A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando...

14
Web-Revista SOCIODIALETO www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras UEMS/Campo Grande Mestrado em Letras UEMS / Campo Grande ISSN: 2178-1486 Volume 4 Número 10 julho 2013 20 A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ MONTELLO: COMPREENDENDO COMO OS TAMBORES DE SÃO LUÍS EXALTAM A CULTURA NEGRA Denise Maria Soares Lima UCB 1 [email protected] Marcelo Nicomedes dos Reis Silva Filho UCB 2 [email protected] RESUMO: A cidade de São Luís no Maranhão, entre outras capitais brasileiras, recebeu um contingente grande de africanos escravizados. Em razão disso, tornou-se também um espaço de resistência negra, desde o período pré-abolicionista. Essa característica ludovicense é relatada em Os tambores de São Luís, do escritor modernista Josué Montello. Nessa obra, o autor revela múltiplas formas de resistência: da criação e expansão dos quilombos à mobilização das comunidades negras nos terreiros em prol da libertação. O olhar apurado do escritor maranhense dialoga com o passado e invoca a discussão no presente sobre preconceito e discriminação raciais e resistência da população negra. Neste sentido, esse artigo tem como objetivo analisar essas narrativas, focando especificamente a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a contribuição do negro na formação da sociedade nacional. Para tal fim, tem como marco legal e teórico a Lei 10.639/2003, que obrigou o estudo de História e Cultura Afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio, demonstrando como a referida obra valoriza aspectos da história, cultura, política, economia, linguagem e religiosidade da população negra. Palavras-chave: Resistência negra. Contribuições afro-brasileiras. Lei Federal n. 10.639/2003. ABSTRACT: The city of São Luis in Maranhão, among other capitals, received a large contingent of African slaves. As a result, it has also become a space for black resistance, since pre-abolitionist. This characteristic is reported in Os tambores de São Luís, the modernist writer Josué Montello. In this work, the author reveals multiple forms of resistance: the creation and expansion of the Quilombo the mobilization of black communities in the yards for the liberation. The sharp eyes of the writer maranhense dialogues with the past and the present discussion relies on racial prejudice and discrimination and resistance of the black population. In this sense, this article aims to analyze these narratives, focusing specifically on the struggle of blacks in Brazil, highlighting the Brazilian black culture and the black contribution in the formation of national society. To this end, has the legal and theoretical 10.639/2003 Law, which required the study of History and Afro-Brazilian schools of 1 Professora da rede escolar pública do Distrito Federal desenvolve projetos para Educação Antirracista em salas de aula, especialista em Língua Portuguesa e em Educação na Diversidade e Cidadania, com ênfase na Educação de Jovens e Adultos. Mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília e pesquisadora da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da mesma universidade. CV: <http://lattes.cnpq.br/5009165308375680 .>. 2 Mestrando em Educação pela Universidade Católica de Brasília - UCB, Professor da rede pública Estadual e Municipal do Maranhão, e pesquisador da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da UCB e do grupo de linguagens, Cultura e Identidade da UFMA. CV: < http://lattes.cnpq.br/6104635609099598 . >.

Transcript of A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando...

Page 1: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

20

A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ

MONTELLO: COMPREENDENDO COMO OS TAMBORES DE

SÃO LUÍS EXALTAM A CULTURA NEGRA

Denise Maria Soares Lima – UCB

1

[email protected]

Marcelo Nicomedes dos Reis Silva Filho – UCB2

[email protected]

RESUMO: A cidade de São Luís no Maranhão, entre outras capitais brasileiras, recebeu um contingente

grande de africanos escravizados. Em razão disso, tornou-se também um espaço de resistência negra,

desde o período pré-abolicionista. Essa característica ludovicense é relatada em Os tambores de São Luís,

do escritor modernista Josué Montello. Nessa obra, o autor revela múltiplas formas de resistência: da

criação e expansão dos quilombos à mobilização das comunidades negras nos terreiros em prol da

libertação. O olhar apurado do escritor maranhense dialoga com o passado e invoca a discussão no

presente sobre preconceito e discriminação raciais e resistência da população negra. Neste sentido, esse

artigo tem como objetivo analisar essas narrativas, focando especificamente a luta dos negros no Brasil,

salientando a cultura negra brasileira e a contribuição do negro na formação da sociedade nacional. Para

tal fim, tem como marco legal e teórico a Lei 10.639/2003, que obrigou o estudo de História e Cultura

Afro-brasileira nas escolas de ensino fundamental e médio, demonstrando como a referida obra valoriza

aspectos da história, cultura, política, economia, linguagem e religiosidade da população negra.

Palavras-chave: Resistência negra. Contribuições afro-brasileiras. Lei Federal n. 10.639/2003.

ABSTRACT: The city of São Luis in Maranhão, among other capitals, received a large contingent of

African slaves. As a result, it has also become a space for black resistance, since pre-abolitionist. This

characteristic is reported in Os tambores de São Luís, the modernist writer Josué Montello. In this work,

the author reveals multiple forms of resistance: the creation and expansion of the Quilombo the

mobilization of black communities in the yards for the liberation. The sharp eyes of the writer

maranhense dialogues with the past and the present discussion relies on racial prejudice and

discrimination and resistance of the black population. In this sense, this article aims to analyze these

narratives, focusing specifically on the struggle of blacks in Brazil, highlighting the Brazilian black

culture and the black contribution in the formation of national society. To this end, has the legal and

theoretical 10.639/2003 Law, which required the study of History and Afro-Brazilian schools of

1 Professora da rede escolar pública do Distrito Federal desenvolve projetos para Educação Antirracista

em salas de aula, especialista em Língua Portuguesa e em Educação na Diversidade e Cidadania, com

ênfase na Educação de Jovens e Adultos. Mestre em Educação pela Universidade Católica de Brasília e

pesquisadora da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e Sociedade da mesma universidade. CV:

<http://lattes.cnpq.br/5009165308375680.>. 2 Mestrando em Educação pela Universidade Católica de Brasília - UCB, Professor da rede pública

Estadual e Municipal do Maranhão, e pesquisador da Cátedra UNESCO de Juventude, Educação e

Sociedade da UCB e do grupo de linguagens, Cultura e Identidade da UFMA. CV: <

http://lattes.cnpq.br/6104635609099598. >.

Page 2: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

21

elementary and secondary education, demonstrating how such works valued aspects of the history,

culture, politics, economy , language and religion of the black population.

Keyword: black resistance. african-Brazilian contributions . Federal Law. 10.639/2003.

Introdução

De Norte a Sul, a escravidão imperou no Brasil pré-republicano; em alguns

estados, com maior destaque, dado o elevado percentual de indivíduos escravizados

aportados nestes lugares. O Maranhão, certamente, figura entre um desses. Nesse

período, embora a escravatura tenha ocupado parte considerável da historiografia

brasileira, a produção literária sobre o assunto reúne um percentual reduzido de obras

sobre o tema.

Diante dos escassos debates sobre a escravidão na literatura, o romance de Josué

Montello Os tambores de São Luís: a saga do negro brasileiro merece destaque ao

eleger o tema da escravidão para tratar dos dramas humanos intrínsecos a esse

fenômeno. Essa publicação, datada de 1975 (quase um século após a abolição), trouxe

para a discussão contemporânea temas ainda polêmicos como o preconceito, a

discriminação, o racismo e a violência racial presentes na sociedade brasileira pré-

abolicionista. Assim, o olhar apurado do escritor maranhense dialoga com o passado e

invoca a discussão no presente sobre essa instituição que dominou a cena política e

social do Brasil no fim do século XIX.

Para tal intuito, o escritor escolheu algumas províncias aos arredores de São Luís

e a capital maranhense – reconhecidamente espaço de resistência negra – para

comporem o cenário da narrativa. Ao longo da obra, o autor revela múltiplas formas de

resistência negra: da criação e expansão dos quilombos à mobilização das comunidades

negras nos terreiros em prol da libertação.

Neste contexto de estudos sobre literatura e contemporaneidade, esse artigo tem

como objetivo analisar as narrativas em Os tambores de São Luís, tendo como ponto de

partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a

contribuição do negro na formação da sociedade nacional. Especificamente, também

pretende discutir a representação do negro na literatura e a inserção da Lei nº

Page 3: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

22

10.639/2003, que obrigou o estudo de História e Cultura Afro-brasileira nas escolas de

ensino fundamental e médio, relacionando os tempos e espaços históricos relativos à

população negra narrados na obra com estudos contemporâneos que investigam o

mesmo tema.

Personagens negros e literatura brasileira

Estudos sobre a representação do negro na literatura brasileira comprovam

largamente a presença de estereótipos raciais (BROOKSHAW, 1983; LIMA, 2000;

BARBOSA, 2006). Esses autores demonstram que uma grande parte dos textos

literários brasileiros retrata personagens negros como objetos, geralmente revelados por

uma linguagem preconceituosa em relação às negras e aos negros.

De acordo com Silva (2008), diversas pesquisas brasileiras têm buscado

examinar e decodificar as desigualdades raciais no plano simbólico ou discursivo e

revelam que: “Os discursos, no geral, negam a existência de discriminação racial e

procuram disfarçá-la, buscam reiterar os ideários da democracia racial e da fábula das

três raças, reafirmando estereótipos racistas, grande parte das vezes de forma indireta”

(SILVA, 2008, p. 95).

Neste aspecto, Brookshaw (1983), ao analisar os discursos produzidos na

literatura brasileira sobre negros, destaca algumas características mais recorrentes, entre

essas: subserviência, passividade, conformismo, rebeldia, crueldade, brutalidade,

violência, erotismo e malandragem que habitam os personagens (por exemplo: o

escravo nobre, o escravo demônio, o negro vítima, o negro infantilizado, erotizado e

sensual). Segundo o mesmo autor, não somente os perfis dos personagens negros são

estereotipados, mas também o enredo que os envolve evidencia um discurso racista.

Em relação à representação dos indivíduos negros associados à escravidão, a

questão que se impõe em relação aos textos literários é justamente a cristalização da

imagem do escravo como real, reproduzindo-a como condição única. Nesta perspectiva,

Lima (2000, p. 98) adverte que “o problema não está em contar histórias de escravos,

mas na abordagem do tema”. Essas narrativas, segundo a autora, ao reforçarem a

dominação unilateral, naturalizam a condição de escravizado, apagando a história

Page 4: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

23

coletiva ao não trazer outras e melhores referências constantes na historiografia

brasileira.

Por outro lado, constam também em nossa literatura produções que buscam

desconstruir o caráter pacífico e humano da escravidão assim como narrativas que

denunciam o preconceito racial. Assim, elucida Barbosa (2006):

Nesse escritos, o negro é sujeito de ações que buscam uma identidade negra e

instauram uma poética da diversidade ou, mais precisamente, de uma

literatura negra brasileira, que ressalte-se, ainda é, até hoje, pouco estudada.

Ainda assim, ela tem-se mostrado como um espaço possível para a luta

contra a discriminação racial (BARBOSA, 2006, P. 97).

Neste perfil de autores que tratam da temática negra, Josué Montello, em sua

obra Os tambores de São Luís: a saga do negro brasileiro, discorre sobre aspectos

históricos da escravidão no Brasil, e, mais particularmente, no Maranhão. Assim, o

recorte realizado neste artigo investiga, inicialmente, a presença de elementos na obra

capazes de valorizar a história e cultura negra. Contudo, vale acrescentar que esse

estudo de caráter exploratório, ao longo da pesquisa em andamento, pormenoriza outros

aspectos ambíguos e equivocados em relação às relações raciais existentes na mesma

publicação, que não serão abordados aqui. A seguir, a análise foca trechos da obra sobre

duas vertentes: territórios de resistência negra: quilombos e terreiros e territórios de

denúncias e lutas.

Territórios de resistência negra: quilombos e terreiros

Os tambores de São Luís: a saga do negro brasileiro é romance de ficção

composto por duas narrativas que se entrelaçam no decorrer da obra. A primeira

apresenta um ciclo pequeno que, em tom de mistério, inicia com um episódio

inesperado ocorrido à noite, no início do século XX, já a segunda apresenta um ciclo

mais longo, durante o século XIX, no qual transcorrem quase cem anos de escravidão.

Nos dois ciclos, ocorrem inúmeros fatos largamente desenvolvidos no decurso

da obra montelliana, contudo, essa análise volta-se especificamente para os quilombos e

os terreiros buscando, a partir de trechos da produção literária, refletir sobre esses

espaços de resistência negra.

Page 5: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

24

Ainda que de modo abreviado, dois capítulos, a discussão sobre a formação do

quilombo no romance apresenta algumas particularidades: fixação ao território,

manutenção de uma coletividade, reprodução de valores culturais, proteção espacial e

resistência, como demonstram os enxertos abaixo:

Tinham-lhe falado do Quilombo do Mané Quirino, para os lados do rio

Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia do rio, fora obrigado a

sacrificar um dos cavalos. p. 21.

Egressos de outras fazendas longínquas, novos negros ali chegaram, e não

tardou que, uma noite, á hora em que descem os voduns nos terreiros

sagrados, ressoasse um tambor, abafado pela floresta circundante. Também

apareceu uma cabaça. E ainda um ogã. p. 22.

Por esse tempo o quilombo já tinha a casa de farinha, a engenhoca, o seu

pequeno cemitério. ... De vez em quando, por uma notícia vinda de longe, ou

pela susta precipitada de um dos vigias, corria no quilombo um alvoroço de

guerra. p. 29.

[...] A vida é iguar para todo mundo. Ninguém quer ser escravo, tudo quer ser

livre. Cativeiro de negro tem de acabar, Pra acabar só tem um jeito: é os preto

se juntar. No Brasil, tem muito preto, mas tudo espaiado, uns aqui, outros ali.

Não há lugar sem quilombo. E tudo no mato, escondido como nós [...] p. 30.

Nos trechos acima destacados, a comunidade quilombola criada por Julião,

personagem oriundo da África, não é apenas um espaço de fuga, que se isola do

restante, é essencialmente, um local para sobrevivência, inicialmente, de sua família, e,

posteriormente, para manutenção do grupo e continuidade de outras referências

culturais e históricas. Neste sentido, Reis (2009) ensina que esses territórios, embora

estivessem protegidos não se mantinham isolados; geralmente, eram circunvizinhos as

cidades, vilas ou fazendas, onde trocavam informações, mercadorias e estabeleciam

negócios.

Além desses dados, os quilombos também se comunicavam e organizavam ações

coletivas, dando ensejo a algumas rebeliões, como a Balaiada, citada, por Montello: “O

nego Cosme, que tinha mais gente que nós, não aguentou a guerra dos branco. O Balaio

também acabou se entregando” p. 31. Assim, o quilombo de Julião apresenta

sucintamente algumas referências sobre os quilombos como modos de viver e existir

dos africanos e seus descendentes fora da África, histórica e culturalmente.

Page 6: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

25

Outro território que se destaca na narrativa de Montello são os terreiros. Esse

espaço é representado pela Casa-Grande das Minas3, conforme descrições abaixo:

A casa é baixa, rente à calçada da rua, e já deve ir a caminho de dois séculos.

Não se sabe dizer quando foi construída [...] p. 257.

Quem desce a rua sinuosa, na direção do centro da cidade, depois de passar

pela igreja de são Pantaleão, vê um bando de construções primitivas, todas

acachapadas, com beirais salientes e batentes de cantaria. Para identificar a

Casa-Grande das Minas, não é preciso quebrar a cabeça. De ali por perto,

qualquer pessoa dirá onde ela fica; de noite, bastará guiar-se pelo bater dos

tambores. p. 257

A origem da Casa das Minas há de ser sempre um mistério. Ninguém saberá

quem lhe assentou os alicerces, com as disposições internas para ritos e

cerimônias. Tudo quanto se sabe tem a limpidez do testemunho histórico:

limita-se á tradição oral. p.259.

3 Ilustração acima “Casa das Minas” criada pelo artista, jornalista e webdesigner Ricardo Borges.

Atualmente, é jornalista na Universidade de Brasília (UnB).

Page 7: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

26

A Casa das Minas na obra também é constantemente referenciada pelos sons dos

tambores que repercutem por toda a cidade de São Luís. Na obra, facilmente,

identificados:

E nisto começou a ouvir, por cima do sussurro do vento nas árvores do

quintal, o bater de tambores rituais. [...] O contravento de manga

esfumaçada arregalava o seu olho vermelho sobre a bandeira da porta,

como que vigiando os negros que dançavam no terreiro, ao som dos

tambores e das cabaças. p. 164.

Esse lugar na narrativa, o terreiro, é demonstrado como local de resistência

negra, que apoia e luta pela libertação dos negros, dando-lhes cobertura e ajuda para

fugirem:

No entanto, para a Genoveva Pia, a noite era de trabalho. Refugiados

na sua casa, dezesseis negros aguardavam que a velha os livrasse do

cativeiro, antes que rompesse o novo dia. [...] Alguns traziam no corpo

as roupas com que deveriam dançar o bumba-meu-boi: havia entre

eles dois vaqueiros, três tocadores de matraca, outro de zabenba e um

preto gordo muito barrigudo, e que trazia às costas um tambor-onça. p.

326.

Segundo Camargo (2012), os terreiros, no Brasil, sobreviveram, apesar dos

conflitos e tensões permanentes durante todo o período escravista, cultivando

particularidades regionais, tais como o tambor de mina, no Maranhão, xangô no Recife,

batuque do Rio Grande do Sul, que são religiões nascidas na resistência negra

de diferentes nações, como jeje, fon, mina, e que conservaram cultos e matrizes

parecidas. Essa sobrevivência, certamente, marcada pela resistência a preconceitos,

como revelados em Os tambores de São Luís: “Eu, para lhe ser franco, não conheço,

entre os meus pretos, nenhum deles com vocação religiosa. Só se for para a religião

deles, com tambor e pajelança”. p. 116.

Hoje, em relação a desrespeitos e preconceitos sentidos por religiões de matrizes

africanas, assim se pronuncia documento elaborado pela Secretaria Especial dos

Direitos Humanos:

Terreiros de umbanda e candomblé são os locais de culto das religiões de

matriz africana. São, portanto, tão sagrados quanto qualquer outro templo, de

qualquer religião. E, no entanto, esses terreiros têm sofrido constantes

ataques, em diversos pontos do Brasil. Objetos de cultos são destruídos,

seguidores de umbanda e candomblé chamados de “adoradores do diabo” e

Page 8: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

27

suas celebrações e festas religiosas interrompidas, de forma desrespeitosa,

por pessoas de outras religiões (BRASIL, 2004, p. 27).

Diante dessas notas, percebe-se que tanto o estudo dos quilombos como dos

terreiros são importantes para o conhecimento e valorização da história dos povos

africanos e afrodescendentes na formação da sociedade brasileira, assim como a

investigação desses elementos e sua abordagem na literatura brasileira.

Território de denúncias e de lutas

Segundo Fonseca (2010), no período escravista, havia um domínio severo dos

senhores sobre os escravizados; castigos, por vezes, desumanos, eram utilizados como

mecanismo de controle. Ressalta, ainda, que tal mácula é verificada quando, no esforço

de apagamento sobre a memória da escravidão, Rui Barbosa providenciou a destruição

de toda a documentação sobre o elemento servil. Em Os tambores de São Luís,

inúmeras passagens revelam matanças e castigos violentos, selecionaram-se algumas

que desconstroem o caráter pacífico e humano da escravidão negra e refletem sobre o

cativeiro, que predominou no Brasil monárquico:

Se a Justiça é mesmo Justiça, por que não castiga também os brancos? Aqui

mesmo em São Luís, quantos senhores já mataram os seus negros, sem que

nada lhes acontecesse? p. 177.

Como aceitar que no Brasil ainda subsistisse a propriedade do homem sobre

o homem, através do cativeiro? p. 347.

_ Escravos negros são tolerados no Brasil e outros domínios; mas por que

direito e com que títulos, confesso que o ignoro totalmente. p. 347.

Deus estaria de acordo com aquela distinção? Uns livres, outros escravos?

Uns sentados, outros de pé? No entanto, ali na fazenda, os brancos

constituíam a minoria privilegiada, que oprimia a multidão de negros, sem

lhes dar direito a nada, nem mesmo ao banco vazio da capela. E os negros

eram maioria e a força, o vigor e o trabalho. Não seria o caso de perguntar ao

bispo o que fazia Deus que não tirava os pretos do cativeiro? Ou o Deus era

dos brancos e não dos negros? p. 90.

Seria mais rude, mais objetivo. Por que os negros teriam de suportar, durante

toda a vida, o chicote de seus senhores? E onde estava a determinação de

Deus, para que os brancos escravizassem os pretos? p. 194.

Page 9: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

28

Durante o período colonial e monárquico, um conjunto normativo sustentou tais

práticas, ao mesmo tempo em que legitimou o preconceito racial. Na obra em estudo,

tais narrativas são fartas e surgem em momentos variados:

_ Vossa Reverendíssima já sabia desse fato? Asseguro-lhe que é

absolutamente verdadeiro. O Domingos Vale deserdou a filha, por escritura

pública, apenas porque o genro, Vice-Presidente da Província e Comandante

da Guarda Nacional é neto de uma escrava! p.148.

_ Que o preto dê aulas, vá lá: o que ele ensina, repete dos livros que os

brancos escreveram. O que eu não posso aceitar é que um negro dê nota a

um filho meu. P. 342.

_ O resto do Brasil – fique Vossa Reverendíssima sabendo, para sua

orientação como Bispo da Diocese – não leva a palma ao Maranhão, em

matéria de preconceito de cor. Ou se é branco, e tem todas as graças e

regalias, ou se não é, e tem todas as desgraças. p. 152

_ [...] E hoje, pela manhã, recebi um grupo de pais de alunos, com um

abaixo-assinado, onde deixam claro que, se o preto for matriculado, preferem

trancar a matrícula de seus filhos [...]. p. 184

_ Tu és um negro muito atrevido. Se eu soubesse quem era o teu senhor,

mandava que ele te desse uma lição, para aprenderes a dobrar a língua ao

falar com uma pessoa que não é da tua igualha. Seu negro atrevido! Seu

pedaço de patife! p. 391.

Diante do preconceito, da discriminação e do racismo presentes na sociedade

brasileira na segunda metade do século XIX, afirma KOUTSOUKOS (2009, p. 79):

“Não basta ser livre tem que parecer livre”. Segundo a referida autora, nascidos livres

ou alforriados, em geral, copiavam a moda europeia vigente, numa estratégia de

aceitação, ascensão e sobrevivência. E em Montello, lê-se o seguinte diálogo:

E Damião, brioso, mostrando a sua carta de alforria:

_ Eu sou negro livre

_ Com diploma ou sem diploma, eu vou te levar no lugar do outro preto. Tu

vai ter que dar conta do escravo de Donana Jansen. p. 148

Outro aspecto relevante na obra montelliana é o papel dos abolicionistas na

conquista pela libertação: “Eram estudantes, professore, poetas, operários, moços do

comércio, gente do povo, e todos ali se confraternizavam cada um a contribuição

entusiástica de seu trabalho à causa comum” (p. 550). Neste sentido, vale destacar que

vários segmentos da sociedade participaram deste movimento. Entre os abolicionistas

da obra, destaca-se Damião, personagem central, cuja participação na emancipação se

Page 10: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

29

dá em todo o texto, mas, particularmente, na publicação de artigos contra a escravidão

no jornal a Pacotilha. Em um episódio em relação a represálias ao referido jornal,

apresenta-se a seguinte fala do redator do jornal para Damião: “_ Console-se conosco.

Já nos advertiram que vão incendiar o prédio do jornal, se continuarmos a publicar seus

artigos” (p. 546).

Domingues (2009), ao referir-se sobre o papel da imprensa abolicionista e, mais

particularmente da imprensa negra pós-abolição, observa:

A imprensa negra foi pioneira na tarefa de propor alternativas concretas para

a superação do racismo na sociedade brasileira [...] Foram esses jornais que

fizeram as primeiras denúncias do “preconceito de cor” que grassava em

várias cidades do país no início da República, impedindo o negro de ingressar

ou frequentar determinados hotéis, clubes, cinemas teatros, restaurantes,

orfanatos, estabelecimentos comerciais, religiosos, algumas escolas, ruas e

praças públicas (DOMINGUES, 2009, p. 100).

Assim, acredita-se que os apontamentos trazidos da obra ludovicence pode

propiciar o debate a respeito da escravidão, pois traz referências não somente sobre

homens e mulheres escravizados, mas também sobre as lutas de libertação, os

quilombos e as revoltas ocorridas durante esse período, conforme determina a nº Lei

10.639, sancionada em 9 de janeiro de 2003, sobre a qual se discorre no próximo item.

A Lei Federal nº 10.639/2003: breve histórico

Na educação, diversas pesquisas assinalam a existência do racismo como

promotor de desigualdades e tratamentos discriminatórios no espaço escolar,

principalmente referente à inserção de grupos negros e brancos (CAVALLEIRO, 2001;

BENTO, 2006). Da mesma forma, autoras e autores contemporâneos, ao analisarem os

discursos em livros didáticos sob o aspecto ideológico, sustentam a presença de relações

de desigualdades raciais (PINTO, 1987; GOMES, 1996; SILVA, 2008).

Essas iniquidades já eram observadas pelos movimentos sociais negros, desde a

década de 50, do século XX, quando reivindicavam uma reestruturação nos currículos

nacionais:

[...] Portanto, ao perceberem a inferiorização dos negros, ou melhor, a

produção e a reprodução da discriminação racial contra os negros e seus

descendentes no sistema de ensino brasileiro, os movimentos sociais negros

(bem como os intelectuais negros militantes) passaram a incluir em suas

Page 11: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

30

agendas de reivindicações junto ao Estado Brasileiro, no que tange à

educação, o estudo da história do continente africano e dos africanos, a luta

dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da

sociedade nacional brasileira. Parte desta reivindicação já constava na

declaração final do I Congresso do Negro Brasileiro, que foi promovido pelo

Teatro Experimental do Negro (TEN), no Rio de Janeiro, entre 26 de agosto e

4 de setembro de 1950, portanto, há mais de meio século (SANTOS, 2005, p.

23).

Assim, a histórica luta da resistência negra e, posteriormente, dos movimentos

sociais negros organizados, constantemente, denunciou a presença de desigualdades

raciais na sociedade brasileira, bem como reivindicou mudanças na esfera educacional.

Entre as quais se destacam: formação e melhores condições de acesso ao ensino para a

população negra, reformulação dos currículos escolares valorizando o papel e

participação de negras e negros na história do Brasil, erradicação da discriminação

racial e de ideias racistas nos livros escolares e nas escolas.

Portanto, a implementação da Lei Federal nº 10.639/03 (BRASIL, 2003; 2010)

representou um avanço no sentido da promoção da igualdade racial, ao colocar o tema

na pauta da educação: discussões sobre raça, preconceito, discriminação, racismo e

valorização da população negra. Nessa legislação, há uma descrição sobre os temas a

serem tratados no novo conteúdo. São eles: o estudo da História da África e dos

Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação

da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social,

econômica e política pertinente à História do Brasil.

Esses comandos são esclarecedores em relação ao caput. Na inserção do

conteúdo novo, palavras norteadoras se destacam: luta, resgate, contribuição, povo

negro, entre outras. Não há dúvidas de que o pretendido é inserir o negro no pensamento

nacional, rompendo construções estereotipadas e racistas, como aquelas denunciadas

por Cunha Jr. (1996, p. 155):

A historiografia brasileira tem somente origens européias, na tradição greco-romana.

O lado afrodescendente fica nos porões dos navios chamados negreiros, não nas

civilizações africanas. A cultura oficial e acadêmica brasileira teima em desconhecer

a África e a participação (não apenas contribuição) significativa dos

afrodescendentes na formação do pensamento brasileiro. As marcas do

eurocentrismo e do racismo são gritantes quando se trata da avaliação da herança

africana no Brasil.

Page 12: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

31

A esse dispositivo, soma-se outro que afirma que esses conteúdos serão

abordados no âmbito de todo o currículo, preferencialmente nas áreas de e literatura,

história e artes. Não queremos adentrar na questão curricular e seus desdobramentos,

porém vale ressaltar que é o professor que materializa o currículo, transversalmente ou

não. Logo, quando sugere que os conteúdos aqui considerados serão ministrados em

todo o currículo, a Lei está possibilitando professores a serem facilitadores no processo

de construção e transformação dos alunos na perspectiva que propõe. A regra que se

impõe é clara: desconstruir séculos de representações negativas sobre o negro e

reconstruir, reformular e resgatar a história.

De fato, a construção de uma educação voltada para as relações raciais

demandam por reconhecimento, valorização e afirmação dos direitos. No ponto

específico abordado neste trabalho, esse reconhecimento deve ser assegurado pelo

respeito às pessoas negras e pela divulgação dos processos históricos de resistência

exercida pelos povos aqui escravizados e por seus descendentes (BRASIL, 2004). Por

fim, o sucesso da aplicação da legislação em pauta, entre outras ações, exige um estudo

crítico sobre as obras literárias clássicas e atuais capaz de valorizar de valorizar a

história, cultura e identidade dos africanos e seus descendentes e também capaz de

desconstruir séculos de procedimentos raciais discriminatórios.

A título de conclusão

O negro ainda hoje é discriminado racialmente no Brasil. Aqui, o racimo age na

penumbra mesmo no atual estado democrático de direitos, que assegura a todos direitos

adquiridos constitucionalmente. Contudo, há desrespeito em diversas esferas em

relação aos afrodescendentes, quer seja no campo religioso, no intelectual e até mesmo

nas artes e literatura. Na obra de Montello, o que se observa são indícios de alguns

elementos enaltecedores da resistência e da cultura negra, que, como tais, podem ser

aproveitados e discutidos à luz da Lei nº 10.639.

Dessa forma, a obra Os Tambores de São Luís se torna um importante registro a

ser consultado em salas de aula, de forma que alunas e alunos possam ter acesso não só

à história de sofrimento, tão difundida majoritariamente pelos livros de história e

Page 13: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

32

literatura, mas à luta de resistência negra e mobilização do negro em busca de combater

o racismo e seus derivados (preconceito e discriminação raciais) e sanar as

desigualdades existentes na sociedade.

Referências

BARBOSA, Lúcia Maria de Assunção. O personagem negro na literatura brasileira. In:

ABRAMOWICZ, Anete; BARBOSA Maria de Assunção; SILVÉRIO, Valter Roberto

(Orgs.). Educação como prática da diferença. Campinas: Armazém do Ipê, 2006. p.

89-104.

BENTO, Maria Aparecida Silva. Cidadania em preto e branco. São Paulo: Ática,

2006.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: Lei nº 9.394, de 20 de

dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação. 2010. Disponível

em: < http://bd.camara.gov.br/bd/bitstream/handle/bdcamara/2762/ldb_5ed.pdf >.

Acesso em: 05 set. 2011.

______. Lei nº 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Diário Oficial [da] República

Federativa do Brasil. Brasília, DF, 9 jan. 2003. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/L10639. htm>. Acesso em: 03 ago.

2010.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações

Etnicorraciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana.

Brasília, 2004. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=913&catid=194%3Asecad-educacao-

continuada&id=13788%3Adiversidade-etnico-

racial&option=com_content&view=article >. Acesso em: 12 ago. 2010.

_______. Secretaria Especial de Direitos Humanos. Diversidade religiosa e direitos

humanos. 2004. Disponível em: < http://www.mestreirineu.org/diversidade.htm>.

Acesso em: 03 nov. 2012.

BROOKSHAW, David. Raça e cor na literatura brasileira. Porto Alegre: Mercado

Aberto, 1983.

CAMARGO, Denise. Terreiros: territórios simbólicos na cultura afro-brasileira,

postado em 13 de setembro de 2010. Disponível em: <

http://www2.oju.net.br/corpoimagem/2010/09/30/primeiro-post-do-site/>. Acesso em:

09 nov. 2012.

CAVALLEIRO, Eliane (Org.). Racismo e anti-racismo na educação: repensando

nossa escola. São Paulo: Selo Negro, 2001.

CUNHA JR, Henrique. As estratégias de combate ao racismo: movimentos negros na

escola, na universidade e no pensamento brasileiro. In: MUNANGA, Kabengele (Org.).

Page 14: A RESISTÊNCIA NEGRA NA NARRATIVA DE JOSUÉ … · partida a luta dos negros no Brasil, salientando a cultura negra brasileira e a ... Maracaçumé, no caminho do Pará. Na travessia

Web-Revista SOCIODIALETO • www.sociodialeto.com.br Bacharelado e Licenciatura em Letras • UEMS/Campo Grande M e s t r a d o e m L e t r a s • U E M S / C a m p o G r a n d e

I S S N : 2 1 7 8 - 1 4 8 6 • V o l u m e 4 • N ú m e r o 1 0 • j u l h o 2 0 1 3

33

Estratégias e Políticas Púbicas de combate à discriminação racial. São Paulo:

Edusp, 1996.

DOMINGUES, Petrônio. Imprensa de cor. In: FIGUEIREDO. Luciano (Org.). A era

da escravidão. Rio de Janeiro: Sabin, 2009. p. 94-101. .

FONSECA, Maria Nazareth Soares. Visibilidade e ocultação da diferença: imagens do

negro na cultura brasileira. In: FONSECA, Maria Nazareth Soares (Org.). Brasil afro-

brasileiro. Belo Horizonte: Autêntica, 2010.

GOMES, Nilma Lino. Educação, raça e gênero: relações imersas na alteridade.

Cadernos Pagu. São Paulo, n. 6-7, p. 67-82, 1996. Disponível em: <

http://www.ieg.ufsc.br/admin/downloads/artigos/gomes.pdf.>. Acesso em: 30 jul. 2010.

KOUTSOUKOS, Sandra Sofia Machado. O valor da aparência. In: FIGUEIREDO.

Luciano (Org.). A era da escravidão. Rio de Janeiro: Sabin, 2009. p. 79-82

LIMA, Heloisa Pires. Personagens negros: um breve perfil na literatura infanto-juvenil.

In: MUNANGA, Kabengele (Org.). Superando o racismo na escola. Brasília:

Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade. Ministério da

Educação, 2 ed., 2005. p. 95-110.

MONTELLO, Josué. Os tambores de São Luís: a saga do negro brasileiro. 5 ed. Rio

de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.

PINTO, Regina P. A representação do negro em livros didáticos de leitura. Cadernos

de Pesquisa. São Paulo, n. 63, p. 88-92, nov. 1987. Disponível em: <

http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/arquivos/659. pdf>. Acesso em: 01 ago

2010.

REIS, João José. Ameaça negra! In: FIGUEIREDO, Luciano (Org.). A era da

escravidão. Rio de Janeiro: Sabin, 2009. p. 20-28.

SANTOS, Sales Augusto dos. A Lei nº 10.639/03 como fruto da luta anti-racista do

Movimento Negro. In: Educação anti-racista: caminhos abertos pela Lei Federal nº

10.639/03. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada,

Alfabetização e Diversidade, 2005. Disponível em: <

http://unesdoc.unesco.org/images/por.pdf>. Acesso em: 07 jul. 2010.

SILVA, Vinicius Baptista da. Racismo em livros didáticos: estudo sobre negros e

brancos em livros de Língua Portuguesa. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.

Recebido Para Publicação em 15 de julho de 2013.

Aprovado Para Publicação em 26 de julho de 2013.