A Prova Operatoria

37
8/7/2019 A Prova Operatoria http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 1/37 PAULO AFONSO CARUSO RONCA CLEIOE DO AMARAL TERZI A PROVA OPERATORIA Contribuico es da Psicologia do Oesenvolvimento

Transcript of A Prova Operatoria

Page 1: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 1/37

PAULO AFONSO CARUSO RONCA

CLEIOE DO AMARAL TERZI

A PROVA

OPERATORIA

Contribuico es da Psicologia

do Oesenvolvimento

Page 2: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 2/37

Doutor em Psicologia Educacional pela Universi-

dade Estadu al de Campinas e Dlrctor do lnstituio

Esplan, em Stio Paulo, II Ru a Mu noel da Nobrega,620 -Fones: (011) 885-0931-885-0')82.

CLElDE lJOA!H;\}v\L TEUZI

Especialista em Educaciio pela PUC e Assessora

e Consultoru Pedugogit:a de "Ronca e Terzi",

Consultores Assossiuclos, IIRua Domicio da Guma

79, Fone: (011) 864-8201. Silo Pllulo.

Page 3: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 3/37

II I! !

l

Mario Sergio Cortella *

A PROVA OPERATORIA

APRESENTA{:'A0

Quando comccci a lcr cste estudo pela primeira vez fiquei um poueo incomodado

pois nu nca live muita afinidade com 0 tratamento oferccido pela Psicologia do

Des euvolvime nto as questocs pedagogicas: por vicios na minha Iormacao cicntifica

e ate pclo negative ran\o "psicologista" que predominou em alguns momentos da

historia da educacao brasileira, ne m semprc dei crcd ito as conccpcoes dcssa area da

Psicologia.

Im a ginci - ineorretamente - quando in ic ic i a lcitura que vITIa um poueo aquela

couversa do "voce tem que rcspcitar 0 outro como e lc e", a cxa lta cfio da "individu-

a lida dc", 0 obscurecimcnto dos condicionantcs socials e politicos, ell', etc.

No entanto, a medida em que ava nce i no estudo, pcrccbi que me us prcco nccitos niio

tinham fuudamcnto; fu i pcrdcndo 0 incomodo primeiro - que, alias, era agravado

pc lo Iato de eu ter rclacocs de amizade com os autores! - e adquirindo urn outro: n.io

so este estudo supera a fragilidade teo rica presente em mu itas discussocs sobrc

ava liaciio cscolar como ainda sc choca - de forma convincc ntc - com parte de

m inhas propria s pra ticas docentes.

- 9 -

Hii , nesla proposta, v.irios elementos constitutivos do cxcrcicio cot idiano do magis-

tcr io que, n a SUit aparente obviedade, niio sao relletidos por mui tos de nos, os

cducadorcs: topicos que nos siio rotineiros e que at~ se incorporaram mcca nicamcn-

tc ao nosso Irabalho de - ta mbcrn - avaliadorcs, sao aqui criticados c desnudados nas

suas incorrccocs.

Ao to marcrn como ponto central desta e nalisc 0 fcndme no pcdagogico da prova, os

autores dcs monta m alguns dos mais comuns cquivocos cornctidos por cducadorcs e

aprcscnta m indicacocs co ncrctas para supcra-los; a partir da sustcutaciio tcorica e

pr.it ica ofcrccida pe los prdprios autores, c tambern pclo rccurso i t Piagel, Emilia

Ferreiro, Joel Martins, etc, cstc estudo marca fortcmcntc os pcrcalcos c sucessos da

a va liac.io cscolar, scm cair na "achologia",

An pcnsarcrn a Prova Operatoria no contexte da producao e apropriacao colctiva do

conhecimento, os autores rcforca m, a importancia da comprecns.io e significacao

cxistcnciais que devem estar presentes no proeesso ensino/aprendizagem, busca ndo

Page 4: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 4/37

in ser ir a ava liac iio n a s su a s d im e n so es rc la c io n a is com 0 co lo q u ia l , d o a lu n o com 0

m undo , com a Ic itu ra e com a esc r ita c , po r fim , n o co n texte d a au la opera t6ria .

A Ic i tura deste mater i a l c saborosa, seja pcla lin gu agem sim ples utilizada, scja

a in d a pc la riq u eza d e exemplos concretes e esclarccedores que contcm; nao e umrc c c iiu a rio m as n fio foge do comprornisso de a rrisc a r-se em propo stas. En fim , va le

a pen a "provar" desie tcxro , provando-sc nclc,

M ario Sergio

rna i o 1 /91.

PS: As prova s q u e eu c stava prcpa ra n d o para m eu s a lu n o s n a Un ivc rsid ad e, lo go

d epo is d csta lc i tu ra , m e lho ra ra m bastan te; gra tes.

* Scc retr ir io Mun ic ipa l d a Edu ca r.io d a C id ad e d e Siio Pau lo e Pro fesso r d a PUC/SP.

- 10 -

Page 5: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 5/37

1. INTRODU9AO

ENTRE DUVIDAS E INCERTEZAS

A observa cao d a n o s sa rc a lid a de m o stra -n o s q ue gran d e pa rte d o s pro fc sso res se n te

d cn sa s e co n tin u a s d il 'ic u ld ad cs ern ava lia r . Desd c a observacao d e um a cria n ca n a

csco la d e cducacao in fan t i l , passando pela discussao da possivcl rcprovaciio de uma lu n o em couselho d e classe , n a escola m ed ia , a te a uma sim ples n o la em tcsc d e

doutorado, 0 processo d e ava l iacf io e an gu stian te, po rqu e aco rnpanhado d e duvidas ,

inccrtezas e, mu itas vczcs, incocrcncias ,

Niio q u erem os, H um peq uen o cnsa io c om o este, cstcnder 0 nosso cstudo po r to d o 0

a m plo pro c esso d a ava lia c iio . As rcflcxoes q ue o ra in ic ia m o s, lc m c omo urn d o s

objctivos aprcse n ta r a lgu m as sugestocs pa ra possive l rcvisfio da pratica pcdagogica ,

n o q u e se rcfcre a uma d as dimc nsocs daquclc amp l o proccsso: a claboraciio e

ap lic a<;iio d e provas.

Tc n ta n d o , c n tiio , a ux ilia r prof'cssorcs , oric n t ado res c dire to rc s, n o se m id o d e rl 'pcn -

sa rem a su a cxpc ricn c ia e 0 scu co tid ia n o , I ic a re m os rc str ito s i t an a lise d a pro va ,

vista com o um do s uicis c po s sivc is in st ru m cn to s d e ava lia ca o .

A lgumas Irascs pincadas dos discursos d e profcssorcs n o s diio conta d e q u e clcs

vive m re a i s d ific u ld a d c s e con sta n tc s in sa tisfa co cs:

. ,

( ... ) "Eu gn slo de d a r a u la , m a s n ao agu cn to m a is co rr ig ir p ro vas". ( ... ) "Sabcmlju an la s prova s eu co rr ig i n cste fin a l d e sc m a n a ? - fiOO!" ( ... ) "A un ica m a nc ira q u e

tc n ho d e con scgu ir a d isc iplin a d aq u e la c ln ssc c prcpa ra n d o u m a prova super

di ficil!"

Se pu d csscm o s a in d a ouvir pa is c a lu n o s cou firm a riam o s csta s e o u tra s in sa tisfa -

, , ·ocs.

Ha urn pro blem a , en tiio , q u e n o s in q u ic ta e qu e prcc isam o s d esvc la r n c ste traba lho :

a pro va po d c sc r um in strum en to c apaz d e o fercc c r su bs id io s a o pro fesso r , pa ra q ueell ' po ssa c n te n d c r com o esta se pro cc ssa n do a o rga n izac fio d o co n hec im en to c 0

d c sc nvo lvim cu to d o pen sam en to n o a lu n o ?

- 11 -

Page 6: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 6/37

2. A VEDETE ACADEMICA

INao e preciso grande esforco para observa r que a Educacao, em geral, e a Escola , •

em particular, niio avancara m, nao evoluira m tanto em comparacao a outras areas

da a tivid ade hum a na .

A prova e 0 centro da vida na comunidade cscola r, espccic de vedete acadcmica , ao

redor da qual gira um arsenal de preparativos, pcssoas e coisas, E urn ritual que

a l'cta departamento de imprcssiio, xerox ou miniccgrafc, pais, profcssorcs, bcdcis,

professores particularcs, fu nciona rios e , por fim, os alunos. ,E um morucnto repleto

de cxpcctativas, que mod ilica0

cotidiano da escola , impondo-Ihc um ritrno dife-rell-:'te c alterando ate 0 espa"o Iisico da sa la de aula.

Ass im co nsiderado e pouco modif'ica do, 0 co nsc rvador cotidia no da cscola ainda e

o mcsmo que h a anos: a lousa, 0 giz, 0 professor Iala ndo (digamos, hojc, "tcntando"

Iala r), 0 aluno cscutando, as classes, em d ia de prova, dividida s em turmas A e B,

as notas, a cadcrncta, etc.

Inserida Beste monotono processo, a prova e, scm duvida , um dos e xe mplos que

tcrnos. Ainda insistentemente vista como cobra nca, cia passa a scr ocas ifio em que

o professor, e.xcrce ndo 0 papel de "dono" de determinado contcud o dado, vai

simplesmente verifica r 0 que 0 aluno aprcudcu. Tal proccsso corrc ass im: 0 profes-

sor, dono da materia (ate cxistc a cxpressfio "dono da cade ia ", lcmbra-sc") dr. 0

conte udo durante 0 mes ... 0 aluno 0 rcccbe ... e na hora da prova 0 "devolve" ao

professor. Pronto, ponto final! Urn fragrncntado memento, sempre iso la do c , priuci-

palmente, indicador do final de urn processo.

Elaboradas sob 0 obsessivo estilo de perguntas e rcspostas, clas asscmclham-se a

longos e aborrccidos qucstionarios, exigiudo sempre respostas que cvide ncicm a

Si!~pli~t~as~o da memoriza~iio de fatos, idcias, datas ou f~~~l~~"!_S. Ha muitos

livros, inclusive, que no final dos capitulos, aprcseutam tais qucstiouarios. Ja que

muitas pcrguntas destas sao sempre nclas rcprisadas, os alunos fica m rcstritos

unicamente i t decoracao de tais rcspostas.

'I

IEstuda r, para muitos alunos, significa responder e decorar respostas destes questio-

narios,

- 12 -

Page 7: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 7/37

- 13 -

Entre 'muitas outras, essa pode ser urna das causas profundas que explicam por que

a maioria de alunos costurna colar. Assim, ha alunos que viio para as provas

sabedores das perguntas que poderiio cair e, nao encontrando as respostas na

memoria, viio procura-Ias, com certeza, num palpelzinho, na propria coxa; no

brace, na prova do colega da frente. D'!.,memoria ou da cola, 0 '6!1~~~_!r!lbalho

, exigid9,LlI_tra_ns_~~~\_~~,

A prova passa a ser, entao, 0 centro da vida do estudante.

t

So se estuda se river prova.

't- So se estuda para a prova.

\ So se estuda se cair na prova.I S' d .'. 0 se estu a 0 que carr na prova.\_

Alu no do tipo "overnight", ele estuda so quando tern prova, nas vespcras, toda amateria, decorando-a. Ha muitas escolas que, seguindo por esta trilha, acumulam

todas em uma unica scma na, Pronto! Acostumados e se acostumando a estudar sob

prcssao, os alunos passam a Iaze-lo so nesta semana.l'!I:~te esquema so se "estuda"uma unica semana por bimestre..." . .-... --.--.

Excmplo disto C 0que sugere aquela tao cornum expressfio dita pclos a lunos, entre

o alivio e a fadiga: -"acabaram-se as provas.ja nao tenho rna is nada 0 que estudar!"

Em nad,a estirnuladora, nao cria ndo a disciplina e a orgauizacao intelectual ouacademica, e~'te tipode avaliacao subsiste eniclima dcprcssocs, de alllea<;as.Na

vcrdadc, scm saber como cstirnula r 0 estudar, 0 professor conf'iac espera(IU~~s

alunos 0 [a<.:III pelo me nos nas vcsperas:S"eildoa'ss~m, passam a viver a vida escola-;'"

em Iuncao da prova. Um a vcrdadcira obsessiio!

A prova e, scm duvida , mas infelizmente, 0 unico recurso que a escola tem para

cstimular (diga mos, obrigar) os alunos a cstudar,

Imagine se reunirmos uma dezena de professores e alunos, e a cles fizcrrnos cstaproposicae: "Durante 4 mcscs, niio havcra provas nesta classc!". A rcsposta, scm

duvida, seria a pcrplcxidade e 0 cmbaraco.

Denuncia ndo toda a dimcnsao cornpulsiva existente nesta rclacao, observarnos que

professores niio sabcria m trabalhar se m aplicar provas. E os a lunos scm as faze rem. I IPara aquclcs 0 verboavaliar, de COII5?!!!<.:~o_e_s__e~~aE~tensa,fica_~duzidoa~~d!r I.

provas", Para estes, 0 verbo_e~!i<Jar, de conotacao ampJac-ll1ajc'stosa, reduz-se a

"dccorar para as provas".

Como a prova,_a_nota passa tambeI!! a ser meta obsessiva de prQfessores e alunos,

simbolo concreto que-iraduz posslvefestud-oou-esfo;<.:o. Na escola;'ni-;;-sa:crescJa-

se saber se as notas vieram azuis ou vermelhas,_~i'yilegiando~l';e,_de~!a_l.~I~, 0

rcsultado final em detrimenlo ao processo para alcanca-lo. - "Isto e para n~ta?';>~,...-----:'<~---.--

Page 8: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 8/37

- 14 -

costumam perguntar os alunos. E como ficam bravos quando veem que 0 que

fizeram nao contou pontes para a media final!

Outro fato importante e verificarmos como muitos alunos rcalmente fica m agressi-

vos quando se dao conta de que 0 estudado nao _caju I!'! p_tOVfI.Parece-Ibes pcrda de

. tempo e de esforco Estudei tanto, para nada! Nao caiu nada do que eu estudei ...

que perda de tempo ", costuma m dizer cJes entre Iristes e deccpcionados,

Este processo de valorizacao de notas e tao verdadeiro, que tarnbem vale para

a lunos com d if icu ldadcs de aprend izagcrn , Em mui to s casos,_yc~s_e a lunos reprova-

dos so porque nfio atingira m as notas prescritas pcloregimcntoIntcrno. cmbora

professores e oricntadores testemunhem esf'orcos e empenhos rca is. No que se refere)

a alunos com problemas de aprcndizagern, cabcria outro caprl-ulo, a parte, neste

trabalho. Vale dizer, por ora, que a escola, na grande maioria destcs casos, oscila,

hes ita, cvide nciando a fa lta de rccursos para u ma ava liacao rn a is cientifica.

Nola e prova, prova enola.

Tal binomio, emergindo como exprcssocs de ava liaciio, c dcscrito em muitos

rcgimentos intcrnos de cs colas com scve ra obrigaloriedade. Asstm se ndo , ha que se

cfctuar ___llla_i1valiil\ao por escrito para ser guardada muito ma is como docu r n cn t o

oficial do que clemente de registro, observacao e estudo cu mu la t ivo do crcscime nto

do a lu n o du ran te sua vida acadcmica .

Dia nte de possivcis razocs que justifica ria m lais desvios, uma de las c Iriste: em

meio Ii tcrnpestade dasobrcvalorizaciio do Te r e da subva lor iznciio de Scr, umaparte da socicdade provoca a dcsvalorizactio da eultura e das cicncias, dcsprcstigiando

ccono mica e socia lmcntc 0 cstudo, a cscola e 0 professor. Por esta ribauccira,

infelizmente, dcsccmos to dos.

Entao, assim d cscons idcrada, a prova passa a ser vista tambcm como "prova

material"; e lcmcnto testemunhal para pro l'cssorcs e dircrfio podcrcm "dcfcudcr-se"

de possivcis inquiricocs de pais.

Nao custa rccordar, em coutrapartida, que houvc cpoca em que a PALAvRA do

mest re era tao va lo riza da , que u ma cxprcssf io latina d cnun c iava , ate, u rn can itc r

certamcntc dogm/itico: "Magister dixit!" (Q Mestre dissc l). Lcmbre mo-nos igual-

mente de que, ncsta mcsma cpoca, havia cxa mcs ora is e 0 professor dava nola

sirnplcsmcnte pelo que acabara de ouvir l

Scm saber se causa ou co nscqucucia desle fcncrncno descrito acima , vale

apro fu nd a rrn o s u rn pouco esla rellexiio, c i taudo apenas 0 fato de que, naquc l a

socicdade, a PALAvRA esvaziou-sc de significado. Enfra queccu-se quanto a sen-

tido e valor. Scm saudosisrno, lcmbra mos que vai longe 0 tempo em que exprcssoes

tais como "Palavra de Honra e Palavra de Horncm" va liam muito mais do que a

assinatura que 0 advcnto da burocracia chcgou a divinizar.

Page 9: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 9/37

Rcduz-se a poss ibilidade de esc rever. -~"'\

Diminu i - s c a po ssibilid ad e d a criatividade.! -,/'

- . l

Cabea nalisar, finalmente, que a propria reprovacao escolar se tornou, em alguns

aspectos, cornpromctida em sua va lidade , Muitos jovens, para njio passarem pcla

cxpcriencia da reprovacao, procura m ostensivamente cscolas ma is "fracas". Ai, as

provas ainda sao feitas so em forma de teste objctivo c os alunos vcem literalmente

pcdida nas perguntas, a mesma materia dada em classe, d ias antes. "Ipsis littcris"!

Alem disto, em ta is escolas, as oportu nidad es pa ra a a provacao sao ta ntas que, como

conta com picardia a piada, "quem conscguir ser rcprovado, ganha urn Volkswagen!".

];I disscmos que emoutras cscolas as provas sao aprescntadas como longos qucsti-

onarios, bascados so em perguntas e rcspostas, em papcl sulfite, mimcografadas ou

xcrocopiadas.

As perguntas, pcque nas e curtas, sao acompanhadas de cinco a sete linhas batidas

logoabaixo, no

rcp iq u e d a m aq u in ade

cscrevcr ,Este

con jun tode linhas, estreito,

apcrtado, nfio atravessa a pagina de ponta a ponta, d i rn iuu indo sensivelmente a area

de cscrita , _Seguindo ocstilo grafico sugcrido, provavelmente a resposta tambcm

sen) cstrcita, apcrtada e curta. - - ---------- - - - - - - - ' - _ .. _, .•. _ . . _

~-,

Instala-se verd ad c ira ca misa de Io rca para 0 pensamento ou, como d iria 0 saudavc l

Machado de Ass is, "rcdcas curtas para a pena !".

Em algumas cscolas, os professores tcm 0 dcvcr de entregar as provas com 15 a 20

d ias de antcccdc ncia ao departamento de imprcssfio. Dcsconsidcru-sc, por cxcmplo,

sc na quc lc IllCS, por alguma circunstancia , cle sc atrasou ou se adiantou i t materia

corrcspondcutc.

Vc-sc que as provas n iio emcrgcm na tu ra lmentc d a seq uen cia dina mica d a materia

vista nas aulas c /o u como conscqucnc ia de u rn comprornisso interpcsso~d~!.l!r~_jl~

classc c 0 professor. Pclo contriirio, e 0 ca le ndario, rigido c pre-Iixado, que obriga

c dctermina a sua cxccucao, Dccorrcntc dis to, vern 0 fato de, muitas vczcs, os"

protcssorcs scrc m obrigados a in tcr rornpcr a sequencia da materia, em funciio da

··SC r n a na de provas"!

Tal s cma na, se de um lado resolve a questiio adminis t ra t ivo-funciona l, fazendo

couvc rgir toda a "encrgia" da cscola para este evento, por outro podc come_rO_1l1_t:'S!

uma proposta pcdagogica pre ocupada com a formacfio do pensamcnto e da persona-l i d a de do cducando , - - - --------------------

A pouco e pouco e assim concebida, a prova passou a ser vivida como elerncnto

disciplinador, traduzindo modele social :onservador, autoritario e paternalista.

Cu mpl ices talvez, expcctadores ccrtarnentc, todos nos pa rticipamos das contradicoes

sobreditas. Agora, a nossa proposta c repensa-las, buscando poss ivcis superacocs.

- 15 -

Page 10: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 10/37

3. UM POUCO DA HIST6RIA

o Pos itivismo ocupa a scgunda meta de do seculo XIX e cspalha-se pelo mundo comIorca e amplitude inigualiiveis. Nesta cpoca, a producao cconomica era 0 grande

Ioco a mpla mcnte valorizado pcla socicdadc. Nada ma is obvio, porta nto , do que a

procura de suste nto fi losofico (na tu ra lista e' rn a teria lista) pa ra cmoldura r as idco lo-

gias SOCiCl- politico- ecouoruicas emergentes.

A ador;iio das idcias pos itivistas por parte da Escola veio atcndcr a tais interesses da

classe social it qual esta instituic;iio servia. .

Dcvcmos apo ntar que il idcia de prova como unico e dc nso elerncnto verificador da

apre ndizagcm tOIllOU Iorca e forma quando, entre outras razocs, a Escola e Educa-

_r;ao bras ilciras se vira m voltadas para idcias e idea is Positivistas, aqui chegados no

inicio do scculo.

- 16 -

Afasta ndo-sc dccisivameute de qualquertipo de intcrprctacao mctafisica da re a lida-

de ou da expcriencia, 0 positivismo ganha impulse e succsso devido, na maior parte,

ao imenso avan\o das cicncias naturais, em especial, d a Biologia c da Fis ica , Com

tais ciencias em alta valorizacac, 0 que se efetivou Ioi a tentativa de aplica<;iio e

tr a nsposicao de seus mc to dos e prin cip io s ao conhecimento e intcrprctacf io de

fe ndmcnos socia is.

"0 Positivismo dccapitou 0 pensar filos6fico. Mes mo a propria ideia antiga de

Filo so fia , cn tcnd id a como u m todo unif ica do e in divisivc l de todos os sercs,

abra ngcndo urna o rd em sign ific ativa do Scr e dos problemas a e le refcre ntcs.Toi

abando nada ; com isso, a qucstiio do Ser foi esquccida. No Positivismo, as questocs

refcrentes a o pensamento ou raziio, campo cspccifico da mctafis ica, esliio situadas

na conccpcao de Cie ncia, isto c, nos dominies poderosos da Cicncia e do cspirito

cientlf ' ico c que se decide sobre 0 significado ultin!o de IO~O conhecimento.

A luz dessas ideias, pode mos corupreender agora a energia e 0 poder atribuidos acicncia como urn todo, mesmo a essa cicncia fatual e de nivcl mais limitado. No

seculo XVIII, que se denominou 0 seculo do pensamento Iilosofico, a Filosofia

preenchia os circulos de pcnsadores. Dai 0 ardente desejo de aprcender, 0 desejo por

uma reforma filos6fica da educacao e de todas as Iorrnas sociais e politicas da

exis tencia". (2)

Page 11: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 11/37

. 0eo~it!y.i~fi1oadfi1ite u_I!Lcan!~I1I<:_2..rit~io da_y.eIdade_<:jentific_a_I~]~nte pJova da.! JJa

experiencia, dos fates positives, visivcis, sensiveis. Enredado nestepr.Q_C.esso~~

a necessidade de prova objctiva, clara, mensuravel ou quantificavel.. . ---~__ ~_____.__....- ·· l

Cria ndo 0milo de uma "ciencia neutra ", livre de julga mentos dc valor, 0 Positivismo

arruinou qualquer tipo de subjetividade. Ao impor a objelividade como regra unica

.de quem qucr "Iazer ciencia" e nao CO~l um dos possiveis cOll1plemejlI~s __ 1 : I _ i i 1 a

outra dimensaod;' a<;iio cientifica, 0 p~silivismo anulou 0 pensar subjetivo e 0

sentir. Eq1J~_CeU~_SU<L~sa<;iio (;' da emocao.

1

Seguindo estc diapasao, a subjetividade, ern nada entendida e tao pouco valorizada,

submcrgiu diante da neccssidade de respostas cmolduradas com todo 0 "1:!gor~

a precisao cie ntifica". .

Na empobrccedora tcntativa de cunhar sua disciplina com estc rigor cientifico, em

suas aulas, 0 professor evitou sistcruaticarnente colocar em discussfio questoes que

fugisscm da proposta da sua cieneia.

Qucst6es como: "Valorcs Coute mporancos", a "Filosofia " ou ate mesmo a "Filoso-

fia ou Metodologia de sua propria Cie ncia" sao re legadas ao segundo plano. E por

fim ao esquecimeuto. Ass im dimeusionados.jl-lomem e Existcncia passaram a ser

considerados como dclalhes.- ---' ---

Erra d icou-se a Historia da propria Cic ncia. Com isto, acabou-sc por erradicar scus

Iunda mentos. As aulas torna ram-se mu ito pobres c a _\iiga profissiona Ido pr_QCessor

cxtc nsa mcnte repctitiva.

A partir dcsta visao reforca-se na Escola a sinistra divisfio maniqucista do proccsso

cduca ciona l: urn momcnto para a informacao e outro, dis!into_..c_djstaJl!.e,_R_ara a_ . _ _ - . . . _ _ C _ . _ _ _ _ _ - . . . _ ~ _ _

Iormacfio.

Tanto e verdade quc a propria formacao de profcssorcs na Universidadc e fa lha, ea lcija e dividida tambe m: tais profissionais sae m espccialistas em suas areas (por-

cxcmplo, sabcm Geografia, Historia, Fisica ou Quimica) mas rem pouquissimo

conhecimento da Filosofia, da Didatica , da Psicologia da Aprendizagem ou do

Dcse nvolvimento, s6 para Ia la rmos de dimcusocs importa ntes e indispe nsave is

nu ma Io r rnacf io sol ida de um profissional da educacao.

Por conta dcstes e de outros falores,_a~aulas tornaram-se curtas: quarenta e cincominutes, dos quais, com digni~ade,siio apr;~~;t~dos apen-~-~'vinte c Cif!SQ.Qll1rinta.,

Lcmbrerno-nos ainda , com tristeza, d e que a escola noturna, a escola da maioria dos

trabalhadores brasileiros, tem rese rvado para as suas aulas s6 quare nta minutos ...

Aulas curtas, poueo tempo. 0 suficiente para 0 professor "dar" a ma-ter;;- A~I~

rapidas, fcchadas, com conteudo adrede preparado e a ser passado ou transmitido !

aos alunos como verdades irrefutaveis, Dogmaticas, pois.

Page 12: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 12/37

- 18 -

Ao interiorizar a fragmentacao das Ciencias, a escola, por cxtensao, retalhou scu

cotidiano, dividindo-o sistcmaticame nte em aulas (curtas): Mostra-se , assim, aos

alunos que as_Cicncias ali apresentadas estao prontas, ahsolutamente acabadas, e

assim devern chegar ate eles. Niio ha tempo nem possihilidade para a arguillcntac;ao,

para elaborac;iio do pensame~ua...c.Q!lseql!e_!1I~ exprcssivraa,(e.--· ' .. -- .... ~------.---- .. ._

Nesta escola despreza-se 0 pcnsamento hipotetico ou estimative. Nfio ha lugar

algum para prcdicocs e muito menos se permitcm as utopias. Se deixarmos de lado

a questiio economica e, enfocarmos a rclacao com 0 conteudo das diferentes

cicncias, vcrcmos que cia n'ao se "apropria " dc suas crises. Escondc-as. Nfio as vivc

e teme procuni-las, Ta mpouco as pcsquisa sob 0 foco de analise e entendimcnto do

avanc;o historico das difercntes cicncias.

M~_it()!>.rrE_fcssort:s_I!ii?seperccbem cie ntistas, sujcitos na construciio de conhcci-

~!o. Assim, a instituic;iio cducacional torna-se vulncravcl a modclos que, insta n-taneamente, se tra nsformam em "ruodismos pcdagogicos" (trabalho e dinfimica de

grupo, testes, instrucao programada , objctivos instruciona is, novos mcto dos de

a lfnbctizacfio etc.). Tais pniticas inundam tcmporariamcnte 0 scu cotidia no, atc

serem engavetados c substituidos, "

Ass im conc~bida, a Educacao ao invcs de iuccntivar a organizac;ao dc pcnsamcnto,

incita 11dispcrsiio,a~upcrfieialidadc. Troca a possihilidade de urna rc l'lcxfio critica

ma is colciiva pe la ccrtcza da simplista tra nsferencia de conhccimcntos, ma is unila-teral c individua lista, Egocdntrica, talvcz: e 0 professor quc transfcrc 0 coutcudo

que e lc sabe. 0 a luno 0 rcccbe pronto. Basta me moriza-Io. Ma is tarde, na prova,

sera cobrado,

Sc 0 professor, dcscjando sair um pouco dcsta tcrrivcl tra ma , quiscr avc nturar-sc

pclos ca minhos de uma rcf'lcxfio c pnitica dif'crcnciadas ou, quiC;i1, ma is profundas,

csta ra, Ii qucima-roupa, cunha do pclos a lunos corno urn grande "matador de aula",

c pclos proprios colcgas como "aquc!c quc qucr apa rcccr".

Aulas onde nao se pcnsa, ondc niio se argu mcntavprovoca m, scm d uvida, provasj

ondc niio sc argumenta, niio se pcnsa. //

A prova e urn rcflcxo da aula! ", .- , , -

o tipo de aula e scmprc condicionantc do tipo de prova l )

Excmplo disto esta nos I a migcrados testes de nuiltipla cscolha quc tivcram 0 scu

apicc durante a ditadura militar nos anos 70, assolaram nosso pais durante a nos a fioe hoje, cmbora cm menor escala, ainda sao utilizados. tl.!;.stctipo de forma (Icia-sc

forma)"0 pcnsar critico c 0 saber reflexive sao suruaria mcntc anula dos c substitu.f

dos pcla padrQJ!izl!c;iiode respostas objctivas a scre m .co nferidas pclo gabarito.;

rigido. Em inumcras escolas, os alunos ainda cstudam obsccados pclo gabarito, por

rcsI;ostas certas, cxatas. 0 pensame nto, por fim, deve ser um espelho do gabarito.

Este, urn modclo para aquelc.

Page 13: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 13/37

Torna-se urgente, pelo que esta mos percebcndo, que a cscola possa fazer urna

profunda rcflc xfi o sobrc 0 seu cotidiano. Urgente tambcm a rellexiio de professores

e alunos sobre a sua rclacao com 0 conhecimento cicnr if ico. Tcrfio que dccidir se ea escola um lugar de transmissiio de coutcudos prontos, acabados, inqucsrionaveis

ou um lugar o nde se constroi ese sistcmatiza 0 conhecimento.

Terao que dccidir se c a aprcndizagcm um momentode mcmorizaeao de conteudos

dados, fragmentados e nao contcxtualiza dos, ou se co momenta de cornprecnsao da

rea lidadc, de ma nipulacao, de observacao qucstiouadora e de a rgumcntacao que

vcnham a estim u la r a capac id ad c c ria do ra ,

Sao as rcspostas dadas as qucstocs a ntcriorcs que promovcrao modificacocs profun-

das na mane ira de dar aulas e, por conscguiutc, de aplicar provas.

E para promover e auxilia r tal discussao qucestamos~st~dando este texto. E

partindo e m busca de u ma proposta ,

Page 14: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 14/37

4. PROPOSTA DE MODIFICA~AO:

o ARTESANATO DO CONHECIMENTO

A proposta de modificacao da prova nas nossas escolas tra nsita , necessana eprofundamente, pela modificacao da Filosofia da Educacao, ou seja, da mancira

como 0 professor e ncara a sua relacao com os alunos, com 0 conteudo dc sua

Cicncia, com 0 Conhecimento e, finalmente, com a aprendizagem.

Urn problema filosofico, pois. Ao mesmo tempo urn problema metodol6gico.~'

Tal questiib e arnpla e dificil, pois nao se trata de tentarmos modificacoes do tipo

"teste objetivo pelo questiouario", "uma prova por outra", ou, do que seria mais

tragico ainda, copiarmos simplesmente modelos que nos p;He\am "novos e interes-sautes", A discussao aparente e 0 tipo de prova; a questiio subjaccnte e que se

esco nde atras daquela mera apareucia, esta sim, e filosofica, po litica e social. Alem

de marcadamente econcmica.

Ta is problemas tomam dirnensocs de desafio, quando nos, adultos, nos dcpara mos

com este dilema: como Io r rnar pessoas que penscm, que participcrn, quc argurnen-

tem?

Nesta linha de pensamento, a prova passa a ser vista como urn memento dereorgauizacao dos conhecimcntos, agora com outra dimensiio e mctas.

/ E momenta de verificar se 0 aluno, de posse de couteiidos basicbs e a partir dcles,

) sabe pcnsar, argumentar, contrapor. OPERAR enfim tais contcudos, a partir da

leitura, compreensiio e interprctacao de questoes.

o leitor perccbeu que no paragrafo sobrcdito, nos usa mos a expressao OPERAR.

Dele nasceu 0batismo deste trabalho, "Prova Operatoria ", e cle vai nos acompanhar

ate 0 seu final.

OPERAR e um verbo que vai tomar, agora, significado ample c espa\oso. Ele foi

pincado de uma tcoria cientff'ica, Va Ie a pena aprese ntar alguns pressupostos da

"Teoria Desenvolvimentista de Jean Piaget" para que 0 leitor possa estudar e

perceber 0 nosso ernbasamcnto teorico.

- 20-

Page 15: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 15/37

5. A MOLDURA DA PROPOSTA

Jean Piaget fo i u rn c ien tista q u e a tu o u , n este secu lo , em Gencbra , n o s c am po s d a

Filosofia, Rcligiao, Biologia, Soc io lo gia e Psicologia. 0 tcm a d e seu maior.interes-

se e aquelc que mais estudou fo i "A lntcligencia". Seus estudos revolucionaram

pro fu n d am en te a Cicncia, abrindo grandes possibilidadespara um a nova com prc cn -

sao do H o rn cm e d e seu d c scnvo lvim cn to .

No d izc r d e Thom as S. Kuhn , um do s prin c ipa is I isic o s d a a tu a lid ad e e gran d e

estu d io so d a Epistem ologia , Jean Piagc t "ilu l]_li.!l2_~o s va ries m undo s d a c ria n c a co

pro cesso d e tra n sic iio d e um p a ra 0_()u tro ".(3) , - ,

E le co n scgu iu isto , a o c ria r a Teoria Desenvolvimentista, e m qu c ve 0 H o m em com o

um Ser-em-Dcsenvolvimento. Duran te scus estudos, pr inc ipa lmcn te observa ndo 0

com po rta rn cu to d e seu s filho s, e l e id e n tifico u . en tre o u tro s,1rcs.gran d es m em en to s

n o crcscimcnto humane : (1) 0 sensorio-motor; (2) 0 surgi l , ; lent(;-das !!perllfoesconcretas c , po r r im , (3) 0 momenta das operacoes abstratas ..... --.-~ .-,,--~

Pa ra cn tcn d c rm o s m a is c la ra m cn tc a tc o ria d c scuvo lvim cn tista Ia cam o s prim c ira -

m en te a com pa rac ao en tre llIll an im a l e um a c ria n c a . Um a vaca , n um pasto , po r

cxc m plo , vive pc rc n cm e n tc SCIll co n sc icn c ia d e si: n ao sabe qu e esi,i n um paste, n o

mc io d e um a fazcnd a , n um a c id ad e, num cs t ado . Niio possu i n cuhum m ovim cn to d e

au to -co nhec im en to , d e rc flcxao sobre isua situ a<;ao c irc u n stau c ia l. Scu im cn so

corpo I lu tu a num espa<;o q ue nfio lhe c cousc icn tc , n cm do rn in ad o . Nao fa la , scu s "

m ovim c n to s sao reflexes c u n ifo rm cs, su a vou ta d c c simplcsmc n tc in stin tiva . Su as

pc rccpco c s sao m om cu tfi n ca s e pou ca co isa po r c ia e gravad a , Nfio d ifc r in d o 0 "hoje

d o ontc m ", su a vid a co n sistc IlUIll "agora ctcrno", ond c tudo em su a vo lta so

"cxistc" n a m cd id a em que sa tisfa ca seu s in stin to s.

No in ic io d e su a vid a , 0 bcbe tem um a vid a em m u ito scm c lhau te a csta d esc rita

a c ima . A gran d e d ifc re n c a en tre estes d o is ani rnais c q ue no H om em hao de apa rc cc r

co n stau tc s c pro fu n du s m od if'ic aco c s, cn q u an to q u e 0 ou tro , a te q u e se pro ve 0

co u tra r io , v ivc ra exa tam cn te n a s m esm as d im cn so es ern q u e n a sceu .

No in ic io , d iziam os, 0 bebe tern um a vid a extcn sam cn te vegc ta tiva , Sa tisfaz a lgu -.

m as n cc cssid ad es ba sic a s com o a lim en ta r-se, d o rm ir , evacu a r etc . No deco rrer d o s

prim c iro s a n o s d e vid a , a c r ia n c a passa po r pro fu u d a s m eta m o rfo ses, sa in d o d aq u c le

- 21 -

Page 16: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 16/37

estado, digamos, de "inercia" e ja se ndo cllpaz de lidar com aspectos va riados do

mundo que a ccrca,

Tais mctamorfoses cfctivar-se- ;io realmente sc, entre outras, duas importantcs

dimcnsocs estivercm sempre presentes em sua vida: 0 AFETO c a SAUDE. Com

e s t a s re a l id a d e s presentes, 0 desenvolvimento s c d a r a . Na tut a lmc n tc .

lncxoravclmcnte.

A "rnaqu ina intcrna" cornccando a trabalha r, as funcocs cerebra is e psiquicas seorganiza ndo, a dimcnsao do re la cionamc nto socio-cu ltura l emcrgindo, tudo t~o

devagarinho .. , dcvagarinho .. " faz do dcscnvnlvimcnto da l ntc ligcucia um dos

aspectos maravilhosos de obscrvar na natureza huma na ,

Dando in ic io a ca minhada obr igator ia rumo a o d csc nvo lvim c n to , II In tc l igcucia '.:lli

se mostrando, se cvidcnciando, primciramcntc nas a('('cs da criauca: precnsar,

sorrir, imitar, sentar, engatinhar, audar, corrcr, movimcnta r-sc, jogar, cscondc-

cscondc, etc.

Rcpa rou que as uliimas palavras no pa r.igrafo acima siio, gra matica lmcntc. conside-

radas VERBOS. Voce ta mbcm sc lembra de ter cstudado cm pnrtugucs que 0

VERBO c a A . C A o . Em essencia, bas eados c m tal tcoria , podcmos aljrma r que

nestes pril1leiro~~_I!_Q.~._<!evida" a intc ligcucia c vista c cnte ndida como ACAo ,

o pcrcurso obrigarorio da intc ligcncia , porr ru niio para a i.

lnicia-sc, pc los 6 <HI 7 anos, 0 que Piaget cha mara de "a grande rcvolucao cope mica".

Da a\,iio-simplcs, a crianca. agora mais dcprcssa. caminha para a opcraciio, A

opera\,iio c apenas uma l l . . l , ; i i .Q mais c labo rada , digamCls, ma is compl irnda. Piagd

pega e mprcsta do cstc tcrmo da maic nuit ica: lcmbra-se das 4 Opn,Il'(-'(" lunda mc n-

tais: a soma, a mu ltiplicacao, .. " c tc?

Uma crianca de cinco a scte anos, por cxc mplo, scnta-sc para brinca r ('0111 seus

carrinhos. De rcpcutc, naturalmcntc, corncca a co locar seus carrinhos em ordc m, do

me nor para 0 maior ... da csqucrda para a d ire ita .. ,

o que acabou de Iazc r?

Com a ajuda do material concreto (seus carrinhos), cla acabou de fazcr u ma

cluss ificacii o. Tal opcracao c cfctuada iutcrna me ntc , isto C , de ntro de scu pensa-

mc nto, sempre a partir de ohjetos concretes, signil'icativos na rela<;iio socio-cultu-

ral. Estes sc tornam, cntiio, apo io fundamental para a cr ia nca .

Ass im iarnbcm como a class if'icaciio, a scriacao e a ordc naciio sao outras opcracocs")i ~ ~ ... :.

\ concrctas. . .. ,~

- 22 -

A cria Il<;a, nesta idadc, fica a bsoluta mente presa, como que "ama rrada" ao co ncrcto.

E impossivcl fa:c-I~~dotar uma hipotcsc ou um raciocinio mais dcduiivo ou_)

Page 17: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 17/37

fo rm a l; Tom cm o s, C0l110 exem plo , um a pc rgu n la absu rd a a um a c r ia n c a , Scm

~fu;; ida-ela nfio responden t pelo cam inho d a hipo tese, n fio s o po rque a inda n ao 0

dcscnvolveu nem 0 conhcce interiormcnte como tambem porqueEreej~<u!_,?~-

10 pa ra pen sa r d e fo rm a n la~~_~~.a , n ad a "accitaudo" se nao estivcr nclc

envo l to . Vcjamos a emiflf l1l<l\ao destas idcias ncste dia logo:

- "Se voce pudcssc tocar 0 so l sera que ele senl i r ia?

- N iio se po de to ca r 0 sol .

- Sim isto esta ccrto, m as se sc pudcsse tocar a so l cle sent i r ia?

- Ele esla a lto d cm a is.

- Sim , vo ce tem razfio, m as se se pudcssc tocar 0 so l ele sen tir ia?

- Nao ha csc ad a pa ra chcga rm o s a le 13...

- S im isto c cerro, l11as... "(4).

A pouco e po ueo vai su rgin d o n a c r ia n ca a po ssibilid ad c d e rac io c iu io s IlHI1S

o rgan iza<.lo s e m ais complexes. A dcduciio para scr f o rma l dcve ir, por t an lo ,

libc ra n do -sc d o rea l e co lo c a n do -se no pla !lQ_d~ pu ra m cn te po ss ivel, q u c c po rdc Iinicjio 0 terrene da hip6tcse:-~n;-;; , 0 p c~;i1 1lc llto l '()r im l1 ·p rc s·~ )is \

I a to rcs : 1).0 so c ia l, q u ando cxiste II po ssibilid ad c d e a c r ia n ca ir c o lo c a n do -sc n o \

po nro de vista d o ou tro , ir sa in d o , e ntiio , d o scu pro prio m un do e vc ndo -o n iio m a is

sob 0 ;'In gu lo som cn tc d o im cd ia to e 2). o r iu n do d a psico lo gia d a c rcn<;a , q u ando

cxistc a po ss ibilid ad e de subcn rcu d e r-sc soh a rc a lid ad c cm piric a , so b u m m und o

pu ra PIt.' ntc poss ivcl oude , pcla logica, sc insta ~'I_0_i1.-<.Icdu<;i io5). .. _/

Ora , a s opcracocs abslra ta s, q u e supocm c l'OI11P()CI11 a trajcto r ia d o descuvo lvim c n -

to, su rgen l uproximadamc n te ao s onzc a nos , e siio co n s id c rad as com o apic c d o

dcsc nvo lv imcu t o inte lc c tu a l, c sta d o d eC tIU ilfbr io pa ra 0 qu a l toda a cvoluciio

hu m a na vinha sc d irigindo dcsde 0 nascim e nto.

Vim o s qu e, a te aq u i, a c ria n c a o ric n tava a su a a tivid ad e pa ra ohjeto s co n c rc to s,

prcscn tc s n o 1110l11en lo , m au ipuhivc is, visivc is. De ixa ndo d e lad o csscs apo io s

Iund a m c n ta is , 0 ado lc sccu tc in grc ssa co I11 co ragcm no re i n o do hipo tc tico . Ao

co nst ru i r tc o rias, c rit ic a r a rc a lid ad e e propo r-Ihe m uda n ca s. c ia s c to rn a c apaz do

pc n sa m e n to re n cxivo ._I~o Jhe po ssi h i Ita ir a lcm do presc !!!f:cO ]I(:ret_o e.in grc ssa r~

via pcnsamcnro , no domin i c d o a hst.~ ~~ o:~ ~~ -il~ ~~~·i:~ c!,.d o im a g in a rio .·-

Bu sc a nd o a au to n om ia , e n tu sia sm ado , pc rccbc qu e pod c rc co rrc r d e fo rm a d ifc rc n tc

ao pcu sa m c n to . Dcsco r tiu a -se pa ra c ia urn m undo com plc tam e n tc n ovo , in cd ito ,chcga ndo a scr Ia nu i s t i co . E po r conta dcstc fcnomeuo cmcrgcntc 1l lL~~_~_gb1i! ;LY!lm,

IlO ado lcsc c n tc , com po rtam cn to s tip ic am cn te ~llipQ ten tes, ao Iad o d e scn tim cn to s

d e po d c r , <]u cstio lla l11c .Il!Q .~5~o '-V ia ·p~am en to , c lc q u er d om in a r 0 mu n d o !

Nfio c po ss ivc l fazer um a lista d e qu an tas sejam estas opc raco es abstra ia s, estes

m c io c in io s abstra to s q u e, c om o d izia m o s, passam a Iazc r pa rte d o pen sam en to do

ado lcsc cn tc . Nem tem os a in ten \ao d e d ivid ir 0 c c rebro em pa rtic u ln s pcqu cn in a s

Page 18: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 18/37

para identificar onde se encontrariam. Fique claro, portanto, que a divisiio do

\ 1 pensamento e a descricao destas ha bilidades operatorias, que sempre se comple-

\\ mentam, se relacionam e se somaru, tem mais urn carater funcional do que biologi-

co-estrutura I. '

Analisar, classificar, comparar, conceituar, criticar, deduzir, generalizar, levantar

hipoteses, imaginar, julgar, lqcalizar no espa\o, localizar no tempo, observar,

provar, reunir, resumir, seriar, solucionar problemas, transferir. Estas sao algumas.c..\~as operacoes abstratas.~~'

~- . _ - - - _ . --_ .. __ ..~.-.-.-----~-------'-'------"'---~-

Ao t o rna r publico estes e outros estudos sobre 0 nascimento d a iu teligc nc ia e 0

desenvolvimento mental, Jean Piaget revoluciona por complete 0 campo cic ntifico

da Ps icologia.

Ele passa a ver a cria nca nao mais como adulto em miniatura e sim como urn ser

com seu proprio caminho para determiuar a rcalidade ever 0 mundo. Piaget a firma-

que a logica nao e absolutamente inata a cria nca eUlll

"conjunto de pcsquisasvoltadas mais para a sua inte ligcncia pratica e para as opcracocs concrctas, por meio

das quaiselavaielaborar suas classificncocs, 1\0r;OCSde numcro e cspar;o, de ordem

e qua ntidade, de movimcnto, de tempo e vclocidade, permitiu evidenciar 0 Iato de

que ccrtos raciocinios, considerados logicamcnte ucccssarios a partir de urn deter-

minado uivcl mcntal, sao cstra nhos .)s estruturas intclcctuais anleriores."(6)

A intcligcncia, portanto, nfio aparece num determinado momento do dcscuvolvi-

mente mental como urn mecanisme intciramente montado e m todas as suas pcr;as e

radicalmente distinto dos que 0 procedcram. Pe lo co ntrario, aprcscnta uma nota velconlinuidade com os proccssos adquiridos, ou mcsmo ina los, provenientes d a

associacfio habitual e do rcflexo; c nesses processos que a intcligcucia sc baseia c,

aorucsmo tempo, c dc lcs que sc utiliza.

Os habitos, os reflcxos, as interacocs com 0 social c com informacocs sempre

formam um movimento cumulative e cspiral, preparando entiio 0 advcuto e 0

dcsc nvolvimeuto da iute ligencia, 0 qual est a intimnmeute ligado a todo 0 complexo

do descuvo lvimcnto e crcscimcuto global.

Ass im, dcduzimos tratar-se de urn processo continuo, cumulative e co nco mita ntc a

todos os oulros, ora como causa, ora como cousequcncia dcstcs!

Se isto ocorre, obscrvarnos que 0 descuvolv imentoda cria nca e do adolcsccntc

prccisa de muitos cuid ados e atcncocs cspccia is. A cscots tem a obrigacao, enlii~,je_,

<_l_lllPJiarsell __ampoQ_£~s,!~~~ucacional, ajudan-3oo-aluIloa dcscnvo lvcr-sc 111j1j~

globalmcute. - ---------- ----

Isto significa ensina-Io a estuda rvEnsiua-lo a pensar, a operar, nfio da ndo tanta, ..

,enrase ou privilegiando somente a a\ao da mcmorizacao deco~lt:~dos.

Mas, perguntaria 0 leitor, nao e importante que 0 aluno saiba co nteudos e que,

inclusive, os memorize?

- 24 -

Page 19: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 19/37

- 25 -

Sim, 16gico que sim!

Dcsde que 0 conteudo aprendido e mernorizado, porcm, sirva de estrutura, de ponte,

de alca para 0 pensar.

o aluno que mecanicamente domine conteiidos equivale romparativamente a urn

jogador de futebol que entra em campo muito bem uniformizado para jogar mas,

indeciso e inseguro, nao sabe 0 que fazer com a bola. Aparcntemcnte pode ate tcr

dominic sobre ela. Ha, todavia, aiferenc;as significativas entre dorninar a bola e

construir 0 jogo, entre fazer um gol esporadico ou jogar para 0 time.

No Brasil, como ja 0 descrcvernos, esruda-se mal, pouco e errado._ . ~ ".... ._ ._ ~__-~v~ -__ ~M

Vista de maneira diferente, a prova deve mudar e revoluciouar 0 ato de estudar.

Estudar e, pois, OPERAR. Fazer internamente, dc mane ira organizada c sistemati-

ca, aquelas opcracocs descritas nos paragrafos anteriores. Veja bern, lei tor atcnto,

cstamos escrcvcndo de_opl:rac;.Q~_~.J}uc__estii_olongee sercm simples a<;oes. Enten-

damos, finalmenle, que a mCll~riacUll1<La<;_ii~_igual a ate ncao e a pcrccp5!~uecstas cstiio a service das operacoes e vice versa, tcuta ndo fazerunU94~rmonio-

so, porcm nada magico, cha mado APRENDIZAGEM. -------

Chama rcmos, entao, la! pr~va de "ope ratoria", qua ndo, longe de ser rnccf nic()~

qucsticuariosvtcstes ou cxcrcicios, for um momcnto a ma is para 0 aluno vivc!_.

inlcrnamcntc a construcao ou rcconstrucao de conccitos ao longo do caminho daaprcndizagcm. Ou scja, urn momcnto ~:_aprcndizagcm!

E nao s6 isto: Em vcz dc l'jm~rQcess~la_cstara dina micamcutc inscrida no

conrcxto do cstudo daque le conte iido c daqucla cicncia , Ou scja, um momcnto de

cstudo!

Para tanto devcmos nos aprofundar no quc vern a scr rprova opcratoria", dcscrcvcn-

do as difcrcntcs dimcusocs que a compocru.

Page 20: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 20/37

6. AS MlJLTIPLAS DIMENS6ES

6.1. A Prova Operatoria e a Relacso Coloquial.

_() tra ta m cn to co lo qu ia l evid en c iado nas pro vas, po de dcsco n tra ir e a ju d a r a d im i-

,I lu ir a rcn sao , q u c histo ric a e cu ltu ra lm cn rc , Io i im posta n cstc s m em en to s de

aval iaci io .

M u ita s vczcs con fu n d id o com "picgu ism o " au "papa r ic acao ", ta l tra tam en to n ao C

um Ia to r d csprezivel au su pc rflu o com o m u ito s qu erem . Pc lo co n tra rio , c um

fundam en ta l iud ic io de qu e a rc la<;iio in d ividu a l se man t cm plena c ativa ,

o t r a t amen to co loqu ia l m obiliza 0 a l u no . Cha m a-Ihc a atcncao , Estim ula a a<;ao da

pc rccpcao , co nvo can do -a a pa rtic ipa r a tivam e n te do evcu to . .

Ta l rc la c iio in tim a aprescn tad a n o s d ifc rcn tc s passo s d a pro va n .io c apena s rc sid uo '

sim plista , I lla s propo sta in ic ia l e in ic ia do ra , com o quc po rta ja aher ta a tra vcs d a q ua l

ir fi o d c sf'ila r ou tra s propo sla s fundamcu ta i s e impor ta n tes. D iga m os, urn couvi tc .

Sc 0 a lu no sc scn rc , c n tfio , "pcsso a lm c n tc c o nvo cado " C po rq u c c stil im plic ito q ue

o professor tambcm quc r rcspostas pcssoais , . c d e q ue a prova c sempre uma rclaciio

pcssoal, o u a te in terpcsso al.

Ao le r a s qu csto c s, ao in tc rio riz.i-Ia s , 0 a lu u o va i sc pe rccbc nd o com o pc sso a c pod e

~~.n tjLlln l;ls_en sa<;a (l p la stic a e co n tin u a de q uc a prova opc ra to ria e um a "co nvc rsa",

_p~rn lea_da r .c I9_!C ieeii_o ·c a con sid~ra<;ao . '

_Deve have r, po rta lito , co n sta n tc e ace niuadaprcocupaciio em cxplic a r cu id a d osa -

m en te ca d a q uc sta o . A c la rczn n a pro po sic .io d o c n u n c iad o c 0 zc lo n a aprcvcutac.io

de oric n t aco cs basicas (de com o fazc r ou de c omo responder] provocam 110 a l uno

um scn t imen to d e c on fia nc a. Po r F im , 0 co loqu ia l cnvo lvc a cstru tu ra cogn itiva do

a lu n o , of'ercccudo oportu n id ad c d e o rga n iz.i-Ia ..

N fio d cve haver pro po sico cs d u bia s ou c apc io sa s. Ta l pro va n ao q uer m cd ir 0 q u c 0

a lu n o nao sabc . Quer c stabe lc cc r um a rc la cao d e conf'ia n ca , co lo c a r c la ra a prc o cu -

pa \iio bas ic a d e o fc rc cc r co n d ico cs pa ra qu c 0 a lu n o po ssa m ostra r 0 qu c sabc c ,'

pr in c ipahncu tc , com o pcn sa ,

Nfio c m ed ian te provas "secas" (scm qua lq u er tipo de tra ta m cn to c o lo qu ia l) o u

difice is , q ue sc cstim u la o sjovcn s a estu d a r, se co n tro la a d i sc iplin a ou sc con q u ista

0, rc speito de um a c la sse.

- 26 -

Page 21: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 21/37

Nao sao pro va s d if'iceis o u no tas ba ixas, cau sad o ras d e rcpc tid o s in su c c sso s, q u e

ira o estim u la r ao estu d o '_S\l~so s c go sto pelo c stu d o pod cm , n a m a io ria d a s vczcs,

se to rn ar constanics im ·c nliva do rc -s-. ~---.- ..- .. -.-'

Le-se muito em P sic olo gia q uc _O _l!ll('~ sso ca .f~n lc mais pu ra d e cncrgiaexistcncial

_~.Q_ c.am i _ ll h_Q_seg u ro p a ra _ afo_ rm a \~9.d c U_ ll l.'!_ p~ rs o n a lid a d c sadia. Ernbora 0 Iracasso

cxista em qu a lq u er tipo d e a tiv id ad c e id a d e, a s vczc s tcm gran d e va lo r cd u cac io n a l

e pa ra elc todos dcvcmos estar prepa rad o s .

•o supor te cicnrifico a esta s n o ssa s a firm aco c s c aq u ele vc lho pr in c ip io co nhcc id o e

que ha mu i to parccc tc r s i do c squec ido : ,.Soha ._ "c f cl iv a 'l ii o da apren d izagem O IH Jc

houve r um c lim a de tran q u ilid ad e e de con fia n c a . _ _ . ,

N fio q u c rcm o s d iscu tir sc a s pro va s d cvcm ser d ificc is o u fiic eis. 0 q u e c stam o s

dcsvcndando sao idcias d e _pro va s opcratorias. Neil l Iaccis, ncm dif iceis,_Il_l_iI_S

csscn c ia lm c n tc in leligc l~tc s. -

6.2. ,\ Prova Operatoria e a Relaciio Aluno-Mundo

Nas in um cras q u csto cs 0 m uudo dc ve sc r a prc sc nta do ao a lu no a travcs de um lcqu c

a hr rto d e assunros c fa tos aiua is , d o d ia a d ia , do vnosxo " mundo , Fica infundida a

id c ia d e que a Escola quer sc r c sc lo rn ,a r 1 1 1 1 1 o rga n ism o v i vo vpu lsa n do d cc id id a -

mente na s ocicdadc.

- 27 -

Da c ritic a ao d c s m a ta m cn to n a M ata A tln n tit'a ,l l po liiic a d o Apa rtheid n a A fric a , d a

q u c stao d o Go lfo ii Ia la d o p rc s id c n te, 0 d isc u rso im plic ito c c m crgcn tc n c sta pro \'a

\'C1lI d csco rtin a r a o jovc m 0 un ivc r so ,

A tc u u itic a , scm duvida, c a da ~~~~I~~~~

A v isjio cos mi c a c a d imcns f io do co r id iano Iun d cm -sc em q uesto c s cu ja ta rc fa

prim e ira e p rim o rd ia l c aprc scn ta r e d iscu tir 0 m uudo em que vivc m o s ,

S o pod c riio , po is , sa ir-se belli n cste tipo d e prova aq u c lc s in sc rid o s d in a lllic a lllc n tc )'

IlO m undo , n a vid a . O s que lc cm , sc in fo rm am , op in am , d iscu tcm , a rgum cn ta m c-;

OS q ue tC Ill pro jc to s.,

EIlI resum e: co rnprc c n d c r 0 m undo , c r itic an d o -o a pa rtir d e u m a visao c co nom ico -

po litic o - so c ia l c co nd ic iio ba s ica c pano d e Iu n do pa ra um dcscm pe nho satisfato-

r io . E Ulll d o s m uito s objc tivo s a sercm pcrsegu id o s.

Page 22: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 22/37

6.3. A Prova Operatoria e a Relaciio com 0Ler.

A prova opera to ria tcm 0 gran d e m erito d e rom per com a c la ss ic a fo rm a (leia -se

fO rm a ) d e pc rgun ta s e respostas, in tc rrom pcnd o de m aneira drastica com 0 ciclo

maniqucista que so estabelece 0 certo e erra do , 0 fa lso e verdadeiro ,

Esta pro va , C01110 ja d isse m o s, tcm a in te n c fio d e o ric n ta r 0 a lu n o pa sso a pa sso ,d c ixan d o scm pre m u ito cla ro s o s objetivo s das questocs ,

Pa rte d c las po de m ser ap rcseu tad a s a pa r tir d e um texto a ser cu id ad o sa rn e rite lid o .

a texto tern com o m eta apresen ta r 0 contexte, torna ndo a anal i se obrigatot i amcn t e

rn a is pro fu n d a e abrangen te. A s qu c sto cs nao sao m a is iso lad as, fragm cn tad a s o u

subtrs id as d o con texte.

Ta l co n tcxtu a liza c ao im pressa n a s q u csto cs, im poe ao a lu n o que d c ixe d e lad o a

sim ples a '< :ao d a m cm oriza c fio , pa ra pod c r co lo c a -Ia (ta l a<:iio ) II servic e e c m fun~aodo que fo i lid o . A rela<:iio q u e se estabc lc ce ja n iio c m ais lc ito r-pc rgu n ta m as,

lc ito r-co u tcxto , via texto .

. I ! - i l<:iio d a m eI11o rj~a<:ao , a ss im , pa ssa a sc r u m m c io e n ao urn fim em si m csm a .

Num vestibu la r d e c ru ziu ha s. so pa ra lerm o s prc scu tc u m cxe m plo d csta d if'c rc n c a

sign ific a tiva , lc cm -se q u csto cs q u e, n a m a io ria d a s vczcs, d c scm boca m em respo s-

tas "fa lso e vc rd ad c iro " o u "ass in a lc a a l te ru a tiva co rrc ta ". 1 < 1 n il prova opc ra to r ia

h a que sc lc r urn pequeno lexto . Estc cxibc e cxpo c um con texte c sobre e lc ped e-s c , p o s t c r i o r m c n t c , u m a r c f l c x f i o . -

_ E n l po uca s pa lavra s: 0 impor t an te c 0 tcxto a ser lid o , 0 c o n tc xto a serc _o n~PI~~Ild i:

_d_Q_~_d_cpo isin tc rpretad o n a respo sta a sc r d ad a .

~Nesta p rova , lc r to ru a -se cxc rc ic io o briga to rio ..

Cabe ago ra Ia z c r um a d istin~ 'iio (d is tin rao esla m a is d id a tic a c Iu n c io n a l, d o q u e

c st ru tu ra l) en tre um a pergun ta c u m problem a . Assim , a prova opc ra to ria pod e sercom po sta d e pc rgun ta s c d e problem as.

A pergu nla c bc m m a is sim ples, m e no r, ru e n o s com plexa . Ped e respo sta s im cd ia tn s,

u n icu s, bascad a s, m u ita s vczc s, n o cxc rc ic io d a m em o ria . Po r cxcm plo : "q u a is o s

tipo s d e o ra<;o es subo rd in ad a s a dvc rbia is ?" Em que d a ta Ioi pro c lam ad a a repu blic a ,'

n o Brasil?", "C ite o s n um c ro s pa res m c no res d o que vin te ,"

A pergu n ta evid cn c ia pa rte d o cou tc iid o ba sico q u e 0 in d ivid u o d cve saber pa ra q u e

po ssa , d epo is, a lc a r voo s m a is a lto s n a s reflexocs que vcnha a fazc r.

- 28 -

Page 23: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 23/37

Esc reve nd o pro blem as abso lu ta rn en te c la ro s, rec Jigido s com honcstid ad c , isto e,

scm II m in im a po ss ibi lid a d e de cou fun d ir , 0 pro fesso r c sta ra , sem duvid a , a ju d and o

o a l uno a lo ca l iza r-se no tem po ou no espa<;o .

13 0 pro blem a , gera lm en te eserito em fo rm a in terro ga tiva , e m ais com plexo , a s

vezes maier, de am plo a lc an ce, exigin do respo sta s m a is elabo rad as, com m a ier

cornpos ic ao e combinacoes, Po r exem plo :"O texto aba ixo e de Carnoes. Identif'ique ,

uma oracao subordinada adverbia l concessiva": "Observe a figu ra abaixo. Identifi-

qu e e escreva 0 n om e de cadaelernento co n stitu tivo do so lo . Responda, ram bcm , em

que ca rn ad a no s po dern o s en co n tra r f6sseis?".

_Q~_pf()h l_em as sao sem pre fo rm ad o s po r um a ou m a is "palavras operatorias". Estas

ind ica m qu a lahabilidade ope-rat6r iaque se 'quer obscrva r na res posta q ue 0 a l u n o

vcnha a d a r. Po r exe-lnP1o :-an a lise~c la~sifiq u e, com pa re, c r itiq u e, im agine, serie,

levan te h ipo tese, ju stifiq u e, expliq u e, in terprete, su po nha , reesc reva , d§cva ,

lo ca lize, op in e, c a lcu le, d eterm ine, co rnen tc , su bstitu a , expo nha , co n stru a , re la c io -

ne, sintetize e outras,

as pro blem as d evcm ter rela c ao d ireta e explic ita com 0 co n tcu do q ue esta sen do

estud ado . Se m pre qu e pu der, ,Qpro fesso r d cvc lem bra r ao a lu no q uan do ,o n de e

c om o Ioi vista a m a teria , to rn and o explic ita su a in tcn cao d e o rien ta r 0 pensamen to :

"Quan do o s a lu n o s do grupo x dera m 0 semi nar io sobrc" ... ; "lo go n o prin c ip io dcste

m es ... "; "n a s au la s de labo ra t6rio ... "; "n aqu ela celebre au la de um a 6~ fc ira n o s

d iscu t im o s ... "; "logo n o in ic io do texto d o liv ro ... ".

Prin c ipa lm en te n o s pro blem as, a qucstao pede e dcve t r aduz i r todo 0 t ipo de

in fo rrn acao com ple m cn ta r q ue venha a ju d a r 0 pcu sa m c n to de qu em respon d e. Le ia ,

a segu ir , a s d a is cxcmplos be m opos to s pa ra vcr a difcrc n ca de um a questao t ipo

prova -questio u a rio e de um a tipo prova operator ia .

Na prim eira , a q uestao e co lo cad a seca e d u ra , scm d iivid a in c ita n do a me mo r iza ciio .

E ncsta qu e 0 a luno vai busca r a resposta: " ... Qua i s fora m as decisocs da po l it ic a d ;

M arq ues de Pom ba l q ue influe n c ia ra m na co lon ia"?

];i ncsta scguuda, 0 a luno sentc-se convidado a pen sa r. De um pequ eno texto

iu tro d u to rio n ascc e em erge 0 problem a . Observe a grand e d ifercn ca : "En tre 1750 e

1777, durante 0 rein ad o d e D. Jose I emPortugal, 0 Marqu es de Pom ba l, segu ind o as

pra tica s d o d cspo tism o csc la rec id o , d eterm ino u novas m cd id a s cco nom ica s c adm i-

n istra tiva s pa ra 0 Brasil. M cu c io ne trd s d ec isoes d a po litic a pom ba lin a c a s a l tera -

\()CS q u e ela s provoca ram na co lo n ia "(Un ica rup 1990).

Um a questao bern feita e com o um tra rnpo lim pa ra 0 sa lto : a beleza e p erfeic ao

Iic a m po r co n ta d este, som en te a a jud a , a a lc a , po r co n ta d aq uele-Nao ba sa Ito belo

e p cr feito sem a a ju d a d o tra rn po lim .

- 29 -

Page 24: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 24/37

Page 25: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 25/37

a s s ume 0 c a ra tc r d e um a gu erra c ivil, um a d as m a is san gren ta s d o sccu lo X IX : A

guerra d a Scccssao (1861-1865), d u ra n te a prcsidcncia d e. L in co ln .

Com pa re o s d o is m ovim cn to s abo lic io n ista s, N iio deixe d e c ita r em sua respo sta a s

co n d icoes in tern as e extern as q u e Iavo rcc c ram a im plan taca o do traba lho a ssu la r i-

ad o no Brasil".

O u tro exem plo : "Im agine qu e vo ce e su a fam ilia vo ltam pa ra ca sa n a n o ire d e

sabado, dcpois de u m a festa . Ao entra r , scu pai percebe q ue nfio h a lu z em lugar;

a lgum d a ca sa . Vo ce d iz a seu pa i: - "n a au la de c if n c ia s. vim o s q ue a lgu n s

problemas dcvcm scr rcsolvidos pelo mctodo cicntif'ico", Bascado n c le, serie os

passo s q u e d a r ia pa ra a rc so lu c ao d aqu e lc problem a".

Lcm brc m os, I iu a lrn cn tc , d e qu e n .io exisic nuigica a lgum a no sim ples u so d e tcxto s

iu tro du to r io s e n o u so de pa lavra s o pc ra to r ia s. N iio po dc m o s pen sa r qu e 0 s imples

c n c a m inha m c n to d csta s im plic a , ipso faeto ,· q u -e 0 a luno °jil ·esteja rc a liza n do asopcracocs m en ta is po r clas sugcridns ,

Veja , n o s cxcmplos aba ixo , q ue 0 u sn de ta is cxprcssocs dcvc ser 0 rna is cuidadoso

po ssivc l. po is a pa lavra opc ra io r ia C cam inho qu e 0 pcn sa m c n to d cvc ni segu ir: ... "A

pa rtir d a lc itu ra do texto u c im a , d csc rcva as m od ific ac o cs n a pa isagcm n a tu ra l. .. "

()U ..... II pa rtir d a lc itu ra do texto a c i m a , c r itiq u e a s m od ific aco cs n a pa isagem

na tu ra I...'.

E obvio qu e a troca da pa lavra opcrntoria m udd po r co m plc to o O t : . < l _ IJ.).illh0 d o

pcn s amen to . 0 cuidado ma i o r Iica pa ra as pa lavras opc ra to r ia s qu c m ais sc asscmc-

l ha m . Po r cxcm plo : an a lise ou com c n tc , ju st ifiq ue ou c xpliq u c .

F in a lmcn t c cabc id c n tific a r um erro m u ito c on ium em d ivc rsa s pro va s. A lgu n s

profcssorcs acha m que, a o co lo ca r um a pa lavra opcra tor ia an tes o u dcpo is d e um a

qu cst.io , c stn riam j.i a tingin d o o s o bjc tivo s a q ue c sta m o s n o s pro po nd o . Vc ja ,

cn t.io , com o a pa lavra -o pc ra to ria "cxp liq u c" lo rn a a qucstf io a ba ixo am pla , q u ase ~

in viahilizan d o su a rc spo sta : " . .. Qua is Io ram as d c c iso cs d a po litic a Pom ba lin a qu ei n f l u c nc ia ram na co lo n ia? Expliq u c". O bserve q ue n .io cabc aq u i a pa lavra "e xpli-

q u e" e s im a pa lavra "c ite-a s". Se 0 pro fesso r q u isc ssc po d c r ia c om plc ta r a s

in stru co es a m plia n d o 0 cam inho qu e 0 a lu n o ir ia perc -o rrc r n a respo sta : " . .. C ite

to d as as iu flu cu c ia s qu e voce sabc , Esco lha d cpo is d u as d c la s c I"ilr ;a u rn breve

com c n tri rio o nd e voce, a lcm de d a r a su a o pin i.io , d cvcn i d izc r scu s aspec to s

pos itivos e negatives".

Nesta lin ha , a c sco la c sta ra a len ta pa ra cum prir 0 scu m a ier , pr im e iro e m a is d ign o

objc tivo : e n sin a r a ler e a esc rever .

Sc ass im 0 C , a d im cn sfio q u e s e im po c a scgu ir n o n o sso estu d o co esc revc r .

- 31 -

Page 26: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 26/37

- 32 -

6.4. A Prova Operatoria e a Relaciio com 0 Escrever.

Queixam-se diretores de escolas e pais de alunos. Queixam-se professores. Enfim,

queixam-se todos: "os alunos de hoje niio sabem escrever. Que pena l",

Fugindo deste inconsciente e esquisito habito que se instalou no nosso pais, 0 de se

condenar a propria vitirua, achamos que nfio podemos rna is ficar inertes diante da

queixa sobredita. Ao inves de procurar os culpados, 0 momenta nos obriga a,

sumariamente, cumprir 0 dcver da escola: ensinar a escrever: '

E como se ensina a escrcver?

A resposta e uma "regra de tres" sabia e simples: ensina-se a escrcvcr. .. escrcve ndo!

(e nao podernos nos csqucccr: lendo, tambern).

A primcira sugestiio e quanta a modificacao na apresentacao da prova. Se j a acriticamos sevcramente no tocante aquelas linhas tracadas, como que ca misa de

forca para 0 pcnsamcnro, deve mos nos conscicntizar de que a prova opcratoria

exige espa<,;o,ample e extenso, onde 0 aluno possa vcr concrctamente a poss ibilida-

de de cscrever e a sua pcrcepcao possa nao ser barrada ou rcprcsada.

A sugestiio e simples: a prova opcratoria deve ser feita em Iolha tipo papcl almaco,

onde 0 aluno possa sentir-se 11vontadc e ter it possibilidadc concrcta de criar, de

escrever. E urn co nvite i t a\iio inlerna do pensamento e possibilida de abcrta ao

movimento externo da cscrita ,

Invcste-se nela. Mostra-se ao aluno 0 quanta a va loriza mos. A cscola revela

concretamcnre a expectativa de que 0 aluno venha a se expressar pela escrita.

Nesta prova, 0 escrever torna-se exercicio obrigat6rio.

A prova operatoria quer revigorar a importfiucia do lcxico, dinamizar a pa lavra, dar

brilho definitive i t criatividade, cujo (des) gosto positivista e a pressao econornica

enrijeceram nas provas de questiouarios ou nas famosas resposlas em cruz.

13 nao se trata mais de simplesmente grafar tal sinal, accitando-se 0 que se leu como

verdadeiro ou falso, como ccrto ou errado, Tal prova, depois de lida r com a cosmo-

visfio, depois de incitar a le itura , vern exigir, vem incentivar mais uma disposicao

intima: a expressividade escrita.

E, po is, na Iorrnulacao das repostas, ernolduradas pela elaboracao interua, que 0

aluuo se expoe, se mostra, A escrita e a a\iio mais intima no sistema de cornuuica-

\ao com 0 mundo, que desnuda e invade 0 referencial interno da pessoa huma na,

tornando-a transparente,

Page 27: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 27/37

- 33 - iii

\ 1 ·esta_Erova, 0 escrever torna-se um exercicio atraente. Repetindo: as respostas

ba~i~nl=se na express ividade escrita a que a forrnulacao do pensamento se prop6e.

No exemplo aba ixo, e na ulterior analise que fazemos, veja 0trabalho intelectual

necessa rio:

"Nos livros didaticos, a Bafaiada e incluida no capitulo referente as Rebeli6es

Regcnciais. Entretanto, ao ler 0 texto aba ixo voce nota ra que as questoes por ele

colocadas cstiio presentes em discuss6es que dominam a segunda metade do scculo

XIX. Leia com atcncao e responds":

"Diga m, senhores, estes homens de cor porventura pega rfio a cor deles nos bra ncos?

Estes homens de cor porvcntura nao serao filhos de Deus? Queiram sangrar trds

horncns ern um s6 vaso, urn branco, uma cabra (mestico de mula to e negro) e urn

caboclo, e depois nos mostrar dividido 0 sangue de um e outro. Ora, brasileiros,

olhem com mais justa prcocupacao para esta divisao e esta desuniiio: s6 porque tern

a pele alva querem roubar0

direito que cada um tem em sipor lei divina e humana?(Manifesto Balaio).

Questiio. Comente, d cpo is de citar, quais as qucstocs de ril\a e de direito indicadas

pc!o tcxto? (Unicamp, 1987)".

Em primeiro lugar, para responder com brevidadc e objetividade, e necessario

cnte nder que, como outras, esta questiio nfio pede a descricao fria e desconexa de

um fato historico. Prova disto esta no fato de, em tal qucstiio, nao se perguntar

generic amente, como nurn questiona rio: "0 que Ioi a Ba la iad a ?"; ne m se estimulamsimples elementos dcsc ncadeadnrcs da a<;iio da memoria. Pclo contrario: 0 trabalho

intelectual a ser seguido est a orienta do no interior da qucstao. Veja s6: loca liza do 0

movi mc nto Balaiada no contexte do sccu lo XIX; inscrid o nu m texto e conduzida a

discuss.io atravcs da conjuncao coordcnada adversative "entretanto": (observe no-

va me nte no texto)

Apos a explicacao e a oricnta cao, vern 0 traba lho do aluno nas seguintes opera\oes._

de pcnsamento: localizar no tempo, localizar no espa<;o, interpretar e corncntar. A

cxprcssividade vern atra ves da redacao,

Outro cxcrnplo quc podcmos analisar eo da Biologia. Le ia atentamcnte e observe,

nil analise que Iazcmos a scguir, 0 trabalho intclcctual (opcracdes] exigido.

"Sobrc uma mesa ha dois ratinhos scmelhantes em tama nho, forma e cor. Urn delcs

gorcja urn poueo de liquido, desloca-se em linha reta ate ca ir da mesa e e mite um

ruido como de engrenagens, quc logo ccssa, 0 outro percorre a mesa em linha

sinuosa, va iate a borda e volta. Anda para la e para ca, parcce ndo indeciso, como

a procura de algo. De repente, dirigc-se para urn punhado de grfios, dos quais alguns

mordiscados e ingeridos. Em seguida, esse ratinho urina e defeca e, depois dissc,

volta para junto de seus filhotes, nurna caixinha em cima da' mesa. Quais as

caractcristicas que voce pode usar da descricao acima para dizer que um dos dois

ratinhos e urn ser vivo?"(Unicamp, 1988).

Page 28: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 28/37

a) Dos vegetais apenas

b) ~omente dos animais

c) Das rochas

d) Dos seres vivos

e) Ncnhuma das antcriorcs

Para responder com objetividade tal questso e necessario entender que ela niio pede

a simples descricao das caracteristicas fundamenlais dos seres vivos, que viria

expressa numa pergunla deste tipo: "Quais as propriedades caracteristicas dos seres

vivos?" Tarnbem nfio estimula simples movimentos desencadcadorcs da a\ao da

mernorizacao.

Pelo contrario: denlro de urn contexte, sao descritas duas situacoes distintas einseridas no texto. E este que co nduz i t diseussiio, exigindo que 0 a luno relate as

caracteristicas do ratinho enquanto ser vivo, utilizando-se de dados comparatives.

Tudo orienlado, explieado, eabe ao a lu n o c labo ra r in tc rn a mcnte as seguintes opera-

,Des: loca l izar no espa,o, comparar, classif ' icar , A expressividade vern at raves da

redacao.

Nos poderiamos fazer a mes ma pergunta em forma de testes, Veja a difercnca.

Estrutura tipica, cornposicao, adaptacao, rcproducao, organizacao e metabolismo

sao ea racteristicas:

Todas as questocs, problemas ou perguntas dcvcm levar 0 a luuo a cscrevcr, Este c° objetivo primordial. Entfio, indistintamente, todos os professores dcvc m conlluir

para 0 objetivo de dcse nvolver a expressividade escrita. Os de humanas com rna is

Iac ilidadc, os de cxata e bio logicas com mais pcrsistcncia c criatividade.

Assim pcnsada , a prova operatoria pode ter sempre tres pa rtes. N prime ifa. ma is

ampla e aberta, urn tenia dado cxigira a cxpress ividade cscrita em fonna de rcdacao,

Espcra-se, aqui, que 0 aluno aprcscnte e discuta um dos temas do co ntcudo, da

Filosofia, da Metodologia e da Historia da sua propria cicncia.

o tema c encaminhado de ma ne ira abrangentc.

- 34 -

Alguns exernplos:

"Vimos, durante cste mes de scte mbro, principalmente nas aulas de 6a. fcira,

que a descobcrta de Mendel teve papcl importanle e decisivo no estabelecimento

da Teoria Darwiniana. Faca uma breve composicao sobre 0 estudo da heredita-

riedade atravcs da investigacao da natureza quirnica e Iisica dos genes.

Nas ultimas aulas estudamos 0 escritor Machado de Assis. Um dos grupos de

alunos, naquele serninario sobre sua vida, apresentou-o como 0 "pa idos escrito-

res brasileiros". 0 mais intimista e profundo deles. Faca uma composicao em

que voce analise estes e outros aspectos de sua vida e obra e sua importancia.

Page 29: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 29/37

- 35 -

Depois da visita que fizemos aquela fabrica de fertilizantes, pudemos discutir

sobre 0 uso de fcrtilizantes quimicos. Vimos como eles tcm afctado seriarnente

o processo natural de fixac;ao do nitrogenio ao danificar as bacterias do solo

envolvidas ncsse processo. Por consequencia, as culturas estiio perdendo sua

capacidade de absorver os nutrientes do solo e ficando cada vez mais viciadas

em produtos quimicos sinteticos, A partir dcstes argumentos fac;a uma composi-

c;ao discutindo as relacoes entre 0 quc estudamos da Quimica cas suas utiliza-

c;oes em nossa socicdadc.

Composicao: Descrcva algurts aspectos das Entradas e Bandeiras. Cite 0 bem e

o mal que estao intrinsccos a est a atividade, critique as suas difereucas, comcnte

suas consequcncias, loca lizando-as no tempo e no espac;o.

A atual pesquisa em Fisica, como lemos naquele artigo do escritor ingles, lido e

comentado em c1asse, quer unificar a Mecfinica Quiintica e a Teoria da Relativi-

dade, para que formem uma teoria complete das particulas subat6micas. Apre-

sente outros caminhos atuais da pesquisa em Fisica e os analise em uma

cornposicao.

Suponha que voce vivc em 1945 e a 2a Guerra Mundial terminou. Voce estii na

Europa e vai escrever uma ca rta a um amigo, no Brasil, co ntando como foi esta

Guerra. Faca-a.

A partir das idcias do texto abaixo e das discussocs que tivemos em sala de aula,clabore uma composicao apresentando a contribuicao de Pitiigoras na Hist6ria

da Cicncia e d iscuta como chcgou a formular scu tcore ma.

"Co ns ta que Pit.igoras (c.500 a.C.), antes de fundar sua cscola na Grccia, foi um

grande viajanle. Couhcceu 0 Egito, 0 Oriente Mcdio e a India. Essas andancas pclo

mu ndo ma rcara m profundamentc sua vida e seu pcnsamcnto. Conta a Hist6ria que,

a partir dclas, tornou-sc um sujcito mistico, passa ndo a acrcditar sercm os numcros

c ntida dcs Imigicas, dignas de adoracao. Acrcditava ta mbc m que 0 rigor matcrnatico ,

tornava-sc-ia ca minho seguro para 0 conhecimento e cornprcensao do Universo. -

Foi a partir dcstas ideias quc, em sua escola, grandcs e fundameutais resultados

foram obtidos pua a Matcmatica , Quando estava no Egito, Pitagoras teve a oportu-

nidadc de observar como os egipcios, motivados para resolver gravgs questocs de

dcrnarcacao de suas terras, estavam av?nc;ados no calculo de areas."

A 2a partc da prova operatoria e constituida da proposiciio de perguntas rna is

simples c pequenas. Mostra-se assim aos alunos a importancia dada pelo professor

30 contcudo de sua Cicncia e a necessidade de conquistar tais pre-requisites.

A 3\ao da mcmorizacfio esta contextualizada e nao se da aleatoriamente, como que

no vacuo. Eis porquc vern na 2a

parte da prova. 0 conteiido aprendido est a inserido entre a cornposicao,

Page 30: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 30/37

expressividade escrita e a resolucao de problemas. Memoriza-se parte da materia,

pois h3 sentido e objetivos para tanto.

A tercejra parte da prova e constitufda de "problemas" j a analisados neste trabalho.

Assim proposta, a prova quer ser U11l momenta profundo de reflexao e estudo e se

compromete com 0 desenvolvimento global do pensamento. Ao concretizarmos tal

compromisso estamos, de mancira clara e explicita, oferccendo resposlas as pcrgun-

tas indiscretas que os alunos fazem: "Por que e que eu tenho que estudar 0 imperio

de Bizancio? Eu you ser engenbeiro civil, por que eu tenho que esludar literatura?

Tais problemas sao discutidos em sala de aula ao longo da vida acadernica e nao

podem ser respondidos no sentido imediato de sua util izacao. 0 educador sa ira

desse impasse quando assegurar que suas aulas, conteiidos e provas estivere m

comprometidos mais com 0 desenvolvimento do pensamento e das operacocs

menta is e menos com a informacao enfatizada e isolada em si mesma.

- 36 -

Page 31: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 31/37

7. CONCLUSAO

A GENESE DA PROVA: A AULA OPERATOIUA

Porque aponta mos a intima rela\,ao entre prova e aula, parecc-nos oportuno termi-

narmos este trabalho com algumas rcflexoes sobre a aula operat6ria.

A prova e sempre reflexo da aula e vice-versa.

Tal relacao intima repousa no fato de que ambas sao sempre espelho fiel da

concepcao que 0 professor tem da Ciencia de modo geral e da que leciona de modo

particular e, logo depois, da concepcao do que vern a ser 0 Conhecimento e de como

se chega a ele.

Muitos professores pensam que a sua fUll\,ao 1Ia escola e so preparar os alunos

visando ao vestibular, ensina ndo a materia que nele vai ser pedida. Scm duvidas,

ta is professores estarao passando urua ideia e visiio hermetica da Ciencia , 0

conhecimento e "so" aquele a ser transmitido, sem oportunidade -ie m tempo pa'f;

poder ser criado conjuuiamente ou, qu!\(dlscutido e intcrprctado. .

Estes professores sentir-se-ao realizados, quando observarcm que os seus alunos

mc moriza m a materia dada.Como ja vimos, suas provas silo todas cravadas deperguntas do tipo "qual, quando, onde e por que".

Eles partem do principio basico de que os alunos 66 aprenderiio a partir da sua

explicacao. Esta e 0 professor tornam-se 0 centro referencial das aulas e, 0 aluno,_

pa ra aprender sClllpre esta dependente de _3!ubos. - .. -~----,---

Assim entendida , a fun\,ilo profissional do professor base ia-s e no seguinte principio:

"cu explico ... vocL. aprende"! Fora deste, nao ha outro caminhD..L

A proposta que podemos deduzir da teoria desenvolvimentista de Jean Piaget quer

definitivamente quebrar este estilo de rela\,iio de depcudcncia em que 0 aluno e

co locado e do qual (com alguma certeza) tanto gosta.

Prctcnde-se aqui conduzi-lo ao centro doprocesso, dando-Ihe as redeas daaprendi-

zagcm.

o que significa isto?

Significa que0

"aluno que conhecemos atraves da Teoria Piagetiana e um sujeitoque procura ativamente conbecer e cornpreender 0 mundo que 0 rodeia e trata de

- 37 -

Page 32: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 32/37

resolver as interrogacdes que este mundo provoca. Nao e urn sujeito que espera que

alguern que possui urn conhecimento 0 tra nsrnita a elc, por urn ato de benevolencia.

_E um sujei~~_g~~p!endebasicamente atraves de suas proprias acoes sobre os

objetos do mundo, e que constrdi suas proprias categories de peusa mento, ao mesmo

tempo em que organiza 0 seu mundo".(7)

Para a tcoria desenvolvimentista, 0 conhecimento aparece sempre como uma aqui-

,~iC;iio interna, processada a partir 'de succssivas e organizadas operacocs rca lizadas

pelo individuo,

A funcfio do professor consiste em promover ta is opcracocs. Estimula-las. Impulsioua-

las, participa ndo das discussocs que clas proporcionam.

Enfim, a func;iio social e profissional de urn professor csta muito rna is para ensinar

a opcrar do que para simples transmissor de contcudos., '-.

N~?P.~~"-1!19S ser __il11plistas e querer rcduzir _~.mportiinci3,da a_\aQ da memcrizacao -,

Porem, pclo que estudamos ate agora, flea clara a primazia que a "opcracao" tem

_sobre cIa. Com isto, estamos quercndo dizcr que 0 que csta em jogo nesta discussiio

nfio e a possjbilidade de 0 aluno vir a esquel'er 0 co ntcudo aprcndido (porque isto ,

na grande maioria des conteudos estudados, acourcccra Iatalmentc), mas a real

impossibilidadcde cle vir a RECONSTHlJIR Oll RESTlTlJIH 0 que aprcudcu.

"0 importante nao e 0 esquccimcnto, c s im, a incapacidade para restituir 0 conteudo

esquecido. Se urn sujeito aprendeu a ta bua da de memoria scm comprce ndcr as

operacocs que a formam, ao se esqucccr de "qua nto c" 7xS, por cxcrnplo, sorne nte

pod era restituir 0 conhecimento csquccido dirigindo-se a algucm que 0 possua, e

pedindo-Ibe que 0 restitua. Sc, pelo co ntra rio , comprccndcu 0 mecanisme de

pro duc.io desse conhecimento, podcr.i rcst itui-Io por x i mcsmo (e n.io de uma s6

ma ne ira , mils sirn de multiples maneiras). No primciro caso, tc mos lIlll sujcito

continua mente dependente de outros que posslIelll conhecimento, e que podem

outorga-Io. No segundo caso, temos um sujeito independente porque comprceudcu

os mcca nismos de produciio desse coubccimcuto..e, por conseguinte, converteu,se/

em criador do conhecimento". "

"Entre urna concepcao do sujeito da aprendizagem como receptor de u m conhcci-

mc nto rcccbido de fora para dentro, c a couccpcao dcssc mcsmo sujcito como u m

pr-vdutor de conhecimento, ha urn grande a bisruo ... Convcrtcu-se em criador de

conhecimento". (8)

Num outro exemplo, imaginernos um aluno que tenha aprcndido analise s intatica,

somente decora ndo as conjuncocs que a dctcrminam. Ao deparar-se.por e xeruplo,

nu m excrcicio, com urna nova frase: 0 me nino caiu do 2°. andar, todavia nfio

morreu, observa que se esqueceu de que tipo e a conjuncao "todavia".

Como nao pode va ler-se da ac;ao da mernorizacao ncste momenta e como niio esta

sabendo operar, devera , para reconstruir tal conhecimento, dirigir-se a quem 0

, 38 -

Page 33: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 33/37

possua, 0 professor, ou copiar de um livro, onde certamente lera: "conjuncao

coordenada adversativa",

Ao escrever tal resposta correta, esle aluno depcndente cerlamenle nao operou, nao

pensou. Outros 0 fizeram por ele.

Todavia, se foi forrnado para operar, podera refazer tal conhecimento. Isto deve-se

ao Iato de ter comprccndido os mecanismos de producao deste conhecimento.

Quando e como acontecera isto?

lsto acontecera se: P).Jereentenderoqlle a fr!'s.<:_esla transmi!i~~o;.2Q). en!~~~~§_e_~

sentido no meio de Ulll eventual paragrafo; 3Q)._liQuber sublinha-la c dividi-la; 4Q).

pcrceber que 0 sentido da 2~. oracfio em reTa\ao ala. tern 0mcsmo scntido contido na

pa lavra "adversativa", isto e , adverso, verso, contrario, emsentido oposto ao esperado.- . -,

Te mos aqui um jovern que certamente esta a caminho de sua iudcpcndcucia c que,da ndo significado ao que estudou, comprcendeu os mccanismos da produciio deste

conhecimento. Enfim, operau.

Para nos este axioma c irreversivch ji.conteudo nao e um fim em si mcsmo ,

Alias, vale lcmbrar a quantidade incrive l de contcudos escola rcs por nos adultos ja

meruoriza dos e esquecidos.

o coutcudo c ponte para pensar: A!\a para?p~_5;

Entjio , ha uma extensa distflncia entre decorar urn contciido (po r cxcrnplo que as

conjuncocs adversativas siio: "mas, pore m, todavia , contudo"), e compreendcr 0

significado da frase analisada, na qual esta inserida a conjuncao ,

Pa ra a teo ria dcscuvolvi mentista, 0ponto de partida eo de chegada nao Cabsolutamcnte

o co ntcudo a ser aprcendido ou mcmorizado ....9_que real mente interessa C 0 que esta

se proccssaudo na cabcca do individuo e as rclacocs que cle Iaz com 0 social.

Jii verifica mos ncste texto a diferenca entre uma AC;Ao e uma OPERAC;Ao e suas «

rclacocs com a inteligencia.

Alcm das operacocs, a aprendizagem se da quando as a\oes da atcucao, da couccn-

tra\ao, da perccpcao e da mcmorizacao realmente se efetivam. A memorizacao ecutao uma a\ao (internalizada) que po<.1~.ate prescindir da comprccnsao.

As pcssoas podem mernorizar tudo 0 que desejam e/ou consigam scm ter entendido /

absoiutamente nada.

Para ilustrar 0 que agora discutimos, vamos passar juntos por esta experiencia

aba ixo descrita:

Pcdimos, entiio, que voce leia 0 texto abaixo e responda por escriio a pergunta que

se segue.

- 39 •

Page 34: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 34/37

"0 qu e angu stia a angu stia m an ifesta , po is, u rn n ad a que n ao esta n enhu res ... A

com pleta in sign ific iin c ia q ue se an unc ia n o n ad a -e-nen hu res n iio in d ic a urna auscn -

c ia de m undo , m as ad verte, ao con tra rio , q ue 0 esta do in tram und ano perd eu tod a

im po rtiin c ia em si m esm o e qu e, so bre 0 fu nd o dcssa in sign ific an c ia d o in tra rn u ndan o ,

n a d a m a is h a a n ao ser 0 m u ndo q ue a ind a po ssa , em sua propria m undan id ad c , se

impor", (9)

A partir d o que voce leu , respon da a segu in te pergu n ta :

o qu e a con teceu com 0 estado i n t r amundano?

Respo sta : __

Na tu ra lm en te voce deve ter rc spo nd ido "0 estado in tram undan o perdeu tod a a

impor t anc ia em si m esm o ".

Se assim 0 fo i, p ara ben s!

Respo sta acerta d a ! Nesta lir ;:ao a n o la e a m axim a , d ez!

To davia , te~a voce e n te n d ido 0 q ue 0 tcxro q uer d izc r?

Sabc ra cxplic a r su a respo sta?

Te m os c c rteza de qu e a gran de m a io ria d as pesso a s q ue passa pe l a cxpe ricn c ia d a

leitu ra d este texto d e H e ideggc r n iio sabe explic a r a su a rc spo sta acc rta d a , Scqu c r

co m prcc n d cu 0 tcxto ,

Se 0 leito r q u iser ago ra d eco ra r ta l rc spo sta 0 Ia r a com fac ilid ad e. E ta m bcm

e n tcnd c ra qu c a ac ,;50 de m em o riza r po d c vir n a co n tra -m ao da com precn siio .

R ca lm c n te, 0 que la llir;:~o no s m ostra d eixa -n o s perp lexes: le-se u m tc xlo c n ad a sc

I com precnd e d ele; em segu id a , respo nd e-so a lim a pc rgun ta scm a t e r com prce nd id o

ta m bc rn e, n o fin a l d as con ta s, a respo sta c sta co rrc ia ... a n o ta C d cz ... c a apro vacao

d o a n o csta ga ran tid a ...

H ouve cop ia , n enhum a opc racao .

Assim tam bem m u ita s q uesto es de pro vas viio in du zir a rc spo sta s cop iad as d o s

livro s, d a pa rte de u m lexto o u das au la s ouvid as ,

Sim , este u ltim o fa to e m u ito co rnum em no ssas c sco la s: cm vcz d e rc spo sta s

opc ra to r ia s, c la s se to rn am , via ac ,;ao d a m crn o r izacao , respo sta s copiad as de au la s

assis tidas.

Em estilo in co m um , en tre 0 Io rte e 0 d cm arca n tc , G rac ilia n o Ram os va i co lo ca r

um a per;:a a m a is n cste no sso q uebra - cabcca ao d csc revc r a lgum as ceu as de su a vid a

esco la r. Exernplific a -no s con c retam en te estc d ila c c ra n te pro cesso do a lun o o uvir

um con cc ito , n fio en tend e-lo e ten ta r m em o riza -lo , Su a desc r ic a o , scnd o tao c la ra

qu an ta co n tu nd en te, d esobriga -n o s d e m a io res com cn ta rio s, visto la n ca r ja pon te

- 40 -

Page 35: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 35/37

necessaria e definitiva entre as ideias aqui defendidas e 0 pensamenlo do leiter:

" ... A noticia veio de supetiio: iam meter-me na escola. 13 me haviarn falado nisso,

em horas de zanga, mas nunca me convecera de que realizassem a amea\a. A escola,

segundo inforrnacoes dignas de credito, era um lugar para onde se enviavam as

criancas rebekles ... Trouxera m-me a roupa nova de fustiio bra nco. Tentaram calcar-

me os borzequins amarelos: os pes tinham crescido e niio houve meio de reduzi-Ios.Machucararn-me, comprimiram-iue os ossos. As meias rasgavam-se, os borzeguins

estavam secos, minguados. Nao sent i esfoladuras e adver tdnc ias . As barbas do

professor eram imponcntes, os nnisculos do professor deviam ser tremendos. A

roupa de Iu stiio b ra nco, engom ad a pela Rosenda, ju n tava -se a um gorro de palha . Os

fragmentos da carta de ABC, pulverizados, atirados ao quintal dancavam-me

dianle dos olhos.

-,"A preguica e a chave da pobrcza. Fala pouco e bern: ter-te-ao por alguem. D, I,

d, I."

Quem era Ter-te-fio? Urn hom ern dcsconhccido. Iria 0 professor ma nda r-me cxpli-

car Ter-te-fio e a chave? Enorme tristeza por nfio pcrccber ncnhuma s impatia em

rcdor. Arranjava m impiedosos 0 sacrificio - e cu me deixava arrastar, mole e

resignado, res infeliz antevendo 0 matadouro ... " (10)

Co ncluimos ser extcnsaa diferencaentre urna aula somcnte cxpositiva , que privile-

gia a ilc;ao da mc mo rizacao ("eu explico, voce aprcndc") e a aula opcratoria, que

privilegia a cornprccnsao de significados e mcca nis mos opcratorios que lcva m ao

conhecimento.

Nan qucrelllos dizcr que a aula opcratoria nfiodeva scr cxpos itiva. Ccrtamentc d cvc

haver muito de cxpl icacfio c de expos icfio. Ate porque 0 OPERAT6Rl0 cst;' ma is

n a forma de cxpl icar , na maneira de expor e mcn o s nil d iminuicfio do tempo d a Ia la

de urn professor,

Uma aula pode co nvcrtcr-sc em "aula expositiva-operat6ria". A forma de explicar

ou expor uma materia e ta mbem reflcxo fiel da postura do professor te m diantc de

sua Cic ncia e da aquisicao do Conhecimento.

Urn excmplo: podemos "dar" urna aula sobre adjunto adnominal "ofe rcccndo" urna

dcfinicao pronta, scca c dura. "0 adjunto adnominal c a palavra que cspccifica ou

individua nome ou pronomc". Ou outra: "E a pa lavra que modif'ica 0 nornc".

Se apcnas isto for passado para 0 aluno, como na maioria das vezcs 0 C , 0

compromisso aqui e com a merno r i z a c ao . 0 aluno scra lcvado ii ar.;iio da mcmorizacao,

podcndo inclusive njio ter cntendido absolutamente nada. Sera urn novo Tcr-tc-ao!l l

No cstilo opcratorio , a mcs rua aula podc comecar desta mane ira: 1°). atica ndo os

alunos com a novidade do tcrna, problematizando-o de inicio ; 2Q). tendo a ccrteza de

que dominam conceitos fundamentais anteriores; 3°). concretiza ndo, como que

"tirando". do pcnsa mcnto dos alunos diversas e difcrentes vezes, 0 que vem 3 ser a

- 41 -

Page 36: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 36/37

palavra chave deste conceito que e MODIFICAR. Lernbrando-se de que, sem

entender 0 significado de: MODIFICAR, tais alunos jamais poderiio comprcender 0

significado deste conceito; 4 Q ) . separando na lousa, em cores ou em tiras de

cartolina, a palavra "adjunto" em "junto" e "ad nominal" em" nome", explicando 0

que vern a ser "junto do nome"; S Q ) . trazer material visual com outros exemplos para

colocar na lousa e mostrar concretarnente; 6Q). pedindo a participacao dos alunos na .

construcao de novos exemplos.

\

o compromisso aqui neste estilo e com a compreensao da Cicncia, e com 0

desenvolvimento do Pensamento.

OBSERV AC;Ao: Nem se fale da importancia de adequar 0. contcudo escolar a

determinada faixa etaria. Conclui-se do exernplo que, alunos antes dos doze ou

treze anos, tern pouca mobilidade operatoria de lidar com 0 conccito MODIFICAR.

Provavelmente se isto ocorrer antes desta idade, a unica alternativa cabivel de

"aprendizagem"

ea memoria mecanica. Isto vale para a Maternat ica quando meca-

niza a expressao: "dlvide-se pelo de baixo e multiplica-se pclo de cima"; ou para a

Geografia quando mecaniza: " norte em cima, suI em baixo"; ou para a Historia:

"douatario e sua correspondente capitania he reditaria." .

Aula operatoria e aquela em que, em prlmeirissimo lugar, 0 professor se ve

pa rticipando como lider de urn forte relaciona mento interpessoa I com os a lunos.

_Mais do que "participando", tendo intenso controle dessa troca afetiva.

E , pois, uma aula marcada por densos movirne ntos afctivos , E afcto niio c somenteo que se sente por alguem. Mas e 0 que se faz por algucm.

E, portanto, 0 afcto urna a\iio. Uma a\iio em direcao de algucru.

Qua ndo se pensa desta forma, percebe-se 0 a feto real, concreto c concrctizado em,

por exemplo, pontualidade, sa la de aula organizada.Timpa , ca rtc iras dispostas para

todos participarem, em material audio-visual de estirnulo, etc .. Do ponto de vista

cognitivo, niio te mos duvidas de que tal organizac.io c cstimulos cxtcriores mobili-

zarao profunda mente a a\iio da atencao, da conccntracao e da pcrccpcao.

Mais do que issoro afeto se concrctiza no saber ouvir e po dcr falarl.em rcspeito _e

em respeitCl.r,-f::~l1__<?pLn.a.r,.'!..rgl!l.!lt:.!ltlU-, Enfim, na dcnsa diufimica de um grupo

compromissado com a busca do conhecimento.

-, Piaget coloca-nos clara mente 0 afeto como motor da aciio ,", .) ,j

Enos, sem 0 menor risco de contraria-lo, aumentamos esta perccpcao: inundado

pela relacao socio-cultural, 0 afeto c 0 motor da C1\ao e 0 rcgulador da opcracao ,

Este relacionarnento afetivo sera tambem reflexo do que professor e alunos e

eutendern por ser "relacao interpessoal". De modo simples: reflexo de como se

enxerga a PESSOA HUMANA.

- 42 -

Page 37: A Prova Operatoria

8/7/2019 A Prova Operatoria

http://slidepdf.com/reader/full/a-prova-operatoria 37/37

- - . . . . . _ - - - - . - . . _ . - . - . . ---.------.~-~-.-,A aula e urn momenta extraordinarianlente importante. E a relaflao interpessoal qu:>

a condiciona e envolve, mais aind",-__ _'-'~,,,._ . _ " . _ - - - - - _ - - - - - - ..~

Alfabetizar uma crianca, ensinar-Ihe a taboada ou 0 adjunto adnorninal e tao ou

mais importanle do que um,a reuniao de ministros ou um transplanle de coracao.

A que ponto chegamos neste pais onde temos que co nclamar a lodos que deem aeducacao e a aula 0 seu real valor e sua real irnportdncia?

.Aula operat6ria e aquela na 'qual 0 professor nao se sente e ne m se ve apenas

reproduzindo urn conteudo, Longe do "eu explico ... voce aprende", este professor

nota-se construindo junto com os alunos 0 conteudo a ser estudado. E urn memento .

de criacfio de conhecimento.

Aula operatoria e aquela em que ~r.()fes~or divide COIII os a lunos esta criacfio. 0

conhecimento emerge da relacao interpessoal.

Operat6ria e a aula problematizada e problematizadora, que faz surgir uma dose de

a ngtistia, de inquictacao de inconformismo pera nte a Cic ncia.

Pode 0 professor explicar e reexplicar 0 conteudo quantas vezes se fizer necessiirio,

mas com 0 cornpromisso de estirnu lar constantementc as opcracocs mentais que

garantam a co nstrucao de conhecimento. Para isto, e precise termos em vista que 0

"operatorio" nfio se realiza s6 no aluno; Ele e ingredie nte diluido na sala de aula.

Dinamicamente internalizado e expresso no d iscurso e no sentimento do professor.

Equaciona ndo-sc a questiio tempo-aula, tlll tipo de aula ocorre quando 0 professor

couscgue trocar 0... "eu falo voce ouve" por ... "todos, opcratoriamente , pa rticipa-

1I10S". Ai entao, ao lado de suas valiosas cxplicucccs, pode ra inserir um tcxto e dele

cxtrair caminhos de reflexiio; dirigir seminaries em que todos participcm com

contribuicocs e indagacocs adrcde prcparadas; cnvolvcr os aiunos em dinfirnicas ,

tecnicas e metodologias variadas, enfim, ser urn agente polarizador do pcnsar e do-,~_ ..-' - '.-

~ - -opera r.

Assim, estara 0 professor construindo 0 conhecimento junto com os aluuos. Lidcr

absoluto e pa rticipe amigo no processo.

Esta ra desenrolando um tapcte por ondc passara junto com scus a lunos. Tal tapcte

chama-se liberdade, autonomia, indepcndencia.