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279 A REPRODUÇÃO DA DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL NO PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DA RMM Lilian Chirnev (UEM), [email protected] Resumo: O objeto desta pesquisa se refere a uma esfera da desigualdade capaz de expressar uma importante característica da sociedade contemporânea urbana: a desigualdade socioespacial expressa no nível de integração metropolitana. Para abordar essa hierarquia social expressa no território, utilizaremos o nível de integração dos municípios da Região Metropolitana de Maringá (RMM) com a cidade polo (Maringá), para discutir a desigualdade socioespacial. Visamos responder a partir de algumas variáveis, como o lugar onde as pessoas moram no território metropolitano pode ser um indicativo da hierarquia social que caracteriza a estrutura da sociedade. O objetivo geral do presente trabalho é analisar a relação entre o nível de integração intrametropolitano da RMM e o perfil de cada um dos 26 municípios dado pelas variáveis escolhidas, com a finalidade de discutir se a dinâmica de metropolização pode incidir em melhoria ou não das condições sociais dos moradores. Palavras-chave: desigualdade socioespacial; integração intrametropolitana; território.

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A REPRODUÇÃO DA DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL NO

PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DA RMM

Lilian Chirnev (UEM),

[email protected]

Resumo: O objeto desta pesquisa se refere a uma esfera da desigualdade capaz de expressar

uma importante característica da sociedade contemporânea urbana: a desigualdade

socioespacial expressa no nível de integração metropolitana. Para abordar essa hierarquia

social expressa no território, utilizaremos o nível de integração dos municípios da Região

Metropolitana de Maringá (RMM) com a cidade polo (Maringá), para discutir a desigualdade

socioespacial. Visamos responder a partir de algumas variáveis, como o lugar onde as pessoas

moram no território metropolitano pode ser um indicativo da hierarquia social que caracteriza

a estrutura da sociedade. O objetivo geral do presente trabalho é analisar a relação entre o

nível de integração intrametropolitano da RMM e o perfil de cada um dos 26 municípios dado

pelas variáveis escolhidas, com a finalidade de discutir se a dinâmica de metropolização pode

incidir em melhoria ou não das condições sociais dos moradores.

Palavras-chave: desigualdade socioespacial; integração intrametropolitana; território.

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1.Introdução

Esta pesquisa é uma parte componente da dissertação de mestrado, em realização, no

Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, na Universidade Estadual de Maringá

(UEM). O objeto geral se circunscreve a uma esfera da desigualdade capaz de expressar uma

importante característica da sociedade contemporânea urbana: a desigualdade socioespacial

expressa no nível de integração metropolitana na região de Maringá. Para abordar essa

hierarquia social expressa no território, utilizaremos o nível de integração dos municípios da

Região Metropolitana de Maringá (RMM) com a cidade polo (Maringá), a fim de refletir

sobre a desigualdade socioespacial. Visamos responder a partir de algumas variáveis, como o

lugar onde as pessoas moram no território metropolitano pode ser um indicativo da hierarquia

social que caracteriza a estrutura da sociedade.

Socratizando o método de análise, que segundo Edgar Morin (2003) é sempre o

melhor método para acessar o conhecimento, problematizamos e questionamos o todo para

poder entender suas partes pois, da mesma forma, para “pensar globalmente é preciso pensar localizadamente” (MORIN, 2003, p.25). À luz dos

pensadores que constroem a literatura urbanística, a análise buscará responder às questões

delineadas.

O objetivo geral do presente trabalho é analisar a relação entre o nível de integração

intrametropolitano da RMM e o perfil de cada um dos 26 municípios dado pelas variáveis

escolhidas, com a finalidade de discutir se a dinâmica de metropolização pode incidir em

melhoria ou não das condições sociais dos moradores.

A metodologia de abordagem do tema e da construção analítica se utiliza de três

procedimentos: 1º) análise do nível de integração dos municípios metropolitanos com o

município polo, Maringá (OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES, 2015). Destaca-se que

para a construção do nível de metropolização intrametropolitano foram utilizados os seguintes

indicadores: PIB (Produto Interno Bruto), renda, movimento pendular, ritmo de crescimento

da população, grau de urbanização, perfil não agrícola, integração dos diversos municípios

entre si e com o polo, e o perfil da ocupação dos trabalhadores; 2º) identificação e descrição

de indicadores sociais

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como IDHM1, Índice de Gini

2 e renda per capita

3 dos municípios, tomados como variáveis

socioeconômicas para cada territorialidade municipal; 3º) análise comparativa dos indicadores

sistematizados.

O conjunto dos dados apresentados de cada um desses componentes vai permitir a

produção de uma reflexão acerca da atual dinâmica de desenvolvimento urbano e regional

metropolitano, contribuindo para compreender como nesta territorialidade analisada é possível

afirmar que a desigualdade se mantém historicamente enquanto um componente tão fundante

da sociedade atual que sequer a formalização da RMM - instituída pela Lei Complementar

Estadual nº 83 de 1998 - congregou territorialidades municipais homogêneas, quanto ao

fenômeno da metropolização (RODRIGUES, 2004).

A desigualdade mantém e serve ao aprofundamento do enriquecimento de alguns

grupos econômicos, especialmente aqueles ligados ao mercado imobiliário que nesta região

define, desde sua gênese, o modelo de desenvolvimento, inclusive, do conjunto urbano do

entorno da cidade polo que conforma o território metropolitano (RODRIGUES, 2004).

Como interpretar a invisibilidade do universo urbano? Como interpretar a cegueira

diante de algo que é tão visível e tão concreto? Quais são as causas que fomentam

tantas teorias urbanas, propostas, planos e leis que não se aplicam? E a ausência de

dados minimamente confiáveis sobre o universo urbano inclusive no ensino

superior? Como interpretar essa ignorância da universidade, do Estado (em especial

do judiciário) e da mídia? Não há respostas simples a essas perguntas. Não se trata

também de um processo superficial de simples falta de informação mas sim algo que

se relaciona à própria formação da sociedade brasileira. A permanência teimosa da

questão da terra (rural, durante cinco séculos e urbana durante um século) sem

resolução fornece um manancial abundante de explicações. A demora e a forma

como foi “resolvida” a questão da mão de obra escrava fornece outro. Refletindo

sobre essa história percebemos que a invisibilidade se aplica a uma parte da

sociedade, especialmente os negros. As principais mudanças ocorridas no país nunca

romperam com heranças arcaicas como a relação de poder baseada no mando que

decorre do patrimônio (MARICATO, 2002, p. 81-84).

Este artigo se constitui na leitura e reflexão sobre um dos aspectos que caracterizam

o urbano brasileiro atual: o metropolitano.

1 PNUD, Atlas de IDHM, 2010- Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) - Média geométrica dos índices das dimensões Renda, Educação e Longevidade, com pesos iguais .

2 Índice de Gini - Mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita (PNUD, 2010).

3 Renda per capita - Razão entre o somatório da renda de todos os indivíduos residentes em domicílios particulares permanentes e o número total desses indivíduos (IBGE- Censo Demográfico, 2010).

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2. Análise do nível de integração intrametropolitana da RMM

Partimos do pressuposto que o território urbano expressa a hierarquia da sociedade.

Para abordar essa hierarquia social expressa no território, utilizaremos o nível de integração

dos municípios da Região Metropolitana de Maringá (RMM) com a cidade polo (Maringá), a

fim de discutir a desigualdade socioespacial. Visamos responder a partir de algumas variáveis,

de acordo com metodologia desenvolvida pelo Observatório das Metrópoles (2015)4, como o

lugar onde as pessoas moram no território metropolitano pode ser um indicativo da hierarquia

social que caracteriza a estrutura da sociedade.

O nível de integração metropolitano é uma medida para mensurar, em quais setores e

em que medidas os municípios metropolitanos se integram com o município polo de Maringá.

Segundo os resultados apresentados (OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES, 2015), há

uma total ausência de parâmetros que padronizem os critérios de identificação de municípios

que poderiam integrar as aglomerações metropolitanas, sedo que esta classificação ora

realizada, demonstra exatamente qual o conjunto de municípios está inserido em determinado

indicativo que se integra nos níveis mais fortes da dinâmica da aglomeração, que na essência,

perfaz o adensamento de fluxos econômicos e populacionais.

Destaca-se que para a construção do nível de metropolização intrametropolitano

foram utilizados os seguintes indicadores: Produto Interno Bruto (PIB), renda, movimento

pendular, ritmo de crescimento da população, grau de urbanização, perfil não agrícola,

integração dos diversos municípios entre si e com o polo, e o perfil da ocupação dos

trabalhadores.

A principal fonte para a construção desse indicador de metropolização

intrametropolitano foram os microdados da Amostra e os dados do Universo do Censo

Demográfico do IBGE (2010). Como resultado, chegou-se aos agrupamentos de municípios a

partir de tamanhos populacionais, importâncias socioeconômicas e graus de complexidade

muitos diferenciados. Os níveis de integração de cada município ao polo metropolitano foram

definidos na seguinte escala: muito alto, alto, médio, baixo e muito baixo.

4 Trabalho inédito construído pelas pesquisadoras Cledina Regina Lonardon Accorsi e Ana Lúcia

Rodrigues (2015).

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O pressuposto das discussões e das análises realizadas é a ausência de

correspondência entre a institucionalização da RMM, efetivada de maneira aleatória

atendendo a interesses e acordos políticos pelos agentes do Estado, e o concreto procedimento

de metropolização, em detrimento das ações políticas, econômicas e discursivas.

Assim, alguns dos municípios que fazem parte da região metropolitana apresentam

níveis muito baixos ou baixos de integração à dinâmica de metropolização (que as variáveis

escolhas expressam), agregando para a RM institucionalizada, unidades com perfis distantes

dos processos mais peculiares que justificam o fenômeno urbano do aglomerado. Para o

processo de classificação dos municípios, recorreu-se a técnicas estatísticas que permitissem

identificar o grau de associação entre os indicadores utilizados e a maior homogeneidade entre

os municípios incluídos em cada agrupamento. Optou-se pela análise multivariada, a qual

permite o tratamento simultâneo de inúmeras unidades observacionais correspondentes a

medidas de diferentes variáveis.

O objetivo de utilização da análise multivariada foi o de identificar, a partir das

variáveis previamente selecionadas, quais seriam as mais relevantes para estabelecer uma

tipologia entre os municípios que conformam os grandes espaços urbanos brasileiros,

estabelecendo grupos de municípios relativamente homogêneos, os quais constituiriam uma

hierarquia com base no nível de articulação intra-aglomerado, particularmente com os centros

principais.

O quadro 1 apresenta a distribuição dos municípios conforme sua classificação

quanto ao nível de integração na dinâmica da aglomeração, em especial na sua integração com

o município polo. As informações com base nos microdados do Censo Demográfico de 2010

correspondem às disponibilizados até 17 de julho de 2012.

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QUADRO 1 – Classificação dos municípios da Região Metropolitana de

Maringá segundo o seu nível de integração com o polo metropolitano, 2015.

Nome dos Municípios Nível de Integração

Maringá POLO

Mandaguaçu ALTO

Paiçandu ALTO

Sarandi ALTO

Astorga MEDIO ALTO

Mandaguari MEDIO ALTO

Marialva MEDIO ALTO

Nova Esperança MEDIO ALTO Bom Sucesso MÉDIO

Itambé MEDIO

Jandaia do Sul MEDIO

Lobato MEDIO

Santa Fé MEDIO

Cambira BAIXO

Floresta BAIXO

Flórida BAIXO

Iguaraçu BAIXO

Ivatuba BAIXO

Ourizona BAIXO

Presidente Castelo Branco BAIXO

Ângulo MUITO BAIXO

Atalaia MUITO BAIXO

Doutor Camargo MUITO BAIXO

Floraí MUITO BAIXO

Munhoz de Melo MUITO BAIXO

Sao Jorge do Ivaí MUITO BAIXO FONTE: Observatório das Metrópoles, Classificação do nível de integração

dos municípios da RMM com o polo Maringá, Relatório de Pesquisa realizada por Cledina R. Lonardon Accorsi e Ana Lúcia Rodrigues, 2015 (trabalho inédito).

Observa-se que os municípios com nível alto de integração (Mandaguaçu, Paiçandu

e Sarandi) são os que estão mais próximos geograficamente de Maringá, portanto, o polo se

beneficia do “uso da mão de obra das cidades periféricas mais próximas em ocupações menos

qualificadas, que [...] somadas a ausência de uma estrutura econômico-produtiva periférica

leva a deterioração da renda desses municípios” (RODRIGUES, p.141, 2015).

O nível de integração, de acordo com RODRIGUES (2015):

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incorpora a dinâmica das relações econômicas, sociais e institucionais com impactos

efetivos sentidos no ambiente socioeconômico de cada município metropolitano e na

RM como um todo. Desta forma, na RM de Maringá o maior nível de integração

impactou diretamente no aumento da participação municipal na estrutura

econômico-produtiva metropolitana. (RODRIGUES, p.141, 2015).

Os demais municípios seguem na escala de classificação, de acordo com a medida de

integração de seus indicadores em relação ao polo. Por isso, o nível de integração para os

municípios de Ângulo, Atalaia, Doutor Camargo, Floraí, Munhoz de Melo e São Jorge do Ivaí

é muito baixo, seus indicadores comprovam a ausência de integração com Maringá,

reafirmando mais uma vez que a única condição para a institucionalização da RMM foi

política.

3. Indicadores Sociais para a leitura socioeconômica regional.

Para atender ao objetivo de analisar a relação entre o nível de integração

intrametropolitano da RMM e os indicadores sociais definidos de cada um dos 26 municípios,

com o propósito de discutir se a dinâmica de metropolização pode incidir em melhoria ou não

das condições sociais dos moradores, os dados foram integrados a uma base comparativa, cujo

resultado da análise está apresentado na próxima seção.

Para compreender o contexto desses contrapontos sob a perspectiva dessas estruturas

comparativas, nesta parte do presente artigo se faz necessária a identificação e descrição dos

indicadores sociais essenciais a esse processo. As variáveis socioeconômicas escolhidas

intrarregionais para estabelecer comparações são: o Índice de Desenvolvimento Humano

Municipal (IDHM) , Índice de Gini e renda per capita dos municípios.

Os indicadores sociais foram extraídos do Atlas do Desenvolvimento Humano no

Brasil e também do Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas (PNUD,

IDHM, 2013).

O IDHM é um índice composto, bastante utilizado no mundo para leituras sociais das

realidades de todos os países, pela junção de três indicadores: a longevidade, a educação e a

renda. Tais fatores são considerados significativos para mensurar o desenvolvimento humano

nos municípios e regiões metropolitanas brasileiras e da maioria dos países.

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A renda per capita é outro indicar social que utilizamos consistindo na “razão entre o

somatório da renda de todos os indivíduos residentes em domicílios particulares permanentes

e o número total desses indivíduos. Valores em reais de 01 de agosto de 2010” (ATLAS do

IDHM, 2013).

Com relação ao Índice de Gini, o indicador, conforme o Atlas do IDHM, mensura o

grau de desigualdade na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. O

seu valor pode variar de 0 a 1, sendo que 0 representa a inexistência de desigualdade de renda

domiciliar per capita, tendo o mesmo valor de renda entre todos os indivíduos. O 1 revela a

máxima desigualdade, ou seja, que somente um indivíduo detém toda a renda per capita

domiciliar. “O universo de indivíduos é limitado àqueles que vivem em domicílios

particulares permanentes” (ATLAS do IDH-M, 2013).

O quadro 2 apresenta o resultado dos indicadores sociais distribuídos nos 26

municípios da RMM.

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QUADRO 2 – Índice de Gini, IDH-M e PIB per capita dos 26 municípios da

RMM, 2015. Índice de

NOME_MUN Gini IDHM

(2010) (2010) Renda per capita (2010)

Maringá

0,49

0,808

1202,63

Mandaguaçu 0,41 0,718 693,16

Paiçandu 0,36 0,716 610,64

Sarandi 0,35 0,695 554,48

Astorga 0,5 0,747 875,14

Mandaguari 0,45 0,751 762,54

Marialva 0,44 0,735 765,58

Nova Esperança 0,46 0,722 719,26

Bom Sucesso 0,43 0,686 592,27

Itambé 0,36 0,746 588,49

Jandaia do Sul 0,46 0,747 803,28

Lobato 0,38 0,744 653,7

Santa Fé 0,41 0,705 709,44

Cambira

0,42

0,725

630,19

Floresta 0,36 0,736 649,71

Flórida 0,39 0,732 652,52

Iguaraçu 0,42 0,758 678,32

Ivatuba 0,43 0,766 699,09

Ourizona 0,44 0,72 709,99

Presidente Castelo Branco 0,37 0,713 603,83

Ângulo 0,44 0,721 641,37

Atalaia 0,41 0,736 649,55

Doutor Camargo

Floraí

Munhoz de Melo

Sao Jorge do Ivaí

0,39 0,746 639,19

0,43 0,745 792,48

0,39 0,726 637,77

0,43 0,743 738,42 Fontes: IBGE, 2010, PHUD-Atlas do IDH-M, 2010.

O polo apresenta maior IDHM (0,8) e renda per capita (R$ 1.202,63) comparado aos

demais 25 municípios da RMM, mas, seu Índice de Gini é o segundo colocado na escala de

desigualdade máxima (0,49).

Mandaguaçu e Paiçandu apresentam IDHM de 0,718 e 0,716, respectivamente.

Sarandi registra o segundo menor IDHM da região, com índice 0,695, Presidente Castelo

Branco com 0,713, Ivatuba com 0,766, Ângulo 0,721, Doutor Camargo 0,746 e o menor

IDHM regional é o de Bom Sucesso com 0,686.

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A renda per capita de Paiçandu e Mandaguaçu possuem respectivamente renda per

capita de R$ 610,64 e R$ 693,16. Astorga é o segundo maior rendimento da RMM, com R$

875,14. Nova Esperança com R$ 719,26, Mandaguari com R$ 762,54 e Marialva com R$

765,58. Em Itambé a renda per capita é de R$ 588,49, Lobato atinge R$ 653,7 e Santa Fé com

R$ 709,44. A terceira maior renda per capita regional é de Jandaia do Sul com R$ 803,28.

Presidente Castelo Branco tem renda per capita de R$ 603,83, Ourizona com R$ 709,99,

Munhoz de Melo R$ 637,77, Doutor Camargo R$ 639,19, Ângulo R$ 641,37, Atalaia R$

649,55, São Jorge do Ivaí R$ 738,42 e Floraí R$ 792,48. Sarandi possui a menor renda per

capita regional com R$ 554,48.

Quanto ao Índice de Gini, Marialva possui 0,44, Mandaguari 0,45 e Nova Esperança

0,46. O Índice de Gini segue com a menor desigualdade para Itambé com 0,36. O Índice de

Gini de Floresta é 0,36 e o de Ourizona com 0,44, Doutor Camargo e Floraí com 0,39, e

Ângulo com 0,44. O maior índice de desigualdade em relação aos demais municípios é

Astorga com 0,5.

4. Lugar no território versus indicativo da hierarquia social

Nesta seção do artigo realizamos a junção da relação do conjunto dos dados

apresentados, para permitir a produção de uma análise comparativa a fim de averiguar acerca

da atual dinâmica de desenvolvimento urbano e regional metropolitano, contribuindo para

compreender como o território metropolitano, por meio da análise de um indicador de

integração metropolitana, aponta quais são os municípios da RMM que fazem parte da

dinâmica de metropolização e quais não fazem.

A leitura socioeconômica da região define como o lugar onde as pessoas moram no

território metropolitano pode ser um indicativo da hierarquia social, tendo na dinâmica de

metropolização do nível de integração, um indicador das condições sociais e econômicas de

seus moradores. O quadro 3 reúne os dados pesquisados e representa o perfil social da

integração entre os municípios da RMM.

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QUADRO 3 – Classificação dos municípios da Região Metropolitana de Maringá

segundo o seu nível de integração com o polo metropolitano e seus indicadores

sociais, Índice de Gini, IDH-M e PIB per capita, 2015.

Nome dos Nível de Índice de Gini Renda per capita

Municípios Integração (2010) IDHM (2010) (R$/2010)

Maringá

POLO

0,49

0,808

1202,63

Mandaguaçu ALTO 0,41 0,718 693,16

Paiçandu ALTO 0,36 0,716 610,64

Sarandi ALTO 0,35 0,695 554,48 Astorga MEDIO ALTO 0,5 0,747 875,14

Mandaguari MEDIO ALTO 0,45 0,751 762,54

Marialva MEDIO ALTO 0,44 0,735 765,58

Nova Esperança MEDIO ALTO 0,46 0,722 719,26

Bom Sucesso MÉDIO 0,43 0,686 592,27

Itambé MEDIO 0,36 0,746 588,49

Jandaia do Sul MEDIO 0,46 0,747 803,28

Lobato MEDIO 0,38 0,744 653,7

Santa Fé MEDIO 0,41 0,705 709,44

Cambira BAIXO 0,42 0,725 630,19

Floresta BAIXO 0,36 0,736 649,71

Flórida BAIXO 0,39 0,732 652,52

Iguaraçu BAIXO 0,42 0,758 678,32

Ivatuba BAIXO 0,43 0,766 699,09

Ourizona BAIXO 0,44 0,72 709,99

Presidente Castelo Branco BAIXO 0,37 0,713 603,83

Ângulo MUITO BAIXO 0,44 0,721 641,37

Atalaia MUITO BAIXO 0,41 0,736 649,55

Doutor Camargo MUITO BAIXO 0,39 0,746 639,19

Floraí MUITO BAIXO 0,43 0,745 792,48

Munhoz de Melo MUITO BAIXO 0,39 0,726 637,77

Sao Jorge do Ivaí MUITO BAIXO 0,43 0,743 738,42 FONTES: Observatório das Metrópoles, Classificação do nível de integração dos municípios

da RMM com o polo Maringá, Relatório de Pesquisa realizada por Cledina R. Lonardon

Accorsi e Ana Lúcia Rodrigues, 2015 (trabalho inédito), IBGE, 2010 e PHUD-Atlas do

IDH-M, 2010.

Observa-se que município polo, Maringá, apresenta maior IDHM (0,8) e renda per

capita, (R$ 1.202,63) comparado aos demais 25 municípios da RMM. No entanto, o seu

Índice de Gini é o segundo colocado na escala de desigualdade máxima atingindo o patamar

de 0,49, sendo que a maior desigualdade identificada na lista é do município de Astorga com

0,5.

Já na análise comparativa global, entre o nível de integração versus os indicadores

sociais, constata-se que os municípios com Alto nível de integração com o polo -

Mandaguaçu, Paiçandu e Sarandi -, apresentam indicadores sociais

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distintos. Mandaguaçu e Paiçandu apresentam IDHM muito próximos, sendo respectivamente

0,718 e 0,716. Sarandi, no entanto, possui o segundo menor IDHM da RMM, com índice

0,695, ficando a frente somente de Bom Sucesso com 0,686, cujo nível de integração ao polo

é considerado Médio.

A renda per capita desses municípios também surpreendem. Enquanto o polo atinge

cifras acima de R$ 1.200,00, Paiçandu e Mandaguaçu não atingem renda per capita de R$

700,00, sendo R$ 610,64 e R$ 693,16 respectivamente. A renda per capita de Sarandi é ainda

menor, com valor muito abaixo de R$ 600,00, sendo a menor renda per capita regional com

R$ 554,48.

Dos municípios com nível de integração Médio Alto – Astorga, Mandaguari,

Marialva e Nova Esperança, no quesito Índice de Gini, as variações vão de 0,44 para

Marialva, 0,45 em Mandaguari, 0,46 em Nova Esperança e com o maior índice de

desigualdade em relação aos demais municípios da RMM está Astorga com 0,5. No que se

refere ao IDHM, os municípios apresentam índices de 0,722 a 0,751, mantendo-se na média

dos demais. A renda per capita é o destaque desse grupo, sendo Astorga com o segundo maior

rendimento R$ da RMM, com R$ 875,14. Os três demais municípios mantém renda per capita

acima de R$ 700,00, sendo Nova Esperança com R$ 719,26, Mandaguari com R$ 762,54 e

Marialva com R$ 765,58.

Para o nível de integração Médio estão os municípios de Bom Sucesso, Itambé,

Jandaia do Sul, Lobato e Santa Fé. O Índice de Gini segue com a menor desigualdade para

Itambé com 0,36 e o maior em Jandaia do Sul com 0,46. Quanto aos indicadores sociais, essa

categoria aglutina o menor IDHM e a segunda menor renda per capita, se comparado aos

demais municípios da RMM. Bom Sucesso tem o segundo menor IDHM regional com 0,686 e

sua renda per capita é de R$ 592,27, o terceiro menor valor desse índice na RMM. Ainda

quanto a renda per capita, Itambé é o segundo menor índice com R$ 588,49. Já Lobato atinge

R$ 653,7 e Santa Fé com R$ 709,44. A terceira maior renda per capita regional é de Jandaia

do Sul com R$ 803,28.

Para os municípios com nível de integração em relação ao polo designados como

Baixo – Cambira, Floresta, Flórida, Iguaraçu, Ivatuba, Ourizona e Presidente Castelo Branco -

, os números se revelam sem registros entre o máximo e o mínimo dos indicadores sociais.

Nesse grupo o menor Índice de Gini (menor desigualdade) é de Floresta com 0,36 e o maior

de Ourizona com 0,44. O menor IDHM se apresenta em Presidente Castelo Branco com 0,713

e o maior em Ivatuba com 0,766. A renda

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per capita entre os municípios desse mesmo grupo pode variar em mais de R$ 100,00, com a

menor renda em Presidente Castelo Branco R$ 603,83 e o maior em Ourizona com R$

709,99.

Presidente Castelo Branco é o município com índices mais significativos nessa faixa

de integração. Observa-se que mesmo com menor IDHM (0,713) e menor renda per capita

(R$ 603,83), o Índice de Gini é o que está com segundo menor no que se refere a

desigualdade com 0,37, ou seja, o indicador que mensura o grau de desigualdade na

distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita, o seu valor sendo mais

próximo de 0 representa a inexistência de desigualdade de renda domiciliar per capita, tendo o

mesmo valor de renda entre todos os indivíduos.

E por último, o nível de integração Muito Baixo para os municípios de Ângulo,

Atalaia, Doutor Camargo, Floraí, Munhoz de Melo e São Jorge do Ivaí. O Índice de Gini da

mesma forma não apresenta desigualdades substanciais entre si, sendo Doutor Camargo e

Floraí com 0,39, e Ângulo com 0,44. O IDHM, no entanto, possui números com ínfimas

distinções, partindo de 0,721 em Ângulo e atingindo 0,746 em Doutor Camargo. A renda per

capita encerra a análise dos dados com valores muito próximos entre os municípios de

Munhoz de Melo (R$ 637,77), Doutor Camargo (R$ 639,19), Ângulo (R$ 641,37) e Atalaia

(R$ 649,55), distantes portanto de São Jorge do Ivaí (R$ 738,42) e Floraí (R$ 792,48).

5. Conclusão

Respondendo a partir das variáveis escolhidas, como o lugar onde as pessoas moram

no território metropolitano pode ser um indicativo da hierarquia social que caracteriza a

estrutura da sociedade, é importante enfatizar que os pressupostos e questionamentos

delineados no decorrer do artigo exprimem um contraste numérico em relação a correlação no

que concerne aos níveis de integração dos 25 municípios em relação ao polo (Maringá),

institucionalizado de forma legal pelo Estado, mas, distante da realidade da dinâmica

intrametropolitana.

Em outras palavras, o fato de determinados municípios terem alto nível de

integração com o polo, compartilhando variáveis afins como o PIB, renda, movimento

pendular, ritmo de crescimento da população, grau de urbanização, perfil não agrícola,

integração dos diversos municípios entre si e com o polo, e o perfil da

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ocupação dos trabalhadores, não significa garantia de indicadores sociais bem sucedidos, ou

mesmo equitativos.

O exemplo mais evidente é a renda per capita dos municípios com nível de

integração alto com o polo. Enquanto Maringá possui renda per capita de R$ 1.202,63,

Paiçandu e Mandaguaçu atingem renda per capita de R$ 610,64 e R$ 693,16 respectivamente.

A renda per capita de Sarandi é a menor renda per capita regional de R$ 554,48.

A análise da relação entre o nível de integração intrametropolitano da RMM e o

perfil de cada um dos 26 municípios dado pelas variáveis escolhidas, demonstra que a

integração não incide em melhorias nas condições sociais dos moradores. A explicação

detalhada e aprofundada para o contexto desse cenário aqui anunciado, está em recente

publicação (RODRIGUES, Maringá: Transformações na Ordem Urbana, p. 459, 2015)

relatando que a RMM é uma área metropolitana classificada como metrópole liberal-

periférica, um modelo de classificação oriundo da literatura urbana nacional.

A tipologia sócio-ocupacional regional exibe transformações nas categorias dos

trabalhadores da indústria e, portanto, sobre o cenário das desigualdades sociais,

pois a ação política e econômica local participa e reproduz localmente a redução do

emprego, vivenciando a situação nacional de pleno emprego e de redução das

desigualdades em função de políticas nacionais, mas isso não reduz as desigualdades

que marcam a estrutura social dessa região desde sua gênese. Em sentido contrário,

há aumento da concentração de renda e da distância entre os que estão no topo e os

da base da hierarquia social regional metropolitana (RODRIGUES, p.459, 2015).

Como destaca Villaça (p.73, 2001) “o espaço urbano é produto produzido”. E como

tal, aufere poder aos seus gestores, que sujeitam aos seus interesses a “produção e o consumo do espaço urbano” (Ibid, p.225, 2001). O território hierarquizado - de

acordo com aspectos socioeconômicos - delimitou a ocupação inicial dos lotes desta região

por um profundo processo de segregação socioespacial, justificado pelo viés mercadológico.

De acordo com as reflexões do autor (VILLAÇA, 2011), pode-se compreender que a

apropriação espacial é o pressuposto para dominação política. Tal ideologia culmina não

somente na produção desse desnível econômico progressivo, mas, torna-se essencial para a

manutenção desse modelo de estratificação da sociedade em classes.

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6. Referências

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MARICATO, Ermínia. As ideias fora do lugar e o lugar fora das ideias. (1999) _________. Erradicar o Analfabetismo Urbanístico. Texto para Revista da FASE, Rio de Janeiro, março de 2002. Disponível em:

https://erminiamaricato.files.wordpress.com/2012/03/maricato_analfabetismourbano. pdf. Acesso em: 05/05/2015.

MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução Eloá Jacobina. 8, ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES (2015). Relatório de Pesquisa do Nível de Integração Metropolitana da RMM, Maringá.

PNUD (2013). Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, disponível em: http:// /. Acesso em: 20 de setembro de 2015.

RODRIGUES, Ana L. (2004). A pobreza mora ao lado: segregação socioespacial na região

metropolitana de Maringá, Tese (Doutorado no Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. ___________________ Maringá: transformações na ordem urbana [recurso eletrônico] / organização Ana Lúcia Rodrigues; coordenação Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Letra Capital; Observatório das Metrópoles, 2015.

VILLAÇA, Flavio. VILLAÇA, Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, FAPESP; Lincoln Institute, 2001.