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www.conedu.com.br A REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO DA HISTÓRIA AFRICANA E AFRO BRASILEIRO E INDÍGENA NO IMAGINÁRIO * Inaldo Moreno de Sousa RESUMO O presente artigo visa discutir a forma pela qual os povos afros descendentes e indígenas são realmente reconhecidos junto ao meio social de maneira a entender o quão importante é a necessidade de uma maior atenção a estas etnias sabendo que em alguns países estes não tinham e nem tem o reconhecimento histórico e cultural merecido. A metodologia partiu através de pesquisas de cunho bibliográficas. O mesmo propõe - se em desenvolver o tema “A Representação do Conhecimento da História Africana e Afro Brasileiro e Indígena no Imaginário”. Na verdade, a opção por este, se fez pela necessidade em reconhecer as mais diversas facetas no processo histórico de resistência de negros e índios frente à opressão impostas pelo preconceito do “homem branco” e combate ao racismo e as desigualdades sociais. Palavras-chave: Racismo; Negros e indígenas; Desigualdades; Resistência. * Mestre em Ciências da Educação pela Universidade San Lorenzo Unisal (2015) PY, Especialização em Educação Ambiental pelo Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco CESVASF (2006), Pós-graduação em Didática, Formação Docente e Metodologias e Ensino pela Faculdade Stella Maris (2014) ,Fortaleza CE, Professor do Curso de licenciatura Plena em Geografia pelo Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco.

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A REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO DA HISTÓRIA AFRICANA E AFRO

BRASILEIRO E INDÍGENA NO IMAGINÁRIO

* Inaldo Moreno de Sousa

RESUMO

O presente artigo visa discutir a forma pela qual os povos afros descendentes e

indígenas são realmente reconhecidos junto ao meio social de maneira a entender o quão

importante é a necessidade de uma maior atenção a estas etnias sabendo que em alguns

países estes não tinham e nem tem o reconhecimento histórico e cultural merecido. A

metodologia partiu através de pesquisas de cunho bibliográficas. O mesmo propõe - se

em desenvolver o tema “A Representação do Conhecimento da História Africana e Afro

Brasileiro e Indígena no Imaginário”. Na verdade, a opção por este, se fez pela

necessidade em reconhecer as mais diversas facetas no processo histórico de resistência

de negros e índios frente à opressão impostas pelo preconceito do “homem branco” e

combate ao racismo e as desigualdades sociais.

Palavras-chave: Racismo; Negros e indígenas; Desigualdades; Resistência.

* Mestre em Ciências da Educação pela Universidade San Lorenzo – Unisal (2015) – PY, Especialização em Educação Ambiental pelo Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco CESVASF (2006), Pós-graduação em Didática, Formação Docente e Metodologias e Ensino pela Faculdade Stella Maris (2014) ,Fortaleza – CE, Professor do Curso de licenciatura Plena em Geografia pelo Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco.

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1. INTRODUÇÃO

1.1 Representação do Conhecimento da História

Percorrer a história de uma determinada disciplina, segundo Saviani (2000), é

entender melhor a Historia da própria educação. Pois os conteúdos, métodos, avaliação,

ou seja, a estrutura curricular em si desvela a concepção teórica e metodológica da

disciplina e da educação como um todo, como também suas implicações políticas,

socioeconômicas e ideológicas. Portanto, num momento importante como este, de

construção democrática do ensino de História no Brasil, para que possamos discutir com

segurança e criticidade os novos caminhos que deverão ser traçados coletivamente no

ensino de História (FONSECA, 2003).

Essa historiografia fundamentava-se na criação de referenciais históricos

concretos: heróis e batalhas, para serem fortemente difundidos via produção literária,

didática e através toda uma simbologia visual e ritual com imagens que representavam

pinturas, esculturas, hinos, bandeiras, brasões e festas cívico-religiosas ligados a este

projeto de formação do Estado Nacional Brasileiro. Esta forma de difusão simbólica

massiva foi ainda mais utilizada na construção e legitimação da República, através da

reabilitação consensual e quase sacralização de um republicano moderado como

Tiradentes, em detrimento de outro republicano mais radical e popular como Frei Caneca

(CARVALHO, 2001).

Em linhas gerais, o ensino de história ao longo da República Velha tendeu a se

voltar mais para o estudo da história política européia e brasileira, desconsiderando os

movimentos de resistência popular. Refletindo assim a política da República das

Oligarquias, na qual a questão social foi tratada como caso de policia. Já nas décadas de

1930 e 1940, em pleno momento de forte intervenção do Estado varguista em todos os

setores da sociedade brasileira, difundiu-se da “democracia racial” expressa

principalmente em programas e livros didáticos de ensino de História (FONSECA, 2003).

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Diante dessas palavras iniciais, este artigo tem como objetivo “Mostrar a

representação do conhecimento da história africana e afro brasileiro e indígena no

imaginário.

2. O CONTINENTE AFRICANO E SUA SINGULARIDADE

Algumas visões sobre o continente africano no cotidiano e sua ancestralidade,

podem ser sintetizadas pela definição oferecida por Souza (2003), quando ele explana

que,

para os povos africanos e seus descendentes, a ancestralidade ocupa um

lugar especial, tendo posição de destaque no conjunto de valores de

mundo. A ancestralidade redefine a alegria de partilhar um espaço rodeado

de práticas civilizatórias e o viver de nossos antepassados, conduzindo

para um processo de mudanças e enriquecimento individual e coletivo em

que o sentimento e a paixão estão sintonizados com o ser e o

comportamento das pessoas (SOUZA, 2003, p. 18).

Uma vez que a aquisição do conhecimento, a apropriação e a transmissão da

cultura não ocorrem estritamente pela via da racionalidade, mas também através da

dimensão emotiva, nos ancoraremos nos estudos de Munanga para pensar as

mudanças necessárias para o avanço no processo de construção de uma nova

metodologia, na qual o plano da sensibilidade humana seja um instrumento norteador de

novos valores ao aparato científico, incidindo nos mecanismos simbólicos do

pensamento:

Considerando que [o]... imaginário e ... [as] representações, em parte

situados no inconsciente coletivo, possuem uma dimensão afetiva e

emocional, dimensão de onde brotam e são cultivadas as crenças, os

estereótipos, os valores que codificam as atitudes, é preciso descobrir

e inventar técnicas e linguagens capazes de superar os limites da

pura razão e de tocar no imaginário e nas representações. Enfim, capazes

de deixar aflorar os preconceitos escondidos na estrutura profunda do

nosso psiquismo (QUEIROZ, 2001, p. 9).

Partindo deste principio, pode-se dizer que segundo Moore, “A mais marcante das

singularidades africanas é o fato de seus povos autóctones terem sido os progenitores de

todas as populações humanas do planeta, fazendo deste continente o berço único da

espécie humana”, sendo, portanto, a África denominada “Berço da Humanidade”.

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Vista de forma singular pode-se dizer que a sociedade brasileira

caracteriza-se por uma pluralidade étnica, sendo esta, produto de um processo histórico

que inseriu num mesmo cenário três grupos distintos são eles os portugueses, índios e

negros. Esse contato favoreceu o intercurso dessas culturas, levando à construção de um

país inegavelmente miscigenado, multifacetado, ou seja, uma unicidade marcada pelo

antagonismo e pela imprevisibilidade.

Preocupado, com a questão da raça e atento à intensa miscigenação ocorrida no

país, Freire buscou explicar o significado, concebendo uma sociedade do tipo

paternalista, onde as relações de caráter pessoal assumiam vital importância. Entretanto,

tais concepções do sociólogo pernambucano, a historiografia revisionista foi sendo

ampliadas por novas obras, entre elas, as que focalizam aspectos particulares da

escravidão ou as que analisaram as diferenças ao longo do tempo (QUEIROZ, 2001).

Segundo Silva (2004), o preconceito tem sido na maioria das vezes, relacionado

com populações ou grupos étnicos caracterizados pela presença de certas peculiaridades

físicas hereditárias tendo com exemplo os indígenas. E, em especial, os negros que

permanecem em situação de desigualdade situando-se na marginalidade e exclusão

social, sendo esta última compreendida por uma relação assimétrica em dimensões

múltiplas – econômica, política, cultural. Percebe-se também que sem a assistência

devida dos órgãos responsáveis, os sujeitos tornam - se alheios ao exercício da

cidadania.

IBGE (Instituo Brasileiro de Geografia e Estatísticas), atualmente, classifica as

pessoas como sendo brancas, pretas, pardas, amarelas e indígenas. Houve na história

dos recenseamentos algumas mudanças, no censo de 1872, por exemplo, a população

era classificada como sendo branca, preta, parda e cabocla (aqui se incluía os indígenas).

No Censo de 1890 a cor parda foi substituída por mestiço, porém no Censo de 1940

temos novamente a classificação dos pardos, junto à dos brancos, pretos e amarelos. Os

indígenas foram incluídos somente no censo de 1990.

Partir do contexto educacional histórico-científico, tendo como base a lei 10.

639/2003, que tem como objetivo adotar uma postura anti-racista em sala de aula... (LDB,

2003). Partindo deste pressuposto, acredita-se que a citada lei não surgiu do nada, mas

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sim a partir, principalmente, de uma demanda social, exclusivamente dos movimentos

negros, sendo esta conquista resultado de anos de luta em prol do combate ao racismo.

No que concerne aos movimentos reivindicatórios de combate ao racismo, afirma

Santos (2005), que

os movimentos sociais negros, bem como muitos intelectuais negros

engajados na luta do anti-racismo, levaram mais de meio século para

conseguir a obrigatoriedade do estudo da história do continente africano e

dos africanos, da luta dos negros no Brasil, da cultura negra brasileira e do

negro na formação da sociedade nacional brasileira. Contudo, torná-los

obrigatórios, embora seja condição necessária, não é condição suficiente

para a sua implementação de fato. Segundo o nosso entendimento, a Lei

número 10.639, de 09 de janeiro de 2003, apresenta falhas que podem

inviabilizar o seu real objetivo, qual seja a valorização dos negros e o fim

do embranquecimento cultural do sistema de ensino brasileiro. A Lei

federal, simultaneamente, indica certa sensibilidade às reivindicações e

pressões históricas dos movimentos negros e anti-racistas brasileiros,

como também indica certa falta de compromisso vigoroso com a sua

execução e, principalmente, com a sua a eficácia, de vez que não

entendeu aquela obrigatoriedade aos programas de ensino e/ou cursos de

graduação, especialmente os de licenciatura, das universidades públicas e

privadas, conforme uma das reivindicações da Convenção Nacional do

Negro pela Constituinte, realizada em Brasília-DF, em agosto de 1986

(SANTOS, 2005, p. 34).

Direcionado ao tema “A Representação do Conhecimento da História Africana e

Afro Brasileiro e Indígena no Imaginário”, pensou-se na discussão sobre de que forma as

pessoas imaginam a situação destas etnias como participantes da mesma sociedade,

sendo tachadas como pessoas não aceitas em determinados ambientes principalmente

quando se trata de ambiente escolar. O estudo da interface racismo e educação oferecem

uma possibilidade de colocar num mesmo cenário a problematização de duas temáticas

de inquestionável importância. Ao contemplarmos as relações raciais dentro do espaço

escolar, nos questionamos até que ponto ele está sendo coerente com a sua função haja

vista que o mesmo se propõe a ser um espaço que preserva a diversidade cultural,

responsável pela promoção da eqüidade. Esse reconhecimento implica perceber as

evidentes desigualdades na forma pela qual a sociedade se organiza quanto ao acesso à

educação, saúde, segurança pública e a outros direitos básicos, considerando o grupo

étnico ao qual cada pessoa pertence.

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Este trabalho fundamenta-se nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-

Brasileira e Africana, que em suas determinações, CNE/CP 3/2004, aprovado em

10/3/2004 afirma que a obrigatoriedade de inclusão de História e Cultura Afro-Brasileira e

Africana nos currículos da Educação Básica trata-se de decisão política, com fortes

repercussões pedagógicas, inclusive na formação de professores (BRASIL, 2004).

Com esta medida reconhece-se que, além de garantir vagas para negros nos

bancos escolares, é preciso valorizar, devidamente, a história e cultura de seu povo,

buscando reparar danos, que se repetem há cinco séculos, à sua identidade e a seus

direitos. A relevância do estudo de temas decorrentes da história e cultura afro-brasileira e

africana não se restringe à população negra, ao contrário, diz respeito a todos os

brasileiros, uma vez que devem educar-se enquanto cidadãos atuantes no seio de uma

sociedade multicultural e pluriétnica, capazes de construir uma nação democrática. Tal

alternativa coloca a tarefa da promoção da igualdade racial como um dos eixos centrais

de uma nova agenda de desenvolvimento de longo prazo do Brasil.

Assim, a interação de culturas e raças dos indivíduos no meio social dá a ideia da

relação entre os diversos saberes e culturas e esse movimento possibilitam

transformação e ampliação do conhecimento.

2.1 O Ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena nas Escolas

As legislações infraconstitucionais recomendam o estudo nas escolas públicas e

privadas de ensino fundamental e médio do Brasil a inclusão no currículo do aluno o

ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena no Brasil. Ainda vemos nas escolas

essa prática funcionando de forma lenta, sendo esse assunto explorado mais nas datas

comemorativas referentes ao nego, indígena e sua cultura.

As leis tratam sobre a temática do ensino nas escolas brasileiras do conteúdo

programático referente à formação da população, enfatizando o estudo referente aos

povos que contribuíram para a formação, “civilização” e desenvolvimento do estado

brasileiro. Por isso a legislação infraconstitucional consolidou o ensino da história e

cultura afro-brasileira e indígena no Brasil tornando-as obrigatórias na rede de ensino

público e privado aos estudantes de ensino fundamental e médio.

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O Plano Nacional de Educação, sancionado pela lei nº 9394/96 (Lei de Diretrizes e

Bases da Educação) disciplina a educação do nível básico (ensino fundamental) ao nível

mais avanço de estudos pós-graduação (stricto sensu). No tocante a temática sobre o

ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena, esta se encontra disciplinada no

artigo 26 A, parágrafos 1º e 2º da referida lei que diz:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e

privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena.

§ 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da

história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses

dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos

negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e

o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas

social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas

brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas

de educação artística e de literatura e histórias brasileiras.

O referido artigo e parágrafos foram colacionados pelas leis nº 10.639/03 e 11.645/08,

nos quais percebemos o acréscimo de medidas obrigatórias no âmbito nacional

estabelecendo a inclusão nos currículos das disciplinas de Educação Artística e Literatura

e História do Brasil, em especial, que sejam aulas ministradas nos ensinos fundamental e

médio de escolas públicas e particulares, com ênfase nos conteúdos programáticos

pertinentes à formação da população brasileira nos aspectos de “o estudo da história da

África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra

e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional.” Conforme a

lei nº 10.639/03 a aplicabilidade foi no ato da publicação no Diário Oficial da União, que foi

publicado no dia 10/01/2003, ou seja, tal lei está há mais de 10 anos em vigor.

No âmbito nacional o MEC (Ministério da Educação) por meio do Conselho

Nacional de Educação, na Câmara de Educação Básica, editou a Resolução nº 2, de 30

de janeiro de 2012 que “define Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio”.

A referida resolução em seu artigo 9º, inciso I, alíneas c) e d) orienta:

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Art. 9º A legislação nacional determina componentes obrigatórios que devem ser tratados

em uma ou mais das áreas de conhecimento para compor o currículo:

I - são definidos pela LDB:

c) o ensino da História do Brasil, que leva em conta as contribuições das diferentes

culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes

indígena, africana e europeia;

d) o estudo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena, no âmbito de todo o currículo

escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e Histórias

brasileiras;

Essa Resolução vem corroborar no sentido de unificar os conteúdos programáticos do

ensino médio nas escolas brasileiras no que se refere à temática estudada nesse trabalho

de pesquisa. No que se referem à educação nacional, os assuntos referentes a história e

cultura afro-brasileira e indígena foram inclusas na lei nº 9493/96, no artigo 26 A,

parágrafos 1º e 2º, por meio das leis nº 10.639/2003 e 11.645/2008. Também o MEC

definiu a importância do tema abordado por meio da Resolução 02/2012, que orienta o

currículo nacional do ensino médio.

Como se viu já se encontra disciplinada a questão a nível nacional, entretanto, há a

necessidade a necessidade de encontrar através de informações junto às secretarias

estaduais e municipais de educação, a existência nos currículos escolares do ensino

fundamental e médio dos conteúdos programáticos disciplinado na LDBE (Lei de

Diretrizes e Bases da Educação).

Porém, considerando a extensão territorial do Brasil, pois existentes 26 (vinte e

seis) estados e 1(um) Distrito Federal, além dos municípios, torna-se inviável trazer

informações de todos os estados, colocamos aqui alguns elementos importantes para se

inserir o Estudo da História afro e indígena nas escolas.

No que se refere à aplicabilidade aos estudos da história e cultura afro-brasileira e

indígena nas escolas de ensino fundamental, pode-se pontuar que deve haver:

Os currículos do Ensino Fundamental e Médio devem ter uma base nacional

comum, a ser complementada de acordo com as disposições constantes de

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capítulos próprios da presente Resolução, por uma parte diversificada de, no

mínimo, 200 (duzentas) horas anuais, nos termos da legislação nacional que

disciplina a matéria.

O ensino da História do Brasil levará em conta a diversidade etnicorracial que

contribuiu para a formação do povo brasileiro, especialmente as matrizes

indígenas, africanas e européias. .

Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de Ensino Médio, públicos e

privados, o estudo da História e Cultura afro-brasileira, africana e indígena, torna-

se obrigatório como conteúdo programático, conforme estabelecido na legislação

em vigor.

O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da

História e da Cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir

desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da História da África e dos

africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e

indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional,

resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política,

pertinentes à história do Brasil.

Os conteúdos referentes à História e Cultura afro-brasileira e dos povos indígenas

brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial

nas Artes, Literatura e História brasileiras.

A escola deve promover ações diversas que valorizem a contribuição dos africanos

e dos afrodescendentes para a cultura nacional e incluir, no calendário da escola, com

efetivo trabalho escolar, o “Dia Nacional da Consciência Negra”, 20 de novembro, e outras

datas significativas, como: “Dia da Abolição da Escravatura”, “Dia Nacional de Denúncia

Contra o Racismo”, 13 de maio, e o “Dia Internacional de Luta pela Eliminação da

Discriminação Racial”, 21 de março.

Pode-se acrescentar também que a legislação estadual e municipal pode

acompanhar os ditames proposto pela LDB. Também não se pode deixar de fora a

modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos. Os componentes curriculares no

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EJA (Educação de Jovens e Adultos) “Estabelece normas para a oferta de Cursos e

Exames do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, e também deve definir alguns

critérios para o ensino da história afro e indígena, como:

A Estrutura Curricular, na modalidade Educação de Jovens e Adultos, deverá

abranger obrigatoriamente as disciplinas e/ou componentes curriculares da Base Nacional

Comum, de modo a possibilitar a trajetória do aluno, na realização do curso:

I- para o Ensino Fundamental:

a- Língua Portuguesa;

b- Matemática;

c- Ciências;

d- História;.

e- Geografia;

f- Artes:

g- Educação Física;

h- Língua Estrangeira a partir da 3º etapa.

II – para o Ensino Médio:

a- Língua Portuguesa;

b- Língua Estrangeira;

c- Matemática;

d- Física;

e- Química;

f- Biologia;

g- História;

h- Geografia;

i- Filosofia;

j- Sociologia;

k- Artes;

l – Educação Física.

Os componentes curriculares História e Cultura Afro-Brasileira e Meio Ambiente

serão tratadas de forma Transversal, de acordo com a legislação vigente.

Salienta-se que a referida resolução deve contemplar nos componentes

curriculares o conteúdo programático sobre a história e cultura afro-brasileira na educação

de jovens e adultos. Conforme a legislação nacional, tal componente se refere à lei, deve

ser ministrado em especial nas disciplinas de História e Educação Artística e Literatura,

salientando que: Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base

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nacional comum e uma parte diversificada de acordo com as peculiaridades locais,

regionais, culturais, sociais e econômicas da sociedade e clientela atendida.

Os modelos curriculares, respeitadas a legislação e as determinações oficiais

vigentes, poderão ser alterados, sempre que as conveniências do ensino e as

necessidades da comunidade local assim o exigirem.

Diante disso, pode-se constatar que a base nacional comum deve ser mantida

conforme a legislação vigente. Entretanto, considerando a amplitude da cultura afro e

indígena no cenário do Brasil, pode se dizer e especificar em quais disciplinas podem

trabalhar esses temas? Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia?. Acredita -

se que esse estudo dever ser realizado de forma transdisciplinar e a parte diversificada a

critério da administração escolar, conforme a realidade de cada região.

O importante é fazer esse estudo caracterizando os diversos grupos sociais dos

quais os indivíduos fazem parte, identificando seus costumes, suas características e

diferentes regras de convívio; percebendo-se, ainda, como integrante e modificador do

ambiente natural e social.

Deve-se aprender a situar o aluno no ambiente que vive e faz suas trocas sociais,

mostrando-lhes as diversidades cultural, social e o crescimento urbano versus o ambiente

natural. É necessário introduzir a escola em fontes de pesquisas por meio de vários

documentos, tais como cartas, livros, relatórios, pinturas, esculturas, fotografias, dentre

outros, para que os alunos possam conhecer esses elementos como registros que contam

a história ao longo do tempo (bairro, município, estado e país). Isso é importante para que

os alunos adquiram novas competências e habilidades discriminadas no plano de

diretrizes curriculares.

As secretarias de educação de todo Brasil necessita implantar seu plano no que se

refere à temática sobre a história e cultura afra brasileira e indígena, tendo muito cuidado

para ver como esse assunto é tratado na disciplina de História, conforme o estabelece o

currículo mínimo.

Em tal currículo mínimo deve ter a previsão de seguir uma ordem cronológica,

delimitada a partir dos grandes marcos reconhecidos, ou seja, pré – História, Antiga,

Medieval, Moderna e Contemporânea. Dentro destes conteúdos deve-se procurar integrar

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áfrica, América, Ásia, Brasil e Europa. Essa escolha não exclui, entretanto, a possibilidade

de se trabalhar com eixos temáticos permitindo, assim, a reflexão entre passado e

atualidade de forma comparativa.

A partir dessa escolha a equipe de História deve inserir nas diversas séries o

ensino de África, a questão indígena, os debates sobre a América Latina e as referentes

as perseguições de minorias – quer étnicas, culturais, religiosas ou sexuais. Não se deve

pensar apenas em cumprir a legislação vigente, mas, sobretudo, acreditar nesses

conteúdos como essências para a formação do nosso educando e para a sociedade.

Além dos estudos propriamente dito da contribuição dos nossos descendentes

africanos e indígenas, devemos também possibilitar o trabalho com a diversidade cultural

nas escolas, colocando que este deve ser realizado vislumbrando que as atitudes

discriminatórias sejam totalmente eliminadas da prática e do cotidiano dos ambientes que

circulam a escola, promovendo a convivência constante com as diferenças, cujos

aspectos deve estar presente na construção de um trabalho pedagógico multicultural

voltado a valorização e respeito às diferenças.

Sempre é preciso lembrar para os alunos que os casos de racismo e intolerância

estão aumentando e, infelizmente, chegaram em todas as partes do país, deixando

vítimas fatais e causando transtorno entre as pessoas.

É importante colocar que a Lei nº 11.645, de março de 2008, estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional e inclui, no currículo oficial da rede de ensino, a

obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Então vamos

estudar os nossos ancestrais, nossa própria história.

Portanto, para estar atualizado, o conteúdo programático deverá incluir diversos

aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a

partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos,

a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e

o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições

nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Negro e indígenas no continente americano, em especial no Brasil, tiveram sua

imagem maculada marcada por uma longa e constante luta pelo reconhecimento através

do processo de resistência que se manifestou nas mais diversas formas. Não se pode

negar a existência de ideologias que inferiorizavam os povos afrodescendentes a exemplo

disso podemos citar Gilberto freire que chegou ao ponto de considerar o castigo sofrido

pelos negros como sendo um ato pedagógico.

No entanto, necessitamos nos colocar no lugar do outro para compreender, por

exemplo, a vontade de viver de um povo que emigra involuntariamente para o Brasil, sob

a marca da maior crueldade da História da humanidade: a escravidão. Um povo que

atravessa o Atlântico e produz milagres de fé, de vida, de civilização em terras brasileiras.

E, nessa perspectiva, devemos olhar nossa brasilidade e nossa africanidade com

encantamento. Sim, ser capazes de nos olhar no espelho e ter orgulho da nossa

ascendência negra/africana, e indígena de olhar nossos estudantes brancos, indos e

negros refletindo sobre que memórias africanas e indígenas seus corpos carregam.

O mesmo pode ocorrer para nós, que precisamos convocar nossas histórias de

vida e deixar emergir delas nossa dimensão africana de uma maneira positiva, com toda a

sua riqueza cultural, existencial.

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