A Providência Divina Entre A

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ANDERSON DA SILVA OLIVEIRA JERAH FONSECA CARVALHO JOÃO VICTOR NOVACOSQUE SILVA A PROVIDÊNCIA DIVINA ENTRE A HISTÓRIA IDEAL ETERNA E A HISTÓRIA DO MUNDO CIVIL

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Esboço de Tese sobre Vico

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ANDERSON DA SILVA OLIVEIRAJERAH FONSECA CARVALHOJOO VICTOR NOVACOSQUE SILVA

A PROVIDNCIA DIVINA ENTRE A HISTRIA IDEAL ETERNA E A HISTRIA DO MUNDO CIVIL

Campinas

2014ANDERSON DA SILVA OLIVEIRAJERAH FONSECA CARVALHOJOO VICTOR NOVACOSQUE SILVA

A PROVIDNCIA DIVINA ENTRE A HISTRIA IDEAL ETERNA E A HISTRIA DO MUNDO CIVIL

Trabalho de aproveitamento apresentado disciplina Filosofia da Histria do Curso de Filosofia da Pontifcia Universidade Catlica de Campinas, sob a orientao do Prof. Dr. Renato Kirchner, para obteno de crditos.

Campinas2014

Sumrio

Captulo I O AutorGiambattista Vico Vida E obra 3Captulo II - O Fundamento Da Cincia Nova 1.O Que Podemos Conhecer Princpio Do Verum-Factum6Captulo III - A Cincia Nova9Histria Ideal Eterna e Providncia 12Concluso15Referncias Bibliogrficas16

GIAMBATTISTA VICO VIDA E OBRA

Vico nasceu no dia 24 de junho de 1668[footnoteRef:1], em Npoles, na Itlia. Descreve-se em sua autobiografia, escrita entre 1725 e 1728, como filho de honrados pais, que deixaram muito boa fama de si. O pai era de humor alegre, a me, de temperamento muito melanclico; assim, ambos concorreram para a natureza deste seu filho.. [1: Alguns historiadores divergem sobre o nascimento do filsofo. O prprio Vico escreve em sua autobiografia que nasceu em 1670 e no em 1668, como afirmam os historiadores. Tambm h divergncias entre o dia de seu nascimento, alguns livros datam o dia 23 de junho e no o dia 24, assim como a data de sua morte entre 20 e 23 de janeiro de 1744. Contudo, ser levada em conta a data citada.]

A Itlia, na sua poca, no tinha expresso alguma no cenrio filosfico, apesar de toda a Europa ter sido dominada pelos padres de sensibilidade e de pensamento oriundos da Itlia durante o comeo da Idade Moderna, entre os sculos XVI e XVII. No sculo XVIII, quando nasce Vico, toda essa primazia italiana havia dado lugar aos pensamentos de outros pases europeus, principalmente Frana e Inglaterra. Isso ocorreu devido perda do poder econmico das cidades italianas e no triunfo da Contra-Reforma da Igreja Catlica, alm do poder do papado sobre a pennsula. A partir da, por mais de duzentos anos a Itlia foi condenada a papel secundrio na histria das ideias. Grande parte dos pensadores italianos resumia-se em comentadores de ideias produzidas em outros pases. nesse contexto conturbado da filosofia italiana que surge Vico. Em sua autobiografia encontram-se muitos elementos que permitem compreender a natureza de suas ideias, inclusive sabe-se que teve aulas com o padre Giuseppe Ricci, jesuta, seguidor de Duns Scoto, e teve por mestre espiritual o padre Antonio dal Balzo, filsofo nominalista. Estudou direito civil, na escola de Felice Aquadies, professor de direito civil na Universidade de Npoles. Porm, no concluiu seus estudos universitrios, por viver tempos difceis na famlia. Viveu por nove anos no castelo de Vatolla, no Cilento onde foi preceptor dos filhos do marqus Domenico Rocca. Foi a que, utilizando a rica biblioteca do marqus, adquiriu grande parte da sua cultura. Dedicou-se a estudar Plato, filsofo de quem mantinha admirao pelo valor metafsico e o carter tico-social de suas doutrinas. Foi tambm durante esse tempo que teve seus primeiros contatos com a filosofia de Descartes, que depois ser vtima de ferrenhas crticas de Vico, sobretudo na Cincia Nova, sua principal obra.Aps esse perodo em Vatolla, voltou a Npoles e, em 1699 passou a ocupar o cargo de professor de retrica da universidade. Nesse ofcio, um de seus deveres era inaugurar o ano letivo com uma dissertao em latim, fez algumas, entre elas a mais importante, intitulada de De nostri temporis studiorum ratione[footnoteRef:2], pela primeira vez torna pblica sua oposio em relao s novas correntes filosficas e cientficas da poca, sobretudo o pensamento cartesiano, e pelas antecipaes de sua interpretao da histria, analisando uma questo acadmica e convencional: qual a melhor maneira de estudar? A dos antigos ou dos modernos? [2: Sobre o Mtodo de Estudos de Nosso Tempo.]

Em 1710 publicou De antiqussima Italorum sapientia ex linguae latinae originibus eruenda[footnoteRef:3]. Obra inspirada no dilogo platnico Crtilo, em que Plato analisa o problema da origem e da natureza da linguagem. Esta obra que deveria resultar de trs livros dedicados metafsica, fsica e moral, respectivamente resultou de fato apenas no primeiro, sendo interrompidas devido a imensas crticas, inclusive pelo Jornal dos literatos da Itlia, sob um ponto de vista filolgico. Nela Vico, atravs da anlise de palavras latinas eruditas, busca remontar s doutrinas dos primeiros povos itlicos, que transmitiram essas palavras lngua latina. [3: Sobre a Antiqussima Sabedoria dos Itlicos, Extrada de Originais em Lngua Latina. ]

Interessado pela histria jurdica e desejando participar do concurso para a ctedra primria matutina de leis, que remunerava muito melhor que a de retrica, escreveu em 1720 o De universi jris uno principio et fine uno[footnoteRef:4]. No obteve compreenso devida e contando com polmicas e intrigas acadmica no o conseguiu nenhum voto no concurso. [4: Sobre o Princpio nico e o nico Fim do Direito Universal.]

Em 1715, concluiu sua principal obra, entre grandes problemas financeiros e pessoais. Intitulou-a de Principi di uma scienza nuova intorno alla comune natura dele nazioni[footnoteRef:5], conhecida como Nova cincia primeira. Foi obrigado a reduzi-la, para poder pagar as despesas da publicao, e depois a aperfeioou. Sem dvida estava convencido da solidez e da novidade de sua obra. [5: Princpios de uma nova cincia a respeito da natureza das naes.]

No mesmo ano escreveu sua autobiografia, a pedido de Giovan Artico de Porcia,que tinha a pretenso de publicar uma srie de biografias de contemporneos. A primeira parte foi publicada sob a responsabilidade de ngelo Caloger, na Coletnea de opsculos cientficos e filolgicos entre 1725 e 1728, com o ttulo de Vida de Giambattista Vico escrita por ele mesmo. A segunda parte foi publicada apenas em 1818. Dedicou os ltimos anos de sua vida na reelaborao da Nova Cincia, publicada em segunda edio em 1730, e que ficou conhecida como Nova cincia segunda. Depois uma terceira edio com novos acrscimos em 1744, ano de sua morte.Sua obra maior foi recebida com certa simpatia na Itlia, porm ignorada na Europa. Apenas muito tempo depois, no sculo XX, sua obra foi devidamente reconhecida como grande e seu pensamento foi levado em conta, a ponto de ser visto como o maior filsofo da Itlia e um grande filsofo da histria.

O FUNDAMENTO DA CINCIA NOVA

1. O QUE PODEMOS CONHECER PRINCPIO DO VERUM-FACTUMA crtica filosofia cartesiana dominante em seu tempo ponto principal para a compreenso da filosofia de Vico - pode-se dizer que ponto de partida de seu pensamento e obra. Essa crtica, antes de tudo, baseia-se na afirmao de Vico de que s possvel ter cincia, ou seja, conhecer, daquilo que se est em condies de fazer ou re-fazer. Descartes, como indica Pecoraro (2009), rejeitava a histria e a tradio como fontes de conhecimento seguro, chegando mesmo ao ponto de desprez-las, reconhecendo apenas a fsica e a matemtica como cincias verdadeiras. Contudo, para o filsofo napolitano, os princpios do mundo civil so mais certos do que os princpios que governam o mundo natural, isso ocorre porque o mundo civil uma criao humana. Essa distino entre nosso conhecimento da natureza do conhecimento do mundo civil, ou seja, do que obra humana, central para o pensamento de Vico. O homem s pode conhecer as coisas que ele mesmo cria, de modo que somente Deus, criador de tudo, pode conhecer tudo. A fsica e a matemtica so passveis de conhecimento porque tambm so criaes humanas. Ora, se o homem pode apenas conhecer aquilo que capaz de fazer ou re-fazer assim sendo, no pode conhecer a natureza ou at o prprio ser, pois so criaes de Deus e o homem no artfice de si mesmo, portanto so objetos apenas do conhecimento divino , nos limites de sua capacidade emprica, pode ser capaz de conhecer a histria do mundo civil, o mundo da histria, onde o homem se faz protagonista, segundo Vico (1979):Este mundo civil certamente foi feito pelos homens e seus princpios podem, porque devem, ser encontrados dentro das modificaes de nossa prpria mente humana. Quem quer que reflita nisso, deve ficar maravilhado como todos os filsofos esforaram-se seriamente por alcanar a cincia deste mundo natural, do qual s Deus tem cincia porque o fez, mas deixaram de meditar sobre este mundo das naes, ou seja, o mundo civil, do qual os homens podem ter cincia, j que eles o fizeram. Dessa forma, fica claro que o protagonismo do homem na criao da histria das naes o que permite que esta seja passvel de conhecimento ao homem. Socivel por natureza, o homem livre, autor e protagonista da prpria histria[footnoteRef:6]. O que Vico sustenta a centralidade do arbtrio humano: no v a histria como algo j traado e precisa apenas ser cumprido, mas como construo gradual da humanidade, movida por suas paixes. [6: Entende-se aqui a histria no como a de um homem em particular, mas a histria das naes, criada pela humanidade, ponto crucial na filosofia da Cincia Nova. ]

Logo no incio de sua Cincia Nova, Vico estabelece ser prprio dos seres humanos viverem em sociedade - as sociedades em suas diversas culturas e singularidades so um feito humano e como tal podem ser objeto de conhecimento. O homem pode pensar e entender a histria porque a sua realidade fatual.Os princpios de fato e verdade remetem de forma quase direta a Plato, entendendo por fato o mundo histrico, o que se encontra na realidade e verdadeiro a ideia, a filosofia, sabedoria ideal, que tem por objeto o verdadeiro; e a filologia, sabedoria vulgar, ocupa-se do fato. Associando a Plato, o verdadeiro o que nos remete a ideia perfeita, o fato mutabilidade sensvel.Entretanto, ao mesmo tempo em que se aproxima de Plato, afasta-se dele, visto que, segundo Vico, as manifestaes humanas fundamentais (como a retrica, a poesia, a histria e at a prpria prudncia que rege a vida) no tm origem nas verdades geomtricas, no verdadeiro, mas no verossmil (ABBAGNANO, 1982). O verossmil a verdade problemtica que se encontra entro o verdadeiro e o falso. Na maior parte das vezes verdadeiro. a verdade humana por excelncia. , portanto, a relao sinttica entre os pontos do verdadeiro e do fato.O que Vico defende, portanto, em contraponto a Descartes, que resolve todas as certezas vlidas na necessidade da razo geomtrica, puramente ideal (ABBAGNANO, 1982), que fato e verdade devem se compenetrar. No separadas, mas unidas, em uma relao sinttica, uma complementando a outra: o processo ideal deve encontrar-se no processo histrico, sem trair seu contedo e sem perturbar seu desenvolvimento (REALE; ANTISERI, 2009, p.199). Assim, a Verdade e o Fato se correspondem, para Vico. Esta correspondncia ser o princpio fundamental de sua Cincia Nova, o princpio do verum-factum (BURKE, 1997).

A CINCIA NOVA

Tendo em vista o princpio do verum-factum e sabendo que o homem capaz de conhecer apenas aquilo que artfice - portanto, a histria, construda e protagonizada por ele-, Vico funda a Cincia Nova. Cincia capaz de investigar a histria das naes, a natureza comum dos diversos povos, e entender o curso que se segue a partir dos princpios sobre a qual fora fundada. No incio da obra, considerada sua obra-prima, Vico utiliza de uma imagem chamada por ele de Tbua das coisas civis[footnoteRef:7] que, segundo o mesmo, permite que se chegue concepo da ideia da obra antes mesmo de t-la lido (VICO, 1979): [7: Disponvel em: Acesso em: nov. 2014]

A mulher direita da imagem, sobrepondo-se ao globo terrestre, que aqui representa o mundo da Natureza, a Metafsica. O tringulo luminoso que se mostra com um olho em seu interior representa Deus, sob o aspecto de sua providncia. A metafsica, por conseguinte, segue contemplando, como sempre o fizera, por sobre a ordem das coisas naturais e assim que os filsofos tambm contemplaram a providncia. como Vico evidencia (1979):Justamente essa a razo de ela [a Metafsica], nesta obra, elevando-se sem mais altaneira, contemplar em Deus o universo das mentes humanas, ou seja, o universo metafsico, manifestando assim a sua providncia no universo das mentes humanas, que o mundo civil ou o mundo das naes. Este, como de seus constituintes, formado de todas aquelas coisas representadas nesta pintura pelos hierglifos, que ela mais abaixo exibe.

Logo abaixo, esquerda, est a esttua de Homero, primeiro autor dos gentios.e que aqui representa a histria dos povos gentios, a mitologia, uma forma primeira de explicar e registrar a histria, mesmo que sem muita clareza. Contudo, Vico considera tais formas autnticas e legtimas, sobretudo os grandes poemas de Homero Ilada e Odisseia. Foi por conta dele que muito da histria manteve-se ainda viva. Vico evidencia ainda a importncia das religies, na figura representada pelo altar, pois foi por elas que o mundo civil comeou entre todos os povos.Por conseguinte, Vico expe toda ideia de sua obra: a Metafsica que contempla Deus, artfice de tudo, sobre o mundo da natureza assim como o prprio nome metafsica sugere e Deus iluminando a histria com a providncia. A histria,consequentemente, no desligada sucesso de fatos, ou regida pelo acaso ou um destino, obra dos homens, que tentando descobrir as leis da natureza, ininteligveis, exceto para Deus, tornam-se capazes de compreend-las apenas no mundo da histria, visto que apenas este obra humana. O objetivo da Cincia Nova indagar o mundo histrico, que por sua vez, busca revelar a ordem e as leis deste mundo. nova apenas na reflexo sobre histria, visto que como reflexo nasceu apenas em um determinado momento da prpria histria. Pensada de outro modo antiqussima tambm, pois nasceu com o homem e sua vida social, comeou a partir do momento em que os homens comearam a pensar humanamente (ABBAGNANO, 1982). sob esse aspecto que Vico escreve sua obra magna, com o ttulo Princpios de (uma) cincia nova: (acerca da natureza comum das naes) buscando investigar pontos essenciais da histria, embora parea conhecer absolutamente toda a obra desde o comeo, como se a tivesse escrito gradualmente durante toda sua vida. Como o prprio autor prope pensar: conhece-a, pois artfice de sua prpria obra, O que podemos afirmar que, mesmo com as dificuldades de sua contemporaneidade, Vico , sem dvida, um filsofo a frente de seu tempo, e se faz grande principalmente na forma como se prope a fazer filosofia na Cincia Nova.

HISTRIA IDEAL ETERNA E PROVIDNCIA

Como vimos o estudo da Histria, para Vico, encontrar o fio condutor que d sentido a histria pelas mudanas que ocorrem na mente humana. nessa analise concreta que se encontra e prova a Divina Providncia, ou como diz o prprio Vico s podemos conhecer a Deus providente nos fatos morais pblicos, isto , nos costumes civis (VICO, G., p. 11). A Histria entendida, pois como metafsica da mente humana.Enrico Pascucci (1994) e Humberto Guido (2009) consideram o conceito viquiano de Providncia Divina central e essencial para a compreenso da filosofia de Vico. Para Pacucci a noo de providncia est to conectada com os demais temas da filosofia de Vico que profundizar en la nocin de Providencia y tratar de fijar su significado supone...profundizar en los temas ms relevantes del pensamento viquiano (PASCUCCI, Enrico, 1994, p. 13), isso ocorre justamente, porque se o principio do verum-factum o que fundamenta metodologicamente a Cincia Nova o conceito de providncia divina que confere sentido a matria e ser objeto de estudo na medida em age e conserva o mundo civil. Portanto da conduta da Providncia divina em relao ao mundo civil que a cincia nova se ocupa.Antes, contudo, de nos aprofundarmos no conceito de Providncia viquiano cabe fazer uma rpida meno, para melhor compreender a diferena e originalidade da abordagem do filosofo sobre o conceito, sobre como a Providncia era compreendida antes de Vico. Ademais como afirma Burke sua noo de providncia no exatamente tradicional (BURKE, Peter, 1997, p. 72).Como bem nota Pascucci (1995) a providncia um dos temas mais antigos da filosofia. Era concebida em um primeiro momento como a Razo das coisas que se dirigem a um fim, de modo que havia uma ordenao inteligente a uma finalidade especifica de modo homogneo a toda natureza, estando sempre relacionada na maioria das vezes em contextos desticos. Com o surgimento do cristianismo foi passado a incorporar a palavra divina noo Providncia, nesse sentido cristo Providncia divina designa o governo de Deus do mundo de acordo com seu plano de salvao, sendo esta a meta final da histria (PASCUCCI, 1995). Vico romper com a noo tradicional de providncia buscando realizar uma sntese, primeiro retomando a noo clssica de tempo histrico cclico, opondo-se viso de tempo linear crist, segundo, embora as naes, dentro deste ciclo, sigam um curso e recurso necessrio em sua ordem, no um curso homogneo em todas as naes. Os cursos se dobram e se cruzam podendo cada nao estar em qualquer uma das trs diferentes idades em uma mesma poca. As trs eras propostas por Vico so a idade dos deuses: na qual os homens criam que eram governados por deuses que determinavam tudo; a idade dos heris: onde imperava o conhecimento fantasioso e as repblicas aristocratas; e as idades dos homens na qual predomina o conhecimento racional e os homens se reconhecem iguais pela natureza humana (VICO, 1979). De cada idade se passa sucessivamente a outra seguinte em uma ordem necessria, da idade dos deuses para a idade dos heris, e desta para a idade dos homens. Na idade dos homens, aps essa atingir seu pice, ocorre um recurso para a idade dos deuses, e assim permanece o ciclo. Contudo temos que lembrar que Vico alm de ser um homem educado em uma tradio humanista que buscava resgatar os clssicos, era cristo catlico, e como tal no podia tirar Deus como ordenador da Providncia. O que motiva a passagem de uma idade outra no so fatores exteriores as instituies e mentes humanas, mas motivos internos. As mudanas nas sociedades ocorrem de forma interna, no interior das sociedades. Burke (1995) alude a este desenvolvimento interno, como sendo um dos aspectos centrais e mais originais do pensamento de Vico. Essas mudanas ocorrem nas mentes humanas, principalmente por processos sociais. Ao definir a Cincia Nova como uma teologia racional providncia divina (VICO, G., 1979, p. 10), por racional Vico quer dar a entender que tratar da providncia na histria dos povos gentis, em mbito social e civil e no em mbito sobrenatural, ou na perspectiva da salvao. Essa mudana no intencional das instituies e da mente humana apresentada por Vico como uma sntese de duas concepes contrrias sobre o curso da Histria, o fatalismo dos estoicos e o acaso dos epicuristas:

O que fez tudo isso foi na verdade a mente, dado que o fizeram os homens com inteligncia. No se trata de destino, porque o fizeram com escolha. Nem foi acaso, porque com perpetuidade, assim sempre agindo, chegam s mesmas coisas (VICO, 1979, p. 184).

A Providncia pode ser entendida assim como o cuidado e a conservao da sociabilidade e do desenvolvimento da mente humana. Esse o sentido original de Providncia divina viquiano, sentido que mantm toda liberdade e protagonismo do homem na histria do mundo civil, pois ele quem cria e governa este mundo. No entanto deixa entrever, ao unir filosofia e filologia, o projeto de uma histria ideal eterna, sobre a qual fluem no tempo as histrias de todas as naes. (VICO, 1979, p. 12). pelo fio condutor da histria ideal eterna, entrevista nas aes da providncia no mundo civil que pode ser conferido um sentido comum a histria de todas as naes, que todas as atitudes individuais e caticas podem servir ao bem geral. Peter Burke ao se referir a histria ideal eterna diz que (BURKE, 1995):

Quando usava a expresso histria ideal eterna, Vico estava afirmando que certas tendncias histricas capitais se repetem, dando assim origem a uma sequncia de formas genericamente semelhantes de organizao poltica, direito, mentalidade, literatura etc. No pretendia que tudo o que acontece seja determinado.

Vico no pensava as primeiras idades como a maior parte dos homens de seu tempo, imbudos dos ideais iluministas, como idades de trevas e de irracionalidade. Sobre a qualidade das trs pocas Burke (1997) diz que Vico negava que alguma das trs idades pudesse ser considerada melhor ou pior do que outra, pois cada uma tinha pontos bons e maus, que era impossvel separar

CONCLUSO

Os filsofos contemplaram a divina providncia apenas do ngulo da ordem natural e no do ngulo da ordem socivel dos homens, sob este ngulo que Vico ver a Divina Providncia, ou seja, pela sua ao no mundo civil, cuidando para preservar a vida e a sociedade humana. Fazendo com que se realize, mesmo que cada vez mais incerto, gradualmente o projeto de uma histria ideal eterna, graas a interveno da divina providncia que vem ao auxilio dos homens em tempos de crise.Assim a histria caminha em sua pluralidade em curso e recurso do ciclo das idades. Cincia Nova cabe estudar as mudanas na mente humana que causam a passagem de uma idade para outra conservando a humanidade e o mundo civil, campo de ao daquela. A providncia divina ao mesmo tempo em que garante a liberdade de ao do homem no mundo civil, deixa entrever o projeto de uma histria muito maior que confere unidade e sentido todas as naes, o projeto de uma Histria Ideal Eterna.

REFERNCIA BIBLIOGRFICA

ABBAGNANO, Nicola. Storia Della Filosofia. 3 ed. Lisboa: Presena, 1982.BURKE, Peter. Vico; traduo Roberto Leal Ferreira. 1 ed. So Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1997.

GUIDO, Humberto. Vico, in Os filsofos: clssicos da filosofia, v.I de Scrates a Rousseau/ Rossano Pecoraro (org.). 2. Ed.Petrpolis, RJ:Vozes; Rio de Janeiro: Puc Rio, 2009.

PASCUCCI, Enrico. G. B. Vico: el establecimiento del orden natural a travs de la nocin de providencia. 1995. Tese (doutorado filosofia). Universidad Complutense de Madrid, Madri, 1995.

PECORARO, Rossano. Filosofia da Histria. 1 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. Histria da filosofia/ Giovanni Reale, Dario Antiseri; traduo Ivo Storniolo. So Paulo, SP: Paulus, 2009. 7v.

VICO, Giambattista; PRADO, Antonio Lzaro de Almeida. Princpios de (uma) cincia nova: (acerca da natureza comum das naes). 2. ed. So Paulo: Abril, 1979.