A Receita de Jesus Para Uma Vida Mais Feliz

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Bem-aventurados os pobres em esprito, pois deles o Reino dos cus. Bem-aventurados os que choram, pois sero consolados. Bem-aventurados os humildes, pois eles recebero a terra por herana. Bem-aventurados os que tm fome e sede de justia, pois sero satisfeitos. Bem-aventurados os misericordiosos, pois obtero misericrdia. Bem-aventurados os puros de corao, pois vero a Deus. Bem-aventurados os pacificadores, pois sero chamados filhos de Deus. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justia, pois deles o Reinodos cus. Bem-aventurados sero vocs quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calnia contra vocs.

Mateus (5:3-11)

Copyright 2009 por Davidson Freitas, Elcemar Almeida, Frei David Olm, Guilhermino Cunha, Jorge Linhares, Jr Vargas, Lucas Ribeiro, Nolio Duarte, William Douglas

Editor responsvel Superviso Editorial Produtora Editorial Capa Copidesque Reviso

Projeto grfico e diagramao

Nataniel dos Santos Gomes Clarisse de Athayde Costa Cintra Fernanda Silveira Valter Botosso Jr Norma Cristina Guimares Braga Margarida Seltmann Cristina Loureiro de S Joanna Barro Ferreira Julio Fado

CIP-BRASIL. CATALOGAO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ R244 A receita de Jesus para uma vida mais feliz/[William Douglas... et al.]. - Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2009. ISBN 978-85-7860-010-5 1. Sermo da montanha. 2.Vida crist. I. Douglas, William. 09-0102. CDD:226.907 CDU: 226.9

Todos os direitos reservados a Thomas Nelson Brasil Rua Nova Jerusalm, 345 Bonsucesso Rio de Janeiro RJ CEP 21402-325 Tel.: (21) 3882-8200 Fax: (21) 3882-8212 / 3882-8313 www.thomasnelson.com.br

S umrio

Introduo 1. Bem-aventurados os pobres em esprito, pois deles o Reino dos cus. (Mateus 5:3) William Douglas 2. Bem-aventurados os que choram, pois sero consolados. (Mateus 5:4) Davidson Freitas 3. Bem-aventurados os humildes, pois eles recebero a terra por herana. (Mateus 5:5) Guilhermino Cunha 4. Bem-aventurados os que tm fome e sede de justia, pois sero satisfeitos. (Mateus 5:6) Frei David Olm 5. Bem-aventurados os misericordiosos, pois obtero misericrdia. (Mateus 5:7) Elcemar Almeida

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6. Bem-aventurados os puros de corao, pois vero a Deus. (Mateus 5:8) Lucas Ribeiro 7. Bem-aventurados os pacificadores, pois sero chamados filhos de Deus. (Mateus 5:9) Nolio Duarte 8. Bem-aventurados os perseguidos por causa da justia, pois deles o Reino dos cus. (Mateus 5:10) Jorge Linhares 9. Bem-aventurados sero vocs quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calnia contra vocs. (Mateus 5:11) Jr Vargas

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O Autor Foi Jesus Cristo que proferiu as bem-aventuranas. Emmet Fox nos oferece sobre ele uma descrio precisa: Jesus Cristo , sem dvida alguma, a figura mais importante que j surgiu na Histria da Humanidade. Voc pode encar-lo dos pontos de vista mais diversos, mas ter de concordar com isso; chame-o de Deus ou de homem, considere-o o maior Profeta e Professor ou Mestre do mundo, ou apenas um fantico bem-intencionado, cuja curta e atribulada carreira pblica terminou em dor, em fracasso e em runa. Qualquer que seja a maneira de voc o encarar, o fato que a vida e a morte de Jesus, e os ensinamentos a ele atribudos, influenciaram o curso da Histria mais do que qualquer outro homem; mais do que Alexandre, Csar, Carlos Magno, Napoleo ou Washington. Mais vidas humanas so influenciadas por suas doutrinas ou, pelo menos, pelas doutrinas a ele atribudas hoje em dia; mais livros so escritos, lidos e comprados a seu respeito; mais conferncias ou sermos so feitos sobre ele do que sobre todas as outras personalidades acima reunidas. (Fox, p. 11)

introduo

Seja qual for a sua opinio sobre o assunto, a aquisio deste livro demonstra seu interesse por um dos mais conhecidos discursos de Cristo. Para ns, foi um prazer caminhar por este texto. Esperamos que voc aproveite a jornada que agora faremos juntos, por entre nove olhares sobre o Sermo do Monte, cada autor focando em um dos versos do Evangelho de Mateus. O Sermo do Monte

Noo geralAs bem-aventuranas esto presentes em dois livros da Bblia, Mateus e Lucas, em que so abertos dois sermes: o do Monte, ou Montanha (em Mateus 5); e o da Plancie (em Lucas 6). De um modo geral, os comentaristas entendem que os dois sermes renem os ensinamentos de Jesus proferidos em diversas ocasies, medida que expunha suas ideias e treinava seus seguidores para continuarem a propagar as boas novas do Reino mesmo aps sua morte, que (ele mesmo advertia) ocorreria em breve. Segundo Champlin (vol. 2, p. 64), O sermo da Plancie, em Lucas, paralelo em parte ao Sermo da Montanha, em Mateus. Ambos apresentam, fora de qualquer dvida, sumrios de materiais, de declaraes etc, no sendo o relato de nenhum sermo isolado. O comentarista conclui que tanto um autor quanto outro se valeram de fontes informativas comuns, no sendo um sermo a cpia do outro. A opinio de que no se trata de um sermo nico, mas a reunio e organizao de ditos de Jesus exarados em vrias ocasies de seu ministrio, compartilhada por Tasker (p. 47). A ideia bsica do Sermo do Monte deve ser considerada sob os dois aspectos presentes no contexto da mensagem de Jesus,l 10 l

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que veio tanto para cumprir a lei e o Velho Testamento quanto para propor que seus seguidores galgassem novos degraus em sua relao com Deus, consigo e com o prximo. Assim, Jesus foi, ao mesmo tempo, um cumpridor da lei mosaica e um revolucionrio disposto a mostrar que tal lei no poderia ser vivida de forma estril ou automtica. Nesse sentido, propunha uma mudana de vida, um arrependimento e um novo corao (um novo nascimento) e, em razo disso, uma nova tica. Desde o Velho Testamento, Deus tencionava chamar um povo para si, um povo diferente, separado do mundo. No apenas os judeus, mas todos quantos quisessem seguir o padro que era proposto. Jesus comeou a percorrer a Galilia declarando ser o Messias prometido e que o reino havia chegado, boas novas que importavam em uma transformao positiva para todos quantos o recebessem. John Stott reitera essa transformao afirmando que O Sermo do Monte (...) descreve o arrependimento (metanoia, a total transformao da mente) e a retido, que fazem parte do reino; isto , descreve como ficam a vida e a comunidade humana quando se colocam sob o governo da graa de Deus. E como que ficam? Tornam-se diferentes! Jesus enfatizou que os seus verdadeiros discpulos, os cidados do Reino de Deus, tinham de ser inteiramente diferentes. No deveriam tomar como padro de conduta as pessoas que os cercavam, mas sim Deus, e assim provar serem filhos genunos do seu Pai celestial (Stott, p. 5). Stott prossegue, logo adiante, enfatizando que o Sermo do Monte descreve o comportamento que Jesus esperava de cada um dos seus discpulos, que so tambm cidados do Reino de Deus.Vemos como Jesus em si mesmo, em seu corao, em suas motivaes, em seus pensamentos (ob. cit.). E reala a questo do contraste com os demais grupos humanos:

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No h um pargrafo no Sermo do Monte em que no se trace este contraste entre o padro cristo e o no-cristo. o tema subjacente e unificador do Sermo; tudo o mais uma variao dele. s vezes, Jesus contrasta os seus discpulos com os gentios ou com as naes pags. Assim, os pagos amam-se e sadam-se uns aos outros, mas os cristos tm de amar os seus inimigos (Mateus 5:44-47); os pagos oram segundo um modelo, com vs repeties, mas os cristos devem orar com a humilde reflexo de filhos do seu Pai no cu (Mateus 6:7-13); os pagos esto preocupados com as suas prprias necessidades materiais, mas os cristos devem buscar primeiro o reino e a justia de Deus (Mateus 6:23,33). Em lugar do conformismo de uma religio formal e exterior, e assim insuficiente, o que vemos nas palavras de Jesus uma proposta de mudana radical: metanoia, a total transformao da mente, o arrependimento. Logo, num misto de complementao e tambm de ruptura, Jesus ofereceu uma verdadeira contracultura. E, ao propor que seus discpulos tivessem uma mente diferente, o resultado seria um comportamento diferente. Como se sabe, as atitudes moldam os pensamentos; os pensamentos moldam os comportamentos; os comportamentos moldam os resultados. Em suma, Jesus propunha que fossemos diferentes... E que tivssemos resultados diferentes. Mudando o homem, Jesus tem o condo de mudar a sociedade inteira.

Uma nova menteAprofundando a ideia de mente e comportamento diferentes, podemos citar Emmet Fox (p. 26): As bem-aventuranas so realmente um poema em prosa composto de versos, que constituem praticamente um sumrio de todos os ensinamentos de Cristo.l 12 l

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uma sinopse mais espiritual do que literria, que sintetiza mais o esprito dos ensinamentos do que sua expresso literal. Esse resumo muito caracterstico do antigo mtodo oriental de ensinar religio e filosofia e lembra o Caminho de Oito Voltas do budismo, os Dez Mandamentos de Moiss e outras snteses de ideias. Jesus preocupou-se exclusivamente em ensinar princpios gerais, que sempre se relacionavam com estados mentais, pois ele bem sabia que, quando os estados mentais da pessoa so corretos, tudo o mais segue o caminho certo, ao passo que, se eles forem errados, nada mais pode ser certo. Ao contrrio de outros grandes mestres religiosos, ele no nos d instrues detalhadas sobre o que devemos ou no fazer; no nos diz o que comer ou beber, ou para no comer ou beber certas coisas; no nos diz para observarmos certos rituais em determinadas ocasies ou estaes. De fato, todos os seus ensinamentos so antirritualsticos e antiformalistas. Jesus tinha pouca pacincia com os sacerdotes judeus e sua teoria de salvao atravs das observncias do Templo. chegada a hora em que nem nesta montanha, nem em Jerusalm, adorarei o Pai... chegada a hora em que o verdadeiro fiel adorar o Pai em esprito e verdade; pois o Pai busca esses para ador-lo. Deus esprito e os que o adorarem tero de ador-lo em esprito e em verdade. Ainda sobre o que seria um estado mental, ou uma atitude mental, Champlin (vol. 1, p. 303) afirma: ... as bem-aventuranas mostram que, para Jesus, a retido mais do que a smula de seus mandamentos; uma total atitude de mente, uma forma particular de carter. Aqueles que so louvados no evangelho so homens e mulheres humildes, amorosos, confiantes, fiis e corajosos. Ainda no so perfeitos, mas so convertidos. Seus interesses e desejos se voltam na direo do Reino de Deus.

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A inteno dos sermes era, portanto, mudar a mente dos discpulos, suas atitudes, comportamentos, resultados e o mundo todo, como consequncia.

A quem Jesus se dirigia nesses sermesJesus falava para seus discpulos e para quem quisesse se tornar seu discpulo. No se dirigia aos que no tinham interesse em Deus, ou duvidavam de sua existncia ou interveno, nem aos que no acreditavam ser ele, Jesus, o Messias. Em suma, no era um discurso voltado para os que ainda tinham que se arrepender, mas aos que j o tinham aceitado. Jesus conclamou todos ao arrependimento, e a ter f nele, mas no caso desses sermes, o foco de Jesus era instruir os que j tinham decidido ser seus seguidores. O texto diz que Jesus se dirigiu aos seus discpulos. Champlin esclarece bem o que essa palavra significa: Os discpulos de Jesus, pois, so aqueles que aceitam a sua cincia, o seu conhecimento, que aderem ao seu reino e so estudantes de sua Nova Lei (Champlin, vol. 1, p. 302). Nada impede que algum incrdulo se encante com a fora e a simplicidade da mensagem e das ideias que esse extraordinrio mestre exps no Sermo do Monte, e por isso queira segui-lo. Porm, definitivamente estamos diante de uma orientao que, apesar de potica, prope-se franca e direta sobre como segui-lo, dirigida aos que j o tinham aceitado.

O sermo passvel de ser posto em prtica? executvel?Muitos estudiosos dizem que, devido maldade e ao egosmo humano, os padres sugeridos so inatingveis e impraticveis. Como pode algum controlar no s seus atos externos, mas tambm seusl 14 l

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pensamentos? Como evitar sucumbir aos desejos sexuais sequer com o olhar? Como amar os inimigos e deixar de desejar a vingana? Como abandonar as preocupaes com comida e vestes, contemplando tranquilo como Deus cuida das flores e dos passarinhos? Se, como diz Stott, o Sermo torna a justia atrativa, envergonha o nosso fraco desempenho, gera sonhos de um mundo melhor (p. ix), ao mesmo tempo nos leva ao questionamento sobre a nossa prpria capacidade de cumprir ideais e padres to nobres. E o mesmo Stott menciona: O prncipe de Tolstoy geralmente considerado como um autorretrato, e muito mal disfarado. No final da novela, Nekhlyudov rel o Evangelho de Mateus.V no Sermo do Monte no lindos pensamentos abstratos, que apresentam principalmente exigncias exageradas e impossveis, mas mandamentos simples, claros, prticos que, se fossem obedecidos (e isto parecendo ser bastante exequvel), estabeleceriam uma ordem completamente nova na sociedade humana, onde a violncia que enchia Nekhlyudov de indignao no s cessaria sozinha, mas tambm a maior de todas as bnos que o homem pode esperar, o reino dos cus na terra, seria alcanada. (...) Tolstoy personificava a tenso entre o ideal e a realidade. De um lado estava convencido de que obedecer ao Sermo do Monte realidade exequvel, enquanto que, de outro lado, a sua prpria atuao medocre dizia-lhe que no . (...) Esses padres so atingveis, mas s por aqueles que experimentaram o novo nascimento, condio esta que Jesus disse a Nicodemos ser indispensvel para se ver e para se entrar no Reino de Deus, pois a justia que ele descreveu no Sermo uma justia interior. Embora se manifeste externa e visivelmente em palavras, em atos e em relacionamentos, continua sendo essencialmente uma justia do

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corao. O que se pensa no corao, e onde o corao colocado, isso o que realmente importa (Stott, p.15-17). Cremos que as orientaes so exequveis, mas como resultado de um processo de transformao que comea com o tornar-se discpulo, com a f e com a ajuda que o prprio Jesus promete a seus seguidores. Vemos em Joo 13, a partir do verso 21, que Jesus prediz sua traio e, logo em seguida, passa suas ltimas instrues aos discpulos, explicando a razo de sua crucificao e anunciando a vinda do Consolador. Nessa conversa final antes de ser crucificado, transcrita no captulo 14 do Evangelho de Joo, Jesus diz: No vos deixarei rfos; voltarei para vs (v. 18); (...) aquele que me ama ser amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele (v. 21); Se algum me ama, obedecer minha palavra. Meu Pai o amar, ns viremos a ele e faremos morada nele (v. 23); Mas aquele Consolador, o Esprito Santo, que o Pai enviar em meu nome, esse vos ensinar todas as coisas, e vos far lembrar de tudo quanto vos tenho dito (v. 26). Cremos assim que, ao oferecer talvez os mais difceis e altos padres morais j vistos, e no a um ou outro iluminado, mas a todos seus seguidores, Jesus ofereceu igualmente a mais espetacular ajuda, fora e companhia para tornar possvel o cumprimento desse novo padro que veio sugerir. Um cuidado importante ao discutirmos a exequibilidade das orientaes resistir tentao de considerarmos o Sermo do Monte com esprito legalista, bem como a lembrar que foi exatamente contra esse esprito, muito caracterstico do ensino dos escribas e fariseus, que Jesus estava falando. Muitos mal-entendidos e frustraes podero surgir se olharmos os preceitos contidos nesta seo como regras que podem ser obedecidas literalmente por todos, em

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qualquer circunstncia, pelo simples exerccio da vontade, do mesmo modo como as leis de um estado terreno podem ser acatadas por seus cidados. A tica do Sermo do Monte, como disse C. H. Dodd, a tica absoluta do Reino de Deus (Tasker, p. 48). Em suma, embora seja executvel com a ajuda do Esprito, o contedo do sermo no uma nova lei propriamente dita, em lugar da lei mosaica, mas uma nova concepo de valores, veculo de um processo de mudana e transformao integral da pessoa que quer seguir Jesus. Se voc est lendo o livro apenas por curiosidade intelectual, timo; mas, se desejar cumprir esse alto padro, recomendamos que permita que seu autor, e o Esprito Consolador que ele prometeu, auxiliem voc a vencer esse desafio. Se Jesus era o que disse ser, isso significa que ele pode fazer morada em seu corao e caminhar com voc diariamente.

Moiss quadruplicado?John Stott escreve o seguinte: No pode haver dvidas de que o Sermo do Monte tem, sobre muitas pessoas, o primeiro efeito j notado. Quando o leem, ficam desesperadas.Veem nele um ideal inatingvel. Como poderiam desenvolver esta justia de corao, voltar a outra face, amar os seus inimigos? impossvel! Exatamente! Neste sentido, o Sermo Moisssimo Moiss (expresso de Lutero); Moiss quadruplicado, Moiss multiplicado ao mais alto grau, porque uma lei de justia interior a que nenhum filho de Ado jamais pode obedecer. Portanto, apenas nos condena e torna indispensvel o perdo de Cristo. No poderamos dizer que esta uma parte do propsito do Sermo? verdade que Jesus no o disse explicitamente, embora esteja na primeira bem-aventurana, como j mencionamos. Mas a implicao est em toda a nova lei, exatamente como na antiga (Stott, p. 25-26).l 17 l

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A observao importante, pois complementa o que dissemos no item anterior: a ideia das orientaes no era ditar uma nova lei que salvasse o homem. Tanto as orientaes antigas, do Velho Testamento, quanto as novas, no salvam. Jesus disse que seriam salvos aqueles que cressem nele, que invocassem seu nome (Mateus 16:16; Joo 3:16,17; Atos 2:21). Moiss falou para no matar, Jesus disse para respeitar at a autoestima; Moiss falou para no adulterar, Jesus disse para no pensar nisso. Jesus diz para fazer as pazes com o irmo antes de levar a oferta, para ter palavra em vez de jurar, para oferecer a face esquerda a quem nos bater na direita, para no se desviar de quem vem pedir um emprstimo, para amar os inimigos, para bendizer quem nos maldiz, para orar e fazer nossas caridades de forma secreta, para perdoar antes de desejar ser perdoado e assim por diante. Logo, Lutero tinha razo ao cham-lo Moisssimo Moiss, Moiss quadruplicado. Mas, em lugar de apenas dar ordens mais difceis, Jesus deu tambm o caminho para realizar isso: um arrependimento, uma total mudana da mente, da atitude, do corao. Ento, ao propor a mais difcil misso, logrou apresentar igualmente a mais simples soluo. Da, o que seria absolutamente impraticvel para quem vive apenas o exterior torna-se, sob certo aspecto, algo fcil. Apenas para dar alguns exemplos, o mesmo Jesus disse que o maior era quem mais servia; lavou os ps dos discpulos; no s recomendou, mas ele mesmo ofereceu, a face esquerda a quem lhe bateu na direita. O mesmo Jesus amou e orou pelos inimigos. Um novo corao, acompanhado do exemplo em Cristo, torna possvel os desafios do Sermo. No concordamos, no final das contas, em que o Sermo Moiss quadruplicado, mas sim que Moiss finalmente explicado e, ento, executvel de forma mais realista e compatvel com a natu-

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reza humana. E, assim como antes, no se trata de um caminho para a salvao, mas sim sua consequncia, para que todos ns possamos amadurecer e nos tornar cidados do novo reino.

A chave para o Sermo do MonteWarren W. Wiersbe (p. 23) informa que, ao seu ver, a chave para esse sermo est em Mateus 5:20, que diz: Porque vos digo que, se a vossa justia no exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos cus. O tema central desse texto a verdadeira justia. Os lderes religiosos possuam uma justia artificial e exterior com base apenas na lei. A justia que Jesus descreve, porm, verdadeira e essencial, comeando no interior, no corao. Os fariseus preocupavam-se com os detalhes da conduta, mas deixavam de cuidar do mais importante, o carter. A conduta decorrente do carter. Concordamos. Mudando o carter de um homem, ele capaz de ser um bom cidado no s do reino dos cus, mas desde j de qualquer reino secular. Posso dizer que nada mudou mais meu carter do que a figura de Jesus, sua vida e seus ensinos. Como declarou Martin Luther King Jr, embora ainda no tenha chegado nem perto da estatura de Cristo, segui-lo j melhorou muito o que eu era antes, o que seria sem ele. O sermo mostra muito da natureza de Jesus, e fornece caminhos seguros para imit-lo. As bem-aventuranas

Noo geralComo j dissemos, as bem-aventuranas surgem no incio dos dois sermes, do Monte (em Mateus) e da Plancie (em Lucas), tratando sobre o carter do cristo. Stott (ob.cit., p. 11)

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afirma que as bem-aventuranas enfatizam oito sinais principais da conduta e do carter cristo, especialmente em relao a Deus e aos homens, e as bnos divinas que repousam sobre aqueles que externam esses sinais. As palavras de Jesus so poticas, literrias, afastando-se do formato convencional da enunciao de leis. Outra virtude das bem-aventuranas que apresentam ao mesmo tempo profundidade e simplicidade formal, em um raro equilbrio. Martin Lloyd-Jones (p. 29) sugere que certas lies podem ser extradas das bem-aventuranas: a. todos os crentes devem ser assim; b. espera-se de todos os crentes que manifestem todas essas qualidades; c. nenhuma dessas descries refere-se quilo que poderamos chamar de tendncias; d. deve haver uma diferena essencial entre o crente e o incrdulo; e. o crente e o incrdulo pertencem a dois reinos inteiramente diversos. Em suma, embora no seja uma tendncia natural dos homens, preciso ter todas essas qualidades e, com isso, ser diferente daquele que no professa a mesma f. Isso tanto verdade que, conforme encontramos no Profeta Malaquias, o momento em que Deus julga no pode coincidir com o incio da diferenciao entre os escolhidos e os demais: Ento vocs vero novamente a diferena entre o justo e o mpio, entre os que servem a Deus e os que no o servem (Malaquias 3:18).

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Na mesma linha, os prprios incrdulos acham esquisito, para no escolher outra palavra, o discpulo de Jesus que no consegue ser diferente dos que no afirmam ter essa f. No s acham esquisito, mas tambm criticam tal postura. Se para ser igual, perguntam-se: Qual o sentido de dizer que crente? Ainda sobre essas diferenas, o mesmo autor (p. 35) observa: Portanto, na passagem que contm as bem-aventuranas, essa a descrio do crente. Voc percebe quo essencialmente diferente o crente do incrdulo? Isso posto, as indagaes vitais que nos convm fazer a ns mesmos so as seguintes: J fazemos parte desse reino? Estamos sendo governados por Cristo? Ele j nosso Rei e Senhor? Estamos manifestando as qualidades recomendadas pelo Sermo do Monte, em nossa vida diria? nossa grande ambio agir assim? Percebemos que isso o que se espera de ns? Estamos sendo verdadeiramente abenoados? Somos felizes? J fomos fartos? Obtivemos a paz? Aps havermos examinado juntos essa descrio geral, como que vemos a ns mesmos? E complementa: Que cada qual examine a si mesmo.

Quem devem ser os bem-aventurados? A quem o texto se dirige?Naturalmente, ao fazer parte dos Sermes dirigidos aos discpulos, as bem-aventuranas indicam o que cada cristo deve almejar, como devem ser sua mente, seu corao, sua conduta. Oferecem, enfim, uma nova tica a ser praticada pelos discpulos. Mais uma vez: esse texto simples, literrio, bonito e profundo no uma tese de doutorado, nem um tratado filosfico, nem uma lista de regras, nem um poema, nem uma proposta de discusso. O texto descreve como deve ser o cristo, de uma forma clara e prtica. Sem voll 21 l

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tas, fundamentaes extensas ou subterfgios, Jesus apenas afirma, dirigindo-se a quem desejava segui-lo, como que um discpulo seu deve pensar, sentir e agir.

As bem-aventuranas devem ser seguidas em conjunto ou podem ser praticadas isoladamente?Existem algumas listas de orientaes ou caractersticas na Bblia: os Dez Mandamentos, as bem-aventuranas, o fruto do Esprito. Em todos os casos, entende-se que no podem ser vistos nem praticados isoladamente. Se por um lado o desafio bem maior, por outro h que se reconhecer que o desenvolvimento de um carter vai permitir sucesso nesse projeto. Ao mesmo tempo, o cumprimento de uma bem-aventurana ajuda no das demais, tanto como um fruto do Esprito contribui para desenvolver o outro. Jesus, em Mateus 5:17 e seguintes, atesta que no basta seguir um ou outro dos mandamentos da Lei. Vale registrar que mesmo nos Dez Mandamentos j encontramos uma orientao que se resolve no plano interno: a cobia. Claro que, ao evitar a cobia, evitamos tambm seus efeitos no mundo real. Assim, a regra que proibia a cobia era profiltica para a vida social. Contudo, algum que desejasse seguir os Dez Mandamentos, e sempre houve aqueles que o desejavam, certamente iria cuidar de um plano interno. Mas mesmo esse mandamento foi aperfeioado por Jesus, pois antes no se devia desejar o que o prximo possua, e agora devamos querer para ele o mesmo que para ns mesmos. A cobia no deseja tomar, ao passo que o amor deseja que o outro tambm tenha. H alguma discusso na contagem das bem-aventuranas, se so oito ou nove (se os versos 10 e 11 representam uma oul 22 l

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duas bem-aventuranas). Optamos por consider-las nove. E nove so, tambm, os frutos do Esprito: amor, alegria, paz, pacincia, benignidade, bondade, f, mansido e temperana (Glatas 5:22). Contudo, o texto de Glatas no fala em frutos, mas em fruto do Esprito. Isso refora que no estamos diante de uma prateleira onde podemos escolher um ou outro produto, mas um nico fruto, com nove caractersticas. No caso das bem-aventuranas, todas decorrem de um nico carter, de modo que a proposta que todos os seguidores sejam humildes, mansos, misericordiosos; tenham o corao puro, sejam capazes de chorar (sensveis); tenham fome e sede de justia e sejam pacificadores. A oitava caracterstica, ser perseguido, provavelmente resultado das primeiras. E por que perseguido? Por ser diferente, e isso praticamente um crime nos grupamentos humanos; essa a razo pela qual os cristos tm vrios inimigos (ver por exemplo Efsios 6:12, Mateus 13:39, 1 Pedro 5:8). Seguir todos os mandamentos, andar em todas as bem-aventuranas e cultivar todas as novas facetas do fruto do Esprito algo perfeitamente compatvel com a proposta de Jesus: Portanto, sejam perfeitos como perfeito o Pai celestial de vocs (Mateus 5:48).

Como interpretar as palavras do Sermo e das bem-aventuranas?Emmet Fox ajuda bastante a responder a essa pergunta: Logo de incio temos de levar em conta algo de grande importncia para o estudo da Bblia, ou seja, que ela est escrita num idioma prprio, e que os termos e expresses e, por vezes, at mesmo as palavras, so usados na Bblia num sentido bem diferente do de todos os dias. Isso alm do fato, em que tambm temos de prestar ateno,l 23 l

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de que certas palavras mudaram de significado desde que a Bblia foi traduzida. A Bblia , na verdade, um texto de metafsica, um manual para o crescimento da alma, e encara todas as questes desse ponto de vista. Por esse motivo, todos os assuntos so nela tratados com a mxima amplido. A Bblia v todas as coisas em relao alma humana e usa muitos termos comuns num sentido muito mais amplo do que vulgarmente lhes atribudo. Por exemplo, a palavra po na Bblia significa no apenas qualquer espcie de alimento fsico, que o sentido mais amplo que po tem na literatura em geral, mas todas as coisas de que o homem necessita todas as coisas materiais, como roupa, abrigo, dinheiro, educao, companheirismo etc; e tambm todas as coisas espirituais, como a percepo, a compreenso e, principalmente, a realizao espiritual. O po nosso de cada dia nos dai hoje. Eu sou o po da vida. A menos que comerdes deste po... Um outro exemplo a palavra prosperidade. No sentido bblico, prosperidade e prosperar significam muito mais do que a aquisio de bens materiais. Significam ser bem-sucedido na orao. Do ponto de vista da alma, ser bem-sucedido na orao a nica espcie de prosperidade que vale a pena; se nossas preces forem bem-sucedidas, obteremos, naturalmente, todas as coisas materiais de que precisamos. Certa quantidade de bens materiais , evidentemente, essencial, mas na realidade as riquezas materiais so a coisa menos importante que h na vida e por isso que a Bblia d palavra prspero o seu verdadeiro significado. Assim, a interpretao de cada uma das palavras deve ser feita no s dentro do contexto do sermo, mas tambm na comparao com as demais palavras de Jesus espalhadas pelos Evangelhos.

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Bnos prometidasUm discpulo, mesmo inexperiente, sabe que no deve privilegiar seus ganhos, benefcios e prmios por seguir o mestre, qualquer que seja ele. Ao mesmo tempo, inegvel que se algum segue outra pessoa, o faz por algum interesse, por mais nobre que seja. No caso das bem-aventuranas, Jesus nos poupou desse dilema ao enfatizar as marcas principais da conduta e do carter cristo, logo informando-nos das bnos divinas que repousam sobre quem externa esses sinais. Se a ideia cumprir tudo, as bnos tambm sero recebidas integralmente, embora Jesus tenha dito que a cada conduta especfica se receber uma retribuio tambm especfica (ser consolado, herdar a terra, alcanar misericrdia etc.). E h um resultado comum a todas: ser bem-aventurado. Bem-aventurados pode ser traduzido por felizes. No entanto, a felicidade muitas vezes percebida subjetivamente e, no caso das bem-aventuranas, ns a consideramos sobretudo um resultado prtico, especfico, para cada uma de suas nove faces. Ernest M. Ligon (The Psychology of Christian Personality, Macmillan, 1935), citado por John Stott, explica que as bemaventuranas no so tanto deveres ticos, mas uma srie de oito atitudes emocionais fundamentais. O homem que reagir ao seu ambiente com esse esprito ter uma vida feliz, pois ter descoberto a frmula bsica para a sade mental.

Quando recebo as bnos prometidas?As bnos so promessas e quem as proferiu tem uma milenar tradio de cumprir o que diz. Os comentaristas concordam que essas bnos so recebidas em parte de imediato, agora, e del 25 l

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modo integral no futuro. Algumas so claramente imediatas, como o consolo e a misericrdia, muito embora possam ser aperfeioadas quando Jesus voltar. Outras, por sua natureza, s podem ocorrer no futuro, como ter todo o desejo de justia saciado e ver Deus, j que no momento ningum pode ver sua face. Nesse sentido vale citar 1 Corntios 13:12: Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, ento, veremos face a face. Agora conheo em parte; ento, conhecerei plenamente, da mesma forma como sou plenamente conhecido. Quando a carta aos corntios foi escrita, os espelhos eram metal polido, que permitiam ao interessado contemplar apenas nebulosamente sua face. Por isso se dizia que se via em parte e que depois se veria plenamente. Da mesma forma, as bnos so recebidas de forma parcial, nebulosa ainda, por enquanto, mas sero experimentadas no futuro em plenitude.

Tanto quanto o prprio Sermo do monte como um todo, praticar as bem-aventuranas possvel ou apenas um ideal inatingvel?Entendemos que a partir da aceitao de Jesus, da atuao do Esprito Santo e do desenvolvimento de um novo carter, perfeitamente possvel que seus seguidores consigam praticar essa nova tica, a tica de um cidado do reino dos cus algum que, salvo pela graa, aja diferente por estar munido de um novo corao, sabedor de que foi criado para as boas obras (Efsios 2:10). bom registrar que estamos diante de um processo de aperfeioamento (amadurecimento, santificao), o qual admite quedas e falhas. A base da salvao o sacrifcio de Jesus Cristo na cruz e no o sucesso absoluto e integral na prtica dos mandamentos.l 26 l

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H uma ordem lgica nas bem-aventuranas?De um modo geral, entende-se que sim, que uma o desenrolar natural da outra. Stott (p. 27) considera as quatro primeiras descritivas do relacionamento do cristo com Deus e as outras voltadas para o relacionamento e para os deveres com o prximo. Discordamos dessa interpretao: a mansido voltada para Deus, mas tem muita relao com o prximo. Um exemplo disso pode ser visto em Provrbios 15:1, A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira, e no prprio Sermo (Mateus 5:39,40): Mas eu lhes digo: No resistam ao perverso. Se algum o ferir na face direita, oferea-lhe tambm a outra. E se algum quiser process-lo e tirar-lhe a tnica, deixe que leve tambm a capa. Lloyd-Jones (p. 37) acrescenta: No h que duvidar que essas bem-aventuranas foram arrumadas em uma sequncia bem definida. Nosso Senhor no as colocou em suas respectivas posies por mero acaso, acidentalmente; antes, h nelas aquilo que poderamos denominar de sequncia lgica e espiritual. Necessariamente, essa a primeira das bem-aventuranas devido excelente razo de que ningum pode entrar no Reino de Deus, tambm chamado reino dos cus, a menos que seja possuidor da qualidade nela expressa. No Reino de Deus no existe sequer um participante que no seja humilde de esprito. Essa a caracterstica fundamental do crente, do cidado do reino dos cus; e todas as demais caractersticas so, em certo sentido, resultantes dessa primeira qualidade. medida que formos avanando na exposio dessa bem-aventurana, verificaremos que ela indica, realmente, um esvaziamento, ao passo que as demais apontam para uma plenitude. No poderemos ser cheios enquanto no formos primeiramente esvaziados. No se pode encher de vinho novo um odre cujo contedo ainda no tenha sidol 27 l

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despejado. Essa, pois, uma das afirmativas que nos fazem recordar que existe uma espcie de esvaziamento antes que possa haver um enchimento. O Evangelho sempre exibe essas duas facetas; h o derribamento e h tambm a edificao.

O que ser bem-aventurado?Essa indagao j foi bem resolvida por Champlin: Bemaventurados. Essa palavra e suas cognatas so usadas cerca de cinquenta vezes no Novo Testamento, sendo uma das muitas que o uso do Novo Testamento expandiu e dignificou quanto ao seu sentido. A raiz original, no grego clssico, parece significar grande, e desde cedo foi usada como sinnimo de rico, mas quase sempre aludindo prosperidade externa (no espiritual). Na literatura grega primitiva, era palavra aplicada aos deuses e sua condio de felicidade, em contraste com a situao medocre de homem. Os filsofos gregos usavam-na dotada de certo elemento moral, e algumas vezes indicavam, por meio dela, que a felicidade resulta da excelncia do carter. Alguns intrpretes acreditam que o uso que Jesus fez da palavra aqui reflete as ideias e expresses hebraicas que se encontram, por exemplo, em Salmo 1:1; 32:1 e 112:1, onde a palavra hebraica ashr, ou quo feliz, indica a condio de felicidade em vista. As bem-aventuranas, portanto, declaram quem so os felizes, aos olhos de Deus. O uso neotestamentrio tem soerguido a ideia inteira de felicidade at as regies espirituais. A verdadeira felicidade inclui aquele bem-estar ou estado de bem-aventurana associado correta relao do homem para com Deus. Esse mesmo vocbulo aplicado aos mortos que morrem no Senhor (Apocalipse 14:13), e esse uso, por sua vez, extremamente

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instrutivo. Poderamos dizer, com igual verdade, Bem-aventurados os que vivem no Senhor, e essencialmente isso que Jesus dizia ao pronunciar as bem-aventuranas (vol.1, p. 303).

Bem-aventuranas e atitudesWiersbe (p. 23) traa uma excelente relao do texto com as atitudes: As bem-aventuranas descrevem as atitudes que devem estar presentes em nossa vida hoje. Veremos aqui quatro dessas atitudes. Atitude em relao a si mesmo (v. 3). Ser humilde significa ter uma opinio correta de si mesmo (Romanos 12:3). No quer dizer ser pobre de esprito e fraco! A humildade o oposto das atitudes atuais de autoafirmao e exaltao. Tambm no uma falsa humildade, como aquela que diz no tenho valor algum, no sou capaz de fazer nada, mas sim, uma atitude de honestidade em relao a si mesmo: conhecer-se, aceitar-se e tentar ser autntico para a glria de Deus. Atitude em relao ao pecado (vv. 4-6). Ficamos profundamente tristes com nosso pecado e o rejeitamos. Vemos o pecado como Deus o v e procuramos trat-lo como Deus o trata. Aqueles que encobrem ou defendem o pecado esto, sem dvida alguma, indo pelo caminho errado. No devemos apenas nos entristecer com o pecado, mas tambm nos sujeitar a Deus com mansido (ver Lucas 18:9-14; Filipenses 3:1-14). Mansido no o mesmo que fraqueza, pois tanto Moiss quanto Jesus foram homens mansos (Nmeros 12:3; Mateus 11:29). O adjetivo manso era usado pelos gregos para descrever um cavalo domado e se refere ao poder sob controle. Atitude em relao a Deus (vv. 7-9). Experimentamos a misericrdia de Deus quando cremos em Cristo (Efsios 2:4-7), e elel 29 l

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nos d corao puro (Atos 15:9) e paz interior (Romanos 5:1). Mas, depois de receber sua misericrdia, ns a compartilhamos com outros. Esforamo-nos por manter o corao puro a fim de buscar a Deus. Tornamo-nos pacificadores em um mundo perturbado e canais para a paz, a pureza e a misericrdia de Deus. Atitude em relao ao mundo (vv. 10-16). No fcil ser um cristo consagrado. Nossa sociedade no tem amizade com Deus nem com o povo de Deus. Quer gostemos quer no, estamos em conflito com o mundo, pois somos diferentes e temos atitudes diferentes. Ao ler as bem-aventuranas, observamos que mostram uma perspectiva radicalmente diferente daquela do mundo ao nosso redor. O mundo estimula o orgulho e no a humildade. O mundo incentiva o pecado, especialmente se for possvel escapar sem punio. O mundo est em guerra com Deus, enquanto Deus deseja se reconciliar com seus inimigos e receb-los como filhos. Quem vive de maneira agradvel a Deus deve esperar perseguies. Mas importante certificar-se de que o sofrimento no resultante da prpria insensatez ou desobedincia.William Douglas

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