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A REPRODUÇÃO DA DESIGUALDADE SOCIOESPACIAL NO
PROCESSO DE INTEGRAÇÃO DA RMM
Lilian Chirnev (UEM),
Resumo: O objeto desta pesquisa se refere a uma esfera da desigualdade capaz de expressar
uma importante característica da sociedade contemporânea urbana: a desigualdade
socioespacial expressa no nível de integração metropolitana. Para abordar essa hierarquia
social expressa no território, utilizaremos o nível de integração dos municípios da Região
Metropolitana de Maringá (RMM) com a cidade polo (Maringá), para discutir a desigualdade
socioespacial. Visamos responder a partir de algumas variáveis, como o lugar onde as pessoas
moram no território metropolitano pode ser um indicativo da hierarquia social que caracteriza
a estrutura da sociedade. O objetivo geral do presente trabalho é analisar a relação entre o
nível de integração intrametropolitano da RMM e o perfil de cada um dos 26 municípios dado
pelas variáveis escolhidas, com a finalidade de discutir se a dinâmica de metropolização pode
incidir em melhoria ou não das condições sociais dos moradores.
Palavras-chave: desigualdade socioespacial; integração intrametropolitana; território.
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1.Introdução
Esta pesquisa é uma parte componente da dissertação de mestrado, em realização, no
Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, na Universidade Estadual de Maringá
(UEM). O objeto geral se circunscreve a uma esfera da desigualdade capaz de expressar uma
importante característica da sociedade contemporânea urbana: a desigualdade socioespacial
expressa no nível de integração metropolitana na região de Maringá. Para abordar essa
hierarquia social expressa no território, utilizaremos o nível de integração dos municípios da
Região Metropolitana de Maringá (RMM) com a cidade polo (Maringá), a fim de refletir
sobre a desigualdade socioespacial. Visamos responder a partir de algumas variáveis, como o
lugar onde as pessoas moram no território metropolitano pode ser um indicativo da hierarquia
social que caracteriza a estrutura da sociedade.
Socratizando o método de análise, que segundo Edgar Morin (2003) é sempre o
melhor método para acessar o conhecimento, problematizamos e questionamos o todo para
poder entender suas partes pois, da mesma forma, para “pensar globalmente é preciso pensar localizadamente” (MORIN, 2003, p.25). À luz dos
pensadores que constroem a literatura urbanística, a análise buscará responder às questões
delineadas.
O objetivo geral do presente trabalho é analisar a relação entre o nível de integração
intrametropolitano da RMM e o perfil de cada um dos 26 municípios dado pelas variáveis
escolhidas, com a finalidade de discutir se a dinâmica de metropolização pode incidir em
melhoria ou não das condições sociais dos moradores.
A metodologia de abordagem do tema e da construção analítica se utiliza de três
procedimentos: 1º) análise do nível de integração dos municípios metropolitanos com o
município polo, Maringá (OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES, 2015). Destaca-se que
para a construção do nível de metropolização intrametropolitano foram utilizados os seguintes
indicadores: PIB (Produto Interno Bruto), renda, movimento pendular, ritmo de crescimento
da população, grau de urbanização, perfil não agrícola, integração dos diversos municípios
entre si e com o polo, e o perfil da ocupação dos trabalhadores; 2º) identificação e descrição
de indicadores sociais
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como IDHM1, Índice de Gini
2 e renda per capita
3 dos municípios, tomados como variáveis
socioeconômicas para cada territorialidade municipal; 3º) análise comparativa dos indicadores
sistematizados.
O conjunto dos dados apresentados de cada um desses componentes vai permitir a
produção de uma reflexão acerca da atual dinâmica de desenvolvimento urbano e regional
metropolitano, contribuindo para compreender como nesta territorialidade analisada é possível
afirmar que a desigualdade se mantém historicamente enquanto um componente tão fundante
da sociedade atual que sequer a formalização da RMM - instituída pela Lei Complementar
Estadual nº 83 de 1998 - congregou territorialidades municipais homogêneas, quanto ao
fenômeno da metropolização (RODRIGUES, 2004).
A desigualdade mantém e serve ao aprofundamento do enriquecimento de alguns
grupos econômicos, especialmente aqueles ligados ao mercado imobiliário que nesta região
define, desde sua gênese, o modelo de desenvolvimento, inclusive, do conjunto urbano do
entorno da cidade polo que conforma o território metropolitano (RODRIGUES, 2004).
Como interpretar a invisibilidade do universo urbano? Como interpretar a cegueira
diante de algo que é tão visível e tão concreto? Quais são as causas que fomentam
tantas teorias urbanas, propostas, planos e leis que não se aplicam? E a ausência de
dados minimamente confiáveis sobre o universo urbano inclusive no ensino
superior? Como interpretar essa ignorância da universidade, do Estado (em especial
do judiciário) e da mídia? Não há respostas simples a essas perguntas. Não se trata
também de um processo superficial de simples falta de informação mas sim algo que
se relaciona à própria formação da sociedade brasileira. A permanência teimosa da
questão da terra (rural, durante cinco séculos e urbana durante um século) sem
resolução fornece um manancial abundante de explicações. A demora e a forma
como foi “resolvida” a questão da mão de obra escrava fornece outro. Refletindo
sobre essa história percebemos que a invisibilidade se aplica a uma parte da
sociedade, especialmente os negros. As principais mudanças ocorridas no país nunca
romperam com heranças arcaicas como a relação de poder baseada no mando que
decorre do patrimônio (MARICATO, 2002, p. 81-84).
Este artigo se constitui na leitura e reflexão sobre um dos aspectos que caracterizam
o urbano brasileiro atual: o metropolitano.
1 PNUD, Atlas de IDHM, 2010- Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) - Média geométrica dos índices das dimensões Renda, Educação e Longevidade, com pesos iguais .
2 Índice de Gini - Mede o grau de desigualdade existente na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita (PNUD, 2010).
3 Renda per capita - Razão entre o somatório da renda de todos os indivíduos residentes em domicílios particulares permanentes e o número total desses indivíduos (IBGE- Censo Demográfico, 2010).
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2. Análise do nível de integração intrametropolitana da RMM
Partimos do pressuposto que o território urbano expressa a hierarquia da sociedade.
Para abordar essa hierarquia social expressa no território, utilizaremos o nível de integração
dos municípios da Região Metropolitana de Maringá (RMM) com a cidade polo (Maringá), a
fim de discutir a desigualdade socioespacial. Visamos responder a partir de algumas variáveis,
de acordo com metodologia desenvolvida pelo Observatório das Metrópoles (2015)4, como o
lugar onde as pessoas moram no território metropolitano pode ser um indicativo da hierarquia
social que caracteriza a estrutura da sociedade.
O nível de integração metropolitano é uma medida para mensurar, em quais setores e
em que medidas os municípios metropolitanos se integram com o município polo de Maringá.
Segundo os resultados apresentados (OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES, 2015), há
uma total ausência de parâmetros que padronizem os critérios de identificação de municípios
que poderiam integrar as aglomerações metropolitanas, sedo que esta classificação ora
realizada, demonstra exatamente qual o conjunto de municípios está inserido em determinado
indicativo que se integra nos níveis mais fortes da dinâmica da aglomeração, que na essência,
perfaz o adensamento de fluxos econômicos e populacionais.
Destaca-se que para a construção do nível de metropolização intrametropolitano
foram utilizados os seguintes indicadores: Produto Interno Bruto (PIB), renda, movimento
pendular, ritmo de crescimento da população, grau de urbanização, perfil não agrícola,
integração dos diversos municípios entre si e com o polo, e o perfil da ocupação dos
trabalhadores.
A principal fonte para a construção desse indicador de metropolização
intrametropolitano foram os microdados da Amostra e os dados do Universo do Censo
Demográfico do IBGE (2010). Como resultado, chegou-se aos agrupamentos de municípios a
partir de tamanhos populacionais, importâncias socioeconômicas e graus de complexidade
muitos diferenciados. Os níveis de integração de cada município ao polo metropolitano foram
definidos na seguinte escala: muito alto, alto, médio, baixo e muito baixo.
4 Trabalho inédito construído pelas pesquisadoras Cledina Regina Lonardon Accorsi e Ana Lúcia
Rodrigues (2015).
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O pressuposto das discussões e das análises realizadas é a ausência de
correspondência entre a institucionalização da RMM, efetivada de maneira aleatória
atendendo a interesses e acordos políticos pelos agentes do Estado, e o concreto procedimento
de metropolização, em detrimento das ações políticas, econômicas e discursivas.
Assim, alguns dos municípios que fazem parte da região metropolitana apresentam
níveis muito baixos ou baixos de integração à dinâmica de metropolização (que as variáveis
escolhas expressam), agregando para a RM institucionalizada, unidades com perfis distantes
dos processos mais peculiares que justificam o fenômeno urbano do aglomerado. Para o
processo de classificação dos municípios, recorreu-se a técnicas estatísticas que permitissem
identificar o grau de associação entre os indicadores utilizados e a maior homogeneidade entre
os municípios incluídos em cada agrupamento. Optou-se pela análise multivariada, a qual
permite o tratamento simultâneo de inúmeras unidades observacionais correspondentes a
medidas de diferentes variáveis.
O objetivo de utilização da análise multivariada foi o de identificar, a partir das
variáveis previamente selecionadas, quais seriam as mais relevantes para estabelecer uma
tipologia entre os municípios que conformam os grandes espaços urbanos brasileiros,
estabelecendo grupos de municípios relativamente homogêneos, os quais constituiriam uma
hierarquia com base no nível de articulação intra-aglomerado, particularmente com os centros
principais.
O quadro 1 apresenta a distribuição dos municípios conforme sua classificação
quanto ao nível de integração na dinâmica da aglomeração, em especial na sua integração com
o município polo. As informações com base nos microdados do Censo Demográfico de 2010
correspondem às disponibilizados até 17 de julho de 2012.
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QUADRO 1 – Classificação dos municípios da Região Metropolitana de
Maringá segundo o seu nível de integração com o polo metropolitano, 2015.
Nome dos Municípios Nível de Integração
Maringá POLO
Mandaguaçu ALTO
Paiçandu ALTO
Sarandi ALTO
Astorga MEDIO ALTO
Mandaguari MEDIO ALTO
Marialva MEDIO ALTO
Nova Esperança MEDIO ALTO Bom Sucesso MÉDIO
Itambé MEDIO
Jandaia do Sul MEDIO
Lobato MEDIO
Santa Fé MEDIO
Cambira BAIXO
Floresta BAIXO
Flórida BAIXO
Iguaraçu BAIXO
Ivatuba BAIXO
Ourizona BAIXO
Presidente Castelo Branco BAIXO
Ângulo MUITO BAIXO
Atalaia MUITO BAIXO
Doutor Camargo MUITO BAIXO
Floraí MUITO BAIXO
Munhoz de Melo MUITO BAIXO
Sao Jorge do Ivaí MUITO BAIXO FONTE: Observatório das Metrópoles, Classificação do nível de integração
dos municípios da RMM com o polo Maringá, Relatório de Pesquisa realizada por Cledina R. Lonardon Accorsi e Ana Lúcia Rodrigues, 2015 (trabalho inédito).
Observa-se que os municípios com nível alto de integração (Mandaguaçu, Paiçandu
e Sarandi) são os que estão mais próximos geograficamente de Maringá, portanto, o polo se
beneficia do “uso da mão de obra das cidades periféricas mais próximas em ocupações menos
qualificadas, que [...] somadas a ausência de uma estrutura econômico-produtiva periférica
leva a deterioração da renda desses municípios” (RODRIGUES, p.141, 2015).
O nível de integração, de acordo com RODRIGUES (2015):
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incorpora a dinâmica das relações econômicas, sociais e institucionais com impactos
efetivos sentidos no ambiente socioeconômico de cada município metropolitano e na
RM como um todo. Desta forma, na RM de Maringá o maior nível de integração
impactou diretamente no aumento da participação municipal na estrutura
econômico-produtiva metropolitana. (RODRIGUES, p.141, 2015).
Os demais municípios seguem na escala de classificação, de acordo com a medida de
integração de seus indicadores em relação ao polo. Por isso, o nível de integração para os
municípios de Ângulo, Atalaia, Doutor Camargo, Floraí, Munhoz de Melo e São Jorge do Ivaí
é muito baixo, seus indicadores comprovam a ausência de integração com Maringá,
reafirmando mais uma vez que a única condição para a institucionalização da RMM foi
política.
3. Indicadores Sociais para a leitura socioeconômica regional.
Para atender ao objetivo de analisar a relação entre o nível de integração
intrametropolitano da RMM e os indicadores sociais definidos de cada um dos 26 municípios,
com o propósito de discutir se a dinâmica de metropolização pode incidir em melhoria ou não
das condições sociais dos moradores, os dados foram integrados a uma base comparativa, cujo
resultado da análise está apresentado na próxima seção.
Para compreender o contexto desses contrapontos sob a perspectiva dessas estruturas
comparativas, nesta parte do presente artigo se faz necessária a identificação e descrição dos
indicadores sociais essenciais a esse processo. As variáveis socioeconômicas escolhidas
intrarregionais para estabelecer comparações são: o Índice de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM) , Índice de Gini e renda per capita dos municípios.
Os indicadores sociais foram extraídos do Atlas do Desenvolvimento Humano no
Brasil e também do Atlas do Desenvolvimento Humano nas Regiões Metropolitanas (PNUD,
IDHM, 2013).
O IDHM é um índice composto, bastante utilizado no mundo para leituras sociais das
realidades de todos os países, pela junção de três indicadores: a longevidade, a educação e a
renda. Tais fatores são considerados significativos para mensurar o desenvolvimento humano
nos municípios e regiões metropolitanas brasileiras e da maioria dos países.
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A renda per capita é outro indicar social que utilizamos consistindo na “razão entre o
somatório da renda de todos os indivíduos residentes em domicílios particulares permanentes
e o número total desses indivíduos. Valores em reais de 01 de agosto de 2010” (ATLAS do
IDHM, 2013).
Com relação ao Índice de Gini, o indicador, conforme o Atlas do IDHM, mensura o
grau de desigualdade na distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita. O
seu valor pode variar de 0 a 1, sendo que 0 representa a inexistência de desigualdade de renda
domiciliar per capita, tendo o mesmo valor de renda entre todos os indivíduos. O 1 revela a
máxima desigualdade, ou seja, que somente um indivíduo detém toda a renda per capita
domiciliar. “O universo de indivíduos é limitado àqueles que vivem em domicílios
particulares permanentes” (ATLAS do IDH-M, 2013).
O quadro 2 apresenta o resultado dos indicadores sociais distribuídos nos 26
municípios da RMM.
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QUADRO 2 – Índice de Gini, IDH-M e PIB per capita dos 26 municípios da
RMM, 2015. Índice de
NOME_MUN Gini IDHM
(2010) (2010) Renda per capita (2010)
Maringá
0,49
0,808
1202,63
Mandaguaçu 0,41 0,718 693,16
Paiçandu 0,36 0,716 610,64
Sarandi 0,35 0,695 554,48
Astorga 0,5 0,747 875,14
Mandaguari 0,45 0,751 762,54
Marialva 0,44 0,735 765,58
Nova Esperança 0,46 0,722 719,26
Bom Sucesso 0,43 0,686 592,27
Itambé 0,36 0,746 588,49
Jandaia do Sul 0,46 0,747 803,28
Lobato 0,38 0,744 653,7
Santa Fé 0,41 0,705 709,44
Cambira
0,42
0,725
630,19
Floresta 0,36 0,736 649,71
Flórida 0,39 0,732 652,52
Iguaraçu 0,42 0,758 678,32
Ivatuba 0,43 0,766 699,09
Ourizona 0,44 0,72 709,99
Presidente Castelo Branco 0,37 0,713 603,83
Ângulo 0,44 0,721 641,37
Atalaia 0,41 0,736 649,55
Doutor Camargo
Floraí
Munhoz de Melo
Sao Jorge do Ivaí
0,39 0,746 639,19
0,43 0,745 792,48
0,39 0,726 637,77
0,43 0,743 738,42 Fontes: IBGE, 2010, PHUD-Atlas do IDH-M, 2010.
O polo apresenta maior IDHM (0,8) e renda per capita (R$ 1.202,63) comparado aos
demais 25 municípios da RMM, mas, seu Índice de Gini é o segundo colocado na escala de
desigualdade máxima (0,49).
Mandaguaçu e Paiçandu apresentam IDHM de 0,718 e 0,716, respectivamente.
Sarandi registra o segundo menor IDHM da região, com índice 0,695, Presidente Castelo
Branco com 0,713, Ivatuba com 0,766, Ângulo 0,721, Doutor Camargo 0,746 e o menor
IDHM regional é o de Bom Sucesso com 0,686.
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A renda per capita de Paiçandu e Mandaguaçu possuem respectivamente renda per
capita de R$ 610,64 e R$ 693,16. Astorga é o segundo maior rendimento da RMM, com R$
875,14. Nova Esperança com R$ 719,26, Mandaguari com R$ 762,54 e Marialva com R$
765,58. Em Itambé a renda per capita é de R$ 588,49, Lobato atinge R$ 653,7 e Santa Fé com
R$ 709,44. A terceira maior renda per capita regional é de Jandaia do Sul com R$ 803,28.
Presidente Castelo Branco tem renda per capita de R$ 603,83, Ourizona com R$ 709,99,
Munhoz de Melo R$ 637,77, Doutor Camargo R$ 639,19, Ângulo R$ 641,37, Atalaia R$
649,55, São Jorge do Ivaí R$ 738,42 e Floraí R$ 792,48. Sarandi possui a menor renda per
capita regional com R$ 554,48.
Quanto ao Índice de Gini, Marialva possui 0,44, Mandaguari 0,45 e Nova Esperança
0,46. O Índice de Gini segue com a menor desigualdade para Itambé com 0,36. O Índice de
Gini de Floresta é 0,36 e o de Ourizona com 0,44, Doutor Camargo e Floraí com 0,39, e
Ângulo com 0,44. O maior índice de desigualdade em relação aos demais municípios é
Astorga com 0,5.
4. Lugar no território versus indicativo da hierarquia social
Nesta seção do artigo realizamos a junção da relação do conjunto dos dados
apresentados, para permitir a produção de uma análise comparativa a fim de averiguar acerca
da atual dinâmica de desenvolvimento urbano e regional metropolitano, contribuindo para
compreender como o território metropolitano, por meio da análise de um indicador de
integração metropolitana, aponta quais são os municípios da RMM que fazem parte da
dinâmica de metropolização e quais não fazem.
A leitura socioeconômica da região define como o lugar onde as pessoas moram no
território metropolitano pode ser um indicativo da hierarquia social, tendo na dinâmica de
metropolização do nível de integração, um indicador das condições sociais e econômicas de
seus moradores. O quadro 3 reúne os dados pesquisados e representa o perfil social da
integração entre os municípios da RMM.
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QUADRO 3 – Classificação dos municípios da Região Metropolitana de Maringá
segundo o seu nível de integração com o polo metropolitano e seus indicadores
sociais, Índice de Gini, IDH-M e PIB per capita, 2015.
Nome dos Nível de Índice de Gini Renda per capita
Municípios Integração (2010) IDHM (2010) (R$/2010)
Maringá
POLO
0,49
0,808
1202,63
Mandaguaçu ALTO 0,41 0,718 693,16
Paiçandu ALTO 0,36 0,716 610,64
Sarandi ALTO 0,35 0,695 554,48 Astorga MEDIO ALTO 0,5 0,747 875,14
Mandaguari MEDIO ALTO 0,45 0,751 762,54
Marialva MEDIO ALTO 0,44 0,735 765,58
Nova Esperança MEDIO ALTO 0,46 0,722 719,26
Bom Sucesso MÉDIO 0,43 0,686 592,27
Itambé MEDIO 0,36 0,746 588,49
Jandaia do Sul MEDIO 0,46 0,747 803,28
Lobato MEDIO 0,38 0,744 653,7
Santa Fé MEDIO 0,41 0,705 709,44
Cambira BAIXO 0,42 0,725 630,19
Floresta BAIXO 0,36 0,736 649,71
Flórida BAIXO 0,39 0,732 652,52
Iguaraçu BAIXO 0,42 0,758 678,32
Ivatuba BAIXO 0,43 0,766 699,09
Ourizona BAIXO 0,44 0,72 709,99
Presidente Castelo Branco BAIXO 0,37 0,713 603,83
Ângulo MUITO BAIXO 0,44 0,721 641,37
Atalaia MUITO BAIXO 0,41 0,736 649,55
Doutor Camargo MUITO BAIXO 0,39 0,746 639,19
Floraí MUITO BAIXO 0,43 0,745 792,48
Munhoz de Melo MUITO BAIXO 0,39 0,726 637,77
Sao Jorge do Ivaí MUITO BAIXO 0,43 0,743 738,42 FONTES: Observatório das Metrópoles, Classificação do nível de integração dos municípios
da RMM com o polo Maringá, Relatório de Pesquisa realizada por Cledina R. Lonardon
Accorsi e Ana Lúcia Rodrigues, 2015 (trabalho inédito), IBGE, 2010 e PHUD-Atlas do
IDH-M, 2010.
Observa-se que município polo, Maringá, apresenta maior IDHM (0,8) e renda per
capita, (R$ 1.202,63) comparado aos demais 25 municípios da RMM. No entanto, o seu
Índice de Gini é o segundo colocado na escala de desigualdade máxima atingindo o patamar
de 0,49, sendo que a maior desigualdade identificada na lista é do município de Astorga com
0,5.
Já na análise comparativa global, entre o nível de integração versus os indicadores
sociais, constata-se que os municípios com Alto nível de integração com o polo -
Mandaguaçu, Paiçandu e Sarandi -, apresentam indicadores sociais
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distintos. Mandaguaçu e Paiçandu apresentam IDHM muito próximos, sendo respectivamente
0,718 e 0,716. Sarandi, no entanto, possui o segundo menor IDHM da RMM, com índice
0,695, ficando a frente somente de Bom Sucesso com 0,686, cujo nível de integração ao polo
é considerado Médio.
A renda per capita desses municípios também surpreendem. Enquanto o polo atinge
cifras acima de R$ 1.200,00, Paiçandu e Mandaguaçu não atingem renda per capita de R$
700,00, sendo R$ 610,64 e R$ 693,16 respectivamente. A renda per capita de Sarandi é ainda
menor, com valor muito abaixo de R$ 600,00, sendo a menor renda per capita regional com
R$ 554,48.
Dos municípios com nível de integração Médio Alto – Astorga, Mandaguari,
Marialva e Nova Esperança, no quesito Índice de Gini, as variações vão de 0,44 para
Marialva, 0,45 em Mandaguari, 0,46 em Nova Esperança e com o maior índice de
desigualdade em relação aos demais municípios da RMM está Astorga com 0,5. No que se
refere ao IDHM, os municípios apresentam índices de 0,722 a 0,751, mantendo-se na média
dos demais. A renda per capita é o destaque desse grupo, sendo Astorga com o segundo maior
rendimento R$ da RMM, com R$ 875,14. Os três demais municípios mantém renda per capita
acima de R$ 700,00, sendo Nova Esperança com R$ 719,26, Mandaguari com R$ 762,54 e
Marialva com R$ 765,58.
Para o nível de integração Médio estão os municípios de Bom Sucesso, Itambé,
Jandaia do Sul, Lobato e Santa Fé. O Índice de Gini segue com a menor desigualdade para
Itambé com 0,36 e o maior em Jandaia do Sul com 0,46. Quanto aos indicadores sociais, essa
categoria aglutina o menor IDHM e a segunda menor renda per capita, se comparado aos
demais municípios da RMM. Bom Sucesso tem o segundo menor IDHM regional com 0,686 e
sua renda per capita é de R$ 592,27, o terceiro menor valor desse índice na RMM. Ainda
quanto a renda per capita, Itambé é o segundo menor índice com R$ 588,49. Já Lobato atinge
R$ 653,7 e Santa Fé com R$ 709,44. A terceira maior renda per capita regional é de Jandaia
do Sul com R$ 803,28.
Para os municípios com nível de integração em relação ao polo designados como
Baixo – Cambira, Floresta, Flórida, Iguaraçu, Ivatuba, Ourizona e Presidente Castelo Branco -
, os números se revelam sem registros entre o máximo e o mínimo dos indicadores sociais.
Nesse grupo o menor Índice de Gini (menor desigualdade) é de Floresta com 0,36 e o maior
de Ourizona com 0,44. O menor IDHM se apresenta em Presidente Castelo Branco com 0,713
e o maior em Ivatuba com 0,766. A renda
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per capita entre os municípios desse mesmo grupo pode variar em mais de R$ 100,00, com a
menor renda em Presidente Castelo Branco R$ 603,83 e o maior em Ourizona com R$
709,99.
Presidente Castelo Branco é o município com índices mais significativos nessa faixa
de integração. Observa-se que mesmo com menor IDHM (0,713) e menor renda per capita
(R$ 603,83), o Índice de Gini é o que está com segundo menor no que se refere a
desigualdade com 0,37, ou seja, o indicador que mensura o grau de desigualdade na
distribuição de indivíduos segundo a renda domiciliar per capita, o seu valor sendo mais
próximo de 0 representa a inexistência de desigualdade de renda domiciliar per capita, tendo o
mesmo valor de renda entre todos os indivíduos.
E por último, o nível de integração Muito Baixo para os municípios de Ângulo,
Atalaia, Doutor Camargo, Floraí, Munhoz de Melo e São Jorge do Ivaí. O Índice de Gini da
mesma forma não apresenta desigualdades substanciais entre si, sendo Doutor Camargo e
Floraí com 0,39, e Ângulo com 0,44. O IDHM, no entanto, possui números com ínfimas
distinções, partindo de 0,721 em Ângulo e atingindo 0,746 em Doutor Camargo. A renda per
capita encerra a análise dos dados com valores muito próximos entre os municípios de
Munhoz de Melo (R$ 637,77), Doutor Camargo (R$ 639,19), Ângulo (R$ 641,37) e Atalaia
(R$ 649,55), distantes portanto de São Jorge do Ivaí (R$ 738,42) e Floraí (R$ 792,48).
5. Conclusão
Respondendo a partir das variáveis escolhidas, como o lugar onde as pessoas moram
no território metropolitano pode ser um indicativo da hierarquia social que caracteriza a
estrutura da sociedade, é importante enfatizar que os pressupostos e questionamentos
delineados no decorrer do artigo exprimem um contraste numérico em relação a correlação no
que concerne aos níveis de integração dos 25 municípios em relação ao polo (Maringá),
institucionalizado de forma legal pelo Estado, mas, distante da realidade da dinâmica
intrametropolitana.
Em outras palavras, o fato de determinados municípios terem alto nível de
integração com o polo, compartilhando variáveis afins como o PIB, renda, movimento
pendular, ritmo de crescimento da população, grau de urbanização, perfil não agrícola,
integração dos diversos municípios entre si e com o polo, e o perfil da
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ocupação dos trabalhadores, não significa garantia de indicadores sociais bem sucedidos, ou
mesmo equitativos.
O exemplo mais evidente é a renda per capita dos municípios com nível de
integração alto com o polo. Enquanto Maringá possui renda per capita de R$ 1.202,63,
Paiçandu e Mandaguaçu atingem renda per capita de R$ 610,64 e R$ 693,16 respectivamente.
A renda per capita de Sarandi é a menor renda per capita regional de R$ 554,48.
A análise da relação entre o nível de integração intrametropolitano da RMM e o
perfil de cada um dos 26 municípios dado pelas variáveis escolhidas, demonstra que a
integração não incide em melhorias nas condições sociais dos moradores. A explicação
detalhada e aprofundada para o contexto desse cenário aqui anunciado, está em recente
publicação (RODRIGUES, Maringá: Transformações na Ordem Urbana, p. 459, 2015)
relatando que a RMM é uma área metropolitana classificada como metrópole liberal-
periférica, um modelo de classificação oriundo da literatura urbana nacional.
A tipologia sócio-ocupacional regional exibe transformações nas categorias dos
trabalhadores da indústria e, portanto, sobre o cenário das desigualdades sociais,
pois a ação política e econômica local participa e reproduz localmente a redução do
emprego, vivenciando a situação nacional de pleno emprego e de redução das
desigualdades em função de políticas nacionais, mas isso não reduz as desigualdades
que marcam a estrutura social dessa região desde sua gênese. Em sentido contrário,
há aumento da concentração de renda e da distância entre os que estão no topo e os
da base da hierarquia social regional metropolitana (RODRIGUES, p.459, 2015).
Como destaca Villaça (p.73, 2001) “o espaço urbano é produto produzido”. E como
tal, aufere poder aos seus gestores, que sujeitam aos seus interesses a “produção e o consumo do espaço urbano” (Ibid, p.225, 2001). O território hierarquizado - de
acordo com aspectos socioeconômicos - delimitou a ocupação inicial dos lotes desta região
por um profundo processo de segregação socioespacial, justificado pelo viés mercadológico.
De acordo com as reflexões do autor (VILLAÇA, 2011), pode-se compreender que a
apropriação espacial é o pressuposto para dominação política. Tal ideologia culmina não
somente na produção desse desnível econômico progressivo, mas, torna-se essencial para a
manutenção desse modelo de estratificação da sociedade em classes.
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6. Referências
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MARICATO, Ermínia. As ideias fora do lugar e o lugar fora das ideias. (1999) _________. Erradicar o Analfabetismo Urbanístico. Texto para Revista da FASE, Rio de Janeiro, março de 2002. Disponível em:
https://erminiamaricato.files.wordpress.com/2012/03/maricato_analfabetismourbano. pdf. Acesso em: 05/05/2015.
MORIN, Edgar. A cabeça bem feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Tradução Eloá Jacobina. 8, ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.
OBSERVATÓRIO DAS METRÓPOLES (2015). Relatório de Pesquisa do Nível de Integração Metropolitana da RMM, Maringá.
PNUD (2013). Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, disponível em: http:// /. Acesso em: 20 de setembro de 2015.
RODRIGUES, Ana L. (2004). A pobreza mora ao lado: segregação socioespacial na região
metropolitana de Maringá, Tese (Doutorado no Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. ___________________ Maringá: transformações na ordem urbana [recurso eletrônico] / organização Ana Lúcia Rodrigues; coordenação Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro. - 1. ed. - Rio de Janeiro: Letra Capital; Observatório das Metrópoles, 2015.
VILLAÇA, Flavio. VILLAÇA, Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio Nobel, FAPESP; Lincoln Institute, 2001.