A REFORMA PROTESTANTE · 2017. 7. 18. · Causas Gerais da Reforma •Interesses nas terras da...

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História Geral A REFORMA PROTESTANTE A Reforma foi um dos mais importantes movimentos históricos já ocorridos. Suas causas e seus efeitos ultra- passam as motivações meramente religiosas abrangendo também os campos político, econômico, cultural e social. Portanto muitos são os fatores a serem considerados numa explicação satisfatória do movimento reformista. O Contexto da Reforma Religiosa Como sabemos o fim da Idade Média foi um período de severa crise na Europa Ocidental. Assolados pela guerra, pela peste e pela fome os europeus acreditavam que o fim dos tempos estavam próximos. Imaginava-se que Deus, finalmente, deixaria cair sua espada sobre aquele mundo pecaminoso e decadente. Por toda parte procurava-se culpados para as desgra- ças do mundo. Os bodes espiatórios preferidos foram os hereges, os judeus e as mulheres feiticeiras. Ao desespero geral se conjugava o enfraquecimento da Igreja com o grande Cisma do Ocidente (1378-1417). Um clima de corrupção tomou conta do clero, que se aproveita da fraqueza espiritual para vender indulgências. Como reflexo disso, uma forte mentalidade religiosa re- formista forjou-se entre um número crescente de pessoas que passaram a buscar soluções para a crise generalizada que se abatia sobre a sociedade. Causas Gerais da Reforma Interesses nas terras da Igreja: Na Idade Média a Igreja tornou-se a maior proprietária de terras da Europa, de modo que nessa época cerca de 1/3 das terras lhe pertenciam. A nobreza de terras de regiões como a Ale- manha e Inglaterra desejavam apropriar-se desses bens. Interesses da burguesia: a Igreja proibia a usura e emperrava o desenvolvimento do capitalismo. Além disso, cobrava dízimos que eram verdadeiras evasões de divisas para os burgueses alemães. Corrupção do clero: Papas, bispos, padres e mon- ges que levavam uma vida mundana e dissoluta eram maus exemplos para a comunidade cristã. Os fiéis per- diam a confiança na Igreja e procuravam novos caminhos para o exercício de sua fé. Difusão do humanismo: os humanistas pregavam uma postura mais individualizada do homem em relação ao mundo, o que possibilitou a busca por novas orien- tações. Erasmo de Rotterdam criticou severamente os abusos da Igreja e propôs um novo ideal de vida cristã simples e humilde baseada no evangelho. A difusão da Bíblia: o primeiro livro impresso por João Gutemberg foi a bíblia. A imprensa difundiu por toda a Europa os novos ideais humanistas e reformistas. Surgiram várias traduções da Bíblia para as línguas vernáculas faladas pelo povo, o que possibilitou o acesso às Escrituras Sagradas a um maior número de pessoas que passaram a discordar dos dogmas da Igreja. A invenção da imprensa contribuiu para a difusão do livro e as múltiplas interpretações da Bíblia. Escrituras Sagradas a um maior número de pessoas que passaram a discordar dos dogmas da Igreja. Fica claro que o conjunto desses fatores fez com que surgissem inúmeros focos de movimentos reformistas por toda a Europa. A princípio a intenção dos reformadores não era fundar novas igrejas e romper com a Igreja Cató- lica, mas antes reformá-la internamente. Isso se revelou impossível na medida em que interesses estranhos à religião se fizeram presentes, assim como a própria Igreja Católica revelou-se refratária à uma auto-reforma. Era como se pretendessem colocar um remendo novo sobre um tecido velho e apodrecido. O resultado foi um rasgo ainda maior. Os Precursores da Reforma Já nos séculos XIV e XV algumas vozes se levantavam em favor de uma reforma da Igreja. John Wyclifff (1324-1384): Esse professor de teologia inglês propunha uma igreja pobre e sem propriedades na Inglaterra. Era contra a cobrança de tributos eclesiásticos e traduziu a Bíblia para a língua inglesa. Jan Huss (1369-1415): Era professor da universidade de Praga e traduziu a Bíblia para a língua tcheca. Foi um incansável combatente contra a venda de indulgências e contra a riqueza da Igreja. Desejava que as terras da Igreja fossem confiscadas. Suas pregações foram acolhidas pelos tchecos da Boêmia, pois estes eram oprimidos pelos alemães do Sacro Império Germânico, que eram aliados da Igreja Católica e o queriam morto. Foi convocado a explicar-se pelo Concílio de Constança onde foi preso e condenado por heresia. Acabou abandonado por seu protetor o Im- perador Sigismundo e queimado vivo em 1415. Sua execução provocou o fortalecimento do movimento nacionalista tcheco que passou a autodenominar-se hus- sita. Os hussitas passaram a resistir contra a dominação alemã sobre o território tcheco.

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  • História Geral

    A REFORMA PROTESTANTEA Reforma foi um dos mais importantes movimentos

    históricos já ocorridos. Suas causas e seus efeitos ultra-passam as motivações meramente religiosas abrangendo também os campos político, econômico, cultural e social. Portanto muitos são os fatores a serem considerados numa explicação satisfatória do movimento reformista.

    O Contexto da Reforma Religiosa

    Como sabemos o fim da Idade Média foi um período de severa crise na Europa Ocidental. Assolados pela guerra, pela peste e pela fome os europeus acreditavam que o fim dos tempos estavam próximos. Imaginava-se que Deus, finalmente, deixaria cair sua espada sobre aquele mundo pecaminoso e decadente.

    Por toda parte procurava-se culpados para as desgra-ças do mundo. Os bodes espiatórios preferidos foram os hereges, os judeus e as mulheres feiticeiras. Ao desespero geral se conjugava o enfraquecimento da Igreja com o grande Cisma do Ocidente (1378-1417).

    Um clima de corrupção tomou conta do clero, que se aproveita da fraqueza espiritual para vender indulgências. Como reflexo disso, uma forte mentalidade religiosa re-formista forjou-se entre um número crescente de pessoas que passaram a buscar soluções para a crise generalizada que se abatia sobre a sociedade.

    Causas Gerais da Reforma• Interesses nas terras da Igreja: Na Idade Média a

    Igreja tornou-se a maior proprietária de terras da Europa, de modo que nessa época cerca de 1/3 das terras lhe pertenciam. A nobreza de terras de regiões como a Ale-manha e Inglaterra desejavam apropriar-se desses bens.

    • Interesses da burguesia: a Igreja proibia a usura eemperrava o desenvolvimento do capitalismo. Além disso, cobrava dízimos que eram verdadeiras evasões de divisas para os burgueses alemães.

    • Corrupção do clero: Papas, bispos, padres e mon-ges que levavam uma vida mundana e dissoluta eram maus exemplos para a comunidade cristã. Os fiéis per-diam a confiança na Igreja e procuravam novos caminhos para o exercício de sua fé.

    • Difusão do humanismo: os humanistas pregavamuma postura mais individualizada do homem em relação ao mundo, o que possibilitou a busca por novas orien-tações. Erasmo de Rotterdam criticou severamente os abusos da Igreja e propôs um novo ideal de vida cristã simples e humilde baseada no evangelho.

    •  A difusão da Bíblia: o primeiro livro impresso por JoãoGutemberg foi a bíblia. A imprensa difundiu por toda a Europa os novos ideais humanistas e reformistas. Surgiram várias traduções da Bíblia para as línguas vernáculas faladas pelo povo, o que possibilitou o acesso às Escrituras Sagradas a um maior número de pessoas que passaram a discordar dos dogmas da Igreja.

    A invenção da imprensa contribuiu para a difusão do livro e as múltiplas interpretações da Bíblia.

    Escrituras Sagradas a um maior número de pessoas que passaram a discordar dos dogmas da Igreja.

    Fica claro que o conjunto desses fatores fez com que surgissem inúmeros focos de movimentos reformistas por toda a Europa. A princípio a intenção dos reformadores não era fundar novas igrejas e romper com a Igreja Cató-lica, mas antes reformá-la internamente. Isso se revelou impossível na medida em que interesses estranhos à religião se fizeram presentes, assim como a própria Igreja Católica revelou-se refratária à uma auto-reforma.

    Era como se pretendessem colocar um remendo novo sobre um tecido velho e apodrecido. O resultado foi um rasgo ainda maior.

    Os Precursores da ReformaJá nos séculos XIV e XV algumas vozes se levantavam

    em favor de uma reforma da Igreja.John Wyclifff (1324-1384): Esse professor de teologia

    inglês propunha uma igreja pobre e sem propriedades na Inglaterra. Era contra a cobrança de tributos eclesiásticos e traduziu a Bíblia para a língua inglesa.

    Jan Huss (1369-1415): Era professor da universidade de Praga e traduziu a Bíblia para a língua tcheca. Foi um incansável combatente contra a venda de indulgências e contra a riqueza da Igreja. Desejava que as terras da Igreja fossem confiscadas.

    Suas pregações foram acolhidas pelos tchecos da Boêmia, pois estes eram oprimidos pelos alemães do Sacro Império Germânico, que eram aliados da Igreja Católica e o queriam morto. Foi convocado a explicar-se pelo Concílio de Constança onde foi preso e condenado por heresia. Acabou abandonado por seu protetor o Im-perador Sigismundo e queimado vivo em 1415.

    Sua execução provocou o fortalecimento do movimento nacionalista tcheco que passou a autodenominar-se hus-sita. Os hussitas passaram a resistir contra a dominação alemã sobre o território tcheco.

  • História Geral

    A REFORMA LUTERANA

    No século XVI a centralização política e o desenvol-vimento do mercantilismo já iam longe na Espanha, Por-tugal, França e Inglaterra. Porém a Alemanha era ainda uma colcha de retalhos de pequenos principados inde-pendentes que se aglutinavam precariamente em torno da autoridade do Sacro Império Romano Germânico. Nessa época o Imperador era o Habsburgo Carlos V.

    O atraso social, político e econômico fez da Alema-nha um foco privilegiado para a contestação do poderio da Igreja Católica e Martinho Lutero foi o homem que sintetizou as aspirações da burguesia e da nobreza in-satisfeitas.

    Martinho LuteroNascido em Eislebem em 1483, formou-se em filosofia

    pela universidade de Erfurt em 1505. Em 1507 ordenou-se monge da ordem dos agostinianos e doutorou-se em teologia pela universidade de Wittemberg.

    Lutero visitou Roma em 1510, na mesma época em que Michelangelo estava pintando os afrescos da Capela Sistina. Na sede da Igreja o monge alemão teve contato com um mundo corrupto que fez brotar em seu íntimo a semente da rebeldia.

    De volta a Wittemberg, passou longos anos estudan-do a fundo as escrituras, principalmente a Epístola de Paulo aos Romanos. A partir disso formulou suas idéias influenciado pelas idéias humanistas.

    Martinho Lutero.

    O Início da Reforma de Lutero

    Em 1517, esteve em Witemberg um dominicado ven-dedor de indulgências chamado Johann Tetzel. As indul-gências eram documentos da Igreja que perdoavam os que as comprassem de alguns pecados. Era o comércio das coisas sagradas. Revoltado contra essa situação Lutero pregou na porta da Catredral de Witemberg suas “95 teses contra a venda de indulgências”. Esse fato marca o início da Reforma Protestante.

    Finalmente alguém teve a insubordinação de falar con-tra a poderosa Igreja. Lutero teve a simpatia da burguesia que visava estancar a evasão de recursos para Roma e de vários príncipes alemães interessados na terras da Igreja. Mesmo os camponeses acreditavam que qualquer mudança seria para melhor.

    A reação de Roma não tardou muito. Em 1520, Lutero foi excomungado pela Bula Exsurge Domine do Papa Leão X. O excomungado queimou em praça pública aquele documento papal.

    Em 1521, Lutero foi julgado pela Dieta de Worms, onde se recusou a renegar suas teses e foi considerado culpado de heresia. Sua vida estava em perigo, mas obteve a proteção do príncipe Frederico da Saxônia. Du-rante o ano seguinte Lutero ficou escondido no castelo de Wartburg, onde iniciou a tradução das Escrituras para o alemão.

    A Reforma Radicalizada

    O movimento luterano teve consequências que Lutero não previra nem desejara: abriu cominho para rebeliões políticas. Em 1522/23, os nobres empobrecidos, em nome de uma Alemanha unida e livre dos grandes proprietários e padres gananciosos, rebelaram-se e foram esmaga-dos pelos exércitos dos arcebispos e dos nobres mais poderosos.

    Em 1524 eclodiu um movimento de origem camponesa liderado por Thomas Münzer. Os revoltosos se auto-designavam anabatistas (rebatizados). Reivindicavam a instalação imediata do reino de Deus na terra com o fim da propriedade privada.

    Lutero chamou-os de “Hordas ladras e assassinas” e insitou os príncipes alemães unidos na Liga Suábia a esmagar os anabatista. Como saldo houve o massacre de cem mil camponeses e a execução de seu líder. Esse fato marca o triunfo de uma facção reformista moderada na Alemanha.

    Na Dieta de Spira, em 1529, o imperador Carlos V procurou reconciliar os príncipes católicos e luteranos do Sacro Império Romano Germânico. No entanto, o impera-dor tentou favorecer os católicos nas negociações, o que provocou o protesto dos luteranos, que ficaram, então, conhecidos como protestantes.

    Nova tentativa de negociação foi feita em 1530 na Die-ta de Augsburg, onde foram recusados pelos católicos os princípios doutrinários luteranos expostos por Melanchton na Confissão de Augsburg. Para se defenderem contra as ameaças católicas os príncipes luteranos se uniram numa liga militar denominada Smalkalde em 1531.

    A Paz de Augsburg

    Durante mais de vinte anos se mantiveram as rivalida-des entre católicos e luteranos no Sacro Império. Porém, diante da vitória final dos luteranos em 1555, foi assinada a Paz de Augsburg.

  • História Geral

    Esse acordo estabelecia a liberdade religiosa nos principados alemães. O tratado adotou o princípio de “cujus regio, ejus religio”, ou seja, tal rei, tal credo, assim prescrevia que os súditos deveriam adotar a mesma re-ligião de seu soberano.

    A Doutrina LuteranaA partir das escrituras e influenciado pelo pensamento

    de Santo Agostinho, Lutero concluiu que o homem é de natureza pecadora intrínseca. Portanto Deus escolhe al-guns para a eternidade e os presenteia com a graça. Em sua doutrina da justificação pela fé, deixa claro que o homem se torna merecedor aos olhos de Deus apenas pela total submissão à Sua vontade.

    Descarta, portanto, as receitas da Igreja de jejuns, pe-regrinações, indulgências, sacramentos e peregrinações. Lutero procurou dar embasamento para a nova Igreja que nascia na Alemanha. No culto religioso o latim foi substituído pelo alemão. Aboliu-se a hierarquia da Igreja. Rejeitou toda a tradição da Igreja (bulas, concílios, etc) e estabeleceu que a única fonte de fé seria a Bíblia.

    As escrituras poderiam ser lidas e interpretadas livre-mente pelos fiéis. Aboliu os sacramentos exceto o batismo, a comunhão e o casamento.

    Negou a transubstanciação do corpo de Cristo na comunhão e afirmou a consubstanciação (espírito). Os

    Jean Calvino.

    A Doutrina CalvinistaCalvino resumiu sua doutrina no seguinte trecho: “Nada

    que os seres humanos façam pode alterar seu destino; mesmo antes de nascer suas almas já estão marcadas

    sacerdotes ficaram livres para se casar; o próprio Lutero se casou com uma freira em 1525.

    A sistematização final da doutrina luterana se deu com a confissão de Augsburg de 1530. Nela Melanchton expôs os princípios básicos de modo claro e sintético. Esses princípios ainda hoje são seguidos pelos adeptos do luteranismo.

    A Reforma Suíça

    A Suíca do Século XVI vivia muitos problemas simi-lares aos da Alemanha. Ulrich Zwinglio (1484-1531), foi o iniciador da reforma na Suíça. Foi influenciado pelo humanismo erasmiano e sua doutrina era próxima a de Lutero, porém mais radical. A partir de Zurique, ganhou a simpatia de outros cantões suíços do norte e pretendeu fundar um Estado teocrático cristão.

    Os católicos levantaram-se contra ele, o que originou uma guerra civil. Foi derrotado na batalha de Kappel, na qual morreu em 1531. Após sua morte vários focos de resistência protestante permaneceram acesos.

    Jean Calvino (1509-1564)Esse reformista nasceu em Noyon na França e acom-

    panhou as primeiras lufadas de idéias luteranas em terri-tório francês. Migrou para a Suíça em 1533 por causa das perseguições aos protestantes. Estabelecido na Basiléia, escreveu a obra “Instituição da Religião Cristã”, na qual sintetizou sua doutrina.

    Foi expulso de Genebra em 1538, para onde retornou em 1541 para fixar-se definitivamente e estabelecer um go-verno ditatorial de caráter religioso.

    Proibiu-se o teatro, a música, os jogos e a dança. Até mesmo trabalhar aos domingos foi terminantemente proi-bido e enquadrado como crime. Destruíram-se as imagens e os vitrais das igrejas. O culto calvinista resumia-se ao sermão entre quatro paredes nuas.

    Europa Reformista no século XVI.

    Que as igrejas protestantes ou evangélicas são as que mais crescem em números de fiéis hoje no Brasil.

  • História Geral

    Destruição de uma Igreja católica pelos Calvinistas.

    A Reforma AnglicanaA ruptura com a Igreja de Roma deu-se no esteio da

    ascensão do absolutismo de Henrique VIII na Inglaterra. Casado com uma princesa espanhola muito católica chamada Catarina de Aragão, Henrique VIII desejava divorciar-se para casar-se novamente com Ana Bolena, uma dama da corte.

    O Papa Clemente VII não aprovou a separação, pois a Espanha sustentava Roma. Henrique VIII passou sobre a autoridade papal e repudiou Catarina de Aragão, rompendo com a Igreja. Tornou-se prote-tor da Igreja Inglesa em 1531, ano em que amealhou para o trono as rendas eclesiásticas. Em 1534 tornou-se chefe da Igreja inglesa pelo Ato de Su-premacia.

    com a bênção ou a maldição divina.Mas isso não significa uma indiferença com relação a

    conduta na Terra, pois se um homem é um dos eleitos, Deus incita nele o desejo de fazer o bem”.

    Nesse texto fica clara o centralidade da predestinação absoluta no Calvinismo. Segundo essa doutrina todos os homens são portadores do pecado original que tocou Adão, mas Deus em sua sabedoria infinita predestinou alguns para a salvação.

    Não há meios de se descobrir se alguém é um pre-destinado. Apenas podem ser observados indícios de predestinação. Podem ser a prosperidade material ou a fé. Isso favoreceu o desenvolvimento de uma ética religiosa bastante apropriada à acumulação de capital e o consequente desenvolvimento do capitalismo.

    O calvinismo espalhou-se pela Europa. Na Escócia denominaram-se presbiterianos, na Inglaterra puritanos, na Holanda protestantes e na França huguenotes.

    O movimento reformista inglês sofreu variações com seus sucessores. O governo de Eduardo VI (1547-1553), foi influenciado pelas tendências calvinistas. Sua suces-sora, Maria Tudor, restabeleceu o catolicismo e devido as intensas perseguições aos protestantes, ganhou a alcunha de “a sanguinária”.

    Finalmente, no governo de Elizabeth I (1558-1603), o anglicanismo firmou-se em solo inglês pela Lei dos 39 ar-tigos. A hierarquia era católica, mas a doutrina calvinista. Para se distinguirem dos anglicanos, os que professavam a fé calvinista autodenominaram-se puritanos.

    A CONTRA REFORMA CATÓLICA

    A Reforma Protestante provocou a ruptura da unidade religiosa européia, cuja hegemonia era exercida pela Igreja Católica. Diante da ameaça protestante os católicos reagiram energicamente.

    O Papa Paulo III (1534-1549), foi o iniciador do proces-so contra reformista, pois foi o primeiro a compreender a natureza permanente da crise religiosa que se instalou na cristandade ocidental. Não teve dúvidas em condenar e ex-comungar o Rei da Inglaterra, Henrique VIII, em 1534.

    Para evitar que os ventos protestantes se alastras-sem ainda mais, Paulo III criou em 1536 a Comissão da Reforma, encarregada de solucionar os problemas que se anunciassem. No mesmo ano instalou-se em Portugal o Tribunal do Santo Ofício; posteriormente instaladotambém na Itália e Espanha.

    O Santo Ofício se encarregou da repressão de quaisquer manifestações anti-católicas nesses países, tornando-se uma instituição de terror em nome da fé. Agiu contra judeus, protestantes e tudo que cheirasse a heresia. Foi na Época Moderna em que se queimou mais hereges e não na Idade Média como pensam muitos.

    A Companhia de Jesus

    Fundada pelo ex-guerreiro espanhol Inácio de Loyola, ganhou estatuto canônico em 1540 e passou a ser um dos mais fortes instrumentos da Igreja na propagação do catolicismo na África, Ásia e principalmente na América. Isso significou uma compensação dos fi-éis perdidos na Europa. Os jesuítas eram verdadeiros soldados da fé católica e agiram em várias regiões do mundo.Henrique VIII.

    Que os jesuítas eram considerados verda-deiros soldados do Papa para combater o avanço do protestantismo. Na América Latina, desempenharam o papel de evangelizadores dos povos indigenas.

    Ignácio de Loyola - Fundador da Companhia de Jesus.

  • História Geral

    O Concílio de Trento

    O feito mais significativo de Paulo III, foi a convoca-ção do Concílio de Trento em 1545. Esse foi o principal movimento da Contra-Reforma Católica.

    Entre os anos de 1545 e 1563, as autoridades católicas deliberaram sobre questões doutrinais e disciplinares. Como principais pontos dispostos em Trento podemos enumerar:

    • Autenticidade dos livros sagrados• Legitimidade da tradição católica• Indissolubilidade do casamento• Supremacia do Papa• Autenticidade dos sacramentos• Presença de Cristo na eucaristia• Manutenção do celibato clerical• Proibição da venda de indulgências• Proibido o acúmulo de benefícios• Obrigatoriedade do hábito• Reconhecimento da Vulgata• Criação do índice de livros proibidos• Restabelecimento da Inquisição

    As determinações do concílio de Trento foram direto de encontro com as posições protestantes de modo que as duas facções cristãs tornaram-se irreconciliáveis na Europa. Esse fato selou o destino conflituoso de católicos e protestantes na Europa na Segunda metade do século XVI e no século XVII.

    A severidade das conclusões tridentinas determinou em grande medida a decadência do Renascimento e o nascimento da estética Barroca. A arte barroca, que teve sua síntese nas obras de Caravaggio e Bernini, refletiu como nenhuma outra a divisão do homem entre a fé e a razão; o céu e o inferno; a luz e a treva. Enfim foi uma épo-ca de questionamento geral de todos os valores. De uma indecisão geral sobre qual o caminho exato a seguir.

    Caravaggio refletiu em sua obra a dualidadedo homem no período barroco — observe o jogo

    de luz e sombra no quadro acima.

    As Guerras Religiosas

    No ano de sua morte em 1546, Martinho Lutero previu as consequências violentas do Concílio de Trento quando proferiu o anátema: “O Concílo de Trento é furioso e nos ameaça. Rezai, pois as calamidades vão chegar”.

    De fato, o reformador alemão não estava enganado. Após o término do Concílio de Trento a Europa foi sa-cudida por violentas guerras religiosas. Elas se deram principalmente na França, onde houve uma grande difu-são do calvinismo (huguenotes), mas o país permaneceu essencialmente católico, tendo seus reis uma forte aliança com a Igreja que muito contribuía para o financiamento da Coroa.

    As rivalidades entre católicos e protestantes (hugue-notes) na França da segunda metade do século XVI, expressou-se resumidamente no episódio do massacre da noite de São Bartolomeu, ocorrido em Paris no dia 24 de agosto de 1572, quando cerca de 4 mil protestantes foram massacrados nas ruas da cidade.

    O massacre de Calvinistas pelos católicos em Paris na noite de São Bartolomeu.

    A partir de Paris a matança de huguenotes (protes-tantes) por católicos se alastrou por toda a França e calcula-se que cerca de 30 mil foram mortos em todo o reino naqueles dias terríveis.

    Como uma forma de unir católicos e protestantes, ten-tou-se o casamento de Henrique de Navarra (huguenote) e de Margarida (Margot) da França (católica). Margot foi pressionada a casar-se com Henrique de Navarra por seu irmão, o rei Carlos IX, um rei fraco e manipulado pela mãe, a ultracatólica Catarina de Médicis. Tratou-se de um ca-samento de interesses, para que as guerras religiosas na França diminuíssem, mas o massacre só contribuiu para acirrar ainda mais os ânimos dos oponentes.

    Uma das primeiras vítimas do massacre foi o conse-lheiro do rei Gaspard de Coligny, um grande líder hugue-note que aconselhava o rei a dar liberdade de culto aos protestantes. O próprio Henrique de Navarra só livrou-se de ser morto porque converteu-se no último momento ao catolicismo.

    Que cronistas da época deixaram relatos sobre a violência do massacre em Paris. Eles disseram que era impossível andar pelas ruas sem sujar as roupas de sangue no dia seguinte à carnificina.

  • História Geral

    varra venceu os católicos. Henrique de Navarra.

    No entanto, Henrique de Navarra percebeu que sem o apoio católico jamais conseguiria governar a França,assim, converteu-se pela segunda vez ao catolicismo em 1594, dizendo “Paris bem vale uma missa”. Essas estratégias eram muito comuns naquela época em que as disputas pelo poder eram informadas por Maquiavel (“os fins justificam os meios”).

    Em 1598 ortorgou o Êdito de Nantes pelo qual concedia liberdade de culto aos protestantes. Quase cem anos depois, seu neto, Luís XIV (1643-1715), para impedir que os protes-tantes formassem “um Estado dentro do Estado”, revogou o Êdito de Nantes, em 1685.

    Isso provocou uma enorme evasão de prósperos ban-queiros, comerciantes e artesãos protestantes causando grave crise econômica na França. As gravuras da época nos informam sobre a grande violência praticada nessas guerras em nome da fé.

    Henrique e Margot tornaram-se soberanos do reino de Navarra. De volta a Na-varra, Henrique retornou à religião protestante dizendo que abjurou somente para proteger-se da morte certa nas mãos dos católicos em Paris. Carlos IX morreu em 1574 e ascendeu ao trono seu irmão Henrique III. Esse rei teve seu período de go-verno (1574-1589) sacudido por oito guerras entre católi-cos e protestantes, até que finalmente Henrique de Na-