficio I

T a r t u f o s , . . r**-- *—Ss—— T --HfcfS' - -r •

O pão barato I

O s n o s s o s leitores lembram-se do ba-r u l h o que se fez por c usa do pão ?

Lembram se das reclamações do gover-no de atender a essas declarações po-pulares ?

)is o pão agora em Lisboa, depois do decreto burla é mais inferior e o p o v o grama o sem protesto..

O r a vá lá ser prior duma freguezia d e s t a s .

Bolas para tal p o v o ! . . .

O m e d o . . .

O Intransigente de quinta feira 21 p. .). depois de se referir á prisão do camarada que é empregado no semana-rio Terra Livre, ia havido pelo /rancef, concluiu com esta tirada :

« Então já sabemos o motivo porque as oficinas do zMunio teem estado de taipais corridos.

Em cheirando a e s tu r ro . . . cautela e caldos de galinha, que nunca fizeram mal a doentes. »

Pois é p a r a admirar que o Imundo tenha naêJo com o Vale e o Borges a g u a r d a r - i b e a porta l

I n v a l i d o v

Como se sabe quando foi d o movi-mento de protesto por se d e s d o b r a r a faculdade de direito, foi nomeado u m comité de defeza da cidade de C o i m b r a , da qual fazem parte sindicalista c o m o representantes da União dos t r a b a l h a d o -res. Agora esse comité apresenta po r Coimbra a candidatura do adesivo José de Alpoim.

Como até hoje não vimos sobre este facto qualquer declaração estamos inde-cisos se os sin licalistas também aceitam essa candidatura.

Bom será que alguém faça luz sobre um ponto que reputamos de grave para os princípios.

Dô Intrans igente:

E continua. . . «O ar que se respira atualmente em

Lisboa já se encontrava envenenado p e l o cheiro nauseabundo dessa nova e s p e c i e zoologica de configuração humana q u e recebeu a designação «genérica d e — bu-fos. Mas entendeu-se — e muito b e m , vá de o dizer com a pié-sa do gato q u e passa pelas brazas — q u e e s s í mestri a atomosfera estava pouco viciada; e emão inaugurou-se a série das p e r s e g u i ç õ e s ancien regime, a caça, a batida diréta, pessoal a adversarios incomodas o u m e -nos reverentes. Por vezes mais c u m p r i -dores, mesmo, dos seus deveres, m a i s ciosos da honra das suas fnnções b u r o -cráticas, Pois venha mais, que a e f o r a ainda dista um bocadinho. *

Veja o sinhor Mchado dos Santos, se mereceu apenas ser o beroi a« Ro-tunda !

Do Corticeiro:

- - C o t o f r a n q u e z a o d izemos . A n d a m "positivamente a mangar com a tropa.

Q<iem conhece João Carlos Cbaby, como nós o conhecemos, não passai á sew soltar uma enorme gargalhada, * proposiío da sua prisão.

Esta só não lembrava aos policias amadores. Um homem aleijado das per-nas e das mãos tido como perigoso I Mas que redicula e imfame é esta merda. Que grande fantocharfa. O Chaby peri-goso I ah 1 ah 1 ha! ha ! Ora os patuscos. Que reles são os tiranetes dagora.»

Depois do Chaby, do homem do cani-vete e do marujo, falta >ó um ergo que já vem do Japão a caminbi para atentar contra a vidb do g r a n d e . . . Liborio! Ridículo e nojento . .

Á S M U L H E R E S

A União das mulheres anarquistas, perante a tirania governativa, em conservar presos camaradas, sem cul-pa formada o que representa um atentado coníra a liberdade indivi-dual, trabalha para que as mulheres qu> sentem germinar-lhes nos cere-bros princípios de justiça, se ergam a protestar contra essa tirania!

Cada preso tem uma esposa, uma s t iâe , asna liliia, pois juntemo-nos to-

as unidas pelo mesmo elos de soli-dariedade, pois que a todas marcou o ferrete i^nominoso da tirania demo-crática, e vamos serenas mas altivas cumprir u:n dever; protestar em no-me das nossas lagrimas e das nossas dóres contn os que calcando a pés a Constituição do paiz, mantêem nas prisões os nossos camaradas, pais e ti!Lios, vitimas do odio do mais eze-crando dos homens políticos deste paiz.

Mulheres! Vós que sabeis subir ao calvário do sacrifício e d a abnegação, cujo coração é feito de miríades d e esperanças, acordái e vinde como a s ant ips heroinas, arrancando dos er-

| gastulos da inquisição vermelha, os paladinos, cujo crime é sonharem com a sociedade feliz onde ha-de haver Pão, Terra e Liberdade para todos.

Se os homens, emudecerem, vamos nós mulheres, perante os mandantes deste infeliz paiz, entregar o nosso protesto contra tanta infâmia e ti-rania !

Mulheres, acordai! E que o nosso clamór, chegue até junto do trôno ensanguentado dos nossos verdugos 1

Porqne sou anarquista

Sou anáfquista. porque, desejando, uma nova organisação social, sinto na alma um odio imenso a esta sociedade minada pela podridão e corrompida pela mais vil e imunda lama. Todo o homem em cujo peito pulsa um cora-ção d'onde emanam torrentes de amôr e generosidade, ha-de, forçosamente, sentir-se repugnado quando olhar para o nogento monturo da sociedade vigente. È, qual não será a Revolta que surge na alma daquele que vê, pensa e espera ?!

Vê que assim a vida é amarga e torturante, pensa que ela deve ser mais dulcificante e bela, e espera pela doçura e pela belesa

Por isso eu sinto a cada instante a Revolta levantar-se no meu espirito como a lava chamejante que brota do vulcão.

S i m . . eu revolto-me e sinto que sou anarquista Penso no E s t a d o . . . Ele é para mim tão odioso como o cínico, o canalha parasita que vive á custa da miséria de milhões e milhões de trabalhadores.

Sou inimigo do Estado, da Lei, do ia, do preconceito, emfim, da

tirania e da mentira. O Estado representa a exploração

e o roubo porque, privando a maior parte da Humanidade, das regalias da vida, é a causa da outra parte, a — burguezia, — viver á custa daquilo que produzem os deserdados, os mi-seráveis. . .

Como é triste, como é revoltante, pensar em tanta iniquidade que existe pelo mundo além I

Sou anarquista porque sinto a toda a hora, que os gritos dos famintos, acordes cheios de emoção e sen-timento nas córdas vibrantes da minha alma dolorida . . E eu então canto, numa emoção de Dór e sofrimento o poema da vida livre e fecunda — A ANARQUIA 1

Sou anarquista porque sou inimigo da farda que simbolisa o crime, a tortura e a morte.

Sou anarquista, porque odeio a divisão da Terra em Pátrias, pelas fronteiras, o que converte os homens em verdadeiras féras, causando a des-armonia deste grande mecanismo que fornia a Humanidade.

Sou anarquista, emfim, porque anbélo que o mal e a tirania sejam banidos da Terra como a nuvem sa-cudida pelo sopro forte da rajada tem-pestuosa.

José Figueiredo.

O Dest ino inventou homens que teem ás ordena milhares de Knuts e a quem os gê los e as masmorras obedeoem cegamente , m a s inven-tou também o punhal de Oaserio e a bomba de Ravachol .

(De < A Luta»)

('Diário republicano de i3 de oAgosto de 1909.

Quanto mais oMl i sados forem o s povos tanto mais depressa 86 fará a Revolução Seoittf,

Page 11: A Revolta

4 A R E V O L T A

O. que dirá a historia lnfamia Democratica Quando termina a fita? Ainda não é tempo de restituir á

liberdade as vitimas do feroz Afonsismo ? Já Basta! I Talqualmente como o ultimo pe-

ríodo do imperiato de Nero ficou ceie-brizado pela perseguição feroz movida contra os primeiros cristãos, assim o atual governo desta infortunada nação Acará marcado na historia, como tendo sido o periodo das maiores e mais acintosas perseguições movidas aos preconizadores dos modernos ideais.

Quem, volvidos anos, percorrer as paginas da Historia, verá nelas refe-renciados os inqualificáveis atropelos á liberdade, ao direito das gentes, nesla época per prelados, contra o çro-letariâío português.

Ha-de constatar que a esta data os magnates e seus mui dignos serven-tuários mandavam encerrar nas ca-deias do país todos aqueles que in-tentassem organizar a massa proleta-riana, todos os que anceiam reivindi-car para si e para seus irmãos de so-frimento os direitos postergados pe-las castas das tiranias.

Ha-de verificar que nestes calami-tosos tempos a liberdade de imprensa se restringia a escrever que a Repu-blica, apesar de tudo, era, na efetivi-dade, o Kanaan, o Eldorado, a Terra da Promissão apontado por tribunecos comicieiros á mullidão ingénua que os ouviu.

Ha-de constatar que qu^m isto não dissesse era, inexoravelmente, amar-rado ao pelourinho da ignominia.

Ha-de lêr que por esta ocasião a li-berdade de falar se resumia ao direito de ovacionar El-Czar Afonso; que q u e m tentasse èxpôr em publico as suas ideias sobre a obra desgoverna-tiva tinha como certo um logar nas fúnebres bastilhas da democracia.

Ha-dt) concluir que aesta óra a li-berdade de reunião se limitava aos grupos de carbonarios que, de pistola e casse-tète em punho, perseguiam, agrediam, dilatavam e prendiam os que tinham a coragem de verberar as infamias dos imperantes, ou sequer disso fossem suspeitos.

E então, quem lêr a Histori», tre-mendo de horror por tanto crime e alropêlo á liberdade, extático, pen-sará :

— Para que serviram tam ferozes perseguições, tamanha opressão, tam grandes violências?!

Assim pensamos nós.

PINTO QUARTIN Consumou-se a infamia 1 O governo expulsou de Portugal o

nosso querido camarada Pinto Quar-t i n , diretor do semanario Terra Livre.

A pena tréme-nos porque a in-dignação tocou a méta.

Não vale a pena protestar; regis-temos a violência para maior gloria da democratica republica Iuzitana 1

Que Pinto Quartin, leve no amágo da sua alma de revoltado a nossa es-tima e a nossa solidariedade e que continue lá na região para que foi arremessado pelo gesto cabralino do governo, a propagar como propagou entre nós os dulcíssimos princípios da emancipação humana, tendo sem-pre a fé a acalentar-lhe o espirito de que um dia a justiça raiará sobre a terra aniquilando a tirania e os pre-conceitos das classes dominantes!

Até lá lutemos e soframos como os antigos mártires que morriam so-nhando por entre alvoradas de espe-ranças a realisação dos seus Ideaes 1

Que fique aos tiranos a objeção da sua obra de inteleracia politica cara-|erisadana maior das mijuidades,

Os cárceres estão cheios. Só no Limoeiro expiam o crime de pensar livremente cerca de cento e cincoenta trabalhadores, entre os quais ha bas-tantes nossos irmãos de ideias. Pelo Alemtejo fóra as múltiplas e sucessi-vas rusgas de sindicalistas, arrojaram ás cadeias muitos desses bondosos camponezes que só anceiam unificar os que trabalham e só pensam reivin-dicar seus postergados direitos.

Os nossos jornais teem estado im-pedidos de se publicar, sujeitos apo-das as'contingências, nesta impes!* travei e asfixiante atmosfera que pesa sobre o povo que trabalha, sobre os homens que pensam.

Conservam-se arbitrariamente en-cerrados muitos sindicatos operários. Em Coruche, o desplante das autori-dades chegou ao cometimento de iné-ditas e inominadas façanhas que teem por estalão aquele edital anunciando a venda em hasla publica dos bens da Cooperativa dos Trabalhadores Rurais.

Emfim, resumindo, não ha liber-dade de falar, eserever, reunir.

Mas que ganharão com todas estas perseguições os que imperam sobre o povo ?

Os seus cárceres, as suas leis os seus patíbulos, jamais conseguirão de-ter a grande obra de regenetação so-cial ; jamais conseguirão fazer calar as nossas vozes, nem deter o nosso braço, nem atrofiar a nossa mente. Se os perseguidores teem por seu lado a razão da força, nós temos por nossa parte a força da razão que um dia vencerá aquela.

Cada um dos soldados que ladei un a bandeira da Razão valem mil dos que portam o estandarte da força. £' a Ideia, a ífozão que nos tífc sep a -res.

Eis o motivo porque nós* a despeito de todas as perseguições, apesar de todos os despotismos, continuaremos sendo o que sempre fomos: ardorosos combatentes d i Verdade e da Justiça.

Com as violências chegarão talvez a dissolver toda a organização opera-ria, a suprimir os nossos periodicos, a tornar impossíveis as nossas reuniões, comícios ou conferencias. Mas quando nos julgardes completamente destro-çados, havemos d« resurgir, potentes, qual fénix renascendo das próprias cinzas.

â m w m i m m m

As abelhas tinham {eito uma colmeia num oco-tie-puu e nela Unham juntado muito mel

Eis que vem um urso e arromba a colmeia, As pie idas dos bichos furiosos não o impedmm, pois o [êlo o proUjia, e >ó se foi depois de ter lambido todo o mel.

Algumas abelhie seguiram-no, cha-m<m<io-lhe ladrão 1...

— t Ladrão » diz o urso, « não de-veis ch mai-mel Tratar-me de ladrão é êrro. Eu sou o propr tétano deste moto e sem esse oco-iie-pau e o suco doce das flores que aqui nascem não teríeis po-dido junlar nenhum mel. ludo isso eu vos dei, e o que tirei de direito me per-tencia »

— t Oh* esclamaram as abelhas « como pretendeis desforçar roubo tão ordinário com pal-vras tão boriits? I»

— « Eu aprendi isso com os ho-mens » resmungou o urso.

Toda a i n f e r v e u ç ã o e l e i t o r a l da o l a s s e t r a b a l h a d o r a , r e d u n d a f a -t a l m e n t e e m p r o v e i t o d a b u r g u e -z i a .

Jules Guedes. i 1

Atravez os tempos a liberdade tem sido sempre a preocupação de todos os homens de sentimentos humanos « que aspiram o ser livres, como a repressão tem sido apanagio de todos os políticos e governantes.

Antes de galgarem ao estádio do man-do fazem-se apostolos, propagandistas ferrenhos e inlusiastas dos princípios hberaes, para depois governo, atraiçoa-rem os princípios fementidamente apre-goa doá. l > r 4

Está neste caso, para não fugir a regra, o sr. Afonso Costa e os seus auiicos que sendo na oposição a esperança, dos ingénuos que crêem ainda na boa fé dos políticos, na pratica dos seus atos gover-nativos demonstrou que é tão tirano co-mo todos os que se lhe antecederam.

O chefe democrático é da estofa de João Franco; autoritario impõe onipo-tenie a sua vontade.

Julgou-se intangível e para isso ro-diou-se de lodos os ambiciosos que as-piraram uma republica, não como uma aspiração de progresso mas siaa para se governarem assaltando e fazendo do estado gamela onde vão encher os esto-magos famintos. Escudado com toda essa matula de monárquicos feitos republi-canos, carbonarios arvorados em bufos, defensores da republica, transformados em delatores, ei-lo a mandar como em paiz conquistado, declarondo guerra de morte às organisações operarias e anar-quistas o único estorvo que se lhe ante-põe á sua doentia aspiração, qual bnna-parte — que queria ser rei da França e imperador aos franceses...

A conferencia da Imprensa Nacional, a circular contra o sindicalismo provam a premeditada repressão que se tem feito contra os elementos avançados.

Faltava para os pôr em pratica a tal ra\ão de estado; para isso aproveitou-se o movimento de 27 de Abril, que toda s geate sabe ter sido mm teaí oliva de sedição golpe de Estado» com que nada tinham os sindicalistas. Mas o sr. Afonso Camacho Liborio da Costa, de á muito acalentava a esperança de dissolver a casa sindical, aproveitou-se desse malo-grado movimento para satisfazer a sua vontade.

Dádo o primeiro golpe, o ditador não parou na sua obra. Não se sabe como, aparecem os boatos de que os ruraes queriam empregar a sabotage encen-diando as ceáras e mil uma patranha, ludo para justificar as prisões que se faziam a êsmo, calcando os campos pelas patas da cavalaria, monteando os miseros trabalhadores, encerrando-lhes as suas associações ao mesmo tempo que lhes roubaram os livros e o dinheiro, pro-duto das quotas que com sacrifício pa-gam.

O mal estar cresce a ponto de se ma-nifestar publicamente no célebre comício da Rotunda, que de manifestação ao governo, se transformou na maior e mais frisante desauturação feita ao poli-tico que mais tem atraiçoando s seu pas-sado de liberal.

Os liborios em vez de aprenderem nesta tremenda lição, aproveitam-se da tribuna para fomentar, para vomitarem a ameaça de que os anarquistas iriam em breve s ubsutuir os v a d i o s ! ! . . .

E assim sucedeu. Na f u r i a de espesinhar as classes tra-

balhadoras, lança os operários constru-tores civis do Estado, a quatro dias de trabalho, emquanto, oh! supremo escar-neof s e gastavam centenas de contos de reis'nas chagadas festas da cidade.

Os operários reuuem-se psdem pão e e o governo manda-lhe dar sab rada . . .

O mal esjar cresce, a raiva concentra-se nos peitos descarnados dos esfomea-dos a quem a democracia lançara á va-gabundagem da rua 1

As festas da cidade aproximavam-se, fala-se em manifestações, em bandeiras pretas, em bombas, espalha-se o lerror e a policia chama à responsabilidade desses boatos os militantes do movimento operário. Estes declinam a responsabili-dade que a policia lhe impõe. Chega o dia 10 de Junho; ap >rece o pendão u gro com o dístico: - P ã o ou T r a b a l h o !

Intervem a policia, prende, bate, dá vulto á imfusão e no meio de todo este

labirinto, uma bomba atroa os ares e uns quantos caiem vitimas da explosão. Ato continuo surgem giltos de : fôramos sindicalistas! Morte aos an^rqui-tasj Placards feitos á p e n a aparecem a in-dicar à mullidão os sindicalistas como autores do estúpido como b<utal alentado.

A boia é incendiada nas barbas da polici i que prende os qué se abolauçavam a protestar contra tal vandalismo.

A redação do 'Dia jornal monárquico é assaltado juntamente com a c a s a S i n -d i c a l !

Mais uma vez se punha a descoberto a obra do governo. Senão vejamos: Onde estava o autor do alentado para se lhe conhecer a sua ideutidade e qual os seus princípios ?

Ainda hoje se ignora qual a mão mis-teriosa que arremessou a bomba; no en-tanto pedia-se a cabeça dos sindicalistas e anarquistas como sendo estes os auto* res do atentado. Vê-se aqui o dedo do gigante. . . Se a p dicia sabia da exis-tência de complots de bandeiras negras e bombas, porque não evitou esses factos lamentav-is prendendo os indicados au tores? Poique ao governo convinha a bomba p ira espalhar o lerror, especulan-do com mortandade das criancinhas, para completar a sua obra, prendendo no dia seguinte todos os conhecidos como propagandistas do sindicalismo e do anar-quismo. Começaram euião as pe<sigui-ções, as devassas, os jornais pr.íbidos de circular, as associações fechada»; lodos os p u d e n g o s se lançaram de bocas hiautes, de dentes, afilados, ladrando as mais baixas e infamantes calunias! O go-verno republicano. O grande hboiío «suun-ciava da sua caledra parlamtaiar que a-tava morto o sindicalismo, cujos restos tinham ficado na Nua nova doe,armo!

As provas porém nâo apareciam para que nas cadeias continuassem presos os supostos instigadores. Era preciso mais.

liei 20 a"E Julho repalese a fita COE assaltos aos quartéis, explosão de bom-bas, ele. E Como nesse movimento apa-rece-se um ou outro sindicalista e anar-quista írnquieto cedendo ao seu tempe-ramento ue revoltado ccutra as prepo-teucb: governativas, eis que o grande estadista, vê com o seu olhar de Lince, envoltos nesse movimento as organisações sindicalistas. Para completar a obra ma* gisiral do governo, arraujju-se complots monárquicos e radicaes com fabricas de bombas e depositos de armamentos mos-turando ludo isto num guisado policial que honra o mais hábil mestre da arte cultuaria!

O governo teceu o trama para aniqui-lar as ideias avançadas, a ponto dos imundos orgãos do governo com o Sé-culo á frente queier justificar as suas violências, de se conservarem contra o ispiruo de constuuiçáo politica do paiz, presos homens sem culpa formada mais de 48 horas 1

E' preciso que termine a farça igno* minosa que o governo está lepresen-taudo!

Basta já de infamias, de declarações e vinganças impróprias dum regimen que se pavoneia de Democrát ico 1

Ha criminosos ? yue respondam e nos tribunaes com brevidade para que se lhe apurem as responsabilidades. — Se não ha provas jurídicas para que conserva-los presos ?

Porque se não põem em liberdade ? Para que se enviam esses homens aos

tribunaes de excepção ?

Para que expulsam do paiz homens de carater e coração, sem outro crime do que pelejaram com lodo o entusiasmo das suas almas de sonhadores, por uma so-ciedade mais feliz ? i Escrocs da politica, escoria das alfur-jas puliciaes, basta de infâmias I

Se julgaes matar a ideia que caminha para um fuiuro de paz e amor, enganai-vos: porque cada um que cai vinte se le-vantam a protestar contra a iniquidade contra a tirania quer seja em nome dum rei ou duma republica!

Poli t õ e s ! . . . "pulhastros l Que não querem ler as lições da historia!

Basta de Infamias 1

Page 12: A Revolta

4 A R E V O L T A

HONTEM E HOJ E H a na h is tor ia dos p o v o s é p o c a s

q u e se a s s e m e l h a m . O que se está passando em Por-

tugal, na regencia de Aíonso VII, é a repetição ezata se não aumen-tada do. que se passou na regencia de João Franco I.

Quando compulsamos a historia da chamada putna luzitnna, e lêmos nas suas paginas todo um passado de sangtfe, l a m a e tirania, atribuia-mosagsftgs a t rope los , c r imes e v io -l e f t í ^ ^ ^ ^ o r i g e m de r eg imens p r e -viligiaOTt — as m o n a r q u i a s .

H o j e p o r é m , q u e v i v e m o s em p lena d e m o c r a c i a , p r e s e n c i a m o s fac tos idênt icos aos q u e a h is tor ia dus. t a m p o s id >s nos desc reve .

P r o v a - s e que a p e z a r dos inúme-ros sacr i f íc ios populares derra-mando o seu jeneroso sangue e m defeza do progresso e da liberdade, os t empos são os mesmos , pois subsiste o m e s m o crime dos regi-mens monárquicos sob a forma republicana.

O p o v o que produz a riqueza para os fartos e felizes, continua adstrito, à terra curtindo fome e misérias.

Ao feudalismo antigo sobreveio o feudalismo moderno. Hoje não é esplorado pelo nobre» senhor de baraço e cutelo, mas sim pelo bur-guez, escudado no sabre policial. N ã o é azorragado, fuzi lam-no em plena praça publica. O operariado d'hoje é c o m pequenas variantes o escravo antigo.

Deram-lhe pela constituição po-litica de 1789, o direito de c idadão; pela constituição economica, man-têem-lhe a s e iv iJão pela existencia do salariato.

O s trabalhadores, factores de toda a riqúeza social, f o m e n t a m o progresso e desenvo lvem os inven-tos cientificos pelo seu trabalho, não têem de todo esse titânico la-bôr, mais de que a mizeria no seu pobre lugurio, onde em dias s em sol e noites sem lume, sofrem toda uma vida de sofr imentos; u m a epopeia de-lagrimas e dôrl

Na antiguidade apezar de não t e i e m creado um meio social seu, porque não t inham educação, já em seus rudes cerebros jerminavam frémitos de revolta que irrompiam c o m o catadupas perante a tirania dos senhores, levando-os á InSQFrei-ÇãO a r m a d a , depois sofucada em san-gue pelos poderosos possuidores da terra que não reconheciam aos seus escravos o direito á vida, ao goso e á liberdade.

Hoje sucede o m e s m o . . . As classes operarias crearam já

pelo influxo da educação moderna, uma vida própria, um ambiente social proprio, que doutrinaria-mente se desenha num futuro pró-x imo c o m o o complemento da sor-ridente aspiração de sonhadores utopistas de tempos, idos que anun-ciavam a Resurreição do Homem livre, que a lei e a servidão ignominosa havia tornado a besta do pas-sado !

E quando o p o v o desperta da letarjia em que v iveu, eis que os se-guidores de Caligula, Nero, Thiers , Maura e João Franco, se erguem c o m o seu gesto tigrino de feroz ditador a proclamar do alto do seu ol ímpico trono:

 Constituição soa ea 1 Debaixo deste regimen d e chum-

bo, — negação da democracia, — fecham-se associações , prendem-se operários por agitadores, fuzila-se e m massa, faz-se montaria aos ru-façs como se fossem lobos, porque

os escravos modernos se erguem a proclamar o seu direito á v i d a !

A imprensa, farol l u m i n o s o , criada para encaminhar os expolia-dos á conquista de melhores dias, é amordaçada e apreendida por mãos brutaes de esbirros do n o v o santo of ic io!

N ã o existe autonomia social nem • garantia individual, associa-ç õ e s e seres humanos estão sugei-tos a desaparecer ao mais débil gesto do ditador, que nos áureos tempos dos comicios pregavam li-berdade ao povo, para a esmagar agora c o m o o mais vil dos Dracons do ocidente.

O p o v o q u e t r aba lha , p a g a e stffre q u e se r eve ja n a sua o b r a . Q u e m e d i t e se lhe va l eu jogar a v ida n u m a b r o m o s a m a n h ã d e O u -t u b r o d e r r u b a n d o a t i ran ia de co -rôa p a r a a subs t i tu i r pe la de b a r -r e t e fr igio.

N ã o ! porque a tirania ezistira emquanto o h o m e m fôr o manda-tario do h o m e m ; emquanto a pro-priedade privada e o salariato fô-rem a baze da sociedade indivi-dualista que agora péza com todos os seus codigos sobre as massas produtoras.

Chamam-lhe republica ou mo-narquia : — hoje c o m o hontem subsistirá a mizeria, a exploração, o roubo e a tirania I

A verdadeira liberdade que inte-gra o h o m e m em si proprio, só virá quando fazendo taboa-râza da iniquidade social presente, os po-v o s educados nas mesmas afinida-des e temperamentos se u n a m constituindo uma só familia, e m -plantando sobre a terra — o ComQ-nismo-Anarquista í

Espanha, Agosto de 1913.

BartolomeuConstantltU).

Nas Bastilhas democráticas

E' tenebroso, é horripilante o que se lê nos jornaes não vendidos ao governo, sobre as torturas porque passou os pri-sioneiros do Castelo maldito de Angra do H roismo.

A Espanha, tem o seu Monljnit em Barcelona ; Portugal, tem no nas Ilhas. 0 poderoso senhor de todos nós, en-cerram além mar as suas vitimas para lhe não ouvir os seus lacinantes gritos de dor e desespero.

Nada conseguiu com isso porque nem toda a imprensa se transformou em ban-cai, onde se defenlem as violências do governo capitaniado pelo Judas.

Que no estrangeiro se levantem os ho-mens de coração a protestar contra a nefanla Inquisição estabelecida em An-gra e de qu« é inquisidor-mór Harbués Afonso da Costa.

Protestamos contra as torturas de que têem sido vitimas e continuarão a se-los, os presos no Castelo de Angra, por de-litos politicos.

Que clamor das vitimas e o protesto dos homens livres cheguem até junto do mnito poderosj Afonso VII!!

União Geral dos Trabalhadores

A comissão Administrativa desta união na sua ultima sessão resolveu os seguin-tes assuntos:

Enviar a quantia de seis escudos aos presos por questões sociais, produio de uma subvenção aberta por a mesma união, para esse fim;

Auxiliar a publicação do futuro quin-sinario a < Batalha Sindicalista » e reco-menda-lo aos sindicatos profecionais nela unificados;

Que seja constituído um grupo dra-matico para dar uma serie de espetacn-los no teatro que tem na sua hè<ie, re-vertendo o seu produto em favor do co-jro da mesma união.

Construção Civil

A Federação d'esta classe, que acerca de cjnco meses conseguiu vêr atendida uma sua reclamação sobre o horário de trabalho; vai convidar todos os operários das quatro classes da construção civil a uma grande reunião magna para resolver sobre a atitude de alguus mestres, que pretendem modificar o dito horário, o representa uma infamia só digna de crealuras que ridiculamente não pessuem noção de carater.

Fabricantes de Ca'çado

E c l a s s e v»i reclamar perante o patronato, aumento cio preço da obra, por intermédio da respetiva associação de c asse.

F - s e m o s votos p a r a q u e o consiguiam d e paais q u e é u m a d a 3 c l a s s e s , q u e

sca! p a g a é, e b a s t a n t e Dumeroza.

Congresso Anarquista F la-se entre nós na realisação do

2.' congresso anarquista. Nunca como agora, se fez sentir a necessidade da sua realisação.

D.jsse congresso deve sair mai3 so-lidificada a nossa organisaçâo, apro-vada no primeiro congresso.

Mostremos ao governo e aos seus ajentes, de que as perseguições só servem para dar novas forças ao mo-vimento libertadôr das classes explo-radas.

Parár é morrer. Que a Federação do Norte qu ldnç«'U a ideia do con-gresso, não afrouxe para que a reu-nião magna dos anarquistas na região portugueza seja um f icto em breve.

I m i u m MMaKHUlH SI ••••••••••«••«BI»

Federação Anarquista na Região do Sol penúltima reun>ã<> federal, foi re-

resfclvido aceitar o alvitr dos camaradas de 'Coimbra para A Revolta se fundir com o jornal /I Anarquia, orgão do grupo Juventude Anarquista, passando c4 Revolta a publicar-se temporaria-mente em Coimbra, motivado pelas per-seguições governamentaes.

Mtffs foi resolvido nomear o camarada Bernardino dos Santos, secretario geral, por estar ausente o camarada secretario e não poder estar parado o expediente.

F i au também assente que QA Re-volta tenha dois corpos de redução um em Coiabra e outro em Lisboa.

Aos grupos federados lembra-se o pagamento das quotas federaes, posto que sem dinheiro se não pode fazer pro-paganda.

Os anarquistas de Coimbra progetam a publicação dum manifesto anti eleitoral.

Prò-presos por questões sociaes

Desenha-se jà, embora que tardia-mente, o movimento de protesto contra a prisão dos nossos camaradas que en-chem as prisões da republica. Em Lis-e Porto deviam-se ter realisado varias sessões, Em Coimbra trabalha-se para secundar esse movimento o que já não é sem tempo.

Urge que as organisações anarquistas e sindicalistas quebiem o mutismo em que teem estado e se maiiifesitm ade-rindo ao comiié do norte, ou consiiiuindo novos comités para kvar por diante o protesto.

Apelo aos amigos do Ideal Não vamos solicitar esmola porque se-

ria empropio de anarquistas, para sus-tentar a publicação d\4 Revolta.

Quando muito solicitaremos a solida-riedade dos camaradas, mas agi.ra tra-ta se apenas de apelar para o» corres-pondentes e assinantes para qu- pagu m os jornaes em divida, visto que nã • ha outra receita senão o proviuiente da sua venda.

Que nos des ulpem, mas assim é ne-cessário desde que ha quem leia e não pague, prejudicando e dbseuvi>liimeua> da propaganda.

A admini s tração .

por 0 qoc devemos

De ha tempos que a esta data, isto é, apóz a subida do grande estadista ao tr<ino português, a classe operaria tem sofrido uma interminável serie de vexa-mes de tal maueira vomitados que, se não fosse conhecido já o fim que visam estas torpes insidias, talvez hoje as or-ganisações obreiras não fossem mais que a palida sombra do que teem sido, ou antes, um cadáver em estado de putrefição.

Mas, mercê da própria propaganda contra o movimento associativo, adulada cão só pela imprensa burguesa, como pelos indivíduos que formam o governo atual e seus sequazes, a quantidade de adeptos tem tanto mais engrossado, quanto maior é a raiva com que 0$ go-vernantes tratam o sindicalismo e seus propagandistas.

E, realmente assim é, pois, quantos e quantos indivíduos não sairam ja da neutralidade em que teem vivido, para desejosos por compreender a rasã j das prisões que se teem realisado nos últi-mos tempos, andarem em busca de quem lhes indique as causas que levam o go-verno a roubar á liberdade, entes que desinteressadamente se prestam a culti-var os cerebros obscuros, metenuo-os numa lúgubre prisão, como sucede com Cai los Kates, Antonio Henriques e tan-tos outros camaradas ?

A provai o poder-se hia dar bastantes exemplos, se assim fosse preciso, mas escusado será, pois que os propiios re-volucionários de hontem, Ue sobejo o devem saber.

Assim, apesar da Casa Sindical de Lisboa ser arbitrariamente dissolvida, as associações ue classe vigoram Corno até aqu>; apesar das associações dos ruraes st iem fechadas ás ordens cios tartufos e os seus membros encarcerados nas di-versas cadeias do paiz, elas teem fun-cionado regularmente; apesar emnm da grande quantidade de revolucionários piesos, a avalanche tem aumentado con-sideravelmente e com esta a foiça, a vontade e a eueigia que a leva a i «cor-rer aos aios 1 evolucionai los, única ma-neira ue fazer senur o protesto coutra as iut«mias ultimamente praticadas coutra os .nossos, camaradas.

Nas associações tem aumentado o nú-mero de associados que ali vão beber a seiva da instrução necessaria, para re-sistir ás opressões do patronato e do Estado.

Os grupos revolucionários multipli-cam se uia a dia. fc, tudo isto porquê?

Uuicamente pelas perseguições de que tem sido vitimas os piopagandistas operários, que se encontram em grande parte presi-s, isto e, impossibilitados de defender as ideias que todo» nós, anar-quistas precomsamos.

Pois bem, se as associações estão en-grossadas, multiplicados os giupos li-berianos, iniciemos uma lula, mas uma lula tenaz e altiva, contra o procedi-mento ridículo dos tiranetes. Mostre-mos-lhes, que sabemos ter força para faser frente ás suas violências despóti-cas, mas sem hesiiações, sem receio de vinganças, pois que não podemos por mais lempo, consentir as aibitranedades que se estão praticando, prendendo a êsiuo para conservar nas pútridas mas-mo ras condenando os á morte lenia, os nossos camaradas que, traiçoeiramente são roubados aos entes queridos.

E' preciso que um grandioso protesto se levante por todo o paiz, çara fazer vencer as nossas pretenções.

Em Coimbra, Porto, belubal e tantas outras localidades, ainda os trabalhadores nao fiseram sentir o seu clamor de re-volta, contra o que em Lisboa se tem pa&sauo.

E' duma extrema necessidade convocar comicios, explicando o seu fim e qual o caminho a seguir, para libertar os que injustamente estão prisioneiros, ás or-dens dum ministro.

Façamos a greve geral, com o assento e ponderação devidos, emfim caminhe-mos paia a lula, que ela é necessaria pois que só pela revulta poderemos nesta ocasiao ganhar a partida, que é : a l i -b e r t a ç ã o d o s p r e s o s p o r q u e s t õ e s sooiae.*.

Luiz da Silva

Trabalhadores 1 o r g a u i s a i v o s n o s v o s s o s sindi-

c a t o s t> g r u p o s revo luc ionár ios , c o n s a t u i n d o a s f e d e r a ç õ e s regio-j i ae s para sôrdes for te na lu ta c o n t r a a s o c i e d a d e capi ta l i s ta ,

Page 13: A Revolta

P r e ç o 1 c e : a í a v o A

QUINZENÁRIO ORGAO DA FEDERAÇÃO ANARQUISTA DA REGIÁO DO SUL

REDÁÇÃO E ADMINISTRAÇÃO PROVISORIA

Rua Sei da, J3 caldeira, 11,

COIMBRA — PORTUGAL

PROPRIEDADE DA FEDERAÇÃO ANARQUISTA

Dirétor e administrador — AOGOSTO QUINTAS

Editor — J o s é d 'Azevedo

— CISA MINERVA—Cotatra

A' tort et á travers - Após um editorial d 'A Capital com

o competente e imprescindível comen-tário do Mundo, surge o artigo do Século de 30 de agosto que motiva o presente.

Ainda hoje não adquirimos a cer-têsa da sua autoria. No entanto — para que'negal-o? — logo após a sua leitura, dos nossos lábios um nome surjiu e foi como que postar-se sob aquelas linhas cuja epigrafe Os sin-dicalistas modaram a sua tatica, tanto

•s ies» «-tára a car ;d?.1e. Pare-cia~nó$> qa< esse nome, o mesmo que

áté ali desconhecido no nosso raoió, 80*a$signaUva com a publicação duris aâifos sobre sindicalismo e ! áuar<|s:;*mef. que, diga-se de passa- \

mereceram a nós e a quantos j íyiíj algumas noções tinh mi i

*5paréi-trt-fiõá §§«..'} Hi?á ali bera. Pelai

líntexe, ]Vâ%eoíogia, e sobretudo por aquela alta significação filosofia, reve-lava-se o dado do gigante.

E a è s i m , a p r e s í â m o - n o s p a r a a q u i ímfutar o nosso já conhecido aulôr

da finalidade social do sindicalismo.

N|0"-analisamos hoje a resolvida (?) mudança efe tatica, sindicalista, por-que, falando verdade, a não perce-bemos. Julgámos sempre que o sindi-calismo quando não aceita a interfe-rencia do Estado na resolução das pendencias entre o Capital e o Tra-balho, era chamado revolucionário. Julgámos sempre que as associações que aceitam a cooperação no maqui-nismo Estado, esperando da ação dos seus deputados a resolução da cha-mada questão social, se denominavam sindicatos..reformistas, e que, desta maneira, consoante a opção de qual-quer dos dois processos, o sindicalismo seria revolucionário ou reformista.

Existindo pois estas duas modali-dades do sindicalismo, mudar a tática do chaúiado revolucionário nada mais será que aceitar o reformista.

Mas esta mudança consiste apenas, como se diz, na opção de meios me-nos violentos ?

Não pode ser! Pois a violência não tem sido exercida pelos governantes de maneira a provocar a reação por parte dos operários oprimidos, vili-pendiados e miseravelmente desres-peitados nos seus direitos ?! Acaso os sindicatos procederam algum dia mais violentemente que essa violência (?) não fosse provocada pela tirania e desenfreado arbítrio dos governantes ? O abismo invoca o abismo; assim as violências dos opressôres invocam a

vindita dos oprimidos. Ha que sey menos violento, decerto. Mas se •limem tem que se moderar, esse al-

guém são os governantes. iMas., , íamos dizendo, não anali-

samos hoje a resolvida mudança de tática sindicalista, porque, falando verdade, a não percebemos. . .

E como não percebemos o que isso seja vamos analisar diversas passa-gens desse artigo de um dos mais auto-risados representante do sindicalismo.

Diz ele que ha a necessidade de moderar a tática sindicalista, proce-dendo-se a uma clarificação de idéias perturbadas pela infiltração dema-gógica.

Temos pois, — seja-nos desculpada a parafrase pelas razões do n o s s o in-tento — que nessa para nós incom-preensível mudança de titica h a ne-c e s s i d a d e áe purificar a i d é i a s i n d i c a -l is ta ora perturbada p e l a a ç ã o ioiTsada a dentro déia p'Jos demagogos. , P>irgaátáms8.^^gm são de-magogos que é necèssâr»o' expa^gir? E lá divisámos n p ultimas orações do período, a resposta que segue: « H a t a m b é m a c o n t a r c o m o s e l e -m e n t o s e x a l t a d o s q u e p r e g a m á In t et á travers a r e v o l u ç ã o s o c i a l , s e m atenderem aos condicionalismos his-tóricos. »

Foi pelo emprego, corrente no seu autor, da frase elementos exaltados que nós obtivémo3 o percebimento da autoria do artigo do Século. Com-preendemos perfeitamente o bole. E, francamente, não se poderá dizer com verdade que o autor não seja, nesta j arte de esgrimir a pena, um espada-; chim de mérito. Compreendemos que ! mais uma vez visava os anarquistas j que, coherentes com resoluções de ha j muito adoptadas e retificadas no con- j gresso realisado em Paris no meado do passado mez, entram nos sindi-catos a semear os sentimentos revo-lucionários tam necessários á lula cada vez mais gigantea travada contra a opressão capitalista, a propugnar a idéia da gréve geral expropriadora.

São esses que pregam á tort et à travers (é um pavôr!) a revolução so-cial ; são esses por consequência os elementos que é necessário expun-g i r l . . .

Eis o que inferimos. Se estes não são, que nos diga o articulista quem e quaes são. Gostosamente recebería-mos a aclaração, como também muito gratos lhe ficaríamos se nos expli-casse no que cahiría o sindicalismo revolucionário expungido, como o au-torisado representante o deseja, do elemento revolucionário.

Poderá negar que são esses ele-mentos que agitando constantemente a dentro dos sindicatos o problema vital da integra emancipação humana criam o ambiente revolucionário tam necessário na lula permanentemente sustentada contra os delegados do Capital ?

Seria isso o mal, as fezes que infil-trando-se nas suas idéias lhe tolda-ram acrislalidade? Se foi,—permitido nos seja o paradoxo—bem haja o mal. E se acaso foram as ultimas resolu-ções da Confederação Geral do Tra-balho que o fez pensar em expungir, ou talvez melhor, expurgar o seu sin-dicalismo dos elementos demasiada-mente (!) revolucionários que adentro dos sindicatos semeiam a idéia da gréve geral, quasi posta de parte pela franceza rètificação de tiro, permita-mos dizer-lhe o que sofre gréve geral disse Griffuelhes em « A Ação Sindi-calista. »

Mas porque è que os belgas e os sue-cos, que nunca se declararam, seus par-tidários, estão resolvidos a recorrer á gréve gerai 7 Sem duvida, porque re-conhecem que ela constitua fc.* bom meio de ação l Seria pois rematada tolice pertender impedir que os anarquistas adentro dos sindicatos a^vi eassem a gréve geral, tanto mais (j^e eia foi reconhecida como nm bom rácio de

O que é pois isso quo aí está « elementos exaltados qa€ pregam ú tort et á travers a revolaç&b social » f

Nada 1 . . . ou simplesmeule a con-t i n u a ç ã o do fraseado estupidamente

á téla da discussão com a frase os que pregam a revolução social sem atender aos condicionalismos historias, não nos preocuparíamos em tentar de-semmaranhar a embrulhada que está aí nesse período do seu artigo-entre-vista. Deixaríamos esse trabalho aos raríssimos anarquistas que em Por-tugal seguem a escola individualista. Podia ser que alguém aparecesse a levantar a luva, se importancia ligasse ao assunto.

Mas nós que estamos aqui tentando aclarar embrulhadas, lançamo-nos a este trabalho. E se soubermos ler n^s entrelinhas tiraremos deste período a ilação que segue: Não sendo ao anarquismo individualista que o autor do artigo denomina demagogico, pois que ele não colaborando nos sindi-

catos não pode ter sido -- ,usr.c, (muitíssimo bem a c h a d a ! ) i n f i l t r a ç ã o demagógica, verifica-se (|ue a q u e l e individu lista ali fo i c o l c c a d o para evitar que lhe pedissem m responsa bilidades pelo seguimento da sua ex-purgatoria vérborreia.

Compreendemos que n ã o s e n d o c o -nhecida n e m sendo n o m e - d a e m P o r -tugal a escola individualista a nussa ignara facilmente aceitarí a s u a rea-cionaria frase, « anarquismo demag. -gico e insurrecionalista, foc a n d o - t e n -tados e complots... não t a r d a n d o que ela comece a nossa l a p i d a ç ã o , atirada que foi pela m ã o do articu-lista, a primeira pedra.

Para clarificação das ideias come-çou bem não haja duvida. . .

Infamia Demoeratica ti-rsmra

sectário e agressivo usado em dois ce lebres artigos d 'O Sindicalista.

Ha depois uma tirada sobre tálica parlamentar onde se diz:

« Quantos deputados podíamos nós eleger? Um? Dois? O que é que nós alcançaríamos com uma tal represen-tação ?

. . . tirada que muito gosto tínha-mos em analisar se o espaço nos não faltasse tanto. Deixa-se ali uma acen-tuação tal que ficamos a perguntar se o que se condena é o Parlamento, maquina infernal geradora de todos os grilhões que nos acorrentam, nos manteem enleados á escravidão e nos conservam sem podermos dizer algo, sem podermos escrever uma linha, sem poder enfim dar um passo, en-saiar um gésto, que as leis brutaes saídas dali nos não afoguem a liber-dade de ação; ou se apenas se consi-dera esletil a tática parlamentar, pelo facto da força se encontrar insuficien-temente expressa na miniatura ridícula de um deputado, dando margem a que se pergunte se a aceitariam no caso dessa força se encontrar forte e sufi-cientemente representada.

M a s . . . não percamos tempo que ainda falta o melhor . . . do peor. Eil-o:

« Se é, porem, o anarquismo dema-gogico, individualista e insurreciona-lista, forjando atentados e complots, de que muitos egoístas se reclamam, declaro-lhe redondamente que ne-nhum militante consciente o advoga. De resto, estes elementos estão cada vez mais desacreditados. No recente congresso anarquista de Paris deu-se a cisão radical.»

Se o articulista nos não trouxesse

oiilr

Apesar dos protestos dos homens ií-vres e da i m p r e n s a que se não curva p e r a n t e a prepotencía do governo, este continua a m a n t e r presos operários hon-rados. chefes de família exemplarissimos só porque albergam em seus cerebros princípios de Justiça e de Liberdade.

Em face da Constituição politica do paiz, é um crime o que o governo está pralicando. Passa de 4 mezes que um punhado de homens estão presos sem que lhe tenham qualificado qual a quali-dade do crime. Umas vezes dizem lhe que são vadios; provasse-lhe o contrario, passam a ser instigadores do atentado de 10 de Junho; como isto ainda não péga, incriminam os agora perturbado-res da ordem, instigadores á guerra civil e inimigos da Republica. E nem mesmo assim vai, porque todos sabem ser refalsada mentira todos esses palões inventados para conservarem presos os nossos queridos camaradas de luta.

O que chega a tocar as raias da des-façatez e do cinismo é vêr como estes homens que ha tres anos prégavam ainda a guerra ás instituições politicas do paiz, aconselhando o povo a não pagar impos-tos e a resistir á força publica, glorifi-cando a bomba de dinamite, hoj8 lança-rem para os nossos hombros a carga de que só eles têem a responsabilidade.

Hoje a bomba é uma arma infame, portanto quem foram os indivíduos que na monarquia as fabricaram ?

0 João Borges, o José do Vale e mui-tos outros de quem lhe não queremos mencionar os nomes e que as fizeram com o dinheiro dos republicanos! Como se atrevem pois em dizer que são os anarquistas e sindicalistas os seus au-tores ?

Tudo isto sérve para que o povo se convença de que raça são os taes polí-ticos ; quando em lula com a monarquia aceitavam, e aconselhavam à rebelião, a resistencia á policia e até pagavam o fa-brico da bomba para agora justamente quererem passar por pessoas honêstas e ordeiras, quando foram eles que fomen-taram todo o mal estar que presen-ciamos,

Nunca os anarquistas praticaram aten-tados como a carbonaria para chegar ao seu fim almejado; portanto senhores do

governo atendei ao vos. o p i s s a d o e te-íieti que parte dos íac.os ".m sç lêem dado são o re f lexo da *os?.. obra', fazei just iça a p u r a n d o r e s p o e s Ml i j aaes , q u e já tiveslbis teuipo p a r a i sso , : pondo <;aa liberdade os que até agora nada se p ro -vou contra eles.

De contrario demonstra a[«nss a vin-gança do governo não só contra o:< ho-mens com> contra os princt. ios q u e e s -ses homens defendem. E. é ;on t ra «ssa perseguição infamante e mise ráve l q u e se revolta todo o homem insto e iad-s-pendente; indo jà pelo mundo além o protesto como ondas revoltas que. hão fazer sossobrar a desconjuntada a a u do Estado.

O governo tem é certo gt to i m e a s o dinheiro para fazer por in te rmedio d o s seus delegados com que a imprensa es-trangeira defenda os seus sbuzos e os seus crimes, mas essa i m p r e i s a é ;omo a de cá que só faz Justiça ? tauto p o r linha.

Em compensação a impreisa indepen-dente e a operaria que em toda a p a r l e do mundo já faz ecoar o gii to d e pro-testo contra a tirania republicar)

Veja-se o cinismo com que O Sécu lo publica o elogio dum ou outro jornal da sua igualha, pelo seu artigo contra os operários que sem quererei, instru-mentos dos monárquicos.

Farçantes 1 Como se o povo que sabe lêr, cio

conheça os trues destes cfga ios da im-prensa !

Fadistas de navalha de ponta & mo la , que nesses papeis imundos e s f aque i am a reputação alheia só porque lfces p a g u e m essas infamias, sem repulsão fcor tão ín-fimo rebaixamento moral.

Jornalistas assalariados, qua p e o r d e que as Messalinas, vendem a pêr a, de i -xando S3m protesto toda esta porcaria que sentetisa a politica nacional .

A imprensa extrangeira cout icua a ocupar-se dos acontecimentos e m P o r t u -gal: La Tier ra folha libertaria de C u b a , publica um extenso artigo so! e a tirani ' entre nós, artigo do qual traiscre emos os seguintes períodos:

« P ó J e p o r é m c o n t i n u a r e s t . fi$;>jir.a d a terror, e m Portuga l , ontí: os - nos ea-

Page 14: A Revolta

áL M M ' V O L T A

ião ínanas o m e z e s sem p r o c e s s o , s e m quh o s culpei i de Dada, encerradi s longe tíoâ seus , afastados de s u a s famíl ias das qnae& eram o seu sus tento , calcando as-sim os M i do paiz t

asntes a própria contituição

ha mais do que o estreito jfliquilar os trabalhadores uguem na luta pela sua

Aqm não espirito d 9 que se dí: I emancipação.

Consegui! ohao ? N ã o porque o pro-letariado universal formará o bloc que impedirá os assassinos de nossos irmãos poiiuguezes, o Afonso Costa e todos os sem vergonlu do republicanismo porlu-guez, a rea.iía lo.

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íítu. -iòfâjf. ul

As bombiB estalam constantemente, porém este jogo fiz-se entre políticos ambiciosos e quem sabe se é obra dos carbonarios para justificar os seus instin-tos efe perseguição?

Recordemos o que se pass< u cm Bar-celona. As bombas esplodiarn diaria-mente, os atnores indicados pela policia eram os anarquistas; presos estes as bombas continuavam explodindo. Preso o confidente da policia, Rull e comp " e enf' «"ido este miserável as bombas desa-

Tam. Provavelmente não a c b.irjm já os

Rull? resurgrão novamente? Dsixe-se pnrém de vêr os sru? autores

no campo anarquista e se verá que algu-ma que rebenta não será tão amiudadas vezes.

Esta é a nossa opinião sobre as explo-ões de Lisboa.»

O bafo João Borges, talvez pode-se coníirmar a opinião do nosso colega Tierra.

Como fabricante de bombas glorificado no Muzeu da Revolução está aulorisado a faze io I

No Braz i l A Federação Op;raria do Rio de Janeiro, confirme anteriormente havia resolvido, tem levado a efeito di versas sessões, publicando á pouco um vibrante manifesto convidando o povo a um grande comício que se realisou na mesma cidade, no qual falaram repre-sentantes de toda a classs operaria que foram una.iimes em condenar as barba-* dades íi ie atualmente se vcem prati-cando t m Portugal. O importante jornal de São Paulo, A Lanterna e outros

dnqaela republica ri ferem se 'iaaraente à situação dos sindi-

_ : súarquislas.jioitugugiejs. Em

i iif?s números insere um brilhante :;rUgo que teijtaina cónvtdando socialistas, sindicalistas a a n a r q u i s t a s d e Itália a fa-z -r anua yi.-prosa campanha contra a rea-çáo afonsistg nortugueza.

Tamboai É1 Pensiero Anarquioo e outros joruaes revolucionarics italianos, proseguem ru campanha contra a mesma tirania.

N a A r g e n t i n a ; o sem3nario L a A c e í o n Obterá , ocupa-se largamente da situação em Portugal,

E m IngI í e r r a ; o semanario anar-quistá F r e e d o m traduz e insere na in-tegra o apel publicado na Terra Livre de Lisboa, E o grande diário inglez M o r n i n g Post , no numero de 2'J de Julho, referem-se também largamente á situação dos sindicalistas em Portugal.

E m Espanha e na F r a n ç a toda a imprensa operaria e revolucionaria ataca energicamente a obra do ditador verme-lho, preparando-se nestes dois paizes reuniões e cômicios de protesto contra o despotismo republicano.

No Porto continua o comité a trabalhar com afinco para que alguma coisa se f, ça perante a teimosia prepotente do governo em querer »er presos os nossos cama-radas.

Na capita! do Norte alguma coisa se tem já feito, como reuniões em que se chama as classes trabalhadoras e os ho-mecí de coração a protestar contra tão inaudita violência.

Ur, e que >m Lisboa, Coimbra, Faro, Setúbal e Figueira da Foz e demais ter-ras onde ha elementos operários,-se erga bem alio o protesto, provando ao gover-no que apesar da repressão repeleute e miserável fei a pela policia e secundada pela malta carbonaria de que ainda ha dignidade no seio das classes exploradas.

A Pé trabalhadores I Basta de cobardia I Ao protesto I

Bem te conhecemos

Km artigo intitulado Perante a urna de Pedro Muralha e publicado no Operário de B j;i, recortamos esla bisca :

« Não no* convidem para conspi-ratas nem para movimentos impensa-dos e contraproducentes »

Sim! nos movimentos impensados e contraproducentes lem-se a prespeliva da cadeia e nos movimentos eleitorais sempre se pôde abichar os tais 3333 que é bt m m u!

Anti-mili tarismo

A França apezar de lodo o seu ze-l o palriolico e as suas leis de repres-s ã o a propaganda anli-mililarisla, teve n o ano passado doze mil refra tar ios e grande numero de desertores!

Desde que os trabalhadores se com-penetrem de que a palria é a pro-priedade privada que dá ledos os go-zos aos ricos, comprernje qne é a estes que lhes competem defender a pátria que é deles e só d e l e s . . .

Ora t o m a !

Insistindo ar w -' '*.

Continuamos a perguntar ao palif-; do socialista Carmo Barão, quando veem as provas dos tais 4 contos de reis que o nosso amigo e camarada Bartolomeu Constantino, anda gas-tando em Espanha.

Vamos, quando se resolve a pro-var? de contrario é ser caluniador e canalha.

Vá, conte lá essa historia de quatro contos!

Se o tal Barão na gerencia da -So-rri/ fôr tão emerito como é na calu-nia, aquilo deve toda a prova.

Como ían les

ser uma limpeza

Logo ptlo dedo se conhece o gi-gante.

O eh fe do novo Partido do traba-lho é o conhecido socialista-anarquista

i sindicalista - intervencionista afensista e bombista José do Vale! Desde que as-pirou a deputado é capaz de tudo paia conseguir 3333 reis por dia. En-tão é que o José dos Passarinhos e as Alfurjas da travessa da palha cantam vitoria,

Nem na Rossia

Sétimo òcupando-se de rarias faltas cometidas durante os exercícios por soldados dá nos esta informação:

Os presos foram recolhidos no Cas-telo de S. Jorge, figurando entre eles seis soldados que, no logar da Egreja Nova, perlo de Mafra, foram encon-trados, fóra de horas, numa taberna cantando a lntern \ci nal. Foram apli-cados a cada um 30 dias de prisão correcional.

Oram vejam I Por estarem cantando a In ternacional !

Isto só no regimen da Liberdade e Frólernidade republicana! • Semeiem, semeiem que hão-de co-

lher. . .

À Sanfona . -

Preconizamos, seja qwrl fôr a sua origem, os meios revolucionar, os que nos parecem mais práticos nas comi-çÕes atuais e que melhor se coa lun > m com as nossis ideias sobre a emanci-pação humiw,

E. S. R. T.

O Século defensor dos altos inte-resses capitalistas, eslraga toda a sua prosa bolorenta na defeza nacional.

Regosija-se porque ha bons sol-dados e otíciae».. .

No entanto não ha industrias, não ha comercio, não lia agricultura, os trabalhadores ou imigram ou estio-lam-se para aí com f o m e . . . mas ha soldados para def» za dos interesses dos pançudos burguezes, está b i m . . .

Viva a republica!. . .

Pasmem oh gen tes ! O grande estadista Afonso Liborio

da Costa, vai ter ama estatua de . . prata, oferecida por um autentico ho-mem de bem e sincero patriota.

O que não dizem estes autênticos exploradores é quantas centenas de desgraçados baixaram á terra tuber-culosos, pelo excesso do trabalho e por falta de pão !

Quanlo tédio senlimos por esta es-trumeira a que chamam sociedade capitalista,

« AROUCA. — Os democráticos do concelho reclamaram contra a inseri ção de 90 evolucionistas no recensea-mento eleitoral em elaboração e esles por sua vez também reclamaram con Ira 56 contrários, o que dai em re-sultado ficar quasi ludo na mesma.»

Ora digam nos á puridade se não é lai e qual a mesma conução monár-quica que estamos presenciando,

E ainda a procissão vai no adro. . .

Içem a bandeira

lia proximamente um ano que os mafarricos ináiabrados dos republica-nos-socialistas, incitaram um grupo de mulheres atirando-as para cima do pobre maneta, então prezidente da Associação Têxtil de Lisboa, obrigan-do-o a içar a bandeira para come-morar o aniversario da republica.

Alguém lhes disse que muito em breve deveriam receber as amabeli-dades republicanas, e sem pretensão a proféta, ejs a realidade da pre-venção.

Os textrs a quem as autoridades pediram ordem e socego, sem ter im-posto ao geçentje da fabrica em nome

governo espâ impoz aos iidustriaes catalães o rea-brimento das fabricas; manda a poli-cia ea guardámunicipal e republicana, espadeirar e prender os grevistas, es-cudando e defendendo os amarélos e os interesses da companhia.

E' o castigo dos deuses! Mostrem-lhe a ordem I . . . Içem-lhe a bandeira! . . .

Palavras do tartufo

ram d suspensão do nosso periódico, tendo sucessos como o i o de Junho e o 20 de Julho, inda hoje não se lhe dii is-a o fim.

Ve> emos então se as grandes acu-sações que se podem atirar para a cima da cabeça do ministério são única e simplesmente as do seu respeito pela liberdade e legalidade, como audaciosamente o afirmou o jornal orgão do governo, no seu nu-mero de 26 de Julho.

Tudo se transforma; — é uma lei da física que domina também nas soci-dades. Mas se tudo se tranfor-ma, os factos, por maior que seja o engenho dos casuísticos deturp 1 dores, não se destroem. E os fados, na sua imutabilidade, provarão que acusa-ções de outra natureza, opostas aque-las, existem baseados na inconcussa verdade, sempre incontrastavcis.

Essas acusações surgirão; mas não hoje que a atmosfera social é pesada, sufocante.

Hoje, portanto, não discutiremos. Vamos analisar ponderadamente,

sem exaltação de espírito, com a mesma fria impassibilidade com que o demonstrador na sala do amfitea-tro anatomíço vai dissecando o pú-trido cadaver qre se encontra sobre o mármore, neste imenso amfileatm que se denomina o mundo, o pútrido cadaver que se chama: a n >ção por-iugue\a.

E para esta serena analise basla-nos apenas a ilação tirada de factoí irrefragaveis, pois que são do domí-nio publico, do conhecimento de to-dos.

O primeiro dos vocábulos que constituem a triologia emblematica das republicas modernas exisle-, acaso, (mesmo no estreiío âmbito le-galista) em Portugal ?

Os que hoje detêem o poder não respeitam as suas Ins. Metem nas cadeias, por longo tempo, rs que

Não se pode governar sem liber-dade. 0 povo portuguez quer e tem o direito á liberdade, e é neessario ho-nestamente dar-lha.

Afonso Costa

*<Íf " pensam ; e a Constituição, lei basilar do pai\, é assim ridiculamente, amar-fanhada, Encerram os sindicatos

j operários legalmente constituídos; | e a liberdade de reunião consignada I no estatuto da Republica como di-

reito do povo é assim calcada a pés juntos. A liberdade de falar está hoje á mercê do primei o policia, es-pião, bufo ou carbonarío que se lem-bre de nos apontar como sendo con-tra isto.

Mas o que mais indigna é ver com que impudor o ignobilismo da delação adquiriu na sociedade por-tuguesa foros de dignidade,

1 Corações que outróra expu\eram nobremente as suas convicções poli-ticas ou sociaes, eil os manchados dessa c< i<a abjeta, tão nojenta que sujaria a própria la'na e que «e cha. ma: a delação. Jornalistas que abu-cando da lealdade dos seus casuoes por respondentes a depôr rtas:maos da policia os protestos que lhe são en-liidos; médicos que infamando a sua nobilíssima profissão fornecem á polida informes sobre os ferimen-tos dos enfermos que trotam. . .

Tudo hto é tão indigno como no-jento 1 Mas isto tradu\ cláramente a podridão que corroe este organismo que se chama sociedade portugue\a.

Perante isto, sufoca-se. O desa-lento começa de invadir os espíritos; e os hefnestos, os não corruptos, amo-lecidos pela humente atmosfera, re-solvem deixar que a torre de marfim, onde no escoruio da sua esfingica infalibilidade pontefica mp homem, ruída pelos alicerces cáia, ôerce, des-pedaçando na sua fragt queda os qne ainda a ela st arrmnm,

Mas para que o des i) i.in1 nao avassale tudo e todos, 'hemos'ót fi^m,-ouvir, continuamente, os nossas pn>-;

testos contra esta opressão sangrenta que esmaga e av lta todo um povo.

S a t f t n ,

1908-1913

Não vamos discutir, pois que o atual momento a tal não è propicia-torio. A atmosfera social é hoje pe-sada, sufocante. O seu hyg rometro, que nestas coisas é representado pe-los factos, demonstra-nos que o mo-mento não é a\ado nem oportuno a ventilar a magna questão da liber-dade em Portugal.

Um dia, a atmosfera mais límpi-da, bonançoso este mar revolto das paixões politicas em fero\ degladia-ção, quando neste paiz existir o di-reito de, pela exposição dos factos, podermos a\orragar esses traficantes que, mercadejando descaradamente com a própria honra, caluniam com um inexprimível cinismo a causa sa-crosanta da libertação humana, es-calpelando a versucia protervidade dos caluniadores, hemos de discutir

que foi o momento historico que atravessamos ao presente.

Então, diremos o que pensamos de toda esta complicada trama que ten-do principiado no momento em que circunstancias imperativas nos força-

0 e x - r e i d«í P o r t u g a l vai c;ss ir , fe l iz -m e n t e p a r a e le , po is q u e a s s im se l ivra da tu t e l a s u f o c a n t e d a iii&i q u e vai p r e t en -d e u o c o n v e n c e l o , a a d a l e a l m e n t e , de q u e a ca s t a dos B u i a ç s j â a c a b o u e m Por tuga l .

(De 0 Mundo, de 4-9-913).

Atravessámos o mês de janeiro de 1908. Ia um tempo de repressão 0 di-tador esmagava o povo com todo o peso da sua lirani'. Não se podia falar, tuio inspirava desconfianç1. A cada canto apa-rec a um e s p : ã ) . . . Nis mesas das re-dações, os jornalistas liam e reliam os seus escritos, riscando tal frase, mode-rando os termos desfoutra, não fossem elas constituir matéria apreensiva.. Não obstante os jornais eram suspensos à or-dem do goveruo. Os operários do listado eram licenciados por exigencias dos or-çamentos, qu3 o celebre ditador dizia querer equilibrar, e o povo murmurava jâ, num rugido surdo, como o cão a quem o martírio começa a desesperar.

Knaíâm, o paiz alravesava uma situação anormalissima e as atenções do extran-geiro eram chamadas sobre o que se passava em Portugal, pelos artigos que, na imprensa de além fronteiras, faziam publicar os jornalistas portugueses, na certeza de que assim podiam escrever fóra da ação repressiva do ultimo go-verno do rei Carlos.

No entanto esta opressão produziu, como é logico, os seus naturais efeitos de reação. Alguma coisa se tramava nas reuniões secretas a que o povo havia sido chamado pelos caudilhos republi-canos.

As explosões da Estrela e da rua do Canião davam a perceber ao tirano o perigo que corria, mas ele limitava-se a aumentar o numero dos seus espiões, e, cheio de louca vaidade, afirmava gover-nar « com a opinião publica», e que, «a respeito de boatos de revolução, não acreditava, pois que sem povo não havia revolução e o povo estava com ele *.

Por sua vez o rei Carlos, afirmava a Gautier, jornalista francez que a Lisboa

viera inquirir da situaçãfly^ue hark en-contrado em João Franco o homem de que o paiz carecia.

« Dou-lbe todo o men apoio, porque tenho a convicção de que é ete o único estadista capaz de salvar Portugal», dis-sera o Rei ao terminar a entrevista com o repórter do Temps.

Mas, como que a desmentir as pala-vras do monarca e do seu.aulico, surge o movimeuto de 28 de janeiro, sofocado á nascença pelo ditador.

As priiíõas eachem-se, enlto, de re-volucionários, quasi todos figuras de des-taque no pirtido republicano, e os pou-cos que escapam á onda envolvente dos mandantes dessa época, correm lépidos a transpôr as fronteiras.

Tudo estava perdido. Mais uiaa vez os destinos do povo português caíram nas mãos do tirano e o rei ratifi ando a con-fiança que em João Franco havia depo-sitado, assinava um celebre decreto man-dando degredar os revolucionários; no numero dos quais era incluído o adiai ' presidente de ministros.

Nos calabouços (3o Carmo e nos áa3 outras bastilhas da Monirquia — hoje ao serviço da Republica —os atingidos por esse ulose esperavam o paquete que'os havia de transportar ás inóspitas regiões, onde iriam espiar o seu monstruoso de-lito de revoltados contra o arbítrio, con-denádos a não mais vêr a família e os amigos, a não ser que um acto de cle-mencia régia lhes desse o pe rdão . . .

Quantos desses revolucionários, nesse momento não amaldiçoariam, na escuri-dão sombria do cárcere, o sonho de grandeza que, escondido no mais secreto recanto da sua alma os havia arrastado até a l i ! . . .

Mas quando ludo levava a crêr que já nada os arrancaria dali, nm braço vin-gador surge então, e o rei Carlos e sca filho Luiz Filipe também, pagatçflo com a vida o violento despotismo de João. Franco. ' *

0 mesmo braço vingador m aà íarâe

Page 15: A Revolta

^ R E T O I v T A

1 do l de fevereiro, prostrara as regias ' pessoas fa/áa, ao mesmo tempo, csír o ditador. corri.Io nelos próprios monár-quicos que, jà ha muito, viam nrle o co-veiro da Monarquia,

A nuvem negra desapareceu . . As cadeias abrem-^e numa ampla anistia, t?j necessaiia niquele momento, para salvar um regime que se afundava no arbítrio e para não deix ir ruir um trono que a carabina de Buiça e a pistola do Costa haviam feito oscilar nos seus pô

"UTBS alicerces,. Mas já e'r'a tarde. . • O sangue dos mártires havia feito re-

juvenescer a sementeira revolucionária e três anos depois, em 5 de ouiubro, o povo derrubava de vez, o regime mo narquico.

# # #

Vão passados quasi seis anos sobre a data do regicídio que nos livrou de João Franco. • E hoje que vemos ? - Um ditador esmagando o povo com todo o peso da sua tirania. Espesinharia

! a liberdade - de pensamento. Estrangu-1 lada a liberdade de imprensa. Encerra-

das as associações operarias. Não se póie reunir. Não se pôde Falar. Tudo inspira desconfiança. O orgão do governo rende cullo á delação, elogiando em ar-

tigos de fucdo os esp;õ ;s. Tal qual c o m o lio tempo da ditadura franquista, o s ope-rários das Obras do Estado, são despe-didos para equilíbrio das finanças. As perseguições são ainda maiores de que no tempo da monarquia. As prisões regorgitam de indivíduos, c u j o único cri-me é o de pensarem livremente. . . Os presos politicos de 27 de abril são, longe da familia e dos amigos, encarcerados em uma fortaleza de Angra do Heroísmo.

Emfim o paiz atravessa a mesma si-tuação anormalissima que em 1908, e as alençõís do estrangeiro são egual-mente chamadas sobre o que em Portu-gal atualmente se passa.

E para maisfiel ser a compnrsção o dita-do rde 1913, como o seu antecessor João Franco, afirma que governa com a opi-nião publica e que o movimento de 20 de julho (o 28 de janeiro deste periodo) não passou de um movimento de mal-feitores a quem o povo deepresa e con-dena.

. O zMundo, orgão do governo, de 4 de Setembro de 1913 diz que « a casta dos Buiças ainda não acabou em Por-tugal !»

Pois nós afirmamos que a casta dos Buiças acabou em Portugal.

CONGRESSO I l f f l N PARIS T J J V X M A N I F E S T O

A o s traba lhadores das c idades e dos campos

«Pela primeira vez celebraram um Congresso os comunistas revolucionários anarquistas de lingu) francês?. • Esse"'congresso tinha por fira; subme-ter os nossos principios e os nossos mé-todos de. propaganda e de acção á prova necèssáfla dos acontecimentos ; lançar as t n s e a % m â organização fl.xivel, larga e sólida;: 'capaz de agrupar os elementos anarquistas, coordenar os seus esforços e tirar fio seu movimento o máximo efeito atil; precisar a nossa atitude e fixar a a nóssa >cçno quanto aos g-aves proble-mas que justamente apaixonam as gera-çC;s atuais. . . .

Mi.» costumada' os jor-f<& i: ultiplicaram »s mei>

uras. ' Este manifesto mostrará a sua des-

lialdade. Ás oòssas discussõjs foram quen es,

apaixonados os nossos debates, e isso prova as convicções ardentes qui nos apiuiam; mas alcançámos o tríplice fim acima.|adicado e convencidos estamos de que deste Congresso hão de sair resul-tados Tecuntfos.

Camaradas: liai e francamente, á vos-sa apreciação os submetemos.

Repudiamos o Individualismo

1.» 0 Congresso separou nitidamente o movimento comunista revolucionário anarquista das teorias erróneas e das práticas enganadoras do individualismo.

Nunca pôde haver, nunca houve a me-nor solidariedade entre o comuaismo re-volucionário anarquista e o individualis-mo.. Foram sempre profundos e irredu-tíveis os antagonismos que os opôjm.

Mas actos recentes e sensacionais, bem erradamente qualificados de anarquistas, delèrminaram fatalmente uma confusão que> o Congresso teve empenho em dis-sipar. Assim .fez.

D'óra avante, ninguém poderá, sem se tornar culpado de insigne má fé, ali-mentar êsse detestável equivoco; nin-guém poderá, sem dar prova de d plo-rável ignorância, confundir as duas dou-trinas ; ninguém poderá, a não ser que seja ignaro e desonesto negar o abismo intransponível que as separa.

& nossa organisaçío

2. ' £ ' fundada a Federação Comunis ta Revolucionaria Anarquista de língua francesa.

Fiel aos principios de liberdade e de federalismo sobre os quais assenta o Anarquismo, a sua carta respeita a in-dependencia dos indivíduos no seio dos grupos e a autonomia dos grupos no seio da Federação. Ela já recolheu a adesão de numerosos agrupamentos ede múltiplas in-dividualidades. Vive e está pronta para agir

S o m o s a n t l - p a r l a m e n t a r e s

3.° Os anarquistas continuam sendo adversários' determinados do parlamen-tarismo.

A acção parlamentar grassa de modo germaceate; s agitação anti-parlamentar

deve, pois, ser igualmente incessante. Era cada localidade ou região, os anar-quistas decidirão se convêm aproveitar — e de que forma — os períodos eleito-raes para intensificar a propaganda abs-tencionista.

C o n t r a o m i l i t a r i s m o

4.° Mais do qua nunca, deve activar-se a luta contra o militarismo.

Os anarquistas tomarão parte com ar-dor em todas as agitações contra o furor nacionalista que se afirma presentemente pela loucura dos armamentos, pelas ex-citações â guerra, pelo serviço de três anos, pelas retraiíes militares, pela re-pressão selvagem ê pela abjecta espicàaà-gem nis quartéis.

0 s i n d i c a l i s m o e o s a n a r q u i s t a s

5.° Convencidos de que o sindicalismo, não bastando embora para tudo, conti-nua a ser apesar de tudo o mais pode-roso meio de emancipação que possue a classe operária, os Comunistas Bevolu-ciouarios Anarquistas incitam a calorosa-meutes lodos os trabalhadores a entrar nos sindicatos filiados na C. G. T.

Convidam os seus amigos a tomar parte cada vez mais activa na vida sin-dical, afim de ahi avivara chama revolu-cionária e propagar o espirito de revolta.

Aconselham-lhes que trabalhem ahi no aumento constante dos salários, na redu-ção progressiva das horas de trabalho, numa organisação cada vez mais sã e forte do organismo operário; mas tem-bram-lhes que essas realizações não são os fins do sindicalismo e que se não de-vem considerar senão como conquistas morais e melhoramentos provisórios e de espectativa, obtidos pela acção di-recta e pela pressão violeuta dos salaria-dos sôbre o patronato; que constituem sobretudo uma ginástica revolucionária indispensável e são destinadas a fazer sal-tar aos olhos de todos, pela sua própria insuficiência, a necessidade duma Revo-lução profunda, integral, que liberte o mundo trabalhador.

A g r e v e g e r a l

6.° O Congrèsso afirma o valor revo-lucionário da Greve geral, violenta, de curta duração e expropriadora. Em todas as circunstancia, em todos os ambientes e sobretudo no seio das organizações operárias, os anarquista se esforçarão por preparar para ela os espíritos, p j r im-pelir para ela as vontades, por lhe organi-zaroselemento0,por lhe garantir otriunfo.

0 l l e g a l l s m o

7.° Alem disso, embora o Congresso não se julgue no direito de impor obrigações a quem quer que seja, crê contudo nece-sário declarar, no que se refere ao ile-galismo, ou para melhor precisar, á re-tomada (reprise), que só o interessa á acto executado num intuito de propagan-da ou de revolta revolucionaria porque, em razão do móbil altruísta que o de,-terminou, em nada diminui o valor mo-ral de quem o realiza, ( I ) ,

Claro está, poreia, qus o direito á vida acima de tudo.

0 q u e n ó s s o m o s

8.° Finalmente, o Congresso declara que:

Comunista, mira ao desaparecimento do regime capitalista baseado na pro-priedade individual, para se porem em comum todas as riquezas e todos os meios de produção;

Revolucionário, só espera uma trans-formação social de um movimento de conjunto: preparado por uma educação sem astúcia nem compromissos, apoiado numa organisação poderosa, facilitado por um treinameuto matódico, determi-nado pelas circunstâncias e realizado por minorias actuantes em contacto com a multidão dos deserdados e capazes de, pela sua clareza de vistas, pela sua ener-jia e pelo seu exemplo, arrastar esta pe-los rubros caminhos da revolta;

oAnarquista, não pretende conquistar

o poder, que se trata de despedaçar, apossar-se do Estado, que se trata dê suprimir; acha necessário abolir todas as servidões politicas, económicas e mo-rais, para que, socialmente emancipados, todos os indivíduos, desembaraçados da Autoridade politica que oprime e da ti-rania económica que esfomeia, possam, física, intelectual e moralmente, expan-dir-se no vigor, no saber e na bondade.

Camaradas ;

Ta!s são, fiel e lialmente expostos, os seutimentos que animaram os comunis-tas reunidos em Congresso a 15, 16 e 47 de agosto de 1913.

Tal é o terreno de luta no qual eles se colocaram.

Tal é o magnifico ideal que, com toda a força da sua rasão e do seu coração, êles decidiram levar a cabo.

Se vos convém este terreno de luta, se vos seduz este ideal, vinde engrossar as nossas fileiras; aderi á nossas Federação Comunista, Anarquista, Revolucionária

A SITUAÇÃO EM PORTUGAL

t A anedota dos superavit não dis-trai nem alegra o paiz. Ela pode ser interessante para aqueles que o nosso regime arrancou das garras da misé-ria para os lançar na opulência doi-rada, e agora se divertem tecendo a sua t e i a . . .

O paiz sente-se mal, cada vez pior. Porque o dinheiro que o estado vai sugando, dispondo da força das ar-mas, não beneficia a economia cole-tiva nem a economia particular. Ele vai nutrindo só os parasitas, do po-der. Os câmbios sobem, a emigração é pavorosa, o comercio e a industria estão em crise, a exportação parali-sada ; a agricultura a braços com di-ficuldades tremendas; os serviços ca-da vez mais desorganizados; a vida caríssima. A situação em cáos, o exercito e a marinha em perfeita dis-solução, o operariado em luta com a crise de trabalho; o paiz sético, disi-ludido, cada vez mais divorciado da ação do Estado, que por sua vez o repele e dispensa de coloborar com ele.

Impera o arbítrio; a.Constituição está reduzida a traposV não ha di:

reitos -neto» Ief; toda a vida da nação é tumultuaria, incerta; e o governo firmado na violência caprichosa, não vê o abismo que ele mesmo está ca-vando, dentro e fóra da terra por-tugueza.»

(Do Rebate de 2 de Setembro)

Eis aqui em sintese o que é atualmente a situação politica de Por tuga l . Eis aqui duma forma con-cisa a situação a que chegou este paiz após nove mezes de cinica di-tadura d o charlatanesco fazedor de equilíbrios financeiros Afonso Cos -ta.

N ã o somos nós que o afirma-mos , h o m e m de prestigio do pro-prio partido republicano, h o m e n s de envergadura moral c o m o M a -chado Santos e Alfredo de Maga-lhães, expõem nos seus jornaes as infamias da tirania afonsina. E m todo o paiz só ha perseguições , ti-ranias, violências. Por toda a parte a miséria, a fome, a deso lação; em todos os lares a desgraça, o mal , o p a v o r . . .

Emquantoas turbas governamen-tais tocam hinos de gloria ao acro-bático equilibrista; emquanto os grandes jornais da imprensa espa-nhola, franceza e ingleza inserem colunas de prosa landatória, paga a tanto por linha, a peitender de-monstar e convencer os leitores que nesta republica o p o v o v ive feliz e satisfeito, a opressão campeia de-senfreada J gemem nos cárceres os que corajosamente verberaram a infamia dos governantes; choram, nos desamparados lares, centenas de esposas , mães e filhos dos que expiam nas cadeias o nefando delito de combater pela reivindicação dos explorados, o odioso crime de pelejar pelo conseguimento da liberdade dos seus irmãos encarcerados, es-magada peia tirania sangrenta do cinico d i t a d o r A f o n s o C o s t a .

Ha mais de trez mezes que se encontram na cadeia central de Lis-boa, os militantes sindicalistas e anarquistas presos após a explosão duma bomba lançada sobre um cortejo de operários portadores dum estandarte com o distico Pão ou Trabalho! De dia para dia o nu-mero de presos é sempre cada vez maior, principalmente depois da malograda tentativa revolucionaria de 20 de Julho.

As cadeias regorgitam. C o m o elucidativa amostra bas-

tará dizer-se que na cadeia de Lisboa, cuja lotação é de 8oo , en-contram-se atualmente cerca de i :3oo presos, grande numero dos quais ali encerrados ás ordens do marechal de ferro. C o m o segundo exemplo assentuaremos o facto de no grupo E da cadeia do Limoeiro, onde estào camaradas nossos , se encontrarem ao presente 7 4 pes-soas quandtrtfff"não ha logar nem camas para mais de 35 .

T o d o s estes indivíduos ali se en-contram pelo horrendo aime de não bajularem o tirano que hoje chico-teia o p o v o com a mais feroz opres-são que é dado imaginar.

Por toda a parte idêntica repres-são. Esse Pombal-Madero que hoje impera sobre os dest inos deste des-graçado povo, na sua setario into-lerância, na sua dementada con-cessão de exterminar em Porlu-gal os anarquistas e sindicalistas, estende a toda a parte, leva a todo o paiz a perseguição violenta, bru-tal e cruel.

Manda meter nas casa-matas dos fortes ou nos imundos calabouços desta inquisição democratica, todos aqueles, quem quer que sejam, que se não curvem reverentes perante a sua gran ie obra politica e finan-ceira. Na sua cegueira, os proprios que lhe fizeram a Republica de que ele é senhor absoluto não escapam. Quem quer que não prove as suas tranquibernias, os dislates legisfe-ros; quem quer que não aplauda as suas trampolinices de reles panta-lão de feira, c o m que ele ainda lu-dibria as massa ignara e inculta; quem quer que se não curve reve-rente perante os seus acrobatismos financeiros com que imbeci lmente julga mistificar o extrangeiro, vai infalivelmente bater c o m os ossos nas Bastilhas do democratismo.

Perante isto todo o paiz se sente constrangido, mal, cada vez pior. O grande financeiro querendo a todo o transe aumentar as receitas faz su-bir os impostos . Segundo a nota do cronista financeiro do jornal « O Dia», durante o periodo do gover-no do senhor Afonso Gosta, o pove pagou 6 :486 contos de aumento do i m p o s t o s ; e, segundo o m e s m e cronista, a divida flutuante duranto

' "1

o regime republicano aumerttóft j s f P 12:000 c o n t o s . . . !

Serve isto para que e veja o que é a tão falada obra do gr ande finan-ceiro Afonso Costa.

Pois todo esse dinheiro se es-banjou só para nutrir os nsadave i s parasitas do Poder e a enorme le-gião de espiões que Afcnso Costa assoldadou para si- r•:•-•>''• a. N a d a se tem feito a bem do povo que v ive cada vez mais expoliado por capitalistas e governantes. A vida é cada vez mais caro pois que os generos de primeira necessidade e as rendas de casa atingem uni pre -ç o exorbitante. Afonso Cosia ainda para conseguir maior aumento de receitas, necessarias para manter a sua policia reservada e quantos es-piões lhe aplanam as dificuldades governativas, diminuiu os salarios e pôz á margem grande numero de operários das obras do Estado. Por este facto e ainda porque o cio e a industria atravessam neste momento uma extraordinaria crise, enorme legião de desocupados peja as ruas das cidades. Fugindo ás perseguições e á miséria que lhe avassála os lares, o s camponezes lá marcham aos montes, a caminho das tórridas regiões do Brazil, fura-jidos á onda demagógica, ao tufão das violências que perpassando so-bre as cabeças dos portuguezes, se-meia em toda a parte a desgraça, a fome, a d ô r . . .

Com o conhecimento da s i tusTão em Portugal os bancos extrangeiros retraem-se, a circulação fidúciaria aumenta pavorosamente, — atinge ao presente 83:621 contos — s o agio do ouro sóbe, sóbe, cada vez m a i s ! . . . E c o m o tudo isto afét i o comercio , a industria, a agricultura, que se têem a braços com dific dades tremendas, o operário sofr-eada vez m a i s . . . Mas não ha o direito de protestar contra a grande obra do*«r. A f o n s o Costzr.

Ele é'tudo, tè como tem a se pés, submisso e tasteiramente cur-vado, todo um parlamento, c o m o tem em suas m ã o s todos os podt res, de que dispõe a seu talento, ele encarcera e mantém infinita-mente presos os que tentarem m o s -trar ao p o v o a sua miserável situa-ção, o abismo para onde o atiraram aqueles que ele julgava seriam os Messias, os l iber tadores . . .

A Revolução Social 00 México

O povo mexicano é infeliz. Sempre a braços com aventureiros

audazes, postos a ferro e fogo no po-der, o operariado sofre horrivelmente a miséria e tortura dos seus carras-cos.

Após a subida ao poder do bamdi-do Huerta a revolução social que á muito se desenvolve naquele paiz tem continuado empavida contra a ganân-cia dos negreiros capitalistas de que Huerta é fiel servidor.

Os revolucionários sociaes, segando o nosso denodado camarada Regeu».a-CÍon, continuam lutando titanicamente pela conquista da triologia: Pão, T í f r a e Liberdade para todos.

Avante revolucionários Mexicanos! Já se ouvem ao longe os rumôres

da Anarquia esse ideal sublime que ha-de acabar com a luta de ciasses e que ha-de trazer a suprêma fele-cidade do genero humano.

Viva a Revolução Mexicana! Viva a Anarquia!

LEIAM E DIVULGUEM

A R E V O L T a

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Page 16: A Revolta

M R E T O I L T A ^ —

CARTA L I S B O A jnuru quê ra&is lem dado que

falar depois das prisões dos camara-das relido:- tio Limoeiro, e do Supe-vit do gra /di- Afonso V I I , é, sem du-vida, a gr ve dos textis da fabrica do Conde da Pinte.

Todos si; lembram por certo de que quando. abrande Afonso Cama-clj.o<'§cÍ!'!Or onipotente destes estados senhoriàês, pôz ans operários das obras publicas a tres dias para arran-

Superavit que estes se insurgiram, pelo que fo;am espadeirados no Ter-reiro do Pa o.

Todos Igualmente se devem lembrar que o Centro Estudos Sociaes d 'Al-cantara, p: ra protestar contra essa selvageria tias guardas reaes de Sua Magestade Afonso, pediram as salas da associação Têxtil, para realizar a dita sessão de protesto e que o Car-doso, Socialista-republicano, presi ^u^^í f i reção . , ter pedido ao chefe Leal da policia do Galvario para guar dar a asso iação para que a reunião se não efeíaa-se

Pois beo»; a g o r a deu-se a gréve e depois dos socialistas prégarem ordem e andarem em demarches forçadas pe los gabinetes do governo civil e dos ministérios, a direção da companhia onde a gréve se deu, arranjou pes s o s l que eitrou para a fabrica escu-dada pela guarda real e policia cívica defenoendo assim os interesses do ca pitai que suo os do Estado, mandando para o diabo os operários a quem ti nham aconselhado ordem.

Não satisfeitos com i s t o , como hou-vesse protestos mais ruidosos, o chefe Leal, o ta! a.quem o Cardoso pediu p a r a guardar a a s s o c i a ç ã o , d e s a r m a - o s ^ prende-cs.

A g o r a p e d e m á s a s s o c i a ç õ e s p a r a q u e protestem c o n y a a s v i o l ê n c i a s d a p o l i c i a . 4i liamos j u s t o o p r o t e s t o ; m a s porque o nãQ c o m p r e e n d e u a s -s i m o Cardoso e a m a l t a q u e o s e g u e ,

" eoeira m d e q u e ,

u b l i c a s ? O u t r o r iect íssnrio f r i s a r : o n d e

i a h s i a s d a t ê x t i l , q u e d e -erajr i s e n d o a p e n a s p r e s a s m u as únicas que tèem demon-

mbaiiva i

~0m ; i a s

0pera/ios I S obras facto que estão os's saparei lheres, strado aça

Não des-nos regosijamos com as alheias, mas ba pontos que

veem a proposito para desmascarar os patifes que no seio das classes ope-K.nas combatem a ação direta e revo-iucionaiia, para depois terem que apelar para esses processos quando já é ;arde para fazê-lol

Os operário de ambos os sexos, os que são ainda sérios e boneslos que vejam como o governo sulocionou o conflito, colocando força armada, paga por todos nós, para defender os inte-resses capitalistas, e aprendam a co-rf' ecer os , íopes e Gardosos que, pre-£u,.,ij Iheprodencia, os aconselham a po.ii.ica, embora socialista, tão porca t ide ;ente como aos dos outros par-tidos. t g

f : dura a esperiencia, mas os ope-rários que >'ão aprendendo á sua custa.

;Nós já-os conhecemos. Uma vitima

L;y .'entes 8 Assinantes Nlaiõ u r r a vez n o s v i m o s o b r i g a d o s ,

n ã o s o l i c i t i f e s m o l a , r e p e t i m o s , p o r -H s e r i a i m p r o p r i o d a a n a r q u i s t a s

m a s a p e u r a o s n o s s o s a g e n t e s e a s , • ÍMVIÍC- . p i r a q u e p a g u e m i m e d i a t a -m e n t e o s i ; . r n a e s e m d i v i d a , v i s t o q u -A H e v o U a ^ n ã o c o n t a p a r a v i v e r s e e

jfti&O com o p r o d u t o d a s u a v e n d a e d -..v , " d a n t a r i o q u e os c a m a r a d a o

l h e q u e i r a m p r e s t a r . Lembramos a o s c a m a r a d a s e a m i -

gos que, n< ste m o m e n t o m a i s d o q u e n<i< (•••,• n. - , n e c e s s á r i o m a n t e r s e m -i.terração A Revolta.

Liquida?, pois, as nossas dividas para com administração,

OS M l d l S f f i J ti A proposito do suelto que

publicámos no ultimo numero do jornal com o titulo que nos serve de epigrafe, recebemos do camarada J . A. dos Santos a carta que segue :

Camarada redator

No ultimo numero do jornal A Re-volta, publicou o camarada sob a epi-grafe Os sindicdistas e as eleições, um éco, em que se disse indeciso sobre se os sindicalistas aceitavam ou talvez melhor o termo — apoiavam talvez, a candidatura dum individuo qualquer proposto ás próximas eleições pelo circulo de Coimbra, pedindo para que se fizesse luz sobre o caso.

Sobre este assunto devo dizer aos camaradas que até á data, ainda não tive conhecimento nem qualquer ou-tro camarada membro do comité de defeza sobre a resolução que diz ter tomado o citado comité, em apresen-tar a candidatura do sr. Alpoim, por esta cidade. Sendo para mim, e para muitos outros camaradas, uma grande surpreza a afirmação que sobre o ca-so o camarada redator fêz. tanto mais sabendo, que nunca nós, podemos tra-tar de politiquices ou eleições sob a pêna de prejudicarmos muitissimo não só as organizações operarias, como os princípios, que nós atravez de todas as perseguições por parte dos tirane-tes vermelhos, preconisamos.

Devo dizer também ao camarada, que, caso seja verdade o que afirma no acima citado numero d \ i Revolta, nos consideramos desligados do co-mité, e por conseguinte sem respon-sabilidade em eleições e candidaturas; o que aliaz não podia deixar de ser pelo motivo acima exposto.

Coimbra, Setembro de 1913.

Vosso camarada certo

vkiílonh dm i &—•

Associação dos Canteiros de Lisboa Com o pedido de inserção

recebemos dos camaradas qub compõem este sindicato a seguinte:

D E C L A R A Ç Ã O

A direção deste sindicato, tendo conhecimento, pelos jornaes diários de que se organisou um partido a que puzeram o titulo de « Partido do Tra balho», e que da sua comissão or-ganizadora faz parte o cidadão Danie Sampaio, que lem a profissão de can teiro, faz publico, para evitar possi veis confusões, que esta classe é com pletamente estranha a tal partido e que aquele senhor nem socio é do respétivo sindicato profissional.

Pela direção,

O secretario, Domingos Ribeiro.

CAMPEIA O DESPOTISMO

O administrador de Coruche con-tinuando na sua marcha arbitraria, acaba de vender á sucàpa, por me-tade dos seus valôres, os generos exis tentes na cooperativa dos trabalha-dores ruraes, daquela localidade, ven-da que não conseguiu fazer em hasta publica, por falta de concorrência, es-tando presos, no governo civil de Lis-ioa os nossos camaradas daquela vila, Manuel Batista Ivo, acusado de arran-car um dos editaes que foram afixa-dos convidando o povo a comparecer àquele ato, Adelaide de Sousa Rebelo, acusada de se dirigir ao L;moeiro a entregar esse edital a Ferreira Quar-tel* e Antonio Joaquim de Matos, não sendo acusado de qualquer delito, sa-be-se no entanto que a sua prisão

obedece ao ía^to de ser um dos mais ativos trabalhadores dentro do sindi-cato de classe coisa imperdoável neste período de arbítrio e despotismo que vamos atravessando.

De S. Tiago de Cacem, furam pre-sos para Lisboa, e cremos que dali novamente para aquela vil », Custodio Justino, Antonio Joaquim Cirdador e Custodia Maria de Jesus, da aldeia de Santa Cruz, aqueles por se dedicarem a organisar nesta localidade uma as-sociação de Classe e esta por ler o jornal O Sindicalista. Como prova de excitir a maxima liberdade de pensa-mento e associação não ha melhor.

Em Lisboa as associações de cons-trução civil que foram obrigadas a sair da Casa Sindical, por esta ser dissol-vida ás ordens do Pombal de papelão, instalaram-se por esse motivo nas Es-cadinhas das Olarias, onde baseados no sindicalismo revolucionário, conti-nuamra a tratar dos seus interesses economicos.

Pois o governo, o grande amigo da classe trabalhadora, acaba de dissol-ver a Federação da Construção Civil, não consentindo que numa casa esteja mais do que uma associação.

No entanto os jornalistas a sôldo do governo, continuam a cantar hossanas á obra grandiosa do ditador.

E não ha um banho de 606 para tudo isto!

E m p r a z a m e n t o

Tendo na tarde de 3 da Agosto sido feita, ante nume-rosos indivíduos de todas as cores politicas, a afirmação de que eu «havia, uma hora escangalhado tudo o que le-vou tanto tempo a arranjar» isto é. «que era eu culpado da desorganização atual.»

Por egfca, feriria emprazo

quem quer que seja daqueles dos iadiviauos que tendo ou-vido a afirmação com o seu silencio tacitamente a apoia-ram, a provar semelhante acu-sação, sob pena de, no caso contrario, ser considerado o mais protervo dos calunia-dores, e de me conferir o di-reito de em qualquer parte o tratar como tal.

Lisboa, 7 de Agosto, Cadeia do Limoeiro

A. Santos Pinho.

• i m u a n N

Para darmos o necessário desen-volvimento a esta secção pedimos a todos os camaradas da região portu-gueza, nos enviassem noticias do mo-vimento anarquista e de reuniões de grupos para que o nosso jornal passe a ser um jornal de informação, pondo ao corrente do nosso movimento os camaradas de todo o paiz.

Federação Anarquista na Região do Sol

São por este meio convidados to-dos os grupos anarquistas de Lisboa, a reunirem nos respetivos locaes, afim de nomearem delegados á reunião desta Federação que se realisa no proximo domingo, pelas 8 horas da noite, no local do costume.

Sendo esta reunião para tratar so-bre assuntos de alta importancia para

futura organisação anarquista, pe-de-se aos delegados que vão munidos do numero de indivíduos que compõem os respetivos Grupos. Que ninguém álte.

O Comité Federal

ANARQUISTA E M P O R T U G U E Z

O que querem os anarquistas . . 100 Aos Trabalhadores Ruraes 20 » A' Gente Nova 100 >: Programa Socialista-Anarquista-Revolucionario 30 » Noções <ie Sociologia 30 » Semeando para colher 30 « O Evangelho da Hora 40 , O Sindicalismo. 20 » Sindicalistas e Anarquistas 20 » A Mulher e o Militarismo 40 « O Ensino Racionalista 40 » A guerra 20 » Mocidade, Vivei 1 100 » Bazes do Sindicalismo . . . » . , 20 » Sindicalismo e ação direta 20 » A União dos Sindicatos e a Anarquia 30 » A Associação , 3 0 » O Rei e o Anarquista 30 » Catecismo Ateu 30 » O que querem os anarquistas 30 » Comunismo e Anarquia 30 » Como não ser anarquista? 10 » Pairia e Humanidade 10 » Entre camponezes 50 » O Governo Revolucionário 2 0 » A propriedade e o Socialismo 20 » Cnnfederação Gpral do Trabalho 20 » A's Mulheres 50 » Revolução Burgueza e Revolução Social « 20 » O Sindicalismo e o Parlamentarismo 20 » Espirito Revolucionário 50 » A Anarquia 50 » A Burguezia e Proletariado 40 » Ação Legal e Ação Direta Í 0 » Responsabilidade na Lula Operaria 30 » A Anarquia Perante os Tribunaes 3 0 >> O dia de oito horas '» Em Tempos de Ele ições . . . ; , . « Mulheres, não procreis I 40 » Apoutamentos dum Libertário . i0 f ) » O 1." de Maio. . . . . . . . . . J 0 » Um Século de Espetativa , ' hú » Conquista do Pão MaImeé* dwn ftcTC-karle^.-VT • ^ . . i - T r t T ^ t f f f r ^ A Graride Revolução . . . , . ? Em Volta duma Vida A Anarquia, Sua filosofia e seu ideal A Sociedade Futura A Caminho da Sociedade Nova A Sooiedada Moribunda e a Anarquia A Caminho da União Livre. O Sindicalismo 300 A Anarquia, Fins e Meios. . 7X)iJ O Amôr Livre 300 A Dór Universal 300 Revolução e Ideal Anarquista 400 Trabalho 700 Jerminal 600 O sindicalismo e a Greve Geral 200 Socialismo e Anarquismo 200 As Doutrinas Anarquistas 3 0 0 O Anarquismo 200 Sindicalismo e Revolução 120 O movimento Operário em Portugal 300 A Anarquia e a Egreja 10 Os Anarquistas.. . . 400 A Humanidade • 400 Socialismo Libertário ou Anarquismo 600 Os Direitos do Homem 60 Da Porta da Europa 700 A Mãe 500 O Terrôr na Rússia 200 A Moral Anarquista 100- ; Ação Sindicalista 200 : Sindicalismo e Socialismo £00 Formas e Essências do Socialismo 300 i Educação e Autoridade Paternal 20 > Comunismo-Anarquico 50 j A Peste Religiosa 20 >

reis

Os Grupos da província que quei-ram manter correspondência com a Federação devem envia-la ae novo secretario; Bernardino dos Santos, Rua de S. Jeronimo, 5 8 — Alcantara — Lisboa.

Javentode Anarquista

Resolveu continuar a prestar todo auxilio possível a o Jornal A Rmlia,'

oficiar á Federação Anaquista do Nor-te sobre o congresso anarquista.

Resolve mais, contribuir com 200 reis mensaes para a Colonia Anarquista de Chaves e encarregar-se de vender nesta cidade 30 exemplares do novo jornal A Comum; oficiar á Federação Anarquista do Sul, para nomear um delegado ás assembleias federal.

Não deveu pedir o que podeis tirar, Cervantes,

Page 17: A Revolta

Numero 22 — Ano I Coimbra, 12 de Ouíubro de 1913 Preço 1 Centavo

Quinzenário orgão da Federação Anarquista na Região do Sul

R E D A Ç Ã O E ADMINISTRAÇÃO

R u a S á B a n d e i r a , 1 1 - 2 . °

COIMBRA — PORTUGAL

Propriedade da FEDERAÇÃO ANARQUISTA

D i r e c t o r - f l U G U S T O Q U I N T A S

Editor-JOSÉ D'AZEVEDO ..•••• i

COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO

M I N E R V A C O M E R C I A L de J o s é F e r r e i r a B a t i s t a & C a

Rua da Republica, 73, 75 e 77—ÉVORA

Aos anarquistas na região portugaeza O momento historico que atravessa-

mos é de molde a preocupar-nos a sério com a nossa organisação societaria.

O anarquismo em Portugal, tem-se desenvolvido, apesar de o quererem des-mentir os seus adversarios; o que porém lhe tem faltado é uma solida organisa-ção que fortifique e harmonise os esfor-ços empregados.

Para esse fim organisou a federação Anarquista do Sul, um congresso que se

• não foi o que todos esperavam uma as-sembleia de doutos, foi no entanto uma manifestação de unidade e força parti-daria.

Desse congresso saiu o principal fa-tor da nossa força — a organisação— e se todos os anarquistas deligenciassem pôl-a em pratica hoje veriamos coroa-dos de bom êxito os nossos esforços.

A nossa força deve estar no método de organisação e luta a empregar no combate ás instituições estatistas — ca-pitalistas.

Que importa que haja muitos anar-quistas, se estão dispersos e se não com-preendem nem concretam em comum os meios a empregar para a difusão do ideal ?

Para que serve a febre do jornalismo entre nós, querendo fazer muitos jor-naes, se não podem existir? Portanto, se se cumprisse com o aceite no i.° congresso anarquista na região portu-gueza, teríamos trabalhado para a orga-nisação e solidificação das federações do Sul, Norte e Centro de Portugal. Tería-mos juntado os nossos esforços em volta dos orgãos na imprensa das federações do Porto e Lisboa, dando-lhe vida e coesão.

Parecerá que fugimos dos verdadei-ros principios de liberdade com a nossa forma centralista; mas não, pois que queremos o homem livre no grupo co-mo este livre na federação. E' apenas questão de tatica para ajirmos com mais facilidade e menos sacrifícios pessoaes, porque digamos toda a verdade: apenas uma ou duas dúzias d'homens teem so-bre os hombros um pesado lardo que dividido por todos seria um esforço in-significante.

De vagar e com método chegaríamos ao ponto almejado, sem as intermiten-cias que atrasam ou estacionam.

Todo o estacionamento preveniente da repressão dos Estados, não é perni-cioso, pelo contrario, vae selecionando as camadas que aceitam o ideal e tem-perando-as para a luta ardua, tenaz e cheia de dissabores.

O que estiola, enfraquece e mata é o estacionamento preveniente da desagre-gação dos nossos eslorços e das nossas vontades. Um camarada só, (a não ser que tenha meios de fortuna) não pode fazer publicar um manifesto, publicar um livro, um jornal, fazer uma digres-são em que se espalhe a doutrina. Jun-tos, 30, 50 ou 100 camaradas, podem com facilidade empreender qualquer meio de propaganda pelo mutuo aucilio para a sua execução.

Depois ha que ir preparando o espi-rito da solidariedade de agrupamento para agrupamento por tendencias e afi-nidades ensaiando o comunismo bem como a vida livre entre as nossas agru-pações sem intervenção dos principios autoritários.

A exemplo dos camaradas francezes, necessitamos de imediatamente realisar o 2 o congresso anarquista, para con-certarmos nos meios mais práticos para a realisação da nossa organisação e ação dos principios que concretisam o Ideal Anarquista.

Os congressos quando mesmo não fossem de assembléas platónicas, im-primem á nossa causa uma manifes-tação de força sendo como um balanço anual do desenvolvimento dos agrupa-mentos, onde se trocam impressões, se definem principios e coadernam taticas e meios de agir e desenvolver a propa-ganda.

Eis porque devemos trabalhar afinca-damente não só na organisação de gru-pos em todas as localidades onde hajam camaradas que aceitem os principios anarquistas, federando-os creando nú-cleos provinciaes ou sejam as federações regionaes, creando depois a Federação Geral na Região Portugueza, que se fundirá na grande Confederação mun-dial ou a Internacional Anarquista; co-mo cooperar com amor e entusiasmo para a realisação do 2.* Congresso d'on-de deveremos sair mais fortes e aguerri-dos pela organisação, provando aos di-rigentes dos povos escravisados que pe-rante as suas violências os anarquistas congregam as suas forças, unindo-se pelos mais estreitos laços de solidarie-dade, aptos para a luta no campo em que ela seja posta.

O contrario é suicidarmo-nos moral-mente, dando aos nossos inimigos o triste testemunho da nossa insensatez

Infamia Democrático

Continua o despotismo — Quando respondem os presos por quês-toes sociaes?

Passam se os dias, as semanas e os me-zes, e o Governo do muito alto e poderoso senhor destes domínios, faz ouvidos de mer-cador.

A infamia não tem fim. A policia reservada que a ocultas era ca-

pitaniada pelo gatuno João Borges, aparece á luz radiante do sol, a praticar as suas proêzas. Inventam trucs para agradar a seu amo e senh >r, dando motivo a que seja a perseguição com foros de legalidade.

Desejavamos saber se em quatro mezes de investigações ainda não acharam a culpa provada desses criminosos, cujo delito é não estarem de cócoras perante o grande patrio-ta, que a exemplo do porco mente\ que ocu-pou o trono, manda a fortuna pessoal para a Suissa como o outro a mandava para os bancos de Inglaterra !

Estamos debaixo da mais inqualificável das ditaduras, onde não se respeita a Cons-tituição do Estado, em que eles garantiam o respeito pelas ideias alheias e a liberdade individual.

Mentirosos! Embusteiros! Não se pode estar sígun.lo o pacto sccial

que serve de estatuto á Republica Portu-gueza, preso sem culpa, e no entanto tsse governo de cretinos que para ai ostenta for-ça escudado pela ralé dos alfurjas, gatunos e malandros confessos, conhecidos pela for-miga branca, calca a pés as liberdades que o povo conquistou nobremente em 5 de Ou-tubro; e risse cinicamente dos protestos dos homens conscientes e perante os gritos de dôr das mães, esposas e filhos das suas vi-timas, emuladas ao capricho da bandalheira que para ai está.

Falava-se em anistia para satisfazer os predicados humanitários desse velho que, ainda no meio desta estrumeinf, é um sím-bolo de honradez! Os presos sociaes, côns-cios da sua inocência repudiaram o perdão, para um delito que não cometeram.

Perante este altivo gesto de dignidade re-volucionaria, era preciso um pretesto; de pronto os safardanas, os bufos da rezervada arranjaram assassinos, cvnspirações no Li-moeiro, tudo para encobrir o fiásco duma anistia que só poderia servir a criminosos!

Os agentes do Governo não satisfeitos com toda a infamia já realisada, servem-se do caso da Praia das Maçãs, para em pape-luchos imundos pedir a cabeça dos anar< quistas e sindicalistas.

Antes isso! Vá senhòres da democracia, para honra dos delegados estrangeiros ao Congresso do Livre Pensamento, arvorai em cuda esquina, em cada praça uma forca e pendurái á exacração das gen-tes os corpos dos irreverentes, dos insub-missos e rebeldes, para que se saibs que em Portugal ha ainda quem saiba morrer pelos sorridentes principios de liberdade, que os Ligorios, Seringas e Biologicos, es-farrapão como rodilha imunda.

Isso! Venha a fôrea para os que se bate-ram pela liberdade n'uma brumosa alvora-da de Outubro; o poder, as honras para QS

x

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A REVOLTA

cobardes que se esconderam fugindo no cé-lebre coupé 44! !

Apezar das arremetidas dos pudengos as-salariados pela tirania vermêlha, a onda só-be, o protesto fortifica se por todos os can-tos do mundo, bem cbmo do paiz para hon-ra da verdadeira Democracia !

A Formiga Branca

Dizem-nos que chegaram a esta cidade alguns carvoneiros vindos de Lisboa, cuja missão é talvez espionar os elementos ope-rários.

Urge estar alerta ! Não vá por aí apare-cer alguma bomba para justificar as preme-ditadas perseguições a União Geral dos Trabalhadores.

Cautela porque a formiga branca tem artes para tudo e malas pa ra . . . bombas.

Libertários :

A arbitraria prisão (los nossos camaradas, ameaça-uos a nossa liberdade.

Contra êsse arbitrio sem nome protestamos veementemente pa-ra qne amanhã se não repitam as infâmias.

R propaganda anarquista Durante trez dias, um grande numero de

camaradas, individualmente uns, represen-tando diferentes grupos anarquistas de Fran-ça, outros, discutiram em Paris sobre a or-ganisação dos nossos agrupamentos e sobre a tatica a seguir para intensificar a difusão dos nossos idiaes.

Se os camaradas das diferentes tendencias souberem evitar os escolhos colocados no caminho; se eles que pertendem demonstrar tolerancia e boa vontade se preocupassem unicamente em fazer obra util e aliás tão necessaria de organisação e de propaganda, é certo que o nosso Congresso está destina-do a causar enorme resonancia no mundo do trabalho e a ser fecundo em resultados.

Será doloroso que a presença de algumas individualidades alvejadas pela hostilidade dum certo numero de anarquistas — e isto por.razÕes que não necessito expor aqui — sejam o pretexto de divisões que enchem de alegria os nossos adversados comuns.

Uma coisa que nós não devemos esquecer é que nós discutimos sobre o fogo do inimi-go1, e todos os nossos adversarios, conheci dos ou desconhecidos lançam o olhar em torno de nós.

Nunca, salvo durante o periodo das bom-bas, a repressão governamental foi exercida com tanta violência como no momento pre-sente. Quasi todos os nossos militantes es-tão nas prisões e quando de lá saiem outros estão prestes a voltar para lá; e o governo não tendo podido pela violência esmagar a nossa propaganda ficará contentissimo com o ver fazer nós mesmos a obra de desagre-gação que os seus policias e os seus magis-trados foram incapazes de cumprir. N'estas condições, a união de todos os anarquistas-comunistas é necessaria e será um crime, da nossa parte, dár aos nossos adversarios o espétaculo da nossa divisão.

Emfim, não nos devemos esquecer nunca que não temos contra nós somente o odio claramente declarado dos politicantes, mas que também um certo numero de militan-tes sindicalistas nos veriam com alegria fa-zer uma obra negativa.

Depois d'alguns mezes os homens que outrora não desdenhavam relacionar-se com o ideal anarquista—quando se não declara-vam francamente libertários — entenderam ser bom mudar de tatica, e tomaram póse de homens ponderados, refletidos e inimi-gos da violência; e decidiram-se a aplicar ao nosso Proletariado os milagrosos méto-dos dos sindicatos alemães. Pretenderam desqualificamos aos olhos do mundo ope-rário dizendo que nós éramos incapazes de participar num trabalho de organisação me-tódica é que seguindo a nossa tatica os tra-balhadores se expunham a desastres suces- s

sivos ijue levariun inevitavelmente á desa-parição da Confederação Geral do Traba-lho. E' possível que a nossa mentalidade de revoltados em perpetua luta não somente con-tra a autoridade patronal e governamental mas também contra a de certos militantes que pretendem brincar aos patriarchas não seja de natureza a agradar a estes últimos Mas o que ninguém pode negar sériamente, amenos que seja duma insigne malvadez, é que os anarquistas hão dado ao movimento sindicalista francez o belo ardor revolucio-nário que, durante dois anos, fez a sua for-ça e a sua originalidade.

Nunca a C. G. T . esteve tão poderosa, nunca ela inspirou um tão grande receio aos seus adversai ios como durante o perio do em que os nossos métodos de ação dí-reta prevaleceram nos sindicatos.

Eis justamente porque o nosso Congres-so deve discutir sobre organisação dos anar-quistas e suas relações com o sindicalismo; é nosso dever demonstrar que nós não so-mos os adversarios das organizações opera-rias; que nós somos capazes de fazer uma obra de organisação talvez com tanto mé-todo como as mais moderadas da C. G. T .

Mas ao que nós estamos decididos tam-bém é a não abandonar o nosso carater ba-talhador, o nosso método revolucionário; é que nós queremos ver no sindicalismo, não uma arma unicamente destinada a fazer obter alguns melhoramentos 110 trabalho e no salario, mas uma alavanca poderosa para mudar a sociedade burgueza. Declaramos que não nos contentamos com organisações possuidoras dum forte contingente de quo-tisantes sem iniciativas, obdecendo cega-mente ás ordens dos chefes sindicaet, mas sim queremos fazer dia a dia a educação desta massa para a tornar capaz de dirigir os seus destinos. Queremos aproveitar-nos de todos os incidentes para travar a bata-lha contra o poder, considerando que a re-volta e ação revolucionaria são ainda a me-lhor forma de levar a classe trabalhadora á justa concepção dos seus direitos.

Nós mostraremos a esses adversarios, que não teem coragem de se desmascar., francamente, que a nossa tatica é a única que está em conformidade com a da antiga Associição Internacional dos Trabalhado-res, a única também capaz de dar resulta-dos fecundos. Uma vez mais nós afirmare-mos a nossa repulsa pela autoridade, em todas as suas formas: Policia, Magistratu-ra, Exercito e Parlamentarismo; uma vez mais nós clamaremos a nossa revolta con-tra todos os preconceitos sociaes, causas da miséria e da escravidão. Mas a nossa obra não será somente negativa e nós temos por dever agrupar nos solidamente, n'um bloco compacto onde os temperamentos e as ini-ciativas possam expandir se livremente, mas onde todos trabalhem para a destruição da sociedade capitalista e sua substituição por uma forma social destinada a trazer-nos mais bem estar e mais liberdade.

E' esta, dirão, a divisa da Confederação Geral do Trabalho. Mostremos que ela é também a nossa.

E M I L E A U B I N .

Canvões Sociaes

Com este titulo recebemos um folheto de 16 paginas, contendo 11 cantigas para se-rem cantadas à guitarra, baseadas nos belos principios do anarquismo.

O seu produto é destinado á cosinha co-minista, que os nossos camaradas mantêem no Limoeiro.

As canções sociaes, são produto dum cer-tamen poético realisado na cadeia do Li-moeiro pelos camaradas sindicalistas e anar-quistas que ali se encontram, e pena é que no límpido ceu azul do génio poético de que trata o folheto em questão, apareça uma nuvem negra a impanar-lhe o brilho...

O seu custo é de 3o reis, e encontra-se á venda na nossa redação.

Aos nossos camaradas aconselhamo-os a fazerem a aquisição do folheto, pois cum-prem um duplo dever: fazer propaganda e auxiliar os camaradas presos.

W M A 1 1 1 ( M l M l l

Grande reunião de protesto na União GJ-eral dos Tra-balhadores— O povo ope-rário de Coimbra reclama a liberdade dos seuss com-panheiros presos* ás or-dens do ditadôr vermelho.

Não ezageramos se dissermos ter estado longe de toda a nossa expetativa a impor-tância que assumiu a grande reunião de pro-testo, realisada na noite da penúltima quinta feira, na União Geral dos Trabalhadores, pela iniciativa do Grupo A Revolta em favôr dos anarquistas e sindicalistas enclausurados á vontadê suprema do tiranete Afonso-Maura.

O nosso jornal, já pelo seu caracter, já muito principalmente pelo seu diminuto tamanho, não pôde dar uma informação am-pla do que foi a anunciada sessão, em que, o povo obreiro desta cidade, bem como gente de todas as classes sociaes, correu ao nosso chamamento lavrando assim o seu veemente protesto contra as prepotências do gorerno republicano democrático.

A's 8 horas da noite, quando as salas da União se encontravam completamente cheias de povo, o camarada João Antonio dos San-tos abre a sessão expondo o objetivo.

Usando em seguida da palavra o operário Arthur Figueira, que verbera com energia a obra do franquismo vermelho.

Jeremias Bartolo, socialista, aborda vá-rios assuntos e com uma lealdade pouco vulgar nesta epoci de embusteiros e mal intencionados, declara-se ao lado dos liber-tários para a libertação dos presos por ques-tões sociaes.

Julia Cruz, delegada da União das Mu-lheres Anarquistas de Lisboa, fala cheia de revolta contra o despotismo dos governos republicanos, e em especial contra o capita-neado pelo verdugo Afonso Costa, defen-dendo com entusiasmo as ideias anarquistas. Em seguida lê um protesto da União^das Mulheres Anarquistas para ser enviado ao presidente do concelho.

João da Cruz, que com a facilidade que lhe é peculiar arrastou pelas ruas da amar-gura a obra nefanda do João Franco Afonso Costa e seus defensores. No seu burilado discurso mostrou o seu sentimento pelos tiranizados e a sua revolta contra os que, pertendem tiranizar todo um povo. Termina aconselhando o povo a resistir energicamente contra a violência do governo.

Os oradores foram por vezes interroói-pidos pelos gritos de protesto da assembléa, que se manifestava contra o governo que tem coberto de oprobio o povo portuguez, dando assim largas ao seu entusiasmo e á sua revolta.

Mais uma vez ficou demonstrado nesta importante reunião, que a repulsa do povo é unanime contra o regimen que tiranica-mente impera sobre este desgraçado paiz.

Aviso aos assinantes e ajenfes

Avisamos os assinantes, que estão em de-bito ao jornal, que lhe será suspensa a re-messa, desde que não liquidem até á saida do proximo numero do jornal.

Aos ajentes que ainda não liquidaram con-tas,pedimos paraqueo façam imediatamente.

O Congresso de Manchester manifesta-se contra a Guerra

No congresso dos trabalhadores celebrado em Manchester (Inglaterra) no passado mez foram tomadas por unanimidade as seguin-tes resoluções :

O congresso compromete-se a fazer quan-to esteja em suas posses para que a Guerra se torne impossível.

Serão dadas instruções ao Comité Central para entender-se com a Federação Nacional

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A R E V O L T A

A P R 0 P 0 5 I Í 0 D'Unq ATENTADO

O despotismo infréne, a tirania sangren-ta, a opressão canalha duma oligarquia ha-;via com os seus aulicos galfarros aviltado um povo e lançado na penúria uma nação, para sustentar a magnificência, os fastígios da corte.

O povo impulsionado pela oração rubra, pelo verbo candente dos apostolos da repu-blica saiu á rua, e de armas na mão lançou por terra os plintos em que assentava o vetusto edificio oligarquico onde o tempo, oito séculos de edade, havia aberto já nu-merosas fendas.

O estandarte rubro verde foi desfraldado aos quatro ventos.

A Republica foi.proclamada. E hoje, de-corridos tres anos, os antigos apostolos de verbo candente, barrete frigio na cabeça, entreteem-se a atirar ao alvo—a triade em-blemática da Republica — os pelouros do vitupério e da infamia.

Acaso, neste periodo, se deu ao povo al-guma coisa do tanto que lhe foi prometido? Não?

Qual era, afinal, o nosso clamor? Que pedíamos nós, que reclamavamos

nós, em 5 d'outubro, pela boca das espin-gardas ?

Pão, instrução, justiça ! O fundamento positivo, essencialissimo,

dentro dum ideal, de todas as revoluções, é sempre, pois não e ? — de natureza econo-mica.

E' inimiga da virtude a fome, diz o vul-go, e com a fome'é incompatível a ordem.

A fome conduz totalmente á revolta, é a lição da historia, foi o que sucedeu em

i Lisboa, ao cabo de trinta anos de propa-ganda acesa, de, luta sem tréguas, contaa as desigualdades incomportáveis e contra os arbítrios do poder.

Mas quem saiu á rua de armas em pu-nho ?

Ah! não foram as classes ricas, nem os doutores, os evangelistas, tão pouco, da ideia nova. Estes quem os viu ?

Foi sim, o eterno escravo, foi o povo simples e miserável, que afeito ás inclemên-cias duras da fortuna, tem menos apego á vida.

Habituado a morrer devagar, não lhe custa morrer depressa, varado por uma b a l a . . .

O povo tinha fome, e a fome que persis-te em definha-lo, diminuindo lhe a virtuali-de creadora da riqueza e a capacidade de resistencia, que lhe reduz a duração media da vida, que o obriga a expatriar-se em

massa, é uma fome injusta, iniqua, que re-volta e fomenta o desespero».

O povo queria justiça; e que justiça lhe foi feita ?

Nenhuma. Pelo contrario, protelaram, abafaram a voz das suas reivindicações.

Reprim:u-se ferozmente todas as parcas liberdades, amordaçou-se a ancia de justi-ça, amarrou-se a imprensa livre ao pelouri-nho da estupenda venalidade.

A critica, o livre exame, o sagrado t n m do povo foram miseravelmente desrespeitados.

Impediu-se por todas as maneiras a livre expansão das teorias anarquistas, procu-rou-se por todas as formas obstar a propa-ganda dos generosos princípios da emanci-pação humana.

Coartou-se até ao maximum a liberdade de reunião, reprimiu-se até ao absoluto a liberdade de pensar e o direito de escrever.

A opressão mais violenta se desencadeou contra o povo que em 4 de outubro expoz o peito de seus filhos ás balas defensoras da monarquia.

Na fúria das perseguições nem os pro-prios republicanos escaparam.

As cadeias regorgitam. E os indivíduos presos pelo crime de

tentar a reivindicação de justos direitos do povo ahi estão, aos centenares, na cadeia, jazendo ha longos mezes, sem julgamento e muitos deles ou quasi todos até sem culpa formada !

Contra este estado de coisas ergueuse indignado, protestando o operariado con-ciente de Espanha, Italia, Cuba, França, Inglaterra, Brazil e Argentina. Os seus jor-naes inseriram artigos cheios de justa indi-gnação. As suas coletividades protestaram junto dos ministros ou cônsules represen tantes de Portugal. 1

E perante isto que fez o governo? Ficou surdo a todos esses protestos. As perseguições continuam e as violên-

cias são de cada vez mais desenfreadas. Não se repara sequer que a opressão é o foco gerador das Revoluções e que a vio-lência atrai a justa violência como o abismo invoca o abisrro.

Por isso, como sempre, a tirania armou o braço dos tiranicidas.

As aspirações da humanidade ham-de triunfar — mas ao troar do canhão, ao cre-pitar da metralhadora, ao reflexo dos in-cêndios.

P E D R O K R O P A T K I N E .

C e z a F P a p ^ o t

dos Transportes e União Geral dos Ferro-viários, a empreender negociações com os sindicatos estrangeiros a fim de adoptarem uma linha de conduta e de ação internacio-nal para o caso da ameaça de mobilisação de guerra.

Achava-se presente o camarada Legien, que declarou, em nome dos sindicatos ale-mães, que a classe trabalhadora da Alema-nha queria a paz tanto como a Inglaterra ou a França, e que por esta razão a guerra se tornava impossivel.

O camarada Jouhaux, também presente, em nome da Confederação Geral do Traba-lho Franceza, confirmou essas declarações, que foram acolhidas com uma entusiástica ovação.

O Trade-Unionismo inglez faz desta for-ma a .sua entrada no sindicalismo revolucio-nário internacional.

Escola de Ensino Livre

Lisboa

Desta importante agremiação de educa-ção livre, recebemos uma circular que não podemos inserir na integra mas que fare-mos no proximo numero.

Trabalhadores :

Grvitemos íinisonamente : —Liberdade para os nossos ca-

maradas ha inezes iniqnamente enclausurados nas bastilhas da deinooi-acia.

HISTORIA ILUCIDATIVA O nosso colega 0 Revolucionár io, na sua

lista das celebridades dos defensores da re-publica, aponta a. gratidão imorredoura das luzas gentes, o imerito gatuno das libras do Saloio, João Borges Pois ouça o colega es-ta pequena historia: quando ha anos por causa da questão Calmon, foram presos 6 rapazes que a monarquia queria fazer pas-sar por agitadores, apareceu também um João Borges, que á frente dum grupo que-ria assaltar o Carreio Nacional e que a po licia incluiu com os já presos no Bairro Alto.

Chamado ou solicitado Afonso Costa, a defendei os, ele advogado em presença do cadastro policial que tinha o tal João Bor-ges, fez separar o processo porque não que-ria defender um homem tão sujo e que até batia na mãe I I I

Quem havia de dizer que em plena demo-cracia, regimen de ordem e moralidade, o mesmo João Borges, havia de dar ordens na policia e ser o fiel guarda do mesmíssimo senhor Afonso Costa ?!

De Cezar Parrot um dos mais ativos pro-pagandistas do movimento comunista-liber-tario do Sul, sobre o qual pésa a monstruo-sa e iniqua acusacão de ter tomado parte no atentado da Rua Nova do Carmo ainda hoje envolto no mais profundo mistério, recebe-mos a carta que abaixo inserimos para a qual chamamos atenção de toda a imprensa anarquista.

Camaradas d'«A Revolta»

Ha 4 longos mezes que me encontro aqui encerrado com uma acusação tão ridícula e ao mesmo tempo infame e ainda não houve um camarada, um companheiro de luta que se lembrasse da minha defeza, que se con-doece da minha situação.

Como sempre fui um sincero, um mártir do ideal, espondo muitas vezes o que tinha em beneficio da causa e até a vida em cer-tas ocasiões, sou agora lançado á margem como um ser desprezível, inútil ao ideal.

E' sempre assim! Os sinceros, aqueles que professam o ideal, não por diletantis-mo, mas sim conscienciosamente, que se teem sacrificado em prol da causa são sem-pre os mais desprezados.

E' raro, não sair á luz da publicidade nos jornaes operários, 8 nomes de camaradas como se fossem esses as vitimas da tirania burgueza.

Quando se fala no atentado da Rua Nova do Carmo lá aparecem só os 8 nomes, dan-do a impressão para quem lê, de que os ou-tros 10 estão verdadeiramente implicados no caso, ou que são criminosos reconheci-dos. Isto não se faz!

Não basta a nossa situação, para que um silencio prejudicial ainda envolva a perse-guição de que fomos vitimas; foi assim e pelo criminoso silencio de alguns elementos operários que os nossos camaradas da Moi-ta foram condenados a penas barbaras sem uma acusação que merecesse pelos codigos penaes a condenação d'um mez de prisão correcional. Se nos querem fazer o mesmo, se desejam só que meia dúzia de camara-das possam regressar aos lares de suas fa-mílias, continuem só punindo por eles e dei-xem lá vontade os outros mártires que as garras sanguinarias da tirania desejam es-trangular.

Vosso camarada

C E Z A R P A R R O T .

Cadeia do Limoeiro

Emprazamento

Não tendo até- hoje sido recebida nesta redação, enviada por Manuel Ferreira Quar-tel 011 quem quer que seja, resposta ao em-prazamento aqui feito no nosso ultimo nume-ro, provando ou dando satisfação das suas palavras, d'oravante considerêmo-nos no di-reito de ter como caluniosas e infames as acusações feitas ao nosso amigo e camarada A. Santos Pinho e consequentemente como caluniador o autor das mesmas.

O G R U P O « A R E V O L T A » .

Colonia Anarquista

. Os grupos anarquistas Audacia e Avante de Chaves e Avante pelo Futuro de Vida-go, acabam de levar a efeito a creacão em Traz-os Montes, uma Colónia Anarquista Agricola que deve começir a funcionar no proximo mez de Novembro, sendo a sua manutenção feita com a creacão de animaes domésticos, contando ao mesmo tempo com a ajuda dos camaradas anarquistas ou de todos que simpatisam com as doutrinas anar-quistas e que as queiram ver praticamente.

Um grupo de trabalhadores daquela re-gião completamente desiludidos com a atual ordem de coisas, chegaram á compreensão que só a Anarquia, resolverá o problema social que tanto agita a humanidade e resol-veram a fundação duma Colonia Anarquis-

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A R E V O L T A

a que funcionará o mais possível dentro da tublime e emancipadôra ideia libertaria, que virá dár ao sêr humano uma ideia de quan-ta felicidade e harmonia reinará entre os homens desde que se associem e vivam con forme o Ideal Anarquista que tão. firme-mente defendemos, mostrando á burguezia e aos fanaticos políticos que tanto nos per-seguem e temem, que nós não queremos destruir, mas sim edificar, e edificar sobre bases que são as mais fortes no Amor e na Libertação do homem, livrando o assim da sinistra Autoridade, que ha séculos cobre a humanidade de ruinas e de sangue.

Segue a circular que acaba de ser dirigi-da á imprensa anarquista do paiz.

C A M A R A D A :

Levados pela convicção nas edeias anarquistas, empenhamos nossas forças numa obra grandiosa, pa-ra a qual pedimos a vossa cooperação, certos de que compreendereis o grande alcance que dela virá para a difusão dos princípios que defendemos.

Os grupos libertários Andacia e Avante de Chaves e Avante pelo Futuro de Vi-dago, esperançados no auxilio que de vós esperam, resolveram fundar uma colonia agrícola livre, para onde nós, os trabalhadores conscientes, livres de per-conceitos e de vaidades tôlas, iremos pôr em pratica os princípios das nossas doutrinas, provando assim que elas não são um sonho e que com vontade, estu-do e perseverança se pódem transpor os grandes obs-táculos que nos impedem o caminho para o Bem. .

Animados desta edeia, convencidos como estamos que a sua realisação será a melhor propaganda que podemos fazer da anarquia, provando pelo exemplo, o contrario do que dizem os defensores desta iniqua organisação social e politica—que a anarquia é a de-sordem, que as suas teorias dissolvem e não organi-zam—nós empregaremos todos os esforços para nos conservarmos, tanto quanto possível, dentro dos prin-cípios, demonstrando claramente a falsidade de taes afirmações.

O nosso plano vae mais longe, não se limita ape-nas á colonia. Sindicar os trabalhadores, fundar uma cooperativa que funcionará conjuntamente com a colonia e sindicato e uma cosinha comunista, são assuntos que nos tem preocupado e que andam liga-dos á fundação da colonia. Para esta, os trabalhado-res das duas localidades que já abriram os olhos, que se interessam pela sua situação e a quem isto mere-ce simpatias, cotisár-se-hão com a quantia mínima de vinte réis por semana. Esta cotisação já começou e o dinheiro assim junto empregamo-lo em animais domésticos que creamos e desenvolvemos, adquirin-do assim conhecimentos indispensáveis para a colonia e aumentando os seus fundos.

Compreendeis muito bem que esta cotisação é pouco para uma obra desta natureza e que se torna necessário o auxilio moral e material de todos os ca-maradas para dar principio á vida da colonia.

Por isso vos enviamos esta circular conscios de que estareis comnosco ao lado da grande causa.

OS GRUPOS.

N O T A — T o d a a c o r r e s p o n d ê n c i a e d o n a t i v o s deve s e r d i r i g i d a ao c a m a r a d a Anton io A. C a s t r o L o p o , R u a Di re i t a n . ° 1 3 5 — C H A Y E S , ou a J o s é Au-g u s t o F e r r e i r a — V I D A G O .

Homens :

A culpa, tio tirânico abuso dos governantes cabe àqueles que os recebem sem protestarem ener-gicamente.

Protestandoeinsurreeionando, é a única maneira cie evitarmos esses abusos.

Jorna es Novos O Gr ri to Social—Visitou-nos um novo

quinzenário que com este titulo iniciou a sua publi-cação em Aveiro, dedicando-se a dèfeza da causa social.

Publica bons artigos de propaganda libertaria. As nossas saudações. A . C o m u n a — O s camaradas do Porto que

compõem o Grupo Mocidade Anarquista acabam de dar á luz da publicidade um periodico quinzenal com o titulo que nos serve d'epigrafe.

Do seu editorial, recortamos os seguintes períodos, que bem demonstram a energia que os impele para a luta e a profunda convicção que os anima a pro-pagandear os sãos princípios Anarquistas:

«A ignorancia e o fanatismo, contrariando o pro-gresso das ideias e sufocando a voz da Razão encon-trarão em nós os mais encarniçados e iiredutivéís inimigos.

Aos fracos, aos velhos e ás creanças, vitimas das prepotências dos senhores, defende-los-hemos com o carinho e abnegação que nos inspiram todos os perseguidos, quando impotentes.

Não é só para demolir, que criamos A Comuna; a par da sua tarefa demolidora, outra lhe surge mais grandiosa mais humana, talvez: a constantiva.

Cabe-nos lançar sobre os escombros da sociedade burgueza, os alicerces inabalaveis de uma outra so-ciedade onde todos os indivíduos tenham plenamente assegurada a satisfação de todas as necessidades— fisiológicas, morais e intelectuaes.

E' para essa sociedade—a sociedade Comunista-Anarquista—que vão todos os nossos esforços, toda a nossa ação.u

O restante da colaboração é de propaganda retin-tamente anarquista.

A Comuna, encontra-se á venda na nossa redação ao preço de 10 reis.

O O u r i v e s — C o m este titulo iniciou a sua publicação no Porto, um novo colega de luta pelas reivindicações dos trabalhadores, de orientação sin-dicalista-revolucionario.

Apresenta-se bem redigido e com uma feição bastante educativa.

E' orgão da Associação de Classe dos oficiaes de ourives do Porto.

Ao novéí colégá desejamos um risonho futuro e energia para combater os satrápas defensores da or-dem capitalista.

Os da "Humanidade,, e o Partido do Trabaltio

A proposito d'uma moção votada pe-lo sindicato dos serralheiros de Coimbra, em que declara deitar ao despreso o tal partido do trabalho, o que em matéria sindicalista é estar dentro dos princí-pios, vem um jornal local A H u m a n i -dade quebrar lanças pelo nosso partia do, largando larachadas que só prova no fundo de tanta verborreia que da questão social não percebe patavina!

O movimento operário em Portugal "tem já a organisação revolucionaria que lhe é necessaria, o que necessita é in-gressar nessas organisações segundo as suas tendencias e afinidades. Para a realisação das reivindicações mínimas e trabalhar ao lado da burguezia, existe o velho partido socialista, cuja tendencia é reformista parlamentar.

Para que pois, outro partido do tra-balho ?

O que se quiz fazer foi uma sucurssal do grande Afonso Ligorio, com séde no Imundo, para desarmar as tendencias mais ou menos revolucionarias do ope-rariado portuguez. Mas não péga.

Os argumentos apresentados a pro-posito dos socialistas francezes aucilia-rem Combres, bem como a atitude dos socialistas parlamentares italianos, nada justifica a creação dum novo partido, pois que o partido socialista portuguez, tem prestado optimos serviços ao gover-no republicano, desde a gréve dos car-roceiros até ás declarações dum dos membros do Conselho Central, em que faz fé publica de policia amador para denunciar movimentos revolucionários contra o governo republicano.

Ora aqui tem os da Humanidade o que o Dr. Afonso Ligorio desejava com a formação do novo partido.

Tudo se arranja, entenda-se o gran-de Superavit, com os diretores socialis-tas, prometa-lhe uma dúzia de deputados para entreter os ingénuos e terá retar-dada a marcha revolucionaria do opera-riado portuguez. Para deitar leivos dou-toraes fala-nos em congressos socialistas. Parece que não leu o que resolveu o ultimo congresso socialista da Holan-da, votando contra a pretensão dos che-fes que queriam ser ministros num go-verno liberal.

Mas, o novo partido não vinha preen-cher uma lacuna, mas para estiolar o sindicalismo revolucionário, visto que com os velhos elementos socialistas, o governo não pode contar pois que são demasiadamente conhecidos pela sua be-nevolencia para com a monarquia, e de guerra acintosa contra o movimento re-volucionário republicano; só gente nova e honrada poderia levantar a nova bar-reira—o (Partido do Trabalho—pois nem nisso o grande Afonso, foi feliz.

Todos conhecem o José do Vale e su-cios trabalhistas, transfugas e venaes, vendidos pelas lentilhas do biblico Judas!

Terminando diremos aos da Huma-

nidade que fazem profissão da politiquice, que os camaradas serralheiros pódem ser zoilos, o que estão é dentro dos seus princípios o que muito os honra!

E f t S l f e p i r a Q p w @ Os'povos que querem a liberdade conquis-

tam-na. Nada se consegue sem luta, por ve-ies violenta, feró\, mas sempre purificadora.

(Da Revolta, folha republicana clandestina).

Condenar a bomba na mão de um revo-lucionário e dár ra;ão á lantérnêta na mão de um artilheiro não pode admitir-se sem ofensa do bom senso.

(D'0 Século de 26-9 gio).

Nós somos justamente essa entidade anó-nima, trabalhadora, produtora, de quem os poderes públicos escarnecem e a quem as classes burguesas negam os instrumentos de trabalho; somos os explorados de todos os tempos e de todos os togares; os persegui-dos de todos os governos e de todos os dés-potas. Por isso nós sómos a Revolta.

Magalhães Lima.

Na iniciação da «carbonaria» eram re-jeitados in-limini todos aqueles que se con-fessaram incapazes de pegar numa arma : carabina, punhal, revolver ou bomba, espe-rar onde quer que fosse um tirano do povo para executar n'e!e uma justiça sumaria.

(Hermano Neves—Como se im-plantou a Repubica).

E' preciso que fique bem acentuado isto: Os anarquistas luciliaram os republicanos a provocar a derrocada do regimen monár-quico, mas aderiram a eles apenas proviso-riamente, dispostos a continuar pugnando contra a burguesia e os seus privilégios, apenas o trono tivesse deixado de existir em Portugal.

(Hermano Neves—Como triumfou a Republica). ^

Correio da Revolta Setúbal—José Quaresma—Pedimos-

te que liquides os jornaes enviados já que te não dignas responder aos postaes te es-crevemos.

Vilar Pinheiro—Grupo Mocida-de Libertaria—Recebemos 4 6 0 réis de jor-naes vendidos e 4 0 reis do camarada Pe-reira.

Serpa,— Celestino— Remetemos os jor-naes pedidos. A liquidação é feita oito dias depois de receberes os exemplares.

Vidago—José Augusto Pereira —Re-cebemos 1:200 réis para auxilio do jornal e 3oo reis do assinante. E' assim que se co-nhecem os amigos da nossa obra.

Liiasboa — Bernardino dos Santos — Bem sabemos que os últimos do jornal che-garam aí tarde.

Vamos anarquisar o serviço de redação para tudo entrar na ordem. Associação dos Construtores de Macadam — O que envia-ram vem no proximo numero.

Faro—José Fnnco—Recebido o que mandas-tes. Manda a continuação dos arti-gos.

P o r t o — G. Moreira Alves — Recebe-mos 7 0 0 réis dos jornaes vendidos pela Fe-deração e 25o réis do camarada J. M. Souza.

Évora — A. José Dini\ — Remetemos i5 exemplares do nosso jornal; e, desenvol-ve por aí a sua propaganda.

Pequenas Notas

Aos nossos colaboradores lembramos a conveniência, em virtuds do joraal ser mais pequeno, de explicarem em poucas palavras o muito que tenham a dizer.

Mais um sacrifício, mas é preciso, deve-se fazer.

Para regularisar a sua publicação A Re-volta começará no proximo mez de novem-bro a sair no dia 1 e i5 de cada mez. Quem tiver interesse em ler o nosso periodico de-ve procura-lo nesses dias nos locaes de venda.

Page 21: A Revolta

Coimbra, 30 de Novembro de 1913 P r e ç o I O r é i s

A REVOLTA Quinzenário orgão da Federação Anarquista na Região do Sul

REDACÇAO E ADMINISTRAÇÃO

Rua Sá Bandeira, -1 1 — 2.°

COIMBRA—Portugal

Propriedade do GRUPO ANARQUISTA

DIRETOB—Augusto Quintas E D I T O B José de Azevedo

Composição e impressão

Tip. MINERVA CÍENTRAL

Rua Tenente Rezende — Á-Vêiro • ii i ' . ' . ' • '

A Ideia Anarquista Organisação e acção

«Camaradas : ha fédération de nos forces est nécessaire; faisons-la et elaborons la exierté de demain. Voici ce que les anarchistes communistes» penseut, veulent.»

(Congresso Anarquista de Pari%\.

A nossa obra sendo como é a remodelação completa das ba-ses aociaes de boje, requer mui solido fundamento e, implicita-mente, um intensivo exforço de vontade. Para que divisemos o triunfo das nossas aspirações torna-se necessário, imprescindível mesmo que a minoria dos que pensam e anciam o triunfo da re-volução social conjuguem os seus esforços, formando e desenvol-vendo uma organisação perfeita, de iguaes, desde já tendendo a transformar com mais continuidade e eficacia a mentalidade po-pular e a lutar vigorosamente contra os grandes crimes governa-mentaes.

No Congresso de Pariz ficou exuberantemente provado que só uma organisação désta ordem poderia eficazmente intensificar a propaganda, minorando o raio de distancia que nos separa do almejado fim.

Já entre nós, mercê da forte vontade e ingente esforço dum núcleo de bons camaradas, se tentou e conseguiu iniciar a orga-nisação ora preconisada { elo Congresso de Pariz; porém a extre-ra-fi K-.ra í!'.."júc itltuoo i^myrr ma mi d;; uontra rs« p'o-.iviT=s as po r— neguíções desenfreadas dos governantes entibiaram o animo de uns, esmoreceram a vontade de outros e, dolorosamente o contes-tamos, a organisação, na qual neste momento todos deviam enfi-leirar, para a manter ou tornar poderosa, capaz do necessário combate, viu diminuir a sua força, com o afastamento de uns e o desanimo de outros.

Torna-se necessário que todos voltem á luta. Quantos tenham hoje a perceção das necessidades sociaes e filosoficas hão-de reco-nhecer uma forte necessidade na formação de grupos unidos fede-rativamente pelos laços de solidariedade, não já só para o desen-volvimento e realisação de mais fundas obras de propaganda, mas ainda para iniciar este grande objetivo: a aCÇãO reVOlUCÍOIlflPÍa, individual ou coletiva, segundo as circunstancias.

Unidos seremos fortes, e fortes, vencedores. Por outro lado desunidos seremos fracos, e fracos, vencidos.

Quantos de entre nós, em momentos de luta, temos sentido a falta dessa cohesão que nos daria a solidariedade revolucionaria cujo factor principal se busca na organisação desejada.

E' então que constatamos a nossa impotência e verificamos quão curto raio de acção pôde atingir o esforço dum isolado.

Para adquirir o convencimento da superioridade do nosso ideal não necessitamos agrupar-nos. Sabemos ainda que a evolu-ção, sendo como é revolução latente e contínua, nos dirige inevi-tavelmente para o triunfo da Anarquia.

Mas se estamos capacitados da necessidade de modificar a hodierna estrutura social, se somos revolucionários emfim, vamos a pôr em jogo a vontade, acionando no sentido de acelerar a rea-lisação das nossas aspirações.

E ess* acção não se ha-de fazer impensadamente, sem refle-xão, inoportunamente.

Para déla colhermos resultados profícuos, antolha-se a im-prescindível necessidade de organisar as nossas forças, para reali-sar com êxito a nossa obra revolucionaria.

A experiencia demonstra-nos que a falta de um prévio acor-do nos momentos críticos, só tem dado azo á falta de solidarieda-de revolucionaria aos que lutam, inhibindo-nos ainda duma opo-sição eficaz ao arbitrio das tiranias.

Oxalá que a experiencia consiga pois radicar no animo de todos esta necessidade que se impõe : crear Ê desenvolver UIU8

organisação na qual as nossas forças acionem comunamente para um trabalho contínuo, de resultados proficuos, sempre tendente á completa realisação das mais rasgadas aspirações humanas.

Um clamor angustiante de revolta vibra em toda a cons-ciência operaria, provocado pela tirania Russa que atravessa iin-pavida e rubra, neste canto de terra de belo sol germinador, e que á sombra duma constituição muda exerce a mais inquisitorial das represalias. Um sopro coroa-do de indignação perpassa agi-tado e febril no seu auge domi-nador, pelos peitos amantes do símbolo imortal da liberdade, que hoje escorraçada pelos adu ladores de hontem, e vergastada pela arma envenenada da calu-nia, afionta corajosa nas almas oprimidas, o estortor da aragem asfixiante que negramente as en-

fodo este mar imenso de san-ta rebeldia que ruge ameaçador e intermitente no ar que absor-vemos, e na vida que transpor-tamos, ha-de ter,—assim o creio —o seu desaguar luminoso de bemaventurança, salvando do naufragio tumular os mortos-vi-vos que agonisam lentamente no fundo das prisões.

Os rnortos-vivos não julguem os leitores que sejam persona-gens fantasticos das mil e uma noites, ou composições invisiveis de espirito que vivem nas re-giões supremas da eternidade, mas sim são os presos por ques-tões sociaes enclausurados há bastante tempo nas diversas bas-tilhas do país, sem culpa forma-da, sómente simples criminosos de opinião por ambicionarem uma sociedade liberta de iniqui-dades e misérias.

São aquelas maquinas vivas de inteligência robusta e cora-ção nobre de, quem a imprensa governamental e burguesa, com um descaramento inaudito, che-ga a rabiscar linguados e lingua-dos de papel com depoimentos falsos, pretendendo demonstrar que os presos estão explendida-mente alojados, sujeitos a um tratamento humaníssimo, e go-zando confortavelmente horas largas de liberdade e alegria.

Os jornaes operários estão au-torisados a desmentir categori-

j camente com enumeras provas essas farçantes mentiras, tenden-tes a desnortear a opinião pu-blica, fazendo supôr que o go-verno trata com supérflua gene-rosidade os proletários encarce-rados, quando eles arrastam pe-nosamente os horrores da reclu-são em poços doentios, arruinan-tes do organismo mais forte, tor-turados material e moralmente por um rancho imundo e insupor-tável^ privados em absoluto dum passeio diário nas explanadas.

Constantemente a imprensa libertaria recebe cartas-protes-tos dos nossos camaradas presos na fortalêsa de Elvas, descreven-do a sua situação deprimente e vexatória, expondo em termos claros e energicos o seu estado

sofrimento ;qup. é. fo que já fez baixar ao hospital gx-ande numero deles.

São estas arbitrariedades, os benefícios venturosos, as pro-messas felizes, alardeadas com tanto vigor e brilhantismo nos tempos da oposição, nestes tem-pos áureos inapagaveis da me-moria pela aureola formosa, bu-rilada de imagens ricas que os revestiam suntuosamente.

Tudo isso eram fantasias que se desvaneceram, loucos sonha-res que o presente brutal apa-gou, sem um sorriso de miseri-córdia.

Agora frente b, frente, com a realidade despida completamen-te de artifícios, o operariado só tem um caminho a seguir, e se obrar com energia sairá da luta vitorioso.

Trabalhadores: os teus cama-radas presos sacrificaram a sua vida e a sua família arrostando contra todas as inclemências da sociedade, para vos libertarem do jugo economico e politico que algemam os vossos pulsos; e vós que sois as alavancas do pro-gresso, e os fatores da riqueza, levantai-vos num movimento de solidariedade e curvai a fronte á tirania, libertando os teus ir-mãos queridos.

Coimbra, 1913.

J . CARREIRA.

Page 22: A Revolta

4 A REVOLTA

fio Povo Considerações a proposito

da comedia eleitoral Uma vez mais o povo foi cha-

mado a escolher os seus deputados os seus seahores; os que no parla mento ou no governo do paiz ado-ptarão sempre as medidas necessá-rias a impedil-o de reclamar os seus direitos.

Quaesquer que fossem os esco-lhidos o resultado será fatalmente o mesmo. O povo não foi fazer mais que escolher os que o hão-de azor-ragar.

Também uma vez mais os que se proposeram, mediante uns «mo-dicos» 3$33, a reger os destinos des-te malfadado paiz, do alto das tri bunas afirmaram que o eleitor, ao fazer uso do voto, se torna sobe-rano.

Bem fictícia é essa soberania! E sucede até quando ele ing

nuamente usou do voto que lhe confiaram não fez senão atar grilhe-tas aos seus pés, pois foi conceder aos outros o direito de se tornarem seus senhores, seus amos; de pensar a seu talante, de obrar e proceder sempre como lhe aprouver, ainda que esse proceder seja contra ele, o eleitor.

Assim, o povo crendo-se sobe-rano, tornou-se escravo.

Os Spartanos e todos os homens escravos da antiguidade só tinham uma paixão: a liberdade; um odio: a servidão; uma aspiração: sêr livre. Torna-se caricato que hoje n'este século das grandes descober-tas cientificas, nascendo os homens todos livres, estes só tenham uma paixão no peito: arranjar senho-

' Pi I I ' Mimirn aifída as varas

com que os carrascos os hão-de azorragar.

Nestes últimos anos tem o povo adquirido um sem numero de exem-plos do que são os homens em que votou. O periodo do inandarinismo republicano mostrou bem que o po-vo, ao votar nos que hoje imperam sobre nós, julgando buscar os seus salvadores não fez mais que mudar o azorrague para as mãos de novos carrascos.

Assim foi e assim será sempre em todos os períodos eleitoraes.

Hoje o mal-estar ó grande, é o protesto freme em todas as almas. As perseguições aos que pensam li-vremente encheram as cadeias do paiz e as casas-matas dos fortes.

Os salvadores desejados conver-teram-se como todos os outros em tiranos do povo. Porque ha-de este, pois, indicar os que o hão-de encer-rar nas prisões, os que hão-de coibir as liberdades de pensar, de reunir, de dizer.

Os carneiros vão para o ma-tadouro; não dizem nada, es-ses, e não jnutrem nenhumas esperanças. Alas pelo menos não votam a favor do maga-réfe que os ha-de matar, do burguez que os ha-de comer.

Nas tribunas esses que se pro-põem a todo o transe subir ás vos-sas espaldas, fazendo plinto da vos-sa miséria e da vossa ignorancia, dizem-vos que sois iguaes a todos e a cada um, que tendes o direito de tomar livremente parto nas dis-cussões que teem por objeto inves-tigar sobre o melhor moio de viver feliz na sociedade; proclama que sois cidadãos eleitores, aptos para gerir os vossos proprios interesses e a obrar segundo as vossas facul-dades, proclamam emfim a vossa

j soberania, mas ao mesmo tempo pe- i exortações, de abraçar j dom- vos para vulunt riaraente vos lhos falaciosos, de vos

esses conse-prestardes a

privardes nem mais nem menos de ! ossa pérfida mistificação, so tendes todos esses direitos, conoedendo-lhe j a cobardia de consentir ein desem-a ele delegação para vos represen- ponhar o vosso papel nesta indigna tar no parlamento. E uma vez ali,' comedia do voto, aviltai-vos; dei-

xaes de ser um individuo livre pa-

[ esse homem que na tribuna vos prometeu obrar segundo uma de-terminada o exposta forma, como procedeu ?

Tendes o exemplo assáz frisan-te em todos os deputados. Todos eles falseiam as suas promessas, to- diretamente sereis vós quem as for-dos vos burlam. Mas se no futuro ijam, a essas correntes, a quem es-não quereis receber os exemplos, tendeu os braços para que vos car se tendes o fraco de atendera essas regassem com elas!

ra vos enterrardes voluntariamente na escravatura, e tereis tanto me-nos coragem de romper as vossas correntes e a sensação das feridas por elas produzidas, quanto mais

flo meu caro amigo Bar-tolomeu Constantino

A Revolução Comunista no México Prisão em Texas de ferverosos f ibe r ts r ios—Impor tan tes detalhes

do movimento O rubro estandarte dos compa-

nheiros mexicanos que ha tanto tem-po pelejam para conseguir para to-dos Terra e Liberdade, cleva-se hoje em vários estados.

Noutros a voz da rebeldia ruge contra os tiranos e da mesma forma ameaça despedaça-los dentro em breve.

A terra e os utensílios de traba-lho vão emfim pertencer aos que em verdade dela devem ser possuidores.

Não mais amos, não mais senhores—eis o lema. Grandes e numerosos núcleos de rebeldes, es-galhados pelos estados mexicanos vão

luta pela consucção das nossas aspirações. A terra a quem a cultiva; para todos eguaes di-reitos, eguaes deveres.

E de armas na mão, pelejando ardorosamente, eles vão conquistan-do, palmo a palmo as generosas aspirações dos libertários. Já nos

não baftando iá o ser ao.ou- atados de Durango, Morelos c Guer-tado, eles fornecem L d a v i í r T f o ^ U ^ u b ^ V l ^ U J u U H > ^ cetim-- k?

nidades livres, cultivando a terra e evantando as colheitas em comum

para a sua alimentação, emquanto o núcleo da sociedade futura é implan-tado ate no ultimo rincão da Repu-blica Mexicana, por agitadores e edu-cadores de todas as partes do mundo.

A' luta ! Pela extinção do Estado, da Propriedade! Pela afirmação da iustiça, pela egualdade!

Uma falange de libertários cum-prindo a sua missão na luta pela iberdade economica do proletariado

mexicano, foram, segundo as ultimas nformações, presos em Texas, de-x>is de uma luta sustentada contra os esbirros do poder.

Tentavam passar a fronteira do estado de Texas. Segundo diz El Tribuno, jornal governamental, eram pottadores duma bandeira rôxa com

lema Tierra y Libertad. Também, segundo diz o mesmo

irnal, os revolucionários haviam artido de «Los Angeles», e tinham

sido dirigidos pelo valoroso camara-da Antonio de P. Araujo, redactor da Regeneràcion, orgão anarquis-ta.

Um telegrama de Springs para mesmo jornal, diz o seguinte:—

As autoridades militares de Engle Pars, Texas, no controle da fron-teira descobriram a pista de um extenso movimento para proclamar uma nova revolução em favor dos «socialistas» de Flot-es Magon que teem o seu quartel general em Los Angeles.

Entre os nossos camaradas pre-sos encontram-se J. M. Rangel, Le-D .7

ao cárcere do eondado Peanall, Te-xas.

— No México preparam-se os revolucionários para tomar o estado de Guarnajuato, a primeira incursão neste estado foi dirigida pelos com-panheiros de Guerrero, que consti-tuíam um núcleo de mais de sete-centos homens.

Ao entrar tomaram e incendia-ram os povos de San Pedro, La Quesera, Los Otates, El Paraíso, Paloma, Quitrue'o, S. Rafael e mui-tos outros.

Na sua maioria os administrado-res foram fuzilados.

— Os revolucionários comunis-tas esperam poder dentro em breve tomar a importante praça de Zaca-ticas. São dirigidos por Tomaz Uri-le, que manda um grupo superior a mil homens.

— Um grupo de 5oo rebeldes tomou de assalto a importante Vila de S. Inácio, no estado de Linaloa.

notteia t tomada, pelos mesmos revolucioná-rios, da praça de Tuxpan, a qual foi

todas as saqueada sendo destruídas linhas telegráficas.

— No estado de Tabasco tam-bém os rebeldes, orientados por ca-maradas, tomaram fazendas, povos, vilas e cidades, aproveitando-se das forças que as autoridades ali dispõem.

— Para se verificar da intensi-dade e importancia do movimento revolucionário mexicano, bastará di-zer-se que no dia 10 de Outubro, os comunistas tomaram a importante praça de Torreon. Os federaes na retirada, tiveram de queimar 1:200 espingardas. A imprensa burgueza diz que 7S burguezes foram justiça-dos.

Pão, Terra e Liberdade! tem sido o lema dos trabalhadores conscientes que de todo o mundo ali foram to-mar parte no sublime movimento.

No México luta-se pela redenção do povo. Os trabalhadores teem nas mãos as armas e no peito convicções.

Sejam eles os vencedores e terá raiado no mundo a era de verdadei-ra liberdade!

Para sair da sua situação rni->

seràvel, o povo só tem tres meios. Os dois primeiros são deixar a ta-berna e a igreja, o terceiro é fazer a Revolução Social.

Miguel Bakounime.

Libertários! „ , Organisae os vossos gru-

a " d r ou R - r

R°sp

a,s ' Luiz Mendonza, p o s e a d e r j á s federações re-Abraham Cisnei os, Pedro Perales e • - . • r quasi todos os valentes que forma-! S l o n a e ® para seraes mais ror-

am o grupo Regeneràcion. R a n - j t e s n a l u t a contra a socieda-gel e outros camaradas recolheram de autoritaria—capitalista.

Dezenas de camaradas nossos, audaciosos revolucionários, inteme-ratos e ferverosos apostolos e evan-gelisadores duma Sociedade Nova o resplandecente de justiça; por aqui passaram neste tão formoso e sorri-dente Algarve, com seus campos floridos de bolas vinhas doiradas, com ranchos de alfarrobeiras com suas folhas denegridas e, seus ca-chos pendentes; onde o sol ó mais brilhante e abrasador; no espaço in-finito bandos alegres de aves trinam aqui inos de amôr ensinando-nos a proclamar a

Liberdade Humana! Por aqui lançaram a semente das mais belas o sublimes ideias de emancipação social.

Joaquim C. Supias, o bondoso apostolo da Anarquia, foi aqui um dos mais estimados o queridos dos camaradas; Bartolomeu [Constanti-no, em todo o Algarve o mais co-nhecido pelas classes trabalhadoras, como o maior e mais audaz o dece-dido propagandista da organisação Operaria. Como agitador da Anar-quia, não houve outro que o egua-lasse.

0 mais robusto e forte tempera-mento revolucionário, orador infla-mável que ardentemente arrebatava as assembleias até ao delirio, loucas de entusiasmo.

Foi também aqui no Algarve o mais perseguido pela canalha capi-talista e torpes autoridades, que o levaram perante um tribunal fran-

ista, sendo condenado ,com a lei h • - —- f . „ • - ... infame cie J 3 de Fevereiro.

Caldeira Feio, Outro mártir da redentora ideia anarquista, vitima também da lei celerada, aqui esteve slguin tempo refugiado, e quando veio a Faro o despresivol João Fran-co, aquele nosso camarada, teve a mais arrojada coragem de se lançar á carruagem, da tigrina féra, gri-tando bem alto a defeza das viti-mas, que em Timor e Bazaruto, ja-ziam por terem propalado ideias de Justiça e Liberdade.

Em Vila Real de Santo, no rio Guadiana, Caldeira movido pelo seu grande espirito altruísta lança-se ao mar e salva uma mulher e uma criança!

A propaganda das soas ideias eram destruidoras mas, no fundo do seu intimo, nutria um grande amor pela humanidade sofredora, sempre possuído dum humano coração e du-ma alma propensa ao sacrifício.

Agostinho Alves, um dos mais valentes camaradas da visinha Es-panha, também esteve aqui em Fa-ro refujiado durante duas semanas, era um dos maiores campiões do nosso grande Ideal, partidario da pan-destruição; dizia: é necessário incendiar toda a sociedade burgueza até pulverisa-la.

Em Faro num dos mais formo-sos arrabaldes da cidade, em pleno campo, onde a natureza é pródiga em benefícios, teve logar uma das' mais belas conferencias de propa-ganda retintamente anarquista até hoje aqui realisada.

Eram duas horas da tarde, es-tando prevenidos com um delicioso balde de fresca agua duma fonte próxima para combater os ardores tropicaes quando o nosso camarada Acracio (pseudonimo) principiou a sua conferencia desenvolvendo o te-ma A União e a Vida.

Page 23: A Revolta

4 A REVOLTA Conseguimos fixar de memoria

alguns dos períodos da brilhante conferencia, entre os quaes os se-guintes: d. falta de qualquer dos membros do corpo humano produz em nós uma vida vil, rasteira e abjecta; a falta do funcionamento das molé-culas tira-nos a vida; para que haja vida épreciso que as moléculas fun-cionem agregadas entre si; o mesmo se dá entre a familia trabalhadora, para que haja vida é preciso a união de todos. Na sociedade presente, vil e corruta, não se vive, vejeta-se, de-finha-se, morre-se; para haver vida é preciso união 6 luta.

Combateu energicamente — com a energia que caraterisa os nossos ca-maradas d'além fronteiras—a egre-ja e a taberna. A egreja, diz, atro fia-nos o cerébro com as suas prati-cas, as suas mistificações, as suas in-famias; não faz homens, faz inver-tidos, maníacos e brutos.

A taberna tira-nos a faculdade de pensar; quem frequenta a taberna é impotente para a luta social e tor-na impotentes os seus filhos,- porque os filhos d"um alcoolisado nunca são sãos, mas sim raquíticos, anêmicos e, na maior parte dos casos, doidos.

Combateu também o parlamen-tarismo e referiu-se com calor e en-tusiasmo aos presos por questões sociaes que jaziam em diversos cár-ceres de Espanha, e terminou di-zendo : No dia em que todos nos unirmos, como um só corpo, com um só pensamento, ai dos tiranos! ai dos exploradores! Só assim poderemos chegar á conquista da fe-licidade e só na Anarquia ha a fe-licidade !

A conferencia, alongou-se até ás 5 horas da tarde, sendo o conferen-te muito aplaudido e felicitado pe-la numerosa assistência, que deban-dou aos vivas a Anarquia e a Re-volução Social!

Diversos grupos de camaradas en-toavam o ino libertário pobsuidos duma fé ardente no luminoso Ideal de Redenção Humana.

Acracio Progresso e João Batista Otero dois destemidos combatentes do sindicalismo revolucionari > e da Anarquia, também aqui estiveram de passagem como prodigos somea-dores do grande ideal de justiça on-de realisaram algumas conferencias sobre o sindicalismo e comunismo anarquista.

A propaganda tem sido aqui no Algarve mais ou menos intensa pe-las conferencias, palestras, reuniões de camaradas que difundem entre os trabalhadores, os conhecimentos da ideia; centenas de manifestos, folhetos, jornaes, revistas e livros também tem sido largamente distri-buídos pelas massas proletarias da região algarvia.

Faro. J O S É FRANCO.

(Continua).

i Revolução Social ó m produto

Aos Libertários de Coimbra rti

A Federação Anarquis ta na Região do Sul, convida todos os anarqu is tas de Coimbra, a reu-nirem hoje, domingo, 30, pelas 12 horas da tarde, na redacção de «A Revolta» á rua Sá Ban-deira, 11—2.°, afim de t ra ta r dum assunto de grande alcance para o desenvolvimento da pro-paganda e organisação anarquis-ta.

Na reunião tomam par te os camaradas F e r n a n d o Gomes e Augus to Quintas como delega-dos da Federação.

Já o dissémos: A revolução eco-nomica é um principio de mecanica social; não pôde impedir-se, não pôde deter-se. Para ela contribue todo o mundo, inclusive seus pro-prios inimigos.

O naturalista que, estudando as plantas e os animaes, os fóseis e as petrificações, estende a ideia da increabilidade do mundo, demons-trando que este existia antes de que Deus tomasse fórma na mentalidade humana, contribue á revolução fu-tura. O astronomo que descortinan-do o universo nota a existencia de milhares de mandos, cuja presença não está consignada em livros que pretenderam ser a fonte da sabedo-ria, quasi todos mais antigos que o que nós habitamos, apezar de ser de uma antiguidade que confunde, concorre também ao advento da no-va sociedade. O filosofo que, tirando consequências das investigações sci-entificas, do modo de ser do homem e da natureza, defende o predomí-nio da razão sobro a fé; o pensador que, utilisando os conhecimentos do fisiólogo e do anatómico, diz que não ha imortalidade da alma por-que não ha alma; o filosofo que se aproveita dos descobrimentos do fisico para negar a providencia e para dizer q ue toda a matéria, mes-mo a que compõe o homem, obedece ás mesmas leis, ao modo de ser de cada sistoma do mundo, de cada planeta, de cada homem, de cada animal, de cada planta, de cada coi-sa, contribue também ao advento da anarquia. Tudo, emfim, concorre para a formação da sociedade igua-litaria e libertadora.

A forca organisada? As insti-tuições armadas, a reunião dos po-derosos, a ignorancia dos pobres, não deterão, não poderão impedir o que ha-de suceder necessariamente, e hão-de vêr, se não impassíveis impotentes, como se derruba o seu mundo, como cáem em fanicos a re-ligião, o poder, a propriedade.

As monarquias hão-de vêr, im-potentes, como em logar do rei da teocracia se põe o rei da democracia, como onde antes estava o nobre se colocou o burguez, como a classe média ocupa o logar que antiga-mente ocupou a classe alta.

Pois impotente também será a burguezia, hoje detentora do poder em monarquias e republicas, como vão caindo todos os seus domínios e poderes para a revolução que leva em seu intimo um novo sistema de artes, de sciencia e de sociologia.

No reino social ha classe e espe-cies, como no reino intelectual e no animal. As classes representam sis-temas de vida; como na natureza, cada grupo uma classe; e em cada especie um ser que apenas se dis-tingue das especies superiores da evolução.

O mesmo acontece em politica. A ideia mais liberal que poude con-ceber o grupo de nobres mais per-feito, serviu de enlace com o grupo mais conservador que formou a clas-se média, e a ultima coneeção desta classe foi a primeira concebida pelo primeiro grupo das especies politi-cas do mundo nascente. E se em cada grupo ha diferentes ideias, ha também diferentes sentimentos, di-ferente arte, diferente sciencia. A nobreza com todas as suas especies e derivações, sustinha a vassalagem, a burguezia e o salario; o trabalha-dor pretende abolir toda a classe de escravidão. A nobreza alimentava o odio de povo a povo, de senhor a senhor; a burguezia mantém o odio ao estrangeiro; o proletário procla-

ma a fraternidade universal. Foram a alquimia e a teologia as duas sci-encias mais importantes da sciencia dos nobres. São a fisica e as mate maticas as sciencias mais elevadas dos burguezes. Serão a química e a sociologia a sciencia do mundo re-clamado pelo trabalhador. A nobre-za acreditou na extinção das pai-xões e propôz-se afoga-las; dahi tan tos iluminados e loucos como pro-duto. A burguezia teme as paixões e crê que educando-as logrará con tê-las, a só as exaspera. Nós, os anar-quistas, queremos a satisfação das paixões, considerando-as uma ne-cessidade do organismo, como a sêde e a fóme. Uma mulher, uma honra e um amor para cada classe, para cada especie evolutiva. E todos os conceitos vão caindo, os do céu co-mo os da terra, vencendo distancias e elementos, vencendo constituições e queimando codigos. A rebelião em pó, sempre e sempre avançando, sempre indomável. Como ha-de ser vencido o espirito de rebeldia, se é a ele que devemos tudo; se mercê dêle o mundo marcha á perfeição, á perfeição infinita ?

Para que narrar a revolução dos escravos contra os seus donos, a dos servos contra os seus senhores, a dos obreiros contra os seus amos ?

Erga-se a manada ! Acima a ple-be ! Levante-se o povo! E o objéto de tanta luta, qual é ? A liberdade. Historia humana, evolução, progres-so: liberdade, sempre liberdade.

Valeria a pena que o homem fosse o ser mais perfeito da nature-za se não pudesse ser livre, se ti-vesse de viver sempre sujeito a re-deas, prohibições e ameaças ? Para que teríamos então pensamento? De que nos serviria fronte tão elevada e rosto tão nobre?

fímfiin, leitor, inclina um pouco a tua cabeça para a terra e verás como esta instituição governativa que quiçá julgas indispensável á boa marcha da sociedade, não serve mais que para colocar amigos dos governantes exigindo-te contribui-ções com o fim de mante-los sem nada fazer.

Frederico Urales.

0 HOMEM EADIV INDAOE Luz! Mais luz ainda!

Goêthe.

Quando nós afirmamos que Deus não existe, entendemos que por esta fórma negamos a exis-tencia do deus pessoal da teo-logia; do deus adorado pelos de-votos de todo o mundo sob vá-rios aspectos e de diversas ma-neiras; do deus oleiro que do na-da cria o universo, do caos a matéria; daquele deus absoluto bom e t i rano ao mesmo tempo, cujos absurdos a t r ibutos repu-gnam á consciência humana .

Bacon, Galileo, Cartesio, essa sublime tr indade que em F r a n -ça, I ta l ia e Ing la te r ra iniciou a filosofia exper imenta l—a scien-cia posi t iva ,—deu tamanho re-pelão na metafísica teologica que abalou dnm ao outro extremo do cosmos esse par to monstruo-so da ignorancia h u m a n a .

Cada descoberta da química, da fisica, da biologia, da scien-

cia antropologica; cada aplica-ção prat ica dos princípios inu-merados são out ras t an tas ma-chadadas aplicadas ao velho edi-fício religioso que pr incipia a derruir .

P a r a a igreja e os seus dou-tores nada existe que não esteja submet ido á influencia divina; e, no entanto , para que se tives-se uma ideia precisa do movi-mento dos corpos celestes foi necessário a observação, a geo-metria (Pi thagoras , Euclides), a sciencia dos pesos especificos, a mecanica (Arcliimedes), a scien-cia da queda dos graves (Gali-leu), a aplicação das secções có-nicas (Keppler), a aplicação da algebra á geometria (Descartes), ojcalculo diferencial (Fermat ,Lei-bnitz, Newton), a analise fEu le r , Lagrange) , a óptica (Newton), o telescopio (Galileu), a dinamica, a sciencia do movimento (La-place) a metereologia.

Eis a lgumas das inúmeras sciencias que foi Ipreciso inven-tar umas após outras, para, em seguida e ao mesmo tempo ser aplicadas, afim de nos elevarmos ao conhecimento do mundo fisi-co; mas se apenas u m a fosse in-ventada, seria impotente pa ra resolver o «como» e explicar o «porquê» de tantos fenomenos da na tureza que aos olhos dos nossos an tepassados passavam por ser cóleras divinas provoca-das pelos pecados dos humanos.

Pa ra nós, o universo, longe de sei- obra do deus tealogico e clerical, não é mais do que a manifestação da matéria, única, eterna, indestrut ível sem princi-pio nem fim. A vida, no seu si-gnificado universal , não é mais que a evolução cont inua da ma-téria, o eterno transformismo, na sua cons tante dissolução e rein-tegração, onde nada se cria nem se destrói.

Atravez dos séculos, desde o pi tecantropos aos nossos dias, o cerebro humano, sempre insaciá-vel na descoberta da verdade, levou-nos ao conhecimento da «célula» que representa o primei-ro momento da vida animal, á mais elevada expressão do gene-ro humano: o homencu

Gulpilhares, 1913.

Giordano Bruno.

A Anarquia perante os tribunaes Edi tado pela Biblioteca «A

Vida», acaba de ser posto á ven-da este magnifico folheto de pro-paganda anarquis ta que consta do notável discurso do advoga-do Pedro Gori , perante o t r ibu-nal de Génova , em defeza de 37 anarquis tas acusados de malfei-tores.

Aconselhamos a sua leitura a todos os estudiosos.

O seu preço é de 60 reis, po-dendo os pedidos acompanhados da respectiva irnportancia ser feitos á Biblioteca «A Vida», rua Chã , 97—Por to .

Page 24: A Revolta

4 A REVOLTA

Movimento Anarquista Federação Anarquista do Sul

O comité federal reunido com os grupos aderentes, em sua sessão de 21-11 resolveu entre outros assun tos, convidar os camaradas anar-quistas conscientes e grupos orga-nisados a federarem-se a fim de assentarmos numa organisação ba-sica, porque se a vida é lutar, lutar é viver, lutamos para não morrer, pois compete aos anarquistas mos-trarem que teem vida.

Resolveu mais convidar os ca-maradas anarquistas de Coimbra a reunirem lioje domingo, 30, a fim de trocarem impressões com dois delegados da Federação que foram nomeados para esse fim e que irão munidos de documentos de apre-sentação.

Pró-presos por questões sociaes

A dois membros do Comité da Federação Anarquista do Sul foi feita por um grupo de anarquistas espanhoes que se achavam de passa-gem por Lisboa, uma saudação aos anarquistas portuguezes e protes-tando energicamente contra o des-potismo governamental em conser-var camaradas presos por questões sociaes.

Esse grupo abriu entre si uma quête que rendeu e entregaram ao nosso camarada Quintas, a quantia de 1^200 réis e um relogio para ser rifado ou vendido para os presos sociaes, sendo resolvido em reunião da Federação entregar á comissão pró-presos.

O comité federal saúda todos os camaradas anarquistas espanhoes.

O Secretario,

Bernardino dos Santos.

Grupo Anarquista «Revolta»

São convidados todos os cama-radas pertencentes e este grupo a reunirem, hoje domingo, pelas 3 horas da tarde, na redacção de «A Revolta», para continuação dos tra-balhos pendentes da ultima reunião sobre os presos por questões sociaes.

Pede-se aos camaradas que não faltem a esta reunião.

Grupo Jovens Libertários

Subordinado a este titulo acaba de se constituir nesta cidade, uma agrupação que tem por fim difun-dir entre as classes trabalhadoras a propaganda das ideias anarquistas.

União Anarquista Algarvia

Cori forme .anunciou o nosso va-lente camarada A Aurora, efetuou-se a projetada reunião de todos os elementos anarquistas de Faro.

Todos reconheceram como uma das mais imperiosas necessidades, o organisarmo-nos fortemente em nú-cleos do propaganda activa e revo-lucionaria para difundir largamente entre os trabalhadores da região Algarvia, os sublimes princípios da emancipação humana.

Assim o compreenderam os ca-maradas de Faro, possuidos de uma grande força de vontade e, cheios de fé no novo ideal a empregarem todas as suas energias no trabalhar pelo progresso rápido da propagan-da do redentor ideal anarquista.

Compreendendo de quanto é útil á propaganda, o dar-se maior im-pulso á organisação anarquista no Algarve, os camaradas de Faro acor-daram na sua ultima reunião efe-ctuada em l i de novembro pp. em

reorganisar a União Anarquista Al-garvia, e neste sentido se pede a to-dos os grupos o camaradas das di-versas localidades do Algarve, que enviem quanto antes as suas adesões á sede da União Anarquista Algar-via, Largo do Pó da Cruz, 24, Faro.

Centro Libertário

Um grupo de camaradas acaba de organisar em Faro, este centro de educação e propaganda anarquista.

Esperam os libertários de Faro que, todos os amigos qne simpáti-sarem coin as doutrinas anarquistas que frequentem o Centro Libertário, onde se porão ao corrente da mar-cha libertadora das classes oprimi-das.

O Libertário

Por se reconhecer a util vanta-gem que traz á propaganda anár-quica, no Algarve, a publicação do jornal 0 Libertário, o grupo editor resolveu em harmonia e de acordo com o Grupo Jovens Libertários a

convidar todos os camaradas do Al-garve a fazer parte do grupo, para a publicação d 0 Libertário. A quan-tia a contribuir 6 de 5$(X)0 róis pa-gaveis a 100 róis por semana, du-rante o ano de 1914, que compete a cada camarada socio do jornal- 0 Libertário será propriedade de todos aqueles que contribuírem com a im-portância acima mencionada e será orgão da União Anarquista Algar-via.

Toda a correspondência deve ser dirigida ao camarada .José Franco, Largo Pó da Cruz, 24, Faro.

Grupo os H e b e l d e s

Lisboa

Convidam-se todos os agrupados a reunirem na próxima quarta-fei-ra, 3, pelas 8 horas da noite, no lo-cal do costume, para se tomarem deliberações que só com a presença de todos se poderá resolver.

0 Secretario.

CANÇÕES L I B E R T A R I A S M O T E

Fina lisa a t i rania, Na Pa t r i a Univeraalj: A 'vante pela Anarquia , Viva a Revolução Social.

Despertae, ó produtores, Se vos quereis emancipar , Para assim vos l iber tar , Dos t iranos opressores, Caminhae t rabalhadores Com firmeKa e valent ia ; Der rubando a burguezia , Vossa obra está feita! Que na sociedade perfeita Final iza a t i rania .

I I

A gloriosa l ibertação Só o Anarquismo a dará; Porque elle de r rubará A a tual organisação; F inda rá com a servidão. Para o povo mundial , Esse sublime Ideal Que dará ao produtor

Jornaes recebidos A Aurora—Semanario comu-

nísta-anarquista brilhantemente re-digido pelo camarada Alves Pereira.

Redacção: rua do Captivo, 16-1.° Porto.

A Comuna — Quinzenário de propaganda anarquista, dirigido por uma pleiade de novos que cheios de fó e entusiasmo lutam pelo ad-vento duma sociedade nova.

Redacção: Praça da Republica, 54—Porto.

Volontá—(Vontade) Semanario de propaganda anarquica, dirigido pelo velho propagandista Henrique Malatesta.

Redacção: Casella Postale, 91,, Ancona, Italia.

La Voz dei Obrero—Decenal I sindicalista revolucionário, orgão ' dos sindicatos obreiros da Corunha, j

Redacção: Socorro, 3, Corunha, Espanha.

H e g e n e r a c i o n — Enérgico o

O Bem, a Paz , o Amor, Na Pa t r i a Universa l .

1 I I

Findemos com os Es t ados Que nos teem oprimido! Que vit imas temos sido Dos seus cruéis a tentados; Revoltae-vos explorados Cont ra toda a v i lania , P ' ra f indar a hipocrisia, E t ransformar a sociedade j Se quereis T e r r a e L ibe rdade , A'vante ftela^Auargnia-

I V

Vamos na re ivindicação Dos nossos sagrados, direitos, Não seremos mais avijeitos, A' torpe, exp loração ; Queremos ter ftvre acção, P a r a nós t ã a f r a t e rna l ; Proletariado, mundia l , Em prol d 'a s an t a egvtaldade, Bradae , r,om nobre h o m b r i d a d e Viva a xievolução Social.

JAIME AUGUSTO.

bem rorientado semanario comunis-ta-anr irquísta, orgão dos rebeldes mexit janos que atualmente se batem pelai rnplantaçg,o do Comunismo Li-vre.

R edacção.- Los Angeles, Estados Unidos da America.

O Sindicalista — Semanario que defende a acção revolucionária para a conquista da eariancipação dos trabalhadores.

Redaccão: rua das Graveas, 55— 1.°—Lisboa.

L e Liberta ire— (O Libertário) Importante semanario orgãcr da Confederação Com unis/ta Anarquis-ta Revolucionaria Franceza.

Redacção: rua Orsál, 15, Paris Salud y Fuerza — Revista

mensal Neo-maltusiana e anarquis-ta .

Redacção: Provenza , 117 pral, 1.°—Barcelona.

La Voz dei Camp esino—Pe-riodico de propagandi i libertaria entre os trabalhadores do campo, de que acabamos de * eceber o n.°

1. Apresenta-se com magnifico as-pecto material e insere como lêma:

A Terra aos trabalhadores. Redacção: Calle Florales, 135,

Barcelona.

Der Freie Arbeiter (O Livro Trabalhador) Semanario orgão da Federação Anarquista Alemã.

Redacção: Oraniente, 187, Stffl, Berlim.

La Batalla Sindicalista— Quinzenário revolucionário, defen-sor das classes oprimidas.

Redacção: Real, 21-3.°, Ferro], Espanha.

Freedom—(Liberdade) Perio-dico comunista anarquista que se publica em Londres.

Redacção: Ossullon, 127, Street, N. W.

La Voz dei Fueblo—Quinze-nário sindicalista revolucionário, orgão dos sindicatos obreiros do Tarrasa.

Redacção: Quemada, 15, Espa-nha.

j Tierra!—Valente campeão do ideal anarquista que vê a luz na Republica de Cuba. Publica-se se-manalmente.

Redacção: Dragones, 31-y-33 Habana.

El Porvenir dei Obrero— Semanario de propaganda anarquis-ta que se publica em Malión, Espa-nha.

Les Temps Nouveaux (Os Tempos Novos) Semanario anarquis-t a - c o m u n i s t a com. u m s u p l e m e n t o literário todas as semanas.

Redacção: Rua da Broca, 4, Pa-ris.

La Accion Obrera -Semana-rio sindicalista revolucionário de Buenes-Aires.

Redaccão: Méjico, 2207, Argen-tina. ' '

Sol idaridad Ob era — Sema-nario sindicalista revolucionário or-gão da Confederação Regional do Trabalho da Catalunha.

Redacção: Calle Pomente, 24-2.°, Barcelona.

A Lanterna—Folha semanal de combate ao clericalismo e de ten-dencias anarquistas.

Redacção: Largo da Só, 5, S. Paulo, Brazil.

O Pro le tár io — Quinzenário sindicalista revolucionário.

Redacção: Largo de Camões, 2-E, Aveiro.

O Grito Social—Quinzenário de tendencias anarquistas.

Redacção: Aradas, Aveiro.

O Libertador — Quinzonario sindicalista revolucionário orgão dos operários tanoeiros do Porto e Gaia.

Redacção: Avenida da Republi-ca, Vila Nova de Gaia.

A todos estes camaradas de lu-ta pela integral emancipação das classes trabalhadoras o nosso abra-ço de solidariedade.

— No proximo numero conti-nuaremos publicando a lista dos jornais que visitam a nossa reda-cção.

Na sociedade socialista todos os meios de produção doam, concen-trados nas mãos do Estado e nào ha modo algum de escolher.

Os atuaes trabalhadores gasam hoje de mais ampla liberdade que a que teriam com a sociedade so-cialista.

Kaustki.

\

Page 25: A Revolta

Preço A O réis

A R E V O L T A Quinzenário orgão da Federação Anarquista na Região do Sul

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇAO

Rua Sá Bandeira, 1 -1 — 2.'

COIMBRA— Portugal

Propriedade da FEDERAÇÃO ANARQUISTA

DIRETOR— A u g u s t o Q u i n t a s EDITOB — J o s é de Azevedo

Composição e impressão

Tip. MINERVA CENTRAL

Rua Tenente Rezende — Aveiro

Organisação Operaria e Organisação Anarquista

No ultimo Congresso Anarquista , realisado este ano em Par is com a assistência dos mais conhecidos elementos libertários da-quela grande cidade, reconheceu-se e formulou-se a conveniência que teem os anarquis tas em acionar nos sindicatos operários.

Porém a decisão ali tomada com o fim de aproveitar a aglo-meração dos t rabalhadores e por tanto dos explorados para lhes ensuflar a ideia da Greve Gerai ExpropríadÔra, mantendo ardente a chama sacrosanta da rebeldia e fazer do sindicato um organis-mo de ativo combate contra o capital , impedindo com os nossos esforços que os t rabalhadores vão cahir nas mãos dos políticos, tai decisão — repet imos — não supõe de forma alguma o abando-no da organisação netamente anarquis ta .

Para aqueles que, como nós hão lido as teorias l ibertarias e concebido a Ideia Anarquista ha alguma coisa de mais grandioso e sublime por que devemos lu ta r ; alguma coisa mais nobre e ma-gnanimo que a luta de classes, mantida pela organisação ope ra -r ia : é a luta pela felicidade universal, pela títumora, pela egual-dade, pela Hbertação humana.

Para os que, como nós. conhecem e anciam ver termina ca essa degladiação que todoí constatamos entre a classe que pro-duz c a que detem a terra e os instrumentos de t rabalho, entre os

ra H*à

que pensam. O reinado das t iranias, dos amos e dos senhores já vai longo. E' preciso p r e p a r a r m o s para a Revolução Social Ex-p r o p r í a d ô r a que ha-de libertar o velho mundo da escravidão se-cular. -

Para isso, libertários, reuni as vossas forças, formai gru-pos, federai-vos!

ajaíawe, d g m „ « t c í s a ' r n a í : , â! VantlST: a CX&J0O fleSSt ftltM saíarté que constitue a moderna escravidão do povo.

Todos os que conhecem o estado que hoje, devido ao progres-so da mecanica. tomou o coiiflito economico, sabem que o au-mento de salario conseguido após extrema luta não modificou de

 HUMANIDADE L I Í E 0 século passado e o principio

do atual até hoje, têm sido fases de conjugação de forças proletarias, de difusão de critica demolidora contra as bases injustas e irracionaes em que assenta a sociedade burgueza, e de construção de vastos planos duina organisação, egualitaria e har-moniosa, duma patria Universal on-de todos os seres humanos encon-trem um certo bem-estar impossi-vei de se obter presentemente.

O século anterior foi essencial-mente demolidor e revolucionário, devido aos ataques soberbos e cer-teiro^. que se vibraram com um ca-lor inflamado de entusiasmo, pela

alma imensa de destruição,

deíeza da Verdade e da Justiçá, nas seculares instituições do estado e da

• P propriedade, qu.; escravisam os cravos c on séahores, ha- «sra* ia+à aia,,; ^wv^ro:-; ; q » - «f,va .ia i ^ ^ a y a ^ v ^ - » - . ^ . - -

,-nue classes, para o ççpseg mento dum W Wf ià . iMi n.HWj.UlÉlítft^ fóÉtf gra»-•^Sm^^^eJ t i íM t , t . • t1| p^fjnfflft desse nu . H H H H

Ainda o ia.puiíionava, embõtó froixauiente, o fogo arrebatador do braseiro ircendido de liberdade, que a Revolução Franceza derramou a jorros sobre o universo inteiro, in-

nenhtima forma a finança do operário, pòis que o patrão, aumen- c a , t i n ^ e r u todos os cérebros,as re-, 1 , ' " " , / . • . 4 . l

e . , 1 vslaçSes modernas aa Ciência, é sus-tondo o custo dos produtos., -mediatamente fara pagar ao opera- ^ ^ ^ ^ o g c o r a ç 5 e s a ge_

veementes e dedicações sublimes que abalaram por todos os lados, o borolento edifício social.

Entre as luminosas e carateristi-cas figuras, que imortalisaram este passado repleto de gloria e de hon-ra notabilisadora, que ha-de ficar eternamente gravado nos anaes das lutas do operariado mundial, sobre-sai nobre e audaciosa, a figura de Bacunine, com o seu perfil de rude batalhador, sempre abrazado pelo clarão de revolta, sempre ilumina-do por uma abnegação altruísta e desinteressada.

Defensor acérrimo dos humildes párias, esto fogoso tribuno das'mul-tidões era a encarnação suprema das aspirações populares, e prodigiosa-mente os alimentou com 0 íolgor da saa palavra eloquente, com o tom decidido e vibrante da sua raas-cula compleixão fisica e moral, com a sua

r io-consumidor o que lhe levou como operar io-produtor . A causa da miséria do operário não está na insignificância do

salario percebido, mas no sisiêma básico da sociedade atual. Por isso nós os anarquistas , p roc lamando a necessidade de

fazer abalar com a persistência da nossa propaganda e da nossa ação revolucionaria os podres alicerces desta cor rupta sociedade, vamos mais longe, a f i rmando : que 8 ques t ão não COnSÍSte no aumento de salario mas na plena e completa modificação do atual estado societário.

Ora , como dizíamos no anterior artigo, para intensificar esta p ropaganda e prat icar esta ação, é preciso congregar os nossos esforços, fortalecendo-nos a s s im; r e u n i n d o — n ã o como na orga-nisação operaria , para o conseguimento de simples reivindica-ç õ e s — , mas para efetivar o triunfo das nossas asp i rações ; para realisar a sociedade perfeita, sem senhores nem escravos, sem ti-ranos nem vassalos, 3 ílnarquia.

Quer isto dizer que devemos abandonar a luta nos sindicatos? De forma alguma. O nosso esforço é necessário em toda a par te onde se luta.

E ' preciso criar consciências no meio operár io , ev i tando sem-pre o jogo que com a massa se propõem fazer todos os políticos que aspiram subir aos plintos do poder.

E ' preciso manter vivo, no seio dos trabalhadores, o espirito de revolta contra as iniquidades e crimes das t i ranias; é preciso preparal-os enfim, a receber e assimilar a propaganda que cá fóra, nos jornaes, no livro, na conferencia hemos de semear a flux, fa-zendo assim germinar nos seus cerebros o Ideai que ha-de eman-cipar a Humanidade.

Para esta propaganda que hemos de levar a efeito é impres

nerosa moral da solidariedade Foi a primeira vez que os deser-

dados da terra fraternisaram na mes-ma comunhão de ideias e sentimen-tos, e lançaram^ ousadamente pelas janelas da Internacional o seu aná-tema vigoroso de protesto, contra a exploração capitalista e contra o despotismo da autoridade.

Este movimento organisador de resistencia operaria, assumiu pro-porções tão notáveis de guerra fran-ca e aberta á desegualdade econo-n}iea, e engrandeceu-o tão fulguran-te chente a avidez emancipadora que regorgitava em todos os peitos dos trabalhadores, que a burguezia as-sustou-se, e aterrada contemplou essa magistral pleiaue de intrépidos lutadores.

E uma repressão furibunda e im placavel, satisfez a larga sêde de vingança dos potentados terrestres, que não desanimaram, enquanto o espectro imponente da Internacio nal não caiu vencido e esfacelado. Mas os agitadores tinham deitado prodigamente á terra, á grande mãe carinhosa e fecunda as sementes li-bertadoras, dum Ideal de Bondade e Amor, que nascia nos horizontes claros das imaginações ardentes, se mentes que germinaram com abun-pancia, cheias de vida, palpitantes (suína seiva fremente que revigora as almas, clareando inteligências, de-

cindivel, se queremos real isar e conseguir algo, a a u p a ç ã o dos fenindo ideaes, resuscitando paixões

"dê parte da sua coragem hercúlea e dos seus arueios revolucionários.

Com a saa morte, a internacio-nal perdeu um dos vultos mais sa-lientes. da mais firme bravura que a parecera ai aa arena libertaria, uma individualidade que gastou todo o seu esforço vital e talentoso, na so-lidificação dessa famosa associação, que pouco tempo depois morria co-berta de triunfos valorosos e dignos.

Desde essa época, até ao princi-pio do nosso século, o anarquis-m o entrou numa fase completamen-te nova de construção, de aturada analise social, de esclarecimento de diversos pontos obscuros da doutri-na que ofuscavam a ideia, e entra-vavam o seu desenvolvimento pro-gressivo na estrada ampla duma transformação radical das socieda-des.

Novas individualidades iminen-tes surgiram, de vasto saber enci-clopédico e de elevada integridade moral, como Kropotkine e Réclus e muitas outras que imprimiram ao Ideal Anarquista, uma orientação cientifica e filosofica, solucionando com um rigoroso critério de verda-de, grande numero de dificuldades e objeções, apresentadas por sábios burguozes no intuito de amesqui-nhar a doutrina, que a consagraram definitivamente, e ergueram esses homens a uma categoria de respei-to e veneração pelo seu prestigio intelectual. Foi com esse concurso valioso de vontades de ferro, de ce -rebros privilegiados, e com um amôr intensissimo devotado á expansão da Verdade e ao culto do Bem, so-mente tendo em vista a felicidade completa da humanidade, é que o movimento socialista-anarquista se robusteceu poderosamente n'estes

Page 26: A Revolta

4 A REVOLTA últimos tempos, sendo hoje a única solução justa, que pode libertar a humanidade sofredora da iniquida-de capitalista e da opressão do es-tado.

Uma sociedade anarquista não constituo hoje, como erradamente se diz e pensa, um conjunto de quime-ras irrealisaveis, nem tam pouco é uma constituição de salteadores on-de predomine a desordem e o in-cêndio. A conceção livre, duma so-ciedade comunista-anarquista, des-abrochou expontanea e natural da asfixiante vida social, que bestialisa as inteligências, e depaupera fisica-mente os homens, das manifestas tendencias individuaes para a soli-dariedade humana, das péssimas

condições economicas em que vege-tam as classes trabalhadoras, das injustiças flagrantes quo dividem os homens, porque os instrumentos do trabalho e os frutos da riqueza se conservam nas mãos duma minoria ociosa, enquanto a grande maioria produtora vive na escravidão e na miséria.

Uma sociedade anarquista Ana-lisa com todos estes sofrimentos, or-ganisando o funcionamento das so-ciedades baseadas no livre acordo, no trabalho voluntário, na maxima liberdade, condições bastante neces-sárias para que a humanidade seja verdadeiramente livre.

J. Carreira.

Sindicalismo Reformista e Anarquismo

Custa vêr, logo após o esfriar dos ardores revolucionários, mani-festar-se o desejo de discutir as teo-rias, de revisar os métodos e d e . . . formular conclusões diametralmen-te opostas ás afirmações feitas du-rante os períodos belicosos.

Ha algum tempo que todos os mé-todos d'ação do sindicalismo obrei-ro sofrem uma analise dialética, ou por outra passam por uma tritura-ção laboriosa; isto com o único fim de converter num reformismo cal-mante as veleidades de insubmissão que surgissem ainda no seio do povo.

Reconheceram que as greves eram demasiado numerosas e mal preparadas; que não refletiam devi-damente, antes de as declarar, nas dolorosas consequências que elas acarretavam; que, por outro lado, a sua espontaneidade e a sua forma batalhadora nem sempre denotavam um perfeito çanhecimonto dà aíffclj situação onde elas se declaravam. Que conhecem os conflitos economi-cos desencadeados pela embalagem irrefletida provocada pelos irrespon-

Os homens que glorificam uma estreiteza de luta puramente corpo-rativa, que restringem o campo de combate do sindicalismo e limitam o emprego dos meios de guerra que possuem os salariados, esses homens são sinceros ?

Teem eles uma opinião que pos-sa ser discutida. Eu não o creio. Eles não são sinceros e a sua opi-nião não é mais que a expressão du-ma consciência interessada na or-dem de coisas existentes.

Mas esses sindicalistas e o chefe do partido socialista unificado não são os revolucionários. Os primei-ros, tirando o espirito de revolta aos explorados, preparam os pacien-

' tes, os servis, que se volvem desor-ganisadores. 0 segundo, Jaurés, com-bateado a Sabotage arranca das mãos dos trabalhadores a arma mais forte de que dispõem contra os seus PIMPiffPS • .n.,rrt I • >-'1

sáveis, com as suas «excitações de-magógicas», para levar os movimen tos operários para um campo poli-tico, quando, pelo contrario, eles não deviam jamais afastar-se do terreno puramente corporativo que lhes era conveniente.

A respeito da Gréve geral, este espantoso grito de guerra que tanta vez tem feito tremer os ex-ploradores, eles dizem, como de pas-sagem, reconhecer que não tinha mais prestigio que a de classe.

E o mesmo dizem da Ação di-réta. Se este método deu perfeitos resultados, não sucede hoje o mes-mo, com um patronato organisado e os agentes da ordem mantidos per-manentemente.

Emfim, a S a b o t a g e ! Que di-zem agora desta pratica de luta tão assoladora e ruinosa para os patrões? Seria excelente noutros tempos, mas, ao presente, a sua eficacia é contes-tável. Nós diremos mais : a Sabo-tage volta-se contra os que a exer-cem e acusa da sua parte uma certa depressão moral. Abate a sua di-gnidade e leva-os ao nivel dos bru-tos. Jamais a honra da classe tra-balhadora baixaria, se não tivesse recorrido a uma destruição sistemá-tica das matérias primas e a uma delapidação dos instrumentos de tra-balho. £ ' uma desqualificação da sua personagem o esmagar o seu produto; é desonrar-se, o destruir a obra modelada pelas suas mãos e elaborada pelo seu cerebro.

Eis o que clamam e proclamam os assagis do sindicalismo e os gran-des retoricos da politica.

testa do sindicalismo insultam os que lealmente contradizem e com-batem o seu reformismo conserva-dor, fazem obra anti-revolucionaria. E quando Jaurés, na Humanitê, pre-tende fazer passar os saboteurs por simples ladrões, nós podemos dizer que este chefe politico é ura calu-niador servindo os moveis interesses de vulgares políticos.

A campanha eleitoral aproxima-se: ser-nos-ha dado provar que não temos sido injustamente severos nas nossas qualificações.

E' demasiado civismo, vir falar-nos de ponto d'honra, de dignidade obreira, de salariato honesto.

Fóra! Imprudentes que sob o pretexto de nos proteger, nos cin-tura o corpo para impedir de nos defendermos e permitir aos nossos adversarios esmagar-nos impune-mente.

Roubam-nos a nossa liberdade de homens, a nossa subsistência e não temos o direito de revolta? E então os falsos irmãos que nos atrai-çoam; os mandantes que pactuam com os nossos amos; os policias que carregam sobre nós e a tropa que nos espadeira ? Não devemos defen-der-nos por todos os meios e usar a Sabotage ?

Sim,—não acrediteis Jaurés—a Sabotage é um precioso meio de luta de que nós não fazemos ainda o necessário uso. Este meio tem uma vantagem sobre todos os ou-tros : é que ele pôde corresponder a todas as fases de batalha. Não so-mente ele pôde ser empregado nas duas taticas : ofensiva e defensiva, mas ele pôde ainda fazer a coersã^.; a ruina do banqueiro, tornando im-possível a vida social presente, se

formos tenazes na nossa acção de combatentes.

Não tomos que fazer sentimen-talismo com os que nos oprimem. Os nossos exploradores não exitam em nos roubar, saboteando, sem pie-dade, a nossa existencia para enri-quecer. E não'' analisaremos as ver-gonhas e as mizerias que os sabo-teurs burguezes nos impõem.

Ah! não, que isto basta. A Revolução Social que se an-

nuncia será talvez a degladiação das boas e peores paixões. Mas seja o que fôr que nesse momento se pre-sencie, não nos será dado vêr coisas tão odiosas, tão ferozmente aversi-veis, tão torturantes e tão hipócri-tas como as que nos rodeiam.

E vós sindicalistas timoratos ou adormecidos, sacudi o vosso torpor: vindo engrossar as fileiras dos sabo-teurs, dos verdadeiros Anarquistas Comunistas Revolucionários: sereis bem recebidos.

(De Le Libertaire ).

Michel. *.* N . d a JR.—O presente artigo publicado

em fundo com a epigrafe Ne dédai-gnons pas les moyens d'action no bri-lhante bi-semanario de Pariz, dirigido por Sebastião Faure, constitue uma resposta ás declarações feitas por Mer-rhein na conferencia por este realisada nas Bolsas do Trabalho, no decorrer da qual foram pronunciadas as seguin-te s frases : E' preciso que a Confede-ração Geral do Trabalho não seja a presa de uma seita, quer de anarquis-tas quer de irresponsáveis. As greves geraes continuas devem ser postas de parte. A acção social demasiada pre-judica a acção corporativa.

0 Congresso Nscioosl Operário

Deve realisar-se pelos fins de janei ro e princípios de Fevereiro um Congresso Operário, ria ci-

Quantto os home«e~*fue estão á- dade de Tomar , com o fim de unificar a família proletária, na Confederação Nacional do Tra-balho.

Será esse Congresso uma de-monstração das forças proletá-rias do paiz contra quem os go-vernos da Republica hão feito toda a casta de perseguições, to-lhendo-lhes o passo a cada ins taiite, j á perseguindo os seus tne-li tantes, j á encerrando as sédes das suas associações.

Nos últ imos tempos os gover-nos teem mant ido dentro das prisões a maior par te dos mili-tantes operários, precisamente aqueles que mais a lguma coisa podiam fazer nessa grande reu-nião, a efe tuar com o intento da realisação dum organismo de combate solido.

Segundo as discussões que te-mos acompanhado na imprensa, nessa reunião não se discutirá a tatica que a C. N. T . deve se-guir uma vez organisada. Tem dito o camarada Carlos Rates que uma vez dentro da Confe-deração se discutirá a melhor forma de a orientar.

Nós somos Sindicalistas Revo-lucionários e por isto mesmo opi-namos que nessa g rande parada se discuta a tatica a adotar , fa-zendo vêr, ao mesmo tempo, a todos os governantes e aos que o pretendem ser que a classe operaria não é j á o que eles pen-

sam : uma escada que conduz ao poleiro, e onde uma vez lá se não cuida nunca naqueles que serviram de degrau.

A questão da tatica a adotar é precisamente uma das coisas que mais interessa á classe ope-raria, visto que o Congresso é organisado por elementos refor-mistas os quaes certamente, uma vez no Congresso, hão-de defen-der por qualquer modo a tatica reformista. J á Mário Nogueira nos seus art igos no Socialista tem pretendido defender a tatica de que é part idario, no que tem sido contradito pelo camarada Eates, isto é, só no que respeita ás Bolsas e ao Ins t i tu to do T r a -balho, que quan to ao resto fica para dentro da Confederação, no que não concordamos, pois, se-gundo a nossa forma de vêr des-de j á se devia fazer a mais la rga propaganda do método revolu-cionário, pa ra este ser discutido, visto que os reformistas hão-de pretender impôr o seu método, como sucedeu em todos os con-gressos realisados antes de 1909, congressos em que eles teem en-trado e pugnado sempre pelo re-formismo, tentando até tomar & organisação operaria como um baluar te do Part ido Socialista.

Não devemos por qualquer forma deixar que a organisação operaria cáia nas mãos dos ele-mentos reformistas, e muito mo-nos naqueles que andam emb • -nhados na politica.

Manuel d'Abreu *

. - — •• JP*.A-' - «R "

N. R.—Sobre o mesmo assunto to-mos em nosso poder um arr> do camarada Oscar í landslsy^ue publicaremos no proximo nu-mero,

A redação reserva-se o direito de se pronunciar ulteriormente sobre a presente questão.

A Anarqu E' um erro empregar a pa-

lavra Anarquia como sinóni-mos de violência, pois são coisas opostas.

No presente estado social, a violência a cada momento se emprega e por isso nós também propagamos a vio-lência, porém, somente con-tra a violência, c o m o um meio necessário para a defe^ za.

A Anarquia é a ordem sem governo.

Nós, os anarquistas cremos que se avisinhem os tempos em que os explorados l eclr marão seus direitos aos ex-ploradores e cremos ainda que a maioria do povo, os trabalhadores da cidade e dos campos revelar-se-hão contra a burguezia de hoje.

Mignol Schwab.

Anárquico é o pensamento hu-mano e para a Anarquia caminha a Historia.

Juan l i o vi o.

Page 27: A Revolta

4 A REVOLTA

A REVOLUÇÃO MEXICANA Os jornaes burguezes inserem

largas referencias sobre o movimen-to politico do México.

Depois do assassinato dos irmãos Madero, o ditador Huerta proseguiu na série dos seus crimes; Felix Dias voltou ao México para de novo dis-putar a presidencia e reocupar o poder de onde ha anos havia sido deposto; o partido de Carranza, em luta, ganha terreno; os Estados Unidos entreveem para apoiar este sait-ãisant liberal contra Huerta.

Taes são, em resumo, os factos plenamente referidos pela imprensa mercenaria.

Mas, quer com o apoio dos Es-tados Unidos, o reaccionário Huerta seja substituído por Carranza, quer não, nada fará mudar durante lon-go tempo ainda a situação, não nos privando de vêr, quiçá por alguns anos, o territorio mexicano invadi-do pelo fogo e regado por rios de sangue.

A propaganda levada a efeito ali pelos camaradas anarquistas, a lição colhida pelos Jaquis da leitu-ra do manifesto dos libertários, re-digido por Magon, foi tão completa que hoje os chefes carranzistas só conseguem substituir as suas tro-pas com a promessa de distribuir as terras aos camponezes.

Mas como estes carranzistas egualmente aspiram á conquista do poder, os anarquistas-comunistas combatem-nos com o mesmo ardor com que perseguem as tropas fede-rais de Huerta.

Ult imas noticias Por noticias chegadas do campo

revolucionário e insertas no jornal burguez El Imparcial e ainda completadas com as directamente <'olhidás pelos camaradas de R e -feneracióll, sabe-jse que no e«ta-; i dè Sonora tres mil indios arma-

dos de espingardas e dispondo de munições, tomaram os povos de Pal-ma, Bacun, Cocorit e Tórin, travan-do combate com as tropas de May-;orena, a quem derrotaram, tendo

j em seguida incendiado os quartéis e os principais edifícios, proclaman-do-se únicos donos daquelas re giões.

= Perto da estação de Las Ta-blas os revolucionários comunistas fizeram parar um comboio de mer cadorias apoderando-se destas e fa-zendo voar em seguida a locomoto-ra com o auxilio de uma forte caixa de dinamite.

— Também um comboio de pas-sageiros que havia partido de Pue-bla com destino á Capital, foi assal-tado, tendo sido fusilados dois te-nentes do exercito federal.

— Los Reyes, cahiu em poder dos chamados bandidos, sem neces-sidade de disparar um só tiro, pois ao aproximarem-se os burguezes reuniram mandando uma comissão a pedir que entrassem pacificamen-te. Os rebeldes exigiram imediata-mente dois mil pesos em ouro para a revolução, quantia que lhes foi entregue. No dia seguinte voltaram exigindo dinheiro, cavalos e outros plementos de guerra.

— Os revolucionários tomaram a rica mina de carvão denominada jRosita de que foi detentora-a fami-lia do tirano Madero.

— Os jornaes burguezes do Mé-xico referem que os rebeldes se apo deraram duma vasta região entre Coaxacoalcos e Alvasado. Diz a mesma informação que os bandidos s& entregam á mais desenfreada pi-lhagem, como os burguezes chamam á expropriação dos bens naturaes e a tudo produzido pelo homem labo-rioso e que por milhares de anos tem estado nas mãos de uma mino-ria enquanto a maioria morria de fome.

No México inicia-se a grande re-volução anunciada por tantos pen-sadores.

Talvez que bem depressa possa-mos ver o mundo inteiro seguir tão nobre exemplo para pôr fim a esta já longa luta e exploração do Ho-mem pelo Homem.

NO ALGARVE a o meu caro amigo Bar-

tolomeu Constantino v i

Em 1906, fundou-se em Faro o G rupo Jovens Libertários, e, em 11 do Novembro do mesmo ano o gru-po ínzia publicar um manifesto aos trabalhadores do Algarve, comemo-rando a data tragica do assassinato dos anarquistas de Chicago.

O manifesto foi apreendido pela policia e presos diversos camaradas. Motivou a apreensão do dito mani-festo, o publicar algumas palavras proferidas pelo mártir da ideia anar-quista Augusto Spies, no tribunal de Chicago perante o juiz que o condenou á morte:

Quereis acabar com os agi-tadores? Aniquilai os patrões que ajuntam as suas fortunas com o trabalho dos operários; acabai com os detentores da terra que acumulam tesouros com a?s rendas que arrancam IOS miseráveis e esquálidos

lavradores; destruí as maqui-nas que revolucionam a in-dustria e a agricultura; que multiplicam a produção, ar-

ruinam o produtor e enrique-cem as nações ; suprimi o ca-minho de ferro, o telefone, o telegrafo, a navegação, o va-por, suprimi-vos a vós mes-mos, porque excitaes o espi-rito revolucionário...»

Após a publicação do manifesto surgiram as perseguições á propa-ganda anarquista, havendo no mo-mento por parte dum grupo de ca-maradas, mais alento e mais vigor para a luta, na defeza do grande e alevantado Ideal da Felicidade Hu-mana !

Mas. . . os outros camaradas co-meçavam por fugir cobardemente do nosso campo de batalha em prol da Anarquia. Depois vieram os po-líticos, a dizer-nos que era preciso primeiro de que tudo fazer-se a Re-publica e, que logo a seguir, as ideias dos operários eram um ins-tante a ser um facto. O maior nu-mero de camaradas deixaram-se ir arrastados com as promessas dos políticos intrujões, e, ainda outros, fizerana-nos uma guerra atroz, infa-mando vilmente as ideias que di-ziam lhes ser sagradas; continuan-do, ainda hoje, esses reles renega-dos, quão nojentos transfugas, a procederem contra as ideias anar-quistas que hontem pareciam ser defensores, colocados agora duma maneira tão imbecil e canalha den-tro do partido socialista de game-

l a . . . Devido a toda esta lama què tanto sujou os principios, é que a propaganda bastante afrouxara, so-frendo a ideia um grande atrazo no Algarve, principalmente em Faro.

Desde 1906 a 1912, quasi nada se poude fazer de util, em prol da propaganda anarquica, devida ao di-minuto numero de camaradas que fazia a sua difusão.

Em 1908, constituia-se em Faro um pequeno grupo de camaradas, com a denominação de Livres, em 18 de Março do mesmo ano efetua-ram uma sessão de propaganda na Associação dos Operários Sapatei-ros, comemorando a data revolucio-naria da Comum de Paris-, fez-se também no mesmo sentido, espalhar aos proletários, um energico mani-festo de homenagem aos mártires da Comuna. Após este trabalho de propaganda, o Grupo Livres parali-sou a sua ação.

Em 1909, em Monchique, funda-va-se o grupo Paz e Liberdade, que desenvolveu uma ativa propa-ganda entre os trabalhadores do cam-po; aderiu também ao protesto pró-vitimas da tirania japoneza.

Em 1911, em Faro, organisava-se de novo, o grupo Jovens Li-bertários, dando a sua adesão á Federação Anarquista na Região do Sul, e, quando esta - federação em 11, 12 e 18 de Novembro do mesmo ano, efetuava o 1.° Congresso Anar-quista em Portugal, o grupo fez-se representar por um seu delegado nessas grandiosas reuniões de Con-fraternisação Anarquista.

Foi a partir desta data, que ou-tra vez no Algarve, irrompem de novo o dar-se o segundo impulso á propaganda do desenvolvimento das ideias comunistas-anarquistas.

Assim o Grupo Jovens Libertá-rios movido dum grande entusias-mo e uma poderosa força de vonta-de em favor do ideal da emancipa-ção proletaria, lança-se intrepida-mente no vasto eanrpô da luta so-cial a pelejar pelas mais sãs reivin-dicações humanas!

Em 13 de outubro de 1912 saiu em Faro o 1.° numero d '0 Liber-tário que foi o primeiro jornal anarquista até hoje no Algarve; hou-ve ao mesmo tempo a tentativa da organisação da União Anarquis-ta Algarvia. Em Portimão forma-va-se o grupo Verdade, em Olhão o grupo Fi lhos do Sol e em Bo-liqueime ainda se chegou a organi-saiv o grupo Homens Livres e aqui em Faro acaba-se de organisar o Centro Libertário e, breve rea-parece O Libertário, que dará um grande avanço á propaganda do su-blime e redentor ideal anarquista, na provincia do Algarve.

Camaradas! Trabalhadores! Despertai para onde o Sol da Li-

berdade se levanta; indicando-nos a rapida marcha para a inevitável e grandiosa Revolução Anarquis-ta! . . .

A sociedade atual está infame e pessimamente organisada na explo-ração do homem pelo homem, ó ne-cessário que nós os anarquistas, fa-çamos o máximo de esforços bem combinados, para que no ataque de-cisivo e revolucionário que lhe pre-tendemos dar no já proximo futuro sáiamos triunfantes legando á Nova Humanidade ditosos dias de felici-dade numa era de paz, justiça e «amor.

Cumpre-nos a nós os anarquis-tas, sermos os primeiros a irmos fa-zer entre os trabalhadores das cida-des e dos campos a propaganda das nossas ideias generosas e lutarmos in-trepidamente em defeza dessa imen-sa multidão proletaria, enorme le-gião faminta e escrava que produz todas as riquezas sociaes, que a la-

dra burguezia se ufana de gozar o que constituo uma vergonha á luz do progresso e da civilisação.

Povo traball ador: quando será que para ti chegue a soár a hora da tua integral emancipação? Quando tu nos deres as mãos e impôres-te contra quem te explora e oprime.

Ergue-te e vem depressa conos-co enveredarmos pelo caminho que conduz á nossa emancipação econo-mica e social. E então, só então nascerá para ti oh! escravo moder-no, uma nova aurora de justiça e liberdade — o Comunismo Anar-quista.

Terminando dedico também es-tas minhas palavras a todos os des-erdados da terra e ao mesmo tempo saúdo a grande Familia Anarquista que se espalha por todo o orbe ter-restre.

Um abraço fraternal a Bartolo-meu Constantino como um dos mais bravos propagandistas do Anarquis-mo em Portugal.

( Conclusão) JOSÉ FBANCO.

— — a —

Não ha patrias; dum pólo ao outro, só vejo tiranos e escravos.

Diderot.

A Mirrriiío As religiões em geral e especial-

mente a católica, cuja preponderân-cia é manifesta na raça latina, im-põe como obrigação, sitie <juo non aos seus prosélitos que aceitem in-tegralmente sem queixumes nem re-paros as sentenças que do alto do sanhedrim romano, o chefe da egre-ja, como bom pastor, dita as suas ovelhas que aspiram a melhores mundos no além tumulo. Mas não é só esta. As demais religiões per-sistem ITO mesnWerrò.

Os metafísicos religiosos, os ilus-tres psicologos que se entreteem com o estudo sobre a imortalidade da alma, os doutos e insignes varões ilustres da igreja, não se cançam de predicar que os seus discípulos e adeptos devem desprender-se em absoluto das coisas terrenas onde tu-do é passageiro, para depois da mor-te obterem no reino dos ceus um logar de honra para toda a eterni-dade.

E' tal e tão acendrado o odio que esses asseclas de deus dedicam

especie humana, que não trepi-dam ante os meios a empregar pa-ra insuflar no espirito do individuo a ideia de que a saúde corporal, a beleza, o amor, os bens terrenos emfim, são coisas despresiveis com-paradas com a salvação da alma.

O exame de consciência, pratica-do pelos ascetas, é uma escola de degeneração e de desmoralisação, verdadeiro estendal de misérias so-ciais desfiadas uma a uma ante os olhos do penitente afim de desper-tar no seu intimo um sentimento de humildade que reduz o individuo á condição de automato.

Já os filosofes da escola de Stir-ner e Nietzsche ridicularisavam a moral católica classificando-a de mo-ral dos escravos-, de facto, quando assim procediam, tinham a visão nitida de que semelhante sistema, apoiando-se no miserável e no abje-cto buscavam reduzir as ambições humanas no globo terráqueo, rele-gando-as para uns mundos imagi-nados, fora do ambiente que nos rodeia, quando tal felicidade a de-vemos procurar nas forças da Na-tureza que nos cercam.

Procurar, pois, a felicidade em mundos imaginarios, é o peor de to-dos os sistemas, mas que serve a cas-

Page 28: A Revolta

4 A REVOLTA ta sacerdotal ás mil maravilhas, para se tornarem os únicos e exclusivos directores no mundo real, o único mundo onde existe a felicidade po-sitiva.

A moral, hoje, é uma sciencia separada da religião e sem necessi-dade de ajuda alguma desta, nos domínios do mundo real. Os padres e os catolicos, pore'm, não o enten-dem assim, e, para eles, não é possí-vel moral sem religião.

A justiça, é a única moral em torno da qual devem girar todas as virtudes. Ora, nas religiões, o me-nos que se encontra e' justiça; e tan-to isto é certo quanto mais os apos-tolos das religiões pretendem para si o único poder na terra: o de ter a humanidade produtora ajoelhada a seus pés numa atitude de submissão que repugna e repulsa á consciência humana.

Gulpilhares, igi3. Geordano Bruno.

B I B L I S R U B R B A sentença que condena á morte

os Vaillants é impotente para su-primir ou sequer assustar o Anar-quismo.

Está demonstrado, e pela pró-pria policia, que, desde as primei-ras repressões, o numero de anar-quistas tem crescido na proporção de u m para m i l . •

.Pense-se o que será (quando Vaillant é guilhotinado) uma reu-nião secretai de anarquistas, dos verdadeiros, dos puros, desses mi-lhares de Operários de coração ge-neroso e exaltado, para Que o Ana,rqms°no é a v&r-ãadaira. reden-ção da humanidade, e que admi-ram no homem que se sacrificou por essa ideia santa, nm mártir do amor dos homens.

E quando a sociedade mata os anarquistas — é a sociedade, que fabrica, as bombas.

E Ç A DE Q U E I R O Z .

Além fronteiras França

M O V I M E N T O ANARQUISTA

Para elucidação de todos os camaradas que desejem comuni-car com as federações anarquis-tas de F rança , damos a seguir as respetivas m o r a d a s :

Fedêracion Comuniste Anar-quiste Revolutionaire. — 5, Rue Henri-— Chevreau—Paris.

Fedêracion Comuniste Anar-quiste du Centre. —43, Rue Mon-tmailler—Limoges.

Fedêracion Anarquiste du Sud-Est.—17,.Rue Marignam—Lyon.

— Noticia Le Temps Noveaux de Paris , que por todo o corren-te mez se distribuirá por todos os sindicatos operários de F r a n -ça uma brochura do camarada Pierrot , com o t i tulo Socialismo

e Sindicalismo, com o fim de res-ponder aos a taques dos sindica-listas e fazer conhecer o ponto de vista anarqu is ta , na actual controvérsia entre sindicalistas e anarquis tas .

Após sua saída. A Revolta dar-Ihe-ha publ ic idade nas stuss co-lunas.

Cuba CONDENAÇÃO A F R O N T O S A

- O t r ibuna l do Camaguey , con-denou o camarada Evar is to Vas-quez L lano , a pr isão perpe tua . 0 defensor, dr. Zayas , apelou para o Supremo Tr ibuna l .

O cos .ité encarregado da sua defeza, não desanima e segue a sua humani t a r i a campanha , re-cordando aos companheiros te todo o mundo que a inda é te t o de a r r anca r a vítima das garras da burguezia .

Que todos enviem ao presiden-te da Republica C u b a n a o pro testo reclamando a l ibertação de V a s q u e z !

China P E R S E G U I Ç Ã O Á I M P R E N S A

ANARQUISTA

Os libertários do chamado Ce-leste Império que no mez de se-tembro começaram ali edi tando um semanario arlarq nista. . em chinez e esperanto, eoiít 'o4 l i 'ah? La Vôco de la Popóto (A Voz do Povo), enviaram á imprensa anar-quis ta de lodos os paizea, uma comunicação na quai fazem scl-ente que o govérno cumes, im-pediu a publicação do jornal por temer a difusão dos princípios anarqu i s tas .

Esses denodados camaradas resolveram cont inuar , dentro em breve, a ana publicação em Ma-cau, pa ra onde se dir igiram.

A nova direcção do jo rna l é : Sifo, 41, R u a da Pra ia Grrande — M a c a u .

Construccãs Civil de [vera A direcção da Associação Evo-

rense de Classes de Cons t rucção Civil e Artes Auxiliares, partici-pa a todos os sindicatos operá-rios do paiz que j á reabriu a sua nova séde, na rua Pedro Simões, 22, Évora , para onde deve ser dirigida toda a correspondência .

Pela Direcção,

Manuel dos Santos Peixe.

FERRO VIÁRIOS

Com larga concorrência realisou-se no ultimo domingo, na União Geral dos Trabalhadores, um comí-cio publico promovido por estes ca^ maradas, em favor das suas justas reivindicações. Usaram da palavra entre outros orador .s os camaradas Sergio Príncipe e José Gomes,, que atacaram energicamente as infamias cometidas pela companhia contra a numerosa familia Ferro Viaria, e defenderam a acção revolucionaria como meio de terminar a vil explo-

ração de que são vitimas por parte da gananciosa companhia.

Foi aprovada por aclamação uma moção de protesto contra a tirania governamental.

Aos assinantes de Évora e Leiria

Prevenimos os nossos assinan-tes destas localidades de qne va-mos proceder á cobrança das ass ina turas em séries de 10 nú-meros, 130 réis, incluindo o por-te do correio.

A -estes, por tan to , pedimos que, caso saiam, deixem em casa a importancia do seu debito, pa-ra evitar embaraços á adminis-tração

?\OS A G E N T E S

Mais uma vez rogamos aos nossos agentes, a l iquidação das suas contas para com a adminis-tração deste jo rna l .

A Revolta é uma publicação exclusivamente de propaganda anarquis ta .

Todos os que mais activamen-te nela cooperam, são trabalha-dores que n e n h u m a recompensa auferem pelo seu t rabalho.

Parece-nos, pois, jus to que sejamos atendidos o mais pron-tamente possivel.

Movimento Anarquista Juventude Liber tar ia

Na séde da União Geral dos 'Tr,ib«Vh%dare.<?.. realjsttji.-ae ng. penúlt imo domingo a primeira conferencia duma série que os camaradas da Juventude Liber-taria vão levar a efeito para es-palhar a educação libertaria no seio das classes opr imidas .

Foi conferente o propagandis-ta F e r n a n d o Gromes que disser-tou por largo tempo sobre O Anarquismo, e com aquela desenvol tura que lhe é peculiar, demonstrou o beneficio que t raz para a H u m a n i d a d e o sublime Ideal Anarquis ta . Com mui ta clareza fez vêr á assistência que a terra é per tença de todos aque-les que t rabalham, e não desses que vivem explorando a classe t rabalhadora .

Concluiu dizendo que o povo só será feliz quando se l ibertar da tutela dos Es tados e da poli-tica, proc lamando 3 Anarquia em toda a terra .

O conferente foi durante a sua palestra escutado pela assemblêa no meio dum profundo silencio.

Saudamos os nossos camara-das da Juventude Libertaria pela sua bela iniciativa, e que não esmoreçam na propaganda pelos principios da verdadeira liber-dade.

Grupo Anarquista «Revolta» Reúne hoje, domingo, pelas 12

horas do dia, con jun tamente com g rande numero de camaradas ,

para t ra ta r de assuntos que di zem respeito á p ropaganda anar -quis ta .

A reunião realisa-se na reda-cção da «Revolta».

Gabinete de Leitura Os jornaes e revistas de que

recebemos permuta , e os folhetos e li vros que nos forem oferecidos, estão postos á lei tura livre dos camaradas e de todas as pessoas que s impatisam com as doutri-nas anarquis tas .

A nossa redacção, onde se en-contra instalado o gabinete de lei tura, ençontra-sé aberta todos os domingos das 9 horas da ma-nhã ás 5 da tarde.

Federação Anarquista no Sul Reuniu o Comité Central j u n -

tamente com os grupos União das Mulheres Anarquistas, Re-beldes, 26 de Novembro, Fiihos da Revolta, Sol Universal e Bra-ço e Cerebro, de Por ta legre , re-solvendo aderir a todos os mo-vimentos de libertação, quer se-j am em favor dos camaradas pre-sos quer em favor dos t raba lha-dores esmagados pela acção bru-tal do capitalismo. Protestou con-tra o criminoso silencio da Asso-ciação do Registo Civil e Liga dos Direitos e Defeza do Homem em face da prepoteneia governa-mental que conserva encarcera-dos nau prisões da Republ ica os livres pensadores portuguezes que se não curvam perante o ti-rano Afonso Costa.

Foi lida i apreciada uma car-ta do csnmuv. ia Cipriano Proen-

j a , pr-. so rio Limoeiro por uma 'falsa -fei uiiiiH descrevendo o seu p r e ç á r i o estado,e de sua com-panheira que se encontra tuber-culosa, com tres filhos de tenra edade. Sobre este assun to resol-veu oficiar á Associação dos Gra-zomistas pedindo a cedencia das suas salas afim de se dar ali um beneficio. E m face de sej- uma obra justa e humani tar ia , a Fe -deração roga a todos os camara-das anarquis tas e homens de co-ração o seu apoio moral e ma-terial em prol desta causa.

Centro Regeneração Humana Alcantara —Lisboa

A comissão administrat iva des-te centro, reunida em 3 do cor-rente, deliberou apelar para to-dos os camaradas sócios, o pa-gamento das suas quotas em atrazo, e, seu apoio moral e ma-terial a favor do mesmo centro pára que se não dê o caso de se-rem os proprios anarquis tas a contribuirem para o esfacelamen-to das suas organizações.

Grupo Rebeldes Lisboa

Reuniu este g rupo e íesolveu entre outros assuntos de cara-cter interno, manter a sua ade-são á Federação Anarquis ta , na Região do Sul, e nomear delega» dos á mesma.

O secretario, Alfredo dos Santos.

Page 29: A Revolta

N . ° 2 6 - A n o 1 . ° Coimbra, 28 de Dezembro de 1913 Preço -IO réis

A Quinzenário orgão da Federação Anarquista na Região do Sul

REDACÇÃO E ADMINISTRAÇÃO

Rua Sá Bandeira, - I I — 2.u

COIMBRA— Portugal

Propriedade da FEDERAÇÃO ANARQUISTA

DIRKTOB—Augusto Quintas EDITOB — José de Azevedo

Composição e impressão

Tip. MINERVA CENTRAL

Rua Tenente Rezende — A v e i r o

Um ano de tirania lismo libertário, vi que o meu amigo em parte laborava num êrro porque declarando-se par tidario do Anarquismo de fórma alguma aceitava o Socialismo, quiz expôr-lhe de fórma que me compreendesse, mas... não que rendo força-lo a uma massada, retirei-me.

E' certo, haver duas formas de socialismo, uma preconisada pelos social-democratas e outra pelos anarquistas

Assim os primeiros dizem aos trabalhadores que para se eman-ciparem é necessário mandarem os seus representantes ao parla-mento para melhor poderem re solver o problema economico; dizem ainda que se devem orga-nisar nos seus sindicatos, recor rendo aos meios legais para re solverem as questões entre pa-

Ao alvorecer da manhã de 4 de outubro do ano de 1910, hou-ve gargantas que, vocalisando o sentir dos corações, preromperam em estrepitosos VÍV8S á Liberdade. E após uma breve luta os que pelejavam entregaram as armas.

Novos senhores foram aclamados, e não tardou que estes co-meçassem tiranizando os que com b seu esforço e coragem os elevaram aos plintos, ás culminancias do poderio.

Cinco mezes depois os novos tiranos receberam o batismo de sangue com o fusilamento, na cidade de Setúbal, dos trabalhado-res declarados em gréve para reivindicar uma parte minima dos seus direitos á tanto tempo protelados pelos seus exploradores.

Este primeiro acto bastava como prova do que era essa Li-berdade pela qual ardorosamente se pelejou e que os estrepitosos vivas dos revoltosos saudavam naquele dia do outono d e - i g i o .

Mas. . . aquilo ainda não era nada. Os factos sucederam-se, precipitando-se breve, em extraordinário numero, numa continui-dade que raro se observa. Gréves abusiva e violentamente sufo-cadas: os direitos do povo miseravelmente desrespeitados; as par-cas liberdades consignadas na Constituição ferozmente reprimi-das; amordaçada a anciã de justiça; a imprensa livre e indepen-dente suprimida, amarrada ao pelourinho da estupenda venalida- trões e operários, dando o resul-de. E por aqui fóra a critica, o livre exame, tudo, {udo abafado tado de a vitoria ser de os de pela força e peja arbitrariedade.

M a s u opressão, a violência, a tira tifo dos rnoJen/òs senàò: ca a inda não estava plenamente demonstrada com tudo isto.

Tempo viria em que, sobre os que haviam exposto seu peito ás balas defensoras da auucracia, seria praticada a ultima das violências, a maior das arbitrariedades.

Começou o ano que ora se esvai na eviternidade dos tempos, e com ele começou também, sob o imperiato de AfOflSO COStO, o que propriamente se poderá chamar: a cabal demonstração dos sentimentos dos tiranos de hoje.

Neste lapso de tempo, registaram-se os factos mais arbitrarios e ofensivos dos proclamados Direitos do Homem.

Com a subida ao poder de AfonSO Costa desencadeou-se con-tra o povo a opressão mais violenta que registam os anais da historia dos povos.

Na fúria sangrenta das suas perseguições movidas contra os anarquistas, no seu insano desejo, abertamente expendido, de exterminar O sindicalismo, este homem recorreu ás ultimas infâ-mias.

Ordenou o encerramento da Federação dos Trabalhadores Ruraes de Évora e da Construcção Civil de Lisboa; dissolveu a Casa Sindical; ordenou a apreensão dos jornais operários; impe-diu a realisação de comícios, e, para complemento da sua obra, ordenou a prisão de centenares de pessoas que ainda hoje man-tém nas Bastilhas do Continente e ilhas adjacentes, sem julga-mento.

Este homem atirou sobre nós a ultima pedra, ceiebrisando-se mundialmente pelo amontoado das suas prepotências.

Ha quasi um ano que a sua obra assente sobre o arbitrio, es-maga os anceios deste povo,

Vai terminar o ano. Oxalá que com ele vejamos terminar a cínica tirania que com ele começou e que ainda hoje nos oprime e avilta.

Tendo com um expuz as ideias libertarias, sen-tia-me bem disposto ao vêr que

ha dias uma palestra amigo meu e ao qual

o individuo em questão recebia as minhas doutrinas com verda-deiro interesse. Assim, discutin-do socialismo reformista e soe ia -

cima—-os capitalistas. PíopagãiTvfinâlmenre que ama

vez abolida a sociedade capita-lista, apoderar-se-iam das redeas do poder, estabelecendo uma so-ciedade mais equitativa, isto é, a egualdade.

Creio, meu amigo, que as dou trinas preconisadas pelos social-democratas em nada beneficia a classe trabalhadora, pois que es-tabelecendo-se nova fórma de governo necessário se torna or-ganisar o militarismo, a policia e a magistratura, etc., para que obrigue pela torça os recalcitran-tes a acatar as leis depois esta-belecidas; dizem que o capital único factor da desegualdade de-ve ser abolido, mas dá-se o caso de que na sociedade que preco-nizam será estabelecida uma no-va moeda (certificado monetário a cada individuo para que se possa fornecer nos armazéns do Estado em harmonia com a sua producçãoj.

Estabelecido o dia de oito ho-ras de trabalho, dá o resultado como diz Malatesta : «o salario, a duração do dia de labor e todas as outras condições do trabalho dão o resultado da luta entre ope-rários e o patrão-estado». Estan-d o finalmente todos os meios de p r o d u ç ã o concentrados nas mãos do Estado, não há fórma de. es-colher, o que se torna um aten-tado á liberdade.

Assim, os trabalhadores, con-tinuarão a serem as bêstas de

carga como são actualmente; e chegando a uma certa idade são obrigados pela lei a abandonar a oficina para seorganisarem em rebanhos inconscientes (milita-res V, para fazer calar a voz dos oprimidos pela força das armas; e aqueles que se ausentarem das suas terras sem licença da auto-ridade socialista serão punidos e condenados a fazerem traba-lhos pesados (2). A lei penal cas-tiga todos os que não tenham atenção ao trabalho e a descon-sideração para com os superio-res (3).

Na sociedade defendida pelos socialistas reformistas, será como disse Kaustki: « Os actuais tra-balhadores go\am hoje de mais ampla liberdade que a que teria na sociedade que aspiram os so-cial-democratas.»

Conforme se vai vér não é uma sociedacte baseada no an-tagonismo de interesses que nós os anarquistas preconisâmos.

O que nos os anàrqtíistaS que-remos é o socialismo propria-mente dito; a socialisação da terra, das matérias primas e dos instrumentos de trabalho. E' a produção organisada e feita di-retamente pelo trabalho; é a livre troca dos produtos sem- o auxi-lio do dinheiro ou coisa que o represente, isto é, a cada um segundo as suas necessidades e de cada um segundo as suas aptidões e energias.

Queremos uma sociedade aon-de todos satisfaçam as suas ne-cessidades tanto as creanças co-mo aos que são incapazes de prever a sua própria subsistência, pelo simples facto de nascerem e não porque trabalham; queremos i emancipação integral da mu-her com eguais direitos e deve-

res, não sendo propriedade do íomem, mas sim a sua compa-nheira senhora da sua vontade, do seu sentir, das suas acções e do seu corpo; queremos a ma-ternidade determinada pela ne-cessidade da união dos corpos que se querem por afinidades físicas, morais e intelectuais sem uma tenue esperança no leve in-teresse, tendo o direito de se apartar quando muito bem en-tenderem.

Queremos a destruição das religiões, de todo.5 os preconcei-tos, das ficções e das sofismas :tela educação integral; queremos a abolição da autoridade, parta

Page 30: A Revolta

A R E V O L T A

(1) Socialismo c seus resultados práti-cos, por Richter, pag. 26.

(2) Do mesmo livro, pag. 28. (3) Idem, idem, pag. 25.

Comunicações D'oravante toda a correspon-

dência para a Fedéraíión Comu-nista Anarquiste Revolutionaire, deve ser dirigida a Lecran, 121, rue de la Roquete, Paris, 11"— França.

m

A direcção do jornal anarquis-ta ch i He:z La Vôco de la Papolo é defitiitívarriente a seguinte: Si-fo, 11 Praia da Areia Preta— Mnc;>u.

" -iíUfe

() jornal anarquista El Pt o dnrnr h- Santiago d<? Ghite ('<Kvaé-! ica) pede a todos o s jornais li-bertários da região portuguesa para com ele estabelecerem per-muta. A sua direcção é a seguin-te: Ei Produtor, correo, 3—Ca-silia, 3o.

Reunião Convidam-se os camaradas

Oscar Mandeslay, Joaquim Car reira, José Figueiredo, José de Azevedo e Alfredo da Silva a reunirem ámanhã, segunda-fei-ra, pelas 8 horas da noite, na redacção de A Revolta, afim de dar andamento ás resoluções da Federação Anarquista.

Libertários!

Para que a propaganda i «i «x i | u u cl p i ujj i j

anarquista adquira mais im-

pulso e também para que A

Revolta assegure a sua vida Revolta assegure a sua vida,

é necessário que nos aju-

deis, já arranjando-nos no-

vos assinantes, já finntri-

buindo com uma quota pa-

ra auxilio do jornal.

Trabalhadores : uni-vos se que-re-la que o triunfa corôe os vossos esforços, .;t

ela de onde partir: queremos a j creança educada não peia chi-bata nem pela régua,—mas sim, j considerada eguaí a todos os.se-res, sendo tratado com a m e e, carinho.

Queremos a abolição das fron-teiras que dividem a Humanida-de em patrias; queremois a des-aparição do odio que existe entre as raças para que seja um facto A Fraternidade entre os Po-vos.

Eis a razão porque sômos anarquistas ou socialistas liber tarios, porque tendemos á socia-lisação da terra e á abolição completa da autoridade.

Lisboa—1913.

E . COSTA F I G U E I R E D O .

Nesta hora sangrenta e fatídica, dolo-roso momento historio© em que um povo, outrora pujante de virilidade, se encontra esmagado e envilecido pelo despotismo in-frene, pela lirania abjeta dum cinico dita-dor, é mister que aqueles que inda não teem os sentimentos embotados pela co-bardia, saiam á rua a verberar, com a sua palavra candente, essa obra degradante que, a continuar, nos ha-de conduzir a esse abismo moral que é o patíbulo das nações.

E' preciso que esse rumor de descon-tentamento que ruge ahi sinistramente co-mo a lavra dum vulcão prestes a explodir, apareça á luz brilhante do sol escalpelisan-do as monstruosidades sem nome pratica-das contra o povo que trabalha e produz, neste ultimo ano da mais cruel e cínica re-pressão aos elementos avançados.

Nos muros das cidades, como outrora nas muralhas da velha Roma dos fastí-gios, fulgem satíricas inscrições, terríveis de mordacidade e sarcasmo á obra san-grenta, á opressão canalha do moderno João Tranco vermelho.

Mas isso não basta! E' necessário vir de cara r cará, á praça

publica, bradar a nossa revolta, mostrar o nosso mais profundo descontentamento contra a barbaridade hedionda daquele que, tendo nas mãos as recíeas do poder, calcando a j u s t i ç a , escarnecendo dos sen-timentos e princípios de- Huraanidadç, ditatorialmente mantém, hu ! ,,'J.os mezes, 1 ® prisões do paiz, centenas rrmãos nossos cujo único delito é. tentar reivindi-car para todos mais amplas liberdades, os verídicos direitos do povo.

Jã basta de t i rania c d i tadura ! Já basta também de cobard ia ! Saiamos á rua, á praça publica; e que

a nossa voz altiva a voz da l^azão, da Justiça e da Verdade, á luz brilhante do dia se faça ouvir, bradando o nosso protesto de homens livres, gritando clamo-rosamente a acusação terrível e fulminan-te dos Revoltados.

E' tempo pois de sair desta inér-c ia!

Ha tres anos que a Republica foi pro-clamada. E hoje o que vemos? As cadeias regorgitando de presos (Republicanos, Sindicalistas e Anarquistas, alguns d'eles os mesmos que de armas na mão

lançaram por terra os plintos em que as-sentava o vetusto edifício da o m i n o s a monarquia que então nos oprimia.

As liberdades consignadas na Constitui-ção da Republica como direitos do povo, reprimidas até ao máximo.

Liberdade de pensar, direito de reunião e livre associação não existem.

as associações operarias encontram-se en-cerradas, as federações dissolvidas, os Jor-naes libertários e alguns republicanos que protestam contra tanta infamia são apreendi-dos.

E' a opressão mais violenta desencadea-da contra o povo que em 4 de Outubro ex-pôz o peito de seus filhos ás balas defenso-ras da monarquia.

Que pedia o povo, que reclamavamos nós nesse glorioso dia pela boca das espin-gardas, pelejando contra os arbítrios do poder ?

Pão, Liberdade, Justiça! E hoje o que vemos ? Fome, Prisão, FSrbitrio! Em face de tanto despotismo, venha-

mos á rua, á praça publica e citemos os fa-ctos que ahi estão bem patentes, prova terrivel na sua nudez forte da verdade.

Ahi estão as esposas, as mães, os filhos das vitimas desta tirania infame prostradas pela amargura ingente da sua dor, pela si-nistra média que as devora.

Ahi estão, nas sombrias masmorras do paiz, centenas de desgraçadas vitimas do

•despotismo nTorrft^noso,' das retaliações cruéis dum homem que pelo povo foi ele-vado ás culminancias do poder e que hoje o povo tão maltrata.

Ahi esta a Constituição da Republica reduzida a trapos, pela violência capricho-sa dos governantes.

Não "ha direitos nem liberdades. Por toda a parte a Pome, a Prisão, O Ar-

bítrio.

Contra-tal estado de coisas é necessário que fique marcado o nosso mais altivo pro-testo e para esse fim resolveram os grupos anarquistas de Coimbra realisar hoje, do-mingo, 28, um grande comício, afim de co-nhecer a situação e inocência dos trabalha-dores presos ha mais de 8 meses e encer-ramento das organisações operarias e de-mais atropelos cometidos contra a liberda-de em Portugal.

Ao comício

w j i r a u sRi

s i l i a i i . Abaixo a opressão e a tirania! Viva a Liberdade!

(Editado pelos grupos Revolta e Juventude Libertar ia de Coimbra ) .

Page 31: A Revolta

4 A R E V O L T A

EM TOMAR Já bastante se tem dito sobre o

congresso operário que está projeta-i o para o principio do proximo ano <: que se pretende realisar em Tomar.

Camaradas inteligentes que se dedicam desinteressadamente ao mo-vimento operário, teem escrito bas tante sobre este assunto e por isso descabidas se tornam estas pequenas considerações que vamos fazer.

Se tivessemos uma inteligência bastante fecunda, iriamos natural-mente desenvolver o assunto com proficiência, demonstrando ás classes trabalhadoras o péssimo ou o optimo que da realisação dêsse congresso advirá para as mesmas.

Porém, pelo motivo acima citado, as parcas considerações que fazemos limitam-se tam simplesmente aos nossos pobres conhecimentos.

Achamos de grande necessidade a realisação de um congresso nacio-nal operário, nos tempos de repres-são que vamos atravessando, em que os governos descem aos mais vis expedientes para reprimir a voz dos famintos, quando estes se tentam erguer contra a exploração infaman-te dos açambarcadores da riqueza social de quem aqueles são os agen-tes.

Achamos de grande necessidade e importancia a realisação de um congresso nacional operário, mas francamente, somos p é s s i m i s t a s quanto aos seus efeitos.

Não acreditamos mesmo que ele se chegue a realisar, ou a sê-lo vai redondar num verdadeiro fiasco.

Na circular convocatoria, dirigida pela Federação Operaria de Lisboa a todas as associações de classe, ha um periodo que diz:

vtttàÇão"de> proletariado tti nosso pair, requer especial atenção e consciencioso estudo, exigindo que se congreguem todos os esforços e se ponha de parte tudo o que até aqui tem dividido e fracionado a

família trabalhadora, sem o que coisa alguma de util e proveitoso se poderá conseguir.»

Mas como? Pois se o que tem dividido a família trabalhadora tem sido a politica introduzida nos sindi-catos profissionais, dos quais se tem querido fazer centros eleitorais, etc. Como?

Parece-nos não haver outro meio de organisar a grande familia traba-lhadora nos seus sindicatos respecti-vos, sem o condenável e absurdo desdobramento de alguns em varias classes, sem que se faça um convé-nio entre todas as forças operarias. E assim, ou os socialistas se hão-de convencer e preconisar a maxima saída da Associação Internacional dos Trabalhadores — A emancipação dos Trabalhadores ha-de ser obra dos proprios Trabalhado-res— interpretando-a sem sofisma, ou sindicalistas e anarquistas renun-ciarão o seu papel revolucionário e convencer-se-hão que a emancipação integral da grande familia trabalha-dora reside na boca das urnas, e es-peram que os deputados lhe mino-rem a sua mizeria e façam a Revo-lução Social com os tradicionais mur-ros nas carteiras.

Mas não. Sindicalistas e Anar-quistas não abdicam do seu papel revolucionário, o único capaz de se opôr á tirania patronal e estadoal.

Os socialistas não quererão por emquanto [esperam que lhes fuja dos pés o terreno todo) deixar de baralhar a questão politica com a questão economica, porque isso lhes

| acarretaria prejuizo estomacal, pre-sente ou futuro.

Como então pôr de parte tudo o que até aqui tem dividido e fracio-nado a familia trabalhadora, sem o que coisa algumr de uhl e proveito-so se poderá conseguir ?

Reside neste ponto uma parte do nosso péssimismo quanto aos resul-tados práticos do congresso a reali-sar.

Mas continua a circular: «...con-vida essa coletividade a nomear dois delegados a um Congresso que deve ter logar nos dias 3o e 3i de ja-neiro e i e 2 de fevereiro de I9I 4, na cidade de Tomar.»

Mas que é isto, senhores? Porventura será crivei que se

realize em janeiro próximo um Con-gresso NACIONAL com uma gran-de parte das associações encerradas?

Será crivei, senhores, que estan-do dezenas de operários presos por questões sociais e que ao movimento operário teem dedicado o melhor da sua vontade, do seu esforço e da sua dedicação, não se espere que reabram os sindicatos ilegalmente encerrados e sejam aqueles nossos camaradas postos em liberdade, para depois se realisar o Congresso desde que ele está em projeto?

Parecia-nos que era o caminho que devia seguir a Federação Ope-raria de Lisboa. Mas está resolvido que se reairsa impreterivelmen-t e sem adiamento.

Não nos diz a circular convoca-toria quais serão os assuntos, além da organisação, a discutir no fbcuro Congresso.

Apezar de não serem ainde co-nhecidos na-mtcgridadf, iiabe-:i. qy» um dos que vão merecer discussão' é a organisação da Confederação Geral do Trabalho.

Com que orientação? Não se discutirá? Cremos que uma vez reunido o

Congresso ele terá que discutir este assunto que achamos o de capitai impertancia; discutida a fórma de organisar, evidente se torna tratar da forma de reivindicar e porque método.

Estes são os pontos capitais da discussão.

Os reformistas não hão-de querer levar á discussão o assunto; porém, sindicalistas e anarquistas não deixa-rão de o submeter á saneção do Congresso, porque dele (assunto) dependem ipso facto todos os traba-lhos a realisar.

Caso contrario os políticos conti-nuarão fazendo politica nos sindica-tos (até serem escorraçados) e os trabalhadores inconscientes continua-rão acorrentados a ela (até á sua completa desilusãoJ e naturalmente o tempo e só esse fará unir a gran-de familia trabalhadora, para nas suas organisações tratar exclusi-vamente da sua situação economica e social.

O acordo, hoje, hade ser difícil. A classe trabalhadora vai-se desilu-dindo que não deve servir de degrau ao primeiro fiel patife que o queira intrujar com a ineficacia do parla-mentarismo. Assim, realisado o Con? gresso tudo fica como dantes.

Terá só para o movimento ope-rário revolucionário alguma coisa de util: o engrossamento das suas fi-leiras com os desiludidos.

Faça-se um Congresso Nacional, exclusivamente de assalariados, de-pois de estar tudo na normalidade democratica.

Faça-se um Congresso Nacional com a exclusão absoluta de indus-triais, que por certo aparecerão nes-te, mas que não deverão nele tomar assento senão como simples especta-dores e então, livres os delegados de

uaisquer paixões politicas, começa-rão estudando de comum acordo a

fórma mais viave mais racional de

de organisar, a reagir, e teremos

nós proprios ocasião de presencear nessa grande parada de forças, para que lado se inclina o fiel da balança.

C o i m b r a , I 9 I 3 .

O S C À B M A U D S L A Y .

Í D O L O S Em todos os tempos, em todas

as épocas, em todos os paizes, des-de as eras mais remotas até nossos dias, os povos teem adorado os Ído-los.

No momento em que o homem começou a desprender-se da anima-lidade primitiva, no momento em que a especie humana saiu do seu sono letárgico e substituiu lenta-mente a especie animal que o t inha precedido, neste momento aparece-ram os primeiros deuses, os primei-ros idolos.

Tudo o que t inha um aspecto misterioso: o vento, a chuva, a tro-voada era obra dum Deus. E havia bons e maus deuses; um deus para cada coisa: o sol, a guerra, os infer-nos, o mar, etc., etc., t inham um deus particular. Estes deuses eram o triste produto da ignorancia pro-funda de que era vitima a humani-dade.

Mais tarde, á medida que a evo-lução lentamente subtraia o espiri-to humano das trevas que o rodea-vam; á medida que a observação fa-zia desaparecer certos absurdos, t ra -zendo novos conhecimentos, des-cobrindo verdades novas, o espirito religioso, creador de idolos, modi-ficou-se.

Ele acabou com os deuses mito-logicos, é verdade, mas substitui-nos pelo Deus dos cristãos. . O povo tinha ainda necessidade

do&âàalog..^- ti,,a. Quando, por seu torno, o Dons

da Bíblia oscila perante os embates que lhe são arremessados pelos sa bios, pelos filoeofos do ultimo secu lo; quando o raciocinio claro e a luz projetada pelas descobertas scienti-ficas fizeram t remer o Deus fcodo-poderoso; então o povo pôz de lado o sobrenatural e atirou por terra os seus deuses. Os idolos começam de-pois a formar-se pelas façanhas dos generais: tudo se curva perante o sabre dum Napoleão.

Os deuses passaram a estar nos cofres fortes da finança.

E temos como novos idolos do povo: o Deus Capital e o idolo Patria.

Mas estes ainda, pela sua vez, são atacados; os escritos de certos pensadores, as criticas de alguns sociologos abalam o todo-poder do Capital e da Patria.

O povo mudará talvez ainda es-tes deuses; mas como sente necessi-dade dos idolos ele vai j á fazendo novos: os deputados bons faladores e parlamentares, os campeões de box, os aviadores vêdrinards, um Poincaré romanesco, são os idolos do dia que o povo aclama.

O Povo, na sua demencia, no seu maquiavelico desejo de adorar algum redentor, algum salvador, um novo Messias, chega a ir bus-car os seus idolos nos agrupamen-tos de trabalhadores, nos sindicatos, nos meios revolucionários.

Os acontecimentos recentes dei-xam-no supor; e, com um pouco de observação, poder-se-ia ver que o espirito religioso, inda não de-saparecido, formou seus deuses mes-mo na classe operaria. Não tendes visto certos militantes ser apoiados por actos que não praticaram?

Inda não visteis, num comicio,

os assistentes aplaudir um orador logo que aparece sobre a tribuna?

E' o povo que aplaude os seus idolos, sem saber se as suas pala-vras serão sensatas ou se seus ar-gumentos serão fracos; e isto é o motivo porque certos homens, sin-ceros no principio, se corrompem, pois que essas manifestações que o povo lhe presta os fazem julgar-se duma essencia superior, Pontificis! Os que presentemente apoiam Briand não são certamente mais culpados que os fanaticos que os ele-varam.

Oh, Povo! eterna victima, eter-no crente, cura-te dessa tua doença de fabricar idolos.

Cura-te dos deuses e dos indiví-duos.

Não aceites uma ideia sem a teres examinado, sem a teres dis-cutido, criticado.

Não te inclines senão perante a lógica e a razão. Se ha homens dum valor indiscutível, procurai compreende-los, chegar á sua altu-ra, egualar o seu saber: mas, sobre-tudo, não faças mais Deuses!

Repete, a ti mesmo, a bela for-mula da Internacional: a emanei* pação dos trabalhadores ha-de ser obra dos proprios traba-lhadores.

Povo! Pela tua emancipação, se queres viver sem leis e sem amos, quebra os idolos! . queros 2 sod&Í8&> £08x12-

nista. sair das ruinas da sociedade burguesa, quebra oa idodos

Despedaça todos os idolos! Quando os deuses desaparecerem

o homem livre poderá viver!

L. Ducourtioux. (De «Le Libertaire).

Solidariedade internacional O s jo rna i s o p e r á r i o s da E s p a -

n h a , F r a n ç a e A m e r i c a t eem ul-t i m a m e n t e inser ido n a s suas co -lunas o man i fes to q u e s o b o ti-tu lo fl t i rania em Portugal ul-t i m a m e n t e foi d i r ig ido a o s pe r ió -dicos l ibe r tá r ios de t o d o o m u n -do, pe lo g r u p o ReVOita.

Rugidos e Lamentos

Versos da canalha P e d i r a m - m e p a r a t r a ç a r em

a l g u m a s l inhas a i m p r e s s ã o q u e sen t imos , o d o m í n i o a v a s s a l a -d o r que exerce nas n o s s a s al-m a s , i n u n d a d a s das l u m i n o s i d a -des do Bem e s e q u i o s a s de v ida p lena , q u a n d o a s s imi l amos cui-d a d o s a m e n t e esse c o n j u n t o de sone tos p u b l i c a d o s po r Sa lva te r -ra Jún io r . S o u u m a m i g o d o a u -tor . M a s a n o s s a a m i z a d e pe r -mite q u e i m p a r c i a l m e n t e ana l i -s e m o s o seu p r ime i ro t r a b a l h o l i terário.

O s seus ve r sos s ã o s imples e s ingelos em p o m p a s de l ingua-gem.

M a s as suas f rases , enfureci-

À

Page 32: A Revolta

4 A REVOLTA das de revolta, rubras de indi-gnação, ardentes no desejo de conquis tar horisontes puros de felicidade e coloridas pelas tin tas frescas do arrebol , teem um poder expressivo que encoraja as convicções dúbias, e enterne-ce os espíritos ávidos dos futu ros bons e generosos.

Admiro-lhe o seu tempera-mento brusco de poeta , que can ta em estrofes coléricas, o velho sofr imento duma humanidade calcada e oprimida.

Encan ta -me a sua feição acen-tuadamen te esperançosa e idea-lista, pela crença sincera e reso luta que alimenta, numa conce-ção social nova, resurgidora e fecunda .

São a expressão nitida duma consciência, comple tamente des-pida da fantasia doente do espi-ritualismo, que sentimentalisa m a s também enerva os corações. São os desabafos expansivos de um espirito, que descreve com a t ransparência própria do natural , o marulhar rugidor das ondas encapeladas de rebeldia, ainda levemente adormecidas no seio das multidões, que t ranqui lamen-te suportam o peso bruta l das atrocidades, esperando que o rá-pido surgir duma faisca as de-sabroche e arraste ao terreno vi-vido da luta, á batalha finalisan-te de todas as t i ranias .

Apesar da sua pequena obra formar um conjunto distinto de sonetos, nós encon t ramos a ele-v a d a uma certa unidade de ideias e uma certa Conformida-de de acção combat iva .

Uns, crit icam esta decrepita e viciosa sociedade nas suas va-r iadas instituições opressoras , combatem a falsa e prost i tuída moral estabelecida, as covençõ^s ridículas e os preconceitos estú-pidos que inimizam os homens , pintam a terra, com um calvar io doloroso e tor turante de sofri-mento, para a familia operaria, longe da ventura afastada dum viver feliz.

Outros , lançam sobre este vasto lençol de desgraça e mi-zeria uma luz doce, suave, de acalentadora esperança, que di-mana dum ideal imenso de paz e de conforto, luz subtil e pene-trante que per fuma o Porvir li-ber tador que ambicionamos.

A Salvaterra Júnior agradeço em nome da redacção o exem-plar que nos enviou.

J. Carreira.

Aão ha tirania peor do que aquela que o ignorante tem dentro de si mesmo: envolto nas trevas da ignorancia, não sabe comprazer aos seus desejos, satisfazer as suas necessidades, reger d sua vontade; e, guiado pela simples rotina, que ouso afirmar ser inferior ao ins-tinto dos animais, caminha âs cegas, sem evitar os perigos e estendendo a mão a seus exploradores e ti-ranos para pedir protecção.

ANSELMO LOBENZO.

A REVOLUÇÃO MEXICANA Nas pitorescas campinas mexica-

nas por tantos séculos regadas com o generoso sangue e ardente suor do camponez altruísta, o pavilhão rubro flameja aos quatro ventos.

A revolta dos que por tanto tem-po hão sido ignobilmente explorados é hoje, nalguns estados daquele im-pério, um facto.

Uma rajada bemdita de luz pu-rificante, eletrica, sonora, perpassa sobre o império da escravidão.

O camponez tomando conheci-mento da burla secular de que foi vitima, vai á luta a trabalhar pelo conseguimento do que é seu, mas que desde longas eras deteem os ex-ploradores, oferecendo a sua valiosa vida em holocausto á liberdade de todos.

Ali onde se queimam os arqui-vos, se fazem em cinzas os codigos, se arrombam os cárceres, se destroem as egrejas e se eliminam as autori-dades a burguezia pode ver lavrada a sua sentença de morte.

Noticias da revolução

Um telegrama dirigido ao The Angeles Record anuncia que a re-volução dos índios de Oaxaca se es-tende rapidamente por vários can-tões do Estado.

= Um grupo de 200 revolucio-nários dirigido por Hilário Salas, ca-pturou perto-de Tlacotalpan os indi-víduos conhecidos como possuidores de importantes fortunas, exigindo fortes sômas pelo seu resgate.

= Cincoenta dos chamados za-patistas entraram em S. Jeronimo do Estado de México e saquearam a referida povoação.

= Caetano Rios, um dos revo-lucionários que operava perto de Malehua fui fusilado pelas, marcena--rios de Huerta. Foi capturado no in-terior da cidade onde havia entrado disfarçado a informar-se das posi-ções da força.

= U m numeroso grupo de rebel-des aproveitando a falta de guarni-ção na praça de Rayon, entrou ali, capturando C. Castro, comandante da policia e todos os seus subalter-nos. O comandante foi fuzilado ime-diatamente e os policias detidos. De-pois de executado o esbirro, o gru-po saqueou os principais estabeleci-mentos, levando 32 espingardas, 4 0 0 0 cartuchos e grande quantidade de dinheiro. A Camara municipal, a administração e o arquivo da con-servatória foram incendiados; os pre-sos foram postos em liberdade, en-grossando as fileiras dos libertado-res.

Os mesmos revolucionários en-traram em Alequines e saquearam completamente esta povoação, de-pois de haverem derrotado a guar-nição. Aqui incendiaram os estabe-lecimentos mais importantes sendo executadas as autoridades. Este gru-po conta 5oo rebeldes todos perfei-tamente armados.

= As forças americanas estacio-nadas em Yuma confiscaram 2 0 0 es-pingardas destinadas aos rebeldes da Baixa Califórnia.

-= O jornal burguez The Times numa noticia sobre os acontecimen-tos do México diz: «Nos estados de Sinaloa, Durango e Sonora não h a lei . As condições ao largo da costa do oeste até quatrocentas mi-lhas para o interior do México es- j tão peorando diariamente». Ter-mina a noticia dizendo que no nur-1 te «se os campos pertencem a um jj rico fazendeiro . são saqueados e í queimada a casa juntamente con 05 que apanham».

O companheiro Jesus Gonzáles foi condenado na pena de n o v e n t a e nove anos de prisão pelo de-lito de ser um revolucionário mexica-no que lutava para abolir o presen-te sistema capitalista.

R a n g e l e seus companheiros responderão brevemente pelo mesmo delito.

Damos a seguir mais amplas in-formações sobre a prisão destes com-panheiros: Constituíam eles uma ex-pedição libertaria que no dia 11 de Setembro seguia por Texas com rumo ao Rio Grande. Iam arma-dos para lutar ao lado do povo me-xicano pelos seus direitos sob o le-ma da bandeira roxa Pão, Terra e Liberdade. Foram surpreendi-do e um deles, Silvestre Lomas, ca-çado como um veado. Conseguem desarmar os seus assaltantes e obtém uma promessa escrita pela qual se-riam deixados em paz e que foi as-sinada pelo chefe dos assaltantes J. J. Campbell. Dirigiram-se á frontei-ra. Ao terceiro dia, i3 de setembro, de novo foram atacados por uma grande força de Texas, perto de Carrizo Springs, travando-se comba-te ficando dois companheiros mor-tos afora alguns dos esbirros. Não podendo vencer tão elevado numero de forças foram presos. E' por deli-to que estão presos.

Os fundos para a defeza destes valorosos camaradas podem ser di-, rígidos a A. Hernandez, P. O. Sta-tion, A, Box 52, San Antonio, Te-xas.

Movimento Anarquista novos Grupos

Com o titulo Comunista Liber-tário, acaba de se constituir, em Ode-mira, um grupo destinado a desen-volver a propaganda anarquista por todos os meios ao seu alcance.

Direção: Josué Romão, Odemira. Os c o m u n i s t a s — E' o titulo

dum novo grupo anarquista que se constituiu na cidade do Porto, comi o fim de continuar a obra de Edu-; cação Libertaria.

Direção: Jornal A Aurora, R.i Captivo, 16 — 1.°.

Os S e m P a t r i a — Subordina-do a este titulo constituiu-se nesta: cidade mais um grupo que se pro-põe a difundir os sublimes ideaes anarquistas.

Também os camaradas de Moita do Ribatejo ali constituíram um grupo libertário denominado Horas de Luta que se destina a fazer a propaganda do nosso ideal quer pe-la força, quer pela palavra.

Avante camaradas pela Anar-quia !

Emancipação Humana SACAVÉM

Na ultima reunião deste grupo ficou resolvido publicar n'A Auro-ra um balancete da quantia de 7$010 reis enviada pelo grupo com destino aos presos por questões so-ciaes. Resolveu mais, não entregar qualquer quantia á Comissão pró-preso* por questões, por não concor-dar com a forma como é feita a di-x ••••> dos donativos, pois que ao passQ que alguns presos por movi-mentos de caracter politico e os sin-dicalis' as vciebem donativos, ha ca-aaradas ui ar quis tas que os não re-ob? 11n, auesar do seu reconhecido

amor pela ideia.

Federação Anarquista do Sul Em 1.9 do corrente, reuni u n o

local do costume, esta federação, es-tando, representantes dos grupos 26 de Novembro, Sol Universal, Filhos da Revolta, Rebeldes, Unido das Mu-lheres Anarquistas, Cerébro e Braço de Portalegre, e Juventude Liberta-ria de Coimbra. Entre outros as-sumptos de caracter interno re^ol-veu-se nova organisação dos traba-lhos de redação e administração do seu orgão A R e v o l t a publicado em Coimbra, ficando assim dividi-dos os trabalhos de redação em Coimbra: — José Figueiredo, Joa-quim Carreira, José d'Almeida e José d'Azevedo. Ern Lisboa: Ber-nardino dos Santos, Augusto Quin-tas e Henrique Figueiredo. Traba-lhos de administração em Coimbra: Alfredo da Silva e Oscar Mandes-lay. Em Lisboa: Joaquim Carreira e Carlos José de Sousa. Recebeu-se a adesão dos grupos Sol Universal e Juventude Libertaria de Coimbra. Foi lido um protesto do Grupo Sol Universal contra as perseguições movidas pelos estados norte-ameri-canos sobre todos que professam ideias emancipadôras.

O comité federal mais uma vez convida todos os grupos que eram federados e queiram continuar a mandar as moradas dos seus secre-tários para a troca de correspon-dência. A todos os outros grupos que concordem com a junção de nossas forças a procederem pela mesma forma enviando a sua ade-são ao

Secretario Bernardino dos Santos

R. S. Jeronimo, 58 q c —LISBOA

Grupo Filhos da Revolta LISBOA

Reuniu esta agrupação liberta-ria em 21—12—913, resolvendo en-tre outros assumptos de caracter interno protestar contra a fprma ar-bitraria como foi dissolvido o co-mício de 14 do corrente e prisão d'alguns camaradas da construção civil por reclamarem pão ou traba-lho.

Grupo Rebeldes Na sua ultima reunião resolveu

entre outros assumptos de caracter reservado, protestar contra a proi-bição do comicio de 14 do corrente em favor dos presos por questões sociaes e contra a forma canibales-ca como a guarda pretoriana inter-viu. Protestou também contra a prisão d'alguns operários sem tra-balho, no momento em que se diri-giam ao parlamento.

A correspondência para este gru-po deve ser dirigida ao camarada Alfredo dos Santos, Travessa das Almas, P. M., Cave, Lisboa.

Grupo Libertário Sol Universal Reuniu este grupo na passada

terça-feira, e mais uma vez apro-vou a dissolução do antigo grupo Sociedade Futura; passando a deno-minar-se Sol Universal. Lamentou a divergencia de alguns agrupados que nada está em harmonia com os princípios libertários.

Nomeou delegado á Federação Anarquista do Sul o camarada A. Vasconcelos.

Amanhã segunda-feira ha nova reunião para filiação de novos agru-pados. Toda a correspondência rela-tiva a este grupo deve ser enviada a A. Vasconcelos, Rua do Alvito, 83, loja—Alcantara, Lisboa.

Grupo Revolta Resolveu realisar hoje, domin-

go, juntamente com o Grupo Ju-ventude Libertaria, um comicio de protesto e publicar um manifesto contra as prepotências governamea-taes.