A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP PRÓ-REITORIA ACADÊMICA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO ISABELA SABINO BESERRA DE SOUSA MORAIS KARINA ALVES CORRÊA DA COSTA A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NA DÉCADA DE 1920 POR MEIO DA REVISTA CIGARRA

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Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado à UnP como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social - Habilitação em Jornalismo. Monografia intitulada "A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra".

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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP

PRÓ-REITORIA ACADÊMICA

ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL - HABILITAÇÃO EM JORNALISMO

ISABELA SABINO BESERRA DE SOUSA MORAISKARINA ALVES CORRÊA DA COSTA

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NA DÉCADA DE 1920 POR MEIO DA REVISTA CIGARRA

NATAL2013

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ISABELA SABINO BESERRA DE SOUSA MORAISKARINA ALVES CORRÊA DA COSTA

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NA DÉCADA DE 1920 POR MEIO DA REVISTA CIGARRA

Monografia apresentada à Universidade Potiguar – UNP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo.

Orientadora: Profa. Ms. Isabel Cristine Machado de Carvalho

NATAL2013

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ISABELA SABINO BESERRA DE SOUSA MORAISKARINA ALVES CORRÊA DA COSTA

A REPRESENTAÇÃO DA MULHER NA DÉCADA DE 1920POR MEIO DA REVISTA CIGARRA

Monografia apresentada à Universidade Potiguar – UNP, como parte dos requisitos para obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo.

Aprovado em ______/_____/______

BANCA EXAMINADORA

__________________________________Profa. Ms. Isabel Cristine Machado de Carvalho

OrientadoraUniversidade Potiguar – UnP

____________________________________Prof. Dr. Manoel Pereira da Rocha Neto

Universidade Potiguar – UnP

_____________________________________Profa. Esp. Cintia dos Reis Barreto

Universidade Potiguar – UnP

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Dedico à minha mãe Maria Mônica Sabino.

Ao meu irmão Fabiano Sabino.

E ao meu companheiro, Agnael Lopes, com amor e carinho.

Isabela Morais

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Dedico, com todo o amor do mundo, a minha amada e saudosa mãe, Margareth Alves,

que me inspira diariamente, com o exemplo de bondade, inteligência, dedicação e

perseverança, que a fizeram crescer na vida, e me fizeram a mulher que sou hoje.

Karina Alves

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela oportunidade concedida para que eu cursasse esta

graduação. Obrigada ainda por iluminar meu caminho, abençoar meus passos e nortear

minha vida, cuidando para que tudo aconteça sempre da melhor maneira possível.

À minha mãe Maria Mônica, por me incentivar desde a infância a correr atrás dos

meus objetivos, afim de que eu realize todas as metas e sonhos que traço e idealizo

para mim. Obrigada por me auferir todo o carinho que lhe é peculiar. Quero registrar

que, apesar de todas as falhas, espero te orgulhar bastante.

Ao meu irmão Fabiano Sabino pelo apoio, conselhos e companheirismo.

À minha querida tia Beth por ter me ajudado em diversas fases da minha vida e

ter sido de fundamental importância na construção da minha educação. Muito obrigada

por todo o esforço empenhado, por toda uma vida em prol da família, sei que minhas

vitórias e conquistas deveras lhe pertencem.

Ao meu amor, Agnael Lopes, que acompanhou todos os “perrengues” que passei

a fim de concluir esta monografia e me acalentou quando diversas vezes chorei e me

desesperei achando que não daria conta. Obrigada por sua paciência em todos os

momentos em que me fiz ausente.

Por fim, agradeço à orientadora Profa. Ms. Isabel Cristine pela significativa

contribuição ao nosso TCC, por ter nos apresentado ao nosso objeto de estudo: a

revista Cigarra, colocando à disposição todo o material que se fazia necessário.

Isabela Morais

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, de maneira especial, a Deus por tornar este sonho possível e por todas

as oportunidades que me foram dadas na vida, por sua luz que se faz presente em mim

e pela fé em um futuro cada vez melhor.

A minha mãe, que já está no céu ao lado do nosso senhor, pois tenho certeza que

permaneceu todo este tempo ao meu lado, sendo meu anjo da guarda, me dando forças

sempre que precisei. Agradeço mãe, por todo seu esforço durante minha criação para

me dar sempre o melhor, principalmente em educação. Levo diariamente comigo seus

conselhos, e quando preciso de forças para continuar meu caminho nesta vida, é

sempre em ti que penso para me dar a perseverança que preciso para ir em frente. A

senhora é o melhor exemplo que tenho em crescimento profissional, e dedicação ao

trabalho.

Karina Alves

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Quando se sonha sozinho, é apenas um sonho. Quando sonhamos juntos, é o começo da realidade (D. Quixote).

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RESUMO

A presente monografia é resultado de um estudo feito sobre as mulheres da década de

1920 retratadas na revista Cigarra, revista de grande repercussão no Rio Grande do

Norte, na década de 1920. Dirigida pelo jornalista Aderbal França, a publicação teve

vários colaboradores, entre eles: Edgar Barbosa, Luís da Câmara Cascudo, Ewerton

Cortez, Damasceno Bezerra, Palmyra Wanderley e Jorge Fernandes. Este trabalho tem

como objetivo fazer uma representação da mulher da época, buscando compreender

como a mulher era inserida no contexto histórico mediante os registros da revista e

mostrar se a mesma acompanhava as outras publicações brasileiras referentes à

mulher. Para tanto, utilizamos como fonte as cinco edições produzidas da Cigarra (1928-

1929), através dela realizamos o processo de escansão, no qual inserimos a figura

feminina que aparecia na Cigarra em categorias, revelando a mulher do meio público –

que quebra paradigmas – e a mulher do lar – educada para o casamento e tarefas

domiciliares, usamos também bibliografias pertinentes à temática e fotografias. Para

chegar ao objetivo do trabalho fizemos um esboço dos primeiros impressos publicados

no Brasil, bem como da imprensa norte-rio-grandense do período.

PALAVRAS-CHAVE: mulher; imprensa; Cigarra; Rio Grande do Norte

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ABSTRACT

The present monograph is the result of a study about women from the 1920s

portrayed in Cigarra magazine, a very successful magazine in the Brazilian state

of Rio Grande do Norte in the 1920s. Directed by journalist Aderbal França, this

periodical had several collaborators, including: Edgar Barbosa, Luís da Câmara

Cascudo, Ewerton Cortez, Damasceno Bezerra, Palmyra Wanderley e Jorge

Fernandes. This paper aims to make a depiction of women at the time, trying to

understand how woman was placed in historical context by investigating the

magazine’s records, and to determine whether they used to follow the other

Brazilian publications concerning women. To this end we used the five produced

editions of Cigarra (1928-1929) as a source, through it we performed the process

of scansion in which we placed into categories the female figures that appeared

in Cigarra, revealing the public woman – breaking paradigms – and the woman

that stay at home, educated for getting married and for the household chores; we

also made use of relevant literature about the subject, and photographs. In order

to reach the purpose of the work we have made a sketch of the first printings

published in Brazil and by the Rio Grande do Norte press at the time.

KEYWORDS: woman; press; Cigarra; Rio Grande do Norte.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Capa do Correio Braziliense ou Armazém Literário Vol.I.....................19

Figura 2 – Primeira edição da Gazeta do Rio de Janeiro......................................22

Figura 3 – Máquina de Linotipo..............................................................................27

Figura 4 – Capa da primeira edição da revista Cruzeiro........................................32

Figura 5 – Capa da primeira edição da revista Realidade.....................................34

Figura 6 – Capa da Primeira edição da revista Veja..............................................36

Figura 7 – Jornal O Natalense...............................................................................39

Figura 8 – Jornal A República................................................................................43

Figura 9 – Capa da primeira e segunda edição da revista Cigarra........................52

Figura 10 – Capa da terceira e quarta edição da revista Cigarra..........................53

Figura 11 – A festa de aniversário do América F.C...............................................54

Figura 12 – Regatas em Natal...............................................................................55

Figura 13 – Capa da quinta edição da revista Cigarra...........................................56

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 12

2 A CHEGADA DA IMPRENSA AO BRASIL......................................... 15

2.1 Primeiros jornais brasileiros.................................................................. 18

2.2 As revistas brasileiras........................................................................... 28

3 JORNALISMO IMPRESSO NORTE- RIO-GRANDENSE.................... 38

3.1 Primeiros impressos norte-rio-grandenses........................................... 38

3.2 A revista Cigarra: uma breve história: .................................................. 49

4 A REPRESENTAÇÃO DA MULHER DE 1920..................................... 57

4.1 A Natal dos anos de 1920: Contextualizando o período....................... 57

4.2 A figura feminina por meio da revista Cigarra....................................... 59

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................... 71

REFERÊNCIAS....................................................................................... 73

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1 Introdução

A presente monografia intitulada “A Representação da Mulher da década de 1920

por meio da Revista Cigarra”, nasceu a partir de um convite da professora Isabel Cristine

Machado de Carvalho (orientadora deste estudo) para que fôssemos bolsistas em seu

projeto de pesquisa nomeado “Revista Cigarra: cenário social e intelectual de Natal nos

anos de 1920”. Aceito o convite, fomos colocadas em contato com o nosso objeto de

estudo e percebemos o quão importante seria analisar aquele material.

Após manusearmos as páginas da revista surgiram algumas indagações: Qual a

importância da revista Cigarra para a sociedade natalense durante o período de sua

circulação? Qual a representação da mulher naquele período? Como a revista Cigarra

as mencionava e descrevia?

Diante destes questionamentos algumas respostas começaram a aparecer, mas

não de maneira definitiva, pois precisavam ser confirmadas, ou não, no desenvolver do

trabalho. Resolvemos então, aliar o projeto de pesquisa ao nosso trabalho de conclusão

de curso, optando por realizar um estudo sobre as mulheres brasileiras da década de

1920, retratadas na revista Cigarra.

Tratar a respeito da história da mulher significa descobrir as relações entre a

figura feminina e o grupo no qual ela está inserida, procurando apresentá-la como ser

social, articulando-a com os fatos sociais.

Nesse sentido, promoveremos uma breve discussão de situações que permeiam

a vida das mulheres nas sociedades patriarcais, como a nossa. Além de identificar,

através dos textos publicados na revista Cigarra, a representação da mulher durante o

período investigado.

Nosso trabalho possui a finalidade de compor a representação da mulher na

sociedade de 1920, trazendo à tona a forma como ela foi e continua sendo tratada

historicamente, bem como a importância de inseri-la como sujeito da história,

relacionando com o que era descrito no periódico Cigarra, que circulou em Natal, Rio

Grande do Norte, durante a década.

Desde as sociedades mais antigas, as mulheres foram, muitas vezes, retratadas

pelos historiadores tradicionais como sujeitos oprimidos, sempre marginalizados.

Entretanto, ao longo da história das civilizações, o papel atribuído à mulher na vida

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social, produtiva, cultural sofreu modificações. A inserção das mulheres na vida

produtiva, com o advento da revolução industrial, propiciou a inserção da mesma na

sociedade e de seus laços sociais.

Em diferentes períodos históricos são atribuídos às mulheres papeis sociais

diversificados, transmitidos principalmente, através da Educação, tradicionalmente

fornecidos pela família e pela escola. Com o desenvolvimento e expansão dos meios de

comunicação a mídia passou a ter um importante papel, tanto na construção quanto na

difusão de modelos de ser e estar no mundo.

Na sociedade atual tanto as mulheres como os homens exercem as mais variadas

condutas que, por sua vez, se constituem num conjunto de inter-relações, na medida em

que as diferenças entre homens e mulheres, ligando o gênero ao trabalho, ao poder e ao

sexismo na sociedade se tornam evidentes, passando a ser foco de investigação.

Para realizar este estudo, desenvolvemos uma pesquisa documental, utilizando

como fonte os registros históricos encontrados em fotografias e bibliografias pertinentes

à essa temática. Utilizamos, ainda, a coleção completa (cinco edições) da revista

Cigarra, fonte de fundamental importância para o entrelaçar e desenvolvimento deste

trabalho, através da qual realizamos a representação da figura feminina da década de

1920. Por meio da revista Cigarra, conseguimos observar a mulher da época em vários

contextos, separando-os em categorias a serem discutidas nesta monografia.

Desse modo, organizamos o trabalho em quatro capítulos: O primeiro capítulo

chamado “A chegada da Imprensa ao Brasil” traça um breve histórico acerca de como a

Imprensa surgiu no país, citando os jornais e revistas pioneiros a circularem por aqui,

como o Correio Braziliense, a Gazeta de Lisboa, a Gazeta do Rio de Janeiro, As

Variedades e Ensaios da Literatura, O Patriota, entre outros.

O segundo capítulo, por sua vez, aborda a história da imprensa no Rio Grande

do Norte, fazendo um traçado sobre o jornal O Natalense, primeiro periódico fundado e

publicado pela imprensa norte-rio-grandense; a República, um jornal político, fundado

para divulgar opiniões republicanas na província; revista Via-Láctea, O Jornal das

Moças, O Galvanópolis, e outros. Abordamos ainda, sobre um pouco da história da

revista Cigarra – objeto deste estudo.

E, por fim, o último capítulo trata sobre a Natal dos anos de 1920, focando a

representação da mulher desta época através do modo em que ela aparece nas páginas

da revista Cigarra, “dedicada às letras, à sociedade, ao esporte, à economia e à

aviação” (CARVALHO, 2012, p.2). Para fazer tal representação, dividimos os contextos

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em que a figura feminina aparece na revista em categorias, de um lado a mulher do

espaço privado – educada para o casamento e tarefas domiciliares; do outro a que

quebra paradigmas – influenciada pelos movimentos liberalistas e femininos da década.

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2. A chegada da imprensa ao Brasil

A imprensa periódica surgiu na Europa em meados do século XV, chegando às

Américas no século XVI. No Brasil, a imprensa iniciou-se oficialmente em 1808 com a

chegada da família real portuguesa e a instalação da tipografia da Impressão Régia

que, mais tarde, passou a se chamar Imprensa Nacional, a qual imprimia documentos,

obras literárias, textos políticos e atos administrativos do Reino.

É sob o signo do oficialismo e com atraso de três séculos que se inaugura a imprensa no Brasil, em 1808. A administração colonial portuguesa impede a tipografia e o jornalismo até a chegada de D. João VI. Em maio, instala as oficinas da Impressão Régia e, em setembro, faz circular a Gazeta do Rio de Janeiro (BAHIA, 2009, p. 17).

Portugal terminou seu processo de ocupação no território brasileiro no início do

século XVIII. Nos anos setecentos, os brasileiros consolidaram os principais focos de

resistência e combate ao regime colonial, estimulados pela desigualdade social, pela

independência dos Estados Unidos, ou pela Revolução Francesa1.

Confrontada pelo nacionalismo que dava sinais de inquietação e atuava com

Filipe dos Santos, na Revolta de Vila Rica (1720); na Inconfidência Mineira (1789); na

Revolução dos Alfaiates (1798); na Revolução Nativista de Pernambuco (1817); e,

depois, nos movimentos populares como a Cabanagem (1835), a Corte Portuguesa

teme liberar a imprensa e profere todo o seu domínio para impossibilitar o

funcionamento de tipografias e censurar o jornalismo.

Dom João XI, príncipe regente de Portugal, transferiu a Corte Portuguesa para o

Brasil - sua mais importante colônia - em meio à guerra da Inglaterra contra a França,

que se alastrava pela Europa e, em pouco tempo, chegaria a Portugal que, até então,

se mantinha neutro. Como não tinha condições militares de enfrentar os soldados

franceses, a Coroa Portuguesa deixou Lisboa em 27 de novembro de 1807, chegando

ao Brasil um ano depois, trazendo consigo todo material tipográfico adquirido na

1 A Revolução Francesa foi um movimento social e político ocorrido na França no final do século XVIII que teve por objetivo principal derrubar o Antigo Regime democrático que representasse e assegurasse os direitos de todos os cidadãos. http://www.algosobre.com.br/historia/revolucao-francesa-1789-1799.html Acesso em 29 set. 2013

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Inglaterra. Vários nobres, funcionários, soldados e, claro, toda a família real vieram em

direção à colônia, transportados por 36 embarcações a vela.

Na bagagem do príncipe-regente, então com 40 anos de idade, incluem-se dois prelos e 26 volumes do material tipográfico do Arco Cego comprado na Inglaterra para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros e da Guerra. Consignada a Lisboa, a tipografia veio a bordo da Meduza, uma das naus da família real, e às ordens de D. Antônio de Araújo de Azevedo (mais tarde, Conde da Barca). As peças de composição e impressão servem de artífices portugueses e brasileiros para a produção de livros, papéis diplomáticos, confecção de leis, cartas de jogar (BAHIA, 2009, p. 18).

Entretanto, Portugal possuía o conhecimento tipográfico bem antes da

descoberta do Brasil.

Data de 1487 a existência de livros e de outros impressos em suas províncias. Tipos, gravura e papel são instrumentos ativos da expansão ultramarina. A década de 1980 celebra os 500 anos da introdução da imprensa de caracteres móveis em Portugal (BAHIA, 2009, p. 19).

Antes de 1808, todas as publicações impressas no Brasil eram censuradas pelo

poder civil e pelo poder eclesial, que limitavam o acesso ao conhecimento difundido no

mundo. De acordo com Bahia (2009), os motivos para essa censura eram de ordem

econômica e política, pensando em garantir o colonialismo e deter pela força as

aspirações de liberdade e justiça. Ou seja, a Corte desejava evitar a concorrência dos

produtos brasileiros com os portugueses, bem como impedir que impressos

revolucionários circulassem no país.

Até então as letras impressas eram proibidas no Brasil. No período colonial não houve nem imprensa, nem universidade, por causa da política portuguesa de conservar a imensa possessão reduzida ao obscurantismo e ao atraso (LUSTOSA, 2004, p. 88)

Contudo, sabe-se que, anteriormente a 1808, já circulavam no país mais de 300

obras literárias e jornais de outros países, como a Gazeta de Lisboa, além dos

informativos oficiais da Igreja, que mantinham o povo informado dos acontecimentos

históricos.

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Antes mesmo de 1808, foi possível inventariar mais de trezentas obras de autores nascidos no território brasileiro, incluindo não só livros, mas impressos anônimos, relatando festejos e acontecimentos, antológicos e índices, além de alguns manuscritos inéditos de autores clássicos. Eram textos variados: Desde narrativas históricas até poesias, passando pela agricultura, medicina, botânica, discursos, sermões, relatos de viagens, naufrágios, literatura em prosa, gramática e até polêmicas (MARTINS; LUCA, 2008, p.24).

Existem indícios de que, em 1706, uma tipografia em Recife e, em 1746, outra

no Rio de Janeiro, ambas de propriedade de Antônio Isidoro da Fonseca, teriam

publicado obras, as quais esbarradas na intransigência das autoridades portuguesas

foram interrompidas por ordem da Coroa, que apenas permitia que circulassem no país

textos impressos na Europa ou que se mantivessem manuscritos, como forma de

controle e dominação da Coroa Portuguesa.

Em 1706, a tentativa de fazer funcionar um prelo em Pernambuco sofre bloqueio da autoridade colonial. No Rio a tipografia de Antônio Isidoro da Fonseca, aberta em 1746, é fechada em 1747 pela Carta Régia, de 10 de Maio, que proíbe a impressão de livros ou papéis avulsos (BAHIA, 2009, p. 18).

Por não tolerar a liberdade de expressão, o poder da Coroa foi responsável pelo

atraso na montagem tipográfica brasileira. A Carta Régia, de 1747, ordenava fechar

tipografias, punia infratores com penas de prisão e exílio, e sequestrava tipos que eram

enviadas pera a metrópole. Esse cenário só começa a mudar a partir de 1808.

Entretanto, além das tentativas frustradas de publicar periódicos antes da

chegada da família real, os impressos produzidos por tipografias instaladas no começo

do século XVIII pelos Jesuítas, na região das missões - onde ocorria a catequese

alfabetização de índios - situada ao sul do continente americano, circularam entre os

aldeamentos.

Além dessas experiências tênues, vale lembrar as quatro tipografias instaladas pelos Jesuítas no começo do século XVII na região das missões, no Sul do continente americano, em territórios que hoje pertencem à Argentina e ao Paraguai, área contígua às fronteiras com o Brasil. Os impressos aí produzidos por tipógrafos (que eram índios guaranis) circularam entre os demais aldeamentos, inclusive os situados em região hoje brasileira (MARTINS; LUCA, 2008, p.24).

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Sabe-se também que “desde 1778, por exemplo, a Gazeta de Lisboa, já

circulava pela América portuguesa, inclusive no Rio de Janeiro” (MARTINS; LUCA,

2004, p.30). Apesar da Gazeta de Lisboa divulgar ideias liberais, opiniões e

informações, não realizava publicamente o debate e a divergência política do

absolutismo português. E, nesse contexto, se contrapondo à Gazeta, surge o Correio

Braziliense um periódico “moderno, dinâmico, crítico” (BAHIA, 2009, p.17).

2.1 Primeiros jornais brasileiros

Em meados de 1808, o gaúcho Hipólito José da Costa – bacharel em direito e

doutor em filosofia - fundou o Correio Braziliense, também chamado de Armazém

Literário. O jornal era isento de censura e possuía como prioridade “chamar atenção

para o caráter daninho do Absolutismo ou de qualquer outra forma de despotismo”

(LUSTOSA, 2004, p.17). O veículo era impresso em Londres, onde Hipólito José da

Costa morava como exilado, e distribuído no Brasil, por meio de navios.

Adquirira Hipólito, com cidadania inglesa, imunidade contra as tentativas da Coroa portuguesa de limitar as críticas que lhe faria por meio do jornal. O Correio, libertado de qualquer censura, comentava abertamente aspectos da política portuguesa relativa ao Brasil (LUSTOSA, 2004, p. 91).

Nesse espaço público de crítica, começava a se instaurar a chamada opinião

pública. A escolha do nome Correio Braziliense revela que Hipólito José da Costa

gostaria de enviar sua mensagem especialmente ao povo brasileiro.

Brasilienses eram os portugueses nascidos ou estabelecidos no Brasil e que se sentiam vinculados ao Brasil como sua verdadeira pátria. Ao dar a seu jornal o nome brasiliense, Hipólito demonstrava que queria enviar sua mensagem preferencialmente aos leitores do Brasil (LUSTOSA, 2004, p.14).

O Correio Braziliense possuía conteúdo educativo com longos e densos artigos,

escritos de forma analítica. Seu formato e conteúdo se aproximavam bastante do

modelo de livro que conhecemos atualmente, podendo chegar a ter cerca de 100

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páginas, divididas em seções como política, ciência, arte, comércio, literatura, fatos

internacionais e até informações cotidianas. Infelizmente, apenas a elite intelectual

brasileira tinha acesso aos exemplares, pois era vendido somente por assinatura, o que

o tornava financeiramente mais caro.

Figura 1 – Capa do Correio Braziliense ou Armazém Literário Vol.I Fonte: <http://www.submarino.com.br> Acesso em: 13 nov. 2012

Com a vinda da Corte Portuguesa para o Brasil, Hipólito da Costa enxergou o

ensejo de uma modificação profunda para o país. A presença da Coroa, juntamente

com a instalação de uma imprensa aqui, possibilitava o progresso e desenvolvimento

cultural e social para o país. Com o advento dos serviços administrativos da Coroa no

Rio de Janeiro e uma série de benefícios implementados como, por exemplo, a

abertura dos portos e a criação das escolas superiores de artes e ciências, a colônia se

elevaria em 1815 à categoria de Reino Unido de Portugal e Algarve.

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O Correio Braziliense teve um papel importante para a independência do Brasil.

Hipólito da Costa, em seu periódico, dava preferência a relatar acontecimentos de

outras partes do mundo, por meio de documentos, reflexões, novidades e críticas.

Expressava de forma coerente suas posições políticas e preferências pelos ideais

liberalistas. Grande parte do seu conteúdo se dedicava a comentar ou criticar as

autoridades portuguesas, indicando os erros de tal administração. Hipólito da Costa

defendia a substituição do trabalho escravo pelo livre, mas também acreditava que,

para isso, o Brasil deveria ter leis mais claras e eficazes. Lutou contra a nobreza, a

favor da liberdade de expressão. Tais ideias foram enfatizadas pelo seu jornal, que

ajudou a preparar a geração politicamente responsável pela concretização da nossa

independência em 1822.

O programa do Correio Braziliense consubstancia as ideias de Hipólito da Costa: monarquia constitucional, liberdade de opinião, abolição da escravatura, defesa da imigração, criação do júri popular, instituição da universidade, mudança da capital para a região central, independência do Brasil (BAHIA, 2009, p.33).

Com a Revolução Constitucionalista do Porto2, em 1820, decorreram-se as

discussões em torno da Constituição Portuguesa. A partir daí ficou evidente a

divergência de interesses entre Portugal e Brasil. “O progresso da Metrópole dependia,

na visão de muitos deputados portugueses, da submissão da antiga colônia, do

fechamento dos órgãos e instituições aqui implantados junto com a Corte; da volta da

família real” (LUSTOSA, 2005, p. 93).

Em 1822, após a Revolução Constitucionalista do Porto, o Correio Braziliense

encerra os trabalhos. A economia começou a alavancar e o início das atividades da

Assembleia Constituinte impulsionou a criação de leis para o Brasil, impulsionando o

aparecimento dos primeiros jornais e jornalistas independentes.

Vendo coroada a nossa independência, em 1822, Hipólito da Costa julgou encerrada a sua missão, parando de publicar o Correio Braziliense em novembro deste ano. Colaborou ainda com os esforços para o reconhecimento da nossa independência na Europa, durante o ano de 1832, ao final do qual morreu

2 A Revolução Constitucional ou Liberal do Porto foi um movimento militar iniciado em agosto de 1920 na cidade do Porto, ao norte de Portugal, espalhando-se rapidamente para outras regiões do país até chegar à capital, Lisboa. Nesse caminho, conquistou o apoio da burguesia, do clero, da nobreza, e do Exército – enfim, dos mais importantes, extratos sociais portugueses. http://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/revolucao-do-porto-movimento-exigiu-o-retorno-de-d-joao-6.htm Acesso em 04 dez. 2012

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subitamente, deixando um legado que o faz ser hoje reconhecido como o fundador da imprensa brasileira (LUSTOSA, 2004, p.20).

Em paralelo ao Correio Braziliense, circulava no Brasil a Gazeta do Rio de

Janeiro, lançada em 10 de setembro de 1808. A Gazeta do Rio de Janeiro foi o

primeiro jornal da América Portuguesa a ser produzido oficialmente no Brasil, impresso

pela Tipografia Régia, sob os cuidados de D. Rodrigo de Sousa Coutinho.

Figura 2 – Primeira edição da Gazeta do Rio de JaneiroFonte: <http://www.seguindopassoshistoria.blogspot.com>. Acesso em 15 nov. 2012

Seguindo o modelo editorial das gazetas europeias do antigo regime, a Gazeta

do Rio de Janeiro era um jornal institucional, uma espécie de folhetim oficial. O seu

conteúdo era minuciosamente controlado pela coroa e desenvolvido especialmente

para tratar de assuntos relacionados à administração do Reino e atos do governo.

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Seu perfil é de um órgão criado para informar sobre a vida administrativa e a movimentação social do Reino e que, por ser o único editado aqui, absorve a história de forma documental: editais, pequenos anúncios, leilões, perdidos e achados, atos do governo (BAHIA, 2009, p. 26).

O jornal era dividido em duas seções: seção noticiosa, que compreendia artigos

advindos de jornais europeus, trazia cartas de militares e políticos de relevância no

período, informações burocráticas, bem como divulgava fatos relacionados ao cotidiano

da realeza; e, a seção de avisos, onde eram publicados vários anúncios, os quais, em

sua maioria, enfatizavam a prestação de serviços.

Desde as primeiras edições, predominavam notícias sobre a invasão de

Portugal e da Espanha pelas tropas de Napoleão, a resistência dos portugueses e

espanhóis, as lutas entre franceses e ingleses e a rebelião da província do porto,

seguindo assim, até o anuncio da vitória do exército inglês sobre os franceses em

Portugal.

Até que se anuncie a vitória das tropas inglesas sobre as francesas em Portugal, todo os espaço da Gazeta – à exceção de curtas notícias e alguns anúncios locais – é para os relatos, proclamações, ordens e contraordens militares, decretos, exortações, editais, aos quais se somam depois as doações e subscrições financeiras que se fazem no Brasil para as vítimas de guerra (BAHIA, 2009, p.21).

A começar na sua fundação, o jornal oficial vendia os seus exemplares de

maneira avulsa ou por assinatura. “Já no primeiro número, cria um sistema de

circulação que usa ponto de venda e serviço de assinaturas com entrega domiciliar”

(BAHIA, 2009, p. 23).

Ainda, de acordo com Bahia (2009), inicialmente as publicações do periódico

eram semanais, divulgadas aos sábados. Depois, passou a ser bissemanal, circulando

às quartas-feiras e aos sábados, ficando desse modo até julho de 1821, quando se

tornou trissemanal, saindo às terças e quintas-feiras e aos sábados. Além disso,

existiam várias edições extraordinárias, as quais poderiam ser publicadas em

quaisquer dias da semana. O último exemplar do jornal circulou em 29 de dezembro de

1821.

Entre os anos de 1811 e 1823, surgiu na Bahia o jornal A Idade d’Ouro do Brazil,

fundado por Manoel Antônio da Silva e impresso por tipografia própria. A Gazeta do Rio

Page 24: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

23

de Janeiro e A Idade d’Ouro do Brasil tiveram o “privilégio de serem os únicos jornais

com licença de impressão num período de 12 anos, de 1808 a 1820 e de 1814 a 1820”

(BAHIA, 2009, p. 25), respectivamente.

Em 1813, a Tipografia Régia lança a segunda revista de cultura O Patriota, de

Manuel Guimarães, ex-redator da Gazeta, a qual circulou durante dois anos. Sua

leitura agrada D. João XI. Até 1821, o Rio de Janeiro não conhecia outra impressora

sem ser a Tipografia Régia.

A censura foi forte no Brasil até 1820, quando fatos importantes abalaram o

poder, até então, exclusivo da impressão de escritos e colaboram para a liberdade de

imprensa e o desenvolvimento do jornalismo. Um movimento constitucionalista ocorre

na cidade do Porto, em Portugal, expondo a instabilidade portuguesa. Os militares

criticavam abertamente contra a ausência do rei e sua Corte, bem como a influência

inglesa nos negócios do império.

Quando a Revolução do Porto estabelece na metrópole lusitana a liberdade de impressão. Os patriotas nacionais dela se valeram para publicar jornais nas nossas cidades mais importantes, criando ambientes favoráveis à independência brasileira, decretada em 1822 (MELO, 2003, p.146).

Depois da Revolução do Porto e da convocação da Constituinte brasileira, em

1821, a Gazeta do Rio de Janeiro teve sua titulação reduzida para Gazeta do Rio,

enfrentando modificações, passando a defender o liberalismo e a modernidade política,

acompanhando de perto o processo de independência do Brasil. Veiculava notícias

liberalistas mais rapidamente do que o Correio Braziliense, que levava desvantagem

devido à localização geográfica. O jornal circulou até 1822, quando o acervo da

Imprensa Régia passou a ser nacional e um novo jornal surge O Diário do Governo.

D. João VI volta para Portugal no dia 26 de Abril de 1821, deixando no Brasil

seu filho D. Pedro como príncipe regente. Com a volta da realeza para seu país de

origem, surgiram no Brasil vários jornais inspirados no Correio Braziliense, defendendo

as ideias de independência.

Também deixou para trás um país que começava a entrar em ebulição, contaminado pelo espírito revolucionário que tomara Portugal. Liberais e Maçons, animados pelas perspectivas que o processo constitucional abria para o Brasil, reuniam-se

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24

abertamente, sem medo da repressão que marcara os últimos anos do reinado de D. João no Rio (LUSTOSA, 2004, p. 21).

Em 1824, a primeira constituição brasileira outorgada por D. Pedro I,

estabeleceu a liberdade de imprensa como norma, mas, incluiu limitações

suficientemente vagas para que os governos de turno aplicassem restrições e

represálias. Após o Primeiro Reinado, diversas tipografias começarem a surgir,

multiplicando-se no Rio de Janeiro, em São Paulo, na Bahia, em Minas e em

Pernambuco.

Os periódicos nascidos na metade do século XIX conseguiram desempenhar a

função social do jornalismo, na medida em que publicava em suas linhas todo o desejo

de liberdade da população brasileira. Nesse período surgiram vários jornais, como: O

Brasil, que circulou até 1852, O Republico (1830), O Tribuno do Povo (1831), O Sete

de Abril (1833).

Em 1831, o Imperador D. Pedro I abdica o trono e decide voltar à Europa,

gerando muitos conflitos no território brasileiro, principalmente pelas incertezas

políticas geradas durante o Período Regencial. Nessa época, Pedro II, filho do

Imperador D. Pedro I, não podia assumir o trono deixado pelo pai, pois ainda era uma

criança com apenas cinco anos de idade.

A onda de incertezas políticas só aumentava e os interesses dos liberais e

conservadores cada vez mais distintos. Enquanto os liberais aspiravam criar governos

regionais mais autônomos com a eleição de assembleias legislativas, os conservadores

sustentavam a rígida posição de que a monarquia centralizadora era a solução mais

apropriada para conter e evitar as possíveis revoltas que surgiriam posteriormente.

Em 1834, os liberais criaram o Ato Adicional, para permitir que governos locais

pudessem desenvolver suas próprias assembleias e administrar os interesses das

políticas provinciais. Em 1840, os conservadores notaram que deviam ter uma posição

mais participativa no governo para conter as inúmeras revoltas que aconteceram neste

período e criaram a Lei Interpretativa do Ato Adicional, que enfraquecia a autonomia

das assembleias e dava ao império centralizador maior poder de interferência nos

governos provinciais.

Diante de uma inconstância política cada vez mais evidente com o estouro das

revoltas populares citadas acima, os dois partidos chegaram à conclusão de que a

ordem deveria ser mantida e, que, somente a antecipação de Pedro II ao trono poderia

Page 26: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

25

dar um fim à instabilidade gerada. Então, o Partido Liberal, levou adiante a ideia de um

grupo secretamente criado por José Martiniano Alencar, o Clube da Maioridade,

contando com o apoio da imprensa e de alguns manifestantes para pressionar o

Senado a votar a favor da antecipação da maioridade de D. Pedro II, que tinha

somente 14 anos na época. Este fato ficou conhecido como o Golpe da Maioridade.

O Golpe da Maioridade figurou uma vitória parcial do Partido Liberal já que, os

conservadores conseguiram sancionar algumas medidas que limitavam a autonomia do

poder provincial.

No decorrer do segundo reinado (1840-1889) a imprensa estende suas funções

como prestadora de serviço num quadro econômico e social mais favorável, o que

possibilitaria a alguns deles a formação de uma empresa.

Durante a vigência desse período, a política e o jornalismo se uniram em prol

dos partidos conservador ou liberal, ligados a grupos familiares, condicionados a seus

interesses econômicos.

Em 1888, as pressões feitas pela imprensa e pelo povo na busca da abolição da

escravatura, fez com que o governo de D. Pedro II se isolasse cada vez mais. Em 13

de maio de mesmo ano, o Brasil se torna o último país do ocidente a abolir a

escravidão, e faz isso por meio da Lei Áurea, sancionada pela Princesa Isabel,

enquanto o Imperador regente fazia viagem ao exterior.

Mediante tal cenário, em novembro de 1889, D. Pedro II foi deposto por oficiais

do exército.

Ilustres representantes do regime monárquico, como Rui Barbosa e Deodoro da Fonseca, aderiram à causa republicana. D. Pedro II e a família real partiram para o exílio. O Imperador desapontava seus seguidores ao desencorajar qualquer tipo de resistência (CAMPOS, 1999, p.187).

O primeiro golpe militar ocorrido no Brasil acontece no dia 15 de novembro de

1889 com a Proclamação da República, movimento em nome da ordem e do

progresso. Diferentemente dos países vizinhos, a implementação da República

brasileira não se deu a partir de um processo revolucionário em que os grupos

populares tenham participado ativamente do processo.

No início do século XX, na medida em que o cenário politico se modifica, os

jornais e revistas do período seguiam o mesmo ritmo, tornando-se empresas, deixando

de lado o trabalho informal. Com as transformações, as técnicas de impressão com a

Page 27: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

26

introdução das rotativas, que possibilitaram a ilustração, aumentando assim, o número

de páginas, elaborando as capas para que se tornassem mais atrativas e ampliando o

número de tiragens.

No período de 1889 a 1930, o qual compreende a República Velha, a imprensa

volta a ser censurada.

O cerceamento da liberdade e os atos de violência eram constantes, principalmente contra os jornais que se mantinham monarquistas, como pode-se notar através do decreto baixado pelo Governo Provisório, em 23 de dezembro de 1889, que alertava: “os indivíduos que conspirarem contra a República e o seu governo; que aconselharem ou promoverem por palavras escritos ou atos a revolta civil ou a indisciplina militar... serão julgados por uma comissão militar... e punidos com as penas militares de sedição”. No entanto, apesar da repressão à liberdade de imprensa, surgiram, nesse período, publicações voltadas para a classe operária e para as comunidades imigrantes (O DESENVOLVIMENTO DOS JORNAIS NO BRASIL, 2011).

Na República Velha os jornais brasileiros começaram a modernizar a imprensa,

introduzindo os primeiros maquinários, como máquinas de escrever à redação e à área

administrativa, e adquiriram novos linotipos que possibilitaram a impressão dos meios

de comunicação em um número maior de tiragem e melhorasse a qualidade da

publicação.

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27

Figura 3 – Máquina de LinotipoFonte: <http://jornalonline.net/historia-jornal-no-brasil>. Acesso em: 04 dez 2012.

A modernização da imprensa proporcionou ainda, a utilização de ilustrações nos

meios de comunicação, e, por fim, iniciou-se a aplicar uma linguagem mais rebuscada,

romântica, com tom de oratória política, contanto com a participação de escritores

famosos como Machado de Assis, Manoel Antônio de Almeida e José de Alencar.

Nesse período, apareceram periódicos como A Noite (1911), a Gazeta Mercantil

(1920), O Globo (1925) e a Folha da Noite (1921) - atual folha de São Paulo.

Page 29: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

28

2.2 As revistas brasileiras

Após o auge de jornais, folhetins, e informativos em geral surgem as revistas,

um novo meio de comunicação, que viria a ampliar ainda mais a diversidade do

jornalismo impresso.

Em 1663, nasce na Alemanha a primeira revista que se tem notícia, a

Erbauliche Monaths Unterredungen (Edificantes Discussões Mensais), a qual lembrava

um livro. Nessa época, as revistas abordavam temas específicos, parecendo-se mais

com coletâneas de textos, que possuíam caráter didático.

A Erbauliche Monaths Unterredungen tinha conteúdo exclusivamente religioso,

com a finalidade de atingir um publico determinado. Essa revista inspirou outras

publicações semelhantes que começaram a aparecer mundialmente.

A primeira revista de que se tem notícia foi publicada em 1663, na Alemanha, e chamava-se Erbauliche Monaths-Unterredungen (ou Edificantes Discussões Mensais). Tinha cara e jeito de livro e só é considerada revista porque trazia vários artigos sobre um mesmo assunto – teologia – e era voltada para um público específico. Além disso propunha-se a sair periodicamente. Como tudo que é inovador, inspirou publicações semelhantes pelo mundo: Em 1665, surgiu na França o Jounal des Savant; em 1668, nasce na Itália o Giornali dei Litterati e na Inglaterra, em 1680, aparece o Mercurius Librarius ou Faithfull Account of all Books and Pamphlet (SCALZO, 2006, p. 19).

O termo revista nasceu em 1704, na Inglaterra e, apesar de se parecerem com

livros, deixaram clara a missão desse novo tipo de publicações, destinando-se a

públicos específicos e aprofundando assuntos, mais que os jornais e menos que os

livros. A primeira revista parecida com o modelo que conhecemos atualmente foi

produzida em 1731, em Londres. A The Gentleman’s Magazine foi inspirada em

grandes magazines e reuniam vários assuntos tratando-os de forma leve e agradável.

Deste então a palavra Magazine passa a designar várias revistas pelo mundo.

E, em 1731, em Londres, é lançada a primeira revista mais parecida com as que conhecemos hoje em dia, The Gentleman’s Magazine. Inspirada nos grandes magazines – lojas que vendiam um pouco de tudo – reunia vários assuntos e os apresentava de forma agradável (SCALZO, 2006, p.19).

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29

No Brasil, as revistas chegaram no início do século XIX, junto com a Corte

Portuguesa. Entretanto, a primeira revista – não oficial do país - de que se tem

conhecimento foi lançada em meados de 1812, pelo jornal Idade d’Ouro do Brasil, em

Salvador. A impressão possuía o tinha título: As Variedades e Ensaios da Literatura, a

qual abordava temas eruditos, que discutiam a respeito dos hábitos e virtudes morais.

Ambos, o jornal e a revista, foram criados na tipografia de Manuel Antonio da Silva

Serva, publicados sobre a proteção do Conde dos Arcos. Os redatores eram Diogo

Soares da Silva de Bivar e o padre Ignácio José de Macedo. Como a linha editorial da

revista era conservadora, suas publicações defendiam o absolutismo monárquico

português.

Um ano depois, em 1813, nasce no Rio de Janeiro a revista O Patriota,

destinada a divulgar autores e temas da terra. A publicação possuía colaboradores da

elite intelectual da época. Mas, somente em 1822 com os Anaes Fluminenses de

Ciência, Artes e Literatura foi colocado em pauta uma nova proposta editorial, que

trazia os mais variados temas do conhecimento humano, atendendo aos interesses dos

bacharéis de direito, engenheiros, médicos, cientistas e outros profissionais liberais que

começavam a atuar no país, pós independência da república.

Assim como os Anaes Fluminenses de Ciência, Artes e Literatura, objetivando

também propagar informações de cunho científico, surge em 1827 a primeira revista

segmentada do país O Propagador das Ciências Médicas que, como o título sugere,

direcionava-se à classe médica.

Seguindo essa mesma linha editorial, aparece, na mesma época, o periódico

Espelho Diamantino, considerado a primeira revista feminina nacional que veio, de

acordo com Scalzo (2006, p.28), para “deixar a mulher à altura da civilização e de seus

progressos”. Direcionada à mulher, versava sobre assuntos relacionados à política,

literatura, belas artes, teatro e moda.

Inicialmente as revistas brasileiras tratavam-se de publicações institucionais e

eruditas, que pouco lembrava a formatação que conhecemos hoje. Dentre elas,

podemos citar: a Revista da Sociedade Filomática (1833), Revista da Sociedade

Ensaios Literários (1876), Revista da União Acadêmica (1899), Revista Semanária dos

Trabalhos Legislativos da Câmara dos Deputados (1828) e a Revista Brasileira (1857).

Apesar do termo “revista” ser uma novidade “todas essas publicações têm vida

curta. Sofrem com a falta de assinantes e de recursos” (SCALZO, 2006, p.28).

Contudo, em 1837, essa realidade se modifica com a publicação da revista Museu

Page 31: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

30

Universal, um periódico que continha entretenimento e cultura, além de diversas

ilustrações, as quais cativavam o público.

A vida das revistas começa a mudar quando é lançada, em 1837, Museu Universal. Refletindo a experiência das Exposições Universais europeias que dominam o século XIX, com textos leves e acessíveis, a publicação foi feita para uma parcela da população recém-alfabetizada, a quem se queria oferecer cultura e entretenimento. Além dessas inovações, a revista trazia ilustrações (SCALZO, 2006, p. 28).

Seguindo o exemplo do Museu Universal, aparecem as revistas de variedades

com o lançamento de A Marmota na Corte (1849), trazendo temas diversificados,

atualizados e vistos de maneira mais minuciosa. A Marmota na Corte era repleta de

ilustrações e humor. Optava por utilizar textos curtos, passando notícias de forma

divertida, e ao mesmo tempo, crítica, fazendo com que o veículo conseguisse se

estabelecer no mercado por quatro anos.

Com o lançamento de A Marmota da Corte, em 1849, começa a era das revistas de variedades – que abusam das ilustrações, dos textos mais curtos e do humor. As caricaturas são a febre seguinte nas revistas brasileiras (SCALZO, 2006, p.29).

Mantendo a tendência da imprensa ilustrada com um teor humorístico, surge em

1860, pelo alemão Henrique Fleiuss, a revista Semana Ilustrada. A Semana Illustrada,

foi o primeiro veículo de comunicação brasileiro a publicar fotografias em suas páginas.

No final do século XIX, em 1895, o italiano Ângelo Agostini, colaborador da Revista

Ilustrada cria a revista Dom Quixote, a qual ironiza personagens políticos e costumes

da República.

Nomes como Hentique Fleuiss, de Semana Ilustrada, e Ângelo Agostini, de Revista Ilustrada, fazem escola e inauguram por aqui um jeito divertido de dá notícias e fazer crítica social e política. Henrique Fleuiss também é responsável pela publicação das primeiras fotos nas revistas brasileiras. Sua Semana Ilustrada publica, em 1864, cenas de batalhas da Guerra do Paraguai (SCALZO, 2006, p.29).

No início do século XX, na chamada Belle Époque, o Rio de Janeiro, até então,

capital da República, aos poucos adquire um perfil cosmopolita, iniciando um processo

de mudanças no âmbito político e econômico, o que proporcionou o nascimento de

uma nova dinâmica no que diz respeito aos meios de comunicação, e não apenas na

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31

estruturação da cidade. Com o crescimento da população, entre outras consequências,

há o aumento do público leitor e a segmentação deste de acordo com a localização

geográfica na cidade.

Até 1900, as revistas voltavam-se para a cultura e o entretenimento, porém a

publicação da Revista da Semana, fundada por Álvaro Téfe modificou essa realidade.

O uso de fotografias passou a ter lugar de destaque na publicação, que tornou-se

especialista em reconstituir crimes em estúdios fotográficos. Desse mesmo modo,

nasce no mercado brasileiro de revistas, um modelo editorial constituído por

publicações recheadas de ilustrações e fotos atraentes aos olhos dos leitores. Dentro

desse contexto, podemos destacar as revistas: Rua do Ouvidor (1900), Revista da

Semana (1901), Ilustração Brasileira (1901) O Minarete (1903), Kosmos (1904)

Renascença (1904), A Vida Moderna (1907), Fon-Fon (1907), Careta (1908), Revista

Americana (1909), O Pirralho (1911), A Cigarra (1913), Selecta (1915), Cigarra (1928),

entre outras.

Nesse sentido, eclodem os jornais de bairro e as revistas de variedades, que

diferente dos jornais diários e outros veículos midiáticos, os quais não conseguiam

aprofundar conteúdos com frequência devido à falta de tempo, abordavam uma gama

de temas variados, fornecendo para os seus leitores informações mais completas e

minuciosas, bem como grande reportagem e reportagens interpretativas, preenchendo,

assim, os vazios informativos deixados pelas coberturas dos jornais, rádio e televisão.

A escrita dos textos de revistas admite que se tenha uma maior autonomia na

sua confecção, tornando possível a utilização de recursos estilísticos diversos que dão

graça, leveza, ousadia, entre outros adjetivos, ao texto, tais quais incompatíveis com a

velocidade do jornalismo diário.

Revistas são colecionáveis, fáceis de carregar, são mais gostosas de ler e de

tocar do que um jornal, por exemplo, pois possui uma formatação diferenciada, outro

tipo de papel, um novo visual. Devido essas características, as revistas representam

uma importante fonte de informação e papel de auxílio à educação, sendo também

consideradas fontes de informação e forma de distração. Revistas nos ajudam em

trabalhos escolares, através de recortes e pesquisas. O estilo de cada revista,

segmentos e linguagem podem ser definidos de acordo com o público a que se deseja

atingir.

Page 33: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

32

As revistas vieram para ajudar na complementação da educação, no aprofundamento de assuntos, na segmentação, no serviço utilitário que podem oferecer a seus leitores. Revista une e funde entretenimento, educação, serviço, e interpretação dos acontecimentos. Possui menos informação no sentido clássico (as notícias quentes) e mais informação pessoal (aquela que vai ajudar o leitor em seu cotidiano, em sua vida prática). Isso não quer dizer que as revistas não busquem exclusividade no que vão apresentar a seus leitores. Ou que não façam jornalismo (SCALZO, 2006, p. 14).

Uma das inúmeras vantagens das revistas em relação aos outros meios de

comunicação é que ela pode trazer as informações, mais trabalhadas, estudadas, com

mais requinte de detalhes, pois não precisam de um imediatismo, elas trazem análise,

reflexões. .

Em 1928, nasce o que viria a ser um dos maiores fenômenos editoriais do

Brasil, a revista O Cruzeiro, criada pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand. A

publicação estabeleceu uma nova linguagem a imprensa nacional, através da

publicação de grandes reportagens e dando uma atenção especial ao fotojornalismo.

Figura 4: Capa da primeira edição da revista Cruzeiro.Fonte: http://www.fashionbubbles.com/moda/revista-cruzeiro-resgate-memoria-brasileira-

seculo-xx/

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De acordo com Piza (2003), O Cruzeiro, marcou época por estrear um

subgênero da reportagem: a reportagem investigativa. A revista tornou-se a mais

importante do Brasil naquele período, por sua capacidade de abranger públicos

diversos, além da significativa contribuição que deu à cultura brasileira.

As publicações d’O Cruzeiro contavam com colaboradores de peso, tais como

José Lins do Rego, Vinícius de Morais, Manoel Bandeira, Rachel de Queiroz e Mário de

Andrade. E, suas ilustrações eram produzidas pelos artistas Di Cavalcanti e Anita

Malfatti. Em seus bons tempos, na década de 1950, O Cruzeiro chegou a vender 700

mil exemplares por semana. Porém, deixou de ser veiculado na década de 1970, após

a ruína do império de Assis Chateaubriand.

Na década de 1920, a revista Diretrizes – consolidada no mercado devido a

veiculação de grandes reportagens – era a principal concorrente d’O Cruzeiro. Com

publicação mensal, sua primeira edição foi lançada por Samuel Weiner e, possuía

colaboradores de renome como, por exemplo, Jorge Amado, Álvaro Moreyra, Rubem

Braga e Joel Silveira.

Diretrizes era redigida e impressa no Rio de Janeiro. Sua linha editorial era

voltada, principalmente para assuntos políticos. Mesmo sendo concorrente de peso d’O

Cruzeiro, a tiragem da revista Diretrizes não ultrapassava os cinco mil exemplares.

É notório que as revistas representam épocas. Os hábitos, costumes, modas,

personagens de cada período e os assuntos que mobilizaram grupo de pessoas de um

país, podem ser conhecidos e transformados em objetos de estudos, através da

leitura/análise de determinadas revistas.

Esses periódicos ganharam força na medida em que a escolaridade da

população aumentou, e surgiu o interesse por novas ideias, um público que queria ler,

mas não se interessava pela profundidade dos livros, que ainda era visto como

instrumentos de elite e pouco acessíveis. As revistas se tornaram o meio ideal, pois

reuniam vários tipos de assunto num só lugar, além de trazer belas imagens para

ilustrá-los.

Os anúncios passaram a financiar as produções de revista, os preços baixaram,

as tiragens cresceram e mais pessoas passaram a ler e ter acesso. Assim nasceu o

negócio das revistas que conhecemos hoje, uma parte da indústria de comunicação de

massa.

Em 1966, surge no Brasil uma revista que marcou época, a revista Realidade.

Ela reunia, ao mesmo tempo, três fatores culminantes quando se trata de jornalismo: o

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grande passo de uma editora determinada a fazer investimentos; um grupo de

jornalistas cheios de vontade e criatividade; e o país vivendo a fase inicial de um

regime dirigido por militares, que haviam tomado o poder por meio de um golpe de

Estado.

Figura 5 – Capa da primeira edição da revista RealidadeFonte:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Realidade_(revista)> Acesso em: 04 dez 2012

As reportagens de Realidade traziam objetividade na propagação da informação.

Entre a terceira ou quarta edição a revista já alcançava a tiragem de 500 mil

exemplares. Esse enorme sucesso proporcionou uma grande empolgação dentro da

revista, que resultou na vinda de vários investimentos.

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35

Então a Realidade, foi um achado, tanto que depois da terceira ou quarta edição já alcançava a tiragem de 500 mil exemplares. Um achado, principalmente para a Abril, tanto no aspecto financeiro quanto no de imagem da empresa. Tamanho sucesso propiciou uma avalanche de recursos e de empolgação (SOUZA, 1998, p.104).

A Realidade trouxe contentamento para os jornalistas, pois valorizou a profissão.

Os salários eram bons e o repórter possuía liberdade para realizar a matéria que

preferisse.

Além dos meios materiais, a equipe, de Realidade gozava de total liberdade na seleção das pautas de cada edição, e pôde assim abordar todos os temas que à época – entre 1966 e 1968, fase áurea da revista – eram tabu na imprensa brasileira, principalmente sexo, religião e esquerda (SOUZA, 1998, p. 104).

De acordo com Souza (1998), ex-jornalista da Realidade, ele e os demais

companheiros de trabalho faziam o jornalismo que ele sempre buscou, “prazeroso,

consequente e formador”. Contudo, como já era de se esperar, incomodava cada vez

mais a ditadura militar, que também cada vez mais caminhava para o leito que sempre

lhe foi reservado. Meses antes da decretação do AI-5, os jornalistas de Realidade,

começaram a experimentar um pouco da censura interna, que vinha da própria diretoria

da editora. Ainda, segundo Souza (1998), nessa fase, os profissionais “radicais”

deixaram a revista, procurando alternativas.

Em 10 anos de circulação, a revista ganhou sete prêmios Esso de jornalismo.

Teve uma edição apreendida pela censura e chegou a vender 466 mil exemplares num

único mês. A redação foi fechada em 1976, com tiragem de 120 mil exemplares.

Em 1968, Victor Civita e Mino Carta fundam a revista Veja, a qual aborda temas

do cotidiano da sociedade brasileira como economia, política, guerras e outros conflitos

territoriais, cultura e aspectos diplomáticos, entre outros. Veja também apresenta

seções fixas – sobre cinema, música, literatura e a famosa entrevista das páginas

amarelas, no início de cada edição – e colunas assinadas por Diogo Mainardi, Stephen

Kanitz, Tales Alvarenga, Lya Luft, Jô Soares e Reinaldo Azevedo, por exemplo.

Os textos da revista são desenvolvidos em sua maior parte por jornalistas,

porém, existem seções que não são assinadas. Temas como ecologia, tecnologia e

religião, também são discutidos com certa frequência. A revista é entregue aos

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assinantes aos sábados, nas bancas aos domingos, e traz na capa a data das quartas-

feiras (subsequente).

Figura 6 – Capa da Primeira Edição da Revista Veja

Fonte: <http://produto.mercadolivre.com.br/MLB-430666097-revista-veja-numero-1-primeira-edico-1968-_JM> Acesso em: 04 dez.2012

Durante os sete anos iniciais, a Veja circulou com dificuldade no mercado, havia

contraído prejuízos e sofria com a censura militar.

As vendas começaram a melhorar quando a revista passou a ser vendida por assinatura, em 1971. Hoje, as assinaturas correspondem a 80% das vendas, cerca de 1,2 milhão de exemplares semanais (SCALZO, 2006, p.31).

Hoje, a Veja é a revista mais vendida e lida do Brasil, “a única revista semanal

de informação no mundo a desfrutar de tal situação” (SCALZO, 2006, p. 31). A Veja é

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37

considerada a quarta revista de maior circulação no mercado editorial de revistas

semanais de informação, no mundo.

Em outros países, o posto de a mais vendida fica com as revistas de tevê. A

revista Capricho, por exemplo, lançada em 1952 chegou a tirar meio milhão de

exemplares quinzenalmente. Porém, as revistas de novelas de televisão chegaram

para desbancar, elas vieram para retratar o mundo da TV, reforçando a vocação das

revistas para cobertura da indústria cultura.

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38

3. Jornalismo Impresso Norte-Rio-Grandense

3.1 Primeiros impressos norte-rio-grandenses

A Imprensa norte-rio-grandense aparece quase três décadas após o surgimento

dos primeiros jornais brasileiros. Em meados do século XIX, o padre Francisco de Brito

Guerra juntou um grupo de amigos e formou uma Sociedade Mercantil, com a

finalidade de desenvolver no Rio Grande do Norte o primeiro jornal do Estado,

chamado de O Natalense.

Até os fins do primeiro quartel do século XIX era a imprensa inteiramente desconhecida no Rio Grande do Norte. A vida intelectual da Capitania estagnava-se sob a ação administrativa de governadores ineptos e interesseiros e só na imprensa de outras capitanias podia o raro espírito que se destacava da massa inerte dos indiferentes aventurar uma ideia ou externar uma queixa (FERNANDES, 1998, p.29).

No trecho citado acima, podemos notar que, até 1832, os governos que

administravam as capitanias, galgavam apenas os seus próprios interesses, sem se

preocupar em criar uma sociedade intelectual.

. Por causa da falta de empenho por parte dos governantes, não havia tipografias

em Natal. O Jornal era impresso no Maranhão, Pernambuco, ou Ceará. Devido à

distância entre o local de produção e o de distribuição, O Natalense chegava sempre

em atraso. Para amenizar essa situação, o futuro presidente da província (1833 a

1836), Basílio Quaresma Torreão decidiu montar uma tipografia no estado.

Os componentes do grupo mercantil criado de pelo Padre Francisco de Brito, se

juntaram e levantaram um capital de dois mil contos de réis, dividido em quarenta

ações de cinquenta contos de réis, para comprar um pequeno prelo, na cidade de

Recife (PE) e contratar um tipógrafo.

Page 40: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

39

Figura 7 – Jornal O Natalense

Fonte: http://olavosaldanha.wordpress.com/os-primeiros-jornas-do-brasil/ Acesso em: 04 dez. 2012

A Tipografia Natalense, como ficou sendo chamada, foi instalada na Rua do

Meio, na Cidade Alta, em Natal, Rio Grande do Norte. Os trabalhos tipográficos ficaram

sob a responsabilidade do tipógrafo alemão Carlos Eduardo Muller.

Somente com a instalação da tipografia é que o jornal fixou-se na Cidade Alta, na Rua Grande ou Rua do Meio. Quanto a ter sido impresso no Maranhão, e no Ceará ou em Pernambuco, explica-se muito bem; eram os meios mais convenientes (MELQUÍADES, 1987, p.152).

Apesar de trazer bastantes assuntos políticos, o jornal abordava também outros

temas. O jornal era impresso em duas colunas, ou seja, a matéria era dividida de um

Page 41: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

40

lado e outro. Não possuía linhas e fios para separar os assuntos. Trazia ainda versos

em latim no seu cabeçalho.

O jornal O Natalense media 30 cm de comprimento sobre 21 de largura e era impresso em 4 páginas, divididas em 2 colunas cada uma. O arquivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte possui um único número desse jornal, o número 44, de 15 de março de 1833, já impresso na Província, na Tipografia Natalense (FERNANDES, 1998, p.37).

No segmento político, o jornal trazia matérias contra as ações do então

Presidente da Província, Manuel da Silva Lisboa, apelidado de ‘Parrudo’. Manuel, em

forma de retaliação ao Natalense, intimou para que parasse de circular, pois o

impresso atacava o governo.

Silva Lisboa mandou fechar o periódico, temendo que aquele órgão de imprensa publicasse algumas de suas conquistas amorosas. Homem de falso caráter e péssimos antecedentes, Silva Lisboa impôs medidas drásticas à Província, rompendo com os partidos que apoiavam o insigne Senador Seridoense (MELQUÍADES, 1987, p.120).

Segundo Melquíades (1987), o Natalense suspendeu sua publicação por causa

do veto presidencial de Manuel da Silva Lisboa. O jornal foi editado durante apenas

cinco anos (1832-1837). Contudo, foi através dele que a Tipografia Natalense passou a

existir na cidade, contribuindo para a expansão e o surgimento de novos periódicos.

Em meio a um período de excitação política e de grandes transformações no

cenário econômico, cultural e social do Brasil, ocasionadas pela queda da monarquia e

ascensão da República (1889), Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, Presidente do

partido Republicano, no Rio Grande do Norte, lançou o jornal A República, o qual

difundia as ideias do movimento republicano. Marechal Deodoro, enxergou no seu

periódico um meio de tentar conseguir trazer mais aliados que o ajudasse a

implementar a República no país.

O jornal A República era composto por apenas quatro páginas, cada uma media

35 cm de altura por 25 cm de largura, possuindo três colunas por página. Na sua

primeira edição, todas as páginas eram ocupadas por matérias partidárias. Ainda nessa

edição, Pedro Velho assina um editorial que defendia o regime republicano, o qual viria

a ser decretado quatro messes depois.

Page 42: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

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O ideal republicano não era novo no Brasil. Antes mesmo da Independência, a bandeira republicana fora desfraldada na Inconfidência Mineira (1789), na Revolução dos Alfaiates (1798), na insurreição de 1817, em Pernambuco e depois retomada em diversos levantes contra o governo central. Mas foi apenas a partir da década de 1870 que o movimento republicano encontrou condições propícias para propagar-se (CAMPOS, 1999, p.177)

O aumento das contradições acerca do regime monárquico, no final do século

XIX, foi definido pelo descontentamento progressivo dos setores urbanos, entre eles, a

imprensa, em relação ao governo. Tudo isso propiciou à proliferação de clubes e

partidos republicanos por todo o país. Ademais, nasceu um novo ator no cenário

político nacional, a pleitear mais destaque no centro do poder, o Exército.

Neste período, foi implantada a República no Brasil, fruto de um golpe militar.

Nos meses subsequentes, as tensões aumentaram em todo país. A partir daí foi

implantado um governo provisório, sob o comando do Marechal Deodoro da Fonseca.

Imediatamente foram destituídos os presidentes das províncias, agora denominados Estados. As antigas agremiações políticas do Império, o Partido Liberal e o Partido Conservador, foram extintas e vários representantes do último governo da monarquia foram presos (CAMPOS, 1999. p. 187).

Desde o princípio, a história do jornal A República mistura-se com a própria

trajetória política do seu fundador. Instaurada o novo modelo de governo no Brasil – a

República -, ocorrem muitas mudanças e a imprensa sentiu essas transformações.

A propagação da imprensa no país retrata o percurso da mídia norte-rio-

grandense. Dos primeiros passos, por meio do O Natalense, à época, um jornal ainda

com característica amadora se comparado com A República, que marcou a história da

imprensa e foi um dos eixos da evolução da imprensa do estado.

Com a Proclamação da República, Pedro Velho de Albuquerque Maranhão, foi

aclamado governador provisório do Estado, em 17 de novembro de 1889. Contudo, ao

assumir o cargo, Pedro Velho não convidou aliados republicanos. A base do seu

governo foi formada por políticos tradicionais, grandes latifundiários do Agreste e os

coronéis do Seridó.

Page 43: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

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Na política federal, Pedro Velho se associa ao PRP paulista, grupo representante da descentralização, o que justifica a sua deposição por Deodoro, este representante do centralismo. Mas, com a renuncia de Deodoro e a ascensão de Floriano, Pedro Velho é reconduzido ao governo do RN. No governo seguinte, o de Campos Sales, define-se a política de descentralização, contribuindo assim para o predomínio da família maranhã no governo do Estado, até 1914 (DA OLIGARQUIA MARANHÃO À POLÍTICA SERIDÓ, 2011).

Pouco tempo depois, o Jornal A República passou a veicular os comunicados

oficiais do governo, publicando na primeira página, a Parte Oficial e os Atos Oficiais.

Por causa da política nacional, o Rio Grande do Norte experimentou, entre 19 de

setembro a 8 de novembro de 1890, um período turbulento, com diversos governos

provisórios e uma junta governativa que assumiram o comando do Estado por um curto

período de meses.

Mas sendo inicialmente órgão de grupo partidário privado, “A República” aproveitou-se da circunstância de seu fundador e diretor estar no poder para uma negociata de favorecimento em proveito próprio. Pedro Velho, o fundador do jornal, conseguiu que no curto período do governo do Dr. Jerônimo Américo Raposo da Câmara (fevereiro/março de 1890) fosse contratada por altíssimo preço na época (1$200réis) a publicação de todos os atos oficiais no referido jornal “A República”, conforme expediente do dia 14 de fevereiro de 1890. Augusto Maranhão (Augusto Severo de Albuquerque Maranhão, o inventor do balão “Pax”) era o testa de ferro, aparecendo como contratante em nome d’A República (FERNANDES, 1998, p.45).

Em 21 de março de 1891, A República volta a ser uma publicação do Partido

Republicano, no entanto não mais divulgava os atos oficiais do governo. Modifica a

localização do seu escritório e tipografia para a Rua Senador José Bonifácio, número

12, Ribeira. Figuraram como redatores do jornal A República, outra vez sob a chefia de

Pedro Velho, os seguintes colaboradores: Manuel do Nascimento Castro e Silva,

Chaves Filho, Braz de Andrade Melo e Augusto Severo de Albuquerque Maranhão.

Page 44: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

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Figura 8 – Jornal A RepúblicaFonte: http://olavosaldanha.wordpress.com/os-primeiros-jornas-do-brasil/ Acesso em: 04 dez.

2012

Em 1892, Braz de Melo foi constituído chefe de polícia e Pedro Velho foi

nomeado Governador do Estado. No ano de 1895, Braz de Melo faleceu, cobrindo de

luto a redação do jornal A República.

Devido a evolução técnica da impressão, aliada ao telefone e ao telégrafo –

instrumentos que agilizarão a transmissão das informações destinadas à redação -, no

período de 1897, o órgão republicano passou por importantes modificações, visando o

desenvolvimento do jornal. A República aumenta sua equipe, tornando a espalhar

correspondentes nas principais cidades do interior do Estado. Além disso, o periódico

deixou de ser semanal, passando a ser um jornal de tiragem diária.

Essa mudança acabou suprimindo do cabeçalho os nomes de seus redatores e

acrescentando, logo abaixo do subtítulo: “Órgão do Partido Republicano Federal”, que

era utilizado desde 1895, a seguinte frase: ‘Diretor Político Pedro Velho’. O periódico ‘A

República’ e seus colaboradores sempre buscavam manter acessa a chama do ideal

republicano.

Page 45: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

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Por isso, ocorreram tantas transformações, a fim de propagar e divulgar as

ideias do partido e do governo republicano. Foi através desse ideal que A República

conseguiu atravessar vários anos com a mesma utopia e vigor do início, mesmo após

as mudanças de sede, redatores – chefes, parte gráfica.

Entre os anos de 1903 e 1909 foi fundado em Ceará-Mirim, o periódico A

Esperança, editado pelas professoras Maria Dolores Bezerra Cavalcanti e Izaura

Carrilho.

Um jornal feminino no seu sentido mais amplo, produzido por mulheres e destinado as mulheres, tratando de assuntos de interesse das próprias mulheres e relevando leitoras que trocavam experiências através dessas práticas de escrita (GOMES, 1999, p. 62).

A Esperança foi pioneiro na imprensa feminina do estado que estava

começando a surgir. Eram disponibilizados espaços onde as redatoras e leitoras

podiam interagir, como, por exemplo, “Carta a uma amiga”, “Colaboradores” e “Carta

aberta”, permitindo às mulheres experimentarem um novo meio de informação social.

Com as cartas à ração as jovens letradas de Ceará-Mirim aproximavam-se do jornal, não apenas para elogiar e dar incentivo às redatoras, mas também para oferecer suas contribuições, passando à condição de leitora-produtora (GOMES, 1999, p. 97)

O jornal teve 54 edições com tiragem mensal, escrito a mão, produzido por

mulheres e direcionado a esse público. Seu formato era de caderno com folhas soltas e

dobradas, o qual, apesar de ser artesanal, apresentava um simples esboço de um

projeto editorial e gráfico durante o período de circulação. Publicado como um veículo

noticioso de tiragem mensal, as redatoras se propunham a escrever o dia-a-dia de

Ceará-Mirim, cidade onde viviam.

O jornal ‘A Esperança’, além de textos informativos que estão manuscritos na primeira página, publicava notas sociais avulsas e assinadas pela pessoa que enviava a mensagem de saudação. Durante os anos de 1904 e o ano seguinte, 1905, as saudações foram substituídas por poucas notas sociais que intitulavam “Notícia”, para divulgar e registrar os aniversários, casamentos, batizados, noivados, viagens, primeira comunhão e outros acontecimentos sociais (ROCHA NETO; CARVALHO, 2011).

Page 46: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

45

De acordo com Gomes (1999), talvez sem saber, as professoras Izaura Carrilho

e Dolores Cavalcanti, estavam construindo com a produção do periódico um marco

histórico no jornalismo feminino do Rio Grande do Norte, e descobrindo uma forma

agradável de expressão política e literária.

Em 1914, surgiu em Natal a revista literária Via Láctea, produzida, dirigida e

editada por Palmyra Wanderley, na época com 20 anos, juntamente com sua prima

Carolina Wanderley. O primeiro número da revista é datado de outubro de 1914, nele a

redatora Fanette, pseudônimo de Carolina Wanderley, revela aos leitores como surgiu

a ideia da revista:

Em Natal assola atualmente a febre dos jornais. Raro é o domingo que a voz dos garotos não nos anuncia um novo jornal. Foi participando dessa influência da época, que uma noite convidei a Myriam, para fundarmos um jornal: seria manuscrito e apenas sairia aos domingos que nós mesmas leríamos (VIA LÁCTEA, n.1, nov. 1994, p.4 apud CARVALHO, 2012, p. 57-58).

A revista era impressa em papel tamanho ofício, oito páginas, com duas colunas

em cada uma. Praticamente não apresentava seções fixas e também não obedecia a

uma diagramação rígida. Contudo, já tinha a preocupação com o discurso gráfico, pois

havia uma variação e tamanho do corpo da letra em uma mesma página e a disposição

em busca de equilíbrio visual. A Via Láctea não tinha ilustrações de apoio, porém em

algumas páginas havia molduras com o objetivo de delimitar o espaço das matérias.

Via Láctea teve oito edições (1914-1915), era uma publicação literária mensal,

que possuía o compromisso com a educação e interesse da mulher. Para a revista

continuar circulando, Carolina Wanderley, pediu mais empenho das colaboradoras,

porém a tentativa de sensibilizar as companheiras foi em vão e a revista chegou ao fim.

Apesar das poucas edições, a revista fez história no jornalismo norte-rio-grandense e

influenciou futuras publicações, como por exemplo, o Jornal das Moças (1926-1932).

O Jornal das Moças foi fundado por Georgina Pires e contou com uma efetiva

participação de outras mulheres em sua redação. Sua primeira publicação aconteceu

no dia 07 de Fevereiro de 1926, em Caicó, Rio Grande do Norte. Segundo Rocha Neto

(2002), Georgina era uma “educadora, com espírito empreendedor e ousado para os

padrões sociais vigentes e tornou público o pensamento da mulher caicoense quando

fundou o Jornal naquela cidade”.

Page 47: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

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Além de editado pela professora Georgina Pires e gerenciado por Dolores Diniz, o periódico contava, também, com as redatoras Júlia Medeiros, Santinha Araújo, Maria Leonor Cavalcante, Julinda Gurgel, como, também, com várias moças da sociedade caicoense (ROCHA NETO, 2002, p.10).

Tratava-se de um jornal de tiragem semanal, que trazia em suas páginas

curiosidades sobre da cidade, artigos e crônicas de interesse feminino, literatura,

poesias, colunas sociais, acontecimentos da sociedade caicoense, notas diversas e

questionamentos sobre a condição da mulher na sociedade norte-rio-grandense. É

importante ressaltar, que embora de predominância feminina, o Jornal das moças

também possuiu alguns colaboradores do sexo masculino, tais quais Renato Dantas,

Janúncio Bezerra da Nóbrega e José Gurgel de Araújo.

[...] Será este um semanário de caráter independente, noticioso, e contará com assídua colaboração das nossas conterrâneas. Como se trata de um órgão fundado por moças de nossa melhor sociedade, certo ele trará ensejo para o desenvolvimento da mulher caicoense, que já se há afirmando propendente às lides jornalísticas. Caicó está, portanto, de parabéns com a criação do Jornal das Moças (DANTAS, 1926, p.2 apud ROCHA NETO, 2002, p.14).

Em termos editoriais o periódico teve um caráter inovador e pioneiro em suas

técnicas jornalísticas. Era do tipo tabloide, possuía 28 cm de largura por 38 cm de

altura, com cerca de três colunas em cada página, exceto as primeiras edições que

tiveram apenas o formato de duas colunas, e impresso em papel jornal, com folhas

soltas dobradas em forma de caderno. Sua redação era fixa e a distribuição era

realizada através da comercialização avulsa nas bancas e por assinatura. De acordo

com Rocha Neto (2002, p.10) “fato esse inédito para um jornal feminino no Rio Grande

do Norte, visto que os jornais editados por mulheres, em sua grande maioria, eram

manuscritos”.

As assinaturas de seus exemplares custavam anualmente 10 mil réis;

semestralmente 8 mil réis; trimestralmente 4 mil réis e a venda avulsa 200 réis. As

assinaturas foi um sucesso, o que comprovou sua boa aceitação entre os leitores

caicoenses, bem como os de outras cidades do estado. A última publicação do jornal

aconteceu em 1932.

Page 48: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

47

Em meados de 1931 a jornalista Maria do Céu Pereira Fernandes – primeira

mulher eleita deputada estadual no Rio Grande do Norte, fundou o Jornal O

Galvanópolis, em Currais Novos, sua cidade Natal. Sua atuação política deixou uma

importante contribuição no cenário norte-rio-grandense, à medida que defendia a

participação da mulher na vida pública, apoiando o alistamento eleitoral feminino, numa

década onde os direitos das mulheres eram quase nulos.

Pioneira na luta pela emancipação da mulher, primeira deputada eleita no Rio Grande do Norte, em 1910. Em 1928, concluiu o curso técnico do comércio em Natal e volta a residir em Currais Novos, onde fundou um colégio e dá aula de Francês no seu curso ginasial. Nesse município, Maria do Céu Fernandes criou um jornal, O Galvanópolis, que teve seu papel político ao se posicionar a favor do movimento pelo direito da mulher ao alistamento eleitoral. Na década de 30, é convidada para se candidatar à Assembleia Constituinte Estadual pelo Partido Popular. Sua candidatura é apresentada como uma proposta de renovação nos quadros políticos e como símbolo das conquistas políticas da mulher norte-rio-grandense. (A MULHER POTIGUAR...,2000,p.30 apud CARVALHO; ROCHA NETO; MENDES, 2011, p. 15)

O Galvanópolis possuía um caráter pedagógico, o que propiciava sua circulação

nos meios intelectuais e em outras camadas da sociedade. O periódico possuía quatro

páginas, com três colunas em cada uma delas e não seguia padrões rígidos para a

editoração gráfica.

Quase não apresenta seções fixas nem obedece a uma diagramação rígida, porém, já existe alguma preocupação com o discurso gráfico, tendo em vista a variação e o tamanho do corpo (letra) em uma mesma página e a disposição dos textos em busca de equilíbrio visual (CARVALHO, ROCHA NETO; MENDES, 2011, p.51)

O Galvanópolis contava com vários colaboradores como Sinhá Coelho, Manoel

Rodrigues de Melo, que escreviam poesias. Também contribuíram com a escrita do

jornal: Everton Cortez, Oton Filho, Tristão de Barros, Mário Domingues, Vicente Lima,

entre outros.

Devido à ação provocada pela ebulição dos jornais , O Galvanópolis deveria

descrever uma história de desenvolvimento e prosperidade, a fim de persuadir a

população a modificarem seus hábitos rapidamente. No jornal era fácil encontrar temas

dedicados às letras e ao esporte.

Page 49: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

48

[...] o comprometimento do jornal: seria com as letras e o esporte. No que se referem às letras, identificamos, nos textos produzidos no Galvanópolis, a prosa, em crônicas, ensaios, notas, contos, colunas, entrevistas e editorial, e ocupam mais da metade do espaço do jornal; encontramos também a poesia, mas esta ficou em segundo plano. Quanto ao esporte, a temática merece lugar de destaque no periódico, sempre publicado na última página, registrando os movimentos esportivos realizados na cidade de Currais Novos, a exemplo dos campeonatos de futebol que aconteciam regularmente, tendo o time do município como ator principal (CARVALHO, ROCHA NETO; MENDES, 2011, p.55).

Na edição de 30 de agosto de 1931, passaram a ser publicados no periódico

notícias oriundas do Rio de Janeiro, as quais ficariam presentes em todas as edições

sequentes. A partir da segunda edição, veiculada em 30 de abril de 1932, o jornal

passa a ter publicações mensais e modificações na linhas editorial:

Por motivos diversos a publicação de O Galvanópolis será feita doravante mensalmente, obedecendo, porém, a um programa mais variado, que será distribuído em oito páginas. Outrossim, o jornalzinho terá caráter independente. Circunstancias fortuitas determinaram a retirada do Órgão Oficial do Currais Novos Futebol Clube, entretanto, terá sempre o nosso apoio e a pronta adesão (O GALVANÓPOLIS, n.1 Ano 2, 30 abr.1932, p.6 apud MACHADO; ROCHA NETO; MENDES, 2011, p.59).

Com essas mudanças, aos poucos, começa a aparecer em suas páginas

anúncios publicitários, surgindo assim uma das bases indispensáveis à sustentação da

empresa jornalística: a adesão sistemática da publicidade e propaganda.

No entanto, os anúncios e as assinaturas que o Jornal havia conquistado não

foram suficientes para manter a sua publicação. “Os anúncios não eram muitos e, com

o passar do tempo, alguns assinantes deixaram de pagar pelo periódico”, conforme

afirma Machado; Rocha Neto e Mendes (2011, p.60).

Devido dificuldades financeiras, O Galvanópolis deixa de circular. Por meio de

uma nota, a redação comunica aos leitores e colaboradores sobre a suspensão das

atividades:

Avisamos aos nossos prezados amigos colaboradores e assinantes que, por justos motivos, vamos suspender temporariamente a publicação de O Galvanópolis. Agradecemos a todos que nos acolheram sempre benevolentes e esperamos que, na nossa volta, encontraremos os mesmos corações benignos

Page 50: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

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para nos receber (O GALVANÓPOLIS, n.2, Ano 2, 15 nov. 1932, p.6 apud CARVALHO; ROCHA NETO; MENDES; 2011, p.60).

Entretanto, o jornal não voltou mais a circular e sua última edição foi publicada

no dia 15 de novembro de 1932.

3.2 A revista Cigarra: uma breve história

Durante as primeiras décadas do século XX, a cidade de Natal começava a

adotar as variações do cenário urbano local, que nascia ao longo das intervenções nas

praças e jardins, edificações de prédios públicos e reformas residenciais, configurados

por uma arquitetura ousada.

Em 1920, o Estado do Rio Grande do Norte foi administrado pelo governador

Juvenal Lamartine e o prefeito de Natal Omar O’ Grady, que, de certo modo, foram

responsáveis pelas proposituras de modernização, mediando à elaboração do plano

urbanístico desenvolvido pelo arquiteto Giácomo Palumbo.

Na década de 1920, o Rio Grande do Norte conhece a administração de dois políticos, que, em parte, foram responsáveis pela solidificação das propostas de modernização. Essas personalidades são o governador Juvenal Lamartine e o prefeito de Natal Omar O’ Grady. Foi no ano de 1929 – durante a administração de seus governos – elaborado o plano urbanístico do arquiteto italiano Giácomo Palumbo, uma proposta inédita na época, principalmente pela sua concepção e ousadia. A partir desse projeto, mudava-se o traçado das vias públicas, ordenava-se o trânsito e eram melhoradas as condições de habitação (CARVALHO, 2012).

Entretanto, essas transformações não acontecem apenas nas estruturas físicas

da cidade, ocorrem também transformações sociais e culturais, demonstrando beleza e

suntuosidade, que deviam ser capazes de possibilitar uma atmosfera que trilhava para

uma era de progresso. Desse modo, leva-se a crer que a imprensa aparecia como uma

consequência da modernidade.

Na medida em que aumentavam, gradualmente, os índices de alfabetização, a

imprensa ficava mais acessível, conseguindo atingir uma maior fração da população.

Page 51: A representação da mulher da década de 1920 por meio da revista Cigarra

50

Juntamente com o avanço tecnológico da imprensa, cresce a produção, a circulação e

o consumo de jornais e revistas. A imprensa torna-se um produto, um negócio rentável,

com um volume significativo de exemplares vendidos e com a inclusão de espaços

destinados às publicidades.

É através da imprensa que a população norte-rio-grandense tem acesso às

expectativas de transformações que a chegada do novo século vinha provocando. A

grande disponibilidade de informações como, presença de textos, artigos, publicidades,

fotografias entre outras imagens publicadas na revista, possibilitou a abertura de vários

canais de comunicação com a população letrada ou não.

A imprensa natalense, seguindo os passos da imprensa nacional, veiculava e

reproduzia, diariamente, o que vinha acontecendo no mundo e nas principais capitais

do país, em relação à economia, à conjuntura política e à vida cultural e social, através

dos principais jornais locais A República e Diário de Natal. Nesse sentido, a imprensa

local, também, procurava acompanhar os passos da modernidade, equipando-se de

infraestrutura material e intelectual para a divulgação de suas informações,

satisfazendo aos avanços do público, cada vez mais desejoso em estar atualizado com

os acontecimentos.

Nos anúncios publicados pela imprensa, palavras como conforto, moderna e

elegante enfatizam e revelam aspectos de renovação propostos pela modernidade.

Merece registro especial a expressão cultural das primeiras décadas do século XX, no

município de Natal, pois contribuíram para a memória da atividade literária local e

norte-rio-grandense. A imprensa local ganha notoriedade através de O Batel (1913 –

1918), O Povir (1926 – 1929), O Progresso e o Ninho das Letras (1935), O Nego

(1932), Revista Literária, a Voz do Sertão (1930) e Cigarra (1928-1929).

A revista Cigarra foi lançada em novembro de 1928, ano em que muitas

transformações e tensões estavam se instalando na sociedade norte-rio-grandense.

Sua redação situava-se na Avenida Tavares de Lyra, nº 57, na Ribeira, bairro histórico

da cidade de Natal, Rio Grande do Norte. A direção da revista ficava por conta do

jornalista Aderbal de França e tinha como secretário e como gerente, Edgar Barbosa e

Ademar Medeiros, respectivamente.

A temática tratada na revista circulava em torno da economia, política, sociedade

e literatura. Em relação aos gêneros jornalísticos, a revista divulgava notícias, artigos e

crônicas. Com publicação mensal, suas capas foram desenhadas pelo cartunista

Erasmo Xavier.

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Do mesmo nível de Ziraldo e Jaguar, o cartunista potiguar Erasmo Xavier nasceu no dia 31 de outubro de 1904. Sua obra foi marcada pelo movimento modernista brasileiro, depois de 1922. Logo cedo parte para o Rio de Janeiro, onde chega a atuar na Cia. De Teatro de Revista Feéries Tan-Tan. É visto viajando com o grupo por várias cidades brasileiras, entre elas Vitória, no Espírito Santo. Existe uma fotografia que apresenta sua imagem. Em 1928, adoece vítima de tuberculose e retorna ao Estado, onde vai se tratar na cidade de Lajes (RN), precisamente na residência de Lauro Pinto. O ponto mais marcante da presença de Erasmo Xavier em Natal foi sua participação na revista Cigarra, lançada em 1928. A publicação durou cinco edições e todas suas capas foram ilustradas pelo cartunista. (BORGES, 2007, p. 20 apud CARVALHO, 2012).

A revista obteve boa aceitação pelos leitores. Cartas e comentários foram

enviados à redação da revista. Conforme podemos observar no trecho transcrito

abaixo, produzido pela entusiasmada leitora, Asta Maria. O título da carta era ‘uma

impressão sobre o 1º número de Cigarra’, e divulgado na edição de número 02:

Saiu enfim a Cigarra, que era esperada ansiosamente pelo povo natalense. O primeiro número da Cigarra não podia ser melhor. O que mais gostei foi de “Morenas” [...]. Não sei porquê!.Porque também o sou? será? [...]. Estava tão bem recepto!. Que jeito teve Danilo para descrever as morenas (CIGARRA, n.2, dez.1928, p. 15).

A primeira edição da Cigarra possuía 50 páginas, que contavam com

propagandas espalhadas entre as matérias e, às vezes, possuía uma página

exclusivamente para elas.

A diagramação possuía aspectos interessantes como litogravuras que ornamentavam matérias e fotos, desenhos que incrementavam os poemas e poesias. Era uma característica da revista não escrever textos longos sobre fatos históricos, mas fotografá-los, muitas vezes sem conexão com o texto que o acompanhava (CARVALHO, 2012).

Conforme destaca Carvalho (2012), ainda nesse exemplar é possível encontrar

o registro de eventos e de pessoas relevantes no cenário nacional e local, como Luís

Carlos Prestes; as primeiras votantes femininas; festa matuta realizada no então Teatro

Carlos Gomes; homenagem à feminista Bertha Lutz; a chegada, à Natal, do

Governador do Estado Juvenal Lamartine no avião compagnie; os aviadores italianos

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52

Ferrarin, Del Prete, que fizeram a travessia Roma-Natal, e o comandante Djalma Petit,

entre outros.

A revista teve diversos colaboradores. Entre eles: Edgar Barbosa, Oscar

Wanderley, Lauro Pinto, Luís da Câmara Cascudo, Ewerton Cortez, Damasceno

Bezerra, Palmyra Wanderley e o poeta potiguar de importância nacional, Jorge

Fernandes.

Figura 9: Capa da primeira e segunda edição da revista CigarraFonte: Acervo pessoal digitalizado.

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Figura 10: Capa da terceira e quarta edição da revista CigarraFonte: Acervo pessoal digitalizado.

O segundo exemplar da revista teve um total de 51 páginas. Entre seus

destaques, trouxe a festa do América Futebol Clube; a entrega de prêmios do

campeonato de 1927; a regata realizada no dia 15 de novembro, com a presença do

Presidente do Brasil e do Governador Juvenal Lamartine e sua família, conforme

podemos observemos nas imagens a seguir:

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Figura 11 – A festa de aniversário do América F.C. Fonte: CIGARRA, n.2, dez.1928, p. 19

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Figura 12 – Regatas em NatalFonte: CIGARRA, n.2, dez.1928, p. 20

Os principais colaboradores da segunda edição foram: Otacílio Alecrim, Aderbal

de França, Damasceno Bezerra, Edgar Barbosa, J.M Furtado, Danilo, Nunes Pereira e

Palmyra Wanderley.

A Cigarra atingia as características progressistas que a cidade e o país estavam presenciando: os aviões que iam e vinham; a moda de Paris; a presença da feminista Bertha Lutz; e, na arte, a desconstrução da métrica e da rima na literatura, e das formas perfeitas nas artes plásticas. O objetivo era “construir uma nova forma de expressão, e assim o modernismo, mesmo que cheio de incongruências ideológicas conseguiu seus adeptos no país e na cidade. A revista proporcionava esse tom futurista sendo, então, a revista moderna de Natal (MAIA, 2008, p.72 apud CARVALHO, 2012).

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A escrita registrada na revista Cigarra, que é, na verdade, testemunho ou registro

histórico, expressa as experiências e práticas cotidianas que, segundo Chartier (1994),

permitem-nos entender, de maneira particular, uma problemática mais ampla, que, em

condições mais específicas, podem ser tão valiosas quanto as análises realizadas nos

estudos das grandes abordagens.

A quinta e última edição circulou em março de 1929. As páginas dessa

publicação retratavam determinados momentos da história, como a inauguração do

estádio de futebol Juvenal Lamartine, entre outros eventos sociais.

Figura 13: Capa da quinta edição da revista CigarraFonte: Acervo pessoal digitalizado

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4. A REPRESENTAÇÃO DA MULHER DE 1920

4.1 A Natal dos anos de 1920: Contextualizando o período

O final do século XIX e início do século XX ficaram marcados pelo

desenvolvimento urbano das cidades. Várias cidades brasileiras assistiram o progresso

do capitalismo industrial, seguindo o modelo das cidades europeias, entre elas Londres

e Paris. Em Paris, por exemplo, já era possível observar situações inerentes à vida

moderna:

Os novos bulevares permitiram ao tráfico fluir pelo centro da cidade e mover-se em linha reta de um extremo a outro – um empreendimento quixotesco e eventualmente inimaginável, até então. Representavam apenas uma parte do amplo sistema de planejamento urbano, que incluía mercados centrais, pontes, esgotos, fornecimento de água, a Ópera e outros monumentos culturais, uma grande rede de parques. Os bulevares criaram novas bases econômicas, sociais, estéticas. No nível da rua, elas enfileiravam em frente a pequenos negócios e lojas de todos os tipos e, em cada esquina, restaurantes com terraços e cafés nas calçadas. Esses cafés passaram a ser vistos, em todo o mundo, como símbolos de la vie parisienne. As calçadas, como os próprios boulevares, eram extravagantemente amplas, juncadas de bancos e luxuriosamente arborizadas. Todas essa características ajudaram a transformar Paris em um espetáculo particularmente sedutor, uma festa para os olhos e sentidos (BERMAN, 1986 146-147 apud CARVALHO, 2012, p.81-82).

Em Natal – capital política e administrativa do Rio Grande do Norte - essas

modificações chegaram em meados de 1900, durante a segunda administração de

Alberto Maranhão3.

Natal possuía a Usina elétrica de oitizeiro e todas as instalações dela decorrentes; iluminação de toda a cidade com luz elétrica;

3 Alberto de Albuquerque Maranhão nasceu em Macaíba, no dia 2 de outubro de 1872 e morreu em Parati, no Rio de Janeiro, no dia 01 de fevereiro de 1944. Em 14 de junho de 1899, foi eleito governador do Estado, no período de 1900 a 1904. No dia 24 de março de 1904, inaugurou o Teatro Carlos Gomes (hoje Alberto Maranhão). Em 1908 voltava a assumir o governo do Estado. De sua passagem como governador, especialmente da segunda vez, deixou um grande número de obras e benfeitorias públicas na capital, nas áreas de serviços hídricos, energéticos e de transporte coletivo. (CARDOSO, 2000, p. 33 apud CARVALHO; ROCHA NETO, 2013, p.4).

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substituição dos bondes puxados por animais por bondes elétricos; abastecimento de água; rede telefônica e forno para incineração de lixo. Tivemos ainda, a construção da balaustrada da avenida Junqueira Aires, com 103 metros de extensão, 10 candelabros e belo relógio decorativo, elétrico, tudo fabricação das oficinas Val D’Osne de Paris; Monumentos em bronze de Pedro Velho e Augusto Severo em praças do mesmo nome. Reconstruiu o Teatro Carlos Gomes, dando-lhe as feições atuais e adaptando-o para os grandes espetáculos, com acomodações e salão para concertos e conferências. A população foi beneficiada com o Plano de avenidas largas, que receberam o nome dos Presidentes do Brasil (as que ficavam no sentido horizontal ao rio Potengi) e os nomes de rios para as que se localizam no sentido vertical, denominação que vigora até os dias atuais, além da abertura de 10 avenidas suburbanas no prolongamento do bairro Cidade Nova até o fim do perímetro do patrimônio municipal (CARVALHO; ROCHA NETO, 2013, p.4-5).

Após a saída de Alberto Maranhão do governo do Estado, Ferreira Chaves

assumiu o posto, pela segunda vez, de 1914 a 1920. Seu mandato coincidiu com a

eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918).

Durante esse período o país passou por um processo de industrialização, pois

como forma de suprir a falta de determinados produtos importados para o país, devido

às dificuldades para com a sua entrada diante da guerra, a população começou a

produzi-los. No Rio Grande do Norte, o produto “chefe” da época era o algodão, o qual

se tornou o principal produto de exportação da região. Esses acontecimentos ajudaram

para que ocorresse o processo de modernização, que vinha a se instaurar em ritmo

acelerado na década seguinte.

Na segunda década do século XX, a cidade de Natal compunha um cenário moderno: um número maior de pessoas transitava em bondes elétricos, vestia-se com o que existia de mais atual na moda francesa ou inglesa e frequentava o teatro e o cinema (CARVALHO; ROCHA NETO, 2013, p.5).

A partir da segunda metade do século XIX e início do século XX, o bairro Cidade

Alta foi destaque no cenário dos natalenses. No bairro, morava a maior parte da

população urbana, residente na capital potiguar à época. Lá se localizavam o Palácio

do Governo, o Conselho Municipal, o Royal Cinema, o Mercado Público, o Atheneu, a

praça Sete de Setembro, a Polícia Militar, a Catedral e o Superior Tribunal e a maior

parte das igrejas.

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De acordo com Carvalho; Rocha Neto (2013), no bairro da Ribeira ou Cidade

Baixa, como era conhecido na época, situavam-se os grandes hotéis da época, as

casas comerciais, farmácias, clubes de danças, armarinhos e alfaiates.

À medida que a população crescia, transformações urbanas ocorriam. Nesse

contexto, fez-se necessário a formação de novos bairros, como: Cidade Nova, Alecrim

e Rocas.

Essa resolução, além de propor a expansão da cidade como alternativa à tendência de concentração do centro urbano e as suas precárias condições de salubridade, apresentava o modelo de avenidas retilíneas e arborizadas, conceitos urbanísticos em voga no período. (DIAS, 2002, p. 13 apud CARVALHO; ROCHA NETO, 2013, p.6).

É nesse contexto histórico da Natal de 1920, diante das incessantes

transformações e tensões que estavam se instalando na cidade, que está inserida a

revista Cigarra.

4.2 A figura feminina por meio da revista Cigarra

Ao folhearmos as páginas da revista Cigarra, encontramos diversos textos

referentes à mulher da década. Em contato com eles, conseguimos realizar um

trabalho de escanção, onde foi observado em quais segmentos sociais a mulher

aparecia com destaque.

Separando os trechos a serem estudados e discutidos nesse capítulo foram

cuidadosamente separados em categorias, que revelam como era a figura feminina

tanto no meio público, quanto no meio privado.

Movimentos feministas

Em meados do século XIX e início do século XX, diversas tensões inquietaram

vários países, entre eles a Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Escandinávia e

Estados Unidos. Entre os vários movimentos revolucionários que surgiram na época,

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algumas mulheres corajosas, com ideais liberais advindos da Europa, começaram a

lutar pelos seus direitos civis e políticos, visando conseguir a igualdade jurídica e social

perante os homens.

No Brasil, as origens do feminismo se encontram ainda no século XIX. Estas

primeiras manifestações desafiaram a ordem conservadora que excluía a mulher do

mundo público (do voto) e também. As propostas mais radicais iam além da igualdade

política, procurava abranger a emancipação da mulher, pautando-se na relação de

dominação masculina sobre a feminina em todos os aspectos da vida da mulher.

Os movimentos feministas brasileiros de maior repercussão foram liderados por

mulheres da camada de menor poder aquisitivo. A maior parte das mulheres à época,

ainda não enxergava benefícios para participar dessas reivindicações.

Os movimentos feministas, liderados por mulheres da camada econômica e culturalmente superior da população, identificados com a burguesia, não tiveram, no entanto, grande repercussão naquelas de menor poder aquisitivo e, portanto, social. Não havia vantagens aparentes, para a maioria das mulheres, em participar dessas reivindicações. O espaço "privado" lhes concedia proteção e, até, certos privilégios, a começar pela valorização de sua função materna e "civilizadora" (MESTRE, 2004, p.12).

Em 1918, Bertha Lutz, filha do cientista brasileiro Adolpho Lutz e de mãe inglesa,

educada no Brasil e na Europa, formou-se em Biologia na Universidade de Sorbonne,

em Paris. Foi lá que ela teve o primeiro contato com ideias de cunho feminista. Ao final

do mesmo ano, Bertha Lutz transformou-se numa líder do movimento, pregava suas

ideias, através da imprensa, iniciando sua campanha pelo voto feminino.

Nessa época, não existia um movimento feminista organizado no Rio Grande do

Norte. Entretanto, ao longo do período compreendido entre a colonização portuguesa

até o declínio do Império Brasileiro, várias mulheres como, Nísia Floresta, por exemplo,

lutaram por suas ideias e reivindicações.

A figura que resume o conjunto de lutas da mulher potiguar certamente é Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo da escritora Dionízia Gonçalves Pinto (1810-1885), mulher, cuja história de vida e produção individual colocam-na entre as primeiras escritoras do Brasil e entre as primeiras educadoras feministas, por defender os direitos da mulher, dos índios e dos escravos (GÓIS, 2000, p.42).

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Na República Velha é que surgem as lutas pelo reconhecimento de voto à

mulher brasileira. Esse fato integrava a ponta do movimento feminista internacional,

com níveis diferentes de sucesso.

Em 1928, Bertha Lutz veio ao Rio Grande do Norte e, em visita ao então

governador Juvenal Lamartine, questionou a respeito da necessidade de incluir uma

mulher na disputa de um cargo eletivo.

Sob a influência de Bertha Lutz, Juvenal Lamartine convidou Alzira Soriano de

Souza para disputar a Prefeitura municipal de Lajes-RN. Em 1932, por unanimidade de

votos, Alzira Soriano tornou-se a primeira mulher prefeita da América Latina.

Foi graças à influência de Bertha Lutiz, líder feminista a nível nacional, sobre o senador e depois governador Juvenal Lamartine de Farias, em 1928, veio ao Rio Grande do Norte discutir com o governador, a questão da inclusão de uma mulher na disputa de um cargo eletivo. O convite foi feito pelo governador à Alzira Soriano de Souza, para disputar a prefeitura do município de Lages-RN, apoiado pelo partido republicano e por seu pai, Cel. Miguel Teixeira de Vasconcelos, líder político da região, tendo sido eleita em 1932 por unanimidade de votos, sendo a primeira mulher a conquistar um posto no executivo municipal do Brasil e na América Latina (GÓIS, 2000, p.42)

A visita de Bertha Lutz foi registrada pela primeira edição da revista Cigarra. E,

conforme demonstrado no trecho a seguir, população natalense, em especial as

feministas, ficaram encantadas e entusiasmadas com a vinda de Bertha Lutz ao nosso

estado:

[...] Ainda está gravada no coração de todos, e principalmente no coração e na memoria das feministas potiguares, a recente visita que Bertha Lutz, a simpática idealista do feminismo [...] (REVISTA CIGARRA, n.1, 1928, p.2)

Entretanto, nota-se também que não era apenas a população da capital

potiguar, que admirava a líder feminista. Em todos os municípios norte-rio-grandenses

que Bertha Lutz visitou, ela foi tratada com o mesmo carinho e devoção, tendo a

população se preocupado em recebê-la da melhor maneira possível:

[...] Natal e as cidades norte-rio-grandenses ás quaes Bertha Lutz quis dar a honra de sua presença, homenagearamn’a unanimes,

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com cordialidade e efusão, vibrantes e afectuosas [...] (REVISTA CIGARRA, n.1, 1928, p.2).

Além da admiração pela pessoa de Bertha Lutz, seu trabalho como difusora das

ideias feministas no país, as quais chegaram à capital potiguar, foi destaque na

publicação da revista Cigarra, como forma de agradecimento pela sua importante

contribuição política e social na história da luta por um país mais igualitário:

[...] fez a nossa terra vencedora no campo das ideias, a tarefa feminista entrou no trabalho pratico, realizando e construindo sem desânimos a obra fecunda do progresso da mulher. E Bertha Lutz, nessa campanha sublime foi o cérebro pensante que ordenou todas as investidas e todas as defesas. Da sua irradiante influencia no mundo político feminino foi maior demonstração a alegria de que todos envolveram o seu vulto insinuante nos breves dias que ela aqui demorou [...] (REVISTA CIGARRA, n.1, 1928,p.2)

Cigarra exalta ainda, a inteligência de Bertha Lutz, bem como sua notória

influência política. Certamente, sua visita ao Rio Grande do Norte ficou marcada além

dos registros históricos, na memória e no coração de grande parte da sociedade que

aqui residiam.

Bertha Lutz traz em seu perfil de medalha a vitória de sua grande causa. A sua intelectualidade multiforme, movimentada por um talento fora dos paradigmas, fornece largos motivos para a justificação de que o feminismo é uma lei inquebrantável e indestrutível. Por que Bertha Lutz é o feminismo humanizado. Sacerdotisa de um culto esplendido, Bertha Lutz é o estandarte e a flamula dessa coluna idealista que quer a igualdade perante a lei e perante as instituições. Que o Brasil compreenda o sonho de Bertha Lutz e que nos vos sóes ascendam ao azul para iluminar essa vitoria deslumbrante, feita de mil auroras e impulsionadas por mil energias (CIGARRA, n.1,1928, p.2).

Nesse contexto, de acordo com as publicações da Cigarra sobre o referido

assunto, podemos concluir que a revista demonstrava apoiar os ideais liberais dos

movimentos feministas.

O movimento feminista brasileiro ganhou espaço poucos meses após o retorno

de Bertha Lutz ao Brasil.

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Em 1927, o senador do Rio Grande do Norte, Juvenal Lamartine, induzido por Bertha Lutz e aproveitando-se da elaboração da Lei Eleitoral que precisava ser adaptada à Constituição Estadual, revista no ano anterior, influenciara a redução da Lei nº 660, de 25 de Outubro de 1927, que dizia No Rio Grande do Norte poderão votar e ser votados, sem distinção de sexo todos os cidadãos que reunirem todas as condições exigidas por essa lei. (GÓIS, 2000, p. 43).

Com a publicação da Lei nº 660, as eleitoras começaram a se inscrever, mas

coube à mossoroense Celina Guimarães Vianna, o primeiro título eleitoral expedido no

estado e no país. Ainda em 1927, várias mulheres votam pela primeira vez e ajudaram

a eleger candidatos a cargos estaduais e federais.

Moda e Beleza

Comumente chamado de “anos loucos”, nos anos de 1920 começa a se

desenvolver uma indústria voltada para o divertimento com bares, teatros, espetáculos

de variedades, cabarets e cinemas. A vida nas metrópoles se tornava fervilhante num

clima que oscilava entre, como nos diz Lehnert (2001, p.18), “libertinagem e decência”.

Na década de 1920 a arte europeia começou a exercer forte influência no Brasil.

Juntamente com os fervores dos movimentos nativistas e a modernização urbana fez

com que ocorresse no ano de 1922, em São Paulo, a Semana da Arte Moderna,

realizada no Teatro Municipal. Poetas como Anita Mafalti, Di Cavalcanti, Mário de

Andrade, Oswald Andrade e Manoel Bandeira tiveram participação importante no

acontecimento.

Vários jornais do período noticiaram o evento, quase sempre com escândalo. A

influência das ideias modernistas trouxe para as revistas, em termos editoriais, uma

novidade no segmento: as revistas literárias, que extravasavam através de textos parte

desse movimento cultural mais amplo que atingiria todas as formas de expressão

artística. Porém, nas revistas ilustradas a influência do modernismo pouco era

mostrada através de textos, sendo notada especialmente nos desenhos.

A imprensa ia se distanciando do opinativo e a reportagem começava a se firmar. Assim, as fotos deixavam, algumas

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vezes, de ter um caráter meramente ilustrativo para envolverem algum componente de informação. A imprensa diária crescia (Buitoni, 2009, p. 64)

A especialização jornalística ganhou espaço nos jornais e revistas, com seções

de esportes, literatura, entre outras, objetivando suprir os variados tipos de gosto dos

leitores.

Todavia, não foi só a arte que trouxe ‘Modernidade’ ao Brasil. Com a

transferência da Capital Federal para o Rio de Janeiro, personalidades da política

reivindicaram mudanças na cidade que pudessem condizer com os novos tempos e

com a imagem que possuía perante o mundo. Tal ‘reforma’ seguiria padrões

parisienses. E como a moda não foi diferente.

Com tantas mudanças no comportamento da mulher nessa época, obviamente

os ideais de beleza para esta mulher moderna começaram a se transformar, já não

cabiam os vestidos com anáguas e as formas arredondadas, dava-se lugar a silhueta

alta e esguia, os penteados se tornaram mais práticos e fáceis de cuidar, com os

cabelos curtos (LEHNERT, 2001).

Outras modificações na moda é a cintura que se alarga, os vestidos ficam mais

decotados, muitas vezes sem mangas, a utilização de luvas e dos chapéus pequenos,

como o chapéu cloche4. O nove corte de cabelo aderido pelas mulheres foi o corte

chanel5 (LURIE, 1997).

Livre dos espartilhos, a mulher já se permitia ousar mostrar as pernas, o colo e

usar maquiagem. Possuíam boca carmim, cabelos curtos, grandes decotes, deixando

as costas descobertas, e saias curtas, mostrando as pernas e os joelhos, para

escândalo dos conservadores.

A influência exercida por Paris no que diz respeito aos padrões de moda e

beleza aparecem frequentemente nos registros da revista Cigarra, como a exemplo do

trecho abaixo:

Dificílimo, senão impossível seria determinar-se qual o modelo de chapéu vitorioso na recente fase em Paris. As variedades de feitio

4 Chapéu cloche é um chapéu justo à cabeça e de borda estreita em forma de sino. (CONTIJO, 1987, p.126)5 O corte de cabelo chanel trata-se de um modelo curto e desfiado nas pontas dos fios, que surgiu em 1918

através da estilista Gabrielle Bonheur Chanel (conhecida como Coco Chanel). Disponível em:

<http://www.belezaextraordinaria.com.br/noticia/cabelos-iconicos-o-chanel-atemporal_a7/1> Acesso em: 14

nov. 2013

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só têm paridade com as de cores e de tecidos empregados em suas confecções. A legião colorida e multiforme de chapéus usados pelas parisienses, entretanto, mantem certa unidade de discrição no material empregado. Predomina, contudo, o chapéu de abas médias que se casam com graça e harmonia a todos os tecidos e todas as expressões femininas (REVISTA CIGARRA, n.1, 1928, p. 3).

Como podemos perceber, o uso de chapéu estava em alta, havia muita

variedade de cores e modelos, o que fazia com que a escolha se tornasse difícil.

Muitas mulheres faziam coleções dos artigos mais utilizados por elas.

Para explicar as modificações que até então havia ocorrido na moda, o escritor

Lurie (1997, p. 87) apresenta uma teoria. Para ele, após a perda de grande parte da

população durante a guerra a moda feminina teria de ser “provocadora sexualmente

para impulsionar os índices de natalidade”. Em Cigarra visualizamos alguns traços

dessa sensualidade nas roupas:

De todos os prazeres providencialmente repartidos pela agrura insipida da existência, o que mais duradouramente tem a mulher à sua disposição é o prazer de vestir-se. Começa pela camisolinha bordada e o cueiro festonné e acaba nas linhas vagas, da mortalha, pois até no instante da suprema partida é certo ainda indagarem as amigas chorosas: “mas como ela foi vestida?” (REVISTA CIGARRA, n.1, 1928, p. 10).

Em comparação com as mulheres americanas, as brasileiras eram mais

“antenadas” com a moda vigente em Paris.

As mulheres usam sapatos de saltos muito altos, á moda de suas irmães parisienses, e admiram se de ver as turistas americanas pasciando nas ruas com os seus sapatos de saltos muito baixos. Existe maior divergência nos sapatos dos homens, pois a classe operária quase sempre usa sapato de lona. Vê se também sapatos feitos de palha entrançada, com solas e tiras de couro, muito parecidos com as sandálias que os romanos usavam há dois mil anos passados (REVISTA CIGARRA, n.1, 1928, p. 8).

A maioria das mulheres se vestiam com as modistas que, reforçando aa ideias

de inspiração na França, apenas mandavam vir de Paris os figurinos e tecidos já

cortados nos moldes das roupas que estavam na moda, para apenas costurá-los

(Contijo, 2001).

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Percebe-se que, como retratado na Cigarra, a mulher brasileira dessa década

era bastante vaidosa, seguindo os padrões de moda e consumo parisienses. Dominava

uma grande parte da economia, comprando produtos de beleza e vestimentas, que

enaltecessem sua feminilidade. A maioria das propagandas da época visava atingir o

público feminino, enaltecendo o padrão de beleza frágil, tido como o mais belo no

período. A menstruação vista como um incômodo ou uma doença favorecia o comércio

de variedades de elixir que ‘curavam os nervos’ e restabelecia a saúde da mulher.

A jornalista e escritora Ducília Schroeder Buitoni definiu, em seu livro intitulado

“Mulher de papel: A representação da mulher pela imprensa brasileira”, a figura

feminina do período como a “sacerdotisa da beleza”, predominando, na época, o “culto

da Beleza pela Beleza” (Buitoni, 2009, p.75).

Nesse sentido, analisaremos abaixo alguns textos da Cigarra, referentes a essa

temática:

Texto I

Texto: ”Higiene e Beleza”

Veículo: Revista Cigarra, n2, dez.1928, p.42.

Antigamente só era considerado tipo de beleza a mulher branca e rosa, e as senhoras que tinham nascido morenas, ainda que sua beleza fosse perfeita, não se consolavam de não possuir a alvura dos lírios. Hoje já assim não é, e pode quase dizer-se que o sucesso pertence as morenas, visto que as mulheres que não o são trabalham para tornar a pele da cor do âmbar, expondo-se ao sol e, quando não o conseguem assim, deitando gostas de iodo na água em que se lavam para tomar a cor das índias, o que muitas vezes distoa com a cor clara dos cabelos. Mas, há ainda senhoras que não gostam de ser morenas e que vivem desconsoladas. Assim como damos o direito àquelas que são brancas de empregarem o iodo para se escurecerem quando isso lhes agrada, achamos justíssimo que as que não gostam de ser morenas se branqueiem, e damos a seguinte receita que com o uso cotidiano torna a cútis muito mais clara.

GramasLeite de amêndoas..........200Benjoim............................15Água de rosas.................100Essência de rosas...........2gts

Molha-se um algodão no líquido, tendo agitado o frasco antes de usar, e passa-se na cara bastante tempo, deixando secar, aplicando-se depois o pé e o “rouge”. Querendo branquear rapidamente, faz-se a aplicação também à noite. Ao fim de oito dias já se nota a diferença e a cútis começa a tomar uma cor muito mais clara, sendo de muita vantagem o seu uso, porque só tem coisas que são boas para a pele.

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De acordo com o texto acima, podemos notar qual era o padrão de beleza

feminino que a revista Cigarra retratava. O sucesso da cor da pele ficava por conta das

morenas, tanto que grande parte das mulheres com pele clara começou a se expor

mais ao sol, com o intuito de se bronzearem e ficarem com uma pele com “cor de

âmbar”.

Pesquisando a respeito de onde surgiu tanta influência para a busca de uma pele

mais morena, ao ponto das mulheres chegarem até a utilizar receitas caseiras à base

de iodo em dessa pele “perfeita”, descobrimos um nome: Josephine Baker, cantora e

dançarina norte-americana, de pele negra.

Josephine Baker era um fenômeno na época, tornando-se referência para a

maioria das mulheres brasileiras, as quais procuravam de algum modo, “imitá-la”. Uma

publicação sobre as celebridades que marcaram época feita pela revista eletrônica

UOL, afirma que “Em meados dos anos 20, a cantora e dançarina Josephine Baker,

uma norte-americana naturalizada francesa, despontou como a primeira estrela negra

das artes cênicas e rompeu tabus com seu trabalho. Seu visual sexy, com cabelos

colados à cabeça com aspecto laqueado e ondas desenhadas milimetricamente, além

de uma maquiagem com olhos e bocas em tons escuros, marcou época.

Texto II

Texto: ”Morenas”

Veículo: Revista Cigarra, n.1, nov.1928, p.15.

Alguém me pediu para fazer o elogio das morenas. Não accedi. É lógico. Não poderia nunca aceder. O elogio das morenas sempre foi feito pelos poetas. Um cronista mundano sensato não embrulha nunca um rosto moreno nos poucos centímetros de seda da encantadora moda atual. Seria um sacrilégio de que sempre terei o cuidado de fugir.

As morenas são as criaturas mais adoráveis do mundo, com os seus olhos negros, que são os olhos mais misterioso que conheço. Dizem que os da loucura são ingovernáveis... Serão? Mas o das morenas são simplesmente rebeldes.... De uma rebeldia que entontece... que aniquila... duas mentiras e duas promessas.... duas tentações insaciáveis... As morenas falam, dizem tudo, quando nada tencionam dizer... Negam tudo, tudo quando apenas queremos alguma coisa... Morenas são piores do que as loucuras, muito piores....

Mas... os homens têm paixão pelas mulheres louras... pelas mulheres belas todos têm... As louras, no entanto, dão-lhes que fazer... Por isso as louras são mais vaidosas e quase sempre guardam dentro de si, refletindo nas oportunidades, um orgulho infinitamente perverso.... As morenas são formosas com os seus olhos negros e os seus sorrisos

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tentadores? As louras são lindas com os seus diabólicos cabelos dardejantes, a menos que não sejam verdes, excessivamente verdes...

Entre morenas e louras como escolher? Desgraçados dos homens que endoidecem por umas e perdem o juízo pelas outras... Que ambas são maravilhosamente misteriosas e sedutoras....

Quem melhor lhes pode fazer o elogio é o coração desnorteado de suas vitimas...Graças a Deus sou feio, e muito feio. E graças a isso estou longe, mito longe de

conhecer de perto, muito perto, esse abismo supremo que seduz no milagre eterno das morenas e das louras.

Seguindo a mesma linha do primeiro texto analisado sobre a temática da beleza,

“Morenas” elogia ambos os tipos de beleza, das loiras e das morenas. No que diz

respeito as morenas, o autor refere-se a elas como “criaturas adoráveis”, revelando

ainda, em uma comparação com a loucura, que elas possuem um encantamento e

comportamento tentador.

Em relação às loiras, diz que as mesmas também são bonitas, chegando até a

dizer que eles possuem paixão por elas. Nesse sentido, deixa claro, que para os

homens a cor da pele não possui grande importância para a definição da beleza

feminina.

Casamento/Mulher do lar

Discursos de época e estudos sobre a sociedade humana retratavam, em regra,

a mulher como ser submisso e inferiorizado pela sua fragilidade e condição fisiológica,

possuindo uma colocação marginalizada no que se diz respeito à hierarquia social. A

sociedade impunha que a mulher necessariamente teria nascido para desemprenhar as

funções da esfera privada, se ocupando em atividades relativas ao lar, bem como

trabalhar com a terra tanto em seu cultivo como na coleta de produtos agrícolas.

A mulher, ao longo dos anos, vem procurando consolidar a essência feminina na

sociedade. Nas décadas de 1920 e 1930 o termo “mulher moderna” era utilizado

frequentemente, entretanto essa expressão já era aplicada em décadas anteriores.

Consta, por exemplo, na crônica “Modern girls” (1911), de João do Rio. Porém, devido

a um conjunto de aspectos que envolveram o universo feminino na segunda e na

terceira décadas do século XX o termo ganhou força.

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Conforme foi exposto nas análises anteriores, a “Mulher moderna” compreendia

o conjunto de determinadas características da aparência e do espírito da mulher, ou

seja, denotavam aspectos estéticos, psicológicos e morais referentes ao feminino em meio ao

regime republicano, à ordem capitalista e industrial, que modificaram alguns aspectos no

comportamento e na formação social da mulher no início do século XX.

Apesar da década de 1920 representar um período de muitas mudanças sociais,

principalmente para as mulheres que, no Rio Grande do Norte, já em 1927

conseguiram o direito ao voto, algumas famílias ainda seguiam os padrões tradicionais.

Segundo ROCHA NETO (2005), as famílias tradicionais do Seridó, da época, só

educavam na escola seus filhos do sexo masculino, destinando suas filhas ao único

objetivo: o casamento e afazeres domésticos.

A esse exemplo coletamos um trecho que aparece na revista Cigarra, onde é

possível verificar a preocupação de um pai em arranjar um bom casamento para suas

filhas.

E assim vivia o sr. Evaristo entre quatro paredes, viúvo, segundo oficial e com uma estupenda vontade de fazer obras na família, isto é de conseguir arranjar um casamento para cada uma das filhas (REVISTA CIGARRA, n.1, nov. 1928, p.6)

Outro fragmento, retirado de outro texto da Cigarra, demonstra a existência de

raízes dessa mulher educada para o casamento e cuidados com o lar.

Miss Corisco foi varrer a cozinha como era de sua obrigação todos os dias, inclusive domingos e feriados, e na manhã seguinte tomou a jardineira na companhia do irmão casado para comparecer a cidade perante o júri estadual (REVISTA CIGARRA, n. 4, fev.1929, p.5).

Miss Corisco era assim chamada porque foi eleita a mais feia do seu grupo de

amigos, escolhida pelo sistema de exclusão que a levou a essa condição devido suas

sardas. A condição dela ao lar foi enfatizada, quando afirma que ela varria a casa todos

os dias “inclusive domingos e feriados”. Ainda no trecho acima reescrito, é possível

notar que a mulher não podia sair sozinha, pois seria má vista pela sociedade, tendo

que sair de casa acompanhada.

No que diz respeito ao mercado de trabalho, a inserção da mulher se deu

apenas na metade do século XX, passando a adquirir a possibilidade de gerar renda e

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de competir no respectivo mercado. A necessidade de trabalhar e de colaborar no

sustento da família levou a mulher a buscar de melhores condições de trabalho e

amenizar os vigentes padrões de desigualdade.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo principal analisar a representação

da mulher na revista A Cigarra, que circulou em Natal entre 1928 e 1929. Após

inserirmos a mulher na linha do tempo, produzindo um breve histórico sobre

como ela era retratada em algumas publicações ao longo dos séculos,

analisamos a figura feminina presente na década de 1920, mediante o que era

escrito na revista Cigarra.

Para a realização do referido trabalho, utilizamos as cinco edições da revista

Cigarra. A revista Cigarra foi nossa principal fonte de estudo, visto que nosso

objetivo principal era analisar a inserção da mulher nesta mídia em quais

temáticas ela aparecia. Nas práticas de escrita presentes na revista Cigarra, é

possível notar como os sujeitos, no caso a mulher e à sociedade em geral, se

relacionam e interagem, no espaço e no tempo.

Os escritos registrados acerca da mulher na revista Cigarra, por exemplo,

configuram as maneiras de agir, pensar e sentir no interior dos conflitos e

tensões da vida cotidiana do meio social de sua época.

Da leitura que se expôs sobre a mulher uma ideia pôde ser alinhavada

nesse sentido histórico: a mulher tornou-se sujeito de si. Entretanto, a principio,

era submissa e inferiorizada por sua fragilidade e condição fisiológica. Porém,

ela foi à busca de melhores condições e direito a igualdade, até o ponto que

passa a conduzir suas ações e torna-se multifuncional, bem resolvida, prima por

liberdade e melhores condições de vida, sem deixar de lado sua feminilidade,

espontaneidade e criatividade.

O caminho percorrido pela figura feminina em busca de oportunidade,

reconhecimento e igualdade foram árdua, lento, mas ao final, mostra-se

promissor.

Constatamos através desta pesquisa que, apesar do Brasil possuir culturas

diversas, de acordo com os costumes de cada região, a mulher estava

incorporada no mesmo ambiente histórico, sendo representada da mesma

maneira. Ela deixa de ser uma personagem passiva na sociedade familiar e

social para ser um agente ativo, defensora de ações e argumentos em defesa de

sua postura: planejar, organizar, controlar e realizar. Além disso, a mulher da

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década de 1920 se mostra super vaidosa, “antenada” com a moda advinda de

Paris.

]

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